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O PROCESSO FORMATIVO COMO CONFORMAÇÃO A CRISTO1[1] 1 A necessidade do processo formativo O processo formativo é profundamente complexo e dinâmico. Nunca termina. Ele dura a vida inteira, da concepção à morte. A Igreja reconhece a importância decisiva deste processo ao longo de toda a vida para todas as pessoas, contudo, não deixa de relevar o caminho formativo específico para quem deseja consagrar sua vida a Deus, por meio da profissão dos votos ou mediante a ordenação diaconal e/ou presbiteral. A formação inicial, não obstante esteja integrada na abrangência de todo o processo formativo, é reiterada muitíssimas vezes pelos documentos da Igreja, como uma etapa importante e decisiva para toda a vida do formando. Os decretos conciliares Presbyterorum Ordinis, sobre o ministério e a vida dos presbíteros, Perfectae Caritatis, sobre a atualização dos religiosos e Optatam Totius, sobre a formação presbiteral, bem como os outros documentos do magistério da Igreja sobre a formação, de maneira particular a Exortação Apostólica Pós- sinodal sobre a formação presbiteral Pastores Dabo Vobis e a Exortação Apostólica Pós-sinodal sobre os religiosos Vita Consecrata, ambas de João Paulo II, afirmam a necessidade de haver um projeto educativo global bem delineado para os primeiros anos da caminhada formativa. Nunca se pode esquecer, no entanto, o laço profundo que 1[1] Este texto é o segundo capítulo do trabalho monográfico intitulado “O ano litúrgico como itinerário mistagógico no processo formativo inicial” apresentado como requisito final para a Escola de Formadores de Santa Catarina, 5ª geração, em 2007. Portanto, a bibliografia completa não consta nesse artigo. une a formação inicial e a formação permanente e que deve fazer das duas um único itinerário orgânico de vida cristã. Poder-se-ia utilizar muitíssimas citações para confirmar a idéia de que a Igreja entende como fundamental o processo formativo na sua globalidade e nas especificidades de suas fases. Porém, a seguir serão apresentadas somente duas referências conciliares que atestam esta precisão. Sobre a formação para a vida presbiteral, afirmam os padres conciliares “que a desejada renovação de toda a Igreja depende em grande parte do ministério dos sacerdotes, vivificado pelo Espírito de Cristo. Por isso, o Sagrado Sínodo proclama a suma importância da formação sacerdotal e declara alguns de seus princípios básicos” (OT 1). Por sua vez, sobre a formação à vida religiosa, o decreto conciliar Perfectae Caritatis reza: “Prolongue-se de maneira conveniente e em casas apropriadas a sua formação religiosa e apostólica, doutrinária e técnica, com obtenção dos títulos convenientes” (PC 18). A necessidade de haver um processo formativo inicial consistente, portanto, justifica-se pela realidade ontológica do ministério presbiteral ou da vida consagrada e de suas ações no mundo. Os presbíteros são, na Igreja e para a Igreja, uma representação sacramental de Jesus Cristo Cabeça e Pastor, proclamam a sua palavra com autoridade, repetem seus gestos de perdão e oferta de salvação, nomeadamente com o Batismo, a Penitência e a Eucaristia, exercitam a sua amável solicitude, até ao dom total de si mesmos, pelo rebanho que reúnem na unidade e conduzem ao Pai por meio de Cristo no Espírito. Numa palavra, os presbíteros existem e agem para o anúncio do Evangelho ao mundo e para a edificação da Igreja em nome da pessoa de Cristo Cabeça e Pastor (PDV 15). Na verdade, pela profissão dos conselhos, o consagrado não só faz de Cristo o sentido da própria vida, mas preocupa-se por reproduzir em si mesmo, na medida do possível, ‘aquela forma de vida que o Filho de Deus assumiu ao entrar no mundo’. Abraçando a virgindade, ele assume o amor virginal de Cristo e confessa-O ao mundo como Filho unigênito, um só com o Pai (cf. Jo 10, 30; 14,11); imitando a sua pobreza, confessa-O como Filho que tudo recebe do Pai e no amor tudo lhe devolve (cf. Jo 17,7.10); aderindo com o sacrifício da própria liberdade, ao mistério da sua obediência filial, confessa-O infinitamente amado e amante, como Aquele que Se compraz somente na vontade do Pai (c. Jo 4,34), ao qual está perfeitamente unido e do qual depende em tudo (VC 16). Embora esteja claro para a Igreja a identidade do presbítero e do(a) consagrado(a), difunde-se, em muitos ambientes de formação, a idéia de que as pessoas são boas, livres e maduras e, espontânea e naturalmente, com “o andar da carroça”, sem qualquer orientação mais incisiva, buscarão soluções para resolver seus problemas de imaturidade humana e cristã. A Igreja já mostrou em sua tradição bi-milenar a necessidade da formação. Agora, o que a tange e desafia é a própria realidade do mundo atual, caracterizada, fundamentalmente, pelo relativismo, individualismo, hedonismo, consumismo, pelo vazio de sentido humano, pela ausência de referenciais, pelo descrédito das autoridades e instituições, pela fragmentação, etc. Sem dúvida alguma, as circunstâncias atuais exigem maior competência e senso de responsabilidade por parte de quem se coloca a caminho do amadurecimento vocacional. Daí a necessidade de se ter clareza na proposta formativa, evitando todo espontaneísmo e improvisação. 