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SUMÁRIO SOBRE O AUTOR INTRODUÇÃO Parte I PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE NOS QUATRO CANTOS DO BRASIL Capítulo 1 PRODUÇÃO NO CERRADO Capítulo 2 PRODUÇÃO NA AMAZÔNIA Capítulo 3 PRODUÇÃO NO PANTANAL Capítulo 4 PRODUÇÃO NA MATA ATLÂNTICA Capítulo 5 PRODUÇÃO NA CAATINGA Capítulo 6 PRODUÇÃO NO PAMPA Parte II CRIA E RECRIA DE BOVINOS DE CORTE Capítulo 7 A FASE DE CRIA Capítulo 8 RECRIA DE MACHOS E FÊMEAS Parte III PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM Capítulo 9 MANEJO DE COLHEITA DO PASTO Capítulo 10 FERTILIZAÇÃO NITROGENADA Capítulo 11 SUPLEMENTAÇÃO EM PASTEJO Capítulo 12 ESTRATÉGIAS PARA O INVERNO (período seco) Capítulo 13 SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA Parte IV PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM CONFINAMENTO Capítulo 14 CONCENTRADO NA DIETA Capítulo 15 FORRAGENS Capítulo 16 ADITIVOS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SOBRE O AUTOR Minha história com criação de gado começou desde cedo, filho de pais goianos, passei a infância acompanhando de perto a produção de gado de leite e de corte em uma pequena propriedade da família no interior do Goiás. Quando chegou a hora do vestibular, a escolha foi natural e nunca tive nenhuma dúvida do que queria fazer. Me formei em Veterinária pela Universidade Federal de Campina Grande e desde o primeiro semestre de faculdade estive envolvido com pesquisa e extensão na área de nutrição e produção animal. Foi durante a faculdade que me impressionei com o potencial pecuário do Brasil e decidi que era com isso que gostaria de trabalhar. Logo após minha graduação, fiz Mestrado em Nutrição e Produção Animal pela Universidade de São Paulo, com período na Kansas State University - EUA. Nesta época, iniciei meus trabalhos com consultoria em fazendas. Em seguida, completei o Doutorado em Nutrição e Produção Animal pela Universidade de São Paulo, com período na Michigan State University - EUA e o Pós-doutorado pela ESALQ-USP com período na Swedish University of Agricultural Sciences - Suécia. Atualmente sou pesquisador e professor na Swedish University of Agricultural Sciences – Suécia. Mesmo morando fora, continuo com fortes relações com o Brasil. Além das consultorias em fazendas de produção de gado de leite e de corte, sou professor de duas disciplinas de produção animal em um curso de Pós- graduação à distância e mantenho parcerias de pesquisas científicas em diferentes universidades do país. Além de produzir um alimento de elevada qualidade e densidade nutricional, vejo a produção de gado de corte, como uma das formas mais sustentáveis de produção de alimentos. Tanto economicamente, quanto ambientalmente sustentável. No decorrer deste livro, abordarei meu ponto de vista sobre os principais pontos relacionados a produção de bovinos de corte no Brasil, o país que vem se tornando o líder mundial na produção de carne. INTRODUÇÃO De acordo com o mais recente levantamento do número de cabeças de gado em cada país, publicado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – USDA, o Brasil tem o segundo maior rebanho de gado do mundo. Com 244 milhões de cabeças, o Brasil detém 25% do rebanho mundial de gado. O Brasil fica atrás somente da India, que possui um rebanho de 303 milhões de cabeças. Porém, na contabilidade desse país, os búfalos foram considerados como bovinos, o que não acontece na contagem feita para medir o tamanho do rebanho brasileiro. Analisando os números brasileiros mais de perto, dos 244 milhões de bovinos no Brasil, 238 são criados, recriados e terminados a pasto; isso representa 97,5% do rebanho nacional. Embora somente 2,5% dos bovinos são terminados em confinamento, isso representa 6,1 milhões de cabeças. Número que parece pequeno diante do total, mas se o confinamento brasileiro fosse um país, teria o décimo quarto maior rebanho do mundo. O Brasil vem se consolidando como a maior potência pecuária do mundo, ficando em primeiro lugar entre os países exportadores de carne. Em 2020, o Brasil exportou 2,5 milhões de toneladas de carne, quase o dobro que o segundo colocado, a Austrália com 1,4 milhões de toneladas exportadas. Porém, apesar dos números expressivos que o Brasil apresenta, seu potencial produtivo ainda é pouco explorado. O desempenho pecuário do Brasil poderia ser ainda mais expressivo, visto que a taxa de lotação animal (número de animais por hectare de pasto) ainda é muito baixa. A média nacional é de 1 unidade animal (450 kg de peso vivo) por hectare. No entanto, temos dados consistentes de pesquisas mostrando que essa taxa de lotação pode ser muito maior, tornando a atividade mais sustentável, tanto economicamente quanto ambientalmente. O aumento da produção animal, principalmente à pasto, está associado a melhores resultados econômicos e melhor uso da terra. É fato que o Brasil é um país pecuário e seu desenvolvimento econômico é, extensivamente, dependente do agronegócio. De acordo com dados publicados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o agronegócio brasileiro foi responsável por 26,6% do PIB brasileiro em 2020, onde o PIB do país foi de R$ 7,45 trilhões, e o PIB do agronegócio chegou a quase R$ 2 trilhões. A aptidão do Brasil para a produção de alimentos é devido às condições de clima e solo, que são, de modo geral, favoráveis em todo território nacional. Discutiremos as diferenças de cada bioma brasileiro, para entender melhor como a produção de gado de corte ocorre nos quatro cantos do país. Porém, a expansão da produção de gado de corte vem sendo bastante criticada pela mídia e por organizações não- governamentais defensoras do meio ambiente, pois se acredita que para se aumentar a produção é necessário desmatar para aumentar a área de terra para abrigar mais animais. E isso não é verdade. Ao contrário do que muitos pensam, 59% do território brasileiro é preservado e coberto por floresta, está intacto. Contando com as áreas de reflorestamento e de preservação permanente (APP’s), o Brasil possui 68% do território em preservação (MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Para comparar com outros países produtores de carne, os Estados Unidos possuem somente 34% do seu território preservado, enquanto a India possui 24%, Austrália 16% e a vizinha Argentina somente 10%. Mesmo com a estabilização das áreas de pastagens destinadas à criação animal, a produção de carne no Brasil vem aumentando gradativamente. Nos últimos 30 anos, a produção de carne no Brasil aumentou 158%, enquanto a área de pasto aumentou somente 9,4%. O Brasil não precisa abrir mais terra para aumentar a produção, o caminho a ser percorrido pelos produtores é o do aumento da eficiência, onde se produz mais na mesma área. O processo de intensificação da propriedade rural passa por 3 etapas, que compreende o manejo correto dos animais nas pastagens, fertilização nitrogenada para aumentar a produção forrageira e, por fim, a suplementação animal. Desta forma, será possível aumentar tanto a taxa de lotação animal, quanto o desempenho individual dos animais, aumentando a produção total de carne por área e, consequentemente, o retorno ao investimento. Formando assim, uma base sólida para a transição de uma pecuária de baixa eficiência, para uma pecuária moderna, eficiente e lucrativa. O confinamento entra como ferramenta estratégica no processo de intensificação da pecuária brasileira. O número de animais terminados em confinamento no país vem crescendo a cada ano. O aumento do interesse de pecuaristas e da indústria da carne pela terminação de animais em confinamento decorre, principalmente, da necessidade em melhorar a eficiência produtiva e a qualidade da carne produzida. Esse processo é fundamental para garantir a competitividade do setor tanto no mercado nacional como no internacional. Esse processo de intensificação da produção será amplamente discutido no decorrer desse livro. Do ponto de vista ambiental, a pecuária é, erroneamente,culpada por ser uma das principais produtoras de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4). Esse constante ataque a pecuária pode ter como objetivo principal, desviar a atenção das reais causas da liberação de GEE na atmosfera, que são a indústria e os motores movidos a combustíveis fósseis. Esses últimos utilizam combustíveis fósseis (carvão, gás natural e os derivados de petróleo) como fonte de energia. Porém, um detalhe é deixado de lado é que os combustíveis fósseis são formados por meio da decomposição lenta de seres vivos (animais e vegetais) ao longo de milhões de anos. Estima-se que suas formações levem entre 10 e 500 milhões de anos para se completar em solos profundos. Ou seja, esse carbono que estava estocado no subsolo há milhões de anos, é capturado pelo homem, trazido para a superfície e queimado para a produção de energia, liberando os GEE na atmosfera. Gases esses que não estavam na superfície, mas são adicionados deliberadamente, desbalanceado o sistema atmosférico natural. Os combustíveis fósseis representam mais de 75% da demanda energética mundial, sendo usados em veículos, indústrias e residências. No entanto, a relação entre pasto-solo-animais pastejadores é o melhor exemplo de sustentabilidade ambiental, uma vez que, durante o processo de fotossíntese, o pasto capta carbono (CO2) da atmosfera para o crescimento vegetal, e o ruminante se alimenta do pasto, eliminando carbono na forma CH4 e CO2, formando um ciclo perfeito. Esse ciclo é chamado do Ciclo do Carbono (Figura 1). O carbono liberado pelos ruminantes já estava na atmosfera e permanecerá aqui, nada foi trazido de fora para dentro do sistema. Além disso, os animais devolvem outros nutrientes ao solo, através das fezes e urina, repondo nutrientes orgânicos e inorgânicos que serão utilizados para dar suporte ao novo crescimento das plantas. E ainda, em um sistema de manejo correto de animais em pastejo, remove ainda mais carbono da atmosfera, pois o sistema radicular das gramíneas forrageiras