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FICHA TÉCNICA © 2018. Ministério da Saúde. Sistema Universidade Aberta do SUS. Fundação Oswaldo Cruz & Universi- dade de Brasília. Alguns direitos reservados. É permitida a reprodução, disseminação e utilização dessa obra, em parte ou em sua totalidade, nos termos da licença para usuário fi- nal do Acervo de Recursos Educacionais em Saúde (ARES). Deve ser citada a fonte e é vedada sua utiliza- ção comercial. Ministério da Saúde Gilberto Occhi (Ministro) (Ministro) Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde – SGETS Claudia Brandão Gonçalves Silva Secretaria Executiva da Universidade Aberta do SUS – UNA-SUS Francisco Eduardo de Campos (Secretário-executivo) Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz Nisia Trindade Lima (Presidente) Universidade de Brasília Márcia Abrahão Moura (Reitora ) Enrique Huelva (Vice reitor) Faculdade de Medicina Gustavo Adolfo Sierra Romero (Diretor) Universidade de Brasília Coordenação da UNA-SUS na Universidade de Brasília Campus Universitário Darcy Ribeiro – Asa Norte Brasília/DF CEP: 70910-900 Telefone: (61) 3107-1885 E-mail: moodle.unasus.unb@gmail.com Site: www.unasus.unb.br Coordenadora Geral Gilvânia Feijó Coordenadora do Módulo Gilvânia Feijó Conteudista Rodrigo Gurgel Gonçalves Revisores Katia Crestine Poças Juliana Faria de Fracon e Romão Celeste Aida Nogueira Silveira Gilvânia Coutinho Silva Feijó Raul Luís de Melo Dusi Editor técnico Kátia Crestine Poças Coordenador de Produção Jitone Leônidas Soares Jonathan Gomes Pereira dos Santos Designer Instrucional Rute Nogueira de Morais Bicalho Designer Gráfico Daniel Alves Tavares Web Designer Gabriel Cavalcanti D’Albuquerque Magalhães Ilustrador de EaD Thiago Fagundes Editor de Audiovisual Cristiano Alves de Oliveira Secretaria Executiva da Universidade Aberta do SUS Campus Universitário Darcy Ribeiro – Asa Norte Brasília/DF CEP: 70910-900 Telefone: (61) 3329-4517 Site: www.unasus.gov.br Coordenador Geral Alysson Feliciano Lemos Editor técnico Roberto Jorge Freire Esteves Paulo Biancardi Coury Consultor Claudio Maierovich Pessanha Henriques Secretário Executivo Manoel Barral Neto Coordenação Geral Alysson Feliciano Lemos Editor Técnico Roberto Jorge Freire Esteves Paulo Biancardi Coury Revisão Técnico-Científica Juliana Oliveira Rodrigo Lima Olga Maíra Rodrigues Samara Rachel Vieira Nitão Equipe Técnica – Ministério da Saúde Avaliação de Pertinência Fernão Lopes Paulo Henrique Gomes da Silva Graziela Tavares Denise Leite Mariana Sales http://moodle.unasus.unb@gmail.com http://www.unasus.unb.br http://www.unasus.gov.br Sumário Organização ............................................................................ 5 Objetivos .................................................................................. 6 Dípteros .................................................................................11 Dípteros Culicídeos (Mosquito) ........................................15 Flebotomíneos .....................................................................22 Triatomíneos .........................................................................28 Atividade 1 - Exercícios.......................................................33 Atividade 2 - Ecologia de Insetos Vetores .....................34 Culicídeos (Mosquistos) .....................................................36 Culicídeos (Mosquistos) .....................................................37 Flebotomíneos .....................................................................42 Triatomíneos .........................................................................47 O ciclo de vida dos triatomíneos ....................................48 Atividade 3 - Ecologia de Insetos Vetores .....................54 Atividade 3 - Exercício ........................................................74 Atividade 4 - Importância Médica ....................................75 Atividade 4 - Exercício ..................................................... 101 Glossário ............................................................................. 102 Mapa mental ...................................................................... 103 Referências ......................................................................... 104 Sobre o autor .................................................................... 106 4 5 Organização 6 Objetivos 7 Objetivos Olá, seja bem-vindo(a) à Unidade Biologia de Insetos Vetores! Esta unidade aborda os aspectos morfológicos, biológicos e ecológicos, bem como a importância médica dos principais grupos de insetos vetores. Os insetos vetores são elos vulneráveis na cadeia de transmissão e o conhecimento acerca desses vetores e o entendimento do seu papel na transmissão de patógenos ao homem são fundamentais na capacitação das equipes técnicas de controle vetorial. 8 Este insetos são responsáveis por doenças como: • Dengue; • Chikungunya; • Zika; • Febre Amarela; • Malária; • Leishmaniose; • Doença de Chagas. São considerados vetores biológicos dos microrganismos (vírus e protozoários) associados a essas doenças por permitirem sua multiplicação e sua propagação para outros indivíduos. 9 Os insetos constituem o maior grupo de seres vivos do Planeta, com aproximadamente um milhão de espécies conhecidas que ocorrem nos mais variados ecossistemas terrestres e aquáticos. A ampla distribuição dos insetos nos ambientes é decorrente de suas características: presença de um esqueleto externo, antenas, peças bucais especializadas, pernas articuladas e asas na maioria das espécies. Essas características fornecem proteção, percepção sensorial, especializações alimentares e possibilidade de movimento (Brusca & Brusca, 2007). Os insetos são responsáveis por processos ecológicos fundamentais nos ecossistemas, como reciclagem de nutrientes, polinização e dispersão de sementes. Além disso, são componentes principais da maioria das cadeias alimentares terrestres, oferecendo produtos importantes para o homem, tais como mel, seda, ceras, corantes naturais e anticoagulantes (Losey & Vaughan, 2006). Entretanto, muitos deles podem causar problemas quando atuam como pragas agrícolas ou vetores de patógenos (vírus, bactérias, protozoários e vermes), causando doenças no homem e em seus animais domésticos (Marcondes, 2011). Nesta Unidade, vamos estudar aspectos da morfologia, biologia, ecologia e importância médica dos principais grupos de insetos vetores: culicídeos, flebotomíneos e triatomíneos, os quais transmitem patógenos responsáveis por doenças muito comuns em nosso meio, como Dengue, Chikungunya, Zika, Febre Amarela, Malária, Leishmanioses e Doença de Chagas. 10 Objetivos Os insetos são animais artrópodes, ou seja, possuem pernas articuladas e esqueleto externo. Existem outros animais artrópodes, porém os insetos são diferenciados dos outros artrópodes por possuírem seis pernas; corpo dividido em cabeça, tórax e abdome; um par de antenas e um par de mandíbulas. Nesta Unidade, iremos apresentar os dois grupos que incluem a maioria dos insetos vetores: Diptera e Hemiptera. Vamos conhecê-los melhor? Existem cerca de 30 grupos (ordens) de insetos com grande variação de formas, tamanhos e fases de desenvolvimento: os insetos primitivos não apresentavam asas e, ao longo da evolução da espécie, as asas surgiram e desenvolveram-se de forma diferente nos grupos. Alguns grupos de insetos desenvolveram um ciclo de vida complexo, incluindo as fases de ovo, larva, pupa e adulto. Figura 1.1 Árvore mostrando as relações de parentesco entre os grupos de insetos. 11 Dípteros Os dípteros são insetos que apresentam um par de asas desenvolvido e outro par reduzido, constituído de pequenas estruturas que são responsáveis pelo equilíbrio durante o voo, também chamadas de halteres. Esse grupo apresenta mais de 130 mil espécies (Marcondes, 2011). Moscas, mosquitos, borrachudos e flebotomíneos fazem parte do grupo dos dípteros(ordem Diptera), os quais são subdivididos em duas subordens: Nematocera e Brachycera. A primeira inclui dípteros geralmente pequenos com pernas longas (mosquitos, borrachudos e flebotomíneos), a segunda inclui as moscas, com aspecto mais robusto, pernas e antenas geralmente curtas. Figura 2. Foto dorsal de Aedes aegypti. As setas mostram o segundo par de asas do mosquito, ou balancim. Fonte: LESP/FSP/USP (Urbinatti PR). 12 Figura 2.2 Exemplos de dípteros das subordens Nematocera (Mosquitos, Borrachudos e Flebotomíneios) e Brachycera (moscas). 