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A Igreja do Velho Testamento — Paulo Brasil Copyright © 2014 | Os Puritanos Transcrição e adaptação das palestras do Pr. Paulo Brasil proferidas por ocasião do Simpósio Os Puritanos em 2006 em Maragogi, Alagoas. É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação sem a autorização por escrito do editor, excetuando-se citações em resenhas desde que citada a fonte. Primeira edição em português: Setembro de 2014 Editor e revisor: Manoel Canuto Designer: Heraldo Almeida www.os-puritanos.com http://www.os-puritanos.com/ SUMÁRIO Capa Créditos SUMÁRIO #PARTE 1 — ISRAEL É CHAMADO DE IGREJA ANACRONISMO E PERTINÊNCIA O TEMA A FÉ EM HEBREUS 11:1-3 E 8 A FÉ EM HEBREUS 11:17-19 REVELAÇÃO OBJETIVA E SUBJETIVA IMPLICAÇÕES #PARTE 2 — A IGREJA DESDE MOISÉS ATÉ O EXÍLIO ORGANIZAÇÃO DA IGREJA NA ÉPOCA DE MOISÉS PRINCÍPIO DA REPRESENTAÇÃO A IGREJA DO EXÍLIO ATÉ O SENHOR JESUS CRISTO ORGANIZAÇÃO DA SINAGOGA #PARTE 3 — O TEMPLO E A IGREJA ENTENDENDO A ESTRUTURA REVELACIONAL O TEMPLO EM AGEU 2:9 O TEMPLO EM ESDRAS 3:10-12 O TEMPLO EM DANIEL 9: 24-27 O TEMPLO NO NOVO TESTAMENTO A RELAÇÃO DO NT COM O VT APLICAÇÕES Vídeo Nossos livros Mídias kindle:embed:0002?mime=image/jpg 1ª PARTE ISRAEL É CHAMADO DE IGREJA G ANACRONISMO E PERTINÊNCIA ostaria de dar início ao tema "A Igreja no Velho Testamento", observando preliminarmente duas questões importantes: anacronismo e pertinência. 1) Anacronismo O tema é muito importante tendo em vista as circunstâncias que envolvem a Igreja hoje. Mas, para muitos, pensar nele seria pensar num anacronismo. Ou seja, usar um termo fora da sua época. Muitos dizem que Igreja é algo apenas do Novo Testamento. Sendo assim, como poderíamos falar de Igreja no Velho Testamento? Bem, no meio reformado isso não seria problema, mas no meio não reformado esse é um problema muito sério, tendo em vista o entendimento errado que muitos têm ao fazer uma separação entre a Igreja e a nação de Israel. Estes têm dificuldades em encontrar o conceito de Igreja no Velho Testamento. Essa separação que se faz entre Israel e Igreja é algo extremamente prejudicial para a visão e unidade da Escritura Sagrada como um todo. No entanto, o tema é pertinente e não anacrônico; ao contrário, é uma expressão fundamental da teologia reformada e a expressão de sua verdade. Por ser uma teologia pactual, ela não faz distinção entre Velho e Novo Testamento no que diz respeito aos conceitos essenciais e não aos símbolos e às cerimônias. Estes foram cumpridos e abolidos em Cristo e não são praticados hoje. Os conceitos essenciais da Igreja são vistos no Antigo Testamento e esperamos nos referir a eles. 2) Pertinência Não é um anacronismo, mas algo que enfrentamos hoje. Como nós lidamos com o Antigo Testamento na Igreja? Temos encontrado um grande problema com a pregação veterotestamentária em nossas igrejas. A pregação no Velho Testamento, além de ser escassa por convicções equivocadas, ela é moralista na sua essência; não é redentiva, não é regeneradora, mas simplesmente uma exposição moral. Toma-se um texto do VT para se falar sobre a condenação de determinados pecados e como devemos viver com base em um padrão. Hoje não se vê na pregação no Velho Testamento a essência da natureza de Cristo e a obra de unidade que existe entre o Antigo e o Novo Testamento. Por isso, além de ser um tema dos nossos dias — e não estarmos usando nada fora do seu contexto, — estamos tratando de um tema extremamente pertinente. Certamente os irmãos que têm um entendimento de Israel distinto de Igreja, rejeitam rapidamente este assunto. Vamos observar o que a Palavra de Deus tem a dizer acerca deste assunto para que desfrutemos destas maravilhosas verdades redentivas reveladas de forma clara e essencial no Antigo Testamento. E O TEMA m que lugar na Escritura podemos afirmar que o povo do Antigo Testamento é chamado de Igreja? É interessante ver como os irmãos que têm dificuldade com este tema partem de uma hermenêutica literalista e por isso equivocada. Se não tem a palavra “igreja” com referência à Israel, então Israel não é igreja, dizem eles. Se não tem a palavra “Israel” para igreja, então igreja não é o Israel de Deus. Estes irmãos dizem que há necessidade de se ter uma expressão literal para a tese ser confirmada. Mas temos de ver a teologia como um todo. Vendo este princípio teológico pelo prisma da unidade da revelação, podemos abrir as Escrituras em um texto como Atos 7: 38 – “É este Moisés quem esteve na congregação no deserto, com o anjo que lhe falava no monte Sinai e com os nossos pais; o qual recebeu palavras vivas para no-las transmitir”. A palavra utilizada no texto – congregação – literalmente é a palavra grega usada para “Igreja” (eclesia). Lucas está dizendo aqui no texto o seguinte: “É este Moisés quem esteve na ‘igreja’ no deserto”. É exatamente o que Lucas está dizendo. O princípio é de que a igreja envolve o povo que se congregava no Antigo Testamento. Sabemos, à luz do Novo Testamento, que a igreja é formada pelos eleitos de Deus, os escolhidos do Senhor antes da fundação do mundo e esse povo eleito por Deus é regenerado, justificado, santificado e vive uma vida corporativa característica de um povo tirado de rumos distintos para um caminho comum. O Novo Testamento nos dá a visão muito clara de que os que pertencem à igreja do Senhor são aqueles que foram salvos, regenerados, santificados, convertidos. Se isso, então, é a essência da igreja, que pessoas foram chamadas por Deus da escravidão do pecado para a liberdade em Cristo, da morte para a vida para fazer a vontade de Deus, temos que entender que no Antigo Testamento estas coisas também aconteciam. Será que apenas a expressão, apenas o entendimento veterotestamentário da vocação de algumas pessoas e da visão de nação como povo de Deus, seria suficiente para excluir a ideia de que esta nação não era a nação que, escolhida por Deus, fosse regenerada, convertida, justificada, santificada para andar nos caminhos de Deus? Será que é uma visão correta afirmar que pelo fato de se ter uma nação específica no VT (Israel) temos uma igreja distinta no Novo Testamento onde povos de todas as raças estão envolvidos no número dos eleitos? Caminhemos para o seguinte entendimento: 1) Temos de encontrar no Velho Testamento e na revelação geral das Escrituras a verdade estabelecida de que o povo do VT cria nas mesmas coisas que nós cremos hoje, no mesmo Deus e nas mesmas verdades que cremos. 2) Temos de encontrar no Velho Testamento, em toda sua revelação, que este povo, além de tudo, não só cria como nós, mas também era um povo que esperava as mesmas promessas que nós esperamos. Se não unirmos isso, se não aceitarmos e compreendermos isso, teremos dificuldades de crer que Israel é a Igreja e que a Igreja é Israel. À luz deste princípio partimos desta direção entendendo a fé e a esperança como algo comum ao Velho Testamento e ao Novo Testamento. Antes de continuarmos, devemos dar uma explicação. Vamos citar alguns textos do Novo Testamento e muitos poderão pensar: O irmão vai falar de Igreja no Velho Testamento e, para isso, cita textos do Novo Testamento? Mas o melhor intérprete da Bíblia é ela mesma. Quem melhor interpreta o Antigo Testamento é a própria Bíblia. Se nos dirigimos ao NT para entender a interpretação do VT é porque partimos do princípio de que a verdadeira interpretação do Antigo Testamento está no Novo Testamento. Vejamos a seguir o conceito de fé em Hebreus 11:1-3 e 8. T A FÉ EM HEBREUS 11:1-3 E 8 “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem. Pois, pela fé, os antigos obtiveram bom testemunho. Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem” (vv. 1-3). emos aqui um conceito neotestamentário de fé. No v. 1 temos um paralelismo sinonímico. Paralelismo é uma característica da língua hebraica. Lembramos, porém, que os autores do Novo Testamento eram judeus na sua maioria e suaestrutura de escrita era obviamente judaica. Mesmo escrevendo em grego, o pensamento era judaico tanto quanto sua estrutura de escrita. Por isso temos este paralelismo que é uma forma de dizer a mesma verdade de maneira diferente. O que é fé? “Fé é a certeza de coisas que se esperam”. O que mais é fé? “A convicção de fatos que se não veem”. O que é sinônimo aqui? Aqui “certeza” é sinônimo de “convicção”; “coisas que se esperam” é sinônimo de “fatos que se não veem”. A fé está firmada não em dúvidas, mas em certezas, porém não naquilo que se vê. Impressionante! Até porque a própria raiz da palavra “FÉ”, na língua hebraica, se origina de uma palavra que na sua base, na sua múltipla utilização como palavra de uma língua, traz a ideia de verdade, firmeza, como uma árvore que bem plantada não se abala. Em hebraico a palavra “āman” de onde provém a palavra “ĕmûnâ” que é “fé” ou “fidelidade” e que vem da mesma raiz, tem um sentido de algo que está fincado e que não se abala. A palavra “fé” usada no Velho Testamento é usada agora no Novo Testamento como aquilo que não se abala e a convicção de coisas que não podemos ver. Aqui está o grande paradoxo. Percebemos que estamos diante de uma grande verdade! O autor da carta aos Hebreus nos dá o conceito de fé. Mas de modo interessante o autor recorre à criação para estabelecer o parâmetro do que podemos entender como fé e recorre a personagens do Velho Testamento. Começa falando de Abel e discorre para poder dizer que a fé é a exata convicção daquilo que não podemos ver. Ele diz que “pela fé Abel ofereceu mais excelente sacrifício...”