bem manejadas são, geralmente, maior que a parte aérea do pasto. Dessa forma, a criação de animais à pasto pode ser utilizada como ferramenta para aumentar o sequestro de carbono atmosférico. Figura 1. Metano produzido pelo ruminante como parte natural do ciclo do carbono. Um sistema radicular bem desenvolvido, contribui para maior remoção de carbono da atmosfera e aumento da concentração de matéria orgânica no solo, contribuindo assim para uma maior sustentabilidade ambiental. Isso foi comprovado por um estudo recente1, conduzido no Canadá, onde 32 áreas de pastos foram monitorados por 27 anos consecutivos, com o objetivo de avaliar como a taxa de lotação animal afeta a concentração de matéria orgânica no solo. O estudo concluiu que quando a taxa de lotação animal nos pastos foi 2 vezes maior que o recomendado, o estoque de carbono no solo foi 2 vezes maior que quando a taxa de lotação utilizada foi a metade do recomendado. Ou seja, mais animais no pasto contribuiu para um maior sequestro do carbono da atmosfera e, consequentemente, aumento da concentração de matéria orgânica no solo. E a explicação para esse achado é bastante simples. Para suportar um maior número de animais na mesma área, o pasto precisa ser bem manejado, e como foi dito anteriormente, um pasto bem manejado possui um sistema radicular bem desenvolvido, que é o grande responsável pela retirada do carbono da atmosfera e estocagem no subsolo (Figura 2). Figura 2. Comparação entre a parte aérea e o sistema radicular de um pasto bem manejado. A produção de gado de corte envolve uma série de variáveis, se tornando relativamente complexa e, exigindo assim, profissionais capacitados para estar à frente dos sistemas de produção. O amadorismo não tem mais espaço na pecuária moderna, com as margens de lucro ficando cada vez mais estreitas, a diferença entre o sucesso e o fracasso está nos mínimos detalhes. Esse livro busca fazer uma revisão geral da produção de gado de corte no Brasil, com destaque para pontos estratégicos que contribuem de forma mais consistente para o aumento da eficiência do sistema de produção como um todo. Espero que esse material te ajude e me coloco a disposição para questionamentos, sugestões, críticas ou para um simples contato, basta me escrever no e-mail: dannylo.sousa@slu.se Abraço, Dannylo Sousa mailto:dannylo.sousa@slu.se Parte I PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE NOS QUATRO CANTOS DO BRASIL O Brasil é um país grande e com condições climáticas favoráveis para a produção de alimentos em grande escala e ao longo de todo o ano. Com uma extensão territorial de 850 milhões de hectares, distribuídos em 6 biomas completamente diferentes (Figura 1), o Brasil é um dos países com maior diversidade do mundo, e a produção de gado de corte ocorre nos 4 cantos do país. Segundo o IBGE, o bioma Amazônia ocupa 49,5% do território, seguido pelos biomas do Cerrado (23,3%), Mata Atlântica (13%), Caatinga (10,1%), Pampa (2,3%) e Pantanal (1,8%). Nesta seção, irei descrever como a produção de gado de corte ocorre em cada bioma brasileiro e como foi a transformação dessa indústria durante seu momento de maior expansão da história até chegar aonde se encontra hoje. Figura 1. Localização dos biomas brasileiros. Capítulo 1 PRODUÇÃO NO CERRADO O bioma Cerrado, também conhecido como a savana brasileira, é o segundo maior bioma do país, cobre 24% do território nacional e abriga, em média, 38% do rebanho de gado brasileiro. Com o aumento da tecnificação e mecanização da produção agrícola e pecuária da região, o Cerrado tem se tornado o centro da produção de alimentos no Brasil. De acordo com dados da Embrapa Cerrados, o Cerrado responde por 55% da produção de carne bovina, 49% da soja, 49% do milho, 98% do algodão, 47% da cana-de-açúcar, 43% do feijão e 89% do sorgo produzidos no país. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o Brasil se tornará o maior produtor de alimentos do mundo até 2025, e o Cerrado é o principal responsável por esse desempenho em nível nacional. Existem duas estações do ano bem definidas no Cerrado, o período seco (maio a setembro) e período chuvoso (outubro a abril), onde o índice pluviométrico anual varia de 1200 a 1800 mm. A vegetação nativa é composta por árvores com troncos tortuosos, arbustos e gramíneas. Os solos são profundos, bem drenados na maior parte do ano, ácido e com baixa fertilidade natural e elevado teor de alumínio. Apesar de parecer que esse tipo de solo não é favorável para produção vegetal, isso não é verdade, se bem corrigido, com adubação correta e boa oferta de água, esses solos são ideais para produção de gramíneas (pastos, milho, sorgo, sorgo, cana-de- açúcar), que irão dar suporte para a produção animal. No início do período de desenvolvimento agropecuário do Cerrado, nas décadas de 70 e 80, com abundante apoio financeiro do governo federal para desbravar essa região do país, a produção de gado de corte era uma atividade de baixo custo, capaz de ocupar grandes áreas de terra sem preocupação com produtividade e eficiência. A prática mais comum de ser observada era de soltar rebanhos de gado em grandes áreas e recolher os animais, quando estivessem prontos para o abate, depois de vários anos pastando como animais selvagens. Adicionalmente, devido as altas taxas de inflação monetária durante esse período, a produção de gado de corte era considerada como reserva de capital e a principal fonte de lucro era a especulação financeira e não a produção de carne. Devido à baixa fertilidade do solo e relativo alto custo da implementação, muitas das áreas de pasto no Cerrado foram implementadas em consórcio com alguma lavoura. Inicialmente, o pasto (basicamente Brachiaria decumbens) era plantado depois de um ou dois anos de arroz em solo seco (Kornelius, 1979). Outros tipos de consórcios foram sendo implementados, mas a cultura do pasto nunca foi tratada como uma lavoura e por isso, a produção de pasto era,e ainda é, na maioria dos casos negligenciada, sem preocupação com os tratos culturais específicos desta cultura. Devido a fertilidade residual da produção da cultura anual (arroz, milho, soja), a produção do pasto plantado em seguida era satisfatória nos primeiros anos, seguida por um período de declínio produtivo crescente ao longo nos anos seguintes, e após 5 a 10 anos, resultando em degradação da pastagem e do solo (Mueller, 2008). Esse ciclo de declínio de produtividade e degradação acentuada resultou em uma triste marca de 100 milhões de hectares de área plantada de pasto em condição de severa a moderada degradação (Diaz-Filho, 2014). O manejo errado das pastagens, que não respeita o tempo de descanso e crescimento das plantas e a falta da fertilização adequada para repor os nutrientes extraídos do solo durante a produção vegetal, são os principais responsáveis pela redução média de 6% por ano da capacidade produtiva dos pastos do Cerrado (Martins, 1996). Mais recentemente, com os impedimentos legais e de crédito para abertura de novas áreas de desmatamento, com o crescente custo dos insumos de produção e a competição com a agricultura pelo uso da terra, não há mais espaço para amadores na pecuária moderna. Produtores tem mudado a forma de administrar suas propriedades, encarando a fazenda como uma empresa, que tem que ser eficiente e dar lucro no fim do ano. Para isso, é preciso aumentar a produtividade por área, mesmo que o custo de implementação do sistema seja mais elevado. Dessa forma, a integração lavoura-pecuária tem se consolidado na região, com o benefício da manutenção da fertilidade do solo e o aumento da produção de carne por área. Certamente a adoção dos sistemas mistos de produção contribuíram para o aumento da produtividade no Cerrado, uma vez que nos últimos 30 anos a produção de carne no Brasil aumentou 158%, enquanto a área de pasto aumentou somente 9,4%. Quando o pasto é consorciado com a lavoura ocorre uma melhoria na cobertura do solo e um aumento na concentração de matéria orgânica, o que é excelente para os solos de baixa fertilidade do Cerrado. A presença do pasto na área de lavoura para o plantio direto garante a cobertura do solo necessária para evitar a erosão e ainda, aumentar o sequestro de carbono da atmosfera para o subsolo, devido ao sistema radicular bem estabelecido previamente. Tanto a agricultura quanto a pecuária são beneficiados pelos sistemas de integração. Os produtores de gado usam o plantio de lavouras (arroz, milho, sorgo ou soja) de forma estratégica para recuperar áreas de pastejo previamente degradadas, e agricultores usam o plantio de pastos (mais comumente a Brachiaria sp.) para manter o solo coberto durante o resto do ano após a colheita da lavoura, controlar planta daninhas que afetam a produção agrícola e fornecer massa orgânica para o plantio direto. Desta forma, os agricultores usam os pastos de inverno para engordar o gado, utilizando o solo o ano inteiro e produzindo mais na mesma área; e os produtores de gado usam o plantio de grãos para reduzir os custos da renovação de pastagens degradadas, aumentando a eficiência econômica e produtiva final. Ambas as partes são beneficiadas pela diversificação das fontes de renda da propriedade, reduzindo os riscos das variações do mercado de uma produção isolada. Outro tipo de sistema integrado quem tem crescido no Cerrado é a integração lavoura-pecuária-floresta. A ideia de aumento do uso consciente do solo, com benefício ambiental e econômico desse sistema é semelhante ao discutido anteriormente, contudo, a inclusão da floresta (mais comumente utilizado é o Eucalipto) traz um benefício extra, que o sistema anterior não tem, que é o sombreamento natural das árvores, que contribuem para o bem- estar dos animais. Animais com conforto vivem melhor e, consequentemente, produzem mais. Devido a maior produção de forragem total, maior qualidade dessa forragem e disponibilidade durante a estação seca do ano, os sistemas de integração permitem produzir até 450 kg de carne por hectare