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HISTORIOGRAFIA E TEORIA DA HISTÓRIA CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD Historiografia e Teoria da História – Profa. Dra. Renata Cardoso Belleboni Rodrigues Olá! Sou Renata Cardoso Belleboni Rodrigues, graduada em História (Licenciatura e Bacharelado) pela UNESP de Franca (1993-1996), mestre em História Social do Trabalho pelo IFCH – Unicamp (1998-2001) e doutora em História Cultural pelo IFCH – Unicamp (2001-2005). E-mail: re.medusa@gmail.com Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação HISTORIOGRAFIA E TEORIA DA HISTÓRIA Renata Cardoso Belleboni Rodrigues Batatais Claretiano 2013 Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação © Ação Educacional Clare ana, 2010 – Batatais (SP) Versão: dez./2013 907.2 C84h Rodrigues, Renata Cardoso Belleboni Historiografia e teoria da história / Renata Cardoso Belleboni Rodrigues – Batatais, SP : Claretiano, 2013. 174 p. ISBN: 978-85-8377-071-8 1. O processo de mudanças nos paradigmas epistemológicos da historiografia: alterações após a incorporação de novos temas, novos métodos e novas linguagens pelos historiadores. 2. Vertentes teóricas do conhecimento histórico pós-moderno: séculos XX e XXI. 3. A História enquanto narrativa. 4. A História enquanto discurso. 5. A História enquanto literatura e ficção. 6. História e Representação. I. Historiografia e teoria da história. CDD 907.2 Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional Coordenador de Material Didá co Mediacional: J. Alves Preparação Aline de Fátima Guedes Camila Maria Nardi Matos Carolina de Andrade Baviera Cá a Aparecida Ribeiro Dandara Louise Vieira Matavelli Elaine Aparecida de Lima Moraes Josiane Marchiori Mar ns Lidiane Maria Magalini Luciana A. Mani Adami Luciana dos Santos Sançana de Melo Luis Henrique de Souza Patrícia Alves Veronez Montera Rita Cristina Bartolomeu Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Simone Rodrigues de Oliveira Bibliotecária Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Revisão Cecília Beatriz Alves Teixeira Felipe Aleixo Filipi Andrade de Deus Silveira Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz Rodrigo Ferreira Daverni Sônia Galindo Melo Talita Cristina Bartolomeu Vanessa Vergani Machado Projeto gráfico, diagramação e capa Eduardo de Oliveira Azevedo Joice Cristina Micai Lúcia Maria de Sousa Ferrão Luis Antônio Guimarães Toloi Raphael Fantacini de Oliveira Tamires Botta Murakami de Souza Wagner Segato dos Santos Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana. Claretiano - Centro Universitário Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000 cead@claretiano.edu.br Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006 www.claretianobt.com.br SUMÁRIO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9 2 ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO .......................................................................... 11 UNIDADE 1 HISTORIOGRAFIA, TEORIA DA HISTÓRIA E RETROSPECTIVA HISTORIOGRÁFICA 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 29 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 29 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 29 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 35 5 O QUE É HISTORIOGRAFIA? ............................................................................. 36 6 A HISTORIOGRAFIA NA ANTIGUIDADE .......................................................... 39 7 A HISTORIOGRAFIA NO MEDIEVO .................................................................. 42 8 A HISTORIOGRAFIA NOS SÉCULOS 18 E 19 ..................................................... 43 9 O SÉCULO 20 E OS ANNALES ........................................................................... 44 10 A NOVA HISTÓRIA ............................................................................................ 45 11 TEXTO COMPLEMENTAR ................................................................................. 47 12 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 54 13 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 55 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 57 UNIDADE 2 O PÓS MODERNISMO: REAÇÃO E CONTRARREAÇÃO 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 59 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 59 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 59 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 63 5 A CRISE DOS PARADIGMAS HISTORIOGRÁFICOS .......................................... 64 6 A MICRO HISTÓRIA .......................................................................................... 67 7 A NOVA HISTÓRIA CULTURAL .......................................................................... 69 8 TEXTO COMPLEMENTAR ................................................................................. 72 9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 79 10 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 79 11 E REFERÊNCIAS ................................................................................................ 80 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 80 UNIDADE 3 HISTÓRIA: DISCURSO, PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 83 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 83 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 83 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 85 5 HISTÓRIA E DISCURSO ..................................................................................... 86 6 HISTÓRIA: PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES ..................................................... 89 7 TEXTO COMPLEMENTAR ................................................................................. 99 8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 106 9 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 107 10 E REFERÊNCIAS ................................................................................................ 108 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 108 UNIDADE 4 O EFEITO FOUCAULT NA HISTORIOGRAFIA 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 111 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 111 3 SUGESTÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ...................................................111 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 116 5 DESPEDINDO DO PASSADO ............................................................................. 117 6 ARQUEOLOGIA DO SABER, EPISTEME E DESCONTINUIDADE ...................... 118 7 MICROFÍSICA DO PODER ................................................................................. 120 8 OBRAS ............................................................................................................... 121 9 AS CRÍTICAS A MICHEL FOUCAULT ................................................................. 122 10 TEXTO COMPLEMENTAR .................................................................................. 123 11 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 130 12 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 131 13 E REFERÊNCIA .................................................................................................. 131 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 132 UNIDADE 5 HISTÓRIA, NARRATIVA E FICÇÃO 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 133 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 133 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 134 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 137 5 A QUESTÃO DA NARRATIVA ............................................................................. 137 6 HAYDEN WHITE: HISTÓRIA E FICÇÃO ............................................................. 139 7 TEXTO COMPLEMENTAR ................................................................................. 142 8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 155 9 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 155 10 E REFERÊNCIAS ................................................................................................ 156 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 157 UNIDADE 6 PÓS MODERNISMO: PARADIGMAS E CRISE 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 159 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 159 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 159 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 160 5 CARACTERÍSTICAS DA HISTÓRIA PÓS MODERNA ......................................... 160 6 CRÍTICAS À HISTÓRIA PÓS MODERNA .......................................................... 162 7 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 163 8 TEXTO COMPLEMENTAR .................................................................................. 164 9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 171 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 172 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 173 Claretiano - Centro Universitário EA D CRC Caderno de Referência de Conteúdo Ementa ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O processo de mudanças nos paradigmas epistemológicos da historiografi a: alte- rações após a incorporação de novos temas, novos métodos e novas linguagens pelos historiadores; vertentes teóricas do conhecimento histórico pós-moderno: séculos 20 e 21; a História enquanto narrativa; a História enquanto discurso; a História enquanto literatura e fi cção; História e Representação. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 1. INTRODUÇÃO Seja bem-vindo ao estudo de Historiografia e Teoria da His- tória! Nos Cadernos de Referência de Conteúdos Metodologia da História I e II, você foi apresentado a algumas correntes historiográ- ficas, cuja última representante estudada foi a Escola dos Annales. No entanto, você igualmente foi iniciado nas discussões pós-mo- dernas. O intuito deste novo Caderno de Referência de Conteúdo é aprofundar seus conhecimentos sobre as mudanças nos paradigmas da História ocorridos no contexto da Nova História Cultural. © Historiografi a e Teoria da História 10 Muitos autores não foram selecionados para este nosso es- tudo. São contribuições importantes que ficaram de fora do pa- norama desenhado no decorrer das unidades. Porém, a despeito dessas não escolhas, os conceitos, debates e estudiosos selecio- nados para representar o período denominado pós-modernismo exemplificam de forma muito pontuada as reflexões presentes nos principais centros acadêmicos nacionais e estrangeiros Como você poderá observar no decorrer do Caderno de Re- ferência de Conteúdo, estudaremos temáticas essencialmente de- batidas após as décadas de 1960/1970 em seis unidades. Na primeira unidade iremos rever os conceitos de teoria e historiografia e fazer uma retrospectiva historiográfica para con- textualizá-lo nos novos debates. É importante ressaltar, desde já, que se deverá ter em mente que as teorias dão forma à historio- grafia. Em outras palavras, quando ocorre a historiografia ou a escrita da história, o texto produzido é veículo da teoria utilizada pelo estudioso. Desse modo, os conceitos de teoria e historiografia devem ser entendidos como inter-relacionados. Na unidade seguinte, veremos o contexto da crise nos tra- dicionais paradigmas historiográficos e as propostas da Micro- -História e da Nova História Cultural. No que diz respeito à Micro- -História, é sempre importante evidenciar que um de seus maiores representantes é o historiador Carlo Ginzburg e que a proposta dessa diretriz não é apresentar análises que consideram grandes contextos, mas, ao contrário, o que interessa é a especificidade. Esse elemento é bem visto pela Nova História Cultural, uma vez que proporciona a viabilização de pesquisas que consideram ca- racterísticas culturais particulares. Roger Chartier, Michel de Certeau e suas contribuições serão analisados na terceira unidade. Conceitos como prática e represen- tação serão vistos, analisados e considerados essenciais no percur- so das mudanças dos paradigmas historiográficos pós-modernos. Claretiano - Centro Universitário 11© Caderno de Referência de Conteúdo Na Unidade 4, o foco será Michel Foucault e sua produção historiográfica. Muito provavelmente, no momento em que esti- ver cursando este Caderno de Referência de Conteúdo, esse autor já será um velho conhecido. Suas contribuições para o estudo da História colocaram-no no centro de diversas discussões nas mais diferentes temáticas estudadas no curso. Ele contribuiu não só com conceitos como o de micropoder ou apropriação, como tam- bém com o modo que a História deve ser vista pelo historiador. Na quinta unidade, Hayden White e a discussão em torno da relação entre a História e a ficção será o tema de debate. Algumas perguntas direcionarão o conteúdo da unidade: História é ficção? História é Literatura? Se a escrita da História pode ser compreendi- da como uma narrativa, o que os estudiosos apresentam é História ou são relatos verossímeis? A despeito das inúmeras críticas dire- cionadas a White e à sua teoria, essa é uma discussão que ainda permanece atual. Por fim, na Unidade 6, você verá um breve balanço sobre os conteúdos aprendidos e as críticas ao pós-modernismo. A Nova História Cultural, nesse contexto pós-moderno,peca pelo relativis- mo exagerado? Incorre nos mesmos erros que outras teorias que davam ênfase demasiada a apenas um setor da sociedade como a política, a economia? Se a ênfase é no cultural, não perdemos com a ausência do político, por exemplo? Com esta breve apresentação, podemos dar continuidade ao estudo deste Caderno de Referência de Conteúdo. Bons estudos! 2. ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO Abordagem Geral Segue uma abordagem geral do Caderno de Referência de Conteúdo Historiografia e Teoria da História. Com essa abordagem © Historiografi a e Teoria da História 12 será possível que você inicie seus estudos tendo um panorama ge- ral do que será discutido no decorrer deste livro-texto. Pronto para mais uma etapa de aprimoramento de seus co- nhecimentos históricos? Então, vamos juntos construir e recons- truir alguns conceitos. Vamos com Mnemosine caminhar por te- mas já visitados e adentrar em algumas discussões novas. Você está sendo apresentado ao Caderno de Referência de Conteúdo Historiografia e Teoria da História, que tem como objeti- vo apresentar o processo de mudanças ocorridas nos paradigmas epistemológicos da historiografia – mais especificamente, aque- las alterações que tiveram início após a incorporação de novos te- mas, novos métodos e novas linguagens pelos historiadores, em especial por aqueles da Escola dos Annales. Nessa etapa, você terá acesso às vertentes teóricas do conhecimento histórico pós-mo- derno: final do século 20 e início do 21. Terá a oportunidade de aferir os diferentes conceitos de História que foram trabalhados e discutidos nesse período: História enquanto narrativa; História enquanto discurso; História enquanto literatura e ficção e História e Representação. Bem, desde o início deste curso você tem lido, com certa frequência, expressões como “historiografia”, “pesquisas histo- riográficas”, “abordagens historiográficas; elas lhe são familiares, não? Se já não se tornaram lugar comum, irão se tornar nesta reta final e no decorrer das pesquisas que você realizará após o fim da Graduação, pois lembre-se: um professor de História deve ser um pesquisador bem informado, em constante atualização, que esteja “por dentro” das discussões que ocorrem no meio acadêmico na- cional ou estrangeiro. Mas você aprendeu os significados desses termos? Saberia identificar e explicar os diferentes conceitos de História e os tipos de historiografia existentes? Este Caderno de Referência de Conteúdo irá auxiliá-lo nessa tarefa. Outros suportes a que poderá recorrer para rever conceitos e teorias são os dos Cadernos de Referência de Conteúdos Meto- Claretiano - Centro Universitário 13© Caderno de Referência de Conteúdo dologia da História I e II quando entrou em contato com as dis- cussões historiográficas acerca das teorias da História a partir de Heródoto até os pós-modernos – esses últimos vistos brevemente. Ao rememorar, ficará mais fácil entender os debates sobre as mu- danças nos paradigmas da História que vêm ocorrendo nas últimas décadas. Iniciemos, assim, com o conceito de Teoria. “Teoria”, vocá- bulo de origem grega, pode ser entendida como o conjunto de princípios fundamentais de uma ciência. Desse modo, Teoria da História seria o conjunto de princípios fundamentais da História. Cada vez que lemos um livro escrito por um historiador, estamos entrando em contato com a sua teoria: seu conceito de História, seu conjunto de fontes, seus questionamentos específicos. Para cada teoria, a História é entendida de uma forma e os questiona- mentos são diferentes. As fontes até podem ser as mesmas, mas receberão tratamento distinto. Vamos a dois exemplos? Na teoria positivista, de modo bem resumido, a História é algo dado. As fontes não devem ser interpretadas, pois dizem exa- tamente o que ocorreu. As fontes falam por si. Mas se a História é vista como discurso, como no caso da teoria da Nova História Cultural, não podemos dizer que os fatos são dados, mas, sim, construídos de acordo com a interpretação, com o discurso do his- toriador. A verdade deixa de ser objetiva e entra no campo do re- lativismo, ora visto como uma possibilidade, ora como um grande problema. No entanto, alguns leem Teoria como “historiografia”, como “debate historiográfico”, e muitos outros, como “metodologia”. Igualmente, é entendida como qualquer atividade reflexiva do his- toriador. Desse modo, os conceitos de historiografia e teoria da História justapõem-se. A historiografia, enquanto escrita da Histó- ria, apresenta-nos concepções diferenciadas do passado de acordo com as teorias norteadoras do ofício do historiador. Em resumo, © Historiografi a e Teoria da História 14 para escrever a história, é preciso estar vinculado a uma teoria. De acordo com esta, teremos uma determinada visão dos fatos. E quanto à historiografia? Podemos afirmar que seu concei- to se resume à “escrita da História”? Não. Ela igualmente pode ser definida como a melhor vacina contra a ingenuidade ou como a história do discurso – um discurso escrito e que se afirma verda- deiro – que os homens têm sustentado sobre seu passado. É que a historiografia é o melhor testemunho que podemos ter sobre as culturas desaparecidas, inclusive sobre a nossa. Segundo Blanke, há 10 tipos de historiografia: Quadro 1 Os tipos de História da historiografia. Os tipos de História da historiografia 1) História dos historiadores São aquelas pesquisas que abordam a vida e a obra de um historiador. 