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Brasília-DF. Biologia Celular e Fundamentos de BioquímiCa Elaboração Ana Isabel de Camargo Julio Cesar Pissuti Damalio Thatyane Morimoto Nobre Luis Fernando Reyes Joci Neuby Alves Macedo Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APrESEntAção .................................................................................................................................. 5 orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA ..................................................................... 6 introdução ..................................................................................................................................... 8 unidAdE i ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR .......................................................................................................... 11 CAPítulo 1 ASpECTOS gERAiS SObRE O ESTUdO dA vidA ........................................................................ 11 CAPítulo 2 MEMbRANA pLASMáTiCA E TROCA ENTRE A CéLULA E O MEiO ............................................... 17 CAPítulo 3 CiTOESqUELETO E O MOviMENTO CELULAR ........................................................................... 24 CAPítulo 4 NúCLEO CELULAR: dNA E CROMOSSOMOS .......................................................................... 33 CAPítulo 5 CiCLO CELULAR: MiTOSE, MEiOSE E MORTE CELULAR ............................................................. 37 CAPítulo 6 diFERENCiAÇÃO CELULAR .................................................................................................... 44 CAPítulo 7 víRUS ................................................................................................................................... 46 CAPítulo 8 CéLULAS TUMORAiS............................................................................................................... 49 unidAdE ii iNTROdUÇÃO À biOqUíMiCA ............................................................................................................. 53 CAPítulo 1 LigAÇõES qUíMiCAS ............................................................................................................ 53 CAPítulo 2 ágUA E SOLUÇõES TAMpONANTES ........................................................................................ 59 CAPítulo 3 pROpRiEdAdES dOS AMiNOáCidOS E LigAÇõES pEpTídiCAS ................................................. 62 CAPítulo 4 pROTEíNAS: ESTRUTURA E FUNÇÃO ......................................................................................... 67 CAPítulo 5 MONOSSACARídEOS, diSSACARídEOS, pOLiSSACARídEOS E gLiCOCONjUgAdOS ................ 70 CAPítulo 6 LipídEOS ............................................................................................................................... 75 CAPítulo 7 NUCLEOTídEOS, áCidOS NUCLEiCOS E ESTRUTURAS dO dNA E RNA ....................................... 82 unidAdE iii dOgMA CENTRAL dA biOLOgiA MOLECULAR ..................................................................................... 88 CAPítulo 1 A REpLiCAÇÃO dO dNA ....................................................................................................... 90 CAPítulo 2 A TRANSCRiÇÃO dO dNA ................................................................................................... 102 CAPítulo 3 A TRAdUÇÃO OU SíNTESE pROTEiCA .................................................................................... 109 PArA (não) FinAlizAr .................................................................................................................... 116 rEFErênCiAS .................................................................................................................................. 117 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 introdução O Caderno de Estudos e Pesquisa “Biologia celular e Fundamentos de bioquímica” foi elaborado com o objetivo de proporcionar conhecimentos básicos e aplicado na área da Biologia Celular e Bioquímica, assim como sua interação com outras áreas da Biologia. O referido caderno de estudos possibilitará ao aluno entender o mecanismo de funcionamento de cada constituinte celular, suas interações, intra e extracelulares, e sua atuação emconjunto para o funcionamento harmônico de um organismo como um todo. Além do aprendizado sobre os componentes celulares, sobre suas funções e interações, observaremos mais de perto as macromoléculas responsáveis por toda essa organização das atividades celulares. A Bioquímica nada mais é do que o uso dos conhecimentos químicos aplicados nos estudos biológicos. É uma área de junção de conhecimentos, que embasa todo o conhecimento prático e aplicado na área da saúde. Esta apostila lhes fornecerá uma visão detalhada da estrutura dos ácidos nucleicos, aminoácidos, proteínas, carboidratos e lipídeos. Aprenderão também como essas moléculas agem, em conjunto, nos mais diversos processos celulares. Todos esses estudos individuais das moléculas, organelas e suas interações, proporcionaram o surgimento do Dogma Central da Biologia Molecular, o qual sumariza que a informação genética contida no DNA das células e vírus é preservada, transmitida e traduzida. Todos esses processos serão descritos e inseridos no contexto atual da Biologia e Medicina. A cada dia que passa novas descobertas são feitas, descobertas essas essenciais, não somente para a pesquisa básica, mas também com respeito a uma inúmera forma de aplicações nas áreas da Agricultura, Biotecnologia, Medicina, entre outras. Nesse contexto, o estudo da Biologia Celular e Bioquímica é fundamental, já que o sucesso econômico e o desenvolvimento de uma cultura dependem da boa qualificação e da capacidade de adaptação e criatividade de seus membros para produzir novos conhecimentos. É nesse contexto que estamos aqui para colaborar com isso, porém, não se esqueça de que depende muito de você. Nós vamos lhe apresentar uma série de informações, mas quem vai processá-las e transformá-las em conhecimento, de fato, é você! Portanto, se dedique ao longo dessas páginas, leia jornais, revistas, assuntos sobre ciências e sobre o mundo. Afinal conhecimento é o maior poder que podemos obter em nossas vidas. Bons estudos! objetivos » Analisar a natureza química das diferentes substâncias que constituem as células. » Estudar a molécula de água e sua importância para a manutenção dos processos celulares. 9 » Transmitir informações sobre a organização da célula e suas organelas, relacionando estrutura e função. » Compreender a organização do sistema de membranas existentes nas células, sua importância e os processos relacionados ao transporte por meio da membrana. » Apresentar a definição do Citoesqueleto celular, dando ênfase em sua estrutura e importância em processos de manutenção celular e movimentos citoplasmáticos. » Reconhecer os componentes do núcleo interfásico e em divisão, e a importância das informações genéticas nele armazenadas. » Explicar os processos de Mitose e Meiose, e suas implicações para a continuidade da vida. » Estabelecer diferenças entre a organização morfo-fisiológica das células procariontes e eucariontes, assim como entre as células animais e vegetais. » Apresentar o conceito de diferenciação celular, assim como os meios pelos quais ela ocorre. » Discutir os aspectos gerais dos vírus e das doenças que esses causam. » Introduzir o assunto sobre células cancerosas. » Relacionar a Biologia Celular às outras áreas de Ciências Biológicas e à Área de Saúde. » Introduzir as estruturas moleculares dos Ácidos nucleicos: DNA e RNA. » Explicar a diferença entre as moléculas de DNA e RNA. » Apresentar os aminoácidos e proteínas: classificação, estereoisomeria, ionização e ação tamponante. » Compreender a determinação do ponto isoelétrico de aminoácidos, polipeptídeos e proteínas. » Apresentar a organização estrutural e conformacional das proteínas, assim como ensinar sobre as ligações peptídicas. » Apresentar o complexo mundo dos carboidratos: classificação, estrutura cíclica e isomeria. » Mostrar a diferença estrutural dos carboidratos, assim como a especificidade funcional de cada grupo. » Transmitir conhecimento a respeito dos glicoconjugados: glicoproteína e glicolipídeos. 10 » Introduzir os lipídeos: unidades fundamentais. » Discutir sobre a função dos lipídeos nos organismos vivos, tanto estrutural, quanto funcionalmente. » Diferenciar os diferentes tipos de vitaminas. » Estudar as propriedades físicas e químicas das biomoléculas, seus níveis de organização e suas interações nos organismos, de modo a possibilitar a compreensão de suas funções fisiológicas em bases moleculares e energéticas. » Entender o conceito de fluxo de informação genética por meio do postulado pelo Dogma Central da Biologia Molecular. » Entender os processos moleculares envolvidos na transmissão dessa informação e as biomoléculas envolvidas no processo. » Compreender o que é um gene e código genético. » Entender os principais eventos envolvidos no processo de replicação, transcrição do DNA e a Tradução ou síntese de proteínas. » Entender os processos moleculares que mudaram o postulado pelo Dogma Central da Biologia Molecular na atualidade. 