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PRODUCAO DE GADO DE CORTE NO BR - Dr. Dannylo Sousa

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SUMÁRIO
 
SOBRE O AUTOR
 
INTRODUÇÃO
 
Parte I
PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE NOS QUATRO CANTOS DO
BRASIL
 
Capítulo 1
PRODUÇÃO NO CERRADO
 
Capítulo 2
PRODUÇÃO NA AMAZÔNIA
 
Capítulo 3
PRODUÇÃO NO PANTANAL
 
Capítulo 4
PRODUÇÃO NA MATA ATLÂNTICA
 
Capítulo 5
PRODUÇÃO NA CAATINGA
 
Capítulo 6
PRODUÇÃO NO PAMPA
 
Parte II
CRIA E RECRIA DE BOVINOS DE CORTE
 
Capítulo 7
A FASE DE CRIA
 
Capítulo 8
RECRIA DE MACHOS E FÊMEAS
 
Parte III
PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM
 
Capítulo 9
MANEJO DE COLHEITA DO PASTO
 
Capítulo 10
FERTILIZAÇÃO NITROGENADA
 
Capítulo 11
SUPLEMENTAÇÃO EM PASTEJO
 
Capítulo 12
ESTRATÉGIAS PARA O INVERNO
(período seco)
 
Capítulo 13
SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA
 
Parte IV
PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM CONFINAMENTO
 
Capítulo 14
CONCENTRADO NA DIETA
 
Capítulo 15
FORRAGENS
 
Capítulo 16
ADITIVOS
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SOBRE O AUTOR
Minha história com criação de gado começou desde cedo, filho
de pais goianos, passei a infância acompanhando de perto a
produção de gado de leite e de corte em uma pequena propriedade
da família no interior do Goiás. Quando chegou a hora do vestibular,
a escolha foi natural e nunca tive nenhuma dúvida do que queria
fazer. Me formei em Veterinária pela Universidade Federal de
Campina Grande e desde o primeiro semestre de faculdade estive
envolvido com pesquisa e extensão na área de nutrição e produção
animal. Foi durante a faculdade que me impressionei com o
potencial pecuário do Brasil e decidi que era com isso que gostaria
de trabalhar.
Logo após minha graduação, fiz Mestrado em Nutrição e
Produção Animal pela Universidade de São Paulo, com período na
Kansas State University - EUA. Nesta época, iniciei meus trabalhos
com consultoria em fazendas. Em seguida, completei o Doutorado
em Nutrição e Produção Animal pela Universidade de São Paulo,
com período na Michigan State University - EUA e o Pós-doutorado
pela ESALQ-USP com período na Swedish University of Agricultural
Sciences - Suécia.
Atualmente sou pesquisador e professor na Swedish University
of Agricultural Sciences – Suécia. Mesmo morando fora, continuo
com fortes relações com o Brasil. Além das consultorias em
fazendas de produção de gado de leite e de corte, sou professor de
duas disciplinas de produção animal em um curso de Pós-
graduação à distância e mantenho parcerias de pesquisas
científicas em diferentes universidades do país.
Além de produzir um alimento de elevada qualidade e
densidade nutricional, vejo a produção de gado de corte, como uma
das formas mais sustentáveis de produção de alimentos. Tanto
economicamente, quanto ambientalmente sustentável. No decorrer
deste livro, abordarei meu ponto de vista sobre os principais pontos
relacionados a produção de bovinos de corte no Brasil, o país que
vem se tornando o líder mundial na produção de carne.
INTRODUÇÃO
De acordo com o mais recente levantamento do número de
cabeças de gado em cada país, publicado pelo Departamento de
Agricultura dos Estados Unidos – USDA, o Brasil tem o segundo
maior rebanho de gado do mundo. Com 244 milhões de cabeças, o
Brasil detém 25% do rebanho mundial de gado. O Brasil fica atrás
somente da India, que possui um rebanho de 303 milhões de
cabeças. Porém, na contabilidade desse país, os búfalos foram
considerados como bovinos, o que não acontece na contagem feita
para medir o tamanho do rebanho brasileiro.
Analisando os números brasileiros mais de perto, dos 244
milhões de bovinos no Brasil, 238 são criados, recriados e
terminados a pasto; isso representa 97,5% do rebanho nacional.
Embora somente 2,5% dos bovinos são terminados em
confinamento, isso representa 6,1 milhões de cabeças. Número que
parece pequeno diante do total, mas se o confinamento brasileiro
fosse um país, teria o décimo quarto maior rebanho do mundo.
O Brasil vem se consolidando como a maior potência pecuária
do mundo, ficando em primeiro lugar entre os países exportadores
de carne. Em 2020, o Brasil exportou 2,5 milhões de toneladas de
carne, quase o dobro que o segundo colocado, a Austrália com 1,4
milhões de toneladas exportadas. Porém, apesar dos números
expressivos que o Brasil apresenta, seu potencial produtivo ainda é
pouco explorado.
O desempenho pecuário do Brasil poderia ser ainda mais
expressivo, visto que a taxa de lotação animal (número de animais
por hectare de pasto) ainda é muito baixa. A média nacional é de 1
unidade animal (450 kg de peso vivo) por hectare. No entanto,
temos dados consistentes de pesquisas mostrando que essa taxa
de lotação pode ser muito maior, tornando a atividade mais
sustentável, tanto economicamente quanto ambientalmente. O
aumento da produção animal, principalmente à pasto, está
associado a melhores resultados econômicos e melhor uso da terra.
É fato que o Brasil é um país pecuário e seu desenvolvimento
econômico é, extensivamente, dependente do agronegócio. De
acordo com dados publicados pelo Centro de Estudos Avançados
em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o
agronegócio brasileiro foi responsável por 26,6% do PIB brasileiro
em 2020, onde o PIB do país foi de R$ 7,45 trilhões, e o PIB do
agronegócio chegou a quase R$ 2 trilhões.
A aptidão do Brasil para a produção de alimentos é devido às
condições de clima e solo, que são, de modo geral, favoráveis em
todo território nacional. Discutiremos as diferenças de cada bioma
brasileiro, para entender melhor como a produção de gado de corte
ocorre nos quatro cantos do país.
Porém, a expansão da produção de gado de corte vem sendo
bastante criticada pela mídia e por organizações não-
governamentais defensoras do meio ambiente, pois se acredita que
para se aumentar a produção é necessário desmatar para aumentar
a área de terra para abrigar mais animais. E isso não é verdade. Ao
contrário do que muitos pensam, 59% do território brasileiro é
preservado e coberto por floresta, está intacto. Contando com as
áreas de reflorestamento e de preservação permanente (APP’s), o
Brasil possui 68% do território em preservação (MAPA - Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).
Para comparar com outros países produtores de carne, os
Estados Unidos possuem somente 34% do seu território preservado,
enquanto a India possui 24%, Austrália 16% e a vizinha Argentina
somente 10%. Mesmo com a estabilização das áreas de pastagens
destinadas à criação animal, a produção de carne no Brasil vem
aumentando gradativamente. Nos últimos 30 anos, a produção de
carne no Brasil aumentou 158%, enquanto a área de pasto
aumentou somente 9,4%.
O Brasil não precisa abrir mais terra para aumentar a
produção, o caminho a ser percorrido pelos produtores é o do
aumento da eficiência, onde se produz mais na mesma área. O
processo de intensificação da propriedade rural passa por 3 etapas,
que compreende o manejo correto dos animais nas pastagens,
fertilização nitrogenada para aumentar a produção forrageira e, por
fim, a suplementação animal. Desta forma, será possível aumentar
tanto a taxa de lotação animal, quanto o desempenho individual dos
animais, aumentando a produção total de carne por área e,
consequentemente, o retorno ao investimento. Formando assim,
uma base sólida para a transição de uma pecuária de baixa
eficiência, para uma pecuária moderna, eficiente e lucrativa.
O confinamento entra como ferramenta estratégica no
processo de intensificação da pecuária brasileira. O número de
animais terminados em confinamento no país vem crescendo a cada
ano. O aumento do interesse de pecuaristas e da indústria da carne
pela terminação de animais em confinamento decorre,
principalmente, da necessidade em melhorar a eficiência produtiva e
a qualidade da carne produzida. Esse processo é fundamental para
garantir a competitividade do setor tanto no mercado nacional como
no internacional. Esse processo de intensificação da produção será
amplamente discutido no decorrer desse livro.
Do ponto de vista ambiental, a pecuária é, erroneamente,culpada por ser uma das principais produtoras de gases de efeito
estufa, como o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4). Esse
constante ataque a pecuária pode ter como objetivo principal,
desviar a atenção das reais causas da liberação de GEE na
atmosfera, que são a indústria e os motores movidos a combustíveis
fósseis. Esses últimos utilizam combustíveis fósseis (carvão, gás
natural e os derivados de petróleo) como fonte de energia.
Porém, um detalhe é deixado de lado é que os combustíveis
fósseis são formados por meio da decomposição lenta de seres
vivos (animais e vegetais) ao longo de milhões de anos. Estima-se
que suas formações levem entre 10 e 500 milhões de anos para se
completar em solos profundos.
Ou seja, esse carbono que estava estocado no subsolo há
milhões de anos, é capturado pelo homem, trazido para a superfície
e queimado para a produção de energia, liberando os GEE na
atmosfera. Gases esses que não estavam na superfície, mas são
adicionados deliberadamente, desbalanceado o sistema atmosférico
natural. Os combustíveis fósseis representam mais de 75% da
demanda energética mundial, sendo usados em veículos, indústrias
e residências.
No entanto, a relação entre pasto-solo-animais pastejadores é
o melhor exemplo de sustentabilidade ambiental, uma vez que,
durante o processo de fotossíntese, o pasto capta carbono (CO2) da
atmosfera para o crescimento vegetal, e o ruminante se alimenta do
pasto, eliminando carbono na forma CH4 e CO2, formando um ciclo
perfeito. Esse ciclo é chamado do Ciclo do Carbono (Figura 1). O
carbono liberado pelos ruminantes já estava na atmosfera e
permanecerá aqui, nada foi trazido de fora para dentro do sistema.
Além disso, os animais devolvem outros nutrientes ao solo,
através das fezes e urina, repondo nutrientes orgânicos e
inorgânicos que serão utilizados para dar suporte ao novo
crescimento das plantas. E ainda, em um sistema de manejo correto
de animais em pastejo, remove ainda mais carbono da atmosfera,
pois o sistema radicular das gramíneas forrageiras bem manejadas
são, geralmente, maior que a parte aérea do pasto. Dessa forma, a
criação de animais à pasto pode ser utilizada como ferramenta para
aumentar o sequestro de carbono atmosférico.
 