por ano, enquanto a média anual do país é de 49 kg por hectare por ano (Kichel, 2012). No entanto, é importante destacar que os mesmos níveis de produção de carne produzidos em um sistema de integração pode ser alcançado por um sistema de produção a pasto bem manejado, desde que a fertilidade do solo seja mantida para suportar a capacidade de produção das plantas forrageiras. Esse assunto será discutido detalhadamente no capítulo de ‘Produção de Bovinos de Corte em Pastagem’. Capítulo 2 PRODUÇÃO NA AMAZÔNIA A Amazônia é a última fronteira para o desenvolvimento da agricultura e pecuária no Brasil. É uma região complexa, que atrai os olhos do mundo, principalmente de países desenvolvidos, gerando controvérsias e discussões inflamadas. A Amazônia cobre 40% do território nacional e é o maior bioma brasileiro. Apesar das constantes notícias sobre o desmatamento, 84% da Amazônia está preservada. O desmatamento ainda é uma realidade, porém é importante dizer que a taxa de desmatamento vem diminuindo desde 1987, conforme dados apresentados pelo INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. No período de 1986 a 2016 o rebanho de gado no Brasil cresceu 45%, já na Amazônia o crescimento do número de animais foi de 395%. Porém, o aumento da área de pasto na Amazônia foi de somente 22%. Com base nesses números, fica evidente o aumento da produtividade por área. E ainda, esses dados foram usados para comprovar que o aumento na criação de gado não teve relação direta com o desmatamento na região, uma vez que o aumento da área de pasto foi insignificante quando comparado com o aumento do número de animais. Desmatamento é crime e a polícia federal fiscaliza isso muito bem, com auxílio de imagens via satélite em tempo real. Obviamente que a extensão territorial da Amazônia dificulta a ação da polícia e facilita a dos criminosos, porém, o desmatamento não é feito por pecuaristas, uma vez que esses irão permanecer na área desmatada por vários anos até terminar o primeiro clico de produção, ela é feita por exploradores de madeira, que cortam as árvores e desaparecem da cena do crime para nunca mais voltar. Entretanto, uma vez que a área é aberta, o governo precisa decidir o que fazer com a terra, se será destinada ao reflorestamento ou se será repassada para o setor produtivo. No caso da segunda opção, eventualmente essa área será utilizada pela pecuária de corte, pela facilidade de se adaptar em áreas remotas. Durante o período de 1966 a 1986, o governo brasileiro estimulou a colonização para consolidar o desenvolvimento da Amazônia, através de incentivos financeiros para apoiar o desmatamento e a introdução da agropecuária. Como a produção de bovinos de corte é a forma mais prática e barata de ocupar grandes áreas, essa se tornou a atividade predominante. A partir de 1990, com a estabilização da economia e aumento da pressão política, o foco do desenvolvimento local mudou e ao invés de abrir novas áreas, a recomendação foi aumentar a produtividade das áreas já estabelecidas. Com isso, a produção de gado de corte na Amazônia entrou em uma nova fase, quem vem evoluindo constantemente até os dias atuais, onde a eficiência da produção é essencial para manter o sistema lucrativo. Dois fatores foram, e continuam sendo, fundamentais para o processo de modernização da pecuária de corte na Amazônia. Primeiramente, a substituição das plantas forrageiras nativas por opções mais produtivas, permitiram o aumento da capacidade suporte das áreas de pastejo, uma vez que as plantas introduzidas produzem mais massa verde por área. E também, o melhoramento genético dos rebanhos, associado ao uso de tecnologias da reprodução, como a inseminação artificial e a inseminação artificial em tempo fixo, contribuíram para o fornecimento de animais de elevado potencial de desempenho em escala necessária para suportar o rápido desenvolvimento da pecuária na Amazônia. A produção de gado de corte se consolidou como uma importante parteda economia regional, representando 35% de toda a produção agropecuária na Amazônia legal (Valentim, 2016). Apesar dos inúmeros movimentos organizados contra o desenvolvimento agrícola na região, o caminho a ser seguido é o das boas práticas, com consciência ambiental e respeito aos animais. Ainda tem muito a ser feito em relação a fatores como, infraestrutura de transportes, regularização de terras, investimento em capital humano local e legislações sensatas, que permitam o uso consciente dos recursos naturais. A Amazônia é riquíssima e deve ser respeitada para continuar servindo ao seu povo, através da produção de alimentos produzidos por uma agropecuária sustentável e consciente. Capítulo 3 PRODUÇÃO NO PANTANAL O Pantanal é conhecido mundialmente por ser a maior planície de inundação do globo, com 250 mil km² de extensão. Localizado no Centro-Oeste, entre os estados do Mato Grosso e Mato grosso do sul, além de ser estender parcialmente para a Bolívia e Paraguai. Devido a sua riqueza natural, o Pantanal é considerado Patrimônio Ecológico da Humanidade pela UNESCO. Sua preservação ambiental é alta, sendo considerado o bioma mais preservado do país, de acordo com o IBGE. Porém, uma informação importante e que é pouco divulgada é que 90% da área do Pantanal pertence a propriedades privadas, que tem como atividade principal a produção de gado de corte. O sistema de produção é tipicamente extensivo, com baixa intensificação e baixo impacto ambiental, com desmatamento controlado e permitido somente quando absolutamente necessário. O gado “Pantaneiro” (Bos taurus) foi desenvolvido na região e gradualmente cruzado com o Zebu (Bos indicus), com o objetivo de criar uma raça resistente e produtiva nas condições do Pantanal. Atualmente, a raça mais comum no Pantanal é o Nelore Pantaneiro, fruto do cruzamento entre o Pantaneiro e o Nelore. O tamanho do rebanho de gado de corte no Pantanal varia drasticamente de acordo com os períodos de inundação e seca, que se alternam em média a cada 15 anos (Silva et al., 2001). Na seca de 1960 a 1974, o rebanho de gado era de 6 milhões de cabeças. No entanto, no período de 1975 a 1985, que foi de chuvas, e consequentemente de inundações, o rebanho reduziu para 4,5 milhões de cabeças. Porém, o período seguinte, de 1986 a 2000, foi novamente de chuvas, e a população de gado na região continuou a reduzir, chegando a 3 milhões de cabeças. Após um período longo de inundações, em 2001 deu-se início a uma nova era no Pantanal. Com condições climáticas mais favoráveis, associado a investimentos em pesquisas para aumento da eficiência e sustentabilidade da produção de gado de corte no Pantanal, o rebanho chegou a 5,5 milhões de cabeças em 2016. A produção de gado de corte no Pantanal é caracterizada por grandes propriedades, com sistema de produção extensivo de baixo nível tecnológico. A atividade pecuária mais comum é a produção de bezerros. Os sistemas de terminação tradicionais, com suplementação concentrada e operações em confinamento, são impraticáveis na maior parte do Pantanal, devido aos períodos de inundações. E ainda, o transporte de animais terminados podem causar prejuízos ao sistema, causado pela perda do peso dos animais, uma vez que abatedouros e centros comerciais estão muito distantes das propriedades. Após o longo período de inundações com elevada taxa de mortalidade animal nas décadas de 80 e 90, houve um movimento para introdução de pasto cultivado (Brachiaria sp.), com o objetivo de aumentar a produção forrageiras nas propriedades. Porém, com o passar dos anos, o pasto introduzido foi se degradando, através de um processo natural de substituição pelas espécies nativas. De acordo com a EMBRAPA, atualmente a área total de pasto introduzido se resume a 11% do Pantanal. De acordo com pesquisadores locais, a simples inclusão de uma nova planta é considerado como uma ameaça, uma vez que as plantas nativas vivem em equilíbrio dinâmico, permitindo a resiliência e sustentabilidade do ecossistema local. Os pastos nativos são a base da alimentação do gado no Pantanal e o aumento da eficiência produtiva é o maior desafio dos pesquisadores e produtores, exigindo um conhecimento profundo das condições específicas do ecossistema local. Variações climáticas implicam diretamente na disponibilidade de alimento para os animais, onde o ganho ou a perda de peso dos animais estão à mercê da intensidade e duração das inundações. Em contraste com o resto do Brasil, no Pantanal os animais perdem peso durante a estação de chuvas, não pela falta de alimento, mas pela falta de acesso, pois os pastos ficam submergidos pela água da chuva; e voltam a ganhar peso durante a seca, quando os pastos se tornam disponíveis novamente (Hamilton et al., 1996). Segundo a EMBRAPA, o manejo dos animais no Pantanal se resume a 3 opções: 1) em pastos localizados em áreas elevadas, os animais permanecem em pastejo ao longo de todo o ano; 2) em propriedades com áreas elevadas e de planícies, os animais são mantidos em áreas elevadas durante a estação chuvosa e retornam para as planícies durante a seca; 3) em propriedades sem áreas elevadas, os animais devem ser realocados para outra propriedade imediatamente antes de início do período chuvoso. Neste último caso, os produtores alugam pastos em outras propriedades e os animais retornam para a propriedade de origem somente após o escoamento das inundações. Com o crescimento das demandas dos consumidores por produtos livres de antibióticos e promotores de crescimento, os produtores do Pantanal tem uma grande oportunidade de explorar esse mercado e agregar valor aos seus produtos. A produção de gado de corte no Pantanal é totalmente desenvolvida em condições naturais e com a crescente demanda por produtos orgânicos e de animais a pasto (grass-fed), a venda de produtos com a marca do Pantanal tem crescido de forma consistente. O desenvolvimento constante da indústria da produção de carne do Pantanal, tem contribuído de forma sistemática para o desenvolvimento social e econômico da