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Diário de um Páraco de Aldeia - George Bernanos

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t'
GEORGES B ERNAN O S
' '\.'
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l
'' _- DA
TRADUçÃO DE
Ed.gard G, d,a Mata Mqchado
llâc.i noit,,
1951
-â".".;o /IGIR €/,lo "u
RIO DE JÀNEIRO
GRANDE PRÊMIO
ACADEMIA ARANCXSA
3.. edtçao
\
Coqjright da
^Il1r1'S 
OR^I1CÂ,S INDܧTRIA§ II,EUNIDÀS 6. À. (ÂGIR)
Titulo do original Irâncês:
"JÔIIRNAI, D'TIN CUII'É DE CÀMPÁGNE"
MINIIA PÀRóQUIA é uma paróquia como as outtas,
Tôdâs as paróquias se parecem. As paróquias de hoje, na-
tumlhente, Ontem, eu dizia âo vigário de Noreniontes: .o
bem e o mâl devem equiliblar-se numâ pêróquia. só que o
ceníro de gmvidade ó colocâdo em bâixo, muito em bâixo.
Ou, se se prcfere, üm e outro se sobrepõem, sem misturar-
-se, corno dois liquidos de densidade diÍerente. O padrê du
em minha cam. É um bom cum, muito benevolente, muito
pâtemal e que passâ mesmo, no Àrcebispado, por um espí-
lito Íorte, um tanto perigoso. Suas troqas fazem a alegria
dos prêsbitérios e êie as apoia com um olh que desejaria
vivo, mas que eu acho, no fundo, táo gasto, tão cânsado, que
mê dá vontade de chorar.
Minha paróquia é devorada pelo tédia, eis a pâlavr4.
Cor4o lantas oulras paróqLlias I O Gdio as devom sob nossas
vistâs e nada podeúos fazer. úm dia, talvez, o coniágio to-
mârá contâ de nós, descobriremos em nós êsse câncer. Po-
de-se viver muito tempo com isso.
A idéia me veio, onteÍn, na estrada. Câía umâ de§§âs
chuvas finâs qu€ nos peneimm os pulmões inteLos e de§ceú
até o aenhe. Do lado de Sâi t-Waast, a aldeia surgiu-me
bruscamente, táo coníusâ, tão miserável sob o horrível céu
de novembro ! vapôres d'água subiam, como fumo, dê tôdas
as paltes e ela parecia ter-se deitado, â.1i, na relva úmida,
corno um pobre animal cansâdo. Que coisa pequenÊ, uma
aldeia ! E essâ aldeia era minha paróquia. Era min]1a paró-
quia e eu nada podia fazer por ela; via-a idstemente mer-
gulhar lra noite, desâpaxecer... Mais alguns momentos, e
já não enxergava minl1a pâxóquia. Nunca havia sentido táo
cruelmente sua solidão e'a mlnha. Peu§âva no Sado que
ouvia mugir em meio à cerraçáo e que o vaqueidnho, de
yolta da escola, malet8. debaixo do braço, ia conduzindo, âtrâ-
vés do pasto úmido, paÍs o estâbulo quente, chetuoso.,. Il
ela, a pequena aldeh.. parecia agurúdar lamb{:m - semgrande espemnça - depois de tantds noites passadas na 1ama,
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I
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,iLitrorid AGÍP".. ..
Rio dc Janeiro 
- 
Iiua N{éxico, 08-B 
- 
Caixa Postàl 3201
rirL' r,rnlo - nuâ Eráulio Gomes, 125, loiâ 2 - caixâ Postal 6040
Ihlo lli)lizontc Avcnida ÁfoDso Penâ, 919 - Caix4 Portât ?33
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t\
{
1
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rNoxsÊço rELEaniFrco "ÁcrRsÀ'
GEORGES AEENANdS
urlr (loro qrtr a conLiuzissc parâ algum implovávcl, algum ini-
ntllgillrivcl :lsilo.
()lr ! bI.tn sci qüe tudo isso são idóiês loucas. quc não
lx)sso lonrÍr iits inlcilamcnte â sério, sonhos apenâs I... As
nl(l( irs x:i() sc k.vaotam, à voz de unt àluno de gIulo cscolâr,
corJx) os bois. Não importa I Na târ'dc de ontem, âcho que
ulrl sr1)10 â tinhà châmâdo.
Diziâ a mim mcsmo que o mundo ó devolado pelo téc1io.
Nàtulrrlmente, é precisc refletir um pouco para dâr'se conta
disso; n,,.o é íal.o que se apreenda àssim, de relence. É uma
r.l , r' il( pó. À gFnl^ \..i ê volll s' m o vcr. l'.cpirr.o,
«)me o, bcbc-o; é lão lênue, tão flno, que nem ao menos
r-âIlce sob os dentcs. Mas se a gente pár:r um segundo, ei-io
quc (iobr'c Dosso losto, nossâ máo. Temos de nos sacudi!_,
s0r11 cassal, p:i]'a libe]ta1-nos dessa chuva dc cinza. DÂi por-
quc o nundo tanlo se âgi1a.
DiI s$á talvcz quc, há muito, o muúdo se Íamiliarizou
Í{rm o la{lio, que o tédio é a verdadeira conclição do homem.
lir lx)sslvrl qur â scmente, cspalhadâ por tôda a partc, ger-
nrirrLss(.. aqLli c ali, em telr'eno favol'ável. Pergunto. porém,
ii, os lroDl(,ns conhccelalr âlgum diâ ôsse contágio do tódio,
r,:lir L,l)rl I Ur,r d.sospôl'o melog-r'ado, uma lorma torpe do
rl(.ii.rlx,ro (tuc c, ri(tn (lir!id., como que a íermeníação de
llIr cri:ilillliriIro í1.|lirtrrr,i)do.
I vrl, rrIr.rrr,.rrIi, rri)o irli,ills qtlc ou gualdo para mim. Eü-
lr,lrril,, r ,' rir, (.r)vr,ri,(,rlro (lclas. Acho até que podelia
,\t,rrrl Irr rrIrl0 l!,rr, lr.rrr rlr llrir 1alvc7, pâra rneu sossê-
lt" rlr|.rI rlr,r I I, irir :x)rir r,j!) {l' llrinltr con5c;ência. o otj-
rrl'r!, ,1,, I rrtr.r or, r llr,rr, Lr ,1) rl)l( lxrn(in1,o. Os que ainda
,, I'r,'1,.,..rrr, lxrr lril)i10, r,rfll u(jr.cCital ltôle.
^ 
rif r,'r ,'l' ,,.r'r. r1llll t,lr(.;llrr rr' rllr rí)ü i]ir)s sillnilicâtivos;
'ri,.,., lfll, r, ,1, , ||Lt';r lrir r, r,.rr olrrrrlirs. ()r t)udr'cs vclhos
tr, l ,, L. I llti]lI rlririrri.. 
^tx,!Ir 
(lxs rl)rl'ôncjírs
,. , r l! r.r , r 
' 
I I I r | | , i , . i I I lr l]| ,r r.,,rlo !,r' l,l|I iÍ). aliás imutá-
\, L' Ii rr, ,.r ,l,nlllr,r(.rir i'lr(,irLl lliro rriro os nlcsmos;
r,'. o, IIrIIr.|,iI|IIiIIlt'ji lll(' ()i I ( I 1 ) I I I I ( \ ' I , I I I tlritiS. Outlor'â, pof
i\, llrlrl(,, r.,(ullr lrir(L,ilo li ltlt rr)rllo ifiscntado que üm
DIÁnÍo DE úM P,(!oco DE Á!,DErÀ
discurso episcopal hÀveda de terminar, invaliàvelmente, com
pludente alusáo - convicta, ó ver'dadc, mas pluclente - àperseguição plóxiina e ao sangue dos máItir'es. Tais predições
tolnâm-se cada Íez mais Laras, hoje erl1 dia. Provàvelmente,
porque sua realizaqão pârece menos incerta.
Oh ! há uma p:rlavra que começa a correr os presbité-
rios, uma dessos i alâvras honíveis â que chamamos de
"poilus" que, não sei como, nem poi_ que, pareceram inte-
ressantes âos nossos ântecessores, mas que os râpâzes de
minha idade acham tão dcsagradáveis, tão tristes | (Sur-
pre"ndê. 3liác, ..mo :. Biria das 1r'inchriras conscÊuirl ê\nri-
mir tântas idéias sór'cliclas cm imâgens lúgubres; mas será
realmente a Siriâ das trinchejras ?) Repcte,se, pois, nâtural-
mente, quc "é inirtit tentar compreendel'. Meu Deus ! Mas
se é disso justamcntc que se trata I Sei que há os supcl.iores.
Quem informa, porém, aos superiores ? Nós. Então, quândo
exclÍFm a obodiinl.ril F a j'r'plicidcdc do" mongê". pí .a tnim,
Iazem.no.m \ão: o i,'g-m!nto nro mc imlllrs.Íond,..
Todos somos c:ipazes de clescascar. batstas ou cuidar de
porcos! desde que um mestre de noviço§ no-to Dande Íazer.
Mas, umâ pâróquia ráo é tão fácil de regalar com atos de
virtudc como uma simplcs com-,-rnidâde ! Tanto mais que os
paloqlrienos o hão de ignor-a} sempre; aliás nunca o have,
liam dc compreender.
O Árcipreste cle Bailloeil, depois que se âpresentou, fre-
qiientâ cíjm assiduidcdc os RR. PP. Cartuxos de Verchocq.
"O quc vi em Verchoq" é o título de uma de surs palcshrs
iL qu:rt o deão quâsc nos obrjgou a âssistir. Ouvimos 1á coisâs
iDl,a],cssantíssimas, cDocionantes m€smo, polque êssc velho
irrrlalct coLSCIvou âs inoccn'Les manias do antigo l)tolirssol(k. Iil.râtur'a, e cuida da diÍr(.io, como das unhrs. I)ir se iâ
rlr,, i. ri^rlfL .. l, rr., ,rJ rnr.:m., 1r rnlo, il lrfc ,.nr'.. llr,lrôv.i.
ví'l (k) Sr. 
^úâtole 
Fr'àncê, Í:lrtlc sl.rs olrvilrl,r's d(, sotaina, e
{luc lhc lx.dia dcsculpc, cm nornc dc Í)cl|i o (lo lrumânismo,
(()Dl olhâlcs suiis, sorrjsos cLirnl)1j«'s c Io(lrrios arn'iculâIes.
I:nlrnr, pirrccia quc.ssâ csp,icjc Llc roquolisnlo eclesiástico
r.ril,irvir DL1 nro(la cm 1900; Uatiu»os, l)or isso, do der bom aco-
{
GEORCES EIRNÀNOS DI.4xIo DE ÚM PÁnoco DE ÁLDEIA
lhimcnto àqn.las palavras. (Sou provàvelmente de naturczâ
muito }u(lc, nuilo grosseila, mas confesso que o pâdre ie-
lilrlo s|rnpr'o rlrc inspir'â horror, Flcqiicntar os "bclos es-
piril{rs" ó Como que jantar na cidade - c não se vai jantâlDo cklr(k, tl'ndo sob as vistâs gente que rnorre de Jome.)
I4nr r'csumo, o Sr. ÁJcipteste contou-Dos muitas ânedo-
tâs quc chama, segundo a modâ, dc "Ílechadas". Creio ter
coml)r'ocndido. Infelizmente não me sentia tão comovido
quanlo crâ de de§ejar. Os frades são incomparáveis mestrcs
da vida interior, ninguém duvida; nras pelâ maior parte,
essas "flcchadas", como o bom vinho da terra, devem ser sâ-
boleadas no lugaÍ de origem. Àltetanr se durante â viagcm.
Tâlvez ainda... devo dizer ? talvez que êsse pequeno
número de homcns reunidos, vivendo 1âdo â lado, dia ê
noite, cricm, scm que o saibam, certa atmosfcrafavorá-
vel... Também eu conheÇo alguns coâventos. Vi religiosos
rcccb€rem humiidemente, rosto em te[a, e sem murmurar.
â repreensão injusta de um supêr'ior empenhâdo em lhes que-
bral o orgulho. Mas, ncssas casas a que nenhüm eco de fora
pertruba, o silêncio âtinge umâ quâiidade, uma perfeicáo
vcldadeirâmente extrâordinárias; o rnenor borborinho é cap-
tâdo, ali, por oüvidos de sensibitidade esquisita,.. E há si-
lêncios de umâ saia de capitulos que valem por'um estrépito
dc aplausos.
(Enquanto que um sermão episcopal. . .)
Reli sem prazer essas pdmeiras páginas do meu diário.
Certamcnte, r'efleti muito, antes de mc decidir a escrevê-lo.
Isso, por'ém. não me sossega o espír'ito. Pâra qualquer pessoÍr
hâbituada à prece, ã reflexão é, as mais das vêzes, um áIibi,
uúa sorrateirâ Íorma de nos confirmar cm um designio, O
Iaciocínio deixe Iàcilmente na sombla o que desejamos con-
scrvâr oculto. O homem do mundo que refiete, calcula per-
Iritanlcnte suas possibilidâdes ! Mas, que poderiam vâlcr
n{)sjrâs lx)ssibilidades, a nós, que aceitâmos, umâ vez para sefi-
l)r(,, ilhrrivel pre§ençâ; a presença dc Deus ern cada ins-
lil.lrl.(,rl( nt)ssâ ])obre vicla ? Sob pena dc pcr'{ler a 1ó - e quollro r'orl.rüá, cnlão, visto quc não pode pcrd0-la scm ncgar q
si mesmo ? - um padre jamais poderia ter de seus própriosinterêsses a clarâ visão tão dirctâ - gostaria de dizer tàoingêr'ruâ, tão simples - dos filhos do século. Câlculâr nossaspossibilidades, pÂra quô ? Não se jogâ contrâ Dcus.
