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DOMINGO, 14 DE JUNHO DE 2020ANO 100 ┆ Nº 33.310 R$ 7,00 D E S D E 1 9 2 1 UM J O R NA L A S E RV I Ç O D O B R A S I L Mundo A12 Sonhos de pandemia Corrida B20 Clóvis Rossi estaria indignado com país, diz filha do jornalista, morto há um ano Ilustrada B11 Quem vai querer consumir arte sobre a pandemia depois que o pior passar? Medo e incerteza com a crisedonovocoronavírus assombram o sono e ge- ramimagensinquietantes. Judiciário vêTSE comoalvo deBolsonaro eMourão Vice, que assinou nota compresidente, afirma que Forças semantêmdisciplinadas Integrantes do STF (Supre- mo Tribunal Federal) e do TSE(TribunalSuperiorElei- toral)veemnoconteúdoda notadivulgadapor JairBol- sonaroeHamiltonMourão na noite de sexta (12) preo- cupação do governo como julgamentoda chapapresi- dencial na corte eleitoral. Anota, assinada também peloministrodaDefesa,ge- neralFernandoAzevedo,diz queasForçasArmadasnão cumpremordensabsurdase nãoaceitamtomadadepo- derporjulgamentopolítico. Para magistrados, seria uma nova tentativa de inti- midaçãocontraoJudiciário. Noentanto,elespercebem maisumaretóricabolsona- rista do que ameaça no do- cumento.Aavaliaçãoépar- tilhadaporlíderesdaoposi- ção no Congresso e até por ex-aliados dopresidente. Trêsgeneraisdaativadis- seramàFolhaquereprovam o tomdanota do governo. A manifestação ocorreu apósLuizFuxterescrito,em decisão,queasForçasArma- dasnão sãopodermodera- dor. Mourão disse ontem queelas “semantêmfirme- mente disciplinadas” e que seu papel tem sido tratado de forma “preconceituosa” nonoticiário. Poder A4 e A6 Extremo centrão Índios sob ameaça Sobre escalada fisiológi- cadogovernoBolsonaro. Acerca de avanço do co- ronavírus entreospovos. EDITORIAIS A2 ISSN 1414-5723 9 771414 572018 33310 AUDIÊNCIA/MÊS PÁGINAS VISTAS 340.339.921 VISITANTES ÚNICOS 54.958.699 Escritórioda Johnson&Johnsonvazioemprédionazonasul deSãoPaulo; cercade70%dos6.500 funcionáriosdaempresaestão trabalhandodecasaemrazãodaCovid-19 EduardoAnizelli/Folhapress LiliaM. Schwarcz Com racismo não há democracia Queminventouoracismo foiasociedadebranca.Ca- beanósbrancosnosasso- ciarmos à luta antirracis- ta. Falta a boa parte dos brasileiros entender que dessaformanãohádemo- cracia. IlustríssimaB18 e B19 Antropóloga e historiadora (USP) Michael Kremer ENTREVISTA Informação que pobre não entende freia a economia Ainformaçãotransmitida deformaincompreensível paraosmaispobrespode ser barreira maior ao de- senvolvimentoeconômico doqueafaltadetecnologia oudeinteressedosgover- nantes.ParaMichaelKre- mer, Nobel de Economia em 2019, a pandemia po- deservirparausomais in- tensode tecnologias sim- ples,viacelular. MercadoA18 Esporte B15 Enfrentar o Brasil em 1970 ajudou peruano a jogar no Barcelona de Cruyff Universidade quer incorporar avanço da tecnologia B8 e B9 Jared Diamond ENTREVISTA Perigo atual surge com devastação, diz cientista Autorde “Armas,Germes eAço”,obiogeógrafoJared Diamond,82, pedecaute- la na comparação da Co- vid-19compandemiasdo passado.Hoje,diz,operi- gosãopatógenosquevêm comadevastaçãoambien- tal e o tráficode animais. Paraele, é importantea compreensãodequeépre- ciso“lidarcomproblemas emescalaglobal”. SaúdeB6 Grupo de professores da USP vê paralelos com o integralismo B16 e B17 Por charges críticas, PMs interpelam Folha e quatro chargistas A8 Falta preparo das redes de ensino para a volta às aulas Quase duas em cada dez redes públicas no Brasil ainda não começaram a sepreparar para retomar as atividades (16%) nem têm estratégias para evi- tar o abandono escolar (21%),segundoestudoiné- dito. Em 61% das redes, não houve formação pa- raprofessoresdesenvolve- rematividadesadistância. Na volta às aulas, omo- delo adotado deverá ser híbrido, com ensino pre- sencial e remoto. SaúdeB1 Atrasar formação pode custarmenos que só interrupção EstudodeRicardoPaesde Barrosmostraqueainter- rupçãodasaulasnapande- miapodereduziroPIBem até23%pelaperdaderen- daqueos jovenssofrerão. Jáseaformaçãobásicafor atrasadaemumano,oim- pactoseriade5%. SaúdeB2 Escritórios vão ficarmais vazios na vida pós-Covid O escritório do mundo pós-Covid-19 vai ter pou- cas cadeiras, muito es- paço vazio, advertências contrausodeelevadorese salasdereunião,eaplica- tivosparamonitoramen- todepossíveiscontágios. Grandes empresas, co- mo Ambev e Johnson & Johnson, querem ampli- ar o home office mesmo depois da pandemia por entenderemqueosfuncio- náriossetornammaispro- dutivos. MercadoA15 e A16 E N Q U A N T O H O U V E R D E M O C R A C I A R A C I S M O N Ã O H A V E R Á INFORME PUBLICITÁRIO co mr ac ism on ao ha de mo cra cia .or g.b r Políciamata negro emAtlanta e gera novos protestos Rayshard Brooks, 27, foi baleadoporumpolicialna noitedesexta-feira(12), le- vandomanifestantesato- maremasruasdeAtlanta naesteiradeprotestospe- lamortedeGeorgeFloyd. Chefe da polícia local se demitiu ontem.MundoA14 Catarina Pignato SEMINÁRIOS FOLHA Prefeito de SP, Bruno Covas, é diagnosticado com Covid-19 B7 a eee opinião A2 DOMINGO, 14 DE JUNHO DE 2020 UM JORNAL A S ERV I ÇO DO BRAS I L a Publicado desde 1921 – Propriedade da Empresa Folha daManhã S.A. presidente Luiz Frias diretor de redação Sérgio Dávila superintendentes Antonio Manuel Teixeira Mendes e Judith Brito conselho editorial Rogério Cezar de Cerqueira Leite, Marcelo Coelho, Ana Estela de Sousa Pinto, Cláudia Collucci, Hélio Schwartsman, Mônica Bergamo, Patrícia Campos Mello, Suzana Singer, Vinicius Mota, Antonio Manuel Teixeira Mendes, Luiz Frias e Sérgio Dávila (secretário) diretoria-executiva Marcelo Benez (comercial), Marcelo Machado Gonçalves (financeiro) e Eduardo Alcaro (planejamento e novos negócios) editoriais@grupofolha.com.br EDITORIAIS Extremo centrão Índios sob ameaça A recriação doMinistério das Co- municações, com a indicação do deputadofederalFábioFaria(PSD- RN), ainda encerra mais dúvidas que certezas. Não se conhecem as reais intenções do presidente da República com o movimento, nemtampoucoqualseráoresulta- dodochoqueentreessedesidera- toeseuestilocaóticodegovernar. Por um lado, o chefe de Esta- do evitou repetir o padrão, que já deu reiteradasmostras de fracas- so, querdenomearmaisummili- tar, quer de homenagear a franja degolpistaslunáticosqueobajula. O Planalto, por outro lado, co- gita levar a turma de arruaceiros que fezmá famasobaalcunhade “gabinete do ódio” para a estru- tura do novo ministério. O presi- dente tambémcometeuatemeri- dadedecolocarnapastaumpolí- tico que tem ligação pessoal com umgrupodecomunicação,oSBT. Esses elementos, associados ao temperamento mercurial, à ma- nia de interferir emminudências eà inapetênciaparatarefasadmi- nistrativas de Jair Bolsonaro, dão azoaquemapostanumfuturode crises edesgastesparaonovomi- nistério, como aliás ocorre com quasetudonaatualgestãofederal. Avaliadonumcontextomaisam- plo, o convite ao parlamentar do PSDvincula-se à estratégiadogo- verno, iniciada há poucosmeses, deabrirasportasdamáquinafede- ral a partidos desde sempre asso- ciados aochamado toma ládá cá. Nenhumarazãodeprincípiofez ogoverno,queanunciavaumano- vaeranapolíticabrasileira,correr paraosbraçosdosempredisponí- vel centrão. Foi o pavor do impe- achment,desfechoparaoqualga- lopavaumpresidentecujaquanti- dade de barbaridades atentatóri- as aos pilares constitucionais era inversamente proporcional à sua base de apoio noCongresso. Nodesespero, Bolsonaro e seus acólitos mandaram às favas pro- messasdenãofazerbarganhasno modotradicionalcomparlamenta- resoudeevitaraproximaçãocom políticosquefrequentaramaspá- ginaspoliciaiseestãopendurados em investigações de corrupção. Tambémenterraramnoentulho doestelionatoeleitoralabandeira de restringir a 15onúmerodemi- nistérios. Comaressurgênciadas Comunicações, eles já somam 23. Aregressãoàmédia, forçada,do bolsonarismonopoder,sedefato ocorrer, não deixará de represen- tarmaisumtriunfodasinstituições republicanas. Elas têm mostra- do de formaperemptória os limi- tesdaConstituiçãoantearroubos tresloucados deumaventureiro. Masécedoparadizerquesecon- solidouumnovoeixonogovernoeque ele funcionanomínimoco- mosegurodopresidentecontraa deposição legal. Bolsonaro carre- gará consigoogermeda instabili- dade enquanto estiver no cargo. Umatragédiaempotencialsecon- figuracomoavançodonovocoro- navírusemterras indígenas,asso- ciadoàinaçãodogovernoJairBol- sonaro e à histórica precariedade de acesso à saúdedesses povos. Trata-se, em primeiro lugar, de uma batalha por números, como tem sido praxe no país durante a pandemia. Compilados no bole- timepidemiológico da Secretaria EspecialdeSaúdeIndígena,doMi- nistério da Saúde, dados oficiais apontam até sexta-feira (12) para 97mortesporCovid-19e2.749ca- sos confirmados em todoopaís. Entidades indígenasdiscordam dessequadro.Combaseemnúme- roscoletadosdiretamentedaspo- pulações,oComitêNacionaldeVi- da eMemória Indígena e as orga- nizaçõesdaArticulaçãodosPovos Indígenas do Brasil registraram, até quinta (11), 272óbitos. As estatísticas oficiais padecem deproblemasevidentescomosub- notificaçãopor faltade testes—e por não contabilizarem propria- menteindígenasforadeterrasho- mologadas,nocontextourbanoe emáreasmaisafastadas.Urgeaper- feiçoarosregistrosparaorientara conduçãodapolítica pública. Tal mapeamento, em parte, já foi feito. Estudo do Instituo So- cioambiental e da UFMG propôs em abril um modelo para calcu- lar a vulnerabilidade de povos in- dígenasaocoronavírus.Concluiu- sequecomunidadespertodocen- tro de São Paulo e as de povos ia- nomâmiemRoraimaenoAmazo- nas são asmais ameaçadas. Medidasdeautoproteçãoadota- daspelaspopulações,comobarrei- ras sanitárias, esbarramno avan- ço do garimpo ilegal e na expan- são da fronteira agrícola, impul- sionadaspelaomissãodapolítica ambientaldogovernoBolsonaro. Outroestudodo ISAedaUFMG mostraumcenárioalarmanteem especialparaosianomâmi:oentra e sai de garimpeiros em suas ter- rascolocaemriscodeinfecçãopor Covid-19 40%da comunidade, ou cerca de 5.600 indígenas. Alémdemelhores dados, faz-se necessáriofortalecerasestruturas dosDistritos Sanitários