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DIREITO-PENAL-DO-TRÂNSITO-1

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ESPÍRITO SANTO 
DIREITO PENAL DO TRÂNSITO 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO – FAVENI 
 
 
SUMÁRIO 
1 HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO NO BRASIL ..................... 2 
2 CONCEITOS ............................................................................................... 6 
2.1 Trânsito ................................................................................................ 6 
2.2 Veículo automotor ................................................................................ 7 
2.3 Fato jurídico e ato ilícito........................................................................ 8 
2.4 Responsabilidades civil e penal ........................................................... 9 
2.5 Responsabilidade civil automobilística ............................................... 11 
2.6 Delito/Crime ........................................................................................ 13 
3 ELEMENTOS DO CRIME ......................................................................... 14 
3.1 Dolo .................................................................................................... 16 
3.2 Dolo direto e indireto .......................................................................... 18 
3.3 Culpa .................................................................................................. 19 
3.4 Culpa consciente e culpa inconsciente............................................... 21 
3.5 Culpa consciente e dolo eventual ....................................................... 22 
4 CRIMES DE TRÂNSITO ........................................................................... 26 
4.1 Crimes de Trânsito no CTB. ............................................................... 27 
4.2 Infrações que preveem penalidades de crimes de trânsito ................ 28 
4.3 Quais são as multas que podem levar à prisão? ................................ 36 
4.4 Agravantes ......................................................................................... 38 
4.5 Fiança ................................................................................................. 40 
4.6 Embriaguez ao volante é crime de trânsito? ...................................... 41 
5 As repercussões jurídicas práticas trazidas pela Lei nº 13.546/17 – que 
alterou o Código de Trânsito Brasileiro ..................................................................... 42 
6 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 51 
 
 
1 HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO NO BRASIL 
Foi em 15 de abril de 1902, após a chegada da indústria automobilística no 
Brasil, que segundo Pires (1998, p. 282 apud NOGUEIRA, 2009, p. 45) a Postura 
Municipal do Rio de Janeiro sob o n° 858 estabeleceu a velocidade máxima do 
automóvel no Distrito Federal, não podendo ser superior a 10 km/h na zona urbana, 
20 km/h na suburbana e de 30 km/h na zona rural, destacada por ser de grande 
importância e influência para a evolução do tema. 
 
 
Fonte: doutormultas.com.br 
Consonante Franz e Seberino (2012, p. 17) por meio do Decreto n° 8.324 de 
27 de outubro de 1910, se regulamentou o serviço subvencionado de transportes por 
automóveis estabelecendo que o motorneiro deveria ser senhor da velocidade de seu 
veículo sempre que puder ocorrer um acidente e também regulou a velocidade 
comercial mínima em 6 km/h ou 12 km/h para transporte de mercadorias e de 
passageiros, respectivamente. 
Em 1922, através do Decreto n° 4.460, de 11 de janeiro, foi proibida a circulação 
de carros de boi, definida a largura e carga máximas dos veículos e priorizado o 
tráfego de automóveis nas pontes. Desta maneira a legislação foi sendo aperfeiçoada 
como mostra o trabalho de Sarraff (2010, cap. I): 
 
[...] o Decreto Legislativo nº 5.141 de 05 de janeiro de 1.927, o qual Crê [sic] 
o Fundo Especial para Construção e Conservação de Estradas de Rodagem 
Federais; Decreto nº 18.323 de 24 de julho de 1.928, o qual aprovava o 
regulamento para a circulação internacional de automóveis, no território 
brasileiro e para a sinalização, segurança do trânsito e polícia das estradas 
de rodagens; Decreto Lei n º 2.994 de 28 de janeiro de 1.941, sendo o 
primeiro Código Nacional de Trânsito e logo depois, fora revogado pelo 
Decreto Lei n º 3.651 de 25 de setembro de 1.941; Decreto Lei n º 3.651 de 
25 de setembro de 1.941 fora revogado pela Lei n º 5.108 de 21 de setembro 
de 1.966; Lei nº 5.970 de 11 de dezembro de 1.973, o qual excluía da 
aplicação do disposto nos artigos 6º, inciso I, 64 e 169 do CPP, os casos de 
acidentes de trânsito; Lei 6.174, de 09 de dezembro de 1.974 o qual dispõe 
sobre a aplicabilidade do disposto nos artigos 12, alínea a e 339, do Código 
de Processo Penal Militar, nos casos de acidentes de trânsito; Lei 6.194, de 
19 de dezembro de 1.974, o qual dispõe sobre o seguro obrigatório de danos 
pessoais causados por veículos automotores de vias terrestres, ou por sua 
carga, a pessoas transportadas ou não; Lei 6.813, de 10 de junho de 1.980, 
o qual vislumbra sobre o transporte rodoviário de cargas; Lei n º 7.092 de 19 
de abril de 1.983, o qual cria o Registro Nacional de Transportes Rodoviários 
de Bens e fixa condições para o exercício da atividade; Decreto n º 96.044 de 
18 de maio de 1.988 o qual aprova o Regulamento para o Transporte 
Rodoviário de Produtos Perigoso; Decreto n º 96. 471 de 24 de agosto de 
1.990, o qual dispõe sobre a simplificação do registro nacional de 
transportadores rodoviários de bens; Decreto n º 1.655 de 03 de outubro de 
1.993, o qual define a competência da Polícia Rodoviária Federal; Decreto nº 
1.777 de 09 de janeiro de 1.966, o qual autoriza o Ministro de Estado a criar 
as Juntas Administrativas de Recursos e Infrações (JARI) e também, 
baixando o respectivo Regimento Interno; Decreto 1.787 de 12 de janeiro de 
1.996 o qual dispõe sobre a utilização de gás natural para fins automotivos 
[...]. 
A Lei n° 5.108 de 21 de janeiro de 1966, instituiu o Código Nacional de Trânsito 
que foi revogada em 22 de janeiro 1998, quando entrou em vigor a lei 9.503/97 
instituindo o CTB – Código de Trânsito Brasileiro com o objetivo de regular a circulação 
nacional de veículos, na forma que se conhece atualmente. Houve atualizações 
objetivando acompanhar o dinamismo requerido pelo trânsito e as principais leis que 
alteraram o texto original do CTB foram: 
 Lei nº 9.602, de 21 de janeiro de 1998 – incluiu a obrigatoriedade de aposição 
de inscrições, películas ou pinturas, quando comprometer a segurança do 
veículo; 
 Lei nº 9.792, de 14 de abril de 1999 – revogou a obrigatoriedade do porte do kit 
de primeiros socorros; 
 Lei nº 10.350, de 21 de dezembro de 2001 – determina a obrigatoriedade da 
realização de exame psicológico periódico para os motoristas profissionais; 
 Lei nº 10.830, de 23 de 23 de dezembro de 2003 – alterou o limite de velocidade 
para motos passando a ser 110 km/h; 
 
 Lei nº 11.275, de 7 de fevereiro de 2006 – excluiu a tolerância de seis 
decigramas de álcool por litro de sangue nos testes de alcoolemia, 
possibilitando em caso de recusa à realização desses, a caracterização por 
meio de outras provas em direito admitidas e incluiu o álcool ou substâncias 
análogas como agravantes do crime de homicídio culposo na direção de 
veículo; 
 Lei nº 11.334, de 25 de julho de 2006 – alterou os limites de velocidade para 
fins de enquadramentos infracionais e de penalidades; 
 Lei nº 11.705, de 19 de junho de 2008 – “Lei Seca” visa inibir o consumo de 
bebida alcoólica por condutor de veículo automotor; 
 Lei nº 12.006, de 29 de julho de 2009 – regula a publicidade de mensagens 
educativas e propagandas relacionadas ao trânsito; 
 Lei nº 12.009, de 29 de julho de 2009 – regulamenta o exercício das atividades 
dos profissionais em transporte de passageiros, entrega de mercadorias e em 
serviço comunitáriode rua com o uso de motocicleta; 
 Lei nº 11.910, de 18 de março de 2009 – determinou a obrigatoriedade de air 
bags para veículos novos a partir de 01/01/14; 
 Lei nº 12.217, de 17 de março de 2010 – torna obrigatória aprendizagem 
noturna; 
 Lei nº 12.547, de 14 de dezembro de 2011 – alterou a contagem e período de 
suspensão do direito de dirigir por pontuação; 
 Lei nº 12.760, de 20 de dezembro de 2012 – aumenta o rigor das penalidades 
para condutores com a capacidade psicomotora alterada em razão da 
influência de álcool ou de outra substância psicoativa; 
 Lei nº 12.971, de 9 de maio de 2014 – retirou do tipo o espírito de emulação 
nas disputas de corrida, aumentando o valor da multa de três para dez vezes o 
valor sendo, ainda, dobrada nos casos de reincidência dentro de um período 
de doze meses; 
 Lei nº 13.103 de 2 de março de 2015 – normatizou o exercício da profissão de 
motoristas profissionais, legislando sobre intervalos, limites de jornada e 
obrigatoriedade de realização de exames toxicológicos, entre outras medidas; 
 Lei nº 13.160 de 25 de agosto de 2015 – dispõe sobre retenção, remoção e 
leilão de veículo; 
 
 Lei nº 13.146 de 6 de julho de 2015 – instituiu a obrigatoriedade de placas 
informativas de vagas especiais com informações das infrações por 
estacionamento indevido; 
 Decreto nº 6.488, de 19 de junho de 2008 – disciplinou a margem de tolerância 
de álcool no sangue e a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia 
para efeitos de crime de trânsito; 
 