11 unidAdE iEStruturA E Função CElulAr CAPítulo 1 Aspectos gerais sobre o estudo da vida O termo Biologia tem origem grega: bios = vida e logos = estudo. Biologia é a ciência que estuda a vida, desde uma escala molecular, passando pela sua forma (morfologia) e função (fisiologia), até o seu relacionamento com diversos seres vivos e com o ambiente. A biologia abrange um espectro amplo de áreas independentes, mas que inevitavelmente são inter-relacionadas e, interagindo entre si, nos ajudam a entender melhor o mundo em que vivemos. Os seres vivos possuem uma organização estrutural complexa, alguns mais que outros, que pode ser dividida em níveis hierárquicos (Figura 1): » Nível químico: inclui todos os átomos presentes em um organismo, como carbono, oxigênio, nitrogênio, hidrogênio, entre outros. Esses átomos são os formadores das moléculas, como por exemplo, a água, as proteínas, carboidratos, lipídeos e ácidos nucleicos. » Nível celular: a organização das moléculas dá origem à unidade estrutural básica dos organismos, as células, cada qual com sua função específica. Como exemplo, podemos citar as células neuronais, cardíacas e epiteliais. » Nível tecidual: as células se combinam e adquirem características e capacidades diferentes, de acordo com a sua função específica, formando os tecidos. O tecido conjuntivo, por exemplo, tem como principal função unir e sustentar os órgãos do corpo. » Nível de órgão: os tecidos são unidos e organizados, dando origem aos órgãos. O fígado, por exemplo, é um órgão composto por tecidos diferentes que degrada as substâncias tóxicas absorvidas no intestino. » Nível sistêmico: é composto por órgãos relacionados, que realizam uma função em comum, dando origem aos sistemas. Um exemplo é o sistema respiratório, formado pelos pulmões, traqueia, laringe, faringe e cavidade nasal, que tem como função a troca gasosa. Todos os sistemas funcionando em conjunto formam o nosso organismo. 12 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR » Nível ambiental: comporta a organização de indivíduos da mesma espécie em populações, assim como interação entre indivíduos de espécies diferentes em comunidades, e desses com o ambiente. Figura 1: Níveis de organização dos seres vivos. Fonte: Modificado a partir de <http://professoraugustomw.blogspot.com/>, retirado em 22/3/2011. Para uma visão geral sobre as dimensões celulares, visite: <http://learn.genetics. utah.edu/content/begin/cells/scale/> Série de vídeos a respeito da origem da vida: “As origens da vida”: Vídeos de 1 a 9 - <http://www.youtube.com/watch?v=Z7wt8OyUKeY&feature= related> diversidade celular As células exibem uma grande variedade de características, desde tamanho até função.Algumas são encontradas individualizadas, outras vivendo em conjunto; algumas possuem forma definida, outras têm limites flexíveis; algumas são móveis, outras sedentárias; algumas são coloridas, outras não têm cor. Enfim, podemos descrever inúmeras células diferentes umas das outras, porém, de fato, só existem dois tipos de células: procariontes e eucariontes. A palavra procarionte tem origem grega: pro - anterior, antes, primeiro, primitivo; e karyon – núcleo. São as células sem núcleo, com o material genético “solto” pelo citoplasma. O termo eucarionte tem a mesma origem, com a diferença do prefixo eu, que significa verdadeiro, isto é, essas células possuem o material genético delimitado por um sistema de membranas, isolado do citoplasma. Os procariontes são representados pelo Reino Monera, as bactérias em geral. Já os eucariontes estão distribuídos pelos Reinos Protista, Fungi, Vegetal e Animal. 13 ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR │ UNIDADE I Células Procariontes As células procariontes compreendem principalmente as bactérias, e são constituídas basicamente por (Figura 2 A): » Membrana plasmática: delimita os limites celulares e controla o fluxo de moléculas entre a célula e seu exterior. É composta por uma bicamada lipídica, associada a outras moléculas. » Parede celular: rígida, porém permeável, fica situada externamente à membrana plasmática e é composta por polissacarídeos (o ácido N-acetilmurâmico e a N-acetilglucosamina) ligados por peptídeos. Tem como função a proteção mecânica da célula. » Citoplasma: é o nome dado ao espaço intracelular. No citoplasma das células procariontes, existem vários ribossomos. » Ribossomos: São aproximadamente 30 mil, responsáveis pela síntese de proteínas. Algumas bactérias possuem em sua superfície flagelos ou fímbrias. Os flagelos possuem aproximadamente 10 μm de comprimento e 20 nm de diâmetro, podendo variar de espécie para espécie, são responsáveis pela locomoção bacteriana e podem ser encontrados de um a vários. Já as fímbrias são mais finas e curtas que os flagelos, não estando relacionadas à locomoção. Podem auxiliar no processo de adesão da bactéria a uma célula eucarionte, por exemplo, auxiliando no processo de infecção. Além disso, pode estar envolvida no processo de reprodução. O material genético dos procariontes não é delimitado por um sistema de membranas, e a região do citoplasma em que o material genético está contido é chamada de nucleoide. Além do DNA do nucleoide, as bactérias podem apresentar plasmídeos, que são pequenos segmentos de DNA circular, com replicação própria. Os plasmídeos não são essenciais às bactérias, porém as favorecem em algumas situações, como fornecer resistência a um dado antibiótico, por exemplo. Em alguns casos, pode haver invaginação da membrana plasmática, invadindo o citoplasma, e dando origem ao mesossomo. A função dos mesossomos é tema de discussão entre os pesquisadores, embora se acredite que eles estejam envolvidos na respiração celular, servindo de arcabouço para enzimas envolvidas nesse processo. Algumas bactérias, as cianobactérias, possuem membranas paralelas entre si, no citoplasma, associadas a pigmentos, como a clorofila, responsáveis pela captação de luz no processo de fotossíntese. Células eucariontes Assim como as células procariontes, possuem membrana plasmática, citoplasma e ribossomos, porém nem todas possuem parede celular. Além disso, as células eucariontes possuem (Figura 5 B): » Retículo endoplasmático: consiste de um sistema de canais membranosos, que se estendem a partir da membrana nuclear, responsáveis pela síntese e 14 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR transporte de várias moléculas no interior da célula. Pode ser chamado de liso ou rugoso. O Retículo endoplasmático liso é responsável pela síntese de lipídeos e transporte intracelular. Já o retículo endoplasmático rugoso (recebe esse nome por ter ribossomos associados) é responsável pela síntese de proteínas, que são direcionadas ao Complexo de Golgi. » Complexo de Golgi: é formado por estruturas membranosas e achatadas, e é responsável pelo armazenamento, transformações (adição de carboidrato às proteínas, por exemplo), e direcionamento de proteínas, dentro de vesículas, para outras partes da célula, ou para o meio extracelular. » Lisossomos: são organelas membranosas que contém em seu interior enzimas hidrolíticas, que são responsáveis pelo processo de digestão intracelular. » Peroxissomos: são semelhantes aos lisossomos, porém contém enzimas específicas que catalizam o peróxido de hidrogênio, tóxico às células. Participam também do processo de oxidação dos ácidos graxos. » Mitocôndrias: organela na qual ocorre o processo de respiração celular. Contém inúmeras enzimas que participam da oxidação da glicose e produção de energia. Possuem DNA próprio. » Centríolos: São microtúbulos proteicos, relacionados ao processo de divisão celular. » Núcleo: isolado do citoplasma por uma bicamada lipídica porosa, que controla o fluxo de moléculas entre o citoplasma e o núcleo. Contém o material genético da célula. » Nucléolo: são corpúsculos arredondados de aspecto esponjoso, não possuem membrana envolvente e se encontram no núcleo. Tem como função a intensa síntese de RNA ribossômico e a organização dos ribossomos. » Citoesqueleto: composto por diversos filamentos de proteínas e presentes em toda a célula, sendo o arcabouço de sustentação desta. Também está envolvido em vários processos de movimentação celular. As células eucarióticas, apesar de serem semelhantes, possuem diferenças morfológicas e funcionais, de acordo com sua especialização. Figura 2: Representação de: (A) Célula procarionte. Fonte: Modificado a partir de <http://ppsus.cederj.edu.br/site/visualizar?codigo=1763>; (b) Célula eucarionte. Fonte: Modificado a partir de <http://ppsus.cederj.edu.br/site/visualizar?codigo=1767>, retirado em 24/3/2011. 