Recebi a resposta da minha tia Filomena, com duas
notas dê cem tL'dncus. juslam,nl" o n,ce\rá_:o nJ g o l.:1i.
urgcntê. O dinheiro desliza entre meus dedos, como ârcia;
é espantoso I
É preciso confessar qr:Le sou de umâ idiôtice ! Assim, por
exemplo, o forneccdor de Heuchin, o Sr, Pân1vre, quc é um
homem honrado (dois de seus filhos são Dedres), Lecebcrr_rre
logo com muita amizade. Todos os meus colegas sáo, aliás,
seüs fi'egueses. Insistià scmpre comigo, nos fuDdos cle sua
vendâ, pâra âceitar vinho quinâdo c sequilhos. Câvâqueá-
varnos unl bom tempo. Ê1c passa por uina situaqio difícil:
uma de suas filhas está desen, .Dre[lada, e os dois rapazes,
que estudâm na Jaculdâde católica, comcrnlhc nruito cli-
nheir.o. Dm lesumo, cêrto dla, depois dc leceber minhas et1-
comenclas, disse-me g{rntilmcntc:* Vou âcrescantâr tr'ôs garrâfas de quinado; ser-vea
pare the dâ? mâis cór !
Eu acreditei, tôlamente, que o Sr. Pâmyic me pro-
senteava,
Um pobre coitado que, aos doze àncal, pass:r do Lln]x casa
miscrável para o seminário, nuncâ poder'á sabcr o Í:rlor do
djnhcilo. 
^credito 
mesmo quc nos é diiicil scr t','.it|ilirlD.'l'rc
honesl,os el1r negócios. É nê1hor rão Í[exer', rindr] cllrc lno-
{,('nt(mcntc, corn o quc â meior pallc dos lciÍlolj collsidcr-a
nào lrnl meio, mâs un] Íim.
Mcu colegâ de Verchin, que nÍio ar s(Dl)rrr (1,,s nl:lis dis-
cr(,lírs, âchou quc devin fâ2, r. / r'r íi)i r (l!' l, ,jr, r'.riL.fâ, alusáo
:ll) rllll cnLcndido, com o l)r'óI)rjo sr. P:Lü1yro. Ês1e {icou
iriDcri'umcntc contrar'1âclo.
i(
10 GEOÊCES BERNÂIiÍOS Dr.ÁÀro DE uM PÁloco DE ArDErÀ 11
- Quc o Sr. Vigário venha quântas vêzes quiser, disse,têrcmos prozer cü1 tomâr uns golezinhos juntos. O vinho
não cstá âssim tão pela hora da morte, grâçâs a Deus ! Mâs
ncgôclo ó Degócio, não posso dar minhâ mercadoria de mão
beilodo.
E a sra. Pamyre parece que acrescentou:
* Nós, comerciantes, temos também nos§o§ deveres de
estado.
Decidi esta manhã continu a expedência, mas só ate
completar doze meses. No dia 25 de novembro prórimo, porei
no Íogo êsses papéis e tlatarei de esquecê-los. Essâ Íesolu-
ção, tomada depois da missa, sossegou-me o espírito, ma§
só por um momento.
Não é um escrúpulo, no sentido exato da palawa. Não
creio Íazer mal âtgum, anotando, dia a diâ, com âbsoluta
Jranqueza, os humílimos, os insignificantes segredos de umâ
vida, aliás, sem ryústédo. O qüe vou fixar no papel não en-
sinará grande coisâ ao único amigo com o qual falo aindâ
de corâçáo abeúo; e, no Jinâl das contas, sinto claramente
que nunca terei coragem de escrever o que eu confio a Deus,
quase tôda manhã, sem constrangimeníos. Não, isso nâo se
par.ece com o escrúpulo; é antes uma espécie de mêdo irra-
cional, como que uma âdvertênciâ do instinto. Quando me
scntei pela prilneirâ vez dlante dêste caderno escolar, pro-
culel tirar minha atenção, r'ecolher-me, como para um exâ-
me de consciência. Mas não foi minha consciência que vi
com êsse olhar intedor ordinàdahentê tão calmo, tão pe-
Dotrontc, que não se detém no pormenor, que vai direitô âo
c^lscncial Parecia escorlegar na superÍície de uma outra
(r,rrs(iiôncia âté então desconhecida de mim, um e§pelho
l,urvo (lo qual temiâ ver surgil, de repente, um semblânte
-" qrto r('mblante ? o meu tâIvez ?... Um semblante e§que-cklo, Dovomcntc cnconhado.
Seria necessário ÍaLar de si coú um inflexivel tigor.
E ao Drimeiro esÍór(o para se agarrrr a si mêsmo donde !ém
essa lliedade, essa lernura, êssc relaxamento de tldas as
fibras da âlma, essa voniade de chorar ?
fui. ontem, ver'o vigário de Torcy. É um bom pâdre,
hujto pontual, quo eu aaho ordinàrjamcnle um lânto !u[-
EaÍ, ur; filho de camponeses ricos que sabc o valor do di-
iiheiro e que tem p.rande ascÊnclência sóbre mim por causa
de sua exipriência"do mundo Os colegas dizem quê éle será
deâo de lieuchin. .. suas maneilas comigo me decepcionâm
baslânte. Doroue êle nào gosta de confidê$cias e sabe ridi-
cularizá-ta; com um lârgo riso bonacheirào muito mais fino,
aliás, do que me parece. Meu Deus, como eu gostâria de te1
sua saúde_, sua cõragem, seu equilÍbrio ! Mâs cÍeio que -êle
tem certa indulgêncú para o qúe chama minha sensibilice,
Dois sabe oue issó n.io é para mim umâ ionto dê raidadel th !
'hào I ltá ir".mo bastâite lempo já, que não procuro con-
funalir com a verdadefua piedade dos santos - iorte e doce
- êsse temor infantil que em mun 
produz o sofrimento
alheio.
- Naala excelente sua 
fisionomia, ]neu pequeno !
É preciso dizer que ainda me sentiâ tmnstornado pelâ
alescompostura que úe passou, poucas horas antes, na sa_
c stia,_o velho bumonchel. Deus sabe que eu náo queriâ
perder' tempo, nem me abouecer com os tapêtes de algodão,
ãs vestes úídas de traças, e as velâs de sebo pagas muito
caro ao lornecedor de S. Excia., mes quê sP deslazem lo8o
dêDois de âce.âs, com um bârulhinho de tligideirâ no Íogo'
Dá las-ia, gratuitamenl,e, e com muito góslo. Só que os pre-
ços são os pr€ços; que hei de fazer ?
- O senhor alevia botar 
êsse homem para fora de sua
casa.
E como eu Protestâsse:* Sim senhor, parâ fora, pedeitamente ! Áliás, eu co'
nheco ésse tal Dumonchel: o ve)ho tem com que viver.. . Sua
deÍulnta mulher era dlras vezes majs ricâ que êIe - o ba§-
12 cEoncls BEENANoS
tanto pâr'â scl cr,terlaala dece[temcnte, Vocês, os padrcs
moços. . .
Ficou lodo vlr'melho e olhoü-n1c clc alto â baixo.
- l:lr ln r.ll1'o o qu. os sênhot1- lôm n-s veias, hoje.vorr's, f:Ilrrs ,n.,-os I No m' il lômt,J lir..t.t1cm.se hOm(:rS
da Igreiâ - não .idianta f1-anzir a tcstâ. sinto vontade deesbofeteá ]o. Sim, homens cla Igrejâ, tolüc a palavta no sen-
tido cm que quiser, cheics cle paróqrlias, senhor.es e donos;
afinâ], homens câpâzes de goveular'. Essa gente domlnâva
uma reg_ião intaira. sem outlo gcs1.o que o de levântâr. im-
p,rrti\dm^n:e o ,'oçlo. Oh I iá sci o q't você vai Ciz:r: êlês
com;1m b ,nr. bêb'am m. 'hna . n: o 'r^.I)rêzâvâm o b.rrclho,De acôrdo I Quando se Íaz corlveni.r'lic_mente um trâballlo,
ôle ânrla depressâ e bel,, sobrânCo tcul]lo pârâ descanso, oqu e bom p|rra 1ódi c g.n ,. AEo"ir. o. sê.ninát.ioc nos n an-
d.m co"oinhr.. uobr..coit.rlo5 qrt. ifldqinam lrrb".hoa
mp"is que ninguém, polque não cheljâm:o fim de coisa àlgu-
rÍla. Êsses tipos choramingrm. cÁ yez ale mandar. Lê-cm
n1ultidões de lir'ros, mns n'.lnca chagam a compleenaler - accmpleendcr, está oüvindo ? - a plrábola do Espôso e alaEspôsa. Que é umâ espôsâ, tal como dcsejaliâ encontrar um
hon-c-n. sê Á bJ"'xrll^ id:.la p: ,â r.., ".;l.ir o ^ons.r,ro doSio Prulo:' I,,l;o r' .noh r. ;ô.quc ir â ;:rFr toli..q.po :,
nnliito bem, é uma criâtur:a {ol.te e íI.me no tr.abelho. mâs
qüe se submete ao ritr'l1o inexorável das coisâs, sâbcndo que
tudo delc ser reconteccdo, aLó o fim. Por. mais que se ês-
Ior.cc, a Sânta Igrcjà não consegurr'á trilnsiolmar ê!1rc t)c-
brc munclo em um ostenijór;o de CaIIro c1e Deus I Tive om
ôulr'o. iem0cs . tclo do nr,-'.J enli.j ( frroq.'ic - umc r'nl-l)legada" surprcendenlê, rü1]e boa iünã dê Bl'uges, sccull]ri-
zâda cm 1908, um grandc coraçaic. l{os oito púmriroÍj (lins,
lustr'a que lüstrâ, a {tasa de l)aus se pôs â leluzir corno ullr
IftrLr1ório í'le conlento; rrão a rccoqhecia mâis, pitlirvl rl(.
honra ! Itstá!'àll]os no tempo da colheila; qücr (liz(\. {llro
rliio âptfi{iia em nlinhâ casti nam um gato, c l1 lnrlíttll( I vl,
lllilllrjI i,:., qu. 'u li ',..., o. ..f .iós. rL n.njr ,t't' l,.rlr,,holror'a clliDrlos ! Plnso qric ela chrgou a l)rLgú los rlo Írll
DrÁlro DE uM P/iRoco DE Ár,DEra 13
bôlso. Tôdâ rnaDhã, bem cnten.lido, encontravâ uma nova
camada de pó ncs l):rncos, um ou dois cogumelos novinhos
no tâpête de cordo, e tlias dc aranha - Eil, mcu 
pequeno !
- teias de ar'anha lailiar'ue para fazer un1 enxoval de noiva.
"Eu cllriâ a mirn rllesl1lo: lustlc minhâ lilha, você verâ,
domúgo. E o doirlrtij-o cl1c3.u. Oh ! ul1.l domingo como os
outros, nâdà dc Íc,LNii eorlr r:cpiques de sino; a clientela ordi-
nár-ia, qual ! L/lisÚl;l: I lll rr-l, à meia-noitc, clâ elcerava e
esir.egàva aindâ, (lc vcl:i na mã0. E aigum{is scmanas mais
lalde, no dia dc Todo:j oa §iântcs, ürna missão de ânâ§ar, pre-
gadâ por dois padrcs -iedentoiistâs, dois tipos enormcs ! Â
,Lerrz Dass.rvâ \u....r\i, t'-1:rrl'.rs Inlrr s.u bald'c
r, u e..óvJo - r rotl. rq r'1o'1.!r - d! lrl tnodo qLe o mu.go,r,m, aavd a subir n .j , oluna i..i 'ri. e i r.. s n3\c'am nrs
jur1t,üas dos ladr-ilhos. l{ao heÍja jcito de fazer a boa irmá
raciocinat. Se eu Íôsae o.ivi-l4, ninguém trânsporia a nTinha
por-ta, para que o próplio Dcus não sujasse os seus pés Ía
lÊ-.ia; im3Si.r, I D'/i..li,c: '^ senhors r.lo srruirra.: coln a
colnpla de rêmédio!" - 
porquêrciâ 'úo!siâ. pobre vclha, AÍi-
rlill, caiu de cal]la, corn nina crise de rcrimâtismo ârticulal,
o corâqão frâqueiou, c piuf ! eis uma boa irmã diânte de
Saú) i,odlo ! Dm cerio scntido, ó u,a mári,ir, não se podc sus_
tonlâr' o cont!ário. Scu êr1o não loi combâter  imun_
(11(iir', ó calto, mas tcl qitelido acelJal co11l ela, como se fôsse
tar .i!,1. Um, 1rcr,,1-', i lr.,'o..rr.crr!, suj.r. L 4, cris-
i:,url..,lc i liuilx nr..i , \u a. rspcl'c o ftandc di, (lo JuiTo
Í'irrl, vocô hir de ver o Liue os ânjos tel'to de rotirar'dos con-
vr,rrlor; rnLlis sâ11',os, às ira,s, - 
quc lixc I Pois .ntaú), menino,
lir() Pü)vir quL'a! lgrcjâ deve scr ilma boll dorlà dc cas3, §ó-
lllli I riLz{riv{q. Àilirhl l)oa ilnrã niro cro uma vcld!1(l('irâ do[a
(ll, r'iLlir: uDr! vfr'(lâdcilo (bnír (lc (irsx s[br íllr('§llr (rüia nío
i. lrr rrli(liiljo. Mir:;, isso Ir(k) rrirí) i(l(iiirs rl{ lxxliI l"
l,lrrln,riLvoqor.ilc(lrlt:rri ( iri. I ' i I I Í I r I r r r r t i ) rnrhia de nolo
rx,ll r'IIlrirrlx), lltrloi, rr('ro (ll'irtr iI|',LrIrr('rrI(', c(»Iv.ncê-lo de
rt ,. o r rr ,rl)lr) )lrL() l(r'll li lvr'2 lx rr rrí!)llri(lo: qr]o cssa leli-
lll,,rr (lrr(, xIrr,1r (I, lrrLl)rllri,r r]r(llL Iirt]r (lc corDum com os
14 CEORCES EERNÀNOS
coroinhas, os pobres diabos .,que choEmingarn em vez de
dar ordens".