Especiais Indígenas, do Ministério da Saú- de, para atendimento específico da doença, bem como o forneci- mento de testes e equipamentos adequados para suporte respira- tório e a contratação temporária de agentes de saúde qualificados. Difícil alimentar algum otimis- mo,porém,tratando-sedeumgo- vernoque aomesmo temponega a gravidade da pandemia e con- duzumapolíticaanti-indigenista. Apavorado com o impeachment, Bolsonaro abraça o fisiologismo, mas carrega germe da instabilidade são paulo Até o final do século 17, europeus, inspiradosporversosdo poeta Juvenal,usavamaexpressão “cisne negro” para designar uma impossibilidade. Todos os cisnes até então avistados erambrancos. Não foi semassombro,portanto, que descobriram, a partir de rela- tosdeexploradores, quehavia cis- nes negros na Austrália. O termo passou, então, a designar a falá- cia lógica da generalização apres- sada e, demaneiramenos técnica, eventos surpreendentes. Mais recentemente, o escritor Nassim Taleb popularizou a no- çãodecisnenegrocomoumacon- tecimento raro, de enormes con- sequências e que não foi previs- to pelos especialistas. Exemplos de cisnes negros incluem a dis- solução da URSS, o surgimento da internet e o 11 de Setembro. ACovid-19entranessa lista?Pen- soquenão.Taleb também.Elepre- fere chamá-la de rinoceronte cin- za, já que era totalmente previ- sível. Com efeito, infectologistas afirmavam havia décadas que era umaquestãodetempoatéqueuma pandemia viral nos atingisse em cheio.Haviadúvidasemrelaçãoao “quando”,mas não quanto ao “se”. Háoutrosrinocerontescinza.Sa- bemos que um dia ummegaterre- moto vai devastar cidades da cos- ta oeste dos EUA, mas, ainda as- sim,milhões de pessoas vivemne- las tranquilamente. Sabemos que, se não usarmos antibióticos com mais sabedoria, logo teremos um gigantescoproblema combactéri- asresistentes.Sabemosqueoaque- cimento global é uma realidade. Por que não fazemos tudo o que estáanossoalcanceparaevitarde- sastresprevistos?Eureceioqueoco- nhecimentointelectual,queéoque aciênciaécapazdeoferecer,nãose- jaumgrandemotivador.Nossoscé- rebros, afinal, sãopré-científicos.É só ver que temosummedo irracio- nal de cobras, quenãomatamqua- seninguémemambientesurbanos, masnãonos incomodamosempu- laroexercícionememcomeralém da conta, que respondem por um bompedaçodos óbitosmodernos. brasília Hánovedias, JairBolsona- ro tomou umhelicóptero e percor- reuumtrajetoque levaria50minu- tos pela estrada. Desembarcou em ÁguasLindasdeGoiás,sorriueinau- gurouumhospitaldecampanhaer- guido com verba federal. “A gente torce para que pouca gente venha para cá, porque é sinal de que não precisadeatendimento”,discursou. OgovernodesembolsouR$ 10mi- lhões na unidade, mas o presiden- te decidiu sabotar o projeto. Na úl- tima semana, ele incitou seus apoi- adoresapraticarumcrimeeinvadir hospitaispelopaís“paramostrarse os leitos estão ocupados ounão, se os gastos são compatíveis ounão”. Depois de menosprezar o coro- navírus, insistirnumexótico“isola- mento vertical”, forçar a barrapara distribuir cloroquinaemaquiar es- tatísticas, Bolsonaro passou a insi- nuar que os governadores inflamo númerodemortosparadesviarodi- nheiro público gasto napandemia. Háumasériedeinvestigaçõesso- breessasdespesas,masopresidente nãoestáinteressadonelas.Aintenção é lançar novas teorias para substi- tuiraquelasqueperderamvalidade ou foramdesmentidas pelos fatos. Bolsonaromudaofocododebate paradisfarçarsuanegligência.Trata- sedeumavariaçãodaestratégiade “moveratrave”—metáforaquedes- creveaalteraçãocontínuadasregras ecritériosdeumadisputaparades- qualificaroavançodeumopositor. Opresidentepreviumenosde800 mortesnapandemia.Quandoosnú- merosdispararam, ele chegoua re- conhecer o óbvio: “Está morrendo gente? Está”. Depois, recuou e pas- sou a fazer campanhapara sufocar os dados oficiais sobre as vítimas. Naeconomia,Bolsonarotrabalhou para minar medidas de isolamen- to e alardeou um risco de desabas- tecimento que não se concretizou. Mudou a tática e alertou para uma onda de saques que não ocorreu. Naúltimaquinta(11),opresidente sugeriuqueapandemiaésóopano de fundo de uma briga pelo poder. “Talvezoscarasestejamaproveitan- do as pessoas que falecempara ter algumganhopolítico”,disse.Poisé. riode janeiro Minhabagagempara a ilhadesertaestáficando impossí- vel. Agora pedem que eu revele os livros de poetas brasileiros que le- varia para lá. Tudo bem, mas des- de que nãome cobrempor não le- var este ou aquele. As ilhas deser- tas são individuais, ou não seriam ilhas, nem desertas. E permitam- me citar só poetas que já partiram para seus parnasos particulares. Falando emParnaso, iriamOlavo Bilac, claro, e o pândego Emilio de Menezes, de quem Oswald de An- drade foi ingrato discípulo. Os sim- bolistasCruzeSouzaeAlphonsusde Guimaraens.MarioPederneiras,pi- oneirodoversolivre,com“Histórias domeuCasal” (1906).HermesFon- tes, com“Apoteoses” (1908), vide as piruetastipográficasde“ATaça”.Au- gustodosAnjos,comseu“Eu”(1912). Gilka Machado, a maior de todas, com “Cristais Partidos” (1915). Raul de Leoni, com “Luz Mediterrânea” (1922).RibeiroCouto, com“Poeme- tosdeTernuraeMelancolia” (1924). RonalddeCarvalho, com“Todaa América” (1926). Felipe d’Oliveira, com “Lanterna Verde” (1926). Ma- nuelBandeira,com“Libertinagem” (1930). Raul Bopp, com “Cobra No- rato” (1931). Murilo Mendes, com “HistóriadoBrasil” (1932). Augusto Frederico Schmidt, com “Canto da Noite” (1934). E umpoeta quenun- ca precisoupublicar: IsmaelNery. CecíliaMeirelles,com“VagaMúsi- ca” (1942). Drummond, com “A Ro- sa do Povo” (1945). Vinicius deMo- raes, com“Poemas,SonetoseBala- das”(1946).DanteMilano,com“Po- esias” (1948). Jorge de Lima, com “Invenção de Orfeu” (1952). Ferrei- ra Gullar, com “A Luta Corporal” (1954).MarioFaustino, com“OHo- memesuaHora”(1955).Alphonsus deGuimaraensFilho,com“Sonetos comDedicatória”(1956).PauloMen- desCampos,com“ODomingoAzul do Mar” (1958). Cassiano Ricardo, com“Jeremias semChorar” (1964). João Cabral de Melo Neto, com “AEducaçãopela Pedra” (1966). Não, a poesia não acaba aqui. Amala é que já nãoquer fechar.Rinocerontes cinza Movendo a trave Poesia na ilha - Hélio Schwartsman - Bruno Boghossian - Ruy Castro Existem várias formas de se implementar um programa de transferência de renda quebeneficieosmaispobres. Pode-se garantir uma renda mínimauniversalparatodasas famílias,ouparatodasascrian- ças,esimultaneamenteaumen- tar a tributação sobrea renda. Nessecaso,aclassemédiaeos mais ricos vão pagar maiores impostos,mastambémvãore- ceberoauxíliogovernamental. Outra opção é tributar me- nosegarantirarendamínima apenas para osmais pobres. Emprincípio,ambasaspro- postasdeveriamserequivalen- tes,afinaloqueinteressapara cada família é o saldo líquido entre quanto se recebedeum lado e oque se paga de outro. Oproblemaéquenosso sis- tema tributário é repleto de regras que distorcem a orga- nização do setor produtivo. Aumentos atabalhoados de impostos podem ampliar a desigualdade, comefeitos co- laterais indesejados. Um exemplo de distorção é a tributação sobre o lucro. No Brasil, confunde-se o ta- manhodaempresa comodo acionista. Fundos de pensão sãoacionistasdegrandesem- presaseo lucrofiscaldestina- doaospensionistas é tributa- do em 34%,mesmoque cada umrecebaR$ 10mil pormês. Poroutrolado,hácotistasde pequenas empresas com ren- damensalelevada,àsvezesaci- madeR$ 100mil,cujos lucros, graçasaregimesespeciais,são tributados emcerca de 10%. Omelhorseria,comoocorre namaioriadospaísesrelevan- tes, reduzira tributaçãosobre o lucrodasempresas.Arenda familiar, incluindoosdividen- dos, seria tributada progres- sivamente, descontando-se o imposto pago na empresa. Essaésóumadasmuitasdis- torções, bemmais complexas do que usualmente se supõe. Outroexemplosãoosencargos sobreafolha,comoacontribu- içãoaoSistemaSquesustenta as representações patronais. Regras mal desenhadas e obrigações feudais resultam emelevadonúmerodepeque- nasempresasedetrabalhado- ressemcarteira,prejudicando o emprego e a produtividade. Sem uma cuidadosa refor- ma tributária, aumentos do imposto sobre a renda privi- legiam quem se beneficia de regras especiais e ampliam as distorções da economia, onerando trabalhadores e empresas do setor formal. Melhorcomeçartransferindo rendasóparaosmaispobres. Há anos, existem projetos para aperfeiçoar políticas so- ciaispoucoeficazesouquenão beneficiam as famílias vulne- ráveis. A proposta inicial do Bolsa Família era ambiciosa, mas houve resistências públi- cas e seu escopo foi reduzido. Muitopodeserfeitoparame- lhoraraeficáciadapolíticaso- cial,reduzirapobrezaedeses- timularainformalidade.Osu- cesso depende de propostas detalhadasqueatentemparaa complexidadedosproblemas. Renda mínima - Marcos Lisboa Presidente do Insper, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005). Escreve aos domingos Jean Galvão Novo coronavírus tende a ter efeito devastador entre indígenas, aindamais sob inação do governo a eee opinião DOMINGO, 14 DE JUNHO DE 2020 A3 Responsabilidade Comoem2018,quandonãoseacre- ditavaqueBolsonarovenceria,hoje nãosecrêqueelepossarealizarno- vogolpemilitarnopaís(“ForçasAr- madasnãocumpremordensabsur- das nem aceitam julgamentos po- líticos”,dizBolsonaro,Poder,12/6). Então,comointerpretarasreitera- das tentativas de se falsear a reali- dade? E as tentativas de interferir naPolíciaFederal, impedir investi- gaçõessobrefakenewseintimidar Congresso eSTF?Elepode convo- carseguidoresa invadirhospitais? Já não basta de crimes de respon- sabilidade,parlamentares? Mauricio Villela (Rio de Janeiro, RJ) * Ufa, até que enfim uma notícia boa. Então vamos dar vivas à de- mocracia! Jesus Evangelista Almeida (São Paulo, SP) * Servi no Exército de 1965 a 1966, na ditadura, e presenciei expul- sões. Elas ocorriam com a corpo- ração perfilada diante do Coman- do doBatalhão, e omilitar que se- riaexpulsoàfrente.Umavozdeco- mando ordenava que fosse retira- da a fardadomilitar e vestidouni- formede civil. A seguir, a corpora- çãoficavadecostasparaoex-mili- tar como ato de repúdio. Quando Bolsonaro foi