população local. Capítulo 4 PRODUÇÃO NA MATA ATLÂNTICA A Mata Atlântica cobre 13% do território brasileiro, vai do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul compondo a faixa costeira do país. É o bioma com maior densidade populacional (112 milhões de pessoas vivem nele) e desenvolvimento econômico. Por isso, é a região de terras mais caras do Brasil. Devido ao desenvolvimento estrutural e proximidade logística dos grandes centros, a maioria dos confinamentos do país estão localizados nessa região. Com o elevado preço da terra, a pecuária de corte tradicional não consegue competir com os altos rendimentos por área que culturas como a soja e a cana-de-açúcar produzem. Para estar presente nas terras caras da Mata Atlântica, o produtor de gado de corte precisa investir em tecnologia para aumentar a taxa de lotação por área e, consequentemente, a produtividade total. Apesar de desafiador, isso não é impossível. O Laboratório de Pesquisa em Gado de Corte (LPGC) da Universidade de São Paulo (USP), localizado dentro da Mata Atlântica, na cidade de Pirassununga-SP, desenvolveu um sistema de intensivo de produção de gado de corte em ciclo completo, onde a lucratividade do sistema de produção é capaz de competir de frente com as opções agrícolas mais lucrativas. A produção de gado de corte a pasto na Mata Atlântica é limitada por dois fatores principais: 1) baixo crescimento de pasto durante o inverno, causado pela ausência de chuva, baixa temperaturas e dias mais curtos; 2) baixa produção de pasto durante o verão, devido a carência de nutrientes essenciais no solo. O sistema de produção desenvolvido pelo LPGC foca na solução desses dois fatores, com o uso de suplementação volumosa de baixo custo na seca com silagem de cana-de-açúcar, e com o uso de fertilizantes durante o verão para o crescimento máximo do pasto, e ainda, conta com um confinamento para terminar os animais criados a pasto. Produção intensiva de pasto durante o verão Tradicionalmente,pastos tropicais são alocados em solos de baixa fertilidade, sem nenhuma correção, com isso, a produção forrageira é baixa e, consequentemente, a taxa de lotação das áreas de pastagens também é baixa. A taxa de lotação média do Brasil é de 1 UA/ha (UA = unidade animal = 450 kg de peso vivo). Porém, a produção forrageira dos capins tropicais têm potencial de suportar até 10 vezes mais que a atual taxa de lotação média do país. Os resultados do sistema de produção do LPGC demonstraram uma relação positiva crescente, entre a dose de fertilizante e a taxa de lotação dos pastos, sendo que a taxa de lotação aumentou progressivamente com o aumento da dose de fertilizante, onde a dose máxima de 800 kg de nitrogênio por hectare produziu forragem suficiente para uma taxa de lotação de 10 UA/ha. No entanto, o produtor ainda precisa lidar com o período seco do inverno. Alimentação econômica durante o inverno Com a produção intensiva durante o verão, o produtor não terá pasto reserva (diferido) para ser utilizado durante o período seco, com isso, se faz necessário a introdução de uma opção forrageira de baixo custo, para continuar alimentando os animais nessa época do ano. A cana-de-açúcar é extensivamente presente na Mata Atlântica, e devido a sua elevada produção por área, é uma das opções volumosas mais baratas, e ainda, o período de colheita dessa planta ocorre durante o inverno, podendo ser fornecida aos animais na forma fresca ou conservada como silagem. O baixo teor de proteína da cana-de-açúcar pode ser compensado com o uso de ureia. A combinação de ureia com cana- de-açúcar pode ser usado para a manutenção de animais menos exigentes na propriedade, como vacas adultas, e cana-de-açúcar suplementada com ureia e uma fonte de proteína verdadeira (farelo de soja ou de algodão), pode ser usado por animais em crescimento e permitir ganho de peso de até 900 g por dia (Rodriguez, 2012; Frasseto, 2015). Embora a carência de proteína da cana-de-açúcar seja facilmente corrigida pela suplementação, o maior limitante do desempenho de animais consumindo dietas com cana é a sua baixa digestibilidade da fibra, que limita o consumo pelo enchimento ruminal. Porém, o problema com a baixa digestibilidade da cana pode ser minimizado, através da escolha certa do genótipo de cana a ser plantado. Em estudos realizados no LBGC, comparando dois genótipos de cana-de-açúcar, um com baixa e outro com alta digestibilidade da fibra, mostraram que bovinos de corte alimentados com a cana de alta digestibilidade resultaram em maior consumo, maior ganho de peso diário e maior deposição de gordura na carcaça (Sousa et al., 2014; Sousa et al., 2017). Resultados econômicos e produtivos do sistema intensivo de produção O aumento da fertilização nitrogenada e consequente aumento na taxa de lotação das áreas de pasto resultam em aumento da produtividade e lucratividade do sistema de produção de gado de corte. Conforme dados do LPGC, onde a aplicação de 300 kg de nitrogênio por hectare por ano, foi possível manter 101 vacas de cria a pasto e 42 garrotes em terminação no confinamento em uma área de 20 ha (16 ha de pasto e 4 ha de cana-de-açúcar), alcançando uma produtividade de 949 kg de carcaça por hectare por ano. Esses resultados demonstram o enorme potencial de produção de carne em sistema intensivo de produção de plantas tropicais nas condições da Mata Atlântica. Apesar do elevado investimento em infraestrutura e treinamento técnico dos colaboradores, o sistema intensivo de produção de gado de corte na Mata Atlântica pode dar retorno econômico similar a alternativas mais lucrativas da agricultura, como a soja e a cana-de-açúcar. Capítulo 5 PRODUÇÃO NA CAATINGA A Caatinga está localizada predominantemente no Nordeste Brasileiro, exceto por uma faixa pequena no norte de Minas Gerais. Esse bioma é também conhecido como sertão ou agreste e sua vegetação consiste por árvores baixas, troncos tortuosos e que apresentam espinhos e folhas que caem no período da seca. Possui balanço hídrico negativo, devido ao baixo índice pluviométrico de 800 mm/ano e elevada taxa de evapotranspiração de 2000 mm/ano. Diante disso, fica evidente que o sucesso ou fracasso da produção agropecuária na Caatinga depende, primordialmente, das condições climáticas, em especial a chuva, pois é esse bem natural que promove a prosperidade da atividade no sertão. A produção de gado nessa região do país teve início no século 15, juntamente com a colonização portuguesa (Simonsen, 2005). Os bovinos foram introduzidos com o objetivo principal de servir como trabalho de força, uma vez que a produção e exportação de cana- de-açúcar estava crescendo, os animais eram usados para fazer o transporte de cargas e girar os moinhos para extrair o caldo da cana. A produção da cana-de-açúcar ocorria basicamente na região litorânea, devido ao clima mais favorável para agricultura e facilidade do escoamento da produção de navio para a Europa. Com o crescimento da população de gado, cresceu também a preocupação com o controle desses animais, pois não havia cercas para contê-los no pasto e o acesso dos bovinos aos canaviais geravam prejuízos, devido ao consumo das plantas em crescimento. Por isso, em 1701 foi assinada uma Autorização Real, proibindo a criação e reprodução de bovinos dentro de uma distância de 10 léguas (40 km) da costa (Prado Júnior, 1996). Com isso, a região do interior do Nordeste, a Caatinga, começou a ser desbravada e povoada pelos criadores de gado e suas famílias. Com o intuito de reduzir a dependência de níveis mínimos de chuva anualmente, programas federais de incentivos a irrigação, que fornecem recursos financeiros e assistência técnica especializada para pequenos e médios produtores, tem sido introduzidos nas últimas décadas e veem se tornando essenciais para a manutenção e crescimento da produção. No entanto, esses benefícios ainda são limitados e a grande maioria dos produtores estão a mercê das condições climáticas, com isso, a única alternativa viável para manter a produção é usar opções forrageiras adaptadas ao clima da região. Uma gama de opções de capins e leguminosas resistentes têm sido melhoradas e introduzidas na região, como por exemplo, o capim buffel (Cenchrus ciliaris), andropogon (Andropogon gayanus), gramão (Cynodon dactylon var. aridus) e o corrente (Urocloa moçambisensis). O uso de leguminosas é feito de forma estratégica, através dos bancos de proteína, onde culturas como a leucena (Leucaena leucocephala) e o feijão-guandu (Cajanus cajan) são cultivados em áreas cercadas e os animais têm acesso limitado e controlado, com o objetivo de suprir a necessidade de proteína dos animais e evitar o super-pastejo. As raças de gado mais utilizadas nessa região são as Zebuínas (Bos indicus), com dominância do Nelore e seus cruzamentos com as raças Gir, Guzera e Sindi. Em áreas com maior desenvolvimento tecnológico, com no sul da Bahia, o Nelore tem sido cruzado com raças taurinas (Bos taurus), como Angus e Charolais, com o objetivo de aumentar a eficiência do ganho de peso e a qualidade do produto final. Apesar das dificuldades impostas pelo clima, tem sido cada vez mais comum observar grandes grupos investindo nessa região, uma vez que as terras são mais baratas que no centro-sul do país, e principalmente, com utilização de tecnologia de irrigação e manejo de forragens que garantam a alimentação dos animais ao longo do ano, é possível ser eficiente e competitivo, pois é uma região localizada próxima de grandes centros e sem limitações de infraestrutura para transporte de insumos e dos produtos da produção. O que para uns é visto como entrave, para outros pode parecer como oportunidade. Capítulo 6 PRODUÇÃO NO PAMPA O Pampa é o único bioma brasileiro que está presente em somente um estado, o Rio Grande do Sul. O Pampa cobre uma área 177 mil km², que corresponde a 63% do território estadual. Esse bioma se estende a países vizinhos, ocupando completamente o Uruguai e parcialmente a Argentina. O clima é subtropicalcom quatro estações bem