- Desengane-se, disse-me êle sêcamcnte, A ilusão é amesma. Só que os pobres diabos náo têm a perseverança de
minba boa lrrúà. eis tudo. À primeiÍa tcnta'liva. sob o pre-
tcxl,o ch quê a exll]eriéncia do_minisle.io nào confirrna iuas
idêiazinhas, desistem de tualo. Só servem parâ comer doces !f uma cristandade, como um homem, não se pode alimentar
dê confeltos. Nosso Senhor náo escreve oue somos o mel
da terra. menino. mas o õal. Ora. nosso poüre mundo se pa-
rece com o velho pai Jó, nâ sua esterqueira, cheio de chagâs
ede úIceras. Sa1, na châgâ vivâ, queima. Mas impede tâm-
bém de apodrecer. Com a idéiâ de exteminar o diábo, outla
mânia de vocês é a de serem âmados por câusâ de vocês mês-
mos, entenda-se. Um verdadeiro padre nunca é am-aalo;
guarde isso. E quer que the diga ? À I$eja pouco se lhe dá
quc vocês sejam amados, meniDo. Sejam pÍimeirc respeita-
dos, obedecidos. Á Igreia precisa de ordem. Tmte de ordene!
aa coisas durante o dla. Ponhâ as coisas em ordem, pen-
§ando que a desordem prevâlecerá no dia sêguinte, porque,
ai de nós, é jusiâmente na ordem das coisas que a noib Aes-
barata seu habâlho da véspera * â noite pertenee ao diabo.
- À noile. disse (sabia que o ia pór turioso), náo per-tcnce aos Ír'âdes ?
- Sim, respondeu,he friameÍrte. ÊIes tocam música.tr'iErgi escandalizar-me,
- Nadâ tenho contla seüs contemplativos, cada macacono seu galho. Músicâ à parte, são também Ítoristas.
- Floristas ?
- PerleitamÊnte. Quando atrumamos a casa, lavâ.Ílosr louçâ, dcscascolnos as batatas e colocamos a toalha na
rn(,ir[. {,ndlcmos de llores frescas o jarro; é natural. Note
íIrÍ, D)lrlxr pcqucna compalação só pode escandalizar os im-
lx1 l,lx,r'rlu,.ó r.luro quc CxisLe uma ccjlo ditcrcnçâ... O
llrftr rtrlHlll,,r rrrro n o litio rlos círmpos. E, alóm tlisio, sc o
lÍ)Ín'Ir lr1,li,r(, llnt l1ló â um Ícixo dc pclvincos, ó quo trôo
l,ltlru (1(, llll bnll,(), uÍl Íilutão I Um losumo, Bcu6 óol.ltern-
DrÁRto DE uM !ÁEoco DE Ar.DEr 15
plativos estâo muito bêrr prepâxados para nos Jornecer flores,
verdadeiras flores. Infelizmentê, há, às vêzes, sabotagem nos
dâushos - como algures a miúdo nos enganam com ÍIoresde papel.
Olhava-me de esguelha, sem parecer que o estava fa-
zendo e, nesses momentos, creio ter percebido no fundo de
scus olhos múta telnura - e como dizer ? - umâ espéciede inquletação, de ansiedade. Tenho minhâs provações, êIe
tem âs suas. Mas a mim me custa calá-lâs. E, se não falo,
é. pobre de mim. menoc por heroismo. do que por êsse pudor
que. segundo dizem, os médicos também conhecem, lá a seu
modo e nâ ordem de lreocupações que lhes é própria. i{o
passo que êie calará suas mágoâs. aconteça o quê aaontecer:. sob sua exl,ravagante sinceridade será mâis impenelrávêl
que êsses Cartuxos que uma \,ez cruaaram comigd, nos cor-
redores de 2..,, brancos como cêras.
Bruscamente colocou m|nha mão sob a sua, Íúo in-
chada pelo diabete, mas que aperta ràpidamenter sem vacilar,
dum, imperiosa .
- Você di-rá tâlvez que nâdâ entendo de misticos. Sim,você dirá isso; nâo se Íaça de bóbo. Muito bem, meu caro,
hâvia no meu tempo, no seminário maior, um professor de
direito canônico que se julgava poeta. ÉIe fabdaava os ver-
sos mais incríveis. com os pés que Íôssem necessários, rimas,
cesu!âs e tudo, pobre homem ! Seria capaz de pfu seu di-
reito canônico em versos. Só lhe Íaltava üma coià, chame-a
como quiseÍ, a inspiração, O gênio - ingeniunl - sei 7á,.De minha parte, não tenho gênio. Se o Espírito Santo me
chamar algum dia pam o convento, deixarei por aqui rllinha
vassoura ê meu esftegáo - que pensa você ? * e irel dâruma volta pelo céu, a fiÍn de aprend$ música com os se!â-
Íins, sob a condiçáo de poder desentoa! um pouco, no co-
mêço. Mas hão de permitir que, antes que Dcus levante a
batuta, eu possa estourar de rir na câla dos que cantam
no córo !
Refletiu uÍr momellto e seu rostor erhbota volíado pâra
â ranela, pareceu-me, de repente, sotnbrlo. ,q.É os tmços de
16
(}EORêES BERNANOS
su|r Íisronom'â s. cndurFcerom. co'llo ce óle csperas ê di
i;;r"';';;;"-,it;nrio lalv'z do \ux 'ons''iência - uml
ãti..-o. ,,, ,1, 'ri ni:.to. nâo s^i o qrrc Àliás quase na
,.orr'. - L"ir," ii-;oiÀm'ú' i e'e ur.'. r'.lPdz de tolt.lo 
nJo
i,.:.t ii,;-, --. ti,d,, n "u, mú''i'r n-' o l.teservou do 
pê-
#a; ;.;*;,h ú"í.rr, "'nubrcs 
c.r''Lores b'm lensantes
à",1"i,üii""rn v.r' cln s:'r'ri'" prIJ c\pulrâcio imasinam
".i'. 
lli nr,ri; "àii;0" n t.r muiru 
â \unl3de no ôxtâse qLre ar
"';,,;;;i," 
que:rLirrlro ' a'';Lr'ô 'r.'mon^"'iode 
Àb'â'io se-
",,,'"1... 
ôd: ncluri,lm'rrlc nir(lr m'is làcil' às^vôzP'' que
'.ll.tt ; ;.;. allur.s: ô IJr u-; qucnt nos lerir' o 'a'o e â
,;;,. "";r.;i ;;-;" ,í (. sc hou!,Iuh hzcr"so sab'r des-
:;i:"..'ü;;' nor.,"l' q," oc "crrtos' is verüdeicos se 
mos-
l;;; *;ii; ";,; ",.l,to'. 
r', rro''c Lr^ 'rêscPr' uma vez cur-
;;;l'ild;: , pi s^u , .iiolr oc cl^ ôquil'brio com( câvam pori. ':--- ^,,-.,,.^nt.r..cm a nr,rquim: -\áo lrle a 
nin_
i'"iilii;1i,'" ''';,i.",1. :-ii'ni- uõr: e"nécic dr 1erír'onhâ'
:;;,;i;? v' igonn, 'r" r''r m' 1:n'* inrmâdos pero 
Pai'
^l 
''", * r.l^" n.r t;c. oc b'lr-a\(nlul_nça anles dos oulros !
ÊlJli Ii,iI"á", lâ:Lirg-,*"r Por i'rvor! Es as sracas es-
i, 11.,"'ln- nr'.. n", 1... o prim' Iro movimento da âlna é
fl:: ii'"J, i;' .'";,"; :l" , n,, noi' .r, vd,dc rnan, ira", vá rá' a
":i;,r;;r- E ült;,: u rerLi'et cai' 
entre as máos do. Dcus
í:"'J, :e; ãi$-i r,rt" .'(us braço'. sóbre seu corr'ão' no
, n.r"aol; l" i.,.: Vocô terá "ur pa'te no concêrto vocô toco
iãr.inrro. or-"i-trt"\. pênso eu-. e eis que te pLdem lclc
.i];i',uã ;rà;;,;"ori um viotino e 
-ordcnem: 'vcmos
il;;i,;:.; ;;:ü,; si:r I... venha vPr meu orâtório mrs
i;Áp", i"re'. oc pes. lor causr do lapête"'
L, lônrln mrrito Dour o de mobili;rjoq massrutlt11r[''.p3_
- . 
_-^'-,,"i 
1,"i um leito dc acalu mac:!o' tlm J"m:rrro
:i: ,;.'.'r.;,:;:,';;,," r,\rado. po.rlonrs cob' rli's rr. r" rucra
:: ..;.,,..,,.,,, ô,in,l ulno.normF Joâna d Arn rlô L'rrr)7" M'rs
ll,; , i. I ,', i'-ii; q;f ã vigr,io a' rorcv m'' rrucru 'lo:ll1i'' 
rr,lrr r,r r,r,l l,:,rr üma outr'a sala. qua"c vitzl'r' nroDIlIauzL 
su
DIÂXIÔ DE UM PAROCO DT Á'-DEIA
,1),11 uma mesa e um genüflexório. Na par'êde, um quadio
rLrLrlo jnesÍótico, I ecido com os quc se vêem nas salas de
l,).rprtal, r'eplescntarldo um Menino Jesus muito bochechudo,
rrrul'Lo rosado, cntlc o bullo e o boi.
- Está vendo ôssc 
quadro ? dissc-mê. É um presente
rlL, ürinha madrinho, Tenho meios pala adquirir coisa üe-
llLor', mâis altística; no entânto preliro ôstc. Ácho-o icio e
i',, ur4 lan'o ,diol.r; ,' .o mr consola. Nós, mêni,Lo, nós 5omos
rlt lllandr'es, país dc gr'àndcs bebedores, de grândes come-
rlt)lr,s -- Licos... Vocôs, pobrcs morcninhos dc Bolonhâ, nosri.u.i (ochicholos cie ttipll, não podem calcuiar o que seja â ri-
(tll( zr Llc Ilandrcs, dss tclras negr'âs ! Inútil pcdir"nos belas
lr,rlllvrxs que Iaçam as (laiicias dc piedosas matronas; mas â
ltrri('sabc dizô lâs tâmbém ê não de todo mal; temos cá
rrrr ll r»ística, lapaz I e nada de místicas tísicas, não ! A
r,Llir lo nos Jaz môdo: um bom sanque fo!íe, bem ver-
r1r llLo, l)cin dênso, que f.rlsrâ em nosses lontes, âinda quando
i.l,llfos chciús dc gencbra âté o pescoÇot ou quando a cóler.a
r,r i()b(,à cirbeçâ, uma cólerâ llamenga, capaz de botar um
1,, , l(,Il,lrdo no chão - â gcnle tcm um lorte sangue ver-rL llrr. (,{xn u]na pontinha de sangue azul espânhol, o bâs-
l [rli lrlllr pe!]or Iogo. Vanios, para rcsumir: você tem seus
' lr,rr,r'ir rr)los, cu cá tive os nTeus - não são provàvel-r, rl' (,r rIr.snlos. Vocô pod.rá ser obrigado, algum dia, a
'| rl, r r| n()ri ylrâis, lnas eü del coices, e mais de umâ vez;
t, tr|,.r, r(llilrrr'. Sc cu lhc dissessê... Mâs eu lhe direi outro
rl.r rir r()r)rclll,(r au o cstou âchândo com uma cara muito
rrrrr r r,lr)lr v( nrlo â hcra em que você vai cail de Jtâqüeza,
lúr \{,ll:Úr{k) l() ML.nino Jcsus, imagine que o vigátio dc
It,t , rr,|lr', rlir rnilrha lcliâ, clc acôr'.lo corn o !igário-gor'â1,
lr ' lr,,r |irlnr.ir! r'('solvcrr,nandat mc â Siint Sulpicc. Pararr,,,r 0llilllll,(lvr(loclc],orro(o.Smrmür' ouoEscoia
,1, r l,r, rir l,l, (l(,lx)is, o Sr. McLr I'xi ((\rl,Ic l)irr['r]lcscs: a
t,,r,, iL,, ti, r,, r illr(, al. crjlrtvi l)riní'iur(l(), rrrrrs prIlc('c que o
'rl , r,, 'lr 'liiri.V llUll(il sr roli'r( lr ]n,1r l)iri (l(nrl,r'a lormâ: co§-l,',1i! ,',rl,ri ), o tir . M(,u I'ri l.i1rlürrí. (,Dohido de di
r1 , ,,, r,Lrr jtr,rr urltÍn,n, r sc julltrrvx 1ro clcvc! dc honla! a
1?
18 GEOROEg BERNÁNOS
dioccsc. Só que, orâ essa !... Quando vi aquelâ velha casêr-
na lcprosa, com cheiro de caldo de sebo, bü 1,.. E todos
aquôlcs bons rapazes táo magros, pobres diâbos que mesmo
vhtos dc lrcnte par€ciam estar sempre de pelfil... Enfim,
com tr'ôs ou quatrc bons camaradas, não mâis, a gente haziâ
os prolessôres num cortado; caçoavâ-se um pouco, qual, bo-
bagens ! Os primeiros no trabalho e na comida, por exem-
plo, mâs, fom daí, uns verdadeiros demônios. Uma noite_
qLrândo Lodos dormiam, subimos ao têlro e foi um lâI de
miar. .. que, por pouco, não acordamos o quarteilão inteto.
