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Prefeitura do Município de Piracicaba Secretaria Municipal de Saúde Centro de Referência de Saúde do Trabalhador CEREST Piracicaba - SUS Eduardo Buoso Engenheiro de Segurança do Trabalho Ergonomista Cerest Piracicaba: ◦ Atuação histórica na prevenção de acidentes ◦ Tradição de cooperação com universidades SIVAT e empresas com acidentalidade acima da média municipal Saúde do Trabalhador no SUS ◦ Conceito de Vigilância em Saúde do Trabalhador (atuar em determinantes, riscos e danos) assumido como eixo estruturante para a área ◦ Acidentes do trabalho: prioridade para ação Momento de construir nova forma de compreender os acidentes. Predomínio de análises superficiais resultando em atribuição de culpa e inibição da prevenção ◦ Ser humano: elo fraco da corrente da segurança ◦ Origens do AT em comportamentos explicados como escolhas conscientes. ◦ Explicação centrada na pessoa do trabalhador Acidentes abordados como eventos individuais, sem intervenção concebida estrategicamente SESMT atuam de modo subalterno a interesses econômicos e jurídicos A c id e n te L e s ã o A to o u C o n d iç ã o In s e g u ra O trabalho de Heinrich se apóia em relatórios que não se preocupavam em chegar a causa raiz. Entende que as ações e omissões ocorridas no trabalho, como produtos de escolhas conscientes, livres, racionais dos trabalhadores, quando poderiam agir do jeito “certo e seguro”. Desconsidera que a grande maioria das decisões são tomadas em situações em que o trabalhador não tem condição de controle absoluto da situação em curso, com poucas alternativas para escolha. O retorno do Ato Inseguro “Ato Abaixo do Padrão” Popularidade de PSC sustentam-se na idéia de que a maioria dos acidentes são causados por “fatores humanos”. Conclusão habitual: O foco da prevenção de acidentes deve ser mudado de soluções de engenharia para a adesão / obediência às práticas de trabalho seguras. PSC encorajam foco em comportamentos com determinadas características: ◦ Prontamente observáveis (vistos a olho nu) ◦ Ocorrer com freqüência. Entre os comportamentos envolvidos em AT destacam-se: ◦ Atalhos na recuperação de incidentes e disfunções em situações de pressão de tempo e de produção. ◦ Falhas na implementação de permissões para trabalho, ou de isolar plantas que devem ser isoladas, ou responder apropriadamente a alarmes O observador casual não identifica esses tipos de comportamentos James Reason (1997) publica a expressão Acidente Organizacional em contraposição visão dicotômica prevalente. Em sua teoria, o autor apresenta a visão de que o acidente pode ser decorrência de uma ou mais falhas no sistema e reconhece que “errar é humano”, ou seja, que o erro sempre vai existir. A prevenção ideal deve basear-se na abordagem de características do sistema que aumentam as chances de erro humano. ERRO HUMANO ...“termo genérico que engloba as situações em que uma seqüência planejada de atividades físicas ou mentais falha em atingir o resultado desejado...” (Reason, 1999) ◼ cometidos por operadores na “linha de frente” ◼ visíveis ◼ origens próximas no tempo / espaço ATIVOS ERROS LATENTES ◼ cometidos por projetistas, gerentes... ◼ pouco visíveis / invisíveis / silenciosos ◼ distantes no tempo / espaço “Após o evento é fácil identificar vilões e heróis. É difícil imaginar as pressões, dilemas e incertezas enfrentados pelos participantes no momento em que se tomou a decisão do fatídico lançamento. Temos que viajar no passado para recuperar o que exatamente se sabia, antes do lançamento, sobre as juntas de vedação e os riscos de falhas” (Collins & Pinch, 1998:32). O enfoque ergonômico não julga o comportamento que fracassa. • A análise deve explicar: – Razões para o fracasso de comportamento (estratégias, modos operatórios) usados com