Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

2018
tÓpiCos espeCiAis
Prof. Kleber Renan de Souza Santos
Profª. Ana Clarisse Alencar Barbosa
Prof. Arildo João de Souza
Prof. Fábio Roberto Tavares
Profª. Francieli Stano Torres
Profª. Graciela Márcia Fochi
Profª. Grazielle Jenske
Profª. Greisse Moser
Profª. Luciane da Luz
Prof. Lírio Ribeiro
Profª. Maquiel Duarte Vidal
Profª. Meike Schubert
Profª. Vânia Konell
Profª. Vera Lúcia Hoff mann Pieritz
Copyright © UNIASSELVI 2018
Elaboração:
Prof. Kleber Renan de Souza Santos
Profª. Ana Clarisse Alencar Barbosa
Prof. Arildo João de Souza
Prof. Fábio Roberto Tavares
Profª. Francieli Stano Torres
Profª. Graciela Márcia Fochi
Profª. Grazielle Jenske
Profª. Greisse Moser
Profª. Luciane da Luz
Prof. Lírio Ribeiro
Profª. Maquiel Duarte Vidal
Profª. Meike Schubert
Profª. Vânia Konell
Profª. Vera Lúcia Hoff mann Pieritz 
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfi ca elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
657
S237t Santos, Kleber Renan
Tópicos Especiais / Kleber Renan Santos et al. Indaial: 
UNIASSELVI, 2018.
294 p. : il 
 
ISBN 978-85-515-0131-3
1. Tópicos Especiais.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
 
Impresso por:
III
ApresentAção
Olá, acadêmico! Vamos iniciar os estudos do Livro Didático de 
Tópicos Especiais. Este livro está dividido em três unidades e tem o intuito 
de apresentar e reforçar temas no componente de Formação Geral, conforme 
orientação da Portaria Inep nº 239, de 10 de junho de 2015, art. 3º: 
No componente de Formação Geral serão considerados os 
seguintes elementos integrantes do perfil profissional: letramento 
crítico; atitude ética; comprometimento e responsabilidades 
sociais; compreensão de temas que transcendam ao ambiente 
próprio de sua formação, relevantes para a realidade social; 
espírito científico, humanístico e reflexivo; capacidade de análise 
crítica e integradora da realidade; e aptidão para socializar 
conhecimentos com públicos diferenciados e em vários contextos.
A partir dessa orientação, queremos que você compreenda que 
aprender a questionar é tão importante quanto buscar o saber, e que ao final 
do estudo deste livro você seja capaz de formular novas perguntas sobre a 
realidade humana e consiga propor soluções responsáveis para os desafios 
profissionais que surgirem. Assim, este livro traz conteúdos gerais para 
você estar bem preparado para o ENADE e também para o que a vida lhe 
apresentar. São temas pertinentes, atuais, abrangentes e que fazem parte da 
vida de todos nós. Vamos começar?!
Na primeira unidade, que vai tratar sobre cidadania e sociedade, 
seremos conduzidos por um mundo intrínseco do comportamento humano em 
sociedade e suas regras de conduta e participação social, política e econômica, 
na qual trabalharemos a questão da formação dos princípios morais e éticos dos 
homens que vivem e convivem em sociedade, além de abordarmos questões 
pertinentes à democracia, à ética e à cidadania. Desta forma, abordaremos a 
compreensão dos significados dos princípios norteadores da democracia, ética 
e cidadania, além de realizar uma reflexão e uma discussão sobre as questões 
ético-morais na relação indivíduo e sociedade.
Ainda nessa unidade vamos apresentar algumas definições e 
conceitos a respeito dos problemas sociais ocasionados pela diversidade que 
gera diferenças entre coisas e seres, que por consequência geram os mais 
diversos preconceitos, desigualdades e conflitos sociais. Vamos também 
identificar a necessidade e a essencialidade da inclusão como uma forma de 
democratização das relações sociais, principalmente na emancipação e na 
sutileza do trato com o outro, seja em relação aos “iguais” ou entre iguais 
e diferentes, que de alguma forma ainda não foram incluídos no contexto 
social. Relacionado à sociedade e suas relações, vamos trabalhar o conceito 
de multiculturalismo, enfatizando as origens do surgimento do movimento e 
os campos de conhecimento que acolhem os estudos multiculturais.
IV
Para finalizar a Unidade 1, estudaremos a cultura e a arte como áreas 
que interagem entre si e com as demais áreas de conhecimento. Estudar, 
pesquisar e refletir sobre as diferentes culturas e suas manifestações artísticas 
possibilita a compreensão da vida e das relações entre os sujeitos no meio 
social. A cultura, assim como a arte, é dinâmica, vai mudando conforme o 
tempo e o espaço. A cultura e a arte devem ser estudadas a partir de três 
concepções: erudita, popular e de massa. 
 
Começamos a segunda unidade adentrando nos assuntos 
relacionados à Ciência, Tecnologia e Sociedade. Veremos como se faz 
necessário entendermos os fundamentos da ciência sob diferentes óticas e 
também analisar definições e pensamentos acerca da tecnologia e algumas 
formas de interpretar a sociedade.
 
Muito próximo dessa temática, avançaremos sobre as tecnologias 
da informação e comunicação como fator determinante no advento da 
sociedade da informação, das transformações resultantes do processo da 
globalização de mercados e dos avanços do uso dos processos tecnológicos 
na vida cotidiana dos indivíduos.
 
Concluímos os estudos deste livro com a terceira unidade. Nela, 
vamos estudar sobre as políticas públicas, sobre a vivência nos meios urbanos 
e rurais e a questão ecológica, temas tão importantes para o desenvolvimento 
da sociedade como um todo. 
 
Queremos evidenciar a importância das políticas públicas para a 
concretização dos direitos e deveres do Estado em relação às pessoas que 
compõem a sociedade e, assim como o Estado, gozam de seus direitos civis 
e políticos. Veremos que estamos sujeitos ao conjunto de normas jurídicas e 
sociais, formando assim um marco regulatório previamente fixado no que 
diz respeito à distribuição harmônica dos elementos que formam os direitos, 
deveres e responsabilidades em prol do desenvolvimento educacional, 
político, econômico e social. Nesta via de mão dupla vamos perceber que a 
vida em sociedade está ligada à política e não há ação social sem ação política, 
quer seja promovida pelo Estado ou pela sociedade. Vamos ainda tratar sobre 
a saúde e sua gestão, a habitação e moradia como direitos constitucionais e a 
segurança em âmbito nacional.
 
Esperamos que este estudo possa auxiliá-lo na compreensão de tantos 
temas que compõem este livro de estudos, preparar-se bem para o ENADE e 
levar para a vida as abordagens aqui feitas.
Bons estudos!
V
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfi m, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
Bons estudos!NOTA
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda 
mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza 
materiais que possuem o código QR Code, que 
é um código que permite que você acesse um 
conteúdo interativo relacionado ao tema que 
você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, 
acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor 
de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa 
facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
VI
VII
UNIDADE 1 - CIDADANIA E SOCIEDADE ..................................................................................1
TÓPICO 1 - DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA ...................................................................3
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................3
2 A DEMOCRACIA EM PAUTA ......................................................................................................4
3 A QUESTÃO DA ÉTICA ...................................................................................................................8
4 O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA CIDADANIA .............................................................13
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................16
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................18
TÓPICO 2 - SOCIEDADE E A DIVERSIDADE ..............................................................................21
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................21
2 CONCEITOS DE DIVERSIDADE CULTURAL E DESIGUALDADE SOCIAL ....................21
3 DIVERSIDADE CULTURAL E DESIGUALDADE SOCIAL .....................................................22
4 INCLUSÃO ESCOLAR E SOCIAL DA DIVERSIDADE ............................................................30
5 INCLUSÃO ESCOLAR E SOCIAL DA DIVERSIDADE HUMANA .......................................31
6 CONSTRUÇÃO E RECONSTRUÇÃO DO SABER APRENDIDO .........................................37
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................38
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................39
TÓPICO 3 - MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/
INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO ...............................................................................41
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................41
2 CONCEITUANDO MULTICULTURALISMO .............................................................................41
3 SURGIMENTO DO MULTICULTURALISMO............................................................................43
4 ÁREAS DE CONHECIMENTO QUE ABRIGAM O MULTICULTURALISMO ...................44
5 MOVIMENTO FEMINISTA .............................................................................................................45
5.1 FEMINISMO ...................................................................................................................................45
5.2 A PRIMEIRA ONDA FEMINISTA ..............................................................................................46
5.3 A SEGUNDA ONDA FEMINISTA ..............................................................................................46
5.4 A TERCEIRA ONDA FEMINISTA E O SURGIMENTO
 DOS ESTUDOS DE GÊNERO ......................................................................................................48
6 CONCEITUANDO GÊNERO...........................................................................................................48
7 ESTUDOS DE GÊNERO ...................................................................................................................51
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................56
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................58
TÓPICO 4 - RESPONSABILIDADE SOCIAL: SETOR PÚBLICO, SETOR 
PRIVADO E TERCEIRO SETOR ........................................................................................................63
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................63
2 SETOR PRIVADO ..............................................................................................................................63
3 TERCEIRO SETOR ............................................................................................................................64
3.1 HISTÓRICO ...................................................................................................................................65
3.2 REALIDADE DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS NO BRASIL ................................................66
sumário
VIII
4 AS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS ...................................................................68
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................71
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................72
TÓPICO 5 - CULTURA E ARTE ..........................................................................................................75
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................75
2 CULTURA .............................................................................................................................................76
3 ARTE ......................................................................................................................................................79
RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................86
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................87
UNIDADE 2 - POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO:
OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE ..........................................................................................89
TÓPICO 1 - CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE ........................................91
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................91
2 CIÊNCIA ...............................................................................................................................................91
3 TECNOLOGIA ....................................................................................................................................93
4 SOCIEDADE .......................................................................................................................................95
5 SOCIEDADE ENTRE CIÊNCIA E TECNOLOGIA ....................................................................96
6 CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE
 (CTSA) – INTERPRETAÇÕES SOBRE A NOVA FORMAÇÃO ................................................98
6.1 CTS SOB NOVAS ÓTICAS ...........................................................................................................98
6.2 CTS SOB A ÓTICA DE MILTON SANTOS ..............................................................................98
6.3 CTSA SOB A ÓTICA DE WIEBE BIJKER ...................................................................................1017 CARACTERIZANDO O MUNDO ATUAL ...................................................................................103
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................105
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................106
TÓPICO 2 - TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC) .......................109
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................109
2 AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC)
 COMO FATOR DETERMINANTE NO ADVENTO DA
 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO..................................................................................................109
3 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO – TIC .............................................112
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................116
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................117
TÓPICO 3 - AVANÇOS TECNOLÓGICOS ......................................................................................119
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119
2 TENDÊNCIAS ORGANIZACIONAIS DO SÉCULO XXI ........................................................119
3 COMUNIDADES VIRTUAIS ..........................................................................................................120
3.1 REDES SOCIAIS .............................................................................................................................124
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................125
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................126
TÓPICO 4 - GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA INTERNACIONAL ..............................................129
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................129
2 GLOBALIZAÇÃO: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA .............................................................129
2.1 O TERCEIRO SETOR ....................................................................................................................132
3 GLOBALIZAÇÃO: UM BALANÇO ................................................................................................132
4 A POLÍTICA INTERNACIONAL ....................................................................................................134
IX
5 O ESTADO MODERNO E O LIBERALISMO ..............................................................................134
6 O NEOLIBERALISMO E A TERCEIRA VIA ................................................................................135
7 TENDÊNCIAS AOS GOVERNOS E À POLÍTICA INTERNACIONAL .................................136
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................138
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................139
TÓPICO 5 - RELAÇÕES DE TRABALHO ........................................................................................141
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................141
2 ORIGEM/SIGNIFICADO DA PALAVRA TRABALHO .............................................................141
3 AS MULHERES NO CONTEXTO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL .....................................146
4 O TRABALHO NOS TEMPOS CONTEMPORÂNEOS .............................................................147
4.1 AS POSSIBILIDADES DO TRABALHO INFORMAL ..............................................................148
4.2 RELAÇÕES DE TRABALHO E OS PROCESSOS LEGAIS NO BRASIL ...............................148
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................150
RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................153
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................154
UNIDADE 3 - POLÍTICAS PÚBLICAS .............................................................................................157
TÓPICO 1 - POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO .......................................................................159
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................159
2 POLÍTICA PÚBLICA ATUAL ..........................................................................................................159
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................172
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................175
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................176
TÓPICO 2 - POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE ................................................................................177
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................177
2 CONCEITO DE SAÚDE ....................................................................................................................179
3 SAÚDE: DIREITO DE TODOS E DEVER DO ESTADO ...........................................................182
4 AS REDES DE ATENÇÃO EM SAÚDE ..........................................................................................183
5 DIVERSOS ATENDIMENTOS EM SAÚDE ................................................................................186
5.1 POLÍTICAS DE SAÚDE E PROGRAMAS ESPECÍFICOS ......................................................187
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................191
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................192
TÓPICO 3 - HABITAÇÃO E SANEAMENTO .................................................................................195
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................195
2 DIREITO À MORADIA ....................................................................................................................195
3 SANEAMENTO ..................................................................................................................................202
4 SANEAMENTO BÁSICO .................................................................................................................203
5 PRECARIZAÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO .......................................................................207
6 AVANÇOS NO SANEAMENTO .....................................................................................................210
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................212
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................213TÓPICO 4 - TRANSPORTES E SEGURANÇA ...............................................................................217
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................217
2 CLASSIFICAÇÃO DOS TRANSPORTES .....................................................................................219
2.1 TERRESTRES ..................................................................................................................................219
2.2 AQUAVIÁRIOS ..............................................................................................................................221
2.3 AÉREO .............................................................................................................................................223
X
3 INFRAESTRUTURA ..........................................................................................................................224
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................226
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................227
TÓPICO 5- POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA EM ÂMBITO NACIONAL ..............229
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................229
2 A SEGURANÇA PÚBLICA E AS CONTRIBUIÇÕES COMUNITÁRIAS ..............................230
3 SEGURANÇA PÚBLICA E JUSTIÇA CRIMINAL ......................................................................231
4 SEGURANÇA PÚBLICA E O PAPEL DO ESTADO ....................................................................235
RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................238
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................239
TÓPICO 6 - VIDA RURAL, URBANA E ECOLOGIA....................................................................241
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................241
2 VIDA URBANA ..................................................................................................................................241
3 VIDA RURAL ......................................................................................................................................243
4 SEMELHANÇAS OU DIFERENÇAS ..............................................................................................245
5 ECOLOGIA ..........................................................................................................................................248
6 ECOSSISTEMA ...................................................................................................................................249
6.1 ORGANIZAÇÃO DOS SERES VIVOS .......................................................................................250
6.2 EXEMPLOS DE ECOSSISTEMAS ...............................................................................................253
6.3 DIVERSIDADE DO ECOSSISTEMA ...........................................................................................254
7 OS GRANDES BIOMAS ...................................................................................................................254
7.1 FATORES QUE DETERMINAM OS BIOMAS ..........................................................................254
RESUMO DO TÓPICO 6......................................................................................................................256
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................257
TÓPICO 7- MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .............................259
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................259
2 QUESTÕES AMBIENTAIS – UMA REFLEXÃO SOCIOAMBIENTAL ...................................259
3 SUSTENTABILIDADE: SURGIMENTO ......................................................................................261
3.1 RELATÓRIO BRUNDTLAND OU “NOSSO FUTURO COMUM” .........................................263
3.2 AGENDA 21 ...................................................................................................................................263
3.3 CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE
 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – RIO+20 ..................................................................264
4 SUSTENTABILIDADE: CONCEITUAÇÃO ..................................................................................264
4.1 OS PILARES DA SUSTENTABILIDADE ...................................................................................265
5 AS FERRAMENTAS PARA A GESTÃO SUSTENTÁVEL .........................................................267
5.1 PACTO GLOBAL ..........................................................................................................................268
5.2 OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO - ODM .............................................269
5.3 PROTOCOLO DE KYOTO ...........................................................................................................270
5.4 ABNT NBR 14064 – INVENTÁRIO DE EMISSÕES DE
 GASES DE EFEITO ESTUFA ........................................................................................................271
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................272
RESUMO DO TÓPICO 7......................................................................................................................276
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................277
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................281
1
UNIDADE 1
CIDADANIA E SOCIEDADE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade tem por objetivos:
• compreender diferentes conceitos de democracia, ética, cidadania e socio-
diversidade;
• verificar os padrões de conduta moral ao longo do tempo e em diversas 
culturas;
• identificar a importância da responsabilidade social e os três setores: pú-
blico, privado e terceiro setor para uma sociedade equânime;
• entender a importância da cultura e da arte no desenvolvimento da sociedade.
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA
TÓPICO 2 – SOCIODIVERSIDADE E INCLUSÃO 
TÓPICO 3 – MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTO-
 LERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO
TÓPICO 4 – RESPONSABILIDADE SOCIAL: SETOR PÚBLICO, SETOR PRI-
 VADO E TERCEIRO SETOR
TÓPICO 5 – CULTURA E ARTE
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA
1 INTRODUÇÃO
Entraremos no mundo do comportamento humano em sociedade e 
suas regras de conduta e participação social, política e econômica, no qual 
trabalharemos a questão da formação dos princípios morais e éticos dos homens 
que vivem e convivem em sociedade, além de abordarmos questões pertinentes à 
democracia e à cidadania. 
Esses conceitos estão previstos na Portaria INEP nº 493 de 6 de junho de 
2017, em seu Art. 1º, que destaca:
O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE), parte 
integrante do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior 
(SINAES), tem como objetivo geral avaliar o desempenho dos 
estudantes em relação aos conteúdos programáticos previstos nas 
diretrizescurriculares, às habilidades e competências para atuação 
profissional e aos conhecimentos sobre a realidade brasileira e 
mundial, bem como sobre outras áreas do conhecimento (BRASIL, 
2017, grifos nossos).
A mesma portaria, em seu Art. 5º, indica como referência do perfil do 
concluinte, no âmbito da Formação Geral, as seguintes características: 
I. ético e comprometido com as questões sociais, culturais e ambientais; 
II. humanista e crítico, apoiado em conhecimentos científico, social e 
cultural, historicamente construídos, que transcendam o ambiente próprio 
de sua formação; 
III. protagonista do saber, com visão do mundo em sua diversidade para 
práticas de letramento, voltadas para o exercício pleno de cidadania; 
IV. proativo, solidário, autônomo e consciente na tomada de decisões 
pautadas pela análise contextualizada das evidências disponíveis; 
V. colaborativo e propositivo no trabalho em equipes, grupos e redes, 
atuando com respeito, cooperação, iniciativa e responsabilidade social.
E no Art. 6º é indicado que a prova ENADE avaliará se o concluinte 
desenvolveu, no processo de formação, competências para:
I. fazer escolhas éticas, responsabilizando-se por suas consequências; 
II. ler, interpretar e produzir textos com clareza e coerência; 
III. compreender as linguagens como veículos de comunicação e expressão, 
respeitando as diferentes manifestações étnico-culturais e a variação 
linguística; 
IV. interpretar diferentes representações simbólicas, gráficas e numéricas 
de um mesmo conceito; 
V. formular e articular argumentos consistentes em situações 
sociocomunicativas, expressando-se com clareza, coerência e precisão; 
VI. organizar, interpretar e sintetizar informações para tomada de decisões; 
VII. planejar e elaborar projetos de ação e intervenção a partir da análise de 
necessidades, de forma coerente, em diferentes contextos; 
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
4
QUADRO 1 – FORMAS DE DEMOCRACIA
FONTE: Adaptado de Pieritz (2013, p. 133)
FORMAS DE DEMOCRACIA
Democracia 
direta
Na qual o povo decide diretamente, por meio de referendo/
plebiscito, se aceita ou não determinadas questões políticas e 
administrativas de sua localidade, Estado ou país.
Democracia 
indireta
Nesta, o povo participa democraticamente, por meio do voto, 
elegendo seu representante político, ou seja, uma pessoa que 
o represente nas diversas esferas governamentais, para tomar 
decisões cabíveis em nome do povo que o elegeu.
VIII. buscar soluções viáveis e inovadoras na resolução de situações-
problema; 
IX. trabalhar em equipe, promovendo a troca de informações e a 
participação coletiva, com autocontrole e flexibilidade; 
X. promover, em situações de conflito, diálogo e regras coletivas de 
convivência, integrando saberes e conhecimentos, compartilhando metas 
e objetivos coletivos.
Para tanto, abordaremos a compreensão dos significados dos princípios 
norteadores da democracia, ética e cidadania, além de realizar uma reflexão e 
uma discussão sobre as questões ético-morais, na relação indivíduo e sociedade.
2 A DEMOCRACIA EM PAUTA 
Estamos vivendo em um país apresentado como democrático! Será que 
todos nós compreendemos o sentido real da democracia e seus reflexos na sociedade 
brasileira? Em outros termos, o que realmente é este Estado Democrático de Direito 
em que vivemos?
Neste sentido, Moisés (2010, p. 277) expõe que “o significado mais usual 
da democracia se refere aos procedimentos e aos mecanismos competitivos de 
escolha de governos através de eleições”, ou seja, a democracia é compreendida 
habitualmente somente como um processo de escolha dos nossos representantes 
legais em todas as esferas, tanto local, municipal, estadual quanto federal, no qual a 
população dessas esferas, por meio de seu voto, seleciona e elege o seu representante 
para legislar em nome dessa mesma população. Assim, “podemos considerar que 
a democracia nada mais é do que um sistema de governo, no qual o povo governa 
para sua própria sociedade” (PIERITZ, 2013, p. 133, grifos do original).
Deste modo, pode-se observar que a democracia pode ser exercida de duas 
formas distintas, pois ela pode ser direta ou indireta (Quadro 1). O conceito de 
democracia é notoriamente o entendimento de toda massa populacional brasileira 
nos dias de hoje, pois quando se indaga às pessoas com relação ao conceito de 
democracia, é este conceito de escolha de nossos representantes legais, por 
intermédio do voto popular, que aparece nos discursos da população de nosso país.
TÓPICO 1 | DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA
5
Cunha (2011, p. 105) expõe que a democracia pode ser compreendida 
como “método de organização social e política tendente à maior realização da 
liberdade e da igualdade. [é um] Sistema político em que o povo constitui e 
controla o governo, no interesse de todos”.
Outro fator que não podemos esquecer é que, quando falamos em 
democracia, também falamos de Estado Democrático de Direito. Segundo 
Cunha (2011, p. 138), o “Estado de direito [é aquele] que se organiza e opera 
democraticamente”. Nossa Carta Magna de 1988, já em seu preâmbulo, instituiu 
um Estado Democrático de Direito, ou seja, a Constituição da República 
Federativa do Brasil se organizou e definiu suas normativas em prol de um Estado 
Democrático, no qual a democracia deverá ser a base fundamental da República 
Federativa do Brasil. Assim, segundo Pieritz (2013, p. 133), “este sistema de 
governo democrático possui formatos diferentes nas diversas sociedades, pois 
em cada uma existem regras e normas diferentes, e isto acontece por causa da 
constituição dos princípios ético-morais de cada localidade”. 
Vale salientar que a democracia vai muito além desse discurso sintético de 
representação e de voto, pois Moisés (2010, p. 277, grifos nossos) coloca-nos que:
existem outras perspectivas que ampliam a compreensão do conceito, 
incluindo tanto as dimensões que se referem aos conteúdos da 
democracia, como também os seus resultados práticos esperados no 
terreno da economia e da sociedade. Por uma parte, acompanhando 
a abordagem minimalista de Schumpeter (1950) e a procedimentalista 
de Dahl (1971), vários autores definiram a democracia em termos de 
competição, participação e contestação pacífica do poder. 
Neste sentido, no que tange à conotação que a democracia tem de 
competição, participação e contestação pacífica do poder, pode-se expor que 
falar de democracia também está atrelado ao conceito do “jogo de poderes”, 
principalmente a disputa e concorrência de cargos em todas as esferas 
governamentais ou não, além da competição entre partidos políticos e outros 
grupos econômicos, políticos, culturais e sociais. 
Além disso, não podemos esquecer um elemento fundamental da 
democracia, que é a questão da “participação do povo”, em que cada cidadão 
brasileiro é elemento fundamental no processo democrático do Brasil, pois direta 
ou indiretamente é parte do processo democrático instaurado neste país. Ao 
proferir sua escolha, independentemente do que for ou de que escolha fora feita, 
torna-se automaticamente parte do Estado Democrático de Direito e integra-se ao 
sistema vigente de democracia daquele determinado Estado.
Resumidamente, a Figura 1 apresenta o primeiro entendimento da 
definição e o significado da democracia e o Estado Democrático de Direito.
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
6
FIGURA 1 – DEMOCRACIA E O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
FONTE: Os autores
Maciel (2012, p. 73, grifos do original) complementa expondo que a 
democracia “tornou-se uma aspiração universal, por ser o regime de governo mais 
propenso a garantir os direitos individuais, porém não se resume simplesmente 
ao ato de votar, sendo que o direito à participação tornou-se uma atividade 
importante diante da constituição da cidadania”.
Por conseguinte, pode-se expor que democracia denota participação 
direta ou indireta da população em todos os espaços que necessitem do veredito 
do povo em prol de objetivos comuns a ele mesmo. Assim, Beethan(2003, p. 110 
apud MACIEL, 2012, p. 73, grifos nossos) complementa expondo que: 
O direito à participação pode ser tanto reativo quanto proativo. Em 
sua forma reativa, a participação consiste na articulação coletiva de 
respostas a políticas de desenvolvimento. Na forma proativa, ela invoca 
a responsabilidade popular no desencadeamento da articulação de 
políticas de desenvolvimento. No primeiro caso, os governos propõem 
e os cidadãos reagem; no segundo, os cidadãos propõem e os governos 
reagem. Em ambas as formas, o direito de participação assume a lógica 
de colaborar com o desenvolvimento. “No coração da democracia 
repousa, assim, o direito do cidadão de opinar nos assuntos públicos e 
de exercer controle sobre o governo, em pé de igualdade com os demais”.
Deste modo, pode-se expor que um dos elementos da democracia é a 
articulação coletiva do povo em prol de uma determinada demanda social, 
política, cultural ou econômica. Para que se possa debater coletivamente os prós e 
contras, no que tange aos assuntos pertinentes ao interesse coletivo, dando assim 
respostas a esta mesma demanda.
Vale salientar que a não participação e a omissão também são formas de 
participação, pois retratam a sua alienação, indiferença, contestação ou o seu 
descontentamento em relação ao sistema vigente. Então, isto não quer dizer que 
aquele cidadão que se omitiu ou apenas não quis participar não fez parte do 
TÓPICO 1 | DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA
7
QUADRO 2 – CONDIÇÕES BÁSICAS PARA O REGIME DEMOCRÁTICO
FONTE: Adaptado de Moisés (2010, p. 277)
Disponível em: <http://
rafaelsilva.over-blog.es/arti-
cle-objetivo-democracia-
-iv-124370354.html>.
Direito dos cidadãos de ESCOLHEREM GOVERNOS por 
meio de eleições com a participação de todos os membros 
adultos da comunidade política. A isso se dá o nome de 
sufrágio universal (direito ao voto).
ELEIÇÕES regulares, livres, competitivas, abertas e significativas.
GARANTIA DE DIREITOS de expressão, reunião e organização, 
em especial, de partidos políticos para competir pelo poder.
Acesso a fontes alternativas de INFORMAÇÃO sobre a ação 
de governos e a política em geral. 
Essas quatro condições mínimas para implantar um regime democrático 
são de fundamental importância para que haja a participação democrática de um 
povo em prol dos objetivos comuns do próprio povo, uma vez que a democracia 
vai muito além da simples representação e de voto, ela se efetiva e concretiza-se 
com a participação, com a competição e a contestação dos processos pacíficos da 
busca do poder no Estado Democrático de Direito.
Sucintamente, a Figura 2 apresenta a ampliação da compreensão do 
entendimento do significado da democracia, ou seja, o seu conceito ampliado:
FIGURA 2 – CONCEITO AMPLIADO DE DEMOCRACIA
FONTE: Os autores
processo democrático de um país, pelo contrário, todo cidadão tem o direito de 
participar ou não, mesmo que o voto no Brasil seja obrigatório, pois ao votar ele 
exprime a sua vontade, ou o seu desejo.
Aqui fica claro que a população, ao exercer seu direito de participação de 
forma proativa, demonstra seus direitos e responsabilidades perante os efeitos da 
decisão coletiva. Entretanto, também existem quatro condições necessárias para 
que se possa instaurar um regime governamental pautado na democracia.
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
8
3 A QUESTÃO DA ÉTICA
O tema que abordaremos neste momento é relativo à questão da ética, 
a qual permeia constantemente nosso dia a dia, seja no âmbito familiar, social 
ou profissional. Aparentemente, compreendemos o seu significado e seus efeitos, 
mas será que realmente compreendemos o seu sentido real? Será que sabemos o 
que é certo ou errado para nós na sociedade em que vivemos? 
Neste sentido, Tomelin e Tomelin (2002, p. 89) expõem que “a ética é 
uma das áreas da filosofia que investiga sobre o agir humano na convivência 
com os outros [...]”. Em outros termos, as nossas ações perante a sociedade em 
que vivemos são orientadas por princípios éticos e morais, e esses princípios são 
norteadores de consciência moral do certo e do errado, do bem e do mal.
De modo mais abrangente, a ética pode ser conceituada como a área da 
filosofia que investiga o agir humano, tanto aqueles com repercussão social, 
quanto aqueles sem maiores impactos na sociedade, ou seja, não somente os atos 
relativos à convivência com os outros, mas também consigo mesmo.
Assim, no que tange a esta problemática relativa à ética, Pieritz (2013, p. 
3) expõe que “a ética não é facilmente explicável, mas todos nós sabemos o que é, 
pois está diretamente relacionada aos nossos costumes e às ações em sociedade, 
ou seja, ao nosso comportamento, ao nosso modo de vida e de convivência com 
os outros integrantes da sociedade”. E que esses valores éticos são construídos 
historicamente pelos povos, de geração em geração.
O que são valores? Pedro (2014, p. 490) faz um resgate etimológico da 
palavra Axiologia, de origem grega, que significa estudo dos valores ou ciência do 
valor, e aponta para um significado, o da vivência do valor, independentemente 
do valor que for, pois este é experienciado como um fenômeno que se apresenta 
à consciência como tal e como um acontecimento que nos é imediatamente dado.
Para a filósofa húngara Agnes Heller (1972, p. 4), “valor é tudo aquilo que 
faz parte do ser genérico do homem e contribui, direta ou mediatamente para a 
explicação desse ser genérico”. Vejamos no Quadro 3 quais são os atributos dos 
valores humanos na perspectiva de Heller:
QUADRO 3 – ATRIBUTOS DOS VALORES HUMANOS
OBJETIVAÇÃO
- que se expressa prioritariamente por intermédio do trabalho;
- que proporciona sair do subjetivo e passar para o real e 
concreto.
Caro acadêmico, para colaborar com seus estudos, veja que a junção das Figuras 
1 e 2 proporciona o entendimento global do que é democracia.
ATENCAO
TÓPICO 1 | DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA
9
FONTE: Adaptado de Bonetti et al. (2010, p. 23)
FONTE: Os autores
QUADRO 4 – EXEMPLOS DOS VALORES E VIRTUDES HUMANOS
SOCIALIDADE
- que se expressa com a convivência com o outro, em grupo;
- aprendizagem com o outro;
- assimilação de normas sociais.
CONSCIÊNCIA
- tomar ciência dos fatos ou de alguma coisa;
- reconhecimento da realidade;
- descoberta de algo;
- capacidade de perceber as coisas.
UNIVERSALIDADE
- universal;
- o todo;
- fazer parte de um determinado grupo.
LIBERDADE - livre-arbítrio. 
Portanto, os atributos dos valores humanos apresentados no Quadro 3 são 
os elementos constitutivos do ser humano, do ser social, que formam os nossos 
valores morais. Complementando, no Quadro 4 apresentamos mais exemplos 
dos valores e virtudes do ser humano, que vive e convive em sociedade.
Amizade Justiça Obediência Respeito Simplicidade
Lealdade Compreensão Sinceridade Pudor Generosidade
Paciência Ordem Humildade Autoestima Liberdade
Deste modo, podemos expor que “todos nós possuímos princípios e 
valores que foram e são constituídos por nossa sociedade. E, com relação a esses 
valores, cada um de nós possui uma visão do que é certo e errado, do que é o bem 
e o mal” (PIERITZ, 2012, p. 57).
Não podemos nos esquecer de que “esta consciência moral é determinada por 
um consenso coletivo e social, ou seja, o conjunto da sociedade é que formula e compõe 
as normas de conduta que o regem. Como exemplo, temos a nossa Constituição Federal 
e outras regras e normas de nossa sociedade” (PIERITZ, 2013, p. 4).
São estas regras e normativas jurídicas e sociais que determinam o nosso 
agir em sociedade, e cada grupo social possui suas características, ou seja, não 
se pode dizer que todos nós somos iguais, que todas as nações e Estados são 
iguais, porque não somos, pois, independentemente do Estado, do país ou grupo 
social, fomos moldando nossos valores e princípios de forma diferente ao longo 
de nossa existência.
Agora, acadêmico, raciocine o seguinte: se é um fato que nossa consciência 
moral é construída no seio de uma sociedade e com a influência do meio e das 
pessoas com asquais convivemos, há ainda outros fatores que concorrem para 
a constituição da consciência moral, e esse elemento é chamado de Lei natural 
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
10
– pelos jusnaturalistas – e tem caráter universal, pois perpassa as sociedades 
políticas, é algo mais profundo que elas, constitui-se na própria natureza humana 
em sua universalidade (ROHLING, 2012). Segundo Valls (2003, p. 8):
 
