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ESPÍRITO SANTO DIREITO PENAL DO TRÂNSITO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO – FAVENI SUMÁRIO 1 HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO NO BRASIL ..................... 2 2 CONCEITOS ............................................................................................... 6 2.1 Trânsito ................................................................................................ 6 2.2 Veículo automotor ................................................................................ 7 2.3 Fato jurídico e ato ilícito........................................................................ 8 2.4 Responsabilidades civil e penal ........................................................... 9 2.5 Responsabilidade civil automobilística ............................................... 11 2.6 Delito/Crime ........................................................................................ 13 3 ELEMENTOS DO CRIME ......................................................................... 14 3.1 Dolo .................................................................................................... 16 3.2 Dolo direto e indireto .......................................................................... 18 3.3 Culpa .................................................................................................. 19 3.4 Culpa consciente e culpa inconsciente............................................... 21 3.5 Culpa consciente e dolo eventual ....................................................... 22 4 CRIMES DE TRÂNSITO ........................................................................... 26 4.1 Crimes de Trânsito no CTB. ............................................................... 27 4.2 Infrações que preveem penalidades de crimes de trânsito ................ 28 4.3 Quais são as multas que podem levar à prisão? ................................ 36 4.4 Agravantes ......................................................................................... 38 4.5 Fiança ................................................................................................. 40 4.6 Embriaguez ao volante é crime de trânsito? ...................................... 41 5 As repercussões jurídicas práticas trazidas pela Lei nº 13.546/17 – que alterou o Código de Trânsito Brasileiro ..................................................................... 42 6 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 51 1 HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO NO BRASIL Foi em 15 de abril de 1902, após a chegada da indústria automobilística no Brasil, que segundo Pires (1998, p. 282 apud NOGUEIRA, 2009, p. 45) a Postura Municipal do Rio de Janeiro sob o n° 858 estabeleceu a velocidade máxima do automóvel no Distrito Federal, não podendo ser superior a 10 km/h na zona urbana, 20 km/h na suburbana e de 30 km/h na zona rural, destacada por ser de grande importância e influência para a evolução do tema. Fonte: doutormultas.com.br Consonante Franz e Seberino (2012, p. 17) por meio do Decreto n° 8.324 de 27 de outubro de 1910, se regulamentou o serviço subvencionado de transportes por automóveis estabelecendo que o motorneiro deveria ser senhor da velocidade de seu veículo sempre que puder ocorrer um acidente e também regulou a velocidade comercial mínima em 6 km/h ou 12 km/h para transporte de mercadorias e de passageiros, respectivamente. Em 1922, através do Decreto n° 4.460, de 11 de janeiro, foi proibida a circulação de carros de boi, definida a largura e carga máximas dos veículos e priorizado o tráfego de automóveis nas pontes. Desta maneira a legislação foi sendo aperfeiçoada como mostra o trabalho de Sarraff (2010, cap. I): [...] o Decreto Legislativo nº 5.141 de 05 de janeiro de 1.927, o qual Crê [sic] o Fundo Especial para Construção e Conservação de Estradas de Rodagem Federais; Decreto nº 18.323 de 24 de julho de 1.928, o qual aprovava o regulamento para a circulação internacional de automóveis, no território brasileiro e para a sinalização, segurança do trânsito e polícia das estradas de rodagens; Decreto Lei n º 2.994 de 28 de janeiro de 1.941, sendo o primeiro Código Nacional de Trânsito e logo depois, fora revogado pelo Decreto Lei n º 3.651 de 25 de setembro de 1.941; Decreto Lei n º 3.651 de 25 de setembro de 1.941 fora revogado pela Lei n º 5.108 de 21 de setembro de 1.966; Lei nº 5.970 de 11 de dezembro de 1.973, o qual excluía da aplicação do disposto nos artigos 6º, inciso I, 64 e 169 do CPP, os casos de acidentes de trânsito; Lei 6.174, de 09 de dezembro de 1.974 o qual dispõe sobre a aplicabilidade do disposto nos artigos 12, alínea a e 339, do Código de Processo Penal Militar, nos casos de acidentes de trânsito; Lei 6.194, de 19 de dezembro de 1.974, o qual dispõe sobre o seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos automotores de vias terrestres, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não; Lei 6.813, de 10 de junho de 1.980, o qual vislumbra sobre o transporte rodoviário de cargas; Lei n º 7.092 de 19 de abril de 1.983, o qual cria o Registro Nacional de Transportes Rodoviários de Bens e fixa condições para o exercício da atividade; Decreto n º 96.044 de 18 de maio de 1.988 o qual aprova o Regulamento para o Transporte Rodoviário de Produtos Perigoso; Decreto n º 96. 471 de 24 de agosto de 1.990, o qual dispõe sobre a simplificação do registro nacional de transportadores rodoviários de bens; Decreto n º 1.655 de 03 de outubro de 1.993, o qual define a competência da Polícia Rodoviária Federal; Decreto nº 1.777 de 09 de janeiro de 1.966, o qual autoriza o Ministro de Estado a criar as Juntas Administrativas de Recursos e Infrações (JARI) e também, baixando o respectivo Regimento Interno; Decreto 1.787 de 12 de janeiro de 1.996 o qual dispõe sobre a utilização de gás natural para fins automotivos [...]. A Lei n° 5.108 de 21 de janeiro de 1966, instituiu o Código Nacional de Trânsito que foi revogada em 22 de janeiro 1998, quando entrou em vigor a lei 9.503/97 instituindo o CTB – Código de Trânsito Brasileiro com o objetivo de regular a circulação nacional de veículos, na forma que se conhece atualmente. Houve atualizações objetivando acompanhar o dinamismo requerido pelo trânsito e as principais leis que alteraram o texto original do CTB foram: Lei nº 9.602, de 21 de janeiro de 1998 – incluiu a obrigatoriedade de aposição de inscrições, películas ou pinturas, quando comprometer a segurança do veículo; Lei nº 9.792, de 14 de abril de 1999 – revogou a obrigatoriedade do porte do kit de primeiros socorros; Lei nº 10.350, de 21 de dezembro de 2001 – determina a obrigatoriedade da realização de exame psicológico periódico para os motoristas profissionais; Lei nº 10.830, de 23 de 23 de dezembro de 2003 – alterou o limite de velocidade para motos passando a ser 110 km/h; Lei nº 11.275, de 7 de fevereiro de 2006 – excluiu a tolerância de seis decigramas de álcool por litro de sangue nos testes de alcoolemia, possibilitando em caso de recusa à realização desses, a caracterização por meio de outras provas em direito admitidas e incluiu o álcool ou substâncias análogas como agravantes do crime de homicídio culposo na direção de veículo; Lei nº 11.334, de 25 de julho de 2006 – alterou os limites de velocidade para fins de enquadramentos infracionais e de penalidades; Lei nº 11.705, de 19 de junho de 2008 – “Lei Seca” visa inibir o consumo de bebida alcoólica por condutor de veículo automotor; Lei nº 12.006, de 29 de julho de 2009 – regula a publicidade de mensagens educativas e propagandas relacionadas ao trânsito; Lei nº 12.009, de 29 de julho de 2009 – regulamenta o exercício das atividades dos profissionais em transporte de passageiros, entrega de mercadorias e em serviço comunitáriode rua com o uso de motocicleta; Lei nº 11.910, de 18 de março de 2009 – determinou a obrigatoriedade de air bags para veículos novos a partir de 01/01/14; Lei nº 12.217, de 17 de março de 2010 – torna obrigatória aprendizagem noturna; Lei nº 12.547, de 14 de dezembro de 2011 – alterou a contagem e período de suspensão do direito de dirigir por pontuação; Lei nº 12.760, de 20 de dezembro de 2012 – aumenta o rigor das penalidades para condutores com a capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa; Lei nº 12.971, de 9 de maio de 2014 – retirou do tipo o espírito de emulação nas disputas de corrida, aumentando o valor da multa de três para dez vezes o valor sendo, ainda, dobrada nos casos de reincidência dentro de um período de doze meses; Lei nº 13.103 de 2 de março de 2015 – normatizou o exercício da profissão de motoristas profissionais, legislando sobre intervalos, limites de jornada e obrigatoriedade de realização de exames toxicológicos, entre outras medidas; Lei nº 13.160 de 25 de agosto de 2015 – dispõe sobre retenção, remoção e leilão de veículo; Lei nº 13.146 de 6 de julho de 2015 – instituiu a obrigatoriedade de placas informativas de vagas especiais com informações das infrações por estacionamento indevido; Decreto nº 6.488, de 19 de junho de 2008 – disciplinou a margem de tolerância de álcool no sangue e