 
Fonte: doutormultas.com.br 
 Decreto nº 6.489, de 19 de junho de 2008 – restringe a comercialização de 
bebidas alcoólicas em rodovias federais; 
 Decreto nº 8.614, de 22 de dezembro de 2015 – disciplina a implantação do 
Sistema Nacional de Prevenção, Fiscalização e Repressão ao Furto e Roubo 
de Veículos e Cargas; 
 Lei n° 13.258, de 8 de março de 2016 – delega ao DENATRAN – Departamento 
Nacional de Trânsito a competência para emissão de PID - permissão 
internacional para dirigir; 
 Lei n° 13.281, de 4 de maio de 2016 – altera a competência do CONTRAN – 
Conselho Nacional de Trânsito, valores e unidades de multas, e de suspensão, 
passando a ser gravíssima manusear celular enquanto dirige; 
 
 Lei n° 13.290, de 23 de maio de 2016 – incluiu a obrigatoriedade da utilização 
de faróis acesos durante o dia. 
2 CONCEITOS 
2.1 Trânsito 
Termo proveniente do Latim transitus derivado de transire (atravessar ou ir 
através) – trans (através) mais ire (ir). 
Alves (2002, p. 177) conceitua o trânsito como: “[...] a utilização isolada ou 
grupal das vias por meio de pessoas, veículos e semoventes. Esse uso pode efetivar-
se para fins de circulação, parada e estacionamento, inclusive para as operações de 
carga ou descarga de bens”. 
A definição expressa de trânsito está no art. 1°, § 1° do Código de Trânsito 
Brasileiro “Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos, animais, 
isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, 
estacionamento e operação de carga ou descarga”. 
O trânsito está apoiado em três pilares básicos que são fundamentais para que 
exista um trânsito seguro para todos. Esse chamado “tripé do trânsito” é composto por 
engenharia, educação e esforço legal que, se não trabalharem em conjunto o 
resultado segurança ficará prejudicado. 
A engenharia é a responsável por planejar as estruturas do trânsito de modo a 
que proporcionem segurança e fluidez no tráfego, através da elaboração de projetos 
de construção e de manutenção de vias compreendendo a sinalização e seus 
dispositivos de controle de circulação e de velocidade. 
A educação é focada na formação das pessoas. Existem programas para 
ensinar desde cedo, seja por meio de programas que visitam escolas e abordam o 
tema trânsito utilizando uma linguagem adequada às crianças ou através de 
infraestruturas que ensinam de forma lúdica e prática, as regras e princípios do CTB, 
preparando-os para uma convivência harmônica e segura no trânsito, trazendo 
benefícios para toda a sociedade. 
O terceiro pilar é o esforço legal que se subdivide em legislação, justiça e 
policiamento. A legislação é o que possibilita aplicação da justiça e é a base para as 
 
ações de policiamento, normatizando os direitos e deveres, desde as condutas, até 
as especificações técnicas de equipamentos. A justiça determina penas às infrações 
ou crimes cometidos por condutores e proprietários, observando não apenas o CTB, 
mas as diversas legislações de trânsito existentes. O policiamento é o responsável 
pela fiscalização das condutas contrárias ao ordenamento jurídico e pela orientação e 
controle do trânsito em situações adversas. 
 
 
Fonte: fasam.edu.br 
2.2 Veículo automotor 
Ao pensarmos em veículo automotor, é fácil imaginar que se trata de 
automóveis. Porém, conforme previsto no art. 4° do CTB “Os conceitos e definições 
estabelecidos para os efeitos deste Código são os constantes do Anexo I”, páginas 
90 e 95, respectivamente: 
[...] 
AUTOMÓVEL - veículo automotor destinado ao transporte de passageiros, 
com capacidade para até oito pessoas, exclusive o condutor. 
[...] 
VEÍCULO AUTOMOTOR - todo veículo a motor de propulsão que circule por 
seus próprios meios, e que serve normalmente para o transporte viário de 
pessoas e coisas, ou para a tração viária de veículos utilizados para o 
transporte de pessoas e coisas. O termo compreende os veículos conectados 
a uma linha elétrica e que não circulam sobre trilhos (ônibus elétrico) 
[...]. 
 
Portanto, como veremos adiante, para que exista a adequação da conduta ao 
tipo penal, é necessário estar na direção ou conduzindo veículo automotor. 
2.3 Fato jurídico e ato ilícito 
Um dos primeiros conceitos desenvolvidos no direito é o de fato jurídico, que 
abarca inúmeros fatos que permeiam o mundo, a natureza, o homem e suas relações. 
Conforme a lição do brilhante jurista Pontes de Miranda, ''a noção fundamental do 
direito é a de fato jurídico; depois a de relação jurídica''. 
É importante registrar que ''fato jurídico'' não é um conceito exclusivo do direito 
civil, mas de todo direito. Nesse sentido, o seu estudo é mais apropriado na teoria 
geral do direito, pois não se limita ao direito civil, tendo aplicação em todos os demais 
ramos do direito público ou privado. 
Segundo o professor Paulo Lôbo, ''fatos jurídicos são todos os fatos naturais 
ou de conduta aos quais o direito atribui consequências jurídicas''. Dentre as espécies 
de fatos jurídicos, merecem destaque os ''fatos humanos'' ou ''atos jurídicos em 
sentido amplo'', que são os acontecimentos dependentes da vontade humana, as 
ações humanas que criam, modificam, transferem ou extinguem direitos e deveres, e 
são divididos em ''atos lícitos'' e ''atos ilícitos''. 
Nesse sentido, lícitos são os atos humanos a que a lei defere os efeitos 
almejados pelo agente. Portanto, quando são praticados em conformidade com o 
ordenamento jurídico, produzem efeitos jurídicos voluntários. Os atos ilícitos, por 
serem praticados em desacordo com o prescrito no ordenamento jurídico, embora 
repercutam na esfera do direito, produzem efeitos jurídicos involuntários, mas 
impostos por esse ordenamento. Ao revés de criarem direitos, os atos ilícitos criam 
deveres, obrigações. 
Carlos Roberto Gonçalves define o ''ato ilícito'' como sendo o ato praticado com 
infração ao dever legal de não lesar a outrem. Conforme a redação do art. 186 do 
Código Civil, ''aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou 
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, 
comete ato ilícito''. Também o comete aquele que pratica ''abuso de direito'', ou seja, 
''o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos 
 
pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes'' (art. 187). Emconsequência, o autor do dano fica obrigado a repará-lo (art. 927). 
Nesse sentido, o crime consiste em um fato jurídico, mais especificamente em 
um ato ilícito, ou seja, uma conduta humana contrária à ordem jurídica e ensejadora 
de responsabilidade, de efeitos jurídicos involuntários, de danos a serem reparados. 
O crime de embriaguez ao volante, assim como o crime de homicídio culposo na 
direção de veículo automotor consistem, portanto, em ''fatos jurídicos'', ou ainda em 
''fatos humanos'' ou ''atos ilícitos'', por contrariarem especificamente os tipos descritos 
nos arts. 306 e 302 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), sujeitando o transgressor 
à reparação dos danos causados e às sanções de ordem penal, civil e administrativa 
previstas em lei1. 
2.4 Responsabilidades civil e penal 
 
Fonte: macieladvocacia.com 
Caio Mário da Silva Pereira ensina que o ato ilícito, por sua própria natureza, é 
lesivo do direito de outrem, portanto, fonte de obrigação: a de indenizar ou ressarcir o 
prejuízo causado. É praticado com infração a um dever de conduta, transgressão a 
 
1 Texto extraído da monografia Crimes de trânsito e as alterações do Código de Trânsito 
Brasileiro atinentes à embriaguez na condução de veículo automotor, de Luis Felipe Chiesorin Carneiro. 
 
um dever jurídico, por meio de ações ou omissões culposas ou dolosas do agente, de 
forma consciente ou inconsciente, das quais resulta dano para outrem. 
Dessa forma, o elemento subjetivo da culpa é o dever violado, sendo a 
responsabilidade uma reação provocada pela infração a um dever preexistente. No 
entanto, ainda que haja violação de um dever jurídico e que tenha havido culpa, ou 
até mesmo dolo, por parte do infrator, nenhuma indenização será devida, uma vez 
que não se tenha verificado prejuízo. 
Não há, portanto, uma diferença ontológica entre os ilícitos civis e penais. Há 
ilícitos de natureza civil, administrativa, penal etc.; entretanto, não existe uma distinção 
substancial entre essas espécies de ilicitude, pois todas consistem em contrariedade 
entre a conduta do agente e o ordenamento jurídico. 
As distinções a serem feitas são as seguintes: o ilícito penal possui maior 
gravidade em relação aos demais, tendo em vista que o Direito Penal tem o objetivo 
de proteger os bens jurídicos mais importantes e necessários à vida em sociedade; e 
sua consequência, a pena, poderá acarretar até mesmo a privação da liberdade do 
agente, enquanto no ilícito civil a consequência se restringe à obrigação de reparação 
do dano e outras sanções de natureza cível. 
A noção de responsabilidade, um dos temas jurídicos mais interessantes e 
problemáticos ante sua surpreendente expansão no direito moderno, destaca-se 
como aspecto da realidade social e está relacionada a toda atividade que acarrete 
prejuízo. 
Nesse sentido, a função da responsabilidade é justamente restaurar o equilíbrio 
moral e patrimonial provocado pelo autor do dano. Ressalte-se que obrigação e 
responsabilidade não se confundem: obrigação é sempre um dever jurídico originário; 
responsabilidade é um dever jurídico sucessivo que surge para recompor o dano 
causado pela violação do dever originário. 
A responsabilidade jurídica abrange as responsabilidades civil e penal e 
aparece quando houver infração de norma jurídica ou penal, causadora de danos que 
perturbem a paz social que essa norma visa manter. Amparado nas lições de Aguiar 
Dias, Carlos Roberto Gonçalves ensina que é praticamente o mesmo o fundamento 
da responsabilidade civil e da responsabilidade penal. A diferença consiste nas 
condições em que residem, pois a responsabilidade penal é mais exigente que a civil 
quanto ao aperfeiçoamento dos requisitos que devem coincidir para se efetivar. 
 
