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A igreja do velho testamento

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A Igreja do Velho Testamento — Paulo Brasil
Copyright © 2014 | Os Puritanos
Transcrição e adaptação das palestras do Pr. Paulo Brasil proferidas por ocasião do
Simpósio Os Puritanos em 2006 em Maragogi, Alagoas.
É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação sem a autorização por escrito do
editor, excetuando-se citações em resenhas desde que citada a fonte.
Primeira edição em português: Setembro de 2014
Editor e revisor: Manoel Canuto
Designer: Heraldo Almeida
www.os-puritanos.com
http://www.os-puritanos.com/
SUMÁRIO
Capa
Créditos
SUMÁRIO
#PARTE 1 — ISRAEL É CHAMADO DE IGREJA
ANACRONISMO E PERTINÊNCIA
O TEMA
A FÉ EM HEBREUS 11:1-3 E 8
A FÉ EM HEBREUS 11:17-19
REVELAÇÃO OBJETIVA E SUBJETIVA
IMPLICAÇÕES
#PARTE 2 — A IGREJA DESDE MOISÉS ATÉ O EXÍLIO
ORGANIZAÇÃO DA IGREJA NA ÉPOCA DE MOISÉS
PRINCÍPIO DA REPRESENTAÇÃO
A IGREJA DO EXÍLIO ATÉ O SENHOR JESUS CRISTO
ORGANIZAÇÃO DA SINAGOGA
#PARTE 3 — O TEMPLO E A IGREJA
ENTENDENDO A ESTRUTURA REVELACIONAL
O TEMPLO EM AGEU 2:9
O TEMPLO EM ESDRAS 3:10-12
O TEMPLO EM DANIEL 9: 24-27
O TEMPLO NO NOVO TESTAMENTO
A RELAÇÃO DO NT COM O VT
APLICAÇÕES
Vídeo
Nossos livros
Mídias
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1ª PARTE
ISRAEL É CHAMADO DE
IGREJA
G
ANACRONISMO E PERTINÊNCIA
ostaria de dar início ao tema "A Igreja no Velho Testamento",
observando preliminarmente duas questões importantes: anacronismo e
pertinência.
1) Anacronismo
O tema é muito importante tendo em vista as circunstâncias que
envolvem a Igreja hoje. Mas, para muitos, pensar nele seria pensar num
anacronismo. Ou seja, usar um termo fora da sua época. Muitos dizem que
Igreja é algo apenas do Novo Testamento. Sendo assim, como poderíamos
falar de Igreja no Velho Testamento? Bem, no meio reformado isso não seria
problema, mas no meio não reformado esse é um problema muito sério, tendo
em vista o entendimento errado que muitos têm ao fazer uma separação entre
a Igreja e a nação de Israel. Estes têm dificuldades em encontrar o conceito
de Igreja no Velho Testamento. Essa separação que se faz entre Israel e Igreja
é algo extremamente prejudicial para a visão e unidade da Escritura Sagrada
como um todo.
No entanto, o tema é pertinente e não anacrônico; ao contrário, é uma
expressão fundamental da teologia reformada e a expressão de sua verdade.
Por ser uma teologia pactual, ela não faz distinção entre Velho e Novo
Testamento no que diz respeito aos conceitos essenciais e não aos símbolos e
às cerimônias. Estes foram cumpridos e abolidos em Cristo e não são
praticados hoje. Os conceitos essenciais da Igreja são vistos no Antigo
Testamento e esperamos nos referir a eles.
2) Pertinência
Não é um anacronismo, mas algo que enfrentamos hoje. Como nós
lidamos com o Antigo Testamento na Igreja? Temos encontrado um grande
problema com a pregação veterotestamentária em nossas igrejas. A pregação
no Velho Testamento, além de ser escassa por convicções equivocadas, ela é
moralista na sua essência; não é redentiva, não é regeneradora, mas
simplesmente uma exposição moral. Toma-se um texto do VT para se falar
sobre a condenação de determinados pecados e como devemos viver com
base em um padrão. Hoje não se vê na pregação no Velho Testamento a
essência da natureza de Cristo e a obra de unidade que existe entre o Antigo e
o Novo Testamento. Por isso, além de ser um tema dos nossos dias — e não
estarmos usando nada fora do seu contexto, — estamos tratando de um tema
extremamente pertinente.
Certamente os irmãos que têm um entendimento de Israel distinto de
Igreja, rejeitam rapidamente este assunto. Vamos observar o que a Palavra de
Deus tem a dizer acerca deste assunto para que desfrutemos destas
maravilhosas verdades redentivas reveladas de forma clara e essencial no
Antigo Testamento.
E
O TEMA
m que lugar na Escritura podemos afirmar que o povo do Antigo
Testamento é chamado de Igreja? É interessante ver como os irmãos que
têm dificuldade com este tema partem de uma hermenêutica literalista e por
isso equivocada. Se não tem a palavra “igreja” com referência à Israel, então
Israel não é igreja, dizem eles. Se não tem a palavra “Israel” para igreja,
então igreja não é o Israel de Deus. Estes irmãos dizem que há necessidade de
se ter uma expressão literal para a tese ser confirmada. Mas temos de ver a
teologia como um todo. Vendo este princípio teológico pelo prisma da
unidade da revelação, podemos abrir as Escrituras em um texto como Atos 7:
38 – “É este Moisés quem esteve na congregação no deserto, com o anjo que
lhe falava no monte Sinai e com os nossos pais; o qual recebeu palavras
vivas para no-las transmitir”. A palavra utilizada no texto – congregação –
literalmente é a palavra grega usada para “Igreja” (eclesia). Lucas está
dizendo aqui no texto o seguinte: “É este Moisés quem esteve na ‘igreja’ no
deserto”. É exatamente o que Lucas está dizendo. O princípio é de que a
igreja envolve o povo que se congregava no Antigo Testamento. Sabemos, à
luz do Novo Testamento, que a igreja é formada pelos eleitos de Deus, os
escolhidos do Senhor antes da fundação do mundo e esse povo eleito por
Deus é regenerado, justificado, santificado e vive uma vida corporativa
característica de um povo tirado de rumos distintos para um caminho comum.
O Novo Testamento nos dá a visão muito clara de que os que pertencem à
igreja do Senhor são aqueles que foram salvos, regenerados, santificados,
convertidos. Se isso, então, é a essência da igreja, que pessoas foram
chamadas por Deus da escravidão do pecado para a liberdade em Cristo, da
morte para a vida para fazer a vontade de Deus, temos que entender que no
Antigo Testamento estas coisas também aconteciam. Será que apenas a
expressão, apenas o entendimento veterotestamentário da vocação de
algumas pessoas e da visão de nação como povo de Deus, seria suficiente
para excluir a ideia de que esta nação não era a nação que, escolhida por
Deus, fosse regenerada, convertida, justificada, santificada para andar nos
caminhos de Deus? Será que é uma visão correta afirmar que pelo fato de se
ter uma nação específica no VT (Israel) temos uma igreja distinta no Novo
Testamento onde povos de todas as raças estão envolvidos no número dos
eleitos? Caminhemos para o seguinte entendimento:
1) Temos de encontrar no Velho Testamento e na revelação geral das
Escrituras a verdade estabelecida de que o povo do VT cria nas mesmas
coisas que nós cremos hoje, no mesmo Deus e nas mesmas verdades que
cremos.
2) Temos de encontrar no Velho Testamento, em toda sua revelação, que
este povo, além de tudo, não só cria como nós, mas também era um povo
que esperava as mesmas promessas que nós esperamos.
Se não unirmos isso, se não aceitarmos e compreendermos isso, teremos
dificuldades de crer que Israel é a Igreja e que a Igreja é Israel. À luz deste
princípio partimos desta direção entendendo a fé e a esperança como algo
comum ao Velho Testamento e ao Novo Testamento.
Antes de continuarmos, devemos dar uma explicação. Vamos citar alguns
textos do Novo Testamento e muitos poderão pensar: O irmão vai falar de
Igreja no Velho Testamento e, para isso, cita textos do Novo Testamento?
Mas o melhor intérprete da Bíblia é ela mesma. Quem melhor interpreta o
Antigo Testamento é a própria Bíblia. Se nos dirigimos ao NT para entender
a interpretação do VT é porque partimos do princípio de que a verdadeira
interpretação do Antigo Testamento está no Novo Testamento. Vejamos a
seguir o conceito de fé em Hebreus 11:1-3 e 8.
T
A FÉ EM HEBREUS
11:1-3 E 8
“Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que
se não veem. Pois, pela fé, os antigos obtiveram bom testemunho. Pela fé,
entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira
que o visível veio a existir das coisas que não aparecem” (vv. 1-3).
emos aqui um conceito neotestamentário de fé. No v. 1 temos um
paralelismo sinonímico. Paralelismo é uma característica da língua
hebraica. Lembramos, porém, que os autores do Novo Testamento eram
judeus na sua maioria e suaestrutura de escrita era obviamente judaica.
Mesmo escrevendo em grego, o pensamento era judaico tanto quanto sua
estrutura de escrita. Por isso temos este paralelismo que é uma forma de dizer
a mesma verdade de maneira diferente. O que é fé? “Fé é a certeza de coisas
que se esperam”. O que mais é fé? “A convicção de fatos que se não veem”.
O que é sinônimo aqui? Aqui “certeza” é sinônimo de “convicção”; “coisas
que se esperam” é sinônimo de “fatos que se não veem”. A fé está firmada
não em dúvidas, mas em certezas, porém não naquilo que se vê.
Impressionante! Até porque a própria raiz da palavra “FÉ”, na língua
hebraica, se origina de uma palavra que na sua base, na sua múltipla
utilização como palavra de uma língua, traz a ideia de verdade, firmeza,
como uma árvore que bem plantada não se abala. Em hebraico a palavra
“āman” de onde provém a palavra “ĕmûnâ” que é “fé” ou “fidelidade” e que
vem da mesma raiz, tem um sentido de algo que está fincado e que não se
abala.
A palavra “fé” usada no Velho Testamento é usada agora no Novo
Testamento como aquilo que não se abala e a convicção de coisas que não
podemos ver. Aqui está o grande paradoxo. Percebemos que estamos diante
de uma grande verdade! O autor da carta aos Hebreus nos dá o conceito de fé.
Mas de modo interessante o autor recorre à criação para estabelecer o
parâmetro do que podemos entender como fé e recorre a personagens do
Velho Testamento. Começa falando de Abel e discorre para poder dizer que a
fé é a exata convicção daquilo que não podemos ver. Ele diz que “pela fé
Abel ofereceu mais excelente sacrifício...”. Estabelece-se, então, um princípio
de que Abel já esperava algo que ele não via, mas sabia da sua existência.