Figura 1. Metano produzido pelo ruminante como parte natural
do ciclo do carbono.
 
Um sistema radicular bem desenvolvido, contribui para maior
remoção de carbono da atmosfera e aumento da concentração de
matéria orgânica no solo, contribuindo assim para uma maior
sustentabilidade ambiental. Isso foi comprovado por um estudo
recente1, conduzido no Canadá, onde 32 áreas de pastos foram
monitorados por 27 anos consecutivos, com o objetivo de avaliar
como a taxa de lotação animal afeta a concentração de matéria
orgânica no solo. O estudo concluiu que quando a taxa de lotação
animal nos pastos foi 2 vezes maior que o recomendado, o estoque
de carbono no solo foi 2 vezes maior que quando a taxa de lotação
utilizada foi a metade do recomendado.
Ou seja, mais animais no pasto contribuiu para um maior
sequestro do carbono da atmosfera e, consequentemente, aumento
da concentração de matéria orgânica no solo. E a explicação para
esse achado é bastante simples. Para suportar um maior número de
animais na mesma área, o pasto precisa ser bem manejado, e como
foi dito anteriormente, um pasto bem manejado possui um sistema
radicular bem desenvolvido, que é o grande responsável pela
retirada do carbono da atmosfera e estocagem no subsolo (Figura
2).
 
Figura 2. Comparação entre a parte aérea e o sistema
radicular de um pasto bem manejado.
 
A produção de gado de corte envolve uma série de variáveis,
se tornando relativamente complexa e, exigindo assim, profissionais
capacitados para estar à frente dos sistemas de produção. O
amadorismo não tem mais espaço na pecuária moderna, com as
margens de lucro ficando cada vez mais estreitas, a diferença entre
o sucesso e o fracasso está nos mínimos detalhes.
Esse livro busca fazer uma revisão geral da produção de gado
de corte no Brasil, com destaque para pontos estratégicos que
contribuem de forma mais consistente para o aumento da eficiência
do sistema de produção como um todo. Espero que esse material te
ajude e me coloco a disposição para questionamentos, sugestões,
críticas ou para um simples contato, basta me escrever no e-mail:
dannylo.sousa@slu.se
Abraço,
Dannylo Sousa
 
mailto:dannylo.sousa@slu.se
Parte I
PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE NOS QUATRO CANTOS
DO BRASIL
 
O Brasil é um país grande e com condições climáticas
favoráveis para a produção de alimentos em grande escala e ao
longo de todo o ano. Com uma extensão territorial de 850 milhões
de hectares, distribuídos em 6 biomas completamente diferentes
(Figura 1), o Brasil é um dos países com maior diversidade do
mundo, e a produção de gado de corte ocorre nos 4 cantos do país.
Segundo o IBGE, o bioma Amazônia ocupa 49,5% do território,
seguido pelos biomas do Cerrado (23,3%), Mata Atlântica (13%),
Caatinga (10,1%), Pampa (2,3%) e Pantanal (1,8%). Nesta seção,
irei descrever como a produção de gado de corte ocorre em cada
bioma brasileiro e como foi a transformação dessa indústria durante
seu momento de maior expansão da história até chegar aonde se
encontra hoje.
 
Figura 1. Localização dos biomas brasileiros.
Capítulo 1
PRODUÇÃO NO CERRADO
 
O bioma Cerrado, também conhecido como a savana
brasileira, é o segundo maior bioma do país, cobre 24% do território
nacional e abriga, em média, 38% do rebanho de gado brasileiro.
Com o aumento da tecnificação e mecanização da produção
agrícola e pecuária da região, o Cerrado tem se tornado o centro da
produção de alimentos no Brasil.
De acordo com dados da Embrapa Cerrados, o Cerrado
responde por 55% da produção de carne bovina, 49% da soja, 49%
do milho, 98% do algodão, 47% da cana-de-açúcar, 43% do feijão e
89% do sorgo produzidos no país. Segundo a Organização das
Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o Brasil se
tornará o maior produtor de alimentos do mundo até 2025, e o
Cerrado é o principal responsável por esse desempenho em nível
nacional.
Existem duas estações do ano bem definidas no Cerrado, o
período seco (maio a setembro) e período chuvoso (outubro a abril),
onde o índice pluviométrico anual varia de 1200 a 1800 mm. A
vegetação nativa é composta por árvores com troncos tortuosos,
arbustos e gramíneas. Os solos são profundos, bem drenados na
maior parte do ano, ácido e com baixa fertilidade natural e elevado
teor de alumínio.
Apesar de parecer que esse tipo de solo não é favorável para
produção vegetal, isso não é verdade, se bem corrigido, com
adubação correta e boa oferta de água, esses solos são ideais para
produção de gramíneas (pastos, milho, sorgo, sorgo, cana-de-
açúcar), que irão dar suporte para a produção animal.
No início do período de desenvolvimento agropecuário do
Cerrado, nas décadas de 70 e 80, com abundante apoio financeiro
do governo federal para desbravar essa região do país, a produção
de gado de corte era uma atividade de baixo custo, capaz de ocupar
grandes áreas de terra sem preocupação com produtividade e
eficiência.
A prática mais comum de ser observada era de soltar
rebanhos de gado em grandes áreas e recolher os animais, quando
estivessem prontos para o abate, depois de vários anos pastando
como animais selvagens. Adicionalmente, devido as altas taxas de
inflação monetária durante esse período, a produção de gado de
corte era considerada como reserva de capital e a principal fonte de
lucro era a especulação financeira e não a produção de carne.
Devido à baixa fertilidade do solo e relativo alto custo da
implementação, muitas das áreas de pasto no Cerrado foram
implementadas em consórcio com alguma lavoura. Inicialmente, o
pasto (basicamente Brachiaria decumbens) era plantado depois de
um ou dois anos de arroz em solo seco (Kornelius, 1979).
Outros tipos de consórcios foram sendo implementados, mas a
cultura do pasto nunca foi tratada como uma lavoura e por isso, a
produção de pasto era,e ainda é, na maioria dos casos
negligenciada, sem preocupação com os tratos culturais específicos
desta cultura.
Devido a fertilidade residual da produção da cultura anual
(arroz, milho, soja), a produção do pasto plantado em seguida era
satisfatória nos primeiros anos, seguida por um período de declínio
produtivo crescente ao longo nos anos seguintes, e após 5 a 10
anos, resultando em degradação da pastagem e do solo (Mueller,
2008). Esse ciclo de declínio de produtividade e degradação
acentuada resultou em uma triste marca de 100 milhões de hectares
de área plantada de pasto em condição de severa a moderada
degradação (Diaz-Filho, 2014).
O manejo errado das pastagens, que não respeita o tempo de
descanso e crescimento das plantas e a falta da fertilização
adequada para repor os nutrientes extraídos do solo durante a
produção vegetal, são os principais responsáveis pela redução
média de 6% por ano da capacidade produtiva dos pastos do
Cerrado (Martins, 1996). Mais recentemente, com os impedimentos
legais e de crédito para abertura de novas áreas de desmatamento,
com o crescente custo dos insumos de produção e a competição
com a agricultura pelo uso da terra, não há mais espaço para
amadores na pecuária moderna.
Produtores tem mudado a forma de administrar suas
propriedades, encarando a fazenda como uma empresa, que tem
que ser eficiente e dar lucro no fim do ano. Para isso, é preciso
aumentar a produtividade por área, mesmo que o custo de
implementação do sistema seja mais elevado.
Dessa forma, a integração lavoura-pecuária tem se
consolidado na região, com o benefício da manutenção da
fertilidade do solo e o aumento da produção de carne por área.
Certamente a adoção dos sistemas mistos de produção
contribuíram para o aumento da produtividade no Cerrado, uma vez
que nos últimos 30 anos a produção de carne no Brasil aumentou
158%, enquanto a área de pasto aumentou somente 9,4%.
Quando o pasto é consorciado com a lavoura ocorre uma
melhoria na cobertura do solo e um aumento na concentração de
matéria orgânica, o que é excelente para os solos de baixa
fertilidade do Cerrado. A presença do pasto na área de lavoura para
o plantio direto garante a cobertura do solo necessária para evitar a
erosão e ainda, aumentar o sequestro de carbono da atmosfera
para o subsolo, devido ao sistema radicular bem estabelecido
previamente. Tanto a agricultura quanto a pecuária são beneficiados
pelos sistemas de integração.
Os produtores de gado usam o plantio de lavouras (arroz,
milho, sorgo ou soja) de forma estratégica para recuperar áreas de
pastejo previamente degradadas, e agricultores usam o plantio de
pastos (mais comumente a Brachiaria sp.) para manter o solo
coberto durante o resto do ano após a colheita da lavoura, controlar
planta daninhas que afetam a produção agrícola e fornecer massa
orgânica para o plantio direto.
Desta forma, os agricultores usam os pastos de inverno para
engordar o gado, utilizando o solo o ano inteiro e produzindo mais
na mesma área; e os produtores de gado usam o plantio de grãos
para reduzir os custos da renovação de pastagens degradadas,
aumentando a eficiência econômica e produtiva final. Ambas as
partes são beneficiadas pela diversificação das fontes de renda da
propriedade, reduzindo os riscos das variações do mercado de uma
produção isolada.
Outro tipo de sistema integrado quem tem crescido no Cerrado
é a integração lavoura-pecuária-floresta. A ideia de aumento do uso
consciente do solo, com benefício ambiental e econômico desse
sistema é semelhante ao discutido anteriormente, contudo, a
inclusão da floresta (mais comumente utilizado é o Eucalipto) traz
um benefício extra, que o sistema anterior não tem, que é o
sombreamento natural das árvores, que contribuem para o bem-
estar dos animais. Animais com conforto vivem melhor e,
consequentemente, produzem mais.
Devido a maior produção de forragem total, maior qualidade
dessa forragem e disponibilidade durante a estação seca do ano, os
sistemas de integração permitem produzir até 450 kg de carne por
hectare por ano, enquanto a média anual do país é de 49 kg por
hectare por ano (Kichel, 2012).
No entanto, é importante destacar que os mesmos níveis de
produção de carne produzidos em um sistema de integração pode
ser alcançado por um sistema de produção a pasto bem manejado,
desde que a fertilidade do solo seja mantida para suportar a
capacidade de produção das plantas forrageiras. Esse assunto será
discutido detalhadamente no capítulo de ‘Produção de Bovinos de
Corte em Pastagem’.
Capítulo 2
PRODUÇÃO NA AMAZÔNIA
 