13 Dípteros Os hemípteros de interesse médico, como os barbeiros, possuem aparelho bucal picador-sugador e o primeiro par de asas do tipo hemiélitro (metade basal coriácea e metade apical membranosa). O outro par de asas fica abaixo dos hemiélitros, é mais delgado e transparente, com aspecto membranoso. A maioria dos hemípteros não são de interesse médico. Eles são encontrados em diferentes ambientes e existem espécies predadoras, fitófagas e até aquáticas. Muitos hemípteros predadores da família Reduviidae têm aparência similar aos barbeiros, sendo necessário diferenciá-los pela morfologia do aparelho bucal; outros são considerados pragas para a agricultura, como os percevejos da família Pentatomidae, conhecidos popularmente como marias fedidas. Outros hemípteros são enormes e aquáticos, como os percevejos da família Belastomadidae, conhecidos como baratas d´água. Ainda existem as famílias de cigarras, que também fazem parte do grupo (ordem Hemiptera, subordem Homoptera). Veja a seguir! Figura 3. Foto dorsal de um barbeiro. O polígono delimita a asa típica de um inseto hemíptero, metade coriácea ou rígida, metade membranosa. Fonte: adaptado de Galvão e Gurgel-Gonçalves 2014. 14 Agora que você já aprendeu um pouco sobre as ordens Diptera e Hemíptera, vamos conhecer as características morfológicas dos dípteros e dos hemípteros de interesse da saúde pública. 15 Dípteros Culicídeos (Mosquito) Os mosquitos são dípteros da família Culicidae. A identificação das espécies de mosquitos é baseada em chaves de identificação (por exemplo, Consoli & Lourenço de Oliveira, 1995, Forattini, 2002). São conhecidas, aproximadamente, 1.600 espécies de mosquitos no mundo. Durante o desenvolvimento, os mosquitos passam por estágios, que são: ovo, larva, pupa e adulto. Vamos conhecer melhor cada estágio? 16 O formato e o tamanho do sifão são importantes na identificação dos principais gêneros de mosquitos (Aedes, Culex, Anopheles). O sifão das espécies do gênero Aedes é geralmente mais curto e grosso que o das espécies de Culex, e os anofelinos não apresentam sifão. 17 Observe, também, que os mosquitos adultos apresentam nítido dimorfismo sexual: a fêmea apresenta antenas pilosas, enquanto, nos machos, elas são plumosas. Figura 4. Foto de microscopia eletrônica de varredura mostrando as escamas na superfície do corpo de um mosquito. Fonte: Marcos T. Obara. Figura 5. Diferença morfológica das antenas de machos e fêmeas de mosquitos. Fonte: Urbinatti, PR. 18 Figura 6. Diferenças morfológicas entre as fases de desenvolvimento de mosquitos dos gêneros Anopheles, Culex e Aedes. Fonte: Neves 2011. Veja, agora, na figura 6, as principais características morfológicas dos estágios dos principais gêneros de mosquitos. Agora que já conhecemos as características dos mosquitos, vamos aprender a identificar as duas espécies de Aedes mais frequentes em ambiente urbano: Aedes aegypti e Aedes albopictus. Vamos lá? 19 Característica Comuns Ambos são menores, escuros e com escamas claras ao longo do corpo. Então, como diferenciá-los? A diferenciação dessas espécies de Aedes pode ser facilmente realizada ao se analisarem as manchas do tórax em vista dorsal. Ae aegypti apresenta um desenho em forma de lira (instrumento musical parecido com violão), enquanto que Ae. albopictus apresenta somente uma listra branca no meio do tórax. 20 Figura 7. Diferença morfológica do tórax de A. albopictus e A. aegypti. Fonte: Urbinatti, PR. Essas características do Aedes são importantes para que possamos diferenciá-lo dos pernilongos comuns do gênero Culex, os quais, geralmente, são maiores e têm tórax com escamas douradas. Também é possível diferenciá- los dos mosquitos anofelinos baseando-se na morfologia da asa. Observe na figura abaixo que os anofelinos possuem asas com blocos de escamas claras e escuras, que apresentam o aspecto sarapintado; as asas de Culex e Aedes possuem uma distribuição mais homogênea das escamas. 21 Figura 8. Diferença morfológica das asas de mosquitos. Fonte: Neves 2011 e arquivo pessoal. Agora que já conhecemos algumas características gerais dos Culicídeos, vamos apresentar as características dos Flebotomíneos. 22 Flebotomíneos Os flebotomíneos são dípteros da família Psychodidae. Apesar de serem popularmente conhecidos como mosquitos-palha ou moscas de areia, não são considerados mosquitos nem moscas, pois apresentam características distintas em relação a esses grupos de dípteros (Marcondes, 2011). Diferentemente dos mosquitos, os flebotomíneos não apresentam escamas ao longo do corpo, e suas asas são lanceoladas (têm formato de lança). Eles são diferentes das moscas por possuírem antenas e pernas longas. Mil e três espécies são atualmente conhecidas, das quais, 537 estão presentes nas regiões Neotropical e Neártica e, destas, 277 foram registradas no Brasil (Shimabukuro et al., 2017). Vamos conhecer outras características dos flebotomíneos? Você sabia que os flebotomíneos apresentam vários nomes populares, que variam segundo os países e as suas regiões? No Brasil, os nomes mais comuns são: mosquito palha, asa dura, asa branca, tatuquira, birigui, cangalha, cangalhinha, ligeirinho, péla-égua, arrupiado. 23 Os flebotomíneos são insetos muito pilosos, de coloração castanha ou cor de palha, com asas lanceoladas estreitas, hialinas e densamente revestidas de cerdas longas, que, quando em repouso, permanecem eretas e fletidas para cima. Figura 9. Características morfológicas de um flebotomíneo. Fonte: Ray Wilson. 24 O dimorfismo sexual é evidente, com machos apresentando segmentos especializados no final do abdome com função de acoplagem nas fêmeas. Observe, na figura ao lado, que as fêmeas possuem o final do abdome arredondado. A identificação das espécies de flebotomíneos é baseada na visualização de estruturas na genitália feminina (por exemplo, espermateca - Figura 11), na masculina (parâmetro, gonóstilo - Figura 12), na cabeça (cibário - Figura 13). Para essa visualização, são necessárias técnicas de clarificação e de montagem dos indivíduos, o que exige treinamento especializado. Figura 10. Características morfológicas da região final do abdômen do macho (à esquerda) e da fêmea (à direita) de um flebotomíneo. Fonte: Andrey José de Andrade. 25 Figura 11. Detalhes da genitália da fêmea de flebotomíneos. Fonte: Andrey. 26 Figura 12. Detalhes da genitália do macho de flebotomíneos. 27 Figura 13. Detalhes do aparelho bucal de flebotomíneos. A identificação das espécies é tradicionalmente realizada com o uso de chaves dicotômicas, porém um recente aplicativo chamado Lutzodex (Rocha et al., 2016) foi desenvolvido para facilitar essa tarefa. Para fazer download desse aplicativo, você precisará de um celular com sistema Android. Depois, basta acessar o Google Play e buscar pelo nome Lutzodex. https://play.google.com/store/apps/details?id=max. com.lutzodex&hl=pt_BR Uma versão para IOS está em desenvolvimento. Arco do cibário Dentes anteriores Dentes verticais https://play.google.com/store/apps/details?id=max.com.lutzodex&hl=pt_BR https://play.google.com/store/apps/details?id=max.com.lutzodex&hl=pt_BR 28 Triatomíneos Os triatomíneos são hemípteros conhecidos popularmente como barbeiros. Esses insetos são os vetores da Doença de Chagas. Os barbeiros pertencem a umafamília de hemípteros chamada Reduviidae e possuem aparelho bucal (rostro ou probóscide) curto, com 3 segmentos. A maioria dos reduvídeos são predadores e apenas os triatomíneos desenvolveram a hematofagia. O aparelho bucal de um triatomíneo é reto, enquanto o dos reduvídeos predadores é curvado. Nomes populares dos triatomíneos: O nome mais conhecido é barbeiro, porém esses insetos também são chamados, no Brasil, por outros nomes: chupão, bicudo, fincão, chupança, vum vum, procotó, furão, chupa-pinto. Existem 152 espécies de triatomíneos, sendo que 67 delas ocorrem no Brasil (Gurgel-Gonçalves et al., 2017). A Figura 14.1 ilustra a variação de cores, tamanhos, formatos de cabeça, asas e abdome. Figura 14. Diferenças no aparelho bucal de percevejos. Fonte: Neves, 2011. 29 Figura 14.1. Diversidade de triatomíneos. 30 A identificação da maioria das espécies é baseada em caracteres morfológicos externos presentes na cabeça, no tórax e no abdome. Veja na figura abaixo Figura 15. Morfologia externa dorsal de um triatomíneo. Fonte: Galvão e Jurberg, 2014. 31 Figura 16. Morfologia externa dorsal de um triatomíneo. Fonte: Galvão e Jurberg, 2014. Quanto à diferenciação sexual, entre os triatomíneos há grande variação de tamanho (de 0,5 a 4,5 cm), sendo que as fêmeas, geralmente, são maiores que os machos, além de apresentarem segmentos finais do abdome modificados em ovipositor. 