definidas, completamente diferente do resto do país. Com clima chuvoso e com ausência de um período seco sistemático, o que contribui para o desenvolvimento de plantas forrageiras e cereais adaptados as condições edafoclimáticas da região ao longo de todo o ano. A vegetação nativa do Pampa é caracterizada por gramíneas e espécies vegetais de pequeno porte, não ultrapassando os 50 cm de altura. Essa vegetação é comumente dividida em duas e chamadas de Campos Limpos ou Campos Sujos. Os Campos Limpos ocorrem quando a vegetação não apresenta arbustos, ganhando uma paisagem mais homogênea, isto é, mais regular, sem diferenças muito grandes entre uma parte e a outra. Já os Campos Sujos ocorrem quando há uma maior presença desses arbustos, se misturando a vegetação. A fauna e a flora do Pampa são bastante diversificadas, com uma grande quantidade de espécies, algumas delas ainda não catalogadas. Dados do Ministério do Meio Ambiente estimam que existam mais de 3.000 tipos de plantas, 500 tipos de aves e 100 espécies de mamíferos. Desde a colonização ibérica, a produção extensiva de gado de corte sobre os campos nativos do Pampa é considerada como a principal atividade econômica da região. Devidos às características da vegetação local e de relevo levemente ondulado, a expansão da agricultura de monocultura tem se ocorrido rapidamente. A produção de gado em pastos nativos é uma ferramenta importante no controle dos avanços da agricultura industrial, preservando a diversidade de fauna e flora desse bioma. No início do século passado, o Pampa tinha o maior rebanho de gado do Brasil, porém, após o fim da Primeira Guerra Mundial, a atividade pecuária entrou em colapso, devido a redução das exportações para países Europeus, uma vez que esses estraram em crise financeira no pós-guerra. Mais tarde, de 1940 a 1980, a produção pecuária voltou a crescer e praticamente dobrou nesse período, chegando a 14 milhões de cabeças. Contudo, juntamente com a expansão da agricultura mecanizada, desde 1986 o rebanho de gado no Pampa vem diminuindo progressivamente. De acordo com dados do IBGE, a área de pastos nativos no Pampa em 1986 era de 11,9 milhões de hectares, já em 2016, essa área reduziu para 7,1 milhões de hectares, o que representa uma redução de 40% em 30 anos. Uma característica única da produção de gado de corte no Pampa é o uso de raças europeias em sistema de pastejo, contrastando do resto do país, onde o Nelore e seus cruzamentos predominam nas fazendas. As raças mais comuns são o Angus e o Hereford, vindos inicialmente do Uruguai, se adaptaram perfeitamente as condições locais e são peça importante na boa fama de carne de qualidade da região sul do país. A carne de gado a pasto vem ganhando reconhecimento e apreciadores mundo a fora, não só por estar de acordo com a opinião de muitos, que acreditam que esses animais devem ser criados soltos a pasto e não em confinamento, mas também por apresentar características nutricionais benéficas a saúde humana, como os elevados níveis de ácido linolênico (omega-3), betacaroteno, vitaminas essenciais do complexo B e minerais. Adicionalmente, a carne de animal a pasto possui coloração mais avermelhada e gordura amarelada, características desejáveis pelos apreciadores de churrasco. Essas características agregam valor aos produtos dessa região, sendo possível aumentar as margens e, consequentemente, o lucro final da atividade. A Associação Brasileira de Angus implementou um programa de certificação de qualidade para valorizar os produtos da região. Esse programa certifica a carne de Angus e seus cruzamentos, produzidos exclusivamente em sistema de pastejo, com ou sem suplementação a pasto e que são abatidos com menos de 30 meses de idade. E ainda, as propriedades produtoras devem seguir padrões de sustentabilidade, com respeito aos animais, ao meio- ambiente e às leis trabalhistas. Programas como esse, de valorização da produção consciente tem impactado a atividade pecuária local, uma vez que, em 2014, 131 mil animais foram terminados em confinamento, porém, em 2016 esse número caiu quase 50%, onde somente 70 mil animais foram terminados em confinamento. A atividade pecuária no Rio Grande do Sul é tradicional e parte da cultura do seu povo. Representa grande importância econômica e social, uma vez que é praticada, em maior parte, por pequenos produtores. O estado possui 346 mil propriedades rurais, onde 90% possuem até 50 animais, e 50% possuem somente 10 animais ou menos (Sagrilo, 2015). Os pastos nativos do Pampa são fundamentais nesse contexto, e a simbiose com os animais pastejadores formam um sistema único de preservação ambiental e conservação das espécies, que além produzir alimentos de qualidade e ser rentável, contribuem para a permanência do homem no campo. Parte II CRIA E RECRIA DE BOVINOS DE CORTE A bovinocultura de corte brasileira tem passado por extensas transformações nas últimas décadas, devido à competição com outras fontes de proteína animal, tais como aves e suínos, bem como à adequação da cadeia produtiva às exigências do mercado interno e externo e também em função de problemas de ordem sanitária que envolve nosso rebanho. Com a mudança do cenário extrativista e altamente lucrativo, característico do setor pecuário até meados dos anos 80, para um cenário competitivo e de rentabilidade baixa, onde as leis ambientais têm aumentado a pressão pelo aumento da produtividade sem aumentar a área de pastagens, tem forçado o produtor rural a buscar por tecnologias que trazem intensificação para dentro da fazenda. Com o aumento do preço da carne e antecipação da idade de abate, a busca pela reposição (bezerro ou boi magro) cresceu e com isso a fase de cria passou a ser mais valorizada. Capítulo 7 A FASE DE CRIA A fase de cria na bovinocultura de corte corresponde não só aos bezerros e bezerras criados na propriedade, mas também às matrizes e os machos reprodutores. Esta fase pode ser caracterizada pela Figura 1, que mostra a estratificação de uma fazenda de cria, recria e engorda. O objetivo maior de quem se dedica à cria de bovinos deve ser o de investir recursos financeiros suficientes para aplicar tecnologias que garantam o desmame de um bezerro pesado e saudável por ano, de cada matriz do rebanho. Para isso, segundo Oliveira et al. (2006) alguns pontos devem ser respeitados, como: 1. Escolha dos grupos genéticos que farão parte do planejamento do rebanho; 2. No caso de monta natural, deve-se fazer o manejo adequado, principalmente do ponto de vista nutricional e bioclimatológico dos touros; 3. Manejo nutricional das matrizes durante todo o período reprodutivo, para evitar baixa eficiência do sistema; 4. Manejo das pastagens e o planejamento alimentar das diferentes categorias envolvidas; 5. Respeitar o período de aleitamento e a forma correta do desmame; 6. Utilização de métodos de suplementação para os bezerros, tais como o uso do cocho privativo (“creep feeding”) ou a pasto junto da mãe; 7. Controle zootécnico do sistema como um todo para administrar e controlar as variáveis inerentes ao processo. Figura 1. Fluxograma da cria, recria e engorda de bovinos de corte (Oliveira et al., 2006). O sucesso da atividade de cria depende da aplicação correta de práticas de manejo nutricional e reprodutivo sobre as matrizes. O passo inícial para aumentar a eficiência do sistema de cria de bovinos de corte é a adoção de um sistema eficaz de estação de monta e de parição, mas para isso é necessário uma organização administrativa, com o controle e identificação do rebanho, e metas para a fazenda. Identificação e índices zootécnicos A identificação do rebanho facilita o manejo da fazenda como um todo, mas principalmente o manejo reprodutivo, pois permite que o técnico identifique os problemas e crie soluções rápidas que podem contribuir para a melhoria dos índices reprodutivos. Dessa forma, a marcação individual dos animais e o registro das principais ocorrências e práticas de manejoutilizadas, como data e peso ao nascimento, controle sanitário do bezerro, evolução do peso e peso ao desmame, contribuem significativamente na avaliação do desempenho individual e do rebanho. Com a formação de um banco de dados da fazenda, os técnicos e pecuaristas são capazes de criar um padrão que pode ser comparado com números de outras propriedades, e dessa maneira são capazes de detectar problemas, apontar virtudes e fazer progressos. Normalmente, as propriedades bem administradas mantêm registros zootécnicos, como datas de nascimento, cobertura, desmama, controle de ganho de peso, controle do escore corporal das matrizes, problemas sanitários, dentre outros. O índice zootécnico que interfere no sistema de forma geral, e o primeiro que deve ser avaliado na fase de cria, é o intervalo de partos (IP). Para matrizes de corte o ideal é que o intervalo médio de partos tivesse a duração de doze meses, com a produção de um bezerro por vaca/ano. Nas condições normais da bovinocultura de corte no Brasil, esse intervalo é sempre mais longo do que o desejável, comprometendo, assim, o desempenho geral do rebanho. Estação de Monta A estação de monta é uma ferramenta zootécnica que tem o objetivo de fornecer condições especiais de alimentação, manejo e organização de mão de obra qualificada, para que as matrizes e suas futuras crias tenham o máximo desempenho. O recomendado é sincronizar o período de maior requerimento nutricional das vacas, que é o período de lactação, com a época do ano de maior disponibilidade de forragens, ou seja, a época das chuvas. Com isto pode-se conseguir melhores índices reprodutivos, pois é, principalmente, na fase de lactação que deve haver fornecimento de nutrientes de forma suficiente para não comprometer a nutrição da cria e nem os resultados reprodutivos da próxima estação de monta da matriz. O objetivo a ser alcançado é ter pelo menos 80% de cios ocorrendo nos primeiros 50 dias da estação. Quanto mais rápido ocorrer o cio e a fertilização, mais rapidamente será a estação de nascimento, o