2 O objetivo do processo formativo Para não correr o risco de se cair neste espontaneísmo e improvisação, faz-se necessário ter bem presente o objetivo em torno do qual deve girar a globalidade do processo formativo. A formação deve tornar a pessoa conformada a Cristo, em suas atitudes, gestos e palavras. Toda a ação educativa proposta metodologicamente pela Igreja àqueles que almejam a consagração de sua vida a Deus, deve tender a criar neles a “mesma disponibilidade ou aquele sentimento de amor imenso que levou o Filho a se tornar homem, a se converter num servo, humilde e obediente, livre para dar a vida por amor” (CENCINI, 2005, p.39). A formação deverá, pois, atingir em profundidade a própria pessoa, de tal modo que cada uma das suas atitudes ou gestos, tanto nos momentos importantes como nas circunstâncias ordinárias da vida, possa revelar a sua pertença total e feliz a Deus. Uma vez que o fim da vida consagrada consiste na configuração com o Senhor Jesus e com a sua oblação total, para isso sobretudo é que deve apontar a formação. Trata-se de um itinerário de progressiva assimilação dos sentimentos de Cristo para com o Pai (VC 65). Não se quer afirmar aqui que a pessoa precisa se tornar perfeita, como num passado não distante se afirmava, mas que ela precisa buscar assemelhar-se a Cristo, sobretudo no que diz respeito a sua humanidade. O modelo teológico-antropológico que a Igreja apresenta para a formação inicial e permanente é o ícone do próprio Cristo que se entrega totalmente ao Pai e, consequentemente, aos irmãos. É o modelo da kénosis, apresentada em Fl 2, 5-11, onde Paulo exprime a totalidade da oferta de Cristo, símbolo e sinal interpretativo do existir e do morrer por amor, do não guardar nada para si e do entregar-se totalmente, transformando a vida em dom, presente para o engrandecimento de outrem. Configurando-se a Ele, assumindo os seus mesmos sentimentos, mediante um caminho gradual de crescimento integrado na globalidade das dimensões humana, afetiva, intelectual e relacional, toda a pessoa e, especialmente aquela que se põe a caminho rumo ao exercício do ministério presbiteral ou da consagração de sua vida pela profissão dos votos, é chamada a viver os mesmos sentimentos de Cristo, até que não seja mais ela que viva, mas sim o próprio Cristo (cf. Gl 2, 20). E, por que os sentimentos? Por um lado, os sentimentos revelam o lado frágil da pessoa, o que muitas vezes não passa pelo crivo da reflexão;por outro lado, e por isso mesmo, são a fotografia ou o teste mais verdadeiro do que o ser humano é, daquilo que tem em seu coração, do nível de profundidade da sua conversão interior. De fato, podemos controlar as palavras e os gestos, mas não podemos nos impedir de experimentar os sentimentos, os quais nos dizem imediatamente se e até que ponto estamos nos identificando com o coração de Cristo, com a sua paixão de amor, com o seu evangelho... (CENCINI, 2005, p. 40-41). Um itinerário destes, proposto pela Igreja, não poderá senão durar a vida toda. Pois, não basta um tempo limitado para se chegar a ter os mesmos sentimentos de Cristo. Aliás, não seria suficiente nem a vida inteira para tanto. Apesar disto, a Igreja tem consciência da necessidade de propor com objetivos claros, metodologia precisa e intervenções diretas, um caminho formativo que possa englobar a totalidade da pessoa nos inícios de sua escolha vocacional até a consagração definitiva e/ou ordenação. Quando a Igreja fala nos sentimentos de Cristo, de certo modo, aponta para a inteireza da pessoa, tanto no que diz respeito a sua vida exterior, comportamental-fenomenológica, como no que diz respeito a sua vida interior, intencional, motivacional. O método mais conveniente para a formação inicial deve levar em consideração a característica da totalidade. Deverá ser formação da pessoa toda, nos vários aspectos de sua individualidade, tanto nos comportamentos como nas intenções. [...] Assim, há de estar prevista uma preparação humana, cultural, espiritual e pastoral, colocando todo o cuidado para que seja favorecida uma integração harmônica dos diversos aspectos. À formação inicial, entendida como processo evolutivo que passa por cada grau do amadurecimento pessoal – desde o psicológico e espiritual até ao teológico e pastoral -, deve-se reservar um período de tempo suficientemente amplo (VC 65). No fundo, o que se quer afirmar aqui é que o processo formativo é gradual e total. E, por isso, deve levar a pessoa, paulatinamente, em todas as categorias que a compõe – corporal, psíquica, espiritual, relacional, etc – a uma integração de vida, de tal maneira que ela se identifique com o modus vivendi de Jesus Cristo. Este processo de integração visa, de modo lento e interminável, gerar o homem novo que aprende a ter os mesmos sentimentos de Cristo. A expressão maior deste amadurecimento de vida se dá quando a pessoa em formação torna-se capaz de entregar sua vida a Deus e ao serviço dos irmãos, conformando-se a Cristo. 