32 A identificação dos Triatomíneos pode ser realizada com o uso de chaves dicotômicas (ex. Galvão & Dale, 2014), porém foram desenvolvidos aplicativos para facilitar essa tarefa, como Triatokey http://triatokey.cpqrr.fiocruz.br/ e Triatodex (Gurgel-Gonçalves et al., 2017a. https://play.google.com/store/apps/details?id=max.com.triatodex&hl=pt O primeiro permite a identificação de algumas espécies brasileiras, enquanto o segundo inclui todas as espécies de triatomíneos do mundo e está disponível em português e em inglês. Além disso, existem pesquisas que visam a identificação automatizada de triatomíneos (Gurgel-Gonçalves et al., 2017b). Com isso, futuramente, será possível tirar a foto de um inseto com o celular e enviar para um site de identificação, o qual enviará para o usuário qual seria a provável espécie de triatomíneo e apresentará links com informações a respeito da mesma (habitats, distribuição geográfica, biologia, importância médica). Mais informações do projeto podem ser obtidas no site https://vectorlab.org. http://triatokey.cpqrr.fiocruz.br/ https://play.google.com/store/apps/details?id=max.com.triatodex&hl=pt https://vectorlab.org 33 Atividade 1 Exercícios Você sabia que os flebotomíneos apresentam vários nomes populares, que variam segundo os países e as suas regiões? No Brasil, os nomes mais comuns são: mosquito palha, asa dura, asa branca, tatuquira, birigui, cangalha, cangalhinha, ligeirinho, péla-égua, arrupiado. EXERCÍCIO 1 Coletar larvas ou adultos de mosquitos urbanos e identificar se há presença de Aedes spp., anofelinos ou outro culicídeo. As larvas poderão ser coletadas em criadouros na cidade com o auxílio de peneiras ou pipetas. Os adultos poderão ser capturados com capturadores de castro, aspiradores elétricos ou armadilhas tipo CDC (ver detalhes dos métodos de captura na Unidade 2). EXERCÍCIO 2 Abrir os aplicativos informados no texto e identificar um flebotomíneo e um triatomíneo da região onde vive. 34 Atividade 2 Ecologia de Insetos Vetores Agora que já vimos a morfologia dos insetos vetores, vamos conhecer o ciclo de vida e os aspectos biológicos desses insetos. Os insetos possuem variados ciclos de vida e trocam de esqueleto externo ao longo de seu desenvolvimento. Alguns possuem ciclo com ovos, ninfas e adultos conhecidos como hemimetábolos ou com metamorfose incompleta, a exemplo dos Triatomíneos; outros passam pelas seguintes fases: ovo, larva, pupa e adulto, chamados de holometábolos ou com metamorfose completa, tendo como exemplo os Culicídeos e os Flebotomíneos. O conhecimento dos ciclos de vida e de outros aspectos biológicos, como comportamento alimentar e reprodutivo é fundamental para o desenvolvimento das ações de vigilância e de controle desses insetos. Figura 1. Exemplos de insetos vetores. 35 36 Culicídeos (Mosquistos) Os culicídeos possuem ciclo de vida holometábolo. Para exemplificá-los, descreveremos o ciclo de vida de Aedes aegypti. Após serem fertilizadas pelos machos durante o voo, as fêmeas colocam de 100 a 300 ovos por postura na superfície de recipientes que acumulam água. Uma fêmea do Ae. aegypti pode dar origem a 1.500 mosquitos durante a sua vida. Figura 1. Exemplos de insetos vetores – Culicídeos. 37 Culicídeos (Mosquistos) Um comportamento biológico importante é a diapausa, o fenômeno de sobrevivência dos ovos durante a seca, que viabiliza o desenvolvimento de criadouros após as primeiras chuvas. Em contato com a água, as larvas eclodem dos ovos e iniciam seu desenvolvimento em 4 etapas (larva 1 a larva 4). Essas se movimentam bastante, buscando alimento no fundo do reservatório e respirando na superfície do mesmo. A larva passa por quatro estágios até tornar-se uma pupa. No estágio de pupa, ela não se alimenta e fica na superfície da água, onde obtém oxigênio. O ciclo aquático dura de 10 a 15 dias, mas, em temperaturas mais elevadas (~30ºC), o período larval diminui para, aproximadamente, 7 dias (Beserra et al., 2006). A eliminação de criadouros de larvas e de pupas é fundamental para o controle dos mosquitos, como será observado na Unidade 2. Os adultos emergem a partir das pupas e, em pouco tempo, iniciam o voo. A sobrevivência das fêmeas (2-3 semanas em zonas tropicais, 1 mês em zonas temperadas) é maior que a dos machos (1 semana). Dessa forma, em áreas com temperaturas médias anuais mais elevadas, o ciclo de vida completo de Ae. aegypti (ovo a adulto) dura aproximadamente 25 dias para fêmeas e 15 dias para machos, o que permite o desenvolvimento de várias gerações de mosquitos ao longo do ano. 38 Para saber mais sobre o ciclo de vida do Ae. aegypti, leia o artigo: Beserra, E.B. et al. Ciclo de vida de Aedes (Stegomyia) aegypti (Diptera, Culicidae) em águas com diferentes características. Iheringia, Sér. Zool., Porto Alegre, 99(3):281-285. 2009. Figura 17. Figura 17. Ciclo de vida do Ae. aegypti. 39 Algumas características do ciclo de vida desses insetos são fundamentais para o desenvolvimento de estratégias de vigilância e controle, a exemplo: • postura de ovos; • comportamentos alimentar; • comportamento reprodutivo. As fêmeas de Ae. aegypti depositam os ovos nas paredes internas dos recipientes com água, acima da linha da água. Como os ovos ficam aderidos nos recipientes e podem sobreviver em ambiente secos por mais de 6 meses, é fundamental que as paredes de grandes reservatórios sejam lavadas (você poderá aprender um pouco sobre Manejo Ambiental na Unidade 2). As fêmeas de Ae. Aegypti precisam de apenas uma pequena quantidade de água para depositar seus ovos em reservatórios, como copos, fontes, pneus, tambores, vasos, por exemplo. Esse vetor prefere se reproduzir em reservatórios de águas limpas. Apesar da baixa viabilidade larval, é possível o desenvolvimento de Ae. aegypti em águas com elevados graus de poluição (Beserra et al., 2009). Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151211_focos_dengue_mw_rb http://www.big1news.com.br/mosquito-aedes-aegypti-da-dengue-a-zika-o-porque-tantas-doencas.html Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151211_ focos_dengue_mw_rb http://www.big1news.com.br/mosquito-aedes-aegypti-da- dengue-a-zika-o-porque-tantas-doencas.html http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151211_focos_dengue_mw_rb http://www.big1news.com.br/mosquito-aedes-aegypti-da-dengue-a-zika-o-porque-tantas-doencas.html http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151211_focos_dengue_mw_rb http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151211_focos_dengue_mw_rbhttp://www.big1news.com.br/mosquito-aedes-aegypti-da-dengue-a-zika-o-porque-tantas-doencas.html http://www.big1news.com.br/mosquito-aedes-aegypti-da-dengue-a-zika-o-porque-tantas-doencas.html http://www.big1news.com.br/mosquito-aedes-aegypti-da-dengue-a-zika-o-porque-tantas-doencas.html 40 Somente as fêmeas são hematófagas, e o sangue é essencial para a produção de ovos. Elas detectam as fontes alimentares pela presença de CO2, umidade, ácido lático e sinais visuais. As fêmeas do mosquito picam pessoas e animais domésticos nas áreas internas e externas da casa. Os adultos preferem locais pouco iluminados com umidade elevada e sem muita movimentação de ar. Os mosquitos apresentam diferentes horários de atividade e de agressividade. Por exemplo, o mosquito da dengue (Aedes aegypti) é mais ativo de dia e mais agressivo por buscar insistentemente a fonte alimentar, mesmo quando o hospedeiro está acordado. Já o mosquito prego (Anopheles darlingi) e o pernilongo comum ou muriçoca (Culex quinquefasciatus) são mais ativos à noite. Fonte: http://www.ioc.fiocruz.br/dengue/textos/curiosidades.html http://www.ioc.fiocruz.br/dengue/textos/curiosidades.html 41 Para saber mais sobre o Aedes aegypti, assista o documentário “O Mundo Macro e Micro do Mosquito Ae. Aegypti”. O mundo Macro e Micro do Mosquito Aedes aegypti (Fiocruz). https://www.youtube.com/watch?v=bTNn7dad-00 Continue seus estudos sobre o Aedes aegypti assistindo às vídeo aulas “‘Aedes aegypti – Introdução aos Aspectos Científicos do Vetor” disponíveis no endereço: http://auladengue.ioc.fiocruz.br/ https://www.youtube.com/watch?v=bTNn7dad-00 http://auladengue.ioc.fiocruz.br/ 42 Flebotomíneos Os flebotomíneos também possuem ciclo de vida holometábolo (colocar link com o esquema 1), ou seja, possuem as fases de ovo, larva, pupa e adulto. Para exemplificá-las, descreveremos o ciclo de vida de Lutzomyia longipalpis. A cópula é precedida por um comportamento de corte nupcial em que os machos realizam movimentos circulatórios frequentes que atraem as fêmeas. Logo em seguida, os machos vibram as asas e se põem em sentido contrário às fêmeas, quando prendem a fêmea com o auxílio de seus apêndices genitais. Um único macho pode copular várias vezes com diferentes fêmeas virgens e a presença de hospedeiros vertebrados estimula esse processo (Brazil & Brazil, 2003). Figura 1. Exemplos de insetos vetores – Fletobomíneos. 