costuma-se separar os problemas teóricos da ética em dois campos: 
num, os problemas gerais e fundamentais (como liberdade, consciência, 
bem, valor, lei e outros); e no segundo, os problemas específicos, de 
aplicação concreta, como os problemas da ética profissional, de ética 
política, de ética sexual, de ética matrimonial, de bioética etc.
Em outros termos, os problemas éticos permeiam todas as nossas ações em 
sociedade. Neste sentido, vale salientar que “cada sociedade possui suas normas 
de conduta comportamental e seus princípios morais, ou seja, cada grupo social 
constitui o que é certo e errado, o que é o bem e o mal para o seu povo, portanto, 
nem sempre o que é certo para nós pode ser certo para um outro grupo social e 
vice-versa” (PIERITZ, 2013, p. 4).
Então, como desvelar esta situação? Como saber se estamos no caminho 
certo? Se estamos fazendo certo ou errado? Ou se realmente estamos fazendo o 
bem ou o mal a alguém? São muitas indagações!
Para auxiliar a reflexão sobre essas questões, Finnis (filósofo e jurista 
australiano) identifica sete valores básicos, os quais são os seguintes: 
I) vida; II) o conhecimento; III) o jogo; IV) a experiência estética; V) a 
sociabilidade; VI) a razoabilidade prática; e, VII) a religião. Esses valores, 
contudo, não são os únicos, pois existem, evidentemente, muitos outros, 
os quais, segundo propõe o autor, são modos ou combinações de modos 
de buscar – embora nem sempre com sensatez – e de realizar – nem 
sempre exitosamente – uma das sete formas básicas de bem, ou alguma 
combinação delas (ROHLING, 2012, p. 163).
Neste sentido, podemos observar ainda que:
os problemas éticos se distinguem da moral pela sua característica 
genérica, enquanto que a moral se caracteriza pelos problemas da 
vida cotidiana. O que há de comum entre elas é fazer o homem pensar 
sobre a responsabilidade das consequências de suas ações. A ética faz 
pensar sobre as consequências universais, sempre priorizando a vida 
presente e futura, local e global. A moral faz pensar as consequências 
grupais, adverte para normas culturalmente formuladas ou pode estar 
fundamentada num princípio ético. A ética pode, desta forma, pautar 
o comportamento moral (TOMELIN; TOMELIN, 2002, p. 90).
 
Podemos expor que deste ponto de vista existem diferenças nítidas entre 
ética e moral, sendo que a ética é generalista e a moral reflete o comportamento 
socialmente construído e legitimado pelo seu povo. Enfim, Tomelin e Tomelin 
(2002, p. 89, grifos do original) complementam expondo que “a palavra ética 
provém do grego ethos e significa hábitos, costumes, e se refere à morada de um 
povo ou sociedade. A palavra moral provém do latim moralis e significa costume, 
conduta”. Logo, conforme Pieritz (2012, p. 58, grifos nosso): 
TÓPICO 1 | DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA
11
A principal função da ética é sugerir qual o melhor comportamento 
que cada pessoa ou grupo social tem ou venha a ter. Indicando o que 
é certo ou errado, o que é bom ou mal. Porém, este comportamento 
sempre partirá do ponto de vista dos princípios morais de cada 
sociedade, ou seja, seu grupo social. A ética auxilia no esclarecimento e 
na explicação da realidade cotidiana de cada povo, procurando sempre 
elaborar seus conceitos conforme o comportamento correspondente 
de cada grupo social.
 Por conseguinte, “o ético transforma-se assim numa espécie de legislador 
do comportamento moral dos indivíduos ou da comunidade” (VÁZQUEZ, 2005, 
p. 20), ou seja, a ética está para regular o nosso comportamento em sociedade.
Complementando, Vázquez (2005, p. 21) coloca-nos que “a ética é teoria, 
investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou forma de 
comportamento dos homens [...]”, ou seja, “o valor de ética está naquilo que ela 
explica – o fato real daquilo que foi ou é –, e não no fato de recomendar uma ação 
ou uma atitude moral” (PIERITZ, 2013, p. 7, grifo nosso).
Devemos compreender as diferenças conceituais de ética e moral, pois 
“podemos afirmar que a ética estuda e investiga o comportamento moral dos 
seres humanos. E esta moral é constituída pelos diferentes modos de viver e agir 
dos homens em sociedade, que é formada por suas diretrizes morais da vida 
cotidiana, transformando-se no decorrer dos tempos” (PIERITZ, 2013, p. 19).
Todavia, o que é a moral?
Segundo Aranha e Martins (2003, p. 301, grifos do original), “a MORAL 
vem do latim mos, moris, que significa ‘costume’, ‘maneira de se comportar 
regulada pelo uso’, e de moralis, morale, adjetivo referente ao que é ‘relativo 
aos costumes’”. Assim, a moral é compreendida como um conjunto de regras 
de condutas socialmente admitidas em determinadas épocas ou por um grupo 
de pessoas, ou seja, “a moralidade dos homens é um reflexo direto do modo de 
ser e conviver em sociedade, no qual o caráter, os sentimentos e os costumes 
determinam o seu comportamento individual e social, que foi ou está sendo 
perpetuado num espaço de tempo” (PIERITZ, 2013, p. 35). Ainda de acordo com 
Pieritz (2013, p. 38): 
A moral sugere, constantemente, a valorização de nossas ações e de 
nossos comportamentos em sociedade, mas é a moral que determina 
quais são os nossos direitos e deveres perante a sociedade em que 
vivemos. Estes deveres são conectados ao nosso modo de ser e 
conviver em sociedade, gerando certas responsabilidades com relação 
a si próprio e aos outros, tais como: 
• sentimentos;
• escolhas; 
• desejos; 
• atitudes; 
• posicionamentos diante da realidade; 
• juízo de valor; 
• senso moral;
• consciência moral. 
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
12
Sob estas concepções de ética e moral, apresentamos as suas principais 
diferenças na Figura 3:
FIGURA 3 – DIFERENÇAS ENTRE ÉTICA E MORAL
FIGURA 4 – DIFERENÇAS ENTRE ÉTICA E MORAL
FONTE: Adaptado de Tomelin e Tomelin (2002, p. 89-90)
FONTE: Adaptado de Paulo Netto (apud BONETTI et al., 2010, p. 23)
Assim, podemos observar que existem diferenças concretas entre estes 
dois conceitos, no entanto, ainda devemos compreender que:
TÓPICO 1 | DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA
13
Assim, concluímos que a moral:
Vem se constituindo historicamente, mudando no decorrer da própria 
evolução do homem em sociedade. Em que seus hábitos e costumes 
são constituídos por esta relação social, em que a essência humana é 
pautada por estes princípios morais. E estes, por sua vez, constituem o 
ser social que somos. E a ética nesta questão chega para simplesmente 
regular e analisar estes preceitos morais (PIERITZ, 2013, p. 21).
Por conseguinte, segundo Pieritz (2013, p. 21, grifo nosso), “a ética 
é precursora da TRANSFORMAÇÃO SOCIAL dos diversos sistemas ou 
estruturas sociais. Sistemas estes que imprimiam suas mudanças sociais, tais 
como: Capitalismo e Socialismo”.
Por fim, Pieritz (2013, p. 21) expõe que “quando é constituída uma nova 
estrutura social, a ética, os valores e princípios morais são modificados para 
constituir assim esta nova concepção de sociedade”. Ou seja, historicamente, com 
as transformações sociais, políticas e econômicas de um povo, automaticamente 
o sistema de valores morais e éticos se transforma, para que assim seja possível 
constituir um novo padrão sócio-histórico daquele determinado grupo.
Salientando ainda que nesse processo de transformação social devemos 
respeitar a permanência de alguns valores socialmente construídos, como a 
solidariedade, a igualdade e a fraternidade, para que todos possamos construir 
uma sociedade mais justa, ética, democrática e cidadã.
4 O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA CIDADANIA
No que tange às questões pertinentes à cidadania, partiremosde sua 
concepção advinda do Título I – “Dos Princípios Fundamentais” da Constituição 
da República Federativa do Brasil de 1988, a qual assim expressa:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união 
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos: 
I - a soberania; 
II - a cidadania; 
III - a dignidade da pessoa humana; 
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V - o pluralismo político. 
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por 
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta 
Constituição.
Neste sentido, podemos observar que um dos princípios fundamentais da 
Carta Magna brasileira é a cidadania, mas você sabe o seu significado?
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
14
Vejamos: cidadania “é um conjunto de direitos e deveres que denotam e 
fundamentam as condições do comportamento de cada indivíduo em relação à 
sociedade, ou seja, a cidadania designa normas de conduta para o convívio social, 
determinando nossas obrigações e direitos perante os outros integrantes da nossa 
sociedade” (PIERITZ, 2013, p. 132). Neste sentido: 
Ser cidadão é respeitar e participar das decisões da sociedade, para 
melhorar suas vidas e a de outras pessoas. Ser cidadão é nunca 
esquecer das pessoas que mais necessitam. A cidadania deve ser 
divulgada através de instituições de ensino e meios de comunicação, 
para o bem-estar e desenvolvimento da nação. A cidadania consiste 
desde o gesto de não jogar papel na rua, não pichar os muros, respeitar 
os sinais e placas, respeitar os mais velhos (assim como todas as 
outras pessoas), não destruir telefones públicos, saber dizer obrigado, 
desculpe, por favor e bom dia quando necessário [...], até saber lidar 
com o abandono e a exclusão das pessoas necessitadas, o direito das 
crianças carentes e outros grandes problemas que enfrentamos em 
nosso país. ‘A revolta é o último dos direitos a que deve um povo livre 
para garantir os interesses coletivos: mas é também o mais imperioso 
dos deveres impostos aos cidadãos’. Juarez Távora - Militar e político 
brasileiro (WEB CIÊNCIA, 2009 apud PIERITZ, 2013, p. 132).
Portanto, podemos observar que a cidadania possui três dimensões.
QUADRO 5 – DIMENSÕES DA CIDADANIA
FONTE: Adaptado de Pieritz (2013, p. 132-133)
 DIMENSÕES DA CIDADANIA
Cidadania 
civil
São aqueles direitos advindos da LIBERDADE de cada indivíduo, 
por exemplo: 
 • o livre-arbítrio para expressar nossos pensamentos; 
 • o direito de propriedade (venda e compra de um 
 imóvel, um bem ou serviço); 
 • entre outros.
Cidadania 
política
Podemos considerar que a cidadania política se legitima quando 
os homens exercem seu poder político de ELEGER e SER 
ELEITOS para o exercício do poder político, independentemente 
da instituição pública ou privada na qual venham exercer suas 
atribuições.
Cidadania 
social
Compreendida como o conjunto de direitos concernentes ao 
CONFORTO de cada cidadão, no que tange à sua vida econômica 
e social, ou seja, do seu bem-estar social.
A cidadania expressa os direitos e deveres de todas as pessoas que vivem 
e convivem em sociedade, seja na esfera social, política ou civil, no que tange 
ao respeito a si, ao próximo e ao patrimônio público e privado. Além de que a 
cidadania é participação nos espaços públicos de discussão, a qual permeia as 
questões de democracia e ética de toda a população daquele determinado grupo 
social, político ou econômico.
TÓPICO 1 | DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA
15
Deste modo, Maciel (2012, p. 29) expõe que hoje em dia a cidadania é 
“sinônimo de participação que remete ao exercício da democracia para além das 
eleições. Somos ‘controladores’ da política, do orçamento, ou seja, das ações do 
Estado como um todo”. Cada cidadão tem o dever e o direito de participar de 
todos os espaços democráticos do seu município, Estado ou Federação.
Nesse sentido, tem-se a participação como um mecanismo do exercício da 
cidadania, ou seja, “O conceito contemporâneo de cidadania transcende a simples 
lógica da garantia de direitos legais. Segundo a concepção de Dallari (2004), a 
cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de 
participar da vida e do governo de seu povo” (MACIEL, 2012, p. 31). Portanto, 
a palavra de ordem é “participar”, fazer parte do processo democrático, pois, de 
acordo com Maciel (2012, p. 32), quem não exerce sua cidadania “está excluído 
da vida social e da tomada de decisões. A cidadania não significa apenas 
uma conquista legal de alguns direitos, mas sim a realização destes direitos. 
Ela é construída e conquistada a partir da nossa capacidade de organização, 
participação e intervenção social”.
Vale salientar que a cidadania é conquistada pela nossa participação nos 
momentos das discussões e decisões coletivas, portanto a cidadania se dá pela 
participação ativa de nossa vida em sociedade e na vida pública.
16
Neste tópico, você aprendeu que:
• A compreensão do significado mais usual da democracia denota que a 
democracia é compreendida como um sistema de governo, no qual o povo 
governa para sua própria sociedade.
• A democracia pode ser exercida de duas formas distintas, pois ela pode ser 
direta ou indireta.
• A democracia é compreendida popularmente como a escolha de nossos 
representantes legais, por intermédio do voto popular.
• O Estado Democrático de direito, que é aquele Estado que se organiza e opera 
democraticamente.
• A Constituição da República Federativa do Brasil se organizou e definiu suas 
normativas em prol de um Estado Democrático, no qual a democracia deverá 
ser a base fundamental da República Federativa do Brasil.
• A democracia também está atrelada ao conceito do “jogo de poderes”, 
principalmente a disputa e concorrência de cargos em todas as esferas 
governamentais ou não. 
• É importante relembrar que o elemento fundamental da democracia é a 
“participação do povo”. 
• A ética é uma das áreas da filosofia que investiga o agir humano na convivência 
com os outros.
• A ética está diretamente relacionada aos nossos costumes e às ações em 
sociedade, ou seja, ao nosso comportamento, ao nosso modo de vida e de 
convivência com os outros integrantes da sociedade.
• Todos nós possuímos princípios e valores que foram e são constituídos por 
nossa sociedade. E, com relação a estes valores, cada um de nós possui uma 
visão do que é certo e errado, do que é o bem e o mal.
• A consciência moral é determinada por um consenso coletivo e social, ou seja, 
o conjunto da sociedade é que formula e compõe as normas de conduta que o 
regem. 
• Os problemas éticos permeiam todas as nossas ações em sociedade.
 