a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia para efeitos de crime de trânsito; Fonte: doutormultas.com.br Decreto nº 6.489, de 19 de junho de 2008 – restringe a comercialização de bebidas alcoólicas em rodovias federais; Decreto nº 8.614, de 22 de dezembro de 2015 – disciplina a implantação do Sistema Nacional de Prevenção, Fiscalização e Repressão ao Furto e Roubo de Veículos e Cargas; Lei n° 13.258, de 8 de março de 2016 – delega ao DENATRAN – Departamento Nacional de Trânsito a competência para emissão de PID - permissão internacional para dirigir; Lei n° 13.281, de 4 de maio de 2016 – altera a competência do CONTRAN – Conselho Nacional de Trânsito, valores e unidades de multas, e de suspensão, passando a ser gravíssima manusear celular enquanto dirige; Lei n° 13.290, de 23 de maio de 2016 – incluiu a obrigatoriedade da utilização de faróis acesos durante o dia. 2 CONCEITOS 2.1 Trânsito Termo proveniente do Latim transitus derivado de transire (atravessar ou ir através) – trans (através) mais ire (ir). Alves (2002, p. 177) conceitua o trânsito como: “[...] a utilização isolada ou grupal das vias por meio de pessoas, veículos e semoventes. Esse uso pode efetivar- se para fins de circulação, parada e estacionamento, inclusive para as operações de carga ou descarga de bens”. A definição expressa de trânsito está no art. 1°, § 1° do Código de Trânsito Brasileiro “Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos, animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga”. O trânsito está apoiado em três pilares básicos que são fundamentais para que exista um trânsito seguro para todos. Esse chamado “tripé do trânsito” é composto por engenharia, educação e esforço legal que, se não trabalharem em conjunto o resultado segurança ficará prejudicado. A engenharia é a responsável por planejar as estruturas do trânsito de modo a que proporcionem segurança e fluidez no tráfego, através da elaboração de projetos de construção e de manutenção de vias compreendendo a sinalização e seus dispositivos de controle de circulação e de velocidade. A educação é focada na formação das pessoas. Existem programas para ensinar desde cedo, seja por meio de programas que visitam escolas e abordam o tema trânsito utilizando uma linguagem adequada às crianças ou através de infraestruturas que ensinam de forma lúdica e prática, as regras e princípios do CTB, preparando-os para uma convivência harmônica e segura no trânsito, trazendo benefícios para toda a sociedade. O terceiro pilar é o esforço legal que se subdivide em legislação, justiça e policiamento. A legislação é o que possibilita aplicação da justiça e é a base para as ações de policiamento, normatizando os direitos e deveres, desde as condutas, até as especificações técnicas de equipamentos. A justiça determina penas às infrações ou crimes cometidos por condutores e proprietários, observando não apenas o CTB, mas as diversas legislações de trânsito existentes. O policiamento é o responsável pela fiscalização das condutas contrárias ao ordenamento jurídico e pela orientação e controle do trânsito em situações adversas. Fonte: fasam.edu.br 2.2 Veículo automotor Ao pensarmos em veículo automotor, é fácil imaginar que se trata de automóveis. Porém, conforme previsto no art. 4° do CTB “Os conceitos e definições estabelecidos para os efeitos deste Código são os constantes do Anexo I”, páginas 90 e 95, respectivamente: [...] AUTOMÓVEL - veículo automotor destinado ao transporte de passageiros, com capacidade para até oito pessoas, exclusive o condutor. [...] VEÍCULO AUTOMOTOR - todo veículo a motor de propulsão que circule por seus próprios meios, e que serve normalmente para o transporte viário de pessoas e coisas, ou para a tração viária de veículos utilizados para o transporte de pessoas e coisas. O termo compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que não circulam sobre trilhos (ônibus elétrico) [...]. Portanto, como veremos adiante, para que exista a adequação da conduta ao tipo penal, é necessário estar na direção ou conduzindo veículo automotor. 2.3 Fato jurídico e ato ilícito Um dos primeiros conceitos desenvolvidos no direito é o de fato jurídico, que abarca inúmeros fatos que permeiam o mundo, a natureza, o homem e suas relações. Conforme a lição do brilhante jurista Pontes de Miranda, ''a noção fundamental do direito é a de fato jurídico; depois a de relação jurídica''. É importante registrar que ''fato jurídico'' não é um conceito exclusivo do direito civil, mas de todo direito. Nesse sentido, o seu estudo é mais apropriado na teoria geral do direito, pois não se limita ao direito civil, tendo aplicação em todos os demais ramos do direito público ou privado. Segundo o professor Paulo Lôbo, ''fatos jurídicos são todos os fatos naturais ou de conduta aos quais o direito atribui consequências jurídicas''. Dentre as espécies de fatos jurídicos, merecem destaque os ''fatos humanos'' ou ''atos jurídicos em sentido amplo'', que são os acontecimentos dependentes da vontade humana, as ações humanas que criam, modificam, transferem ou extinguem direitos e deveres, e são divididos em ''atos lícitos'' e ''atos ilícitos''. Nesse sentido, lícitos são os atos humanos a que a lei defere os efeitos almejados pelo agente. Portanto, quando são praticados em conformidade com o ordenamento jurídico, produzem efeitos jurídicos voluntários. Os atos ilícitos, por serem praticados em desacordo com o prescrito no ordenamento jurídico, embora repercutam na esfera do direito, produzem efeitos jurídicos involuntários, mas impostos por esse ordenamento. Ao revés de criarem direitos, os atos ilícitos criam deveres, obrigações. Carlos Roberto Gonçalves define o ''ato ilícito'' como sendo o ato praticado com infração ao dever legal de não lesar a outrem. Conforme a redação do art. 186 do Código Civil, ''aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito''. Também o comete aquele que pratica ''abuso de direito'', ou seja, ''o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes'' (art. 187). Emconsequência, o autor do dano fica obrigado a repará-lo (art. 927). Nesse sentido, o crime consiste em um fato jurídico, mais especificamente em um ato ilícito, ou seja, uma conduta humana contrária à ordem jurídica e ensejadora de responsabilidade, de efeitos jurídicos involuntários, de danos a serem reparados. O crime de embriaguez ao volante, assim como o crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor consistem, portanto, em ''fatos jurídicos'', ou ainda em ''fatos humanos'' ou ''atos ilícitos'', por contrariarem especificamente os tipos descritos nos arts. 306 e 302 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), sujeitando o transgressor à reparação dos danos causados e às sanções de ordem penal, civil e administrativa previstas em lei1. 2.4 Responsabilidades civil e penal Fonte: macieladvocacia.com Caio Mário da Silva Pereira ensina que o ato ilícito, por sua própria natureza, é lesivo do direito de outrem, portanto, fonte de obrigação: a de indenizar ou ressarcir o prejuízo causado. É praticado com infração a um dever de conduta, transgressão a 1 Texto extraído da monografia Crimes de trânsito e as alterações do Código de Trânsito Brasileiro atinentes à embriaguez na condução de veículo automotor, de Luis Felipe Chiesorin Carneiro. um dever jurídico, por meio de ações ou omissões culposas ou dolosas do agente, de forma consciente ou inconsciente, das quais resulta dano para outrem. Dessa forma, o elemento subjetivo da culpa é o dever violado, sendo a responsabilidade uma reação provocada pela infração a um dever preexistente. No entanto, ainda que haja violação de um dever jurídico e que tenha havido culpa, ou até mesmo dolo, por parte do infrator, nenhuma indenização será devida, uma vez que não se tenha verificado prejuízo. Não há, portanto, uma diferença ontológica entre os ilícitos civis e penais. Há ilícitos de natureza civil, administrativa, penal etc.; entretanto, não existe uma distinção substancial entre essas espécies de ilicitude, pois todas consistem em contrariedade entre a conduta do agente e o ordenamento jurídico. As distinções a serem feitas são as seguintes: o ilícito penal possui maior gravidade em relação aos demais, tendo em vista que o Direito Penal tem o objetivo de proteger os bens jurídicos mais importantes e necessários à vida em sociedade; e sua consequência, a pena, poderá acarretar até mesmo a privação da liberdade do agente, enquanto no ilícito civil a consequência se restringe à obrigação de reparação do dano e outras sanções de natureza cível. A noção de responsabilidade, um dos temas jurídicos mais interessantes e problemáticos ante sua surpreendente expansão no direito moderno, destaca-se como aspecto da realidade social e está relacionada a toda atividade que acarrete prejuízo. Nesse sentido, a função da responsabilidade é justamente restaurar o equilíbrio moral e patrimonial provocado pelo autor do dano. Ressalte-se que obrigação e responsabilidade não se confundem: obrigação é sempre um dever jurídico originário; responsabilidade é um dever jurídico sucessivo que surge para recompor o dano causado pela violação do dever originário. A responsabilidade jurídica abrange as responsabilidades civil e penal e aparece quando houver infração de norma jurídica ou penal, causadora de danos que perturbem a paz social que essa norma visa manter. Amparado nas lições de Aguiar Dias, Carlos Roberto Gonçalves ensina que é praticamente o mesmo o fundamento da responsabilidade civil e da responsabilidade penal. A diferença consiste nas condições em que residem, pois a responsabilidade penal é mais exigente que a civil quanto ao aperfeiçoamento dos requisitos que devem coincidir para se efetivar. No caso da responsabilidade penal, o agente viola norma de direito público, acarretando um dano social que exige a aplicação de uma pena ao lesante para restauração do equilíbrio. O interesse lesado, portanto, é o da sociedade. Na responsabilidade civil, o interesse diretamente lesado é o privado, sendo necessária a verificação de prejuízo a terceiro, particular ou Estado. O prejudicado poderá pleitear ou não a reparação, traduzida na recomposição do statu quo ante ou numa importância em dinheiro. 