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1 1. INTRODUÇÃO A criação de pequenos ruminantes sempre teve seu lugar no mercado por oferecer produtos de alta qualidade: leite, carne e pele. No panorama mundial, segundo a FAO (2004), os maiores detentores de rebanhos ovinos são a China, a Austrália e a Índia, que concentram, respectivamente, 15%, 9% e 6% do efetivo mundial. Quanto aos caprinos, os maiores criadores são: China, Índia e Paquistão, que, conjuntamente, concentram 47% do rebanho do globo. A América do Sul participa com 6,74% e 2,72% dos rebanhos mundiais de ovinos e caprinos, respectivamente e o Brasil detém os maiores rebanhos, sendo 14.182.000 ovinos (20,45% do total) e 9.087.000 caprinos (43,88%) seguido pelo Peru e a Argentina. Entretanto, a produtividade da ovino/caprinocultura no Brasil ainda é baixa, atribuída, em parte, pelo regime de exploração, que predominantemente é extensivo, com baixo emprego de tecnologia. A exploração racional de ovino/caprinocultura vem se destacando nos últimos anos por suas características de alta lucratividade e rápido giro financeiro. Porém, é válido lembrar que a produtividade é alcançada quando são considerados os aspectos genéticos, sanitários e nutricionais do rebanho, sendo este último, o fator que reflete mais rapidamente sobre a produção. Novos criadores têm surgido e os rebanhos têm sido ampliados. Todavia, ainda existem muitas falhas no manejo nutricional e alimentar desses animais, podendo assim causar prejuízos financeiros ao criador bem como ao bem estar e saúde dos animais. Para o AFRC (1991), a máxima eficiência produtiva só pode ser obtida com o conhecimento adequado das exigências nutricionais dos animais e da composição química dos alimentos. No Brasil, as exigências nutricionais de pequenos ruminantes têm sido pouco estudadas e, portanto, o balanceamento das dietas tem sido feito com base nas recomendações preconizadas pelos boletins internacionais AFRC, ARC, INRA e NRC, entre outros, desenvolvidos em países de clima temperado e que expressam as exigências de animais daquelas regiões. A adoção destes dados na formulação de rações para animais no Brasil pode não proporcionar os resultados esperados, seja pela falta ou pelo desperdício de nutrientes. Assim, torna-se necessário estabelecer padrões alimentares de caprinos e ovinos nas condições brasileiras, para obtenção de um sistema nutricional mais eficiente e econômico, principalmente daqueles criados em região semi-árida, já que é neste ambiente que se concentra o maior percentual do rebanho nacional em relação às demais regiões brasileiras (93% e 56,6%, respectivamente, para caprinos e ovinos), segundo IBGE ( 2003). Desta forma, para o planejamento alimentar adequado dos rebanhos faz-se necessário estabelecimento de estratégias de produção, uso e armazenamento de alimentos para os animais visando o atendimento das exigências nutricionais. Fica claro então, que o desafio, especialmente em regiões semi-árida devido à dificuldade de produção de alimentos, é conseguir atender às s econômicas e sem ssa região. 2. CATEGORIZAÇÃO DO REBANHO Nos sistemas de produção de pequenos ruminantes, o sucesso da exploração é facilitado quando o rebanho é divido em categorias, visto que quando os animais são agrupados em função 2 da idade (levando-se em consideração o estádio fisiológico), sexo, raça e espécie, cada categoria apresentará hábito alimentar, exigências nutricionais e comportamentos semelhantes. Deste modo, como sugestão, o rebanho pode ser dsitribuído nas seguintes categorias: a) Cria: É a fase que compreende do nascimento à desmama, ou seja, onde há consumo de leite pelo animal e merece atenção especial em virtude da susceptibilidade a doenças e ao rápido desenvolvimento, o que implica em maior exigência nutricional. Assim, em qualquer sistema de produção, o fornecimento de colostro durante as primeiras horas após nascimento é fundamental (0,5 a 1,0 litro de colostro nas primeiras 18 horas de vida), tendo em vista que é através desse alimento que a cria recebe imunidade. O manejo nutricional dessa fase dependerá do objetivo do sistema de produção. Em sistemas extensivos, as crias acompanham as matrizes ao pasto e o desmame ocorre tardiamente (90 dias). Já em sistemas intensivos, o planejamento alimentar dessa categoria consiste no fornecimento de alimentos com elevada digestibilidade, como concentrado e feno de leguminosas. Vale destacar que o consumo inicial de forragens pelo lactente dependerá da idade do animal e das condições nutritivas da planta, de modo que quanto melhor a qualidade, mais precoce será o consumo de forragens em detrimento do consumo de leite e maior o desenvolvimento. Na Tabela 1, percebe-se claramente que à medida que se prolonga o consumo de leite pela cria ocorre redução no desempenho animal, ficando evidente que essa categoria é a mais onerosa em termos de demandas na qualidade da forragem. Tabela 1: Influência do consumo de leite no ganho médio de peso diário de cordeiros em diferentes períodos de lactação Período de lactação (semana) Ganho devido ao consumo de leite (g) 0 -4 90 4 – 8 80 8 - 12 51 Fonte: Silva Sobrinho (2001) Para o fornecimento de alimentos de melhor digestibilidade pode-se empregar a técnica do “creep feeding”, a qual permite que apenas os lactentes tenham acesso a esses alimentos (normalmente concentrados), dispostos em comedouros privativos através de um dispositivo de passagem (creep). O “creep feeding” é uma prática de manejo que exerce influências, tanto na fase reprodutiva, através do aumento da taxa reprodutiva (n° de crias desmamadas/matriz exposta à reprodução/ano), como na fase produtiva dos rebanhos de corte, incrementando a taxa produtiva (n° de kg de crias desmamadas/ovelha exposta/ano), ou seja, essa prática pode influenciar tanto a reprodução das ovelhas e cabras, como o crescimento dos cordeiros e cabritos. Em relação aos cordeiros e cabritos, provavelmente, os principais efeitos da utilização de “creep feeding” são os ganhos extras de peso alcançados durante a fase de amamentação, obtidos por taxas de crescimento mais elevadas durante a fase de amamentação e que resultam, conseqüentemente, em maiores pesos a desmama. Barbosa et al. (2005) compararam três modelos diferentes de criação para animais Santa Inês no semi-árido paraibano: 1) cordeiros permaneceram com a mãe até 75 dias de idade, em seguida foram desmamados e confinados; 2) as crias permaneceram com a mãe no pasto recebendo suplementação alimentar em sistema “creep feeding”; 3) as crias permaneceram com a mãe, exclusivamente a pasto, sem suplementação alimentar. Os autores verificaram que o grupo de animais submetidos ao modelo 2 (“creep feeding”) apresentou os melhores resultados para ganho de peso diário. Outra prática de manejo nutricional que pode ser empregada nessa fase é o controle de mamadas, pois esse tipo de prática zootécnica (mamada controlada) além de não trazer prejuízos aos animais jovens, oferece vantagens ao desempenho das matrizes (Tabela 2). 