Nos parece ser este o princípio pelo fato de que nos vv. 8-10 deste capítulo
Abraão vai ser assim também denominado. Está escrito: “Pela fé, Abraão,
quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por
herança; e partiu sem saber aonde ia. Pela fé, peregrinou na terra da
promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó,
herdeiros com ele da mesma promessa; porque aguardava a cidade que tem
fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hb 11:8-10). Foi
dada a Abraão a promessa de entrar numa terra chamada “prometida”, sendo
que esta terra “prometida” não era, na visão de Abraão, o fim para o qual
estavam determinadas todas as coisas. Por quê? Porque segundo o texto ele
aguardava a cidade que Deus havia edificado. Mas alguém poderia afirmar
que no texto não há nada dizendo que a palavra “cidade” se refere a uma
cidade celestial e que bem poderia estar se referindo à Jerusalém, à cidade
santa. Se alguém não se convence com esses versículos devemos olhar mais à
frente.
“Pela fé, também, a própria Sara recebeu poder para ser mãe, não
obstante o avançado de sua idade, pois teve por fiel aquele que lhe havia
feito a promessa. Por isso, também de um, aliás já amortecido, saiu uma
posteridade tão numerosa como as estrelas do céu e inumerável como a
areia que está na praia do mar. Todos estes morreram na fé, sem ter
obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e
confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra“ (vv.11-
13).
Vejamos que “estes morreram na fé”, ou seja, morreram crendo “sem ter
obtido a promessa”.
“Vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram
estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Porque os que falam desse modo
manifestam estar procurando uma pátria. E, se, na verdade, se
lembrassem daquela de onde saíram, teriam oportunidade de voltar.
Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso,
Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto
lhes preparou uma cidade” (vv. 13b-16).
A palavra cidade usada no texto é trazida de volta. Cidade aqui é
sinônimo de pátria celestial. Percebemos que quando estas personagens do
Velho Testamento eram chamadas por Deus, as suas vocações não eram para
algo estritamente terreno, mas para algo superior. A própria terra de Israel
nunca foi um fim em si mesmo. Ela apenas tipificava a pátria celestial.
Segundo as palavras do autor da carta aos Hebreus, quando ele trata no
capítulo 4 acerca do dia do Senhor, do dia de descanso, diz claramente que a
terra de Israel não era o descanso que Deus havia dado a eles; porque se fosse
não falaria de “outro dia” — “Ora, se Josué lhes houvesse dado descanso,
não falaria, posteriormente, a respeito de outro dia” (Hb 4:8). E no v. 9
lemos: “Portanto, resta um repouso para o povo de Deus”. Aquela cidade
tipificava a entrada na pátria celestial. Abraão chamado por Deus já cria e
aguardava, segundo o autor aos Hebreus, uma pátria superior à terra
prometida, pois esta era apenas um tipo e não um fim em si mesmo. Devemos
nos lembrar do conceito estabelecido pelo autor da carta aos Hebreus que “fé
é a certeza de coisas que se esperam e a convicção de fatos que se não
veem”. Existe fé e esperança estabelecidas no Velho Testamento. Os
chamados e vocacionados por Deus esperavam o mesmo que nós esperamos:
a pátria celestial, a nova Jerusalém. A ideia atual de que, para a nação judaica
a terra da Palestina foi posta como propósito final, é equivocada à luz de toda
Escritura Sagrada. Porque para os filhos de Abraão, os que creram como
Abraão creu, eles aguardam uma pátria celestial, a Nova Jerusalém, a cidade
santa. No Velho Testamento a fé estava estabelecida, os crentes não viam,
mas esperavam.
Abraão creu na ressurreição dos mortos. Os críticos modernos afirmam
que a doutrina da ressurreição não está estabelecida no Velho Testamento.
Nos parece que isso é um grande equívoco porque, quando Jesus foi
interpelado pelos saduceus, no Evangelho de Mateus, o Senhor lhes deu uma
resposta. O texto nos fala:
“Naquele dia, aproximaram-se dele alguns saduceus, que dizem não
haver ressurreição, e lhe perguntaram: Mestre, Moisés disse: Se alguém
morrer, não tendo filhos, seu irmão casará com a viúva e suscitará
descendência ao falecido. Ora, havia entre nós sete irmãos. O primeiro,
tendo casado, morreu e, não tendo descendência, deixou sua mulher a
seu irmão; o mesmo sucedeu com o segundo, com o terceiro, até ao
sétimo; depois de todos eles, morreu também a mulher. Portanto, na
ressurreição, de qual dos sete será ela esposa? Porque todos a
desposaram” (Mt 22:23-28).
Jesus respondeu claramente:
“Respondeu-lhes Jesus: Errais, não conhecendo as Escrituras nem o
poder de Deus. Porque, na ressurreição, nem casam, nem se dão em
casamento; são, porém, como os anjos no céu. E, quanto à ressurreição
dos mortos, não tendes lido o que Deus vos declarou: Eu sou o Deus de
Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? Ele não é Deus de mortos, e
sim de vivos” (Mt 22:29-32).
Jesus fala com base no texto do Velho Testamento quando diz que Deus é
Deus de vivos e não de mortos. Ele disse: “Eu sou o Deus de Abraão, de
Isaque e Jacó”. Jesus responde à questão dos saduceus, que eram contrários à
ressurreição, citando o Velho Testamento. Certamente que Abraão, Isaque e
Jacó já estavam mortos na época de Cristo. Por que Jesus diz que Deus é
Deus de vivos e não de mortos? Porque eles estão vivos. Jesus disse a Marta:
“Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (Mt 11:25). É a mesma fé
estabelecida no Velho Testamento. A fé na ressurreição é estabelecida em
Gênesis no capítulo 22. Deus prova a Abraão:
“Depois dessas coisas, pôs Deus Abraão à prova e lhe disse: Abraão!
Este lhe respondeu: Eis-me aqui! Acrescentou Deus: Toma teu filho, teu
único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; oferece-o ali
em holocausto, sobre um dos montes, que eu te mostrarei. Levantou-se,
pois, Abraão de madrugada e, tendo preparado o seu jumento, tomou
consigo dois dos seus servos e a Isaque, seu filho; rachou lenha para o
holocausto e foi para o lugar que Deus lhe havia indicado. Ao terceiro
dia, erguendo Abraão os olhos, viu o lugar de longe. Então, disse a seus
servos: Esperai aqui, com o jumento; eu e o rapaz iremos até lá e,
havendo adorado, voltaremospara junto de vós” (Gn 22:1-5).
Estas palavras não eram de alguém que desejava acalmar aos servos
desesperados com a possibilidade da morte de Isaque, porque eles sabiam o
que estava acontecendo. Porém Abraão diz aos servos “eu e o rapaz iremos
até lá e, havendo adorado, voltaremos para junto de vós”. Temos de atentar
para as palavras: “havendo adorado, voltaremos”. Vejamos o plural: Nós
voltaremos! Ele não disse, eu voltarei. O que significa isso? Ele cria que se e
o menino morresse Deus iria ressuscitá-lo. De onde tiramos isso? Voltaremos
a Hebreus 11 e veremos claramente esta verdade.
A
A FÉ EM HEBREUS
11:17-19
“Pela fé, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque; estava mesmo
para sacrificar o seu unigênito aquele que acolheu alegremente as
promessas, a quem se tinha dito: Em Isaque será chamada a tua
descendência; porque considerou que Deus era poderoso até para
ressuscitá-lo dentre os mortos, de onde também, figuradamente, o
recobrou”.
braão creu que Isaque iria ressuscitar. É a convicção daquilo que não
vemos, é a certeza daquilo que nossos olhos não veem, mas é a certeza!
Nunca vimos ninguém ressuscitar, mas cremos na ressurreição dos mortos. O
mesmo princípio se aplica a Abrão. Ele nunca tinha visto ninguém
ressuscitar, mas cria na ressurreição. A Igreja no Velho Testamento cria e
estava fundamentada nos mesmos pilares que se fundamenta a Igreja do
Novo Testamento. Nós cremos e esperamos naquilo que não vemos!
Esse princípio da fé precisa ser melhor entendido. Como surgia a fé no
Velho Testamento? Teremos de mencionar agora uma doutrina perniciosa e
presente na igreja de hoje: O Dispensacionalismo. Através da tradição
dispensacionalista teremos profunda dificuldade de olhar para o Velho
Testamento e ver a conversão da mesma forma como a vemos no Novo
Testamento. Para o dispensacionalismo o homem do Velho Testamento tinha
uma estrutura diferente do homem no Novo Testamento. Se o homem do VT
pudesse se arrepender sem a ação do Espírito Santo, então para que o
Pentecostes? Não havia necessidade de Espírito Santo, pois o arrependimento
seria algo humano. É óbvio que toda e qualquer ação de caráter regenerativo,
salvífico, era operado pelo Espírito Santo de Deus para que eles cressem.
Voltando ao texto que fala de Abel em Hebreus 11:4, vemos que ele
ofereceu sacrifício a Deus pela fé. Se entendermos que o sacrifício oferecido
por Abel foi através de uma fé distinta, diferente, não sendo pelo que lhe fora
revelado, então, semelhantemente teremos de entender que a fé de Abraão
não foi depositada no que lhe foi revelado. Mas o texto diz que Abraão creu.
A mesma fé que Abraão teve é a mesma que Abel teve. É a mesma estrutura.
E todos os eleitos têm esta mesma fé que é a mesma fé do povo de Deus na
história, no VT ou no NT. Fé implica numa revelação de Deus. Só podemos
crer naquilo que nos é revelado pela Palavra de Deus.
Em Hebreus 4:1-3, lemos:
“Temamos, portanto, que, sendo-nos deixada a promessa de entrar no
descanso de Deus, suceda parecer que algum de vós tenha falhado.
Porque também a nós foram anunciadas as boas-novas, como se deu com
eles; mas a palavra que ouviram não lhes aproveitou, visto não ter sido
acompanhada pela fé naqueles que a ouviram. Nós, porém, que cremos,
entramos no descanso...”.
No versículo 2 destacamos: “Porque também a nós foram anunciadas as
boas-novas, como se deu com eles”. “Como se deu com eles”! Quem são
“eles” aqui? São os crentes da antiga aliança, os crentes do Velho
Testamento. Da mesma forma como aconteceu conosco, aconteceu com eles.