sucesso no passado. De modo geral o acidente tem origens em constrangimentos da Organização do Trabalho que diminuem as margens de manobra dos operadores face às variabilidades da atividade. Segurança normatizada: evitar todos os defeitos ou panes previsíveis pelos formalismos, regras, automatismos, medidas e equipamentos de proteção, formações com relação aos “comportamentos seguros” e por um gerenciamento que assegure o respeito às regras. Segurança em ação: capacidade de antecipar, de perceber os eventos não previstos pela organização e de responder a eles. Ela se baseia nos conhecimentos e na experiência humana, na qualidade das iniciativas, no funcionamento dos coletivos e das organizações e num gerenciamento atento à realidade das situações, que favoreçam a articulação entre diferentes tipos de conhecimentos úteis para a segurança. A atividade varia durante a jornada de trabalho, conforme representação no gráfico abaixo: Binder C. 2012 Horas de trabalho Limite de segurança definido por procedimento Atividade de produção Estratégia de controle com recuperação do sistema. ➢ Variabilidades: mudanças, perturbações normais e incidentais. (“dificuldades que aparecem”) ➢ Regulações ou ajustes: mudanças no Modo Operatório para corrigir perturbações ou diminuir custo do Trabalho Normal. (“ O que ele faz para contorna as dificuldades”). ESTRATÉGIA DE CONTROLE PARA RECUPERAÇÃO DO SISTEMA. Um velho ditado Finlandês sustenta que ” Repetitio est mater studiorum” — “Repetição é a mãe da aprendizagem”. Aprendizagem pode ser compreendida como um aumento na capacidade de dominar as variações, isto é, a habilidade para encontrar a resposta certa a desafios variados. ➢ O frasco de vaselina é igual ao de soro ➢ O frasco de vaselina estava armazenado no mesmo local em que ficavam os de soro Como é o sistema de distribuição dos medicamentos? Armadilha cognitiva: “Em situações de rotina o controle de ações pelo ser humano se baseia em automatismos e libera atenção para outros aspectos da situação de mudanças”. Uma nova concepção: O que é o acidente? ◦ Fenômeno sócio-técnico. ◦ Com história representada no modelo da gravata-borboleta. (Hale et al., 2007) DISPOSITIVOS FÍSICOS ERGONOMIA FÍSICA Estação de trabalho Pa in é is COMPORTAMENTO INDIVIDUAL Percepção, atenção, memória, pensamentos H ab ilid ad e s m otoras, antropom e tria T om ad a d e d e ci sõ e s, ní ve l e d uc ac io na l COMPORTAMENTO GRUPAL E DE EQUIPES Pe rce pção d e re sponsab ilid ad eComunicação e reforçosC om un ic aç ão , co or d e na çã o, co op e ra çã o “R anque am e nto” e cad e ia d e com and o COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL E GERENCIAL Cultura, hierarquia de autoridades, definição de metas Pa d rõ e s d e t ra b al h o, p rá ti ca s d e re gi st ro d e f al h as L im ite s le gais d o com portam e nto R e gras/norm as LEIS E REGRAS (ORDENAMENTO REGULADOR) Constrangimentos à concepção do sistema e às práticas de trabalho R e sp on sa b il id ad e s le ga is Pre ssõe s e conôm icas PRESSÕES SOCIAIS E CULTURAIS Demandas de membros da sociedade externos ao sistema Pr e ss õe s po lí ti ca s Do posto de trabalho ao sistema sócio técnico aberto Moray 2000 Conceitos de uso crescente em estudos de acidentes em sistemas técnicos complexos podem ser úteis na abordagem de acidentes de trabalho: ◦ Ergonomia. ◦ Análise de mudanças e análise de barreiras. ◦ Novo olhar sobre a falha humana: o comportamento situado. Acidente: INJEÇÃO DE VASELINA NA VEIA. ◦ Quantos pacientes estavam sob sua responsabilidade? ◦ Qual era a complexidade do cuidado aos demais pacientes? ◦ Qual era o contexto e a dinâmica do setor de emergência naquele momento? ◦ Quantos funcionários estavam de serviço no dia e quantos estavam no setor no momento? ◦ Havia supervisor na equipe? ◦ Como funciona a