RESUMO DO TÓPICO 1
17
• Existem diferenças nítidas entre ética e moral, sendo que a ética regula a moral, 
a ética é generalista e a moral reflete o comportamento socialmente construído 
e legitimado pelo seu povo.
• A principal função da ética é sugerir qual o melhor comportamento que cada 
pessoa ou grupo social tem ou venha a ter. Indicando o que é certo ou errado, 
o que é bom ou mal. 
• O valor da ética está naquilo que ela explica, o fato real daquilo que foi ou é, e 
não no fato de recomendar uma ação ou uma atitude moral.
• Um dos princípios fundamentais da Carta Magna brasileira é a cidadania.
• A cidadania designa normas de conduta para o convívio social, determinando 
nossas obrigações e direitos perante os outros integrantes da nossa sociedade.
• A cidadania expressa os direitos e deveres de todas as pessoas que vivem e 
convivem em sociedade, seja na esfera social, política ou civil, no que tange ao 
respeito a si, ao próximo e ao patrimônio público e privado. 
• Cada cidadão tem o dever e o direito de participar de todos os espaços 
democráticos do seu município, Estado ou Federação. A participação é 
compreendida como um mecanismo do exercício da cidadania.
18
democracia. POL. 1 governo do povo; governo em que o povo 
exerce a soberania2 sistema político cujas ações atendem aos 
interesses populares 3 governo no qual o povo toma as decisões 
importantes a respeito das políticas públicas, não de forma 
ocasional ou circunstancial, mas segundo princípios permanentes 
de legalidade 4 sistema político comprometido com a igualdade 
ou com a distribuição equitativa de poder entre todos os cidadãos 
5 governo que acata a vontade da maioria da população, embora 
respeitando os direitos e a livre expressão das minorias.
ética. 1 parte da filosofia responsável pela investigação dos 
princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o 
comportamento humano, refletindo especialmente a respeito da 
essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes 
em qualquer realidade social. 2 p.ext. conjunto de regras e preceitos 
de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social 
ou de uma sociedade.
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
Considerando as acepções acima, elabore um texto dissertativo, com até 15 linhas, 
acerca do seguinte tema: Comportamento ético nas sociedades democráticas.
Em seu texto, aborde os seguintes aspectos:
a) conceito de sociedade democrática; 
b) evidências de um comportamento não ético de um indivíduo; 
c) exemplo de um comportamento ético de um futuro profissional 
comprometido com a cidadania. 
AUTOATIVIDADE
2 (ENADE-2010, Formação Geral, Questão 2)
1 (ENADE-2010, Formação Geral, Questão 9) As seguintes 
acepções dos termos democracia e ética foram extraídas do 
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.
19
A charge acima representa um grupo de cidadãos pensando e agindo de modo 
diferenciado, frente a uma decisão cujo caminho exige um percurso ético. 
Considerando a imagem e as ideias que ela transmite, avalie as alternativas 
que seguem.
I- A ética não se impõe imperativamente nem universalmente a cada cidadão; 
cada um terá que escolher por si mesmo os seus valores e ideias, isto é, praticar 
a autoética.
II- A ética política supõe sujeito responsável por suas ações e pelo seu modo 
de agir na sociedade.
III- A ética pode se reduzir ao político, do mesmo modo que o político pode se 
reduzir à ética, em um processo a serviço do sujeito responsável.
IV- A ética prescinde de condições históricas e sociais, pois é no homem que se 
situa a decisão ética, quando ele escolhe os seus valores e as suas afinidades.
V- A ética se dá de fora para dentro, como compreensão do mundo, na 
perspectiva do fortalecimento dos valores pessoais.
Estão corretas:
a) ( ) I e II. 
b) ( ) I e V. 
c) ( ) II e IV. 
d) ( ) III e IV. 
e) ( ) III e V.
20
21
TÓPICO 2
SOCIEDADE E A DIVERSIDADE
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Vamos iniciar o nosso tópico apresentando algumas definições e conceitos 
a respeito dos problemas sociais ocasionados pela diversidade que gera diferenças 
entre coisas e seres, que por consequência geram os mais diversos preconceitos, 
desigualdades e conflitos sociais.
Vamos reconhecer a necessidade e a essencialidade da inclusão como uma 
forma de democratização das relações sociais, principalmente na emancipação e na 
sutileza do trato com o outro, seja em relação aos “iguais” ou entre iguais e diferentes, 
o que significa apenas uma concepção criada para diferenciar pessoas ou grupos 
sociais que, de alguma forma, ainda não foram incluídos no contexto social.
2 CONCEITOS DE DIVERSIDADE CULTURAL E 
DESIGUALDADE SOCIAL
A diversidade cultural e a desigualdade social, apesar de terem conceitos 
distintos, desempenham uma ampla relação entre seus termos, isto é, quanto 
maior for a diversidade cultural, maior será a desigualdade social. 
Neste sentido, Gomes (2012, p. 678) afirma que “a diversidade, entendida 
como construção histórica, social, cultural e política das diferenças, realiza-se 
em meio às relações de poder e ao crescimento das desigualdades e da crise 
econômica que se acentuam no contexto nacional e internacional”.
A diversidade cultural brasileira se deu pelo processo de miscigenação 
entre brancos, índios e negros e foi marcada por uma série de crenças, hábitos, 
costumes e conceitos contraditórios, alimentando assim uma discussão 
permanente a respeito dos direitos e deveres dos seres humanos. Principalmente 
no combate aos preconceitos remanescentes e oriundos dessa relação, que 
perdurou por séculos, trazendo sérias consequências a uma imensa população de 
oprimidos, incluindo-se aí os negros, os índios, os pobres, os portadores de algum 
tipo de deficiência, tipos de preferências, relações e diferenças sexuais, doenças 
crônicas, dentre outras formas de relações consideradas por uma boa parte da 
sociedade como algo fora da normalidade e, por esse motivo, não aceitável.
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
22
3 DIVERSIDADE CULTURAL E DESIGUALDADE SOCIAL
A diversidade no contexto cultural significa uma grande quantidade de 
coisas, ações, pensamentos, ideias e pessoas que se diferenciam entre si dentro de 
grupos sociais ou dentro de uma mesma sociedade, e os mesmos são passíveis 
de discussão, apelos, protestos, discórdia e geralmente acabam em conflitos, 
chegando até às desigualdades sociais. 
Por isso, a presença da diversidade no acontecer humano nem sempre 
garante um trato positivo dessa diversidade. Os diferentes contextos 
históricos, sociais e culturais, permeados por relações de poder e 
dominação, são acompanhados de uma maneira tensa e, por vezes, 
ambígua de lidar com o diverso. Nessa tensão, a diversidade pode ser 
tratada de maneira desigual e naturalizada (GOMES, 2007, p. 19).
No entanto, existem pontos de vista convergentes e pontos de vista 
divergentes, ambos discriminatórios, um no sentido positivo e outro no sentido 
negativo, isto é, no primeiro caso, trata-se daquilo que já foi estipulado pela 
sociedade como regras relacionadas com bom senso; já no segundo caso, são ações 
que não condizem com a ordem preestabelecida através das leis, normas e regras 
que regulam e inibem o que podemos definir como procedimentos absurdos. 
Portanto, a desigualdade social tem os seus princípios pautados nas tendências e 
nas diferenças de cada indivíduo. Vejamos:
A pobreza: é uma condição que faz parte de um determinado grupo 
de pessoas que vivem à margem da sociedade, que são carentes dos recursos 
existentes, como moradia, alimentação, situação financeira etc. O que, na visão 
de alguns autores, é a condição que mais degrada o ser humano e a que mais se 
aproxima e se identifica como um fator ou um elemento causal do desequilíbrio 
econômico e da desigualdade social.
Raça: trata-se da discriminação social, o que é muito presente nos dias de 
hoje por alguns grupos inescrupulosos que agridem com palavras ou pela violência 
física pessoas que não são da mesma etnia, não têm a mesma cor da pele, ou são de 
diferentes religiões ou, até mesmo, por causa de seu comportamento sexual. 
A discriminação racial diz respeito à raça/cor/fenótipo, que é um fator 
inerente à pessoa. Tal discriminação é abominável, assim como a discriminação 
a deficientes físicos ou idosos, pois tratam-se de aspectos involuntários e que, 
ademais, revelam a riqueza multifacetada da ordem criada, da diversidade natural. 
Outro tipo de discriminação é a avaliação dos atos e comportamentos, seja 
na escolha de uma religião e suas práticas ou nas ações que envolvem a sexualidade, 
entre outros aspectos do comportamento humano, pois nesses casos não se trata 
de aspectos inerentes ou involuntários, mas de opções sobre as quais podemos [e 
devemos] fazer juízos morais. Do contrário, por que estaríamos discutindo isso? 
Será que o ser humano, com toda capacidade de raciocínio e reflexão sobre si 
mesmo, reconhece a riqueza da pessoa? Haveria alguma etnia “melhor” que outra?
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE
23
Podemos citar como exemplo o que aconteceu com os judeus, conhecido 
como o holocausto, ou o caso da África do Sul, que teve repercussão mundial, 
também conhecido como segregação racial (Apartheid), que significa separaçãoentre negros e os brancos das classes dominantes.
DICAS
Sugerimos que você assista ao filme Mandela, que fala sobre a vida do ex-
presidente da África do Sul e líder da luta contra o Apartheid. O filme tem como diretor 
Justin Chadwick.
Como podemos perceber, o preconceito, a discriminação e o descaso com 
algumas pessoas têm ocasionado uma série de sofrimento e dor, principalmente 
para aquelas que são rejeitadas por uma grande parte da sociedade, em que as 
mesmas são julgadas e condenadas ao mesmo tempo, após serem classificadas 
como diferentes, porém, diferentes no sentido tendencioso e pejorativo, e muitas 
vezes essas pessoas são taxadas e rotuladas como pervertidas, no caso dos 
homossexuais, e frágeis, no caso das mulheres. Vejamos:
Mulher: infelizmente, as estatísticas comprovam que apesar das várias leis 
existentes, no caso específico da Lei Maria da Penha, instituída para a proteção 
da integridade da mulher brasileira contra casos de violência doméstica, ainda 
existem casos absurdos de desrespeito à dignidade humana, não discriminando 
raça, religião ou posição social.
Homossexualidade: é o comportamento sexual entre pessoas do mesmo 
sexo, e para alguns indivíduos esse tipo de comportamento fere as normas de 
conduta universal. No entanto, já existem projetos no Congresso Nacional que 
criminalizam certas atitudes discriminatórias contra essa parcela da sociedade, o 
que significa um avanço na busca de um espaço alternativo, o que é perfeitamente 
compreensivo em uma sociedade cultural democrática.
De acordo com Silva (2007, p. 133), “[...] os diferentes grupos sociais, 
situados em posições diferenciadas de poder, lutam pela imposição de seus 
significados à sociedade mais ampla”. Assim, é fundamental que percebamos 
as diferenças e desigualdades não de forma natural, mas como uma construção 
histórica possível de ser desestabilizada em sua forma rígida, para ser transformada 
em algo que possa ser identificado e reconhecido como base para a construção de 
relações interpessoais mais democráticas dentro da sociedade, isto é, devemos 
pensar e repensar o seu conceito histórico e a sua trajetória futura, pois, de acordo 
com Gomes (2007, p. 22): 
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
24
A diversidade cultural varia de contexto para contexto. Nem sempre aquilo 
que julgamos como diferença social, histórica e culturalmente construída 
recebe a mesma interpretação nas diferentes sociedades. Além disso, o 
modo de ser e de interpretar o mundo também é variado e diverso.
Por isso, a diversidade precisa ser entendida em uma perspectiva 
relacional. Ou seja, as características, os atributos ou as formas 
‘inventadas’ pela cultura para distinguir tanto o sujeito quanto o grupo 
a que ele pertence dependem do lugar por eles ocupado na sociedade 
e da relação que mantêm entre si e com os outros. 
Portanto, o caráter multicultural de nossas sociedades revela-se hoje 
temática quase obrigatória nas discussões sobre sociedade e sobre educação. 
Porém, refletir sobre a diversidade exige um posicionamento crítico diante de 
uma realidade cultural e racialmente miscigenada, assunto que, apesar de já ter 
sido discutido anteriormente, achamos prudente e viável inserir neste parágrafo 
outra opinião, que confirma as anteriores a respeito do processo de miscigenação. 
“Não podemos esquecer que a sociedade é construída em contextos históricos, 
socioeconômicos e políticos tensos, marcados por processos de colonização e 
dominação. Estamos, portanto, no terreno das desigualdades, das identidades e das 
diferenças” (GOMES, 2007, p. 22). E ainda segundo Gomes (2003, p. 73):
O reconhecimento dos diversos recortes dentro da ampla temática 
da diversidade cultural (negros, índios, mulheres, portadores de 
necessidades especiais, homossexuais, entre outros) coloca-nos 
frente a frente com a luta desses e outros grupos em prol do respeito 
à diferença. Coloca-nos também diante do desafio de implementar 
políticas públicas em que a história e a diferença de cada grupo social e 
cultural sejam respeitadas dentro das suas especificidades, sem perder 
o rumo do diálogo, da troca de experiências e da garantia dos direitos 
sociais. A luta pelo direito e pelo reconhecimento das diferenças não 
pode se dar de forma separada e isolada e nem resultar em práticas 
culturais, políticas e pedagógicas solidárias e excludentes.
No entanto, a diversidade e a diferença dizem respeito não somente aos 
sinais que podem ser vistos a olho nu, mas também àqueles que são construídos 
socialmente ao longo de um processo histórico, tendo os seus pontos divergentes 
e convergentes, que são construídos através das relações sociais e, principalmente, 
nas relações de poder e de submissão, e para algumas pessoas, nem sempre esse 
posicionamento é entendido dessa forma. 
Como nos diz Carlos Rodrigues Brandão (1986 apud GOMES, 2007, p. 
25), “por diversas vezes, os grupos humanos tornam o outro diferente para fazê-
lo inimigo”. Aprofundando essa reflexão, tomamos como exemplo a Constituição 
Federal de 1988, que trata no Artigo 5º dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes 
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à 
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos 
desta Constituição;
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE
25
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa 
senão em virtude de lei;
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou 
degradante; [...] (BRASIL, 1988, s.p.).
Neste sentido, surgem algumas perguntas relacionadas à diversidade 
humana e seus direitos: se “todos são iguais perante a lei, sem distinção de 
qualquer natureza”, tendo reconhecidas suas individualidades de homem e 
mulher como cidadãos, por que tanto se discute sobre as “questões de gênero”? 
Será que essa ideologia propõe a valorização da pessoa humana? Ou está disposta 
a trazer divisão, confusão de ideias ou até mesmo a negação da ordem natural? 
Ao privilegiar determinados grupos em detrimento de outros, não estaria 
contrariando a própria Constituição?
Acadêmico, são muitos os questionamentos, e conforme destacado na 
apresentação deste livro, “aprender a questionar é tão importante quanto buscar 
o saber”. Por isso, nosso propósito é estimular o seu raciocínio crítico sobre a 
realidade em que vivemos, em um tempo de profundas e rápidas mudanças 
culturais, um tempo de aumento do individualismo, da comunicação quase que 
exclusivamente on-line, em que pouco se ouve, vê, toca ou sente. O diálogo é o 
caminho que nos une, revela nossa capacidade de aprender com o próximo e 
permite que as diferenças favoreçam a complementariedade promotora da paz.
Pensar na diversidade cultural é pensar em sociedade, que envolve 
pensamento, ideia, ação e mudanças, isto é, significa pensar não apenas no 
reconhecimento do outro, mas pensar na relação entre o eu e o outro, pois, quando 
consideramos o outro estamos também considerando a nossa história, o nosso 
grupo e o nosso povo, mas não apenas como um simples padrão de comparação, 
e sim em sua totalidade. 
FIGURA 5 – DIVERSIDADE CULTURAL
FONTE: Disponível em: <http://educacaobilingue.com/2010/01/17/indigena/>. 
Acesso em: 12 fev. 2014.
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
26
Nessa perspectiva, percebemos que “somos todos iguais como seres 
humanos. Por isso devemos combater qualquer forma de discriminação e de 
arrogância, agindo solidariamente uns com os outros” (AQUINO et al., 2002, p. 
16). O ser humano veio ao mundo não somente para compor ou contribuir para o 
povoamento da Terra, mas para ser útil, participativo, democrático, ético, moral 
e solidário para com os seus semelhantes. 
Essas são as diversas opções existentes, que além de motivadoras, também 
servem como estímulo na adaptação do ser humano,bem como no seu processo 
de desenvolvimento pessoal frente às diversidades existentes no universo, que 
poderíamos denominá-las como um conjunto de atos e fatos diferentes entre si 
que formam a sociedade como um todo. Para Saji (2005, p. 13), “o tema diversidade 
é bastante amplo. Sua abordagem vai desde definições restritas às questões de 
raça, etnia e gênero, até as mais abrangentes, que consideram como diversidade 
qualquer diferença individual entre as pessoas”.
AUTOATIVIDADE
Chegou a sua vez!
Escreva o seu conceito para Diversidade.
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
Assim, a diversidade faz parte da natureza das coisas existenciais, sendo 
elas a diversidade relacionada à situação socioeconômica, ou à diversidade 
cultural, em que as mesmas foram se transformando em essência no decorrer dos 
tempos, principalmente em se tratando das diferenças relacionadas às diferentes 
raças e suas manifestações culturais, incluindo-se aí a sua descendência, que, por 
consequência, deixam de fazer parte da cultura original e passam a fazer parte 
de outra cultura produzida para atender a uma demanda econômica. Como foi 
o caso da cultura da cana-de-açúcar, explorada pelos grandes latifundiários, 
gerando um longo período de uma relação conflitante e tumultuada entre o 
poder daqueles grupos de exploradores e a submissão dos negros, dos índios, 
das mulheres, das crianças e adolescentes. 
Nenhum povo que passasse por isso como sua rotina de vida, através 
de séculos, sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos nós, 
brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. 
Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão possessa que os supliciou. 
A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para 
fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e 
brutal, que também somos. Descendentes de escravos e de senhores de 
escravos, seremos sempre servos da malignidade destilada e instalada 
em nós, tanto pelo sentimento da dor intencionalmente produzida 
para doer mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre homens, 
sobre mulheres, sobre crianças convertidas em pasto de nossa fúria 
(RIBEIRO, 1995, p. 120).
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE
27
AUTOATIVIDADE
Qual o seu conceito para desigualdade social?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
Então, caro acadêmico, existe uma diversidade de coisas diferentes e uma 
diversidade de pessoas diferentes em todos os seus aspectos. A esse tipo de diversidade 
denominamos de diversidade cultural, o que significa, na prática, o relacionamento 
comunitário, ou melhor, o relacionamento em diferentes comunidades, podendo esse 
relacionamento contribuir significativamente no sentido cooperativo ou na geração 
de conflitos, que são chamados de conflitos sociais. 
Portanto, são essas diferenças que geram o princípio da desigualdade 
social, que vão além das características humanas, ultrapassando o bom senso, 
descaracterizando o princípio da igualdade e do amor ao próximo, modificando 
ou alterando outros princípios considerados de grande importância para as 
questões relacionadas com o respeito, a dignidade, a reciprocidade e as boas 
práticas das relações humanas no contexto social. 
Acadêmicos! É preciso que haja um basta nesta triste trajetória de descaso e 
discriminação entre os seres humanos, principalmente frear os impulsos daqueles 
mais exaltados, que ferem com palavras e atos e cada vez mais maculam a imagem 
e obscurecem a identidade do indivíduo como pessoa e como cidadão com direitos 
e deveres. Dessa forma, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social. 
Isso é cidadania, isso é respeito e é também uma forma de inclusão social.
Assim, a desigualdade significa não só a diferença existente entre pessoas 
ou coisas que compõem o universo, mas significa também a diferença no tratamento 
e no respeito para com o outro. Nesse caso, estamos nos referindo à desigualdade 
humana, que na maioria das vezes está caracterizada pelo preconceito e pelos 
diversos tipos de violências e pelas suas relações conflitantes dentro do contexto 
social. Exemplo: a desigualdade socioeconômica, as desigualdades raciais, a falta 
de segurança, a falta de acesso à moradia, ao saneamento básico, dentre outras 
formas de exclusão social. Muitas vezes, essas diferenças são ocasionadas pela 
falta de oportunidade, excluindo até o mais digno do ser humano, o que não 
deixa de ser uma forma preconceituosa de relação e convivência social. Aquino et 
al. (2002, p. 34-35) afirmam que:
Toda vez que julgamos uma pessoa, um grupo ou mesmo um povo sem 
conhecê-los, estamos usando de preconceito. [...]. O termo preconceito 
significa o conjunto de opiniões formadas antecipadamente sobre o 
outro, sem levar em conta suas qualidades ou suas capacidades. Os 
preconceituosos têm atitudes intolerantes com as pessoas que são diferentes 
deles. Julgam-se superiores e, por isso, desvalorizam e desrespeitam outras 
pessoas. Preconceito e intolerância andam sempre juntos.
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
28
São atitudes que acontecem no dia a dia, por meio de atos, gestos ou 
palavras que tentam diminuir, rebaixar os modos de ser, agir e sentir 
dos outros. E, algumas vezes, elas ocorrem sem que as percebamos com 
clareza, até senti-las na própria pele – por exemplo, quando não somos 
aceitos por alguém ou por um grupo. Neste caso, somos vítimas de um 
preconceito aberto, direto e explícito. E isso já aconteceu com todos 
nós, de um modo ou de outro. Mas há também o preconceito indireto, 
implícito, como as piadas de mau gosto, que ofendem as pessoas só 
por causa de sua raça, nacionalidade, sexo e outras características.
Ainda com relação aos preconceitos, segundo a denominação de inclusão 
e exclusão social, estas são pautadas e divididas em grupos ou classes sociais, 
que, por sua vez, são classificadas hierarquicamente de acordo com o seu poder 
aquisitivo, sua relação social, diferenças culturais, a cor da pele, sexualidade, 
etnia, deficiências físicas, idade, crenças etc. 
Portanto, a diversidade humana (pessoas diferentes) deveria ser um 
instrumento de unificação dos seres, diferentemente das desigualdades sociais, 
que significam que nem todos têm as mesmas oportunidades, o que em grande 
parte se deve às diversas formas de preconceito. Alguns deles, no modo de ver 
do seu praticante, lhe soam como se isso fosse uma espécie de elogio ao próximo. 
Exemplo: E aí, negão!? Essa expressão, que parece simples, é uma forma disfarçada 
de discriminação. “Algumas expressões corriqueiras que falamos sem pensar são 
carregadas de preconceito” (AQUINO et al., 2002, p. 44).
Aquino et al. (2002, p. 44) trazem mais exemplos: “é o caso de determinadas 
expressões preconceituosas, como: os negros que têm ‘almas brancas’, os homossexuais 
que parecem ‘pessoas normais’, os idosos que parecem ‘jovens’, os obesos que são 
‘engraçados’, as pessoas pobres que são ‘limpas’. E assim por diante”.
 
Como sabemos, o descaso e as práticas discriminatórias em relação a essas 
pessoas, que fazem parte, assim como todos nós, de um mesmo espaço planetário, 
não deveriam existir, mesmo porque a diferença existente entre os seres de 
todas as espécies faz parte de um processo natural, ou melhor, da natureza das 
coisas existentes. E os seres humanos vão além das diferenças, pois nós somos 
dotados de raciocínio e discernimento para avaliar e distinguir o certo do errado, 
comportamento esse que deveria ser institucionalizado pelas tradições, pelos 
valores éticos e morais, sem a necessidade de uma imposição legal, como é o caso 
da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
No entanto, parece que poucotêm efeito as leis que reprimem essas 
práticas discriminatórias, preconceituosas e racistas, visto que, infelizmente, 
parece existir uma autorrejeição por parte de algumas pessoas ou grupos que 
ainda mantêm certos padrões de comportamento que não mais condizem com 
a realidade dos padrões atuais e universais, dos direitos constituídos e com o 
processo democrático, com as leis de proteção às crianças, aos idosos, aos negros, 
às mulheres, aos indígenas, aos deficientes físicos, entre outros. São seres humanos 
que sofrem discriminação e negação de direitos que estão incluídos na Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, conforme citado no parágrafo acima.
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE
29
Nesta perspectiva, não se desconsidera que as diferenças existam 
e estejam colocadas socialmente, porém, elas não significam, 
necessariamente, exclusão social. Por exemplo, a condição de raça, 
gênero, religião, entre outras, não seria elemento de exclusão, mas de 
diferenciação entre as pessoas, não as tornando ‘desiguais’. As pessoas 
são diferentes umas das outras e isto nada tem a ver com privilégios. 
Assim, racismos e preconceitos se fundamentam no entendimento da 
diferença/diversidade como desigualdade. Nestes termos, as pessoas 
e os grupos sociais têm o direito a ser iguais quando a diferença 
os inferioriza e o direito a ser diferentes quando a igualdade os 
descaracteriza (SANTOS, 2003 apud MARQUES, 2009, p. 68).
 