. Estabelece-se, então, um princípio de que Abel já esperava algo que ele não via, mas sabia da sua existência. Nos parece ser este o princípio pelo fato de que nos vv. 8-10 deste capítulo Abraão vai ser assim também denominado. Está escrito: “Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia. Pela fé, peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa; porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hb 11:8-10). Foi dada a Abraão a promessa de entrar numa terra chamada “prometida”, sendo que esta terra “prometida” não era, na visão de Abraão, o fim para o qual estavam determinadas todas as coisas. Por quê? Porque segundo o texto ele aguardava a cidade que Deus havia edificado. Mas alguém poderia afirmar que no texto não há nada dizendo que a palavra “cidade” se refere a uma cidade celestial e que bem poderia estar se referindo à Jerusalém, à cidade santa. Se alguém não se convence com esses versículos devemos olhar mais à frente. “Pela fé, também, a própria Sara recebeu poder para ser mãe, não obstante o avançado de sua idade, pois teve por fiel aquele que lhe havia feito a promessa. Por isso, também de um, aliás já amortecido, saiu uma posteridade tão numerosa como as estrelas do céu e inumerável como a areia que está na praia do mar. Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra“ (vv.11- 13). Vejamos que “estes morreram na fé”, ou seja, morreram crendo “sem ter obtido a promessa”. “Vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Porque os que falam desse modo manifestam estar procurando uma pátria. E, se, na verdade, se lembrassem daquela de onde saíram, teriam oportunidade de voltar. Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade” (vv. 13b-16). A palavra cidade usada no texto é trazida de volta. Cidade aqui é sinônimo de pátria celestial. Percebemos que quando estas personagens do Velho Testamento eram chamadas por Deus, as suas vocações não eram para algo estritamente terreno, mas para algo superior. A própria terra de Israel nunca foi um fim em si mesmo. Ela apenas tipificava a pátria celestial. Segundo as palavras do autor da carta aos Hebreus, quando ele trata no capítulo 4 acerca do dia do Senhor, do dia de descanso, diz claramente que a terra de Israel não era o descanso que Deus havia dado a eles; porque se fosse não falaria de “outro dia” — “Ora, se Josué lhes houvesse dado descanso, não falaria, posteriormente, a respeito de outro dia” (Hb 4:8). E no v. 9 lemos: “Portanto, resta um repouso para o povo de Deus”. Aquela cidade tipificava a entrada na pátria celestial. Abraão chamado por Deus já cria e aguardava, segundo o autor aos Hebreus, uma pátria superior à terra prometida, pois esta era apenas um tipo e não um fim em si mesmo. Devemos nos lembrar do conceito estabelecido pelo autor da carta aos Hebreus que “fé é a certeza de coisas que se esperam e a convicção de fatos que se não veem”. Existe fé e esperança estabelecidas no Velho Testamento. Os chamados e vocacionados por Deus esperavam o mesmo que nós esperamos: a pátria celestial, a nova Jerusalém. A ideia atual de que, para a nação judaica a terra da Palestina foi posta como propósito final, é equivocada à luz de toda Escritura Sagrada. Porque para os filhos de Abraão, os que creram como Abraão creu, eles aguardam uma pátria celestial, a Nova Jerusalém, a cidade santa. No Velho Testamento a fé estava estabelecida, os crentes não viam, mas esperavam. Abraão creu na ressurreição dos mortos. Os críticos modernos afirmam que a doutrina da ressurreição não está estabelecida no Velho Testamento. Nos parece que isso é um grande equívoco porque, quando Jesus foi interpelado pelos saduceus, no Evangelho de Mateus, o Senhor lhes deu uma resposta. O texto nos fala: “Naquele dia, aproximaram-se dele alguns saduceus, que dizem não haver ressurreição, e lhe perguntaram: Mestre, Moisés disse: Se alguém morrer, não tendo filhos, seu irmão casará com a viúva e suscitará descendência ao falecido. Ora, havia entre nós sete irmãos. O primeiro, tendo casado, morreu e, não tendo descendência, deixou sua mulher a seu irmão; o mesmo sucedeu com o segundo, com o terceiro, até ao sétimo; depois de todos eles, morreu também a mulher. Portanto, na ressurreição, de qual dos sete será ela esposa? Porque todos a desposaram” (Mt 22:23-28). Jesus respondeu claramente: “Respondeu-lhes Jesus: Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus. Porque, na ressurreição, nem casam, nem se dão em casamento; são, porém, como os anjos no céu. E, quanto à ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos declarou: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? Ele não é Deus de mortos, e sim de vivos” (Mt 22:29-32). Jesus fala com base no texto do Velho Testamento quando diz que Deus é Deus de vivos e não de mortos. Ele disse: “Eu sou o Deus de Abraão, de Isaque e Jacó”. Jesus responde à questão dos saduceus, que eram contrários à ressurreição, citando o Velho Testamento. Certamente que Abraão, Isaque e Jacó já estavam mortos na época de Cristo. Por que Jesus diz que Deus é Deus de vivos e não de mortos? Porque eles estão vivos. Jesus disse a Marta: “Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (Mt 11:25). É a mesma fé estabelecida no Velho Testamento. A fé na ressurreição é estabelecida em Gênesis no capítulo 22. Deus prova a Abraão: “Depois dessas coisas, pôs Deus Abraão à prova e lhe disse: Abraão! Este lhe respondeu: Eis-me aqui! Acrescentou Deus: Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes, que eu te mostrarei. Levantou-se, pois, Abraão de madrugada e, tendo preparado o seu jumento, tomou consigo dois dos seus servos e a Isaque, seu filho; rachou lenha para o holocausto e foi para o lugar que Deus lhe havia indicado. Ao terceiro dia, erguendo Abraão os olhos, viu o lugar de longe. Então, disse a seus servos: Esperai aqui, com o jumento; eu e o rapaz iremos até lá e, havendo adorado, voltaremospara junto de vós” (Gn 22:1-5). Estas palavras não eram de alguém que desejava acalmar aos servos desesperados com a possibilidade da morte de Isaque, porque eles sabiam o que estava acontecendo. Porém Abraão diz aos servos “eu e o rapaz iremos até lá e, havendo adorado, voltaremos para junto de vós”. Temos de atentar para as palavras: “havendo adorado, voltaremos”. Vejamos o plural: Nós voltaremos! Ele não disse, eu voltarei. O que significa isso? Ele cria que se e o menino morresse Deus iria ressuscitá-lo. De onde tiramos isso? Voltaremos a Hebreus 11 e veremos claramente esta verdade. A A FÉ EM HEBREUS 11:17-19 “Pela fé, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque; estava mesmo para sacrificar o seu unigênito aquele que acolheu alegremente as promessas, a quem se tinha dito: Em Isaque será chamada a tua descendência; porque considerou que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo dentre os mortos, de onde também, figuradamente, o recobrou”. braão creu que Isaque iria ressuscitar. É a convicção daquilo que não vemos, é a certeza daquilo que nossos olhos não veem, mas é a certeza! Nunca vimos ninguém ressuscitar, mas cremos na ressurreição dos mortos. O mesmo princípio se aplica a Abrão. Ele nunca tinha visto ninguém ressuscitar, mas cria na ressurreição. A Igreja no Velho Testamento cria e estava fundamentada nos mesmos pilares que se fundamenta a Igreja do Novo Testamento. Nós cremos e esperamos naquilo que não vemos! Esse princípio da fé precisa ser melhor entendido. Como surgia a fé no Velho Testamento? Teremos de mencionar agora uma doutrina perniciosa e presente na igreja de hoje: O Dispensacionalismo. Através da tradição dispensacionalista teremos profunda dificuldade de olhar para o Velho Testamento e ver a conversão da mesma forma como a vemos no Novo Testamento. Para o dispensacionalismo o homem do Velho Testamento tinha uma estrutura diferente do homem no Novo Testamento. Se o homem do VT pudesse se arrepender sem a ação do Espírito Santo, então para que o Pentecostes? Não havia necessidade de Espírito Santo, pois o arrependimento seria algo humano. É óbvio que toda e qualquer ação de caráter regenerativo, salvífico, era operado pelo Espírito Santo de Deus para que eles cressem. Voltando ao texto que fala de Abel em Hebreus 11:4, vemos que ele ofereceu sacrifício a Deus pela fé. Se entendermos que o sacrifício oferecido por Abel foi através de uma fé distinta, diferente, não sendo pelo que lhe fora revelado, então, semelhantemente teremos de entender que a fé de Abraão não foi depositada no que lhe foi revelado. Mas o texto diz que Abraão creu. A mesma fé que Abraão teve é a mesma que Abel teve. É a mesma estrutura. E todos os eleitos têm esta mesma fé que é a mesma fé do povo de Deus na história, no VT ou no NT. Fé implica numa revelação de Deus. Só podemos crer naquilo que nos é revelado pela Palavra de Deus. Em Hebreus 4:1-3, lemos: “Temamos, portanto, que, sendo-nos deixada a promessa de entrar no descanso de Deus, suceda parecer que algum de vós tenha falhado. Porque também a nós foram anunciadas as boas-novas, como se deu com eles; mas a palavra que ouviram não lhes aproveitou, visto não ter sido acompanhada pela fé naqueles que a ouviram. Nós, porém, que cremos, entramos no descanso...”