2) História das obras Pesquisas sobre um gênero literário (qual o estilo literário da obra). 3) Balanço geral Que classificam os historiadores em campos específicos. 4) História da disciplina Sobre conferências e trabalhos de instituições históricas. 5) História dos métodos Pesquisa sobre os métodos históricos. 6 )História das ideias históricas Acerca das tendências da história intelectual. 7) História dos problemas Pesquisa sobre a história das sub- disciplinas (Antiga, Medieval etc.), da relação entre a História e outras Ciências Sociais etc. 8) História das funções do pensamento histórico Pesquisa a respeito das funções sociais da historiografia. 9) História social dos historiadores Sobre a historiografia como história social. 10) História da historiografia teoricamente orientada Pesquisa sobre o desenvolvimento da disciplina no interior de sua reflexão metateórica. Fonte: Blanke in MALERBA, 2006. Claretiano - Centro Universitário 15© Caderno de Referência de Conteúdo Ainda segundo esse autor, a historiografia teria três funções: Quadro 2 As funções da História da historiografia. As funções da História da historiografia 1 – Função afirmativa Afirmar uma ideologia oficial 2 – Função crítica Críticas aos princípios ideológicos, visões de mundo, modelos tradicionais etc. 3 – Função exemplar Oferecer material para a reflexão teórica (servir de exemplo) Fonte: BLANKE in MALERBA, 2006 Vistos os tipos e as funções da historiografia, vejamos um breve histórico desta no decorrer do tempo. Da Antiguidade, po- demos tomar dois exemplos. O primeiro, Heródoto, para quem o ouvir e ver, para depois escrever, era essencial. Heródoto procurou registrar a tradição, feitos e fatos que, em seu entendimento, não deviam ser esquecidos. A lembrança e o conhecimento do passado eram utilizados como forma de reforçar a identidade dos helenos. Em sua escrita, utilizou-se do termo “logos” no sentido de “relato”, “conhecimento”, “razão”. Quanto a Tucídides, tomemos as palavras de Marcel Detien- ne (1998, p. 105) para compreendê-lo: “O ouvido é infiel e a boca é sua cúmplice. Frágil, a memória é igualmente enganadora: ela seleciona, interpreta, reconstrói”. Diferentemente de Heródoto, Tucídides preocupou-se com as causas imediatas. Atentou-se para o presente, narrou o que viu, acreditava no que estava diante dos olhos. O passado, para ele, mostrava-se como boatos: fulano disse que ouviu de sicrano o ocorrido com beltrano na terra de alguém. Para o autor de Guerra doPeloponeso, memória sem provas não é História. No que se refere à historiografia do medievo, esta estava in- trinsecamente ligada ao Cristianismo. Basta lembrar, com o auxílio dos Cadernos de Referência de Conteúdos História Medieval I e II, que, durante muito tempo, a Igreja foi a detentora do saber. Nesse período, os homens, suas obras e os acontecimentos só ganhavam © Historiografi a e Teoria da História 16 importância se vistos como resultados dos desígnios divinos. Já a historiografia dos séculos 13 e 19 foi resultado do avanço do Ilumi- nismo, do surgimento da Filologia, do conhecimento mais objetivo do passado com o início do positivismo historiográfico com Leo- pold Von Ranke, por exemplo, com o lançamento da Revue Histo- rique (1876) e o surgimento da Escola Metódica, preocupada com a escrita da história nacional e o estabelecimento da identidade da nação. E, por fim, e não menos importante, com as reflexões realizadas por Karl Marx e a sua concepção dialética da História. A historiografia do século 20, em terreno francês, tem suas bases transformadas com as mudanças propostas pela Escola dos Annales, que objetivou suprir a tradicional narrativa de aconte- cimentos por uma história-problema, bem como deixar de fazer apenas a história política para abordar a história de todas as ativi- dades humanas e, por fim, estabelecer uma relação profícua com outras disciplinas das Ciências Sociais, como a Antropologia, a So- ciologia, a Geografia etc. Com essa nova proposta, as massas anô- nimas e os seus modos de viver, sentir e pensar foram analisados no contexto da interdisciplinaridade. Acerca da Escola dos Annales, podemos distingui-la em três fases. Aquela que nos interessa, neste momento, pelas reflexões que levantou, foi a 3ª fase, que teve início em, aproximadamente, 1968. É nesse contexto que temos em andamento os debates acer- ca da historiografia pós-moderna levantados pela Nova História ou História Nova. São esses debates que trataremos com mais afinco. O conteúdo antes apresentado teve como objetivo com- preender o conceito de Teoria da História, historiografia e que re- visitasse alguns momentos importantes no trajeto da construção do debate historiográfico. A partir de agora, iremos nos centrar na historiografia pós-moderna. Antes de tudo, porém, serão precisos dois esclarecimentos: o primeiro diz respeito ao próprio conceito de pós-modernismo. Claretiano - Centro Universitário 17© Caderno de Referência de Conteúdo Esse conceito não é fruto dos anos 1960-1990, mas ganha força com a publicação do livro A condição pós-moderna, do filósofo francês Jean-François Lyotard, em 1979. Em resumo, no pós-mo- dernismo, toda e qualquer fonte deve ser pensada como um texto a ser lido, em que os significados estão aí para ser decodificados ou desconstruídos; portanto, não resta dúvida de que o real ou a realidade não podem ser atingidos e, em outras palavras, de que a História se tornou um discurso verossímil. Essa condição pós-moderna vai contra alguns paradigmas ditos da modernidade. Passa-se, definitivamente, a se divulgar a ideia de que o conhecimento não é objetivo, que é, ao contrário, subjetivo, que a verdade é relativa, que há mundos e passados diferentes e que as explicações são, de fato, interpretações. O de- terminismo e o reducionismo são rejeitados e a história global e a história universal são descartadas. Afirma-se, ainda, que a História não estuda o Homem, pois este deu lugar aos homens, mulheres, crianças, escravos, homossexuais etc. O segundo esclarecimento refere-se à Nova História Cultu- ral. Seus representantes alçaram voos bem altos nessas contendas contra os tradicionais paradigmas da historiografia. Lyn Hunt, Mi- chel de Certeau, Roger Chartier, Michel Foucault e Hyden White são alguns dos nomes que podemos citar. E esses mesmos nomes mostram-nos que esse movimento não foi exclusivo no meio aca- dêmico francês; pelo contrário, trata-se de um movimento inter- nacional que encontrou eco na Inglaterra, Estados Unidos, Itália, Rússia, Alemanha, Holanda e mesmo no Brasil. Mas o que carac- teriza a Nova História Cultural? O que ela apresenta de novo ou repensado? Quais suas contribuições para a difícil tarefa do his- toriador diante do passado que não se revela, mas que clama por olhares? Como o próprio nome já indica, o privilégio ao cultural é a característica-chave. Não há sugestões de novas fontes, mas de nova abordagem, a antropológica, o que significa afirmar que o © Historiografi a e Teoria da História 18 simbólico e suas interpretações são considerados em essência. Afinal, como afirmou Ernest Cassirer (1975), “o homem não é ou- tro senão o animal symbolicum”. O resultado mais expressivo dos novos debates é a crença e defesa da assertiva de que a História é relativa, ou seja, que as verdades absolutas não têm espaço no tempo das incertezas. Vamos, então, aos exemplos? Comecemos pelo novo con- ceito de História empregado pelos estudiosos dessa linha: História é discurso ou uma prática discursiva. Essa afirmação implica dizer que, se o discurso é uma produção do tempo presente sobre o passado, então, história é a construção desse passado e não a sua descrição. E, se o discurso traz em si a característica de ser algo criado por um historiador (com uma história de vida e acadêmi- ca próprias, com ideologias próprias), a história é interpretação, e não a apresentação do real. Aceitar a história como discurso nos sugere, igualmente, aceitar outro conceito de verdade. Se entendemos que as fontes são fragmentos do passado, então, só sabemos parte desse pas- sado. Se sabemos parte, não conhecemos o todo e, sem o todo, não temos o real ou a verdade. Enfim, “não há lugar em que o real se dê” (BOURDÉ, 1990, p. 106). Só podemos concluir que aplicar o conceito de verdade objetiva ao passado histórico é algo bem problemático. Se a verdade histórica é relativa, segundo a ótica dos pós-modernos, uma das causas é porque a própria História é uma prática discursiva e o mundo é visto como uma representação (produzida pelos outros – pesquisadores, por exemplo – e por eles mesmos – os habitantes de uma comunidade). O jesuíta especialista em História da Religião Michel de Cer- teau foi um dos responsáveis pela divulgação do conceito de práti- ca no meio historiográfico. Crítico das visões monolíticas da cultura e defensor de uma cultura no plural interpretou normas culturais por meio do cotidiano. Analisou as práticas das pessoas comuns e foi contra a corrente que pregava que os grupos (de leitores, por Claretiano - Centro Universitário 19© Caderno de Referência de Conteúdo exemplo) eram consumidores inertes de artigos produzidos em grande escala. Para De Certeau, a criatividade, a inventividade de determinados grupos populares diante dos “usos”, da “apropria- ção” e, especialmente, da “utilização” das obras era evidente. Ain- da segundo esse autor, não devemos entender as práticas culturais como a forma que um quadro é pintado, um