Nosso mestrc de noviços peNignava-se ao pé da câmâ, pois
o inÍeliz petsava qüe todos os gatos da realonaleza tinham
mârcado encontro na santa casâ, par,a contar uns aos outros
coisas horriveisi - ur)ra farsa idiola, nào digo que náo I Nofim do trimestre, aquéles senhores me mandúani voltar para
câsa e com câda nota ! Nada burro. rapaz honesto. boa in-
dole, e tatatá e telete... Em resumo. servid mesmo para
gualdar vacâs ! qu que vivia sonhânalo ser padre. Ser pa-
dre, ou morrer ! O coração sangtava tanto que Deus pemiiiu
tivesse eu a tentação de matar-me - peúeitamente. OSr. Meu Pai era um homem justo. Levoume âo sI. Bispo,
nâ sua cauuagem, com uma recomendaÇão de minha tiâ-avó.
superiorâ das lrmas da Visitaçâo em Nâmur. O Sr. Bispd
era também um homem iusto. Mandou-me entrd logo pàm
seu gabinele, Lancei-me em seus joelhos, falei-lhe dt tentâ-
ção que me âssaltara e. na semana seguinte, êle mandou-tne
parê §eu semináxio maiorj câsa bastante ântiquada, ma§ só-
lida. Não importa ! Posso dizer que vi a molte de pêrto, e
que morte I Entáo, resolvi, desde êsse momento, prevenir-
-me, fazer-me de ingênuo. tr,om do seNiço, como alizeln os
militares, nadâ de complicações. Meú Menüto Jesus é clian-
ça demais para se inteÍessar bastante pela música ou pela
litcraturâ. E ate fada provàvelmente caretas a quem se con-
tcntasse em revirar os olhos para cima, em vêz de levâr
llolhar Írescâ para seu boi, oú cuidar de seu bulro. . .
^Ilâstou-me 
pâIa fora do quarto, segumndo-me pelos
omblos, c o amável tapa de uma de suas grandeg mãos quase
DrÁlro D! uM P.ÁRoco Dx ÁúDEla
me fêz caiÍ de joelhos. Depois, bebemos juntos um copo de
gcnebm. E, sübitamente, olhou-me direito nos olhos, com
um ar de seguraDça e de comando. Eta como um outro
homem, ulr1 homem que náo presta contas a ninguém, um
- Os ftâdes são os fradês, disse; eu não sôu um frade.Não sou um superior de convento. Tenho um rebanho, um
ver'dâdeiro rebanho; não posso dançar diante da arca com
meu rebanho - simples gado; se o fizesse, com qüe me pa-rcceria, quer você dizer ? Gado, nem muito bom nem muito
tnau; bois, asnos, animais para atrelaÍ ou patâ lavrar a
tcrla. E tenho bodes tâmbém. Que hei de fazer de meus
bodes ? Não há jcito de matá{os ou de veudê-los, Â um
abade mitrado basta dâr uma ordem ao irmão porteiro. Em
caso de êúo, li\,aâ-se dos bodes, num minuto. Quânto a
nim, não posso fazê-lo, a gente tem de dar jeito em tudo,
n1esmo bodes. Bodes ou ovclhas, o Mestre quer que lhe dê-
volvâmos cada ânimal em bom estado. Não vá meter-se na
cabeça a idéi,a de que se deve impedir que um bode cheirc
a bode; peÍderá seu temlo, ariiscar-se-á a câfu no desespêro.
Os veihos colegâs me tomam por um otimista, um Roger
Rontemps; os moços de sna espécie, por um papão; âcham:
-me duro demais com meus paroquianos, excessivâmente mi-
litar, excessivamentg codáceo. Uns e outros me censuram,
porque não tenho um planozinlo de reforma como tôdâ a
gcnte, ou porque o deixo no Jundo do bôlso. Tradição ! res-
mungam os velhos. Evolução ! cantam os moços. De mim,
.rejo que o homêm é o homem. não vaLe mais que no Lcmpo
(los pagáos. Aliás. a quesláo nào é a dc saber o que ôle vaie,\
mas quem o dirige. Ah ! se deixassem os homens da Igreja I
agir ! Note que não me refiro aos confeiteiros da Idade
Módia: os homens do século treze não passavâm por sant!
|hos e se os frades eram menos idiotâs, bebiam mâis que
hoie, não se pode dizer o contrário, Mas nós estávâmos em
vias de fund um império, menino, um império junto do
(lual o dos Césares não passariâ de um excremenío - umapt\z, à Paz Romana, a verdadeira, Um povo cristáo, ejs o
19
2o GEORCES BERNÀNOS
, ílucll.rÍl,nlos [ollllodo iodos junlos. Um povo de clist:.o.
ltir(, ( rll» tn'vo,lc b'5lo{. À lgreja tcm os ner?os sólidos;
o lx\ril(k) Duo lhc melje mêdo; âo contrário. Olha-o de frente,
/tr'rul,lrilljllrr r1\' , nl.. a es.mpio de No.\o S.nhor. toma-o â
/ sl, Írssllrrl, -rrrr r.s!Írnsab:liclêüe. Q,isndo um bom operàrio
'r lr'nbillhiL ,,onvcnienlemente durânle os scjs dias da semlna.
/ t r(l( :''-llr, dar um trago. no sábado. a ta,drnha... Veja. eu' vurr d, iini[ u]n po\o cristdo pelo seu conlrátio. O contrárioI tle un povo cristão ó um pcvo triste, urA povo de velhos.
\ v(,ci djr; que a detiniçào nào '1 b.s{xnly l,ológicc. Dc ocôr-I do I Mas tem por oedo Jazer rclletir os senhores quc flsiâm
I rr miss, dc dorningo a tlo.?jJf. É nrlurâl que bocejern, Você
/ ndo trá do querer qur e i t,mn irsisni.icanie meia-hora por
I s,mcnc. â Igrcja lr"s.r cn.:nii-lh(s d clegrir ! E. âinda que
J soubesspm dc cor o c::1.: ,iÍo úo Concir;o de TtenLo, nào
1 scrjâm prolavelmente úrâii âlcgr'.s.
' Por que será que o tFmpo Ll. no".r inlância nos parece
tão radiante, tãô doee ? O galôto sofre, como tôda a gente; e,
aliás, é tão desâmado côníra a dor, a doença ! A infância e
a extrema velhice deveriam ser as duas grandes plovações
do homem. Mas é do sertiiranto de ouâ próplia impotência
quc a cdanqa tira, humiidelneate, o princípio de sua alegria.
Confia em sua mãe, coúlpleei,de ? Paêlente, passado, Juturo,
tôda a sua vida, a vida iaLeira, fica suêpensa â um olhar, e
êstc olhar é um, sorriso, Pois b3111, meninc, se noa deixassem
âgir, a nós, a Igrejâ teda dâdo aos homens essa espécie ale
scg,rlança suplema. Nenl por isso, eDtletanto, cada um dei-
xâr'iâ de ter sua parte de abouecimento. A fomê, a sêde, â
pobrêza, â inveja... Nunca seremos bastante foÍtês paÍa
botar o diabo em nosso bô1so. você sabe ! Mas o homem tei-ia
o ccrtezâ de que é lilho de Deus; eis o milagre ! l'eria vivido;
rloflcria com essa idéia na câchola - e não uma idéjâ adqui-lkls sú nos iivros, não I Porque ela teria inspirado, graças
o lrós, os usos, os costumes, as dlstrações, os ptazeres e âte
us illois hutni]des n€cessidades. Isso não impedida que o
ol)c!lill() ci,grav:rtasse a teua, que o sâbio esgruvinhasse sua
túbuo dc logàritmos, nem mesmo que os engenheiros cons-
DrÁRro DE uM PÁloco DE AúDEIA
tluíssem seus brinquedos parâ gente grande. só que têría-
mos abolido, teríâmos at!âncado do colação de Adão o sen_
timento de suâ so1edaCe. Com suâ enfiada de dcuses, os pa_
gãos não eram táo idiotâs: consêguiram, âpesar de iudo, dar
Jos pobres ,nrorlDi" a ilu(ào de uma g'r'osseira convivência
com o invisível. IÍâs agora, ês§e iruque não vâleda uma
pipocâ. tr'ora dâ lgreja, um povo se!á sempre um povo de
bâstardos, umr povo de enjeitados. Evidentemente, rcsta-lhe
ainda a esperânta de ser reconhecido por sâtá ! Babau ! Eles
podem pspirar, por nluilo tempo. sêu NaÍalzinho negro. Po_
ãem pôr io fogáo seLr' $pato§. o diabo já se cânsou de co-
locar nêles uma ouantidade de bdnquedos que caem da-modâ
no mesmo instante em que §ão inventados; êgora êle põe nos
sâDatos aDenas um n'inúsculo pacofe dê coccína. d. heroína
dê morljnâ, umà sujpira de pó quatquer que nào lhe custa
caro. Pobres tipos. C'.nsxm-se â1é de pêcar. Nem íodos que
queÍem dictrrii.sê çc distraPm. A menor bonêra dê quâtro
tostões Íaz a felicidade de uma garôtâ, durante me§es, en-
quânLo que urn pobrê diabo adullo állorrêcê_se com um mjmo/
(r. quinhentos Íran.os. Por quê ? P-gIju_apgg+ o- SPjlilO \
de jnlànciâ. Pois bem, mell caro, â ]greiâ foi encarriegâdâ '
iõi-Nos§õSenhor rle manter no mundo êsse espírito de in-
iância, essa ingenuidade, êsse frescor. o paganismo não era
inimigo dâ nstureza, mas só o cristianismo a engrandecê, e
ctâltt. âdâDlando-a à medida .lo homêm, à medida de seLrs
sonhos. Góstario de agsrrcr um desses sabichões. que me
âcusam de obscurantista, pam dizer-lhe: "Eu náo sou culpa-
do por Llsâr essa roupâ Íúnebre. Vejâ que o Papâ se vêstê
rlc üranco e os cardeãis de verm'lho. Eu teria o direito de
pâssear por aí vestido como a Râinha de Sabá, porque tenho
Acntlo de mim a aleg a. Po! um nâda tha daria se você ma
pealisse. Á Igrejâ dispõe da al€g a, de tôda a provisáo de
ilegria reservada a êste triste mundo. o que §e faz contra
ela. faz-se contra â alegda. Será que eu impeco o senhor de
calaulâr os movimentos equinoxiais, ou de desintegrar os
átomos ? Mas de que lhe adiântalia fabdcar a própria vidâ,
§c o senhor perdeuo sentiment'o da vidâ ? O senhor não telia
G]]]ONOES BXIINÀNOS
olltla c{}isit ir lizcr quc cstour'âr os mioios, diante de seus
aplt'clhos (Luírrrico: ! Fabrique a vidâ, conio entender I A
;n)irlí\D {lx lror'[c, quc o senhor propaga, envenena, pouco
c lxlr.rlt), o |( sxnlcnío dos misefáveis, cnche de sombras,
ürsvrrlror(', lcntilm.ntc, suas últimâs âkrgrias. Tudo irá bem.
r'rqrirlrld \lli. ', dL.lrin c s.Lr .xpllx:s lhê pF-milirl rn ia/er
rli' Ir,ur,lo lrr,t- ie.11, com rn..ânis.ir,s 'luo gitdm c-n vclo-ckladc vcltigi{ose, no írâgor da maq[inaria c na explcsão
dos logos de altifício. Mas espclc, csi:rcre o pdmeiro quarto
de hora dc silêncio. Então, hão cle oulir a pelàvrâ - Dáo;lqucla quc recusalam ouvjr c qu€ diziâ tranqüilamente: Eu
sou o Câliinho, a VerCiti.le c a Vida - mâs â pâlavra quesob.- do abisn1ot êu so.-L â potla para semple lcchadg, o câmi
nho scr'!1 sâÍda, â ]ncntir.a e â pclCição,,.
Plonuncioü essas Ítltimas palàvras com 11m9 voz táo
somblia qlre devo tcr ficado pálido - ou, ântes, amârelo,o que ó, pollre de ndm ! desde muito. â minha maneira de
flcar páliclo; cncheu dc nor/o o mou copo de genobra e co-
mcçarnos a fâlar Cc oull.a coisa. Sua alegria não nle pâreceu
Ialsa n€rn mesmo aÍeteda. Dois âcho que suâ próp à natu-
t-cza! sua alma é alcgre. IÍÍas seu olhâr não conseguiu, no
mcsmo ins'i,onte, colÍrpor-se con1 sua alcgria intelior. Ao sair,
como me inclinâsse pâra dcspeíiil-m-â dêle, Íêz com o polegar
uma pequcna cruz n:r_ ninha testa e introduziu. delicâd3-
flr'nl^, un-a nolc de cem .-rnr^. no "neu bôisc-
- Âposto que você está sem um níquel; os pdmeirosI'rnl\o\...ô durJ.: vocc ,-lc p.'g?r;. dolois. quanoo pudcr.
Vi lrllLa.hxnuo e n,rd* diÊ-: aos rrrljlcjs. a respcito de nós.
"IÍrvar paiha fresca pala o boi, cuidar do burro"; essas pa-
latvlns rnc voltaram à mcnte, pela manhã, enquanto descÀs-
c:lvir nrinhls betatâs para a sopa. O auxiliar da pr,efeitur[
(lll(,Íl()u, (l(,surDr'êsa, e eu levantei-me bruscamcnte da cadci(t,
scnr lcr' [i(lo lc]npo aie sacudfu as câscâs; sentia-me ridÍculo.
DIíRIo DE UM P,(RoCo DE ALDEIA
'llrzia-me. âIiás, umâ boa notíciâ: a municipalidade vai
ll lndar- abrir uma cisterna cm minha casa, o que me eco-
ll rrrrizârá os vintc tostões por semana quê dou ao coroinha
,'i rN buscâr'água à fonte, Mâs eu gosiaria cle ihe drzer uma
Jrrrlr\,r,a sôbr-e seu caberé, pois resolveu âgor'â dar um bailc,
l,rlir qüintâ-feirâ e torio clomingo. Châmà ao dc quinta-feira
",, l)rilc das ÍamÍlias''; âtrai, parâ êle, ât€ as mocinhas da
l;rl)r l( a, e os rapazcs sc (iivei'tem, fazcndo as bebef.