15 ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR │ UNIDADE I Células vegetais Um tipo específico das células eucariontes são as células vegetais (Figura 3). Elas possuem algumas características que as diferenciam das células animais, como: » Parede celular: difere em relação à parede celular bacteriana quanto à estrutura. Nesse caso, a parede celular é composta de fibras de celulose, unidas por glicoproteínas, hemicelulose e pectina (Figura 7). Há uma parede celular primária e outra secundária. A parede celular primária é mais fina e flexível, permitindo o crescimento celular. Já a secundária surge com a deposição de mais camadas de celulose na parede celular. Quando isso ocorre, a célula não cresce mais. » Plastos: contêm dupla membrana e também possuem DNA próprio, como as mitocôndrias. Quando incolores recebem o nome de leucoplastos, e armazenam substâncias de reserva. Caso possuam pigmentos, os plastos são chamados de cromoplastos. Um exemplo é o cloroplasto, responsável pelo processo de fotossíntese. Quando expostos à luz, os leucoplastos podem se tornar cromoplastos. » Vacúolos: chega a ocupar até 95% do volume celular e são os lisossomos das células vegetais. Os vacúolos também participam do controle da pressão celular e do armazenamento de proteínas, vitaminas, sais minerais entre outros. » Plasmodesmos: são canais cilíndricos que permitem a comunicação entre as células por meio de sinais químicos. Figura 3: Representação de uma célula vegetal. Fonte: Modificado a partir de <http://cfb-cmpa.blogspot.com/2010/04/celulas_03.html>, retirado em 26/3/2011. 16 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR Além das bactérias e das células vegetais, os fungos também possuem parede celular, porém esta é composta de quitina. Outra diferença entre as células animais e vegetais reside no fato de que as primeiras utilizam glicogêniocomo reserva de glicose. Já as células vegetais armazenam glicose na forma de amido. Para uma visão interativa do conteúdo celular, visite: Por dentro de uma célula, em <http://learn.genetics.utah.edu/content/begin/cells/insideacell/> Pra uma visão geral sobre a evolução celular, recomendamos a leitura do livro “MARGULIS, Lynn e SAGAN, Dorion. O que é vida? Ed. Jorge Zahar (2002)”. 17 CAPítulo 2 Membrana plasmática e troca entre a célula e o meio A Membrana plasmática ou celular consiste em uma estrutura fechada, que envolve toda a célula, separando o meio intracelular do meio extracelular. As membranas das organelas citoplasmáticas, como mitocôndrias, envoltório nuclear, retículo endoplasmático, entre outras, são semelhantes, em estrutura e função, a membrana plasmática. Sendo uma estrutura que delimita a célula, a membrana plasmática possui várias funções. Ela controla o fluxo de moléculas entre o interior e o exterior das células, de forma seletiva, assim como entre as organelas e o citoplasma. Possuem, em sua parte externa, receptores específicos, que servem para o reconhecimento de outras células ou de moléculas, como os hormônios. Servem como unidades adesivas entre as células, e podem manter canais de comunicação entre elas. Enfim, são estruturas altamente especializadas e indispensáveis a manutenção do funcionamento celular. Estrutura e função das membranas plasmáticas Basicamente as membranas são compostas por uma bicamada lipídica, visível ao microscópio eletrônico como uma estrutura delgada, de aproximadamente 10 nm (Figura 4). Os lipídeos de membrana são moléculas anfipáticas, isto é, possuem uma porção polar, ou hidrofílica, e outra apolar, ou hidrofóbica (Figura 4). As moléculas lipídicas estão organizadas de forma que as cadeias carbônicas, apolares, estão voltadas para o interior da membrana, mantendo contato por meio de interações hidrofóbicas. Já os grupos polares ficam voltados tanto para o citoplasma, como para o exterior da célula, que são meios aquosos. Essa disposição das moléculas garante às membranas uma grande estabilidade estrutural, mantendo a arquitetura celular. Além disso, o fato do interior da membrana ser hidrofóbico impede a livre passagem de moléculas solúveis em água, e até mesmo da própria água. 18 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR Figura 4: Estrutura da Membrana plasmática, evidenciando a bicamada lipídica. Fonte: Modificado a partir de Lodish et al. (2005). As membranas não são estruturas rígidas e impermeáveis, constituídas apenas por lipídeos. Nelas estão inseridas proteínas, que se deslocam pela membrana, constituindo um mosaico fluido. Esse modelo proposto para as membranas permite que seus componentes possam se movimentar bidimensionalmente, com um alto grau de flexibilidade, o que auxilia na execução de suas funções. As proteínas podem estar inseridas através da membrana, ou podem estar associadas a ela, interna ou externamente (Figura 5). Aproximadamente 70% das proteínas de membrana estão inseridas, sendo então chamadas de proteínas transmembranas ou integrais, podendo atravessar a membrana inteiramente e até apresentar várias dobras no seu interior. Nesse caso, a porção proteica contida no interior da membrana está associada por interações hidrofóbicas, enquanto as extremidades, no interior ou exterior celular, possuem regiões hidrofílicas. As proteínas transmembranas estão associadas firmemente à bicamada lipídica, sendo separadas apenas com o rompimento da membrana. Já as proteínas extrínsecas, que são periféricas à membrana, são mais facilmente removidas. Figura 5: Estrutura da parede celular de uma célula vegetal. Fonte: junqueira e Carneiro (2008). 19 ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR │ UNIDADE I Na Figura 5 também é possível visualizarmos carboidratos associados a lipídeos e proteínas, na superfície voltada para o exterior celular, dando origem aos glicolipídeos e as glicoproteínas, respectivamente. A porção de carboidrato das membranas é conhecida como glicocálice, sempre situado na superfície externa. Ao glicocálice podem estar associadas proteínas secretadas, e não somente as que fazem parte da bicamada lipídica. O glicocálice podia variar dentre os diversos tipos celulares, tendo uma importante função no reconhecimento intercelular, como se fosse uma “impressão digital” da célula. Um exemplo é o sistema ABO, em que pequenas variações na porção glicídica dos glicolipídeos e glicoproteínas resultam em diferentes tipos sanguíneos. Devido a esse fato não é possível a transfusão de sangue entre todos os tipos sanguíneos, afinal os receptores presentes nas membranas das hemácias são diferentes, o que pode levar a uma resposta imune. Sinais químicos vindos de outras células, como hormônios e neurotransmissores, são “interpretados” por moléculas específicas do glicocálice, levando a uma cascata de sinalização interna, o que pode alterar o funcionamento da célula. Algumas toxinas, bactérias e vírus também podem se ligar a receptores específicos do glicocálice, processo esse essencial na patogenicidade de várias doenças, como a cólera e o tétano, por exemplo. Em contrapartida, são os receptores presentes no glicocálice de membrana dos linfócitos que reconhecem a presença do antígeno e desencadeiam a produção dos anticorpos. O glicocálice também possui função protetora, protegendo a superfície celular de agressões físicas e químicas. Além de servir para aderir determinadas células umas as outras, o glicocálice também tem papel fundamental na inibição por contato, como veremos adiante. É comum que pacientes que recebam um órgão transplantado tenha problemas, devido à falta de compatibilidade. O que seria essa “falta de compatibilidade”? Por que ela ocorre? Outra característica importante da membrana plasmática é sua assimetria, isto é, tanto sua composição lipídica, quanto proteica e glicídica, não está distribuída uniformemente em ambas as superfícies, interna e externa. Além disso, as membranas celulares, apesar de serem estruturalmente semelhantes, podem variar quanto à composição de lipídeos, proteínas e carboidratos. Dependendo da função celular, esses componentes podem diferir estruturalmente, o que resulta em uma característica diferente para cada tipo celular. Especializações da membrana plasmática Algumas células possuem especializações na membrana plasmática, essenciais para o desempenho de suas funções, entre elas podemos destacar: » Microvilosidades: são encontradas na maioria das células, porém estão em maior número em células especializadas em absorção, como as células epiteliais intestinais. São prolongamentos da membrana plasmática, o que aumenta a 20 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR superfície de contato da célula, levando a uma maior absorção de água e nutrientes (Figura 6). Algumas enzimas responsáveis pela digestão de proteínas e carboidratos, só existem nas microvilosidades. » Estereocílios: se assemelham às microvilosidades, porém são mais longos e ramificados. São encontrados em apenas alguns tipos celulares, como células epiteliais do epidídimo, que faz parte do sistema genital masculino, facilitando o transporte de água e outras moléculas. » Desmossomos e Junções aderentes: têm como função unir as células fortemente e são muito frequentes nos tecidos, principalmente naqueles cujas células são submetidas a uma forte tração, como epiderme e esôfago. » Junção comunicante: como o próprio nome já diz, é importante para estabelecer comunicação entre as células. É formada por proteínas que atravessam ambas as células, formando um canal. Esse canal permite a passagem de moléculas sinalizadoras, transmitindo de uma forma mais rápida e eficiente, a informação desejada. São reguladase podem ser mais ou menos permeáveis a certos tipos de moléculas. » Zônula de oclusão: tem função contrária à junção comunicante, impedindo a passagem de moléculas e íons através das células. Torna-se importante no sentido de manter uma diferença de conteúdos entre compartimentos diferentes. » Interdigitações: são um conjunto de saliências e reentrâncias, responsáveis pelo “encaixe” entre as células. » Cílios: são mais longos e de maior calibre que as microvilosidades, e têm basicamente função locomotora, de uma célula em um meio, ou movimentar o fluido sobre a superfície celular (Figura 7). Estão presentes nas células epiteliais do sistema respiratório humano, retirando partículas de poeira. Também auxiliam no deslocamento do óvulo pelo oviduto. Nos protozoários são responsáveis pela locomoção e captura de alimentos. » Flagelos: são semelhantes aos cílios, porém menos numerosos e mais alongados (Figura 7). Estão presentes em alguns protozoários, bactérias e nos espermatozoides humanos, sempre relacionados à locomoção. Cílios e flagelos são compostos por microtúbulos e proteínas motoras, que serão mais bem detalhados no capítulo seguinte. 