. No versículo 2 destacamos: “Porque também a nós foram anunciadas as boas-novas, como se deu com eles”. “Como se deu com eles”! Quem são “eles” aqui? São os crentes da antiga aliança, os crentes do Velho Testamento. Da mesma forma como aconteceu conosco, aconteceu com eles. A eles foram anunciadas as BOAS NOVAS! O EVANGELHO! Que coisa maravilhosa! O Evangelho, as Boas Novas, foram anunciadas aos crentes da antiga aliança. É necessário um comentário. Qual a distinção do Novo para o Velho Testamento? Não há distinção essencial, mas há distinção da relação entre aquilo que é figura, entre aquilo que é símbolo e o que é simbolizado; entre o que é tipo e o que é tipificado. Os crentes do Velho Testamento eram salvos pela revelação de Deus, objetiva e subjetiva (iluminação). Vemos isso com o grande teólogo reformado Dr. Geerhardus Vos no seu livro Teologia Bíblica (Biblical Theology) que é um livro extraordinário. Dr. Vos coloca o princípio da revelação assim: A revelação é objetiva e subjetiva. Vejamos já a seguir. R REVELAÇÃO OBJETIVA E SUBJETIVA evelação objetiva são os atos históricos de Deus, manifestados na própria história. Isto é, cada ato revelacional implica em um ato histórico. Exemplo: Jesus veio a este mundo. Isso é um ato histórico. Esta é uma revelação objetiva. Revelação subjetiva (Iluminação) é a revelação histórico-objetiva que é trazida ao entendimento do indivíduo, a regeneração, conversão. O que permanece hoje é a iluminação, pois a revelação objetiva cessou, pois não existe mais revelação histórica. Ela se encerrou com o Cânon. O que temos hoje é a iluminação que é trazida ao homem por meio da pregação histórico-objetiva de Deus que continua sendo proclamada e salvando o povo na história. Como Deus fez no Antigo Testamento, fez também no Novo Testamento e durante toda a história. O Velho Testamento junto com seus atos históricos não apenas revelava Deus historicamente (objetivamente), mas revelava Deus subjetivamente a um povo que Ele mesmo estava salvando. Paralela à ideia da revelação, está a ideia de conversão e salvação — Deus se revelava para redimir. Pensando dessa forma, cada momento da história, como a Páscoa, a circuncisão, o tabernáculo, o templo, enfim, todos estes elementos históricos que foram realidades no VT, traziam consigo a vontade revelada de Deus, a revelação redentora de Deus, salvando um povo que contínua e organicamente passava a conhecer a salvação. A Confissão de Fé de Westminster diz que aquela revelação era suficiente para salvar os eleitos de Deus no Velho Testamento. Dr. Geerhardus Vos se apodera deste ensino da Confissão para dizer que esta revelação era perfeita, não porque não precisasse de outra revelação para dar-lhe luz, mas porque aquela revelação estava ligada organicamente com aquele que era o centro de toda revelação de Deus, Jesus Cristo. Por isso, não temos medo de dizer, à luz de toda a Escritura Sagrada, que a fé que Abraão tinha, nós também a temos porque o mesmo Espírito opera em nós. A esperança que ele tinha nós a temos porque ouviu a mesma verdade — as boas novas do Evangelho. Gálatas 3:6 “É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos. De modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão”. Foi trazida a revelação de Deus — O Evangelho foi preanunciado. Isso é impressionante. Paulo enfrentava problemas na igreja da Galácia e estes problemas eram relacionados com a questão das obras que eram enfatizadas para a salvação. Então, Paulo se fundamenta em Abraão para dizer: “tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios”. Deus, para justificar pela fé, preanunciou o Evangelho, isto é, anunciou o Evangelho a Abraão! Para que houvesse justificação pela fé foi necessária a revelação do Evangelho que começou a ser pregado de modo inequívoco desde o início da história da revelação. E os que criam eram salvos, pois criam nas mesmas verdades, esperavam as mesmas promessas, tinham a mesma esperança. Eles criam na ressurreição como nós cremos, aguardavam uma pátria celestial como nós aguardamos. A Igreja no Velho Testamento é fundamentada no conceito da unidade de toda a Escritura Sagrada. Consequentemente é importante saber que a obra da regeneração no Novo Testamento se deu, não com uma raça, não com um povo étnico, não com descendentes carnais, mas com os da fé. Então, a quem Deus revelou a verdade, a quem Deus deu o dom da fé, a quem deu a verdadeira esperança, e a mesma crença que é nossa? Paulo responde a esta pergunta, vejamos: Romanos 11:1-5 “Pergunto,pois: terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo? De modo nenhum! Porque eu também sou israelita da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. Deus não rejeitou o seu povo, a quem de antemão conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura refere a respeito de Elias, como insta perante Deus contra Israel, dizendo: Senhor, mataram os teus profetas, arrasaram os teus altares, e só eu fiquei, e procuram tirar-me a vida. Que lhe disse, porém, a resposta divina? Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos diante de Baal. Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça”. A questão que Paulo levanta é simples. Deus rejeitou Seu povo? Não, de modo algum. Por quê? Porque “Eu sou israelita e fui salvo”. Agora Paulo dá o conceito para colocar tudo no prumo certo. Antes estava estabelecido o conceito de que Israel era o povo eleito apenas como nação, como raça. Mas Paulo diz que isso é um equívoco. Quem é o verdadeiro israelita? Não é simplesmente o que nasce em Israel. Paulo agora se refere tanto ao povo do VT quanto ao do NT e diz que ambos estavam na mesma situação; e afirma: “no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça”. Isto é, assim como foi no Antigo Testamento, é agora no novo. Nada mudou! É a mesma coisa. No Antigo Testamento haviam os eleitos segundo a graça de Deus. Não era porque nasciam em Israel que eles eram salvos, pois haviam os eleitos dentre o povo de Israel. Por isso Paulo cita Elias que dissera: “Senhor, eu estou só!”. Mas Deus lhe diz: “Nada disso, Eu reservei para mim sete mil homens”. Ou seja, “Eu reservei para mim os que são fiéis. Dentro desta nação existem sete mil que não se dobraram diante de Baal”. E Paulo conclui dizendo que é assim também hoje que vive um remanescente segundo a eleição da graça. Como foi no Antigo Testamento, é assim agora no Novo Testamento, pois os eleitos são salvos pela graça. E esses eleitos são salvos através da revelação da verdade. E essa revelação é dada aos que recebem o dom da fé, fé que leva à esperança. A Igreja do Antigo Testamento é o povo de Deus do Novo Testamento. Somos salvos porque fomos escolhidos por Deus antes da fundação do mundo, assim como os crentes do Antigo Testamento o foram. Fomos salvos porque a nós foi revelada a palavra objetivo-histórica de Deus e nós cremos tanto quanto eles creram nesta palavra revelada. Eles esperavam a pátria celestial e nós também esperamos. Eles criam na ressurreição e nós também cremos. Os crentes do Velho e do Novo Testamento historicamente receberam os mesmos benefícios. A Igreja eleita do Antigo Testamento recebeu a revelação, creu e, com fé, esperou. Nós que somos a igreja do Novo Testamento somos exatamente a mesma coisa hoje. A igreja existia no Antigo Testamento. Q IMPLICAÇÕES uais as implicações desta verdade para nossa vida? 1) Uma palavra aos pastores e à liderança. Aos pregadores da Palavra que desejam cada dia aprender mais da Escritura, algumas mudanças são necessárias. Abandonem a pregação apenas moralista do Antigo Testamento e preguem a redenção que lá está. Pregue Cristo no Antigo Testamento! Exalte o nome de Cristo no Antigo Testamento! Exalte o Cristo que operou no povo do Velho Testamento da mesma forma como faz hoje, pelo Seu Espírito. Ao Ministro da Palavra dizemos que ele abandone a pregação apenas moralista no VT como é comum em nossos dias. Pregue a ética que provém da doutrina, mas não moralismo. Terá de evitar a visão dispensacionalista que afirma que o Antigo Testamento apenas serve de exemplo para nós. Errado! O Antigo Testamento é muito mais profundo que isso. É a revelação da redenção histórica de Deus. Para os pastores e pregadores do Evangelho essa será a primeira e fundamental mudança que ocorrerá em suas vidas. 2) A liderança da igreja terá de buscar o entendimento da unidade em toda a Escritura Sagrada. Há muito tempo nós brasileiros trabalhamos contra isso. Na ignorância, acreditávamos em uma separação entre Israel e Igreja, e, mesmo não sendo de fato dispensacionalistas, vivíamos recebendo grande quantidade de ideias dispensacionalistas na nossa teologia. Dessa forma não conseguíamos ver a unidade da Escritura. Tenho de dizer algo duro, mas que é a verdade. O pastor verdadeiramente reformado, presbiteriano, está equivocado ao defender ideias inconsistentes às suas convicções. Pastores e líderes que não creem em um único pacto, o pacto da graça (após a queda), que não crer nessa unidade da Escritura, naturalmente vai trabalhar de modo a fazer um desserviço no ensino da Igreja. Por isso a grande importância de falarmos sobre a circuncisão, batismo infantil, a páscoa, a ceia do Senhor, o templo e seu lugar no Novo Testamento, para podermos entender que dentro da doutrina da unidade escriturística existe um processo de entendimento e que a simbologia do VT foi trazida à plenitude no NT. Não é que o foco tenha sido mudado, não, mas é que chegamos ao ápice — Cristo — e quando temos a unidade, esse pensamento que apresentamos aqui, nos fará ver a Escritura como uma única verdade. Veremos como uma unidade. O pastor que deseja se aprofundar na doutrina, como pregador, deverá mostrar que na redenção haverá mudança de vida e necessidade de obediência à Lei. Os pastores aprenderão que, depois de redimidos, nós amamos a Lei. 3) O crente desejoso de aprender mais profundamente a doutrina, verá que ele é salvo não pela obediência à Lei, mas pela graça de Deus. Isso trará uma grande mudança na vida da igreja, porque tanto no VT como no NT temos uma mesma mensagem: justificação pela fé somente e não por obras. O texto de Gálatas claramente diz que “tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão”. Que Evangelho? O Evangelho da justificação pela fé somente. Essa foi a mesma verdade da Igreja do Velho Testamento e que está estabelecida na Igreja do Novo Testamento. A Igreja de hoje vai ter de rever seu enfoque, sua perspectiva e seus conceitos serão aprofundados quando retornar à posição confessional, o que talvez nunca tenha conhecido: A Confissão de Fé de Westmister. Digo isso com muita seriedade. Fiz meu bacharelado em teologia em um Seminário Presbiteriano e nunca estudei nossos símbolos de Fé. A liderança presbiteriana está, com algumas exceções, ignorante da sua confessionalidade, do seu conhecimento doutrinário sobre a Igreja. Por isso, a melhor palavra que se adequa à nossa situação não é “retornar” e sim “começar” a nossa eclesiologia de forma bíblica e reformada. Vamos aos nossos símbolos de fé e veremos que lá estão estabelecidos estes princípios que expusemos aqui. A doutrina do Pacto, a doutrina clara e inequívoca de que os crentes do VT eram salvos pela revelação graciosa de Deus tanto quanto os crentes do Novo Testamento. Veremos que a distinção que apenas fazemos é que no Velho Testamento o evangelho era visto através de uma revelação manifesta nos símbolos e tipos, porém eram perfeitos porque estavam conectados à Cristo. Dessa forma vamos perceber com temor e piedade diante de Deus, a mudança que estas verdades acarretarão à vida da Igreja de hoje. Isso se faz necessário: abandonarmos os erros e nos apegarmos à verdade. 