A eles foram anunciadas as BOAS NOVAS! O EVANGELHO! Que coisa
maravilhosa! O Evangelho, as Boas Novas, foram anunciadas aos crentes da
antiga aliança.
É necessário um comentário. Qual a distinção do Novo para o Velho
Testamento? Não há distinção essencial, mas há distinção da relação entre
aquilo que é figura, entre aquilo que é símbolo e o que é simbolizado; entre o
que é tipo e o que é tipificado. Os crentes do Velho Testamento eram salvos
pela revelação de Deus, objetiva e subjetiva (iluminação). Vemos isso com o
grande teólogo reformado Dr. Geerhardus Vos no seu livro Teologia Bíblica
(Biblical Theology) que é um livro extraordinário. Dr. Vos coloca o princípio
da revelação assim: A revelação é objetiva e subjetiva. Vejamos já a seguir.
R
REVELAÇÃO
OBJETIVA E SUBJETIVA
evelação objetiva são os atos históricos de Deus, manifestados na
própria história. Isto é, cada ato revelacional implica em um ato
histórico. Exemplo: Jesus veio a este mundo. Isso é um ato histórico. Esta é
uma revelação objetiva. Revelação subjetiva (Iluminação) é a revelação
histórico-objetiva que é trazida ao entendimento do indivíduo, a regeneração,
conversão. O que permanece hoje é a iluminação, pois a revelação objetiva
cessou, pois não existe mais revelação histórica. Ela se encerrou com o
Cânon. O que temos hoje é a iluminação que é trazida ao homem por meio da
pregação histórico-objetiva de Deus que continua sendo proclamada e
salvando o povo na história. Como Deus fez no Antigo Testamento, fez
também no Novo Testamento e durante toda a história. O Velho Testamento
junto com seus atos históricos não apenas revelava Deus historicamente
(objetivamente), mas revelava Deus subjetivamente a um povo que Ele
mesmo estava salvando. Paralela à ideia da revelação, está a ideia de
conversão e salvação — Deus se revelava para redimir.
Pensando dessa forma, cada momento da história, como a Páscoa, a
circuncisão, o tabernáculo, o templo, enfim, todos estes elementos históricos
que foram realidades no VT, traziam consigo a vontade revelada de Deus, a
revelação redentora de Deus, salvando um povo que contínua e
organicamente passava a conhecer a salvação. A Confissão de Fé de
Westminster diz que aquela revelação era suficiente para salvar os eleitos de
Deus no Velho Testamento. Dr. Geerhardus Vos se apodera deste ensino da
Confissão para dizer que esta revelação era perfeita, não porque não
precisasse de outra revelação para dar-lhe luz, mas porque aquela revelação
estava ligada organicamente com aquele que era o centro de toda revelação
de Deus, Jesus Cristo. Por isso, não temos medo de dizer, à luz de toda a
Escritura Sagrada, que a fé que Abraão tinha, nós também a temos porque o
mesmo Espírito opera em nós. A esperança que ele tinha nós a temos porque
ouviu a mesma verdade — as boas novas do Evangelho.
Gálatas 3:6
“É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado para
justiça. Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão. Ora, tendo a
Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o
evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos. De modo
que os da fé são abençoados com o crente Abraão”.
Foi trazida a revelação de Deus — O Evangelho foi preanunciado. Isso é
impressionante. Paulo enfrentava problemas na igreja da Galácia e estes
problemas eram relacionados com a questão das obras que eram enfatizadas
para a salvação. Então, Paulo se fundamenta em Abraão para dizer: “tendo a
Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios”. Deus, para
justificar pela fé, preanunciou o Evangelho, isto é, anunciou o Evangelho a
Abraão! Para que houvesse justificação pela fé foi necessária a revelação do
Evangelho que começou a ser pregado de modo inequívoco desde o início da
história da revelação. E os que criam eram salvos, pois criam nas mesmas
verdades, esperavam as mesmas promessas, tinham a mesma esperança. Eles
criam na ressurreição como nós cremos, aguardavam uma pátria celestial
como nós aguardamos.
A Igreja no Velho Testamento é fundamentada no conceito da unidade de
toda a Escritura Sagrada. Consequentemente é importante saber que a obra da
regeneração no Novo Testamento se deu, não com uma raça, não com um
povo étnico, não com descendentes carnais, mas com os da fé. Então, a quem
Deus revelou a verdade, a quem Deus deu o dom da fé, a quem deu a
verdadeira esperança, e a mesma crença que é nossa? Paulo responde a esta
pergunta, vejamos:
Romanos 11:1-5
“Pergunto,pois: terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo? De modo
nenhum! Porque eu também sou israelita da descendência de Abraão, da
tribo de Benjamim. Deus não rejeitou o seu povo, a quem de antemão
conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura refere a respeito de Elias,
como insta perante Deus contra Israel, dizendo: Senhor, mataram os teus
profetas, arrasaram os teus altares, e só eu fiquei, e procuram tirar-me a
vida. Que lhe disse, porém, a resposta divina? Reservei para mim sete mil
homens, que não dobraram os joelhos diante de Baal. Assim, pois,
também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a
eleição da graça”.
A questão que Paulo levanta é simples. Deus rejeitou Seu povo? Não, de
modo algum. Por quê? Porque “Eu sou israelita e fui salvo”. Agora Paulo dá
o conceito para colocar tudo no prumo certo. Antes estava estabelecido o
conceito de que Israel era o povo eleito apenas como nação, como raça. Mas
Paulo diz que isso é um equívoco. Quem é o verdadeiro israelita? Não é
simplesmente o que nasce em Israel. Paulo agora se refere tanto ao povo do
VT quanto ao do NT e diz que ambos estavam na mesma situação; e afirma:
“no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça”.
Isto é, assim como foi no Antigo Testamento, é agora no novo. Nada mudou!
É a mesma coisa. No Antigo Testamento haviam os eleitos segundo a graça
de Deus. Não era porque nasciam em Israel que eles eram salvos, pois
haviam os eleitos dentre o povo de Israel. Por isso Paulo cita Elias que
dissera: “Senhor, eu estou só!”. Mas Deus lhe diz: “Nada disso, Eu reservei
para mim sete mil homens”. Ou seja, “Eu reservei para mim os que são fiéis.
Dentro desta nação existem sete mil que não se dobraram diante de Baal”. E
Paulo conclui dizendo que é assim também hoje que vive um remanescente
segundo a eleição da graça.
Como foi no Antigo Testamento, é assim agora no Novo Testamento,
pois os eleitos são salvos pela graça. E esses eleitos são salvos através da
revelação da verdade. E essa revelação é dada aos que recebem o dom da fé,
fé que leva à esperança. A Igreja do Antigo Testamento é o povo de Deus do
Novo Testamento. Somos salvos porque fomos escolhidos por Deus antes da
fundação do mundo, assim como os crentes do Antigo Testamento o foram.
Fomos salvos porque a nós foi revelada a palavra objetivo-histórica de Deus
e nós cremos tanto quanto eles creram nesta palavra revelada. Eles esperavam
a pátria celestial e nós também esperamos. Eles criam na ressurreição e nós
também cremos. Os crentes do Velho e do Novo Testamento historicamente
receberam os mesmos benefícios.
A Igreja eleita do Antigo Testamento recebeu a revelação, creu e, com fé,
esperou. Nós que somos a igreja do Novo Testamento somos exatamente a
mesma coisa hoje. A igreja existia no Antigo Testamento.
Q
IMPLICAÇÕES
uais as implicações desta verdade para nossa vida?
1) Uma palavra aos pastores e à liderança. Aos pregadores da Palavra que
desejam cada dia aprender mais da Escritura, algumas mudanças são
necessárias. Abandonem a pregação apenas moralista do Antigo Testamento
e preguem a redenção que lá está. Pregue Cristo no Antigo Testamento!
Exalte o nome de Cristo no Antigo Testamento! Exalte o Cristo que operou
no povo do Velho Testamento da mesma forma como faz hoje, pelo Seu
Espírito. Ao Ministro da Palavra dizemos que ele abandone a pregação
apenas moralista no VT como é comum em nossos dias. Pregue a ética que
provém da doutrina, mas não moralismo. Terá de evitar a visão
dispensacionalista que afirma que o Antigo Testamento apenas serve de
exemplo para nós. Errado! O Antigo Testamento é muito mais profundo que
isso. É a revelação da redenção histórica de Deus.
Para os pastores e pregadores do Evangelho essa será a primeira e
fundamental mudança que ocorrerá em suas vidas.
2) A liderança da igreja terá de buscar o entendimento da unidade em
toda a Escritura Sagrada. Há muito tempo nós brasileiros trabalhamos contra
isso. Na ignorância, acreditávamos em uma separação entre Israel e Igreja, e,
mesmo não sendo de fato dispensacionalistas, vivíamos recebendo grande
quantidade de ideias dispensacionalistas na nossa teologia. Dessa forma não
conseguíamos ver a unidade da Escritura. Tenho de dizer algo duro, mas que
é a verdade. O pastor verdadeiramente reformado, presbiteriano, está
equivocado ao defender ideias inconsistentes às suas convicções. Pastores e
líderes que não creem em um único pacto, o pacto da graça (após a queda),
que não crer nessa unidade da Escritura, naturalmente vai trabalhar de modo
a fazer um desserviço no ensino da Igreja.
Por isso a grande importância de falarmos sobre a circuncisão, batismo
infantil, a páscoa, a ceia do Senhor, o templo e seu lugar no Novo
Testamento, para podermos entender que dentro da doutrina da unidade
escriturística existe um processo de entendimento e que a simbologia do VT
foi trazida à plenitude no NT. Não é que o foco tenha sido mudado, não, mas
é que chegamos ao ápice — Cristo — e quando temos a unidade, esse
pensamento que apresentamos aqui, nos fará ver a Escritura como uma única
verdade. Veremos como uma unidade.
O pastor que deseja se aprofundar na doutrina, como pregador, deverá
mostrar que na redenção haverá mudança de vida e necessidade de
obediência à Lei. Os pastores aprenderão que, depois de redimidos, nós
amamos a Lei.
3) O crente desejoso de aprender mais profundamente a doutrina, verá
que ele é salvo não pela obediência à Lei, mas pela graça de Deus. Isso trará
uma grande mudança na vida da igreja, porque tanto no VT como no NT
temos uma mesma mensagem: justificação pela fé somente e não por obras.