ensino é transmiti- do, mas como os homens crescem, adoecem, curam-se, morrem, andam, dançam, falam, cantam, debatem, enamoram-se, enfim, como vivem. Já Roger Chartier é o responsável pela circulação mais inten- siva e diferenciada do conceito de representação no meio historio- gráfico. Suas pesquisas discutem uma história cultural da sociedade, compreendem que as estruturas ditas objetivas são, na verdade, culturalmente constituídas ou construídas. Assim, ele entende que a sociedade em si mesma é uma representação coletiva. Para ele, a História Cultural deve voltar seus interesses para a identificação da maneira como em distintos lugares e ocasiões uma determinada realidade cultural é construída, pensada, dada a ler. Como pode observar, os conceitos de discurso, práticas e re- presentação não só estão intimamente ligados, como devem ser encarados de forma justaposta. Mas esses não são os únicos con- ceitos que ganharam força na historiografia pós-moderna.Aqueles utilizados por Michel Foucault também. E de forma relevante. O que ele veio mostrar é que, em vez de procurar explicar as práticas políticas, sociais e econômicas de determinados grupos, a Histó- ria deveria se preocupar com a forma que essas mesmas práticas foram construídas. Foucault não se interessava pelo objeto em si, mas pelo “quando e como” esse objeto passou a ser objeto. Exem- plificando, ele não tomou a loucura como objeto de pesquisa, mas o momento, o contexto em que a loucura se destacou como algo a ser estudado. Outro conceito utilizado por esse filósofo foi o de micropo- der. De acordo com Foucault, a microfísica do poder está presente © Historiografi a e Teoria da História 20 nas prisões, nas escolas, na família, nos asilos, nas fábricas, nos exércitos e não só no Estado e na Igreja. Os interstícios do poder podem ser encontrados (e devem ser procurados pelos historia- dores) nos sentimentos, na consciência, na intuição. Mas ele não estudou o poder pelo poder. Ele buscou compreender, por meio dos discursos, como o poder possibilitou novas práticas, novas tecnologias de poder: como passamos da internação à prisão, da liberdade à disciplina. Contudo, não foi somente rumo à abordagem ou ao uso de novos conceitos que os debates se dirigiram. A forma da escrita da História também foi questionada. E, nesse contexto, a relação da História com a Literatura entrou em questão. A proposta naquele momento, dos anos 1970-1980, foi a da narrativa, mesmo que esta levantasse questionamentos sobre a cientificidade da História. Afi- nal, escrever uma narrativa é também escrever uma ficção, e, se é ficção, não é história. O medo da ficção não era, porém, o único que vagava pelos escritórios das universidades; havia, também, o receio do retorno da narrativa histórica tradicional que enfatizava os grandes feitos dos grandes homens em grandes acontecimen- tos. O que vimos, no entanto, foi uma nova narrativa que conside- rou o cotidiano das pessoas comuns e os acontecimentos triviais. Uma narrativa de curtíssima duração, absorta num acontecimen- to, e não mais a velha narrativa explicativa à procura de causas e efeitos. O crítico literário Hayden White foi um dos responsáveis pelo debate que veementemente foi travado em torno da não distinção entre História e ficção. Ele não relutou em considerar as narrativas históricas como ficções verbais, cujos conteúdos são tão inventa- dos como achados, e cujas formas apresentam muito em comum com as narrativas literárias. Assim, de acordo com seu pensamen- to, é preciso que o historiador levante algumas questões, como: qual o tipo de modelo linguístico utilizar? E, dentre os tropos do discurso (metáfora, metonímia, sinédoque e a ironia), qual empre- gar? Se assim o historiador faz, ou seja, se ele se utiliza de tropos, Claretiano - Centro Universitário 21© Caderno de Referência de Conteúdo então não existe distinção entre a História e a ficção. Entretanto, a grande maioria dos historiadores refutou a possibilidade de a História ser vista como ficção, pois ambas são narrativas de porte e competências díspares. “A narrativa histórica é um método de ex- posição; sempre, portanto, profundamente articulada ao método de investigação” (MÜLLER in PÔRTO, 2007, p. 78). Com base no exposto, a Nova História Cultural, como uma forte representante pós-moderna, contribuiu ao debate historio- gráfico: permitiu que houvesse uma nova construção e interpreta- ção do real, que a linguagem ganhasse importância, que o imaginá- rio fosse revisitado e que a função hermenêutica da interpretação e a problemática do discurso-texto-contexto entrassem em cena. Também contribuiu para a crença de que não há uma única his- tória: a do Ocidente civilizado. O etnocentrismo da historiografia ocidental abriu as portas para o reconhecimento e a valorização das histórias dos povos conquistados. Todavia, houve críticas, e “[...] diz-se que um saber está aber- to às críticas, quando pode ser verificado, incrementado, contesta- do, corroborado, refutado, aplicado [...]” (ALMEIDA, 2003, p. 57). Partindo dessa assertiva, vejamos as três críticas mais visualizadas sobre a Nova História Cultural: a valorização acentuada do relati- vismo e do representacionalismo, o questionamento da cientifici- dade da História e a Hipervalorização do cultural. Como você pode observar, o termo ”pós-modernismo” veio para chacoalhar as estruturas historiográficas, mas auxiliou no pla- nejamento de novas estratégias de defesa e ataque da História, da historiografia e dos historiadores. E, finalizando essa discus- são, propomos uma reflexão sobre uma frase de Foucault (apud O’BRIEN in HUNT, 2001, p. 37): “Não me perguntem quem sou e não me peçam que continue sendo o mesmo”. Tomando suas palavras como guia, podemos concluir: Não perguntem o que é a História ou a sua escrita, nem mesmo peçam que continuem sen- do as mesmas! © Historiografi a e Teoria da História 22 Bons estudos, consulte seu tutor se necessário e bom de- sempenho. Glossário de Conceitos As definições a seguir são importantes para a compreensão do conteúdo a ser estudado no Caderno de Referência de Conteú- do Historiografia e Teoria da História. Elas também poderão ser encontradas no interior das unidades, no entanto, ter acesso a elas antes de iniciar a sua jornada rumo ao conhecimento histo- riográfico poderá facilitar a sua compreensão e construção de seu conhecimento. Vale ressaltar que os conceitos aqui utilizados con- sideram o contexto historiográfico. 1) Cliometria: tendência no interior da História Econômica que aplica a técnica da análise estatística e da econome- tria (análise quantitativa) à História. 2) Discurso: um jogo de escritura, de leitura, de troca; em- preendimento mediador; a forma por meio da qual os indivíduos proferem e apreendem a linguagem como uma atividade produzida historicamente determinada; a prática da linguagem; prática instituinte, criadora de acontecimentos, imagens e referenciais de comporta- mento. 3) Episteme: são tendências particulares de um período histórico. 4) Escolasticismo dogmático: Escolástica – linha da filoso- fia medieval; difundia a ideia de que todas as respostas podem ser encontradas nas Sagradas Escrituras ou nas obras de religiosos. Escolasticismo dogmático marxista: todas as repostas podem ser encontradas no conflito en- tre as classes sociais. 5) Estrutura: tudo o que em uma sociedade, ou numa eco- nomia, tem uma duração suficientemente longa; é o que muda lentamente. 6) Genealogia: deve ser compreendida como proveniência, e não como origem primeira. Claretiano - Centro Universitário 23© Caderno de Referência de Conteúdo 7) Historiografia: a escrita da História; vacina contra a inge- nuidade; o questionamento acerca da produção e da es- crita da História, sobre o(s) discurso(s) dos historiadores e seus métodos; produto intelectual dos historiadores; pesquisa histórica; representação do passado; história do que os homens têm sustentado sobre seu passado. 8) Meta-História: pode designar todo estudo referente à História enquanto historiografia; toda investigação do que se encontra para além da História, dos fundamentos últimos da História, do sentido ou destino da História. 9) Metanarrativas: histórias culturais divulgadas e partilha- das em que podemos encontrar as verdades, as ideias e os ideais de uma cultura apresentados por um grupo social ou sociedade. Grandes narrativas (“meta” é um prefixo de origem grega que significa “para além de”), capaz de explicar todo o conhecimento existente ou de representar uma verdade absoluta sobre o universo. A Bíblia e o Alcorão são exemplos de metanarrativas uni- versalmente conhecidas. 10) Metateoria: discussão de postulados criados por uma teoria; teorização sobre a própria teoria. 11) Micro-História: teoria que reduz a escala de observação do historiador (incluindo espacialidade e temporalida- de) na tentativa de buscar elementos que,analisando em escala maior, passariam despercebidos. Seus obje- tos geralmente são práticas culturais específicas (festas religiosas, por exemplo), ocorrências (um determinado crime, um julgamento específico, suicídios), cidades, in- divíduos, famílias ou lugares determinados. 