No caso da responsabilidade penal, o agente viola norma de direito público, 
acarretando um dano social que exige a aplicação de uma pena ao lesante para 
restauração do equilíbrio. O interesse lesado, portanto, é o da sociedade. Na 
responsabilidade civil, o interesse diretamente lesado é o privado, sendo necessária 
a verificação de prejuízo a terceiro, particular ou Estado. O prejudicado poderá pleitear 
ou não a reparação, traduzida na recomposição do statu quo ante ou numa 
importância em dinheiro. 
2.5 Responsabilidade civil automobilística 
 
Fonte: www.automobi.com.br 
A responsabilidade civil por acidentes automobilísticos constitui questão da 
mais alta relevância em face da posição de destaque que o automóvel assumiu na 
vida do homem em todo mundo e do grande número de veículos existentes. O 
expressivo número de acidentes de trânsito e a necessidade de um estudo mais 
aprofundado sobre o tema transcendem os direitos civil e processual civil, merecendo 
ser tratado juntamente com a Lei de Contravenções Penais e o Código Penal – CP. 
Cabe registrar que, entre as causas principais dos acidentes de trânsito, 
merece destaque a falta de ajuste psicofísico para a condução do veículo e a 
desobediência costumeira às regras e disposições regulamentares, tais como a 
embriaguez, a fadiga, o sono, o nervosismo, os estados de depressão e angústia, a 
 
emulação, o uso de drogas, o exibicionismo, imperícia do condutor, ultrapassagem 
imprudente nas curvas, falha mecânica, más condições do veículo e de visibilidade, 
etc. 
De forma geral, são dois os tipos de responsabilidade nos acidentes 
automobilísticos: a contratual e a delitual, a exemplo dos crimes de embriaguez ao 
volante e homicídio culposo na direção de veículo automotor. A responsabilidade 
decorrente de contrato de transporte na relação entre transportador e transportado, 
por exemplo, é objetiva; na hipótese de colisão entre dois carros causando danos aos 
veículos, ter-se-á responsabilidade aquiliana ou extracontratual, derivada de infração 
a um dever legal (ato ilícito). 
Na esfera cível, a responsabilidade civil automobilística é mais eficiente com 
relação ao ressarcimento e à justa indenização da vítima, havendo a tendência de 
deslocamento do eixo de gravitação da responsabilidade civil, da culpa para o risco. 
No campo penal, entretanto, apesar do enrijecimento das leis que tratam sobre o 
assunto, a legislação pátria é benevolente e necessita prever as adequadas e severas 
punições aos criminosos de trânsito, a fim de que o Brasil deixe de ocupar os primeiros 
lugares nas estatísticas mundiais referentes aos acidentes de trânsito. 
Desse modo, com relação à responsabilidade aquiliana, decorrente de acidente 
que envolve mais de um veículo, a jurisprudência ainda utiliza o critério da culpa para 
a solução dos casos. Em relação aos casos de atropelamento sem culpa da vítima ou 
de abalroamento de veículos ou de postes e outros obstáculos, tem-se utilizado a 
teoria do risco objetivo ou do exercício de atividade perigosa para responsabilizar o 
condutor ou o proprietário do veículo, afastando-se, desse modo, a alegação de caso 
fortuito em razão de defeitos mecânicos ou de problemas de saúde ligados ao 
condutor. 
Cabe registrar que, de acordo com a jurisprudência, a responsabilidade do 
lesante é excluída na ocorrência de força maior, caso fortuito, culpa exclusiva da 
vítima, estado de necessidade e fato de terceiro, se invocadas tais excludentes da 
obrigação de reparar o dano, desde que provadas. 
 
2.6 Delito/Crime 
 
Fonte: www.abogadosrosario.com 
Alguns autores nomeiam a realização de ato ilícito como delito e outros como 
crime e por aquele soar como mais brando que este, recorremos à definição do Aurélio 
(1975, p. 429) “Delito. Fato que a lei declara punível; crime” confirmando serem termos 
sinônimos. 
Todo aquele que com uma conduta humana positiva ou negativa, se amolde ao 
tipo penal com antijuridicidade e culpabilidade, comete crime. (JESUS, 2005, p. 153-
154). 
Segundo Zaffaroni: 
[...] delito é uma conduta humana individualizada mediante um dispositivolegal (tipo) que revela sua proibição (típica), que por não estar permitida por 
nenhum preceito jurídico (causa de justificação) é contrária à ordem jurídica 
(antijurídica) e que, por ser exigível do autor que agisse de maneira diversa 
diante das circunstâncias, é reprovável (culpável). (ZAFFARONI, 2009, p. 
340). 
Zaffaroni (2009, p. 339) ensina como deve ser o procedimento para inferimos 
se há ou não crime: “Esta definição do delito como conduta típica, antijurídica e 
culpável nos dá a ordem em que devemos formular as perguntas que nos servirão 
para determinar, em cada caso concreto, se houve ou não delito”. Ou seja, devemos 
questionar caso a caso e na respectiva ordem em que são indicados nos próximos 
passos: 
 
Em primeiro lugar, devemos perguntar se houve conduta, porque, se falta o 
caráter genérico do delito, então nos encontramos diante de uma hipótese de 
ausência de conduta e não se deve formular qualquer outra pergunta. Em 
seguida, devemos indagar pelos caracteres específicos, mas também aqui 
devemos seguir a ordem indicada, porque, se concluímos que a conduta não 
está individualizada em um tipo penal, não faz sentido averiguar se está 
permitida ou se é contrária à ordem jurídica e menos ainda se é reprovável, 
posto que jamais será delito, mesmo que ambas as respostas sejam 
afirmativas. Estaremos diante de um caso de falta de tipicidade, que se 
denomina atipicidade (a conduta é atípica). 
Se estamos lidando com uma conduta típica, caberá então indagarmos se 
esta conduta é antijurídica, porque, em caso negativo, não tem sentido 
perguntar-se pela culpabilidade, visto que o direito não se ocupa da 
reprovabilidade das condutas que não são contrárias a ele (que estão 
justificadas). 
Somente quando temos uma conduta típica e antijurídica (um injusto), é que 
tem sentido perguntar-se se esta conduta é reprovável pelo autor, isto é, se 
é culpável. Nos casos de inculpabilidade, o injusto não é delito. (ZAFFARONI, 
2009, p. 339) 
3 ELEMENTOS DO CRIME 
 
Fonte: canalcienciascriminais.com.br 
Todo delito pode ser formalmente definido como um fato típico, antijurídico e 
culpável. Para que ocorra a configuração do crime, primeiramente, é necessário 
identificar os elementos do fato típico, quais sejam: conduta (ação ou omissão), 
resultado, relação de causalidade ou nexo causal e tipicidade. Caso o fato não 
apresente qualquer desses elementos, não pode ser considerado típico, excetuando-
se a tentativa, na qual não ocorre o resultado. 
 
A conduta consiste em uma ação voluntária voltada para uma finalidade; 
normalmente constitui uma ação em sentido estrito ou uma omissão, abstenção de 
fazer o que é devido. O resultado, por sua vez, consiste na modificação do mundo 
exterior pelo movimento corpóreo do agente a ele ligado por relação de causalidade. 
Segundo Mirabete, deve ser entendido como lesão ou perigo de lesão de um interesse 
protegido pela norma penal. 
O nexo causal consiste na ligação, na conexão que existe numa sucessão de 
acontecimentos que pode ser entendida pelo homem. A causa é a condição mais 
adequada para o resultado e, conforme a teoria da equivalência das condições 
(conditio sine qua non), todos os fatos que concorrem para a eclosão do evento são 
considerados causas deste. Dessa forma, para confirmar se determinado fato é causa 
do resultado, utiliza-se o processo hipotético de eliminação, segundo o qual a causa 
é um antecedente necessário para a ocorrência do resultado. 
Por fim, a tipicidade é a correspondência exata, a adequação perfeita entre o 
fato natural, concreto, e a descrição contida na lei. Em outras palavras, o tipo é o 
conjunto dos elementos descritivos do crime contidos na lei penal. Cabe frisar que não 
se pode confundir o tipo com a tipicidade. O tipo é a fórmula que pertence à lei, 
enquanto a tipicidade é a característica que tem uma conduta em razão de estar 
adequada a um tipo penal. 
A antijuridicidade ou ilicitude consiste na relação de contrariedade, de 
antagonismo que se estabelece entre a conduta do agente e o ordenamento jurídico. 
Nesse sentido, a antijuridicidade não se resume à esfera penal, abrangendo as 
esferas civil, administrativa, tributária, etc. Rogério Greco ensina que a antijuridicidade 
consiste na constatação de que a conduta típica (antinormativa) não está permitida 
por qualquer das quatro causas de justificação, previstas no art. 23 do Código Penal, 
quais sejam, o estado de necessidade, a legítima defesa, o estrito cumprimento do 
dever legal e o exercício regular de direito, além do consentimento do ofendido. 
A culpabilidade, conceito mais debatido da teoria do delito, de acordo com 
Regis Prado, é a reprovabilidade pessoal pela realização de uma ação ou omissão 
típica e ilícita, consistindo no fundamento e no limite da pena. No mesmo sentido, 
Rogério Greco ensina que culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se 
realiza sobre a conduta típica e ilícita praticada pelo agente. 
 