2.5 Responsabilidade civil automobilística Fonte: www.automobi.com.br A responsabilidade civil por acidentes automobilísticos constitui questão da mais alta relevância em face da posição de destaque que o automóvel assumiu na vida do homem em todo mundo e do grande número de veículos existentes. O expressivo número de acidentes de trânsito e a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre o tema transcendem os direitos civil e processual civil, merecendo ser tratado juntamente com a Lei de Contravenções Penais e o Código Penal – CP. Cabe registrar que, entre as causas principais dos acidentes de trânsito, merece destaque a falta de ajuste psicofísico para a condução do veículo e a desobediência costumeira às regras e disposições regulamentares, tais como a embriaguez, a fadiga, o sono, o nervosismo, os estados de depressão e angústia, a emulação, o uso de drogas, o exibicionismo, imperícia do condutor, ultrapassagem imprudente nas curvas, falha mecânica, más condições do veículo e de visibilidade, etc. De forma geral, são dois os tipos de responsabilidade nos acidentes automobilísticos: a contratual e a delitual, a exemplo dos crimes de embriaguez ao volante e homicídio culposo na direção de veículo automotor. A responsabilidade decorrente de contrato de transporte na relação entre transportador e transportado, por exemplo, é objetiva; na hipótese de colisão entre dois carros causando danos aos veículos, ter-se-á responsabilidade aquiliana ou extracontratual, derivada de infração a um dever legal (ato ilícito). Na esfera cível, a responsabilidade civil automobilística é mais eficiente com relação ao ressarcimento e à justa indenização da vítima, havendo a tendência de deslocamento do eixo de gravitação da responsabilidade civil, da culpa para o risco. No campo penal, entretanto, apesar do enrijecimento das leis que tratam sobre o assunto, a legislação pátria é benevolente e necessita prever as adequadas e severas punições aos criminosos de trânsito, a fim de que o Brasil deixe de ocupar os primeiros lugares nas estatísticas mundiais referentes aos acidentes de trânsito. Desse modo, com relação à responsabilidade aquiliana, decorrente de acidente que envolve mais de um veículo, a jurisprudência ainda utiliza o critério da culpa para a solução dos casos. Em relação aos casos de atropelamento sem culpa da vítima ou de abalroamento de veículos ou de postes e outros obstáculos, tem-se utilizado a teoria do risco objetivo ou do exercício de atividade perigosa para responsabilizar o condutor ou o proprietário do veículo, afastando-se, desse modo, a alegação de caso fortuito em razão de defeitos mecânicos ou de problemas de saúde ligados ao condutor. Cabe registrar que, de acordo com a jurisprudência, a responsabilidade do lesante é excluída na ocorrência de força maior, caso fortuito, culpa exclusiva da vítima, estado de necessidade e fato de terceiro, se invocadas tais excludentes da obrigação de reparar o dano, desde que provadas. 2.6 Delito/Crime Fonte: www.abogadosrosario.com Alguns autores nomeiam a realização de ato ilícito como delito e outros como crime e por aquele soar como mais brando que este, recorremos à definição do Aurélio (1975, p. 429) “Delito. Fato que a lei declara punível; crime” confirmando serem termos sinônimos. Todo aquele que com uma conduta humana positiva ou negativa, se amolde ao tipo penal com antijuridicidade e culpabilidade, comete crime. (JESUS, 2005, p. 153- 154). Segundo Zaffaroni: [...] delito é uma conduta humana individualizada mediante um dispositivolegal (tipo) que revela sua proibição (típica), que por não estar permitida por nenhum preceito jurídico (causa de justificação) é contrária à ordem jurídica (antijurídica) e que, por ser exigível do autor que agisse de maneira diversa diante das circunstâncias, é reprovável (culpável). (ZAFFARONI, 2009, p. 340). Zaffaroni (2009, p. 339) ensina como deve ser o procedimento para inferimos se há ou não crime: “Esta definição do delito como conduta típica, antijurídica e culpável nos dá a ordem em que devemos formular as perguntas que nos servirão para determinar, em cada caso concreto, se houve ou não delito”. Ou seja, devemos questionar caso a caso e na respectiva ordem em que são indicados nos próximos passos: Em primeiro lugar, devemos perguntar se houve conduta, porque, se falta o caráter genérico do delito, então nos encontramos diante de uma hipótese de ausência de conduta e não se deve formular qualquer outra pergunta. Em seguida, devemos indagar pelos caracteres específicos, mas também aqui devemos seguir a ordem indicada, porque, se concluímos que a conduta não está individualizada em um tipo penal, não faz sentido averiguar se está permitida ou se é contrária à ordem jurídica e menos ainda se é reprovável, posto que jamais será delito, mesmo que ambas as respostas sejam afirmativas. Estaremos diante de um caso de falta de tipicidade, que se denomina atipicidade (a conduta é atípica). Se estamos lidando com uma conduta típica, caberá então indagarmos se esta conduta é antijurídica, porque, em caso negativo, não tem sentido perguntar-se pela culpabilidade, visto que o direito não se ocupa da reprovabilidade das condutas que não são contrárias a ele (que estão justificadas). Somente quando temos uma conduta típica e antijurídica (um injusto), é que tem sentido perguntar-se se esta conduta é reprovável pelo autor, isto é, se é culpável. Nos casos de inculpabilidade, o injusto não é delito. (ZAFFARONI, 2009, p. 339) 3 ELEMENTOS DO CRIME Fonte: canalcienciascriminais.com.br Todo delito pode ser formalmente definido como um fato típico, antijurídico e culpável. Para que ocorra a configuração do crime, primeiramente, é necessário identificar os elementos do fato típico, quais sejam: conduta (ação ou omissão), resultado, relação de causalidade ou nexo causal e tipicidade. Caso o fato não apresente qualquer desses elementos, não pode ser considerado típico, excetuando- se a tentativa, na qual não ocorre o resultado. A conduta consiste em uma ação voluntária voltada para uma finalidade; normalmente constitui uma ação em sentido estrito ou uma omissão, abstenção de fazer o que é devido. O resultado, por sua vez, consiste na modificação do mundo exterior pelo movimento corpóreo do agente a ele ligado por relação de causalidade. Segundo Mirabete, deve ser entendido como lesão ou perigo de lesão de um interesse protegido pela norma penal. O nexo causal consiste na ligação, na conexão que existe numa sucessão de acontecimentos que pode ser entendida pelo homem. A causa é a condição mais adequada para o resultado e, conforme a teoria da equivalência das condições (conditio sine qua non), todos os fatos que concorrem para a eclosão do evento são considerados causas deste. Dessa forma, para confirmar se determinado fato é causa do resultado, utiliza-se o processo hipotético de eliminação, segundo o qual a causa é um antecedente necessário para a ocorrência do resultado. Por fim, a tipicidade é a correspondência exata, a adequação perfeita entre o fato natural, concreto, e a descrição contida na lei. Em outras palavras, o tipo é o conjunto dos elementos descritivos do crime contidos na lei penal. Cabe frisar que não se pode confundir o tipo com a tipicidade. O tipo é a fórmula que pertence à lei, enquanto a tipicidade é a característica que tem uma conduta em razão de estar adequada a um tipo penal. A antijuridicidade ou ilicitude consiste na relação de contrariedade, de antagonismo que se estabelece entre a conduta do agente e o ordenamento jurídico. Nesse sentido, a antijuridicidade não se resume à esfera penal, abrangendo as esferas civil, administrativa, tributária, etc. Rogério Greco ensina que a antijuridicidade consiste na constatação de que a conduta típica (antinormativa) não está permitida por qualquer das quatro causas de justificação, previstas no art. 23 do Código Penal, quais sejam, o estado de necessidade, a legítima defesa, o estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular de direito, além do consentimento do ofendido. A culpabilidade, conceito mais debatido da teoria do delito, de acordo com Regis Prado, é a reprovabilidade pessoal pela realização de uma ação ou omissão típica e ilícita, consistindo no fundamento e no limite da pena. No mesmo sentido, Rogério Greco ensina que culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se realiza sobre a conduta típica e ilícita praticada pelo agente. Os elementos da culpabilidade são a imputabilidade, a potencial consciência sobre a ilicitude do fato e a exigibilidade de conduta diversa. Dessa forma, para que haja culpabilidade, ou seja, para que o fato típico e ilícito seja imputado ao agente, primeiramente é necessário que ele tenha a capacidade psíquica, denominada imputabilidade, de entender a antijuridicidade de sua conduta e de adequá-la à sua compreensão, que assume as formas de dolo ou culpa. A potencial consciência sobre a ilicitude do fato diz respeito à possibilidade do agente de conhecer, mediante algum esforço de consciência, a antijuridicidade de sua conduta. Além da imputabilidade e da potencial consciência sobre a ilicitude do fato, é necessário demonstrar que, nas circunstâncias do fato, seria possível exigir do agente um comportamento diverso daquele que tomou ao praticar o fato típico e ilícito, pois há circunstâncias ou motivos pessoais que tornam inexigível conduta diversa do sujeito. 