3 Tabela 2 - Intervalo de partos (IEP) e primeiro e segundo cio pós-parto (dias), peso (kg) das matrizes e das crias ao desmame e sobrevivência (%) de crias da raça Santa Inês, submetidas a dois regimes de amamentação, em Sobral, CE Regime de amamentação Variáveis Contínuo Controlado IEP Primeiro cio Segundo cio Peso ao desmame: Matrizes Crias Sobrevivência das crias (%) 40,7 ± 3,2 b (30) 53,1 ± 3,0 a (30) 41,3 ± 0,7 b (30) 16,8 ± 0,5 a (38) 100,00 28,3 ± 2,9 a (33) 45,6 ± 2,6 a (33) 43,4 ± 0,7 a (33) 16,1 ± 0,4 a (39) 100,00 Fonte: Souza e Simplício (1999).( ) – número de observações. b) Recria Alguns sistemas de produção de carne utilizam a recria, fase iniciada logo após o desmame, objetivando preparar as crias para o acabamento. O desejável é que os animais destinados ao abate passem diretamente para a fase de acabamento, porém, quando as crias são desmamadas com menos de 15 kg, os animais devem ser submetidos a uma fase de recria até atingirem esse peso (Cavalcante et al. , 2005). A idade ao desmame pode ser variar entre 35 - 42 dias (precoce); 60 dias (normal) ou 90 dias (tardio), que é o mais empregado no nordeste brasileiro. Para desaleitar os animais devem ser considerados alguns fatores, como: o consumo diário médio de 125g de concentrado ou 2,5 vezes o peso ao nascer. c) Acabamento Uma prática de manejo utilizada na terminação de cordeiros é o confinamento. Para Borges et al. (2005), o confinamento permite aumento na oferta de carne durante o período de entressafra, proporcionando a oferta no mercado de um produto padronizado e de qualidade superior. Além disso, permite a redução na idade de abate de 12-18 meses para 4-6 meses, disponibilizando no mercado carcaças jovens e de melhor qualidade ao mercado. Isso garante a oferta constante de carne de acordo com as exigências do mercado, proporcionando retorno mais rápido do capital investido (Sousa, 2006). Entretanto, diversos autores apontam a alimentação em confinamento como fator responsável por até 70% dos custos de produção. Por outro lado, Cavalcante et al. (2005) comentaram que as opções de ingredientes para ração de cordeiros em confinamento são numerosas devendo-se, portanto, buscar aqueles que apresentem qualidade nutritiva condizente com as necessidades nutricionais dos animais, que estejam disponíveis, de baixo custo e de preferência que possam ser produzidas na propriedade, como é o caso das gramíneas e leguminosas. Outra opção é a utilização de resíduos agroindustriais em substituição aos grãos e aos farelos de oleaginosas. Além do confinamento, a terminação de ovinos pode também ser conduzida a pasto. Essa tecnologia é recomendada para todas as regiões do País, inclusive o Nordeste, onde a prática tem sido conduzida em pastagens nativas e cultivadas (Sousa, 2006). A principal vantagem deste sistema é o baixo custo com alimentação. Considerando-se a grande diversidade de condições ambientais verificadas no Brasil, onde é possível o desenvolvimento de caprino-ovinocultura de qualidade com grandes perspectivas de futuro, é lícito pensar em sistemas de criações diferentes. Não se pode esquecer, no entanto, que o elemento central desses sistemas é a criação do cabrito/cordeiro ao pé da mãe, com o máximo uso de forragens, alimento por excelência para os ruminantes e de menor custo (Perez, 1996). Leite et al. (1995) estudaram os efeitos do pastoreio combinado de caprinos e ovinos sobre a dieta e o desempenho animal em caatinga rebaixada (Tabela 3). Os autores verificaram que os ovinos consumiram mais gramíneas e menos folhas de plantas lenhosas do que os caprinos (Tabela 4), salientando que o estrato lenhoso das áreas experimentais era extremamente pobre 4 em forrageiras, e que pouco contribuiu para composição da fitomassa pastável disponível (Tabela3). Para a mesma faixa etária, os ovinos tiveram o peso vivo inicial médio superior aos dos caprinos (Tabela 5). As médias nos três anos de pesquisa mostraram 17 kg para os ovinos e 13,2 kg para caprinos no inicio dos trabalhos. Tabela 3: Disponibilidade de fitomassa pastável (DFP) e composição florística (CF) em áreas de caatinga rebaixada no período de 1989 – 1991 Tabela 4: Composição botânica (%) das dietas de caprinos e ovinos em pastoreio combinado, em caatinga rebaixada, na estação chuvosa de 1989. Tabela 5: Peso inicial (PI) e peso final (PF), em kg/cab, de caprinos e ovinos em pastoreio combinado, em caatinga rebaixada, no período de 1989-1991 5 Os mesmos autores comentam que com exceção do primeiro ano, o peso final médio dos animais foi semelhante entre os dois tipos de pastoreio, mas foi superior entre as espécies de animais (Tabela 5). Por outro lado, o ganho de peso (g/cab/dia) não foi diferente (P>0,05) entre as espécies animais e não foi afetado pelo tipo de pastoreio. No caso de ovinos, o tipo de pastoreio não afetou (P>0,05) o seu desempenho (Tabela 6). A produção de peso vivo (kg/ha/ano) foi de 19,0 para caprinos solteiros, 18,8 para ovinos solteiros e 15,7 para a combinação das duas espécies (Tabela 7). Tabela 6: Efeito do sistema de pastoreio sobre o desempenho de ovinos e caprinos (g/cab/dia) em caatinga rebaixada Tabela 7: Produção de peso vivo animal (kg/ha) de ovinos e caprinos em pastoreio combinado em caatinga rebaixada 6 O rendimento de carcaça foi semelhante para caprinos e ovinos, quer em pastoreio solteiro ou combinado (Tabela 8). Assim, os autores concluíram que o pastoreio combinado de caprinos com ovinos não traz vantagens do ponto de vista do desempenho animal, não sendo recomendado para a região estudada. Tabela 8: Rendimento de carcaça (%) de caprinos e ovinos em pastoreio combinado, em áreas de caatinga manipulada, no período de 1990-1991 d) Ovelhas e cabras não prenhes e não lactantes Os animais pertencentes a esta categoria devem receber quantidades energéticas e protéicas na dieta apenas para suprir suas necessidades fisiológicas, como a manutenção dos principais processos vitais, sem ganhar nem perder peso, a menos que estejam com baixo escore corporal e em estação de monta (Albuquerque et al., 2005). e) Ovelhas e cabras antes da estação de monta Níveis nutricionais elevados três semanas antes e três depois da estação de monta podem aumentar o número de animais nascidos. Pela prática do “flushing”, tal condição pode favorecer o alcance dessa condição. O “flushing” nada mais é que o aumento do consumo de matéria seca ou efeito dinâmico que influencia a mudança no peso vivo e condição corporal antes e durante a estação de monta. A finalidade desta prática é aumentar a taxa de ovulação e de taxa de parição. f) Ovelhas e cabras não lactantes e nas primeiras 15 semanas de gestação Ração a base de forrageiras de boa qualidade podem atender as exigências desta categoria, já que esses animais apresentam exigências nutricionais pouco acima da mantença, mas necessitam ganhar peso, pois vão emagrecer durante a lactação. g) Ovelhas e cabras em terço final de gestação Para essa categoria recomenda-se melhorar o plano nutricional, já que 70% do crescimento fetal ocorre neste período. O útero grávido aumenta em peso rapidamente e o consumo de matéria seca é reduzido em relação ao peso vivo do animal. Há grandes exigências para atender crescimento do(s) feto(s). Aumentar a densidade dos nutrientes da ração é a forma mais prática de garantir o aporte de nutrientes necessários ao animal, o que é feito aumentado a quantidade de concentrado na dieta e o fornecimento de forragem de qualidade. Fenos de leguminosas representam um bom volumoso nesse período e a quantidade de concentrado vai depender do tipo de volumoso, mas pelo menos 300 g/dia deve ser oferecido. h) Ovelhas e cabras em lactação Animais dessa categoria apresentam elevada exigência em nutrientes. As fêmeas de aptidão leiteira podem ser dividas em quatro categorias, de acordo com a fase da lactação. Já para caprinos e ovinos de corte essa divisão pode ser baseada na ordem de parição e número de crias, já que matrizes que pariram dois ou mais filhotes devem receber alimentação diferenciada. 