A Amazônia é a última fronteira para o desenvolvimento da
agricultura e pecuária no Brasil. É uma região complexa, que atrai
os olhos do mundo, principalmente de países desenvolvidos,
gerando controvérsias e discussões inflamadas. A Amazônia cobre
40% do território nacional e é o maior bioma brasileiro. Apesar das
constantes notícias sobre o desmatamento, 84% da Amazônia está
preservada. O desmatamento ainda é uma realidade, porém é
importante dizer que a taxa de desmatamento vem diminuindo
desde 1987, conforme dados apresentados pelo INPE - Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais.
No período de 1986 a 2016 o rebanho de gado no Brasil
cresceu 45%, já na Amazônia o crescimento do número de animais
foi de 395%. Porém, o aumento da área de pasto na Amazônia foi
de somente 22%. Com base nesses números, fica evidente o
aumento da produtividade por área. E ainda, esses dados foram
usados para comprovar que o aumento na criação de gado não teve
relação direta com o desmatamento na região, uma vez que o
aumento da área de pasto foi insignificante quando comparado com
o aumento do número de animais.
Desmatamento é crime e a polícia federal fiscaliza isso muito
bem, com auxílio de imagens via satélite em tempo real.
Obviamente que a extensão territorial da Amazônia dificulta a ação
da polícia e facilita a dos criminosos, porém, o desmatamento não é
feito por pecuaristas, uma vez que esses irão permanecer na área
desmatada por vários anos até terminar o primeiro clico de
produção, ela é feita por exploradores de madeira, que cortam as
árvores e desaparecem da cena do crime para nunca mais voltar.
Entretanto, uma vez que a área é aberta, o governo precisa
decidir o que fazer com a terra, se será destinada ao
reflorestamento ou se será repassada para o setor produtivo. No
caso da segunda opção, eventualmente essa área será utilizada
pela pecuária de corte, pela facilidade de se adaptar em áreas
remotas.
Durante o período de 1966 a 1986, o governo brasileiro
estimulou a colonização para consolidar o desenvolvimento da
Amazônia, através de incentivos financeiros para apoiar o
desmatamento e a introdução da agropecuária. Como a produção
de bovinos de corte é a forma mais prática e barata de ocupar
grandes áreas, essa se tornou a atividade predominante.
A partir de 1990, com a estabilização da economia e aumento
da pressão política, o foco do desenvolvimento local mudou e ao
invés de abrir novas áreas, a recomendação foi aumentar a
produtividade das áreas já estabelecidas. Com isso, a produção de
gado de corte na Amazônia entrou em uma nova fase, quem vem
evoluindo constantemente até os dias atuais, onde a eficiência da
produção é essencial para manter o sistema lucrativo.
Dois fatores foram, e continuam sendo, fundamentais para o
processo de modernização da pecuária de corte na Amazônia.
Primeiramente, a substituição das plantas forrageiras nativas por
opções mais produtivas, permitiram o aumento da capacidade
suporte das áreas de pastejo, uma vez que as plantas introduzidas
produzem mais massa verde por área.
E também, o melhoramento genético dos rebanhos, associado
ao uso de tecnologias da reprodução, como a inseminação artificial
e a inseminação artificial em tempo fixo, contribuíram para o
fornecimento de animais de elevado potencial de desempenho em
escala necessária para suportar o rápido desenvolvimento da
pecuária na Amazônia.
A produção de gado de corte se consolidou como uma
importante parteda economia regional, representando 35% de toda
a produção agropecuária na Amazônia legal (Valentim, 2016).
Apesar dos inúmeros movimentos organizados contra o
desenvolvimento agrícola na região, o caminho a ser seguido é o
das boas práticas, com consciência ambiental e respeito aos
animais.
Ainda tem muito a ser feito em relação a fatores como,
infraestrutura de transportes, regularização de terras, investimento
em capital humano local e legislações sensatas, que permitam o uso
consciente dos recursos naturais. A Amazônia é riquíssima e deve
ser respeitada para continuar servindo ao seu povo, através da
produção de alimentos produzidos por uma agropecuária
sustentável e consciente.
Capítulo 3
PRODUÇÃO NO PANTANAL
 
O Pantanal é conhecido mundialmente por ser a maior planície
de inundação do globo, com 250 mil km² de extensão. Localizado no
Centro-Oeste, entre os estados do Mato Grosso e Mato grosso do
sul, além de ser estender parcialmente para a Bolívia e Paraguai.
Devido a sua riqueza natural, o Pantanal é considerado Patrimônio
Ecológico da Humanidade pela UNESCO.
Sua preservação ambiental é alta, sendo considerado o bioma
mais preservado do país, de acordo com o IBGE. Porém, uma
informação importante e que é pouco divulgada é que 90% da área
do Pantanal pertence a propriedades privadas, que tem como
atividade principal a produção de gado de corte. O sistema de
produção é tipicamente extensivo, com baixa intensificação e baixo
impacto ambiental, com desmatamento controlado e permitido
somente quando absolutamente necessário.
O gado “Pantaneiro” (Bos taurus) foi desenvolvido na região e
gradualmente cruzado com o Zebu (Bos indicus), com o objetivo de
criar uma raça resistente e produtiva nas condições do Pantanal.
Atualmente, a raça mais comum no Pantanal é o Nelore Pantaneiro,
fruto do cruzamento entre o Pantaneiro e o Nelore.
O tamanho do rebanho de gado de corte no Pantanal varia
drasticamente de acordo com os períodos de inundação e seca, que
se alternam em média a cada 15 anos (Silva et al., 2001). Na seca
de 1960 a 1974, o rebanho de gado era de 6 milhões de cabeças.
No entanto, no período de 1975 a 1985, que foi de chuvas, e
consequentemente de inundações, o rebanho reduziu para 4,5
milhões de cabeças. Porém, o período seguinte, de 1986 a 2000, foi
novamente de chuvas, e a população de gado na região continuou a
reduzir, chegando a 3 milhões de cabeças.
Após um período longo de inundações, em 2001 deu-se início
a uma nova era no Pantanal. Com condições climáticas mais
favoráveis, associado a investimentos em pesquisas para aumento
da eficiência e sustentabilidade da produção de gado de corte no
Pantanal, o rebanho chegou a 5,5 milhões de cabeças em 2016.
A produção de gado de corte no Pantanal é caracterizada por
grandes propriedades, com sistema de produção extensivo de baixo
nível tecnológico. A atividade pecuária mais comum é a produção de
bezerros. Os sistemas de terminação tradicionais, com
suplementação concentrada e operações em confinamento, são
impraticáveis na maior parte do Pantanal, devido aos períodos de
inundações. E ainda, o transporte de animais terminados podem
causar prejuízos ao sistema, causado pela perda do peso dos
animais, uma vez que abatedouros e centros comerciais estão muito
distantes das propriedades.
Após o longo período de inundações com elevada taxa de
mortalidade animal nas décadas de 80 e 90, houve um movimento
para introdução de pasto cultivado (Brachiaria sp.), com o objetivo
de aumentar a produção forrageiras nas propriedades. Porém, com
o passar dos anos, o pasto introduzido foi se degradando, através
de um processo natural de substituição pelas espécies nativas. De
acordo com a EMBRAPA, atualmente a área total de pasto
introduzido se resume a 11% do Pantanal. De acordo com
pesquisadores locais, a simples inclusão de uma nova planta é
considerado como uma ameaça, uma vez que as plantas nativas
vivem em equilíbrio dinâmico, permitindo a resiliência e
sustentabilidade do ecossistema local.
Os pastos nativos são a base da alimentação do gado no
Pantanal e o aumento da eficiência produtiva é o maior desafio dos
pesquisadores e produtores, exigindo um conhecimento profundo
das condições específicas do ecossistema local. Variações
climáticas implicam diretamente na disponibilidade de alimento para
os animais, onde o ganho ou a perda de peso dos animais estão à
mercê da intensidade e duração das inundações.
Em contraste com o resto do Brasil, no Pantanal os animais
perdem peso durante a estação de chuvas, não pela falta de
alimento, mas pela falta de acesso, pois os pastos ficam
submergidos pela água da chuva; e voltam a ganhar peso durante a
seca, quando os pastos se tornam disponíveis novamente (Hamilton
et al., 1996).
Segundo a EMBRAPA, o manejo dos animais no Pantanal se
resume a 3 opções: 1) em pastos localizados em áreas elevadas, os
animais permanecem em pastejo ao longo de todo o ano; 2) em
propriedades com áreas elevadas e de planícies, os animais são
mantidos em áreas elevadas durante a estação chuvosa e retornam
para as planícies durante a seca; 3) em propriedades sem áreas
elevadas, os animais devem ser realocados para outra propriedade
imediatamente antes de início do período chuvoso.
Neste último caso, os produtores alugam pastos em outras
propriedades e os animais retornam para a propriedade de origem
somente após o escoamento das inundações.
Com o crescimento das demandas dos consumidores por
produtos livres de antibióticos e promotores de crescimento, os
produtores do Pantanal tem uma grande oportunidade de explorar
esse mercado e agregar valor aos seus produtos.
A produção de gado de corte no Pantanal é totalmente
desenvolvida em condições naturais e com a crescente demanda
por produtos orgânicos e de animais a pasto (grass-fed), a venda de
produtos com a marca do Pantanal tem crescido de forma
consistente. O desenvolvimento constante da indústria da produção
de carne do Pantanal, tem contribuído de forma sistemática para o
desenvolvimento social e econômico da população local.
Capítulo 4
PRODUÇÃO NA MATA ATLÂNTICA
 