3.1 Dolo Fonte: 3.bp.blogspot.com Para a configuração da culpabilidade, liame de natureza psicológica que se põe entre o fato e o agente, são necessários três elementos: a imputabilidade, que é a capacidade de entender o caráter criminoso do fato e determinar-se de acordo com esse entendimento, conforme preceitua o art. 26 do Código Penal; o elemento psicológico-normativo, que estabelece o nexo entre conduta e evento, sob a forma de dolo ou culpa; e a exigibilidade, nas circunstâncias do fato, de um comportamento conforme o dever. Para a caracterização do dolo, é necessária a junção de dois elementos: a consciência (previsão ou representação), que é o conhecimento do fato como sendo uma ação típica, e a vontade, que consiste no elemento volitivo de realizar o fato. Conforme a lição de Zaffaroni, o dolo consiste no querer o resultado típico, é a vontade realizadora do tipo objetivo. Existem várias teorias para conceituar o dolo, explicá-lo e inclusive para promover a distinção entre o dolo eventual e a culpa consciente, sendo as três principais teorias do dolo as seguintes: a teoria da vontade, a da representação e a do assentimento. Fonte: arquimedes.adv.br Para a teoria da vontade, age dolosamente quem pratica a ação consciente e voluntariamente. Para a teoria da representação, o dolo é a simples previsão do resultado; é a consciência de que a conduta provocará o resultado. Finalmente, para a teoria do assentimento ou consentimento, faz parte do dolo a previsão do resultado a que o agente adere, não sendo necessário que ele o queira, ou seja, há dolo quando o agente consente em causar o resultado ao praticar a conduta. O art. 18, inciso I, do Código Penal preceitua: ''Diz-se o crime: doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo''. Conforme a redação do dispositivo, a primeira parte diz respeito à teoria da vontade, o dolo direto, quando o agente realiza a condutacom o intuito de obter o resultado. A segunda parte refere- se à teoria do assentimento e trata do dolo eventual, quando a vontade do agente não está dirigida para a obtenção do resultado, ou seja, ele quer algo diverso, prevê que a sua conduta possa acarretar o fato típico, mas assume mesmo assim o risco de concretizá-lo. 3.2 Dolo direto e indireto A doutrina ensina que há diversas espécies de dolo (direto e indireto, geral, genérico e específico, normativo, subsequente, etc.); entretanto, para fins do presente estudo, serão estudados somente os dolos direto e indireto. Desse modo, ocorre o dolo direto quando o agente quer, efetivamente, cometer a conduta descrita no tipo. É o dolo por excelência e, nessa espécie, o agente pratica a sua conduta com o objetivo de produzir o resultado pretendido. Conforme o entendimento de Cezar Roberto Bitencourt, o dolo direto pode ser classificado em: dolo direto de primeiro grau ou imediato, e dolo direto de segundo grau ou mediato, ou ainda, dolo de consequências necessárias. De acordo com o autor, o dolo direto em relação ao fim proposto e aos meios escolhidos é classificado como de primeiro grau, e em relação aos efeitos colaterais, representados como necessários, é classificado como de segundo grau. Em outras palavras, Bitencourt declara que, quando se trata do fim diretamente desejado pelo agente, denomina-se dolo direto de primeiro grau, e, quando o resultado é desejado como consequência necessária do meio escolhido ou da natureza do fim proposto, denomina-se dolo direto de segundo grau. O autor ensina a diferença entre as duas modalidades de dolo direto com o seguinte exemplo: ''Haverá dolo direto de primeiro grau, por exemplo, quando o agente, querendo matar alguém, desfere-lhe um tiro para atingir o fim pretendido. No entanto, haverá dolo direto de segundo grau quando o agente, querendo matar alguém, coloca uma bomba em um táxi, que explode, matando todos (motorista e passageiros). Inegavelmente, a morte de todos foi querida pelo agente, como consequência necessária do meio escolhido. Em relação à vítima visada o dolo direto foi de primeiro grau; em relação às demais vítimas o dolo direto foi de segundo grau.'' O dolo indireto, por sua vez, pode ser dividido em alternativo e eventual. O dolo alternativo, de acordo com Fernando Galvão, ocorre quando o aspecto volitivo do agente se encontra direcionado, de maneira alternativa, seja em relação ao resultado ou em relação à pessoa contra a qual o crime é cometido. Nesse sentido, o dolo alternativo poderá ser objetivo, quando referir-se ao resultado, ou subjetivo, quando referir-se à pessoa contra a qual o agente dirige sua conduta. O dolo eventual, por sua vez, ocorre quando o agente, embora não querendo diretamente praticar a infração penal, não se abstém de agir e, com isso, assume o risco de produzir o resultado que por ele já havia sido previsto e aceito. Em outras palavras, no dolo eventual, o agente prevê o resultado como provável ou, ao menos, como possível, mas, apesar de prevê-lo, age aceitando o risco de produzi-lo, pois considera mais importante sua ação do que o resultado. 3.3 Culpa Apesar de longa elaboração doutrinária, não há, de fato, um conceito perfeito de culpa em sentido estrito e, consequentemente, de crime culposo. A conduta humana que interessa ao Direito Penal pode ocorrer de duas formas apenas: ou o agente atua dolosamente, querendo ou assumindo o risco de produzir o resultado, ou culposamente, dando causa a esse mesmo resultado, agindo com imprudência, negligência e imperícia. A punibilidade do crime culposo é admitida excepcionalmente no Direito Penal, isto é, somente quando prevista em lei tal modalidade, sendo o tipo doloso a regra, e o tipo culposo, a exceção. Nesse sentido, a ausência de conduta dolosa ou culposa faz com que o fato cometido pelo agente seja atípico, eximindo-o da infração penal a ser imputada a ele. A doutrina tem conceituado, portanto, o delito culposo a partir de seus elementos, quais sejam: a conduta humana voluntária, comissiva ou omissiva; a inobservância de um dever objetivo de cuidado (imprudência, negligência ou imperícia); o resultado lesivo não querido, tampouco assumido pelo agente; o nexo de causalidade entre a conduta do agente que deixa de observar o seu dever de cuidado e o resultado lesivo dela advindo; a previsibilidade e a tipicidade. No habeas corpus nº 186.451, o Superior Tribunal de Justiça – STJ decidiu: ''O crime culposo tem como elementos a conduta, o nexo causal, o resultado, a inobservância ao dever objetivo de cuidado, a previsibilidade objetiva e a tipicidade.'' (STJ, HC 186.451/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, 5ª Turma, DJe 12/06/2013). Fonte: canalcienciascriminais.com.br Em primeiro lugar, nos delitos culposos, a conduta consiste em um ato humano voluntário dirigido a um fim lícito, mas que, por imprudência, negligência ou imperícia, dá causa a um resultado não querido, nem mesmo assumido, tipificado previamente na lei penal. Na conduta dolosa, há uma finalidade ilícita; na conduta culposa, a finalidade é quase sempre lícita, porém, os meios empregados pelo agente foram inadequados ou mal utilizados. Com relação ao segundo elemento necessário à caracterização do crime culposo, ou seja, a inobservância de um dever objetivo de cuidado, que consiste nas modalidades de culpa, o indivíduo age de forma omissiva, imprudente ou sem perícia. A imprudência é a conduta arriscada, perigosa, impulsiva, sem cautela e atenção necessária. A negligência relaciona-se com a inatividade (forma omissiva), a inércia do agente que, podendo agir para não causar ou evitar o resultado lesivo, não o faz por preguiça, desleixo, desatenção ou displicência. A imperícia vem a ser a ausência de aptidão técnica, de habilidade, de destreza ou de competência e conhecimentos técnicos no exercício de atividade profissional ou arte. Além da inobservância de cuidado objetivo, o tipo culposo exige o resultado, ou seja, a efetiva lesão do bem jurídico tutelado. Portanto, se, apesar da conduta descuidada do agente, não houver resultado lesivo, não haverá crime culposo. Também é necessário haver um nexo de causalidade entre a conduta praticada pelo agente e o resultado dela advindo para que este último possa ser imputado ao agente. Outro elemento do delito culposo é a previsibilidade, ou seja, o fato deve ser previsível para o agente. Portanto, se não houver a previsibilidade do fato, o resultado não poderá ser atribuído ao agente. Por fim, a tipicidade também é necessária para a caracterização do delito culposo, ou seja, deve haver previsão legal expressa para a modalidade culposa de infração. 