21 ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR │ UNIDADE I Figura 6: Exemplo de algumas especializações da membrana plasmática. Fonte: junqueira e Carneiro (2008). Figura 7: Cílios e Flagelos. (A) protozoário ciliado; (b) Espermatozóide humano. Fonte: Modificado a partir de <http://www.prof2000.pt/users/biologia/Organelos.htm>, retirado em 8/4/2011. As junções comunicantes, presentes nas células animais, têm a mesma função que os plasmodesmos nas células vegetais. Devido à presença da parede celular nas células vegetais, essas estruturas de comunicação entre as células são estruturalmente diferentes. transporte por meio da membrana plasmática Como dito anteriormente, a membrana plasmática delimita os limites celulares, é a barreira entre o citoplasma celular e o meio externo, ou o interior das organelas. Porém, as células estão em constante comunicação entre si, e com o meio externo. Os nutrientes de que a célula necessita também são provenientes do meio externo, e as proteínas produzidas pelas células precisam ser transportadas pela corrente sanguínea. Dessa forma, a membrana plasmática tem o papel fundamental de regular a troca de moléculas entre o citoplasma e o meio que o circunda, e essas trocas se dão de várias formas. 22 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR Moléculas hidrofóbicas têm uma facilidade em atravessar a membrana, como alguns hormônios, já que são solúveis em lipídeos. Já as moléculas que não são solúveis em lipídeos têm uma maior dificuldade de penetrar nas células, dependendo de seu tamanho e características químicas. Muitas vezes, o transporte por meio da membrana é passivo, sem gasto de energia. O transporte passivo pode ser feito por difusão ou por osmose. O transporte passivo por difusão, ou difusão passiva, ocorre quando duas soluções, separadas pela membrana plasmática, possuem diferentes concentrações de soluto. Nesse caso, observa-se a passagem de soluto da solução mais concentrada para a menos concentrada, a fim de equilibrar a concentração em ambas as soluções. Como exemplo, podemos citar o oxigênio e o gás carbônico. A quantidade de oxigênio nas células é sempre menor que no meio externo, já que o oxigênio é consumido no processo de respiração celular. Dessa forma, por difusão, o oxigênio está em constante trânsito para o interior celular. Da mesma maneira, o gás carbônico, produzido no processo, é liberado da célula, onde está em grande concentração, para o sangue, para ser eliminado. A osmose é um tipo especial de difusão, no qual as moléculas que são transportadas não são solutos, e sim solventes, como a água. A água atravessa a membrana sempre no sentido de estabelecer o equilíbrio de concentração entre duas soluções. Portanto, a água passará de uma meio onde existe em grande quantidade, para um meio com baixa quantidade de água. Se a célula se encontra em um meio cuja concentração de solutos é a mesma que no citoplasma, chamamos esse meio de isotônico. Caso a concentração do meio externo seja maior ou menor que no interior celular, o meio recebe o nome de hipertônico ou hipotônico, respectivamente. Quando em meio hipertônico, a célula tende a perder água, a fim de estabelecer o equilíbrio, ficando com uma aparência de “murcha”. Da mesma forma, em meio hipotônico a célula tende a receber água, ficando assim com uma aparência “inchada”. Em ambos os casos as células podem sofrer danos, caso essa situação perdure por muito tempo. Algumas moléculas necessitam de poros ou canais proteicos para atravessar a membrana. Essas estruturas são formadas por proteínas transmembranas, formando canais, que funcionam como filtros para certas moléculas. Algumas células possuem proteínas transmembranas que auxiliam no transporte de água, as aquaporinas, como as células do epitélio dos túbulos renais, responsáveis pela reabsorção de água para o organismo. Sabe-se que alguns tipos de açúcares atravessam a membrana a favor de um gradiente de concentração, mas a uma velocidade maior do que a esperada. Esse transporte é auxiliado por proteínas carreadoras ou permeases, e recebe o nome de difusão facilitada. Até o momento, discutimos tipos de transporte que não necessitam de energia, porém existem tipos de transporte que ocorrem contra um gradiente de concentração, necessitando de energia, chamado de transporte ativo. Um exemplo clássico de transporte ativo é o caso da concentração de sódio e potássio nas células. Esperar-se-ia que ambos os íons apresentassem concentrações iguais, tanto no interior, como no exterior da célula, já que ambos possuem permeabilidade passiva na membrana, mas isso não 23 ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR │ UNIDADE I acontece. A concentração de sódio no interior celular é muito menor, quando comparada ao lado de fora, e o caso da concentração de potássio é exatamente o oposto. O mecanismo responsável pela manutenção das concentrações de sódio e potássio no interior e exterior das células é conhecido como bomba de sódio-potássio, que usa a energia liberada pela hidrólise do ATP (Adenosina tri-fosfato). Esse processo é indispensável ao funcionamento de alguns processos celulares, como na transmissão do impulso nervoso pelos neurônios. Animação mostrando o funcionamento da bomba de sódio e potássio: <http://highered.mcgraw-hill.com/sites/0072495855/student_view0/chapter2/ animation__how_the_sodium_potassium_pump_works.html> Outro tipo de transporte por meio da membrana plasmática é o transporte de massas ou em quantidade. Ele se dá quando a célula engloba partículas grandes, quando comparadas a moléculas simples, como mecanismos de defesa, como os leucócitos, e para alimentação, como no caso de alguns protozoários. Esse processo é conhecido por endocitose. Caso o transporte seja no sentido inverso, isto é, do citoplasma para o exterior, recebe o nome de exocitose, e ocorre quando algumas células secretam proteínas contidas em vesículas, por exemplo. No processo de endocitose, as partículas são internalizadas pela membrana plasmática, formando vacúolos digestivos no interior da célula. Esses vacúolos são fundidos a lisossomos, ricos em enzimas digestivas, facilitando assim a digestão das partículas capturadas. A endocitose também pode ser facilitada pela presença de receptores específicos na membrana plasmática (no glicocálice). Vídeo ilustrativo sobre a fagocitose em: <http://highered.mcgraw-hill.com/ sites/0072495855/student_view0/chapter2/animation__phagocytosis.html> A endocitose pode ainda ser de dois tipos: fagocitose e pinocitose. Ambas possuem o mesmo mecanismo, porém na fagocitose as células englobam as partículas pela formaçãode pseudópodes, que são protrusões citoplasmáticas. Já no caso da pinocitose, a membrana plasmática forma pequenos canais, que entram em contato com a partícula e se fecham, internalizando-as. Consequentemente, as partículas englobadas são menores. À medida que as células realizam o processo de endocitose, ela vai perdendo moléculas lipídicas, já que os vacúolos são formados a partir da membrana plasmática. Então com o tempo a célula vai ficando menor? 24 CAPítulo 3 Citoesqueleto e o movimento celular As células, como unidades fundamentais da vida, são formadas por estruturas complexas, que não estão distribuídas ao acaso no citoplasma, e sim altamente organizadas de acordo com um padrão, podendo se movimentar. Como o próprio nome já diz, o citoesqueleto é o “esqueleto” celular, uma rede composta por inúmeras proteínas, que tem a função de fornecer sustentação à célula. O citoesqueleto auxilia na organização do espaço celular, deslocando vesículas e organelas, mantendo o formato celular, participando ativamente na divisão celular, e até no movimento da célula no meio. É uma estrutura altamente dinâmica, se rearranjando todo o tempo. Até o momento não há evidência de citoesqueleto em células procarióticas. O citoesqueleto compreende três tipos de filamentos proteicos: » microtúbulos (MTs), compostos pela proteína tubulina; » microfilamentos (MFs), formados pela proteína actina; e os » filamentos intermediários (FIs), do qual fazem parte várias proteínas. Além desses, diversas outras proteínas auxiliam na estrutura e função do citoesqueleto. Microtúbulos (Mts) Os MTs são estruturas tubulares, de aproximadamente 25 nm de diâmetro e de comprimento variável. São formados pela organização da proteína Tubulina (Figura 8). A proteína Tubulina possui duas subunidades, α-Tubulina e β-Tubulina, ligadas de forma não covalente, que se arranjam uma sobre a outra, formando um protofilamento. Por sua vez, os protofilamentos se associam lateralmente, geralmente 13, dando origem a um tubo oco, o microtúbulo. Figura 8: Molécula proteica de Tubulina e sua organização na formação dos microtúbulos. Fonte: Modificado a partir de <http://www.ufmt.br/bionet/conteudos/15.10.04/microtubulo.htm>, retirado em 10/4/2011. 