farmácia hospitalar? ◦ Há farmacêutico em todos os plantões? Binder C. 2012 Horas de trabalho Limite de segurança definido por procedimento Atividade de produção Estratégiade controle sem recuperação do sistema. ✓ Atraso na produção ✓ Perda de material ✓ Perda de qualidade ✓ Acidente do trabalho ➢Margens de manobra: liberdade de ajuste possível. Constrangimentos da variabilidade de componentes materiais ou ambientais? Psíquicos (que afetam a compreensão)? Temporais? ➢Competências: saberes, habilidades, emoções mobilizados para escolhas de estratégias, Modo Operatório, regulações, construção de sentidos ... ESTRATÉGIA DE CONTROLE PARA RECUPERAÇÃO DO SISTEMA. 1 10 30 600 Dano físico sério / fatal Danos físicos leves Danos materiais Incidentes ✓ Atraso na produção ✓ Perda de material ✓ Perda de qualidade ✓ Acidente do trabalho Frank Bird (1969) Itens Visíveis e Não Visíveis no Trabalho 1 - Área de trabalho horizontal; 2 - Atividade física geral; 3 - Levantamento de cargas; 4 - Postura de trabalho e movimentos; 5 - Risco de acidentes; 6 - Repetividade do trabalho; 7 - Iluminação; 8 - Ambiente térmico; 9 - Ruído. 10 - Conteúdo do trabalho; 11 - Restrições no trabalho; 12 - Comunicação entre trabalhadores e contatos pessoais; 13 - Tomada de decisão; 14 - Atenção; ➢ Compreender: ➢Diferenças entre trabalho prescrito e trabalho real e suas origens. ➢A singularidade do indivíduo e da atividade. ➢Não existe trabalho igual. ➢Como o trabalho pode fazer mal ou bem à saúde daquele trabalhador? Trabalho normal (prescrito e real), variabilidade, ajustes e implicações para a segurança ◦ Trabalho real é padrão para definir mudanças ◦ Ênfase na historicidade da situação do acidente. Descrição do acidente apoiada em: ◦ Análise de mudanças: explorar origens Conclusão: falhas na organização do trabalho, na gestão de pessoal, de tempos, de materiais, de manutenção, de projetos, [...] Análise de barreiras: falta, falha e suas origens ◦ Conclusão: falhas na GSST e suas razões Ampliação conceitual da análise Explicar falha de estratégia usada com sucesso no passado: ◦ Acidente esperando para acontecer: fragilidade da Gestão de Saúde e Segurança no Trabalho Ênfase na análise de barreiras. ◦ Armadilha cognitiva ou Bypass previsível. ◦ Falhas de compreensão sobre o estado do sistema Situação nova é tratada como habitual Falha na concepção do sistema: feedback, atraso ... Surpresa automática. Acidente envolvendo amputação da primeira falange do segundo dedo da mão esquerda de Supervisor de Turno Ponto onde o trabalhador puxou a corrente. Folga apresentada na parte superior da esteira. Local onde o trabalhador se posicionou para a tarefa. A corrente é a mais esticada, apresentando a folga na parte superior. RCI – Relatório de Comunicação de Incidente da empresa aponta: “O Líder não estava capacitado e autorizado a efetuar manutenção em equipamento” “O Procedimento Operacional determina que a manutenção é responsabilidade da contratante.” A MONOCAUSALIDADE do acidente, apresentada no relatório, é comum em empresas com sistemas de gestão de segurança que não permitem o aprendizado com o acidente. Uma nova concepção: O que é o acidente? ◦ Fenômeno sócio-técnico. ◦ Com história representada no modelo da gravata-borboleta. (Hale et al., 2007) Antecedentes Distais: ✓ A contratante alterou o contrato reduzindo o número de trabalhadores e a produção aumentou no período. ✓ O salário é baixo provocando grande rotatividade de mão de obra. ✓ Estava trabalhando há 35 dias sem folga ( contratação de novo Líder ). ✓ As quebras dos equipamentos são constantes alterando a rotina de trabalho. ✓ Que a equipe de manutenção treinou os supervisores mais antigos para manutenções como a remontagem das correntes das esteiras; Antecedentes Proximais: ( influenciaram na decisão ) • Falta de 4 