A Mata Atlântica cobre 13% do território brasileiro, vai do Rio
Grande do Norte ao Rio Grande do Sul compondo a faixa costeira
do país. É o bioma com maior densidade populacional (112 milhões
de pessoas vivem nele) e desenvolvimento econômico. Por isso, é a
região de terras mais caras do Brasil. Devido ao desenvolvimento
estrutural e proximidade logística dos grandes centros, a maioria
dos confinamentos do país estão localizados nessa região.
Com o elevado preço da terra, a pecuária de corte tradicional
não consegue competir com os altos rendimentos por área que
culturas como a soja e a cana-de-açúcar produzem. Para estar
presente nas terras caras da Mata Atlântica, o produtor de gado de
corte precisa investir em tecnologia para aumentar a taxa de lotação
por área e, consequentemente, a produtividade total.
Apesar de desafiador, isso não é impossível. O Laboratório de
Pesquisa em Gado de Corte (LPGC) da Universidade de São Paulo
(USP), localizado dentro da Mata Atlântica, na cidade de
Pirassununga-SP, desenvolveu um sistema de intensivo de
produção de gado de corte em ciclo completo, onde a lucratividade
do sistema de produção é capaz de competir de frente com as
opções agrícolas mais lucrativas.
A produção de gado de corte a pasto na Mata Atlântica é
limitada por dois fatores principais: 1) baixo crescimento de pasto
durante o inverno, causado pela ausência de chuva, baixa
temperaturas e dias mais curtos; 2) baixa produção de pasto
durante o verão, devido a carência de nutrientes essenciais no solo.
O sistema de produção desenvolvido pelo LPGC foca na
solução desses dois fatores, com o uso de suplementação volumosa
de baixo custo na seca com silagem de cana-de-açúcar, e com o
uso de fertilizantes durante o verão para o crescimento máximo do
pasto, e ainda, conta com um confinamento para terminar os
animais criados a pasto.
 
Produção intensiva de pasto durante o verão
 
Tradicionalmente,pastos tropicais são alocados em solos de
baixa fertilidade, sem nenhuma correção, com isso, a produção
forrageira é baixa e, consequentemente, a taxa de lotação das áreas
de pastagens também é baixa. A taxa de lotação média do Brasil é
de 1 UA/ha (UA = unidade animal = 450 kg de peso vivo). Porém, a
produção forrageira dos capins tropicais têm potencial de suportar
até 10 vezes mais que a atual taxa de lotação média do país.
Os resultados do sistema de produção do LPGC
demonstraram uma relação positiva crescente, entre a dose de
fertilizante e a taxa de lotação dos pastos, sendo que a taxa de
lotação aumentou progressivamente com o aumento da dose de
fertilizante, onde a dose máxima de 800 kg de nitrogênio por hectare
produziu forragem suficiente para uma taxa de lotação de 10 UA/ha.
No entanto, o produtor ainda precisa lidar com o período seco do
inverno.
 
Alimentação econômica durante o inverno
 
Com a produção intensiva durante o verão, o produtor não terá
pasto reserva (diferido) para ser utilizado durante o período seco,
com isso, se faz necessário a introdução de uma opção forrageira
de baixo custo, para continuar alimentando os animais nessa época
do ano. A cana-de-açúcar é extensivamente presente na Mata
Atlântica, e devido a sua elevada produção por área, é uma das
opções volumosas mais baratas, e ainda, o período de colheita
dessa planta ocorre durante o inverno, podendo ser fornecida aos
animais na forma fresca ou conservada como silagem.
O baixo teor de proteína da cana-de-açúcar pode ser
compensado com o uso de ureia. A combinação de ureia com cana-
de-açúcar pode ser usado para a manutenção de animais menos
exigentes na propriedade, como vacas adultas, e cana-de-açúcar
suplementada com ureia e uma fonte de proteína verdadeira (farelo
de soja ou de algodão), pode ser usado por animais em crescimento
e permitir ganho de peso de até 900 g por dia (Rodriguez, 2012;
Frasseto, 2015).
Embora a carência de proteína da cana-de-açúcar seja
facilmente corrigida pela suplementação, o maior limitante do
desempenho de animais consumindo dietas com cana é a sua baixa
digestibilidade da fibra, que limita o consumo pelo enchimento
ruminal. Porém, o problema com a baixa digestibilidade da cana
pode ser minimizado, através da escolha certa do genótipo de cana
a ser plantado.
Em estudos realizados no LBGC, comparando dois genótipos
de cana-de-açúcar, um com baixa e outro com alta digestibilidade da
fibra, mostraram que bovinos de corte alimentados com a cana de
alta digestibilidade resultaram em maior consumo, maior ganho de
peso diário e maior deposição de gordura na carcaça (Sousa et al.,
2014; Sousa et al., 2017).
 
Resultados econômicos e produtivos do sistema intensivo
de produção
 
O aumento da fertilização nitrogenada e consequente aumento
na taxa de lotação das áreas de pasto resultam em aumento da
produtividade e lucratividade do sistema de produção de gado de
corte. Conforme dados do LPGC, onde a aplicação de 300 kg de
nitrogênio por hectare por ano, foi possível manter 101 vacas de cria
a pasto e 42 garrotes em terminação no confinamento em uma área
de 20 ha (16 ha de pasto e 4 ha de cana-de-açúcar), alcançando
uma produtividade de 949 kg de carcaça por hectare por ano.
Esses resultados demonstram o enorme potencial de produção
de carne em sistema intensivo de produção de plantas tropicais nas
condições da Mata Atlântica. Apesar do elevado investimento em
infraestrutura e treinamento técnico dos colaboradores, o sistema
intensivo de produção de gado de corte na Mata Atlântica pode dar
retorno econômico similar a alternativas mais lucrativas da
agricultura, como a soja e a cana-de-açúcar.
Capítulo 5
PRODUÇÃO NA CAATINGA
 
A Caatinga está localizada predominantemente no Nordeste
Brasileiro, exceto por uma faixa pequena no norte de Minas Gerais.
Esse bioma é também conhecido como sertão ou agreste e sua
vegetação consiste por árvores baixas, troncos tortuosos e que
apresentam espinhos e folhas que caem no período da seca.
Possui balanço hídrico negativo, devido ao baixo índice
pluviométrico de 800 mm/ano e elevada taxa de evapotranspiração
de 2000 mm/ano. Diante disso, fica evidente que o sucesso ou
fracasso da produção agropecuária na Caatinga depende,
primordialmente, das condições climáticas, em especial a chuva,
pois é esse bem natural que promove a prosperidade da atividade
no sertão.
A produção de gado nessa região do país teve início no século
15, juntamente com a colonização portuguesa (Simonsen, 2005). Os
bovinos foram introduzidos com o objetivo principal de servir como
trabalho de força, uma vez que a produção e exportação de cana-
de-açúcar estava crescendo, os animais eram usados para fazer o
transporte de cargas e girar os moinhos para extrair o caldo da
cana. A produção da cana-de-açúcar ocorria basicamente na região
litorânea, devido ao clima mais favorável para agricultura e
facilidade do escoamento da produção de navio para a Europa.
Com o crescimento da população de gado, cresceu também a
preocupação com o controle desses animais, pois não havia cercas
para contê-los no pasto e o acesso dos bovinos aos canaviais
geravam prejuízos, devido ao consumo das plantas em crescimento.
Por isso, em 1701 foi assinada uma Autorização Real, proibindo a
criação e reprodução de bovinos dentro de uma distância de 10
léguas (40 km) da costa (Prado Júnior, 1996). Com isso, a região do
interior do Nordeste, a Caatinga, começou a ser desbravada e
povoada pelos criadores de gado e suas famílias.
Com o intuito de reduzir a dependência de níveis mínimos de
chuva anualmente, programas federais de incentivos a irrigação,
que fornecem recursos financeiros e assistência técnica
especializada para pequenos e médios produtores, tem sido
introduzidos nas últimas décadas e veem se tornando essenciais
para a manutenção e crescimento da produção. No entanto, esses
benefícios ainda são limitados e a grande maioria dos produtores
estão a mercê das condições climáticas, com isso, a única
alternativa viável para manter a produção é usar opções forrageiras
adaptadas ao clima da região.
Uma gama de opções de capins e leguminosas resistentes têm
sido melhoradas e introduzidas na região, como por exemplo, o
capim buffel (Cenchrus ciliaris), andropogon (Andropogon gayanus),
gramão (Cynodon dactylon var. aridus) e o corrente (Urocloa
moçambisensis). O uso de leguminosas é feito de forma estratégica,
através dos bancos de proteína, onde culturas como a leucena
(Leucaena leucocephala) e o feijão-guandu (Cajanus cajan) são
cultivados em áreas cercadas e os animais têm acesso limitado e
controlado, com o objetivo de suprir a necessidade de proteína dos
animais e evitar o super-pastejo.
As raças de gado mais utilizadas nessa região são as
Zebuínas (Bos indicus), com dominância do Nelore e seus
cruzamentos com as raças Gir, Guzera e Sindi. Em áreas com maior
desenvolvimento tecnológico, com no sul da Bahia, o Nelore tem
sido cruzado com raças taurinas (Bos taurus), como Angus e
Charolais, com o objetivo de aumentar a eficiência do ganho de
peso e a qualidade do produto final.
Apesar das dificuldades impostas pelo clima, tem sido cada
vez mais comum observar grandes grupos investindo nessa região,
uma vez que as terras são mais baratas que no centro-sul do país, e
principalmente, com utilização de tecnologia de irrigação e manejo
de forragens que garantam a alimentação dos animais ao longo do
ano, é possível ser eficiente e competitivo, pois é uma região
localizada próxima de grandes centros e sem limitações de
infraestrutura para transporte de insumos e dos produtos da
produção. O que para uns é visto como entrave, para outros pode
parecer como oportunidade.
Capítulo 6
PRODUÇÃO NO PAMPA
 