3 A estatura do homem maduro É decisivo para a pessoa em formação dar-se conta de que é este o fim de sua existência: experimentar que pode construir sua vida “em Cristo”, na verdadeira liberdade. A formação inicial deve, portanto, possibilitar aos caminhantes, instrumentais capazes de criar neles uma disponibilidade tal que os torne, com Deus e as suas mediações formativas, sujeito do processo; que os coloque em “condição de ‘aprender a aprender’, isto é, viver em perene estado de formação” (CENCINI, 2005, p. 234); que os faça seres-a-caminho na busca incessante de uma vida pascal; na busca incessante da maturidade em Cristo. O que vem a ser a maturidade? Falar em maturidade é algo muito complexo. É preciso ter alguns pressupostos. Em primeiro lugar é preciso compreender que maturidade não quer significar perfeccionismo ou ausência de limitações. Em outros tempos assim se pensava, inclusive no âmbito formativo eclesial. Procurava-se, muitas vezes, anular o pólo humano negativo, presente na vida da pessoa. Em segundo lugar, é preciso perceber que a maturidade não pode ser determinada fixamente, porque, como a vida é processo, em cada etapa do ciclo vital, deve haver um certo grau de maturidade a ser constituído. O complexo tema da maturidade da pessoa está intimamente ligado ao do desenvolvimento. Uma maturidade humana, mesmo na sua dimensão psicológica, não pode ser concebida e compreendida senão no curso de um desenvolvimento, em que o fato de atingi-la ou não está em estreita relação com uma adequada antropologia da pessoa (IMODA, 1996, p. 117) Os estudiosos entendem que não há um único modo de ver a maturidade. A citação acima, já comprova esta verdade. A maturidade pode ser compreendida nas mais diversas facetas daquilo que constitui o ser humano e, por isso, a necessidade de haver uma antropologia basilar. Pode-se afirmar, portanto, a maturidade no âmbito biológico, no âmbito psicológico-existencial – que compreende a maturidade relacional, intelectual, cultural e social - ou ainda no âmbito espiritual. Rezar um único conceito de maturidade é impensável. Porém, algumas aproximações podem ser feitas. E, é o que de modo muito simples, se pretende agora. Comumente, no sentido biológico e também psicológico, entende-se a maturidade como a “idade intermédia entre a juventude e velhice, considerada como o período pleno e frutuoso da vida” (SALONIA apud AWOKI, 2001, p. 14). Por volta dos 40 anos de vida, onde o organismo, de certo modo, mostra- se desenvolvido e, por conseguinte, a mente integrada (claro que vendo isto idealmente) a pessoa apresenta as competências necessárias para constituir sua meta, vértice e realização conjunta de sua humanização. No sentido psicológico, propriamente dito, alguém é humanamente maduro quando ama e trabalha em liberdade. Isto quem afirma é o pai da psicanálise, Sigmund Freud (cf. GARRIDO, 2006, p.13). Porém, o que é a liberdade? “Psicologicamente falando, significa a não-dependência de estímulos externos, certa facilidade para controlar os impulsos, capacidade para integrar frustrações e satisfações” (GARRIDO, 2006, p.13). Poderia se afirmar que alguém é psicologicamente maduro quando conseguiu se integrar na sua história pessoal de vida, com seus componentes positivos e negativos e, a partir disto, coloca-se, com serenidade, na busca da realização de uma meta. Não pode haver liberdade fora desse percurso histórico que leva a descobrir e depois a decidir viver a vida como dom; não podem ser tidos como livres, o coração, a mente e a vontade de quem não capta suficientemente o fascínio daquilo que é verdadeiro-belo-bom. A liberdade, nesse sentido, é sensibilidade educada, capacidade de se comover diante do belo e de se deixar deslumbrar pelo esplendor da verdade, assim como brilha também no pequeno fragmento da própria história. É uma ligação preciosa a que se estabelece entre a experiência histórica a capacidade de se deixar seduzir por aquele fascínio e a liberdade em lhe dar uma resposta: é exatamente esta a maturidade plena, num plano humano que se abre sempre mais à perspectiva da fé (CENCINI, 2005, p. 124). No sentido espiritual, maturidade é sinônimo de integração da pessoa na experiência de fé. Percebe-se que alguém é espiritualmente maduro quando conseguiu desenvolver o amadurecimento da fé, à luz da imagem antropológica de Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem; quando integrou a realidade da graça sobrenatural de Deus com seu esforço humano; quando chegou a totalizar a sua vida na vida de Cristo; quando seus atos tornaram-se