Os elementos da culpabilidade são a imputabilidade, a potencial consciência 
sobre a ilicitude do fato e a exigibilidade de conduta diversa. Dessa forma, para que 
haja culpabilidade, ou seja, para que o fato típico e ilícito seja imputado ao agente, 
primeiramente é necessário que ele tenha a capacidade psíquica, denominada 
imputabilidade, de entender a antijuridicidade de sua conduta e de adequá-la à sua 
compreensão, que assume as formas de dolo ou culpa. 
A potencial consciência sobre a ilicitude do fato diz respeito à possibilidade do 
agente de conhecer, mediante algum esforço de consciência, a antijuridicidade de sua 
conduta. Além da imputabilidade e da potencial consciência sobre a ilicitude do fato, 
é necessário demonstrar que, nas circunstâncias do fato, seria possível exigir do 
agente um comportamento diverso daquele que tomou ao praticar o fato típico e ilícito, 
pois há circunstâncias ou motivos pessoais que tornam inexigível conduta diversa do 
sujeito. 
3.1 Dolo 
 
Fonte: 3.bp.blogspot.com 
Para a configuração da culpabilidade, liame de natureza psicológica que se põe 
entre o fato e o agente, são necessários três elementos: a imputabilidade, que é a 
capacidade de entender o caráter criminoso do fato e determinar-se de acordo com 
esse entendimento, conforme preceitua o art. 26 do Código Penal; o elemento 
 
psicológico-normativo, que estabelece o nexo entre conduta e evento, sob a forma de 
dolo ou culpa; e a exigibilidade, nas circunstâncias do fato, de um comportamento 
conforme o dever. 
Para a caracterização do dolo, é necessária a junção de dois elementos: a 
consciência (previsão ou representação), que é o conhecimento do fato como sendo 
uma ação típica, e a vontade, que consiste no elemento volitivo de realizar o fato. 
Conforme a lição de Zaffaroni, o dolo consiste no querer o resultado típico, é a vontade 
realizadora do tipo objetivo. 
Existem várias teorias para conceituar o dolo, explicá-lo e inclusive para 
promover a distinção entre o dolo eventual e a culpa consciente, sendo as três 
principais teorias do dolo as seguintes: a teoria da vontade, a da representação e a 
do assentimento. 
 
 
Fonte: arquimedes.adv.br 
Para a teoria da vontade, age dolosamente quem pratica a ação consciente e 
voluntariamente. Para a teoria da representação, o dolo é a simples previsão do 
resultado; é a consciência de que a conduta provocará o resultado. Finalmente, para 
a teoria do assentimento ou consentimento, faz parte do dolo a previsão do resultado 
a que o agente adere, não sendo necessário que ele o queira, ou seja, há dolo quando 
o agente consente em causar o resultado ao praticar a conduta. 
 
O art. 18, inciso I, do Código Penal preceitua: ''Diz-se o crime: doloso, quando 
o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo''. Conforme a redação do 
dispositivo, a primeira parte diz respeito à teoria da vontade, o dolo direto, quando o 
agente realiza a condutacom o intuito de obter o resultado. A segunda parte refere-
se à teoria do assentimento e trata do dolo eventual, quando a vontade do agente não 
está dirigida para a obtenção do resultado, ou seja, ele quer algo diverso, prevê que 
a sua conduta possa acarretar o fato típico, mas assume mesmo assim o risco de 
concretizá-lo. 
3.2 Dolo direto e indireto 
A doutrina ensina que há diversas espécies de dolo (direto e indireto, geral, 
genérico e específico, normativo, subsequente, etc.); entretanto, para fins do presente 
estudo, serão estudados somente os dolos direto e indireto. Desse modo, ocorre o 
dolo direto quando o agente quer, efetivamente, cometer a conduta descrita no tipo. 
É o dolo por excelência e, nessa espécie, o agente pratica a sua conduta com o 
objetivo de produzir o resultado pretendido. 
Conforme o entendimento de Cezar Roberto Bitencourt, o dolo direto pode ser 
classificado em: dolo direto de primeiro grau ou imediato, e dolo direto de segundo 
grau ou mediato, ou ainda, dolo de consequências necessárias. De acordo com o 
autor, o dolo direto em relação ao fim proposto e aos meios escolhidos é classificado 
como de primeiro grau, e em relação aos efeitos colaterais, representados como 
necessários, é classificado como de segundo grau. 
Em outras palavras, Bitencourt declara que, quando se trata do fim diretamente 
desejado pelo agente, denomina-se dolo direto de primeiro grau, e, quando o 
resultado é desejado como consequência necessária do meio escolhido ou da 
natureza do fim proposto, denomina-se dolo direto de segundo grau. O autor ensina a 
diferença entre as duas modalidades de dolo direto com o seguinte exemplo: 
''Haverá dolo direto de primeiro grau, por exemplo, quando o agente, 
querendo matar alguém, desfere-lhe um tiro para atingir o fim pretendido. No 
entanto, haverá dolo direto de segundo grau quando o agente, querendo 
matar alguém, coloca uma bomba em um táxi, que explode, matando todos 
(motorista e passageiros). Inegavelmente, a morte de todos foi querida pelo 
agente, como consequência necessária do meio escolhido. Em relação à 
vítima visada o dolo direto foi de primeiro grau; em relação às demais vítimas 
o dolo direto foi de segundo grau.'' 
 
O dolo indireto, por sua vez, pode ser dividido em alternativo e eventual. O dolo 
alternativo, de acordo com Fernando Galvão, ocorre quando o aspecto volitivo do 
agente se encontra direcionado, de maneira alternativa, seja em relação ao resultado 
ou em relação à pessoa contra a qual o crime é cometido. Nesse sentido, o dolo 
alternativo poderá ser objetivo, quando referir-se ao resultado, ou subjetivo, quando 
referir-se à pessoa contra a qual o agente dirige sua conduta. 
O dolo eventual, por sua vez, ocorre quando o agente, embora não querendo 
diretamente praticar a infração penal, não se abstém de agir e, com isso, assume o 
risco de produzir o resultado que por ele já havia sido previsto e aceito. Em outras 
palavras, no dolo eventual, o agente prevê o resultado como provável ou, ao menos, 
como possível, mas, apesar de prevê-lo, age aceitando o risco de produzi-lo, pois 
considera mais importante sua ação do que o resultado. 
3.3 Culpa 
Apesar de longa elaboração doutrinária, não há, de fato, um conceito perfeito 
de culpa em sentido estrito e, consequentemente, de crime culposo. A conduta 
humana que interessa ao Direito Penal pode ocorrer de duas formas apenas: ou o 
agente atua dolosamente, querendo ou assumindo o risco de produzir o resultado, ou 
culposamente, dando causa a esse mesmo resultado, agindo com imprudência, 
negligência e imperícia. A punibilidade do crime culposo é admitida excepcionalmente 
no Direito Penal, isto é, somente quando prevista em lei tal modalidade, sendo o tipo 
doloso a regra, e o tipo culposo, a exceção. Nesse sentido, a ausência de conduta 
dolosa ou culposa faz com que o fato cometido pelo agente seja atípico, eximindo-o 
da infração penal a ser imputada a ele. 
A doutrina tem conceituado, portanto, o delito culposo a partir de seus 
elementos, quais sejam: a conduta humana voluntária, comissiva ou omissiva; a 
inobservância de um dever objetivo de cuidado (imprudência, negligência ou 
imperícia); o resultado lesivo não querido, tampouco assumido pelo agente; o nexo de 
causalidade entre a conduta do agente que deixa de observar o seu dever de cuidado 
e o resultado lesivo dela advindo; a previsibilidade e a tipicidade. No habeas corpus 
nº 186.451, o Superior Tribunal de Justiça – STJ decidiu: 
 
''O crime culposo tem como elementos a conduta, o nexo causal, o resultado, 
a inobservância ao dever objetivo de cuidado, a previsibilidade objetiva e a tipicidade.'' 
(STJ, HC 186.451/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, 5ª Turma, DJe 12/06/2013). 
 
 
Fonte: canalcienciascriminais.com.br 
Em primeiro lugar, nos delitos culposos, a conduta consiste em um ato humano 
voluntário dirigido a um fim lícito, mas que, por imprudência, negligência ou imperícia, 
dá causa a um resultado não querido, nem mesmo assumido, tipificado previamente 
na lei penal. Na conduta dolosa, há uma finalidade ilícita; na conduta culposa, a 
finalidade é quase sempre lícita, porém, os meios empregados pelo agente foram 
inadequados ou mal utilizados. 
Com relação ao segundo elemento necessário à caracterização do crime 
culposo, ou seja, a inobservância de um dever objetivo de cuidado, que consiste nas 
modalidades de culpa, o indivíduo age de forma omissiva, imprudente ou sem perícia. 
A imprudência é a conduta arriscada, perigosa, impulsiva, sem cautela e atenção 
necessária. A negligência relaciona-se com a inatividade (forma omissiva), a inércia 
do agente que, podendo agir para não causar ou evitar o resultado lesivo, não o faz 
por preguiça, desleixo, desatenção ou displicência. A imperícia vem a ser a ausência 
de aptidão técnica, de habilidade, de destreza ou de competência e conhecimentos 
técnicos no exercício de atividade profissional ou arte. 
 
Além da inobservância de cuidado objetivo, o tipo culposo exige o resultado, ou 
seja, a efetiva lesão do bem jurídico tutelado. Portanto, se, apesar da conduta 
descuidada do agente, não houver resultado lesivo, não haverá crime culposo. 
Também é necessário haver um nexo de causalidade entre a conduta praticada pelo 
agente e o resultado dela advindo para que este último possa ser imputado ao agente. 
Outro elemento do delito culposo é a previsibilidade, ou seja, o fato deve ser 
previsível para o agente. Portanto, se não houver a previsibilidade do fato, o resultado 
não poderá ser atribuído ao agente. 
Por fim, a tipicidade também é necessária para a caracterização do delito 
culposo, ou seja, deve haver previsão legal expressa para a modalidade culposa de 
infração. 
3.4 Culpa consciente e culpa inconsciente 
A distinção entre culpa consciente e inconsciente, espécies de culpa, está 
ligada à previsibilidade do resultado, um dos elementos do delito culposo. Segundo 
Mirabete, a culpa consciente, também chamada culpa com previsão, ocorre quando o 
agente prevê o resultado, mas espera, sinceramente, que este não ocorrerá. No 
mesmo sentido, Rogério Greco ensina que a culpa consciente é aquela em que o 
agente, embora prevendo o resultado, não deixa de praticar a conduta acreditando, 
sinceramente, que este resultado não venha a ocorrer. 
A culpa inconsciente, também chamada de culpa comum, existe quando o 
agente não prevê o resultado que lhe era previsível. Nesse sentido, o agente viola o 
dever objetivo de cuidado, apesar de lhe ser conhecível. 
 