3.4 Culpa consciente e culpa inconsciente A distinção entre culpa consciente e inconsciente, espécies de culpa, está ligada à previsibilidade do resultado, um dos elementos do delito culposo. Segundo Mirabete, a culpa consciente, também chamada culpa com previsão, ocorre quando o agente prevê o resultado, mas espera, sinceramente, que este não ocorrerá. No mesmo sentido, Rogério Greco ensina que a culpa consciente é aquela em que o agente, embora prevendo o resultado, não deixa de praticar a conduta acreditando, sinceramente, que este resultado não venha a ocorrer. A culpa inconsciente, também chamada de culpa comum, existe quando o agente não prevê o resultado que lhe era previsível. Nesse sentido, o agente viola o dever objetivo de cuidado, apesar de lhe ser conhecível. 3.5 Culpa consciente e dolo eventual Fonte: midiabahia.com.br A distinção entre a culpa consciente e o dolo eventual é um dos problemas mais complexos da Teoria do Delito. A culpa consciente assemelha-se com o dolo eventual, porém ambos não se confundem. Apesar de haver a previsão do resultado em ambos os casos, Mirabete ensina que, na culpa consciente, o agente, embora prevendoo resultado, não o aceita como possível; no dolo eventual, o agente prevê o resultado e não se importa que venha ele a ocorrer. No mesmo sentido, Rogério Greco fundamenta: ''Na culpa consciente, o agente, embora prevendo o resultado, acredita sinceramente na sua não ocorrência; o resultado previsto não é querido ou mesmo assumido pelo agente. Já no dolo eventual, embora o agente não queira diretamente o resultado, assume o risco de vir a produzi-lo. Na culpa consciente, o agente, sinceramente, acredita que pode evitar o resultado; no dolo eventual, o agente não quer diretamente produzir o resultado, mas, se este vier a acontecer, pouco importa.'' A distinção entre culpa consciente e dolo eventual atualmente é bastante discutida nos casos de embriaguez ao volante com vítimas fatais, tema do presente trabalho. Em tais casos, os condutores normalmente dirigem embriagados e com excesso de velocidade, causando a morte ou deixando sequelas gravíssimas em suas vítimas. Devido ao elevado número de acidentes de trânsito decorrentes da embriaguez ao volante, o movimento da mídia nos últimos anos, exigindo punições mais rígidas, fez com que juízes e promotores passassem a considerar que tais delitos, praticados nessas condições, devessem ser classificados a título de dolo eventual em praticamente todos os casos devido à frase contida na segunda parte do inciso I do art. 18 do Código Penal, que diz ser dolosa a conduta quando o agente assume o risco de produzir o resultado . Entretanto, tal situação resultou em uma grande dúvida a respeito dos conceitos de dolo eventual e culpa consciente entre os juristas e operadores. Fonte: cucacursos.com Sobre esse tema, Rogério Greco registra: ''A insegurança começou a reinar. Fatos similares eram julgados de formas diferentes. Se um determinado acidente automobilístico recebesse a atenção da mídia, na hipótese em que um dos condutores houvesse numa das situações acima indicadas, vale dizer, em estado de embriaguez e/ou em velocidade excessiva, fatalmente seria indiciado, denunciado e levado a julgamento pelo Tribunal do Júri, por homicídio doloso, a título de dolo eventual. Se outro acidente, muito parecido com o que anunciamos, tivesse a sorte de não ser percebido pela mídia, como regra, seria submetido a julgamento pelo juízo singular e, se fosse o caso, condenado pela prática de um delito de natureza culposa. Assim, a diferença doutrinária entre dolo eventual e culpa consciente foi sendo pulverizada, quando seu raciocínio era feito levando-se em consideração fatos lesivos ocorridos através do tráfego de veículos automotores.” A fórmula embriaguez ao volante associada à velocidade excessiva, resultando no crime de homicídio a título de dolo eventual não é absoluta e não merece prosperar, pois é desarrazoado afirmar que todos os condutores que dirigem sob estas condições não se importam em causar a morte ou mesmo lesões em outras pessoas. O clamor social no sentido de que deve haver punição severa aos motoristas que dirigem embriagados e em velocidade excessiva quando tiram a vida de alguém ou causam lesões irreversíveis em inocentes não tem a faculdade de alterar toda a estrutura jurídico-penal pátria. É imprescindível registrar que a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal – STF, no julgamento do habeas corpus nº 107.801/SP, em conformidade com a doutrinária majoritária, estabeleceu entendimentos de suma importância a respeito do tema: ''EMENTA: PENAL. HABEAS CORPUS. TRIBUNAL DO JÚRI. PRONÚNCIA POR HOMICÍDIO QUALIFICADO A TÍTULO DE DOLO EVENTUAL. DESCLASSIFICAÇÃO PARA HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. EMBRIAGUEZ ALCOÓLICA. ACTIO LIBERA IN CAUSA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO ELEMENTO VOLITIVO. REVALORAÇÃO DOS FATOS QUE NÃO SE CONFUNDE COM REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. ORDEM CONCEDIDA. [...] 2. O homicídio na forma culposa na direção de veículo automotor (art. 302, caput, do CTB) prevalece se a capitulação atribuída ao fato como homicídio doloso decorre de mera presunção ante a embriaguez alcoólica eventual. 3. A embriaguez alcoólica que conduz à responsabilização a título doloso é apenas a preordenada, comprovando-se que o agente se embebedou para praticar o ilícito ou assumir o risco de produzi-lo. 4. In casu, do exame da descrição dos fatos empregada nas razões de decidir da sentença e do acórdão do TJ/SP, não restou demonstrado que o paciente tenha ingerido bebidas alcoólicas no afã de produzir o resultado morte. [...] [...] 8. Concessão da ordem para desclassificar a conduta imputada ao paciente para homicídio culposo na direção de veículo automotor (art. 302, caput, do CTB), determinando a remessa dos autos à Vara Criminal da Comarca de Guariba/SP.'' (STF, HC 107.801/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, 1ª Turma, DJe 13/10/2011). De acordo com o STF, nos casos de embriaguez ao volante com vítimas fatais, o homicídio na forma culposa cometido na direção de veículo automotor (art. 302, caput, do CTB) deve prevalecer em relação ao homicídio doloso na hipótese de embriaguez eventual do condutor, que é a situação que abarca a maioria absoluta dos casos. Além disso, a embriaguez alcoólica que conduz à responsabilização a título doloso é apenas a preordenada, comprovando-se que o agente se embebedou para praticar o ilícito ou assumiu o risco de produzir o resultado morte. Portanto, se o condutor se embriaga com o ânimo de cometer homicídio, o crime será considerado doloso sem maiores problemas; entretanto, se este não for o caso, o crime deve ser considerado culposo. Desse modo, não há que se falar em fórmula absoluta capaz de determinar, com precisão, se os crimes de homicídio decorrentes da embriaguez ao volante são dolosos ou culposos, devendo prevalecer as circunstâncias peculiares de cada caso concreto e o estado anímico do agente na busca pela melhor solução jurídica. Na hipótese de dúvida em relação ao elemento subjetivo da conduta do réu (culpa ou dolo), Rogério Greco assevera que não há outra solução senão reconhecer o homicídio simplesmente culposo (culpa consciente): ''[...] se ao final do processo pelo qual o motorista estava sendo processado por um crime doloso (com dolo eventual) houver dúvida com relação a esse elemento subjetivo, deverá ser a infração penal desclassificada para aquela para aquela de natureza culposa, pois in dubio pro reo, e não como querem alguns, in dubio pro societate.'' Cezar Roberto Bitencourt apresenta a mesma linha de raciocínio para solucionar a dúvida entre dolo eventual e culpa consciente. De acordo com o autor: ''[...] como a distinção entre dolo eventual e culpa consciente paira sob uma penumbra, uma zona gris, é fundamental que se estabeleça com a maior clareza possível essa região fronteiriça, diante do tratamento jurídico diferenciado que se às duas categorias. A distinção entre dolo eventual e culpa consciente é questão puramente jurídica, que envolve conhecimento dogmático, sendo, portanto, insuscetível de ser deixada à apreciação de juízes de fato, que julgam fatos, como fatos, enquanto fatos. Na dúvida intransponível entre o dolo eventual e culpa consciente deve-se, necessariamente, optar pela menos grave, a culpa consciente.'' O legislador brasileiro não se ocupou com a tarefa de distinguir precisamente a culpa consciente do dolo eventual, o que solucionaria a questão de forma simples e direta. Dessa forma, tal distinção torna-se questão eminentemente doutrinária, e mesmo os grandes juristas encontram dificuldades para diferenciar as duas categorias. O resultado é a grande divergência jurisprudencial existente sobre a matéria e a influência da mídia e da sociedade sobre a justiça brasileira com sentimento de vingança sobre os infratores. Devido ao fato de o tipo descrito no art. 302 do CTB (homicídio culposo na direção veicular) não permitir a imposição de pena privativa de liberdade,correspondendo assim ao anseio social, a solução passa a ser a aplicação forçada do dolo eventual e, consequentemente, do tipo previsto pelo art. 121 do Código Penal, que se trata de manifestação violação do princípio da legalidade por via de interpretação jurisprudencial. Entretanto, para a doutrina os princípios do direito penal são claros: na dúvida, entre ambas as figuras, deve-se optar pela culpa consciente, menos grave. 