Para que possamos entender e discursar sobre o conceito de diversidade não 
é tão fácil como parece, pois é preciso nos aprofundarmos sobre o seu real significado 
e a sua real importância no equilíbrio natural e social, na relação homem-natureza, e 
principalmente na relação entre seres humanos, tanto no que diz respeito à tolerância 
e ao respeito mútuo entre seres da mesma espécie, bem como a compreensão e o 
sentimento solidário, que são a base do princípio da igualdade.
Sem diversidade não há estímulos para pensar diferente, não há estímulos 
para pensar no princípio da igualdade. Portanto, pensar diferente é o caminho 
para viver e compreender o sentimento solidário que devemos ter. Apesar de 
que, no dia a dia, relacionar-se com as inúmeras diferenças humanas e sociais do 
mundo atual nem sempre traz harmonia.
Assim, seguindo o raciocínio de Aquino et al. (2002), o problema é o 
seguinte: se todas as pessoas são únicas e especiais a seu modo, quem haveria de 
ser “mais” ou “melhor” do que o outro? Em outras palavras, somos únicos como 
indivíduos, e por isso somos diferentes, somos iguais como seres humanos. A 
isso se dá o nome de equidade. Convém lembrar que ser igual não é ser idêntico. 
Ao contrário, somos semelhantes, embora diversos. Afinal de contas, em que 
nos diferenciamos uns dos outros? A resposta é óbvia: em praticamente tudo. 
A começar pela nossa história de vida, passando pelas características biológicas 
(raça, cor, sexo), até as de cunho social (escolaridade, condição econômica, opções 
políticas etc.). Mesmo sendo únicos, continuamos a pertencer à mesma espécie, à 
raça humana. Por essa razão, não há seres humanos “superiores” ou “inferiores”. 
Cada um é especial a seu modo. Só teremos um convívio democrático e pacífico 
se tratarmos o outro da mesma forma que gostaríamos de ser tratados.
Todos esses conceitos fazem parte de uma cultura geral, ou seja, da 
construção e da desconstrução do processo de desenvolvimento humano, e da 
sua própria sobrevivência. A cultura é, pois, “o conteúdo da construção histórica 
da humanidade dos seres humanos, humanizando-os ou desumanizando-
os” (SOUZA, 2002, p. 53). O principal objetivo do nosso estudo é justamente 
conscientizar os nossos acadêmicos rumo a uma reflexão mais humanista a 
respeito das nossas ações e na superação definitiva da desigualdade social, o que 
diz respeito ao cidadão e à relação com o meio em que ele vive, em que o respeito 
pelas diferenças forma o espírito da academia e a humanização social. 
Com base no que foi dito e analisado até aqui, nos parece que o ponto de 
partida para a solução, pelo menos de parte dos problemas raciais, das diferenças, 
da exclusão e da inclusão social, pode estar na educação de base, ou seja, se o 
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
30
aluno tiver uma educação inicial que o motive a ultrapassar essas barreiras. A 
partir daí ele poderia formar uma base sólida para ingressar na faculdade melhor 
preparado, o que sem dúvida é parte integrante para o seu desenvolvimento 
profissional e pessoal. 
Você quer descansar um pouco, sem deixar de refletir 
sobre o conteúdo? Assista ao filme “O Visitante”, ele 
contribuirá com seus estudos.
Sinopse: Walter, solitário professor universitário, tem 62 
anos e já não encontra prazer na vida. Ao viajar a Nova 
York para uma conferência, encontra o casal Tarek e 
Zainab, imigrantes sem documentos, morando em seu 
apartamento. Eles não têm para onde ir, e Walter acaba 
deixando que fiquem. Para retribuir, o talentoso Tarek ensina 
Walter a tocar o tambor africano e os dois ficam amigos. 
Quando a polícia prende o jovem e decide deportá-lo, 
Walter faz de tudo para ajudá-lo, com uma garra que há 
muito não sentia. Surge então a mãe de Tarek em busca do 
filho e um improvável romance tem início.
FONTE: Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=1aSoTQbewiI>. Acesso em: 9 set. 2017.
DICAS
4 INCLUSÃO ESCOLAR E SOCIAL DA DIVERSIDADE
Acadêmicos! Já compreendemos o caráter plural de nossas sociedades e 
as complexas relações estabelecidas socialmente. Diante disso, percebemos que 
vivemos em uma sociedade dividida em classes, em que a luta pela manutenção 
ou superação das divisões sociais é constante.
Nesse sentido, lutamos em favor da inclusão escolar, em favor de 
currículos mais inclusivos, abertos às diferenças sociais, psíquicas, físicas, 
culturais, religiosas, raciais e ideológicas, no intuito de respeitar o caráter plural 
da nossa sociedade, contribuindo para formar sujeitos autônomos, críticos e 
criativos, aptos a compreender como as coisas são e por que são assim. 
O principal objetivo é a possibilidade da mudança, da construção de uma 
ordem social mais justa e menos excludente. Sendo isso um legado do presente 
para as gerações futuras, o que pode ser uma prática aprendida e reproduzida 
a partir da família e da escola, que são os agentes formadores de opinião, e que 
juntamente com a sociedade esses agentes irão definir o sucesso ou o fracasso no 
contexto social. 
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE
31
5 INCLUSÃO ESCOLAR E SOCIAL DA DIVERSIDADE HUMANA
Acadêmico! A inclusão escolar tem sido mal interpretada tanto por parte da 
escola, seja ela comum ou especial, quanto dos profissionais da educação. “O certo, 
porém, é que os alunos jamais deverão ser desvalorizados e inferiorizados pelas suas 
diferenças, seja nas escolas comuns, seja nas especiais” (MANTOAN, 2006, p. 190).
Ainda com base nesse raciocínio, “[...] a educação escolar não pode ser 
pensada nem realizada senão a partir da ideia de uma formação integral do 
aluno – segundo suas capacidades e seus talentos – e de um ensino participativo, 
solidário, acolhedor” (MANTOAN, 2006, p. 9). Reverter o que historicamente 
foi construído é difícil, implica em construir alternativas que possibilitem a 
emancipação social dos diferentes sujeitos, fazendo uma clara opção política 
por um compromisso contra as discriminações, as desigualdades e o respeito à 
diversidade cultural.
O que, de acordo com Mantoan (2006, p. 9, grifo do original), trata-se 
de um trabalho de “‘ressignificação’ do papel da escola com professores, pais 
e comunidades interessadas, bem como de adoção de formas mais solidárias e 
plurais de convivência. Para terem direito à escola, não são os alunos que devem 
mudar, mas a própria escola!”. E a autora continua: “O direito à educação é 
natural e indisponível. Por isso, não faço acordos quando me proponho a lutar 
por uma escola para todos, sem discriminações, sem ensino à parte para os mais 
e para os menos privilegiados”.Dessa forma, a escola pode fazer o anúncio da construção de novos 
tempos na educação, contribuindo para formar alunos não conformistas, e sim, 
questionadores, reagentes e competentes, aptos a rejeitar valores celebrados pela 
nova ordem mundial, como o egoísmo e o individualismo. Mantoan (2006, p. 
14) nos coloca que, seja ou não “uma mudança radical, toda crise de paradigma 
é cercada de muita incerteza e insegurança, mas também de muita liberdade 
e ousadia para buscar outras alternativas, novas formas de interpretação e de 
conhecimento [...] para realizar a mudança”.
Mudança essa que é direito expresso na Constituição Federal de 1988. A 
Constituição respalda em seu artigo 206, inciso I, que o ensino será ministrado em 
“igualdade de condições para o acesso e permanência na escola”. Portanto, temos 
que entender que: 
Ao garantir a todos o direito à educação e ao acesso à escola, a 
Constituição Federal não usa adjetivos. Por essa razão, toda escola 
deve atender aos princípios constitucionais sem excluir nenhuma 
pessoa em decorrência de sua origem, raça, sexo, cor, idade ou 
deficiência. Apenas esses dispositivos já bastariam para que não se 
negasse a qualquer pessoa, com ou sem deficiência, o acesso à mesma 
sala de aula que qualquer outro aluno (MANTOAN, 2006, p. 26-27).
Percebe-se então que os discursos precisam ser revistos, compreendendo 
a diversidade humana como algo positivo, liberto de olhares preconceituosos, 
possibilitando a valorização pela cultura do outro. Portanto, a inclusão: 
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
32
[...] exige uma mudança de mentalidade e de valores nos modos de vida 
e é algo mais profundo do que simples recomendações técnicas, como 
se fossem receitas. Requer complexas reflexões de toda a comunidade 
escolar e humana para admitir que o princípio fundamental da 
educação inclusiva é a valorização da diversidade, presente numa 
comunidade humana (STRIEDER; ZIMMERMANN, 2011, p. 146).
E na sequência os autores continuam afirmando que a escola: 
Foi e continua sendo um espaço de padronizações ao promover a 
construção de conhecimentos com pouco significado, formalizado, 
pronto, sem relação e sentido com a vida dos seres humanos que lá 
estão, sejam alunos ou docentes. Ela é construtora de pensamentos, 
ações e movimentos que denotam igualdade e repetição. 
É importante a escola oportunizar vivências capazes de desconstruir a 
realidade do igual, da repetição, para valorizar a diferença, acreditando 
na diversidade da vida, das cores, sabores e movimentos (STRIEDER; 
ZIMMERMANN, 2011, p. 148).
Assim, falar sobre inclusão escolar e/ou social é falar sobre a conscientização 
humana na democratização das relações entre os povos e os demais indivíduos 
que fazem parte do contexto social como um todo, independentemente de credo, 
raça, poder aquisitivo ou posição social, visto que fazemos parte de uma mesma 
sociedade e as diferenças fazem parte integrante do equilíbrio social e da própria 
espécie humana. No entanto, fica aqui a indagação: quais as oportunidades que 
estão sendo oferecidas pelos agentes sociais a essa massa de desamparados e 
excluídos do sistema social?
De acordo com texto publicado no livro “Ética e cidadania: construindo 
valores na escola e na sociedade”, desenvolvido pelo Ministério da Educação, 
a escola pode e deve ser um ponto de partida na formação de cidadão e cidadã 
comprometidos com a construção dos valores éticos e morais, tanto no contexto 
escolar, como no âmbito das relações sociais.
Aprender a ser cidadão e cidadã é, entre outras coisas, aprender 
a agir com respeito, solidariedade, responsabilidade, justiça, não 
violência; aprender a usar o diálogo nas mais diferentes situações e 
comprometer-se com o que acontece na vida da comunidade e do país. 
Esses valores e essas atitudes precisam ser aprendidos e desenvolvidos 
pelos estudantes e, portanto, podem e devem ser ensinados na escola.
Para que o(a)s estudantes possam assumir os princípios éticos, são 
necessários pelo menos dois fatores:
- que os princípios se expressem em situações reais, nas quais o(a)s 
estudantes possam ter experiências e conviver com a sua prática; 
- que haja um desenvolvimento da sua capacidade de autonomia 
moral, isto é, da capacidade de analisar e eleger valores para si, 
consciente e livremente.
Outro aspecto importante desse processo é o papel ativo dos sujeitos 
da aprendizagem, estudantes e docentes, que interpretam e conferem 
sentido aos conteúdos com que convivem na escola, a partir de seus 
valores previamente construídos e de seus sentimentos e emoções 
(LODI; ARAÚJO, 2006, p. 69).
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE
33
Com relação aos agentes citados nos parágrafos anteriores, também 
concordamos que a partir da inclusão escolar, principalmente no tocante à 
educação básica, ela deveria ser um espaço voltado para a harmonização da 
convivência social e não simplesmente uma mera reprodução de saberes. Em que, 
na maioria das vezes, esses saberes são direcionados apenas para produzir agentes 
econômicos, dando pouca ou quase nenhuma ênfase às questões relacionadas à 
ética e às características comportamentais do ser humano como uma forma de 
equilíbrio no convívio das relações sociais, o que já é um processo discriminatório 
e de exclusão, ou, no mínimo, uma forma de omissão do próprio sistema de 
ensino, principalmente com relação aos índios e negros.
A luta travada em torno da educação do campo, indígena, do negro, 
das comunidades remanescentes de quilombos, das pessoas com 
deficiência, tem desencadeado mudanças na legislação e na política 
educacional, revisão de propostas curriculares e dos processos de 
formação de professores. Também tem indagado a relação entre 
conhecimento escolar e o conhecimento produzido pelos movimentos 
sociais (GOMES, 2007, p. 32).
E na continuação o autor chega às seguintes conclusões:
A diversidade é muito mais do que o conjunto das diferenças. Ao 
entrarmos nesse campo, estamos lidando com a construção histórica, 
social e cultural das diferenças, a qual está ligada às relações de poder, 
aos processos de colonização e dominação. Portanto, ao falarmos sobre a 
diversidade (biológica e cultural) não podemos desconsiderar a construção 
das identidades, o contexto das desigualdades e das lutas sociais. 
A diversidade indaga o currículo, a escola, as suas lógicas, a sua 
organização espacial e temporal. No entanto, é importante destacar 
que as indagações aqui apresentadas e discutidas não são produtos 
de uma discussão interna à escola. São frutos da inter-relação entre 
escola, sociedade e cultura e, mais precisamente, da relação entre 
escola e movimentos sociais. Assumir a diversidade é posicionar-se 
contra as diversas formas de dominação, exclusão e discriminação. É 
entender a educação como um direito social e o respeito à diversidade 
no interior de um campo político (GOMES, 2007, p. 41).
Assim, é através dos movimentos sociais que podemos melhorar o 
sistema educacional e corrigir as distorções sociais, que são frutos de um processo 
longo que vem se arrastando através dos tempos, em que pouco ou quase nada 
tem sido feito como forma de reparar ou pelo menos minimizar os seus efeitos 
negativos e na reparação dos erros cometidos. Portanto, é de extrema necessidade 
a inserção e a interação de todos os seres humanos, independentemente de suas 
características ou condições sociais.
Para Stainback (1999), a total inclusão de todos os membros da humanidade, 
de quaisquer raças, religiões, nacionalidades, classes socioeconômicas, 
culturas ou capacidades, em ambientes de aprendizagem e comunidade, 
pode facilitar o desenvolvimento do respeito mútuo, do apoio mútuo e 
do aproveitamento dessas diferenças para melhorar nossa sociedade. É 
durante seus anos de formação que as crianças adquirem o entendimento 
das diferenças, o respeito e o apoio mútuos em ambientes educacionais 
que promovem e celebram a diversidade humana.
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
34
A construção de sociedadese escolas inclusivas, abertas às diferenças 
e à igualdade de oportunidades para todas as pessoas, é um objetivo 
prioritário da educação nos dias atuais. Nesse sentido, o trabalho com as 
diversas formas de deficiências e uma ampla discussão sobre as exclusões 
geradas pelas diferenças social, econômica, psíquica, física, cultural, 
racial, de gênero e ideológica, devem ser foco de ação das escolas. Buscar 
estratégias que se traduzam em melhores condições de vida para a 
população, na igualdade de oportunidades para todos os seres humanos 
e na construção de valores éticos socialmente desejáveis por parte dos 
membros das comunidades escolares é uma maneira de enfrentar essas 
exclusões e um bom caminho para um trabalho que visa à democracia e à 
cidadania (ARAÚJO, 2007, p. 16-17).
Portanto, as mudanças comportamentais e as inclusões sociais relacionadas 
com todos os povos não podem e não devem ser somente responsabilidade da família 
e das instituições de classes, mas também de responsabilidade das escolas inclusivas 
e dos seus agentes sociais. Neste sentido, reafirmamos que a inclusão escolar: 
Só será viável se o professor e toda a comunidade escolar mudarem 
seu jeito de lidar com a diferença, via aceitação de formas relacionais 
de afetividade, de escuta e de compreensão, suspendendo juízos 
de valores como pena, repulsa e descrença. Uma mudança como 
desejo interior, porque algo interior nos diz que vale a pena mudar 
(STRIEDER; ZIMMERMANN, 2011, p. 148).
E quando falamos em mudanças, estamos nos referindo a uma mudança 
estrutural, em que todas as partes se relacionam, interagem e se complementam 
para a harmonização do todo, que por sua vez é parte de uma estrutura maior, que 
podemos chamar de estrutura social, que é composta, dentre outras, pela escola, 
família, igreja, governo com suas políticas públicas, instituições financeiras, jurídicas 
e organizações sociais propriamente ditas, as ONGs. Como podemos perceber, tudo 
isso constitui um grande desafio rumo a uma mudança significativa. E, por estas e 
outras razões, nos parece que a sociedade está caminhando no rumo certo.
AUTOATIVIDADE
Então, acadêmico, você acredita que ainda existe perspectiva e esperança 
de dias melhores? Como podem ser superadas as barreiras que afetam a 
harmonia entre os humanos? 
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE
35
Vejamos o que nos propõem os autores Assmann e Sung (2000, p. 103): 
A esperança humana, da qual estamos falando, é um horizonte de 
futuro tecido com desejo. Não o desejo de um único indivíduo, nem 
o desejo de subir na ‘escada do sucesso’ segundo os parâmetros da 
eficiência do mercado regendo todos os aspectos da nossa vida, mas o 
desejo do reconhecimento mútuo e respeitoso entre pessoas e grupos 
sociais, o desejo de uma vida mais digna e prazerosa para todos\as. O 
desejo de um mundo onde caibam muitos e muitos mundos. 
E concluindo o seu pensamento:
É esse horizonte de esperança que nos mostra, nos revela, a mesquinhez 
e a irracionalidade de uma sociedade centrada na exclusão e 
insensibilidade, e a desumanidade de uma vida humana voltada para 
negar a sua condição humana.
Horizonte de esperança não é algo que se toma dentre as ofertas do 
mercado, nem pode ser produzido individualmente. Como todo 
horizonte de compreensão, ele deve ser tecido no diálogo, na construção 
de uma linguagem e esperanças comuns. Por isso, um horizonte de 
esperança que nos abra e nos interpele para a sensibilidade solidária 
só pode ser fruto de um desejo de dialogar com os\as que estão dentro 
e fora da sociedade, do nosso mundo (o mundo de cada um, o mundo 
de cada grupo social). Diálogo que pressupõe o reconhecimento 
mútuo (ASSMANN; SUNG, 2000, p. 103).
O que Assmann e Sung (2000) nos esclarecem é que o ser humano precisa, 
em primeiro lugar, conscientizar-se do seu papel na sociedade, e que isso não pode 
ser uma ação única, mas sim uma ação conjunta, como um grande suporte em 
prol da democratização solidária. Essa solidariedade deve trazer benefícios tanto 
para o indivíduo, quando analisado separadamente, quanto na sua convivência 
em sociedade, ou seja, a relação do indivíduo com ele mesmo ou no convívio 
social. E na sequência os autores analisam com muita propriedade o resultado 
ocasionado por esse processo de interação: 
Quando imergimos nesse horizonte, descobrimos algumas verdades 
humanas básicas. A descoberta da minha condição humana não se dá 
fora do reconhecimento da condição humana (da dignidade humana) 
dos que estão ‘dentro e fora’ da sociedade. Eu não posso me descobrir 
como pessoa humana se não ‘descobrir’ o\a outro\a, o\a diferente, como 
participante da mesma condição humana. É o reconhecimento do\a 
diferente como ‘igual’, isto é, coparticipante da mesma condição humana, 
que me possibilita encontrar comigo mesmo. Na década de 70 havia uma 
propaganda que mostrava um menino e uma menina, cada um olhando 
dentro do short de banho do\a outro\a. Acima do desenho, a frase: ‘Ah! 
Descobri a diferença!’ É a descoberta de que existe um sexo diferente na 
mesma espécie humana, que me faz descobrir que eu sou um ser sexuado, 
masculino ou feminino (ASSMANN; SUNG, 2000, p. 104).
E para finalizar, os autores fazem um breve resumo a respeito das relações 
de convivência e de reciprocidade humana, principalmente para aqueles que 
possam ter algumas dificuldades para entender a complexidade a respeito da 
inclusão social e escolar da diversidade humana. 
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
36
Em resumo, tentar encontrar-se consigo mesmo e realizar-se como 
ser humano negando o\a outro\a que lhe revela e lhe lembra as suas 
angústias e medos inerentes à sua condição humana é um caminho 
trágico, no sentido grego desse conceito, isto é, não como destino, 
mas como tomada de consciência de um desafio radical que parte da 
nossa condição humana. A única forma de nos realizarmos como seres 
humanos é reconhecendo e assumindo a nossa condição humana. É 
isto que nos possibilita vivermos as alegrias da vida, mas também 
os momentos tristes e angustiantes. Esse assumir a nossa condição 
humana pressupõe o reconhecimento do(a) outro(a) que nos lembra 
das nossas inseguranças. Este reconhecimento mútuo só é possível 
se cultivarmos e vivermos a sensibilidade solidária e o horizonte de 
esperança. Educar para a esperança é uma das chaves para educar 
para a sensibilidade solidária (ASSMANN; SUNG, 2000, p. 104).
 
Estamos nos referindo ao processo de educação e aprendizagem, e já ficou 
evidente que esse é o caminho. No entanto, é preciso levantar algumas bandeiras 
e eliminar algumas barreiras, principalmente as do descaso, da arrogância e 
da intolerância, que são ações que principiam e dão origem ao preconceito e à 
desigualdade social, que, pelo visto, parece povoar e circular por quase todas as 
fases da questão educacional. A começar pelas dificuldades de acesso à educação 
de base, ou pela falta de espaço adequado, não só em termos de locomoção e 
acesso, mas, principalmente, para aquelas pessoas com certo grau de dificuldades. 
Com relação às dificuldades de acesso, estas parecem não ser privilégio 
somente daqueles com alguma deficiência física, mas de todos aqueles motivados 
por razões circunstanciais, sejam elas pela distância, pelas condições de transporte 
ou, ainda, pelo descaso das autoridades, que deveriam ser os mentores, 
incentivando e facilitando o acesso às escolas da rede pública e privada, oferecendo 
escolas e ensino de qualidade, com professores qualificados e comprometidos 
com o processo educacional. Isso evitaria, pelo menos em parte, a desagregação, 
a degradação e o êxodo escolar, em que o abandono ou o afastamento de alunos 
das salas de aulas podem ter diversos motivos, muitos deles justificados pelas 
condições precárias de algumasescolas, bem como a falta de compromisso e 
atitude das autoridades, a improbidade administrativa, o desvio de verbas, 
dentre outras formas de descaso das autoridades públicas. 
Observe, acadêmico, que ainda existe uma série de problemas a serem 
resolvidos nas instituições escolares. De acordo com Prieto (2006, p. 33), “as 
instituições escolares, ao reproduzirem constantemente o modelo tradicional, 
não têm demonstrado condições de responder aos desafios da inclusão social 
e do acolhimento às diferenças, nem de promover aprendizagens necessárias à 
vida em sociedade [...]”.
Acadêmicos, percebemos que os que mais sofrem com essa situação de 
penúria são os menos afortunados, os que não possuem as mínimas condições 
de frequentar uma escola particular, ou os deficientes físicos, que, muitas vezes, 
além das condições financeiras, também lhes faltam as condições principais ao 
acesso e permanência no âmbito escolar.
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE
37
6 CONSTRUÇÃO E RECONSTRUÇÃO DO SABER 
APRENDIDO 
Assim, de acordo com o que foi aprendido até agora, podemos afirmar que a 
diversidade, as diferenças, a identidade, a exclusão e a inclusão, quando reparadas 
na sua desarmonia social, representam partes integrantes da vida em comunidade, 
em que são introduzidas as mudanças necessárias ao desenvolvimento social e, ao 
mesmo tempo, produzidas outras formas de relacionamentos, outras formas de 
diversidade, ou até mesmo outras maneiras e meios de abordagens no processo 
de interação do eu com o outro. Isso faz parte da natureza humana, ou seja, um 
estado em movimento, de renovação e de mudanças. 
Dessa maneira, a sociedade continuará a produzir saberes e realidades 
relativas, seja em relação à diversidade existente, seja em relação ao comportamento 
humano na convivência social, ou na interação da pessoa com ela mesma, com os 
outros, bem como as abordagens relacionadas aos contrastes da vida cotidiana, 
caracterizadas pelas desigualdades sociais. Portanto, essas verdades continuarão 
a ser questionadas, até que outras verdades as sobreponham. 
Assim, a exclusão e a inclusão social das diferenças são formas de 
construção e desconstrução de uma variedade de elementos históricos e atuais, 
distintos e circunstanciais e que, muitas vezes, vão além da nossa compreensão. 
 
Caros acadêmicos, de acordo com o que vimos, percebemos que uma das 
verdades absolutas é que: sempre haverá o eu e o outro, e esse outro será sempre 
diferente do eu, e essa diferença continuará sendo o fio condutor responsável pela 
diversidade cultural e pelos diversos tipos de conflitos sociais, seja no sentido 
negativo ou no sentido positivo.
38
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• A diversidade, no contexto cultural, significa uma grande quantidade de coisas, 
ações, pensamentos, ideias e pessoas que se diferenciam entre si dentro de 
grupos sociais ou dentro de uma mesma sociedade, e os mesmos são passíveis 
de discussão, apelos, protestos, discórdia e geralmente acabam em conflitos, 
chegando até às desigualdades sociais.
• É fundamental que percebamos as diferenças e desigualdades, não de forma 
natural, mas como uma construção histórica possível de ser desestabilizada 
em sua forma rígida, para ser transformada em algo que possa ser identificado 
e reconhecido como base para a construção de relações interpessoais mais 
democráticas dentro da sociedade, isto é, devemos pensar e repensar o seu 
conceito histórico e a sua trajetória futura.
• A desigualdade significa não só a diferença existente entre pessoas ou coisas 
que compõem o universo, mas significa também a diferença no tratamento e no 
respeito para com o outro. Nesse caso, estamos nos referindo à desigualdade 
humana, que na maioria das vezes está caracterizada pelo preconceito e pelos 
diversos tipos de violência e pelas suas relações conflitantes dentro do contexto 
social.
• A diversidade humana (pessoas diferentes) deveria ser um instrumento de 
unificação dos seres, diferentemente das desigualdades sociais, que significam 
que nem todos têm as mesmas oportunidades, o que em grande parte se deve 
às diversas formas de preconceito, algumas delas no modo de ver do seu 
praticante.
• Falar sobre inclusão escolar e/ou social é falar sobre a conscientização humana 
na democratização das relações entre os povos e os demais indivíduos que 
fazem parte do contexto social como um todo, independentemente de credo, 
raça, poder aquisitivo ou posição social, visto que fazemos parte de uma 
mesma sociedade e as diferenças fazem parte integrante do equilíbrio social e 
da própria espécie humana.
39
FONTE: BRASIL, MEC: Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva, 2008, p. 6 (adaptado).
As questões sucintas no texto ratificam a necessidade de novas posturas docentes, 
de modo a atender à diversidade humana presente na escola. Nesse sentido, no 
que diz respeito ao seu fazer docente frente aos alunos, o professor deve:
I- Desenvolver atividades que valorizem o conhecimento historicamente 
elaborado pela humanidade e aplicar avaliações criteriosas com o fim de 
aferir, em conceitos ou notas, o desempenho dos alunos.
II- Instigar ou compartilhar as informações e a busca pelo conhecimento 
de forma coletiva, por meio de relações respeitosas aceitas pelos diversos 
posicionamentos dos alunos, promovendo o acesso às inovações tecnológicas.
III- Planejar ações pedagógicas extracurriculares, visando ao convívio com a 
diversidade, selecionar e organizar os grupos, a fim de evitar conflitos.
IV- Realizar práticas avaliativas que evidenciem as habilidades e competências 
dos alunos, instigando esforços individuais para que cada um possa melhorar 
o desempenho escolar.
V- Utilizar recursos didáticos diversificados, que busquem atender às 
necessidades de todos e de cada um dos alunos, valorizando o respeito 
individual e coletivo.
É correto apenas o que se afirma em:
a) ( ) I e II.
b) ( ) II e V.
c) ( ) II, III e IV.
d) ( ) I, II, IV e V.
e) ( ) I, III, IV e V.
AUTOATIVIDADE
1 (ENADE-2014, Pedagogia) Da visão dos direitos humanos e 
do conceito da cidadania fundamentado no reconhecimento das 
diferenças e na participação dos sujeitos decorre uma identificação 
dos mecanismos e processos de hierarquização que operam na 
regulação e produção de desigualdades. Essa problematização explicita os 
processos normativos de distinção dos alunos em razão de características 
intelectuais, físicas, culturais, sociais e linguísticas, estruturantes do modelo 
tradicional de educação escolar. 
2 (IFC-2015) Sobre a Educação Inclusiva, marque V para as 
afirmativas verdadeiras e F para as falsas: 
( ) Na Educação Inclusiva, os alunos com deficiência têm a chance de se 
prepararem para a vida em sociedade, os professores de melhorarem suas 
habilidades profissionais e a sociedade passa a valorizar a igualdade para todos. 
40
( ) Na Educação Inclusiva, o aluno com deficiência tem a facilidade de 
construir conhecimento como os demais e de demonstrar a sua capacidade 
cognitiva, principalmente nas escolas que mantêm um modelo conservador 
de atuação e uma gestão autoritária e centralizadora. 
( ) Na Educação Inclusiva, a escola se baseia na lógica do concreto e na 
repetição alienante e descontextualizada das atividades. 
( ) A Educação Inclusiva requer que os sistemas educacionais modifiquem 
não apenas as suas atitudes e expectativas em relação aos alunos com 
deficiência, mas que se organizem para construir uma real escola para todos, 
onde o currículo leve em conta a diversidade e seja concebido com o objetivo de 
reduzir barreiras atitudinais e conceituais e se pautar por uma ressignificação 
do processo de aprendizagem na sua relação com o desenvolvimento humano. 
Assinale a alternativa com a sequência correta. 
a) ( ) V – F – F – V. 
b) ( ) F – F – V – V.
c) ( ) V – V – F – V. 
d) ( ) F – V – V – F. 
41
TÓPICO 3
MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, 
TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E 
RELAÇÕES DE GÊNERO
UNIDADE1
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, vamos trabalhar o conceito de multiculturalismo, enfatizando 
as origens do surgimento do movimento e os campos de conhecimento que 
acolhem os estudos multiculturais. Nesse sentido, temos como objetivo situar o 
multiculturalismo do ponto de vista político (movimentos sociais multiculturais 
e políticas públicas) e teórico (ciências multiculturalistas), visando oferecer 
conteúdo de base para a interpretação desse campo de estudos.
No desenvolvimento deste tópico, também será abordado os temas 
tolerância/intolerância e relações de gênero, discutindo de modo reflexivo os 
conceitos de feminismo e ideologia de gênero. O objetivo é apresentar diferentes 
pontos de vista para os referidos conceitos, e conduzir o acadêmico a uma reflexão 
crítica da realidade, de modo que possa – com embasamento crítico e sempre que 
possível científico – compreender melhor esses temas.
2 CONCEITUANDO MULTICULTURALISMO
Como a própria etimologia da palavra nos sugere, o termo “multi” 
significa vários; o termo “culturalismo” refere-se à cultura; e o sufixo “ismo” 
está associado às posições assumidas ou ideias aceitas sobre a possibilidade 
do conhecimento, ou seja, no caso do multiculturalismo significa uma posição 
assumida sobre as diferentes relações entre as várias culturas. 
O ‘multiculturalismo’ é um termo polissêmico e existem, pelo menos, 
dois sentidos diferentes em que este pode ser utilizado. Um primeiro 
sentido é descritivo e reporta a um fato da vida humana e social, que 
é a diversidade cultural étnica, religiosa que se pode observar no 
tecido social, ou seja, um certo cosmopolitismo que atualmente é 
fácil de ver em qualquer grande cidade da Europa e da América do 
Norte. Um segundo sentido é prescritivo e está associado às chamadas 
políticas de reconhecimento da identidade e/ou da diferença que os 
poderes públicos prosseguem, ou deveriam prosseguir, segundo os 
seus defensores, em nome dos grupos minoritários e/ou ‘subalternos’ 
(FERNANDES, 2011, p. 2, grifos do original). 
Dito de outra forma, multiculturalismo significa a existência de grupos de 
diversas culturas, assim como o embate político, econômico e social travado pelos 
42
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
diferentes grupos sociais na luta pelo respeito à diversidade. Por isso, além de 
estudos teóricos e empíricos, o termo implica na conquista de reivindicações das 
chamadas minorias ou grupos marginalizados, como os negros, índios, mulheres, 
homossexuais e outros tantos que buscam assegurar seus direitos sociais através 
de políticas públicas de ação afirmativa.
FIGURA 6 – MULTICULTURALISMO, DIVERSIDADE E DESAFIO DO HOMEM PARA 
O SÉCULO XXI
FONTE: Disponível em: <http://fadivagrupo7.blogspot.com/>. Acesso em: 7 dez. 2017.
O multiculturalismo é pluralista, porque as diferenças coexistem em um 
mesmo país ou região. Ali convivem diferentes culturas, valores e tradições. 
Há o diálogo e convivência pacífica entre as culturas diversas. No entanto, esta 
coexistência pacífica não significa negar as diferenças entre as culturas, nem 
homogeneizá-las, mas compreendê-las a partir de uma visão dialética sobre os 
termos igualdade e diferença, na medida em que não se pode falar em igualdade 
sem levar em conta as diferenças culturais, e não se pode relacionar a diferença 
como medida de valor.
Nesse sentido, entendemos que igualdade e diferença não são termos 
opostos. Na verdade, a igualdade opõe-se à desigualdade, enquanto diferença 
opõe-se à padronização, à homogeneização, à produção em série. O que o 
multiculturalismo quer é lutar pela igualdade e pelo reconhecimento das 
diferenças.
Por esse motivo, um dos temas centrais do multiculturalismo tem sido o 
Direito à Diferença e à Diminuição das Desigualdades, bandeira de luta de vários 
movimentos sociais contemporâneos espalhados pelo mundo inteiro. 
TÓPICO 3 | MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO
43
3 SURGIMENTO DO MULTICULTURALISMO
O termo multiculturalismo é relativamente recente e sua utilização ocorreu 
pela primeira vez na Inglaterra, entre as décadas de 1960 e 1970. De acordo com 
Fernandes (2006), o multiculturalismo surgiu na linguagem oficial do Canadá e 
na Austrália, para designar as políticas públicas com o objetivo de valorizar e/ou 
promover a diversidade cultural. Ainda nesse período, o autor destaca que outros 
países anglo-saxônicos, como o Reino Unido, a Nova Zelândia e os EUA, também 
iniciam políticas públicas qualificadas como multiculturais.
NOTA
Países anglo-saxônicos são países cujos descendentes são provenientes de povos 
germânicos (anglos, saxões e jutos). Esta denominação é resultado da fusão desses povos 
que se fixaram ao sul e leste da Grã-Bretanha, no século V.
Tomando como base o caso dos Estados Unidos, o multiculturalismo 
surge como movimento organizado na década de 1960, a partir dos primeiros 
movimentos sociais, como: o negro, feminista, hippie, ambientalista, entre outros. 
No entanto, para entender o motivo pelo qual esses movimentos surgiram, 
devemos resgatar o aspecto da constituição histórica dos Estados Unidos, 
marcada por um longo processo de colonização, que teve como base a eliminação 
e a opressão das diversas tribos indígenas que ali estavam. Além disso, prezado 
acadêmico, devemos levar em conta o processo de escravidão que ocorreu no 
país, no qual os negros serviram como base para o desenvolvimento da nação.
Essas posturas dos colonizadores norte-americanos foram influenciadas 
pelos valores religiosos de igrejas protestantes, comuns à maioria dos colonos 
de origem anglo-saxã. Esta influência permeou o pensamento e as atitudes dos 
colonizadores norte-americanos em relação aos demais grupos, desencadeando, 
mais tarde, uma série de movimentos pela busca de justiça social.
O que queremos destacar neste momento é que, a exemplo do caso dos 
EUA, o movimento multiculturalista surgiu em grande escala nas sociedades nas 
quais o direito à diversidade cultural foi historicamente negado.
 