Náo tive coragcrn. Tem,rl11 jeito de mc olhar com um
r0lli!ir), no Iunclo bâstrnte âÍávc]; isso me leva â conversar
rr,|r i,lo con,]o sc, no liDal das contas, quâ1quer coisâ que eu
,lt,r nro tciha inrpodância âtgllmâ. Â1iás, setia mâis con-
!,lri,,rÍ. ir' à stla câsa. Há unl Dr_ctcxto parâ minha visita:r ilr,nhor'â cstá grâvemente €niêrma, não sai do quârto, há
\, I r: rj(ntrnâs. I)izcm que não é má pessoa; e parece que,
r'r'l r|rrroDtcr -lreqüenLava com assiduidede as cerimônias
''t(!NI palha lresca para o boi, cuidar do buro", §eja.
l\4 L,: (11\,cl1,s simples não são os mais fáceis, pelo conhá-
rtír í)i: linlris íêm poucâs neccssidâdes, âo passo que os
1,,'r'! rr | .. sl.i muito bem que todos fâlâm da simplicidâ-
.l', ,l,i. lri)rrrrs do campo. Eu, que sou filho de rocciros. con-
,,t,1,,,, ,,r. ;llltcs, horrivchnerlte complicados. Em Béthune,
r,, l, rrlr, (lli ,lrou pl.imeil'o vicariâto, os jovêns operários de
'r,, 
,, I i I I I I i ) I I I I I ( ) , rrmâ VCZ paSSAdO O nAtUIâI âCAnhAmento,
rl',r,1,,,\:rr rr,Ír)rn sucs conÍidênciâs, procurâvamtôda for-
Ir,, rl' rI l ri| r( ll si nrcsnros: sentiâ se que transbor.lâvam
,l' lr ,l,,,lr:r ln,r' sluls plóplias pessoas. Um homem do
r,i'rl ,"Lfrr r ri llx.snlo Iaramente e, so mostla uma indi
nr,,,, I |rr{l t)ir)t qücm o amâ, não ó porquc düvida
rl'r ,'1, r,,'r rlll( iri, l(,,11 l! ôlc: scfia, irnl,cs, l)orquc II (lcspr.ez&.
Itr r,r ,lur rl,r rilr) ríi l)rrocul)lr 1,ânio am c(»)illit sc. Mâs
rt.,i, ' , r'l ,1,. (1ll,. « ilr(lo sôl)r'Í' os (t( n ilos c os vicios que!,,t,11,L,",rr t,r, r(rl(iir ll virLr inl]irr, (l('ríL (llli'os iulgou
rr'l! L Ir' ,r,,r1,.,,1,, rrr,,l()rnrívr.[, t)11{x rr])r(k) só .m manter
,' ', ,i,rr |,i rrrlr.irr ( r.IIrrI1,)i,r|. r',r rlirir{,UlaL k)s com o míni-r",,ri '1, ttrr.r. l,i iUriiür, 1]o;rlarri() (lrsslls vi(las de campo,
24 GEORqES BEBNANOS
§empre secretas, as tendências mon§truosas crescem demâ-
siâdamênte: o roceiro envelhecido custa a suportar_se t;i
Ilesmo, c lóda a simpatia o exaspera. pois suipejta que elascJa uma especro de cumplicidadê como o inimjgo inlerior
que devora, aos poucos, suas [ôrÇas, seu lraba_Iho. súâ riouezâ
Que dizer a êsscs miseráveis ? Enconlranr-se nos leitôs dê
morte certos velhos devassos, cuja atareza nao tera fàiiaJã
d-e- uma aspera desforra. um câ§ligo volLlnLário. impólto a si
mesmos. durânte anos. com um rigor inflexível. É até o li_mrar da âgonia..umâ pâtavra, que a angüstiâ Jaz jllomper,
leslemunha âinda um ódio de si mesmo: para o qual taivel
não haja perdão .
_ Áclo quê interpretaram muito Inal a decisão oue tolnet_
hâ-uIls quinze dias. de dispensâr os sêrüCos de uma "mprejgâtla. o que complica muil,o a coisa é qLle o marido dessa
irtim-a. o Sr. Pegriol, acaba de entrsr pãra o castelo, como
glr_arda-car"a. Prestou mestho juramcntô. ontem, em Saini_-ryaast. [; eu que pênsci agir com {inura. cornprando de sua
mao"um pequeno.bârrit de vinho: câstej. assim, os duzen_
lo_s Írancos-da minhâ tia f.ilomena. sem npnhum proveitô,
por§ o §r- Pregriol,-não vai majs vjâjaT pâra aquela'casa deljoldêus à quai, todavia. passou a encomenda. Supontro que
ljy :yges.g irá lirar-todo o proveito de mintra pe{uena libe-ralidâde, Que estupidez I
._^,!r]Ítr.ql" estupidez ! Espêrava que ési,e diário mê aÍu_
91ji9 1ITu, meu pensamento que se escapara. sempre, ãr.r_ranÉ os raros momenÍós em que posso relletir um Douco-
Qurcera que éle fósse umâ conversãção entre Nosso Senhor
e eu, um prolongamenÍo da prcce, uroa lofina cte contornar
DlÁato DE uM PÁBoco DE Ar,DErá 25
as dificuldâdes da omção, que me parecem, âinda, com Íjâs-
tante freqüênciâ, insuperáveis, talvez por causa de minhas
dolorosas cótlcas de estômago. E eis que meu diário revelâ o
enorme, o desmesurado lugar que ocupam, em minha pobre
I,ida, essas mil pequeninas preocupações de todo diâ, de que
üe julgâvâ liberto. Sei bem qüe Nosso Senhor participâ dê
nossas contrariedades, mesmo fúteis, e que Êle nâda des-
preza, Mas por que fix no pâpel o que deveriâ, âo con-
trário, eslorqâr-mc por ir. aos poucos. esquecendo 1 O p.or
a quê encontro. ncssas conÍidônciâs, uma doçurr lÀo gL.andc
que deveria bastar pâra me prcvenir contra elas. Enquanto
Iabisco, sob a, lâmpada, estas páginas que ninguém há de
ler', er.pe mento â sensaÇão de uma pr.esença invisível que
não é seguramente a de Deus - ante! a de um amigo fejtoà minhâ imagem, se bem que alistinto de mim, de umá outla
.sséncia. Ontem à lârde. tal pre§enna se to"nou. de súbito,
lco sensivPl. cUê mc sltrpreendi a inclinar A CAbeçA não sei
para que interlocutor imaginár'io, com uma vontade de cho-
rar que me enchia de vergonhâ.
Mais vale, âliás, lev a ex?eriência até o fim - querodizer, pelo menos durante algumas semanas. Esforçar-úe-ei
até por escrever sem distinqão o que me passax pe1à cabeaa
(acontece-me também hesitar na escolha de um êpiteto, ein
corrigiÍ-me): depois esconderei essa papetâda no fundo de
uiÍlr1 gâveta e a lerel. um pouco mais larde. com a cabaça
tr
TIVE, ESTÀ MANHÃ, depois da missa, uma longâ con'
vclsa com â Srta. Luísâ. Áté agom, rarâs vêzes nos encon-
l,rxmos nos ato§ religiosos da semana, poi§ sua situaçáo de
I»'ccepíorâ no castelo impõe-no§ a âmbos uma grande resêÍ-
v1r. Á senhora condêssa têm-Ihe muita estima. Ela devia, pa'
r'cce, entrar para âs C]ârissâs, mas consâglou-se à suâ velbâ
nrãe-enfêrmá, que só mo eu o âno passado os dois garotos
:r âdorâm. InfóUzmente. a filhâ mais velha, a Sríâ. Chan-
lil, náo lhe mânitesta simpitia atgumá ê até parece com-
I'râl.r.sp êm humilhála. em trâláJa como uma simplec do-
inóstica. criancice talvez, mas que cruelmente abonece a
Inrísa, pois, segunalo me informou â condêssa, ela pertence
o uma lamília ótlma e recebeq educaqão supe or.
Creio ter pêtcebido que â genle do castelo aprova ml-
trha re"olu(âo àp dispênsar a emprpeada. Conludo. achariam
pleferível que eu pagâsse umâ emplegâdâ de fora, uma ou
(luas vêzes pol semana, ao menos por uma questão de prin-
cípio. Evidénteheüte, é umâ questão de pdncípio. Moro eln
um presbitérjo muito confoltávet. a melhor casa do lugâr,
rl'pos do essfplo. ê pu a lâvar minha roupa?: Todos have_
I icn dê pensâr quê o lâriâ dê fropósito.
Corn certeza acham tâmbém que não tenho o direlto de
úrc distinguir dos colegas que não ganhâm mais que eu e,
no entantô, aprcveitam methor os seus modestôs recursos
Cleio sinceramente que poum me importa ser rlco ou poblê;
Í1ostâria âpenas que nossos superiores decidissem o câso, uma
vcz por tôdas. Cónvém táo pouco à no§sa miséria o ambiente
(lc Íclicidade burguesa dentro do qual nos obdgam â viver...
A oxtrerra pobreza não exige muito pam manter-§e digna.
l'or'â que ta[tâs âparênciâs ? Para que fazer de nós umas
(lr irrturas que precisam disto e daquilo ?
Esperavâ encontrar alguú consôlo nas aulas do cat€-
r,sn-o Àlementar, prepamqâo pâra a primeira comunhão,
sr,,lundo o desejo dó santo Pâdrê Pio x. Aindâ hoje quândo
r)r(ro o sussurro de suas vozes no cemiicrio e, na soleira, o
ruldo de seus tamanquinhos ferrados, parece que meu cora-
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TM, ESTA MANHÃ, depois dâ missa, uma longa con-
Inrsa com a Srla. Luísâ. Até agora, Taras vézês nos encon-
1,xmos nos âtos reiigio.os da semana. pois sud situaçáo de
lr'cceptora no caslolo impõe-nos a âmbos uma graÂde reser-
v- . A senhora .ondéssa tàmlhe muita estima. Êta devia, pa.
r'"e", enfrar para a._clcrissâs. mâs eonsâgrou-qe à sr.ra veila
n\:r. enlermâ. quc sô molreu o ano pa§sâdo, Os dois gàrolos
iL cdoram. lntelizmênle. a Íilha máis vêlha, â Srla. Chan-
tal, não lhe maniÍesta simpatia alguma e até parece com-
pl.azer-se em humilhála, em tmtá-la como urnâ_simples alo-
r'lÁslicâ, Criancicê l31vez, mâc que cruelmente aborrece a
I Ul(a, pois, segundo mn info.mou â condêssa, ela pêItenceil uma familia ólima e recpbeu Fducaçâo sLlperior.
. Creio feT percpbido que a genle do câslelo aprova mI-rrL-_rê"olucão dê dispcns?r a emi|cÊxda. Conl udo,'âchariam
l\f, ier'lvêl quê eu nâcas(e uma ãmpregada de forr. uD1â ourrlâs vêzes por semanâ, ao menos Dor uma questâo de p n-r,ir'ic. Evjdenlemêntê. é uma questão de oriricípio. Moro emum presbitérjo huito confortável, â melhor càsa do lugâr,
(lopois_ do castelo, € eu a lavar minba rcupa?! Todos hãvel
ri:rm de pensar que o Ia a de propósito. '
Com i"erteza achâm lambém quê náo tenho o dirêito de
nln distinguir dos r'otegüs que náo ganham mâis que eu e,
rro ' nlanlo. sproveiram melhoT os seus modesL,os iecurms-t'r.io sincFrâmênle quê pouco me imporla ser rico ou pobre:
Í{)crâ}ra apenrs quê nossos supêriores decidissêm o caqo, uma
v' z_t'or lódâs. Convém lào pouco à nossa miséria o ãmbiênte
r1r' r,ir.rosde burgucsa dênlro do qual nos obrigâm a vlver,,.
A 'xlremâ pobreza não êxige muiUo para man-ter_se cliEnâ.l'i,r'x que lântas aparências ? parâ que fazer de nós imas| r{ruras que precisam disl,o e daquito?
E.peravc encontrar êlgum consólo n0-§ aulas do câtê-
.lsnro plementar, preparaçáo parâ a plimeira comunhão.jx'J,undo o deseio do Sanío padrc pio X. Âin.lâ hoi., oua[dor,r(o o sussurro de suâs vozês no contitólio c, na solãira, or'uido dê seus tamânquinhos lerlados, parece que meu cora_
GEORCESBENNANOS
| 1:
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ção se desmancha de telnura. Sillite par\ulas... s,oÍh,ava
poder djze!-lhes, nessâ linguagem infantil que lne vem âos
lábios tão Íàcilmente, tudo o que devo guârdâr pâra mim,
tudo que não rne é possível expressar no púIpitô onde tânto
üre recomendârâm prudência. Oh! eu não me entlegâria
â exageros, isso náo ! Mas, enfirn, estava bem alegre por ter
de Íâlâr{hes sôbre algo diferente dos problemas de ÍrâQões,
do direito civico, ou ainda dessas aboninávels lições de coisas,
que não passam, com efeito, de licões de coisas e nada Ínais.
O homem na escolâ dâs coisâs I Depois, eu me teria li0er-
tâdo dessa espécie de mêdo quase mór'bido que todo padrc
moço experimentâ, quando lhe vêm aos lábios certas pala-
vras, certas imagens de uma grâça suspeita, de um equí-
voco que, obrigÂndo a retrâir-nos, Íâz que nos limitemos
Íorçosamente a âusteras lições doutliÍlár'ias, nu1Ír vocâbu-
lário tão gasto mâs tão seguro que não chocâ â ninguém
e que, pelo menos, tem o mé to de de<armar os comentários
irônicos, porque é uma linguagem indeterminâda e cânêt..