25 ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR │ UNIDADE I O MT possui duas extremidades diferentes, uma contendo a α-Tubulina (extremidade -) e outra β-Tubulina (extremidade +). Os processos de crescimento e encurtamento dos MTs são devido a um desequilíbrio entre polimerização e despolimerização. A taxa de polimerização e despolimerização dos MTs é um processo dependente da subunidade β estar ligada ou não ao GTP (Guanosina tri-fosfato). Apenas os MTs contendo GTP ligado na subunidade β, na extremidade (+), são estáveis e podem continuar a crescer. Após incorporação de uma unidade de Tubulina ao MT, o GTP ligado à subunidade β é hidrolisado a GDP. Caso o GDP não seja substituído por GTP, com o auxílio de proteínas trocadoras, o MT se desestabiliza e despolimeriza. Para que o MT continue a crescer, a adição de Tubulina, ligada a GTP, deve ser mais rápida que a hidrólise do GTP, na extremidade (+), e mais rápida também que a perda de subunidades na extremidade (-). Portanto, o crescimento ou encolhimento dos MTs são determinados pela relação da taxa de adição de subunidades de Tubulina ao MT, em relação à taxa de hidrólise do GTP. A estabilidade e montagem dos MTs também são devidas às MAPs, que são as proteínas associadas aos MTs. As células contêm duas populações de MTs, os estáveis, que se mantêm polimerizados, e os instáveis, que se polimerizam e despolimerizam. Os MTs estáveis geralmente estão presentes em células que não sofrem divisão celular. Também são encontrados nos cílios e flagelos, cuja despolimerização dos MTs poderia levar a incapacidade de movimento da célula. Já os instáveis, são de extrema importância no processo de divisão celular, que será discutido posteriormente. Em alguns casos específicos, os MTs podem apresentar outra disposição, em dois protofilamentos, nos cílios e flagelos ou três, no caso dos centríolos. Nas células existem centros organizadores de microtúbulos (MTOC), que são responsáveis pelo início da nucleação dos MTs. Nas células animais os MTCO são chamados de centrossomo e, a partir desse centro, os MTs crescem radialmente em direção à periferia celular, sempre com a extremidade (-) voltada para o centrossomo (Figura 9). Figura 9: Componentes do centrossomo. pC – matriz centrossomal; C – centríolos, um visto a partir de um corte transversal e outro longitudinal; MT - microtúbulos. Modificado a partir de Lodish et al (2005). 26 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR O centrossomo se localiza próximo ao núcleo, e é composto por uma matriz centrossomal ou matriz periciolar e um par de centríolos. A matriz centrossomal contém algumas proteínas, entre elas a g-tubulina, indispensável no processo de polimerização dos MTs. Estudos recentes indicaram que a g-tubulina se liga diretamente às subunidades da Tubulina na extremidade (-), favorecendo o processo de polimerização. Caso a g-tubulina não esteja presente, não há formação dos MTS. Os centríolos são estruturas formadas por MTs e nas células animais são encontrados aos pares, sempre perpendiculares. Cada centríolo possui uma estrutura de 9 trios de MTs associados lateralmente (Figura 10 A). Os cílios e flagelos também são compostos por microtúbulos, porém com um arranjo diferente dos centríolos. Essas estruturas locomotoras possuem 9 pares de MTs periféricos e 2 pares centrais, constituindo assim um axonema (Figura 10 B). Moléculas proteicas de dineína e nexína fazem contato entre os pares de MTs. O axonema está fixado à superfície celular por corpúsculos basais, que funcionam como um núcleo de montagem dos cílios e flagelos, e têm a mesma estrutura dos centríolos. As dineínas, por meio da hidrólise de ATP, provocam o deslizamento entre os microtúbulos, provocando os batimentos ciliares e flagelares. Figura 10: Estruturas formadas por MTs. (A) Centríolos. (b) Cílios e Flagelos. Fonte (A): <http://camilalemos.com/2008/11/>, retirado em 12/4/2011; Fonte (b): <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/ citologia/cilios-e-flagelos.php>, retirado em 10/4/2011. Os MTs possuem várias funções nas células, dentre elas uma função mecânica, mantendo a forma característica de muitas células, bem como alguns prolongamentos celulares, como os axônios e os dendritos dos neurônios. Os MTs também estão relacionados com a mobilidade celular, no caso dos cílios e flagelos, e também com o movimento de vesículas, como vesículas sinápticas nos neurônios, e organelas pelo citoplasma. Aos MTs se associam proteínas motoras, como a dineína e a quinesina, que se deslocam ao longo dos filamentos, movendo as vesículas e organelas. No crescimento e diferenciação celular, a presença dos MTs, em determinados locais do citoplasma, ou associados à membrana plasmática, serve como indutora para a organização posterior de outros elementos 27 ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR │ UNIDADE I do citoesqueleto e de organelas. Também podem formar canais citoplasmáticos, para auxiliar o transporte de macromoléculas no interior da célula. O papel dos MTs no processo de divisão celular será explicitado adiante. Microfilamentos (MFs) Os MFs são formados por duas cadeias em espiral, compostos pela proteína actina, por isso também são conhecidos como filamentos de actina, e possuem aproximadamente 7 nm de diâmetro e comprimento variável. Podem se organizar em redes ou feixes, de acordo com as proteínas ligadas. Os MFs são altamente dinâmicos, assim como os microtúbulos, podendo se polimerizar e despolimerizar em um curto espaço de tempo, modificando a morfologia dacélula. A actina é a proteína mais abundante nas células eucarióticas, sendo muito conservada entre as espécies. A sequência de aminoácidos da actina em amebas é 80% idêntica à actina dos animais superiores. Em humanos são conhecidos 6 genes que codificam a actina: 4 deles codificam isoformas da α-actina, que está associado a estruturas contráteis em células musculares; a β-actina e a γ-actina estão presentes em células não musculares, e diferem da α-actina em apenas seis aminoácidos. Algumas plantas possuem mais de 60 genes que codificam a actina. A actina existe na forma de monômeros globulares, a G-actina, ou estruturas filamentosas, a F-actina, esta última formada por subunidades de G-actina. Ambas as formas de actina possuem ATP ligado. Esses filamentos também são polarizados, assim como os microtúbulos, possuindo uma extremidade (-) e outra extermidade (+). A polimerização da G-actina tem início com a nucleação das moléculas em oligômeros curtos e instáveis, até atingirem certo número de moléculas (aproximadamente 4). Após o processo de nucleação, as moléculas passam por uma fase de elongamento, na qual as subunidades vão sendo rapidamente incorporadas em ambas as extremidades. O crescimento a partir da extremidade (+) é cerca de 5 a 10 vezes mais rápido, quando comparado à extremidade (-). À medida que o filamento cresce, menos moléculas de G-actina estão disponíveis, estabelecendo um equilíbrio entre G-actina e F-actina. Nesse ponto, de estado estável, moléculas de G-actina são incorporadas e retiradas do filamento de F-actina, mas sem mudar a massa total do filamento (Figura 11). Figura 11: processo de polimerização dos Fis. Fonte: Modificado a partir de Lodish et al (2005). 28 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR Após a incorporação da G-actina ao filamento, o ATP é hidrolisado a ADP, porém essa hidrólise não é necessária para a formação do filamento. Como a G-actina ligada a ADP tem maior propensão de se dissociar do filamento de actina, essa perda ocorre pela extremidade (-). A polimerização da actina é regulada por proteínas que se ligam à G-actina, como a Timosina β4. Essa proteína se liga à G-actina na proporção de 1:1, sequestrando-a, diminuindo assim a formação da F-actina. Por outro lado, uma proteína chamada Profilina, que também se liga à G-actina na proporção de 1:1, induz a polimerização das moléculas. Outras proteínas são responsáveis pela despolimerização do filamento de actina, como a Gelsolina e a Cofilina. Essas proteínas se ligam à extremidade (+) do filamento, impedindo que novas subunidades de G-actina sejam incorporadas. Dessa forma a despolimerização acontece pela exremidade (-). A atividade dessas proteínas é extremamente regulada por vias de sinalização intra e extracelular. No caso especifico dessas proteínas, elas estão ligadas à membrana plasmática, o que impede a ligação à F-actina. A hidrólise de um lipídeo de membrana, por uma enzima específica, e em resposta a uma sinalização intracelular, libera as proteínas, que se ligam à F-actina, impedindo a continuidade da polimerização. Proteínas como a CapZ e a Tropomodulina têm a capacidade de “frear” a polimerização do filamento de actina. A CapZ se liga à extremidade (+), e a Tropomodulina à extremidade (-), impedindo a incorporação de novas subunidades no