O texto de Gálatas claramente diz que “tendo a Escritura previsto que
Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão”. Que
Evangelho? O Evangelho da justificação pela fé somente. Essa foi a mesma
verdade da Igreja do Velho Testamento e que está estabelecida na Igreja do
Novo Testamento. A Igreja de hoje vai ter de rever seu enfoque, sua
perspectiva e seus conceitos serão aprofundados quando retornar à posição
confessional, o que talvez nunca tenha conhecido: A Confissão de Fé de
Westmister. Digo isso com muita seriedade. Fiz meu bacharelado em teologia
em um Seminário Presbiteriano e nunca estudei nossos símbolos de Fé. A
liderança presbiteriana está, com algumas exceções, ignorante da sua
confessionalidade, do seu conhecimento doutrinário sobre a Igreja. Por isso, a
melhor palavra que se adequa à nossa situação não é “retornar” e sim
“começar” a nossa eclesiologia de forma bíblica e reformada. Vamos aos
nossos símbolos de fé e veremos que lá estão estabelecidos estes princípios
que expusemos aqui. A doutrina do Pacto, a doutrina clara e inequívoca de
que os crentes do VT eram salvos pela revelação graciosa de Deus tanto
quanto os crentes do Novo Testamento. Veremos que a distinção que apenas
fazemos é que no Velho Testamento o evangelho era visto através de uma
revelação manifesta nos símbolos e tipos, porém eram perfeitos porque
estavam conectados à Cristo.
Dessa forma vamos perceber com temor e piedade diante de Deus, a
mudança que estas verdades acarretarão à vida da Igreja de hoje. Isso se faz
necessário: abandonarmos os erros e nos apegarmos à verdade.
2ª PARTE
A IGREJA DESDE MOISÉS ATÉ
O EXÍLIO
O
ORGANIZAÇÃO DA IGREJA
NA ÉPOCA DE MOISÉS
a) Os anciãos
s hebreus, que tinham um sistema patriarcal, como todas as tribos
desde os primórdios, reconheceram o sistema de anciãos. Vemos a
primeira referência da palavra “ancião” usada para o mordomo de Abraão.
Gênesis 24:2 nos mostra duas coisas importantes:
(1) O ancião da casa (servo) e
(2) O governo que ele exerce sobre esta casa.
“Disse Abraão ao seu mais antigo servo da casa, que governava tudo o
que possuía: Põe a mão por baixo da minha coxa” (Ex 24:2).
Estas descrições do servo de Abraão nos ensinam algumas coisas. Sem
dúvida ele era o servo mais antigo na casa do patriarca; tinha autoridade para
governar os outros servos. Aqui neste ponto, uma referência a um ancião
podeser simplesmente uma referência a uma pessoa que tem idade avançada,
uma pessoa de mais idade. Mas, através do tempo, este termo chegou a
descrever uma posição de ofício. Por exemplo, os anciãos em Israel já
estavam presentes na época do êxodo. Eles eram os representantes do povo e
seu governo era reconhecido por ele. Temos um registro disso em Êxodo
3:16:
“Vai, ajunta os anciãos de Israel e dize-lhes: O Senhor, o Deus de vossos
pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó, me
apareceu, dizendo: Em verdade vos tenho visitado, e visto o que vos tem
sido feito no Egito”.
Ainda temos outras referências em Êxodo 4:29 e 12:21. Em Êxodo 12:21,
vemos que a páscoa foi instituída pelos presbíteros, os anciãos: “Chamou,
pois, Moisés a todos os anciãos de Israel, e lhes disse: Escolhei e tomai
cordeiros segundo as vossas famílias, e imolai a páscoa”.
A instituição fundamental do sistema de anciãos formou a base natural e
permanente de todas as outras organizações de Israel. Com isso, cresceu o
espírito de reverência para com a Lei e a justiça e uma reverência e respeito
para com uma autoridade legalmente constituída. Toda cidade e pequena
aldeia, tinham um pequeno corpo de representantes naturais através dos
anciãos naquele lugar. É importante ver que estes anciãos agiam como um
corpo e não individualmente, quando ouviam e julgavam assuntos segundo a
Palavra e a Lei de Deus. Eles foram escolhidos pelo povo. Pelo menos foram
estabelecidos como anciãos com o consentimento do povo. Esta é uma
colocação muito importante para prestarmos atenção porque todas as outras
instituições nacionais desapareceram quando os dois reinos foram vencidos,
mas somente o sistema de anciãos sobreviveu.
Esta instituição tinha raízes tão profundas na vida de Israel, desde a época
dos patriarcas, que era impossível tirá-la de sua vida. Na época do exílio os
anciãos se ajuntaram na presença de Ezequiel. Em várias ocasiões os anciãos
foram a Ezequiel para indagar sobre a Palavra de Deus (Ez 14:1-6; 20:1-5;
20:27). Dois escoceses escreveram acerca da Igreja: James Bannerman
escreveu um livro chamado “A Igreja de Cristo” (contém dois volumes e é
uma obra excelente)[1]. Seu filho, Douglas Bannerman, escreveu outro livro
com o título: A Doutrina Bíblica Sobre a Igreja. Este livro é um estudo
bíblico e teológico acerca da Igreja baseado nas Escrituras — recomendo a
leitura destes livros. Douglas Bannerman apresenta algumas citações dos
rabinos que falam sobre os anciãos. Estas citações mostram a posição
importante que este ofício tinha no pensamento judaico. Eis algumas citações
destes teólogos judaicos (rabinos) do passado:
1) Devemos tratar um ancião como se fosse um príncipe.
2) Em todos os tempos são os anciãos que mantém a existência de Israel.
3) Moisés comunicou o Espírito Santo aos anciãos.
4) Desde esta época cada um ascendeu a lâmpada uns dos outros.
5) Onde os juízes fazem julgamento reto ali tem a presença do próprio
Deus.
6) A responsabilidade dos anciãos é a maior.
Os presbíteros devem refletir nesta afirmação:
7) Em cima dos anciãos está pendurada uma espada e em baixo o inferno
sempre está aberto.
Foi assim que os judeus entenderam a séria e grave responsabilidade dos
anciãos. Exatamente por esta razão, um corpo, um colégio de anciãos foi
estabelecido para que esta responsabilidade fosse compartilhada entre eles.
Este último ponto tem grande importância. O povo judeu entendeu que teria
de haver um conselho unido de anciãos que tomaria as decisões. Teria de ser
a decisão unânime dos mais sábios e mais aptos para decidir.
 1 Lançado em Português pela Editora Os Puritanos em 2014 e disponível em:
https://www.amazon.com.br/dp/B00HNX4UEE — N.E.
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U
PRINCÍPIO DA REPRESENTAÇÃO
m dos conceitos que surge deste princípio de se ter anciãos é o princípio
da representação. Este princípio de representação nós podemos ver no
sistema de anciãos e em muitas outras partes da vida de Israel. Para ajudar a
Moisés no trabalho prático e para servir como governador ou juiz sobre o
povo, o sogro de Moisés, Jetro, fez a proposta de estabelecer um sistema de
tribunais em vários níveis. Apesar da palavra ancião não ser especificamente
usada neste contexto, ambas as qualificações para estes juízes e seus
trabalhos se encaixam com o que é o entendimento acerca do ofício de
ancião.
Deveriam ser homens aptos, capazes, que temiam a Deus, homens que
apoiavam a verdade, que odiavam o lucro ganho por meios injustos. Estas
qualificações espirituais são as mesmas que o apóstolo Paulo exige dos
presbíteros no Novo Testamento e até hoje. Além destas qualificações eles
deveriam se tornar responsáveis pelo governo para instruir o povo e para
julgá-lo. Estas mesmas funções dos anciãos do VT também são
recomendadas aos presbíteros do Novo Testamento. Apesar deste conselho
do sogro de Moisés parecer algo de homem para homem, seu mentor, Jetro, o
coloca debaixo das mãos de Deus. Ele diz: “Deus seja contigo” (Ex. 18:19).
Com certeza era uma necessidade para Moisés estabelecer um sistema de
tribunais para que ele pudesse somente tratar dos assuntos mais difíceis. Os
outros assuntos seriam tratados nos níveis mais baixos.
Podemos ver este mesmo princípio de uma forma um pouco diferente
quando da provisão de um tribunal no capítulo 15 de Atos. Em Êx. 18:13-27
lemos:
“13 No dia seguinte assentou-se Moisés para julgar o povo; e o povo
estava em pé junto de Moisés desde a manhã até a tarde. 14 Vendo, pois,
o sogro de Moisés tudo o que ele fazia ao povo, perguntou: Que é isto
que tu fazes ao povo? por que te assentas só, permanecendo todo o povo
junto de ti desde a manhã até a tarde? 15 Respondeu Moisés a seu sogro:
É porque o povo vem a mim para consultar a Deus. 16 Quando eles têm
alguma questão, vêm a mim; e eu julgo entre um e outro e lhes declaro os
estatutos de Deus e as suas leis. 17 O sogro de Moisés, porém, lhe
replicou: Não é bom o que fazes. 18 certamente desfalecerás, assim tu,
como este povo que está contigo; porque isto te é pesado demais; tu só
não o podes fazer. 19 Ouve agora a minha voz; eu te aconselharei, e seja
Deus contigo: sê tu pelo povo diante de Deus, e leva tu as causas a Deus;
20 ensinar-lhes-ás os estatutos e as leis, e lhes mostrarás o caminho em
que devem andar, e a obra que devem fazer. 21 Além disto procurarás
dentre todo o povo homens de capacidade, tementes a Deus, homens
verazes, que aborreçam a avareza, e os porás sobre eles por chefes de
mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez; 22 e julguem eles
o povo em todo o tempo. Que a ti tragam toda causa grave, mas toda
causa pequena eles mesmos a julguem; assim a ti mesmo te aliviarás da
carga, e eles a levarão contigo. 23 Se isto fizeres, e Deus to mandar,
poderás então subsistir; assim também todo este povo irá em paz para o
seu lugar. 24 E Moisés deu ouvidos à voz de seu sogro, e fez tudo quanto
este lhe dissera; 25 e escolheu Moisés homens capazes dentre todo o
Israel, e os pôs por cabeças sobre o povo: chefes de mil, chefes de cem,
chefes de cinquenta e chefes de dez. 26 Estes, pois, julgaram o povo em
todo o tempo; as causas graves eles as trouxeram a Moisés; mas toda
causa pequena, julgaram-na eles mesmos. 27 Então despediu Moisés a
seu sogro, o qual se foi para a sua terra”.
Podemos ver aqui a estrutura básica de um sistema graduado de tribunais.