expulsodoExército, houve isso?Agora ele, classificado comomauelementoaoExército e expulso,põedejoelhososmilitares. Arnaldo Vieira da Silva (Aracaju, SE) * A nota de Bolsonaro, do vice e do ministro da Defesa, os três oriun- dosdacaserna,emproldapossibi- lidadede intervençãomilitar, não surpreende. O golpe de 1964 tem defensores, ainda hoje. Nos resta torcerpormaiormaturidadeepa- triotismo de nossos cidadãos far- dadosanãodaremguaridaaaven- tureiros cujas ambições políticas, privilégioseimpunidadequantoa malfeitoséopanodefundodaatu- al discussão. É a história queren- do se repetir como farsamesmo. Jose Hadad Neto (Rio de Janeiro, RJ) * Os militares brasileiros deveriam aprendercomosparesnorte-ame- ricanos,poisestesestãohonrando os princípios conservadores ao se afastaremdosarroubosautoritários de Trump. Osmilitares brasileiros seconsideramcomocastasuperior, quedeve tutelar a sociedadecivil. Geimison Falcão (Pacajus, CE) * Um bando de militares cheios de medalhas nopeito, semnunca te- remidoàguerra,sópodedarnisso. Selene Almeida (Belém, PA) O bispo e o vírus Seodonode“pequenasigrejasgran- des negócios” fosse fiel àquilo que prega, deveria nem ter ido aohos- pital e esperar ummilagre (“Bispo EdirMacedorecebealtaapóstrata- mento com cloroquina contra co- ronavírus, dizUniversal”, Poder). Michell A. F. deMello (Rio de Janeiro, RJ) * Só quatro dias de internação para umidosode75anoscomCovid-19? Estámaisparatretaessemilagreda cloroquina. Andrea Simone B Dias (Recife, PE) Número 2 ReinoUnidotempopulaçãode66 milhões. E o Brasil, uma de 209,5 milhões. Aindaquenão concorde comapolíticadogoverno, nas es- ferasfederaleestadual,amanche- te é sensacionalista (“Brasil pas- sa ReinoUnido e se torna o 2º pa- ís commaismortes”, Saúde, 13/6). Wagner Evaldo Chabes (São Paulo, SP) * Ostrêspaíses comomaiornúme- rodeóbitossãolideradospordois presidentes eumpremiêquedes- prezaramadoença.Foramcontra a ciência e os especialistas. Nega- cionistas. O inglês foi infectado e voltouatrás.Oamericanoteveami- goeasuacidadenatal infectadose voltouatrás.MasBolsonaroconti- nua coma tática genocida. GustavoFelícioMoraes (Rio de Janeiro, RJ) Estica e puxa Sómais um tosco falando impro- priedades,nenhumanovidadenes- se governo (“Ramosnega riscode golpemilitar,masmanda ‘não es- ticar a corda’”, Poder, 13/6). Nin- guém vai “esticar corda” da pró- priaConstituição.Faráousodevi- dodela para ver se aprendemres- peitar as regras do jogo democrá- tico. Tomemvergonha! Jaime Alves Sobrinho (Campina Grande, PB) * Oqueéesticaracorda?Eoposição? Esse general fala peloExército? Julio Moreira (Brasília, DF) * Ogeneralreconheceodesconforto de,estandonaativa,participarde atos políticos junto ao presidente e dá a entender que o americano fezocertoaopedirdesculpas.Po- rém,elepróprionãotemamesma humildadeedecênciaderepetiro gesto.Apenasse limitaadizerque vaipedirpara iràreserva.Pergun- ta: qual adjetivo cabe a cada uma das quatro estrelas doministro? Marcos Paganini Mattiuzzo (Itatiba, SP) * Na história da República, nunca houve um presidente tão respal- dadopelopovo,únicafontedepo- der,quantoBolsonaro.Temos,cus- teoquecustar,quereagiremudar oestablishment legadoporquase três décadas de esquerda. Edson Gama (Belo Horizonte, MG) * Peçademissão,general.Edesculpas àpopulaçãopeloseucomentário. Florentina Alves (São Paulo, SP) * Elegemoscivileficamestesmilita- resfalandoabobrinhas,porfaltado que fazer emseus quartéis. Haja! Sérgio Siqueira (Divinópolis, MG) Weintraub Não podemos perder a capacida- dede se indignar comcomentári- ospreconceituosos,proferidospor qualquerpessoa,emqualquermo- mento, ainda que seja por chaco- ta.Provocaasco,aindamaisquan- dodisparadoporumministrosem noção,quenashorasvagasproces- sa o pai (“Weintraub fez chacota da China. Um neto de chinês não gostouefoiaoSTF”,Mundo, 13/6). Ernane Barbosa dos Santos (Campo Grande, MS) * Louvável atitude que deveria ser copiadaportodos.Chegadeomis- são! Sempre tivemos orgulho do nossosincretismoemiscigenação. Cintia Mesquita (Sorocaba, SP) * Como pode um homem que tem ascendênciajudaicaproferirpala- vras racistas e xenófobas? Ele es- queceu que seu povo foi um dos maisperseguidosao longodossé- culos. É vergonhoso. José Valter Cipolla Aristides (Colombo, PR) Racismo Ao exigir retirada de estátuas de genocidaseracistas,nãoestamos apagando a história, e sim dei- xando de celebrar pessoas e fei- tos abomináveis. Job Fonsêca (João Pessoa, PB) PAINELDO LEITOR folha.com/paineldoleitor leitor@grupofolha.com.br Cartas para al. Barão de Limeira, 425, São Paulo, CEP 01202-900. A Folha se reserva o direito de publicar trechos das mensagens. Informe seu nome completo e endereço A luta contra a Covid-19 tem de- mandado uma compatibilidade entredisposições transitóriaseex- cepcionaiserestriçãoou limitação dosdireitos tomadanocontextoda aplicaçãodoestadodeemergência. Nãorestadúvidadequeascircuns- tânciasatuaisafetaminevitavelmen- te a saúde e o exercício da liberda- de individual,demovimentoeresi- dência, de expatriação, de reunião eassociação,de livrepensamentoe expressão e de iniciativa econômi- ca. Isso coloca em confronto qua- setodososvaloresconstitucionais. Apretextodeproteçãoàsaúdepú- blicaeanecessidadedereduçãoda “curvade contágio”, as limitações a direitos fundamentais geram séri- as dúvidas constitucionais demol- dequeumaaplicaçãoagressivadas restriçõesdeliberdadescommeca- nismosdevigilânciaostensivosnão pode estar desassociada do estrito universo da proteção à higidez pú- blicacomoumtodo,comdistinção eproporcionalidade aos valores. De tal modo, desmedidas ações, ao largo da realidade social, criam umasituaçãohumanitáriacalamito- sa,desnecessariamentecalamitosa. Assim, políticos, jornalistas, ativis- tas,magistradosdevemseacautelar aousaremo“estadodeemergência” comopropósitoúnicodedarênfase teóricaaseusprópriosdiscursos,aca- bandopordesorientaroscidadãos. Emverdade,despreparamparao realestadodenecessidadequeexige respostasrápidas,adequadasecoor- denadas,comexecuçãodepolíticas públicasefetivasnadireçãodetodos afetados pela crise, semexceção! Asituaçãodeemergência,queim- plicasuspensãodegarantias jurídi- co-constitucionais destinadas a tu- telarosdireitoshumanosporexce- lência, prevista está emmomentos deguerraouturbaçãopolítico-soci- al, enãopodedesprotegeraordem democrática e institucional. As medidas devem ter o aval do CongressoNacional,nomeadamente comadecretaçãodosinstrumentos legaisnecessáriosporquantooesta- dode“guerra”quejustifiqueacentu- adaslimitaçõesdedireitossomente possuivalidadenaproporcionalida- de, ponderação e no uso dos pode- res necessários para quenão se co- loqueemriscoaprópria subsistên- ciadasociedadeedeseusmembros. Ocritériogeralparaavaliar a ido- neidadedas intervenções instituci- onais emsituaçõesdeemergência legitima-se a partir do equilíbrio dos valores fundamentais. Nenhuma instituição pode se achar no exercício do poder so- berano, vendo-se a si mesma aci- madaConstituição. Somente sen- do leal à lei e estando a serviço de seu povo, com o consentimento deste, o exercício coercitivo do Estado justifica-se como ferra- mentaúnicadegestãodosdireitos políticos, civis e econômicos. Tal exercício longe está de colo- car em risco a democracia e deve estabelecer a confiançadapopula- ção nestamediante umequilíbrio jurídico-institucional. A restrição de direitos e a expan- sãodedeveresencontraseupressu- postonoEstadodemocráticodeDi- reitoejamaisnaautocomplacência. Com a escalada da crise política, o general Mourão tem multiplicado suas manifestações públicas. Sua leituras,bemcomoatranscriçãoda reunião ministerial de 22 de abril, deixamtransparecer aposiçãodos generais palacianos. Eles se empe- nhamnadefesadogovernoporque acreditam que, diante da anarquia dosúltimosanos,oBrasilprecisaria de um “freio de arrumação”, mate- rializadoemumexperimento“con- servador”.Moroeraocandidatoide- al,masquisodestinoquefosseBol- sonaro.Osmilitarespassaramopri- meiroanosubalternosdentrodaco- alizãogovernamental, faceaoprota- gonismodosreacionáriosedosne- oliberais. Em fevereiro, porém, di- ante da realidade do fracasso, Bol- sonaro entregoua coordenaçãodo governo aos generais, tidos como peritosempolíticaeadministração. DesdeanomeaçãodeBragaNetto paraaCasaCivil,osmilitaresacredi- tam, portanto, ter tomado o poder —esesentemresponsáveisporele.É essacrençaquelevaMourãoaapre- sentar o governo como ideologica- mente de “centro-direita”, minimi- zandoogolpismodaalareacionária. Os generais reconhecem que Bol- sonaro não passa de um demago- go incapaz, mas precisam dele pa- ra o “freio de arrumação”. Ele seria um “Lula da direita”, e BragaNetto seria Palocci. Então, quando o ge- neral Mourão diz “deixa o cara go- vernar”, ele está, na realidade, afir- mando:“Deixaagentetentar”.