2ª PARTE A IGREJA DESDE MOISÉS ATÉ O EXÍLIO O ORGANIZAÇÃO DA IGREJA NA ÉPOCA DE MOISÉS a) Os anciãos s hebreus, que tinham um sistema patriarcal, como todas as tribos desde os primórdios, reconheceram o sistema de anciãos. Vemos a primeira referência da palavra “ancião” usada para o mordomo de Abraão. Gênesis 24:2 nos mostra duas coisas importantes: (1) O ancião da casa (servo) e (2) O governo que ele exerce sobre esta casa. “Disse Abraão ao seu mais antigo servo da casa, que governava tudo o que possuía: Põe a mão por baixo da minha coxa” (Ex 24:2). Estas descrições do servo de Abraão nos ensinam algumas coisas. Sem dúvida ele era o servo mais antigo na casa do patriarca; tinha autoridade para governar os outros servos. Aqui neste ponto, uma referência a um ancião podeser simplesmente uma referência a uma pessoa que tem idade avançada, uma pessoa de mais idade. Mas, através do tempo, este termo chegou a descrever uma posição de ofício. Por exemplo, os anciãos em Israel já estavam presentes na época do êxodo. Eles eram os representantes do povo e seu governo era reconhecido por ele. Temos um registro disso em Êxodo 3:16: “Vai, ajunta os anciãos de Israel e dize-lhes: O Senhor, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó, me apareceu, dizendo: Em verdade vos tenho visitado, e visto o que vos tem sido feito no Egito”. Ainda temos outras referências em Êxodo 4:29 e 12:21. Em Êxodo 12:21, vemos que a páscoa foi instituída pelos presbíteros, os anciãos: “Chamou, pois, Moisés a todos os anciãos de Israel, e lhes disse: Escolhei e tomai cordeiros segundo as vossas famílias, e imolai a páscoa”. A instituição fundamental do sistema de anciãos formou a base natural e permanente de todas as outras organizações de Israel. Com isso, cresceu o espírito de reverência para com a Lei e a justiça e uma reverência e respeito para com uma autoridade legalmente constituída. Toda cidade e pequena aldeia, tinham um pequeno corpo de representantes naturais através dos anciãos naquele lugar. É importante ver que estes anciãos agiam como um corpo e não individualmente, quando ouviam e julgavam assuntos segundo a Palavra e a Lei de Deus. Eles foram escolhidos pelo povo. Pelo menos foram estabelecidos como anciãos com o consentimento do povo. Esta é uma colocação muito importante para prestarmos atenção porque todas as outras instituições nacionais desapareceram quando os dois reinos foram vencidos, mas somente o sistema de anciãos sobreviveu. Esta instituição tinha raízes tão profundas na vida de Israel, desde a época dos patriarcas, que era impossível tirá-la de sua vida. Na época do exílio os anciãos se ajuntaram na presença de Ezequiel. Em várias ocasiões os anciãos foram a Ezequiel para indagar sobre a Palavra de Deus (Ez 14:1-6; 20:1-5; 20:27). Dois escoceses escreveram acerca da Igreja: James Bannerman escreveu um livro chamado “A Igreja de Cristo” (contém dois volumes e é uma obra excelente)[1]. Seu filho, Douglas Bannerman, escreveu outro livro com o título: A Doutrina Bíblica Sobre a Igreja. Este livro é um estudo bíblico e teológico acerca da Igreja baseado nas Escrituras — recomendo a leitura destes livros. Douglas Bannerman apresenta algumas citações dos rabinos que falam sobre os anciãos. Estas citações mostram a posição importante que este ofício tinha no pensamento judaico. Eis algumas citações destes teólogos judaicos (rabinos) do passado: 1) Devemos tratar um ancião como se fosse um príncipe. 2) Em todos os tempos são os anciãos que mantém a existência de Israel. 3) Moisés comunicou o Espírito Santo aos anciãos. 4) Desde esta época cada um ascendeu a lâmpada uns dos outros. 5) Onde os juízes fazem julgamento reto ali tem a presença do próprio Deus. 6) A responsabilidade dos anciãos é a maior. Os presbíteros devem refletir nesta afirmação: 7) Em cima dos anciãos está pendurada uma espada e em baixo o inferno sempre está aberto. Foi assim que os judeus entenderam a séria e grave responsabilidade dos anciãos. Exatamente por esta razão, um corpo, um colégio de anciãos foi estabelecido para que esta responsabilidade fosse compartilhada entre eles. Este último ponto tem grande importância. O povo judeu entendeu que teria de haver um conselho unido de anciãos que tomaria as decisões. Teria de ser a decisão unânime dos mais sábios e mais aptos para decidir. 1 Lançado em Português pela Editora Os Puritanos em 2014 e disponível em: https://www.amazon.com.br/dp/B00HNX4UEE — N.E. https://www.amazon.com.br/dp/B00HNX4UEE U PRINCÍPIO DA REPRESENTAÇÃO m dos conceitos que surge deste princípio de se ter anciãos é o princípio da representação. Este princípio de representação nós podemos ver no sistema de anciãos e em muitas outras partes da vida de Israel. Para ajudar a Moisés no trabalho prático e para servir como governador ou juiz sobre o povo, o sogro de Moisés, Jetro, fez a proposta de estabelecer um sistema de tribunais em vários níveis. Apesar da palavra ancião não ser especificamente usada neste contexto, ambas as qualificações para estes juízes e seus trabalhos se encaixam com o que é o entendimento acerca do ofício de ancião. Deveriam ser homens aptos, capazes, que temiam a Deus, homens que apoiavam a verdade, que odiavam o lucro ganho por meios injustos. Estas qualificações espirituais são as mesmas que o apóstolo Paulo exige dos presbíteros no Novo Testamento e até hoje. Além destas qualificações eles deveriam se tornar responsáveis pelo governo para instruir o povo e para julgá-lo. Estas mesmas funções dos anciãos do VT também são recomendadas aos presbíteros do Novo Testamento. Apesar deste conselho do sogro de Moisés parecer algo de homem para homem, seu mentor, Jetro, o coloca debaixo das mãos de Deus. Ele diz: “Deus seja contigo” (Ex. 18:19). Com certeza era uma necessidade para Moisés estabelecer um sistema de tribunais para que ele pudesse somente tratar dos assuntos mais difíceis. Os outros assuntos seriam tratados nos níveis mais baixos. Podemos ver este mesmo princípio de uma forma um pouco diferente quando da provisão de um tribunal no capítulo 15 de Atos. Em Êx. 18:13-27 lemos: “13 No dia seguinte assentou-se Moisés para julgar o povo; e o povo estava em pé junto de Moisés desde a manhã até a tarde. 14 Vendo, pois, o sogro de Moisés tudo o que ele fazia ao povo, perguntou: Que é isto que tu fazes ao povo? por que te assentas só, permanecendo todo o povo junto de ti desde a manhã até a tarde? 15 Respondeu Moisés a seu sogro: É porque o povo vem a mim para consultar a Deus. 16 Quando eles têm alguma questão, vêm a mim; e eu julgo entre um e outro e lhes declaro os estatutos de Deus e as suas leis. 17 O sogro de Moisés, porém, lhe replicou: Não é bom o que fazes. 18 certamente desfalecerás, assim tu, como este povo que está contigo; porque isto te é pesado demais; tu só não o podes fazer. 19 Ouve agora a minha voz; eu te aconselharei, e seja Deus contigo: sê tu pelo povo diante de Deus, e leva tu as causas a Deus; 20 ensinar-lhes-ás os estatutos e as leis, e lhes mostrarás o caminho em que devem andar, e a obra que devem fazer. 21 Além disto procurarás dentre todo o povo homens de capacidade, tementes a Deus, homens verazes, que aborreçam a avareza, e os porás sobre eles por chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez; 22 e julguem eles o povo em todo o tempo. Que a ti tragam toda causa grave, mas toda causa pequena eles mesmos a julguem; assim a ti mesmo te aliviarás da carga, e eles a levarão contigo. 23 Se isto fizeres, e Deus to mandar, poderás então subsistir; assim também todo este povo irá em paz para o seu lugar. 24 E Moisés deu ouvidos à voz de seu sogro, e fez tudo quanto este lhe dissera; 25 e escolheu Moisés homens capazes dentre todo o Israel, e os pôs por cabeças sobre o povo: chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez. 26 Estes, pois, julgaram o povo em todo o tempo; as causas graves eles as trouxeram a Moisés; mas toda causa pequena, julgaram-na eles mesmos. 