que melhora os índices reprodutivos da matriz, e ainda, animais nascidos no início se desenvolvem melhor que os nascidos mais tarde. Depois de implantado o sistema de estação de monta, o manejo dentro da propriedade fica facilitado, já que se padronizam os períodos correspondentes a cada prática de manejo, além de permitir melhor administração de rotinas como aplicação de vermífugos, de vacinas, castração, descorna, entre outros. Com a estação de monta em funcionamento, as categorias do rebanho seguem um fluxo mais organizado, o que facilita a divisão de pastagens e o trabalho dos funcionários responsáveis por cada categoria. Após a estação de monta haverá a confirmação ou não da prenhes e neste momento é decidido se a matriz vazia (não gestante) será mantida na fazenda ou descartada, pois se mantida, este animal ficará vazio por um ano com custos de manutenção e sem produzir nada. O descarte de fêmeas de baixa eficiência reprodutiva é uma forma de realizar o melhoramento do rebanho, visto que somente as vacas com habilidade reprodutiva irão produzir descendentes. Outra vantagem da estação de monta é a homogeneidade dos lotes de bezerros, facilitando a utilização ou comercialização futura dos animais. Outro aspecto relevante é que, com a concentração dos partos em períodos menores, a observação dos mesmos e os cuidados com os recém-nascidos são sistematizados, o que facilita o manejo e ajuda a diminuir a mortalidade de neonatos. Época da estação de monta A época da estação de monta e, consequentemente da estação de parição, é determinada em razão do melhor período para nascimento dos bezerros e para atender a maior exigência nutricional das matrizes. A escolha da época da estação de monta deve levar em consideração a disponibilidade de alimento local e as condições do sistema de produção. Portanto, é uma definição própria, não havendo uma época que possa se considerada única e padrão. Normalmente, o que determina a época da estação são as condições edafoclimáticas de cada região para a produção de forragens. Desta forma, tendo como exemplo um esquema reprodutivo, válido para as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte do Brasil, onde o período chuvoso (alta produção de forragens) vai de setembro a abril/maio, pode ser observado na Figura 2. Figura 2. Esquema reprodutivo de vacas de corte, recomendado para as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte do Brasil. A fase da lactação está demarcada pela sombra cinza (Out – Abr). De acordo com a figura 2, na estação de monta as matrizes estarão com uma boa condição corporal, devido ao período de chuvas e boas pastagens, permitindo a manifestação do cio e maior chance de concepção. Da mesma forma, o parto irá acontecer no início do período chuvoso, coincidindo com a maior disponibilidade de forragem, dando uma boa condição nutricional para a matriz parir e iniciar a lactação. As crias também serão favorecidas, pelo maior aporte de leite e pela disponibilidade de pasto, auxiliando sua transição para o estado de ruminante funcional. Com a desmama ocorrendo no início da seca é ideal para a matriz reduzir seu requerimento energético parando o aleitamento, para manter sua condição corporal nesse período de restrição alimentar. Não passar a seca em lactação é fator primordial para a economicidade do processo, pois a alimentação de matrizes comerciais no cocho dificilmente apresenta vantagem econômica, desmamar bezerros no início da seca exige uma alimentação suplementar para as crias, no entanto os bezerros demandam menor quantidade diária de energia por quilo de peso quando comparado com um animal adulto, viabilizando o retorno econômico. Existem criadores que não seguem esse esquema, pois alegam que como as vacas produzem muito leite durante o verão causam diarreia nos bezerros, o que de fato pode acontecer, e então preferem o parto na seca. Porém, é valido salientar que desta forma a suplementação das matrizes na seca será necessária, o que encarece o processo, mas caso a suplementação não for realizada ocorrerá o comprometimento reprodutivo dessa fêmea na próxima estação. Preparo das matrizes para a estação de monta As fêmeas destinadas à reprodução devem estar livres de doênças infectocontagiosas e outros problemas sanitários, assim como em boa condição corporal, para melhor desempenho reprodutivo e qualidade da progênie. A condição corporal é um parâmetro de avaliação mais recomendado que o peso corporal para o manejo da vaca de cria, pois considera o acúmulo de reserva corporal, o qual poderá ser mobilizado pelo animal durante uma fase de maior requerimento energético, como o início da lactação, onde o balanço energético da vaca está negativo. A condição corporal ideal para a estação de monta é de 5 para matrizes nelores ou aneloradas e 6 para as taurinas, numa escala de 1 a 9, de acordo com a Figura 3. Figura 3. Escore de condição corporal em gado de corte (Dias, 1991). O mais comum em fazendas brasileiras são vacas e novilhas com escore corporal abaixo do ideal, principalmente as que se enquadram no escore 3 (magra), no pré-parto. Esses animais necessitam ganhar peso para apresentar boa condição corporal ao parto. Parte do aumento de peso, que normalmente se observa no terço final da gestação e que pode atingir de até 50 kg, é resultado do crescimento do feto, das membranas e do acúmulo de líquidos fetais, bem como do aumento do próprio útero. Portanto, o animal pode ter apresentado aumento de peso sem ter melhorado a sua condição corporal ou mesmo pode ter tido perda de ECC, o que não é interessante, considerando que o desejado é que as vacas, principalmente as de primeira cria, voltem a ciclar o mais rápido possível após o parto e para isso a nutrição de qualidade é de extrema importância para ajudar este animal a aumentar seu ECC mesmo durante a gestação. O tempo para a matriz apresentar um novo cio fértil após o parto é fundamental para obter um intervalo entre partos dentro dafaixa esperada de um ano. A condição corporal ao parto exerce grande influência sobre este parâmetro. O pesquisador norte- americano Wiltbank (1994) demonstrou que 91% das vacas que pariram em condição corporal boa (5-7) apresentaram o primeiro cio em até dois meses após o parto (Figura 4). Contudo, nem sempre, em condições brasileiras a campo, este primeiro cio pode ser aproveitado e deve-se salientar que nesta situação dificilmente obtêm-se frequências tão altas de animais ciclando em tão curto intervalo de tempo. Porém, mesmo em condições tropicais e animais zebuínos o produtor ou técnico que se basear neste estudo tem ainda mais 30 dias para que sua matriz, que pariu em condição boa, venha a ciclar e ser fertilizada, o que o fará atingir o objetivo desejado de um parto por ano. Figura 4. Manifestação de cio aos 40, 50 e 60 dias após o parto, em relação à condição corporal ao parto (Witbank, 1994). Da mesma forma que a subalimentação pode reduzir os índices reprodutivos, a superalimentação também pode. Fêmeas com baixo ECC (vaca magra) podem apresentar falhas em ciclar e conceber, elevado intervalo entre partos e crias fracas ao nascimento, por outro lado, vacas com alto ECC (vaca gorda) têm custo de manutenção mais elevado, têm maior chance de ocorrência de parto distócico, dificuldade de locomoção e falhas em ciclar e conceber. Sistemas de acasalamento Existem basicamente três sistemas de acasalamento em pecuária de corte, monta em campo, monta controlada e a inseminação artificial. Da mesma forma que um bom touro espalha seus dotes genéticos positivos para sua prole, um touro ruim pode comprometer toda a evolução genética planejada para a fazenda. Portando a escolha do touro ou sêmen deve ser feita minuciosamente, utilizando animais com potencial comprovadamente superior, adaptado às condições climáticas da região e com teste andrológico recente. O sistema de acasalamento mais empregado na pecuária de corte brasileira é a monta em campo ou monta natural. Neste, os touros permanecem junto do rebanho de fêmeas durante toda estação de monta ou durante o ano todo. Este sistema dispensa o trabalho diário de identificação de animais em cio, bem como a locomoção dos reprodutores para locais reservados, mas dificulta a identificação de paternidade e posterior comparação de desempenho reprodutivo e produtivo de diferentes touros. Uma forma, laboriosa, de contornar essa situação seria formar lotes de vacas, de 25 a 35, em piquetes separados com seus respectivos touros, facilitando a identificação de paternidade, manejo das crias, controle alimentar dos animais. Em relação ao número de vacas por touro é importante também levar em conta as dimensões das pastagens, relevo, qualidade dos pastos, disponibilidade de água e condição corporal das fêmeas. A clássica relação 1 touro para 25/30 vacas pode ser suficiente, ou não, quem vai determinar essa relação será o responsável pela observação contínua dos lotes em estação de monta. A monta controlada é aquele sistema onde o touro é mantido separado das fêmeas durante a estação de monta. Quando se detecta o cio em alguma fêmea, esta é conduzida junto ao touro onde permanece até a cobertura. Neste sistema de acasalamento é possível a identificação da paternidade, o desgaste dos touros é menor e em consequência disso a relação touro por vaca pode ser maior. Entretanto, aumenta-se o trabalho em separar e conduzir os animais para a monta. A inseminação artificial é aquela onde as vacas são fecundadas via sêmen conservado. Em propriedades de pecuária extensiva este sistema tem sido pouco aceito, por ser mais tecnificado, mais trabalhoso e exigir maior infra-estrutura na propriedade. A utilização de rufiões auxilia na identificação do cio, mas não se deve deixar de levar em conta a identificação visual dos animais em cio. A principal vantagem deste método é a possibilidade de utilização do sêmen de reprodutores de alto potencial genético. Com a expansão dos programas de cruzamento industrial, para a produção do novilho precoce e