7 Especificamente para as fêmeas de aptidão leiteira cabe tecer comentários com mais detalhes. As fases do ciclo produtivo podem ser divididas em quatro (Figura 1):duas dessas fases são as mais críticas: a fase que vai do parto até os dois meses de lactação (1ª fase) e a 4ª fase que vai da secagem até o parto, compreendendo o terço final da gestação (comentado anteriormente). As outras duas fases correspondem à fase que vai do segundo mês de lactação até a cobrição (2ª fase) e a 3ª fase corresponde à fase que vai da cobertura até a secagem. Figura 1. Fases e acontecimentos do ciclo produtivo da cabra leiteira (Morand-Fehr e Herveu, 1987, citado por RIBEIRO, 1998) Em cada uma dessas fases existem indicações para o manejo alimentar, sejam: Fase 1: didaticamente apresentada como a primeira fase, é também a primeira em preocupação. Vai do parto até o pico de lactação. Nessa fase a ingestão de matéria seca aumenta com rapidez após a parição, atingindo o máximo e consumo com 6 a 8 semanas pós-parto, mas o nível de produção aumenta ainda mais rapidamente, atingindo produção máxima (pico) já pela 3ª-4ª semana de lactação, criando, dessa forma, um desbalanço. O resultado é que a cabra perde peso, encontrando-se no período denominado de balanço energético negativo (BEN), ou seja, a energia gasta para produzir leite é maior do que a contida na alimentação ingerida. A duração do BEN varia de acordo com o nível de produção da cabra e de reserva corporal, além, o que é evidente, da alimentação oferecida nesse período. Portanto, todos esses fatores devem ser observados no manejo alimentar. Na prática, oferecer rações energéticas que possam ter altos consumos. Fase 2: passado o pico de lactação e ajustada a ingestão de energia, pelo aumento do consumo, termina a Fase 1 e começa a Fase 2. É nessa fase que a produção começa a reduzir-se, caindo cerca de 7 a 10% ao mês até o fim da lactação. Pela maior ingestão de alimento e menor produção, a cabra deve recuperar seu peso. Uma alimentação adequada na fase anterior, significará menor cuidado nessa fase. A duração dessa fase variará em duração dependo do intervalo de partos adotado na propriedade, que deve está relacionado com nível de produção das cabras e preço do leite no mercado consumidor. O fim da Fase 2 é o início de uma gestação; portanto, a condição corporal da cabra no período de cobertura vai depender de como o manejo alimentar nessa fase foi efetuado. Fase 3: a preocupação nessa fase, que vai da concepção até a secagem, é garantir reserva corporal para o próximo parto, principalmente as exigências nutricionais para crescimento fetal, nessa fase, é muito baixa. A produção de leite é declinante e a cabra deve estar ganhando peso. Portanto, a alimentação deverá atender essencialmente as exigências de mantença, produção de leite e ganho de peso. i) Fêmeas para reposição Produção de Leite Ingestão de MS Peso Vivo Reservas Corporais Parto Secagem Cobertura 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Peso Vivo (kg) Leite (kg) Ingestão de MS(kg) 3 2 1 5 4 3 2 70 65 60 55 Meses -- 20 - - 20 - 10 - 0 -- 10 -- 30 Parto Fase 1 Fase 2 Fase 3 Fase 4 8 Como essas fêmeas representam o futuro produtivo do rebanho, o manejo nutricional proposto deve permitir bons índices produtivos, sem, contudo proporcionar peso excessivo aos animais, pois podem interferir negativamente na produção de leite e nos índices reprodutivos. Vale destacar que deficiências nutricionais podem retardar a idade ao primeiro cio e reduzir o peso à primeira cobertura. j) Reprodutores em manutenção e reprodução Os reprodutores devem receber um plano nutricional que garanta a produção de sêmen de boa qualidade, o que permitirá eficiência na capacidade de monta. Durante a estação de monta, no entanto, as dietas precisam apresentar teores de proteína e energia mais elevados. Por outro lado, devem-se destacar os cuidados com o excesso de fósforo, já que pode causar urolitíase. 3. EXIGÊNCIA ALIMENTAR Os sistemas de alimentação como mencionado anteriormente, devem levar em consideração os requerimentos do animal, o alimento disponível e o custo do nutriente. As exigências de caprinos e ovinos podem ser satisfeitas por uma variedade de alimentos, podendo um substituir ao outro desde que se conheçam a composição química do alimento e a exigência nutricional dos animais. Os métodos de determinação de exigências têm evoluído ao longo do tempo. A energia antes baseada em Nutrientes Digestíveis Totais (NDT) evoluiu para energia digestível (ED), metabolizável (EM) e energia líquida (EL). Já a proteína bruta, em proteína digestível, que mais recentemente evoluiu para proteína degradada e não-degradada no rúmen (em função das taxas de passagem da digesta), e para proteína metabolizável. Vários sistemas foram desenvolvidos em diversos países, buscando atender as necessidades dos animais: o Inglês (AFRC, 1993), o Francês (INRA, 1998) e o Australiano (SCA, 1990). Mais recentemente a publicação norte americana sobre os requerimentos nutricionais para Pequenos Ruminantes (Nutrient Requirements of Small Ruminnates) do National Research Council-(NRC, 2007) atualizou as versões de 1981 e 1985 (NRC, 1981; NRC 1985) sobre as exigências nutricionais de caprinos e de ovinos. Pelos valores apresentados na Tabela 9, segundo NRC (2007), percebe-se que há diferenças entre caprinos e ovinos quanto às exigências nutricionais, mesmo considerando animais de mesmo peso e ganho de peso. Conhecidamente, o nutriente que merece maior atenção em regiões semi-áridas, por ser o mais limitante, é a energia. Na verdade, a energia, definida como a capacidade de realizar trabalho, é requerida por todos os seres vivos que a utilizam em todas as suas funções vitais (Valadares Filho et al., 2005). Entre os diferentes nutrientes que integram o crescimento, a exigência por energia é incomparavelmente a mais ampla e a que primariamente preside todo fluxo alimentar (Maynard e Loosli, 1974), sendo, em termos de quantidade, possivelmente, o nutriente mais relevante para o metabolismo animal. Muitos fatores podem influenciar os requerimentos de energia pelos animais, incluindo as espécies. O NRC (2007) cita que aparentemente não há extensas comparações do uso de energia metabolizável de caprinos com bovinos e ovinos, embora o AFRC (1998) tenha resumido dados que sugerem que os requerimentos de EM para mantença (EMm) de caprinos, expressos em peso metabólico, fossem maiores que para os ovinos e semelhantes aos bovinos. Tabela 9: Exigência nutricional de cordeiros de 20 kg (com acabamento de carcaça intermediário) e de cabritos de 20 kg (raça