Segundo Silva (2000), o multiculturalismo teve início em países em 
que a diversidade cultural era vista como um problema para a construção da 
unidade nacional. Muitas nações construíram suas identidades por intermédio 
de processos autoritários, pela imposição de uma cultura, dita superior, a todos 
os membros da sociedade. 
44
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
4 ÁREAS DE CONHECIMENTO QUE ABRIGAM O 
MULTICULTURALISMO
Já entendemos que o multiculturalismo é, ao mesmo tempo, uma 
rede de movimentos sociais em prol da afirmação dos grupos minoritários, 
historicamente excluídos pela sociedade. Neste sentido, podemos compreender 
que o multiculturalismo é um campo de estudos que aborda a problemática dos 
grupos de forma multidisciplinar. Portanto, vamos tratar agora de alguns aspectos 
sobre o caráter científico do multiculturalismo, que são os estudos multiculturais.
Prezados acadêmicos, vocês sabiam que os estudos multiculturais são 
provenientes de várias áreas do conhecimento?
Pois bem, entre as áreas de conhecimento podemos destacar os campos 
da Antropologia Cultural, Psicologia Social, História e Sociologia, que abordam 
diferentes problemas relativos ao multiculturalismo. Algumas áreas se ocupam 
do ponto de vista histórico do movimento, outras se ocupam da genealogia dos 
mesmos, outras se ocupam dos processos políticos e sociais que os movimentos 
promovem, e ainda, outras áreas se ocupam de aspectos epistemológicos do 
estudo dos movimentos. Enfim, há uma variedade de estudos sobre o tema nas 
mais diferentes áreas disciplinares.
NOTA
NOTA
GENEALOGIA: estudo da origem das famílias.
EPISTEMOLOGIA: estudo do grau de certeza do conhecimento científico em seus diversos 
ramos.
Abordagem Interdisciplinar: refere-se ao trabalho e estudo de profissionais de 
diversas áreas do conhecimento ou especialidades sobre um determinado tema ou área de 
atuação, implicando necessariamente na integração dos mesmos para uma compreensão 
mais ampla do assunto.Portanto, o estudo do multiculturalismo requer uma compreensão 
interdisciplinar do contexto histórico, socioeconômico e cultural desses diferentes 
grupos sociais e da sua diversidade cultural construída conforme seu tempo e 
suas condições humanas e geográficas.
TÓPICO 3 | MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO
45
Daí a complexidade em se abordar a temática do multiculturalismo em 
todas as regiões do planeta, levando em consideração a diversidade e a história 
dos seus diversos povos em cada um dos cinco continentes e seus diferentes 
países. No entanto, o multiculturalismo já alcançou um elevado nível na discussão 
acadêmica. De acordo com Sidekum (2003, p. 9), “esse alcance é a marca principal 
das últimas décadas do século XX, consolidando-se, especialmente, pelos estudos 
comparados da cultura, desenvolvidos pela antropologia cultural e pela psicologia 
aplicada, também conhecida por psicologia social intercultural”. 
5 MOVIMENTO FEMINISTA
O surgimento dos estudos atuais sobre a condição feminina, o Estudo 
de Gênero só foi possível porque, ao longo do tempo, o movimento social de 
mulheres “fez muito barulho”, denunciando as situações de opressão, preconceito 
e dominação que sofreram. A amplitude do movimento feminista não pode e não 
deve ser reconhecida apenas como um dos movimentos de luta das mulheres, 
porque muitas mulheres com perfis e histórias diferentes participaram. Se hoje 
o gênero representa uma categoria de análise tão importante para as ciências 
humanas e sociais, é porque se fez legítimo pelas tantas batalhas dos movimentos 
feministas, tornando-se fundamental para a compreensão das relações humanas.
5.1 FEMINISMO
O feminismo é um conceito múltiplo, ele possui uma dimensão política, 
que se refere aos movimentos de luta por direitos, e uma dimensão acadêmica, 
que se refere aos estudos da condição feminina. A dimensão acadêmica, ou seja, 
o campo de pesquisa e de conhecimento sobre as mulheres, pode ser considerada 
multidisciplinar, porque ocorre em diferentes campos disciplinares, como: 
Antropologia, História, Educação, Sociologia, Direito e vários outros. 
O principal objetivo do movimento feminista não foi alcançar a igualdade 
entre homens e mulheres, mas sim a equidade entre eles. Para assegurar a igualdade 
não deve ser necessário que as mulheres assumam posturas “masculinas”. Elas 
devem preservar suas identidades. Por isso a ideia de “equidade” e não igualdade.
Com relação ao Movimento Feminista, ele surgiu no século XVIII, na 
Europa, especialmente na Inglaterra e França, mas logo repercutiu em outros 
países e se desenvolveu de diferentes formas e expressões até os dias atuais. 
Para dar uma ideia de totalidade ao movimento, ele foi dividido em três grandes 
momentos, que explicam as diferentes concepções e lutas do movimento. 
46
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
5.2 A PRIMEIRA ONDA FEMINISTA
FONTE: Disponível em: <http://justificando.cartacapital.com.br/2017/09/14/historia-da-
primeira-onda-feminista/>. Acesso em: 19 set. 2017.
FONTE: Disponível em: <http://igualdadedegeneroeraca.blogspot.com/2011/09/movimento-
feminista>. Acesso em: 20 out. 2011.
Esse primeiro momento do feminismo, chamado “Primeira Onda 
Feminista”, refere-se a um período extenso de atividade feminista ocorrido 
durante o século XIX e fim do século XX, no Reino Unido, na França e 
Estados Unidos, que tinha o foco originalmente na promoção da igualdade 
nos direitos contratuais e de propriedade para homens e mulheres, e na 
oposição de casamentos arranjados e da propriedade de mulheres casadas 
(e seus filhos) por seus maridos. No entanto, no fim do século XIX, o 
ativismo passou a se focar, principalmente, na conquista de poder político, 
especialmente o direito ao sufrágio (voto) por parte das mulheres. 
As ativistas femininas fizeram campanhas pelos direitos legais 
das mulheres (direitos de contrato, direitos de propriedade, direitos 
ao voto), pelo direito da mulher à sua autonomia e à integridade de seu 
corpo, pelos direitos ao aborto e pelos direitos reprodutivos (incluindo o 
acesso à contracepção e a cuidados pré-natais de qualidade), pela proteção 
de mulheres e garotas contra a violência doméstica, o assédio sexual e o 
estupro, pelos direitos trabalhistas, incluindo a licença-maternidade e 
salários iguais, e todas as outras formas de discriminação. 
Ainda assim, muitas feministas já faziam campanhas pelos direitos 
sexuais, reprodutivos e econômicos das mulheres.
Na França do século XVIII, envolvidas pelo ideal de “Liberdade, 
Igualdade e Fraternidade” da Revolução Francesa, mulheres de todas as classes 
sociais juntaram-se ao movimento revolucionário. Elas acreditavam que, uma 
vez estabelecida a democracia, seus direitos ao voto, à vida pública, ao divórcio 
e à emancipação social (já que eram subordinadas ao pai ou marido) seriam 
assegurados. Muitas mulheres lutaram nos fronts de batalha na revolução, e 
algumas morreram guilhotinadas, por defenderem suas convicções depois que a 
Revolução se consolidou e lhes negou, de forma desleal, seus direitos. 
5.3 A SEGUNDA ONDA FEMINISTA
A Segunda Onda Feminista culminou com os movimentos sociais em 
andamento nos Estados Unidos, e o país foi, desta vez, a referência do movimento 
para o restante do mundo. A segunda onda se refere a um período da atividade 
feminista que teve início na década de 60 e durou até o fim da década de 80.
TÓPICO 3 | MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO
47
Uma das autoras mais importantes da segunda onda é Betty Friedan, com 
seu famoso livro A Mística Feminina (The Feminine Mystique, 1963).
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Feminismo>. Acesso em: 20 out. 2011.
Disponível em: <http://www.veracruz.edu.br/palavradeprofes 
sor/2010/cinema1.htm>.
No livro, Friedan levanta a hipótese de que as mulheres seriam 
vítimas de um sistema falso de crenças, que exige que elas encontrem 
identidade e significado em suas vidas através de seus maridos e filhos; 
esse sistema faz com que a mulher perca completamente a sua identidade 
para a de sua família. 
Friedan, especificamente, localiza esse sistema nas comunidades 
suburbanas de classe média pós-Segunda Guerra Mundial; ao mesmo 
tempo, o boom econômico pós-guerra nos Estados Unidos levou ao 
desenvolvimento de novas tecnologias que tornaram o trabalho das donas 
de casa menos difícil, mas que frequentemente tinham o resultado de tornar 
o trabalho das mulheres menos significante e menos valorizado. 
48
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
5.4 A TERCEIRA ONDA FEMINISTA E O SURGIMENTO DOS 
ESTUDOS DE GÊNERO
De acordo com Grossi (2010), o movimento feminista e o movimento gay 
merecem destaque como aqueles que de fato questionaram as relações “afetivo-
sexuais” no espaço privado. A partir de então, esses questionamentos começaram 
a adentrar o espaço universitário e pesquisas passaram a ser desenvolvidas no 
interior de várias disciplinas. 
No Brasil, a partir dos anos 1970/80 começam a se desenvolver estudos 
sobre a condição feminina, em que basicamente se discutia a opressão das 
mulheres em uma sociedade patriarcal. Já a partir dos anos 1980 surgem os 
estudos sobre as mulheres, pois: “[...] se percebe que não é possível falar de uma 
única condição feminina no Brasil, uma vez que existem inúmeras diferenças, 
não apenas de classe, mas também regionais, de classes etárias, de ethos, entre as 
mulheres brasileiras” (GROSSI, 2010, p. 3-4).
Nesse período, várias teses são desenvolvidas, porém, segundo Grossi 
(2010, p. 4), a referência utilizada para o reconhecimento das mulheres enquanto 
grupo está ainda associada a uma “unidade biológica (vagina, útero, seios)”. 
6 CONCEITUANDO GÊNERO
O conceito de gênero surge no Brasil através de pesquisadoras norte-
americanas, que vão tratar as relações entre homens e mulheres de forma a negar 
as diferenças biológicas como constituidoras das identidades dos seres humanos, 
e introduzir a perspectivade que somos construídos a partir de determinados 
mecanismos sociais. Uma das pensadoras responsáveis por essa nova perspectiva 
é a autora Joan Scott. No artigo intitulado “Gênero: uma categoria útil de análise 
histórica”, ela diz que: 
O gênero torna-se uma maneira de indicar ‘construções sociais’ – a 
criação inteiramente social de ideias sobre os papéis adequados 
aos homens e às mulheres. É uma maneira de se referir às origens 
exclusivamente sociais das identidades subjetivas dos homens e das 
mulheres. O gênero é, segundo esta definição, uma categoria social 
imposta sobre um corpo sexuado (SCOTT, 1990, p. 7).
Para a estudiosa Françoise Héritier (1996), o conceito de gênero é relacional, 
ou seja, se constrói na relação entre homens e mulheres, haja visto que ninguém 
vive só, pois todas as pessoas se relacionam desde que nascem, independente das 
regras sociais e culturais. 
Segundo Grossi (2010), papéis de gênero são as representações (tomadas 
como representações de uma personagem no teatro) de cada sexo, ou seja, papéis 
sexuais são as características atribuídas a cada sexo, de acordo com sua cultura. 
TÓPICO 3 | MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO
49
São modelos do que é próprio e concernente a cada sexo. Sabe-se, através de 
relatos de historiadores, que os papéis de gênero podem ser alterados dentro de 
uma mesma sociedade, dependendo das situações.
 
Com relação à identidade de gênero, ela se forma, segundo Grossi (2010), a 
partir da socialização de valores e comportamentos que são internalizados logo nas 
primeiras fases da infância. Esses valores e comportamentos que são repassados 
são diferentes para cada sexo e também variam de uma cultura para outra. 
Um dos estudos da autora clássica de Antropologia, Margaret Mead 
(1979), poderá ilustrar o que procuramos dizer até aqui. Essa autora procura 
nos fazer refletir como, nas diferentes sociedades, são construídos padrões de 
conduta, comportamento, culturas, atribuindo-se valores a algumas coisas e 
a outras não, como idade e sexo, ritmo de nascimento, maturação e velhice, a 
estrutura do parentesco consanguíneo. 
Em seu livro “Sexo e Temperamento”, essa antropóloga aborda três grupos 
diferentes em uma ilha da Nova Guiné: os montanheses Arapesh, os canibais 
Mundugumor e os caçadores de cabeças de Tchambuli. A autora faz o estudo 
com estes três grupos porque as diferenças de sexo fazem parte da organização 
sociocultural dos mesmos, ainda que estas diferenças sejam percebidas e 
dramatizadas de formas diferentes. 
A partir dessa observação, a autora constata: ainda que, de uma forma 
geral, as sociedades se organizem levando em conta as diferenças entre os sexos, 
não significa dizer que essa organização esteja baseada em sistemas de oposição 
ou dominação. 
Na visão do escritor argentino Jorge Scala, especialmente em seu livro 
intitulado “Ideologia de Gênero: o neototalitarismo e a morte da família” (2011), 
bem como em uma entrevista sobre o tema (2012), o termo gênero é associado a 
uma ideologia e não a uma teoria ou hipótese, pelo seguinte motivo:
Uma teoria é uma hipótese verificada experimentalmente. Uma 
ideologia é um corpo fechado de ideias, que parte de um pressuposto 
básico falso – que por isto deve impor-se evitando toda análise racional 
-, e então vão surgindo as consequências lógicas desse princípio falso. 
As ideologias se impõem utilizando o sistema educacional formal 
(escola e universidade) e não formal (meios de propaganda), como 
fizeram os nazistas e os marxistas (SCALA, 2012, s.p.).
O autor argumenta ainda que o fundamento da ideologia de gênero é 
falso.
Seu fundamento principal e falso é este: o sexo seria o aspecto biológico 
do ser humano, e o gênero seria a construção social ou cultural do sexo. 
Ou seja, que cada um seria absolutamente livre, sem condicionamento 
algum, nem sequer o biológico -, para determinar seu próprio gênero, 
dando-lhe o conteúdo que quiser e mudando de gênero quantas vezes 
quiser. Agora, se isso fosse verdade, não haveria diferenças entre 
50
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
homem e mulher – exceto as biológicas -; qualquer tipo de união entre 
os sexos seria social e moralmente bom, e todas seriam matrimônio; 
cada tipo de matrimônio levaria a um novo tipo de família; o aborto 
seria um direito humano inalienável da mulher, já que somente ela é 
que fica grávida; etc. Tudo isso é tão absurdo, que só pode ser imposto 
com uma espécie de “lavagem cerebral” global (SCALA, 2012, s.p.).
Para concluir sua explicação, Scala responde à seguinte pergunta: quais 
são, então, as consequências para nossos filhos, para a próxima geração, caso a 
ideologia de gênero seja incentivada nas escolas infantis? 
Eu respondo com um fato real. Dei uma palestra sobre esta ideologia, 
a todos os professores de uma cidade de 7.000 habitantes, numa área 
rural da minha província. Gente simples e trabalhadora. Ao concluí-
la, uma professora comentou em voz alta: ‘Agora eu entendo porque 
há alguns dias meu filho de sete anos me perguntou: mamãe, eu sou 
menino ou menina …? As pessoas formadas e maduras estão imunes 
dessa ideologia, mas se a permitirmos penetrar nas crianças desde tenra 
idade – cinema, rádio, TV, escola, revistas -, em muitos casos, teremos 
que lamentar com o tempo tragédias de todo tipo (SCALA, 2012, s.p.).
Vejamos o que nos apresenta o autor Dale O’Leary (1997, p. 1), em sua 
obra “A agenda de gênero”.
Sem alarde ou debate, a palavra ‘sexo’ foi substituída pela palavra 
‘gênero’. Nós costumávamos falar de ‘discriminação de sexo’, mas 
agora é ‘discriminação de gênero’. Com certeza parece bastante 
inocente. ‘Sexo’ possui um significado secundário, subentendendo 
relação sexual ou atividade sexual. ‘Gênero’ parece mais delicado 
e refinado. As militantes feministas aprenderam a partir de suas 
derrotas. Quando elas não puderam vender sua ideologia radical para 
as mulheres em geral, elas lhe deram uma nova roupagem. Agora elas 
são bastante cuidadosas em revelar seus verdadeiros objetivos. Elas 
pretendem alcançar seus fins não por uma confrontação direta, mas 
através de uma mudança no significado das palavras.
No decorrer de seu texto, O’Leary (1997) faz menção à Conferência da 
ONU sobre População, realizada no Cairo, em 1994, e a Conferência sobre as 
Mulheres, realizada em Pequim, em 1995, em que foi incluída na plataforma de 
ação destas conferências a “perspectiva de gênero”. Sobre este tema, o autor faz 
os seguintes questionamentos:
Qual é a relação entre a “perspectiva de gênero” e o fato de que os seus 
proponentes possuem uma extrema aversão a palavras como mãe, pai, 
marido e esposa? Por que os defensores da Agenda de Gênero referem-se 
ao casamento e à família em termos negativos? Por que um documento da 
ONU sobre as mulheres não tem quase nada de positivo a dizer sobre as 
mulheres que são mães de tempo integral? Por que a ONU não promove 
mais a “perspectiva da mulher”? (O’LEARY, 1997, p. 2).
Caro acadêmico, agora é com você. Diante das discussões apresentadas 
até o momento, como você define gênero? O que você pensa sobre o assunto? 
Você considera que o objetivo da ideologia de gênero é promover a defesa da 
TÓPICO 3 | MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO
51
mulher? Promover a defesa do homem? Defender a vida humana e as crianças? 
Lutar pela equidade entre homens e mulheres? São muitas as indagações que 
precisam ser feitas para elucidar seu pensamento, e para que de modo crítico e 
racional você possa chegar às suas próprias conclusões.
DICAS
Para complementar nossa conversa, leia atentamente a introdução do livro 
de Marilena Chauí sobre “O que é ideologia” e tire suas próprias conclusões sobre os 
fundamentos da “ideologia de gênero”.
“Frequentemente, ouvimos expressões do tipo “partido político ideológico”, é preciso ter 
uma “ideologia”, “falsidade ideológica”.
Essas expressões tomam a palavra ideologia para com ela significar “conjuntosistemático 
e encadeado de ideias”. Ou seja, confundem ideologia com ideário.
Nossa tarefa, aqui, será desfazer a suposição de que a ideologia é um ideário qualquer 
ou qualquer conjunto encadeado de ideias e, ao contrário, mostrar que a ideologia é 
um ideário histórico, social e político que oculta a realidade, e que esse ocultamento é 
uma forma de assegurar e manter a exploração econômica, a desigualdade social e a 
dominação política.
FONTE: Chauí, M. O Que é Ideologia. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2001. Disponível em: 
<https://goo.gl/VMihTF>. Acesso em: 9 set. 2017.
7 ESTUDOS DE GÊNERO
Especialmente nas três últimas décadas, os estudos de gênero passaram 
a se preocupar com várias questões relativas ao universo das relações sociais. 
Observar a realidade a partir da análise de gênero possibilitou novas interpretações 
sobre o comportamento humano e a observação das desigualdades de gênero. 
Vejamos, a seguir, alguns estudos de gênero e suas principais contribuições.
A construção social da desigualdade de Gênero (Educação Diferenciada): 
Os estudos compreendem que há uma educação diferenciada para meninos e 
meninas desde o seu nascimento. Nessa educação, reproduzem-se idealizações e 
modelos de papéis destinados a homens e mulheres na sociedade. Por exemplo, 
os meninos brincam de bola e carrinho, enquanto as meninas brincam de boneca 
e casinha, deixando claro o espaço que cada um ocupará dentro da sociedade. Por 
este motivo é que se organizam papéis diferenciados para homens e mulheres.
Papéis femininos ou Feminilidades: De acordo com os estudos, os modelos 
de feminino em nossa sociedade são criados a partir de símbolos antagônicos: Eva 
e Maria, bruxa e fada, mãe e madrasta. Sendo que essas definições propõem o que 
é bom para as mulheres e culpam-nas quando não correspondem a este padrão. 
A sociedade espera que as mulheres cuidem da casa, dos filhos e do marido, que 
52
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
sejam as guardiãs da moral da família, que sejam meigas, atenciosas, maternais e 
frágeis. Outras expressões de feminino são marginalizadas.
Papéis masculinos ou Masculinidades: Os estudos sobre masculinidade 
tratam da construção da identidade masculina e das diferentes masculinidades. 
Além disso, tratam do discurso sobre o masculino, a idealização dele e os 
padrões de masculinidade. O que a sociedade espera do papel desempenhado 
pelos homens é que sejam provedores, fortes e viris. Outras expressões de 
masculinidade também são consideradas desviantes.
Violência de gênero: Os estudos apontam que a violência de gênero é 
demonstrada no exercício de poder dos homens (na forma de espancamentos, 
insultos, ameaças, estupros, assédio, assassinatos e outros) sobre as mulheres e 
demais pessoas consideradas "inferiores" (homossexuais, crianças, idosos etc.). 
Esses estudos demonstram uma série de situações em que as mulheres têm sido 
historicamente violentadas em seus direitos, tanto no aspecto físico, quanto 
psicológico.
Famílias: Muitos estudos reconhecem que há uma visão tradicional de 
família que não reconhece a existência de núcleos familiares chefiados somente 
por mulheres ou a constituição de famílias compostas por "agrupamento". De 
igual forma, são abordadas aqui as questões relativas aos papéis tradicionais 
desempenhados por homens e mulheres dentro das estruturas familiares.
 