pautados por um centro vital de fé; quando aprendeu a discernir os sinais da presença de Deus na realidade; quando fez de sua vida uma vida de doação, de amor a Deus e aos irmãos; quando deixou de ser infantil para ter uma vida de adulto na fé. Para ilustrar, afirma São Paulo na Carta aos Efésios: “Assim, ele capacitou os santos para a obra do ministério, para a edificação do Corpo de Cristo, até chegarmos, todos juntos, à unidade na fé e no conhecimento do Filho de Deus, ao estado de adultos, à estatura de Cristo em sua plenitude” (Ef 4, 12-13). Compreendemos a maturidade espiritual como o pleno desenvolvimento de todas as potencialidadesda graça, a todos os níveis do organismo sobrenatural. A maturidade cristã não consiste em viver a graça em maneira desencarnada e abstrata, mas no encontro da vida teologal e do empenho temporal. Uma etapa decisiva na maturação da personalidade cristã é o deixar de se comportar como criança para assumir o comportamento do adulto, isto é, para assumir as novas responsabilidades da fé e da graça (Gal 4,1ss; 1Cor 13,11). Discernir é próprio da pessoa espiritualmente adulta, de quem não é uma criança, mas sabe mastigar alimento sólido (Hb 5,13-14) e se deixa penetrar pelo Espírito Santo que possibilita penetrar na vontade de Deus (AWOKI, 2001, p. 18). Se por um lado, a mescla de linguagem a respeito da maturidade – os sentidos anteriormente apresentados: biológico, psicológico-existencial, espiritual - pode prejudicar o caráter científico da exposição, por outro lado, esta mescla é positiva porque o ser humano, como se sabe, não é um conjunto de “gavetas”, que, fragmentado, pode ser analisado por partes. Na verdade, o ser humano é real em sua unidade e complexidade, é um nó-de-relações que está, enquanto existe, a caminho da verdadeira integração. Por isso, entende-se a maturidade com a categoria de unidade de vida, a qual evidencia a “harmoniosa integração de todas as dimensões da pessoa concretamente considerada («unidade») e ao mesmo tempo, o valor um pouco utópico da meta a alcançar próprio porque dinâmico e susceptível de um indefinido progresso” (cf. COSTA apud AWOKI, 2001, p. 13-14). “Na realidade, a maturidade da pessoa é considerada como o resultado de uma longa caminhada de crescimento e integração de todas as potencialidades da pessoa” (NIKIC apud IMODA, 2002, p. 119). 3.1 Cristo, exemplo de homem maduro Muitos homens e mulheres, ao longo da história, brilharam em suas inteligências e desenvolveram algumas áreas importantes para o pensamento e para a própria humanidade, no campo científico, cultural, filosófico, político e espiritual. Jesus Cristo foi um destes homens. Não apenas brilhou em sua inteligência, mas teve uma personalidade intrigante, misteriosa, fascinante. Ele é o modelo de homem maduro. “Na realidade o mistério do homem só se torna claro verdadeiramente no mistério do Verbo encarnado [...]. Cristo manifesta plenamente o homem ao próprio homem e lhe descobre sua altíssima vocação” (GS 22). Embora seja Deus, Jesus Cristo aponta muitos indicativos de maturidade para aquele que busca a plenitude da estatura humana e a conformação a Ele. “Todo aquele que segue Cristo, o homem perfeito, torna-se ele também mais homem” (GS 41). Ele “revela a vida íntima de Deus em seu mistério mais elevado, a comunhão trinitária” (DA 109). Ele “oferece a ressurreição e a vida eterna na qual Deus será tudo em todos (cf. 1Cor 15,28) (DA 109). Ele propõe a uma vida de entrega aos outros, bem como uma vida vivida em comunhão fraterna, capaz de superar o individualismo (cf. DA 110). Ele ensina “a lutar contra toda forma de desprezo da vida e da exploração da pessoa humana” (DA 112). Não se pretende aqui, evidentemente, esgotar as idéias que indicam os sinais da maturidade de Cristo, mas trazer presentes as mais significativas. A história de Cristo teve particularidades em toda a sua trajetória: do seu nascimento à sua morte. De certo modo, o homem maduro, Jesus Cristo, abalou os alicerces da história humana por meio de sua própria história de maturidade. Os Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) são como que quatro biografias de Cristo. Cada um, a seu modo, apresenta a personalidade madura de Jesus. Apontam Jesus Cristo amadurecendo sua auto-consciência e sua identidade pessoal. Por meio de seu corpo, provou-se no espaço e no tempo. Não era um fantasma. Assumiu as condições humanas para viver entre os seres humanos, sem, contudo, deixar de ser Deus. Outra realidade de sua autoconsciência é que, num determinado momento de sua vida, deu-se conta de que, mesmo desenvolvendo- se, biológica e psicologicamente, era o mesmo. Percebeu-se, também, naquilo que expandia o seu próprio eu. Deu-se conta de que pertencia a uma família, a um povo, de que tinha uma história. Procurou conhecer a si próprio e aos projetos de Deus, por meio de sua capacidade racional. “Trabalhou com mãos humanas, pensou com