filamento, porém não conseguem despolimerizar estes. Esse processo é muito importante durante a contração muscular, impedindo a dissociação das moléculas de actina. É devido à polimerização e despolimerização das moléculas de actina que vários movimentos celulares são possíveis. Mas em conjunto com a actina atuam outras proteínas motoras, que auxiliam nesse processo, como a miosina. Todas as células eucarióticas possuem 8 tipos diferentes de miosinas, embora há 3 isoformas mais estudadas: miosina I, miosina II e miosina V. Embora a atividade específica dessas proteínas difira, todas são proteínas motoras. Todas as miosinas consistem de domínios cabeça, pescoço e cauda. A cabeça tem atividade ATPásica (hidrólise do ATP) e é responsável pelo movimento sobre os filamentos de actina; o pescoço possui as cadeias leves, responsáveis pela regulação; e a cauda consiste na cadeia pesada, responsável pela dimerização da proteína, no caso da miosina II. Assim como a miosina II, a miosina V também é um dímero, diferentemente da miosina I, que não possui a cadeia pesada, sendo encontrada como um monômero. É o domínio da cauda o responsável pela função específica de cada miosina. Além disso, as cadeias leves também podem diferir umas das outras. A miosina, juntamente com a actina e outras proteínas estão envolvidas no processo de contração muscular. As células musculares são chamadas de fibras musculares, devido a seu aspecto alongado, que em conjunto formam os músculos. Cada fibra muscular é composta por inúmeras miofibrilas, que por sua vez possuem unidades que se repetem, os sarcômeros (Figura 12). 29 ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR │ UNIDADE I Os sarcômeros são as unidades funcionais da contração muscular, e possuem filamentos finos de actina, ao qual estão associadas às proteínas tropomiosina e troponina, e filamentos grossos de miosina (Figura 13 A). Figura 12: Organização das fibras musculares, evidenciando os sarcômeros. Fonte: <http://biol3medio.blogspot.com/2009/11/sarcomero.html>, retirado em 14/4/2011. Em repouso, a tropomiosina se mantém em contato com a actina, impedindo seu contato com a miosina. O processo de contração muscular tem início quando o impulso nervoso chega ao músculo, fazendo com que o íon Cálcio seja liberado pelo retículo endoplasmático liso. O Cálcio se liga à troponina, modificando sua estrutura, o que causa o deslocamento da tropomiosina, expondo a 30 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR actina. A actina então, se liga à cabeça globular da miosina e, com a energia liberada pela hidrólise de ATP, ocorre o dobramento da molécula de miosina (Figura 13 B). Esse dobramento gera o deslizamento da actina sobre a miosina, ou dos filamentos finos sobre os grossos, promovendo o encurtamento dos sarcômeros e a contração muscular. Figura 13: Contração muscular. (A) Estado de repouso; (b) deslizamento da miosina sobre os filamentos de actina. Fonte: Modificado a partir de ganong (1989). Deslizamento dos filamentos de actina sobre os de miosina em: <http://highered.mcgraw-hill.com/sites/0072495855/student_view0/chapter10/ animation__breakdown_of_atp_and_cross-bridge_movement_during_muscle_ contraction.html>. Perceba que para que ocorra a contração muscular é necessário a mudança conformacional de várias proteínas, de uma forma harmônica, na qual um sinal químico provoca todo o desencadeamento desse processo. A actina e a miosina, juntamente com outras proteínas, também estão envolvidas em outros tipos de movimentos celulares, como na separação das células filhas no final da mitose. Ambas as proteínas também foram identificadas em movimentos durante o desenvolvimento embrionário, assim também como no movimento ameboide, isto é, a emissão de pseudópodes, para alimentação, no caso das amebas, ou locomoção, para os leucócitos, fibroblastos, entre outras células. A miosina, com sua cauda ligada a vesículas, as transportam pela célula, quando desliza sobre os filamentos de actina, como se formasse trilhos ao longo do citoplasma. Esse processo fica evidente na alga gigante Nitella sp., cujo citoplasma é ocupado em grande parte pelo vacúolo. Ao redor do vacúolo há um “trilho” de filamentos de actina ao longo da célula. A molécula de miosina, com sua cauda ligada a vesículas ou organelas, se movimenta por toda a célula, fazendo a distribuição das moléculas pelo citoplasma, em um processo chamado de ciclose, algo que seria impossívelpor difusão, devido ao tamanho da célula. Além de função no movimento celular, a actina e a miosina também podem servir como unidades de sustentação, como acontece na manutenção da forma das microvilosidades. 31 ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR │ UNIDADE I Filamentos intermediários (Fis) Os FIs compreendem um grande número de proteínas que tem a capacidade de se polimerizarem em filamentos, espontaneamente, sem a necessidade de energia. Possuem aproximadamente 10 nm de diâmetro, intermediário aos microtúbulos e microfilamentos (daí o seu nome), e geralmente estão associados aos microtúbulos, os quais determinam sua disposição nas células. Esses filamentos, diferentemente dos microtúbulos e microfilamentos, não estão relacionados com movimentos celulares, e são muito estáveis, o que confere sua principal característica, uma alta resistência mecânica. São encontrados em grande quantidade junto às membranas plasmática e nuclear, e tem distribuição específica nos diferentes tipos celulares. São abundantes em células que sofrem atrito constantemente, como as da epiderme, associadas aos desmossomos, auxiliando na junção célula a célula. Os FIs, devido a sua diversidade, podem ser divididos em 4 grupos, de acordo com sua sequência de aminoácidos e padrão de expressão em células: as laminas, as queratinas, IFs do tipo III e neurofilamentos. As laminas são as proteínas mais abundantes dentre todas as que compreendem os IFs. São encontradas exclusivamente no núcleo, e em número de 3 isoformas, reforçando internamente o envoltório nuclear. Provavelmente são as precursoras de todos os IFs. As queratinas fazem parte do grupo de maior diversidade dos IFs, podem ser ácidas ou básicas, mas sempre formam um heterofilamento, isto é, filamento composto por proteínas diferentes, contendo uma ácida e uma básica. Aproximadamente 10 tipos de queratinas são específicos para tecidos epiteliais mais rígidos, como unhas cabelo e chifres. 20 queratinas, conhecidas como citoqueratinas, são encontradas em células epiteliais de cavidades internas. Os IFs do tipo III podem formar homo ou heteropolímeros, e a proteína mais abundante desse grupo é a vimentina. Ela é encontrada em leucócitos, fibroblastos e células epiteliais de vasos sanguíneos, sempre dando suporte à membrana plasmática. Também tem como função ajudar a manter o núcleo e as organelas em posições definidas. Os neurofilamentos são compostos por 3 proteínas diferentes, sendo encontrados no axônio dos neurônios. São responsáveis pelo crescimento radial dos axônios, determinando seu diâmetro, que está relacionado com a velocidade de propagação do impulso elétrico. Embora haja uma grande diversidade de IFs, todos possuem uma estrutura básica comum (Figura 14). As proteínas constituintes dos IFs formam dímeros e, a associação desses dímeros, tetrâmeros. Os tetrâmeros podem se unir, lateral ou longitudinalmente, formando uma protofibrila. O IF maturo é composto por 4 protofibrilas, associadas helicoidalmente umas as outras. 32 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR Figura 14: Estrutura básica dos iFs. (A) proteínas formando dímeros; (b) Associação dos dímeros em tetrâmeros; (C) iF maturo. Fonte: Modificado a partir de Lodish et al (2005). Devido à distribuição características dos IFs nas diferentes células, eles são geralmente usados como marcadores em alguns tipos de câncer. As células cancerosas perdem sua morfologia, dificultando sua identificação, porém elas contêm os IFs específicos daqueles determinados tipos celulares, que identifica a célula. Concluindo, o citoesqueleto se mostra muito importante na manutenção da morfologia celular, assim como em vários processos celulares, vitais para a continuidade da vida. 33 CAPítulo 4 núcleo celular: dnA e cromossomos Até o momento, estudamos a evolução das células ao longo do tempo, a diversidades dos tipos celulares e seus componentes. Esse capítulo tratará da porção celular responsável por todas essas características, o núcleo celular (Figura 15). O núcleo possui a maior parte da informação genética da célula, sob a forma da molécula de DNA. Todo o metabolismo celular é controlado pelo núcleo, por meio da produção de diferentes tipos de RNA e de proteínas, que são as responsáveis pela execução das tarefas celulares. Geralmente as células possuem apenas um núcleo, porém algumas células do fígado podem apresentar dois núcleos. As células musculares esqueléticas apresentam inúmeros núcleos. O tamanho do núcleo também varia de célula a célula, sendo maior em células com um metabolismo intenso. Como vimos anteriormente, a presença do núcleo é a principal diferença entre células eucariontes e procariontes. O núcleo é composto por uma bicamada lipídica, assim como a membrana plasmática, separando o citoplasma de seu interior. Essa bicamada lipídica é apoiada por componentes do citoesqueleto, os filamentos intermediários, que dão sustentação à membrana, que é contínua ao retículo endoplasmático. Além disso, essa membrana possui poros, pelos quais ocorre o transporte de moléculas entre o núcleo e o citoplasma. Os poros são estruturas complexas, formados por inúmeras proteínas, e regulam de forma seletiva a passagem das moléculas por eles. Figura 15: Componentes do núcleo celular. Fonte: Modificado a partir de <http://olivavieira.blogspot.com/2008/06/ncleo.html>, retirado em 17/4/2011. O nucleoplasma é o nome dado ao interior do núcleo (como se fosse o citoplasma do núcleo), e contém o nucléolo e a cromatina. A cromatina corresponde a filamentos de DNA associados a proteínas, além de RNAs. O nucléolo é um corpúsculo construído por RNA e proteínas, sendo o local de síntese do RNA ribossômico e montagem dos ribossomos. 