12) Mnemosine: personificação da memória. Nome deriva- do do verbo “mimneskeini”, “fazer-se lembrar”, “fazer pensar”, “lembrar-se de”. Para lembrar-se de suas tradi- ções e mitos, os gregos recorriam a essa titã. 13) Modelo ecológico-demográfico francês: tendência que afirma que a variável fundamental da História é o equi- líbrio ecológico entre o abastecimento de alimentos e a população, a interação entre o homem e o espaço. © Historiografi a e Teoria da História 24 14) Pós-modernismo: para Perry Anderson a pós-moderni- dade surge nos anos 1930, para Arnold Toynbee, após a II Guerra Mundial ou, ainda, para outros historiadores, a historiografia pós-moderna nasce na década de 1960 com a publicação das obras de Foucault, Derrida e Deleuze. 15) Práticas: a forma que um quadro é pintado, um ensino é transmitido, a forma como os homens crescem, ado- ecem, curam-se, morrem, andam, dançam, falam, can- tam, debatem, enamoram-se, enfim, como vivem. 16) Representação: o produto do resultado de uma prática. 17) Tropo: deriva de tropos, que, em grego clássico, significa “mudança de direção, desvio”. 18) Verdade: em grego, é alétheia: a = prefixo de negação + derivativo de Lethes, o rio do Esquecimento. Assim, o prefixo vem indicar que o que estava oculto agora está revelado. 19) Viragem antropológica ou cultural turn: encontro entre a História e a Antropologia. Podemos encontrar as ex- pressões “história antropológica”, “antropologia históri- ca” e “etno-história” como referências a esse encontro. Esquema dos Conceitos-chave Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais im- portantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um Es- quema dos Conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteú- do. O mais aconselhável é que você mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até mesmo o seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você construir o seu conhecimento, ressignifican- do as informações a partir de suas próprias percepções. É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações en- tre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de ensino. Claretiano - Centro Universitário 25© Caderno de Referência de Conteúdo Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em esque- mas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu conhecimen- to de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pedagógicos significativos no seu processo de ensino e aprendizagem. Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es- colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda, na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es- tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim, novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem pontos de ancoragem. Tem-se de destacar que “aprendizagem” não significa, ape- nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci- so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con- siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei- tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog- nitivas, outros serão também relembrados. Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você o principal agente da construção do próprio conhecimento, por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações inter- nas e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tornar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu co- nhecimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, esta- belecendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adap- tado do site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/ mapasconceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 11 mar. 2010). © Historiografi a e Teoria da História 26 Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteúdo Historiografia e Teoria da História. Como você pode observar, esse Esquema dá a você, como dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais im- portantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar entre um e outro conceito e descobrir o caminho para construir o seu processo de ensino-aprendizagem. Claretiano - Centro Universitário 27© Caderno de Referência de Conteúdo O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambiente virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como àqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realizadas presen- cialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EAD, deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio conhecimento. Questões Autoavaliativas No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados. Responder, discu- tir e comentar essas questões, relacionando-as com a prática do ensino de História, pode ser uma forma de você medir o seu co- nhecimento, de ter contato com questões pertinentes ao assunto tratado e de lhe ajudar na preparação para a prova final, que será dissertativa. Mais ainda: é uma maneira privilegiada de você ad- quirir uma formação sólida para a sua prática profissional. Bibliografia Básica É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio- grafias complementares. Figuras (ilustrações, quadros...) Neste material instrucional, as ilustrações são parte integrante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustrativas, pois es- quematizam e resumem conteúdos explicitados no texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os conteúdos do Caderno de Referência de Conteúdo, pois relacionar aquilo que está no campo visual com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual. Dicas (motivacionais) O estudo deste Caderno de Referência de Conteúdo convida você a olhar, de forma mais apurada, a Educação como processo © Historiografi a e Teoria da História 28 de emancipação do ser humano. É importante que você se atente às explicações teóricas, práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao compartilhar com outras pessoas aqui- lo que você observa, permite-se descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a notar o que não havia sido perce- bido antes. Observar é, portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade. Você como aluno do curso de Graduação na modalidade EAD e futuro profissional da educação, necessita de uma formação con- ceitual sólida e consistente. Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugerimos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades nas datas estipuladas. É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode- rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ- ções científicas. Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplieseus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discuta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas. No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas, pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure- cimento intelectual. Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores. Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a este Caderno de Referência de Conteúdo, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você. EA D Historiografia, Teoria da História e Retrospectiva Historiográfica 1. OBJETIVOS • Conhecer e identificar os diferentes conceitos de histo- riografia. • Retomar e caracterizar conhecimentos já adquiridos so- bre historiografia. 2. CONTEÚDOS • Conceito e tipos de historiografia. • A produção historiográfica no decorrer dos tempos (a partir de Heródoto até Annales e História Nova). 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: 1 © Historiografi a e Teoria da História 30 1) Leia o Glossário atentamente e tenha sempre em mente o Esquema de Conceitos-chave. Isso favorecerá e facili- tará seu aprendizado e desempenho. 2) Procure ler, ao menos, um livro indicado na bibliografia (básica ou complementar). Complemente sua formação. 3) Releia os conteúdos estudados nos Cadernos de Refe- rência de Conteúdos Metodologia da História I e II. Ao recordar o que já assimilou e discutiu, você terá maior facilidade em acompanhar as mudanças nos paradigmas historiográficos que vêm acontecendo nas últimas déca- das e que serão apresentados a seguir. 4) Outras definições de historiografia podem ser verifica- das: historiografia como produto intelectual dos histo- riadores, como pesquisa histórica e como representação do passado são exemplos que podem ser citados. Para maiores informações, sugerimos a leitura de LOMBARDI, José C. (Org.). Fontes, história e historiografia da educa- ção. Ponta Grossa: Autores Associados, 2004. 5) O conceito de História Nova não é originário da década de 1960. Ele foi cunhado já na fundação dos Annales e retomado pelos representantes da terceira geração. 6) Não houve uma história das mentalidades homogênea e unificada. Três variantes dessa história podem ser iden- tificadas: 1) a herdeira dos Annales, em que o estudo do mental está associado a totalidades explicativas; 2) a marxista, que relaciona o conceito de mentalidade à ideologia; 3) aquela que utiliza os microtemas – o modo de beijar, de chorar, o louco, a criança etc. –, que descre- ve e narra épocas e episódios do passado. Para maiores esclarecimentos sugerimos a leitura de Vainfas (1997). Igualmente, é importante ressaltar que a história das mentalidades tanto é encarada como um braço dos An- nales como herdeira de alguns de seus pressupostos, mas não todos. 