trabalhadores de sua equipe; • Atraso do turno anterior na descida dos palites montados, a ser equalizado em seu turno para emissão do relatório de fechamento até as 8 horas. • A demora no atendimento da equipe de manutenção; • Constantes chamados das chefias de produção, via rádio ou telefone, solicitando a liberação da linha da central de paletização e do acumulo de palites montados já existentes. • Já havia feito este serviço em outras ocasiões; O RCI – Relatório de Comunicação de Incidente elenca uma série de ações a serem tomadas. Grande parte delas está voltada a reorientação sobre o Procedimento Operacional, entendendo que a falta de adesão por parte do trabalhador está baseada no desconhecimento. Prefeitura do Município de Piracicaba Secretaria Municipal de Saúde Centro de Referência de Saúde do Trabalhador CEREST Piracicaba - SUS Eduardo Buoso Engenheiro de Segurança do Trabalho Equipe de Manutenção Elétrica ◦ Equipe 1.( 24 horas – 3 turnos ) ◦ Equipe 2. ( 13 às 23 horas ) Sr. X ( 4 anos na empresa) Sr. Y ( 1 ano na empresa ) ◦ Possuem treinamento NR-10 e Procedimento Operacional para Manutenção em Painel. Parada de Demanda ◦ Parada total ou parcial de equipamentos de grande porte, no período das 19 às 22 horas. (Contrato fornecedor energia) Programação de troca de sistema de automação do Equipamento 1 para dezembro de 2010, com parada total de 10 dias para o serviço. ◦ Melhoria na manutenção. ◦ Aumento de produção. Fracasso na programação por aquecimento de mercado e o estoque regulador é consumido. Equipamento 1 volta a produzir com o sistema antigo e o cronograma de implantação do novo sistema é definido para as Paradas de Demanda. Supervisor reúne a equipe para o DDS (Diálogo Diário de Segurança ) e informa as ocorrências da equipe 1, paradas ocorridas e as soluções tomadas. Parada de Demanda: programação para trabalhar em dupla para a troca de disjuntor do sistema de refrigeração na sala de painéis elétricos do Equipamento 1. Inspeção na área de responsabilidade para possíveis manutenções na Parada de Demanda. Seguindo o Procedimento Operacional, solicitam autorização da Supervisão para o início da atividade. A permissão foi negada porque a troca do disjuntor exigia que o painel fosse desenergizado e, naquele momento, outra equipe finalizava troca do sistema de automação do Equipamento 1, exigindo painéis energizados. ( DUAS ATIVIDADES INCOMPATÍVEIS, PROGRAMADAS PARA A MESMA PARADA. ) Sem permissão para realizar a atividade programada os trabalhadores da manutenção rediscutiram a situação com o Supervisor de área que, em comum acordo, autorizou a troca em co-atividade com o painel energizado. Essa liberação foi influenciada, entre outros, pelos seguintes fatores: A co-atividade evitaria a parada da troca do sistema de automação que estava atrasada e era realizada por terceira contratada para essa finalidade. o A troca do sistema de automação visava aumentar a capacidade de produção do equipamento 1. Adiar a troca do disjuntor para a próxima parada, aumentaria as chances de defeito no painel e da consequente parada de produção para correção. ◦ A manutenção do sistema de refrigeração representa mais de 6 horas de parada de produção. De acordo com os entrevistados, se a ação da equipe de manutenção ocasionasse atrasos na produção poderia ser punida com anotação de baixo desempenho, conforme sistema de avaliação de produtividade adotado pela empresa. Hastes para encaixe dos disjuntores Para o procedimento o Sr. X retirou a luva, pois, julgou que a falta de tato poderia provocar um curto circuito. O Sr. Y manteve os Equipamentos de Proteção Individual. O painel seria dotado de dispositivo que permitiria a troca com alguma segurança. O cabeamento energizado permanece fixo Bypassa parcialmente o Procedimento Operacional, deixando de utilizar