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O PROCESSO FORMATIVO COMO CONFORMA__O A CRISTO

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O PROCESSO FORMATIVO COMO CONFORMAÇÃO A 
CRISTO1[1] 
 
 
1 A necessidade do processo formativo 
 
 
O processo formativo é profundamente complexo e dinâmico. 
Nunca termina. Ele dura a vida inteira, da concepção à morte. A 
Igreja reconhece a importância decisiva deste processo ao longo de 
toda a vida para todas as pessoas, contudo, não deixa de relevar o 
caminho formativo específico para quem deseja consagrar sua vida a 
Deus, por meio da profissão dos votos ou mediante a ordenação 
diaconal e/ou presbiteral. A formação inicial, não obstante esteja 
integrada na abrangência de todo o processo formativo, é reiterada 
muitíssimas vezes pelos documentos da Igreja, como uma etapa 
importante e decisiva para toda a vida do formando. 
Os decretos conciliares Presbyterorum Ordinis, sobre o 
ministério e a vida dos presbíteros, Perfectae Caritatis, sobre a 
atualização dos religiosos e Optatam Totius, sobre a formação 
presbiteral, bem como os outros documentos do magistério da Igreja 
sobre a formação, de maneira particular a Exortação Apostólica Pós-
sinodal sobre a formação presbiteral Pastores Dabo Vobis e a 
Exortação Apostólica Pós-sinodal sobre os religiosos Vita Consecrata, 
ambas de João Paulo II, afirmam a necessidade de haver um projeto 
educativo global bem delineado para os primeiros anos da caminhada 
formativa. Nunca se pode esquecer, no entanto, o laço profundo que 
 
1[1] Este texto é o segundo capítulo do trabalho monográfico intitulado “O ano 
litúrgico como itinerário mistagógico no processo formativo inicial” apresentado 
como requisito final para a Escola de Formadores de Santa Catarina, 5ª geração, 
em 2007. Portanto, a bibliografia completa não consta nesse artigo. 
une a formação inicial e a formação permanente e que deve fazer das 
duas um único itinerário orgânico de vida cristã. 
Poder-se-ia utilizar muitíssimas citações para confirmar a idéia 
de que a Igreja entende como fundamental o processo formativo na 
sua globalidade e nas especificidades de suas fases. Porém, a seguir 
serão apresentadas somente duas referências conciliares que atestam 
esta precisão. 
Sobre a formação para a vida presbiteral, afirmam os padres 
conciliares “que a desejada renovação de toda a Igreja depende em 
grande parte do ministério dos sacerdotes, vivificado pelo Espírito de 
Cristo. Por isso, o Sagrado Sínodo proclama a suma importância da 
formação sacerdotal e declara alguns de seus princípios básicos” (OT 
1). Por sua vez, sobre a formação à vida religiosa, o decreto conciliar 
Perfectae Caritatis reza: “Prolongue-se de maneira conveniente e em 
casas apropriadas a sua formação religiosa e apostólica, doutrinária e 
técnica, com obtenção dos títulos convenientes” (PC 18). 
A necessidade de haver um processo formativo inicial 
consistente, portanto, justifica-se pela realidade ontológica do 
ministério presbiteral ou da vida consagrada e de suas ações no 
mundo. 
 
 
Os presbíteros são, na Igreja e para a Igreja, uma 
representação sacramental de Jesus Cristo Cabeça e Pastor, 
proclamam a sua palavra com autoridade, repetem seus 
gestos de perdão e oferta de salvação, nomeadamente com 
o Batismo, a Penitência e a Eucaristia, exercitam a sua 
amável solicitude, até ao dom total de si mesmos, pelo 
rebanho que reúnem na unidade e conduzem ao Pai por meio 
de Cristo no Espírito. Numa palavra, os presbíteros existem e 
agem para o anúncio do Evangelho ao mundo e para a 
edificação da Igreja em nome da pessoa de Cristo Cabeça e 
Pastor (PDV 15). 
 
 
Na verdade, pela profissão dos conselhos, o consagrado não 
só faz de Cristo o sentido da própria vida, mas preocupa-se 
por reproduzir em si mesmo, na medida do possível, ‘aquela 
forma de vida que o Filho de Deus assumiu ao entrar no 
mundo’. Abraçando a virgindade, ele assume o amor virginal 
de Cristo e confessa-O ao mundo como Filho unigênito, um 
só com o Pai (cf. Jo 10, 30; 14,11); imitando a sua pobreza, 
confessa-O como Filho que tudo recebe do Pai e no amor 
tudo lhe devolve (cf. Jo 17,7.10); aderindo com o sacrifício 
da própria liberdade, ao mistério da sua obediência filial, 
confessa-O infinitamente amado e amante, como Aquele que 
Se compraz somente na vontade do Pai (c. Jo 4,34), ao qual 
está perfeitamente unido e do qual depende em tudo (VC 
16). 
 
 
 
Embora esteja claro para a Igreja a identidade do presbítero e 
do(a) consagrado(a), difunde-se, em muitos ambientes de formação, 
a idéia de que as pessoas são boas, livres e maduras e, espontânea e 
naturalmente, com “o andar da carroça”, sem qualquer orientação 
mais incisiva, buscarão soluções para resolver seus problemas de 
imaturidade humana e cristã. 
A Igreja já mostrou em sua tradição bi-milenar a necessidade 
da formação. Agora, o que a tange e desafia é a própria realidade do 
mundo atual, caracterizada, fundamentalmente, pelo relativismo, 
individualismo, hedonismo, consumismo, pelo vazio de sentido 
humano, pela ausência de referenciais, pelo descrédito das 
autoridades e instituições, pela fragmentação, etc. Sem dúvida 
alguma, as circunstâncias atuais exigem maior competência e senso 
de responsabilidade por parte de quem se coloca a caminho do 
amadurecimento vocacional. Daí a necessidade de se ter clareza na 
proposta formativa, evitando todo espontaneísmo e improvisação. 
 