O Pampa é o único bioma brasileiro que está presente em
somente um estado, o Rio Grande do Sul. O Pampa cobre uma área
177 mil km², que corresponde a 63% do território estadual. Esse
bioma se estende a países vizinhos, ocupando completamente o
Uruguai e parcialmente a Argentina. O clima é subtropicalcom
quatro estações bem definidas, completamente diferente do resto do
país. Com clima chuvoso e com ausência de um período seco
sistemático, o que contribui para o desenvolvimento de plantas
forrageiras e cereais adaptados as condições edafoclimáticas da
região ao longo de todo o ano.
A vegetação nativa do Pampa é caracterizada por gramíneas e
espécies vegetais de pequeno porte, não ultrapassando os 50 cm
de altura. Essa vegetação é comumente dividida em duas e
chamadas de Campos Limpos ou Campos Sujos. Os Campos
Limpos ocorrem quando a vegetação não apresenta arbustos,
ganhando uma paisagem mais homogênea, isto é, mais regular,
sem diferenças muito grandes entre uma parte e a outra. Já os
Campos Sujos ocorrem quando há uma maior presença desses
arbustos, se misturando a vegetação.
A fauna e a flora do Pampa são bastante diversificadas, com
uma grande quantidade de espécies, algumas delas ainda não
catalogadas. Dados do Ministério do Meio Ambiente estimam que
existam mais de 3.000 tipos de plantas, 500 tipos de aves e 100
espécies de mamíferos.
Desde a colonização ibérica, a produção extensiva de gado de
corte sobre os campos nativos do Pampa é considerada como a
principal atividade econômica da região. Devidos às características
da vegetação local e de relevo levemente ondulado, a expansão da
agricultura de monocultura tem se ocorrido rapidamente. A produção
de gado em pastos nativos é uma ferramenta importante no controle
dos avanços da agricultura industrial, preservando a diversidade de
fauna e flora desse bioma.
No início do século passado, o Pampa tinha o maior rebanho
de gado do Brasil, porém, após o fim da Primeira Guerra Mundial, a
atividade pecuária entrou em colapso, devido a redução das
exportações para países Europeus, uma vez que esses estraram
em crise financeira no pós-guerra. Mais tarde, de 1940 a 1980, a
produção pecuária voltou a crescer e praticamente dobrou nesse
período, chegando a 14 milhões de cabeças.
Contudo, juntamente com a expansão da agricultura
mecanizada, desde 1986 o rebanho de gado no Pampa vem
diminuindo progressivamente. De acordo com dados do IBGE, a
área de pastos nativos no Pampa em 1986 era de 11,9 milhões de
hectares, já em 2016, essa área reduziu para 7,1 milhões de
hectares, o que representa uma redução de 40% em 30 anos.
Uma característica única da produção de gado de corte no
Pampa é o uso de raças europeias em sistema de pastejo,
contrastando do resto do país, onde o Nelore e seus cruzamentos
predominam nas fazendas. As raças mais comuns são o Angus e o
Hereford, vindos inicialmente do Uruguai, se adaptaram
perfeitamente as condições locais e são peça importante na boa
fama de carne de qualidade da região sul do país.
A carne de gado a pasto vem ganhando reconhecimento e
apreciadores mundo a fora, não só por estar de acordo com a
opinião de muitos, que acreditam que esses animais devem ser
criados soltos a pasto e não em confinamento, mas também por
apresentar características nutricionais benéficas a saúde humana,
como os elevados níveis de ácido linolênico (omega-3),
betacaroteno, vitaminas essenciais do complexo B e minerais.
Adicionalmente, a carne de animal a pasto possui coloração mais
avermelhada e gordura amarelada, características desejáveis pelos
apreciadores de churrasco. Essas características agregam valor aos
produtos dessa região, sendo possível aumentar as margens e,
consequentemente, o lucro final da atividade.
A Associação Brasileira de Angus implementou um programa
de certificação de qualidade para valorizar os produtos da região.
Esse programa certifica a carne de Angus e seus cruzamentos,
produzidos exclusivamente em sistema de pastejo, com ou sem
suplementação a pasto e que são abatidos com menos de 30 meses
de idade. E ainda, as propriedades produtoras devem seguir
padrões de sustentabilidade, com respeito aos animais, ao meio-
ambiente e às leis trabalhistas. Programas como esse, de
valorização da produção consciente tem impactado a atividade
pecuária local, uma vez que, em 2014, 131 mil animais foram
terminados em confinamento, porém, em 2016 esse número caiu
quase 50%, onde somente 70 mil animais foram terminados em
confinamento.
A atividade pecuária no Rio Grande do Sul é tradicional e parte
da cultura do seu povo. Representa grande importância econômica
e social, uma vez que é praticada, em maior parte, por pequenos
produtores. O estado possui 346 mil propriedades rurais, onde 90%
possuem até 50 animais, e 50% possuem somente 10 animais ou
menos (Sagrilo, 2015). Os pastos nativos do Pampa são
fundamentais nesse contexto, e a simbiose com os animais
pastejadores formam um sistema único de preservação ambiental e
conservação das espécies, que além produzir alimentos de
qualidade e ser rentável, contribuem para a permanência do homem
no campo.
Parte II
CRIA E RECRIA DE BOVINOS DE CORTE
 
A bovinocultura de corte brasileira tem passado por extensas
transformações nas últimas décadas, devido à competição com
outras fontes de proteína animal, tais como aves e suínos, bem
como à adequação da cadeia produtiva às exigências do mercado
interno e externo e também em função de problemas de ordem
sanitária que envolve nosso rebanho.
Com a mudança do cenário extrativista e altamente lucrativo,
característico do setor pecuário até meados dos anos 80, para um
cenário competitivo e de rentabilidade baixa, onde as leis ambientais
têm aumentado a pressão pelo aumento da produtividade sem
aumentar a área de pastagens, tem forçado o produtor rural a
buscar por tecnologias que trazem intensificação para dentro da
fazenda. Com o aumento do preço da carne e antecipação da idade
de abate, a busca pela reposição (bezerro ou boi magro) cresceu e
com isso a fase de cria passou a ser mais valorizada.
 
Capítulo 7
A FASE DE CRIA
 
A fase de cria na bovinocultura de corte corresponde não só
aos bezerros e bezerras criados na propriedade, mas também às
matrizes e os machos reprodutores. Esta fase pode ser
caracterizada pela Figura 1, que mostra a estratificação de uma
fazenda de cria, recria e engorda.
O objetivo maior de quem se dedica à cria de bovinos deve ser
o de investir recursos financeiros suficientes para aplicar tecnologias
que garantam o desmame de um bezerro pesado e saudável por
ano, de cada matriz do rebanho. Para isso, segundo Oliveira et al.
(2006) alguns pontos devem ser respeitados, como:
 
1. Escolha dos grupos genéticos que farão parte do
planejamento do rebanho;
2. No caso de monta natural, deve-se fazer o manejo
adequado, principalmente do ponto de vista nutricional e
bioclimatológico dos touros;
3. Manejo nutricional das matrizes durante todo o período
reprodutivo, para evitar baixa eficiência do sistema;
4. Manejo das pastagens e o planejamento alimentar das
diferentes categorias envolvidas;
5. Respeitar o período de aleitamento e a forma correta do
desmame;
6. Utilização de métodos de suplementação para os bezerros,
tais como o uso do cocho privativo (“creep feeding”) ou a
pasto junto da mãe;
7. Controle zootécnico do sistema como um todo para
administrar e controlar as variáveis inerentes ao processo.
 
 
Figura 1. Fluxograma da cria, recria e engorda de bovinos de
corte (Oliveira et al., 2006).
 
O sucesso da atividade de cria depende da aplicação correta
de práticas de manejo nutricional e reprodutivo sobre as matrizes. O
passo inícial para aumentar a eficiência do sistema de cria de
bovinos de corte é a adoção de um sistema eficaz de estação de
monta e de parição, mas para isso é necessário uma organização
administrativa, com o controle e identificação do rebanho, e metas
para a fazenda.
 
Identificação e índices zootécnicos
 
A identificação do rebanho facilita o manejo da fazenda como
um todo, mas principalmente o manejo reprodutivo, pois permite que
o técnico identifique os problemas e crie soluções rápidas que
podem contribuir para a melhoria dos índices reprodutivos. Dessa
forma, a marcação individual dos animais e o registro das principais
ocorrências e práticas de manejoutilizadas, como data e peso ao
nascimento, controle sanitário do bezerro, evolução do peso e peso
ao desmame, contribuem significativamente na avaliação do
desempenho individual e do rebanho.
Com a formação de um banco de dados da fazenda, os
técnicos e pecuaristas são capazes de criar um padrão que pode
ser comparado com números de outras propriedades, e dessa
maneira são capazes de detectar problemas, apontar virtudes e
fazer progressos.
Normalmente, as propriedades bem administradas mantêm
registros zootécnicos, como datas de nascimento, cobertura,
desmama, controle de ganho de peso, controle do escore corporal
das matrizes, problemas sanitários, dentre outros.
O índice zootécnico que interfere no sistema de forma geral, e
o primeiro que deve ser avaliado na fase de cria, é o intervalo de
partos (IP). Para matrizes de corte o ideal é que o intervalo médio
de partos tivesse a duração de doze meses, com a produção de um
bezerro por vaca/ano. Nas condições normais da bovinocultura de
corte no Brasil, esse intervalo é sempre mais longo do que o
desejável, comprometendo, assim, o desempenho geral do rebanho.
 