Ées- se“peixe”daracionalidadepolítico- administrativaqueosgeneraisven- demaos líderesdoCongressoeaos ministrosdoSTF,quandoseencon- tramaportasfechadas.Ogolpismo não passaria de “retórica inflama- da”paramanterabasemobilizada. Afinal, Lula também nãomandava chamar o “exército do Stédile”? A esta altura, já podemos inferir por que os militares relutam em abandonar Bolsonaro. Ficam con- trafeitos com o fato de que uma tempestade imprevista—apande- mia— tenha aumentado a chance de umnaufrágio, justo quando es- tavamno comando do navio. Pen- samque o carismado capitão lhes permite tocar a administração, semausuraque aocupaçãodireta daPresidência trariaàcorporação militarcomoumtodo.Crendoque Mourão teriamenos condições de conteras “forçasanárquicas”daso- ciedade, ainda veem o “Lula da di- reita” comoamelhorgarantiacon- traoLulaverdadeiro.Elesnãodes- cartam, claro, a opção representa- da pelo vice, mas a guardam para o caso de a situação de Bolsonaro se tornar insustentável. Nem por isso admitem “desordem” das ru- as ou pressão de juízes “ativistas”. Infelizmente,nossosgeneraissu- bestimamBolsonaro.Achamqueo exploramparaseuprojeto,quando é ele que os explora para o seu. Es- quecemque, para o presidente, to- dosos colaboradores sãodescartá- veis. Ao contrário de Lula, ummo- derado que se fazia de radical, Bol- sonaro é um radical incapaz de ser moderado. Assim que a tempes- tade passar, vai se livrar de Braga Netto, como já se livrou de Santos Cruz, Mandetta e Moro. Mais gra- ve, os generais não percebem que, na utopia regressiva de Bolsonaro, não há lugar para o Exército brasi- leiro. O presidente sonha com um Brasil de “povo armado”, domina- do por novos “bandeirantes” que exploramaterrademodopredató- rio, lideradosporumaoligarquiade empresários inescrupulosos. Nele, nãohá espaço para umEstado que assegure o interesse público, nem para o Exército que detenha omo- nopóliodoexercícioda força legíti- ma. Como na Venezuela, as Forças Armadas serão braços dasmilícias bolsonaristas.Maisdoquedesarru- mação,seráumfreiodedestruição. Convido nossos militares a re- fletirem se, sustentandoBolsona- ro hoje, não estariam dando asas à cobra que os engolirá amanhã. Os generais em seu labirinto Autocomplacência e Covid-19 TENDÊNCIAS/DEBATES folha.com/tendencias debates@grupofolha.com.br Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros emundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo - Christian Edward Cyril Lynch Professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp-Uerj) - Fausto De Sanctis Desembargador federal do TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região) e escritor Claudia Liz Limitações a direitos geram dúvidas constitucionais Infelizmente, militares subestimam Jair Bolsonaro Temasmais comentados na semana no site 468 279 233 De 6 a 12.jun Total de comentários: 12.374 Comentários Moro equipara PT e Bolsonaro e acena pela primeira vez a movimentos contrários ao presidente (Poder) 7.jun Ministério da Saúde deixa de informar total de mortes e casos de Covid-19 (Equilíbrio e Saúde) 6.jun Bolsonaro acusa eleitora de falar ‘abobrinha’ e pede que ela se retire do Alvorada (Poder) 10.jun a eee poder A4 DOMINGO,14 DE JUNHO DE 2020 Jornal filiado ao IVC Circulação paga aos domingos de abr.2020, impresso mais digitais (IVC) 350.245 exemplares Páginas vistas no site da Folha emmai.2020 (Google Analytics) 340.339.921 Visitantes únicos no site da Folha emmai.2020 (Google Analytics) 54.958.699 Bolsonaro precisa ser responsabilizado criminalmente. Precisa pagar caro por incentivar comportamento grotesco. Basta DeHeni Ozi Cukier (Novo-SP), deputado estadual, sobre invasão e vandalização de hospital no Rio umdia após incentivo do presidente TIROTEIO comMariana Carneiro, Guilherme Seto e Bruno Abbud AoperaçãodaPolíciaFederalqueatingiuAlbertoBel- tramenoParádividiuogrupodoConass,conselhopre- sididoporeleecompostoportodosossecretárioses- taduaisdeSaúde.Deumladoestãoaquelesqueveem usopolíticodaPFparaintimidarcríticosdopresidente JairBolsonaro.Elespropuseramquetodosentregassem seuscargosouquetodossolicitassemauditoriasdostri- bunaisdecontas.Foramvotovencido.Nemparadivul- garnotahouveconsenso.Recuaramnestesábado(13). Racha modo avião O debate tem acontecidonoWhatsApp.Bel- trameestánogrupo,masde- cidiu não se posicionar para não advogar em causa pró- pria. Os secretários que não aceitaram colocar os cargos àdisposiçãoeviamatéanota com cautela têmoptado por falarpouco.Algunsdelesnem atendemmaisseustelefones. mais fracos Entre os mais enraivecidos com a ação da PF há a avaliação de que o presidente conseguiu o efei- toesperado:atingiuacoesão doConasseminousuaforça. defrente Nasúltimassema- nas,ogrupotevepapelimpor- tantenapressãoparaqueoMi- nistériodaSaúderecuasseda decisão de restringir a divul- gação de dados do Covid-19. segura AoperaçãodaPFno Pará chegou a sermarcada e cancelada.Envolvidosnope- dido dizem que omotivo foi o suposto envolvimento de Erick Vidigal, que era asses- sordaProcuradoria-Geralda República.Elefoialvodebus- ca e apreensão. tabelinha O primeiro pedi- do demedidas foi ao Superi- or Tribunal de Justiça no dia 22 demaio,mesma data que oinvestigadoanunciouquese desligariadesuasfunções.Se tivesse permanecido, a PGR poderia entrar nos endere- çosdebuscas.Nomesmomo- mento, ele tambémrenunci- ou ao cargo na Comissão de ÉticaPúblicadaPresidência. resenha Antesdecomeçara sessão virtual do STF do jul- gamentoda açãoquequesti- onaalegalidadedoinquérito de fake news, na quarta (10), oministro Luís Roberto Bar- roso fezumaponderaçãoso- bre o papel de Alexandre de Moraes.DissequeoSupremo teria que voltar a discutir no futuro se omagistrado pode julgar as ações do caso. registro Naconversa,ainda comcâmerasdesligadas,Bar- rosolembrouqueocolegaes- tá participandodiretamente da produção de provas nes- temomentonainvestigação. sinal verde Ministros do TCU e do STF consultados pelo Painel dizem não ver conflitode interessesno fato de Fábio Faria (PSD-RN) ter dedecidir sobredistribuição deverbasparaemissoras,en- tre elas o SBT. Ele é genro do apresentador e empresário Silvio Santos. segueo jogo Para osmagis- trados, como o novo minis- tro das Comunicações não é sóciodocanal eécasadosob regimedeseparação totalde bens, nãoháproblema. deixa disso A Procuradoria do Distrito Federal arquivou nosúltimosdiasumadenún- cia anônima, acompanhada de pedido de investigação, contra o presidente do PTB, Roberto Jefferson. indecoroso O procurador Frederico Paiva afirmou no despachoqueasdeclarações doex-deputadosãodesprezí- veis,masnãoconfiguramcri- me. “A manifestação ora em análise, embora lamentável, desprezível e grosseira, não constitui, sequer em tese, ilí- cito penal”, escreveu. no escuro Quase dois anos semcontato comAdélio Bis- po, um sobrinho do homem que atacou Bolsonaro com uma faca foi autorizado pela direçãodaPenitenciáriaFede- raldeCampoGrandeaescre- ver um email de nomáximo três linhas para o tio. semsinal Oatendentedepiz- zariaJeffersonOliveira,quevi- veemCampinas,reclama,po- rém,queaindanãoconseguiu se comunicar como familiar porfaltadeapoiodoadvoga- doZanoneJúnioredaDefen- soria Pública, que atualmen- te defendeAdélio. troca Odiretor-executivoda PolíciaFederal,CarlosHenri- queOliveira,nomeounasex- ta (12) SimoneGuerra para o cargo de Coordenador-Geral deCooperaçãoInternacional. A delegada estava na Abin e é da confiança de Alexandre Ramagem, que teve a nome- açãoparadiretor-geral daPF suspensa pelo STF. Camila Mattoso painel@grupofolha.com.brPAINEL MG, PR, RJ, SP R$ 5 (seg. a sáb.) R$ 7 (domingo) Redação São Paulo Al. Barão de Limeira, 425 | Campos Elíseos | 01202-900 | (11) 3224-3222 Atendimento ao assinante (11) 3224-3090 | 0800-775-8080 Ombudsman ombudsman@grupofolha.com.br | 0800-015-9000 Assine a Folha assine.folha.com.br | 0800-015-8000 Venda avulsa ES, GO, MT, MS, RS R$ 6 R$ 8,50 DF, SC R$ 5,50 R$ 8 AL, BA, PE, SE, TO R$ 9,25 R$ 11 Outros estados R$ 10 R$ 11,50 Assinatura semestral à vista com entrega domiciliar diária Carga tributária 3,65% MG, PR, RJ, SP R$ 685 ES, GO, MT, MS, RS R$ 1.089 DF, SC R$ 858 AL, BA, PE, SE, TO R$ 1.177 Outros estados R$ 1.460 GRUPO FOLHA -Julia Chaib, Renato Onofre e Ricardo Della Coletta brasília Integrantes do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) veemno conteúdo danotadivulgadaporJairBol- sonaro na noite de sexta-fei- ra(12)preocupaçãodogover- nocomjulgamentodachapa presidencialnacorteeleitoral. Nanota,Bolsonarodizque Forças Armadas não cum- premordens absurdas e não aceitamtomadadepoderpor julgamentopolítico. Magistradosafirmam,reser- vadamente, tratar-sedemais umatentativadeintimidação contraoJudiciário.Noentan- to, não veem ameaça no do- cumento, avalizadopormili- tares e pelo vice-presidente HamiltonMourão.Acreditam serpartedaretóricaconstru- ídaporBolsonaro,masqueo governoseguecumprindoas decisões do Judiciário. Acorteeleitoralanalisaum processoquepodelevaràcas- saçãodachapaeleitaem2018. AaçãofoiabertaapósaFo- lharevelar,duranteosegundo turnodaseleições,quecorreli- gionáriosdeBolsonarodispa- raram,emmassa,centenasde milhõesdemensagens,práti- ca vedadapelo TSE. O esquema foi financiado por empresários sem a devi- daprestaçãode contas à Jus- tiçaEleitoral,oquepodecon- figurar crimede caixa dois. Na avaliação na cúpula do Judiciário,anotadesextanão leva a crise a outro patamar. Segueaapostadopresidente numa estratégia de disparar ameaçasparademonstrarfor- çajuntoaseussimpatizantes. Na própria noite de sexta, após oministro Luiz Fux, do Supremo,terpublicadodeci- sãoressaltandoqueasForças Armadas não são podermo- deradordaRepública,Bolso- naro divulgou comunicado também assinado por Mou- rão e pelo ministro da Defe- sa,FernandoAzevedo—am- bos generais da reserva. “AsFFAA[ForçasArmadas do Brasil] não cumprem or- dens absurdas, como por exemplo a tomada de po- der. Também não aceitam tentativasde tomadadepo- der por outro Poder da Re- pública, ao arrepio das leis, ou por conta de julgamen- tos políticos”, afirma. A menção a “julgamentos políticos” é uma referência velada tanto ao STF quanto ao TSE. O fato de o vice-pre- sidente ter assinado a nota, avaliam, também é um sinal de que há preocupação com a cassaçãona corte eleitoral. Tambémnasexta, ominis- troOgFernandes,doTSE,pe- diuparaoministroAlexandre deMoraesinformarseaspro- vascolhidasnoinquéritodas fakenews,quecorrenoSupre- mo,têmrelaçãocomasações quepedema cassação. Apesar do tomde ameaça, ministros do STF lembram que Bolsonaro já adotou re- tórica semelhante contra a corte e o Congresso em ou- tras ocasiões, numa estraté- gia de energizar seu núcleo mais fiel de apoiadores. No entanto, o tom belico- so usado emoutras ocasiões por Bolsonaro não levou ao Planaltoasimplesmentedes- cumpriralgumadecisãojudi- cial,oquelevariaacriseentre ospoderesaumnível inédito. Quando o ministro Abra- hamWeintraub foi chamado adepornoinquéritodasfake news, integrantes do gover- no chegaramadefender que ele não comparecesse à oiti- va.Eleacabou indo,masper- maneceu emsilêncio. Magistrados também ava- liamqueo fatodeoministro daDefesaterassinadoanota serviucomorecadoaosquar- téis da ativa. A nota diz que as Forças não cumprirão or- dens para interferir em ou- trosPoderes. Os recados dúbios de Bol- sonaroestavamlevandopre- ocupaçãoafardadosdaativa. A avaliação dos ministros do STF é partilhada por líde- res da oposição no Congres- so e por ex-aliados de Bolso- naro.Elesargumentamqueo comunicado tem forte com- ponente de ameaça e de in- timidação e afirmam que o mais preocupante é ominis- tro da Defesa ter endossado odocumento. “Uma nota sem sentido de ser divulgada, porque ela se prestoumais à intimidação”, disse o líder do PSLno Sena- do,MajorOlimpio(SP),ex-ali- adodeBolsonaroquesecon- verteu emdesafeto. O senador criticou o apoio deAzevedoedissequeemna- da se assemelha à atitude do generalMarkA.Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto dosEUA,quepediudesculpas Judiciário vê reaçãode Bolsonaro como temor de julgamentonoTSE Para integrantes dos tribunais, nota em que presidente diz que Forças Armadas não cumprem ordens absurdas seria tentativa de intimidação por ter participado da cami- nhada do presidenteDonald Trumpemmeioamanifesta- çõesantirracistasnopaís.Ao sedesculpar,omilitar ressal- touocaráterneutroedistante dapolíticapartidáriadasFor- ças Armadas dosEUA. “Osmilitaresbrasileirosde- veriamseespelharnosmilita- resamericanosquedesauto- rizaramas loucurasdopresi- dente Trump”, afirmou o de- putadoPauloTeixeira(PT-SP). “O art. 142 da Constituição éde redaçãominhaedo sen. Richa. Qualquer dos 3 pode- respoderequererasFFAAna defesa da Constituição e da ordem.Nada a ver com tute- la,moderaçãoouintervenção militar”,disseoex-presidente FernandoHenriqueCardoso (PSDB) noTwitter. Fardados não dão declarações políticas, afirmaMourão -Leandro Colon brasília Ovice-presidenteda República,HamiltonMourão, disse neste sábado (13) à Fo- lhaqueasForçasArmadas“se mantêmfirmementediscipli- nadas”equeseupapeltemsi- dotratadodeforma“precon- ceituosa” nonoticiário. “Não existemmilitares far- dadosdandodeclaraçõespo- líticas e participando dema- nifestações,ousejaasForças Armadas se mantêm firme- mente disciplinadas“, disse. Mourão respondeu por es- crito a um questionamento sobreoconteúdodenotaofi- cialassinadaporele,porBol- sonaroepeloministrodaDe- fesa,FernandoAzevedo.AFo- lhaperguntouquemensagem eles queriam passar ao citar “julgamentos políticos”. “Nasúltimas semanaso te- ma papel das Forças Arma- das surgiu no noticiário, tra- tadode formaaté certopon- to preconceituosa e com os olhospostosemumpassado quenãovoltamais.AsForças Armadasestãoquietas,cum- prindo sua missão constitu- cional enesteexatomomen- totemosgentedefendendoa integridadedoterritórioedo patrimônionacionalnasfron- teiras isoladasenaOperação VerdeBrasil 2”, disse o vice. “ Lembro àNação Brasileira que as Forças Armadas estão sob a autoridade supremado Presidente da República, de acordo como Art. 142/CF. Asmesmas destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes cons- titucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. As FFAAdo Brasil não cumprem ordens absur- das, comop. ex. a tomada de Poder. Também não aceitam tentativas de tomada de Poder por outro Poder da República, ao arrepio das Leis, ou por conta de julgamentos políticos. Na liminar de hoje, o Sr.Min. Luiz Fux, do STF, bem reconhe- ce o papel e a história das FFAA sempre ao lado da Democracia e da Liberdade. Jair Bolsonaro, Hamilton Mourão e Fernando Azevedo em nota oficial divulgada na noite da última sexta-feira (12) AVENIDA PAULISTA TEMATO CONTRA PRESIDENTE DA REPÚBLICA Omovimento Grupo de Ação, que se classifica como independente e apartidário, reuniu cerca de cempessoas emperformance com retratos demortos pela ditadura, pela PolíciaMilitar e pela Covid-19 Bruno Santos/Folhapress a eee DOMINGO, 14 DE JUNHO DE 2020 A5 ENQUANTO HOUVER DEMOCRACIA RACISMO NÃO HAVERÁ INFORME PUBLICITÁRIO PORQUE A PRÁTICA É O CRITÉRIO DA VERDADE. Nós, população negra organizada,mulheres negras, pessoas faveladas, periféricas, LGBTQIA+, que professam religiões dematriz africana, quilombolas, pretos e pretas com distintas confissões de fé, povos do campo, das águas e da floresta, trabalhadores explorados, informais e desempregados, emCoalizão Negra por Direitos, vimos a público exigir a erradicação do racismo como prática genocida contra a população negra. O Brasil é um país em dívida com a população negra – dívidas históricas e atuais. Portanto, qualquer projeto ou articulação por democracia no país exige o firme e real compromisso de enfrentamento ao racismo. Convocamos os setores democráticos da sociedade brasileira, as instituições e pessoas que hoje demonstram comoção com asmazelas do racismo e se afirmam antirracistas: sejam coerentes. Pratiquem o que discursam. Unam-se a nós nestemanifesto,às nossas iniciativas históricas e permanentes de resistências e às propostas que defendemos como formade construir a democracia, organizada em nosso programa. Essa convocação é aindamais urgente emmeio à pandemia do Covid-19, quando sabemos que a população negra é o segmento quemais adoece emorre, que amplia as filas de desempregados e que sente na pele o desmantelamentodas políticas públicas sociais. Emmeio à pandemia de Covid-19, o debate racial não podemais ser ignorado. Nestemomento, em que diferentes setores se unem em defesa da democracia, contra o fascismo e o autoritarismo e pelo fim do governo Bolsonaro, é de suma importância considerar o racismo como assunto central. “Estamos vindo a público para denunciar as péssimas condições de vida da comunidade negra.” Este trecho, retirado domanifesto de fundação doMovimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, de julho de 1978, é a prova de que jamais fomos ouvidos e de que sempre estivemos por nossa própria conta. Essa é uma luta que não começa aqui, mas que sematerializou no pensamento e na ação de homens emulheres que, em todos osmomentos históricos em que a brutalidade foi imposta ao povo negro, levantaram suas vozes e disseram: NÃO! Não há democracia, cidadania e justiça social sem compromisso público de reconhecimento domovimento negro como sujeito político que congrega a defesa da cidadania negra no país. Não há democracia sem enfrentar o racismo, a violência policial e o sistema judiciário que encarcera desproporcionalmente a população negra. Não há cidadania sem garantir redistribuição de renda, trabalho, saúde, terra, moradia, educação, cultura, mobilidade, lazer e participação da população negra em espaços decisórios de poder. Não há democracia sem garantias constitucionais de titulação dos territórios quilombolas, sem respeito aomodo de vida das comunidades tradicionais. Não há democracia com contaminação e degradação dos recursos naturais necessários para a reprodução física e cultural. Não há democracia sem o respeito à liberdade religiosa. Não há justiça social sem que as necessidades e os interesses de 55,7% da população brasileira sejam plenamente atendidas. O racismo deve ser rechaçado em todo omundo. O brutal assassinato de George Floyd demonstra isso, com as revoltas, manifestações e insurreições nas ruas e exigência de justiça racial. No Brasil, nos solidarizamos com essa luta e com esses protestos e reivindicamos justiça para todos os nossos jovens e para a população negra. E, entre muitos que não podemos esquecer, João Pedro presente! Em nosso passado, formamos quilombos, forjamos revoltas, lutamos por liberdade, construímos a cultura e a história deste país. Hoje, lutamos por uma verdadeira democracia, exercício de poder damaioria, e conclamamos aqueles e aquelas que se indignam com as injustiças de nosso país. 132 assinaturas, uma para cada ano desde a abolição inconclusa. 1.ADJúnior; 2.AiltonKrenak;3.AnaBiatrizSantosdeSouza;4.AnaFláviaMagalhãesPinto;5.AnaPaulaXongani; 6.ÂngelaGuimarães;7.AnielleFranco;8.AntônioCarlosdeAlmeidaCastro (Kakay); 9.Antônio Carlos dos Santos (Vovô do Ilê); 10. Antonio Pitanga; 11. Assucena Assucena; 12. Astrid Fontenelle; 13. Áurea Carolina; 14. Babalaô Ivanir dos Santos; 15. Babalorixá Adailton Moreira Costa; 16. Benedita da Silva; 17. Bianca Santana; 18. Biko Rodrigues; 19. Caetano Veloso; 20. CamilaPitanga; 21. Celso Loducca; 22. Christian Dunker; 23. Cida Bento; 24. Conceição Evaristo; 25. Dandara Rudsan Sousa de Oliveira; 26. Danny Glover; 27. Darlah Farias; 28. Deborah Duprat; 29. Djamila Ribeiro; 30. Dom Erwin Kräutler; 31. Dorrit Harazim; 32. Douglas Belchior ; 33. Dudu Ribeiro ; 34. Edi Rock; 35. Edson Cardoso; 36.Eduardo Viveiros de Castro; 37. Eliana Sousa Silva; 38. Eliane Brum; 39. Eliane Cruz; 40. Eliete Paraguassu; 41. Emicida; 42. Erica Malunguinho; 43. Eugênio Bucci; 44. Felipe Neto; 45. Felipe Santa Cruz; 46. Fernanda Torres; 47. Fernando Haddad; 48. Fernando Meirelles; 49. Flávio Gomes; 50. Frei David Santos Ofm; 51. GOG - Genival Oliveira Gonçalves; 52. Grada Kilomba; 53. Gregório Duvivier; 54. Guilherme Boulos; 55. Hédio Silva Jr.; 56. Helena Theodoro; 57. Hélio Santos; 58. Hilton Cobra; 59. Iêda Leal; 60. IyalorixáMãeMeninazinha de Oxum; 61. Jeferson De; 62. JoannaMaranhão; 63. João Pedro Stédile; 64. João Reis; 65. Joel Zito de Araújo; 66. Juarez Ribeiro; 67. Juarez Tadeu de Paula Xavier; 68. Juca Kfouri; 69. Kabengele Munanga; 70. Kenarik Boujikian; 71. Kenia Maria; 72. Laerte Coutinho; 73. Lais Bodanzky; 74. Lázaro Ramos; 75. Leila Regina Lopes; 76. Leonardo dos Anjos; 77. Lia Vainer Schucman; 78. Ligia Margarida Gomes; 79. Lília Moritz Schwarcz; 80. Lívia Casseres; 81. Lúcia Xavier; 82. Luiz Eduardo Soares; 83. Luiza Pereira Batista; 84. Mãe Nilce de Iansã; 85. Marcelino Freire; 86. Maria Santiago de Lima; 87. Martinho da Vila; 88. Maurício Paixão; 89. Mel Duarte; 90. Mia Couto; 91. Milton Barbosa; 92. Milton Hatoum; 93. MônicaOliveira;94.MonjaCoen;95.MunizSodré;96.NecaSetubal; 97.NiceaQuintinoAmauro;98.OdedGrajew;99.OrlandoSilva;100.OscarVilhena;101.PastorAriovaldoRamos;102.PastorHenriqueVieira; 103. PauloPaim; 104. Rafael Zulu; 105. Railda Alves; 106. Raquel Rolnik; 107. Raull Santiago; 108. ReginaAdami ; 109. RenataMartins; 110. Roger Cipó; 111. Rosilene Torquato; 112. SchumaSchumaher; 113. SelmaDealdina; 114.SérgioVaz; 115.SilvioAlmeida; 116.SôniaGuajajara; 117.Sueli Carneiro; 118. TaísAraújo; 119. TalíriaPetrone; 