34 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR Quando as células se encontram na intérfase, isto é, um período entre a última e a próxima divisão celular, o DNA aparece organizado sob a forma de cromatina. A cromatina pode se apresentar de duas formas: eucromatina, que é a porção descondensada e ativa do DNA (que produz RNA), e heterocromatina, condensada e pouco ativa. A heterocromatina pode ainda se dividir em heterocromatina constitutiva, que se encontra próxima ao centrômero e nunca é ativa; e heterocromatina facultativa, que pode ou não estar ativa, dependendo do tipo celular. Associadas à cromatina, encontramos as histonas, que são proteínas estruturais e servem de suporte as moléculas de DNA (Figura 16). As histonas são altamente conservada entre as espécies, existindo como 5 tipos: H1, H2A, H2B, H3 e H4. Todas elas possuem carga positiva, o que permite sua associação com os fosfatos, de carga negativa, do DNA. As histonas H2A, H2B, H3 e H4 se associam (duas de cada), formando um octâmero, que é responsável pela formação do nucleossomo, a unidade estrutural básica da cromatina, no qual a molécula de DNA dá duas voltas completas. A cada nucleossomo está associada uma histona H1. Por sua vez os nucleossomos vão se “enrolando” entre si, até formarem os cromossomos. Figura 16: Organização das moléculas de dNA nos cromossomos. Fonte: Modificado a partir de <http://genetica.ufcspa.edu.br/cromatina.html>, retirado em 17/4/2011. Os cromossomos nada mais são do que a cromatina condensada. Um cromossomo é formado por uma única molécula de DNA, extremamente longa, que contém uma série de genes. A metade de um cromossomo recebe o nome de cromátide, identificável na divisão celular. As cromátides estão unidas pelo centrômero, que contém o cinetócoro, importante estrutura na migração dos cromossomos. A posição do centrômero define o tipo do cromossomo. O DNA contido nos cromossomos de uma única célula humana possui 2 metros de comprimento, confinado no núcleo, de apenas 6 μm (10-6 m). Isso só é possível devido aoalto grau de empacotamento das moléculas de DNA. 35 ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR │ UNIDADE I Os cromossomos possuem sequências especiais em suas extremidades, chamadas de telômeros. Os telômeros são sequências curtas e repetitivas de DNA, que impedem a adesão dos cromossomos entre si. São sequências altamente conservadas ao longo da evolução, sendo semelhantes em organismos diversos, como protozoários e mamíferos. As espécies que se reproduzem assexuadamente, isto é, sem a troca de material genético, possuem um número de cromossomos fixos em todas as suas células. Já os organismos que se reproduzem sexuadamente, possuem células somáticas (não reprodutivas) diploides, isto é, com dois conjuntos de cromossomos. Nessas espécies, as células reprodutivas possuem apenas um conjunto de cromossomos, ou seja, são haploides, como os espermatozoides e óvulos. Os organismos diploides são representados como 2n, onde n representa o número de cromossomos. Os pares de cromossomos são chamados de cromossomos homólogos. O número de cromossomos por célula varia de espécie para espécie, sendo uma característica particular de cada espécie. A mosca de fruta drosófila possui 2n = 8 cromossomos, enquanto uma minhoca possui 2n = 32 e uma borboleta 2n = 380. Os seres humanos possuem 2n = 46 cromossomos, sendo que dois deles são sexuais, denominados X e Y, esse último presente somente nos homens. A manutenção da morfologia e do número de cromossomos é essencial para o desenvolvimento de um organismo, já que os cromossomos contêm os genes, e qualquer alteração pode acarretar vários problemas. As alterações cromossômicas podem ser estruturais ou numéricas. As alterações estruturais podem ser de vários tipos diferentes, entre elas: » Deleções: ocorre perda de fragmentos do cromossomo, que podem constituir um ou muitos genes. Nos seres humanos, a mais estudada é a Síndrome do Cri du chat, ocasionada por uma deleção no braço curto de um dos cromossomos 5. É também conhecida como síndrome do miado de gato, já que o choro das crianças portadoras tem esse aspecto. » Duplicações: ocorrem quando um segmento cromossômico aparece mais de duas vezes em uma célula diploide normal, podendo estar ligado a um cromossomo ou como um fragmento separado. A duplicação do braço longo do cromossomo 5 causa atraso físico e mental nos seres humanos. » Inversões: acontecem quando partes dos cromossomos se quebram e são reinseridas a 180 graus, na mesma origem do cromossomo, de modo que os genes ficam em ordem inversa. Essas inversões parecem estar associadas à diminuição da fertilidade masculina. » Translocações: ocorre quando parte de um cromossomo se separada e se liga a um cromossomo não homólogo. Em humanos, as translocações entre os cromossomos 14 e 21 geram uma variação da Síndrome de Down. Outro exemplo é a leucemia mielógena crônica, na qual ocorre uma translocação entre partes dos cromossomos 22 e 9. 36 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR » Fusão e fissão cêntricas: esse é um caso de uma alteração estrutural/numérica, já que, devido à quebra do cromossomo na altura do centrômero, passam a existir dois cromossomos acrocêntricos, podendo também acontecer o processo inverso, de fusão. Na espécie humana geralmente não se observa a existência de síndromes ou patologias ocasionadas por este tipo de alteração. As alterações numéricas podem causar a multiplicação do conjunto de cromossomos, originando células poliploides, com 3n, 4n, 5n etc. Pode ocorrer ainda a redução do conjunto de cromossomos, 0,5n, por exemplo. As alterações em número não necessariamente ocorrem em conjunto, o que resulta em células com um cromossomo a mais ou a menos. Um exemplo desse tipo de alteração é a Síndrome de Down, cujos indivíduos possuem 3 cromossomos 21, o que causa anomalias físicas e atraso mental. Outro exemplo é a Síndrome de Turner, que afeta apenas meninas, que possuem apenas 1 cromossomo sexual, o X. Essas meninas possuem órgãos sexuais e caracteres sexuais secundários pouco desenvolvidos. Vários fatores estão relacionados com o surgimento de alterações cromossômicas, principalmente influenciando na divisão dos cromossomos durante a formação dos gametas. A idade materna avançada está relacionada com trissomias dos cromossomos 21, 18 e 13. Radiação, drogas e vírus podem induzir quebras cromossômicas. A grande maioria das alterações cromossômicas, tanto estrutural quanto numérica, é letal para o organismo que as carregam. 37 CAPítulo 5 Ciclo celular: Mitose, Meiose e morte celular A capacidade de reprodução é a característica mais fundamental de todas as células. É dessa forma que toda célula parental dá origem a duas células filhas no final de cada divisão. Essas células filhas darão origem a outras células, cujo número cresce de forma exponencial, por um processo denominado de ciclo celular (Figura 17). Em casos mais simples, como as bactérias, por exemplo, uma única célula pode gerar milhões delas em apenas uma noite. Já em casos mais complexos, ciclos seguidos de divisão celular podem gerar um organismo altamente especializado, como os seres humanos, a partir de um óvulo fertilizado. Figura 17: Representação do ciclo celular, comparando a duração das fases do processo. Fonte: Modificado a partir de <http://turmadomario.com.br/cms/index.php/Conteudo/Ciclo-de-uma-Celula.html>, retirado em 21/4/2011. Mitose O ciclo celular consiste de duas etapas, aquela compreendida entre duas divisões celulares, a intérfase, e a divisão celular propriamente dita, relativamente rápida, a mitose. A intérfase é um período de biossíntese elevada, no qual a célula duplica seus cromossomos e seu tamanho. Pode ser dividida nas fases G1, S e G2. 