Estação de Monta
 
A estação de monta é uma ferramenta zootécnica que tem o
objetivo de fornecer condições especiais de alimentação, manejo e
organização de mão de obra qualificada, para que as matrizes e
suas futuras crias tenham o máximo desempenho. O recomendado
é sincronizar o período de maior requerimento nutricional das vacas,
que é o período de lactação, com a época do ano de maior
disponibilidade de forragens, ou seja, a época das chuvas. Com isto
pode-se conseguir melhores índices reprodutivos, pois é,
principalmente, na fase de lactação que deve haver fornecimento de
nutrientes de forma suficiente para não comprometer a nutrição da
cria e nem os resultados reprodutivos da próxima estação de monta
da matriz.
O objetivo a ser alcançado é ter pelo menos 80% de cios
ocorrendo nos primeiros 50 dias da estação. Quanto mais rápido
ocorrer o cio e a fertilização, mais rapidamente será a estação de
nascimento, o que melhora os índices reprodutivos da matriz, e
ainda, animais nascidos no início se desenvolvem melhor que os
nascidos mais tarde.
Depois de implantado o sistema de estação de monta, o
manejo dentro da propriedade fica facilitado, já que se padronizam
os períodos correspondentes a cada prática de manejo, além de
permitir melhor administração de rotinas como aplicação de
vermífugos, de vacinas, castração, descorna, entre outros. Com a
estação de monta em funcionamento, as categorias do rebanho
seguem um fluxo mais organizado, o que facilita a divisão de
pastagens e o trabalho dos funcionários responsáveis por cada
categoria.
Após a estação de monta haverá a confirmação ou não da
prenhes e neste momento é decidido se a matriz vazia (não
gestante) será mantida na fazenda ou descartada, pois se mantida,
este animal ficará vazio por um ano com custos de manutenção e
sem produzir nada. O descarte de fêmeas de baixa eficiência
reprodutiva é uma forma de realizar o melhoramento do rebanho,
visto que somente as vacas com habilidade reprodutiva irão produzir
descendentes.
Outra vantagem da estação de monta é a homogeneidade dos
lotes de bezerros, facilitando a utilização ou comercialização futura
dos animais. Outro aspecto relevante é que, com a concentração
dos partos em períodos menores, a observação dos mesmos e os
cuidados com os recém-nascidos são sistematizados, o que facilita
o manejo e ajuda a diminuir a mortalidade de neonatos.
 
Época da estação de monta
 
A época da estação de monta e, consequentemente da
estação de parição, é determinada em razão do melhor período para
nascimento dos bezerros e para atender a maior exigência
nutricional das matrizes. A escolha da época da estação de monta
deve levar em consideração a disponibilidade de alimento local e as
condições do sistema de produção. Portanto, é uma definição
própria, não havendo uma época que possa se considerada única e
padrão.
Normalmente, o que determina a época da estação são as
condições edafoclimáticas de cada região para a produção de
forragens. Desta forma, tendo como exemplo um esquema
reprodutivo, válido para as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte
do Brasil, onde o período chuvoso (alta produção de forragens) vai
de setembro a abril/maio, pode ser observado na Figura 2.
 
Figura 2. Esquema reprodutivo de vacas de corte,
recomendado para as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte do
Brasil. A fase da lactação está demarcada pela sombra cinza (Out –
Abr).
 
De acordo com a figura 2, na estação de monta as matrizes
estarão com uma boa condição corporal, devido ao período de
chuvas e boas pastagens, permitindo a manifestação do cio e maior
chance de concepção. Da mesma forma, o parto irá acontecer no
início do período chuvoso, coincidindo com a maior disponibilidade
de forragem, dando uma boa condição nutricional para a matriz parir
e iniciar a lactação.
As crias também serão favorecidas, pelo maior aporte de leite
e pela disponibilidade de pasto, auxiliando sua transição para o
estado de ruminante funcional. Com a desmama ocorrendo no início
da seca é ideal para a matriz reduzir seu requerimento energético
parando o aleitamento, para manter sua condição corporal nesse
período de restrição alimentar.
Não passar a seca em lactação é fator primordial para a
economicidade do processo, pois a alimentação de matrizes
comerciais no cocho dificilmente apresenta vantagem econômica,
desmamar bezerros no início da seca exige uma alimentação
suplementar para as crias, no entanto os bezerros demandam
menor quantidade diária de energia por quilo de peso quando
comparado com um animal adulto, viabilizando o retorno econômico.
Existem criadores que não seguem esse esquema, pois
alegam que como as vacas produzem muito leite durante o verão
causam diarreia nos bezerros, o que de fato pode acontecer, e
então preferem o parto na seca. Porém, é valido salientar que desta
forma a suplementação das matrizes na seca será necessária, o
que encarece o processo, mas caso a suplementação não for
realizada ocorrerá o comprometimento reprodutivo dessa fêmea na
próxima estação.
 
Preparo das matrizes para a estação de monta
 
As fêmeas destinadas à reprodução devem estar livres de
doênças infectocontagiosas e outros problemas sanitários, assim
como em boa condição corporal, para melhor desempenho
reprodutivo e qualidade da progênie. A condição corporal é um
parâmetro de avaliação mais recomendado que o peso corporal
para o manejo da vaca de cria, pois considera o acúmulo de reserva
corporal, o qual poderá ser mobilizado pelo animal durante uma fase
de maior requerimento energético, como o início da lactação, onde o
balanço energético da vaca está negativo. A condição corporal ideal
para a estação de monta é de 5 para matrizes nelores ou
aneloradas e 6 para as taurinas, numa escala de 1 a 9, de acordo
com a Figura 3.
 
Figura 3. Escore de condição corporal em gado de corte (Dias,
1991).
 
O mais comum em fazendas brasileiras são vacas e novilhas
com escore corporal abaixo do ideal, principalmente as que se
enquadram no escore 3 (magra), no pré-parto. Esses animais
necessitam ganhar peso para apresentar boa condição corporal ao
parto. Parte do aumento de peso, que normalmente se observa no
terço final da gestação e que pode atingir de até 50 kg, é resultado
do crescimento do feto, das membranas e do acúmulo de líquidos
fetais, bem como do aumento do próprio útero.
Portanto, o animal pode ter apresentado aumento de peso sem
ter melhorado a sua condição corporal ou mesmo pode ter tido
perda de ECC, o que não é interessante, considerando que o
desejado é que as vacas, principalmente as de primeira cria, voltem
a ciclar o mais rápido possível após o parto e para isso a nutrição de
qualidade é de extrema importância para ajudar este animal a
aumentar seu ECC mesmo durante a gestação.
O tempo para a matriz apresentar um novo cio fértil após o
parto é fundamental para obter um intervalo entre partos dentro dafaixa esperada de um ano. A condição corporal ao parto exerce
grande influência sobre este parâmetro. O pesquisador norte-
americano Wiltbank (1994) demonstrou que 91% das vacas que
pariram em condição corporal boa (5-7) apresentaram o primeiro cio
em até dois meses após o parto (Figura 4).
Contudo, nem sempre, em condições brasileiras a campo, este
primeiro cio pode ser aproveitado e deve-se salientar que nesta
situação dificilmente obtêm-se frequências tão altas de animais
ciclando em tão curto intervalo de tempo. Porém, mesmo em
condições tropicais e animais zebuínos o produtor ou técnico que se
basear neste estudo tem ainda mais 30 dias para que sua matriz,
que pariu em condição boa, venha a ciclar e ser fertilizada, o que o
fará atingir o objetivo desejado de um parto por ano.
 
Figura 4. Manifestação de cio aos 40, 50 e 60 dias após o
parto, em relação à condição corporal ao parto (Witbank, 1994).
 
Da mesma forma que a subalimentação pode reduzir os
índices reprodutivos, a superalimentação também pode. Fêmeas
com baixo ECC (vaca magra) podem apresentar falhas em ciclar e
conceber, elevado intervalo entre partos e crias fracas ao
nascimento, por outro lado, vacas com alto ECC (vaca gorda) têm
custo de manutenção mais elevado, têm maior chance de
ocorrência de parto distócico, dificuldade de locomoção e falhas em
ciclar e conceber.
 
Sistemas de acasalamento
 
Existem basicamente três sistemas de acasalamento em
pecuária de corte, monta em campo, monta controlada e a
inseminação artificial. Da mesma forma que um bom touro espalha
seus dotes genéticos positivos para sua prole, um touro ruim pode
comprometer toda a evolução genética planejada para a fazenda.
Portando a escolha do touro ou sêmen deve ser feita
minuciosamente, utilizando animais com potencial
comprovadamente superior, adaptado às condições climáticas da
região e com teste andrológico recente.
O sistema de acasalamento mais empregado na pecuária de
corte brasileira é a monta em campo ou monta natural. Neste, os
touros permanecem junto do rebanho de fêmeas durante toda
estação de monta ou durante o ano todo. Este sistema dispensa o
trabalho diário de identificação de animais em cio, bem como a
locomoção dos reprodutores para locais reservados, mas dificulta a
identificação de paternidade e posterior comparação de
desempenho reprodutivo e produtivo de diferentes touros.
Uma forma, laboriosa, de contornar essa situação seria formar
lotes de vacas, de 25 a 35, em piquetes separados com seus
respectivos touros, facilitando a identificação de paternidade,
manejo das crias, controle alimentar dos animais. Em relação ao
número de vacas por touro é importante também levar em conta as
dimensões das pastagens, relevo, qualidade dos pastos,
disponibilidade de água e condição corporal das fêmeas. A clássica
relação 1 touro para 25/30 vacas pode ser suficiente, ou não, quem
vai determinar essa relação será o responsável pela observação
contínua dos lotes em estação de monta.
A monta controlada é aquele sistema onde o touro é mantido
separado das fêmeas durante a estação de monta. Quando se
detecta o cio em alguma fêmea, esta é conduzida junto ao touro
onde permanece até a cobertura. Neste sistema de acasalamento é
possível a identificação da paternidade, o desgaste dos touros é
menor e em consequência disso a relação touro por vaca pode ser
maior. Entretanto, aumenta-se o trabalho em separar e conduzir os
animais para a monta.
A inseminação artificial é aquela onde as vacas são
fecundadas via sêmen conservado. Em propriedades de pecuária
extensiva este sistema tem sido pouco aceito, por ser mais
tecnificado, mais trabalhoso e exigir maior infra-estrutura na
propriedade. A utilização de rufiões auxilia na identificação do cio,
mas não se deve deixar de levar em conta a identificação visual dos
animais em cio. A principal vantagem deste método é a
possibilidade de utilização do sêmen de reprodutores de alto
potencial genético.
Com a expansão dos programas de cruzamento industrial,
para a produção do novilho precoce e a busca por melhoria no
padrão genético do gado zebuíno, a procura pela inseminação
artificial aumentou consideravelmente. No entanto, os índices de
prenhes, por dose de sêmen ainda são baixos. Esse manejo implica
na existência de instalações apropriadas para apartação e
contenção.
E ainda, existem dificuldades adicionais de apartar a vaca e
bezerro ao pé do restante do lote. A mão de obra deve ser treinada
e reciclada periodicamente. Existe ainda a opção de realizar a IA e
fazer o repasse com o touro, aumentando a chance de concepção.
Em quaisquer destes sistemas discutidos anteriormente, a sanidade
e o manejo nutricional do rebanho são primícias básicas para o seu
sucesso.
 