 
2 O objetivo do processo formativo 
 
 
Para não correr o risco de se cair neste espontaneísmo e 
improvisação, faz-se necessário ter bem presente o objetivo em torno 
do qual deve girar a globalidade do processo formativo. A formação 
deve tornar a pessoa conformada a Cristo, em suas atitudes, gestos e 
palavras. Toda a ação educativa proposta metodologicamente pela 
Igreja àqueles que almejam a consagração de sua vida a Deus, deve 
tender a criar neles a “mesma disponibilidade ou aquele sentimento 
de amor imenso que levou o Filho a se tornar homem, a se converter 
num servo, humilde e obediente, livre para dar a vida por amor” 
(CENCINI, 2005, p.39). 
 
 
A formação deverá, pois, atingir em profundidade a própria 
pessoa, de tal modo que cada uma das suas atitudes ou 
gestos, tanto nos momentos importantes como nas 
circunstâncias ordinárias da vida, possa revelar a sua 
pertença total e feliz a Deus. Uma vez que o fim da vida 
consagrada consiste na configuração com o Senhor Jesus e 
com a sua oblação total, para isso sobretudo é que deve 
apontar a formação. Trata-se de um itinerário de progressiva 
assimilação dos sentimentos de Cristo para com o Pai (VC 
65). 
 
 
Não se quer afirmar aqui que a pessoa precisa se tornar 
perfeita, como num passado não distante se afirmava, mas que ela 
precisa buscar assemelhar-se a Cristo, sobretudo no que diz respeito 
a sua humanidade. O modelo teológico-antropológico que a Igreja 
apresenta para a formação inicial e permanente é o ícone do próprio 
Cristo que se entrega totalmente ao Pai e, consequentemente, aos 
irmãos. É o modelo da kénosis, apresentada em Fl 2, 5-11, onde 
Paulo exprime a totalidade da oferta de Cristo, símbolo e sinal 
interpretativo do existir e do morrer por amor, do não guardar nada 
para si e do entregar-se totalmente, transformando a vida em dom, 
presente para o engrandecimento de outrem. 
Configurando-se a Ele, assumindo os seus mesmos 
sentimentos, mediante um caminho gradual de crescimento integrado 
na globalidade das dimensões humana, afetiva, intelectual e 
relacional, toda a pessoa e, especialmente aquela que se põe a 
caminho rumo ao exercício do ministério presbiteral ou da 
consagração de sua vida pela profissão dos votos, é chamada a viver 
os mesmos sentimentos de Cristo, até que não seja mais ela que 
viva, mas sim o próprio Cristo (cf. Gl 2, 20). E, por que os 
sentimentos? 
 
 
Por um lado, os sentimentos revelam o lado frágil da pessoa, 
o que muitas vezes não passa pelo crivo da reflexão;por 
outro lado, e por isso mesmo, são a fotografia ou o teste 
mais verdadeiro do que o ser humano é, daquilo que tem em 
seu coração, do nível de profundidade da sua conversão 
interior. De fato, podemos controlar as palavras e os gestos, 
mas não podemos nos impedir de experimentar os 
sentimentos, os quais nos dizem imediatamente se e até que 
ponto estamos nos identificando com o coração de Cristo, 
com a sua paixão de amor, com o seu evangelho... 
(CENCINI, 2005, p. 40-41). 
 
 
Um itinerário destes, proposto pela Igreja, não poderá senão 
durar a vida toda. Pois, não basta um tempo limitado para se chegar 
a ter os mesmos sentimentos de Cristo. Aliás, não seria suficiente 
nem a vida inteira para tanto. Apesar disto, a Igreja tem consciência 
da necessidade de propor com objetivos claros, metodologia precisa e 
intervenções diretas, um caminho formativo que possa englobar a 
totalidade da pessoa nos inícios de sua escolha vocacional até a 
consagração definitiva e/ou ordenação. 
Quando a Igreja fala nos sentimentos de Cristo, de certo 
modo, aponta para a inteireza da pessoa, tanto no que diz respeito a 
sua vida exterior, comportamental-fenomenológica, como no que diz 
respeito a sua vida interior, intencional, motivacional. O método mais 
conveniente para a formação inicial deve levar em consideração a 
característica da totalidade. 
 
 
Deverá ser formação da pessoa toda, nos vários aspectos de 
sua individualidade, tanto nos comportamentos como nas 
intenções. [...] Assim, há de estar prevista uma preparação 
humana, cultural, espiritual e pastoral, colocando todo o 
cuidado para que seja favorecida uma integração harmônica 
dos diversos aspectos. À formação inicial, entendida como 
processo evolutivo que passa por cada grau do 
amadurecimento pessoal – desde o psicológico e espiritual 
até ao teológico e pastoral -, deve-se reservar um período de 
tempo suficientemente amplo (VC 65). 
 