27 Então despediu Moisés a seu sogro, o qual se foi para a sua terra”. Podemos ver aqui a estrutura básica de um sistema graduado de tribunais. É quase a mesma estrutura que temos no Presbiterianismo moderno: o Conselho local, o Presbitério, o Sínodo e a Assembleia Geral. O capítulo 11 de Números nos dá um passo importante na organização da comunidade. Ali temos a nomeação de setenta homens (anciãos) que já eram “presbíteros”. Eles eram um tipo de executivos permanentes, distintos do corpo geral de anciãos. O Espírito que estava sobre Moisés foi dado a eles: “Disse o Senhor a Moisés: Ajunta-me setenta homens dos anciãos de Israel, que sabes serem anciãos e superintendentes do povo; e os trarás perante a tenda da congregação, para que assistam ali contigo. Então, descerei a ali falarei contigo;tirarei do Espírito que está sobre ti e o porei sobre eles; e contigo levarão a carga do povo, para que não a leves tu somente” (Nm. 11:16-17; ). “Saiu, pois, Moisés, e referiu ao povo as palavras do Senhor, e ajuntou setenta homens dos anciãos do povo, e os pôs ao redor da tenda. Então, o Senhor desceu na nuvem e lhe falou; e, tirando do Espírito que estava sobre ele, o pôs sobre aqueles setenta anciãos; quando o Espírito repousou sobre eles, profetizaram; mas, depois, nunca mais” (vv. 24-25). Samuel Miller, que escreveu “O Presbítero Regente” (Editora Os Puritanos), estudando estes versículos e outros, disse que, à luz destas passagens, parece que se tinha setenta anciãos sobre a nação. Além deste, também havia anciãos sobre mil, sobre grupos de cem, de cinquenta e de dez (Êx. 18:21). Eles tinham o dever de fazer inspeção e de governar em seu lugar específico. Novamente achamos pessoas que estão supervisionando e governando o povo e que têm o título de anciãos. Na época de Josué, eles estavam em todas as ocasiões públicas; estavam agindo no seu caráter de ofício como anciãos. Também durante o período dos Juízes, na época dos Reis; especialmente nas épocas mais abençoadas e alegres do domínio dos reis. Provavelmente, também, durante o cativeiro Babilônico e com certeza no período quando voltaram do cativeiro para sua própria terra. Então, temos este sistema de anciãos durante todas estas épocas até na instituição da estrutura da Sinagoga, como meio para instruir o povo e local para a adoração a Deus. A ideia de um governo próprio foi incentivado, parte pelo ofício de ancião e parte do princípio de representação. Debaixo do sistema de Sinagoga que se desenvolveu mais tarde, estes anciãos foram eleitos, escolhidos pelo povo. Ou pelo menos nomeados com a aprovação do povo. Este princípio de representação incentivou a se ter um censo de unidade. Ao povo foi falado e eles falaram por meio dos presbíteros ou anciãos. O que os anciãos fizeram foi descrito como o que a congregação tinha feito, pois os anciãos representavam a congregação. Em Números 35 vemos uma provisão para aquela pessoa que tinha de fugir para uma cidade de refúgio por ter morto, por acidente, alguém, por exemplo. Nos vv. 24-25, lemos que: “então, a congregação julgará entre o matador e o vingador do sangue, segundo estas leis e livrará o homicida da mão do vingador do sangue, e o fará voltar à sua cidade de refúgio, onde se tinha acolhido; ali, ficará até a morte do sumo sacerdote, que foi ungido com o santo óleo”. Não devemos ver isto como toda a congregação de Israel julgando este homem, mas isto se referia aos anciãos como era o costume. A decisão dos anciãos era o ato da congregação, mesmo se a congregação não concordasse com os anciãos. Mas, algumas vezes uma reação negativa do povo não concordando com a decisão dos anciãos levava a uma modificação desta decisão. Vemos, então, que eles não eram senhores que se punham na condição de dominadores do povo, mas eram seus representantes. Josué 9 trata dos Gibeonitas que fizeram o pacto de paz com os anciãos: “Então, todos os príncipes disseram a toda a congregação: Nós lhes juramos pelo Senhor, Deus de Israel; por isso, não podemos tocar-lhes. Isto, porém, lhes faremos: Conservar-lhes-emos a vida, para que não haja grande ira sobre nós, por causa do juramento que já lhes fizemos. Disseram-lhes, pois, os príncipes: Vivam. E se tornaram rachadores de lenha e tiradores de água para toda a congregação, como os príncipes lhes haviam dito”. Devemos entender que os anciãos não deveriam ter feito este pacto com os Gibeonitas. Eles deveriam ter destruído este povo, mas havendo feito um pacto com eles, em nome de Deus, e com juramento, não poderiam mais destruí-los. No entanto, a reação do povo (v. 18) deu resultado e levou a uma modificação na decisão dos anciãos (príncipes). Diante da reação do povo, os Gibeonitas foram aceitos pelos anciãos como rachadores de lenha e tiradores de água. Na sua época, Douglas Bannerman concluiu com esta colocação de forma resumida: “Debaixo da orientação do grande pastor de Israel, seu povo era ensinado mais e mais que os direitos e interesses comuns de todos devem ser tratados com um conselho comum; com um conselho e ação comuns dos mais sábios e mais piedosos dos seus irmãos. O que preserva a todos deve ser feito com todo esforço possível com o conhecimento e consentimento de todos. Na assembleia de Israel, que também era a assembleia do Senhor, todo Israel deveria ser representado. Naquela assembleia a voz de Israel, a voz de Deus deveria ser ouvida”. Estes princípios básicos de governo bíblico também permanecem na época da Igreja no Novo Testamento. Em tudo isso já vemos a preparação de Deus para a Igreja que Ele estenderia muito além das fronteiras de uma única nação. A A IGREJA DO EXÍLIO ATÉ O SENHOR JESUS CRISTO b) A Sinagoga instituição mais importante que vemos nesta época é a Sinagoga. Vejamos as características gerais da Sinagoga. Quando chegamos na época do Novo Testamento ela já está solidamente estabelecida. Tiago em Atos 15:21 fala da antiguidade da Sinagoga: “Porque Moisés tem, em cada cidade, desde tempos antigos, os que o pregam nas sinagogas, onde é lido todos os sábados”. A origem exata da sinagoga não é conhecida, é incerta. Segundo o Targum Palestiniano, que é um comentário antigo sobre o VT, tem uma referência às instruções e orientações que devem ser repetidas na Sinagoga no capítulo 18 de Êxodo versículo 20: “...ensina-lhes os estatutos e as leis e faze-lhes saber o caminho em que devem andar e a obra que devem fazer”. E este comentário (Targum) sobre 1 Cr 16:39 diz que o lugar onde aconteceu uma grande oferta, num lugar chamado Gibeon, era uma Sinagoga. Philo e Josefo disseram que a Sinagoga foi instituída por Moisés. Mas este fato não é claro no Pentateuco. A maioria dos estudiosos acha que foi durante a época do exílio que a Sinagoga foi instituída com o povo sendo tirado de sua própria terra e colocado em terra estrangeira. Eles, com certeza, devem ter sentido necessidade de cultivar e guardar a verdadeira religião. Foram tirados e excluídos do templo e do sistema sacrificial. Desta forma um significado maior seria dado para se ler e ouvir a Palavra de Deus e para se receber instrução religiosa. Mas, poderíamos pensar que o povo também se reunia em lugares comuns para a adoração no sábado. Temos algumas pistas no livro de Ezequiel que mostram estas coisas acontecendo. “No sexto ano, no sexto mês, aos cinco dias do mês, estando eu sentado em minha casa, e os anciãos de Judá assentados diante de mim, sucedeu que ali a mão do Senhor Deus caiu sobre mim” (Ez 8:1) Os anciãos foram falar com Ezequiel para receber uma palavra da parte de Deus acerca da situação de Jerusalém. Aqui temos o início, a raiz, que é a reunião dos anciãos para ouvir a exposição da Palavra de Deus pelo profeta. E quando eles voltam do cativeiro para a terra de Canaã o serviço de adoração que Esdras dirigiu é muito semelhante ao serviço da Sinagoga. Em Neemias 8:1-3, lemos: “Em chegando o sétimo mês, e estando os filhos de Israel nas suas cidades, todo o povo se ajuntou como um só homem, na praça, diante da Porta das Águas; e disseram a Esdras, o escriba, que trouxessem o livro da lei de Moisés, que o Senhor tinha prescrito a Israel. Esdras, o sacerdote, trouxe a lei perante a congregação, tanto de homens como de mulheres e de todos os que eram capazes de entender o que ouviam. Era o primeiro dia do sétimo mês. E leu no livro, diante da praça, que está fronteira à Porta das Águas, desde à alva até ao meio-dia, perante homens e mulheres e os que podiam entender; e todo o povo tinha os ouvidos atentos ao livro da lei...”. Ainda nos vv. 5-6, 8: “Esdras abriu o livro à vista de todo o povo, porque estava acima dele; abrindo-o ele, todo o povo se pôs em pé. Esdras bendisse ao Senhor, o grande Deus; e todo o povo respondeu: Amém! Amém! –, levantando as mãos; inclinaram-se e adoraram o Senhor, com o rosto em terra ... Leram no livro, nalei de Deus, claramente, dando explicações, de maneira que entendessem o que se lia”. A leitura e exposição das Escrituras era o que Esdras estava fazendo naquela ocasião. Se formos a uma Sinagoga judaica na sexta à noite eles farão uma leitura, darão uma explicação das Sagradas Escrituras e louvarão com cânticos. Mas, essencialmente é um culto que é, em todos os aspectos, muito semelhante ao culto da Igreja Presbiteriana hoje.[ 2 ] Com a restauração do templo em Jerusalém não havia necessidade para Sinagogas na Palestina. Ao lermos os livros dos Macabeus não achamos referência à presença de Sinagogas. Mas, por outro lado, na dispersão dos judeus, passando a viver em outros países, houve um grande crescimento no número das Sinagogas, pois não havia permissão de se realizar sacrifícios fora do templo de Jerusalém. Mas, eventualmente, através do tempo, as sinagogas foram introduzidas na terra da Palestina em todas as aldeias e chegavam a ter mais do que uma nas cidades maiores. 