A imagem das mulheres nos meios de comunicação: Os estudos 
demonstram que os meios de comunicação parecem dar às mulheres "visibilidade" 
e "espaço para discussão", mas que reforçam constantemente o seu papel de "objeto 
de consumo", de "utilidade pública" e "sexual". Por exemplo, nas propagandas de 
bebidas alcoólicas.
A educação escolar: Os estudos reforçam que a educação escolar é 
transmissora de valores, atitudes e preconceitos, reprodutora das desigualdades 
de gênero e homofobia. Isso porque, no universo das instituições de ensino do 
nosso país, assuntos como Gênero e Sexualidade têm sido tratados historicamente 
como tabus. Quando se permite falar sobre esses temas, a escola tende a tratar 
a questão como uma dimensão da vida adulta, ligada à constituição da família 
e da reprodução, através de uma perspectiva biológica. Desta forma, tanto o 
exercício da sexualidade por si, quanto as orientações homoafetivas, neste espaço 
disciplinar, são negados. A escola tem assumido, entre outros, o papel de vigiar 
os limites entre as identidades e os papéis de gênero. Nesta função, de acordo 
com Louro (1997), a norma a ser mantida e reafirmada pela instituição valoriza, 
prioritariamente, o modelo tradicional dos papéis de gênero e o comportamento 
heterossexual, reafirmando os padrões da moral dominante vigente na sociedade, 
tomando por modelo as relações hierárquicas e desiguais entre os sexos e o 
homem e a mulher branca heterossexual de classe média urbana e cristã. Os que 
são diferentes deste modelo são considerados como tendo um comportamento 
"desviante". Louro (1997, p. 36) destaca que “ninguém é essencialmente diferente, 
TÓPICO 3 | MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO
53
ninguém é essencialmente o outro; a diferença é sempre constituída a partir de 
um dado lugar que se toma como centro".
No Brasil, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e a Secretaria de 
Educação Continuada (SECAD/MEC) possuem a perspectiva de que os temas 
gênero, identidade de gênero e orientação sexual devem ser considerados pela 
política educacional como uma questão de direitos humanos. Por este motivo 
é que existe no Brasil uma agenda de enfrentamento ao sexismo e homofobia 
através do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM) e do Programa 
Brasil sem Homofobia (BSH).
Por outro lado, a questão tornou-se tão polêmica a ponto de gerar a 
elaboração de um projeto de lei (Projeto de Lei 7382/2010), que prevê a penalização 
pela discriminação contra heterossexuais e determina que as medidas e políticas 
públicas antidiscriminatórias atentem para essa possibilidade, ou seja, pune 
a “heterofobia”. No momento, o projeto encontra-se em pedido de vista pela 
Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM).
Público e Privado: Os estudos demonstram que, a partir da consolidação 
do capitalismo, consolida-se também a ideologia de que existe uma esfera pública 
e outra privada. Esfera privada: Lugar próprio das mulheres, do doméstico, da 
subjetividade, do cuidado, da honra. Esfera pública: Espaço dos homens, da 
objetividade, dos iguais, da liberdade e do direito. Desta maneira, convencionou-se 
nas sociedades ocidentais o espaço privado para a mulher, a casa, o cuidado com 
os filhos e marido; e o espaço público ao homem, relações sociais, políticas e de 
trabalho. Essa “ordem” social criou diferenças e justificou desigualdades sexuais 
ao longo da história, sendo que muitas ainda permanecem nos dias de hoje. 
A divisão sexual do trabalho: Os estudos demonstram que historicamente 
a divisão sexual do trabalho enfatiza para os homens a produção e a subsistência da 
família e para as mulheres a reprodução e a educação das crianças.
Acadêmico, sobre esses temas, reflita as seguintes perguntas: O que você 
entende por viver sem preconceito de gênero? E sem preconceito de sexo? Existe 
diferença entre essas perguntas? Como você responderia cada uma delas?
Você deve ter percebido que nos últimos cinco ou dez anos houve, no 
Brasil, uma evidente tendência ao uso do termo gênero – em referência aos papéis 
masculinos e femininos das pessoas – em substituição ao termo sexo – referente ao 
sexo biológico – em muitos sites governamentais e não governamentais, quando da 
necessidade de informar dados pessoais para cadastros. Já se deparou com isso?
Apesar de serem conceitos diferentes (sexo e gênero), observe que são 
perguntas semelhantes, que nos remetem ao reconhecimento das diferenças entre 
homens e mulheres e ao respeito para com ambos. No entanto, até pouco tempo 
não se fazia esse questionamento, mesmo reconhecendo que há manifestações 
decomportamento afetivo ou sexual diferente do sexo de nascimento. Contudo, 
o momento delicado em que a sociedade vivencia esse debate não pode motivar 
violência e intolerância e, muito menos, a adoção do relativismo, teoria filosófica 
que admite que todo conhecimento é relativo. Pois se assim o fosse, perguntas 
54
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
como “de onde vim?”, “o que sou?” e “para onde vou?” não seriam tão intrigantes 
quanto são para a única espécie capaz de raciocinar sobre si mesma, o Homo sapiens.
Assim, o modo como o termo gênero vem sendo utilizado nos diversos 
meios de comunicação apresenta uma fragilidade. Por exemplo, se o gênero 
representa o comportamento social da pessoa e o sexo a determinação biológica, 
as duas perguntas deveriam ser feitas. Agora, se só existe uma espécie humana e 
nesta se manifestam apenas dois sexos (ou dois gêneros), estaria coerente discutir 
relações de gênero?
O debate acerca do assunto é amplo, e para nós, brasileiros, a Constituição 
prevê, no Art. 3º, inciso IV, que constituem objetivos fundamentais da República 
Federativa do Brasil, dentre outros, promover o bem de todos, sem preconceitos de 
origem, raça, sexo, cor, religião, idade e quaisquer outras formas de discriminação 
(BRASIL, 1988). Portanto, já estaria respaldado o reconhecimento da diversidade 
humana e o combate à discriminação de qualquer origem.
A produção foi sempre mais valorizada do que a reprodução, 
por este motivo é que as atividades ditas reprodutivas, como as funções 
domésticas, são desvalorizadas. De acordo com Faria (1997), referindo-se 
ao trabalho das mulheres rurais no Brasil:
Carpir no sertão nordestino era uma tarefa dos homens e era 
considerado um trabalho pesado. Carpir no brejo paraibano 
era tarefa das mulheres e era considerado trabalho leve. Como 
se vê, no cultivo da cana o que caracterizava um trabalho como 
leve ou pesado não era a força física necessária para realizá-lo, 
mas o valor social de quem o fazia (FARIA, 1997, p. 14).
Nesse sentido, a desigualdade sexual não é refletida como um 
problema de gênero, ela é naturalizada. Essa postura é que mantém o 
padrão de desvalorização do trabalho feminino, e é o que explica porque 
muitas mulheres ainda ganham menos que os homens, mesmo ocupando 
cargos iguais. 
Por outro lado, após a expansão do capitalismo, quando as mulheres 
entram no mercado de trabalho permanecem ainda com as atividades domésticas, 
o cuidado com a casa e com os filhos. De acordo com o IBGE (2005): 
O IBGE mostra que a crescente participação das mulheres 
no mercado de trabalho não reduziu a jornada delas com os 
afazeres domésticos. Pelo contrário, na faixa etária de 25 a 49 
anos de idade, onde a inserção das mulheres nas atividades 
remuneradas é maior e que coincide com a presença de filhos 
menores, o trabalho doméstico ocupa 94% das mulheres. 
Aumentando o tempo de trabalho da mulher em função da 
dupla jornada de trabalho.
FONTE: Disponível em: <http://www.abed.org.br/congresso2012/anais/122f.pdf>. Acesso em: 2 
jun. 2015.
TÓPICO 3 | MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO
55
A partir da segunda metade do século XX, com a expansão do 
capitalismo, as mulheres entraram definitivamente no mercado de trabalho. 
Fato que, por um lado, possibilitou a inserção da mulher no mundo do 
trabalho “produtivo” e no espaço público, e por outro, lhe manteve a condição 
de trabalhadora doméstica, pois ela continuou com a integralidade das 
atividades do lar. Ocorre, assim, o acúmulo de funções, chamado de dupla 
jornada de trabalho. Além disso, do ponto de vista do desenvolvimento do 
capitalismo, a contratação de mulheres foi estrategicamente conveniente, 
pois a remuneração do trabalho feminino era mais baixa do que a masculina, 
dada a sua condição histórica de inferioridade. Por esse motivo, ainda nos 
dias de hoje, em alguns setores, o trabalho feminino é menos valorizado do 
que o masculino. 
Dupla Jornada de Trabalho: 
FONTE: Disponível em: <https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos14/20320175.pdf>. Acesso 
em: 7 dez. 2017.
56
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• O multiculturalismo significa a existência de grupos de diversas culturas, 
assim como: o embate político, econômico e social travado pelos diferentes 
grupos sociais na luta pelo respeito à diversidade.
• O termo “multiculturalismo” é recente, e sua utilização ocorreu pela primeira 
vez na Inglaterra, entre as décadas de 1960 e 1970.
• A ideia de que os estudos multiculturais são multidisciplinares, na medida 
em que são provenientes de diversos campos de conhecimento, como: 
Antropologia Cultural, Psicologia Social, História, Sociologia, entre outros.
• O direito à diferença e a diminuição das desigualdades são temas centrais 
para o multiculturalismo, bandeira de luta de vários movimentos sociais 
contemporâneos espalhados pelo mundo inteiro. 
• O conceito de cultura corresponde ao conjunto das regras sociais aceitas como 
normas pela sociedade ou grupo que as compõe.
• O etnocentrismo é a maneira de ver os “outros” com base nos nossos padrões 
culturais, com os nossos valores sociais, morais e éticos, e não os valores do 
outro.
• O relativismo cultural significa uma perspectiva mais ampla sobre o outro, 
uma perspectiva que vê e compreende o outro a partir dos parâmetros e regras 
sociais do outro.
• O feminismo como conceito múltiplo. Ele possui uma dimensão política, que 
se refere aos movimentos de luta por direitos, e uma dimensão acadêmica, que 
se refere aos estudos da condição feminina.
• O Movimento Feminista surgiu no século XVIII, na Europa, e foi dividido em 
três grandes momentos, sendo a 1ª, a 2ª e a 3ª ondas feministas.
• A primeira onda feminista se refere a um período extenso de atividade 
feminista, ocorrido durante o século XIX e início do século XX, na Europa. 
Sendo que o foco original do movimento se concentrou na promoção da 
igualdade, nos direitos contratuais e de propriedade para homens e mulheres.
57
• A segunda onda feminista tem como cenário de surgimento os Estados 
Unidos já no século XX, na década de 1960, na medida em que o processo de 
industrialização se acelera. O movimento feminista, neste momento histórico, 
luta por melhores condições de trabalho e renda, além de questionar as relações 
na família.
• Com a terceira onda feminista – a partir da década de 1980 –, vem a introdução 
da discussão da desigualdade de gênero no meio acadêmico, momento em 
que surge o conceito de gênero. 
 
• O conceito de gênero surge no Brasil através de pesquisadoras norte-
americanas, que vão tratar as relações entre homens e mulheres de forma a 
negar as diferenças biológicas como constituidoras das identidades dos seres 
humanos, e introduzir a perspectiva de que somos construídos a partir de 
determinados mecanismos sociais.
• Existem pensamentos contrários à ideologia de gênero e outros favoráveis, a 
depender do autor que se leva em consideração.
• Questionar é tão importante quanto buscar o saber, e que é preciso estimular o 
pensamento crítico diante dos problemas cotidianos, de modo a desenvolver a 
capacidade de propor soluções viáveis e sustentáveis.
• Avaliar criticamente a realidade à luz dos conhecimentos científicos, éticos 
e morais contribui para o reconhecimento da diversidade e o respeito à 
dignidade humana.
58
1 As mulheres frequentam mais os bancos escolares que os 
homens, dividem seu tempo entre o trabalho e os cuidados com a 
casa, geram renda familiar, porém, continuam ganhando menos 
e trabalhando mais que os homens.
As políticas de benefícios implementadas por empresas preocupadas em facilitar 
a vida das funcionárias que têm criança pequena em casa já estão chegando ao 
Brasil. Acordos de horários flexíveis, programas como auxílio-creche, auxílio-
babá e auxílio-amamentação são alguns dos benefícios oferecidos. 
FONTE: Adaptado de <http://www1.folha.uol.com.br>. Acesso em: 30 jul. 2013. 
JORNADA MÉDIA DE TRABALHO PORSEMANA
AUTOATIVIDADE
NO BRASIL - (EM HORAS)
FONTE: Disponível em: <http://ipea.gov.br>. Acesso em: 30 jul. 2013.
Considerando o texto e o gráfico, avalie as afirmações a seguir.
I- O somatório do tempo dedicado pelas mulheres aos afazeres domésticos 
e ao trabalho remunerado é superior ao dedicado pelos homens, 
independentemente do formato da família.
II- O fragmento do texto e dos dados do gráfico apontam para a necessidade 
de criação de políticas que promovam a igualdade entre os gêneros no que 
concerne a tempo médio dedicado ao trabalho e remuneração recebida.
III- No fragmento de reportagem apresentado, ressalta-se a diferença entre o 
tempo dedicado por mulheres e homens ao trabalho remunerado, sem alusão 
59
aos afazeres domésticos.
É correto o que se afirma em:
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) III, apenas.
c) ( ) I e II, apenas.
d) ( ) II e III apenas.
e) ( ) I, II e III.
2 O conceito de feminismo possui uma perspectiva política, 
que se refere ao movimento social em prol de políticas de 
reconhecimento e uma perspectiva acadêmica, que se refere aos 
estudos feministas. Com relação ao conceito de feminismo e à 
atuação do movimento feminista, classifique V para as sentenças verdadeiras 
e F para as falsas: 
 
( ) O feminismo é um movimento social e um campo de conhecimento que 
tem como objetivo defender a igualdade entre homens e mulheres, seja do 
ponto de vista jurídico, político ou econômico.
( ) O movimento feminista está dividido historicamente em três "ondas", 
sendo que a primeira onda refere-se ao feminismo do século XVIII, e tem 
como referências países como França e Inglaterra.
( ) Os estudos feministas têm como objetivo denunciar as desigualdades 
biológicas entre homens e mulheres, no sentido de garantir direitos apenas 
para as mulheres.
( ) Os estudos feministas podem ser classificados como multidisciplinares, 
pois são desenvolvidos a partir de várias áreas de estudos.
 
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – F – V.
b) ( ) F – V – F – F.
c) ( ) F – F – V – F.
d) ( ) F – V – F – V.
3 O feminismo é um movimento social e um campo de estudos 
cujo objetivo é defender a igualdade entre os sexos. Na história 
do feminismo, convencionou-se dividir o movimento em 
três momentos: primeira, segunda e terceira onda feminista. 
Classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: 
( ) Uma das autoras mais importantes da Segunda Onda Feminista é Betty 
Friedan. Ela ficou conhecida por escrever o livro "A Mística Feminina". Nele, 
a autora enobrece a vida vazia das donas de casa de classe média nos Estados 
Unidos, destacando que a identidade da mulher deve ser exclusiva da família.
( ) Na Segunda Onda, a revolucionária Olímpia de Gouges, em 1791, 
escreveu uma declaração muito importante, argumentando que as mulheres 
deveriam ter os mesmos direitos que os homens, podendo participar da vida 
política, governando e formulando leis.
60
( ) A Segunda Onda Feminista culminou com os movimentos sociais em 
andamento nos Estados Unidos. Esse momento do feminismo começa na 
década de 1960 e dura até o fim da década de 1980. 
( ) A Terceira Onda Feminista inicia na década de 1990, com o objetivo de 
compreender os problemas femininos de um ponto de vista mais amplo, e não 
apenas do ponto de vista das "mulheres brancas de classe média-alta", como 
fez a segunda onda.
 
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) F – F – V – V.
b) ( ) F – V – F – F.
c) ( ) V – F – V – F.
d) ( ) V – V – F – V.
4 (ENADE - 2017, FORMAÇÃO GERAL, questão 1). 
TEXTO 1
Em 2001, a incidência da sífilis congênita – transmitida da mulher para o 
feto durante a gravidez – era de um caso a cada mil bebês nascidos vivos. 
Havia uma meta da Organização Pan-Americana de Saúde e da Unicef de 
essa ocorrência diminuir no Brasil, chegando, em 2015, a cinco casos de 
sífilis congênita por 10 mil nascidos vivos. O país não atingiu esse objetivo, 
tendo se distanciado ainda mais dele, embora o tratamento para sífilis seja 
relativamente simples, à base de antibióticos. Trata-se de uma doença para a 
qual a medicina já encontrou a solução, mas a sociedade ainda não.
FONTE: Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br>. Acesso em: 23 jul. 2017 (adaptado).
TEXTO 2 
O Ministério da Saúde anunciou que há uma epidemia de sífilis no Brasil. Nos 
últimos cinco anos, foram 230 mil novos casos, um aumento de 32% somente 
entre 2014 e 2015. Por que isso aconteceu?
Primeiro, ampliou-se o diagnóstico com o teste rápido para sífilis realizado 
na unidade básica de saúde e cujo resultado sai em 30 minutos. Aí vem o 
segundo ponto, um dos mais negativos, que foi o desabastecimento, no país, 
da matéria-prima para a penicilina. O Ministério da Saúde importou essa 
penicilina, mas, por um bom tempo, não esteve disponível, e isso fez com 
que mais pessoas se infectassem. O terceiro ponto é a prevenção. Houve, nos 
últimos dez anos, uma redução do uso do preservativo, o que aumentou, e 
muito, a transmissão.
A incidência de casos de sífilis, que, em 2010, era maior entre homens, hoje recai 
sobre as mulheres. Por que a vulnerabilidade neste grupo está aumentando?
As mulheres ainda são as mais vulneráveis a doenças sexualmente 
transmissíveis (DST), de uma forma geral. Elas têm dificuldade de negociar 
o preservativo com o parceiro, por exemplo. Mas o acesso da mulher ao 
61
diagnóstico também é maior, por isso, é mais fácil contabilizar essa população. 
Quando um homem faz exame para a sífilis? Somente quando tem sintoma 
aparente ou outra doença. E a sífilis pode ser uma doença silenciosa. A mulher, 
por outro lado, vai fazer o pré-natal e, automaticamente, faz o teste para a 
sífilis. No Brasil, estima-se que apenas 12% dos parceiros sexuais recebam 
tratamento para sífilis.
FONTE: Entrevista com Ana Gabriela Travassos, presidente da regional baiana da 
Sociedade Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis. Disponível em: <http://www.
agenciapatriciagalvao.org.br>. Acesso em: 25 jul. 2017 (adaptado).
TEXTO 3
Vários estudos constatam que os homens, em geral, padecem mais de 
condições severas e crônicas de saúde que as mulheres e morrem mais que 
elas em razão de doenças que levam a óbito. Entretanto, apesar de as taxas de 
morbimortalidade masculinas assumirem um peso significativo, observa-se 
que a presença de homens nos serviços de atenção primária à saúde é muito 
menor que a de mulheres.
GOMES, R.; NASCIMENTO, E.; ARAUJO, F. Por que os homens buscam menos os serviços de 
saúde do que as mulheres? As explicações de homens com baixa escolaridade e homens com 
ensino superior. Cad. Saúde Pública [on-line], v. 23, n. 3, 2007 (adaptado).
A partir das informações apresentadas, redija um texto acerca do tema: 
Epidemia de sífilis congênita no Brasil e relações de gênero
Em seu texto, aborde os seguintes aspectos:
• A vulnerabilidade das mulheres às DSTs e o papel social do homem em 
relação à prevenção dessas doenças.
• Duas ações, especificamente voltadas para o público masculino, a serem 
adotadas no âmbito das políticas públicas de saúde ou de educação, para 
reduzir o problema.
5 (ENADE – 2017, FORMAÇÃO GERAL, questão 2). 
A pessoa trans precisa que alguém ateste, confirme e comprove que ela pode 
ser reconhecida pelo nome que escolheu. Não aceita que se autodeclare 
mulher ou homem. Exige que um profissional de saúde diga quem ela é. Sua 
declaração é o que menos conta na hora de solicitar, judicialmente, a mudança 
dos documentos. 
FONTE: Disponível em: <http://www.ebc.com.br>. Acesso em: 31 ago. 2017 (adaptado).
62
No chão, a travesti morre
Ninguém jamais saberá seu nome
Nos jornais, fala-se de outra morte
De tal homem que ninguém conheceu
FONTE: Disponível em: <http://www.aminoapps.com>. Acesso em 31 ago. 2017 (adaptado).
Usava meu nome oficial, feminino, no currículo porque diziam que eu estava 
cometendo um crime, que era falsidade ideológica se eu usasse outro nome. 
Depois fui pesquisar e descobri que não é assim. Infelizmente,ainda existe 
muita desinformação sobre os direitos das pessoas trans.
FONTE: Disponível em: <http://www.brasil.elpais.com>. Acesso em: 31 ago. 2017 (adaptado).
Uma vez o segurança da balada achou que eu tinha, por engano, mostrado o 
RG do meu namorado. Isso quando insistem em não colocar meu nome social 
na minha ficha de consumação.
FONTE: Disponível em: <http://www.brasil.elpais.com>. Acesso em: 31 ago. 2017 (adaptado).
Com base nessas falas, discorra sobre a importância do nome para as pessoas 
transgêneras e, nesse contexto, proponha uma medida, no âmbito das políticas 
públicas, que tenha como objetivo facilitar o acesso dessas pessoas à cidadania.
63
TÓPICO 4
RESPONSABILIDADE SOCIAL: SETOR PÚBLICO, SETOR 
PRIVADO E TERCEIRO SETOR
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Nosso tempo apresenta enormes desafios éticos que decorrem da 
diversidade cultural das sociedades contemporâneas, do consumismo, do 
individualismo, do hedonismo, do desprezo ao próximo e à natureza, gerando 
um quadro de crise que tem sérias implicações sobre a ética, sobre os valores e 
sobre a responsabilidade social.
Podemos notar um triplo aspecto nesta crise: primeiro, o agravamento da 
desigualdade social, com crescente pobreza e miséria de uma parte considerável 
da população mundial. A desigualdade hoje se mostra tão grande que pode até 
levar à desumanização de uma parte considerável das pessoas, com os laços de 
cooperação e solidariedade atingindo níveis tão baixos como nunca vistos antes 
na história de nossa espécie.
Em segundo lugar, vemos uma crise do sistema de trabalho, com o 
desemprego, a perda dos postos de trabalho para a automação, e a exclusão 
social, que colocam o problema ético de como construir uma sociedade que não 
gere destituídos dela.
Em terceiro lugar, vemos a crise ecológica, com os níveis de consumo atuais 
esgotando os recursos naturais e degradando a natureza a ponto de comprometer 
a sobrevivência dos seres vivos, o que nos chama a atenção para a necessidade de 
uma nova ética em nossa relação com a natureza.
2 SETOR PRIVADO
Toda a realidade relatada anteriormente vem acompanhada do 
entendimento de que cada setor da sociedade tem suas responsabilidades. 
O setor privado, por mais óbvio que seja, não deveria ter participação 
do setor público. Esse setor também é conhecido como ‘iniciativa privada’ e tem 
papel preponderante na economia e desenvolvimento de um país.
 