 
No fundo, o que se quer afirmar aqui é que o processo 
formativo é gradual e total. E, por isso, deve levar a pessoa, 
paulatinamente, em todas as categorias que a compõe – corporal, 
psíquica, espiritual, relacional, etc – a uma integração de vida, de tal 
maneira que ela se identifique com o modus vivendi de Jesus Cristo. 
Este processo de integração visa, de modo lento e interminável, gerar 
o homem novo que aprende a ter os mesmos sentimentos de Cristo. 
A expressão maior deste amadurecimento de vida se dá quando a 
pessoa em formação torna-se capaz de entregar sua vida a Deus e ao 
serviço dos irmãos, conformando-se a Cristo. 
 
 
3 A estatura do homem maduro 
 
 
É decisivo para a pessoa em formação dar-se conta de que é 
este o fim de sua existência: experimentar que pode construir sua 
vida “em Cristo”, na verdadeira liberdade. A formação inicial deve, 
portanto, possibilitar aos caminhantes, instrumentais capazes de criar 
neles uma disponibilidade tal que os torne, com Deus e as suas 
mediações formativas, sujeito do processo; que os coloque em 
“condição de ‘aprender a aprender’, isto é, viver em perene estado de 
formação” (CENCINI, 2005, p. 234); que os faça seres-a-caminho na 
busca incessante de uma vida pascal; na busca incessante da 
maturidade em Cristo. 
O que vem a ser a maturidade? 
Falar em maturidade é algo muito complexo. É preciso ter 
alguns pressupostos. Em primeiro lugar é preciso compreender que 
maturidade não quer significar perfeccionismo ou ausência de 
limitações. Em outros tempos assim se pensava, inclusive no âmbito 
formativo eclesial. Procurava-se, muitas vezes, anular o pólo humano 
negativo, presente na vida da pessoa. 
Em segundo lugar, é preciso perceber que a maturidade não 
pode ser determinada fixamente, porque, como a vida é processo, 
em cada etapa do ciclo vital, deve haver um certo grau de 
maturidade a ser constituído. 
 
O complexo tema da maturidade da pessoa está intimamente 
ligado ao do desenvolvimento. Uma maturidade humana, 
mesmo na sua dimensão psicológica, não pode ser concebida 
e compreendida senão no curso de um desenvolvimento, em 
que o fato de atingi-la ou não está em estreita relação com 
uma adequada antropologia da pessoa (IMODA, 1996, p. 
117) 
 
 
Os estudiosos entendem que não há um único modo de ver a 
maturidade. A citação acima, já comprova esta verdade. A 
maturidade pode ser compreendida nas mais diversas facetas daquilo 
que constitui o ser humano e, por isso, a necessidade de haver uma 
antropologia basilar. Pode-se afirmar, portanto, a maturidade no 
âmbito biológico, no âmbito psicológico-existencial – que compreende 
a maturidade relacional, intelectual, cultural e social - ou ainda no 
âmbito espiritual. 
Rezar um único conceito de maturidade é impensável. Porém, 
algumas aproximações podem ser feitas. E, é o que de modo muito 
simples, se pretende agora. Comumente, no sentido biológico e 
também psicológico, entende-se a maturidade como a “idade 
intermédia entre a juventude e velhice, considerada como o período 
pleno e frutuoso da vida” (SALONIA apud AWOKI, 2001, p. 14). Por 
volta dos 40 anos de vida, onde o organismo, de certo modo, mostra-
se desenvolvido e, por conseguinte, a mente integrada (claro que 
vendo isto idealmente) a pessoa apresenta as competências 
necessárias para constituir sua meta, vértice e realização conjunta de 
sua humanização. 
No sentido psicológico, propriamente dito, alguém é 
humanamente maduro quando ama e trabalha em liberdade. Isto 
quem afirma é o pai da psicanálise, Sigmund Freud (cf. GARRIDO, 
2006, p.13). Porém, o que é a liberdade? “Psicologicamente falando, 
significa a não-dependência de estímulos externos, certa facilidade 
para controlar os impulsos, capacidade para integrar frustrações e 
satisfações” (GARRIDO, 2006, p.13). Poderia se afirmar que alguém é 
psicologicamente maduro quando conseguiu se integrar na sua 
história pessoal de vida, com seus componentes positivos e negativos 
e, a partir disto, coloca-se, com serenidade, na busca da realização 
de uma meta. 
 
 
Não pode haver liberdade fora desse percurso histórico que 
leva a descobrir e depois a decidir viver a vida como dom; 
não podem ser tidos como livres, o coração, a mente e a 
vontade de quem não capta suficientemente o fascínio 
daquilo que é verdadeiro-belo-bom. A liberdade, nesse 
sentido, é sensibilidade educada, capacidade de se comover 
diante do belo e de se deixar deslumbrar pelo esplendor da 
verdade, assim como brilha também no pequeno fragmento 
da própria história. É uma ligação preciosa a que se 
estabelece entre a experiência histórica a capacidade de se 
deixar seduzir por aquele fascínio e a liberdade em lhe dar 
uma resposta: é exatamente esta a maturidade plena, num 
plano humano que se abre sempre mais à perspectiva da fé 
(CENCINI, 2005, p. 124). 
 