Ao ouvir-nos, muitos poderiam crer que pregâmos o Dêus
dos espidtuâlistas, o Ser supre:no, não sei o que, nada que
sê pareca, êm todo o caso, com o Lqenhor que aurendemos a
conh€cer como um amigo mâÍa]rilhoso, vivo, que sofre as
no§sas penas, alegrâ-se com nos§as alegrias, compartilhará
de nossa agonia e nos Ieceberá en1 scus braços, no seu co-
Íaçao.
Entretanto, senti logo celta resistência dà paúe dos
meniúos; calei-me. No final dâs contâs, náo é por culpe
dêles que à expe ência precoce dos animâis - inevitável
- se 
junta, agor'â, a do clnema, tôdas as semanas. . .
Quando sua bôcâ a pôde ârticular pela primeta vez,
a pâlâvra amor era já um têImo ridículo, um nome suio que
de bom grado corredam a pedrâdâs, rindo, colno Íazem
com os sapos. Âs meninas, porém, me deram alguma e§-
pemnqa, principalmente Serajita Dunronchel. É â melhor
aluna do catecismo, alegre, asseada, olhú um pouco petu-
lante, mas purc. Habituel-me, pouco a pouco, a distinduila
entre seus colegas menos atentos, interrogava-â muitas vêzes,
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DI.(IIÔ DE UM PÁIToco DE ÀLDEIA 29
parecia falar exclusiyamente para ela. Na semana passada,
(luando Ihe entregâva, na sacristia, seu bom-ponto sema-
nâl * um belo santinho - pus sem querer as duas mãosllcs seus ombros e lhc disse:
- Você esíá corn pressâ de receber a Jesus em seu(ioreçáo ? Acha que o dia está demorando ?
- Não. respond,.u mê. por quê ? Chcgará o dia, quandolúr hora de chegar.
Fiquei embaraçado, mas não muito escandâlizado, por-
quê sei como são mâliciosâs as clianças. Tolnei a falar:
- Entretanto, você ccmpreende o catecismo, nâo é ?Voaô me escuta com 'úânta âtencáo !
Aí, arrnou urne cariüllrâ sériá e responaleu, Jixânalo-me:
- É porque o senhor tem uns othos tão bonitos !Não me dei por achado, natumlmente; saíúos juntos
rla Eacristia e tôdcs as suas companheiras, que cochicha-
viün, calaram-se inopinadameute, depois estouraram de rir.
liird^ntemente, t,rrh,lm .omLincdo ê coisa...
. DeDois, esforcei-rnc por não audar de atitude, não que-
r'ja dar a entender que estava compreendendo o jôgo. 1üâs
rL pobre meninâ, com certeuâ, atiçada pelas outras, perse-
Iltla-mê com dissimuladas e provocadoras momices, assu-
ruindo uns modos de mulher já feita, levantando a saia pala
ÍünaüaI o cordão que lhe serve de tiga. I\4eu Deus, cdanças
siio cliânças, mâs a hostilidade dêsses meninos ! Que lÉes
fiz eí ?
Os frades sôfrem pelas almas. Nós sofÍemos em lugar(klâs. Êsse pensanênto, que me veio ontem à tarde, velou
j.rnto de mim a noite intei)a. como um anjo.
Ânivêrsário de minhâ nomeaÇão para a pâlóquia de
^rnbricourt. 
Três meses já! Rezel muito, esta mânhã, por
r,Irhx faróquic. minhâ polllo piroquia. mjnhJ primeira e
lrlvÊz última pâfóquia. pois eu goslcria dn molrer aqui.
ÀÍinha paróquia I Palawa que não se pode pronunciar sem
30 ÕÉORGES BEÀNÁIiÍOS
crnoçâo - quc digo ? scm um transporte de amor. E, nor\rl.lurl.(), at6 hojc, ela só desperta em mim u]nâ idéia con-
lust. sci quo minha pâróquia existe realmente, que per-
t(\)( r,n)os unr âo outro, por tôda a eternidade, porque c1â é
urrli! cólula viva da Igreja imoltal e não âpenas uma ficção
a(hliDistlotivâ. Mas eu quereriâ que Deus me abrisse os
olhos c os ouvidos, me permitisse ver-lhe o rosto, ouvirlhe â
voz. Selá pedir demais ? O rosto de minha paróquia ! Seu
olhar ! Deve ser' um olhar doce, l,riste, paciente; imagino
que há de se parecer um pouco com o meu, quando pâIo
dc me debater, quando me deixo ârrâstar por êsse gr-ânde
fio invisível que â todos nos leva, de cambulhâda, vivos e
moltos, para a prcÍunda Eternidaale. E êsse olhaÍ selia o
olhcr da cristandadê. de tôdas as pcróquias. ou mesmo...
quem sabe ? - o olhâr da pobre raçâ humana ! O olhar queDeus via do alto da Cruz, Perdoâi-Ihes porque não sabem o
que fâzem..,
Tive a idéia de utiliz essa pâssagem, modificândo-a
u111 pouco, para minha prática de domingo. O othar da pa-
róquia provocou sorrisos e eu parei de JâlâÍ, um segundo
bem no meio da {rase, com a impressão muito nítida, rneu
Deus, de estar fazendo uma comédia. Deus sabe, porém,
quanto eu era sincero ! Ma§ nas imâgens qüe rlos comove-
ram muito o coração, há sempre qualquer coisa de conÍuso.
Tenho certeza de que o vigário de Torcy caçoada de mim,
À saida dâ missa, o conde me fâlou, com sua engmçâda voz
um pouco {anhosa: "O senhor teve um belo vôo de omtG
ria". Senti vontade de enhar pela terra a dentro.
Lulsa trouxe-me um convite pâra âlmoç no castelo,
nlr l»óxima têrça-Íeim. A presença de Chantal me emba-
Ir(jirvrr rrnl pouco, mas quando ia Iespondel lecusando o
corvil(., lnrísâ fôzrne, discretament€, um sinâI para âceitar.
^ 
rllll)rcBada voltará têrça-feira âo presbiterio. Â con-
DrÁRro DE uM pÁEoco DE ALDEIA 31
(lôssa quis tcr â bondcde de pagálâ, uma vez por gemânâ.'r'rnhâ t8nta vcrgonha do es{ado de minha rou;À ouc corri.osla manhá. ate Sa;nr-Waâst para comprar i"C"'iàmisã"-('eroulas. lenços. Em Iesumo. os cem trancos do vigário derorcy mal chegrri m pâra cobrir essa granoe desp.sã. Atém
orsso. vou pr.ctsJr d. l'azer um âlmóço, pois uma mulherqLrc Irabatha neccssita de alimenlaçào 
"olnreniente. iãiii_rreoto o meu vinho d, Bordeaux vai presisr servico, Engar_
r'altpi-o, onLem. pareceu-me um pou;o Lurvo, no entantã épe],fumado.
. Os- dias passâm, pâssâm. .. Táo vazios ! Vou chegân_do so tim clc minhi. larefa cotidiâoa, sempre UelxanAo fràrào diâ seguiníe. a e\ecucáo do pequeno programa que merrccei. Fâttc de méLodo, e evidênte. E aomã pcrco_ têmpo
, nr ir e !ir. pêrrdc cslr.ados: A capeta mais pró'xima esta'arrcs.oons quUometros daqui: â oulra. a cinco. Minha b!crc)Fti presta-mê pouco ser\iço porque não posso subir
rnou-o. sobretudo em jpium. sFm horriveis dores_ de estôma_
Íro. E\tâ paróqu ia . . . 1ào pêquena no mapa ! euando Denso
quê umâ cl"ssê d. vinlc ou lrinla alunos.?e idÀae e ad ron-
dição semelhantes, submetidos à mesma disciplina, estudan_
do as me-smas coisas, só é conhecida do móstre,'ao longo,lo uns tt'es meses - quando ndo é preci,o muito mais t.:.porêce que minha !ida, tódâs as lórças de minha vida vão
drssrpar-se na areia.
Luísa esüá agom âssistindo à missâ. todos os alias. Mâs
aparece e some táo depressa que às vêzes nem percebo sua
Irrcsenei, Scm elâ, a igrela oslâriâ vazia.
Encontrei, ontem, Serâfita em companhia do Sr. Du.nron.h.l., O roslo dcs.a pequena pârece lranslormar se, dia
ir drr: outrora láo mu!ávê]. !ão móyel. vejo. agom, nôlc, umaí')rÊcre de lrxrdez. dê rigidez, bem acima dc sur idaclc. En-quâDto the Jalava, observava-mc com uns olhos tão impor_
l,unos que não pude deixar de enrubeccr. eucm sabe, áevo
l)revenir §eus pai§ ? Ma§ prcvcni-los dc quê ?
Num papel deixado scm dúvid& intcncionalmente em
um dos catecismos e que enconhei esta rnanhã, uma rhâo
32 dEONGES BERNANOS
r,ânhcsl,rrr rlc.'crrhou minúsculâ ligura de mu]her com esta
iÍ;i;:i'::': ,, ;il;l""inr''à ao sr. visário ' como eu 
'hstribuoâ,'-iü;:i" ;;;,;:;, inutil procurãr o autor dessa brinca-
dcir!i."""ii,,r uro Drccllro convencer-mede que iâis âborrecimen'
los rio rrruccin correnle nas casas dc educação mesmo nas
iãá1.'ài., i2r:"aou": rsso só me consolx peLa metacle um
üiri..".iii,-"á " '"Àpte 
recorrer âo superior' 'dar pârte"' Ao
l)âsso oue aqul. . .**:.5l1rpflcras ctmas'; repeLi a mim mesmo a noite
toaa, eiià co'nsotaoora fráse. ^Mas o Ànjo não voltou'
DúRro DE vM P,ÁRoco D! Âr,DEra 33
lrora exasperado. Âgom, creio que e]â é o sinal de uúe
rrxnde lé. lalvez lainbém de um grande orgulho incons-
ijirnle. Nerüum dês.e" homêns pode a supor a tgreja em pe_
r.,',, ouâlouer oue l'osse a causa. É cerLo que minha con-
nl'nca'nàdé melnor, -as ó provàvêlmente de oulra espécíe.
liu, íranqüilidâde me espanta. . .
(Sinto um pouco ter escrito a palavra orgulhol entre-
lllnLo, não a posso apagar, pois não encontro outÍa que me_
ttx)l áonvenlã a um sútimento tão humano, tão concÍeto.
^linat 
de contas, a Igreja não é um ideâI a reâtizar, ela
r,xiste ê "êIes" estão dentro dela.)
'Ierminadâ a confer'ência, permiti-me Jazer uma tímida
rrhisio ao programa que me irucei. Àindâ as§im, ocultei
rrrctade cloi arligos. Não enconharâm a menol dificuldade
t,rn me demonstiar qr1e sua execução, mesmo pa,rcia], exigi_
rlo dias de quarenta e oito horas e umâ influência pessoal
dlr, o§tou lonse de oossuil e talvez nunca tenf\a a possür.
l:l lizmente, a'atençào dos prêsenlês alaslou-se de mim e o
virurro de Lumbres-, especjtlisla nessas matérias. l,ratou su-
t,-ii,,r'menle do problema das caixas rurais e das coopera-
Livlts agrícolas.
voitei Dara casa. com rhuva, imensamente triste, O
,,r,uco vrnho'ouê iomei davê-me terrivcis dorcs de estomago.
iti |ilto que emagreci exl,laordinàriamente desde o úll,imo ou-
t,,,llo e ririnhâ aÉarência deve ser cadâ vez pio!, pois, agom,
l{xlos evitam qüaiquer alusão à minha sâúde. se me fa-Itâ_
r,'rn as tórças i Nàó consigo acrêdilar que DeLls possa servir-., de mim - tolrlmerlte-- como se 
serve dos oul,ros Cada
. rlri.r l'ico mâis impressionado com minha ignorància dos mais
r.l, rnenlares porúenorês da vida pratica. que l,óda a gente pa-
rr\'f conhecer sem nunca thos terem ensinado, por umâ e§-
rnr'ic de intuicao. Evidentemente, nào sou mais idiotx que
ir'r. no orr bel[rano. e. se náo voLr além dc tdrmulcs fàcil-
rlnrtc ouârdadas. oosso dar a ilusáo clr lcr comprêendido
lr,rs co.õas. Mas certas palâvras, quc falr os oui,ros. l,êm
(rll sentido preciso, pareõem-rne, ao contrário, quase nâo se
(llstinguir eitle si, á ponto dê me acontecer, ৠvêzes, em-
A sra. Pee.riot chegou onlem Pâreceu-me tão poycg
.rti;"iia'"o- o'. preqos 
_tixados 
pcla condêssa qLle lui obri
,ãão à'àci"t.c"rui" maiq cinco {rãncos de meu bólso Penso
:;;"";.-; ilil; nas sen'afes cedo demâis. sem as necessá-
i;'p;;.ãrç;;" de mõrlo que se estrâgou pui enconírar a
!an'âfa. na cozinha, apenas aberta,'---iià.-rc-ÃÀr,". cs'sa m.rlher tem uma indole ingra{'â
" mi.r"-iià"-àe"ue.áaáveis. 