inteligência humana, agiu com vontade humana, amou com coração humano” (GS 22). Tinha, finalmente, uma verdadeira imagem de si, o que o manteve firme na sua identidade. Certamente, manifestou sua liberdade ao assumir os riscos de operar e incidir na história e na vida das pessoas a partir de sua unidade pessoal interior. Jesus Cristo construiu para si uma cosmovisão, um entendimento acerca do mundo e da história. Não aprendeu a fazer isto somente com a sua família e a cultura da sua época, mas foi elaborando uma visão de mundo, numa vida de interioridade e serenidade. O sistema político e religioso não foi tolerante com ele, mas ele foi tolerante e dócil com todos, mesmo com seus mais ardentes opositores. Cristo vivenciou sofrimentos e perseguições desde a sua infância. Foi incompreendido, rejeitado, zombado, cuspido no rosto. Foi ferido física e psicologicamente. Porém, apesar de tantas misérias e sofrimentos, não desenvolveu uma emoção agressiva e ansiosa; pelo contrário, ele exalava tranqüilidade diante das mais tensas situações e ainda tinha fôlego para discursar sobre o amor no mais poético sentido (CURY, 1999, p.15). Outro dado imprescindível que revela a maturidade de Cristo é que Ele sabia o que queria. Tinha metas e prioridades bem estabelecidas. Tinha, enfim, um projeto de vida: fazer a vontade do Pai (cf. Lc 22,42). E a vontade do Pai era a doação total de sua vida em favor dos outros. Em torno desta sua opção fundamental de vida, giraram todas as suas opções secundárias. Por isso, Cristo viveu a obediência a Deus, não como algo imputado, mas como convicção libertadora. Jesus foi alguém que viveu uma vida de não-aparências. Coração e cabeça, afetividade e razão manifestavam essa integração entre o seu interior e o seu exterior. Palavras e ações coincidiam. Ele, realmente, viveu a liberdade, sem depender de estímulos externos. Nem a família nem os amigos nem mesmo a religião e o poder civil impossibilitaram-no de viver autenticamente a liberdade. Mostrou-se como era, sem esconder seus sonhos, seus anseios, seus projetos. Jesus Cristo assumiu uma vida de austeridade e pobreza, por opção libertadora. A pobreza tornou-se a forma visível da sua existência. Não tinha onde reclinar a cabeça (cf. Mt 8,20). A pobreza interior, a pobreza como sensibilidade para com os pobres e excluídos e como identificação e proximidade em relação a eles plasmou as decisões do mestre Jesus. Ele sabia que o mais importante era buscar, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça para com os marginalizados (cf. Lc 12,31). Jesus se fez célibe em favor das pessoas. Viveu sua sexualidade como oblação, como oferta, de modo alegre e sereno. Por quê? Porque sabia – e experimentava na sua vida de intimidade com Deus - que somente Deus é capaz de preencher totalmente a vida, a solidão, a necessidade de comunicação e a transparência do coração humano. Sabia que as relações interpessoais eram muito mais do que a satisfação de necessidades e que, por isso, poderia desenvolver a capacidade de oblatividade em favor das pessoas, em favor do Reino de Deus, sem se enganar e sem superestruturas externas que pudessem cobrar tal entrega. Foi capaz de entregar-se por puro amor. Construir o Reino de Deus é, para Jesus, uma missão tão grande, tão necessária, tão urgente, que vale a pena investir e condensar nela todas as suas energias vitais e todo o capital afetivo de seu ser. Tudo é posto por Jesus a serviço de sua adesão ao Pai na construçãodo Reino: preocupações, projetos, desejos, tempo, esforços, alegrias, sofrimentos. E nessa espécie de entrega total o celibato aparece como expressão, como requisito e como conseqüência desse investimento maciço em Deus e dessa implicação pessoal e radical a serviço do Reino (URIARTE, 2000. p.72). Jesus Cristo manifestou, por diversas vezes, seu ímpeto, de modo controlado e autêntico para dar fiel cumprimento à vontade de Deus (por exemplo, quando expulsou os vendilhões do templo, o fez em favor do cumprimento de seu projeto de vida). Sua sensibilidade era tanta que quando uma pessoa sofria ao seu lado, ele era o primeiro a perceber e a procurar aliviá-la. As dores e as necessidades dos outros mexiam com as raízes do seu ser. Precisava, por conseguinte, inclinar-se, fazer-se um com os necessitados. Precisava oferecer-se, partilhar do que tinha e, mais, do que era. Uma outra característica da maturidade de Cristo está no fato de que ele não se deixava mover pelo exterior. Cristo era extremamente assediado pelas multidões, pelos discípulos e até pelos traidores. Todos queriam vê-lo pregar, curar, operar em nome de Deus. Em alguns momentos, até quiseram aclamá-lo como Rei. Em outros, chamaram-no de Deus. Mas a fama e o sucesso não o seduzia, porque o que o motivava era fazer com que a Palavra de Deus se cumprisse. Pelo seu jeito maduro de ser, ensinava com autoridade, não com autoritarismo. Sua autoridade consistia em falar com seus