No sentido espiritual, maturidade é sinônimo de integração da 
pessoa na experiência de fé. Percebe-se que alguém é 
espiritualmente maduro quando conseguiu desenvolver o 
amadurecimento da fé, à luz da imagem antropológica de Cristo, 
verdadeiro Deus e verdadeiro homem; quando integrou a realidade 
da graça sobrenatural de Deus com seu esforço humano; quando 
chegou a totalizar a sua vida na vida de Cristo; quando seus atos 
tornaram-se pautados por um centro vital de fé; quando aprendeu a 
discernir os sinais da presença de Deus na realidade; quando fez de 
sua vida uma vida de doação, de amor a Deus e aos irmãos; quando 
deixou de ser infantil para ter uma vida de adulto na fé. Para ilustrar, 
afirma São Paulo na Carta aos Efésios: “Assim, ele capacitou os 
santos para a obra do ministério, para a edificação do Corpo de 
Cristo, até chegarmos, todos juntos, à unidade na fé e no 
conhecimento do Filho de Deus, ao estado de adultos, à estatura de 
Cristo em sua plenitude” (Ef 4, 12-13). 
 
 
Compreendemos a maturidade espiritual como o pleno 
desenvolvimento de todas as potencialidadesda graça, a 
todos os níveis do organismo sobrenatural. A maturidade 
cristã não consiste em viver a graça em maneira 
desencarnada e abstrata, mas no encontro da vida teologal e 
do empenho temporal. Uma etapa decisiva na maturação da 
personalidade cristã é o deixar de se comportar como criança 
para assumir o comportamento do adulto, isto é, para 
assumir as novas responsabilidades da fé e da graça (Gal 
4,1ss; 1Cor 13,11). Discernir é próprio da pessoa 
espiritualmente adulta, de quem não é uma criança, mas 
sabe mastigar alimento sólido (Hb 5,13-14) e se deixa 
penetrar pelo Espírito Santo que possibilita penetrar na 
vontade de Deus (AWOKI, 2001, p. 18). 
 
 
Se por um lado, a mescla de linguagem a respeito da 
maturidade – os sentidos anteriormente apresentados: biológico, 
psicológico-existencial, espiritual - pode prejudicar o caráter científico 
da exposição, por outro lado, esta mescla é positiva porque o ser 
humano, como se sabe, não é um conjunto de “gavetas”, que, 
fragmentado, pode ser analisado por partes. Na verdade, o ser 
humano é real em sua unidade e complexidade, é um nó-de-relações 
que está, enquanto existe, a caminho da verdadeira integração. Por 
isso, entende-se a maturidade com a categoria de unidade de vida, a 
qual evidencia a “harmoniosa integração de todas as dimensões da 
pessoa concretamente considerada («unidade») e ao mesmo tempo, 
o valor um pouco utópico da meta a alcançar próprio porque dinâmico 
e susceptível de um indefinido progresso” (cf. COSTA apud AWOKI, 
2001, p. 13-14). “Na realidade, a maturidade da pessoa é 
considerada como o resultado de uma longa caminhada de 
crescimento e integração de todas as potencialidades da pessoa” 
(NIKIC apud IMODA, 2002, p. 119). 
 
 
3.1 Cristo, exemplo de homem maduro 
 
 
Muitos homens e mulheres, ao longo da história, brilharam em 
suas inteligências e desenvolveram algumas áreas importantes para o 
pensamento e para a própria humanidade, no campo científico, 
cultural, filosófico, político e espiritual. Jesus Cristo foi um destes 
homens. Não apenas brilhou em sua inteligência, mas teve uma 
personalidade intrigante, misteriosa, fascinante. Ele é o modelo de 
homem maduro. 
“Na realidade o mistério do homem só se torna claro 
verdadeiramente no mistério do Verbo encarnado [...]. Cristo 
manifesta plenamente o homem ao próprio homem e lhe descobre 
sua altíssima vocação” (GS 22). Embora seja Deus, Jesus Cristo 
aponta muitos indicativos de maturidade para aquele que busca a 
plenitude da estatura humana e a conformação a Ele. “Todo aquele 
que segue Cristo, o homem perfeito, torna-se ele também mais 
homem” (GS 41). Ele “revela a vida íntima de Deus em seu mistério 
mais elevado, a comunhão trinitária” (DA 109). Ele “oferece a 
ressurreição e a vida eterna na qual Deus será tudo em todos (cf. 
1Cor 15,28) (DA 109). Ele propõe a uma vida de entrega aos outros, 
bem como uma vida vivida em comunhão fraterna, capaz de superar 
o individualismo (cf. DA 110). Ele ensina “a lutar contra toda forma 
de desprezo da vida e da exploração da pessoa humana” (DA 112). 
Não se pretende aqui, evidentemente, esgotar as idéias que 
indicam os sinais da maturidade de Cristo, mas trazer presentes as 
mais significativas. A história de Cristo teve particularidades em toda 
a sua trajetória: do seu nascimento à sua morte. De certo modo, o 
homem maduro, Jesus Cristo, abalou os alicerces da história humana 
por meio de sua própria história de maturidade. Os Evangelhos 
(Mateus, Marcos, Lucas e João) são como que quatro biografias de 
Cristo. Cada um, a seu modo, apresenta a personalidade madura de 
Jesus. 
Apontam Jesus Cristo amadurecendo sua auto-consciência e sua identidade 
pessoal. Por meio de seu corpo, provou-se no espaço e no tempo. Não era um 
fantasma. Assumiu as condições humanas para viver entre os seres humanos, sem, 
contudo, deixar de ser Deus. Outra realidade de sua autoconsciência é que, num 
determinado momento de sua vida, deu-se conta de que, mesmo desenvolvendo-
se, biológica e psicologicamente, era o mesmo. Percebeu-se, também, naquilo que 
expandia o seu próprio eu. Deu-se conta de que pertencia a uma família, a um 
povo, de que tinha uma história. Procurou conhecer a si próprio e aos projetos de 
Deus, por meio de sua capacidade racional. “Trabalhou com mãos humanas, 
pensou com inteligência humana, agiu com vontade humana, amou com coração 
humano” (GS 22). Tinha, finalmente, uma verdadeira imagem de si, o que o 
manteve firme na sua identidade. Certamente, manifestou sua liberdade ao assumir 
os riscos de operar e incidir na história e na vida das pessoas a partir de sua 
unidade pessoal interior. 
Jesus Cristo construiu para si uma cosmovisão, um 
entendimento acerca do mundo e da história. Não aprendeu a fazer 
isto somente com a sua família e a cultura da sua época, mas foi 
elaborando uma visão de mundo, numa vida de interioridade e 
serenidade. 
 