Mas é preciso ser j-usto: eu dou
ã.'"ãii,i ilo oetí je:to " com 
tal ambaràço ridículo 
-que 
âs
.,".ao-s qu" as recabem d"vem licar desconcerladâs Depors,
iurr*"nfc lenho a imprcs'io de âgradar: lalvez porque o
i ã".";l-ÃJir". lenlro sômpre o âr d; eslar dando as coisas
I "ôm h; vnntâdc.l----ã"""1,:" iêrcâ-f.ira. em casa do vigário de }Íébuterne'
r,rt, ã 
"ónior'Cr"iu 
m,nsal. AssuDfo Lratâdo pelo Pde To-
;ás licenciado em histól'ia: -A neforma or'gêns e causâs '
Ál"jÁ.tii".-à ã.i^0. da lgreia, no século xl.t erâ esl'aÍre-
cirlor. À mcdiaa que o confcrcncista pros§eguia em sua Px-
»osicáo ncrcssàriainenl,e um pouco monóLona' eu otlserva-
i,,i1,l'i:osro" oos ouv'"1es, sem 
-nêtes ve! outÍa coisa que a ex'
.i""":,r, .f" umc curjolidade polida, exatâmente como se es_
iirr''iàlr.i,:"u,.,ioos para ouijr a leitura de algum câpÍtulo
iü"iii;tóii" àos raralós, Essa aparente Júeza ter-me-ia ou-
34 GEONGES EERNANOS
pregá"lâs âo âcaso, como um mau iogâdor anisca uma cârta.
Dulanlc a discussão sôbre as caixas rurais, sentia-me e§ton-
tcado, como um gârôto em meio a conversas de gente
grandc.
É Jrovávcl que rreus colegâs não Iôssem mais instrui_
dos do quc eu, apesal dos numerosos lblhetos que recebe-
mos. Mâs o que me espanta é vê-Ios logo táo à vontade,
qurnrlo so Jbordam qucslões de tal r.périe. Quase lodos sào
l)nbres e sc rosignam corajosamonlc à poorcza. Entretanto.
licam corno que Jascinados qüândo ouvcm falâr de dinheiro.
Suas lisionomias tomam, logo, uma eÍptcssão de gmvidade,
dc segumnça, que me descoloçoa, quc me lorça ao silêncio,
quâse ao respeito.
Tenho mêdo de nunca vir â ser um homem prático.
A experiência não me plasmará. Para um observadol' super-
ficial_. em nada me dilérencio dos colegas; sou como êles um
homem do campo. Mâs, descenalo de umâ família de gente
paupéuima, tarefeiros, operáxios, âgregâdos de fazenda, Í41_
ta-nos o senso de propriedade; perdcmo-Io, com certezâ, ao
lonso dos século". Sóbrê ê)le ponto meu pdi se pal'ece com
mei avô, que, por suà !e2, se parecia com seu paj. morto de
Iome no terrrvÃl invÊrno de 1854. Uma moeda de \;nte soi-
dos titilava-lhes o bôIso e corriam a buscal um companheilo
Dara eastála êm bebêri.os, M^us .olega' do :cmlnário meno(
iào si enganavam: debalde mamàe \esiia sur melhor saia.
punha bua mais bonila loucà; tinhâ sempre o ar humilde,
iurtivo, o pobre solriso dos miserâvêis que servcm dê pajem
âos filhos dos oútros. Áinda se fôsse só o scüso de proprie_
dade que me faltasse ! Iúas tenho mêdo de também não
sabe! mandar, como não sei possut. Isso é mais grave.
Não importa ! Acontece que alunos mêdiocres, mal do-
lc.los. chegrm a subir ao primeiro lugar. Náo brilharn nun-
|r, lá isstnáo ! Nào tenho a ambiçáo de lelormâr minha
nirlul'r2ia; vencerei minhas repugnâncias, ei§ tudo. se, ântes
(k) m{ris nada, peltenço às almas, náo posso Íicar na igno-
r'ârx:iu (las preocupações, no fim de contas legitimas, que
ocul)am tão grânde lugar na vida dos meus paroquiano§. O
DIAIIO DE UM PAIOCO DE ALDIIÀ
mestre-escola - apesar de parisicnse - faz bâstântê bemsuas conferê clas sôbre semeaduras e âdubcs. Agora, vou
queimar pestanâ3 com isso.
Seria preciso tambán Íundâr urnâ sociedede esportiva,
r exemplo da mâior parie dos meus colcgas. Os rapazes
sc apaixo[am pc]o lutebcl, pelo boxe, pelo circuito dâ Frânçâ
cl1l bicicleta. Porquc rccüsar-lhes o prazer de discutir essas
coisas comi[lo, sob o proiêxto de que tais distmções * âIiás
logítimas não hâ dúvida - não sáo de meu gósto ? Meucslado de saúde r1ão me permitiu cumprf meu dever mili-
Lar, e seria fidiculo qucrer tomar part€ cm seus jogos. Mâs
cLr poderia estal ao colrente de tudo, aindâ que lôsse apenas
pela leitum da página esportiva alo "Eco de Paris,,, jomal
que o conde me empresta, com bastante regularidade.
Ontem à tarde, depois de escritas essas linhâs, pus-me
de joelhos, ao pé da cama, e pedi a Nosso SenhoÍ aben-
çoasse a resoluÇão que acabâva de tomar. Tive. sübitamen-
te, a impressão de que se desmoronavam, dentro de mim, so-
nhos, esperanças, ambições da mocidade; e deitei-me tiritarl-
do de Jebre, pala só donnir ao amanhecer.
35
Luísâ ficou esta manhá, todo o tehpo da missa, com
o rosto escondido entre as máos. Ao úItimo evângetho, pude
verificar pefeitâmente que tinha chorado. É penoso viver
só; Ínais penoso âinda paftithar sua solidão eom indifelen-
tes ou ingmtos,
Depois que tive â infeliz idéia de apresentar ao âdmi-
nisimdor do câstelo um antigo colegâ do seminário menor
que viaja para uma grande casa de adubos quimicos, o di-
rctor da escola náo me cumprimenía mais. Parece que êle
ó também representante de óutra granale casa de Béibune. I
I
38 CEONCIS BERNÂNdS
No Iró:jimo salbaalo, alero almo\.ar uo câste]o. Jâ que
lr ])rin|ii)ill, otl lalíez a iinica tiitideLlc di]ste diário é cxcr-
.Ilrf.rI,, r,,' lr b',' (: ! r inloifJmcnlr' .'n'cro parJ (om:c'1
rncsDro, (icvo diral que não e§tou nada embaraçado, antes
lison.ic (1o... Sal'liúento de quc 11:ro mc envergonho. 
^H,Ill,. do (., .r.:o n: o linha. uonro r. rlz, gr.ndo colc(io no
s L,:nr,'o .r: ,or, c ,1 Ll4 quc rrr-1 lú\' m padre dotc con-
sclvar sur, indcpcndênaia Perântc as |a's!ioâs domundo. Mas
sôble ôsse ponto, como sôbre tanto§ outros, sou bem o lilho
cic gentc i»bre quc rrullc§ coilhcccu atqrela eJpócie da in_
veja, de rancor, do camponês proprietáiio, cm luia com uma
tcl'ra inglnix que lhe consomc a Íidâ, contia o ocioso que
só lira rcndes iesla mesma terra. Iiá muito tempo iá que
nós outros nâdà Lemos a ver com os "senhores" ! Dc nossa
pir t1, pc. têr f\r rc lrr.rrr):cnlr x Á.s, profliPiá[io campo-
nês, e náo há patrão mais diIícil d€ coritertâr, mais dulo !
Recebi umâ cârta estranhe do Pde. Dupréiy O Pde. Du_
nfêlv to; mÊu .olegc nc n.miuij';o mcnorl nepois. l.,rmiÀou
rnr,{ r.stuclos râo \ci or de e, 5{gu1do as surs últimâs no'
tícias, ela pr-ó-vigário de uma pequena paróquia da ahoce§ê
dê Àmiens, pois o íitular- do pósto, doente, obtivera a as§is_
l.ôr1cia cle um coadjutor. ConseNo dêle uma iembrança
muiLo viva, quase terna. Davam-no, então, como um mo-
dôIo clc piedade, se bem que, de minha parte, o achasse úer-
voso c1n cxccs§o, sensível demais, Durante o terceifo âno,
lsscnlava se perto de milll, na cãpôla, e eu o ouvia, muitas
vir',, .'..uçcr. o roslo r-condido rm suac pcque'1as màos
ri(lnpl'c sui:is de tinta e tão pálidas.
Suir crfiâ ó datada de LiIIe (onde creio lcmbral-me de que
llnr (krs sruri tios, aniigo guarda-civil, mantirüa um comér-
DIÀ.RÍO DE IJ}.I PANO'O D! ,{I,DEIÁ
cia de drogas). Esíiânho a âusêDcia de qualquer alusáo ao
ministério quc ta"],,,cz t.nha deixaalo, $m dúvida por motivo
de Coenqa. Dizia-se que cstavâ amcaçado dc l,uberculose,
Seu pâi e suâ mãc morreiam disso.
Desde que dispcnsei â empregâda, o cârtoiro hâbituou-
-se â jogar â coir'Êspondênciâ por debâixo da porta. Encon-
trei, por êcaso, a cârta na hora de dcitar-me, É ürn mamento
bestante desagradávcl para rnim; Íetâtdo o o mais que posso.
Âs doles de estômgo sãc gerâtmente supoúávcis, màs náo
sc pode iüaginar nacia de mais monótono, com o andâr do
tempo. .{ gcnte vâj, insensivetnente, dando âsâs à imag!
naÇão, â câbeÇa Jica cheia de idéias e é preciso fazcr um õs-
íôrço enormc Farâ não sc levàntar. Cedô, aliás, muitro r.ara-
mente, a semelhantc tontÊção, por causa do Jrio.
Àbli a sobrecartâ, com o pressentimcnto de umâ no-
ticia ruim - pior.mesmo - uma série de más notícias. Eüé que eslavâ mai disposto, evi.lentemcnte. Não jmportâ ! O
tom dâ caltâ me aborrece. Àcho-a de uma alegria gâtvan!
zâda, quase 
. 
inconÍenientc, se, como é provável, mcú pobre
amigo já não poCe, pcio mcnos momentâncamcnte, êonti-
nuâr no §eu ministé1.io. "Só você é capaz dê n1e comprecn-
der'", disse. Po! quê? Lembr.o-me cle que êle, muitro rnais
brilhânte que eu, desdenhava-tle ulll poüco. Talvez poI isso,
cu ainda gosiavg nlêÍs dô1e.
Como p dL qric o p,ocurc com u-gincia. sabcrrilogo u
que hc.
Minha próximâ visitâ ao castelo preocupa-me bastante.
Dum p,,meiro conlrcl,o dôppnde talvrT o (i'to .J, trondcs
projetos que âcalcnto êm mctl corâção c cluo â Íortúna e a
influência do conde pcrmitir-me-iani, senuiamcnte, realizar.
Como rôlrprê. minha incxp' rt':lcid, mrnhr b^Lt.p p tambem
uma eslécie de fclta de sorte fidi.uiâ po.t:am.5. cm com-
plicar âs cojsâs rnais slmples. Ássim, a bcla dulheta, que !e-
servava para as circunstâncias cxcepcionais, e§tâ, ãgora,
38
[:
GEORGIS AENNÁNOS
muito largo. Alérh disso, a Sra. Pegriot, â pedido meu âlia.s,
llmpou-a, mas com tal desmazêIo que ficarám manchâs hor-
rlvcis dc essência, como certas borbulhas üisadas em um
caldo muito gorduroso, Estou achândo rneio ruim ir ao cas-
tclo com â que uso todos os diâs e que já foi cerzida e re-
ccrzida, principalmente no cotovêlo. Tenho mêdo de pen-
sarem que estou querendo exibir minha pobreza.. euánta
coisâ podem pensar !
Gostada tambéra de estar em condições de poder coÍner
- ainda que Íósse só o bastante para náo chamâr e aten-(ão. Mâs é impossÍvel prever; mêu estômago é ião capri-
choso ! Por um n€cla. aqúela dorzinha surgeão lado direito;
parece que algumd coisa se escâpa de mim: sinto como qué
um e§pasmo, Minha bôca §eca-se instantâneamente; não
posso mais engoljr coisâ algumâ.
. São- incómodos. nada mais. Supodo-os perleitamentebem. Nào soLr aole: sou jguâl a nümàe. ,.§ua màe era
uma mulhepinha dura,'. gosla de repetjr meu tio ErnesLo.
Para gente pobrê. crpio que isso significa uma dona de casa
lnlâtlgavel. que nào Iicc doeníc, e que nào dá fuabalho Dara
morrer.
Cerü.smênle. o conde se parece muiüo mâis a um cam-
ponês como eu. do que a qualquer rico industrial como âlguns
de quê me aproximei, outrorâ. quando era coadjLltor. aom
duas pâlarras, pós-me à vontadê. De oue Doder disoôêm
cssa.s; pecsoas da ajla sociedade que mã-se ãis'tineueni ddsoullos ., no êntânlo, nads fazêm como os outros l- SâbÊn.lr;qu. o minimo sinal de consideraçáo mê desconeerta, che-
Énrnm até a deferência pam comigo, sem conluclo dejxar,lrrr momcnlo. de sugerir que 1,â1 respeil,o em molivadorlxruls pclo oâráler dp que sou reveslid-o. A condêssa man_
tcvc rrrlls linha impecá1eI. Trâzia um vesLido de casâ, mujloItnlrl's c. sôbro os cabelos grjsathos. uma espécie de man_lllln! que mc lí mbrou â que a pobre mamàe usava, aos do-
Dú(nro DE uM pÁloco Dr À,DErÁ i9
rningos. Não pude deixar de lho .tizer, Íras 
"*"""rà)ii)mâI, que hão sei se terá compreendialo.