gestos e ações. Conduzia os discípulos, seus seguidores, a pensar antes de reagir, a abrir janelas diante do medo, dos erros, dos fracassos e das dificuldades. Jesus Cristo, diante das frustrações, diante da traição dos próprios amigos ou do seu abandono, entristecia-se, porém, vivia estas situações com serenidade e equilíbrio. Além do mais, Ele mesmo, diante das duras tensões da vida, em que uma pequena simulação o livraria de grandes sofrimentos, optava por ser honesto consigo mesmo até o extremo da cruz, vivendo, assim, a plenitude do amor. E é aqui que se encontra o grau máximo da maturidade de Cristo. Ele se doou, se entregou totalmente, com sua morte e ressurreição, ao Pai e aos irmãos. “Eu vim para esta hora” (Jo 12,27), disse. Seu objetivo fundamental foi plenamente cumprido nos últimos momentos de sua história atestando sua estatura de adulto na fé, no relacionamento consigo mesmo, com Deus e com todas as pessoas. Como se pode perceber com este breve elenco de características, a humanidade de Cristo revela sua maturidade. Muitos estudiosos procuraram testificar que Jesus Cristo viveu plenamente a realidade humana, nas suas alegrias e tristezas2[2]. 2[2] Augusto Cury, por exemplo, em sua obra O Mestre da Sensibilidade, cataloga 32 características que testificam que Cristo realmente foi uma pessoa que viveu a humanidade maturamente. Afirma que Cristo: “1)Protegia sua emoção diante dos focos de tensão. 2) Filtrava os estímulos estressantes. 3) Não fazia de sua memória uma lata de lixo das misérias existenciais. 4) Não gravitava em torno das ofensas e rejeições sociais. 5) Pensava antes de reagir. 6) Era convicto no que pensava e gentil na maneira de expor seus pensamentos. 7) Transferia a responsabilidade de crer nas suas palavras e segui-lo aos próprios ouvintes. 8) Vivia a arte do perdão. Podia retomar o diálogo a qualquer momento com as pessoas que o frustravam. 9) Era um investidor em sabedoria diante dos invernos da vida. Fazia das suas dores uma poesia. 10) Não fugia dos seus sofrimentos, mas os enfrentava com lucidez e dignidade. 11) Quanto mais sofria, mais algo sonhava. 12) Não reclamava nem murmurava. Supervalorizava o que tinha, e não o que não tinha. 13) Gerenciava com liberdade seus pensamentos. As idéias negativas não ditavam ordem em sua mente. 14) Era um agente modificador da sua história, e não vítima dela. 15) Não sofria por antecipação. 16) Rompia todo cárcere intelectual. Era flexível, solidário e compreensível. 17) Brilhava no seu raciocínio, pois abria as janelas da sua memória e penava em todas as possibilidades. 18) Contemplava o belo nos pequenos eventos da vida. 19) Não gravitava em torno da fama e jamais perdia o contato com as coisas simples. 20) Vivia cada minuto da vida com intensidade. Não havia nele sombra de tédio, rotina, mesmice e angústia existencial. 21) Era sociável, Viveu com serenidade e integração, os momentos decisivos de seu existir terreno. 4 Formação para a conformação Olhando para o modus vivendi de Cristo foi possível constatar alguns elementos que constituíram sua maturidade. Toda a sua vida - corpo, psique, espírito, relações, decisões, etc. – existiu para conhecer, amar e servir a Deus. Já que toda a ação educativa tende a criar na pessoa a “mesma disponibilidade ou aquele sentimento de amor que levou o Filho a se tornar homem, a se converter num servo, humilde e obediente, livre para dar a sua vida por amor” (CENCINI, 2005, p. 39) é preciso, agora, apresentar alguns elementos metodológicos que possibilitem esta conformação do formando a Cristo ou que, ao menos, lhes dê condições de criar uma disponibilidade à conformação. Esta disponibilidade ou docibilitas é a abertura da pessoa para que se deixe tocar, se deixe educar. Implica alguns fatores precisos que indicam não uma obediência passiva, mas: agradável, relaxante. Estar ao seu lado era uma aventura contagiante e estimulante. 22) Vivia a arte da autenticidade. 23) Sabia compartilhar seus sentimentos e falar de si. 24) Vivia a arte da motivação. Conseguia erguer os olhos e ver as flores antes que as sementes tivessem brotado antes do cair das primeiras chuvas. 25) Não esperava muito das pessoas que o rodeavam, nem das mais íntimas, embora se doasse intensamente por elas. 26) Tinha enorme paciência para ensinar e não vivia em função dos erros dos seus discípulos. 27) Nunca desistia de ninguém, embora as pessoas pudessem desistir dele. 28) Tinha enorme capacidade para encorajá-las, ainda que fosse com um olhar. Usava os seus erros como adubo da maturidade, e não como objeto de punição. 29) Sabia estimular as inteligências e conduzi-las a pensar em outras possibilidades. 30) Conseguia ouvir o que as palavras não diziam e ver o que as imagens não revelavam. 31) A ninguém considerava seu inimigo, embora alguns o considerassem uma ameaça para a sociedade. 