É quase a mesma estrutura que temos no Presbiterianismo moderno: o
Conselho local, o Presbitério, o Sínodo e a Assembleia Geral.
O capítulo 11 de Números nos dá um passo importante na organização da
comunidade. Ali temos a nomeação de setenta homens (anciãos) que já eram
“presbíteros”. Eles eram um tipo de executivos permanentes, distintos do
corpo geral de anciãos. O Espírito que estava sobre Moisés foi dado a eles:
“Disse o Senhor a Moisés: Ajunta-me setenta homens dos anciãos de
Israel, que sabes serem anciãos e superintendentes do povo; e os trarás
perante a tenda da congregação, para que assistam ali contigo. Então,
descerei a ali falarei contigo;tirarei do Espírito que está sobre ti e o
porei sobre eles; e contigo levarão a carga do povo, para que não a leves
tu somente” (Nm. 11:16-17; ).
“Saiu, pois, Moisés, e referiu ao povo as palavras do Senhor, e ajuntou
setenta homens dos anciãos do povo, e os pôs ao redor da tenda. Então, o
Senhor desceu na nuvem e lhe falou; e, tirando do Espírito que estava
sobre ele, o pôs sobre aqueles setenta anciãos; quando o Espírito
repousou sobre eles, profetizaram; mas, depois, nunca mais” (vv. 24-25).
Samuel Miller, que escreveu “O Presbítero Regente” (Editora Os
Puritanos), estudando estes versículos e outros, disse que, à luz destas
passagens, parece que se tinha setenta anciãos sobre a nação. Além deste,
também havia anciãos sobre mil, sobre grupos de cem, de cinquenta e de dez
(Êx. 18:21). Eles tinham o dever de fazer inspeção e de governar em seu
lugar específico. Novamente achamos pessoas que estão supervisionando e
governando o povo e que têm o título de anciãos. Na época de Josué, eles
estavam em todas as ocasiões públicas; estavam agindo no seu caráter de
ofício como anciãos. Também durante o período dos Juízes, na época dos
Reis; especialmente nas épocas mais abençoadas e alegres do domínio dos
reis. Provavelmente, também, durante o cativeiro Babilônico e com certeza
no período quando voltaram do cativeiro para sua própria terra. Então, temos
este sistema de anciãos durante todas estas épocas até na instituição da
estrutura da Sinagoga, como meio para instruir o povo e local para a adoração
a Deus.
A ideia de um governo próprio foi incentivado, parte pelo ofício de
ancião e parte do princípio de representação. Debaixo do sistema de Sinagoga
que se desenvolveu mais tarde, estes anciãos foram eleitos, escolhidos pelo
povo. Ou pelo menos nomeados com a aprovação do povo.
Este princípio de representação incentivou a se ter um censo de unidade.
Ao povo foi falado e eles falaram por meio dos presbíteros ou anciãos. O que
os anciãos fizeram foi descrito como o que a congregação tinha feito, pois os
anciãos representavam a congregação. Em Números 35 vemos uma provisão
para aquela pessoa que tinha de fugir para uma cidade de refúgio por ter
morto, por acidente, alguém, por exemplo. Nos vv. 24-25, lemos que:
“então, a congregação julgará entre o matador e o vingador do sangue,
segundo estas leis e livrará o homicida da mão do vingador do sangue, e
o fará voltar à sua cidade de refúgio, onde se tinha acolhido; ali, ficará
até a morte do sumo sacerdote, que foi ungido com o santo óleo”.
Não devemos ver isto como toda a congregação de Israel julgando este
homem, mas isto se referia aos anciãos como era o costume. A decisão dos
anciãos era o ato da congregação, mesmo se a congregação não concordasse
com os anciãos. Mas, algumas vezes uma reação negativa do povo não
concordando com a decisão dos anciãos levava a uma modificação desta
decisão. Vemos, então, que eles não eram senhores que se punham na
condição de dominadores do povo, mas eram seus representantes.
Josué 9 trata dos Gibeonitas que fizeram o pacto de paz com os anciãos:
“Então, todos os príncipes disseram a toda a congregação: Nós lhes
juramos pelo Senhor, Deus de Israel; por isso, não podemos tocar-lhes.
Isto, porém, lhes faremos: Conservar-lhes-emos a vida, para que não
haja grande ira sobre nós, por causa do juramento que já lhes fizemos.
Disseram-lhes, pois, os príncipes: Vivam. E se tornaram rachadores de
lenha e tiradores de água para toda a congregação, como os príncipes
lhes haviam dito”.
Devemos entender que os anciãos não deveriam ter feito este pacto com
os Gibeonitas. Eles deveriam ter destruído este povo, mas havendo feito um
pacto com eles, em nome de Deus, e com juramento, não poderiam mais
destruí-los. No entanto, a reação do povo (v. 18) deu resultado e levou a uma
modificação na decisão dos anciãos (príncipes). Diante da reação do povo, os
Gibeonitas foram aceitos pelos anciãos como rachadores de lenha e tiradores
de água. Na sua época, Douglas Bannerman concluiu com esta colocação de
forma resumida:
“Debaixo da orientação do grande pastor de Israel, seu povo era ensinado
mais e mais que os direitos e interesses comuns de todos devem ser
tratados com um conselho comum; com um conselho e ação comuns dos
mais sábios e mais piedosos dos seus irmãos. O que preserva a todos
deve ser feito com todo esforço possível com o conhecimento e
consentimento de todos. Na assembleia de Israel, que também era a
assembleia do Senhor, todo Israel deveria ser representado. Naquela
assembleia a voz de Israel, a voz de Deus deveria ser ouvida”.
Estes princípios básicos de governo bíblico também permanecem na
época da Igreja no Novo Testamento. Em tudo isso já vemos a preparação de
Deus para a Igreja que Ele estenderia muito além das fronteiras de uma única
nação.
A
A IGREJA DO EXÍLIO
ATÉ O SENHOR JESUS CRISTO
b) A Sinagoga
instituição mais importante que vemos nesta época é a Sinagoga.
Vejamos as características gerais da Sinagoga. Quando chegamos na
época do Novo Testamento ela já está solidamente estabelecida. Tiago em
Atos 15:21 fala da antiguidade da Sinagoga: “Porque Moisés tem, em cada
cidade, desde tempos antigos, os que o pregam nas sinagogas, onde é lido
todos os sábados”. A origem exata da sinagoga não é conhecida, é incerta.
Segundo o Targum Palestiniano, que é um comentário antigo sobre o VT,
tem uma referência às instruções e orientações que devem ser repetidas na
Sinagoga no capítulo 18 de Êxodo versículo 20: “...ensina-lhes os estatutos e
as leis e faze-lhes saber o caminho em que devem andar e a obra que devem
fazer”. E este comentário (Targum) sobre 1 Cr 16:39 diz que o lugar onde
aconteceu uma grande oferta, num lugar chamado Gibeon, era uma Sinagoga.
Philo e Josefo disseram que a Sinagoga foi instituída por Moisés. Mas este
fato não é claro no Pentateuco. A maioria dos estudiosos acha que foi durante
a época do exílio que a Sinagoga foi instituída com o povo sendo tirado de
sua própria terra e colocado em terra estrangeira. Eles, com certeza, devem
ter sentido necessidade de cultivar e guardar a verdadeira religião. Foram
tirados e excluídos do templo e do sistema sacrificial. Desta forma um
significado maior seria dado para se ler e ouvir a Palavra de Deus e para se
receber instrução religiosa.
Mas, poderíamos pensar que o povo também se reunia em lugares
comuns para a adoração no sábado. Temos algumas pistas no livro de
Ezequiel que mostram estas coisas acontecendo.
“No sexto ano, no sexto mês, aos cinco dias do mês, estando eu sentado
em minha casa, e os anciãos de Judá assentados diante de mim, sucedeu
que ali a mão do Senhor Deus caiu sobre mim” (Ez 8:1)
Os anciãos foram falar com Ezequiel para receber uma palavra da parte
de Deus acerca da situação de Jerusalém. Aqui temos o início, a raiz, que é a
reunião dos anciãos para ouvir a exposição da Palavra de Deus pelo profeta.
E quando eles voltam do cativeiro para a terra de Canaã o serviço de
adoração que Esdras dirigiu é muito semelhante ao serviço da Sinagoga. Em
Neemias 8:1-3, lemos:
“Em chegando o sétimo mês, e estando os filhos de Israel nas suas
cidades, todo o povo se ajuntou como um só homem, na praça, diante da
Porta das Águas; e disseram a Esdras, o escriba, que trouxessem o livro
da lei de Moisés, que o Senhor tinha prescrito a Israel. Esdras, o
sacerdote, trouxe a lei perante a congregação, tanto de homens como de
mulheres e de todos os que eram capazes de entender o que ouviam. Era
o primeiro dia do sétimo mês. E leu no livro, diante da praça, que está
fronteira à Porta das Águas, desde à alva até ao meio-dia, perante
homens e mulheres e os que podiam entender; e todo o povo tinha os
ouvidos atentos ao livro da lei...”.
Ainda nos vv. 5-6, 8:
“Esdras abriu o livro à vista de todo o povo, porque estava acima dele;
abrindo-o ele, todo o povo se pôs em pé. Esdras bendisse ao Senhor, o
grande Deus; e todo o povo respondeu: Amém! Amém! –, levantando as
mãos; inclinaram-se e adoraram o Senhor, com o rosto em terra ...
Leram no livro, nalei de Deus, claramente, dando explicações, de
maneira que entendessem o que se lia”.
A leitura e exposição das Escrituras era o que Esdras estava fazendo
naquela ocasião. Se formos a uma Sinagoga judaica na sexta à noite eles
farão uma leitura, darão uma explicação das Sagradas Escrituras e louvarão
com cânticos. Mas, essencialmente é um culto que é, em todos os aspectos,
muito semelhante ao culto da Igreja Presbiteriana hoje.[ 2 ]
Com a restauração do templo em Jerusalém não havia necessidade para
Sinagogas na Palestina. Ao lermos os livros dos Macabeus não achamos
referência à presença de Sinagogas. Mas, por outro lado, na dispersão dos
judeus, passando a viver em outros países, houve um grande crescimento no
número das Sinagogas, pois não havia permissão de se realizar sacrifícios
fora do templo de Jerusalém. Mas, eventualmente, através do tempo, as
sinagogas foram introduzidas na terra da Palestina em todas as aldeias e
chegavam a ter mais do que uma nas cidades maiores.
 2 Se for uma igreja fiel, pois, infelizmente, hoje, nem todos os pastores e presbíteros de igrejas
Presbiterianas locais cumprem seus votos de fidelidade aos padrões confessionais — NE).