4 CRIMES DE TRÂNSITO Fonte: doutormultas.com.br Todas as condutas proibidas ao condutor de veículo que trafega pelas vias públicas estão descritas na Lei Nº 9.503/1997, o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Na lei, há infrações civis e administrativas, punidas pelos órgãos de trânsito com multas e penalidades como a apreensão do veículo ou suspensão do direito de dirigir. Mas há também infrações penais, ou seja, os crimes de trânsito. Nesses casos, o infrator não será apenas autuado pelo órgão de trânsito, mas sofrerá um processo judicial criminal. Esse processo está sujeito às regras descritas no Código Penal e no Código de Processo Penal. O Decreto-Lei Nº 3.914/1941, que se trata da Lei de Introdução do Código Penal, conceitua o que é crime em seu primeiro artigo: Art. 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; (…) No caso dos crimes de trânsito, o motorista pode ser condenado às penalidades de detenção ou multa. Também é possível que o juiz aplique a penalidade de suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação. Conforme previsto pelo Código Penal, também é possível que a pena de detenção seja substituída por uma pena restritiva de direito, como a prestação de serviços à comunidade. 4.1 Crimes de Trânsito no CTB. Fonte: doutormultas.com.br O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é dividido em capítulos. O XV, por exemplo, versa sobre as infrações de trânsito. Ou seja, lá encontram-se todas as condutas que são consideradas infrações de trânsito e as respectivas punições. No caso dos crimes de trânsito, também há um capítulo específico, o de número XIX, que conta com duas seções. A primeira é dedicada a disposições gerais. É nessa seção que encontramos o artigo 291, que confirma o que dissemos anteriormente sobre as normas a serem aplicadas: Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber. Nessa seção, há também artigos que dispõem sobre as penalidades de suspensão ou proibição de obter a habilitação e de multa reparatória. No artigo 298, encontramos uma lista com circunstâncias em que as penalidades são agravadas. Veja: Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes de trânsito ter o condutor do veículo cometido a infração: I – com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de grave dano patrimonial a terceiros; II – utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas; III – sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; IV – com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria diferente da do veículo; V – quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o transporte de passageiros ou de carga; VI – utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou características que afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de acordo com os limites de velocidade prescritos nas especificações do fabricante; VII – sobre faixa de trânsito temporária ou permanentemente destinada a pedestres. Na segunda seção do capítulo XIX do CTB, são descritos os crimes em espécie e as respectivas penalidades que serão analisado a seguir. 4.2 Infrações que preveem penalidades de crimes de trânsito São 11 os crimes de trânsito descritos no CTB. Eles constam nos artigos 302 a 312, que especificam qual o prazo mínimo e máximo de detenção para cada caso. Veja quais são: Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor (Artigo 302); Bem jurídico tutelado: a vida; Tipo objetivo: é um tipo penal aberto, pois depende de valoração do juiz para saber se o agente foi negligente, imprudente, ou imperito ao cometer homicídio; Sujeito ativo: qualquer pessoa; Sujeito passivo: qualquer pessoa; Consumação: ocorre no momento da morte da vítima; Tentativa: não é admitida; Absorção: crimes de perigo como a embriaguez ao volante e excesso de velocidade em certos locais; Ação penal: pública incondicionada; Fonte: maispiripiri.com.br Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor (Artigo 303); Bem jurídico tutelado: a incolumidade física; Tipo objetivo: é um tipo penal aberto, pois depende de valoração do juiz no momento da fixação da pena base para saber se o agente foi negligente, imprudente, ou imperito ao cometer a lesão; Sujeito ativo: qualquer pessoa; Sujeito passivo: qualquer pessoa; Consumação: no momento da lesão da vítima; Tentativa: não é possível; Absorção de crimes: crimes de perigo como a embriaguez ao volante e excesso de velocidade em certos locais; Ação penal: pública condicionada à representação, exceto se estava embriagado ou sob efeito de substâncias psicoativas, prática de racha ou conduzia em velocidade superior a 50 km/h da permitida no local, quando passa a ser pública incondicionada; Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública (Artigo 304); Bem jurídico tutelado: a vida e/ou a saúde; Tipo objetivo: é crime omissivo puro com duas condutas típicas. Deixar de prestar imediato socorro e deixar de solicitar ajuda à autoridade política; Sujeito ativo: condutor envolvido em acidente com vítima; Sujeito passivo: vítima que precisa de socorro; Consumação: ocorre no momento da omissão; Tentativa: por ser omissivo próprio, não admite tentativa; Ação penal: pública incondicionada; Fonte: doutormultas.com.br Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída (Artigo 305); Bem jurídico tutelado: a proteção da administração da justiça; Tipo objetivo: é crime formal que ocorre com o afastamento do local do acidente para não ser identificado; Sujeito ativo: condutor do veículo os que estimulam respondem como partícipes; Sujeito passivo: o Estado e secundariamente a pessoa prejudicada; Consumação: fuga do local, independentemente de identificação posterior; Tentativa: possível; Ação penal: pública incondicionada; Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência (Artigo 306); Fonte: doutormultas.com.br Bem jurídico tutelado: a segurança viária e secundariamente, o direito à vida e à saúde; Tipo objetivo: é crime de mera conduta, visto que é necessário apenas conduzir veículo sob efeito de álcool ou substância análoga; Sujeito ativo: qualquer pessoa; Sujeito passivo: a segurança viária, a coletividade e secundariamente a pessoa exposta; Consumação: no momento da condução de veículo; Tentativa: não é admitida; Absorção: crimes de perigo como a embriaguez ao volante e excesso de velocidade em certos locais; Ação penal: pública incondicionada; Violar a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor imposta com fundamento neste Código (Artigo 307); Fonte: www.alagoasweb.com Bemjurídico tutelado: a proteção da administração da justiça; Tipo objetivo: crime de mera conduta ao violar suspensão ou proibição de direção, independentemente de risco; Sujeito ativo: qualquer pessoa proibida de obter permissão ou habilitação ou com tal direito suspenso; Sujeito passivo: o Estado; Consumação: ao colocar o veículo em movimento; Tentativa: é inadmissível; Ação penal: pública incondicionada; Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística ou ainda de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente, gerando situação de risco à incolumidade pública ou privada (Artigo 308); Bem jurídico tutelado: a segurança viária e a incolumidade pública; Tipo objetivo: crime formal ao participar de competição não autorizada; Sujeito ativo: qualquer pessoa sendo os espectadores e passageiros, partícipes; Sujeito passivo: a coletividade e secundariamente a pessoas exposta a risco; Consumação: no início da disputa; Tentativa: não é admitida; Absorção: crimes de perigo como embriaguez ao volante e excesso de velocidade em certos locais; Ação penal: pública incondicionada; Absorção: homicídio culposo absorve este crime e só é crime se for em via pública, sem permissão autoridade, ocorrendo dano a incolumidade. Fonte: f.i.uol.com.br Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano (Artigo 309); Bem jurídico tutelado: o risco de dano; Tipo objetivo: crime de perigo por direção sem permissão ou habilitação; Sujeito ativo: qualquer pessoa; Sujeito passivo: a coletividade e secundariamente a pessoa exposta ao perigo; Consumação: não possuir e colocar em movimento; Tentativa: não é admitida; Absorção: ocorre quando da punição por embriaguez ao volante, competição não autorizada e excesso de velocidade em certos