3.5 Culpa consciente e dolo eventual 
 
Fonte: midiabahia.com.br 
A distinção entre a culpa consciente e o dolo eventual é um dos problemas mais 
complexos da Teoria do Delito. A culpa consciente assemelha-se com o dolo eventual, 
porém ambos não se confundem. Apesar de haver a previsão do resultado em ambos 
os casos, Mirabete ensina que, na culpa consciente, o agente, embora prevendoo 
resultado, não o aceita como possível; no dolo eventual, o agente prevê o resultado e 
não se importa que venha ele a ocorrer. No mesmo sentido, Rogério Greco 
fundamenta: 
''Na culpa consciente, o agente, embora prevendo o resultado, acredita 
sinceramente na sua não ocorrência; o resultado previsto não é querido ou 
mesmo assumido pelo agente. Já no dolo eventual, embora o agente não 
queira diretamente o resultado, assume o risco de vir a produzi-lo. Na culpa 
consciente, o agente, sinceramente, acredita que pode evitar o resultado; no 
dolo eventual, o agente não quer diretamente produzir o resultado, mas, se 
este vier a acontecer, pouco importa.'' 
A distinção entre culpa consciente e dolo eventual atualmente é bastante 
discutida nos casos de embriaguez ao volante com vítimas fatais, tema do presente 
trabalho. Em tais casos, os condutores normalmente dirigem embriagados e com 
excesso de velocidade, causando a morte ou deixando sequelas gravíssimas em suas 
vítimas. 
 
Devido ao elevado número de acidentes de trânsito decorrentes da embriaguez 
ao volante, o movimento da mídia nos últimos anos, exigindo punições mais rígidas, 
fez com que juízes e promotores passassem a considerar que tais delitos, praticados 
nessas condições, devessem ser classificados a título de dolo eventual em 
praticamente todos os casos devido à frase contida na segunda parte do inciso I do 
art. 18 do Código Penal, que diz ser dolosa a conduta quando o agente assume o 
risco de produzir o resultado . Entretanto, tal situação resultou em uma grande dúvida 
a respeito dos conceitos de dolo eventual e culpa consciente entre os juristas e 
operadores. 
 
 
Fonte: cucacursos.com 
Sobre esse tema, Rogério Greco registra: 
''A insegurança começou a reinar. Fatos similares eram julgados de formas 
diferentes. Se um determinado acidente automobilístico recebesse a atenção 
da mídia, na hipótese em que um dos condutores houvesse numa das 
situações acima indicadas, vale dizer, em estado de embriaguez e/ou em 
velocidade excessiva, fatalmente seria indiciado, denunciado e levado a 
julgamento pelo Tribunal do Júri, por homicídio doloso, a título de dolo 
eventual. Se outro acidente, muito parecido com o que anunciamos, tivesse 
a sorte de não ser percebido pela mídia, como regra, seria submetido a 
julgamento pelo juízo singular e, se fosse o caso, condenado pela prática de 
um delito de natureza culposa. 
Assim, a diferença doutrinária entre dolo eventual e culpa consciente foi 
sendo pulverizada, quando seu raciocínio era feito levando-se em 
consideração fatos lesivos ocorridos através do tráfego de veículos 
automotores.” 
 
A fórmula embriaguez ao volante associada à velocidade excessiva, resultando 
no crime de homicídio a título de dolo eventual não é absoluta e não merece prosperar, 
pois é desarrazoado afirmar que todos os condutores que dirigem sob estas condições 
não se importam em causar a morte ou mesmo lesões em outras pessoas. O clamor 
social no sentido de que deve haver punição severa aos motoristas que dirigem 
embriagados e em velocidade excessiva quando tiram a vida de alguém ou causam 
lesões irreversíveis em inocentes não tem a faculdade de alterar toda a estrutura 
jurídico-penal pátria. 
É imprescindível registrar que a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal 
– STF, no julgamento do habeas corpus nº 107.801/SP, em conformidade com a 
doutrinária majoritária, estabeleceu entendimentos de suma importância a respeito do 
tema: 
''EMENTA: PENAL. HABEAS CORPUS. TRIBUNAL DO JÚRI. PRONÚNCIA 
POR HOMICÍDIO QUALIFICADO A TÍTULO DE DOLO EVENTUAL. 
DESCLASSIFICAÇÃO PARA HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE 
VEÍCULO AUTOMOTOR. EMBRIAGUEZ ALCOÓLICA. ACTIO LIBERA IN 
CAUSA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO ELEMENTO VOLITIVO. 
REVALORAÇÃO DOS FATOS QUE NÃO SE CONFUNDE COM 
REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. 
ORDEM CONCEDIDA. 
[...] 2. O homicídio na forma culposa na direção de veículo automotor (art. 
302, caput, do CTB) prevalece se a capitulação atribuída ao fato como 
homicídio doloso decorre de mera presunção ante a embriaguez alcoólica 
eventual. 
3. A embriaguez alcoólica que conduz à responsabilização a título doloso é 
apenas a preordenada, comprovando-se que o agente se embebedou para 
praticar o ilícito ou assumir o risco de produzi-lo. 
4. In casu, do exame da descrição dos fatos empregada nas razões de decidir 
da sentença e do acórdão do TJ/SP, não restou demonstrado que o paciente 
tenha ingerido bebidas alcoólicas no afã de produzir o resultado morte. [...] 
[...] 8. Concessão da ordem para desclassificar a conduta imputada ao 
paciente para homicídio culposo na direção de veículo automotor (art. 302, 
caput, do CTB), determinando a remessa dos autos à Vara Criminal da 
Comarca de Guariba/SP.'' (STF, HC 107.801/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, 1ª 
Turma, DJe 13/10/2011). 
De acordo com o STF, nos casos de embriaguez ao volante com vítimas fatais, 
o homicídio na forma culposa cometido na direção de veículo automotor (art. 302, 
caput, do CTB) deve prevalecer em relação ao homicídio doloso na hipótese de 
embriaguez eventual do condutor, que é a situação que abarca a maioria absoluta dos 
casos. Além disso, a embriaguez alcoólica que conduz à responsabilização a título 
doloso é apenas a preordenada, comprovando-se que o agente se embebedou para 
praticar o ilícito ou assumiu o risco de produzir o resultado morte. Portanto, se o 
 
condutor se embriaga com o ânimo de cometer homicídio, o crime será considerado 
doloso sem maiores problemas; entretanto, se este não for o caso, o crime deve ser 
considerado culposo. 
Desse modo, não há que se falar em fórmula absoluta capaz de determinar, 
com precisão, se os crimes de homicídio decorrentes da embriaguez ao volante são 
dolosos ou culposos, devendo prevalecer as circunstâncias peculiares de cada caso 
concreto e o estado anímico do agente na busca pela melhor solução jurídica. Na 
hipótese de dúvida em relação ao elemento subjetivo da conduta do réu (culpa ou 
dolo), Rogério Greco assevera que não há outra solução senão reconhecer o 
homicídio simplesmente culposo (culpa consciente): 
''[...] se ao final do processo pelo qual o motorista estava sendo processado 
por um crime doloso (com dolo eventual) houver dúvida com relação a esse 
elemento subjetivo, deverá ser a infração penal desclassificada para aquela 
para aquela de natureza culposa, pois in dubio pro reo, e não como querem 
alguns, in dubio pro societate.'' 
Cezar Roberto Bitencourt apresenta a mesma linha de raciocínio para 
solucionar a dúvida entre dolo eventual e culpa consciente. De acordo com o autor: 
''[...] como a distinção entre dolo eventual e culpa consciente paira sob uma 
penumbra, uma zona gris, é fundamental que se estabeleça com a maior 
clareza possível essa região fronteiriça, diante do tratamento jurídico 
diferenciado que se às duas categorias. 
A distinção entre dolo eventual e culpa consciente é questão puramente 
jurídica, que envolve conhecimento dogmático, sendo, portanto, insuscetível 
de ser deixada à apreciação de juízes de fato, que julgam fatos, como fatos, 
enquanto fatos. Na dúvida intransponível entre o dolo eventual e culpa 
consciente deve-se, necessariamente, optar pela menos grave, a culpa 
consciente.'' 
O legislador brasileiro não se ocupou com a tarefa de distinguir precisamente a 
culpa consciente do dolo eventual, o que solucionaria a questão de forma simples e 
direta. Dessa forma, tal distinção torna-se questão eminentemente doutrinária, e 
mesmo os grandes juristas encontram dificuldades para diferenciar as duas 
categorias. O resultado é a grande divergência jurisprudencial existente sobre a 
matéria e a influência da mídia e da sociedade sobre a justiça brasileira com 
sentimento de vingança sobre os infratores. 
Devido ao fato de o tipo descrito no art. 302 do CTB (homicídio culposo na 
direção veicular) não permitir a imposição de pena privativa de liberdade,correspondendo assim ao anseio social, a solução passa a ser a aplicação forçada do 
 
dolo eventual e, consequentemente, do tipo previsto pelo art. 121 do Código Penal, 
que se trata de manifestação violação do princípio da legalidade por via de 
interpretação jurisprudencial. Entretanto, para a doutrina os princípios do direito penal 
são claros: na dúvida, entre ambas as figuras, deve-se optar pela culpa consciente, 
menos grave. 
4 CRIMES DE TRÂNSITO 
 
Fonte: doutormultas.com.br 
Todas as condutas proibidas ao condutor de veículo que trafega pelas vias 
públicas estão descritas na Lei Nº 9.503/1997, o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). 
Na lei, há infrações civis e administrativas, punidas pelos órgãos de trânsito 
com multas e penalidades como a apreensão do veículo ou suspensão do direito de 
dirigir. 
Mas há também infrações penais, ou seja, os crimes de trânsito. Nesses casos, 
o infrator não será apenas autuado pelo órgão de trânsito, mas sofrerá um processo 
judicial criminal. 
Esse processo está sujeito às regras descritas no Código Penal e no Código 
de Processo Penal. 
 