120. TeresaCristina; 121. ValterHugoMãe;122. VandaMenezes ; 123.Vilma Reis; 124. Wagner Moura; 125. Walter Casagrande Júnior; 126. Walter Salles; 127. Wania Sant'anna; 128. Zélia Amador de Deus; 129. Zélia Duncan; 130. Zezé Menezes ; 131. Zezé Motta; 132. Zezito Araújo Emuitomais pessoas já se juntaram a essa luta. Confira todas as assinaturas na nossa plataforma: comracismonaohademocracia.org.br. Assuma o compromisso antirracista. Assine nossoManifesto! U M A I N I C I A T I V A D E : a eee poder A6 DOMINGO, 14 DE JUNHO DE 2020 ENTREVISTA -Felipe Bächtold são paulo Membros das For- çasArmadasnalinhadefrente dogovernoJairBolsonaroer- ram ao tentar levar para car- gos políticos a lógica da hie- rarquiamilitar,segundoopro- fessor daUnB (Universidade deBrasília)AlcidesCostaVaz. Oacadêmicodirige aAsso- ciação Brasileira de Estudos deDefesa,umadasprincipais entidadesnopaísdedebates sobre omeiomilitar. Vazconsideraacrescentemi- litarizaçãodepostosdogover- nocomoumaanomaliaenão vêcomoomantrade“missão dada é missão cumprida”, de lealdade à cadeia de coman- do,podeseremuladoadequa- damenteemcargospolíticos. Sobre a interpretação de queaConstituiçãoabrebre- cha para uma intervenção demilitaressobreoutrosPo- deres—hipótese rechaçada em decisão do ministro do Supremo Luiz Fux na sexta- feira (12)—, o professor diz que seria importante tam- bém o Ministério da Defesa condená-la. O titulardapasta, Fernan- do Azevedo, coassinou no- ta com Bolsonaro, também na sexta, afirmando que as Forças Armadas “não cum- premordensabsurdas”nem aceitamtentativasde toma- da de poder decorrentes de “julgamentos políticos”. * Atéondeiráoapoiodosmili- taresaogovernoJairBolsona- ro? Comoinstituição,asFor- çasArmadasnãosãogoverno. São instrumentos de Esta- do. Têm integrantes hoje, principalmente da reserva, como membros do gover- no. Do ponto de vista insti- tucional, achoqueodescon- forto é crescente, pelas po- sições queopresidente tem assumido, pelo apoio tácito amovimentos que não con- dizem com o ordenamento constitucional pós-1985. Vinícius Loures - 21.nov.2018/Divulgação Câmara dos Deputados AlcidesCostaVaz Éumerrotransportar a lógicamilitarparao comandodeministérios Professor da UnB à frente de entidade que pesquisa defesa diz que militarização no governo Bolsonaro é anomalia e lembra Venezuela Alcides Costa Vaz, 59 É professor de relações internacionais da Universidade de Brasília e tem doutorado em sociologia pela USP. Dirige desde 2016 a Associação Brasileira de Estudos da Defesa quase sempre exemplar. Talvez a Comissão da Ver- dade[criadaporDilmaRous- seff em 2012para apurar cri- mes da ditadura] tenha sido um ponto que feriu susceti- bilidades, sobretudodagera- çãoqueviveuaqueleperíodo. Talvez tenha reanimado ressentimentos. E isso foi um componente importan- te para a tomada de posição daqueles que acompanham a visão do atual presidente. Como o sr. vê a militariza- çãodogoverno, simbolizada sobretudopeloMinistérioda Saúde[dirigidointerinamen- tepelogeneraldaativaEdu- ardo Pazuello]? É um nú- meroque achoquenão tem precedentes, nem mesmo no regimemilitar. A eventu- al participação demilitares daativa eprincipalmenteda reserva emórgãos governa- mentais, exercendofunções, emumcontextodenormali- dadedemocráticanão seria em si mesma uma questão. Mas o que nós temos hoje, diante desses números, dá margemparasefalarnamili- tarizaçãodaestruturagover- namental. E isso, sim, é uma anomalia. Nãohádúvida. Principalmenteporserum país que temquadros técni- cos competentes civis. Não há uma justificativa plausí- vel para dizer: “Os milita- res são mais bem qualifica- dos tecnicamentedoqueos civis”. É uma inverdade. Há quadros tão qualifica- dos,tãohonestos,tãocapazes tambémnomeio civil. Isso temrelaçãocomofator da lealdade comqueoofici- al militar age com amissão que é dada? O ministro in- terino da Saúde, por exem- plo,decidiuomitirdadosde mortes e casos da Covid-19. A função deministro de Es- tado é eminentemente po- lítica. É diferente domilitar dentrodeumacadeiade co- mando, de exercíciode fun- ções e cumprindo ordens. Quandoumministro,noca- sosendomilitar,sevêconfron- tadonassuasconvicçõescom a visão do presidente, o me- lhorquefazépedirochapéu. A funçãodecoronel,dege- neraloucapitãonãoépolíti- ca.Háumacadeiadecoman- do, uma hierarquia. Os militares dizem: “Mis- sãodadaémissãocumprida”. É impróprio levar essames- ma concepção para o exer- cício de funções políticas. Éequívocotransportarum critério,umvalordeumacul- tura político-institucional própria dos militares, onde isso tem reconhecidamente a sua importância, e se com- portar da mesma forma à frentedefunçõesdegoverno. OministroPazuello está fa- zendo isso? Não entraria na nuance se está ou não. No momento em que ele se sentissedesconfortável, co- moministrodeEstado, sem encontrar espaço para suas visões, deve sair. Qual o saldo que fica para as Forças Armadas com a aproximação com o gover- no? Hoje esse saldo vai se traduzirmuitomais emuma contaminação na imagem das Forças Armadas pelo governodoqueo contrário. Cadavezmaisagentevêas Forças Armadas sob o pris- ma da incerteza. Estão atu- andodeumaformaconsentâ- neacomatrajetóriahistórica desde1985ouestãovoltando a alimentar sededepoder? Esse relacionamento deu ensejo a essa incerteza. O sr. vê paralelo entre a rela- çãodo chavismocomasFor- ças Armadas na Venezuela e aaproximaçãodeBolsonaro comosmilitares? HugoChá- vez nos seus primeiros anos promoveu uma militariza- ção enormena estrutura go- vernamental. Foi uma coop- tação em larguíssima escala. Eu percebo que há um fe- nômeno semelhante nes- se sentido da procura, por parte do presidente, desse apoio, desse respaldo, desse afiançamento[nosmilitares]. Issoaindadistamuitodoque aconteceu na Venezuela. Mas a procura desse afian- çamentoéumfenômenoaná- logo.NaVenezuelaeramuito maior,masdemesmanature- za.NocasodeChávez,elebus- courespaldodosmilitaresco- moumaformadeproteçãoa simesmoe a seu regime.Há vantagens para os mili- tares nessa associação com o governo? Eles foram um poucodeixadosdeladonare- formadaPrevidênciaeestão em uma estrutura de poder. Há um prejuízo muito gran- de às ForçasArmadas emre- laçãoaprojetosestratégicos. Hoje, a principal questão em torno das Forças Arma- daséapolítica.Ograndepre- juízoéa subtraçãodessadis- cussão em um contexto em que omundo se torna forte- mente inseguro, com inteli- gência artificial, tecnologias disruptivas.Hátodoumcon- juntodedesenvolvimentosno campobélico,militar,quesão extremamentepreocupantes. Nesteano,porumdispositi- volegal,oMinistériodaDefe- sadevesubmeteraoCongres- soasatualizaçõesdenossaes- tratégia nacional de defesa. Vocêouviualgoaesserespei- to?Éumexemplomuito cla- ro, o silêncio do ministério e doCongresso [a respeito]. É um sintoma gritante da subtraçãodessadiscussão.Es- tamospensandoasForçasAr- madasporseupapelpolítico. Umsegundodanoénocam- popolítico.Tínhamosumati- vo importante,acredibilida- de das Forças Armadas. Isso estádefinitivamentecompro- metido? Certamente, não. Mas está em risco, quanto maior essa politização das questõesmilitares. Existeumadivisãoemrelação acomoreagemosoficiaisda reserva e os da ativa? Acho muito difícil fazer essa avali- ação.Porumaquestãodeofí- cio, osmilitares da ativa têm a expressão política vedada. Militares da reserva se mos- trammuitomaispropensosà defesadogovernoBolsonaro. É sabido que as Forças Ar- madas, do ponto de vista do pensamento, das opções e preferênciasdeseusintegran- tes,nãosãohomogêneas.São umaextensãodasociedadee certamenterefletemumaplu- ralidadedevisão,de leituras, de avaliações a respeito. A tese da intervençãomilitar pormeiodoartigo142daCons- tituição[quefalaqueasForças têmafunçãodegarantiraleie aordem]podeteradesãoma- ciça? Amanifestaçãodomi- nistroFuxretiraessaquestão daordemdeimportânciaque elaganhounaargumentação. Issoagora,defato,refluimuito fortemente.Eunãodiria que sejaumelementoque tenda a instigar ou fomentar pro- pensãopró-intervençãomili- tarno seiodasForçasArma- das. Pode atuar como fator de legitimaçãopara aqueles [militares] que já estão im- buídos desse espírito. Aindanessaconjuntura,oMi- nistério da Defesa divulgou notas reafirmando seu com- promissoconstitucional,mas semcondenarpedidosdein- tervenção.Comovê? Atôni- cadoministrodaDefesaede liderançasmilitaresquandose manifestamsobreessasques- tões ajuda a perpetuar essa incerteza, essa insegurança. Poderiamserbemmaisas- sertivosnessamatéria, sepo- sicionardeumaformaclarae inequívocacomoinstrumen- tos de Estado contra qual- quer forma de intervenção que contrarie oordenamen- to constitucional e o Estado democrático deDireito. Seriaumargumentoimpor- tante demoderação junto ao próprio presidente. Para ele compreender que tem inte- grantes das Forças Armadas nasuaequipedegoverno,mas queelastêmmuitoclaroqualé oseulugarequaléoseupapel. Asmanifestações sãomuito comedidas. O ministro da Defesa não entraria em rota de colisão com o presidente? Enten- do que há um dilema. Dian- te de um quadro de todas as incertezas políticas, [um posicionamento] seria um elemento capaz de reconfi- gurar o panorama político, um gesto de grandeza. Seria uma forma de dar ao presidente um parâmetro claro a suas ações. Porque is- sohojeéumobjetodeincerte- zamuitograndenanossaso- ciedade.Voltamosaconviver comoespectrodeumainter- vençãomilitareissovem,mui- tasvezes,trazidocomaspala- vrasoupelasatitudesexplíci- tas ou tácitas dopresidente. Seria um “papel modera- dor” muito interessante das Forças Armadas, moderar nestemomentoopresidente. Éumasituaçãoopostaàque opaís vivia após aditadura, de comandantes militares muito discretos, de convi- vência comministrosdaDe- fesadeposiçõesdivergentes. A convivência dosmilitares com os governos do PT foi -Igor Gielow são paulo A nota em que o presidente Jair Bolsonaro, o vice Hamilton Mourão e o ministro Fernando Azevedo (Defesa)dizemqueasForças Armadasnãocumprirão “or- densabsurdas”foireprovada porsetoresdacúpulamilitar e pelo seu alvo, os ministros doSupremoTribunalFederal. Otextofoielaboradonanoi- tedesexta (13), apósominis- troLuizFuxconcederumade- cisãoprovisóriadelimitando a interpretaçãodoartigo 142 daConstituição,queregulao empregodosmilitares. Anotadesextadiztambém queasForçasnãotolerariam “julgamentospolíticos”, uma referência nem tão velada à ação de cassação da chapa Bolsonaro-MourãonoTribu- nal Superior Eleitoral. AFolhaconversoucomofi- ciais-generaisdaativadostrês ramos armados. Enquanto muitos consideramqueo Ju- diciário tem exagerado em suasdecisões, e todos ressal- temqueossignatáriosdano- tasãoseussuperioreshierár- quicos, o tom foi reprovado. Não que haja aprovação às colocaçõesdeFux,considera- das igualmente hiperbólicas nasconversasentrefardados. Mas, para um almirante, a nota coloca as Forças Arma- das como um poder mode- radoracimada lei, oquenão temamparo constitucional. EmgruposdeWhatsAppde oficiais,acríticamaiscomum era a de que as Forças foram colocadas como uma exten- sãodobolsonarismo. Jáhaviairritaçãopelaentre- vista queogeneral LuizEdu- ardo Ramos (Secretaria de Governo) havia concedido à revistaVeja, naqual ele falou em tom ameaçador contra a oposiçãoaomesmotempoem que se apresentava como re- presentante das Forças. Ramos, já no centro de in- satisfaçõesquandofoicogita- doporBolsonaroparasubsti- tuirocomandanteEdsonPu- jol,aomesmotempocedeua pressõesedecidiupassaràre- serva—irá deixar o interino da Saúde, Eduardo Pazuello, comoúltimogeneraldaativa noprimeiro escalão. Comefeito,Mourãotentou modularanota,dizendoque nãohá indisciplina na ativa. Hárelatosdivergentesacer- cadeumaconsultadoPlanal- to aos comandantes de For- ças sobre o tom da nota. Se- gundo a assessoria do gene- ral Azevedo, os chefes mili- tares não participam dema- nifestações políticas. JáentreministrosdoSupre- mo, o tom variou de desâni- mo a irritação. O desaponta- mento veio do fato de que o Planalto ensaiava a normali- zaçãonarelaçãocomacorte, que está em processo de vo- tação que deverá manter vi- vo o inquérito das fake news —queatingeobolsonarismo. A principal sinalização foi dadaacercadoministroAbra- hamWeintraub (Educação), que na reunião ministerial de 22 de abril disse que que- ria ver os integrantes do Su- premo,aquemchamoudeva- gabundos, na cadeia. Nasúltimassemanas,emis- sáriosfizeramchegaraminis- tros da corte que o Planalto estariadispostoa rifarWein- traubcomopuniçãopelafala. Emvezdisso,oministroen- volveu-seemnovapolêmica, com a rejeitadamedida pro- visóriaqueprevianomeação de reitores de universidades federais nesta semana. Aesseempoderamentoso- mou-seanotadesexta.Alimi- nardeFuxhavia sidoalvode contestação interna por par- te de alguns ministros, que viramnelaumcerto truísmo ao reafirmar o que já está na Constituição e pela vacuida- de do objeto: é uma decisão retórica, na prática. Mashásimbolismosinesca- páveis, e aí entraa contrarie- dade geral. Fux será o próxi- mopresidenteda corte, a to- mar posse emsetembro. Assim,oataquediretoaFux setornou,porextensão,mais umaafrontaàcorteporparte deBolsonaro,quejáparticipa deatospedindoofechamen- to doórgãomáximodo Judi- ciário e doCongresso. A assinatura conjunta com Mourãofoivistacomoumre- cibodeambospelofatodese- remobjetodaaçãonoTSE.Já a presençadeAzevedo refor- çouumsentimentoque vem seconsolidandonaclassepo- lítica:Bolsonarotemusadoas Forças Armadas como escu- dopor extrema fragilidade. Assim, a banalização das ameaças, que assustammui- tos devido ao passado inter- vencionista das Forças, tem sido vista pelo decrescente valor de face. Preocupamais o Supremo a eventual perda de controle nas ruas sob ins- piraçãodopresidente. Chocou a sugestão do pre- sidenteparaquehospitaisse- jam invadidos para provar a hipótese de que governado- res estão inflando politica- mentenúmerosdaCovid-19. E o eventual apoio de polici- aismilitaresàagendadeBol- sonaro. As consultas que começa- ramnanoitedesextaprosse- guemneste sábado nomun- do político, dado que Bolso- naro conseguiu elevar ainda mais o patamar de suas pro-vocações institucionais,mas pororaoclimaémaisdeob- servaçãodecenáriodoquede reações exacerbadas. Nota é reprovada pormilitares da ativa eministros do STF a eee poder DOMINGO, 14 DE JUNHO DE 2020 A7 OMBUDSMAN folha.com/ombudsmanombudsman@grupofolha.com.br Ombudsman temmandato de um ano, com possibilidade de renovação, para criticar o jornal,ouvir os leitores e comentar, aos domingos, o noticiário damídia. Tel.: 0800-015-9000; fax:(11) 3224-3895 No início de junho, o senador americano pelo estado do Ar- kansas, Tom Cotton, assinou um artigo na página de opi- niãodo jornal americanoThe NewYorkTimes pedindoa in- tervençãodasForçasArmadas para conter os protestos con- tra a morte de George Floyd, homemnegroassassinadopor um policial branco. O artigo recebeu quase 2.400 comentários,muitos de- les negativos. Alémdisso, par- te da Redação reagiu formal- mente, comuma carta ao jor- nal assinada por cerca demil funcionários, segundocontou o colunista de mídia do New York Times, Ben Smith. O texto não foi excluído da plataforma digital, mas ga- nhou uma nota explicativa. A crise interna culminou na saída do editor de opinião do periódico, James Bennet. Em editorial publicado na quinta-feira (11), aFolhadeci- diusepronunciarsobreocaso. Ressaltou que o artigo do senador se “encaixava perfei- tamente nos cânones do li- vre debate” e que, dados os seusdefeitos, o textoacabaria por oferecermuniçãoparaos adversários. Disse aindaque, ante os protestos e seus des- dobramentos, o New York Ti- mes prestava um “desserviço à liberdade de expressão”. Não acredito que o caso se esgotenospontosdestacados pelo editorial da Folha. De fato, a defesa da liber- dade de expressão é incon- testável, e um jornal que bus- ca ser plural e relevante pre- cisa dar voz a diferentes po- sições—sobretudo àquelas com as quais não concorda. Alémdisso, o senador repu- blicano não só ocupa um car- go de imensa representativi- dade (e, portanto, suas ideias, teoricamente, têm relevância paraumjornal e seus leitores) como tambémé livreparade- fender o que lhe vier à cabeça —aindaquesejamandarmili- tarespartirparacimadopovo. No entanto, é preciso levar outros aspectos em conside- ração para entender melhor o desfecho do ocorrido. Da parte dos profissionais do New York Times, eles ale- garam que pedir tropas nas ruas colocaria em risco o trabalho jornalístico, sobre- tudo de profissionais negros. Vale lembrar do repórter da CNN preso ao vivo pela polí- cia sem justificativaplausível. Já o publisher do jornal, A. G. Sulzberger, disse que não poderia continuar com Ben- net à frente da seção de opi- nião por ter havido falhas no processo de edição. Bennet admitiu à Redação do jornal que não leu o texto que publicou. Independente- mente do teor do artigo, co- mo é possível publicar algo que não foi lido? A ideia de que as Forças Ar- madas são instituição do Es- tado e não de governo parece ser levadaasériopelosameri- canos, a ponto de a principal autoridade militar do país, o generalMarkMilley, ter vindo apúblicopedir desculpaspor ter passado essa impressão. Portanto, o conteúdo do texto contraria uma ideia cara à democracia america- na. O senador, porém, pode- ria ter ido além e sugerido bombardear os manifestan- tes. O editor não saberia, pois não leu o artigo, abdicando da sua própria função. Outroponto importantenes- saequaçãoéqueadefesada li- berdadedeexpressão,que,ob- viamente, deveprevalecer, en- cobre uma falsa ideia de que as páginas dos jornais aco- lhemtudo—equeosprocessos jornalísticos são infalíveis. Sabemos que isso não é ver- dade. Quem consegue ter acesso às páginas de opinião de um jornal de grande circulação? O episódiomostra que não houve umadiscussão sobre a relevância do texto do sena- dor, mas algo mais próximo a uma carteirada de um po- lítico importante, que pare- ce ter usado um dos jornais mais influentes domundo co- mo se fosse uma de suas con- tas nas redes sociais. No editorial emque a Folha critica o New York Times, mais alguns pontos chama- ram a atenção. A Folha diz que talvez exis- taumfatorgeracionalnomo- vimento da Redação do jor- nalamericano,pois “amaioria dosprofissionaishoje ematu- ação se formou num período emque a liberdade de expres- são jamais esteve ameaçada”. Não é bem assim. Segundo Ben Smith, o colunista de mí- diado jornal,as redaçõesame- ricanas vêm contratando re- pórteres negros ao longo dos anos sobacondição tácitade não falarem sobre racismo. O editorial da Folha afir- ma que “momentos de emo- ções à flor da pele não raro descambam para atos obs- curantistas”. Podem resultar em avanços também. É possível começar refletin- do sobre quem são as pesso- as que frequentam commais assiduidade os espaços no- bres dos jornais. Se o crité- rio usado para isso for diver- sidade, é preciso dizer que ainda estamos mal. Porfim,aFolhadiz ser “tris- te que jornalistas, emparticu- lar, não compreendamovalor de publicar ideias que con- trariem frontalmente as su- as próprias”. Está aí algo do qual não é possível discordar. - Flavia Lima A defesa da liberdade de expressão e a falsa ideia de que jornais acolhem tudo Erro doNewYork Times? Carvall Ateliê de produção de conteúdo para estratégia de marcas e mercado publicitário em todas as plataformas | Neste momento em que estamos ficando mais em casa, passamos a prestar mais atenção no lixo que geramos. Essa produção de resíduos sempre existiu, mas a convivência nunca foi tão próxima” Claudia Leite, gerente de Valor Compartilhado e Comunicação Corporativa da Nespresso Brasil Lixo é o que não serve. Resíduo volta para a cadeia e a gente reúsa. Alumínio, papelão, plástico, vidro, isso tudo é super valorizado. Reciclar é uma ação econômica” Flávia Lemes, Fundadora da Casa Causa e Embaixadora do Instituto Lixo Zero Brasil Live debate impacto nos hábitos de consumo, aumento da produção de lixo em casa e responsabilidade de empresas e de consumidores Isolamento aumenta preocupação com sustentabilidade A pandemia de Covid-19 teve impacto nos há- bitos de consumo da população. Sustentabilidade, meio ambiente e