,. Bimos juntos de minhâ batina. Em outrc lugar, penso,lingiriam nào â nol,ar. o que. atiás. mo aei*aria %riuiàão.'uom que ttberdade ésses nobres lalam do dinheiro e de tudoque se relâciona com o dinheirc: que discricào. or" Ài".ã"_cür^r rarece atê que certa pobreza, autênticà. conouistainosunqnlme.mlnlg sua conlianqâ, cria cnrrê étps e irós umãe§pccre^oe tnumrdad. cúÍhplice, senti bem jsso. quândo, aocare. o sr. e a Sra, Vergenne (ântigos Iâbricantes de lârinh;
mu]lo rrcos que o ano pasmdo comprarâm o câs(elo de Rou_
v-r-oyj,, vlerâm visitá_los. Depois que saíram, o conde teveum oIIâr um pouco irónico que signitica\a elaramenle: .iHÀ
:1f-l:.I-9: . EnÍim. esrâmos de novo enire nós,,. E, náEuÉI.u..rara_se murl,o do casamenbo de Chantal com o filhooos vergenne... Não importa ! .Acho que há no senümen6qrre analiso tâo mal ourrã 
"otsa que siinpt.i pãúd"r;;;;;slncera. À maneirâ de tratar nàb elpltôa tu'ao, '
, EvidentemenLe. goslaria que o conde mostrasse mais
:"lY:iT*g pelos moús projeb; de obrcs para os moqos _a assocmçao. esportiva. Meõmo pondo oe |arte suã càúto-
J3ST_-pesTâr.,p-cr que recusar-nie o pequeiro terreno deiã_
,".::"^*:^,"- l verna granja inúlit na qual seria fácit inslatàrurua sana oe Jogos. de conferênciâs, de projêqôes, el,c ? per_
S:T- 9y:.*y. ráo dêsâjêitado para pedir á.;;-p;;n ;u;.aooa genLe quer reservar_se um temoo para refletir e eu es_pero, sempre, um gfirc do coraçào. ún'irnpu15s ,jr;;ü;_oa ao meu.
.^^-?je!i o caitelo muito. muito tarde. Também nâo sei
:!.s!-e^9lFmq; a cada voita dos ponteiros, contento_me Àá-mi_ruresüar a lntrencao de sâir. o oue nr
1".:,: -:: ll;_._ "lt ;;ü;#":';.::31::i..H.Hlij ""â,f;t,rutm, sai, hão me lembrando màis de uma só
!.11lra da"l que teric podido dizer, mcs cheio de uma esné-urc,uc corulanca, oe âlêeria, com a impressáo de uma exie-renle- noficia que gostâria de dar logo a um amgo. porpouco, quase corri, no caminho do pr;sbiiérit.
."afts*"
4o CEOÀGE§ BERNANOS
,l
ri
1i
l\duiío freqüentemente, dou um jeito de entrâr no pres-
bitério peto câminho de Gesvres. No alto do outeiro, com
vento ou com chuvâ, assento-me num esquecido tronco de
álamo que 1á está, há não sei quantos invernos e começa já
a apodrecer. Á vegetação par'âsita Íêz em tôrno dêIe uma
espécie de estôjo que ora acho bonito, ora medonho, confor-
me o estado de meu espírito ou a côr do tempo. tr'oi âli que
me veio â idéia de escrever êste diá! o e penso que náo a
teria em nenhuma outra parte. Nesia regiã.o de bosques e
pastagens recortada de sebes vivas, coâlhada de macieims,
não encontraria outro observatório, donde â aldeia me sui-
gisse assim tôda inteim, concentrada no côncavo de minha
mão. Olho-a e nunca tenho a impressão dê que €la me estejâ
olhando tâmbém. Mâs não acreditô que mê ignore. Dir-sela
que ela dá as costas e me observâ, olhos semi-ceEados, de
esguelha, àlaiâ dos gatos.
Que quêr de mim ? Quererá, mesmo. alguma coisa de
Illim ? Dêste lugâr, ouho que não eu, um homem rlco por
êxemplo, poderia avaliar o preço destâs caslnhas de tâipa,
calcular a exata superJicie dêstes campos, dêstes pmdos, so-
nhâr que pagou a soma necessária e que esta aldeia the
pedence. Eu, náo !
Por mais que o fizesse, desse-lhe até a última gôta de
trneu sangue (e é verdade que às vêzes imâglrro que ela me
pregou numa cruz âqui no alto e que me olha - ao henosisso - pâra assistir à minha morte), por mais 
que o fize§se
não a põssuiriâ. Em váo a vejo, neste momento, táo branca,
tão novinha (por ocasião da Jesta de Todos os sântos pin-
taram suas paredes de âzul claro) ; não posso esquecer-me de
quc está âli, há séculos; sua antiguidade me inspira l1lêdo.
Muito antes de ser consfuuída, ío sêcu]o quinze, a pequena
igrcjo na qüal, apesar de tudo, estou apenas de passâgem,
esta aldeia curtia, equi, pacientemente, o Írio e o calor, a
chuva, o vento e o sol, ora próspem, om miserável, agarradâ
,l
Il«.
rl
ú
Dúnro DE uM p.íioco »r lr»au 41
â êste pedaqo de tpüa, dâ qual exlrâi a seiva e à qual enlle-
gara- seus mortos, Como deve ser profunda. sêrreta, sua ex-
periência da vida I Esla terra possuirá moir eorpo. como o
dc tantos: majs depressa, segurdmenl,c, qLr. o dos'oulros.
, Há cerios pensamcntos quê â ninguém ouso conliâr c,enhetanto, não me parenem loucos: longe disso t eue seTja
oe mlrn. por exempto. se me resígrâssê ao papel ao quâl gos_
1âriam que me ati\êsse muitos calólieos. preocupados, so6re-
tudo, com a conservacão social, isto é, em resumo. com sua
própda conseNâçâo ? Oh I Não âcuso êsses serúores de h!poc sia.. Acredito que sejam sinceros ! euântos se julgaÍn
adeplos da ordem e não aleÍendem mais que alguns hábiios;
as vezês. nem lsso. lnas um simples vo.abulário. cujos têr-
mos estàode.tâl forma brunidoi. rcidos pelo u"o, que ser-
vêm pam justificâr qualquer coisâ, nada ionsiderândo Das-
sivel de dúvida. Uma das mais incompreenciveis desgrâ(ss
dos homens está em que devem confiar 6 que há oe maÉ pie-
cioso. a essa coisa, meu Deus, tão instáv;l, tão plásticâ- _
gente-prafere âpsnhar a piimeira qu. nos cai sob as màos,
Iorqa-Ia um pouco. e, se a Iingüéta luncionâ, nada mais sê
p^ede. Admiro os revoluclonários que fazem láo peno.os e
tão grândcs êsÍo).qos pârÍl dinar lar pal.edes. quaido o mo-
lho.de chaves dos cidadàos bem-pensânfes Ihei leria propi-
clâ(lo o melo de entmr pela portâ. tranqüilamcnte. sem
acoroal nrnquém.
. Recebi, esta Ínanhã, nova cartâ do meu antigo camâ-Iâda, mâis esquisita alndâ quê a primeira. Terminã assim:
"Não estou bem ale saúde e é êste o meu único motivo
de inquietaçâ"o. porque náo goslarja de molrcr. cgora que
cheguei s-o pórto. depois de tantas tempestades, Iiíeni pior-
tum. Íodavia, não quero mal à minhd doença; ela me ãeu
a palavm! Serja preciso muila coraqêm pâra iTerificar. â
cada instânla, a chavc. adaptá-ta à sufpropiia fêchadura. A
42 CEONGÉS BERNÁNOS
o rcpollso dc que precisava. que Dão 1,eria conhecido se não
Íôsso cla. Acabo de pâssâr alezoito meses num sanâlório.
Isso pcnritiu-me "cavâr" sêdâmente o problema da vida_
Corn urn lou, o de L'etlêxao. pênso qu. voae chegariâ às rnp"-
mrs (onc,u.oes qun pu, Aurea mcd;ocrilu., E.sas ducs pa-
lavlas llre provalão que minhas prctc:]sões continuam rno-
dcstâs, que não sou um revoitado. Conser-vo, ao coÀtráriô,
cxcclentc recordação de nossos mcstr.ca, Todo mal vcm não
dâs doutrinâs, mas da ectucaqão que receber.am, e qüe nos
transmitiram, por não conhecerem ouíro modo de pônsar e
de sentil. Tal educação fêz de nós sujeitos individuâlistâs,
solitáTjos. Em resumo, não havíamos ainda saíalo alà infância;
caslelávamos sem pârar. ompliávJmo\ nossas dore., dêsdo-
Dlavamos noq\rs al.gridc _ invênlê\.lmos â vida. (,n lugar
oê vrve-ta. ,lJe lat lorma que, anlns d. arriscar um l)àsso,lnra do nosso pequ.no mundo. sr r 1o§.tâ preciso r, tcmar o
primêiro pcs.o. Trâb rllro pano.o qu! nào sê Írz 5cm sa.ri-
lrcros do amor-próprio. nI]s a sotillio ó mais peno-d iinda.
um diâ, vocé há de cônvcncer se disso.
"Inútil referir-se a mim, por aí. Uma existênciâ labo-
Iiosa, sã, normâl enfinl (â palavrâ normal está sublinhâda
três vêzes), develia ser coisà eüdente pâra todo o mundo.
Entretanto, nossa sociedade é íeita de tâl forma, quc a {e}i-
cidade semprc the parece suspeita. C;reio que um õcrto cris-
tiani.mo._bem di.l-nr.'ado do espi.ito do" Evangclhos. êstá
na Iair dérse prêconccilo comum a todos, crnnlL§ e incrédu-
los. Resleil,ando o libprdlde alh, ia, prêÍeri, ai.c agorâ. guxr-
dal silên.io. Depois de ter refletido muiio, decidõ.mn, hoje.
a rompé-lo, no jnterêsse de uma possoa que mcl..cc o maior
respeito. Se meu estado melholou bastante, cle âlguDs mcses
Dxra cá. aindc tenho seli-\ inquictacóes de quc lhc talcrci.
Vcnha aiepressa'.
ItLxeni 'portuit, . . O estafeta enttegou-mc a cârto, estâ
n1anh,r, quando ia saindo para dar o catecismo. Liâ,a no ce-
mitór'io, a &lguns passos de Ârsênio que coneçava a abrir
unlir cova, a da Sra. Pimochet que será entctrâda âmanhá.
TÍrmb{x1r ôlc estavâ cavando â vidâ. . -
DIáXIô DE ÚM P,(AOCO DE ÀI,DEIÀ 4X
o "venha depressa" apêrtoú-me o coração. Depois de seu
pobre discuNo (tenho â impressão de vêlo coçando a testa
iom a ponta de sua caneta, como outLora), náo pôde mâis
reter essa palavra de c anQa qüe Ihe cscapa: "venhâ de_
pressa !"... Por um úomento, imaginei que talvez não lôsse
o que eu pensavâ, que ôie recebia, simplesmcnte, os cuidâdos
de uma pessoa de sua fâmíliâ. Inlelizmente só the conhe-
ço uma irmá, empregada de um botequim em Montreuil. Não
há de ser ela "essa pessoâ que merece o maior tespeito".
Não impota. Irei mesmo, certamente.
- O conde veio ver-me. Muito amávcl, â um tempo res-peitoso e familiar, como sempre. Pediu-me licença pâra
fumar, e deu-me dois coelhos que mâtarâ no bosque de sau-
veline: "a Sra. Pegliot preparará isso, amanhá de manhã,
para o senhor. Já falei com e1a."
Náo tive coragem de lhe dizer que, atualmente, meu
estômago só tolera páo sêco. Seu guisê-do vâi custar-me
meio dia de pagameüto à empr€gâdâ e nem êstâ se regalará
com ê]e, Ircrque tôda a Íamítia do guarda-matas está enfa-
rada de comer coelho, É verdade que posso mandar o co-
roiDha levar as sobras pala minha velha sineirâ. úâs só À
noite, pâra que ninguém desconfie. Falâ-se demais do mau
estâdo de minha saúde.
O conde náo apr-ovâ muito meus proietos. Previne-lne,
sobretudo, contrâ o mau espirito do povo que, muito Íâvo-
recido, desde a guerra, diz ê]e, não deve ser lisonjeado.
- Não ande muito atrás dessa gente, não se eniregueaçodadâmente. Deixe qüe o procurem.
o conde é sobr'lnho alo marquês de la Eoche-Macé cujâ
propliedade s-Â encontra a duas léguas sômentc de miüha
ierrã natal. Passar'â ali, antigâmente, uma parte de suâs
Jédâs e lembm-se muito bem da pobre l1tâmãe, cntão em-
pregaalâ no castelo e que lhe dava, enormcs pedaqo§ de páo
com nrant' iga lirrdos à. ei.'dndidas. poi ro d.Íunto mar-
quês era muiLo seguro'. Fui r,u, aliás, quem o pós bastantê
aturdido com minha perguntg, mrs o conde lespondeu-rne
pronta e gentitmente, sem se mostrar, em nada, con§tran-
11 GÍORGE§ BECNANOS
I
gldo, Quêrida mamâe ! Mesmo táo jovem ainda, e tãd po-
bre, §ebia i[spirar estima e simpâtiâ. O conde não diz:
"A senhora sua mãe', o que, penso, poderia parecer um poum
âfetado, mas pronunciâ 'a máe do senhor', "sua máe", insj,s-
tindo no "sua" com uma gEvidade, um respeito que rne en-
chemm os olhos de Iágrimas.
Se essas linhas pudessem cair uJn dia sob olhares indife-
lentês, com certeza rre achâriâm muito ingênuo. E §ou in-
gênuo. de lato, porquê nadâ exislc de inferior nessa espé-
cie dê admirâção que me inspira ésse homem, a.Iiás, dê as-
pecto tão simples, não râro rnesmo tão lovial, que p&rece
um eterno estudânte, em férias et€rnâs. Não o julgo meis
intpligente que os outros e drzem que é múto áspero com
seus rendeir\os. Náo é fambém um parcquiano exêmplar
porque. sê não perde missa aos domingos. nunca o vi co-
mungar. Não sei mesmo se Iará â Páscoâ. Por que será

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