 
O sistema político e religioso não foi tolerante com ele, mas 
ele foi tolerante e dócil com todos, mesmo com seus mais 
ardentes opositores. Cristo vivenciou sofrimentos e 
perseguições desde a sua infância. Foi incompreendido, 
rejeitado, zombado, cuspido no rosto. Foi ferido física e 
psicologicamente. Porém, apesar de tantas misérias e 
sofrimentos, não desenvolveu uma emoção agressiva e 
ansiosa; pelo contrário, ele exalava tranqüilidade diante das 
mais tensas situações e ainda tinha fôlego para discursar 
sobre o amor no mais poético sentido (CURY, 1999, p.15). 
 
 
Outro dado imprescindível que revela a maturidade de Cristo é 
que Ele sabia o que queria. Tinha metas e prioridades bem 
estabelecidas. Tinha, enfim, um projeto de vida: fazer a vontade do 
Pai (cf. Lc 22,42). E a vontade do Pai era a doação total de sua vida 
em favor dos outros. Em torno desta sua opção fundamental de vida, 
giraram todas as suas opções secundárias. Por isso, Cristo viveu a 
obediência a Deus, não como algo imputado, mas como convicção 
libertadora. 
Jesus foi alguém que viveu uma vida de não-aparências. 
Coração e cabeça, afetividade e razão manifestavam essa integração 
entre o seu interior e o seu exterior. Palavras e ações coincidiam. Ele, 
realmente, viveu a liberdade, sem depender de estímulos externos. 
Nem a família nem os amigos nem mesmo a religião e o poder civil 
impossibilitaram-no de viver autenticamente a liberdade. Mostrou-se 
como era, sem esconder seus sonhos, seus anseios, seus projetos. 
Jesus Cristo assumiu uma vida de austeridade e pobreza, por 
opção libertadora. A pobreza tornou-se a forma visível da sua 
existência. Não tinha onde reclinar a cabeça (cf. Mt 8,20). A pobreza 
interior, a pobreza como sensibilidade para com os pobres e excluídos 
e como identificação e proximidade em relação a eles plasmou as 
decisões do mestre Jesus. Ele sabia que o mais importante era 
buscar, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça para com 
os marginalizados (cf. Lc 12,31). 
Jesus se fez célibe em favor das pessoas. Viveu sua 
sexualidade como oblação, como oferta, de modo alegre e sereno. 
Por quê? Porque sabia – e experimentava na sua vida de intimidade 
com Deus - que somente Deus é capaz de preencher totalmente a 
vida, a solidão, a necessidade de comunicação e a transparência do 
coração humano. Sabia que as relações interpessoais eram muito 
mais do que a satisfação de necessidades e que, por isso, poderia 
desenvolver a capacidade de oblatividade em favor das pessoas, em 
favor do Reino de Deus, sem se enganar e sem superestruturas 
externas que pudessem cobrar tal entrega. Foi capaz de entregar-se 
por puro amor. 
 
 
Construir o Reino de Deus é, para Jesus, uma missão tão 
grande, tão necessária, tão urgente, que vale a pena investir 
e condensar nela todas as suas energias vitais e todo o 
capital afetivo de seu ser. Tudo é posto por Jesus a serviço 
de sua adesão ao Pai na construçãodo Reino: preocupações, 
projetos, desejos, tempo, esforços, alegrias, sofrimentos. E 
nessa espécie de entrega total o celibato aparece como 
expressão, como requisito e como conseqüência desse 
investimento maciço em Deus e dessa implicação pessoal e 
radical a serviço do Reino (URIARTE, 2000. p.72). 
 