O
ORGANIZAÇÃO DA SINAGOGA
1) Anciãos
governo da Sinagoga estava nas mãos de um pequeno Conselho de
anciãos escolhido pelo povo ou pelo Sinédrio, com aprovação da
congregação. Quando um dos anciãos (presbíteros) tinha de ensinar, ele era
consagrado a este dever com a imposição das mãos dos anciãos (presbíteros).
O fórum menor para tomar uma decisão judicial era constituído por três
presbíteros (anciãos). Para tomar uma decisão disciplinar não era possível
apenas com a participação de apenas um homem ou mesmo com dois, mas
eram necessários três anciãos. No meio destes oficiais, destes anciãos da
Sinagoga, havia um homem[3] (deputado) que se chamava Sheliach Tsibbur.
Ele tinha a responsabilidade de dirigir as orações públicas representando a
congregação em oração.
Vale a pena notar como fato interessante que o sacerdote judaico não
tinha em si um lugar especial ou direitos especiais na Sinagoga. Ao contrário,
era norma de que ninguém poderia entrar na Sinagoga durante a adoração
(culto) com a vestimenta de sacerdote. A única vez que o sacerdote recebia
algum tipo de reconhecimento era na hora da bênção. Se havia no meio um
sacerdote, ele era chamado para dar a bênção de Arão à congregação. A
congregação respondia dizendo, amém. Se não havia sacerdote o Sheliach
Tsibbur dava a bênção com uma oração.
Havia também um presidente dos anciãos. Em cada corpo de anciãos
havia um presidente. Era possível ele ser eleito, mas também era possível
tirá-lo pela vontade do conselho. Em outras palavras, o fato de ser presidente
não o colocava num nível maior do que os outros anciãos. Ele permanecia um
ancião enquanto mantivesse sua dignidade de ofício.
2) As Funções dos Anciãos
Em primeiro lugar, o ensino. Surgiu um grupo de professores muito bem
preparados que se chamavam escribas. Eles foram treinados especialmente na
Lei e na sua interpretação. Esdras era um sacerdote e um escriba. Os escribas,
em todas as congregações, eram aqueles que, em meio aos anciãos, tinham
uma qualificação maior para falar sobre os assuntos religiosos. Normalmente
eram eles que tinham o dever de falar expondo as Escrituras nos sábados.
Segundo. Tinham o controle (governo) de todas as coisas que eram
relacionadas com a adoração, disciplina dos membros, gerenciamento das
finanças e cuidado dos pobres. Uma disciplina muito rigorosa foi exercida
como a excomunhão (como última instância). Mas também era possível ser
aplicado um castigo físico, como chicotear. Jesus advertiu os discípulos que
eles seriam chicoteados nas sinagogas. Temos muito mais material que fala a
respeito das Sinagogas no mundo inteiro, especialmente em Jerusalém. Mas
vamos para as conclusões gerais do sistema de sinagogas.
Conclusões (Sinagogas):
1) Transição do simbólico para o real, na adoração. Da ideia de
substituição para o que é direto. Uma transição da adoração que ficava
nas mãos dos sacerdotes para a adoração nas mãos do povo. Esta
adoração do povo foi dirigida por homens escolhidos pela própria
congregação.
2) Uma transição da adoração local, nacional, para a adoração universal.
Na época de Cristo aqui na terra o culto da Sinagoga era em todos os
lugares.
3) O lugar central no culto era dado para a revelação escrita da graça de
Deus, da vontade de Deus para os homens — as Sagradas Escrituras.
4) Os direitos e deveres de todos os membros eram enfatizados. Mas não
havia uma hierarquia no governo. Os anciãos foram selecionados pelo
povo sem necessidade de ser de uma família ou descendência específica.
5) Uma organização simples, mas muito forte, era desenvolvida. Este
sistema era do tipo presbiteriano representativo. Este sistema
representativo era visto em todos os lugares e funcionava no mundo
inteiro.
Quando vemos o melhor do sistema da Sinagoga vemos um governo do
mais alto nível reconhecendo a importância e o destaque daqueles que são os
mais sábios e capazes para governar, juntando um conselho de governadores,
respeitando a expressão, vontade e respeito do povo.
Quando pensamos sobre os judeus em todos os países do mundo daquela
época, o culto da Sinagoga ajudou para se ter uma unidade coletiva na
comunhão religiosa de Israel. A conclusão a que chegamos é que no Novo
Testamento vemos que a Igreja adotou muito das coisas que surgiram no
culto da Sinagoga e da Igreja no Velho Testamento.
 3 É importante perceber que, embora a mulher exerça um papel importante na igreja, esta tarefa nunca
foi dada a elas — NE.
3ª PARTE
O TEMPLO E A IGREJA
P
ENTENDENDO A ESTRUTURA REVELACIONAL
“A glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz o
SENHOR dos Exércitos; e, neste lugar, darei a paz, diz o SENHOR dos
Exércitos” — Ageu 2:9.
ara aqueles que estão buscando um entendimento da Igreja no Velho e
no Novo Testamento vamos considerar aqui um princípio de
interpretação no qual não só o templo de Salomão está inserido, mas todas as
instituições veterotestamentárias. Se entendermos o processo de interpretação
que envolve o templo, entenderemos também o processo das instituições do
VT. Este é nosso objetivo maior: fazer uma ponte entre o Templo e a Igreja.
Confissão de Fé de Westminster
O princípio pelo qual nos guiamos para entender essa estrutura
revelacional orgânica do Velho Testamento está fundamentado na Confissão
de Fé de Westminster no capítulo VII, seção V e VI que trata sobre a doutrina
do Pacto.
V) “Este pacto, no tempo da Lei, não foi administrado como no tempo do
Evangelho. Sob a Lei, foi administrado por meio de promessas,
profecias, sacrifícios, da circuncisão, do cordeiro pascoal e de outros
tipos e ordenanças dadas ao povo judeu, tudo prefigurando Cristo que
havia de vir. Por aquele tempo, essas coisas, pela operação do Espírito
Santo, foram suficientes e eficazes para instruir e edificar os eleitos na fé
do Messias prometido, por quem tinham plena remissão dos pecados e a
salvação eterna; este se chama o Velho Testamento”.
VI) “Sob o Evangelho, quando Cristo, a substância, se manifestou, as
ordenanças, nas quais este pacto é ministrado, passaram a ser a pregação
da Palavra e a administração dos Sacramentos do Batismo e da Ceia do
Senhor; por estas ordenanças, posto que em número menor e
administradas com mais simplicidade e menos glória externa, o pacto se
manifesta com mais plenitude, evidência e eficácia espiritual, a todas as
nações — tanto aos judeus como aos gentios. Isto é chamado o Novo
Testamento. Não há, pois, dois pactos da graça diferentes em substância,
mas um e o mesmo sob várias dispensações”.
O assunto poderia ser encerrado aqui, tal é a maravilha do texto dessa
Confissão em sua doutrina, clareza e concisão. É um texto muito claro. Esta
foi a compreensão dos nossos pais, os extraordinários teólogos e delegados
da Assembleia de Westminster, quanto ao processo revelacional e onde
desejamos incluir nosso tema — O TEMPLO.
Buscandoa compreensão da revelação do Antigo Testamento vemos as
palavras da Confissão de Westminster que nos diz que a revelação de Deus
era eficaz, suficiente e levava à plena remissão dos eleitos do Antigo
Testamento. Será que o povo do VT recebia a revelação de Deus, mas
aguardava uma salvação ainda futura? Ao contrário, a revelação era plena e
suficiente porque ela está ligada organicamente com aquele para quem ela
aponta: Cristo. Assim lemos na seção VI: “Cristo, a substância”, isto é,
Cristo, a plenitude de todas aquelas sombras de que falava o Velho
Testamento, quando chega, estas coisas que eram manifestas em sombras se
dissipam, tornam-se desnecessárias.
Para os líderes e pregadores, dizemos que não podemos formular
conceitos no VT sem entendê-los à luz de toda a revelação. Quando tomamos
a ideia do templo e o isolamos sem a luz de toda revelação, rapidamente
traremos um conceito errado do processo revelacional; daremos um conceito
que é dado apenas para o momento e não olhamos para o final. Mas temos de
olhar a revelação no seu sentido pleno. O risco, portanto, é dar uma
interpretação momentânea da narrativa bíblica. O caminho de interpretação
que vamos seguir é o caminho que entendemos ser o mais coerente
estabelecido pelos nossos símbolos de fé.
Depois da queda existe um só pacto de Deus com seu povo, não dois
pactos, mas um único que é administrado de forma diferente no decorrer da
história, o mesmo pacto. Precisamos entender o templo à luz de toda a
revelação.
Este tema é pertinente porque hoje estamos vivendo dois grandes
extremos no que diz respeito à prática do culto nas igrejas.
1) Negação do Princípio Regulador do Culto
Este princípio diz que só podemos praticar no culto aquilo que a Bíblia
ordena, o que Deus exige em sua Palavra. Que Deus deve ser adorado
segundo o que está prescrito na Bíblia e não segundo nossas imaginações ou
pensamentos humanos. Essa negação leva a Igreja a uma enxurrada de
criatividade cúltica. Hoje a Igreja aboliu este Princípio e muitas igrejas (não
todas) deixaram entrar por suas portas todo tipo de invenção. O melhor culto
agora, é aquele que é mais criativo, aquele que é fruto de muitas ideias. O
pensamento hoje é de que a igreja que mais cresce é aquela que mais
invenções cria e todo domingo tem uma novidade para o povo no seu culto.
Estas invenções são vistas com frequência cada vez maior nas igrejas, hoje.
Conversando com um pastor reformado e amigo, ele me disse algo muito
interessante acerca deste assunto: “Na Igreja da qual sou pastor, passei dez
anos pregando fielmente para 15 pessoas. Hoje a igreja tem cerca de 400
pessoas congregadas. Por ano recebemos trinta a quarenta pessoas de outras
igrejas (pentecostais, batistas, frequentadores da Universal….) por ano. São
pessoas cansadas de não ouvir a Palavra e não cultuar a Deus
verdadeiramente”. Disse mais: “Quando uma pessoa vem à igreja pelas
novidades que ela oferece, ela se manterá na igreja através da manutenção
destas novidades que esta igreja produz”.