o sistema de bloqueio de energia que inclui a instalação de aterramento provisório, em detrimento da necessidade de implantação do sistema. o O aterramento afetaria a energização do sistema. Armário instalado na área dos painéis Aterramento Provisório de Segurança disponíveis para uso. Armário com Equipamentos de Segurançaa 9 metros do painel em manutenção. O Sr X inicia a troca soltando o dispositivo do disjuntor antigo, mantendo os cabos fixos, passando para o Sr Y segurar, enquanto efetua a troca do disjuntor. O Sr X só percebe a diferença entre os disjuntores no final do processo de troca, quando não consegue introduzir as conexões do dispositivo no novo disjuntor. O encaixe de seus três conectores tem dimensões distintas do anterior. Diante da dificuldade encontrada o Sr. X decide cortar as conexões para possibilitar o encaixe. Depois de cortar os dois conectores laterais, ao iniciar corte do central, o bico do alicate se aproxima de uma das hastes, que também está energizada, produzindo arco elétrico, causando queimaduras no operador e seu colega. Parte das hastes cortada para encaixe no disjuntor de marca distinta. Posição do disjuntor a ser trocado Chave que desliga o painel Painel em manutenção Análise das Barreiras Presentes Efeitos da Barreira Observações Sistema de cartão de bloqueio, cadeado.* A desenergização do painel inviabiliza a implantação do novo sistema de automação do Equipamento 1, por afetar o funcionamento de mecanismos . O uso das barreiras afetaria os trabalhos de implantação de sistema de automação. A equipe de manutenção atende à necessidade de co- atividade no equipamento em detrimento da segurança e priorizando a produção . Sistema de aterramento provisório.* A instalação de aterramento provisório afeta a energização do painel e o funcionamento dos mecanismos alimentados pelo mesmo. * Previsto em Procedimento Operacional da Empresa Indivíduo Nenhuma mudança relacionada ao acidente. Material O disjuntor é de outra marca, com características de acoplamento de cabo diferentes. Tarefa Retrabalhar as hastes de contato do dispositivo de encaixe do disjuntor com ele energizado. Trabalhador é surpreendido com diferenças das dimensões dos disjuntores. (dimensão cognitiva importante) Trabalhador retirar a luva para conseguir obter o resultado. Co-atividade com equipe da implantação de novo sistema de gerenciamento no Equipamento 1. Organização do Trabalho O aumento das vendas interferiu no cronograma de implantação do sistema de gerenciamento do Equipamento 1, pela necessidade de produção para abastecer o mercado. A Supervisão em conjunto com os trabalhadores da empresa bypassam a Norma de Procedimento Operacional para evitar atraso na produção. Falha elétrica no processo parando a produção. O que o trabalhador enfrenta. Usa toda sua experiência para localizar a falha para correção e partida do processo com máxima urgência. O que o trabalhador faz para resolver. Comprometimento dos procedimentos de segurança, colocando-se em risco de choque elétrico, queimadura, etc. A intervenção conduzida pela equipe do CEREST mostra que a investigação elaborada pelos profissionais da empresa esta centrada nos erros dos operadores em um acidente que tem origens na rede de fatores em interação. A empresa possui um modelo de investigação de AT, pré estabelecido pelos tomadores de decisão, baseado no diagrama de Ishikawa: No diagrama construído pela empresa para a investigação deste acidente, não são apontadas alterações na matéria prima (marca diferente do disjuntor) e no meio ambiente (questões organizacionais). Os demais tópicos analisados são voltados a não adesão ao procedimento operacional Uso alicate para corte. Falta bloqueio. Falta avaliação de risco. Realizar atividade com sistema energizado. Sistema energizado. 