 
Jesus Cristo manifestou, por diversas vezes, seu ímpeto, de 
modo controlado e autêntico para dar fiel cumprimento à vontade de 
Deus (por exemplo, quando expulsou os vendilhões do templo, o fez 
em favor do cumprimento de seu projeto de vida). Sua sensibilidade 
era tanta que quando uma pessoa sofria ao seu lado, ele era o 
primeiro a perceber e a procurar aliviá-la. As dores e as necessidades 
dos outros mexiam com as raízes do seu ser. Precisava, por 
conseguinte, inclinar-se, fazer-se um com os necessitados. Precisava 
oferecer-se, partilhar do que tinha e, mais, do que era. 
Uma outra característica da maturidade de Cristo está no fato 
de que ele não se deixava mover pelo exterior. Cristo era 
extremamente assediado pelas multidões, pelos discípulos e até pelos 
traidores. Todos queriam vê-lo pregar, curar, operar em nome de 
Deus. Em alguns momentos, até quiseram aclamá-lo como Rei. Em 
outros, chamaram-no de Deus. Mas a fama e o sucesso não o 
seduzia, porque o que o motivava era fazer com que a Palavra de 
Deus se cumprisse. 
Pelo seu jeito maduro de ser, ensinava com autoridade, não 
com autoritarismo. Sua autoridade consistia em falar com seus 
gestos e ações. Conduzia os discípulos, seus seguidores, a pensar 
antes de reagir, a abrir janelas diante do medo, dos erros, dos 
fracassos e das dificuldades. Jesus Cristo, diante das frustrações, 
diante da traição dos próprios amigos ou do seu abandono, 
entristecia-se, porém, vivia estas situações com serenidade e 
equilíbrio. Além do mais, Ele mesmo, diante das duras tensões da 
vida, em que uma pequena simulação o livraria de grandes 
sofrimentos, optava por ser honesto consigo mesmo até o extremo 
da cruz, vivendo, assim, a plenitude do amor. 
E é aqui que se encontra o grau máximo da maturidade de 
Cristo. Ele se doou, se entregou totalmente, com sua morte e 
ressurreição, ao Pai e aos irmãos. “Eu vim para esta hora” (Jo 12,27), 
disse. Seu objetivo fundamental foi plenamente cumprido nos últimos 
momentos de sua história atestando sua estatura de adulto na fé, no 
relacionamento consigo mesmo, com Deus e com todas as pessoas. 
Como se pode perceber com este breve elenco de 
características, a humanidade de Cristo revela sua maturidade. 
Muitos estudiosos procuraram testificar que Jesus Cristo viveu 
plenamente a realidade humana, nas suas alegrias e tristezas2[2]. 
 
2[2] Augusto Cury, por exemplo, em sua obra O Mestre da Sensibilidade, cataloga 
32 características que testificam que Cristo realmente foi uma pessoa que viveu a 
humanidade maturamente. Afirma que Cristo: “1)Protegia sua emoção diante dos 
focos de tensão. 2) Filtrava os estímulos estressantes. 3) Não fazia de sua memória 
uma lata de lixo das misérias existenciais. 4) Não gravitava em torno das ofensas e 
rejeições sociais. 5) Pensava antes de reagir. 6) Era convicto no que pensava e 
gentil na maneira de expor seus pensamentos. 7) Transferia a responsabilidade de 
crer nas suas palavras e segui-lo aos próprios ouvintes. 8) Vivia a arte do perdão. 
Podia retomar o diálogo a qualquer momento com as pessoas que o frustravam. 9) 
Era um investidor em sabedoria diante dos invernos da vida. Fazia das suas dores 
uma poesia. 10) Não fugia dos seus sofrimentos, mas os enfrentava com lucidez e 
dignidade. 11) Quanto mais sofria, mais algo sonhava. 12) Não reclamava nem 
murmurava. Supervalorizava o que tinha, e não o que não tinha. 13) Gerenciava 
com liberdade seus pensamentos. As idéias negativas não ditavam ordem em sua 
mente. 14) Era um agente modificador da sua história, e não vítima dela. 15) Não 
sofria por antecipação. 16) Rompia todo cárcere intelectual. Era flexível, solidário e 
compreensível. 17) Brilhava no seu raciocínio, pois abria as janelas da sua memória 
e penava em todas as possibilidades. 18) Contemplava o belo nos pequenos 
eventos da vida. 19) Não gravitava em torno da fama e jamais perdia o contato 
com as coisas simples. 20) Vivia cada minuto da vida com intensidade. Não havia 
nele sombra de tédio, rotina, mesmice e angústia existencial. 21) Era sociável, 
Viveu com serenidade e integração, os momentos decisivos de seu 
existir terreno. 
 
 
4 Formação para a conformação 
 
 
Olhando para o modus vivendi de Cristo foi possível constatar 
alguns elementos que constituíram sua maturidade. Toda a sua vida 
- corpo, psique, espírito, relações, decisões, etc. – existiu para 
conhecer, amar e servir a Deus. Já que toda a ação educativa tende a 
criar na pessoa a “mesma disponibilidade ou aquele sentimento de 
amor que levou o Filho a se tornar homem, a se converter num 
servo, humilde e obediente, livre para dar a sua vida por amor” 
(CENCINI, 2005, p. 39) é preciso, agora, apresentar alguns 
elementos metodológicos que possibilitem esta conformação do 
formando a Cristo ou que, ao menos, lhes dê condições de criar uma 
disponibilidade à conformação. 
Esta disponibilidade ou docibilitas é a abertura da pessoa para 
que se deixe tocar, se deixe educar. Implica alguns fatores precisos 
que indicam não uma obediência passiva, mas: 
 
agradável, relaxante. Estar ao seu lado era uma aventura contagiante e 
estimulante. 22) Vivia a arte da autenticidade. 23) Sabia compartilhar seus 
sentimentos e falar de si. 24) Vivia a arte da motivação. Conseguia erguer os olhos 
e ver as flores antes que as sementes tivessem brotado antes do cair das primeiras 
chuvas. 25) Não esperava muito das pessoas que o rodeavam, nem das mais 
íntimas, embora se doasse intensamente por elas. 26) Tinha enorme paciência para 
ensinar e não vivia em função dos erros dos seus discípulos. 27) Nunca desistia de 
ninguém, embora as pessoas pudessem desistir dele. 28) Tinha enorme capacidade 
para encorajá-las, ainda que fosse com um olhar. Usava os seus erros como adubo 
da maturidade, e não como objeto de punição. 29) Sabia estimular as inteligências 
e conduzi-las a pensar em outras possibilidades. 30) Conseguia ouvir o que as 
palavras não diziam e ver o que as imagens não revelavam. 31) A ninguém 
considerava seu inimigo, embora alguns o considerassem uma ameaça para a 
sociedade. 32) Conseguia amar com um amor incondicional, um amor que 
ultrapassava a lógica do retorno (CURY, 2001, 169-171). 
 