43 Após serem fertilizadas pelos machos, as fêmeas colocam os ovos em ambientes terrestres úmidos, tais como solo, serrapilheira, buracos em árvores e tocas de animais. O desenvolvimento embrionário dura de 6 a 9 dias, quando as larvas eclodem dos ovos e se desenvolvem entre 14 e 19 dias (larva 1 a larva 4). As larvas alimentam-se de matéria orgânica do solo. Os criadouros naturais são muito difíceis de serem detectados devido tanto ao pequeno tamanho das larvas e seus movimentos lentos, como à grande variedade de sítios que contêm matéria orgânica em decomposição, o que dificulta o encontro das larvas (Alencar et al., 2011). Depois disso, a larva 4 sofre uma muda e passa para estádio de pupa, que permanece nos criadouros por mais 8-9 dias. Durante esse período, as pupas não se alimentam, porém passam por modificações importantes para o surgimento dos adultos com o desenvolvimento de estruturas da genitália e da cabeça. Por exemplo, os olhos dos adultos podem ser vistos através da parede pupal quando os adultos estão prestes a emergir. O ciclo todo dura entre 28 e 37 dias. Observe a imagem a seguir. 44 Figura 18. Ciclo de vida de um flebotomíneo. 45 Flebotomíneos Quanto ao comportamento alimentar, ambos os sexos necessitam de açúcares (provenientes de seiva vegetal ou secreções açucaradas de outros insetos), porém somente as fêmeas são hematófagas, sendo o sangue necessário para o desenvolvimento ovariano (o número de ovos produzidos é proporcional à quantidade de sangue ingerido) (Brazil & Brazil, 2003). O período de maior atividade hematofágica da maioria das espécies de interesse médico é à noite. A alimentação sanguínea das fêmeas pode ocorrer 24 horas após a emergência. A atração das fêmeas aos hospedeiros é dependente de temperatura e odores corporais. L. longipalpis é uma espécie generalista, alimenta-se em vários animais domésticos (cães, roedores, aves) e no homem, e esse comportamento tem relevância na transmissão zoonótica das Leishmanioses. O tempo de alimentação pode durar entre 1 e 5 minutos. Os flebotomíneos, geralmente, iniciam a atividade durante o fim da tarde ou à noite, permanecendo a maior parte do dia em seus abrigos, locais úmidos e com pouca luminosidade. A atividade das fêmeas de L. longipalpis em busca de alimento no intradomicílio na Ilha do Marajó, no Pará, é maior entre 19h e 22h. Já Bichromomyia flaviscutellata, principal vetor de L. amazonensis, apresenta um pico de atividade entre 22h e 1h da madrugada (Brazil & Brazil, 2003). 46 Ainda em relação a esse comportamento, a ingestão de sangue pode variar entre as espécies, ocorrendo apenas uma vez entre as posturas ou múltiplas vezes durante um único ciclo de oviposição. Por exemplo, espécies como L. longipalpis realizam vários repastos sanguíneos antes da maturação e da postura dos ovos. Outra variação nos hábitos alimentares dessas fêmeas é algumas espécies realizarem o repasto exclusivamente em determinados vertebrados e outras apresentarem hábitos ecléticos, picando indiferentemente diversas espécies. Algumas espécies como L. longipalpis e Nyssomyia whitmani alimentam-se frequentemente em galinhas, sendo a presença de galinheiros um fator determinante para a sua ocorrência. Figura 19. Flebotomíneos associados a aves. Fonte: Dantas-Torres and Otranto Parasites & Vectors 2014. Para saber mais sobre a biologia dos flebotomíneos, consulte o artigo de Brazil & Brazil (2003). Brazil RP & Brazil BG. 2003. Biologia de flebotomíneos neotropicais. In, Rangel, E. F. & Lainson, R. Flebotomíneos do Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, pp. 257-274. 47 Triatomíneos O ciclo de vida dos triatomíneos é diferente dos culicideos e flebotomíneos: inclui apenas as fases de ovo, ninfa e adulto, sendo por esse motivo chamado hemimetábolo. Antes da cópula, machos e fêmeas comunicam-se a partir de sinais químicos (feromônios sexuais) ou vibratórios (estridulação). Por exemplo, quando um macho tenta acasalar com uma fêmea jovem, a mesma tende a estridular para rejeitar o macho. No caso em que a fêmea está receptiva, a cópula ocorre em 5 a 30 minutos, quando o macho acopla sua genitália na fêmea e transfere seus espermatozóides. Figura 1. Exemplos de insetos vetores – Triatomíneos. 48 O ciclo de vida dos triatomíneos 49 As fêmeas fertilizadas colocam os ovos após 10 a 30 dias, sendo capazes de colocar centenas de ovos ao longo de sua vida, os quais geralmente ficam soltos e isolados. As fêmeas de algumas espécies dos gêneros Rhodnius e Psammolestes são capazes de grudar seus ovos em substratos e esse comportamento pode facilitar a dispersão desses triatomíneos, considerando que os mesmos podem ficar aderidos em penas de aves (Marcondes, 2011). Após a eclosão do ovo, os triatomíneos passam por cinco estágios de ninfa, que diferem no tamanho e no desenvolvimento do botão alar (primórdio da asa). Os primeiros estágios (ninfa 1 a ninfa 3) são pequenos e mais difíceis de serem detectados e capturados nos ambientes: por exemplo, uma ninfa 1 de R. neglectus mede menos de 5 mm. As ninfas 4 e 5 apresentam maior tamanho (ninfas 5 de Panstrongylus podem atingir quase 2 cm). Figura 20. Ciclo de vida de triatomíneos. Fonte: Galvão (2014). 50 Durante a mudança para a fase adulta, há o desenvolvimento das asas, e a genitália fica completamente formada. A longevidade dos adultos pode ser superior a 2 anos. A figura ao lado ilustra o ciclo de vida dos Triatomíneos. A duração do ciclo de vida varia muito entre as espécies, de trêsmeses (p. ex. Rhodnius neglectus) até dois anos (p. ex. Panstrongylus megistus), dependendo de variações ambientais e da frequência de alimentação. Os triatomíneos podem resistir alguns meses em jejum, principalmente as ninfas de quinto estágio, e essa característica biológica é importante para a manutenção das colônias em condições desfavoráveis. Figura 20. Ciclo de vida de triatomíneos. Fonte: Galvão (2014). 51 Para os triatomíneos a alimentação sanguínea é fundamental para o desenvolvimento das ninfas e dos adultos e, geralmente, ocorre à noite. Os triatomíneos sugam grande quantidade de sangue, com algumas ninfas sugando até 10 vezes o próprio peso. Geralmente, uma ou duas alimentações sanguíneas são suficientes para que ocorra a muda ou a troca do exoesqueleto e o desenvolvimento ninfal. A picada geralmente é indolor e não é percebida pelo hospedeiro. A saliva dos triatomíneos contém anticoagulantes e anestésicos que inibem reações cutâneas que poderiam indicar a presença do inseto. Durante e logo após a sucção sanguínea (que dura aproximadamente 15 minutos), os triatomíneos defecam e urinam, um comportamento fundamental para a transmissão do Trypanosoma cruzi. Fonte: http://www.jmrezende.com.br/barbeiros.htm http://www.jmrezende.com.br/barbeiros.htm 52 Fonte: https://www.mdsaude.com/2012/07/doenca-de-chagas.html Fonte: https://br.pinterest.com As antenas dos triatomíneos possuem receptores de estímulos mecânicos, olfativos, térmicos e hídricos, os quais são percebidos para detecção dos hospedeiros. A presença de CO2, ácido lático, amônia e temperatura elevada são estímulos atrativos para esses insetos. A luz artificial tem sido apontada como estímulo importante para a chegada de triatomíneos às habitações humanas à noite, porém, uma vez domiciliados, os triatomíneos evitam ambientes muito iluminados. Casas de pau-a-pique são ambientes favoráveis para o desenvolvimento das colônias por apresentarem rachaduras nas paredes, por serem locais geralmente escuros, úmidos, quentes e com várias fontes alimentares (humanos e animais domésticos). Nessas condições, a densidade de triatomíneos é muito elevada, podendo ser de 11 mil indivíduos, como já observado em Honduras. https://www.mdsaude.com/2012/07/doenca-de-chagas.html 53Para saber mais sobre os Triatomíneos, assista o vídeo “Triatomíneos: o elo de uma enfermidade (Fiocruz) https://www.youtube.com/watch?v=xZGv1m-2KEs https://www.youtube.com/watch?v=xZGv1m-2KEs 54 Atividade 3 Ecologia de Insetos Vetores A ecologia é o estudo de como os seres vivos interagem entre si e com o ambiente que os rodeia. É importante entender essas interações para analisar os processos de adaptação dos insetos vetores ao ambiente domiciliar, os mecanismos que influenciam a manutenção deles nos ambientes compartilhados com seres humanos e, consequentemente, o risco de transmissão dos patógenos transmitidos por eles. Nesta atividade, serão abordados os aspectos ecológicos de mosquitos, flebotomíneos e triatomíneos, tais como: • principais habitats; • sazonalidade; • dispersão; • resistência aos inseticidas. Fonte: https://designme3.wordpress.com/2014/04/07/reciclar-materiais-poupa-o- meio-ambiente-de-receber-mais-poluentes/ https://designme3.wordpress.com/2014/04/07/reciclar-materiais-poupa-o-meio-ambiente-de-receber-mais-poluentes/ https://designme3.wordpress.com/2014/04/07/reciclar-materiais-poupa-o-meio-ambiente-de-receber-mais-poluentes/ 55 As modificações ambientais chamadas antrópicas, como, por exemplo, desmatamento, monoculturas, criação intensiva de animais, urbanização sem planejamento, podem promover a adaptação de espécies de insetos associadas a doenças como Dengue, Malária, Febre amarela, Leishmanioses e Doença de Chagas. Alterações no perfil epidemiológico dessas doenças têm sido observadas nas últimas décadas, e podem estar associadas a mudanças na ocorrência dos insetos vetores. A Leishmaniose visceral ocorria mais em ambientes rurais; atualmente, ela ocorre mais em grandes centros urbanos, onde há ocorrência de muitos cães domésticos e populações urbanas de L. longipalpis, vetor que, ao longo dos anos, passou a ser mais frequente em ambiente antropizado. 