O Decreto-Lei Nº 3.914/1941, que se trata da Lei de Introdução do Código 
Penal, conceitua o que é crime em seu primeiro artigo: 
Art. 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão 
ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com 
a pena de multa; (…) 
No caso dos crimes de trânsito, o motorista pode ser condenado às penalidades 
de detenção ou multa. Também é possível que o juiz aplique a penalidade de 
suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação. 
Conforme previsto pelo Código Penal, também é possível que a pena de 
detenção seja substituída por uma pena restritiva de direito, como a prestação de 
serviços à comunidade. 
4.1 Crimes de Trânsito no CTB. 
 
Fonte: doutormultas.com.br 
O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é dividido em capítulos. O XV, por 
exemplo, versa sobre as infrações de trânsito. 
Ou seja, lá encontram-se todas as condutas que são consideradas infrações 
de trânsito e as respectivas punições. 
No caso dos crimes de trânsito, também há um capítulo específico, o de número 
XIX, que conta com duas seções. 
 
A primeira é dedicada a disposições gerais. É nessa seção que encontramos o 
artigo 291, que confirma o que dissemos anteriormente sobre as normas a serem 
aplicadas: 
Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos 
neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de 
Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como 
a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber. 
Nessa seção, há também artigos que dispõem sobre as penalidades de 
suspensão ou proibição de obter a habilitação e de multa reparatória. 
No artigo 298, encontramos uma lista com circunstâncias em que as 
penalidades são agravadas. Veja: 
Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes 
de trânsito ter o condutor do veículo cometido a infração: 
I – com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de 
grave dano patrimonial a terceiros; 
II – utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas; 
III – sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; 
IV – com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria 
diferente da do veículo; 
V – quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o 
transporte de passageiros ou de carga; 
VI – utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou 
características que afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de 
acordo com os limites de velocidade prescritos nas especificações do 
fabricante; 
VII – sobre faixa de trânsito temporária ou permanentemente destinada a 
pedestres. 
Na segunda seção do capítulo XIX do CTB, são descritos os crimes em espécie 
e as respectivas penalidades que serão analisado a seguir. 
4.2 Infrações que preveem penalidades de crimes de trânsito 
São 11 os crimes de trânsito descritos no CTB. Eles constam nos artigos 302 a 
312, que especificam qual o prazo mínimo e máximo de detenção para cada caso. 
Veja quais são: 
 Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor (Artigo 302); 
Bem jurídico tutelado: a vida; 
Tipo objetivo: é um tipo penal aberto, pois depende de valoração do juiz para 
saber se o agente foi negligente, imprudente, ou imperito ao cometer homicídio; 
 
Sujeito ativo: qualquer pessoa; 
Sujeito passivo: qualquer pessoa; 
Consumação: ocorre no momento da morte da vítima; 
Tentativa: não é admitida; 
Absorção: crimes de perigo como a embriaguez ao volante e excesso de 
velocidade em certos locais; 
Ação penal: pública incondicionada; 
 
 
Fonte: maispiripiri.com.br 
 Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor (Artigo 303); 
Bem jurídico tutelado: a incolumidade física; 
Tipo objetivo: é um tipo penal aberto, pois depende de valoração do juiz no 
momento da fixação da pena base para saber se o agente foi negligente, 
imprudente, ou imperito ao cometer a lesão; 
Sujeito ativo: qualquer pessoa; 
Sujeito passivo: qualquer pessoa; 
Consumação: no momento da lesão da vítima; 
Tentativa: não é possível; 
Absorção de crimes: crimes de perigo como a embriaguez ao volante e excesso 
de velocidade em certos locais; 
 
Ação penal: pública condicionada à representação, exceto se estava embriagado 
ou sob efeito de substâncias psicoativas, prática de racha ou conduzia em 
velocidade superior a 50 km/h da permitida no local, quando passa a ser pública 
incondicionada; 
 Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato 
socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar 
de solicitar auxílio da autoridade pública (Artigo 304); 
Bem jurídico tutelado: a vida e/ou a saúde; 
Tipo objetivo: é crime omissivo puro com duas condutas típicas. Deixar de prestar 
imediato socorro e deixar de solicitar ajuda à autoridade política; 
Sujeito ativo: condutor envolvido em acidente com vítima; 
Sujeito passivo: vítima que precisa de socorro; 
Consumação: ocorre no momento da omissão; 
Tentativa: por ser omissivo próprio, não admite tentativa; 
Ação penal: pública incondicionada; 
 
 
Fonte: doutormultas.com.br 
 Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à 
responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída (Artigo 305); 
Bem jurídico tutelado: a proteção da administração da justiça; 
 
Tipo objetivo: é crime formal que ocorre com o afastamento do local do acidente 
para não ser identificado; 
Sujeito ativo: condutor do veículo os que estimulam respondem como partícipes; 
Sujeito passivo: o Estado e secundariamente a pessoa prejudicada; 
Consumação: fuga do local, independentemente de identificação posterior; 
Tentativa: possível; 
Ação penal: pública incondicionada; 
 Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da 
influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine 
dependência (Artigo 306); 
 
 
Fonte: doutormultas.com.br 
Bem jurídico tutelado: a segurança viária e secundariamente, o direito à vida e à 
saúde; 
Tipo objetivo: é crime de mera conduta, visto que é necessário apenas conduzir 
veículo sob efeito de álcool ou substância análoga; 
Sujeito ativo: qualquer pessoa; 
Sujeito passivo: a segurança viária, a coletividade e secundariamente a pessoa 
exposta; 
 
Consumação: no momento da condução de veículo; 
Tentativa: não é admitida; 
Absorção: crimes de perigo como a embriaguez ao volante e excesso de 
velocidade em certos locais; 
Ação penal: pública incondicionada; 
 Violar a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação 
para dirigir veículo automotor imposta com fundamento neste Código (Artigo 
307); 
 
 
Fonte: www.alagoasweb.com 
Bemjurídico tutelado: a proteção da administração da justiça; 
Tipo objetivo: crime de mera conduta ao violar suspensão ou proibição de direção, 
independentemente de risco; 
Sujeito ativo: qualquer pessoa proibida de obter permissão ou habilitação ou com 
tal direito suspenso; 
Sujeito passivo: o Estado; 
Consumação: ao colocar o veículo em movimento; 
Tentativa: é inadmissível; 
Ação penal: pública incondicionada; 
 Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa 
ou competição automobilística ou ainda de exibição ou demonstração de 
 
perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade 
competente, gerando situação de risco à incolumidade pública ou privada 
(Artigo 308); 
Bem jurídico tutelado: a segurança viária e a incolumidade pública; 
Tipo objetivo: crime formal ao participar de competição não autorizada; 
Sujeito ativo: qualquer pessoa sendo os espectadores e passageiros, partícipes; 
Sujeito passivo: a coletividade e secundariamente a pessoas exposta a risco; 
Consumação: no início da disputa; 
Tentativa: não é admitida; 
Absorção: crimes de perigo como embriaguez ao volante e excesso de velocidade 
em certos locais; 
Ação penal: pública incondicionada; 
Absorção: homicídio culposo absorve este crime e só é crime se for em via 
pública, sem permissão autoridade, ocorrendo dano a incolumidade. 
 
 
Fonte: f.i.uol.com.br 
 Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir 
ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano 
(Artigo 309); 
Bem jurídico tutelado: o risco de dano; 
Tipo objetivo: crime de perigo por direção sem permissão ou habilitação; 
 
Sujeito ativo: qualquer pessoa; 
Sujeito passivo: a coletividade e secundariamente a pessoa exposta ao perigo; 
Consumação: não possuir e colocar em movimento; 
Tentativa: não é admitida; 
Absorção: ocorre quando da punição por embriaguez ao volante, competição não 
autorizada e excesso de velocidade em certos locais; 
Ação penal: pública incondicionada 
 Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa não 
habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou, 
ainda, a quem, por seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, 
não esteja em condições de conduzi-lo com segurança (Artigo 310); 
 
 
Fonte: i1.wp.com/manoamanorentacar.com.br 
Bem jurídico tutelado: a segurança viária; 
Tipo objetivo: crime formal ao permitir, confiar ou entregar a direção a pessoa não 
habilitada; 
Sujeito ativo: qualquer pessoa que possa permitir; 
Sujeito passivo: a coletividade; 
Consumação: ocorre no momento em que o veículo se movimenta; 
Tentativa: se o terceiro for impedido anteriormente à colocação do veículo em 
movimento; 
 
Ação penal: pública incondicionada; 
 Trafegar em velocidade incompatível com a segurança nas proximidades de 
escolas, hospitais, estações de embarque e desembarque de passageiros, 
logradouros estreitos, ou onde haja grande movimentação ou concentração de 
pessoas, gerando perigo de dano (Artigo 311); 
Bem jurídico tutelado: a segurança viária; 
Tipo objetivo: tráfego em velocidade incompatível nas proximidades de hospital, 
escola, concentração de pessoas, ruas estreitas, entre outros que gerem risco a 
segurança viária; 
Sujeito ativo: o condutor habilitado; 
Sujeito passivo: a coletividade, e secundariamente a pessoa exposta; 
Consumação: com a verificação da velocidade incompatível em um local descrito 
na lei; 
Tentativa: não é possível; 
Absorção: o crime de homicídio culposo ou lesão culposa absorvem este crime; 
Ação penal: pública incondicionada; 
 
 
Fonte: cdn.autopapo.com.br 
 Inovar artificiosamente, em caso de acidente automobilístico com vítima, na 
pendência do respectivo procedimento policial preparatório, inquérito policial ou 
 
processo penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a fim de induzir a 
erro o agente policial, o perito, ou juiz (Artigo 312); 
Bem jurídico tutelado: a administração pública; 
Tipo objetivo: Crime formal quando houve acidente com vitima anteriormente; 
Sujeito ativo: qualquer pessoa; 
Sujeito passivo: o Estado; 
Consumação: no momento de alteração de lugar a coisa ou pessoa ainda que 
não logre êxito; 
Tentativa: é possível mediante flagrante delito; 
Ação penal: pública incondicionada; 
4.3 Quais são as multas que podem levar à prisão? 
 