 
 
 o pleno envolvimento ativo e responsável da pessoa, 
primeira protagonista do processo educativo; 
 uma atitude fundamentalmente positiva quanto à 
realidade: de reconciliação e de gratidão em relação à 
própria história e de confiança em relação aos outros; 
 a liberdade interior e o desejo inteligente de deixar-se 
instruir por qualquer fragmento de verdade e beleza 
existente ao seu redor, gozando daquilo que é verdadeiro e 
belo; 
 a capacidade de relacionamento com a alteridade, de 
interação fecunda, ativa e passiva, com a realidade objetiva 
outra e diferente em relação ao eu, até deixar-se formar por 
ela (CENCINI, 2005, p. 42). 
 
 
Sabendo que a maturidade humana, no seu grau mais 
elevado, identifica-se à maturidade de Cristo, é preciso considerar 
com relevância, mais uma vez, que o ser humano é um ser-a-
caminho, é um ser que procura a integração. A identificação a Cristo 
é projeto para a vida toda. Nunca alguém conseguirá identificar-se 
totalmente a Ele, porque o ser humano é limitado. Porém, pode 
desenvolver sua docibilidade a esta identificação. E isto é projeto 
para todo o existir humano(CNBB, doc. 55, 115). A primeira coisa a 
ser feita, portanto, no processo formativo inicial, para não chocar os 
formandos com um projeto muito inacessível e utópico, é apontar a 
eles a realidade da pessoa na sua ambigüidade ontológica. A pessoa 
é nascida do amor e é feita para viver o amor. Tem os olhos voltados 
para o alto, mas é, simultaneamente, fragmentada em si mesma. 
Esta vida, na sua totalidade e fragmentação precisa ser tomada nas 
mãos. A partir disto, se dá a integração do humano. A integração de 
qualquer pessoa não acontece por decreto ou pela simples força de 
vontade. É preciso haver um conjunto de elementos estruturadores, 
capazes de possibilitar uma aproximação do formando ao modo de 
viver de Cristo e aos seus sentimentos. 
Segundo Amedeo CENCINI, são quatro os componentes 
indispensáveis para que haja um processo formativo conveniente aos 
tempos atuais e que leve os candidatos a esta docibilitas e, 
consequentemente, a uma verdadeira maturidade rumo à 
consagração total de suas vidas a Deus e à Igreja: 
a) um quadro teórico-prático de referência, capaz de 
sustentar, com uma antropologia consistente, os objetivos finais e 
intermediários do processo inicial, bem como o método e as 
estratégias de intervenção. Num itinerário formativo é muito 
importante que se saiba aonde se quer chegar. Tanto o formador 
como os formandos precisam ter bem presente a compreensão de ser 
humano que os levará a estabelecer os objetivos finais e 
intermediários do processo. É muito triste encontrar comunidades 
formativas que não sabem por que existem e para que existem. 
Vivem um dia após o outro, sem ideais precisos e sem motivações. 
Vivem negativamente a rotinização. Uma vez que se tem um 
antropologia cristã fundamental, os objetivos formativos poderão ser 
traçados com maior tranqüilidade e os métodos e as estratégias de 
atuação educativa não serão simplesmente baseadas no 
espontaneísmo, mas planejadas rigorosamente; 
b) as mediações pedagógicas da ação de Deus na vida do 
acompanhado. Aqui se entende a presença dos formadores, dos 
diretores espirituais, da comunidade formativa. Entende-se a 
realidade circundante e, principalmente o acompanhado; 
c) a pluralidade de dimensões e níveis do processo. Deve-se 
considerar que há uma gradualidade no caminho. A quem está no 
início da caminhada vocacional não pode ser exigido o mesmo de 
quem está prestes a ser ordenado ou a professar os votos definitivos. 
Deve-se, portanto, num processo formativo consistente, contemplar e 
articular todas as dimensões da formação na fase em que a pessoa 
está enquadrada; 
d) três dinamismos pedagógicos. Aqui diz respeito aos meios 
de atuação do formador na vida do acompanhado. O formador deve 
educar (fazer com que a pessoa se dê conta daquilo que ela 
realmente é, possibilitando-lhe aquilo que pode realizar 
potencialmente), formar (apresentar um modelo preciso a ser 
construído ao acompanhante) e acompanhar (percorrer junto com a 
pessoa o caminho formativo). Isto de certo modo já foi afirmado no 
capítulo precedente quando foram feitas as distinções entre educar e 
formar (cf. CENCINI, 2005, p. 9-12). 
Estes quatro componentes no processo formativo, integrados 
entre si, devem levar os formandos à superação de si mesmos, tendo 
como direção a identificação com o próprio Cristo que amou até o 
fim, que doou a sua vida para dar significado à vida dos outros. 
Numa época em que “não há ventos favoráveis”, como diz Pe. 
Agenor Brighenti (cf. 2000, p. 9-31), é preciso planejar todo o 
processo formativo. Do contrário, corre-se o risco de se fazer tudo 
fragmentado e improvisado. O processo deve ser integrado e 
integrador, capaz de considerar a totalidade da pessoa, a 
gradualidade do caminho e as necessidades dos tempos hodiernos. 
Deve ser, finalmente, “projeto de vida estável e definitivo, em meio a 