O que este colega estava dizendo é que, se uma pessoa vai à igreja pelas
novidades que ela cria, esta pessoa só permanecerá em função das novidades
estabelecidas. Ou seja, não haverá limites para novidades criadas para que os
membros permaneçam na igreja. Concluiu dizendo: “Mas se uma pessoa vem
à igreja por causa da Palavra, o pastor só precisará pregar a Palavra com
fidelidade e esta pessoa permanecerá”.
Se esse Princípio Regulador for abandonado totalmente,
consequentemente abandonaremos o princípio de que Deus deseja ser
adorado através da revelação de sua Palavra. Quando isso é abandonado, toda
novidade e toda prática adentra à igreja. Muitos conhecem isso por
conviverem com igrejas outras, que dependem de ter uma cruz vazada para
que os membros passem através dela para que haja um “descarrego”, não
sabemos bem de que, mas “descarrega”; outras têm “rosa ungida”, etc. São
inúmeras novidades e invenções. Alguém pode argumentar corretamente
dizendo: “É verdade pastor, mas muitas outras invenções nós trazemos para
nossa igreja que não são percebidas. Muitas novidades são trazidas para o
culto por se desconsiderar o princípio de que é Deus que determina em sua
Palavra o que devemos fazer para cultuá-lo”. Sobre isso falaremos mais
adiante.
2) Entendimento equivocado do Princípio Regulador do Culto.
Estive conversando com irmãos reformados acerca deste problema
recentemente em Recife e que estavam também cansados da falta de uma
liturgia bíblica, segura, de um culto cristocêntrico, onde Cristo é o centro e
não o homem, e, cansados disso, começaram equivocadamente a procurar
igrejas litúrgicas. Por exemplo: Igreja Episcopal, Igreja Ortodoxa Grega. São
igrejas que, para quem não conhece o Princípio Regulador, entendem que são
boas igrejas porque têm uma liturgia que atrai a atenção por seu aspecto
externo. As pessoas se impressionam com os paramentos, as vestes
sacerdotais, o culto repleto de símbolos. Por isso muitos concluem que isso é
o correto quanto à adoração.
O primeiro extremo é a total entrega aos princípios da vontade humana. O
segundo (disfarçado disso também e, além disso) é ter uma aparente
obediência aos princípios da Sagrada Escritura. Nestas igrejas o clérigo
aparece com paramentos, togas, roupas bonitas. Há um espaço na liturgia
para venerar Maria, como na Igreja Ortodoxa. São evangélicos que já
começaram a ceder a estas pressões por conta dos problemas seríssimos que a
igreja enfrenta quanto à liturgia e doutrina. Temos um grande número de
pastores presbiterianos hoje que passaram para a Igreja Episcopal e agora
para a Igreja Ortodoxa Grega. É algo estranho que acontece.
Nosso estudo é pertinente porque, apesar de falarmos sobre o templo,
vamos ver que esse enfoque sobre o templo nos ajudará a entender o assunto
quando estivermos lidando com o princípio da tipologia e da simbologia e
para onde eles apontam. Vamos entender que dentro do processo revelacional
não há mais espaço para estas coisas. Nem para o culto segundo o coração
humano, nem para sombras e tipos dentro do culto. Vamos perceber que
temos de caminhar em cima de uma posição firme quanto a este assunto.
Então, falar sobre o templo é caminhar nesta direção. Para ser bem prático
quanto a este entendimento vejamos, a seguir, 2 Samuel 7:1-17.
O
O TEMPLO EM
AGEU 2:9
texto de Ageu 2:9 é importante. Antes, porém, devemos observar algo
ainda mais importante. Qual foi a base de Davi para construir o
templo? Ele pensou: “Eu vivo em uma casa tão boa e rica, então devo fazer
uma casa também boa e rica para Deus. Uma habitação para o Senhor”. Mas
temos um argumento contrário descrito em Ageu 1:2-4 – “Assim fala o
SENHOR dos Exércitos: Este povo diz: Não veio ainda o tempo, o tempo em
que a Casa do SENHOR deve ser edificada. Veio, pois, a palavra do
SENHOR, por intermédio do profeta Ageu, dizendo: Acaso, é tempo de
habitardes vós em casas apaineladas, enquanto esta casa permanece em
ruínas?”. Davi (como Ageu) tinha um pensamento contrário ao do povo. O
povo estava cuidando de suas casas e deixando a casa de Deus de lado. Mas a
ênfase era apenas na construção de uma casa? Qual era a ênfase? A
suntuosidade do templo! Vemos isso no capítulo 2:9: “A glória desta última
casa será maior do que a da primeira, diz o SENHOR dos Exércitos; e, neste
lugar, darei a paz, diz o SENHOR dos Exércitos”. Segundo este texto a glória
do segundo templo seria maior do que a do primeiro templo. Qual foi a
primeira “casa”? O templo que Salomão construiu. E a segunda “casa”? O
templo que foi reconstruído depois da destruição dos babilônicos, após o
retorno do cativeiro.
E
O TEMPLO EM
ESDRAS 3:10-12
ste texto fala do lançamento dos alicerces do segundo templo.
Precisamos fazer uma digressão aqui para melhor entendimento. Em
Esdras 3:10-12 vemos o lançamento dos alicerces do segundo templo:
“Quando os edificadores lançaram os alicerces do templo do SENHOR,
apresentaram-se os sacerdotes, paramentados e com trombetas, e os
levitas, filhos de Asafe, com címbalos, para louvarem o SENHOR,segundo as determinações de Davi, rei de Israel. Cantavam
alternadamente, louvando e rendendo graças ao SENHOR, com estas
palavras: Ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre sobre
Israel. E todo o povo jubilou com altas vozes, louvando ao SENHOR por
se terem lançado os alicerces da sua casa. Porém muitos dos sacerdotes,
e levitas, e cabeças de famílias, já idosos, que viram a primeira casa,
choraram em alta voz quando à sua vista foram lançados os alicerces
desta casa; muitos, no entanto, levantaram as vozes com gritos de
alegria”.
Uns choraram, outros se alegraram. Quem chorou? Os idosos (v. 12) que
tinham visto o primeiro templo e agora estavam vendo a reconstrução do
segundo templo. Percebemos neste texto de Esdras que este choro não era de
alegria, mas era choro de tristeza mesmo. Porém, lemos na segunda parte do
versículo 12: “no entanto, levantaram as vozes com gritos de alegria”.
Primeiro os idosos choraram em alta voz quando viram os alicerces da casa.
Muitos, no entanto, os outros que não eram idosos e que não viram o
primeiro templo, não choraram, mas ficaram alegres. O que levou tristeza
àqueles idosos? Eles viram no passado a suntuosidade do templo de Salomão
e agora estavam vendo que os alicerces do templo reconstruído eram bem
menores do que o templo de Salomão. A beleza era inferior, a suntuosidade
era inferior, mas o profeta não permitiu que essa diminuição da glória externa
diminuísse a glória intrínseca essencial do templo. A linguagem é a mesma:
“A glória desta última casa será maior do que a da primeira”, ou seja, a
glória do segundo templo é maior que a glória do templo de Salomão. Não
porque o edifício fosse maior ou mais suntuoso, pois não o era. Então, em
que a glória era maior? Vemos claramente que não era no aspecto estético,
pois o templo era inferior ao de Salomão.
C
O TEMPLO EM
DANIEL 9: 24-27
“Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua
santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados,
para expiar a iniquidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão
e a profecia e para ungir o Santo dos Santos. Sabe e entende: desde a
saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido,
ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas; as praças e as
circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos. Depois das
sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já não estará; e o povo
de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim
será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são
determinadas. Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na
metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre
a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está
determinada, se derrame sobre ele”.
onsiderando ainda a reconstrução do templo, agora como recebedor da
profecia, Daniel também trará luz para este entendimento. Nossa
intenção não é discutir a questão das 70 semanas de Daniel. Vamos pegar o
fluxo do texto sem entrar na discussão das semanas.
Daniel estava preocupado e questionando sobre a restauração de Israel. E
quando lemos Jeremias, especialmente, entendemos que estava próxima a
restauração de Israel. Daniel, então, se dirige a Deus em oração e Deus
manda a resposta através do anjo. A resposta vem junto com um conceito
importante. Dentro da fala do anjo ao profeta, percebemos que a ideia de uma
cidade e do templo vai minguando. Qual era a grande preocupação de Daniel
se não a reconstrução de Jerusalém. Ele pergunta exatamente isso. E a
reconstrução de Jerusalém envolve a reconstrução do templo e de toda a
estrutura de Israel. Quando o profeta pede entendimento a Deus, sua resposta
diz respeito não só ao momento em que isso acontecerá, mas também para
onde a cidade e o templo apontam. A pergunta de Daniel estava relacionada
ao aspecto físico da terra e do templo, mas a resposta do anjo diz respeito a
um aspecto bem maior e superior, além da cidade e do templo no seu caráter
físico.
No versículo 26 ele diz que “Depois das sessenta e duas semanas, será
morto o Ungido e já não estará; e o povo de um príncipe que há de vir
destruirá a cidade e o santuário”. Veja que haverá destruição da cidade e do
templo. Continua: “…e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá
guerra; desolações são determinadas”. No v. 27 vemos que agora, depois do
templo destruído, não haverá mais sacrifício: “Ele fará firme aliança com
muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a
oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a
destruição, que está determinada, se derrame sobre ele”. Vejamos que na
metade da semana “fará cessar o sacrifício”. O Messias fará firme aliança
com muitos e nessa aliança que ele faz com seu povo, com “muitos” (e não
com todos), que é a redenção de todos os eleitos da terra, e quando a
destruição do templo acontece, logo depois não haverá mais necessidade de
sacrifícios. Então se encerra o texto. O sacrifício não se faz mais necessário.
O templo é agora desnecessário e o sentido da existência de uma “cidade
santa” desaparece.
Quando chega o mediador do pacto naturalmente encerra-se o sacrifício.
Vemos à luz do entendimento da revelação, que o pacto estabelecido com
Davi está atrelado ao tabernáculo — 2 Samuel 2:7. O templo é o aspecto fixo
do tabernáculo que era móvel. Por isso ao se falar do templo falamos do
tabernáculo — não há como se separar. Há uma unidade nesse pensamento.
Isso vai ganhando luz conceitual de tal forma que no fim da profecia, quando
chega aquele que faz o pacto, a cidade e o templo destruídos não são mais
necessários. Não haverá mais sacrifícios!