Fonte: www.rsim.com.br 
Todos os crimes de trânsito descritos no CTB têm como pena a detenção. Entre 
um e outro, no entanto, mudam os prazos e outras particularidades na aplicação da 
pena. 
A pena mínima é de seis meses, com exceção ao crime de homicídio culposo 
na direção de veículo automotor, descrito no artigo 302, cuja pena mínima é de dois 
anos. 
 
Quanto à pena máxima de detenção, há infrações cuja privação de liberdade 
pode chegar a um ano, dois anos, três anos ou quatro anos. 
Alguns crimes também são penalizados, como já mencionamos antes, com a 
suspensão ou proibição de obter a habilitação. 
Essa penalidade é aplicada apenas após a sentença condenatória transitar em 
julgado. 
No entanto, segundo o artigo 294 do CTB, o juiz pode decretar a suspensão 
como medida cautelar, em qualquer fase da investigação, caso julgue necessário para 
a garantia da ordem pública. 
O prazo de suspensão, conforme o artigo 293, é de dois meses a cinco anos. 
Se o réu estiver preso por consequência da condenação, esse prazo não estará 
correndo. 
Já a penalidade de multa reparatória, prevista no artigo 297, é aplicada para 
indenizar a vítima ou seus sucessores quando houver prejuízo material resultante do 
crime. 
A multa não poderá ser superior ao valor do prejuízo demonstrado no processo, 
e o pagamento é realizado mediante depósito judicial. 
Voltando ao assunto da detenção, o juiz tem alguns critérios para decidir qual 
será a pena, ou seja, o tempo exato de restrição de liberdade entre os prazos previstos 
no CTB. 
Eles são citados no artigo 59 do Código Penal. Confira: 
Art. 59 – O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta 
social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e 
consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, 
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e 
prevenção do crime: 
I – as penas aplicáveis dentre as cominadas; 
II – a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos (…) 
Portanto, o réu é avaliado em sua: 
 Culpabilidade; 
 Antecedentes; 
 Conduta social; 
 Personalidade; 
 Motivação. 
 
Também são avaliadas as circunstâncias e consequências do crime e o 
comportamento da vítima. 
Essas premissas valem para qualquer crime. Nos crimes de trânsito, o juiz 
avalia ainda outros possíveis agravantes, exatamente aqueles que constam no artigo 
298 do CTB, que transcrevemos no início do texto. 
4.4 Agravantes 
 
Fonte: www.sfnoticias.com.br 
Há ainda descrições de agravantes atribuídos especificamente a alguns crimes. 
Um exemplo é crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor (artigo 
302). 
Segundo o parágrafo primeiro desse artigo, a pena (que é de dois a quatro anos 
de detenção e suspensão) é aumentada de um terço à metade se o réu: 
 Não possuir Permissão para Dirigir (habilitação provisória) ou Carteira de 
Habilitação; 
 Praticar o crime em faixa de pedestres ou na calçada; 
 Deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima 
do acidente; 
 No exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de 
transporte de passageiros. 
 
Os mesmos agravantes são atribuídos ao crime do artigo 303: “Praticar lesão 
corporal culposa na direção de veículo automotor”. 
Já no artigo 308, que penaliza o motorista que participou de competição 
automobilística não autorizada em via pública, gerando situação de risco,o tempo de 
detenção (que é de seis meses a três anos) aumenta nos seguintes casos: 
Se a conduta criminosa resultar em lesão corporal de natureza grave e caso as 
circunstâncias demonstrem que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco 
de produzi-lo, a pena será de reclusão de três a seis anos; 
Se da prática do crime resultar morte (também sem que haja indícios de 
intenção de produzir o resultado), a pena será de reclusão de cinco a dez anos. 
Você observou que, até agora, falamos sempre em detenção, com exceção aos 
agravantes do artigo 308, que podem converter a pena em reclusão. 
Para quem não conhece as sinuosidades da lei, as duas penas podem soar 
parecidas. Mas elas têm as suas diferenças. 
Tanto detenção quanto reclusão são consideradas, segundo o Código Penal, 
penas privativas de liberdade. 
Elas são detalhadas no artigo 33 do código: 
Art. 33 – A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, 
semiaberto ou aberto. A de detenção em regime semiaberto ou aberto, salvo 
necessidade de transferência a regime fechado. 
1º – Considera-se: 
a) Regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança 
máxima ou média; 
b) Regime semiaberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial 
ou estabelecimento similar; 
c) Regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou 
estabelecimento adequado. 
Ou seja, o motorista condenado pelos crimes de trânsito previstos no CTB 
cumprirão pena no regime semiaberto ou aberto. O que isso quer dizer? 
No regime semiaberto, o preso pode trabalhar, seja no próprio local ou então 
externamente. Também é admitido que ele saia para ter aulas em curso 
profissionalizante, de segundo grau ou superior. 
No cotidiano do condenado a detenção em regime semiaberto a lei exige cercas 
ou muros altos, portão de ferro, controle de saída – para estudar ou trabalhar às 7h e 
para retornar antes das 19h. Celas sem luxo nem mordomia. O banheiro é coletivo, e 
 
o chuveiro um simples cano de água fria. Geralmente as camas são triliches, com três 
andares. 
Já o regime aberto, segundo o artigo 36 do Código Penal, baseia-se na 
“autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado”. 
Desse modo, o condenado pode trabalhar fora de dia e passar a noite em casa 
de albergado ou em sua própria residência. 
Já na pena de reclusão, como você viu no artigo 33, a pena poderá ser em 
regime fechado. Nesse caso, o preso ficará em um estabelecimento de segurança 
máxima ou média e ficará proibido de deixá-lo. 
4.5 Fiança 
 
Fonte: doutormultas.com.br 
O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) sofreu alterações que aumentaram as 
penas dos crimes de homicídio culposo e de lesão corporal culposa, de natureza grave 
ou gravíssima, ambos na direção de veículo automotor, nas hipóteses em que o 
agente está sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa pela 
(Lei nº 13.546 de 2017). 
Na prática, vale dizer que o motorista ou motociclista embriagado, que causar 
acidente com mortos ou feridos graves, deve ser autuado em flagrante, sem direito a 
pagar fiança para responder solto ao delito. Porém, o crime de embriaguez ao volante 
 
isolado, sem que haja vítimas, continua com a pena inalterável e, consequentemente, 
afiançável. 
4.6 Embriaguez ao volante é crime de trânsito? 
Outra grande questão é quanto ao crime descrito no artigo 306 do Código de 
Trânsito, que fala sobre dirigir com a capacidade psicomotora alterada. Veja o que diz 
o trecho: 
Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada 
em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que 
determine dependência: 
Penas – detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição 
de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. 
Segundo o mesmo artigo, essa conduta pode ser constatada pelas seguintes 
maneiras: 
 Concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou 
igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou 
 Sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da 
capacidade psicomotora. 
Essa verificação pode acontecer mediante a “teste de alcoolemia ou 
toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de 
prova em direito admitidos”. 
A polêmica reside no fato de o CTB prever a prova testemunhal do agente de 
trânsito como forma de comprovar a alteração da capacidade motora. 
No anexo II da Resolução Nº 432/2012 do Conselho Nacional de Trânsito 
(Contran) consta uma lista de sinais nos quais o agente pode se basear para observar 
as alterações na capacidade psicomotora. 
Alguns deles são sonolência, olhos vermelhos e odor etílico no hálito, além de 
atitudes como agressividade e exaltação. 
O mais comum, no entanto, é somente enquadrar a conduta do motorista como 
crime caso ele tenha aceito o teste do bafômetro e o resultado tenha sido superior a 
0,3 mg de álcool por litro de ar alveolar2. 
 
2 Texto extraído do link: https://doutormultas.com.br/crimes-de-transito/. 
 
5 AS REPERCUSSÕES JURÍDICAS PRÁTICAS TRAZIDAS PELA LEI Nº 
13.546/17 – QUE ALTEROU O CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO3 
 
Fonte: www.detran.rs.gov.br 
Antes de findar o ano de 2017, foi publicada a Lei nº 13.546/17 no dia 
19.12.2017, que mais uma vez modificou o Código de Trânsito Brasileiro, com objetivo 
de impor maior rigorismo nas condutas – que geram grande repercussão social –, 
mormente no que diz respeito às hipóteses de “acidentes” provocados por motoristas 
em estado de embriaguez. 
Não é de hoje que o legislador pátrio, apesar das derrapagens jurídicas, tem-
se mostrado atento aos efeitos nocivos de uma legislação benevolente e buscado 
cada vez mais na “mens legis” (trazida pelo legislador) normatizações mais severas 
nesses pontos. A par disso tivemos a denominada “Lei Seca” ou Lei Seca Severa 
dentre outras legislações posteriores, em que o legislador exteriorizou a intolerância 
com essas condutas gravíssimas – embriaguez ao volante e suas nuances – que se 
dirigem contra a coletividade e a segurança viária do nosso trânsito que ceifa mais 
vidas do que conflitos civis armados. 
 