38 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR Na fase G1 ocorre uma alta taxa de síntese de RNA e proteínas, responsáveis pelas atividades celulares e crescimento celular. Essa fase é muito variável, podendo durar poucos dias até anos, dependendo do tipo celular. Na fase S ocorre a síntese de DNA, isto é, a duplicação da cromatina. É extremamente necessário que o DNA se duplique, afinal a célula filha deve conter exatamente a mesma quantidade de DNA que a célula mãe, a fim de manter suas características. Por fim, na fase G2, que precede o início da divisão celular, são produzidas moléculas necessárias para atuarem no processo de divisão. Com a célula pronta para se dividir, tem início a mitose, cujos detalhes variam de um organismo a outro, mas os processos fundamentais são os mesmos. A mitose pode ser dividida nas seguintes etapas: prófase, pré-metáfase, metáfase, anáfase e telófase. A prófase é o período mais longo da mitose, no qual a cromatina duplicada anteriormente se condensa, sendo visíveis ao microscópio óptico. Nesse ponto o nucléolo se desorganiza, em consequência da interrupção dos processos de síntese celular. Tem início também a formação do aparelho mitótico, constituído pelos fusos mitóticos, centríolos e ásteres. Os centríolos, duplicados na intérfase, migram para os polos opostos da célula, formando as fibras do fuso, compostas por microtúbulos e proteínas associadas. O áster é um grupo de microtúbulos irradiados para a periferia da célula. No final da prófase, também conhecido como pré-metáfase, o envoltório nuclear se fragmenta, e as fibras do fuso, ancoradas nos centrossomos, se ligam aos cinetócoros, presentes nos centrômeros dos cromossomos. A metáfase é caracterizada pela máxima condensação dos cromossomos, assim como pelas suas posições, no plano equatorial da célula, levados até lá pelos microtúbulos das fibras do fuso, formando a placa metafásica. Nesse momento, os cinetócoros das cromátides estão voltados para lados opostos da célula e há um equilíbrio de forças, mantendo os cromossomosno equador da célula. Durante a anáfase, os centrômeros se rompem, liberando as cromátides irmãs, que são puxadas para polos opostos da célula, pelas fibras do fuso. Agora, o cromossomo anteriormente duplicado, consiste de duas cromátides irmãs, uma em cada polo da célula. Na telófase, os cromossomos se descondensam e são circundados por cisternas de retículo endoplasmático, os quais se fundem para formar um novo envelope nuclear em volta dos dois polos da célula, com uma quantidade idêntica de DNA. Além disso, o fuso mitótico desaparece e os nucléolos se reorganizam. As células então se separam por um processo denominado citocinese. Nas células animais, a citocinese ocorre devido ao “estrangulamento” da membrana plasmática na região equatorial da célula, ação essa devido à interação entre actina e miosina, formando um anel contrátil. Já nas células vegetais, a presença da parede celular impede que esse mesmo mecanismo ocorra. Nesse caso, há deposição de vesículas provenientes do complexo de Golgi na região equatorial, responsável pela formação de uma nova membrana plasmática para as células filhas. Posteriormente a parede celular se forma devido à deposição de moléculas de celulose. Diz- se então que nas células animais a citocinese é centrípeta, isto é, de “fora para dentro”, e nas células vegetais é centrífuga, de “dentro para fora”. 39 ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR │ UNIDADE I Figura 18: Fases da mitose. A figura corresponde a mitose de uma célula com 2n=8 cromossomos, para facilitar o entendimento. Fonte: Modificado a partir de <http://kvhs.nbed.nb.ca/gallant/biology/mitosis_phases.html>, retirado em 21/4/2011. Animações das fases da mitose: <http://highered.mcgraw-hill.com/sites/0072495855/student_view0/chapter2/ animation__how_the_cell_cycle_works.html> <http://www.sumanasinc.com/webcontent/animations/content/mitosis.html> <http://highered.mcgraw-hill.com/sites/0072495855/student_view0/chapter2/ animation__mitosis_and_cytokinesis.html> Meiose No final do processo de divisão celular, as células filhas possuem a mesma quantidade de DNA da célula mãe, sendo geneticamente idênticas. Mas ao observamos as células germinativas, presentes nos órgãos sexuais dos organismos, observamos que essas células possuem exatamente a metade 40 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR de DNA, comparadas as outras células do organismo. O processo de origem dessas células recebe o nome de meiose, e é um tipo especial de divisão celular. A meiose apresenta duas divisões celulares consecutivas, meiose I e meiose II, com apenas uma fase de síntese de DNA, o que possibilita a formação de células com a metade do conteúdo genético da célula original (Figura 19). Como ocorre na mitose, a célula passa pelas fases G1, S e G2, antes de iniciar o processo de divisão. Essas etapas têm as mesmas características para a mitose e a meiose. A meiose I tem início com a prófase I, que é dividida em 5 estágios: » Leptóteno: os filamentos de cromatina começam a se condensar, mas as cromátides irmãs ainda são indistinguíveis. » Zigóteno: começa o processo de pareamento dos cromossomos homólogos. » Paquíteno: os cromossomos homólogos se pareiam no equador da célula, formando as tétrades (4 cromátides irmãs). Nessa fase ocorre um processo chamado “crossing over”, responsável pela troca de material genético entre determinadas partes dos cromossomos (quiasma). » Diplóteno: as tétrades se desfazem, marcando o final do “crossing over”. » Diacinese: período de condensação máxima dos cromossomos, o nucléolo se desorganiza, o envelope nuclear se fragmenta e os centríolos migram para os polos da célula. A metáfase I se caracteriza pelo pareamento dos cromossomos homólogos na porção equatorial da célula. Os cromossomos estão ligados às fibras do fuso, com os centrômeros voltados para polos opostos da célula. Na anáfase I, ocorre o encurtamento das fibras do fuso, o que ocasiona a separação dos cromossomos homólogos, sem a bipartição dos centrômeros, mantendo as cromátides irmãs unidas. Em cada polo da célula há metade dos cromossomos, ainda duplicados, contidos na célula mãe. Durante a telófase I, os cromossomos se descondensam, o nucléolo se reorganiza, assim como o envelope nuclear. No final da telófase I, ocorre a citocinese e, consequentemente o surgimento de duas células filhas. Os eventos da meiose II são idênticos aos da mitose. Na prófase II, o envelope nuclear se fragmenta, o nucléolo se desorganiza e os centríolos migram para polos opostos da célula. Na metáfase II, os cromossomos se alinham no plano equatorial, ligados às fibras do fuso. Na anáfase II, os centrômeros são rompidos, separando as cromátides irmãs, que são “puxadas” pelos microtúbulos para os polos da célula. Finalmente, na telófase II ocorre a reorganização dos nucléolos e envelope nuclear e, por fim, a citocinese. 41 ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR │ UNIDADE I Figura 19: Fases da meiose i e meiose ii. A figura corresponde à meiose de uma célula com 2n=6 cromossomos, para facilitar o entendimento. Fonte: Modificado a partir de, respectivamente, <http://kvhs.nbed.nb.ca/gallant/biology/meiosis_1.jpg e http://kvhs.nbed. nb.ca/gallant/biology/meiosis_2.jpg>, retirado em 21/4/2011. Animações da meiose I e meiose II: <http://www.sumanasinc.com/webcontent/animations/content/meiosis.html> <http://www.johnkyrk.com/meiosis.html> <http://highered.mcgraw-hill.com/sites/0072495855/student_view0/chapter28/ animation__how_ meiosis_works.html> <http://www.biostudio.com/d_%20Meiosis.htm> 42 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FUNÇÃO CELULAR Comparativamente, a mitose e a meiose diferem na quantidade de DNA ao longo dos processos de divisão celular. Na mitose, a célula inicialmente com 2n cromossomos, passa a 4n e após a citocinese retorna a 2n. Já no caso da meiose, ambas as células resultantes na meiose I sofrem outra divisão celular, resultando em quatro células haploides. A divisão das células deve ser cuidadosamente coordenada e regulada, a fim de manter os genomas das células filhas exatamente iguais ao da célula mãe. A divisão da maioria das células animais é inicialmente regulada na fase G1. Para que ocorra a passagem da fase G1 para a fase S, são necessários fatores de crescimento extracelulares, que sinalizam que a célula está apta para iniciar o processo de síntese de DNA. Outros pontos de verificação ocorrem durante o ciclo celular, como em G2, que previne o início da mitose até que a replicação do DNA esteja completa, ou devido a algum dano no DNA. Outro ponto de verificação monitora o alinhamento dos cromossomos no fuso mitótico, assegurando que um conjunto completo de cromossomos será distribuído de forma igual entre as células filhas. Qualquer problema detectado nesses pontos de verificação bloqueia o processo, que se reinicia logo após o reparo do erro. Várias são as proteínas e os mecanismos envolvidos nesses pontos de verificação, entre elas fatores de crescimento liberados por diversas células. Em alguns casos ocorrem falhas nos pontos de verificação, resultando na não segregação das cromátides irmãs, no caso da mitose, devido ao não rompimento do centrômero no início da anáfase, ou da perda de algum cromossomo, pela não ligação ao fuso. A não segregação na meiose é devida a falhas na separação dos cromossomos homólogos, na meiose I, ou das cromátides irmãs, na meiose II. Esses erros podem causar as alterações cromossômicas descritas no capítulo anterior. Qual a importância do “crossing over” ao longo do processo evolutivo? Morte celular O ciclo celular compreende, além das divisões celulares, a morte celular, não somente devido a lesões, mas também por um processo fisiológico normal e programado, conhecido como apoptose. É por meio
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