2 Se for uma igreja fiel, pois, infelizmente, hoje, nem todos os pastores e presbíteros de igrejas Presbiterianas locais cumprem seus votos de fidelidade aos padrões confessionais — NE). O ORGANIZAÇÃO DA SINAGOGA 1) Anciãos governo da Sinagoga estava nas mãos de um pequeno Conselho de anciãos escolhido pelo povo ou pelo Sinédrio, com aprovação da congregação. Quando um dos anciãos (presbíteros) tinha de ensinar, ele era consagrado a este dever com a imposição das mãos dos anciãos (presbíteros). O fórum menor para tomar uma decisão judicial era constituído por três presbíteros (anciãos). Para tomar uma decisão disciplinar não era possível apenas com a participação de apenas um homem ou mesmo com dois, mas eram necessários três anciãos. No meio destes oficiais, destes anciãos da Sinagoga, havia um homem[3] (deputado) que se chamava Sheliach Tsibbur. Ele tinha a responsabilidade de dirigir as orações públicas representando a congregação em oração. Vale a pena notar como fato interessante que o sacerdote judaico não tinha em si um lugar especial ou direitos especiais na Sinagoga. Ao contrário, era norma de que ninguém poderia entrar na Sinagoga durante a adoração (culto) com a vestimenta de sacerdote. A única vez que o sacerdote recebia algum tipo de reconhecimento era na hora da bênção. Se havia no meio um sacerdote, ele era chamado para dar a bênção de Arão à congregação. A congregação respondia dizendo, amém. Se não havia sacerdote o Sheliach Tsibbur dava a bênção com uma oração. Havia também um presidente dos anciãos. Em cada corpo de anciãos havia um presidente. Era possível ele ser eleito, mas também era possível tirá-lo pela vontade do conselho. Em outras palavras, o fato de ser presidente não o colocava num nível maior do que os outros anciãos. Ele permanecia um ancião enquanto mantivesse sua dignidade de ofício. 2) As Funções dos Anciãos Em primeiro lugar, o ensino. Surgiu um grupo de professores muito bem preparados que se chamavam escribas. Eles foram treinados especialmente na Lei e na sua interpretação. Esdras era um sacerdote e um escriba. Os escribas, em todas as congregações, eram aqueles que, em meio aos anciãos, tinham uma qualificação maior para falar sobre os assuntos religiosos. Normalmente eram eles que tinham o dever de falar expondo as Escrituras nos sábados. Segundo. Tinham o controle (governo) de todas as coisas que eram relacionadas com a adoração, disciplina dos membros, gerenciamento das finanças e cuidado dos pobres. Uma disciplina muito rigorosa foi exercida como a excomunhão (como última instância). Mas também era possível ser aplicado um castigo físico, como chicotear. Jesus advertiu os discípulos que eles seriam chicoteados nas sinagogas. Temos muito mais material que fala a respeito das Sinagogas no mundo inteiro, especialmente em Jerusalém. Mas vamos para as conclusões gerais do sistema de sinagogas. Conclusões (Sinagogas): 1) Transição do simbólico para o real, na adoração. Da ideia de substituição para o que é direto. Uma transição da adoração que ficava nas mãos dos sacerdotes para a adoração nas mãos do povo. Esta adoração do povo foi dirigida por homens escolhidos pela própria congregação. 2) Uma transição da adoração local, nacional, para a adoração universal. Na época de Cristo aqui na terra o culto da Sinagoga era em todos os lugares. 3) O lugar central no culto era dado para a revelação escrita da graça de Deus, da vontade de Deus para os homens — as Sagradas Escrituras. 4) Os direitos e deveres de todos os membros eram enfatizados. Mas não havia uma hierarquia no governo. Os anciãos foram selecionados pelo povo sem necessidade de ser de uma família ou descendência específica. 5) Uma organização simples, mas muito forte, era desenvolvida. Este sistema era do tipo presbiteriano representativo. Este sistema representativo era visto em todos os lugares e funcionava no mundo inteiro. Quando vemos o melhor do sistema da Sinagoga vemos um governo do mais alto nível reconhecendo a importância e o destaque daqueles que são os mais sábios e capazes para governar, juntando um conselho de governadores, respeitando a expressão, vontade e respeito do povo. Quando pensamos sobre os judeus em todos os países do mundo daquela época, o culto da Sinagoga ajudou para se ter uma unidade coletiva na comunhão religiosa de Israel. A conclusão a que chegamos é que no Novo Testamento vemos que a Igreja adotou muito das coisas que surgiram no culto da Sinagoga e da Igreja no Velho Testamento. 3 É importante perceber que, embora a mulher exerça um papel importante na igreja, esta tarefa nunca foi dada a elas — NE. 3ª PARTE O TEMPLO E A IGREJA P ENTENDENDO A ESTRUTURA REVELACIONAL “A glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz o SENHOR dos Exércitos; e, neste lugar, darei a paz, diz o SENHOR dos Exércitos” — Ageu 2:9. ara aqueles que estão buscando um entendimento da Igreja no Velho e no Novo Testamento vamos considerar aqui um princípio de interpretação no qual não só o templo de Salomão está inserido, mas todas as instituições veterotestamentárias. Se entendermos o processo de interpretação que envolve o templo, entenderemos também o processo das instituições do VT. Este é nosso objetivo maior: fazer uma ponte entre o Templo e a Igreja. Confissão de Fé de Westminster O princípio pelo qual nos guiamos para entender essa estrutura revelacional orgânica do Velho Testamento está fundamentado na Confissão de Fé de Westminster no capítulo VII, seção V e VI que trata sobre a doutrina do Pacto. V) “Este pacto, no tempo da Lei, não foi administrado como no tempo do Evangelho. Sob a Lei, foi administrado por meio de promessas, profecias, sacrifícios, da circuncisão, do cordeiro pascoal e de outros tipos e ordenanças dadas ao povo judeu, tudo prefigurando Cristo que havia de vir. Por aquele tempo, essas coisas, pela operação do Espírito Santo, foram suficientes e eficazes para instruir e edificar os eleitos na fé do Messias prometido, por quem tinham plena remissão dos pecados e a salvação eterna; este se chama o Velho Testamento”. VI) “Sob o Evangelho, quando Cristo, a substância, se manifestou, as ordenanças, nas quais este pacto é ministrado, passaram a ser a pregação da Palavra e a administração dos Sacramentos do Batismo e da Ceia do Senhor; por estas ordenanças, posto que em número menor e administradas com mais simplicidade e menos glória externa, o pacto se manifesta com mais plenitude, evidência e eficácia espiritual, a todas as nações — tanto aos judeus como aos gentios. Isto é chamado o Novo Testamento. Não há, pois, dois pactos da graça diferentes em substância, mas um e o mesmo sob várias dispensações”. O assunto poderia ser encerrado aqui, tal é a maravilha do texto dessa Confissão em sua doutrina, clareza e concisão. É um texto muito claro. Esta foi a compreensão dos nossos pais, os extraordinários teólogos e delegados da Assembleia de Westminster, quanto ao processo revelacional e onde desejamos incluir nosso tema — O TEMPLO. Buscandoa compreensão da revelação do Antigo Testamento vemos as palavras da Confissão de Westminster que nos diz que a revelação de Deus era eficaz, suficiente e levava à plena remissão dos eleitos do Antigo Testamento. Será que o povo do VT recebia a revelação de Deus, mas aguardava uma salvação ainda futura? Ao contrário, a revelação era plena e suficiente porque ela está ligada organicamente com aquele para quem ela aponta: Cristo. Assim lemos na seção VI: “Cristo, a substância”, isto é, Cristo, a plenitude de todas aquelas sombras de que falava o Velho Testamento, quando chega, estas coisas que eram manifestas em sombras se dissipam, tornam-se desnecessárias. Para os líderes e pregadores, dizemos que não podemos formular conceitos no VT sem entendê-los à luz de toda a revelação. Quando tomamos a ideia do templo e o isolamos sem a luz de toda revelação, rapidamente traremos um conceito errado do processo revelacional; daremos um conceito que é dado apenas para o momento e não olhamos para o final. Mas temos de olhar a revelação no seu sentido pleno. O risco, portanto, é dar uma interpretação momentânea da narrativa bíblica. O caminho de interpretação que vamos seguir é o caminho que entendemos ser o mais coerente estabelecido pelos nossos símbolos de fé. Depois da queda existe um só pacto de Deus com seu povo, não dois pactos, mas um único que é administrado de forma diferente no decorrer da história, o mesmo pacto. Precisamos entender o templo à luz de toda a revelação. Este tema é pertinente porque hoje estamos vivendo dois grandes extremos no que diz respeito à prática do culto nas igrejas. 1) Negação do Princípio Regulador do Culto Este princípio diz que só podemos praticar no culto aquilo que a Bíblia ordena, o que Deus exige em sua Palavra. Que Deus deve ser adorado segundo o que está prescrito na Bíblia e não segundo nossas imaginações ou pensamentos humanos. Essa negação leva a Igreja a uma enxurrada de criatividade cúltica. Hoje a Igreja aboliu este Princípio e muitas igrejas (não todas) deixaram entrar por suas portas todo tipo de invenção. O melhor culto agora, é aquele que é mais criativo, aquele que é fruto de muitas ideias. O pensamento hoje é de que a igreja que mais cresce é aquela que mais invenções cria e todo domingo tem uma novidade para o povo no seu culto. Estas invenções são vistas com frequência cada vez maior nas igrejas, hoje. Conversando com um pastor reformado e amigo, ele me disse algo muito interessante acerca deste assunto: “Na Igreja da qual sou pastor, passei dez anos pregando fielmente para 15 pessoas. Hoje a igreja tem cerca de 400 pessoas congregadas. Por ano recebemos trinta a quarenta pessoas de outras igrejas (pentecostais, batistas, frequentadores da Universal….) por ano. São pessoas cansadas de não ouvir a Palavra e não cultuar a Deus verdadeiramente”. Disse mais: “Quando uma pessoa vem à igreja pelas novidades que ela oferece, ela se manterá na igreja através da manutenção destas novidades que esta igreja produz”. O que este colega estava dizendo é que, se uma pessoa vai à igreja pelas novidades que ela cria, esta pessoa só permanecerá em função das novidades estabelecidas. Ou seja, não haverá limites para novidades criadas para que os membros permaneçam na igreja. Concluiu dizendo: “Mas se uma pessoa vem à igreja por causa da Palavra, o pastor só precisará pregar a Palavra com fidelidade e esta pessoa permanecerá”. Se esse Princípio Regulador for abandonado totalmente, consequentemente abandonaremos o princípio de que Deus deseja ser adorado através da revelação de sua Palavra. Quando isso é abandonado, toda novidade e toda prática adentra à igreja. Muitos conhecem isso por conviverem com igrejas outras, que dependem de ter uma cruz vazada para que os membros passem através dela para que haja um “descarrego”, não sabemos bem de que, mas “descarrega”; outras têm “rosa ungida”, etc. São inúmeras novidades e invenções. Alguém pode argumentar corretamente dizendo: “É verdade pastor, mas muitas outras invenções nós trazemos para nossa igreja que não são percebidas. Muitas novidades são trazidas para o culto por se desconsiderar o princípio de que é Deus que determina em sua Palavra o que devemos fazer para cultuá-lo”. Sobre isso falaremos mais adiante. 