a busca por melhoria no padrão genético do gado zebuíno, a procura pela inseminação artificial aumentou consideravelmente. No entanto, os índices de prenhes, por dose de sêmen ainda são baixos. Esse manejo implica na existência de instalações apropriadas para apartação e contenção. E ainda, existem dificuldades adicionais de apartar a vaca e bezerro ao pé do restante do lote. A mão de obra deve ser treinada e reciclada periodicamente. Existe ainda a opção de realizar a IA e fazer o repasse com o touro, aumentando a chance de concepção. Em quaisquer destes sistemas discutidos anteriormente, a sanidade e o manejo nutricional do rebanho são primícias básicas para o seu sucesso. Gestação, parição e cuidados após o parto Terminada a estação de monta, aguarda-se de 25 a 45 dias para a realização do diagnóstico de prenhes, por ultrassom ou toque ginecológico. Confirmada a prenhes, as vacas gestantes (com bezerro ao pé) são levadas para o pasto, onde permanecerão até a parição (9 meses de duração), no entanto nesse intervalo (prenhes → parição) ocorrerá a apartação e desmama de suas crias. Novilhas prenhes (sem bezerro ao pé) deverão ser manejadas em área distinta das vacas e observadas com maior frequência para supervisão da primeira gestação. Uma vez confirmada a ausência de prenhes, as vacas são consideradas vazias e por isso são candidatas ao descarte, de acordo com os parâmetros de seleção pré-determinados no planejamento econômico da fazenda. O primeiro critério para seleção de fêmeas de um rebanho comercial é a fertilidade, mas isso pode ser alterado por causa das condições nutricionais da propriedade, do clima local e ou de outros fatores não controláveis. Devido aos fatores econômicos de administração de uma propriedade pecuária, dificilmente uma fêmea vazia permanecerá um ano, improdutiva na fazenda. As fêmeas mais próximas do parto devem ser conduzidas aos chamados pastos de maternidade, os quais devem ser constituídos, preferencialmente, por áreas de pastagem mais baixa e densa, bem drenada, com água limpa e se possível com sombra. As vacas devem entrar na maternidade cerca de 30 a 15 dias antes do parto e sair 15 dias após o nascimento dá cria. Dois pontos importantes devem ser observados neste momento, o primeiro diz respeito ao cuidado que se deve ter com as matrizes com objetivo de evitar abortos. Neste sentido, a mão-de- obra deve ser treinada e conscientizada a trabalhar com os animais com o mínimo de estresse possível. O manejo no qual se agridem os animais para que os mesmos obedeçam aos comandos dos vaqueiros deve ficar no passado, o bem estar animal além de correto, melhora o desempenho produtivo. O segundo ponto a ser observado é a importância da escrituração zootécnica, de modo que se tenha em mãos a tabela de datas prováveis de partos da vacada, para então, fazer a condução dos animais para o piquete de maternidade na data correta. Desta forma consegue-se organizar os lotes de vacas em função da data provável de parto e também da ordem de parto. Outra recomendação importante com relação aos pastos maternidade é a localização, os mesmos devem ser de fácil acesso, preferencialmente, devem estar localizados próximo do centro de manejo (curral). A vaca no momento do parto tende a se afastar do rebanho para uma parição tranquila. Em um rebanho de gado de corte comercial, raramente ocorre intervenção humana no parto e, por isso, é importante a escolha correta da raça e características do touro a ser utilizado, para evitar raças que produzem bezerros muito grandes em matrizes pequenas. As maiores perdas ocorrem após o parto, por isso o manejo correto da matriz e do bezerro irá garantir a sobrevivência e o desenvolvimento da cria e a reconcepção da matriz. Quando o bezerro cai no chão, a vaca deve lamber vigorosamente a cria, para retirar restos placentários do focinho e narinas, e ativar a circulação do recém-nascido. Logo após o parto é importante garantir que a mãe e a cria passemum tempo sem interferência externa, para ocorrer o contato visual, olfativo e auditivo. Algum momento depois, o bezerro procura o úbere da mãe para realizar a primeira mamada, que é o colostro, dando início ao processo de transmissão de imunidade. A absorção de colostro pelos enterócitos do bezerro é decrescente à medida que se passam as horas após o nascimento. O recomendado é que a primeira ingestão de colostro seja o mais rápido possível, nas primeiras 2 a 6 horas de vida, pois a molécula gamaglobulina presente nas primeiras secreções da glândula mamária é absorvida intacta nessas primeiras horas, conferindo assim imunidade ao organismo animal. Com o avançar do tempo, a mucosa intestinal do neonato começa a perder os receptores da gamaglobulina, absorvendo cada vez menos e então as imunoglobulinas do colostro passão a ser digeridas como alimento, tendo ação nutricional e não imunizante. É preciso se assegurar que o responsável pelo gado na maternidade observe os bezerros que apresentam sinais de que não consumiram colostro rapidamente, tais como animais que demoram em se levantar ou bezerros com fraqueza ou debilidade. Nesta situação é necessário que o materneiro intervenha, sendo o procedimento mais comum conduzir a vaca ao curral, colocá-la no tronco de contenção e colocar o bezerro para mamar. Este tipo do manejo exige grande perícia, pois se for mal executado pode levar a vaca a rejeitar seu bezerro. Caso ocorra a rejeição é necessário o oferecimento de colostros via mamadeira, oriundo de um banco de colostro previamente armazenado. É importante que o colostro originário do banco seja formado por um pool de colostros de várias vacas, tenha no máximo um ano de coletado. Várias podem ser as causas do não consumo inicial do colostro, como advinda de partos distócicos (que esgotam o bezerro e estressam a vaca), baixa condição corporal da vaca ao parto, vacas com baixa habilidade materna, entre outros. Na situação em que o problema adveio da matriz, esta deve ser descartada do rebanho e o bezerro introduzido a uma vaca de leite. Com o rompimento do cordão umbilical, fica uma membrana residual de aproximadamente 10 a 20 centímetros, e esse material esta sujeito à infecção e por isso deve-se fazer a cura do umbigo. A inflamação do umbigo pode evoluir e provocar hepatite, peritonite ou abscesso no fígado, devido a ligação entre esse órgão e o umbigo. E ainda, se o umbigo não for desinfetado pode atrair moscas que depositam ovos, causando miíases (bicheira). A desinfecção do umbigo deve fazer parte do manejo da cria, podendo a membrana umbilical ser cortada ou não, ficando com, aproximadamente, 5 centímetro de comprimento. Após o corte, deve-se passar uma solução de iodo a 10% ou produto similar, para realizar a desinfecção, secagem e cicatrização do orifício. O Centro Nacional de Pesquisa em Gado de Corte da EMBRAPA, recomenda que em fazendas com estação de nascimento bastante curta, e um grande número de bezerros, aplica-se 1 ml de vermífugo, à base de Ivermectina, para 50 Kg de peso vivo pela via subcutânea, para evitar bicheiras por um período maior, facilitando assim o manejo. Esses cuidados iniciais, associados ao peso de desmama do bezerro, irão determinar o outro quesito de seleção, ou seja, a habilidade da matriz em produzir bons bezerros. Mães desinteressadas em suas crias, com limitações anatômicas que dificultam a mamada e com baixa produção de leite, desmamarão bezerros leves, devendo ser eliminadas do plantel. Em até 15 dias o bezerro deverá está firme e acompanhando a mãe facilmente, com isso poderão se encaminhados ao pasto de cria, onde permanecerão até a desmama. Suplementação de bezerros (creep feeding) Creep feeding pode ser definido como a prática de administrar alimento suplementar (concentrado proteico-energético) a bezerros antes do desmame. O suplemento deve ser fornecido de forma que os animais adultos não o consumam, por isso é um sistema de cochos cercado por cerca baixa, onde os animais maiores não conseguem passar. Com a utilização do creep feeding é possível aumentar os ganhos de peso antes do desmame e peso ao desmame, além da redução da mortalidade de bezerros nesta fase. Este maior peso se dá porque nesse período ocorre o máximo crescimento muscular e ainda o crescimento ósseo. No creep feeding, a alimentação deve ser realizada utilizando conceito sobre efeitos associativos entre os alimentos concentrados. Considerando que durante a alimentação, os bezerros ainda não estão com seu rúmen plenamente desenvolvido, os grãos de cereais, principalmente o milho, devem ser pouco processados, passando somente por uma moagem grosseira para evitar a acidose ruminal devido à rápida digestibilidade do grão farelado. Os fatores que afetam as respostas à suplementação são a quantidade e a qualidade do pasto, a produção de leite das mães, o potencial genético de crescimento dos bezerros, raça, o sexo, a idade dos bezerros no desmame, o tempo de administração e o tipo de suplemento. O creep feeding pode suprir o requerimento não atendido pela amamentação e pelo pasto em casos de baixa produção de leite das vacas e baixa qualidade e disponibilidade de pasto, mas onde o leite materno e o pasto atendem ao requerimento energético do bezerro, o creep feeding entra como fator associativo e o animal ganha mais peso e numa velocidade maior. Existe ainda o efeito substitutivo que pode ser usado para aumentar a taxa de lotação do pasto. Quando os bezerros estão recebendo suplementação tendem a substituir o consumo de forragem pelo do suplemento. Estima-se que para cada kg de suplemento consumido sobrará de 0,5 a 1,0 kg de MS de forragem no pasto. Desta forma é possível aumentar o numero de cabeças no rebanho sem precisar aumentar a área de pasto. Uma vez que o suplemento tenha maior valor energético que a forragem, a substituição da forragem pelo suplemento resultará num aumento no consumo de energia e consequentemente, aumento no ganho de peso pelo bezerro. Outra vantagem da suplementação de bezerros durante a amamentação