64
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
3 TERCEIRO SETOR 
Tradicionalmente, as organizações são pensadas e divididas a partir de 
uma lógica política administrativa que dirige a organização, partindo de dois 
pontos: de ordem pública ou de ordem privada. As organizações que estão fora 
desses dois grupos, que não apresentam objetivo meramente lucrativo ou não 
(apenas) desempenham funções públicas, são as organizações sociais, ou seja, 
todas as organizações residuais são definidas nesse guarda-chuva, o que abarca 
um conjunto muito heterogêneo de tipos e práticas. Não podemos aqui confundir 
com o terceiro setor do ponto de vista econômico, ou também conhecido como 
setor terciário, que se caracteriza por desenvolver as atividades de comércio da 
produção industrial, e por serviços, como transportes, telecomunicações e energia.
“A expressão ‘terceiro setor’ pode considerar-se também adequada na 
medida em que sugere uma terceira forma de propriedade entre a privada e a 
estatal, mas se limita ao não estatal enquanto produção, não incluindo o não 
estatal enquanto controle” (BRESSER-PEREIRA; GRAU, 1999, p. 16).
Pode-se notar que existe um problema de definição conceitual sobre o que 
abrange o terceiro setor. “[...] o conceito de terceiro setor descreve um espaço de 
participação e experimentação de novos modos de pensar e fazer sobre a realidade 
social. É um campo marcado por uma irredutível diversidade de atores e formas 
de organização” (CARDOSO, 1997 apud BRESSER-PEREIRA; GRAU, 1999, p. 37).
É importante levar em conta que a Organização Social é um tipo específico 
de ator dentro do terceiro setor. Apesar disso, algumas características podem ser 
apontadas como típicas das Organizações Sociais (BRESSER-PEREIRA; GRAU, 
1999), que aqui são listadas:
• iniciativas privadas que buscam suprir uma utilidade de ordem pública, ou 
seja, seus fins são públicos;
• constituído em grande parte por voluntários. Isso quer dizer que alguns 
membros devem trabalhar sem remuneração; 
• sem fins lucrativos (o que não quer dizer que não haverá salário para alguns 
membros, mas sim que o objetivo não é enriquecer);
• deve ser formalmente constituída. Isso não significa que deve necessariamente 
ser uma instituição legalizada, mas sim possuir regras, procedimentos que 
assegurem a existência e atuação da organização;
• a gestão é própria, não deve ser realizada por grupos externos;
• passar por processo de regulamentação nesses últimos anos.
Assim, pode-se afirmar que o terceiro setor não é público nem privado. 
Ele se situa num entremeio, preenchendo lacunas do Estado através de uma 
atuação na esfera privada. Assim, as organizações visam prestar serviços com 
fins de atender demandas sociais em áreas como saúde, educação, cultura etc. 
Seu formato típico não é da Organização Não Governamental (ONG), e sim do 
setor estatal e do setor privado, que visam suprir as falhas do Estado e do setor 
TÓPICO 4 | RESPONSABILIDADE SOCIAL: SETOR PÚBLICO, SETOR PRIVADO E TERCEIRO SETOR
65
privado no atendimento às necessidades da população, numa relação conjunta. 
Entretanto, algumas organizações estão evitando tal denominação, motivos 
explicados por Fischer e Falconer (1998, p. 4):
Esta característica pode ser observada quando se analisa a adoção 
do termo ONG – Organização Não Governamental – pelas entidades 
brasileiras. O termo foi adotado mais por influência dos financiadores 
internacionais do que por uma tendência espontânea das organizações 
brasileiras. Até, pelo contrário, muitas entidades atualmente não 
aceitam esta denominação por considerá-la restritiva, ou mesmo 
porque ela omite princípios e valores que lhe são mais caros do ponto 
de vista ideológico, ou que, na sua opinião, expressam com mais 
clareza sua missão institucional. 
De fato, a imagem das Organizações Sociais colou nas ONGs, mas elas 
são, na verdade, múltiplas e assumem vários formatos. Uma das críticas a 
essas organizações seria sobre uma atuação que serviria apenas a fins privados, 
não abrangendo a dimensão social da questão. Outro ponto seria sobre o 
enriquecimento de algumas organizações, que obtinham lucro irregularmente. 
Entretanto, as organizações sociais se apresentam como uma alternativa que, 
quando considerados todos os seus preceitos, funcionam efetivamente junto à 
população.
3.1 HISTÓRICO 
O surgimento das Organizações Sociais acontece no contexto de crise do 
último quarto do século XX, a partir da proposta de Estado mínimo nos anos 
1980 pelo neoliberalismo, que significa a maior redução possível do Estado na 
economia, o que significou um corte nos programas destinados ao apoio da 
população. Na década de 1990 essa proposta começa a se mostrar irreal e se inicia 
um retorno do Estado a uma posição mais atuante.
O contexto foi agravado pela abertura do capitalismo na década de 1990 
e pela globalização. O processo de globalização e o fortalecimento das estruturas 
capitalistas no mundo, com o fracasso dos sistemas socialistas, aumentam a 
competitividade entre as empresas, que a partir deste momento não concorrem 
apenas com as nacionais, mas com aquelas situadas em outras partes do mundo. 
Assim, o Estado nacional teve dificuldade em proteger as empresas 
nacionais e os seus trabalhadores, o que levou à crise. “Esta crise levou o mundo a 
um generalizado processo de concentração de renda e a um aumento da violência 
sem precedentes, mas também incentivou a inovação social na resolução dos 
problemas coletivos e na própria reforma do Estado” (BRESSER-PEREIRA; 
GRAU, 1999, p. 15).
Uma dessas inovações refere-se justamenteao fortalecimento do controle 
social através do público não estatal. Isso a tal ponto que se pode afirmar que 
66
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
o século XXI é o momento em que o público não estatal torna-se chave para a 
manutenção da vida social. Outro ponto que fortalece é a visão dessas organizações 
como espaço possível para a prática da cidadania, tornando efetiva a democracia 
participativa.
No Brasil, existem algumas particularidades sobre o histórico dessas 
organizações. Na verdade, desde o período militar, em meados do século XX, o 
Estado brasileiro realizou intervenção maciça na economia. Na década de 1990 
esse modelo começou a ser criticado, algumas críticas em direção do desvio da 
função do papel do Estado, outras em direção do gasto gerado por essa atuação. 
Na década de 1990 surge, de fato, uma reação a essa conjuntura: “Só em meados 
dos anos 90 surge uma resposta consistente com o desafio de superação da crise: 
a ideia da reforma ou reconstrução do Estado, de forma a resgatar sua autonomia 
financeira e sua capacidade de implementar políticas públicas conjuntamente 
com a sociedade” (BRASIL, 1997a, p. 8).
Desta forma, o Estado inicia um processo de repensar o desenvolvimento. 
Ele toma para si outros papéis, o de promotor e regulador do desenvolvimento, 
deixando de se responsabilizar diretamente, como o fazia antigamente. Nesse 
sentido, por um lado, ele deixa a função de prestador direto de serviços sociais, 
principalmente saúde e educação, para assumir a sua regulação. Por outro lado, 
enquanto promotor, ele oferece subsídios a esses novos atores que assumirão essa 
atuação direta (BRASIL, 1997b).
Nesse contexto, surgem as Organizações Sociais, figura fundamental para 
o processo da reforma do Estado. O Estado, na verdade, fomenta esse novo ator. 
Ainda está em curso essa troca de atores, da saída do Estado para a ocupação das 
Organizações Sociais, que foi impulsionada pela regularização da sua atuação 
promovida na última década.
3.2 REALIDADE DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS NO BRASIL
Possuir um título de Organização Social no Brasil, atualmente, garante 
o recebimento de benefícios do Estado, que abrangem dotações orçamentárias, 
isenções fiscais, subsídios etc. Reiterando que as Organizações Sociais devem 
atender a uma demanda específica da comunidade.
Elas se fazem presentes atualmente na gestão de hospitais, santas casas, 
museus, institutos de fomento à pesquisa, de projetos voltados a algumas áreas 
específicas (saúde e cultura, esporte, no caso de alguns estados), manutenção de 
grupos (como a Fundação Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo).
TÓPICO 4 | RESPONSABILIDADE SOCIAL: SETOR PÚBLICO, SETOR PRIVADO E TERCEIRO SETOR
67
FIGURA 7 – OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO – ODM
FONTE: Disponível em: <http://www.odmbrasil.gov.br/os-objetivos-de-desenvolvimento-do-
milenio>. Acesso em: 7 dez. 2017.
Essas Organizações Sociais realizam a gestão do espaço público e querem 
melhorar a vida das pessoas, e, por consequência, a sociedade como um todo.
O espaço continua sendo público, ou seja, do Estado, mas quem administra 
os recursos, os negócios e as pessoas? Isso significa dizer que a associação de um 
museu faz desde a gestão dos funcionários que ali trabalham até o controle da 
bilheteria, programação cultural, peças e curadoria das peças.
O Estado de São Paulo foi pioneiro na implantação do sistema na área 
de saúde. A seleção envolve uma convocatória pública exigindo a experiência 
mínima na área de gerenciamento. Esse método visa garantir que entidades 
sólidas assumam a frente das instituições e o sucesso do modelo.
O trabalho e o estudo são compreendidos como essenciais para humanizar 
o indivíduo. Além disso, o trabalho principal é aquele que provê os meios de 
vida. Já o estudo é responsável pelo desenvolvimento humano. São eles que 
transformam as pessoas e a sua realidade (SCHERER-WARREN, 2000). Nesse 
sentido, há um intenso investimento na educação dentro dos acampamentos, não 
financeiro, mas de conhecimento humano através de parcerias com universidades 
e capacitação constante dos professores. Assim, o Movimento Sem-Terra amplia 
sua dimensão de atuação: 
O objetivo material imediato (a terra) ‘não basta’, como dizem, deve vir 
acompanhado de lutas pelos direitos sociais (a cidadania plena) e em 
direção à construção de uma sociedade mais justa (a socialista). Para 
atingir este objetivo é que a educação, considerada como um direito 
essencial, deve se desenvolver como um processo que inclui educação 
formal (ensino fundamental) e informal (participação no movimento, 
nas mobilizações, em ações de solidariedade etc.), incluindo neste 
processo todas as gerações e gêneros (SCHERER-WARREN, 2000, p. 48).
68
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
Segundo avaliação da experiência de São Paulo pelo Banco Mundial 
em 2006 (apud CAMARGO et al., 2013), a solução gerou uma experiência 
de modernização positiva em relação ao modelo anterior, mais produtiva e 
barata. Entretanto, há muitas críticas na proposta, a primeira seria o desvio de 
função, com alta probabilidade de as organizações passarem a atuar para fi ns 
privados; segundo, que há pouca transparência na sua atuação em relação à 
disponibilidade de informações (CAMARGO et al., 2013). Isso não apenas por 
parte das organizações, como também a postura do próprio Estado.
4 AS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS
No Brasil, as Organizações Não Governamentais (as ONGs) surgem no país 
no contexto da entrada da sociedade civil de forma orgânica, quer dizer, da sua 
participação efetiva nos rumos do país através da política. Isso acontece nas últimas 
décadas do século XX, ou seja, pouco mais de 20 anos.
Entretanto, qual seria de fato o espaço ocupado pelas ONGs em relação 
à sociedade civil na atualidade? Elas atuam politicamente? “[...] no Brasil, temas 
como direitos humanos, meio ambiente e fome têm tido como porta-voz, em grande 
parte, um conjunto de ONGs, que toma a iniciativa diante do Estado, propondo 
políticas diretamente ao Poder Executivo ou pressionando o Congresso Nacional 
para aprovações de leis” (PINTO, 2006, p. 654).
Exercendo o papel de pressionar governantes, as ONGs tratam de temas 
relativos a grupos e questões não trabalhadas sistematicamente, entre outras formas 
de atuação política. Como exemplo, podemos citar a questão do meio ambiente. 
Dentro das plataformas dos partidos, recentemente a discussão surgiu, e mesmo 
assim algo ainda raso, que não compreende o problema de forma profunda.
IMPORTANT
E
É interessante pensar que quem começa com as discussões ambientais são as 
ONGs. Na Amazônia, não se sabe ao certo o número de ONGs que atuam. As informações 
variam de 1.000 a 100.000. Abaixo, seguem os símbolos de algumas delas.
TÓPICO 4 | RESPONSABILIDADE SOCIAL: SETOR PÚBLICO, SETOR PRIVADO E TERCEIRO SETOR
69
Outros temas relativos a grupos minoritários no país, como sobre 
as mulheres, direitos homoafetivos, indígenas, moradores de rua, são 
sistematicamente trabalhados e elaborados pelas ONGs. É bom esclarecer que 
as vozes desses grupos não são substituídas pelas ONGs, mas elas servem como 
intermediadoras na realização de projetos e sistematização das demandas, já que 
possuem uma preocupação maior em termos de organização que os movimentos 
sociais (PINTO, 2006). Dentro das ONGs também atuam indivíduos pertencentes 
a essas minorias, não existe uma fronteira, mas uma integração.
No que concerne às formas como as ONGs se movem no espaço 
público, vale chamar a atenção para o potencial de construção de 
redes, abrangendo os espaços locais, regionais e globais, como também 
as potencialidades de incluir, nessas redes, desde organizações 
internacionais, como as do sistema ONU e fundações financiadoras, 
até grupos semimarginalizados em bairros da periferia das grandes 
cidades. A noção de rede em relação às ONGs pode ser pensada de duas 
formas: uma é a rede entre ONGs incluindo também os movimentos 
sociais, na qual cada organização é ponto de transmissãopara outras, 
maiores ou menores, locais ou globais. Outra forma de pensar a rede é 
como um espaço tridimensional onde as ONGs funcionam não apenas 
como pontos de transmissão, mas como pontos nodais, que acumulam 
e distribuem informações, acumulam poder, credenciam-se como 
representantes fazendo a ligação entre o Estado e a sociedade em geral 
(PINTO, 2006, p. 658).
Dessa forma, as ONGs adquirem poder, conseguem estabelecer pontes 
entre diferentes grupos. Por um lado, isso é positivo, pois elas conseguem fazer 
ressoar as vozes daqueles que pouco seriam ouvidos e colocar suas demandas aos 
governos. Por outro lado, esse poder pode ser perigoso, quando as populações 
apoiadas por essas ONGs passam a depender de sua atuação, ou seja, as ONGs 
podem desenvolver territórios de domínio, não estimulando a prática da cidadania 
e a busca dos direitos por si mesmo, mas uma dependência de sua atuação.
O fato é que as ONGs possuem na realidade brasileira contemporânea 
uma atuação política real e que conseguem pressionar o governo por uma 
atuação mais social. O espaço significa uma atuação política potencial, mas não 
existem limites das ações. Elas “não podem ser vistas de maneira simplista, 
como substitutas de partidos políticos, do Estado ou mesmo dos movimentos 
sociais. Suas ações têm limites, entre eles o fato de serem fragmentadas, atingirem 
o conjunto da sociedade de forma limitada e dependerem de financiamentos 
pontuais” (PINTO, 2006, p. 667).
DICAS
O diretor Sergio Bianchi desenvolve uma crítica sobre a atuação das ONGs no 
Brasil. Busque e assista!
70
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
O que se espera de uma sociedade que se vê desafiada pelos seus 
indivíduos é que ela seja capaz de:
• orientar as pessoas e os recursos materiais e financeiros para a promoção 
humana;
• manter uma atitude crítica frente às propostas políticas vigentes;
• vivenciar o espírito de partilha e ajuda mútua na comunidade educativa;
• realizar campanhas comunitárias diante das situações emergentes.
A participação ativa e efetiva das pessoas na vida política e social é um 
grande desafio, pois tem como objetivo externar a cidadania que todos almejam. 
O que ainda vemos é que conceitos como cidadania, os direitos e deveres do 
cidadão, algo que deveria estar entranhado em nossas vidas, não são tão 
conhecidos, muito menos praticados em nossa sociedade. São só conceitos.
71
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:
• Tradicionalmente, as organizações são pensadas e divididas a partir de uma 
lógica política administrativa que dirige a organização, partindo de dois 
pontos: de ordem pública, ou de ordem privada.
• O surgimento das Organizações Sociais acontece no contexto de crise do 
último quarto do século XX.
• Exercendo um papel de pressão, as ONGs tratam de temas relativos a grupos 
e questões não trabalhadas sistematicamente, entre outras formas de atuação 
política.
• A participação ativa e efetiva das pessoas na vida política e social é um grande 
desafio, como forma de externar a cidadania que todos almejam.
72
AUTOATIVIDADE
I- A charge mostra a violação do direito à vida por conta das perseguições e 
mortes ocorridas.
II- Segundo a charge, os direitos humanos são respeitados universalmente em 
todos os períodos da história.
III- A charge mostra um contexto histórico de grandes liberdades para o 
indivíduo se expressar, apesar das perseguições narradas.
IV- A charge mostra a violação do direito à liberdade, tanto pela perseguição 
aos indivíduos como pela censura da imprensa e intelectuais.
FONTE: Disponível em: <http://historianovest.blogspot.com/2010/07/charges-
declaracao-dos-direitos-humanos.html>. Acesso em: 3 fev. 2014
Agora, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença IV está correta.
b) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas.
1 Os direitos humanos são compartilhados por todos os 
indivíduos, contudo, a charge mostra a violação deles em um 
período específico da história brasileira: a ditadura militar. 
A personagem, através de uma fala irônica, narra fatos que 
aconteceram na época. A partir desse contexto, analise as sentenças a seguir:
73
2 Com os protestos de junho de 2013, veio à tona a insatisfação 
popular quanto aos rumos como a política no Brasil está sendo 
gestada. Entretanto, deve-se ter conhecimento dos espaços e 
atores políticos para além do governo que aproximam a sociedade 
civil de uma ação mais contundente. Sobre o tema, associe os itens, utilizando 
o código a seguir:
I- Conferências de Políticas Públicas.
II- Organização Social.
III- Organização Não Governamental (ONG).
( ) Cuidam de grande parte de temas referentes às minorias, ou seja, os 
indígenas, as mulheres, os homoafetivos.
( ) Debatem políticas públicas, sendo imprescindível a participação popular.
( ) Realizam a gestão de espaços públicos, como hospitais, museus.
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) III - I - II.
b) ( ) I - II - III.
c) ( ) II - III - I.
d) ( ) III - II - I.
74
75
TÓPICO 5
CULTURA E ARTE
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
A cultura e a arte são áreas que interagem entre si e com as demais áreas 
de conhecimento. Estudar, pesquisar e refletir sobre as diferentes culturas e suas 
manifestações artísticas possibilita a compreensão da vida e das relações entre os 
sujeitos no meio social. A cultura, assim como a arte, é dinâmica, vai mudando 
conforme o tempo e o espaço. A cultura e a arte devem ser estudadas a partir de 
três concepções: erudita, popular e de massa. 
A cultura erudita é aquela proveniente de estudos, pesquisas e que 
geralmente está associada às instituições acadêmicas, por se tratar de um processo 
de legitimação. A arte está associada a esta área, pois envolve a compreensão de 
conhecimentos artísticos, históricos, filosóficos e sociais. Assim, a arte erudita, 
também conhecida como a de vanguarda, é concebida conhecendo lugares como 
galerias de arte, exposições e museus, bem como toda a estrutura e dinâmica de 
mediação que ocorrem entre os locais e o espectador, propondo humanização dos 
sentidos.
Já a cultura de massa surge com as novas tecnologias e com os meios 
de comunicação, como: jornais, televisão, rádio, cinema, música, internet, entre 
outros. A cultura de massa tem relação com o consumismo, devido à influência 
que a mídia exerce. A arte está relacionada à cultura de massa, devido à tecnologia 
utilizada e à grande quantidade de signos criados. 
E, por último, a cultura popular, que está relacionada ao que pertence à 
maioria do povo e que não é ensinada necessariamente em espaços formais de 
educação. É a definição de várias áreas de conhecimento, como: folclore, dança, 
música, festa, literatura, arte, artesanato etc. O conhecimento da cultura popular 
é passado de geração a geração. 
Desta forma, caro acadêmico, convidamos você para primeiramente 
compreender a cultura e a arte e como essas áreas de conhecimento interagem 
com o meio social.
76
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
2 CULTURA
A cultura é um aspecto social mutante em constante questionamento, pois 
é considerada por muitos pesquisadores como representação da intervenção da 
sociedade nos ambientes, sendo por isso difícil de conceituar. Para José Luiz dos 
Santos (2006, p. 45): 
Cultura é uma construção histórica, seja como concepção, seja como 
dimensão do processo social. Ou seja, a cultura não é algo natural, 
não é decorrência de leis físicas e biológicas. Ao contrário, a cultura é 
produto coletivo da vida humana. Isso se aplica não apenas à percepção 
da cultura, mas também à sua relevância, à importância que passa 
a ter. Aplica-se ao conteúdo de cada cultura particular, produto da 
história de cada sociedade. Cultura é um território bem atual das lutas 
sociais por um destino melhor. É uma realidade e uma concepção que 
precisam ser apropriadas em favor do progresso social e da liberdade, 
em favorda luta contra a exploração de uma parte da sociedade por 
outra, em favor da superação da opressão e da desigualdade. 
Nesta perspectiva, a cultura é avaliada como um movimento humano 
que acontece a partir da convivência em grupo e da interação social. Portanto, 
é necessário percebermos as especificidades de cada grupo cultural, para assim 
observar e descobrir os signos existentes em busca da identidade de cada povo. 
São os valores culturais que identificam um povo, uma comunidade e 
cada pessoa. É através da cultura que se pode observar e caracterizar a história de 
vida, os costumes, as crenças e os hábitos de um determinado grupo social. 
José Luiz dos Santos (2006, p. 7) descreve que a cultura é uma preocupação 
do mundo atual, buscando “entender os caminhos que conduziram os grupos 
humanos às suas relações presentes e suas perspectivas de futuro”. O autor, 
quando relata cultura e diversidade, descreve que:
O desenvolvimento da humanidade está marcado por contatos e 
conflitos entre modos diferentes de organizar a vida social, de se 
apropriar dos recursos naturais e transformá-los, de conceber a realidade 
e expressá-la. A história registra com abundância as transformações por 
que passam as culturas, mais frequentemente por ambos os motivos. 
Por isso, ao discutirmos sobre cultura, temos sempre em mente a 
humanidade em toda a sua riqueza e multiplicidade de formas de 
existência. São complexas as realidades dos agrupamentos humanos e 
as características que os unem e diferenciam, e a cultura as expressa.
Nesse sentido, Eduardo David de Oliveira (2006, p. 155) se manifesta 
dizendo que “o homem é um ser cultural. A cultura é construída, forjada de 
acordo com os acontecimentos da história e criada a partir das contingências, 
sempre muito singulares, das comunidades humanas”. 
A compreensão de cultura é extremamente complexa, pois recebe novas 
definições com o passar do tempo, mas a partir da segunda metade do século XX cria-
se uma concepção ampliada de cultura, como descreve Marilena Chauí (2008, p. 57): 
TÓPICO 5 | CULTURA E ARTE
77
A partir de então, o termo cultura passa a ter uma abrangência que 
não possuía antes, sendo agora entendida como produção e criação da 
linguagem, da religião, da sexualidade, dos instrumentos e das formas 
do trabalho, das formas da habitação, do vestuário e da culinária, das 
expressões de lazer, da música, da dança, dos sistemas de relações 
sociais, particularmente os sistemas de parentesco ou a estrutura da 
família, das relações de poder, da guerra e da paz, da noção de vida 
e morte. A cultura passa a ser compreendida como o campo no qual 
os sujeitos humanos elaboram símbolos e signos, instituem as práticas 
e os valores, definem para si próprios o possível e o impossível, o 
sentido da linha do tempo (passado, presente e futuro), as diferenças 
no interior do espaço (o sentido do próximo e do distante, do grande 
e do pequeno, do visível e do invisível), os valores como o verdadeiro 
e o falso, o belo e o feio, o justo e o injusto, instauram a ideia de lei, e, 
portanto, do permitido e do proibido, determinam o sentido da vida e 
da morte e das relações entre o sagrado e o profano.
Na perspectiva de cultura como aprendizagem de saberes cotidianos é 
fundamental que se traga a posição de Waldenyr Caldas (1986, p. 13), ao dizer 
que o pensamento humano cria o modo de vida, os costumes e as regras, dizendo 
que a cultura:
Quando aplicada ao nosso estilo de vida, ao convívio social, nada tem 
a ver com a leitura de um livro ou aprender a tocar um instrumento, 
por exemplo. Na realidade, o trabalho do antropólogo, estudioso da 
cultura humana, começa pela investigação de culturas, ou seja, pelo 
modo de vida, padrões de comportamento, sistema de crenças, que 
são características de cada sociedade. Noutras palavras, pode-se 
dizer que nenhuma sociedade, nenhum povo, seja ele atrasado ou 
desenvolvido, primitivo ou civilizado, jamais agirá de forma idêntica 
aos demais. Poderá haver, isto sim, algumas semelhanças.
A cultura pode ser entendida como importante agente para debater o estar 
e ser no mundo, que é entendido como um movimento que está intimamente 
ligado a tudo e a todos os aspectos sociais, culturais, históricos e filosóficos. 
Segundo José Luiz dos Santos (2006, p. 8), “cada realidade cultural tem sua lógica 
interna, que devemos conhecer para que façam sentido suas práticas, costumes, 
concepções e as transformações pelas quais passam”.
AUTOATIVIDADE
Analise e responda esta questão da prova ENADE 2007:
Jornal do Brasil, 3 ago. 2005. 
78
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
Tendo em vista a construção da ideia de nação no Brasil, o argumento da 
personagem expressa:
a) ( ) A afirmação da identidade regional. 
b) ( ) A fragilização do multiculturalismo global. 
b) ( ) O ressurgimento do fundamentalismo local. 
d) ( ) O esfacelamento da unidade do território nacional. 
e) ( ) O fortalecimento do separatismo estadual.
Cada povo, cada região tem suas especificidades culturais que compreendem 
a sua forma de pensar e de agir, evidenciando a diversidade cultural existente. A 
partir da diversidade cultural compreende-se a identidade cultural de cada povo. 
Para Oliveira (2006, p. 84): “a identidade se constrói com relação à alteridade. 
Com aquilo que não sou eu. É diante da diferença do outro que a minha diferença 
aparece”. Diferentes nações, etnias, identidades regionais, comunidades ou outros 
tipos de grupos sociais organizam e dão sentido à sua existência. 
O Brasil, por exemplo, apresenta uma diversidade cultural ampla, pois 
é resultado de uma miscigenação étnica e cultural, principalmente dos povos 
indígenas, africanos e europeus. Esta miscigenação se dá devido ao processo 
histórico que ocorreu no Brasil.
Assim, a educação no Brasil estabeleceu, nas diretrizes e bases da educação 
nacional, a obrigatoriedade do estudo da história e cultura afro-brasileira e 
indígena no currículo escolar da educação básica. A lei tem como propósito 
o conhecimento desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da 
África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a 
cultura negra e indígena brasileira, o negro e o índio na formação da sociedade 
nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, 
pertinentes à história do Brasil. 
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), em seu documento, 
também descrevem sobre Pluralidade Cultural, explicando que o estudo das 
diferentes culturas deve contribuir para a formação de uma nova mentalidade, 
onde toda forma de discriminação e exclusão seja superada, proporcionando ao 
povo brasileiro “uma vivência plena de sua cidadania” (BRASIL, 1997, p. 13). 
Tal perspectiva vem ao encontro da necessidade de ampliar o conhecimento 
cultural, com o propósito de banir aspectos de enxergar apenas a sua cultura 
específica. A partir da concepção de que o ser humano apenas considera o seu 
modo de vida como o “mais correto” e “melhor”, assim, ele age em uma lógica 
do etnocentrismo. De acordo com Meneses (1999, p. 13):
Etnocentrismo é um preconceito que cada sociedade ou cada cultura 
produz, ao mesmo tempo em que procura incutir, em seus membros, 
normas e valores peculiares. Se sua maneira de ser e proceder é a 
certa, então as outras estão erradas, e as sociedades que as adotam 
TÓPICO 5 | CULTURA E ARTE
79
constituem ‘aberrações’. Assim, o etnocentrismo julga os outros povos 
e culturas pelos padrões da própria sociedade, que servem para aferir 
até que ponto são corretos e humanos os costumes alheios. Desse 
modo, a identificação de um indivíduo com sua sociedade induz à 
rejeição das outras.
Por meio do conhecimento da diversidade cultural é possível distanciar 
pensamentos etnocêntricos que promovem o preconceito. Entende-se que 
conhecendo a cultura do outro em um contexto de diversidade pode-se identificar 
e valorizar cada movimento cultural de forma a promover uma vivência plena 
com respeito e éticasocial. Entende-se que conhecendo a cultura do outro em um 
contexto de diversidade se pode identificar e valorizar cada movimento cultural, 
de forma a distanciar preconceitos e desigualdades.
3 ARTE
“A ciência descreve as coisas como são; a arte, como são sentidas,
como se sente que são”. (Fernando Pessoa, 1986)
Desde a pré-história o ser humano está cercado de fenômenos artísticos, 
como desenho, gravura, pintura, dança, escultura, música, literatura, entre 
outros. Atualmente, percebe-se uma grande variedade de práticas artísticas que 
permeiam o universo cultural, que circundam entre as várias linguagens artísticas, 
como: artes visuais, artes cênicas, dança e música. Ao refletir sobre a arte, alguns 
questionamentos surgem: O que é arte? Que tipo de arte conhecemos? A arte tem 
alguma função? 
O homem primitivo, por exemplo, precisou criar objetos que 
correspondessem às suas necessidades de sobrevivência, representando por 
meio de desenhos nas cavernas os seus anseios para suas caçadas. A partir da 
concepção de arte primitiva, Marilena Chauí (2008, p. 403) questiona sobre o 
“que dizem os desenhos nas paredes da caverna”. A autora afirma que “o mundo 
é visível, e para ser visto é que o artista dá a ver o mundo”. Com isso, a arte 
inicialmente teve aspecto de utilidade, mas com o passar do tempo, os utensílios 
e as representações começaram a ser criados pelo prazer em si, desvinculando 
da ideia unicamente de utilidade. Assim, a arte surge com novas compreensões, 
como cita Marilena Chauí (2003, p. 406-407):
A distinção entre artes da utilidade e artes da beleza acarretou uma 
separação entre técnica (o útil) e arte (o belo), levando à imagem da 
arte como ação individual espontânea, vinda da sensibilidade e da 
fantasia do artista como gênio criador. Enquanto o técnico é visto 
como aplicador de regras e receitas vindas da tradição ou da ciência, 
o artista é visto como dotado de inspiração, entendida como uma 
espécie de iluminação interior e espiritual misteriosa, que leva o gênio 
a criar a obra.
O belo para a arte passa a ser concebido pela experiência artística. A partir da 
abordagem do belo ou juízo do gosto, a arte também é estudada por uma disciplina 
80
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
filosófica que é conhecida como estética. A palavra estética é a tradução da palavra 
grega aesthesis, que significa conhecimento sensorial, experiência e sensibilidade. 
A estética estuda as sensações que a arte provoca no ser humano, desde sensações 
boas até sensações que causam desconforto, inquietude, aflição etc. 
 