7) Para saber mais sobre Heródoto e Tucídides, leia MOMI- GLIANO, Arnaldo. As Raízes Clássicas da Historiografia Moderna. Tradução de Maria Beatriz B. Florenzano. Bau- ru: EDUSC, 2004. (Coleção História). Claretiano - Centro Universitário 31© U1 - Historiografi a, Teoria da História e Retrospectiva istoriográfi ca 8) Vários autores serão citados no decorrer do conteúdo. Para obter maior conhecimento sobre eles, observe as informações a seguir e procure pesquisar nos sites indi- cados. Busto de Heródoto Mármore. Cópia romana de original grego do século 4º a.C. Aproximadamente Período Imperial. Nápoles, Museo Nazio- nale (RIBEIRO JR., W. A. Heródoto. Portal Graecia Antiqua, São Carlos. Imagem disponível em: <www.greciantiga.org/ arquivo.asp?num=0345>. Acesso em: 27 maio 2009). Busto de Tucídides Mármore. Provavelmente cópia romana de um original grego do século 4º a.C. Data: não estabelecida. Inglaterra, Norfolk, Holkham Hall (RIBEIRO JR., W. A. O historiador Tucídides (-460/-400). Portal Graecia Antiqua, São Carlos. Imagem disponível em: <www.greciantiga.org/img/index. asp?num=0177>. Acesso em: 27 maio 2009). Políbio Políbio (200-115 a.C.), historiador grego que lutou contra a dominação romana, foi enviado a Roma como prisioneiro de guerra. Lá, passou a admirar aquela cultura e acompanhou campanhas militares pela Itália, Gália e Espanha. Também testemunhou a destruição de Cartago. Após essas experiên- cias, narrou, em quarenta livros, 53 anos de conquistas ro- manas. Suas fontes de pesquisa foram tanto testemunhos como documentos. Afi rmou que a história deveria ser prag- mática, tratar apenas de assuntos políticos e militares e que o historiador deve relatar os fatos como eles ocorreram, sem comentários ou interpretações, de modo a manter a objeti- vidade histórica. Escreveu a obra Histórias (imagem e texto disponíveis em: <http://www.netsaber.com.br/biografi as/ver_ biografi a_c_2936.html>. Acesso em: 25 maio 2009). © Historiografi a e Teoria da História 32 Salústio Salústio (Caio Salústio Crispo – 86-35 a.C), historiador e político latino, foi um dos narradores dos acontecimen- tos políticos do fi nal do período republicano de Roma e considerado, por alguns estudiosos, como o introdutor da história fi losófi ca na historiografi a latina. Após uma conturbada passagem pela política romana como go- vernador da Numídia, norte da África, sob a proteção de César, dedicou-se somente à atividade de escritor. Suas obras mais conhecidas são Conjuração de Catilina (Lúcio Sérgio Catilina, tido como um político sem escrúpulos) e Vida de Jugurta (rei da Numídia), narrativas históricas de fatos acontecidos em Roma (imagem e texto disponíveis em: <http://www.net- saber.com.br/biografi as/ver_biografi a_c_3108.html>. Acesso em: 25 maio 2009. Tácito Tácito (Caio Cornélio Tácito – 55-120 d.C. [?]), historiador Romano que cumpriu uma vasta carreira jurídica, atuando como questor, pretor e cônsul. Reconhecido por sua oratória, alcançou prestígio como historiador. Relatou a história de imperadores romanos desde Tibério até Nero. Escreveu Annales, Histórias, Diálogo sobre os oradores e Germânia (em que trata da vida e da cultura dos povos germânicos) e alguns outros textos (imagem e texto disponíveis em: <http://www. netsaber.com.br/biografi as/ver_biografi a_c_1095.html>. Acesso em: 25 maio 2009). Cícero Cícero (Marco Túlio Cícero – 106 a.C – 43 d.C.) nasceu numa antiga família da classe equestre e, chegando à maioridade, foi entregue aos cuidados do célebre senador e jurista romano Múcio Cévola, que o pôs a par das leis e das instituições políticas de Roma. Estudou fi losofi a e oratória. Foi questor, edil, pretor e cônsul. Com o primeiro Triunvirato e fora da política, voltou às atividades forense e literária. Foi exilado na Grécia e voltou de forma quase triunfal. Tentou novamente a política, mas sem tanto su- cesso. Autor das obras: Sobre os Fins, Controvérsias Tus- culanas, Sobre os Deveres, Os Tópicos, Os Acadêmicos, A Natureza dos Deuses, Sobre a Arte Adivinhatória, Sobre o Destino, Sobre o Orador, e as mais conhecidas: A Re- pública, redigida em 51 a.C., e Sobre as Leis (imagem e texto disponíveis em: <http://www.pucsp.br/~fi lopuc/verbete/cicero.htm>. Acesso em: 25 maio 2009). Claretiano - Centro Universitário 33© U1 - Historiografi a, Teoria da História e Retrospectiva istoriográfi ca Aristóteles Aristóteles Mármore pentélico (Monte Pentélico, nordeste de Atenas). Cópia romana do original de bronze de Lisipo. Data: séc. I / II a.C. Museu do Louvre, Paris (RIBEIRO JR., W. A. O fi lósofo Aristóteles (-384/-322). Portal Graecia Antiqua, São Carlos. Imagem: disponível em: <www.greciantiga.org/img/ index.asp?num=0348>. Acesso em: 27 maio 2009). BedaBeda, o Venerável (672-735), representado em um manus- crito medieval (imagem disponível em: <saxons.etrusia. co.uk/saxons_kings.php>. Acesso em: 27 maio 2009). Isidoro de Sevilha Isidoro de Sevilha (560-636). Óleo sobre tela, de autoria de Bartolomé Esteban Perez Murillo. Data aproximada: entre 1632 e 1682 (imagem disponível em: <www.dec.ufcg.edu. br/biografi as/SaoIsidoS.html>. Acesso em: 27 maio 2009). Marc Bloch Marc Bloch (1886-1944) (imagem disponível em: <www.ca- sadellibro.com>. Acesso em: 25 maio 2009). © Historiografi a e Teoria da História 34 Lucien Febvre Lucien Febvre (1858-1956) (imagem disponível em: <www.culture.fr>. Acesso em: 25 maio 2009). Jacques Le Goff Jacques Le Goff (1924) (imagem disponível em: <www.casa- dellibro.com/img/autores/LeGoff>. Acesso em: 25 maio 2009). Emmanuel Le Roy Ladurie Emmanuel Le Roy Ladurie (1929) (imagem disponível em: <http://www.clio.fr/espace_culturel/emmanuel_le_roy_ladu- rie.asp>. Acesso em: 27 maio 2009). Michel Vovelle Michel Vovelle (1933) (imagem disponível em: <http://sites. univ-provence.fr/webtv/cible.php?urlmedia=vovelle_haut>. Acesso em: 25 maio 2009). Claretiano - Centro Universitário 35© U1 - Historiografi a, Teoria da História e Retrospectiva istoriográfi ca Robert Mandrou Robert Mandrou (1921-1984) (imagem disponível em: <http://histoireparis8.canalblog.com/images/mandrou_dou- ble_portrait.jpg>. Acesso em: 25 maio 2009). 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE “Historiografia”, “pesquisas historiográficas”, “abordagens historiográficas” – esse termo e essas expressões lhe são familia- res, não? Em praticamente todo o material disponibilizado a você até o momento e em tantos outros ainda por vir, os conceitos de “historiografia” e “historiográfico(a)” tornaram-se e irão se tornar lugar comum. Mas você apreendeu o(s) significado(s) desses ter- mos? Saberia identificar e explicar os tipos de historiografia exis- tentes? Esses são os propósitos desta unidade: levá-lo a identificar e a entender a historiografia e as suas aplicações. Há, também, outro objetivo a ser alcançado: rever algumas questões já estudadas por você. Nos Cadernos de Referência de Conteúdos Metodologia da História I e II, você entrou em contato com as discussões historiográficas acerca das teorias da História a partir de Heródoto até os pós-modernos – estes últimos vistos bre- vemente. Desse modo, esta unidade tem o intuito de invocar Mne- mosine, a personificação da memória, para contextualizá-lo dian- te do que veremos nas próximas unidades. Rememorando, ficará mais fácil entender os debates sobre as mudanças nos paradigmas da História que vêm ocorrendo nos grandes centros acadêmicos nacionais e estrangeiros, essencialmente nas últimas décadas. É importante salientar que veremos apenas alguns ele- mentos-chave desse processo historiográfico. Esta unidade não objetiva retomar todo o conhecimento já adquirido nem mesmo © Historiografi a e Teoria da História 36 apresentar um resumo particularmente exato e pontuado de to- das as transformações da História no decorrer dos tempos. Assim, leia atentamente o conteúdo ora apresentado tanto como um exercício mnemônico, já salientado, como também um ponto de partida para novas leituras e aprofundamento dos elementos em discussão. Para mais informações, será pertinente que recorra aos Cadernos de Referência de Conteúdos de Metodologia da História I e II e a outras bibliografias sugeridas. 5. O QUE É HISTORIOGRAFIA? Eis um conceito simples de se explicar: em resumo, historio- grafia é a escrita da História. Quem dera ser realmente tão sim- ples. Este é um daqueles momentos em que ditados populares não são meros clichês: “a simplicidade é complexa”. O problema reside no fato de que escrever a História implica considerar contextos di- ferentes (do tema, do historiador), ideologias diversas (do histo- riador, da editora, do público), fontes utilizadas para a pesquisa (escritas, orais, iconográficas), questionamentos dirigidos a essas fontes, teoria empregada para análise. Assim, é interessante que você tenha acesso a distintas definições de historiografia, para além daquela já citada. Vejamos dois casos! “A historiografia seria assim a melhor vacina contra a inge- nuidade” (SILVA; SILVA, 2006, p. 189). O que apreender de uma assertiva como essa? Se aceitarmos que historiografia é o questionamento acerca da produção e da escrita da História, sobre o(s) discurso(s) dos historiadores e seus métodos, compreenderemos que, se conhecemos o que influencia os historiadores em suas escolhas de temas a abordar e na teoria a seguir, se conhecemos o resultado de suas pesquisas, se temos acesso aos erros e acertos por eles elencados, a ingenuidade não Claretiano - Centro Universitário 37© U1 - Historiografi a, Teoria da História e Retrospectiva istoriográfi ca fará parte de nossa profissão. Dito de outro modo, se conhecemos o historiador em seu ofício, em seu contexto e a sua produção, não há como ficarmos alheios à memória