3 Texto extraído do link: https://jus.com.br/artigos/63212/as-repercussoes-juridicas-praticas-
trazidas-pela-lei-n-13-546-17-que-alterou-o-codigo-de-transito-brasileiro, autor: Joaquim Leitão Júnior. 
 
Tem-se visto e ouvido falar muito em redes sociais que agora a pena para quem 
for flagrado na embriaguez ao volante aumentou entre outros apontamentos; que 
agora o crime do art. 306, do CTB é inafiançável e quem cometer esse delito ficará 
preso, todavia, cabe dizer que não foi isso que tecnicamente ocorreu. 
Na verdade, o que a Lei nº 13.546/17 fez foi acrescentar o §3º, ao artigo 302, 
do CTB e o §2º, ao artigo 303, do CTB entre outras alterações promovidas no Código 
de Trânsito Brasileiro, para impor mais rigor com os incontáveis casos de graves 
“acidentes de trânsito”, decorrentes de embriaguez ao volante, noticiados diariamente 
pela mídia. 
De outro lado, o art. 306, do Código de Trânsito Brasileiro, ao contrário do 
noticiado pelas redes sociais, continuou com a mesma redação que é conduzir veículo 
automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou 
de outra substância psicoativa que determine dependência. Confira-se a inteligência 
do art. 306, do Código de Trânsito Brasileiro: 
Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada 
em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que 
determine dependência: 
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição 
de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. 
§ 1º As condutas previstas no caput serão constatadas por: 
I - concentração igual ou superior a 6 decigramasde álcool por litro de sangue 
ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou 
II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da 
capacidade psicomotora. 
§ 2º A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste 
de alcoolemia, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros 
meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova. 
§ 3º O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de 
alcoolemia para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo. 
Nota-se que a redação do indigitado dispositivo legal foi mantida. Esse é o 
registro inicial do debate que deve restar claro para evitar falácias no âmbito jurídico. 
Adiante, a primeira alteração que tivemos com a novel lei, está no §3º, que foi 
acrescentado ao artigo 302, do CTB, pela Lei 13.546/17. Vejamos a redação: 
“se o agente conduz o veículo automotor sob a influência de álcool ou de 
qualquer substância psicoativa que determine dependência: 
Penas – reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do direito 
de se obter a permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor”. 
A segunda alteração que tivemos, diz respeito ao §2º, acrescentado ao artigo 
303, do CTB, pela Lei 13.546/17, senão vejamos: 
 
§ 2º A pena privativa de liberdade é de reclusão de dois a cinco anos, sem 
prejuízo das outras penas previstas neste artigo, se o agente conduz o 
veículo com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de 
álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência, e se do 
crime resultar lesão corporal de natureza grave ou gravíssima. 
A título de comparação para melhor compreensão vejam as redações do art. 
306, do Código de Trânsito Brasileiro e do §3º, acrescentado ao artigo 302, do CTB, 
pela Lei 13.546/17 abaixo: 
 
Art. 306, do Código de Trânsito Brasileiro §3º, acrescentado ao artigo 302, do CTB, 
pela Lei 13.546/17 
Art. 306. Conduzir veículo automotor com 
capacidade psicomotora alterada em razão da 
influência de álcool ou de outra substância 
psicoativa que determine dependência: 
Penas – detenção, de seis meses a três anos, 
multa e suspensão ou proibição de se obter a 
permissão ou a habilitação para dirigir veículo 
automotor. 
§ 1º As condutas previstas no caput serão 
constatadas por: 
I – concentração igual ou superior a 6 
decigramas de álcool por litro de sangue ou igual 
ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de 
ar alveolar; ou 
II – sinais que indiquem, na forma disciplinada 
pelo Contran, alteração da capacidade 
psicomotora. 
§ 2º A verificação do disposto neste artigo poderá 
ser obtida mediante teste de alcoolemia, exame 
clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou 
outros meios de prova em direito admitidos, 
observado o direito à contraprova. 
§ 3º O Contran disporá sobre a equivalência 
entre os distintos testes de alcoolemia para efeito 
de caracterização do crime tipificado neste 
artigo. 
Se o agente conduz o veículo automotor sob a 
influência de álcool ou de qualquer substância 
psicoativa que determine dependência: 
Penas – reclusão, de cinco a oito anos, e 
suspensão ou proibição do direito de se obter a 
permissão ou habilitação para dirigir veículo 
automotor”. 
Redação mantida Acréscimo trazido pela modificação da nova 
Lei nº 13.546/17 
 
Em comparativo ainda, cita-se mais uma vez o art. 306, do Código de Trânsito 
Brasileiro e o §2º, acrescentado ao artigo 303, do CTB, pela Lei 13.546/17 adiante: 
 
Art. 306, do Código de Trânsito Brasileiro §2º, acrescentado ao artigo 303, do CTB, 
pela Lei 13.546/17 
“Art. 306. Conduzir veículo automotor com 
capacidade psicomotora alterada em razão da 
influência de álcool ou de outra substância 
psicoativa que determine dependência: 
Penas – detenção, de seis meses a três anos, 
multa e suspensão ou proibição de se obter a 
permissão ou a habilitação para dirigir veículo 
automotor. 
§ 1º As condutas previstas no caput serão 
constatadas por: 
I – concentração igual ou superior a 6 
decigramas de álcool por litro de sangue ou igual 
ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de 
ar alveolar; ou 
II – sinais que indiquem, na forma disciplinada 
pelo Contran, alteração da capacidade 
psicomotora. 
§ 2º A verificação do disposto neste artigo poderá 
ser obtida mediante teste de alcoolemia, exame 
clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou 
outros meios de prova em direito admitidos, 
observado o direito à contraprova. 
§ 3º O Contran disporá sobre a equivalência 
entre os distintos testes de alcoolemia para efeito 
de caracterização do crime tipificado neste 
artigo. 
§ 2º A pena privativa de liberdade é de reclusão 
de dois a cinco anos, sem prejuízo das outras 
penas previstas neste artigo, se o agente conduz 
o veículo com capacidade psicomotora alterada 
em razão da influência de álcool ou de outra 
substância psicoativa que determine 
dependência, e se do crime resultar lesão 
corporal de natureza grave ou gravíssima. 
Redação foi mantida Acréscimo trazido com modificação pela 
nova Lei nº 13.546/17 
 
Uma constatação de fácil percepção de ambos os quadros ilustrativos, é de que 
as penas foram aumentadas (no §3º, acrescentado ao artigo 302, do CTB, pela Lei 
13.546/17 e no §2º, acrescentado ao artigo 303, do CTB, pela Lei 13.546/17), diante 
da relevância da lesão aos bens jurídicos que se busca tutelar. Diga-se de passagem 
 
que essa majoração de penas é louvável, porquanto os resultados de condutas no 
trânsito são mais negativas, se comparadas com as mesmas condutas 
correspondentes no Código Penal Brasileiro (homicídio culposo e lesão corporal 
culposa). Para nós, as penas são adequadas, mas apontam para a necessidade de 
uma reflexão acerca de outras penas previstas no Código Penal Brasileiro, cujos 
preceitos secundários em inúmeros casos, não têm garantido a devida resposta 
retributiva às condutas etiquetadas de alta gravidade. 
Dando prosseguimento nas análises, numa interpretação literal dos dispositivos 
cotejados, extrai-se que qualificadora do homicídio culposo (§3º, acrescentado ao 
artigo 302, do CTB, pela Lei 13.546/17) num primeiro momento estaria a exigir apenas 
que o agente estivesse sob a “sob a influência de álcool ou de qualquer substância 
psicoativa que determine dependência”. 
De outro quadrante, relativo à qualificadora da lesão corporal culposa (§2º, 
acrescentado ao artigo 303, do CTB, pela Lei 13.546/17), esta por sua vez exigiria 
necessariamente que o motorista estivesse “com a capacidade psicomotora alterada 
em razão da influência do álcool”. 
Nesse contexto, é intuitivo concluir que o legislador ordinário buscou exigir 
literalmente com a novel Lei 13.546/17, mais precisamente no tipo penal do §3º, do 
artigo 302, CTB tão somente o consumo de bebida alcoólica ou outra qualquer 
substância que cause dependência para a configuração da qualificadora do indigitado 
dispositivo legal. Noutra direção, o legislador literalmente acabou por dar um 
tratamento menos rigoroso na constatação do estado do agente na qualificadora do 
§2º, do artigo 303, uma vez que se contentou apenas com a alteração da capacidade 
psicomotora. 
Fato é que, da forma com que foi redigida a reforma impressa pela Lei 
13.546/17, sem dúvidas suscitará inúmeros debates em torno da qualificadora do 
homicídio culposo e da qualificadora na lesão corporal, lembrando também que nem 
sempre a interpretação literal é a melhor e a que traz o valor de justiça aos fatos. 
Sobre a qualificadora do homicídio culposo surge a primeira inquietação: para 
a incidência desta qualificadora, bastaria se comprovar a ingestão da substância para 
viabilizar eventual responsabilização penal do agente ou deveria ter a comprovação 
da alteração da capacidade psicomotora? 
 
Eduardo Luiz Santos Cabette e Francisco Sannini Neto nos respondem essas

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