locais; Ação penal: pública incondicionada Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa não habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a quem, por seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não esteja em condições de conduzi-lo com segurança (Artigo 310); Fonte: i1.wp.com/manoamanorentacar.com.br Bem jurídico tutelado: a segurança viária; Tipo objetivo: crime formal ao permitir, confiar ou entregar a direção a pessoa não habilitada; Sujeito ativo: qualquer pessoa que possa permitir; Sujeito passivo: a coletividade; Consumação: ocorre no momento em que o veículo se movimenta; Tentativa: se o terceiro for impedido anteriormente à colocação do veículo em movimento; Ação penal: pública incondicionada; Trafegar em velocidade incompatível com a segurança nas proximidades de escolas, hospitais, estações de embarque e desembarque de passageiros, logradouros estreitos, ou onde haja grande movimentação ou concentração de pessoas, gerando perigo de dano (Artigo 311); Bem jurídico tutelado: a segurança viária; Tipo objetivo: tráfego em velocidade incompatível nas proximidades de hospital, escola, concentração de pessoas, ruas estreitas, entre outros que gerem risco a segurança viária; Sujeito ativo: o condutor habilitado; Sujeito passivo: a coletividade, e secundariamente a pessoa exposta; Consumação: com a verificação da velocidade incompatível em um local descrito na lei; Tentativa: não é possível; Absorção: o crime de homicídio culposo ou lesão culposa absorvem este crime; Ação penal: pública incondicionada; Fonte: cdn.autopapo.com.br Inovar artificiosamente, em caso de acidente automobilístico com vítima, na pendência do respectivo procedimento policial preparatório, inquérito policial ou processo penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a fim de induzir a erro o agente policial, o perito, ou juiz (Artigo 312); Bem jurídico tutelado: a administração pública; Tipo objetivo: Crime formal quando houve acidente com vitima anteriormente; Sujeito ativo: qualquer pessoa; Sujeito passivo: o Estado; Consumação: no momento de alteração de lugar a coisa ou pessoa ainda que não logre êxito; Tentativa: é possível mediante flagrante delito; Ação penal: pública incondicionada; 4.3 Quais são as multas que podem levar à prisão? Fonte: www.rsim.com.br Todos os crimes de trânsito descritos no CTB têm como pena a detenção. Entre um e outro, no entanto, mudam os prazos e outras particularidades na aplicação da pena. A pena mínima é de seis meses, com exceção ao crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor, descrito no artigo 302, cuja pena mínima é de dois anos. Quanto à pena máxima de detenção, há infrações cuja privação de liberdade pode chegar a um ano, dois anos, três anos ou quatro anos. Alguns crimes também são penalizados, como já mencionamos antes, com a suspensão ou proibição de obter a habilitação. Essa penalidade é aplicada apenas após a sentença condenatória transitar em julgado. No entanto, segundo o artigo 294 do CTB, o juiz pode decretar a suspensão como medida cautelar, em qualquer fase da investigação, caso julgue necessário para a garantia da ordem pública. O prazo de suspensão, conforme o artigo 293, é de dois meses a cinco anos. Se o réu estiver preso por consequência da condenação, esse prazo não estará correndo. Já a penalidade de multa reparatória, prevista no artigo 297, é aplicada para indenizar a vítima ou seus sucessores quando houver prejuízo material resultante do crime. A multa não poderá ser superior ao valor do prejuízo demonstrado no processo, e o pagamento é realizado mediante depósito judicial. Voltando ao assunto da detenção, o juiz tem alguns critérios para decidir qual será a pena, ou seja, o tempo exato de restrição de liberdade entre os prazos previstos no CTB. Eles são citados no artigo 59 do Código Penal. Confira: Art. 59 – O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: I – as penas aplicáveis dentre as cominadas; II – a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos (…) Portanto, o réu é avaliado em sua: Culpabilidade; Antecedentes; Conduta social; Personalidade; Motivação. Também são avaliadas as circunstâncias e consequências do crime e o comportamento da vítima. Essas premissas valem para qualquer crime. Nos crimes de trânsito, o juiz avalia ainda outros possíveis agravantes, exatamente aqueles que constam no artigo 298 do CTB, que transcrevemos no início do texto. 4.4 Agravantes Fonte: www.sfnoticias.com.br Há ainda descrições de agravantes atribuídos especificamente a alguns crimes. Um exemplo é crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor (artigo 302). Segundo o parágrafo primeiro desse artigo, a pena (que é de dois a quatro anos de detenção e suspensão) é aumentada de um terço à metade se o réu: Não possuir Permissão para Dirigir (habilitação provisória) ou Carteira de Habilitação; Praticar o crime em faixa de pedestres ou na calçada; Deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente; No exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros. Os mesmos agravantes são atribuídos ao crime do artigo 303: “Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor”. Já no artigo 308, que penaliza o motorista que participou de competição automobilística não autorizada em via pública, gerando situação de risco,o tempo de detenção (que é de seis meses a três anos) aumenta nos seguintes casos: Se a conduta criminosa resultar em lesão corporal de natureza grave e caso as circunstâncias demonstrem que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena será de reclusão de três a seis anos; Se da prática do crime resultar morte (também sem que haja indícios de intenção de produzir o resultado), a pena será de reclusão de cinco a dez anos. Você observou que, até agora, falamos sempre em detenção, com exceção aos agravantes do artigo 308, que podem converter a pena em reclusão. Para quem não conhece as sinuosidades da lei, as duas penas podem soar parecidas. Mas elas têm as suas diferenças. Tanto detenção quanto reclusão são consideradas, segundo o Código Penal, penas privativas de liberdade. Elas são detalhadas no artigo 33 do código: Art. 33 – A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção em regime semiaberto ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. 1º – Considera-se: a) Regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média; b) Regime semiaberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar; c) Regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado. Ou seja, o motorista condenado pelos crimes de trânsito previstos no CTB cumprirão pena no regime semiaberto ou aberto. O que isso quer dizer? No regime semiaberto, o preso pode trabalhar, seja no próprio local ou então externamente. Também é admitido que ele saia para ter aulas em curso profissionalizante, de segundo grau ou superior. No cotidiano do condenado a detenção em regime semiaberto a lei exige cercas ou muros altos, portão de ferro, controle de saída – para estudar ou trabalhar às 7h e para retornar antes das 19h. Celas sem luxo nem mordomia. O banheiro é coletivo, e o chuveiro um simples cano de água fria. Geralmente as camas são triliches, com três andares. Já o regime aberto, segundo o artigo 36 do Código Penal, baseia-se na “autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado”. Desse modo, o condenado pode trabalhar fora de dia e passar a noite em casa de albergado ou em sua própria residência. Já na pena de reclusão, como você viu no artigo 33, a pena poderá ser em regime fechado. Nesse caso, o preso ficará em um estabelecimento de segurança máxima ou média e ficará proibido de deixá-lo. 4.5 Fiança Fonte: doutormultas.com.br O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) sofreu alterações que aumentaram as penas dos crimes de homicídio culposo e de lesão corporal culposa, de natureza grave ou gravíssima, ambos na direção de veículo automotor, nas hipóteses em que o agente está sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa pela (Lei nº 13.546 de 2017). Na prática, vale dizer que o motorista ou motociclista embriagado, que causar acidente com mortos ou feridos graves, deve ser autuado em flagrante, sem direito a pagar fiança para responder solto ao delito. Porém, o crime de embriaguez ao volante isolado, sem que haja vítimas, continua com a pena inalterável e, consequentemente, afiançável. 4.6 Embriaguez ao volante é crime de trânsito? Outra grande questão é quanto ao crime descrito no artigo 306 do Código de Trânsito, que fala sobre dirigir com a capacidade psicomotora alterada. Veja o que diz o trecho: Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência: Penas – detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Segundo o mesmo artigo, essa conduta pode ser constatada pelas seguintes maneiras: Concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou Sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora. Essa verificação pode acontecer mediante a “teste de alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos”. A polêmica reside no fato de o CTB prever a prova testemunhal do agente de trânsito como forma de comprovar a alteração da capacidade motora. No anexo II da Resolução Nº 432/2012 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) consta uma lista de sinais nos quais o agente pode se basear para observar as alterações na capacidade psicomotora. Alguns deles são sonolência, olhos vermelhos e odor etílico no hálito, além de atitudes como agressividade e exaltação. O mais comum, no entanto, é somente enquadrar a conduta do motorista como crime caso ele tenha aceito o teste do bafômetro e o resultado tenha sido superior a 0,3 mg de álcool por litro de ar alveolar2. 