E
O TEMPLO NO NOVO TESTAMENTO
m nenhum lugar do Novo Testamento vamos encontrar essa ideia de
construção de um templo posterior à morte de Cristo. A igreja se reunia
nas casas dos irmãos (Atos). Não existe ordem apostólica nenhuma em
direção ao princípio de se construir templos suntuosos. Por que não havia este
princípio? Devemos nos lembrar do primeiro texto, onde se vê que o templo
era sinônimo de povo e de Cristo, pois apontava para Salomão o filho de
Deus, apontava para casa que Deus edificaria a Davi que era a sua
descendência.
João 2:18-19
No Evangelho de João 2:18-19, lemos: “Perguntaram-lhe, pois, os
judeus: Que sinal nos mostras, para fazeres estas coisas? Jesus lhes
respondeu: Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei”. O
contexto é do templo de Herodes, o templo reconstruído que foi melhorado
antes do nascimento de Cristo. “Replicaram os judeus: Em quarenta e seis
anos foi edificado este santuário, e tu, em três dias, o levantarás? Ele,
porém, se referia ao santuário do seu corpo” (v. 20-21). Jesus estava
identificando exatamente que o templo era ele. O Novo Testamento diz que
em Jesus, habita (katoike) corporalmente, toda a plenitude da divindade (Cl
2.9); Jesus tem a essência do ser de Deus. Sendo o próprio Deus, ali habita a
perfeição de Deus. A palavra “habitar” é usada para dizer onde exatamente
Deus habitava. O templo prefigurava a habitação de Deus. Jesus, sendo o
próprio Deus, é a habitação de Deus porque é o próprio Deus.
Por isso Ageu, olhando para uma construção inferior do templo, diz: “A
glória desse templo é maior do que a glória do templo de Salomão”. Porque
estava encerrando o período das sombras e estava se aproximando a chegada
de Cristo.
1 Co 6:18-19
Lemos ainda no Novo Testamento, 1 Co 6:18-19: “Fugi da impureza.
Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer é fora do corpo; mas aquele
que pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo. Acaso, não sabeis
que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual
tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?”. Nosso corpo é
templo do Espírito Santo. Olhando para Antigo Testamento vemos que o
templo era a descendência de Davi e que a casa era o Redentor, o Filho de
Davi, edificada e construída por ele. Salomão era descendência de Davi,
assim como Cristo.No Novo Testamento ninguém identifica o sentido pleno
da palavra “templo”. Jesus Cristo é o templo e nós somos templo também.
Essa identificação entre Cristo e a Igreja é uma identificação bíblica clara.
Não há como separar Jesus da Igreja. Cristo é o cabeça da Igreja e nós (a
Igreja) somos corpo.
Não há distinção na relação entre o Servo e o povo. Jesus morreu por seu
povo. Não podemos separar Cristo da Igreja, pois Cristo é seu cabeça. Mas o
templo somos nós também porque em nós habita o Espírito Santo de Deus,
mas não na sua plenitude como acontece com Cristo que é o próprio Deus.
Por isso somos o templo e também Cristo é o templo. Assim, não há mais
necessidade de templo físico para Deus “habitar”.
N
A RELAÇÃO DO NT COM O VT
o Velho Testamento podemos ver alguns versículos importantes.
Isaías 42:1
“Eis aqui o meu servo, a quem sustenho; o meu escolhido, em quem a
minha alma se compraz; pus sobre ele o meu Espírito, e ele promulgará o
direito para os gentios”. Quem é o servo aqui? É um povo ou é uma
pessoa? É uma pessoa! O texto se refere à pessoa de Cristo.
Isaías 44:1
“Agora, pois, ouve, ó Jacó, servo meu, ó Israel, a quem escolhi”. Quem é
o servo aqui? Um povo ou uma pessoa? O povo de Israel!
Isaías 49:3
“e me disse: Tu és o meu servo, és Israel, por quem hei de ser
glorificado”. O servo aqui é o povo de Israel.
Isaías 52: 13
“Eis que o meu Servo procederá com prudência; será exaltado e elevado
e será mui sublime. Como pasmaram muitos à vista dele (pois o seu aspecto
estava mui desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a sua aparência,
mais do que a dos outros filhos dos homens), assim causará admiração às
nações, e os reis fecharão a sua boca por causa dele; porque aquilo que não
lhes foi anunciado verão, e aquilo que não ouviram entenderão”.
Isaías 53
Jesus é apresentado como servo sofredor que morreu pelo seu povo (v. 6):
“Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo
caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos”. Aqui
o servo está identificado com aquele por quem ele morreu. Deus fez cair a
iniquidade de todos os eleitos sobre Cristo. Vemos que em um momento o
servo é Cristo e em outro ele é Israel. Os judeus interpretando o servo
sofredor do texto de Isaías 53 entendem que é Israel. Mas o problema sério
que eles têm é dizer quando Israel no seu sofrimento levou sobre si o pecado
de alguém. Este é o grande problema do texto para eles. Mas o fato é que
Jesus é o SERVO! Ele levou sobre Si o pecado do seu povo.
Identificamos que Cristo morre por seu povo. Cristo e seu povo estão
unidos! Por isso, no entendimento do Antigo Testamento, templo é a casa de
Davi construída pelo FILHO de Davi. O apóstolo Paulo, no Novo
Testamento, diz que Jesus Cristo é o templo. Em outras palavras, Paulo diz à
Igreja: “Vós sois o templo do Espírito Santo”.
A sombra cessou. Cristo chegou. Sabemos o que fazer agora com a ideia
da construção de um templo.
APLICAÇÕES
(1) Percebemos que quando Paulo escreve aos crentes da Igreja de Corinto
sobre a igreja como “templo”, “santuário” do Espírito, ele o faz no contexto
da santidade. Isto é, “vocês não devem entregar seus corpos à imoralidade,
pois são o templo do Senhor”. A santidade é relacionada com a ideia do
templo físico. No templo ninguém adentrava no santo dos santos, no lugar
santíssimo, porque morreria. Havia limites para seu acesso ao santo lugar,
pois a santidade de Deus ali era revelada — Deus estava presente. Quando
cremos no Senhor, o Pai e o Filho, pelo Espírito Santo, vêm habitar em nós.
Cristo habita em nós pelo Espírito. Ele é o selo da nossa salvação. Nós somos
o templo do Senhor, a Igreja é a habitação de Deus. Por isso a ideia de
santidade não é mais relacionada ao lugar físico, mas onde Deus habita. Deus
não habita nos limites físicos do edifício de qualquer igreja. Deus habita no
coração do crente e, por isso, está no meio da Igreja. A santidade tem de ser
particular, individual, mas como povo de Deus ela é essencialmente
corporativa e dessa forma somos o templo do Espírito Santo.
A ideia de uma santidade externa cessou, a santidade é do coração,
daquele que é chamado de templo do Senhor.
A Confissão de Fé, quando se refere ao pacto, diz no capítulo VII, seção
VI: “Sob o Evangelho, quando Cristo, a substância, se manifestou, as
ordenanças, nas quais este pacto é ministrado, passaram a ser a pregação da
Palavra e a administração dos Sacramentos do Batismo e da Ceia do
Senhor; por estas ordenanças, posto que em número menor e administradas
com mais simplicidade e menos glória externa, o pacto se manifesta com
mais plenitude, evidência e eficácia espiritual, a todas as nações — tanto aos
judeus como aos gentios. Isto é chamado o Novo Testamento. Não há, pois,
dois pactos da graça diferentes em substância, mas um e o mesmo sob várias
dispensações”.
Como é administrado o pacto no Velho Testamento? Por meio de figuras,
de sacrifícios, por meio do Cordeiro Pascoal, da circuncisão, enfim, por meio
destes elementos externos. Mas agora, no Novo Testamento, é administrado
através da pregação e dos sacramentos. Agora perdemos em pompa,
perdemos em visão externa e ganhamos na essência. As ordenanças agora são
em número menor e são administradas com mais simplicidade e menos glória
externa. No entanto, o pacto no N.T. se manifesta com mais plenitude,
perdendo em pompa e ganhando em simplicidade. Perde em número e ganha
em essência. O pacto se manifesta com mais plenitude, com mais evidência,
com eficácia espiritual a todas as nações, tanto a judeus como a gentios.
O entendimento desta verdade nos levará, inevitavelmente, a uma
mudança profunda na nossa estrutura eclesiástica. Não vamos nos alimentar
com a suntuosidade dos nossos templos, mas nossa característica agora é a
simplicidade. Quem é a Igreja? Quem é o templo? É Cristo e somos nós, por
isso devemos cuidar dos que fazem parte do “santuário” do Senhor e não de
uma estrutura física e externa, de um edifício e sua aparência estrutural.
(2) Temos de ter o entendimento do processo revelacional. Quanto mais
distante de Cristo, historicamente, mais necessário se tornam as sombras e os
tipos e símbolos. Quanto mais perto de Cristo, menor a necessidade de
sombras e tipos. Quando Cristo chega, as sombras se dissipam. Isso é muito
importante. O templo de Salomão era maior ou menor do que o templo
reconstruído no final do cativeiro? O templo de Salomão era maior. Mais
distante de Cristo, maior a sua estrutura física, maior o símbolo, maior a
suntuosidade, maior a beleza externa, maior a pompa, os grandes corais, as
extraordinárias práticas litúrgicas, as trombetas, etc. Quanto mais distante de
Cristo, mais necessárias se faziam estas coisas. No entanto, quanto mais perto
de Cristo, o templo reconstruído foi menor, mas a sua glória era maior, disse
o profeta. Por que era maior? Porque historicamente Cristo estava mais
próximo do que na época de Salomão. Quando Cristo chega, o templo é
destruído e ao terceiro dia reconstruído. Cristo chegou não há mais
necessidade desse templo, pois o templo é a igreja, somos nós.
Consequentemente cessaram as práticas daquele templo.
(3) No início falamos sobre dois grupos. Um é o grupo da criatividade e
outro é o do ritual, do simbolismo. Muitos acham bonitas aquelas vestimentas
sacerdotais, o cajado, ou seja, todo o aparato simbólico de algumas igrejas.
Outros admiram as práticas criativas na igreja, fruto da invenção humana.
Mas tudo isso é apenas sombra. Para que a sombra se a luz já se manifestou?
Não há mais santidade externa. Hoje, o ambiente dos templos locais não é
mais santo do que é o ambiente fora deles. Pensar diferente é pensar segundo
a ideia do Velho Testamento com seus simbolismos. Por isso não há nenhum
problema se o pastor fizer um culto debaixo de uma árvore. Poderia ser no
máximo imprudente, pois seria deixar um local apropriado para abrigar o
povo do sol ou da chuva. O templo acomoda e protege os irmãos e é mais
apropriado para uma reunião. Mas um lugar não é mais santo do

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