uma cultura que exalta o descartável e o provisório” (DA 321). 
O primeiro dos quatro tópicos apontados acima – quadro 
teórico-prático de referência - remete à dimensão metodológica e às 
estratégias de ação que devem integrar todos os elementos 
humanos, psicológicos-existenciais e espirituais da pessoa. A 
metodologia do processo formativo deve oferecer uma visão de 
conjunto de toda formação, de modo a fundamentar um agir local 
intencional e conseqüente. Deve oportunizar uma visão orgânica do 
conteúdo formativo no processo de construção e reconstrução da 
subjetividade do formando. 
O processo formativo para o presbítero diocesano e também 
para os religiosos e religiosas é uma arte que implica fundamentação 
filosófica, psicológica, teológica e uma consistente aplicação 
pedagógica. São muitas as disciplinas que dizem respeito ao processo 
formativo humano-cristão. Muito importante, contudo, é que a 
integralidade das disciplinas e conteúdos na formação considere a 
pessoa humana, em toda a sua complexidade. Esta visão holística 
tem suas bases na própria cultura oriental de Jesus. Quando se lê no 
Deuteronômio ou ainda nos Evangelhos: “Amarás o Senhor teu Deus 
com toda a tua mente, com toda a tua vontade, com todo o teu 
coração”, é possível perceber a unidade e a integração subjacente 
àquela cultura e que fora herdada pela religião cristã. O ser humano 
é um ser total e precisa ser pensado como nó-de-relações. A visão 
oriental de pessoa possibilita compreender o ser humano desse 
modo, diferentemente da visão ocidental que prima em considerar o 
ser humano de modo fragmentado. 
Tendo em vista exatamente o amadurecimento harmônico e 
integral daquele que se prepara para consagrar sua vida pela 
profissão dos votos e/ou do exercício do ministério presbiteral, é 
preciso, em todo o processo formativo, criar uma integração entre as 
dimensões da formação, além de uma articulação inteligente e 
programada das mesmas. Segundo a Pastores Dabo Vobis, são 
quatro as dimensões para a formação presbiteral, que podem ser 
também utilizadas na formação para a vida religiosa: a) dimensão 
humano-afetiva; b) dimensão espiritual; c) dimensão intelectual; d) 
dimensão pastoral (cf. PDV 43-59). 
O modelo de formação que privilegia somente um aspecto ou 
uma dimensão ou um nível da mesma formação – chamado de 
modelo único de formação - corre o risco de perder de vista o 
conjunto, porque o aspecto privilegiado sempre determinará uma 
atenção formativa exclusiva, desconsiderando as outras realidades 
que também são importantes no processo formativo. Por exemplo, se 
numa casa formativa é privilegiada a dimensão intelectual, corre-se o 
risco de lá ser desprezados outros aspectos também valiosos na 
formação, como é o caso da espiritualidade, da liturgia e da pastoral. 
Se privilegiar somente a espiritualidade e a liturgia, por outro lado, 
pode-se cair num espiritualismo desencarnado, beirando o pietismo. 
Por outro lado, se exclusivisar a dimensão humano-afetiva, 
desconsiderando as outras, o processo formativo poderá a cair num 
psicologismo perigoso. De outro modo, se for priorizado o aspecto 
comunitário, correrá o risco, além de haver a massificação das 
pessoas, de se cair no voluntarismo que desconsiderará as outras 
facetas do processo. É preciso haver, portanto, um processo que 
integre todas as dimensões (cf. CENCINI, 2007, p.161-173). 
Como essa integração pode se dar? 
Muitos são os caminhos que podem levar à integração do 
formando. Muitos são os caminhos que podem encaminhá-lo rumo à 
conformação a Cristo. Metodologicamente, é considerável a 
articulação e a gradualidade entre as dimensões no processo 
formativo. As dimensões não são estáticas, nem podem ser 
isoladamente fixadas. Permitem-se à interdisciplinariedade. De certo 
modo, cada dimensão está imbricada na outra. Para se viver a 
dimensão espiritual, por exemplo, o formando deve dar-se conta de 
sua humanidade. Somente o ser humano conscientiza-se de sua 
condição criatural diante do mistériodivino. Este mesmo ser humano, 
que vive em relação, que vive em comunidade (dimensão 
comunitária) pode beber dos elementos trazidos tanto pela sua 
atividade pastoral, acontecida na casa de formação (dimensão 
pastoral) como pelos elementos que vai adquirindo no caminho 
acadêmico e cultural (dimensão intelectual). 
Todas as atividades pastorais, a formação sócio-política e 
eclesial, os estudos acadêmicos, todos os momentos de oração 
comunitária e pessoal, a vivência comunitária, os colóquios 
formativos personalizados, a ajuda psico-pedagógica individual e 
grupal, etc. são instrumentais básicos para o encontro e o confronto 
do formando consigo mesmo e com Deus. Todas as atividades de 
uma casa de formação, todas as estratégias de ação, toda a 
metodologia a ser usada deve ser pensada articuladamente a fim de 
levar a pessoa do formando e também a comunidade a uma 
experiência integradora de vida.

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