56 Culicídeos Flebotmíneos Triatomíneos Os Culicídeos apresentam variados criadouros naturais, como bromélias, palmeiras, lagos, manguezais, porém são os criadouros artificiais que possuem maior papel na manutenção deles em ambientes próximos ao homem. Os flebotomíneos apresentam variados criadouros naturais. Os locais de descanso diurno são sombreados e úmidos. As formas imaturas são terrestres, desenvolvendo-se em solo úmido, em buracos em troncos de árvores, em tocas de animais e em cavernas calcárias. Os triatomíneos podem ser encontrados nos mais variados habitats. No interior das casas, são frequentes nas rachaduras das paredes, nos telhados, atrás de armários, embaixo de camas etc. 57 Figura 21. Criadouros de Aedes aegypti. O precário saneamento básico e o sistema habitacional desorganizado em favelas e invasões têm favorecido o aumento do número de criadouros potenciais de mosquitos. A proliferação do mosquito Ae. aegypti também é favorecida pelo grande volume de descartáveis jogados em terrenos baldios, praias, logradouros, estradas, avenidas e quintais, os quais podem servir como criadouros. 58 O precário saneamento básico e o sistema habitacional desorganizado em favelas e invasões têm favorecido o aumento do número de criadouros potenciais de mosquitos. A proliferação do mosquito Ae. aegypti também é favorecida pelo grande volume de descartáveis jogados em terrenos baldios, praias, logradouros, estradas, avenidas e quintais, os quais podem servir como criadouros. Figura 22. Criadouros de anofelinos. Fonte: Obara, 2010. Delcio Natal. 59 A sazonalidade dos mosquitos é marcante, sendo muito mais frequente no período das chuvas, o que coincide com períodos de maior temperatura e maior incidência das doenças transmitidas por eles (Souza et al., 2010). Entretanto, mesmo em períodos frios e secos, a manutenção de reservatórios de água pela população (como caixas d’água destampadas) pode favorecer a manutenção dos mosquitos no ambiente. 60 Vários outros fatores podem influenciar a ocorrência dos mosquitos além do regime de chuvas, como: 61 Em relação à resistência ... A resistência de diferentes populações de Ae. aegypti aos inseticidas convencionais está devidamente comprovada. Populações de Ae. aegypti em vários municípios brasileiros apresentaram resistência ao Temephós utilizado no controle de larvas desse mosquito por muito tempo (Chediak et al., 2016). A figura a seguir mostra a mortalidade de populações Ae. aegypti expostas ao Temephós. Em relação à dispersão... Há grande variação, com evidências de mosquitos dispersando ativamente por mais de 800 metros e de dispersão passiva, sendo carregados em veículos, navios e aviões. No caso de Ae. Aegypti, a sua dispersão está relacionada à densidade populacional. Em áreas com muitas casas próximas (por exemplo, favelas), os mosquitos voam usualmente de 40 a 50 metros. Em áreas com menor aglomeração humana, a média de voo registrada é de aproximadamente 100 metros, podendo chegar a 240 metros. Em regiões sem barreiras à dispersão do mosquito, como montanhas, praias ou grandes avenidas, o vetor pode atingir um raio de voo de 800 metros (Fiocruz, 2017). 62 Existem evidências de resistência de Cx. quinquefasciatus ao Temephós e relatos de populações de Ae. aegypti com alteração de suscetibilidade para piretróides, o que mostra a necessidade de utilização de inseticidas alternativos. Já as populações brasileiras de Anopheles darlingi, até o momento, não apresentam resistência aos inseticidas usados em seu controle. Você verá mais detalhes sobre resistência dos insetos a inseticidas na Unidade 3. Para saber mais assista asvídeo aulas “Aedes aegypti – Introdução aos Aspectos Científicos do Vetor”. http://auladengue.ioc.fiocruz.br/ Figura 23. Mortalidade de populações de A. aegypti expostas ao inseticida temephós. As cores mais quentes indicam áreas onde a mortalidade foi abaixo de 50%. As áreas verdes indicam áreas onde o temephós ainda provoca alta mortalidade. Fonte: Chediak et al. (2016). http://auladengue.ioc.fiocruz.br/ 63 Culicídeos Flebotmíneos Triatomíneos Os Culicídeos apresentam variados criadouros naturais, como bromélias, palmeiras, lagos, manguezais, porém são os criadouros artificiais que possuem maior papel na manutenção deles em ambientes próximos ao homem. Os flebotomíneos apresentam variados criadouros naturais. Os locais de descanso diurno são sombreados e úmidos. As formas imaturas são terrestres, desenvolvendo-se em solo úmido, em buracos em troncos de árvores, em tocas de animais e em cavernas calcárias. Os triatomíneos podem ser encontrados nos mais variados habitats. No interior das casas, são frequentes nas rachaduras das paredes, nos telhados, atrás de armários, embaixo de camas etc. 64 Os flebotomíneos apresentam variados criadouros naturais. Os locais de descanso diurno são sombreados e úmidos. As formas imaturas são terrestres, desenvolvendo-se em solo úmido, em buracos em troncos de árvores, em tocas de animais e em cavernas calcárias. Figura 24. Criadouros naturais de flebotomíneos. 65 Os criadouros artificiais são representados por quintais sombreados com muita matéria orgânica devido à presença de árvores frutíferas (mangueiras, bananeiras), galinheiros e chiqueiros. Figura 25. Criadouros artificiais de flebotomíneos. Fonte: Eunice Galati. 66 A sazonalidade dos mosquitos ... No Brasil, vários estudos têm indicado que a ocorrência de flebotomíneos é maior nos meses chuvosos do ano. Maiores temperaturas observadas durante a estação chuvosa podem favorecer a atividade alimentar de flebotomíneos. Entretanto, alguns estudos em matas de galeria na região Centro-Oeste indicam uma maior ocorrência de flebotomíneos durante a estação seca e fria. Uma provável explicação seria o efeito negativo de chuvas intensas no desenvolvimento das formas imaturas e na mobilidade espacial desses insetos nas florestas. Esse efeito seria menor para flebotomíneos em ambientes artificiais. E certas espécies de flebotomíneos podem ocupar habitats degradados. 67 Em relação à dispersão ... Os flebotomíneos costumam dispersar pouco, geralmente menos que 200 metros. Por exemplo, experimentos de captura- marcação-recaptura com N. neivai mostraram que 90% dos flebotomíneos recapturados estavam a menos de 70 metros do local de soltura. Considerando que a maioria das espécies está presente nas florestas, a construção de casas distantes desses ambientes (200-500 metros) seria uma forma de diminuir as chances de colonização. O desmatamento pode favorecer a dispersão de espécies para ambientes artificiais e desencadear surtos de Leishmanioses. A migração humana associada ao desenvolvimento de grandes empreendimentos também tem sido apontada como fator de dispersão dos flebotomíneos. Além do mais, a falta de saneamento básico também favorece a reprodução de flebotomíneos. A distribuição da Leishmaniose visceral associada à L. longipalpis em áreas urbanizadas é consequência da adaptação dessa espécie a ambientes modificados e é favorecida por sua capacidade de se alimentar com frequência em animais domésticos, como o cão. 68 Em relação à resistência ... Em relação à suscetibilidade aos inseticidas usados no controle de flebotomíneos, não há evidências de altos níveis de resistência de diferentes populações de L. longipalpis ao inseticida alfacipermetrina. Você verá mais detalhes sobre resistência dos insetos aos inseticidas na Unidade 3. 