2º trabalhador segurando dispositivo. A metodologia adotada não considerou a rede de fatores cuja interação levaram ao acidente, que incluem nas suas origens imediatas: ◦ Decisão do supervisor, em comum acordo com a equipe, de permitir trabalho com painel energizado; ◦ Decisão dos eletricistas, de não aterrar o painel e nem interromper a troca iniciada ao descobrir, no final da tarefa, a inadequação de materiais. Nas origens das decisões da equipe foi possível identificar conflito entre interesses de produção e de segurança decorrentes de situação de co-atividade em que a modernização do Equipamento 1 impedia a realização de tarefa de manutenção programada para horário de parada de máquinas. Fica evidente a priorização da produção na Advertência Disciplinar aplicada aos trabalhadores, onde o texto se refere ao não cumprimento do Procedimento, o que seria suficiente para embasamento da pena aplicada, a empresa faz questão de acrescentar a seguinte frase: “... o que gerou parada de produção de 1.600 min. e provocou arco elétrico, vindo a causar prejuízos à Empresa, ...” Contribuiu para a decisão de troca, o fato dos eletricistas não perceberem antes do início da troca que haviam recebido disjuntor com dimensões diferente do que precisava ser trocado. Existe relato de práticas bem sucedidas adotadas de trabalho real bypassando os procedimentos de segurança em benefício do funcionamento do sistema. Na situação do acidente a ação se dá em contexto: de aumento de pressão de tempo associado a atraso no início da tarefa, com impedimentos à adoção de práticas de segurança, conhecimento da existência de ameaça associadas ao sistema de avaliação vigente, Uso de recursos inadequados descoberto no final da tarefa, sabendo ser possível concluir rapidamente a tarefa com a estratégia escolhida. E tudo isso, aparentemente em conjunto com a incerteza sobre a existência de disjuntor da mesma marca do que estava sendo trocado. Disjuntores que poderiam desenergizar o local de manutenção. Chave que desliga vários painéis. Não ficou claro se é um disjuntor ou somente chave. Ao reduzir o ocorrido a mero descumprimento da proibição prescrita na norma, há perda de oportunidade para aprendizagem sobre o trabalho real e para a ampliação do perímetro das intervenções de prevenção na empresa. Fazer isso desconsidera: ◦ segurança em co-atividade e a forma como ela surge na empresa. ◦ a existência de conflitos e como são resolvidos. ◦ os problemas da gestão de materiais e da manutenção. ◦ a técnica na montagem dos painéis elétricos. ◦ desconsidera o trabalho real. A análise aponta situações de difícil comprovação, pois estão relacionadas a relações de comando que não aparecem em procedimentos ou qualquer outro tipo de documentação formal. Os dados são colhidos da verbalização dos trabalhadores, que apontam os diversos constrangimentos que determinam a forma de executar sua atividade. A empresa criou todos os procedimentos necessários a proteção dos trabalhadores, porém existem determinantes influenciam a execução do prescrito e impedem a sua execução. O entendimento destes determinantes, na investigação do Acidente, permite a realimentação dos procedimentos ou ainda a elaboração de estratégias conjuntas para as situações que fogem ao prescrito. A aprendizagem constante, o interesse em investigar as causas dos acidentes, a preocupação em desvendar a trama complexa dos acidentes normais, em vasculhar o palheiro em busca das agulhas que são os incidentes e os mecanismos de regulação cotidianos, em identificar e desarmar as bombas- relógio que são os acidentes latentes, nada disso mais instiga os prevencionistas que se limitam a aplicar as normas para deixar a sua consciência jurídica dormir em paz. (Lima FPA, Ávila Assunção, A. 2000)
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