Boer) ganhando 150 g/dia Cordeiro Cabrito Ingestão de Matéria seca (kg/dia)1 0,65 (3,25) 0,77 (3,85) Nutrientes digestíveis totais (kg/dia)2 0,52 (80,0) 0,51 (66,0) Proteína Bruta (g/dia)2, 3 80,00 (12,3) 127,00 (16,5) Cálcio (g/dia)2 2,6 (0,4) 5,2 (0,6) Fósforo (g/dia)2 2,0 (0,3) 2,6 (0,3) 9 Fonte: NRC (2007 ) 1. dados entre parênteses representam indicam a % do peso vivo; 2. dados entres parênteses representam a % da ingestão de matéria seca ; 3. com proporção de consumo de proteína não degradável de 40% Não existe ainda um sistema de exigências nutricionais brasileiro. Os passos iniciais já foram dados na busca do conhecimento das exigências nutricionais de pequenos ruminantes do semi-árido Nordestino. Gonzaga Neto et al. (2005) estudando a composição corporal e as exigências nutricionais de cordeiros Morada Nova dos 15 aos 25 kg PV, ganhando 250 g/dia, chegou a valores que oscilaram de 2,33 a 3,13 Mcal de EM/dia e 109,98 a 115,77 g de proteína/dia. As exigências de energia e proteína de cabritos da raça Moxotó foram estudadas por Alves (2006). Foram encontradosvalores de energia líquida para mantença de 55,11 kcal/kg PCVZ0,75, que segundo o autor, foi próxima à predita pelas normas norte-americanas para essa espécie, porém quando comparados aos reportados na literatura brasileira foram considerados baixos. Para isso, o autor justifica possivelmente pelo fato dos animais desenvolverem mecanismo de baixo metabolismo basal. Já para as exigências de proteína, os resultados mostraram que os conteúdos protéicos dos animais experimentais mantiveram-se praticamente constantes, variando de 205,60 para 201,69 g/kg de PCVZ, ocorrendo redução de 1,9% com o aumento do PV de 15 para 25 kg. Embora tenha havido pouca variação corporal das exigências líquidas protéicas nos animais experimentais com o aumento do PV, a relação gordura:proteína aumentou com o incremento do PV. Santos et al. (2006) avaliaram a composição corporal e exigências nutricionais de proteína e energia para ganho de cordeiros da raça Santa Inês submetidos à pastejo na caatinga. Foram utilizados 32 cordeiros castrados, com peso médio inicial de 15,8 kg ± 1,4 kg e idade entre 3 a 4 meses. Os autores verificaram que ovinos em pastejo na região semi-árida, apresentam composição corporal em gordura e energia ligeiramente inferior aos de animais em confinamento. A composição corporal em proteína variou de 171,59 a 145,84 g/kg e em energia de 2,06 a 3,90 Mcal/kg. Neste trabalho, para animais pesando de 15 a 30 kg PV, ganhando 100g/dia, as exigências líquidas variaram de 0,15 a 0,29 Mcal/animal/dia. As exigências de proteína líquida, para ganho de 100g/dia, variaram de 12,99 a 11,04 g/kg em cordeiros de 15 a 30 kg de peso corporal. Como é possível observar, trabalhos sobre exigências nutricionais de pequenos ruminantes no semi-árido brasileiro ainda são incipientes. Porém, é louvável destacar que a inércia foi quebrada e que outros trabalhos dessa natureza estão em andamento, na busca da confecção de tabelas de exigências para condições brasileiras. Vale lembrar que quando as exigências são mal ajustadas para características de cada espécie, categoria animal, sexo, estado fisiológico e nível de produção, o desempenho animal fica comprometido, visto que a formulação de uma dieta resulta do compartilhamento dos conhecimentos ligados às exigências nutricionais dos animais, às características nutricionais dos alimentos bem como da relação custo benefício da dieta. 4. POTENCIAL DE PRODUÇÃO DE PEQUENOS RUMINANTES EM REGIÕES SEMI-ÁRIDAS As regiões áridas e semi-áridas representam 55% das terras do mundo, perfazendo 2/3 da superfície total de 150 países e abrangendo quase um bilhão de pessoas. Por outro lado, ovinos e caprinos foram as primeiras espécies de ruminantes a serem domesticadas e hoje estão presentes em áreas sob as mais diversas características edafo-climáticas. Nas regiões semi- áridas, algumas raças passaram a desenvolver características adaptativas as condições climáticas destas áreas, por processo de seleção natural, assegurando a reprodução nesses ambientes e em outros (Mazza et al., 1992). Dessa forma, os animais naturalizados passaram a apresentar resistência física ao ambiente árido (Martin, 2001). Em regiões tropicais, a produtividade animal está limitada, principalmente, pela qualidade da forragem disponível, onde as espécies forrageiras apresentam elevados teores de fibra (Barros et al., 1990). Quando em zonas áridas e semi-áridas, a alimentação dos pequenos ruminantes está baseada no pastoreio livre, com o consumo de espécies de forrageiras nativas. Estas apresentam, na época seca, insuficiente quantidade de biomassa e de nutrientes, diminuída qualidade das forragens, o que leva ao atraso ou mesmo paralisação no crescimento animal. Assim, no período seco, a recria e terminação desses ruminantes a pasto no semi-árido é 10 possível, desde que haja suplementação alimentar capaz de suprir os nutrientes que estão em deficiência nas pastagens. Em Botswana, zona árida do interior da África meridional, Aganga et al. (2001) avaliaram o desempenho de caprinos Tswana mantidos em pastagem de capim buffel (Cenchrus ciliares) e suplementados com leguminosas. Os autores relataram ganhos de peso e conversão alimentar de 43,0; 45,0; 26,0 e 41,0 g/dia e 10,63; 8,48; 16,24 e 11,21 (g/g), para as dietas contendo buffel + alfafa, buffel + Acácia mellifera, buffel + Peltophorum africanum, buffel + Euclea undulataI, respectivamente. Kabir et al. (2004), em Bangladesh, registraram ganhos de 25,18 e 33,003 g/dia para caprinos e 10,71 e 36,61 g/dia para ovinos quando mantidos em pastagem e suplementados com dietas de 16,8 e 20,8% de proteína bruta (PB), respectivamente. No Paquistão, Salim et al. (2003) ao avaliarem o desempenho de caprinos e ovinos em pastagem com e sem suplementação, verificaram que os ganhos diários para os animais suplementados foram de 17,03 e 15,87 g/dia para ovinos e caprinos e para os não suplementados os ganhos foram de 0,15 e 7,15 g/dia, respectivamente. Os autores atribuíram os baixos ganhos ao baixo potencial genético dos animais utilizados para converter a energia e proteína. Porém, comentam também que outros fatores, mais prováveis, para explicar o baixo desempenho animal tenham sido: a perda de quantidade e qualidade da pastagem e, principalmente, o aumento de requerimento de energia e proteína em função da maior atividade física despendida com o pastejo, já que os animais gastavam energia em busca do alimento. Quando Reyes et al. (2004) estudaram na região semi-árida do México, durante a época seca, a ingestão de proteína e energia da forragem consumida por caprinos, verificaram que o teor médio de energia metabolizável (EM) da dieta foi de 1,7 Mcal EM/kg de MS e que a proteína bruta variou de 9 a 13%. O consumo de matéria seca de 1,5 kg/dia de uma dieta contendo 12% de proteína bruta e 2,5 Mcal/dia de energia metabolizável (EM) foi considerada adequada. Porém, os autores consideraram que esse consumo de energia foi superior aos requerimentos de mantença e atividade média para caprinos com 38 kg de peso vivo. Além disso, verificaram que a digestibilidade da matéria orgânica (MO) variou de 45% a 61%, para baixa disponibilidade