69 Culicídeos Flebotmíneos Triatomíneos Os Culicídeos apresentam variados criadouros naturais, como bromélias, palmeiras, lagos, manguezais, porém são os criadouros artificiais que possuem maior papel na manutenção deles em ambientes próximos ao homem. Os flebotomíneos apresentam variados criadouros naturais. Os locais de descanso diurno são sombreados e úmidos. As formas imaturas são terrestres, desenvolvendo-se em solo úmido, em buracos em troncos de árvores, em tocas de animais e em cavernas calcárias. Os triatomíneos podem ser encontrados nos mais variados habitats. No interior das casas, são frequentes nas rachaduras das paredes, nos telhados, atrás de armários, embaixo de camas etc. 70 No peridomicílio, são encontrados em galinheiro, chiqueiro, paiol, cercas e amontoados de tijolos, de telhas e de pedras; em casas colonizadas, é frequente o encontro de marcas de fezes nas paredes. Figura 26. Casas receptivas para triatomíneos. Observar parede com marcas de fezes de triatomíneos. Fonte: Rodrigo Gurgel Gonçalves. 71 No ambiente silvestre, são encontrados em palmeiras, em bromélias, em cactos, sob casca de árvores ou rochas e em tocas de animais. Nas florestas, existem associações entre determinados habitats e as espécies de triatomíneos. Por exemplo, espécies de Rhodnius são encontradas frequentemente em palmeiras; as de Panstrongylus, em tocas de animais; e as de Triatoma, em complexos rochosos. Figura 27. Habitats de triatomíneos em ambiente silvestre. 72 Algumas espécies de triatomíneos adaptaram-se ao ambiente modificado pelo homem, incluindo novas fontes de alimentação (sangue de humanos e de outros animais domésticos). Ao viver em casas mal construídas e em estado precário, os humanos propiciaram aos vetores boas condições de colonização. Triatomíneos infectados provenientes de remanescentes florestais também podem invadir casas em ambientes urbanos. O desmatamento e a ocupação humana podem causar a extinção local de mamíferos e de aves silvestres, diminuindo fontes de alimento para os triatomíneos, os quais invadem as casas, principalmente em favelas e em condomínios na periferia das grandes cidades e próximos às matas. 73 Em relação à sazonalidade ... Algumas espécies, como Panstrongylus megistus, ocorrem mais frequentemente nas casas na primavera, logo após o início das primeiras chuvas. Em relação à dispersão ... Os triatomíneos, geralmente, não realizam dispersão ativa de longa distância. Experimentos de captura- marcação-recaptura indicam capacidades de dispersão de 100-500 metros, sendo que o deslocamento pode ser a partir do voo ou até mesmo andando. Em relação à resistência ... Alguns estudos de monitoramento de suscetibilidade de triatomíneos têm mostrado elevados níveis de resistência aos piretróides em populações de T. infestans do norte da Argentina, do sul do Brasil e Bolívia. No Brasil, avaliações de suscetibilidade de T. sordida registraram níveis de resistência incipiente à Deltametrina. Você verá maiores detalhes sobre resistência dos insetos aos inseticidas na Unidade 3. 74 Atividade 3 Exercício EXERCÍCIO 1 Busque os dados de capturas atualizados de flebotomíneos, triatomíneos e mosquitos urbanos em artigos científicos, na Secretaria de Saúde, Centro de Controle de Zoonoses, ou boletins disponibilizados pelos serviços de saúde de seu município e organize uma planilha com dados de densidade e de ocorrência para determinar quais espécies seriam os principais alvos para atividades de controle. 75 Atividade 4 Importância Médica Nas lições anteriores, foram apresentadas as características morfológicas, biológicas e ecológicas dos culicídeos, flebotomíneos e triatomíneos. Nesta Unidade, será apresentada a importância médica, ou seja, o papel desses vetores na transmissão de patógenos ao homem, causando doenças como Dengue, Zika, Chikungunya, Febre Amarela, Malária, Doença de Chagas e Leishmanioses. Certamente, você já ouviu falar sobre essas doenças ou conhece alguém que adquiriu algumas delas. Pois bem, nessa atividade serão apresentadosos principais vírus e protozoários transmitidos por esses insetos, suas taxas de infecção, uma breve situação epidemiológica e, sucintamente, as características das doenças associadas a esses vetores. Fonte: https://sindsaude.org.br/noticias/informe/2488/o-estrago-que-o-aedes-aegypti-esta- causando.html https://sindsaude.org.br/noticias/informe/2488/o-estrago-que-o-aedes-aegypti-esta-causando.html https://sindsaude.org.br/noticias/informe/2488/o-estrago-que-o-aedes-aegypti-esta-causando.html 76 Doenças DENGUE ZIKA CHIKUNGUNYA FEBRE AMARELA MALÁRIA LEISHIMANIOSES DOENÇA DE CHAGAS 77 DENGUE Doença febril aguda resultante da infecção por arbovírus do gênero Flavivírus, transmitido pela picada do mosquito Ae. aegypti. São conhecidos quatro sorotipos: DENV 1, DENV 2, DENV 3 e DENV 4. Manifestações Clínicas A doença pode apresentar evolução clínica leve e autolimitada (na maioria dos casos) até doença grave, quando os pacientes apresentam choque (pulso rápido e fraco, diminuição da pressão de pulso, extremidades frias, demora no enchimento capilar, pele pegajosa e agitação) com ou sem hemorragia, podendo evoluir para o óbito (pequena parte dos casos). O período de incubação varia de 4 a 10 dias, sendo, em média, de 5 a 6 dias. Casos suspeitos: são pessoas que vivam ou tenham viajado nos últimos 14 dias para área onde esteja ocorrendo transmissão de dengue; que apresentem febre, usualmente entre 2 e 7 dias, e duas ou mais das seguintes manifestações: náusea, vômitos, exantema, mialgias, artralgia, cefaleia, dor retro-orbital, petéquias ou prova do laço positiva e leucopenia. Epidemiologia É a mais importante arbovirose que afeta o ser humano, constituindo-se em sério problema de saúde pública no mundo. É estimado que 50 milhões de infecção por dengue ocorram anualmente, e que, aproximadamente, 2,5 bilhões de pessoas vivem em países onde o dengue é endêmico (SVS, MS, 2017). 78 ZIKA É uma doença viral aguda resultante da infecção por vírus do gênero Flavivírus. Até o momento, são conhecidas e descritas duas linhagens do vírus: uma Africana e outra Asiática. A doença é transmitida, principalmente, pelos mosquitos Ae. aegypti e Ae. albopictus. Manifestações Clínicas Caracterizada por exantema maculopapular pruriginoso, febre intermitente, hiperemia conjuntival não purulenta e sem prurido, artralgia, mialgia e dor de cabeça. A maioria dos casos apresenta evolução benigna e os sintomas geralmente desaparecem espontaneamente após 3 a 7 dias. No entanto, observa-se a ocorrência de óbitos pelo agravo, aumento dos casos de microcefalia e de manifestações neurológicas associadas à ocorrência da doença. Epidemiologia No primeiro semestre de 2015, após a confirmação da circulação do vírus Zika e a crescente epidemia que acometeu principalmente estados da Região Nordeste, o Ministério da Saúde recebeu notificação do aumento de internações por manifestações neurológicas. O vírus Zika foi associado ao nascimento de crianças com microcefalia. Investigações sobre o tema estão em andamento para esclarecer questões como a transmissão desse agente, a sua atuação no organismo humano, a infecção do feto e qual seria o período de maior vulnerabilidade para a gestante (Fiocruz, 2017b). 79 CHIKUNGUNYA Enfermidade febril aguda, subaguda ou crônica resultante da infecção pelo vírus Chikungunya (CHIKV), transmitido por mosquitos do gênero Aedes. Manifestações Clínicas A doença aguda apresenta febre alta, cefaleia, mialgias e dor articular (artralgia), a qual é mais intensa do que nas infecções pelos vírus da Dengue e Zika. Em uma porcentagem dos casos, a artralgia se torna crônica, podendo persistir por anos. As formas graves e atípicas são raras, podendo evoluir para óbito. Epidemiologia No Brasil, a transmissão autóctone foi confirmada no segundo semestre de 2014, primeiramente nos estados do Amapá e da Bahia; atualmente, todos os estados do país já registraram casos autóctones (SVS, MS, 2017). 80 FEBRE AMARELA A Febre amarela é uma doença infecciosa febril aguda e imunoprevenível. O agente etiológico é um arbovírus do gênero Flavivirus, transmitido pela picada dos mosquitos transmissores infectados (diferentes gêneros, incluindo Aedes, Culex, Haemagogus e Sabethes). Manifestações Clínicas Quem contrai o vírus da Febre Amarela na maioria das vezes não chega a apresentar sintomas ou os mesmos são muito fracos. As manifestações são: febre alta, calafrios, dores de cabeça e musculares, náuseas e vômitos por cerca de três dias. A forma grave da doença é rara e caracteriza-se por insuficiência hepática e renal, icterícia (olhos e pele amarelados) e manifestações hemorrágicas que podem levar à morte. Epidemiologia O vírus apresenta dois ciclos epidemiológicos de transmissão: silvestre e urbano. No ciclo silvestre, os primatas não humanos (macaco prego, por exemplo) são os principais hospedeiros do vírus (o homem participa como um hospedeiro acidental ao entrar nas florestas), e os vetores são mosquitos com hábitos silvestres (Haemagogus e Sabethes, por exemplo). No ciclo urbano, o homem é o único hospedeiro com importância epidemiológica, e a transmissão ocorre a partir de Ae. aegypti. Entretanto, a última ocorrência de Febre Amarela urbana no Brasil foi em 1942. A prevenção individual da doença é a vacinação, segura e eficaz. 