é a adaptação adquirida pelo consumo de alimentos concentrado, condicionando os mesmo para entrar no confinamento logo após a desmama sem apresentar problemas de acidose por falta de adaptação à alimentos de alta fermentabilidade. Se o bezerro têm acesso a suplementos antes da desmama, ele se acostumará a consumir mais grãos e também será menos dependente do leite da vaca, poupando a mãe. Bezerros que estão no sistema de creep feeding sofrem menos estresse na desmama e se apresentam menos susceptíveis a problemas de saúde. No entanto, o consumo excessivo de ração pode comprometer a composição de ganho no bezerro, pois ocorre o acumulo de gordura em detrimento do tecido muscular, comprometendo o desenvolvimento estrutural do animal, reduzindo a eficiência da suplementação. A baixa eficiência de bezerros de creep feeding em confinamento depende se o suplemento promoveu crescimento muscular e esquelético ao invés de gordura. Se os bezerros depositaram muita gordura durante o creep feeding, seu desempenho no confinamento será menor, pois o ganho será direcionado ao acumulo de gordura na carcaça. O controle do consumo pode ser feito pelo aumento de sal branco na dieta, pois a necessidade de beber água irá impedir a alta ingestão de alimento de uma só vez. Novilhas de reposição que chegam ao desmame muito gordas, podem apresentar desempenho ruim quando vacas. A gordura substitui tecido glandular no úbere prejudicando a produção leiteira, afetando sua prole. As novilhas devem ser alimentadas para atingir maturidade sexual entre 12 e 15 meses e em creep feeding elas devem ser alimentadas apenas para promover crescimento esquelético e muscular, o que não afetaria seu desenvolvimento reprodutivo. E ainda, para a criação de fêmeas para a reprodução a suplementação só se torna necessária em casos de escassez de pasto ou baixa oferta de leite. Para auxiliar no processo de decisão, Oliveira et al. (2006) listou uma série de pontos para indicar quandoutilizar e quando não utilizar o creep feeding e ainda as vantagens e desvantagens dessa tecnologia. Quando usar o creep feeding Durante períodos de seca, quando os pastos são pobres e a produção de leite é baixa; Programa de manejo de forragem a fim de diminuir a intensidade de pastejo; Para aumentar a taxa de lotação por área, aumentando a disponibilidade de pasto; Como parte de um programa de pré-condicionamento, creep feeding durante 3 a 4 semanas antes do desmame, auxiliando no processo de adaptação do bezerro ao consumo de alimentos secos; Quando o preço do bezerro desmamado está alto e dos grãos baixo; Quando bezerros são abatidos logo após o desmame; Mantença de altos índices de fertilidade das matrizes; Produção de animais superprecoces e precoces; Produção de animais puros de origem (PA); Produção de bezerros em sistemas integrados, nos quais o mercado varejista realiza a compra direta e existe preço diferenciado pelo produto; Melhoria dos índices reprodutivos de primíparas. Quando não usar o creep feeding Quando o potencial leiteiro das vacas matrizes é alto; Quando a pastagem se apresenta com alta qualidade e em abundância; Quando o preço do suplemento está alto em relação ao preço do bezerro; Quando os animais não apresentam potencial genético para responder ao aumento de nutrientes; Quando o nível tecnológico da propriedade não comportar essa tecnologia (estrutura física, mão de obra). Vantagens do creep feeding Aumentos de peso a desmama; Menor intensidade de uso da pastagem, com menor possibilidade de ocorrer superpastejo; Adaptar os animais para o confinamento após o desmame; Desenvolvimento uniforme do lote de bezerros; Diminuir o estresse da desmama; Aumento da taxa de prenhes, principalmente de primíparas; Redução da mortalidade de bezerros; Redução da idade ao abate; Redução da idade a primeira cobertura; Redução do ciclo de produção; Aumento do giro de capital na propriedade. Desvantagens do creep feeding Pode haver subutilização da forragem por concentrado; Podem ocorrer variações com consumo; Pasto ao redor do cocho superpastejado, se não mover o cocho constantemente; Mascara a determinação de habilidade materna; Aumento do custo de produção; Necessidade de capital para investimento; Mão de obra qualificada para acompanhar o consumo recomendado; Maior exigência de maquinários e insumos. Existe ainda outra modalidade de suplementação de bezerros, conhecida com creep grazing. Técnica pouco utilizada no Brasil, sendo uma estratégia de manejo que proporciona uma pastagem exclusiva para os bezerros. Consiste basicamente em uma área de pasto reservada para bezerros, podendo utilizar o pastejo rotacionado, onde os bezerros teriam a possibilidade de acessar o pasto antes da vaca ou um piquete especifico para eles. São recomendadas espécies forrageiras com alto valor nutritivo, como Tifton 85, Coast-cross (Cynodon sp.), Massai (Panicum maximum), amendoim forrageiro, alfafa, entre outros. A ideia a mesma do creep feeding, porém, ao inves de concentrado, será ofertado um pasto de qualidade. Desmama Caracterizada pela separação definitiva da cria de sua mãe, tem como objetivo principal a interrupção da amamentação, de modo a estimular o desenvolvimento ruminal dos bezerros e eliminar o estresse da lactação das fêmeas. Com isso, após a interrupção da lactação as exigências nutricionais das fêmeas são bastante reduzidas. Existem duas opções principais quanto à idade de desmama, dependendo da estratégia comercial da fazenda pode-se optar pela desmama precoce, onde se prioriza o desempenho reprodutivo da matriz ou ainda ou pela desmama tradicional, onde o bezerro é o foco da produção. Os resultados observados para os parâmetros reprodutivos das vacas têm demonstrado que não basta o desmame ser realizado precocemente, mas este deve estar aliado a uma condição corporal adequada na estação de monta e boas condições nutricionais para suportar a próxima concepção, entretanto têm sido observados aumentos expressivos nas taxas de prenhes das vacas, quando os bezerros são desmamados precocemente. Os resultados para os bezerros tem demonstrado que muitas vezes estes animais sofrem estresse nutricional e acabam tendo o seu desempenho prejudicado e, para que estes animais possam desenvolver-se adequadamente dietas com elevados planos nutricionais devem ser empregadas. Desmama Tradicional A desmana tradicional ocorre quando os bezerros têm entre 6 e 8 meses de vida, idade em que já podem ser considerados ruminantes, tendo plena condição de utilizar forragens sólidas como única fonte de alimento. No caso da desmama tradicional sem suplementação, o bezerro perde o leite subitamente e é obrigado a suprir todas as suas necessidades nutricionais ingerindo somente pasto. Na escolha pela desmama tradicional, deve se levar em conta seu baixo custo, bem como maior facilidade de manejo, e menor estresse dos animais (os bezerros, na idade de 6 a 8 meses já são ruminantes, ou seja, já fazem uso de forrageiras em sua alimentação, mesmo antes de serem separados das mães). Após a separação, os bezerros ficarão presos no curral por dois a três dias, com acesso à água, ração e capim fresco. Nesta ocasião, serão pesados e marcados com o carimbo do ano no lado direito da cara, e a marca da fazenda na perna esquerda. As fêmeas serão vacinadas contra a brucelose, e marcadas com um "V" mais o último dígito do ano da vacinação, no lado esquerdo da cara. Juntamente, deverá ser realizado o controle de ecto e de endoparasitos, seguindo um rígido manejo sanitário, que deve ser definido pelo calendário sanitário da região. Deve-se evitar ao máximo, nos primeiros dias após a separação, distúrbios, transporte e comercialização dos animais recém-desmamados, tomando assim, precauções para manter o estresse a um nível mínimo durante o processo de desmama, permitindo que os bezerros se recuperem com mais rapidez. Após a separação, os bezerros serão levados para um pasto de boa qualidade, afastados das mães. Para amenizar o estresse da separação, pode-se colocar animais adultos (madrinhas) junto aos recém-desmamados, para acalmá-los. Os recém-desmamados devem ser checados com frequência, e os doentes removidos imediatamente do piquete para uma área de isolamento e devidamente tratados. Em propriedades contendo somente raças zebuínas, os lotes de desmama poderão ser mistos, machos e fêmeas juntos, podendo permanecer assim até atingirem 12 meses de idade, quando deverão ser separados. No caso de raças europeias, ou de produtos de cruzamentos com raças taurinas, já na desmama devem ser separados, devido a maior precocidade sexual desses animais, evitando a prenhes em fêmeas de baixo desenvolvimento, ainda não capazes de desenvolver uma gestação sem prejudicar seu crescimento. Desmama Precoce Para realizar a desmama precoce, os bezerros devem estar pesando mais de 90 kg, o que normalmente ocorre entre 90 e 120 dias de vida. É necessário que os animais já estejam adaptados ao creep feeding, pois juntamente com o pasto serão seus únicos alimentos. O consumo de ração, bem como de suplemento mineral, nesta fase, será muito baixo, mas terá por finalidade preparar o bezerro para o desmame. Deve-se considerar que este tipo de desmama é utilizado visando uma recuperação corporal mais rápida das mães, fazendo com que manifestem cio mais facilmente. A desmama precoce é uma boa opção quando se trata de novilhas de primeira cria, cujo desenvolvimento ainda é incompleto na ocasião de sua primeira parição, e com as exigências de crescimento, gestação e posteriormente com a manutenção de sua cria, encontram-se em estado corporal inadequado para manifestarem cio normalmente durante a estação. Caso as vacas primíparas, não receberem os cuidados necessários, poderão entrar na estação de reprodução sem condições de manifestarem cio naturalmente. Com a redução da idade a desmama de seis para três meses, Gonçalves et al. (1981) observaram que, tanto as percentagens de manifestação do cio
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