das sociedades. Uma última definição, segundo Carbonell (1987, p. 6): O que é historiografia? Nada mais que a história do discurso – um discurso escrito e que se afirma verdadeiro – que os homens têm sustentado sobre seu passado. É que a historiografia é o melhor testemunho que podemos ter sobre as culturas desaparecidas, in- clusive sobre a nossa – supondo que ela ainda existe e que a semi- -amnésia de que parece ferida não é reveladora da morte. Nunca uma sociedade se revela tão bem como quando projeta para trás de si a sua própria imagem. Vamos refletir juntos sobre essa definição? Inicialmente, to- memos a frase “nada mais que a história do discurso”, ou seja, his- toriografia é o estudo de tudo o que já foi dito sobre um tema em diferentes modos, lugares e tempos. Depois, “um discurso escrito e que se afirma verdadeiro”, ou seja, o que foi dito deve ser con- siderado como discurso digno de ser acatado. E, por fim, “nunca uma sociedade se revela tão bem como quando projeta para trás de si a sua própria imagem”. Em outras palavras, como não temos como nos desvencilhar totalmente de nossas ideologias, de nossos conceitos, das marcas de nosso tempo, sempre que apresentamos o resultado de uma pesquisa histórica, a marca de nossa época fica evidenciada. Resumindo, a historiografia é o produto de uma era, é uma construção histórica. Como se pode observar, trata-se de um conceito polissêmi- co. Mas, para além do conceito, igualmente devemos considerar que a historiografia depende de dois elementos: da formulação de um problema e das fontes disponíveis. Ao levantar essas questões, Blanke (2006) estudou a história da historiografia e apontou dez tipos e três funções, conforme você pode verificar nos Quadros 1 e 2. O autor adverte: “Os tipos que (re)construí, no entanto, pos- suem um alcance mais amplo do que os exemplos dos quais eles são uma abstração” (BLANKE, 2006, p. 29). © Historiografi a e Teoria da História 38 Quadro1 Tipos de historiografia. Os tipos de história da historiografia 1) História dos historiadores Pesquisas que abordam a vida e a obra de um historiador. 2) História das obras Pesquisas sobre um gênero literário (qual o estilo literário da obra). 3) Balanço geral Pesquisas que classificam os historiadores em campos específicos. 4) História da disciplina Pesquisas sobre conferências e trabalhos de instituições históricas. 5) História dos métodos Pesquisa sobre os métodos históricos. 6) História das ideias históricas Pesquisa sobre as tendências da história intelectual. 7) História dos problemas Pesquisa sobre a história das subdisciplinas (Antiga, Medieval...), da relação entre a História e outras Ciências Sociais etc. 8) História das funções do pensamento histórico Pesquisa sobre as funções sociais da historiografia. 9) História social dos historiadores Pesquisa da historiografia como história social. 10) História da historiografia teoricamente orientada Pesquisa sobre o desenvolvimentoda disciplina no interior de sua reflexão metateórica. Fonte: BLANKE in MALERBA, 2006. Quadro2 Funções da História. As funções da história da historiografia Função afirmativa Afirmar uma ideologia oficial. Função crítica Críticas aos princípios ideológicos, visões de mundo, modelos tradicionais etc. Função exemplar Oferecer material para a reflexão teórica (servir de exemplo). Fonte: BLANKE in MALERBA, 2006. Esses tipos e funções não serão sistematicamente analisados aqui. Porém, explicitá-los ajuda-nos a observar e a confirmar que a historiografia é mais do que a escrita da história: é a compreensão de todo o contexto que envolve essa escrita. Claretiano - Centro Universitário 39© U1 - Historiografi a, Teoria da História e Retrospectiva istoriográfi ca Nesta conjuntura, podemos iniciar nossa compreensão do que é Teoria da História. Alguns a leem mesmo como historiogra- fia, como debate historiográfico, e muitos outros, como metodo- logia. Igualmente, é entendida como qualquer atividade reflexiva do historiador. Desse modo, os conceitos de historiografia e teoria da História são justapostos. A historiografia, enquanto escrita da História, apresenta-nos concepções diferenciadas do passado de acordo com as teorias norteadoras do ofício do historiador, a sa- ber: o marxismo, a nova história, a micro-história etc. Agora que já refletiu sobre os conceitos de historiografia, Te- oria da História e possibilidades historiográficas, que tal iniciarmos nossa retrospectiva? Vamos lá! 6. A HISTORIOGRAFIA NA ANTIGUIDADE Antes de adentrar na produção de Heródoto e Tucídides, é importante entendermos o contexto no qual a escrita da História nasceu: aquele da oralidade e, também, da mitologia. Para o Grego das épocas arcaica e clássica, a palavra repre- sentava o poder por excelência. Vejamos o que o helenista Jean- -Pierre Vernant tem a dizer a esse respeito (o termo “Grego” é uti- lizado aqui em maiúsculo não só para caracterizar os habitantes da Grécia, mas igualmente compreendendo-o como uma categoria que inclui homens e mulheres, crianças, jovens e adultos, todos incluídos dentro de um contexto social e cultural maior): O que implica o sistema da polis é primeiramente uma extraordiná- ria proeminência da palavra sobre todos os outros instrumentos de poder... A palavra não é mais o termo ritual, a fórmula justa, mas o debate contraditório, a discussão, a argumentação (VERNANT, 1996, p. 34). Com base nessa assertiva, observamos que o logos ocupava um lugar central nessa época da nascente razão. Mas não nos engane- mos: logos e mythos não eram totalmente excludentes, nem mesmo contraditórios. A razão, representada pelo logos, nasce do mythos. © Historiografi a e Teoria da História 40 Mas como esse logos foi utilizado e compreendido no cerne da primeira História? Essa nova maneira de se narrar os aconteci- mentos se distanciou de forma definitiva do mito? Observemos, então, as diferenças e as similitudes entre os dois historiadores, que, desde a Antiguidade, estão no centro da discussão que tenta decidir quem é o “pai da História”. Heródoto: ouvir, ver e escrever Ouvir, ver e escrever. Não se trata de um ordenamento alea- tório de verbos. Os dois primeiros podem até se alternar, porém, escrever vem depois. Esta era a prática de Heródoto (484-420 a.C): colher testemunhos (essencialmente história oral, embora tenha tido acesso a alguns documentos), observar regiões, pessoas, fatos e, posteriormente, narrá-los. Em sua obra História (2,9), ele afir- mou: “Até aqui disse o que vi, refleti e averiguei por mim mesmo, a partir de agora direi o que contam os egípcios, como ouvi, ainda que acrescente algo do que vi” (HERÓDOTO, 1998, p. 152). Heródoto procurou registrar a tradição, feitos e fatos que, em seu entendimento, não deveriam ser esquecidos – a lembran- ça e o conhecimento do passado como forma de reforçar a iden- tidade dos helenos. Em sua escrita, utilizou-se do termo “logos” no sentido de relato, de conhecimento, de razão; tudo isso repor- tando-se a opiniões contrastantes que nem sempre puderam ser comprovadas (o que se ouviu, mas não se viu). A obra História, nesse contexto, procura estabelecer as causas da guerra entre gre- gos e persas apresentando uma escrita que, embora ainda traga elementos mitológicos, traz como novidade o relato do ocorrido, de fatos concretos, de feitos de homens, e não histórias mitológi- cas, feitos heroicos e/ou divinos, de um mundo abstrato. Por essa inovação, Heródoto foi considerado o “pai da Histó- ria” já na Antiguidade, título atribuído a ele por Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.) em De Legibus – Das Leis, (1,1,5). Porém, apenas nos tempos modernos, tal honraria estabeleceu-se definitivamente. Claretiano - Centro Universitário 41© U1 - Historiografi a, Teoria da História e Retrospectiva istoriográfi ca Tucídides: a busca da verdade do que se vê Segundo Detienne (1998, p. 105), “O ouvido é infiel e a boca é sua cúmplice. Frágil, a memória é igualmente enganadora: ela seleciona, interpreta, reconstrói”. Tomamos por empréstimo essas palavras do helenista Mar- cel Detienne por acreditarmos que ela representa bem a repulsa de Tucídides em relação à escrita de Heródoto. Diferentemente deste, Tucídides preocupou-se com as causas imediatas. Atentou- -se para o presente, narrou o que viu, acreditava no que estava diante dos olhos. O passado, para ele, mostrava-se como boatos: fulano disse que ouviu de sicrano o ocorrido com beltrano na terra de alguém. Para o autor de Guerra do Peloponeso, memória sem provas não é História. Por que devo vos falar de acontecimentos muito antigos quando estes são atestados antes por boatos que circulam (akoaí) do que pelo que se viu com seu olhos aqueles que nos ouvem (TUCÍDIDES, I, 73, 2). Resumindo, algumas das principais diferenças entre Heródo- to e Tucídides são: o primeiro privilegia o resgate da tradição, e o segundo, o registro do presente com o pensamento focado no futuro; Heródoto é considerado mais romântico, enquanto Tucídi- des, mais realista. As diferenças também podem ser observadas na escolha das fontes: o primeiro elege as fontes orais, e o segundo, não vendo credibilidade nestas, descarta-as. Outros nomes podem e devem ser citados para esse período da historiografia: Aristóteles, Políbio, Salústio, Tácito e Cícero. Vale ressaltar aqui a diferença estabelecida por Aristóteles entre História e poesia. Reproduziremos, a seguir, uma das mais famosas passagens desse autor em que esclarece este binômio contrário: Não é ofício de poeta narrar o que aconteceu; é, sim, o de repre- sentar o que poderia acontecer, quer dizer: o que é possível segun- do a verossimilhança e a necessidade. Com efeito, não diferem o historiador e o poeta por escreverem verso ou prosa (...) – diferem, sim, em que diz um as coisas que sucederam, e outro as que pode- © Historiografi a e Teoria da História 42 riam suceder. Por isso, a poesia é algo de mais filosófico e mais sério do que a História, pois prefere aquele principalmente o universal, e esta o particular (ARISTÓTELES. 