Gestação, parição e cuidados após o parto
 
Terminada a estação de monta, aguarda-se de 25 a 45 dias
para a realização do diagnóstico de prenhes, por ultrassom ou toque
ginecológico. Confirmada a prenhes, as vacas gestantes (com
bezerro ao pé) são levadas para o pasto, onde permanecerão até a
parição (9 meses de duração), no entanto nesse intervalo (prenhes
→ parição) ocorrerá a apartação e desmama de suas crias. Novilhas
prenhes (sem bezerro ao pé) deverão ser manejadas em área
distinta das vacas e observadas com maior frequência para
supervisão da primeira gestação.
Uma vez confirmada a ausência de prenhes, as vacas são
consideradas vazias e por isso são candidatas ao descarte, de
acordo com os parâmetros de seleção pré-determinados no
planejamento econômico da fazenda. O primeiro critério para
seleção de fêmeas de um rebanho comercial é a fertilidade, mas
isso pode ser alterado por causa das condições nutricionais da
propriedade, do clima local e ou de outros fatores não controláveis.
 Devido aos fatores econômicos de administração de uma
propriedade pecuária, dificilmente uma fêmea vazia permanecerá
um ano, improdutiva na fazenda.
As fêmeas mais próximas do parto devem ser conduzidas aos
chamados pastos de maternidade, os quais devem ser constituídos,
preferencialmente, por áreas de pastagem mais baixa e densa, bem
drenada, com água limpa e se possível com sombra. As vacas
devem entrar na maternidade cerca de 30 a 15 dias antes do parto e
sair 15 dias após o nascimento dá cria.
Dois pontos importantes devem ser observados neste
momento, o primeiro diz respeito ao cuidado que se deve ter com as
matrizes com objetivo de evitar abortos. Neste sentido, a mão-de-
obra deve ser treinada e conscientizada a trabalhar com os animais
com o mínimo de estresse possível. O manejo no qual se agridem
os animais para que os mesmos obedeçam aos comandos dos
vaqueiros deve ficar no passado, o bem estar animal além de
correto, melhora o desempenho produtivo.
O segundo ponto a ser observado é a importância da
escrituração zootécnica, de modo que se tenha em mãos a tabela
de datas prováveis de partos da vacada, para então, fazer a
condução dos animais para o piquete de maternidade na data
correta. Desta forma consegue-se organizar os lotes de vacas em
função da data provável de parto e também da ordem de parto.
Outra recomendação importante com relação aos pastos
maternidade é a localização, os mesmos devem ser de fácil
acesso, preferencialmente, devem estar localizados próximo do
centro de manejo (curral). A vaca no momento do parto tende a se
afastar do rebanho para uma parição tranquila. Em um rebanho de
gado de corte comercial, raramente ocorre intervenção humana no
parto e, por isso, é importante a escolha correta da raça e
características do touro a ser utilizado, para evitar raças que
produzem bezerros muito grandes em matrizes pequenas.
As maiores perdas ocorrem após o parto, por isso o manejo
correto da matriz e do bezerro irá garantir a sobrevivência e o
desenvolvimento da cria e a reconcepção da matriz. Quando o
bezerro cai no chão, a vaca deve lamber vigorosamente a cria, para
retirar restos placentários do focinho e narinas, e ativar a circulação
do recém-nascido.
Logo após o parto é importante garantir que a mãe e a cria
passemum tempo sem interferência externa, para ocorrer o contato
visual, olfativo e auditivo. Algum momento depois, o bezerro procura
o úbere da mãe para realizar a primeira mamada, que é o colostro,
dando início ao processo de transmissão de imunidade.
A absorção de colostro pelos enterócitos do bezerro é
decrescente à medida que se passam as horas após o nascimento.
O recomendado é que a primeira ingestão de colostro seja o mais
rápido possível, nas primeiras 2 a 6 horas de vida, pois a molécula
gamaglobulina presente nas primeiras secreções da glândula
mamária é absorvida intacta nessas primeiras horas, conferindo
assim imunidade ao organismo animal.
Com o avançar do tempo, a mucosa intestinal do neonato
começa a perder os receptores da gamaglobulina, absorvendo cada
vez menos e então as imunoglobulinas do colostro passão a ser
digeridas como alimento, tendo ação nutricional e não imunizante.
É preciso se assegurar que o responsável pelo gado na
maternidade observe os bezerros que apresentam sinais de que não
consumiram colostro rapidamente, tais como animais que demoram
em se levantar ou bezerros com fraqueza ou debilidade. Nesta
situação é necessário que o materneiro intervenha, sendo o
procedimento mais comum conduzir a vaca ao curral, colocá-la no
tronco de contenção e colocar o bezerro para mamar. Este tipo do
manejo exige grande perícia, pois se for mal executado pode levar a
vaca a rejeitar seu bezerro.
Caso ocorra a rejeição é necessário o oferecimento de
colostros via mamadeira, oriundo de um banco de colostro
previamente armazenado. É importante que o colostro originário do
banco seja formado por um pool de colostros de várias vacas, tenha
no máximo um ano de coletado.
Várias podem ser as causas do não consumo inicial do
colostro, como advinda de partos distócicos (que esgotam o bezerro
e estressam a vaca), baixa condição corporal da vaca ao parto,
vacas com baixa habilidade materna, entre outros. Na situação em
que o problema adveio da matriz, esta deve ser descartada do
rebanho e o bezerro introduzido a uma vaca de leite.
Com o rompimento do cordão umbilical, fica uma membrana
residual de aproximadamente 10 a 20 centímetros, e esse material
esta sujeito à infecção e por isso deve-se fazer a cura do umbigo. A
inflamação do umbigo pode evoluir e provocar hepatite, peritonite ou
abscesso no fígado, devido a ligação entre esse órgão e o umbigo.
E ainda, se o umbigo não for desinfetado pode atrair moscas que
depositam ovos, causando miíases (bicheira).
A desinfecção do umbigo deve fazer parte do manejo da cria,
podendo a membrana umbilical ser cortada ou não, ficando com,
aproximadamente, 5 centímetro de comprimento. Após o corte,
deve-se passar uma solução de iodo a 10% ou produto similar, para
realizar a desinfecção, secagem e cicatrização do orifício.
O Centro Nacional de Pesquisa em Gado de Corte da
EMBRAPA, recomenda que em fazendas com estação de
nascimento bastante curta, e um grande número de bezerros,
aplica-se 1 ml de vermífugo, à base de Ivermectina, para 50 Kg de
peso vivo pela via subcutânea, para evitar bicheiras por um período
maior, facilitando assim o manejo.
Esses cuidados iniciais, associados ao peso de desmama do
bezerro, irão determinar o outro quesito de seleção, ou seja, a
habilidade da matriz em produzir bons bezerros. Mães
desinteressadas em suas crias, com limitações anatômicas que
dificultam a mamada e com baixa produção de leite, desmamarão
bezerros leves, devendo ser eliminadas do plantel. Em até 15 dias o
bezerro deverá está firme e acompanhando a mãe facilmente, com
isso poderão se encaminhados ao pasto de cria, onde
permanecerão até a desmama.
 
Suplementação de bezerros (creep feeding)
 
Creep feeding pode ser definido como a prática de administrar
alimento suplementar (concentrado proteico-energético) a bezerros
antes do desmame. O suplemento deve ser fornecido de forma que
os animais adultos não o consumam, por isso é um sistema de
cochos cercado por cerca baixa, onde os animais maiores não
conseguem passar. Com a utilização do creep feeding é possível
aumentar os ganhos de peso antes do desmame e peso ao
desmame, além da redução da mortalidade de bezerros nesta fase.
Este maior peso se dá porque nesse período ocorre o máximo
crescimento muscular e ainda o crescimento ósseo. No creep
feeding, a alimentação deve ser realizada utilizando conceito sobre
efeitos associativos entre os alimentos concentrados. Considerando
que durante a alimentação, os bezerros ainda não estão com seu
rúmen plenamente desenvolvido, os grãos de cereais,
principalmente o milho, devem ser pouco processados, passando
somente por uma moagem grosseira para evitar a acidose ruminal
devido à rápida digestibilidade do grão farelado.
Os fatores que afetam as respostas à suplementação são a
quantidade e a qualidade do pasto, a produção de leite das mães, o
potencial genético de crescimento dos bezerros, raça, o sexo, a
idade dos bezerros no desmame, o tempo de administração e o tipo
de suplemento. O creep feeding pode suprir o requerimento não
atendido pela amamentação e pelo pasto em casos de baixa
produção de leite das vacas e baixa qualidade e disponibilidade de
pasto, mas onde o leite materno e o pasto atendem ao requerimento
energético do bezerro, o creep feeding entra como fator associativo
e o animal ganha mais peso e numa velocidade maior.
Existe ainda o efeito substitutivo que pode ser usado para
aumentar a taxa de lotação do pasto. Quando os bezerros estão
recebendo suplementação tendem a substituir o consumo de
forragem pelo do suplemento. Estima-se que para cada kg de
suplemento consumido sobrará de 0,5 a 1,0 kg de MS de forragem
no pasto. Desta forma é possível aumentar o numero de cabeças no
rebanho sem precisar aumentar a área de pasto. Uma vez que o
suplemento tenha maior valor energético que a forragem, a
substituição da forragem pelo suplemento resultará num aumento no
consumo de energia e consequentemente, aumento no ganho de
peso pelo bezerro.
Outra vantagem da suplementação de bezerros durante a
amamentação é a adaptação adquirida pelo consumo de alimentos
concentrado, condicionando os mesmo para entrar no confinamento
logo após a desmama sem apresentar problemas de acidose por
falta de adaptação à alimentos de alta fermentabilidade. Se o
bezerro têm acesso a suplementos antes da desmama, ele se
acostumará a consumir mais grãos e também será menos
dependente do leite da vaca, poupando a mãe. Bezerros que estão
no sistema de creep feeding sofrem menos estresse na desmama e
se apresentam menos susceptíveis a problemas de saúde.
No entanto, o consumo excessivo de ração pode comprometer
a composição de ganho no bezerro, pois ocorre o acumulo de
gordura em detrimento do tecido muscular, comprometendo o
desenvolvimento estrutural do animal, reduzindo a eficiência da
suplementação. A baixa eficiência de bezerros de creep feeding em
confinamento depende se o suplemento promoveu crescimento
muscular e esquelético ao invés de gordura.
Se os bezerros depositaram muita gordura durante o creep
feeding, seu desempenho no confinamento será menor, pois o
ganho será direcionado ao acumulo de gordura na carcaça. O
controle do consumo pode ser feito pelo aumento de sal branco na
dieta, pois a necessidade de beber água irá impedir a alta ingestão
de alimento de uma só vez.
Novilhas de reposição que chegam ao desmame muito gordas,
podem apresentar desempenho ruim quando vacas. A gordura
substitui tecido glandular no úbere prejudicando a produção leiteira,
afetando sua prole. As novilhas devem ser alimentadas para atingir
maturidade sexual entre 12 e 15 meses e em creep feeding elas
devem ser alimentadas apenas para promover crescimento
esquelético e muscular, o que não afetaria seu desenvolvimento
reprodutivo. E ainda, para a criação de fêmeas para a reprodução a
suplementação só se torna necessária em casos de escassez de
pasto ou baixa oferta de leite.
Para auxiliar no processo de decisão, Oliveira et al. (2006)
listou uma série de pontos para indicar quandoutilizar e quando não
utilizar o creep feeding e ainda as vantagens e desvantagens dessa
tecnologia.
 