de pasto ou quando a rebrota da folhagem das plantas arbustivas estava disponível, respectivamente. Para Van Soest (1994), os caprinos, juntamente com ovinos, são animais que apresentam grande flexibilidade alimentícia e são adaptados tanto para o consumo de gramíneas, quanto para o consumo de dicotiledôneas herbáceas e brotos de folhas de árvores e arbustos. Porém, vale ressaltar que os caprinos além de serem mais seletivos, preferem as espécies dicotiledôneas e praticam o ramoneio. Já os ovinos apresentam preferência por gramíneas, apesar da ampla flexibilidade alimentícia. Os resultados encontrados por Molina Alcaide et al. (1997) comprovam a diversidade alimentar desses pequenos ruminantes. Esses autores conduziram um trabalho com caprinos e ovinos de raças nativas do semi-árido Espanhol. Neste trabalho as cabras eram da raça Granadina, não gestantes, com 24,0 kg de peso vivo e os ovinos eram da raça Segureña, com 57,0 kg de PV. Verificaram que, ao estudarem a ingestão voluntária e digestibilidade de nutrientes, a seleção de dietas foi de 66 e 72% de arbustivas, 19,5 e 18,0% de gramíneas, e 14,0 e 10,0% de arbóreas, para as cabras e os ovinos, respectivamente. Quando do consumo de arbustos e arbóreas, os caprinos selecionaram forrageiras com maior digestibilidade. Na dieta de ambas as espécies (caprinos e ovinos), o teor de proteína bruta foi de 8,72 e 8,19%, respectivamente, porém o teor de nitrogênio indigestível em detergente ácido (NIDA) foi de 27,1 e 30,0%, na mesma ordem. A ingestão de energia metabolizável, expressa como múltiplo do requerimento para mantença (EMm), foi de 1,2 e 0,8, respectivamente. Assim, os autores concluíram queo consumo de energia atendeu a exigência de EMm para as cabras (470 kjoule ou 110 kcal EM/kg0,75/dia), mas não dos ovinos (401 kj ou 90 kcal EM/kg0,75/dia). 4.1 Ovino-caprinocultura no semi-árido Brasileiro No Brasil, as zonas áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas estão restritas à região Nordeste, com exceção de uma pequena parte do norte de Minas Gerais (Sampaio e Araújo, 2006). No semi-árido nordestino, que representa 74% da superfície da região nordeste, o recurso forrageiro de maior expressão tem sido a vegetação da caatinga, cobrindo 54,53% dos 1.548.672 km2 da área da região (IBGE, 2005). 11 Nessa região, a ovino-caprinocultura basicamente é voltada à subsistência, com emprego de subprodutos da agricultura e encarada como atividade complementar a outras atividades agropecuárias, da mesma forma que muitos países da África, América Central e Ásia. A produção animal nessas regiões está baseada em pequenos rebanhos, explorada com técnicas rudimentares e de baixa produtividade. À semelhança da exploração animal em outras regiões semi-áridas, a manutenção da produção dos pequenos ruminantes no Brasil, criados nesse ambiente, só é permitida mediante a suplementação alimentar nos períodos de baixa disponibilidade de forragem. No entanto, Araújo Filho e Carvalho (1998) destacam que no semi-árido do Nordeste a suplementação alimentar dos pequenos ruminantes no período seco, geralmente, ocorre depois de satisfeitas às necessidades do rebanho bovino. Fato que vem em conseqüência do sistema de produção misto (caprinos com ovinos ou bovinos) verificado na maioria das propriedades da região. Guimarães Filho et al. (2000) acrescenta que a suplementação alimentar no período de escassez de forragem, quando existente, é praticada dentro de um enfoque de sobrevivência dos animais. Os caprinos de raças nativas do Nordeste brasileiro, devido ao processo de seleção natural ao longo de várias gerações, adquiriram alta capacidade de sobrevivência e alta prolificidade. Apresentam características comuns como pequeno porte e, ainda, baixa produção carne e de leite, diferenciando-se quase tão somente pela cor da pelagem. A maioria é constituída pelas raças Moxotó e Canindé, além de ecotipos menos numerosos como Repartida, Marota, Gurguéia, Biritinga, Azul, Graúna, Nambi e Mambrina. Os pesos adultos das raças chegam a 31,0 kg (fêmeas adultas da raça Moxotó); 35 a 40 kg para Canindé; 43,3 kg para a Azul; 35 a 40 kg para a Graúna; 35 a 40 kg para Biritinga; 36,0 kg para Marota; 35 a 38 kg para Nambi; 36,0 kg para Repartida (Oliveira et al. 2004). Quanto ao rebanho de ovinos do Nordeste brasileiro, este é formado por animais deslanados das raças Morada Nova, Santa Inês, Somalis Brasileira, Rabo Largo, Bergamácia, Cariri, Barriga Preta, Cabugi, entre outras, além de seus mestiços e dos tipos SRPD (sem padrão racial definido). Todos os grupos genéticos, segundo Costa et al. (2004), apresentam animais de médio ou pequeno porte (exceto a raça Santa Inês), com alto poder de adaptação e boa capacidade reprodutiva. No entanto, em função da baixa disponibilidade de forragens, principalmente nos períodos de prolongadas estiagens, o atendimento das exigências nutricionais de pequenos ruminantes continua sendo um dos grandes desafios para exploração racional destas espécies na região semi-árida do Nordeste do Brasil (França, 2006). 4.1.1 Semi-árido brasileiro A vegetação da caatinga é formada por árvores, arbustos de pequeno porte que em sua maioria são caducifólias e por gramíneas e dicotiledôneas herbáceas. Existem dois tipos principais de caatinga mesclada na paisagem nordestina; o arbustivo-árboreo dominante no sertão e o arbóreo que ocorre principalmente nas encostas das serras e nos vales dos rios (Araújo Filho e Silva, 1994). Segundo estes autores, as espécies arbóreas e arbustivas de maior ocorrência na caatinga pertencem às famílias das leguminosas e euforbiáceas, existindo também representações de várias outras famílias com potencial forrageiro. As pastagens da área de caatinga suportam grandes populações de animais domésticos, principalmente bovinos, caprinos e ovinos. Essas pastagens têm capacidade de suporte variável, mas proporcional à disponibilidade de água, e, em quase todas, a capacidade recomendada tende a ser ultrapassada, havendo sobrecarga animal constante. Em grande parte da área, os animais alimentam-se não só das pastagens, mas em muitos casos, de rações adquiridas fora das propriedades, principalmente na época seca. Isto justifica, em parte, as lotações altas encontradas na região (Giulietti et al. 2004). Essa carga excessiva tem efeitos marcantes para as populações de plantas nativas. A composição das comunidades vegetais é alterada, pois, enquanto as populações das espécies mais palatáveis sofrem grande pressão e tendem a se reduzir, as populações das espécies não consumidas pelos rebanhos podem aumentar bastante. São consideradas tanto as espécies herbáceas quanto as arbustivas e arbóreas que podem ter seus indivíduos jovens consumidos pelos animais. O pisoteio e a abertura de trilhas são efeitos adicionais na vegetação. A comparação da composição florística de áreas com e sem exclusão de rebanhos domésticos praticamente não existe (Giulietti et al. 2004). 