responsabi- lidade social ganharam ainda mais importância neste perío- do de distanciamento. As pes- soas passaram a gerarmais lixo emcasaeaprestarmaisatenção nele porque a convivência nun- cafoi tãopróxima.Duaspergun- tassetornarammais frequentes: comoserumconsumidorcons- cienteemtemposdepandemiae qual o papel das empresas nes- se cenário? “A gente começou a olhar muito mais para esse lixo que estava sendo gerado dentro da nossa casa. Nosso olhar sem- pre foi de quevocê coloca o lixo para fora e ele desaparece.Mas não é assim. É um ciclo, e nos- sa responsabilidade é enorme em pensar nele até o fim”, diz Claudia Leite, gerente de Va- lor Compartilhado e Comuni- cação Corporativa da Nespresso Brasil, que participou de uma li- ve que debateu o assunto. Essa convivência mais próxi- ma com o lixo produzido em casa pode fazer com que as pessoas se tornem mais conscientes de que precisamdarumdestinoadequa- do a ele. “Imagine se a gente não tivessecoletaseletivaounenhuma coleta e precisasse conviver com tudo aquilo que a gente consome. Muitoscomeçaramaperceberque poderiamfazerumacoisadiferen- te e iniciaram a coleta seletiva. O reciclar é uma das operações que a gente tem de fazer. Muita gente agora está se questionando sobre comomudar, oqueparardecom- prar, como fazer isso, quais mar- cas escolher na hora da compra. Tem um processo muito impor- tante de mudança do consumi- dor”, diz Flávia Lemes, fundadora da Casa Causa e embaixadora do Instituto Lixo Zero Brasil. As empresas tambémtêmum papel importanteneste processo. A Nespresso, por exemplo, tem todo um trabalho voltado para a cadeia produtiva, que vai desde a preocupação com o trabalhador do campo até a fabricação de su- as cápsulas e a coleta de resídu- os. Como parte desse trabalho, a empresa desenvolveu uma car- tilha voltada aos produtores de café com orientações básicas de como se preparar para este mo- mento de pandemia. Esse mate- rial também foi usado em divul-gaçãono rádio. “Mapeamosquais eram as principais cidades onde se cultiva café no Brasil. Porque não era só para falar com quem trabalhava comaNespresso,mas também com as famílias, com as pessoas que estão naquelas cida- des”, diz Claudia. Emseumodelo denegócios, a Nespresso faladiretamente como consumidor. Toda a base de con- sumidores foi orientada a guar- dar as cápsulas utilizadas. “Esse material não é lixo.O alumínio da cápsula é 100% reciclável. E, em maio, anunciamos que as nossas cápsulas passam a ser feitas com 80% de alumínio reciclado. Até o final de 2021 será alumínio reci- clado em 100% da linha domés- tica”, afirma a executiva. “Lixo é o que não serve, resí- duo volta para a cadeia e a gente reusa. Alumínio, papelão, plásti- co, vidro, isso tudo é super valo- rizado. Reciclar é uma ação eco- nômica”, conclui Flávia. Veja (folha.com/no1988754) a íntegra da live produzida pelo Estúdio Folha e patrocinada pe- la Nespresso. 80% do alumínio usado na confecção das cápsulas de café da Nespresso vêm de reciclagem 74% das ruas de São Paulo são atendidas pelo caminhão de coleta seletiva, e esse serviço não parou pois é considerado essencial APRESENTA a eee poder A8 DOMINGO, 14 DE JUNHO DE 2020 -FernandaMena são paulo A Folha e os car- tunistas Laerte, JoãoMonta- naro, Alberto Benett e Clau- dio Mor estão sendo inter- pelados na Justiça pela pu- blicaçãodecincochargescrí- ticas à violência policial no Brasil emdezembrode 2019. Seis meses depois, a Asso- ciação de Oficiais Militares do Estado de São Paulo em Defesa da PolíciaMilitar, De- fenda PM, entrou na Justiça compedidodeesclarecimen- tocriminalparaqueoGrupo Folha e os artistas explicas- sem as charges, considera- daspelaentidadecomo“cons- trangedoras” a ela e a seus cerca de 2.000 associados. Fundada em 2016, a asso- ciação é reconhecida entre seus pares por abrigar uma ala mais conservadora e ra- dical da Polícia Militar, hoje associada aobolsonarismo. Seu presidente, o coronel Elias Miler da Silva, é asses- sorparlamentardosenador Major Olímpio (PSL-SP). O pedido de esclarecimen- to criminal é uma espécie de prelúdio de uma ação penal e, como tal, é indissociável decontornosintimidatórios. “Considerei a interpela- ção impertinente, autoritá- ria e despida de lógica”, afir- ma o advogado Luís Fran- cisco de Carvalho Filho, que representa o jornal. “A intenção de quem faz isso é intimidar a imprensa.” Entre as perguntas colo- cadas na peça da Defenda PM estão dúvidas sobre os desenhos se referirem a al- gumepisódio específico, so- bre a existência de intenção de desqualificar profissio- nalmente integrantes das forças policiais e sobre ha- ver algum tipo de arrepen- dimento por parte de seus autores sobre as obras. Paraochargista JoãoMon- tanaro, 24, as questões “pa- recem fruto de uma falta de interpretação visual”. E, pa- ra além disso, são “sintoma de toda essa atmosfera que estamos vivendo”. “Nuncativedelidarcomal- go deste tipo. Achei que po- deria ser algo sério. Mas de- pois me pareceu algo extre- mamente esdrúxulo”, avalia ele,cujacharge,àépoca,pro- vocou reações de entidades depoliciais emredessociais. “Explicarchargeéumacoi- sa deprimente”, desabafa o cartunista Alberto Benett, 46. “Se estamos contando umahistóriapormeiodeum desenho, explicá-lo é matar a ideia e sua interpretação.” Benett compara a situação da interpelação a sua pró- pria charge interpelada, que retrata uma senhora horro- rizada com um desenho pu- blicadonumjornalquecobre um corpo estirado no chão, potencialmentealvodaação depoliciais. “É comoseode- senho fosse mais chocante queo fato que ele retrata.” Por charges críticas, entidadedePMs interpela aFolha equatro cartunistas Cartuns foram publicados em 2019 após ação policial que deixou novemortos em Paraisópolis As cinco charges questio- nadas pela Defenda PM fo- ram elaboradas no rescal- do da ação da PM de São Paulo em um baile funk na favela de Paraisópolis que provocou a morte de nove jovens no dia 1º de dezem- bro do ano passado. Duas delas fazem referên- ciaacenasdaquelamadruga- daregistradasemvídeosque viralizaramaoexporematru- culência de alguns policiais. “O chargista reage a uma ação. A gente não inventa notícias, mas se baseia ne- las e expressa críticas. En- tão, eu vejo esse caso como uma tentativa de censura”, diz ClaudioMor, 40. AviolênciapolicialnoBrasil éumfenômenosistêmicoque extrapola qualquer episódio específico.Emcincoanos, as mortes decorrentes de inter- venções policiais cresceram 181%, e levantamentos apon- taramquemaisde70%dessas vítimas sãopessoas negras. Em 2018, os estados doRio de Janeiro e de São Paulo ti- nham as mais altas propor- ções de mortes provocadas porpoliciaisemcomparação com o total de homicídios: 23%e 20%respectivamente. Em2020,mesmodianteda quedadosíndicesdecrimina- lidadeduranteapandemiado coronavírus,a letalidadepro- vocada por policiais milita- res e civis de São Paulo cres- ceu 31% entre janeiro e abril em comparação com omes- moperíodode2019, segundo levantamentodoFórumBra- sileirode SegurançaPública. “Os exemplos de excessos policiais no Brasil são mui- to numerosos, evidentes e têm se intensificado. A lin- guagemdohumor temode- verde ir emcimadisso”, ava- lia a cartunistaLaerte. “Apo- lícia brasileira é conhecida mundialmente pela trucu- lência epela letalidade. Por- tantonenhumadessas char- ges têmcomomotivaçãobir- ras ou implicâncias. São lin- guagens humorísticas, mas necessariamenteagressivas, amplamente calçadas em fatos, fotos e exemplos.” Para ela, o gesto do pedi- do de esclarecimento “está sintonizado comomomen- todecrescimentodeumasi- tuaçãoautoritárianoBrasil”. Laerte cita a exclusão de indicadoresdeviolênciapo- licial praticadanoBrasil em 2019dorelatórioanualdogo- verno federal sobredireitos humanos. “Se instalou um clima de desinformação e censura que émuito sério.” Benett enxerga o caso co- mo “prelúdio de uma perse- guição mais acirrada contra aimprensaeojornalismocrí- tico—algoqueépartedacul- turadestegoverno[federal]”. “Nãoénormalqueumpre- sidentepeçaparaaspessoas cancelarem assinaturas de um jornal ou que empresas deixem de anunciar em su- as páginas. Assim como ele pede para pessoas invadi- rem hospitais, daqui a pou- co as pessoas podem achar quedeveminvadirRedações.” A Defenda PM foi questi- onada pela reportagem da Folhasobreasmotivaçõespa- raopedidodeesclarecimen- tocriminalseismesesdepois dapublicaçãodascharges,so- breopotencial intimidatório damedida,comprometendo a liberdadede imprensa ede expressão,esobreocompor- tamentoideológicodaentida- de.Aassociaçãonãoquisres- ponderaosquestionamentos. Ainda que tenha afirmado, emnota,que“nãoseenvolve, institucionalmente,emques- tõespartidáriasoudecaráter eleitoral”,seupresidente,oco- ronelMilerdaSilva, chegoua gravar vídeos pedindo votos paraMajorOlímpioeJairBol- sonaroduranteaseleições. Amesma nota afirma que aentidade “nãoapoia, emite juízo de opinião ou crítica aos poderes constituídos, aos representantes eleitos”, a página principal de seu si- te estampa em letras garra- fais: “Governador JoãoDoria. Despreparado para SP. Des- preparado para o Brasil”. Charge da cartunista Laerte publicada na edição de 3 de dezembro de 2019 da Folha, três dias após ação policial durante umbaile funk na favela de Paraisópolis, em São Paulo, resultar emnovemortes Laerte Charge do cartunista ClaudioMor publicada na edição de 6 de dezembro de 2019 da Folha abordou o abuso policial na esteira ação da PolíciaMilitar paulista emParaisópolis Claudio Mor Em charge publicada na edição de 12 de dezembro de 2019 da Folha, o cartunista Benett ironiza a repercussão dos cartuns frente à violência policial registrada emParaisópolis dias antes Benett O cartunista JoãoMontanaro, em charge publicada na edição de 9 de dezembro de 2019 da Folha, faz alusão ao racismo; amaioria dos nove jovensmortos na ação policial emParaisópolis era negra João Montanaro “ Considerei a interpelação impertinente, autoritária e despida de lógica. A intenção de quem faz isso é intimidar a imprensa Luís
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