2 Texto extraído do link: https://doutormultas.com.br/crimes-de-transito/. 5 AS REPERCUSSÕES JURÍDICAS PRÁTICAS TRAZIDAS PELA LEI Nº 13.546/17 – QUE ALTEROU O CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO3 Fonte: www.detran.rs.gov.br Antes de findar o ano de 2017, foi publicada a Lei nº 13.546/17 no dia 19.12.2017, que mais uma vez modificou o Código de Trânsito Brasileiro, com objetivo de impor maior rigorismo nas condutas – que geram grande repercussão social –, mormente no que diz respeito às hipóteses de “acidentes” provocados por motoristas em estado de embriaguez. Não é de hoje que o legislador pátrio, apesar das derrapagens jurídicas, tem- se mostrado atento aos efeitos nocivos de uma legislação benevolente e buscado cada vez mais na “mens legis” (trazida pelo legislador) normatizações mais severas nesses pontos. A par disso tivemos a denominada “Lei Seca” ou Lei Seca Severa dentre outras legislações posteriores, em que o legislador exteriorizou a intolerância com essas condutas gravíssimas – embriaguez ao volante e suas nuances – que se dirigem contra a coletividade e a segurança viária do nosso trânsito que ceifa mais vidas do que conflitos civis armados. 3 Texto extraído do link: https://jus.com.br/artigos/63212/as-repercussoes-juridicas-praticas- trazidas-pela-lei-n-13-546-17-que-alterou-o-codigo-de-transito-brasileiro, autor: Joaquim Leitão Júnior. Tem-se visto e ouvido falar muito em redes sociais que agora a pena para quem for flagrado na embriaguez ao volante aumentou entre outros apontamentos; que agora o crime do art. 306, do CTB é inafiançável e quem cometer esse delito ficará preso, todavia, cabe dizer que não foi isso que tecnicamente ocorreu. Na verdade, o que a Lei nº 13.546/17 fez foi acrescentar o §3º, ao artigo 302, do CTB e o §2º, ao artigo 303, do CTB entre outras alterações promovidas no Código de Trânsito Brasileiro, para impor mais rigor com os incontáveis casos de graves “acidentes de trânsito”, decorrentes de embriaguez ao volante, noticiados diariamente pela mídia. De outro lado, o art. 306, do Código de Trânsito Brasileiro, ao contrário do noticiado pelas redes sociais, continuou com a mesma redação que é conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência. Confira-se a inteligência do art. 306, do Código de Trânsito Brasileiro: Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência: Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. § 1º As condutas previstas no caput serão constatadas por: I - concentração igual ou superior a 6 decigramasde álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora. § 2º A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova. § 3º O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo. Nota-se que a redação do indigitado dispositivo legal foi mantida. Esse é o registro inicial do debate que deve restar claro para evitar falácias no âmbito jurídico. Adiante, a primeira alteração que tivemos com a novel lei, está no §3º, que foi acrescentado ao artigo 302, do CTB, pela Lei 13.546/17. Vejamos a redação: “se o agente conduz o veículo automotor sob a influência de álcool ou de qualquer substância psicoativa que determine dependência: Penas – reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do direito de se obter a permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor”. A segunda alteração que tivemos, diz respeito ao §2º, acrescentado ao artigo 303, do CTB, pela Lei 13.546/17, senão vejamos: § 2º A pena privativa de liberdade é de reclusão de dois a cinco anos, sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo, se o agente conduz o veículo com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência, e se do crime resultar lesão corporal de natureza grave ou gravíssima. A título de comparação para melhor compreensão vejam as redações do art. 306, do Código de Trânsito Brasileiro e do §3º, acrescentado ao artigo 302, do CTB, pela Lei 13.546/17 abaixo: Art. 306, do Código de Trânsito Brasileiro §3º, acrescentado ao artigo 302, do CTB, pela Lei 13.546/17 Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência: Penas – detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. § 1º As condutas previstas no caput serão constatadas por: I – concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou II – sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora. § 2º A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova. § 3º O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo. Se o agente conduz o veículo automotor sob a influência de álcool ou de qualquer substância psicoativa que determine dependência: Penas – reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do direito de se obter a permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor”. Redação mantida Acréscimo trazido pela modificação da nova Lei nº 13.546/17 Em comparativo ainda, cita-se mais uma vez o art. 306, do Código de Trânsito Brasileiro e o §2º, acrescentado ao artigo 303, do CTB, pela Lei 13.546/17 adiante: Art. 306, do Código de Trânsito Brasileiro §2º, acrescentado ao artigo 303, do CTB, pela Lei 13.546/17 “Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência: Penas – detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. § 1º As condutas previstas no caput serão constatadas por: I – concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou II – sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora. § 2º A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova. § 3º O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo. § 2º A pena privativa de liberdade é de reclusão de dois a cinco anos, sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo, se o agente conduz o veículo com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência, e se do crime resultar lesão corporal de natureza grave ou gravíssima. Redação foi mantida Acréscimo trazido com modificação pela nova Lei nº 13.546/17 Uma constatação de fácil percepção de ambos os quadros ilustrativos, é de que as penas foram aumentadas (no §3º, acrescentado ao artigo 302, do CTB, pela Lei 13.546/17 e no §2º, acrescentado ao artigo 303, do CTB, pela Lei 13.546/17), diante da relevância da lesão aos bens jurídicos que se busca tutelar. Diga-se de passagem que essa majoração de penas é louvável, porquanto os resultados de condutas no trânsito são mais negativas, se comparadas com as mesmas condutas correspondentes no Código Penal Brasileiro (homicídio culposo e lesão corporal culposa). Para nós, as penas são adequadas, mas apontam para a necessidade de uma reflexão acerca de outras penas previstas no Código Penal Brasileiro, cujos preceitos secundários em inúmeros casos, não têm garantido a devida resposta retributiva às condutas etiquetadas de alta gravidade. Dando prosseguimento nas análises, numa interpretação literal dos dispositivos cotejados, extrai-se que qualificadora do homicídio culposo (§3º, acrescentado ao artigo 302, do CTB, pela Lei 13.546/17) num primeiro momento estaria a exigir apenas que o agente estivesse sob a “sob a influência de álcool ou de qualquer substância psicoativa que determine dependência”. De outro quadrante, relativo à qualificadora da lesão corporal culposa (§2º, acrescentado ao artigo 303, do CTB, pela Lei 13.546/17), esta por sua vez exigiria necessariamente que o motorista estivesse “com a capacidade psicomotora alterada em razão da influência do álcool”. Nesse contexto, é intuitivo concluir que o legislador ordinário buscou exigir literalmente com a novel Lei 13.546/17, mais precisamente no tipo penal do §3º, do artigo 302, CTB tão somente o consumo de bebida alcoólica ou outra qualquer substância que cause dependência para a configuração da qualificadora do indigitado dispositivo legal. Noutra direção, o legislador literalmente acabou por dar um tratamento menos rigoroso na constatação do estado do agente na qualificadora do §2º, do artigo 303, uma vez que se contentou apenas com a alteração da capacidade psicomotora. Fato é que, da forma com que foi redigida a reforma impressa pela Lei 13.546/17, sem dúvidas suscitará inúmeros debates em torno da qualificadora do homicídio culposo e da qualificadora na lesão corporal, lembrando também que nem sempre a interpretação literal é a melhor e a que traz o valor de justiça aos fatos. Sobre a qualificadora do homicídio culposo surge a primeira inquietação: para a incidência desta qualificadora, bastaria se comprovar a ingestão da substância para viabilizar eventual responsabilização penal do agente ou deveria ter a comprovação da alteração da capacidade psicomotora? Eduardo Luiz Santos Cabette e Francisco Sannini Neto nos respondem essas
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