81 Aedes aegypti O mosquito Ae. aegypti foi considerado erradicado no Brasil em 1956 e reapareceu no final da década de 1960. Durante a década de 1970, ampliou sua distribuição geográfica e favoreceu as epidemias de dengue nas décadas seguintes. Os vírus Zika e Chikungunya também têm sido detectados em Ae. aegypti. O número de casos de Dengue no Brasil tem alcançado números alarmantes ao se observar a série histórica entre 1990 e 2016 (Figura 28). 82 Figura 28. Número de casos de dengue no Brasil de 1990 a 2016. 83 Figura 29. . Taxa de incidência (/100 mil habitantes) de febre de chikungunya no Brasil, 2016. Fonte: Sinan. Figura 29. Taxa de incidência (/100 mil habitantes) de Zika no Brasil, 2016. Fonte: Sinan. A incidência de Zika e de febre de Chikungunya também é relevante no Brasil, principalmente considerando-se o potencial de desenvolvimento de sintomas graves como microcefalia. 84 Atualmente, com o surgimento de Zika e Chikungunya, o Ae. aegypti. é o principal alvo das campanhas de controle de vetores. Fonte: http://www.jcregional.com.br/aedes-aegypti-conheca-os-mitos-e-verdades/ http://www.jcregional.com.br/aedes-aegypti-conheca-os-mitos-e-verdades/ 85 Estudos têm mostrado que as taxas de infecção de Ae. aegypti pelo vírus da Dengue varia muito, dependendo da época do ano e de situação epidemiológica. Porém estudos realizados no Brasil e México revelaram taxas de infecção de aproximadamente 17% e 5%, respectivamente (Vilela et al., 2010, Garcia-Rejon et al., 2011). É possível que, em períodos epidêmicos, essas taxas possam ser ainda maiores, quando há detecção de diferentes sorotipos do vírus nos mosquitos. Outro aspecto que merece destaque na dinâmica de transmissão do vírus e na sua manutenção durante os surtos e as epidemias de dengue refere-se à transmissão transovariana, em que os vírus passam verticalmente das fêmeas de Ae. aegypti infectadas para seus descendentes. Alguns estudos têm evidenciado esse tipo de transmissão no Brasil, onde a taxa de transmissão transovariana para o DENV-4 MIR foi de aproximadamente 10% (Cruz et al., 2015). 86 Anopheles Anopheles darlingi é o principal vetor das espécies de Plasmodium no Brasil, agentes etiológicos da Malária. 87 MALÁRIA A Malária é uma doença febril aguda resultante da infecção por protozoários do gênero Plasmodium, transmitidos por fêmeas infectadas do gênero Anopheles. Cinco espécies de Plasmodium podem causar a Malária humana, e três delas ocorrem no Brasil: P. vivax (mais frequente), P. falciparum (responsável pelos casos mais graves) e P. malariae (mais raro). O homem é o principal reservatório comimportância epidemiológica para a Malária. Manifestações Clínicas Os principais sintomas da Malária são febre precedida de calafrios, seguida de sudorese profusa, fraqueza e cefaleia, que ocorrem em padrões cíclicos, dependendo da espécie de plasmódio infectante. A doença apresenta cura se for tratada em tempo oportuno e adequadamente. O seu tratamento é simples, eficaz e gratuito. Entretanto, a Malária pode evoluir para forma grave e até para óbito (SVS, MS, 2017). Epidemiologia Apresenta ampla distribuição, com menor ocorrência em áreas muito secas e frias, sendo um anofelino que se alimenta frequentemente de sangue humano no interior das casas, com maior atividade de madrugada (Marcondes et al., 2011). An. darlingi apresenta geralmente maiores taxas de infecção natural por Plasmodium quando comparado com outros anofelinos que podem chegar a aproximadamente de 8% (Hiwat & Bretas, 2011). 88 MALÁRIA Na Amazônia, onde a Malária é predominante, An. darlingi se beneficia das alterações que o homem produz no ambiente silvestre, facilitando a transmissão. No litoral sul-americano, em direção ao Sul, até a Região Sudeste do Brasil, a Malária pode ser transmitida por outras espécies, como An. aquasalis. A ocorrência de Malária no Brasil tem diminuído nos últimos anos com a intensificação dos programas de controle. Com ampliação rápida e esforços sustentáveis, a eliminação da Malária é possível em cenários de baixa transmissão. No Brasil, o risco de transmissão da Malária é apresentado na Figura 30, na qual é possível observar que os municípios amazônicos, principalmente os do Noroeste da Amazônia, apresentam maior risco de transmissão. Em 2015, foram notificados cerca de 143 mil casos no Brasil, o menor número nos últimos 35 anos. Finalmente, em 2015, foram registrados 26 óbitos por Malária, resultando em uma redução de 89% em comparação com o ano de 2000. Veja o mapa a seguir. 89 A maioria dos casos de malária concentra-se na região Amazônica (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), área endêmica para a doença. Nas demais regiões, apesar das poucas notificações, a doença não pode ser negligenciada, pois se observa uma letalidade mais elevada do que na região endêmica. Figura 30. Municípios brasileiros classificados segundo cenário da eliminação da transmissão de P. falciparum, 2013. Fonte: SIVEP-Malária e SINAN-NET. 90 Culex quinquefasciatus Esse vetor é popularmente conhecido por pernilongo ou muriçoca e é o transmissor do nematóide Wuchereria bancrofti, agente etiológico da filariose linfática. 91 O Culex quinquefasciatus também apresenta ampla distribuição no Brasil e é o mosquito mais frequente dentro das casas, incomodando muito o homem devido ao fato de realizar hematofagia noturna. Vários estudos mostram relação entre a distribuição e a abundância de Cx. quinquefasciatus e a ocorrência de W. bancrofti no Brasil, onde o pernilongo apresentava taxas de infecção de 0,4 a 2,1% (Fontes et al., 2012). Atualmente, a transmissão da filariose linfática é focal no Brasil, e há previsão para sua eliminação nos próximos anos ao se considerar que o homem é o único hospedeiro do nematóide. Em Recife, cidade com o maior número de casos do País, várias estratégias de vigilância e de controle estão sendo desenvolvidas para mapear as áreas de risco para a doença e para permitir seu controle para alcançar a meta de eliminação da filariose linfática no Brasil (SVS, MS, 2017). A filariose linfática é resultante da infecção pelo verme nematoide Wuchereria bancrofti, o qual é transmitido pela picada do mosquito C. quiquefasciatus infectado com larvas do verme. Entre as manifestações clínicas mais importantes, estão edemas de membros, seios e bolsa escrotal que podem levar à incapacidade. 92 Flebotomíneos Os flebotomíneos são os vetores de espécies de Leishmania, agentes etiológicos da Leishmaniose tegumentar e visceral. 93 Nas Américas, dezenove espécies têm sido incriminadas como vetores dessas doenças. De forma geral, quatro critérios são usados para incriminar uma espécie como vetor de zoonoses: As taxas de infecção dos flebotomíneos por Leishmania spp. geralmente são baixas, e, mesmo aplicando métodos muito sensíveis como PCR (Polymerase Chain Reaction - Reação em Cadeia da Polimerase), as taxas dificilmente passam de 3%, alcançando valores maiores (10%) em áreas onde a transmissão é intensa (Falcão de Oliveira et al., 2017, Machado et al., 2017). Em relação à Leishmaniose visceral, sabe-se que 90% dos casos registrados na América Latina ocorrem no Brasil. A doença passou por uma mudança no perfil epidemiológico: antes, predominando em ambientes silvestres e rurais e, atualmente, em centros urbanos. Em média, cerca de 3.500 casos são registrados anualmente, com a maioria na região Nordeste. Em relação à Leishmaniose tegumentar, há maior número de casos registrados na região Norte. Os flebotomíneos podem ter hábitos exclusivamente silvestres, vivendo em florestas sem associação ao homem ou a animais domésticos e mantendo a enzootia (Marcondes, 2011). Quando humanos invadem a floresta para desempenhar algumas atividades (extrativismo, caça, ecoturismo, treinamentos militares), flebotomíneos como Bichromomyia flaviscutellata podem transmitir as leishmanias ao homem. Algumas espécies sinantrópicas vivem fora das habitações humanas e alimentam-se no peridomicílio (por exemplo: Ny. whitmani, principal vetor de L. braziliensis). Outros flebotomíneos vivem predominantemente associados ao homem e aos animais domésticos em áreas urbanas (por exemplo: L. longipalpis, principal vetor de L. infantum). 