Quando usar o creep feeding
 
Durante períodos de seca, quando os pastos são pobres e a
produção de leite é baixa;
Programa de manejo de forragem a fim de diminuir a intensidade
de pastejo;
Para aumentar a taxa de lotação por área, aumentando a
disponibilidade de pasto;
Como parte de um programa de pré-condicionamento, creep
feeding durante 3 a 4 semanas antes do desmame, auxiliando no
processo de adaptação do bezerro ao consumo de alimentos
secos;
Quando o preço do bezerro desmamado está alto e dos grãos
baixo;
Quando bezerros são abatidos logo após o desmame;
Mantença de altos índices de fertilidade das matrizes;
Produção de animais superprecoces e precoces;
Produção de animais puros de origem (PA);
Produção de bezerros em sistemas integrados, nos quais o
mercado varejista realiza a compra direta e existe preço
diferenciado pelo produto;
Melhoria dos índices reprodutivos de primíparas.
 
Quando não usar o creep feeding
 
Quando o potencial leiteiro das vacas matrizes é alto;
Quando a pastagem se apresenta com alta qualidade e em
abundância;
Quando o preço do suplemento está alto em relação ao preço do
bezerro;
Quando os animais não apresentam potencial genético para
responder ao aumento de nutrientes;
Quando o nível tecnológico da propriedade não comportar essa
tecnologia (estrutura física, mão de obra).
 
Vantagens do creep feeding
 
Aumentos de peso a desmama;
Menor intensidade de uso da pastagem, com menor
possibilidade de ocorrer superpastejo;
Adaptar os animais para o confinamento após o desmame;
Desenvolvimento uniforme do lote de bezerros;
Diminuir o estresse da desmama;
Aumento da taxa de prenhes, principalmente de primíparas;
Redução da mortalidade de bezerros;
Redução da idade ao abate;
Redução da idade a primeira cobertura;
Redução do ciclo de produção;
Aumento do giro de capital na propriedade.
 
Desvantagens do creep feeding
 
Pode haver subutilização da forragem por concentrado;
Podem ocorrer variações com consumo;
Pasto ao redor do cocho superpastejado, se não mover o cocho
constantemente;
Mascara a determinação de habilidade materna;
Aumento do custo de produção;
Necessidade de capital para investimento;
Mão de obra qualificada para acompanhar o consumo
recomendado;
Maior exigência de maquinários e insumos.
 
Existe ainda outra modalidade de suplementação de bezerros,
conhecida com creep grazing. Técnica pouco utilizada no Brasil,
sendo uma estratégia de manejo que proporciona uma pastagem
exclusiva para os bezerros. Consiste basicamente em uma área de
pasto reservada para bezerros, podendo utilizar o pastejo
rotacionado, onde os bezerros teriam a possibilidade de acessar o
pasto antes da vaca ou um piquete especifico para eles. São
recomendadas espécies forrageiras com alto valor nutritivo, como
Tifton 85, Coast-cross (Cynodon sp.), Massai (Panicum maximum),
amendoim forrageiro, alfafa, entre outros. A ideia a mesma do creep
feeding, porém, ao inves de concentrado, será ofertado um pasto de
qualidade.
 
Desmama
 
Caracterizada pela separação definitiva da cria de sua mãe,
tem como objetivo principal a interrupção da amamentação, de
modo a estimular o desenvolvimento ruminal dos bezerros e eliminar
o estresse da lactação das fêmeas. Com isso, após a interrupção da
lactação as exigências nutricionais das fêmeas são bastante
reduzidas.
Existem duas opções principais quanto à idade de desmama,
dependendo da estratégia comercial da fazenda pode-se optar pela
desmama precoce, onde se prioriza o desempenho reprodutivo da
matriz ou ainda ou pela desmama tradicional, onde o bezerro é o
foco da produção.
Os resultados observados para os parâmetros reprodutivos
das vacas têm demonstrado que não basta o desmame ser
realizado precocemente, mas este deve estar aliado a uma condição
corporal adequada na estação de monta e boas condições
nutricionais para suportar a próxima concepção, entretanto têm sido
observados aumentos expressivos nas taxas de prenhes das vacas,
quando os bezerros são desmamados precocemente.
Os resultados para os bezerros tem demonstrado que muitas
vezes estes animais sofrem estresse nutricional e acabam tendo o
seu desempenho prejudicado e, para que estes animais possam
desenvolver-se adequadamente dietas com elevados planos
nutricionais devem ser empregadas.
 
Desmama Tradicional
 
A desmana tradicional ocorre quando os bezerros têm entre 6
e 8 meses de vida, idade em que já podem ser considerados
ruminantes, tendo plena condição de utilizar forragens sólidas como
única fonte de alimento. No caso da desmama tradicional sem
suplementação, o bezerro perde o leite subitamente e é obrigado a
suprir todas as suas necessidades nutricionais ingerindo somente
pasto.
Na escolha pela desmama tradicional, deve se levar em conta
seu baixo custo, bem como maior facilidade de manejo, e menor
estresse dos animais (os bezerros, na idade de 6 a 8 meses já são
ruminantes, ou seja, já fazem uso de forrageiras em sua
alimentação, mesmo antes de serem separados das mães).
Após a separação, os bezerros ficarão presos no curral por
dois a três dias, com acesso à água, ração e capim fresco. Nesta
ocasião, serão pesados e marcados com o carimbo do ano no lado
direito da cara, e a marca da fazenda na perna esquerda. As fêmeas
serão vacinadas contra a brucelose, e marcadas com um "V" mais o
último dígito do ano da vacinação, no lado esquerdo da cara.
Juntamente, deverá ser realizado o controle de ecto e de
endoparasitos, seguindo um rígido manejo sanitário, que deve ser
definido pelo calendário sanitário da região.
Deve-se evitar ao máximo, nos primeiros dias após a
separação, distúrbios, transporte e comercialização dos animais
recém-desmamados, tomando assim, precauções para manter o
estresse a um nível mínimo durante o processo de desmama,
permitindo que os bezerros se recuperem com mais rapidez.
Após a separação, os bezerros serão levados para um pasto
de boa qualidade, afastados das mães. Para amenizar o estresse da
separação, pode-se colocar animais adultos (madrinhas) junto aos
recém-desmamados, para acalmá-los. Os recém-desmamados
devem ser checados com frequência, e os doentes removidos
imediatamente do piquete para uma área de isolamento e
devidamente tratados.
Em propriedades contendo somente raças zebuínas, os lotes
de desmama poderão ser mistos, machos e fêmeas juntos, podendo
permanecer assim até atingirem 12 meses de idade, quando
deverão ser separados. No caso de raças europeias, ou de produtos
de cruzamentos com raças taurinas, já na desmama devem ser
separados, devido a maior precocidade sexual desses animais,
evitando a prenhes em fêmeas de baixo desenvolvimento, ainda não
capazes de desenvolver uma gestação sem prejudicar seu
crescimento.
 
Desmama Precoce
 
Para realizar a desmama precoce, os bezerros devem estar
pesando mais de 90 kg, o que normalmente ocorre entre 90 e 120
dias de vida. É necessário que os animais já estejam adaptados ao
creep feeding, pois juntamente com o pasto serão seus únicos
alimentos. O consumo de ração, bem como de suplemento mineral,
nesta fase, será muito baixo, mas terá por finalidade preparar o
bezerro para o desmame. Deve-se considerar que este tipo de
desmama é utilizado visando uma recuperação corporal mais rápida
das mães, fazendo com que manifestem cio mais facilmente.
A desmama precoce é uma boa opção quando se trata de
novilhas de primeira cria, cujo desenvolvimento ainda é incompleto
na ocasião de sua primeira parição, e com as exigências de
crescimento, gestação e posteriormente com a manutenção de sua
cria, encontram-se em estado corporal inadequado para
manifestarem cio normalmente durante a estação. Caso as vacas
primíparas, não receberem os cuidados necessários, poderão entrar
na estação de reprodução sem condições de manifestarem cio
naturalmente.
Com a redução da idade a desmama de seis para três meses,
Gonçalves et al. (1981) observaram que, tanto as percentagens de
manifestação do cio

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