12 Os poucos cálculos preliminares de densidade animal empregado na caatinga, apontados por Sampaio e Menezes (2002), indicam densidades altas em relação à capacidade de suporte das pastagens. Elas variavam, em 1995, de 0,6 a 2 ha/animal nas mesorregiões do semi-árido, enquanto a capacidade de suporte, em geral, é de mais de 10 ha/animal. Uma análise espacial mais detalhada deve identificar variações grandes neste valor, já que grandes variações ao longo do tempo podem acontecer em função das diferenças de precipitação (Sampaio e Araújo, 2006) e tipo de exploração. Quando Santos (2007) revisou sobre a composição da dieta de caprinos em área de caatinga no semi-árido nordestino, verificou que a composição da dieta varia de 0,3 a 43% de gramíneas; 3,1 a 57% de dicotiledôneas herbáceas e 11,3 a 88,4% de espécies lenhosas em função da época do ano, composição botânica da pastagem e área de avaliação. O autor enfatizou a urgência de se ampliarem os conhecimentos quanto aos componentes que estão inseridos no bioma caatinga, sendo estes a vegetação e seu comportamento ao longo do ano, os animais e seu desempenho relacionado com as variações estacionais, bem como a interação destes dois fatores. A adequação da carga animal em função da disponibilidade de forragem ao longo do ano seria também uma excelente ferramenta, já que a carga animal que parece ser adequada para a estação das águas, torna-se sobrecarga para a estação seca. Assim, o descarte de animais seria o instrumento chave para o ajuste da carga animal. Contudo, essa ferramenta não é aplicada com regularidade e magnitude necessária pelos criadores, agravando ainda mais a situação de ano para ano. Sendo assim, faz-se necessária a ampliação urgente dos conhecimentos quanto aos componentes que estão inseridos no bioma caatinga como animais e vegetação, bem como, a interação destes dois fatores para se chegar aos valores de exigências nutricionais de animais criados no semi-árido. 4.1.2 Alternativas alimentares para caprinos e ovinos As alternativas para o fortalecimento da alimentação de caprinos e ovinos no Nordeste Brasileiro estão baseadas no melhoramento do suporte forrageiro, no manejo do pastoreio e a suplementação alimentar nos períodos críticos. A caatinga, principal fonte alimentar do rebanho no sistema tradicional, apresenta produção média anual da vegetação, em termos de matéria seca, em torno de 4,0 t/ha, com substanciais variações advindas de diferenças nos sítios ecológicos e flutuações anuais das características da estação de chuvas(Araújo Filho et al., 1995). Outros autores têm encontrado não mais do que 1,0 t/ha, distribuídos mais ou menos de modo igual entre os estratos herbáceo e lenhoso, o que demonstra que a acumulação de fitomassa da caatinga é muito variável. Isso implica na necessidade de que sejam envidados esforços no sentido de implementar práticas de cultivo de espécies vegetal nativas da caatinga com potencial forrageiro como lavoura xerófila regular (Andrade et al., 2006). Para se criar um ovino ou um caprino durante um ano são necessários 1,3 a 1,5 ha, com variações na produção de peso por ha de até 20kg para caprinos em ano de pluviosidade normal. Porém, em anos de seca já foram registrados decréscimos de até 70% na produção animal na caatinga, tornando-se inviável o pastoril sem modificações em sua cobertura florística. 4.1.2.1 Manipulação da caatinga A manipulação da vegetação da caatinga consiste no controle seletivo de árvores e arbustos, visando o aumento da disponibilidade e melhoria da qualidade da forragem. A escolha do tipo de manipulação depende do potencial da área em termos de resposta técnica e econômica, bem como o tipo de animais que se deseja criar (Araújo Filho, 1990). Segundo Cavalcante et al. (2005), a EMBRAPA Caprinos no inicio da década de 90 desenvolveu quatro técnicas de manipulação para aumentar o potencial da caatinga: a) Raleamento da vegetação arbórea-arbustiva: consiste no controle seletivo de espécies lenhosas, com o objetivo de, reduzindo o sombreamento e a densidade de árvores e arbustos indesejáveis, obter-se incremento da produção de fitomassa do estrato herbáceo. Em áreas de Caatinga raleada, a capacidade de suporte anual para bovinos situa-se em torno de 2,5 - 3,0 ha/cabeça, para ovinos 0,5 ha/cabeça e igual valor para caprinos. 13 b) Rebaixamento: consiste no corte manual de espécies lenhosas a 30 ou 40 cm do solo, que ao rebrotar atingirão até 1,5 metros de altura. O objetivo desta prática é aumentar a disponibilidade da forragem de árvores e arbustos, melhorar sua qualidade bromatológica e estender a produção de folhagem verde por mais tempo na estação seca. Em caatinga rebaixada são necessários de 3,5 a 4,5 ha para manter em base anual uma cabeça de bovino, de 0,5 a 0,7 ha por caprino e de 1,0 a 1,5 ha por ovino. c) Raleamento e rebaixamento: consiste na combinação dos dois métodos anteriores. A combinação do rebaixamento com o raleamento é, possivelmente, a alternativa de manipulação mais adequada aos diferentes tipos de Caatinga do semi-árido nordestino. Isto porque o ótimo da produção e utilização da forragem ocorre quando todo o potencial forrageiro da vegetação é explorado uniformemente e de acordo com as características de cada espécie botânica d) Enriquecimento: consiste em adicionar à vegetação já existente em uma caatinga raleada, outra espécie principalmente herbácea. Pelos dados apontados na Tabela 10 percebem-se os benefícios proporcionados pela manipulação da vegetação da caatinga tanto na capacidade de suporte como na produção de peso vivo por hectare por ano. Tabela 10: Efeito de diferentes níveis de manipulação da Caatinga sobre a capacidade de suporte da pastagem e a produção de peso vivo animal Fonte: Adaptado de ARAÚJO FILHO (1995), ARAÚJO FILHO (1998), SOUSA et al. (1998), citados por Cândido, 2004. 4.1.2.2 Utilização de forrageiras nativas Além das técnicas de manipulação da caatinga, anteriormente citadas, a utilização das espécies nativas, cultivadas ou não, na forma in natura, de feno ou silagem, para a alimentação dos caprinos e ovinos é uma alternativa. Os efeitos de níveis crescentes do feno de maniçoba (Manihot pseudoglaziovii), sobre a digestibilidade de diferentes nutrientes e o desempenho de 20 carneiros foram avaliados por Araújo et al. (2000). O nível de volumoso na dieta influenciou a digestibilidade aparente da matéria orgânica (MO) de 73,1 a 65,0%, da proteína bruta (PB) de 66,4 a 59,1% e dos carboidratos totais (CHO) de 71,1 a 40,8%, decrescendo linearmente com o aumento da percentagem de feno. Os autores ainda relatam que não houve influência dos níveis de feno de maniçoba nos ganhos de peso vivo de carneiros aos 28, 56 e 84 dias com uma média geral de aproximadamente, 44 g/dia, ficando bem abaixo do esperado, em torno de 200 g/dia (Tabela 11). Fatores como: a) baixo nível de consumo de energia, que ficou próximo de 500 g/dia; b) baixo nível de consumo de proteína, em média de 80,0 g/dia; c) o tipo de animal e d) as condições de confinamento; podem explicar os baixos desempenhos obtidos. Os resultados obtidos permitiram 14 concluir que os diferentes níveis de feno de maniçoba, responderam com ganhos de peso vivo modesto e que a digestibilidade dos nutrientes foi satisfatória para o tipo de dietas estudadas. Tabela 11. Médias do ganho diário de peso vivo, expressos em gramas por dia (g/dia), coeficientes de variação (CV) e equações de regressão ajustadas (ER) aos ganho de peso aos 28 (GDP28), aos 56 (GDP56), aos 84 dias (GDP84), e o ganho diário de peso médio total (GDPMT), em função dos níveis de volumoso nas dietas Níveis de Volumoso nas dietas 30% 40% 50% 60% 70% CV (%) ER GDP28 51 43 40 54 41 64,2 Y=46 GDP56 67 59 47 67 53 46,5 Y=59 GDP84 27 24 46 52 64 51,0 Y=43 GDPMT 41 36 41 52 49 30,3 Y=44 Fonte: Araújo et al (2000) De acordo com Batista e Souza (2002), o feno do mata-pasto (Senna obtusifolia L) é consumido por caprinos e ovinos, no entanto, a planta verde não é consumida, o que é atribuído a seu sabor amargo (o que provavelmente se deve a elevadas concentrações de tanino). Quando fornecido como alimento único, o consumo de feno de mata-pasto por caprinos foi baixo, variando de 3,8g/kg0,75/dia a 10,1g/kg0,75/dia, para mata-pasto liso e 72g/kg0,75, para o peludo (Tabela 2). Para ovinos, o consumo variou de 48,7 a 86,6g/kg0,75. O feno de mata-pasto tem potencial para ser utilizado como parte da dieta de caprinos e ovinos, no entanto, é ainda necessária melhor caracterização dos seus constituintes e de seus efeitos sobre o desempenho animal, bem como de sua associação com outros alimentos. A composição química-bromatológica da dieta constituída de folhas e ramos finos da parte aérea do feijão-bravo (Capparis flexuosa), avaliadas por Silva e Figueiredo (2002), apresentou valores médios de: PB = 16,77%; FB = de 21,30 a 34,31%; EE = 2,63 a 4,92%; MM = 9,83 a 10,20%; P = 0,11%; Ca = 2,05%, Digestibilidade “in vitro” 61,73%, MS = 46,22%. Tendo sua maior importância na alimentação animal como forrageira para bovinos e caprinos, com uma quantidade média de PB de 20% e digestibilidade “in vitro” da MS superior a 60%. Assim, os autores concluíram que o feijão-bravo é uma espécie de potencial para ser utilizada como banco de proteína, como suplemento alimentar do gado regional, principalmente nos períodos de escassez natural de forragens. Vaz et al. (1998) avaliando o potencial forrageiro do algodão de seda, obtiveram bons resultados quando fornecido sob a forma de feno. Verificaram que sua inclusão na proporção de até 60% da dieta total de caprinos melhorou o consumo e a digestibilidade da matéria seca e da proteína bruta (Tabela 12). Tabela 12 - Consumo de matéria seca (CMS), consumo de proteína bruta (CPB), digestibilidade aparente da matéria seca (DMS) e digestibilidade da proteína bruta (DPB) T 1 100% FCC T 2 80% FCC + 20%FAS T 3 60% FCC + 40% FAS T 4 40% FCC + 60% FAS C.V. CMS* 59,11 b 79,46a 73,62ab 75,05ab 12,67 DMS 64,94b 66,01b 71,90a 73,12a 4,24 CPB* 2,33c 5,99b 7,50b 10,28a 17,80 DPB 51,22c 69,79b 79,60a 82,86a 3,77 Médias seguidas de mesma letra nas linhas, não diferem significativamente entre si, ao nível de 5% pelo SNK. *g/kg0,75, FCC-Feno de Coast Cross; FAS-Feno de Algodão de Seda; CV – Coeficiente de Variação. Fonte: Vaz et al. (1998) 15 O feno de catingueira apresentou valor nutritivo e consumo voluntário por ovinos que permitiram considerá-lo como recurso de uso estratégico no período seco para alimentação animal. A adição do feno de catingueira à dieta dos ovinos diminuiu a digestibilidade dos constituintes da fração fibrosa. As digestibilidades da MS e MO foram baixas, decorrentes, principalmente, da natureza lignificada do material utilizado. Estudos são necessários com material colhido em outros estádios vegetativos (Gonzaga Neto et al., 2001). 4.1.2.3 Suplementação alimentar A terminação de borregos em confinamento enseja não só a redução da pressão de pastejo sobre a Caatinga na época da seca, mas também o fornecimento de manejo e alimentação privilegiados para que uma categoria possa dar algum retorno econômico num curto espaço de tempo. Alguns trabalhos já demonstraram que em 70 dias é possível se obter borregos com peso de abate com dietas contendo feno de gramíneas nativas, como a Milhã Branca (Camurça et al., 2002), ou Farelo de Castanha de Caju, um subproduto abundante principalmente no Ceará (Rodrigues et al., 2003). Por outro lado, no semi-árido do Nordeste, o confinamento de borregos tem sido empregado com para minimizar as perdas de animais jovens por deficiências nutricionais e por infestações parasitárias; manter a regularidade da oferta da carne e pele ao mercado consumidor; obter um retorno mais rápido do capital investido; reduzir a idade ao abate e a pressão de pastejo na caatinga (Vasconcelos, 2000; Silva e Barros, 2002). Souza e Espíndola (1999) estudaram o desempenho de ovinos, suplementados com feno de leucena durante a estação seca, em comparação com animais não suplementados, mantidos em pastagem exclusiva de gramíneas ou de gramíneas consorciadas com leguminosas. Os autores verificaram que a suplementação com feno durante a estação seca também resulta em ganho compensatório na estação das águas subseqüente, fato observado quando a suplementação é feita com alimentos concentrados. Os tratamentos foram compostos por : A – capim-buffel; B – capim-buffel + guandu; C – capim-buffel + 250g de feno de leucena e D – capim- buffel + 500g de feno de leucena. Foi observado que a suplementação de borregos com feno de leucena, durante a estação seca, é capaz de melhorar significativamente a taxa de crescimento dos animais e que animais suplementados durante a estação seca devem estar prontos para abate ao final da estação. Os autores comentaram que a vantagem obtida com a suplementação tende a ser anulada durante a estação das águas seguinte, caso os animais sejam mantidos em regime de pasto. Também se observou que as pastagens de capim-buffel ou capim-buffel consorciado com guandu, não permitem crescimento satisfatório de borregos durante a estação seca. Trabalho realizado pela Embrapa Caprinos (1993), com rações a base de feno de cunhã (Tabela 13), revelaram a boa perspectiva da utilização desta leguminosa para terminação de borregos em confinamento. A dieta constituída unicamente de feno propiciou ganho de peso bastante satisfatório (113,6 g/dia).(Tabela 4) Tabela 13. Tratamentos e desempenho de borregos mestiços Santa Inês x Crioulo, em confinamento. Tratamentos T1 T2 T3 T4 Feno de cunhã (%) 100 85 70 55 Concentrado (%) 0 15 30 45 Desempenho dos borregos Peso inicial (kg) 14,1 14,5 14,4 14,4 Peso final (kg) 21,6a 24,0ab 23,8ab 26,4b 16 Ganho de peso (g/dia) 113,6a 135,7ab 143,9ab 172,8 b Fonte: Adaptado, Embrapa (1993) Souto et al. (2002) visando o acabamento de ovinos, avaliaram os efeitos de cinco dietas com diferentes níveis do feno de erva sal (Atriplex nummularia Lind.): 38,30; 52,55; 64,57; 74,85 e 83,72% de materia seca, associado a melancia forrageira (Citrulus lanatus cv. citroides) e a raspa de mandioca (Manihot esculenta Grantz) enriquecida com 5% de uréia. Os ganhos de peso vivo aos 21, 28, 35 e 42 dias, sofreram redução linear com a elevação dos níveis de feno nas dietas (Tabela 14). Entretanto, as boas médias diárias de ganho de peso vivo, obtidos pelos carneiros ao longo do período de engorda, revelaram a boa qualidade do potencial forrageiro do feno de erva sal, combinado em qualquer das proporções estudadas. É válido salientar que a terminação de pequenos ruminantes em confinamento requer tecnologias mais sofisticadas, pois se os animais têm potencial para ganho de peso, necessitarão de dietas que atendam as suas exigências nutricionais. Portanto, a alimentação