2003, 9, 50). De forma bem esclarecedora, assim Funari e Silva (2008, p. 23) se expressam acerca desta afirmação: Aristóteles aponta como característica essencial da História sua preocupação com o efêmero, com o acontecimento que não se pode repetir e que, por isso mesmo, nada nos pode ensinar sobre a natureza humana ou mesmo do mundo. O particular, por definição, nada revela. É bom e temeroso poder discordar de alguém como Aristó- teles. Mas o desenvolvimento da História como disciplina e como teoria veio nos mostrar que o particular diz muito sobre homens e sobre o mundo, assim como sobre os homens no mundo. 7. A HISTORIOGRAFIA NO MEDIEVO A Historiografia no Medievo está intrinsecamente ligada ao Cristianismo. Basta lembrar, com o auxílio dos Cadernos de Refe- rência de Conteúdos História Medieval I e II, que, durante muito tempo, a Igreja foi a detentora do saber.Nesse período, os ho- mens, suas obras e os acontecimentos só ganhavam importância se vistos como resultados dos desígnios divinos. Essa historiografia produziu genealogias, anais (reais e mo- násticos) e cronologias de acontecimentos sucedidos nos reinados dos seus senhoris ou da sucessão de abades. Nos documentos, en- contramos, igualmente, hagiografias e biografias de reis. Os textos ainda podiam exaltar uma dinastia como condenar aqueles que não seguiam os preceitos do Cristianismo. A escrita dessas fontes estava sob a responsabilidade de hagiógrafos, cronistas, integrantes do clero episcopal ligados ao poder e por monges. Como exemplo dessa historiografia, citamos: História Eclesiástica do Povo Inglês, do século 8, de autoria de Beda, o Venerável, e Etimologias, de Isidoro de Sevilha. Claretiano - Centro Universitário 43© U1 - Historiografi a, Teoria da História e Retrospectiva istoriográfi ca 8. A HISTORIOGRAFIA NOS SÉCULOS 18 E 19 É contraproducente unir as historiografias dos séculos 18 e 19 num mesmo tópico. Pode parecer que as continuidades e permanên- cias são superiores às descontinuidades e rupturas no interior da es- crita da História. No entanto, essa junção aqui realizada justifica-se por dois motivos: primeiro, não é a passagem de um século para o outro (temporalmente falando) que modifica as estruturas e, em segundo lugar, porque o século 19 pode ser entendido como um momento de concreção e reação ao que foi divulgado no século precedente. Observe os tópicos a seguir: 1) Avanço do Iluminismo → Nova roupagem das Universi- dades → Surgimento da Filologia. 2) Filologia Histórica: conhecimento mais rigoroso e aprofun- dado das línguas antigas → conhecimento das fontes mais objetivo. 3) Conhecimento mais objetivo do passado → início do positivismo historiográfico: crítica textual que visava sa- ber se os documentos eram verdadeiros e fidedignos: descrição factual precisa. A História, desse modo, surge como um conjunto de fatos que existem nos documen- tos. Basta extraí-los. Há um rompimento com a escrita da História de tradição literária (fácil de ler) rumo a um discurso árido e douto. Seus principais representantes: Barthold Georg Niebuhr e Leopold Von Ranke. 4) Revue Historique (1876) – surgimento da Escola Metódi- ca: autores associados a essa escola estavam preocupa- dos com a escrita da história nacional e o estabelecimen- to da identidade da nação. Para tanto, exigiu-se um rigor metódico, o afastamento da parcialidade, da especulação e da não objetividade para se contar como a história re- almente aconteceu. Dois de seus representantes são: Ga- briel Monod e Gustave C. Fagniez. Veja informações com- plementares sobre a Revue Historique no quadro a seguir. 5) Karl Marx e a concepção dialética da História: a história de toda sociedade é a história da luta de classes; a revo- © Historiografi a e Teoria da História 44 lução é a força motriz da História. A vida social, política e intelectual é condicionada ao modo de produção da vida material (materialismo). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Informações complementares sobre a Revue Historique –––– Em 1870, ocorreu a derrota do exército francês na guerra franco-prussiana. Com essa derrota, a França sentiu a necessidade de reescrever sua história e de construir sua identidade. O pensamento histórico alemão teve grande infl uência nesse contexto. Dentre os autores mais conhecidos desse período, citamos: Gabriel Monod, Charles Seignobos e Ernest Lavisse. Todos eles, ao lado de Theodor Mommsen, serviram de modelo e inspiração para as gerações posteriores de historiadores franceses. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 9. O SÉCULO 20 E OS ANNALES Segundo Burke (1991, p. 127): Da produção intelectual, no campo da historiografia, no século XX, uma importante parcela do que existe de mais inovador, notável e sig- nificativo origina-se da França. A historiografia jamais será a mesma. É assim que Peter Burke inicia e finaliza o seu livro A Revolu- ção Francesa da Historiografia: a Escola dos Annales, 1929-1989, em que descreve e analisa as três gerações do movimento inte- lectual francês associadas à revista Annales (o primeiro título da revista foi Annales d’histoire économique et sociale [1929]), que teve como seus principais representantes Marc Bloch, Lucien Fe- bvre, Fernand Braudel, Georges Duby, Jacques Le Goff, Emmanuel Le Roy Ladurie, Ernest Labrousse, Pierre Vilar, Maurice Agulhon, Michel Vovelle, entre tantos outros. A última assertiva da citação anterior não é fortuita ou mero chavão. Reflete bem a prática historiográfica dos membros dos Annales, que objetivaram suprir a tradicional narrativa de acontecimentos por uma história-problema, como também deixar de fazer apenas a história política e abordar a história de todas as atividades humanas e, por fim, estabelecer uma relação profícua com outras disciplinas das Ciências Sociais, como a Antropologia, Claretiano - Centro Universitário 45© U1 - Historiografi a, Teoria da História e Retrospectiva istoriográfi ca a Sociologia, a Geografia etc. As massas anônimas e seus modos de viver, sentir e pensar foram analisados nesse contexto de in- terdisciplinaridade. No entanto, vale ressaltar que essa escola não formou um grupo monolítico, executando uma historiografia uni- forme. Bem pelo contrário. As diferenças podem ser observadas no interior das três fases (ou gerações) desta escola: 1ª geração de 1920 a 1945 História enquanto ciência do homem: há uma separação en- tre os conceitos de História e passado. O que se procura entender é a história do passado e não o passado em si, que é compreendi- do como uma construção histórica. Seus maiores representantes foram Marc Bloch e Lucien Febvre. 2ª geração de 1945 a 1968 O que se aspirava era uma prática histórica mais aberta, ou seja, que abordasse os campos social, econômico, cultural, geográ- fico e religioso, em suas diferentes temporalidades e diversas pers- pectivas. Dito de outro modo: aspirou-se por uma história total. Fernand Braudel representa exemplarmente essa geração. 3ª geração de 1968... Fase também conhecida por História Nova ou Nova Histó- ria. Essa geração particularmente nos interessa, pois os questiona- mentos apresentados no decorrer deste Caderno de Referência de Conteúdo são oferecidos a nós pelos integrantes desse grupo ou por estudiosos que questionaram os paradigmas da história a par- tir das discussões desse grupo. Por esse motivo, um item separado abordará o tema. 10. A NOVA HISTÓRIA Três processos caracterizam a terceira geração: a assimilação definitiva de novos problemas, novas abordagens e novos objetos. © Historiografi a e Teoria da História 46 Temas como mulher, sexualidade, prisão, doença, sonho, corpo e morte são estudados não somente sob a luz da História, mas igualmente na sua relação com a Antropologia, a Psicologia e a Sociologia. Ocorre um distanciamento acentuado em relação à histó- ria política tradicional. A questão da unidade do objeto e a possi- bilidade concreta de uma história total também foram deslocadas. Não existe mais o homem, mas os homens, e não mais história, mas histórias. Então, a atenção voltou-se para o sótão, deixando-se o po- rão (o material) para trás, ou seja, as mentalidades ressurgiram com nova roupagem nos estudos históricos acadêmicos. Philip- pe Ariès foi, talvez, o maior responsável por esse retorno; Robert Mandrou, pela divulgação; e Jacques Le Goff, Georges Duby, Em- manuel Le Roy Ladurie e Michel Vovelle, pela aplicação dos estu- dos das mentalidades. De acordo com Chartier (1990, p. 14-15): [...] as atitudes perante a vida e a morte, as crenças e os compor- tamentos religiosos, os sistemas de parentesco e as relações fa- miliares, os rituais, as formas de sociabilidade, as modalidades de funcionamento escolar etc [...] Sob a designação de história das mentalidades ou de psicologia histórica delimitava-se um novo campo