2) Entendimento equivocado do Princípio Regulador do Culto. Estive conversando com irmãos reformados acerca deste problema recentemente em Recife e que estavam também cansados da falta de uma liturgia bíblica, segura, de um culto cristocêntrico, onde Cristo é o centro e não o homem, e, cansados disso, começaram equivocadamente a procurar igrejas litúrgicas. Por exemplo: Igreja Episcopal, Igreja Ortodoxa Grega. São igrejas que, para quem não conhece o Princípio Regulador, entendem que são boas igrejas porque têm uma liturgia que atrai a atenção por seu aspecto externo. As pessoas se impressionam com os paramentos, as vestes sacerdotais, o culto repleto de símbolos. Por isso muitos concluem que isso é o correto quanto à adoração. O primeiro extremo é a total entrega aos princípios da vontade humana. O segundo (disfarçado disso também e, além disso) é ter uma aparente obediência aos princípios da Sagrada Escritura. Nestas igrejas o clérigo aparece com paramentos, togas, roupas bonitas. Há um espaço na liturgia para venerar Maria, como na Igreja Ortodoxa. São evangélicos que já começaram a ceder a estas pressões por conta dos problemas seríssimos que a igreja enfrenta quanto à liturgia e doutrina. Temos um grande número de pastores presbiterianos hoje que passaram para a Igreja Episcopal e agora para a Igreja Ortodoxa Grega. É algo estranho que acontece. Nosso estudo é pertinente porque, apesar de falarmos sobre o templo, vamos ver que esse enfoque sobre o templo nos ajudará a entender o assunto quando estivermos lidando com o princípio da tipologia e da simbologia e para onde eles apontam. Vamos entender que dentro do processo revelacional não há mais espaço para estas coisas. Nem para o culto segundo o coração humano, nem para sombras e tipos dentro do culto. Vamos perceber que temos de caminhar em cima de uma posição firme quanto a este assunto. Então, falar sobre o templo é caminhar nesta direção. Para ser bem prático quanto a este entendimento vejamos, a seguir, 2 Samuel 7:1-17. O O TEMPLO EM AGEU 2:9 texto de Ageu 2:9 é importante. Antes, porém, devemos observar algo ainda mais importante. Qual foi a base de Davi para construir o templo? Ele pensou: “Eu vivo em uma casa tão boa e rica, então devo fazer uma casa também boa e rica para Deus. Uma habitação para o Senhor”. Mas temos um argumento contrário descrito em Ageu 1:2-4 – “Assim fala o SENHOR dos Exércitos: Este povo diz: Não veio ainda o tempo, o tempo em que a Casa do SENHOR deve ser edificada. Veio, pois, a palavra do SENHOR, por intermédio do profeta Ageu, dizendo: Acaso, é tempo de habitardes vós em casas apaineladas, enquanto esta casa permanece em ruínas?”. Davi (como Ageu) tinha um pensamento contrário ao do povo. O povo estava cuidando de suas casas e deixando a casa de Deus de lado. Mas a ênfase era apenas na construção de uma casa? Qual era a ênfase? A suntuosidade do templo! Vemos isso no capítulo 2:9: “A glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz o SENHOR dos Exércitos; e, neste lugar, darei a paz, diz o SENHOR dos Exércitos”. Segundo este texto a glória do segundo templo seria maior do que a do primeiro templo. Qual foi a primeira “casa”? O templo que Salomão construiu. E a segunda “casa”? O templo que foi reconstruído depois da destruição dos babilônicos, após o retorno do cativeiro. E O TEMPLO EM ESDRAS 3:10-12 ste texto fala do lançamento dos alicerces do segundo templo. Precisamos fazer uma digressão aqui para melhor entendimento. Em Esdras 3:10-12 vemos o lançamento dos alicerces do segundo templo: “Quando os edificadores lançaram os alicerces do templo do SENHOR, apresentaram-se os sacerdotes, paramentados e com trombetas, e os levitas, filhos de Asafe, com címbalos, para louvarem o SENHOR,segundo as determinações de Davi, rei de Israel. Cantavam alternadamente, louvando e rendendo graças ao SENHOR, com estas palavras: Ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre sobre Israel. E todo o povo jubilou com altas vozes, louvando ao SENHOR por se terem lançado os alicerces da sua casa. Porém muitos dos sacerdotes, e levitas, e cabeças de famílias, já idosos, que viram a primeira casa, choraram em alta voz quando à sua vista foram lançados os alicerces desta casa; muitos, no entanto, levantaram as vozes com gritos de alegria”. Uns choraram, outros se alegraram. Quem chorou? Os idosos (v. 12) que tinham visto o primeiro templo e agora estavam vendo a reconstrução do segundo templo. Percebemos neste texto de Esdras que este choro não era de alegria, mas era choro de tristeza mesmo. Porém, lemos na segunda parte do versículo 12: “no entanto, levantaram as vozes com gritos de alegria”. Primeiro os idosos choraram em alta voz quando viram os alicerces da casa. Muitos, no entanto, os outros que não eram idosos e que não viram o primeiro templo, não choraram, mas ficaram alegres. O que levou tristeza àqueles idosos? Eles viram no passado a suntuosidade do templo de Salomão e agora estavam vendo que os alicerces do templo reconstruído eram bem menores do que o templo de Salomão. A beleza era inferior, a suntuosidade era inferior, mas o profeta não permitiu que essa diminuição da glória externa diminuísse a glória intrínseca essencial do templo. A linguagem é a mesma: “A glória desta última casa será maior do que a da primeira”, ou seja, a glória do segundo templo é maior que a glória do templo de Salomão. Não porque o edifício fosse maior ou mais suntuoso, pois não o era. Então, em que a glória era maior? Vemos claramente que não era no aspecto estético, pois o templo era inferior ao de Salomão. C O TEMPLO EM DANIEL 9: 24-27 “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo dos Santos. Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas; as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos. Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já não estará; e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas. Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele”. onsiderando ainda a reconstrução do templo, agora como recebedor da profecia, Daniel também trará luz para este entendimento. Nossa intenção não é discutir a questão das 70 semanas de Daniel. Vamos pegar o fluxo do texto sem entrar na discussão das semanas. Daniel estava preocupado e questionando sobre a restauração de Israel. E quando lemos Jeremias, especialmente, entendemos que estava próxima a restauração de Israel. Daniel, então, se dirige a Deus em oração e Deus manda a resposta através do anjo. A resposta vem junto com um conceito importante. Dentro da fala do anjo ao profeta, percebemos que a ideia de uma cidade e do templo vai minguando. Qual era a grande preocupação de Daniel se não a reconstrução de Jerusalém. Ele pergunta exatamente isso. E a reconstrução de Jerusalém envolve a reconstrução do templo e de toda a estrutura de Israel. Quando o profeta pede entendimento a Deus, sua resposta diz respeito não só ao momento em que isso acontecerá, mas também para onde a cidade e o templo apontam. A pergunta de Daniel estava relacionada ao aspecto físico da terra e do templo, mas a resposta do anjo diz respeito a um aspecto bem maior e superior, além da cidade e do templo no seu caráter físico. No versículo 26 ele diz que “Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já não estará; e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário”. Veja que haverá destruição da cidade e do templo. Continua: “…e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas”. No v. 27 vemos que agora, depois do templo destruído, não haverá mais sacrifício: “Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele”. Vejamos que na metade da semana “fará cessar o sacrifício”. O Messias fará firme aliança com muitos e nessa aliança que ele faz com seu povo, com “muitos” (e não com todos), que é a redenção de todos os eleitos da terra, e quando a destruição do templo acontece, logo depois não haverá mais necessidade de sacrifícios. Então se encerra o texto. O sacrifício não se faz mais necessário. O templo é agora desnecessário e o sentido da existência de uma “cidade santa” desaparece. Quando chega o mediador do pacto naturalmente encerra-se o sacrifício. Vemos à luz do entendimento da revelação, que o pacto estabelecido com Davi está atrelado ao tabernáculo — 2 Samuel 2:7. O templo é o aspecto fixo do tabernáculo que era móvel. Por isso ao se falar do templo falamos do tabernáculo — não há como se separar. Há uma unidade nesse pensamento. Isso vai ganhando luz conceitual de tal forma que no fim da profecia, quando chega aquele que faz o pacto, a cidade e o templo destruídos não são mais necessários. Não haverá mais sacrifícios! E O TEMPLO NO NOVO TESTAMENTO m nenhum lugar do Novo Testamento vamos encontrar essa ideia de construção de um templo posterior à morte de Cristo. A igreja se reunia nas casas dos irmãos (Atos). Não existe ordem apostólica nenhuma em direção ao princípio de se construir templos suntuosos. Por que não havia este princípio? Devemos nos lembrar do primeiro texto, onde se vê que o templo era sinônimo de povo e de Cristo, pois apontava para Salomão o filho de Deus, apontava para casa que Deus edificaria a Davi que era a sua descendência. João 2:18-19 No Evangelho de João 2:18-19, lemos: “Perguntaram-lhe, pois, os judeus: Que sinal nos mostras, para fazeres estas coisas? Jesus lhes respondeu: Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei”. O contexto é do templo de Herodes, o templo reconstruído que foi melhorado antes do nascimento de Cristo. “Replicaram os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e tu, em três dias, o levantarás? Ele, porém, se referia ao santuário do seu corpo” (v. 20-21). Jesus estava identificando exatamente que o templo era ele. O Novo Testamento diz que em Jesus, habita (katoike) corporalmente, toda a plenitude da divindade (Cl 2.9); Jesus tem a essência do ser de Deus. Sendo o próprio Deus, ali habita a perfeição de Deus. A palavra “habitar” é usada para dizer onde exatamente Deus habitava. O templo prefigurava a habitação de Deus. Jesus, sendo o próprio Deus, é a habitação de Deus porque é o próprio Deus. Por isso Ageu, olhando para uma construção inferior do templo, diz: “A glória desse templo é maior do que a glória do templo de Salomão”. Porque estava encerrando o período das sombras e estava se aproximando a chegada de Cristo. 