32) Conseguia amar com um amor incondicional, um amor que ultrapassava a lógica do retorno (CURY, 2001, 169-171). o pleno envolvimento ativo e responsável da pessoa, primeira protagonista do processo educativo; uma atitude fundamentalmente positiva quanto à realidade: de reconciliação e de gratidão em relação à própria história e de confiança em relação aos outros; a liberdade interior e o desejo inteligente de deixar-se instruir por qualquer fragmento de verdade e beleza existente ao seu redor, gozando daquilo que é verdadeiro e belo; a capacidade de relacionamento com a alteridade, de interação fecunda, ativa e passiva, com a realidade objetiva outra e diferente em relação ao eu, até deixar-se formar por ela (CENCINI, 2005, p. 42). Sabendo que a maturidade humana, no seu grau mais elevado, identifica-se à maturidade de Cristo, é preciso considerar com relevância, mais uma vez, que o ser humano é um ser-a- caminho, é um ser que procura a integração. A identificação a Cristo é projeto para a vida toda. Nunca alguém conseguirá identificar-se totalmente a Ele, porque o ser humano é limitado. Porém, pode desenvolver sua docibilidade a esta identificação. E isto é projeto para todo o existir humano(CNBB, doc. 55, 115). A primeira coisa a ser feita, portanto, no processo formativo inicial, para não chocar os formandos com um projeto muito inacessível e utópico, é apontar a eles a realidade da pessoa na sua ambigüidade ontológica. A pessoa é nascida do amor e é feita para viver o amor. Tem os olhos voltados para o alto, mas é, simultaneamente, fragmentada em si mesma. Esta vida, na sua totalidade e fragmentação precisa ser tomada nas mãos. A partir disto, se dá a integração do humano. A integração de qualquer pessoa não acontece por decreto ou pela simples força de vontade. É preciso haver um conjunto de elementos estruturadores, capazes de possibilitar uma aproximação do formando ao modo de viver de Cristo e aos seus sentimentos. Segundo Amedeo CENCINI, são quatro os componentes indispensáveis para que haja um processo formativo conveniente aos tempos atuais e que leve os candidatos a esta docibilitas e, consequentemente, a uma verdadeira maturidade rumo à consagração total de suas vidas a Deus e à Igreja: a) um quadro teórico-prático de referência, capaz de sustentar, com uma antropologia consistente, os objetivos finais e intermediários do processo inicial, bem como o método e as estratégias de intervenção. Num itinerário formativo é muito importante que se saiba aonde se quer chegar. Tanto o formador como os formandos precisam ter bem presente a compreensão de ser humano que os levará a estabelecer os objetivos finais e intermediários do processo. É muito triste encontrar comunidades formativas que não sabem por que existem e para que existem. Vivem um dia após o outro, sem ideais precisos e sem motivações. Vivem negativamente a rotinização. Uma vez que se tem um antropologia cristã fundamental, os objetivos formativos poderão ser traçados com maior tranqüilidade e os métodos e as estratégias de atuação educativa não serão simplesmente baseadas no espontaneísmo, mas planejadas rigorosamente; b) as mediações pedagógicas da ação de Deus na vida do acompanhado. Aqui se entende a presença dos formadores, dos diretores espirituais, da comunidade formativa. Entende-se a realidade circundante e, principalmente o acompanhado; c) a pluralidade de dimensões e níveis do processo. Deve-se considerar que há uma gradualidade no caminho. A quem está no início da caminhada vocacional não pode ser exigido o mesmo de quem está prestes a ser ordenado ou a professar os votos definitivos. Deve-se, portanto, num processo formativo consistente, contemplar e articular todas as dimensões da formação na fase em que a pessoa está enquadrada; d) três dinamismos pedagógicos. Aqui diz respeito aos meios de atuação do formador na vida do acompanhado. O formador deve educar (fazer com que a pessoa se dê conta daquilo que ela realmente é, possibilitando-lhe aquilo que pode realizar potencialmente), formar (apresentar um modelo preciso a ser construído ao acompanhante) e acompanhar (percorrer junto com a pessoa o caminho formativo). Isto de certo modo já foi afirmado no capítulo precedente quando foram feitas as distinções entre educar e formar (cf. CENCINI, 2005, p. 9-12). Estes quatro componentes no processo formativo, integrados entre si, devem levar os formandos à superação de si mesmos, tendo como direção a identificação com o próprio Cristo que amou até o fim, que doou a sua vida para dar significado à vida dos outros. Numa época em que “não há ventos favoráveis”, como diz Pe. Agenor Brighenti (cf. 2000, p. 9-31), é preciso planejar todo o processo formativo. Do contrário, corre-se o risco de se fazer tudo fragmentado e improvisado. O processo deve ser integrado e integrador, capaz de considerar a totalidade da pessoa, a gradualidade do caminho e as necessidades dos tempos hodiernos. Deve ser, finalmente, “projeto de vida estável e definitivo, em