revela-se um dos importantes fatores a ser considerado no confinamento, pois, além de representar elevado percentual dos custos de produção (mais de 65%), tem que assegurar o desempenho dos animais de forma que a relação custo/benefício seja lucrativa para o empreendimento e possa oferecer carcaças com qualidade e de grande aceitação ao mercado. Tabela 14. Médias, coeficientes de variação (CV), equações de regressão ajustadas (ER) e coeficientes de determinação (r2), do peso vivo inicial (PVI), peso vivo final (PVF), ganho de peso vivo total (GPVT), expresso em kg e do ganho diário de peso vivo, expressos em gramas por dia (g/dia) aos 07 (GPD07), 14 (GPD14), 21 (GPD21), 28 (GPD28), 35 (GPD 35) e aos 42 (GPD 42), em função dos níveis de volumosos nas dietas. Níveis do Feno de Erva Sal (%F) CV ER 38,30 52,55 64,57 74,85 83,72 (%) r2 PVI 21,90 23,65 23,45 23,30 22,48 - - - PVF 28,00 29,50 29,25 27,63 25,38 11,07 - - GPVT 6,10 5,85 5,80 4,90 3,20 23,64 Y=7,43-0,733**F 42,53 GPD07 228 162 207 107 143 48,68 Y=163,00 - GPD14 186 137 112 107 100 56,03 Y=122,22 - GPD21 195 130 127 86 82 47,51 Y=195,07-24,50**F 34,45 GPD28 193 160 139 112 62 36,98 Y=227,04-31,11**F 55,28 GPD35 181 136 133 98 83 26,48 Y=191,85-22,21**F 46,49 GPD42 145 139 138 103 69 25,84 Y=182,18-20,53**F 48,27 ** Significativo a 1% de probabilidade, respectivamente. 4.2.3 Sistema Silvipastoril A Embrapa Caprinos vem realizando, há mais de quinze anos, pesquisas com sistemas silvopastoris. Esses sistemas, por seu turno, combinam a exploração pastoril, com a madeireira, utilizando muitas vezes espécies arbóreas com duplo propósito, isto é, produção de madeira e de forragem. Outrossim, a sombra das árvores para o conforto animal e o papel dessas na circulação de nutrientes constituem vantagens a ser incrementadas. O uso de herbívoros em pomares para controle de ervas daninhas constitui um exemplo desse sistema de produção. Por outro lado, o pastoreio dos rebanhos em caatinga manipulada ou não, constitui também exemplo de sistemas silvopastoris. O raleamento, o rebaixamento, o enriquecimento, a combinação destas três técnicas, tem sido bastante estudadas e tem alcançado sucessos em áreas de caatinga, onde a disponibilidade hídrica é mais abundante (Araújo Filho et al., 1995). 17 Os sistemas agrossilvipastoris combinam as três modalidades de exploração, ou seja, a agrícola a madeireira e a pastoril integradamente. Este é o modelo predominante na maioria das fazendas do semi-árido nordestino. No sistema de produção agrossilvipastoril a unidade produtiva consta de três parcelas: uma para a agricultura, outra para a pecuária e uma terceira para a exploração madeireira, tendo o animal como o principal redistribuidor de nutrientes entre os componentes do conjunto. Assim, ao se utilizar na área agrícola, o esterco dos animais mantidos nas parcelas pastoril e florestal do conjunto transfere nutrientes daquelas para essa parcela. Já, ao suplementarmos o rebanho com restolho cultural ou grãos e feno produzidos na parcela agrícola, transfere-se nutrientes para as áreas de manutenção dos animais, quais sejam os lotes pastoril eflorestal (Araújo Filho et al., 1995). Visando obter benefícios ecológicos, sociais e econômicos no semi-árido do Nordeste, Carvalho (2006) apresenta várias alternativas no âmbito de Sistemas Agroflorestais Pecuários, com possibilidade de uso em sistemas de produção de ruminantes. De acordo com França et al. (2007) a exploração da caatinga através de um sistema agrossilvopastoril mostrou-se viável. No sistema agrossilvopastoril, 55,3% do suporte forrageiro é suprido pela vegetação de Caatinga e 100% da mão-de-obra requerida é suprida pela família do criador. O modelo ainda propõe o raleamento e o enriquecimento da caatinga, praticas já conhecida e de fácil adoção pelo agricultor. Os autores observaram a valorização patrimonial em função dos ganhos ecológicos, da ausência de queimadas, da cobertura morta e do enriquecimento do solo. De acordo com Araújo et al. (2002), o sistema caatinga-buffel-leguminosa (CBL) de produção animal no semiárido, foi desenvolvido por pesquisadores do Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido (CPATSA-EMBRAPA), hoje Embrapa Semi-Árido, com apoio técnico do ORSTOM (Institut Français de Recherche Scientifique pour le Développement en Coopération). Em sua concepção básica, o sistema CBL apresenta cinco características fundamentais: ü Utiliza a caatinga como um dos seus componentes, por um período de 2 a 4 meses do ano, em função da oferta de forragem; ü Utiliza pastos tolerantes à seca, para complementar a alimentação volumosa do rebanho no restante do ano; ü Utiliza feno e silagem, produzidos a partir de bancos de proteína/energia, e outras formas forrageamento, para suplementar a alimentação dos animais no período mais crítico do ano; ü Mantêm uma reserva estratégica de espécies forrageiras de alta tolerância às secas, para assegurar um nível satisfatório de produtividade do rebanho estiagens prolongadas; ü Funciona como um sub-sistema capaz de adequar e interagir com os demais componentes da unidade produtiva, dentro da diversidade agro-ecológica e socioeconômica observada no semi-árido. Com caprinos, o sistema permite o abate de animais com peso vivo de 25 kg aos 4-6 meses de idade, uma antecipação de 9 a 11 meses de idade do abate, propiciando, além da elevação na produtividade por unidade de área, efetiva melhoria na qualidade do produto. O sistema incorpora uma séria de práticas de manejo capazes de reverter o seu processo de degradação o qual já atinge, em maior ou menor intensidade, quase 20 milhões de hectares, aproveitando o forte poder de reabilitação natural da caatinga. De uma maneira geral, os estudos de desenvolvimento de sistemas agroflorestais pecuários na região semi-árida do Nordeste são bastante promissores. Entretanto, ainda é muito baixa a utilização desses sistemas por parte dos produtores, seja por falta de conhecimento, divulgação ou mesmo pelo baixo incentivo e apoio governamental. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A adaptabilidade das raças nativas do semi-árido é bastante conhecida, assim como a extensa flexibilidade alimentar desses pequenos ruminantes, refletida na ampla variação dos seus hábitos alimentares em função da disponibilidade de alimento. Porém, é explícito que em função da variação sazonal do valor nutritivo da caatinga e as altas taxas de lotação aplicadas fazem com que esta, por si, não possa garantir as necessidades nutricionais dos animais em pastejo. Surge, então, a urgente necessidade de manejar adequadamente a carga animal, para deixar ser uma exploração extrativista dos recursos naturais existentes e passar para uma exploração racional, voltada para o manejo e a conservação dos recursos naturais do meio em questão. Para isso, os estudos sobre exigências nutricionais de pequenos ruminantes desse bioma precisam ser fortalecidos e incentivados, para que permitam que as dietas sejam formuladas tomando com base as necessidades nutricionais reais de nossos animais. Aí então, a relação custo/benefício na produção animal da região semi-árida poderá ser efetivamente reduzida.
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