1 Co 6:18-19 Lemos ainda no Novo Testamento, 1 Co 6:18-19: “Fugi da impureza. Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer é fora do corpo; mas aquele que pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo. Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?”. Nosso corpo é templo do Espírito Santo. Olhando para Antigo Testamento vemos que o templo era a descendência de Davi e que a casa era o Redentor, o Filho de Davi, edificada e construída por ele. Salomão era descendência de Davi, assim como Cristo.No Novo Testamento ninguém identifica o sentido pleno da palavra “templo”. Jesus Cristo é o templo e nós somos templo também. Essa identificação entre Cristo e a Igreja é uma identificação bíblica clara. Não há como separar Jesus da Igreja. Cristo é o cabeça da Igreja e nós (a Igreja) somos corpo. Não há distinção na relação entre o Servo e o povo. Jesus morreu por seu povo. Não podemos separar Cristo da Igreja, pois Cristo é seu cabeça. Mas o templo somos nós também porque em nós habita o Espírito Santo de Deus, mas não na sua plenitude como acontece com Cristo que é o próprio Deus. Por isso somos o templo e também Cristo é o templo. Assim, não há mais necessidade de templo físico para Deus “habitar”. N A RELAÇÃO DO NT COM O VT o Velho Testamento podemos ver alguns versículos importantes. Isaías 42:1 “Eis aqui o meu servo, a quem sustenho; o meu escolhido, em quem a minha alma se compraz; pus sobre ele o meu Espírito, e ele promulgará o direito para os gentios”. Quem é o servo aqui? É um povo ou é uma pessoa? É uma pessoa! O texto se refere à pessoa de Cristo. Isaías 44:1 “Agora, pois, ouve, ó Jacó, servo meu, ó Israel, a quem escolhi”. Quem é o servo aqui? Um povo ou uma pessoa? O povo de Israel! Isaías 49:3 “e me disse: Tu és o meu servo, és Israel, por quem hei de ser glorificado”. O servo aqui é o povo de Israel. Isaías 52: 13 “Eis que o meu Servo procederá com prudência; será exaltado e elevado e será mui sublime. Como pasmaram muitos à vista dele (pois o seu aspecto estava mui desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a sua aparência, mais do que a dos outros filhos dos homens), assim causará admiração às nações, e os reis fecharão a sua boca por causa dele; porque aquilo que não lhes foi anunciado verão, e aquilo que não ouviram entenderão”. Isaías 53 Jesus é apresentado como servo sofredor que morreu pelo seu povo (v. 6): “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos”. Aqui o servo está identificado com aquele por quem ele morreu. Deus fez cair a iniquidade de todos os eleitos sobre Cristo. Vemos que em um momento o servo é Cristo e em outro ele é Israel. Os judeus interpretando o servo sofredor do texto de Isaías 53 entendem que é Israel. Mas o problema sério que eles têm é dizer quando Israel no seu sofrimento levou sobre si o pecado de alguém. Este é o grande problema do texto para eles. Mas o fato é que Jesus é o SERVO! Ele levou sobre Si o pecado do seu povo. Identificamos que Cristo morre por seu povo. Cristo e seu povo estão unidos! Por isso, no entendimento do Antigo Testamento, templo é a casa de Davi construída pelo FILHO de Davi. O apóstolo Paulo, no Novo Testamento, diz que Jesus Cristo é o templo. Em outras palavras, Paulo diz à Igreja: “Vós sois o templo do Espírito Santo”. A sombra cessou. Cristo chegou. Sabemos o que fazer agora com a ideia da construção de um templo. APLICAÇÕES (1) Percebemos que quando Paulo escreve aos crentes da Igreja de Corinto sobre a igreja como “templo”, “santuário” do Espírito, ele o faz no contexto da santidade. Isto é, “vocês não devem entregar seus corpos à imoralidade, pois são o templo do Senhor”. A santidade é relacionada com a ideia do templo físico. No templo ninguém adentrava no santo dos santos, no lugar santíssimo, porque morreria. Havia limites para seu acesso ao santo lugar, pois a santidade de Deus ali era revelada — Deus estava presente. Quando cremos no Senhor, o Pai e o Filho, pelo Espírito Santo, vêm habitar em nós. Cristo habita em nós pelo Espírito. Ele é o selo da nossa salvação. Nós somos o templo do Senhor, a Igreja é a habitação de Deus. Por isso a ideia de santidade não é mais relacionada ao lugar físico, mas onde Deus habita. Deus não habita nos limites físicos do edifício de qualquer igreja. Deus habita no coração do crente e, por isso, está no meio da Igreja. A santidade tem de ser particular, individual, mas como povo de Deus ela é essencialmente corporativa e dessa forma somos o templo do Espírito Santo. A ideia de uma santidade externa cessou, a santidade é do coração, daquele que é chamado de templo do Senhor. A Confissão de Fé, quando se refere ao pacto, diz no capítulo VII, seção VI: “Sob o Evangelho, quando Cristo, a substância, se manifestou, as ordenanças, nas quais este pacto é ministrado, passaram a ser a pregação da Palavra e a administração dos Sacramentos do Batismo e da Ceia do Senhor; por estas ordenanças, posto que em número menor e administradas com mais simplicidade e menos glória externa, o pacto se manifesta com mais plenitude, evidência e eficácia espiritual, a todas as nações — tanto aos judeus como aos gentios. Isto é chamado o Novo Testamento. Não há, pois, dois pactos da graça diferentes em substância, mas um e o mesmo sob várias dispensações”. Como é administrado o pacto no Velho Testamento? Por meio de figuras, de sacrifícios, por meio do Cordeiro Pascoal, da circuncisão, enfim, por meio destes elementos externos. Mas agora, no Novo Testamento, é administrado através da pregação e dos sacramentos. Agora perdemos em pompa, perdemos em visão externa e ganhamos na essência. As ordenanças agora são em número menor e são administradas com mais simplicidade e menos glória externa. No entanto, o pacto no N.T. se manifesta com mais plenitude, perdendo em pompa e ganhando em simplicidade. Perde em número e ganha em essência. O pacto se manifesta com mais plenitude, com mais evidência, com eficácia espiritual a todas as nações, tanto a judeus como a gentios. O entendimento desta verdade nos levará, inevitavelmente, a uma mudança profunda na nossa estrutura eclesiástica. Não vamos nos alimentar com a suntuosidade dos nossos templos, mas nossa característica agora é a simplicidade. Quem é a Igreja? Quem é o templo? É Cristo e somos nós, por isso devemos cuidar dos que fazem parte do “santuário” do Senhor e não de uma estrutura física e externa, de um edifício e sua aparência estrutural. (2) Temos de ter o entendimento do processo revelacional. Quanto mais distante de Cristo, historicamente, mais necessário se tornam as sombras e os tipos e símbolos. Quanto mais perto de Cristo, menor a necessidade de sombras e tipos. Quando Cristo chega, as sombras se dissipam. Isso é muito importante. O templo de Salomão era maior ou menor do que o templo reconstruído no final do cativeiro? O templo de Salomão era maior. Mais distante de Cristo, maior a sua estrutura física, maior o símbolo, maior a suntuosidade, maior a beleza externa, maior a pompa, os grandes corais, as extraordinárias práticas litúrgicas, as trombetas, etc. Quanto mais distante de Cristo, mais necessárias se faziam estas coisas. No entanto, quanto mais perto de Cristo, o templo reconstruído foi menor, mas a sua glória era maior, disse o profeta. Por que era maior? Porque historicamente Cristo estava mais próximo do que na época de Salomão. Quando Cristo chega, o templo é destruído e ao terceiro dia reconstruído. Cristo chegou não há mais necessidade desse templo, pois o templo é a igreja, somos nós. Consequentemente cessaram as práticas daquele templo. (3) No início falamos sobre dois grupos. Um é o grupo da criatividade e outro é o do ritual, do simbolismo. Muitos acham bonitas aquelas vestimentas sacerdotais, o cajado, ou seja, todo o aparato simbólico de algumas igrejas. Outros admiram as práticas criativas na igreja, fruto da invenção humana. Mas tudo isso é apenas sombra. Para que a sombra se a luz já se manifestou? Não há mais santidade externa. Hoje, o ambiente dos templos locais não é mais santo do que é o ambiente fora deles. Pensar diferente é pensar segundo a ideia do Velho Testamento com seus simbolismos. Por isso não há nenhum problema se o pastor fizer um culto debaixo de uma árvore. Poderia ser no máximo imprudente, pois seria deixar um local apropriado para abrigar o povo do sol ou da chuva. O templo acomoda e protege os irmãos e é mais apropriado para uma reunião. Mas um lugar não é mais santo do
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