meio a uma cultura que exalta o descartável e o provisório” (DA 321). O primeiro dos quatro tópicos apontados acima – quadro teórico-prático de referência - remete à dimensão metodológica e às estratégias de ação que devem integrar todos os elementos humanos, psicológicos-existenciais e espirituais da pessoa. A metodologia do processo formativo deve oferecer uma visão de conjunto de toda formação, de modo a fundamentar um agir local intencional e conseqüente. Deve oportunizar uma visão orgânica do conteúdo formativo no processo de construção e reconstrução da subjetividade do formando. O processo formativo para o presbítero diocesano e também para os religiosos e religiosas é uma arte que implica fundamentação filosófica, psicológica, teológica e uma consistente aplicação pedagógica. São muitas as disciplinas que dizem respeito ao processo formativo humano-cristão. Muito importante, contudo, é que a integralidade das disciplinas e conteúdos na formação considere a pessoa humana, em toda a sua complexidade. Esta visão holística tem suas bases na própria cultura oriental de Jesus. Quando se lê no Deuteronômio ou ainda nos Evangelhos: “Amarás o Senhor teu Deus com toda a tua mente, com toda a tua vontade, com todo o teu coração”, é possível perceber a unidade e a integração subjacente àquela cultura e que fora herdada pela religião cristã. O ser humano é um ser total e precisa ser pensado como nó-de-relações. A visão oriental de pessoa possibilita compreender o ser humano desse modo, diferentemente da visão ocidental que prima em considerar o ser humano de modo fragmentado. Tendo em vista exatamente o amadurecimento harmônico e integral daquele que se prepara para consagrar sua vida pela profissão dos votos e/ou do exercício do ministério presbiteral, é preciso, em todo o processo formativo, criar uma integração entre as dimensões da formação, além de uma articulação inteligente e programada das mesmas. Segundo a Pastores Dabo Vobis, são quatro as dimensões para a formação presbiteral, que podem ser também utilizadas na formação para a vida religiosa: a) dimensão humano-afetiva; b) dimensão espiritual; c) dimensão intelectual; d) dimensão pastoral (cf. PDV 43-59). O modelo de formação que privilegia somente um aspecto ou uma dimensão ou um nível da mesma formação – chamado de modelo único de formação - corre o risco de perder de vista o conjunto, porque o aspecto privilegiado sempre determinará uma atenção formativa exclusiva, desconsiderando as outras realidades que também são importantes no processo formativo. Por exemplo, se numa casa formativa é privilegiada a dimensão intelectual, corre-se o risco de lá ser desprezados outros aspectos também valiosos na formação, como é o caso da espiritualidade, da liturgia e da pastoral. Se privilegiar somente a espiritualidade e a liturgia, por outro lado, pode-se cair num espiritualismo desencarnado, beirando o pietismo. Por outro lado, se exclusivisar a dimensão humano-afetiva, desconsiderando as outras, o processo formativo poderá a cair num psicologismo perigoso. De outro modo, se for priorizado o aspecto comunitário, correrá o risco, além de haver a massificação das pessoas, de se cair no voluntarismo que desconsiderará as outras facetas do processo. É preciso haver, portanto, um processo que integre todas as dimensões (cf. CENCINI, 2007, p.161-173). Como essa integração pode se dar? Muitos são os caminhos que podem levar à integração do formando. Muitos são os caminhos que podem encaminhá-lo rumo à conformação a Cristo. Metodologicamente, é considerável a articulação e a gradualidade entre as dimensões no processo formativo. As dimensões não são estáticas, nem podem ser isoladamente fixadas. Permitem-se à interdisciplinariedade. De certo modo, cada dimensão está imbricada na outra. Para se viver a dimensão espiritual, por exemplo, o formando deve dar-se conta de sua humanidade. Somente o ser humano conscientiza-se de sua condição criatural diante do mistériodivino. Este mesmo ser humano, que vive em relação, que vive em comunidade (dimensão comunitária) pode beber dos elementos trazidos tanto pela sua atividade pastoral, acontecida na casa de formação (dimensão pastoral) como pelos elementos que vai adquirindo no caminho acadêmico e cultural (dimensão intelectual). Todas as atividades pastorais, a formação sócio-política e eclesial, os estudos acadêmicos, todos os momentos de oração comunitária e pessoal, a vivência comunitária, os colóquios formativos personalizados, a ajuda psico-pedagógica individual e grupal, etc. são instrumentais básicos para o encontro e o confronto do formando consigo mesmo e com Deus. Todas as atividades de uma casa de formação, todas as estratégias de ação, toda a metodologia a ser usada deve ser pensada articuladamente a fim de levar a pessoa do formando e também a comunidade a uma experiência integradora de vida.
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