94 Figura 31. Casos de Leishmaniose Visceral (A) e Tegumentar (B) segundo município de residência do Brasil, 2015. Fonte: Ministério da Saúde. 95 LEISHIMANIOSES As Leishmanioses são um conjunto de doenças resultantes da infecção por protozoários do gênero Leishmania. Esses protozoários são transmitidos por insetos vetores conhecidos por flebotomíneos, com cerca de 20 espécies de Leishmania patogênicas para o ser humano. As Leishmanioses apresentam quatro formas, a depender da espécie de Leishmania envolvida e do estado imunológico do hospedeiro: Manifestações Clínicas As Leishmanioses apresentam quatro formas, a depender da espécie de Leishmania envolvida e do estado imunológico do hospedeiro: - Visceral (LV) também conhecida como Calazar, a forma mais grave da doença; - Cutânea, a mais comum; - Mucocutânea; - Cutânea difusa. A LV é uma doença crônica sistêmica, que afeta os órgãos como o fígado e o baço. A Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) inclui as formas cutânea, cutânea difusa e mucocutânea, caracterizadas pela formação de úlceras na pele (Brasil, 2006, 2010). Epidemiologia Segundo a Organização Mundial da Saúde, são estimados 900 mil a 1,6 milhão de novos casos de Leishmanioses; destes, 0,2 a 0,4 milhão de novos casos de LV e 0,7 a 1,2 milhões de novos casos de LT, com 20 mil a 30 mil mortes ocorrendo anualmente em todo o mundo. 96 Triatomíneos Os triatomíneos são os vetores do protozoário Trypanosoma cruzi, agente etiológico da Doença de Chagas. 97 DOENÇA DE CHAGAS A Doença de Chagas (DC) é uma infecção crônica e potencialmente fatal causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, descrito pelo pesquisador brasileiro Carlos Chagas em 1909. Essa doença é considerada uma das infecções parasitárias de maior importância na América Latina devido aos seus elevados impactos social e econômico, levando a óbito pessoas com idade entre 30 a 50 anos, principalmente por causa das manifestações patológicas de cardiopatia chagásica. A principal forma de transmissão é pela contaminação da pele e de mucosas com fezes de insetos hematófagos infectados, conhecidos popularmente como barbeiros. A transmissão também pode ocorrer oralmente, por meio da ingestão de alimentos contaminados por T. cruzi, como, por exemplo, suco de açaí e caldode cana. Outros mecanismos de transmissão são transfusão sanguínea, transplante de órgãos, transplacentária (congênita) e acidentes de laboratório (Gurgel-Gonçalves et al., 2012). Epidemiologia O perfil epidemiológico da Doença de Chagas apresenta duas áreas geográficas onde os padrões de transmissão são diferenciados: 1) A região extra-amazônica, onde ações de vigilância epidemiológica, entomológica e ambiental devem ser concentradas para evitar a transmissão por T. infestans e por outros vetores colonizadores e 2) a região da Amazônia Legal, onde as ações de vigilância devem ser ampliadas para detecção de casos febris, apoiada na vigilância da Malária; identificação e mapeamento das áreas de maior transmissão e vigilância de surtos relacionados à ingestão de alimentos contaminados (por exemplo, açaí) (SVS, MS, 2017). 98 DOENÇA DE CHAGAS Estima-se que existam entre dois e três milhões de indivíduos infectados por T. cruzi no Brasil, a maioria dos casos crônicos resultantes da intensa transmissão em décadas passadas. Após o controle do principal vetor, Triatoma infestans, houve clara redução da transmissão vetorial. No entanto, a ocorrência de Doença de Chagas aguda tem sido observada em diferentes estados, em especial na Amazônia Legal, principalmente devido à transmissão oral. Mais de 80% dos casos da Doença de Chagas foram devidos à transmissão vetorial por Triatoma infestans. Essa espécie apresenta caraterísticas que favorecem a transmissão de T. cruzi: • grande capacidade hematofágica, • alta densidade populacional, • defecação durante ou logo após alimentação, • boa capacidade de dispersão e • domiciliação, ampla distribuição geográfica e alta suscetibilidade para T. cruzi. Fonte: https://globoplay.globo.com/v/2611314/ https://globoplay.globo.com/v/2611314/ 99 DOENÇA DE CHAGAS As campanhas de controle baseadas na borrifação de casas com inseticidas tiveram um impacto relevante na ocorrência dessa espécie. No Brasil, T. infestans ocorria em mais de 700 municípios de 12 estados da década de 1980. Em 1991, o Brasil integrou-se a uma comissão intergovernamental dos Países do Cone Sul que tinha como um dos seus objetivos a eliminação de T. infestans. Durante a década de 1990 e no início dos anos 2000 ob- servou-se uma clara redução da distribuição de T. infestans no Brasil. Em 2006, o Brasil recebeu a Certificação Internacional de Interrupção da Transmissão da Doença de Chagas pelo T. infestans. Figura 32. Controle do Triatoma infestans no Brasil. Fonte: GT DCh/CCDTV/DEOPE/FNS. 100 DOENÇA DE CHAGAS Entretanto, focos desse triatomíneo ainda têm sido registrados na Bahia e no Rio Grande do Sul. Além disso, espécies de triatomíneos nativas das regiões brasileiras, como T. brasiliensis e T. pseudomaculata (Nordeste), T. sordida (Centro- Oeste), P. megistus (Sudeste) e T. rubrovaria (Sul), continuam invadindo e colonizando casas no Brasil. Em geral, ocupam ecótopos naturais e artificiais próximos das casas, associados a reservatórios silvestres e peridomiciliares, apresentando diferentes graus de antropofilia e níveis de infecção por T. cruzi. Dessa forma, mantém-se o risco de transmissão ao homem. Os dados disponíveis mostram poucos casos confirmados de Doença de Chagas aguda no Brasil. Figura 33. Municípios com casos registrados de Doença de Chagas Aguda. Fonte: Sinan/SVS/MS. 101 Atividade 4 Exercício EXERCÍCIO 1 Fazer um levantamento dos casos registrados na sua região de Dengue, Zika, Chikungunya, Malária, Leishmaniose Visceral, Leishmaniose Tegumentar e Doença de Chagas e dos principais vetores encontrados. 102 Glossário Antópica: termo que se refere a tudo aquilo que resulta da atuação humana. Artralgia: dor nas articulações. Estridulação: ruído agudo que produzem certos insetos, em geral friccionando uma parte do corpo com outra. Exantema Maculopapular: Tipo de erupção cutânea caracte- rizado por uma área vermelha e plana na pele com pápulas pequenas e confluentes. Feromônio: substâncias químicas que, disseminadas entre seres de uma mesma espécie, promovem reações específicas em seus indivíduos. Os feromônios secretados ou excretados são capazes de suscitar respostas de tipo fisiológico e/ou comportamental em outros membros que estejam num determinado raio do espaço ocupado pelo emissor. Existem vários tipos de feromônio, como os sexuais, de agregação, de alarme, entre outros. Hiperemia: conjuntival: olhos avermelhados. Leucopenia: taxa sanguínea de leucócitos abaixo do limite inferior de normalidade. Mialgias: dor muscular. Macrófitas: plantas aquáticas que vivem em brejos e até em ambientes verdadeiramente aquáticos (incluindo os corpos de água doce, salobra e salgada). Incluem vegetais desde macroalgas até angiospermas. Retro-orbital: atrás dos olhos. Petéquias: pequenos pontos vermelhos na pele resultante de pequenas hemorragias de vasos sanguíneos. Pruriginoso: que causa prurido, coceira. Serrapilheira: serrapilheira ou liteira é a camada formada pela deposição e acúmulo de matéria orgânica morta em diferentes estágios de decomposição que reveste superficialmente o solo. Sinantrópicas: Espécies que vivem junto com humanos em ambientes artificiais ou modificados pelo homem. 103 Mapa mental Chegamos ao fim da Unidade! Abaixo apresentamos um mapa conceitual que revisita os conhecimentos que você trabalhou nesta Unidade. 104 Referências 105 106 Sobre o autor Rodrigo Gurgel Gonçalves Doutor em Ciências da Saúde na área de Protozoologia e Entomologia Médica, atuando principalmente nos se- guintes temas: biologia de tripanossomatídeos; identificação e ecologia de vetores de doenças tropicais (espe- cialmente triatomíneos e flebotomíneos); desenvolvimento de aplicativos para identificação de artrópodes de interesse em saúde pública; vigilância e controle dos vetores da Doença de Chagas, Leishmanioses e Dengue. 108 ORGANIZAÇÃO OBJETIVOS Dípteros Dípteros Culicídeos (Mosquito) Flebotomíneos Triatomíneos Atividade 1 Atividade 2 Culicídeos (Mosquistos) Culicídeos (Mosquistos) Flebotomíneos Triatomíneos O ciclo de vida dos triatomíneos Atividade 3 Atividade 3 Atividade 4 Atividade 4 Glossário Mapa mental Referências Sobre o autor
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