A partir das manifestações artísticas criadas desde a pré-história até 
a contemporaneidade, percebe-se que diferentes povos culturais criam suas 
particularidades artísticas, como é o caso, por exemplo, das culturas indígenas. Os 
povos indígenas, devido aos saberes ancestrais, se apropriam de elementos da sua 
etnia para conceber o belo por meio das manifestações culturais. A pintura corporal 
dos povos indígenas tem representação ritualística, desta forma, cada sociedade 
assume um significado artístico diferente, como é o caso da pintura corporal na 
atualidade, que é representada pela tatuagem, e esta tem apenas o significado de 
decorar. 
A arte tem inúmeras possibilidades de definição, pois se compreende como 
uma manifestação dinâmica, onde são atribuídos conceitos no tempo e espaço. 
A arte é muitas coisas. Uma das coisas que a arte é, parece, é uma 
transformação simbólica do mundo. Quer dizer: o artista cria um 
mundo outro – mais bonito ou mais intenso ou mais significativo, ou 
mais ordenado – por cima da realidade imediata [...]. Naturalmente, 
esse mundo do outro que o artista cria ou inventa nasce de sua cultura, 
de sua experiência de vida, das ideias que ele tem na cabeça, enfim, de 
sua visão de mundo [...] (GULLAR, 1982 apud CHAUÍ, 2003, p. 271).
A palavra arte deriva do latim ars, artis, que significa profissão ou 
habilidade natural ou adquirida. Também corresponde ao termo grego tékhne, 
“técnica”, que significa “toda atividade humana submetida a regras em vista da 
fabricação de alguma coisa” (CHAUÍ, 2003, p. 275). Este conceito também se tem 
na cultura greco-romana, que significava ofício. Assim, a primeira definição da 
arte estava ligada ao propósito de fazer ou produzir. A segunda definição de arte 
é compreendida como conhecimento, visão ou contemplação, isto significa que a 
obra pode retratar aspectos históricos, sociais e educativos. Já a terceira definição 
está ligada à arte como expressão, que é uma experiência com o sensível. 
A partir dessas abordagens, percebe-se que é difícil um conceito definitivo 
para responder o que é arte, pois a arte se transforma, se modifica de acordo com 
o contexto cultural no qual está inserida. 
A obra Mona Lisa, criada pelo artista do Renascimento Leonardo da Vinci, 
é tida como um exemplo de obra de arte que é conhecida por grande parte da 
população mundial. Seu misterioso sorriso é pesquisado e admirado por muitos.
TÓPICO 5 | CULTURA E ARTE
81
FIGURA 8 – LEONARDO DA VINCI. MONA LISA. 1503–1507
Óleo sobre madeira de álamo, color. 77 cm x 53,5 cm. Museu do Louvre, Paris.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Mona_Lisa#/media/
File:Mona_Lisa,_by_Leonardo_da_Vinci,_from_C2RMF_retouched.jpg>. Acesso 
em: 20 maio 2015.
Séculos depois de Leonardo da Vinci, o artista do movimento artístico 
Dadaísmo, Marcel Duchamp, atuou como um dos maiores expoentes da 
vanguarda artística do século XX. Duchamp reproduziu a obra original Mona 
Lisa em cartões postais, desenhando na imagem um bigode e escrevendo embaixo 
da mesma: L.H.O.O.Q. A obra do artista Duchamp não se trata de uma ofensa à 
obra original, mas uma brincadeira irônica com reverência aos antigos mestres da 
pintura. 
82
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
FIGURA 9 – MARCEL DUCHAMP. MONA LISA (L.H.O.O.Q). 1919. 
READY-MADE CERTIFICADO
Lápis sobre produção fotográfica. Color; 17,8 cm x 12 cm. Coleção privada.
FONTE: Disponível em: <http://museuhoje.com/app/v1/br/arte/55-
marcelduchamp>. Acesso em: 20 maio 2015.
Foi com o princípio de repensar o sentido de arte do seu tempo que 
Duchamp colocou em questão o que seria arte. Isso leva a pensar que conceituar 
arte não é definitivo, uma vez que cada um pode conceber a obra de uma forma. 
Chauí (2003, p. 403) descreve que “a obra de arte dá a ver, a ouvir, a sentir, 
a pensar, a dizer. Nela e por ela, a realidade se revela como se jamais a tivéssemos 
visto, ouvido, sentido, pensado ou dito”. Assim, para a autora (2003, p. 407), as 
artes na atualidade tornam-se:
Trabalho da expressão e mostram que, desde que surgiram pela 
primeira vez, foram inseparáveis da ciência e da técnica. Assim, por 
exemplo, a pintura e a arquitetura da Renascença são incompreensíveis 
sem a matemática e a teoria da harmonia e das proporções; a pintura 
impressionista, incompreensível sem a física e a óptica, isto é, sem a 
teoria das cores etc. A novidade está no fato de que, agora, as artes 
não ocultam essas relações, os artistas se referem explicitamente a 
elas e buscam nas ciências e nas técnicas respostas e soluções para 
problemas artísticos.
TÓPICO 5 | CULTURA E ARTE
83
Nesta abordagem, a arte parte para a construção de um sentido novo (a 
obra) e o institui como parte da cultura. Segundo Chauí (2008, p. 329), “o artista 
é um ser social que busca exprimir seu modo de estar no mundo na companhia 
dos outros seres humanos, reflete sobre a sociedade, volta-se para ela, seja para 
criticá-la, seja para afirmá-la, seja para superá-la”.
A obra Guernica, pintada pelo artista do Cubismo, Pablo Picasso, propaga 
o sentido da arte enquanto expressão, pois revela na obra o sentido da dor, do 
belo, do terrível, do sublime, ou seja, mostra por meio da arte o sentido da cultura 
e da história na vida em sociedade. Essa obra retratou o bombardeio que a cidade 
espanhola Guernica sofreu por aviões alemães.
FIGURA 10 – PABLO PICASSO. GUERNICA. 1937
Pintura a óleo. 349 cm x 776 cm. Museu NacionalCentro de Arte Reina Sofia.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Guernica_%28quadro%29#/media/
File:Mural_del_Gernika.jpg>. Acesso em: 20 maio 2015.
Nota-se que a arte é uma ciência do conhecimento que representa um 
elo entre o passado, o presente e o futuro, pois demonstra o pensar, o agir e 
todos os aspectos culturais existentes desde o homem primitivo até o homem 
contemporâneo. 
A arte pertence à cultura erudita, que são as artes desenvolvidas a partir 
de um conhecimento acadêmico, são aquelas que estão dentro de lugares como 
galerias de arte e museus, mas também, a arte faz parte da cultura popular, e 
este conhecimento popular é reconhecido como patrimônio cultural. Para Suíse 
Monteiro Leon Bordest:
84
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
O patrimônio cultural de um povo é formado pelo conjunto dos saberes, 
fazeres, expressões, práticas e seus produtos, que remetem à história, 
à memória e à identidade de um povo. A preservação do patrimônio 
cultural significa, principalmente, cuidar (reproduzir sempre e os 
manter vivos) dos bens aos quais esses valores estão associados, ou 
seja, cuidar de bens representativos da história e da cultura de um 
lugar ou de um grupo social. A Constituição brasileira de 1988, em 
seus artigos 215 e 216, ampliou a noção de patrimônio cultural ao 
reconhecer a existência de bens culturais de natureza material e 
imaterial e, também, ao estabelecer outras formas de preservação – 
como o registro e o inventário – além do tombamento, instituído pelo 
Decreto nº 25, de 30 de novembro de 1937, que determina especialmente 
a proteção de edificações, paisagens e conjuntos históricos urbanos. 
O patrimônio imaterial cuida da preservação dos bens culturais de 
natureza imaterial, como os ofícios e saberes artesanais, as maneiras 
de pescar, caçar, plantar, cultivar e colher, de utilizar plantas como 
alimentos e remédios, de construir moradias, mas também manifestos 
através das danças e músicas, incluindo também os modos de vestir 
e falar, os rituais e festas religiosas e populares, as relações religiosas, 
sociais e familiares que revelam os múltiplos aspectos da cultura 
cotidiana de uma comunidade (apud IPHAN/MinC, 2012).
Nos dias atuais a arte contemporânea está associada à indústria cultural, 
apropriando-se da tecnologia e das interferências da mídia, fazendo parte 
da cultura de massa. Os meios de comunicação, como a televisão, fotografia, 
cinema, internet, rádio e redes sociais fazem com que o conhecimento artístico 
seja divulgado com maior facilidade e rapidez, de forma acessível a grande parte 
da população.
A arte na atualidade ou arte contemporânea, que surgiu mais 
intensamente a partir de 1960, busca romper com aspectos tradicionais da arte. 
A arte contemporânea passa a ser pensada como integrante da vida e do mundo, 
em que é concebida em lugares formais e informais, buscando a participação do 
público. Tem como característica a apropriação de materiais e objetos encontrados 
no cotidiano. Neste sentido, a obra tem um tempo de duração determinado. 
A artista canadense Jana Sterbak fez uma exposição, em 1987, causando 
polêmica por mostrar que o corpo humano, por mais bem vestido e arrumado 
que esteja, não passa de carne e osso.
TÓPICO 5 | CULTURA E ARTE
85
FIGURA 11 – JANA STERBAK, VANITAS. VESTIDO DE CARNE PARA ALBINO 
ANORÉXICO.1987
FONTE: Disponível em: <http://performatus.net/jana-sterbak/>. Acesso em: 
20 maio 2015.
A arte contemporânea proporcionou aos artistas maior liberdade de criação, 
sendo que ampliou o conceito das linguagens artísticas do que pode ou não ser 
considerado como arte. Desta forma, podemos dizer que a arte contemporânea 
é uma arte conceitual, pois a ideia proposta pelo artista é mais importante que o 
objeto em si, valorizando a experiência que irá causar no público. Desta forma, 
pode-se pensar a arte na atualidade como uma área do conhecimento em uma 
relação com a natureza, com a realidade urbana e com o mundo tecnológico. Com 
isso surgem diferentes linguagens contemporâneas que se articulam, como a 
pintura, gravura, escultura, desempenho, happening, instalação, assemblage, ready-
made, fotografia, literatura, video-art, body-art, land-art etc.
86
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você aprendeu que:
• Estudar, pesquisar e refletir sobre as diferentes culturas e suas manifestações 
artísticas possibilita a compreensão da vida e das relações entre os sujeitos no 
meio social. A cultura e a arte devem ser estudadas a partir de três concepções: 
erudita, popular e de massa.
• A cultura, assim como a arte, é dinâmica, vai mudando conforme o tempo 
e espaço, e são duas áreas de conhecimento de difícil definição, porém elas 
interagem entre si e com as demais áreas de conhecimento.
• A cultura é considerada como um movimento humano decorrente da 
convivência em grupo e da interação social. Portanto, é necessária a percepção 
das especificidades de cada grupo cultural, para com elas observar e descobrir 
os signos existentes em busca da identidade de cada povo. 
• É por meio do conhecimento e da valorização da cultura que se pode observar 
e caracterizar a história de vida, os costumes, as crenças e os hábitos de um 
determinado grupo social a fim de distanciar preconceitos e desigualdades.
• A arte tem sua definição a partir de três concepções: do fazer, do conhecimento 
e da experiência com o sensível. A arte pode ser representada por meio das 
artes visuais, artes cênicas, música e dança.
87
1 (ENADE – 2008, questão 1) O filósofo alemão Friedrich 
Nietzsche (1844-1900), talvez o pensador moderno mais incômodo 
e provocativo, influenciou várias gerações e movimentos 
artísticos. O Expressionismo, que teve forte influência desse 
filósofo, contribuiu para o pensamento contrário ao racionalismo moderno e 
ao trabalho mecânico através do embate entre a razão e a fantasia. As obras 
desse movimento deixam de priorizar o padrão de beleza tradicional para 
enfocar a instabilidade da vida, marcada por angústia, dor, inadequação do 
artista diante da realidade. Das obras a seguir, a que reflete esse enfoque 
artístico é: 
AUTOATIVIDADE
A B C
Homem idoso na poltrona. 
Rembrandt van Rijn – Louvre, 
Paris. 
Disponível em: <http://www.
allposters.com>.
Figura e borboleta. Milton 
Dacosta.
Disponível em: <http://www.
unesp.br>.
O grito. Edvard Munch, Oslo. 
Disponível em: <http://
members.cox.net>.
C D
Menino mordido por um lagarto. 
Michelangelo Merisi (Caravaggio), 
National Gallery, Londres.
Disponível em: <http://vr.theatre.
ntu.edu.tw>.
Abaporu. Tarsila do Amaral. 
Disponível em: <http://tarsilado 
amaral.com.br>.
88
89
UNIDADE 2
POLÍTICA, TECNOLOGIA 
E GLOBALIZAÇÃO: OS 
IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade você será capaz de:
• compreender os fundamentos e concepções sobre Ciência, Tecnologia e Socie-
dade;
• ampliar a percepção acerca das relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade;
• conceber as tecnologias da informação e comunicação como fator determinante 
no advento da sociedade da informação;
• contribuir para o debate sobre a sociedade da informação;
• compreender as práticas de inovação, as comunidades virtuais e seus impactos 
e conhecer novidades tecnológicas existentes;
• compreender o processo político, social e histórico contemporâneo;
• refletir sobre relações de trabalho.
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE
TÓPICO 2 – TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC)
TÓPICO 3 – AVANÇOS TECNOLÓGICOS
TÓPICO 4 – GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA INTERNACIONAL
TÓPICO 5 – RELAÇÕES DE TRABALHO
90
91
TÓPICO 1
CIÊNCIA, TECNOLOGIA, 
SOCIEDADE E AMBIENTE
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, para adentrarmos nos assuntos relacionados à Ciência, 
Tecnologia e Sociedade é necessário entendermos os fundamentos de cada tema,e, somente então, relacionarmos com o todo. Desta forma, convidamos você a 
discutir ciência sob diferentes óticas, analisar definições e pensamentos acerca da 
tecnologia e interpretar a sociedade. 
Abordaremos algumas relações sobre ciência e tecnologia, tratando 
do contrato de neutralidade dessa parceria; trataremos ainda do processo de 
análise da evolução da sociedade sob algumas perspectivas; para, assim, analisar 
a entrada da participação da sociedade nas discussões da já vencida parceria 
ciência e tecnologia. Somente então abordaremos a nova formatação da CTS 
(Ciência, Tecnologia e Sociedade) com embasamento nas discussões levantadas 
pelo trabalho dos pesquisadores Milton Santos e Wiebe Bijker. E para finalizar, 
algumas considerações acerca de modernidade, pós-modernidade e globalização.
2 CIÊNCIA
Entender eventos, situações ou fatos novos é sempre uma tarefa fácil para 
você? Se fosse designado para a incrível tarefa de defender um determinado 
episódio, como você procederia? Essas indagações fazem-se necessárias para que 
ampliemos nossos horizontes sobre o fato de que as pessoas constroem formas 
próprias para compreender a realidade, seja observando pelo viés cultural, 
histórico, geográfico, ambiental. 
A mitologia, a arte, a religião e até mesmo a ciência são observadas quando 
o foco é explicar as situações que cercam os seres humanos. Você, com certeza, 
já deve ter ouvido sobre Isaac Newton! Não se recorda? E sobre Isaac Newton 
e a história da maçã que caiu sobre a cabeça dele, originando assim a teoria da 
gravidade? Ficou mais fácil, não? Pois bem, é desta forma que a sociedade explica 
situações do cotidiano: apoiando-se em diferentes pensamentos para defender o 
que acontece ao seu redor. 
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
92
Quando contrapomos a ciência natural à ciência humana podemos 
perceber o jogo de conflitos, pois, conforme Omnés (1996), a ciência é capaz de 
explicar a realidade, bastando para isso princípios, regulamentos e normas. De 
qualquer maneira, tais conflitos são indissociáveis da epistemologia e da política, 
uma vez que ocorre a tentativa de autoridade de uma ciência sobre a outra. Desta 
forma, a realidade é comumente explicada pela ciência. 
A ciência apresenta características que a fazem singular; é cumulativa, 
ou seja, não se costuma descartar informações ou dados obtidos; é computável, 
permite o devido registro de tais informações ou dados, e, além disso, é 
irrevogável. Segundo Abbagnano (2000), além de utilizar sua própria linguagem, 
é baseada em métodos e fundamentos epistemológicos, o que faz com que seja 
clara e objetiva. 
Diversos são os métodos utilizados para explicar o cotidiano através da 
ciência. Severino (2007, p. 102) nos diz que um método científico pode ser “um 
conjunto de procedimentos lógicos e de técnicas operacionais que permitem o 
acesso às relações causais constantes entre os fenômenos”. Já para Omnés (1996, 
p. 272), é “um conjunto de regras práticas que permitem garantir a qualidade da 
correspondência entre a representação científica e a realidade”. 
Nessa mesma perspectiva, Omnés (1996) também propõe que o método deve 
cumprir ainda algumas etapas que visam diminuir a distância entre a cientificidade 
do conhecimento e a proposta de explicação do mesmo, que seriam: 
FIGURA 12 – ETAPAS PARA EXPLICAÇÃO DO COTIDIANO ATRAVÉS DA CIÊNCIA
FONTE: Adaptado de Omnés (1996)
• EMPÍRICA OU EXPLORATÓRIA
• análise dos fatos e determinação de regras baseadas na experiência.
Etapa 1
Etapa 2
Etapa 3
Etapa 4
• CONCEPÇÃO OU PERCEPÇÃO
• apropriação de conceitos e criação de princípios.
• ELABORAÇÃO
• indicação das consequências dos princípios.
• CONSTATAÇÃO OU COMPROVAÇÃO 
• aprovação ou não das hipóteses propostas.
TÓPICO 1 | CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE
93
Faz-se de suma importância a compreensão sobre ciência e o conhecimento 
gerado por ela. Porém, não se pode deixar de lembrar que o conhecimento 
científico avança pelo campo da prática e não só pelo patamar teórico. 
3 TECNOLOGIA
O que surge no seu pensamento ao ouvir a palavra tecnologia? Porventura 
seriam máquinas sofisticadas, ou, quem sabe, computadores de última geração? 
Exatamente, esses são sinônimos de tecnologia, mas convidamos você a aprofundar 
seus conhecimentos ainda mais. Veja, pelo menos, outras três vertentes possíveis 
para a utilização dessa palavra, segundo Ferreira (2004): 
1. Linguagem peculiar a um ramo determinado do conhecimento, teórico ou 
prático. 
2. Conjunto dos processos especiais relativos a uma determinada arte ou 
indústria. 
3. Aplicação dos conhecimentos científicos à produção em geral.
Por mais simplificadas que sejam estas três conceituações, elas permitem 
a análise inicial acerca da discussão sobre tecnologia. 
Vamos iniciar falando sobre o conjunto de processos utilizados em 
uma determinada área, neste estamos falando de teoria e prática aliadas a fim 
de atingir um objetivo. Isso nos faz inferir que o conhecimento científico não 
ocorre somente na academia, mas também no ambiente de trabalho, ou seja, 
não só há produção de conhecimento científico no ambiente acadêmico, mas nas 
prestadoras de serviço, as quais testam a teoria promovida pela ciência, agora no 
campo da prática.
IMPORTANT
E
Há de se destacar uma situação relevante nas questões tecnológicas, no âmbito 
de país, a capacidade de produção de tecnologia também diferencia os países desenvolvidos 
dos em desenvolvimento.
Você consegue perceber, nessa explanação inicial, a ação do ser humano 
em tudo o que se refere à tecnologia? Normalmente, quando se fala nesse assunto, 
logo se pensa em tecnologia de ponta, sondas espaciais, nanotecnologia, enfim; 
porém, a própria transformação das peles de animais em roupas, dos elementos 
da natureza em utensílios domésticos, o uso do fogo, entre outros ao longo da 
história, são exemplos de tecnologia. E, sim, a tecnologia está presente desde 
muito cedo na vida do ser humano.
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
94
Maior complexidade há quando analisamos a tecnologia do ponto de vista 
técnico, pois incluímos o campo de atuação da atividade humana e aumentamos 
os dados acerca do que vem a ser tecnologia. Como já exposto, a tecnologia 
está em todos os meios, seja científico, cultural, social; com isso, ratificamos as 
colocações de que em todas as ações humanas há técnica e, portanto, a tecnologia 
está amplamente disseminada, como preconiza Abbagnano (2000). Outrossim, é 
relacionada às implicações sobre todo esse conhecimento desenvolvido; segundo 
Dias e Silveira (2005), o uso, o aproveitamento e os resultados são de acordo com 
o objetivo para o qual foi desenvolvida e o meio em que está inserida. 
FIGURA 13 - A PRIMEIRA RODA
FONTE: Disponível em: <http://waz.com.br/blog/2013/08/26/cinco-tecno 
logias-que-mudaram-o-mundo/>. Acesso em: 15 maio 2015.
Pode-se perceber que a técnica está tão enraizada entre a natureza e o ser 
humano que, para Santos (2006), é quase impossível separá-la, pois o homem já 
não se vê mais sem o uso de tecnologia, que facilita, medeia e auxilia em muitos 
processos. Talvez possa surgir aí um fator de preocupação: substituição (em 
demasia) dos elementos naturais por processos artificiais. Fica a deixa para você 
pesquisar e analisar o que se apresenta de prós e contras nessas questões.
Agora, partimos para a análise do último item sobre tecnologia, esse 
pode ser traduzido como tecnocracia, ou seja, o uso do conhecimento científico 
nos demais meios, porém, com a divulgação exclusiva a partir do que a ciência 
e a técnica propõem como resultado. Nesse último, tal ação elimina as demais 
análises feitas a partir da concepção política, ideológica e social, o que, por sua 
vez, pode causar o determinismo tecnológico. Não se esqueça, tais ações terão 
reflexo direto nas questões relacionadas à sobreposição das ciências humanas e 
às ciências da natureza.
TÓPICO 1| CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE
95
Pelo que foi apresentado nesta breve explanação, pode-se perceber que as 
ações são interligadas e que agem como reação em cadeia. Nesse processo, faz-se 
necessário entender a sociedade como agente integrante e mediador de todos os 
processos descritos. 
4 SOCIEDADE 
Ao entender a importância de discutir a sociedade como parte integrante 
de todo o processo relacionado à tecnologia, se abre precedentes para muitas 
indagações. As discussões seriam inúmeras, pois haveria necessidade de abrir 
alinhamentos no mais amplo sentido a fim de ajustar as arestas para que se forme 
o conhecimento acerca do assunto. Seja no âmbito político, econômico, social, 
cultural, ambiental, faz-se necessário apurar o contexto em que ocorrem, a fim de 
compreender seu impacto. Lembrando que a ciência humana apresenta grande 
diversidade de pressupostos metodológicos e epistemológicos, e estes serão 
abordados, através de alguns autores e suas perspectivas, a seguir.
FIGURA 14 – PERSPECTIVAS DE TEORIAS E SEUS AUTORES SOBRE SOCIEDADE
FONTE: Adaptado de Tello e Mainardes (2012)
• Auguste Comte (1898): teoria do positivismo. Cita três etapas para a evolução 
da humanidade: teológica, metafísica e positiva. 
• Lewis Henry Morgan (1978): mudança social através da integração com a 
descoberta das forças motoras.
• Osvald Spengler (1932): propõe que as evoluções ocorrem de maneira cíclica 
e que têm período para iniciar e para encerrar.
• Karl Marx (1867): a mudança na sociedade só ocorre impulsionada pelo 
conflito entre as diferentes classes sociais.
• Edmund Husserl (1859): apregoava que a sociedade necessitava apenas 
de análise no âmbito da consciência e que o mundo exterior poderia ser 
desconsiderado nesta análise.
• Heidegger e Jean-Paul Sartre (1905): apresentaram correntes filosóficas que 
analisavam a relação entre o homem e o mundo, considerando homem um 
ser independente e, portanto, capaz de definir suas próprias ações.
A Sociedade como Organismo.
A teoria dos ciclos históricos.
O materialismo histórico e a mudança social.
Fenomenologia
Existencialismo
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
96
Pode-se perceber que cada autor defende uma linha de pensamento, ora 
específica, ora compartilhada por outro autor, porém, divergentes; no entanto, 
nas propostas de conceituação sobre sociedade, cada um nas suas perspectivas 
defende seus pontos de vista. Vejamos, por exemplo, Comte, em cuja teoria fez uso 
de leis e métodos das ciências naturais, entendendo a sociedade como um grande 
organismo vivo, interligado e interdependente. O principal conceito defendido 
por Comte era de que a sociedade evoluía apenas em uma direção, ou seja, sua 
postura frente às mudanças era conservadora. Com base nesta teoria surgiram 
outras, nesta mesma linha de pensamento, denominadas como Neopositivismo.
Por outro lado, Spengler entendia que a sociedade evoluía em ciclos 
que se encerravam em grandes períodos, citando como exemplos as sociedades 
babilônica, egípcia, romana. 
Marx, por sua vez, defendia a ideia de que a sociedade, como capitalista, 
começara a dividir as classes sociais e tal divisão proporcionava observar a 
evolução da sociedade num viés de produtividade e capitalismo.
Husserl tinha grande preocupação com a essência dos objetos e não com 
o materialismo. Desta forma, considerava mais importante a experiência da 
consciência do que os demais fatores materiais ou ideias.
Michel Foucault defendia a ideia de que o saber estava fortemente ligado 
ao poder, e propunha uma genealogia para analisar a sociedade com a ideia de que 
o saber estaria presente nas relações humanas e nas instituições disciplinadoras.
 
 Assim, diversas são as teorias acerca da evolução da sociedade, que não 
se encerram e tampouco foram todas apresentadas, mas que permitem dar-nos 
base para analisar, no contexto da sociedade atual, a implicação da sociedade 
nas práticas atuais. Acertadamente, podemos inferir que nenhum fator até 
aqui estudado age sozinho ou de maneira isolada, é no conjunto da obra que a 
sociedade evolui, a ciência melhora e a tecnologia se adapta (BAZZO, 2010).
5 SOCIEDADE ENTRE CIÊNCIA E TECNOLOGIA 
Já vimos a definição de tecnocracia, pela qual a ciência passa a ter razão 
sobre tudo e todos. Pois bem, esta visão apresenta um modelo de progresso linear, 
pelo qual o desenvolvimento social é apenas consequência do desenvolvimento 
proposto pela ciência, que, por sua vez, geraria o desenvolvimento tecnológico e, 
somente então, chegaria no desenvolvimento social.
TÓPICO 1 | CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE
97
FIGURA 15 – O PROGRESSO DO PONTO DE VISTA DA TECNOCRACIA
 FONTE: Adaptado de Auler e Delizoicov (2006)
Quando se trata do modelo linear apresentado, a perspectiva é de que 
tanto a ciência quanto a tecnologia determinam as ações e melhorias, e a sociedade, 
por sua vez, somente as recebe sem possibilidade de interação. Nesse modelo, a 
relação entre o desenvolvimento científico e o social é casual, o que é fortemente 
criticado; outro fator de desagrado nesse modelo, conforme Bourdieu (1983a), é da 
neutralidade da ciência. Segundo ele, esse fator é tido como “utopia de interesses”, 
ou seja, coloca a ciência como melhor explicação da real condição da sociedade.
Conforme pudemos observar, a tecnocracia, ou seja, a decisão de manter 
apenas uma vertente entre ciência, tecnologia e sociedade não é neutra, pois age 
sobre interesses políticos. O movimento ciência e tecnologia, ainda nos anos 1960 
e 1970, foi duramente criticado por promover, além do já exposto, problemas 
ambientais, além da aplicação da tecnologia bélica, por exemplo, nas guerras 
mundiais.
Foi a partir das décadas de 1960 e 1970 que o movimento de neutralidade 
da dupla ciência e tecnologia perdeu força e a sociedade passou a exercer seu 
papel de analisar criticamente a parceria entre as duas frentes e participar das 
discussões técnico-científicas propostas pelo, agora, grupo (ANGOTTI; AUTH, 
2001, AULER; BAZZO, 2001). A partir desse movimento, outras frentes foram 
incorporadas às discussões sobre o que seria conhecimento científico e tecnológico, 
bem como suas evoluções. 
Como fora visto, mais precisamente após a II Guerra Mundial, a parceria 
entre ciência e tecnologia passou por profundas mudanças, principalmente por 
começar a levar em conta o bem-estar social. O primeiro avanço foi no sentindo 
de considerar o desenvolvimento tecnológico um dos impulsionadores do 
progresso. A ciência, de certa maneira, também passou por mudanças, ganhando 
a cada período maior importância. Passemos, agora, a analisar algumas reações 
entre a parceria da ciência, da tecnologia e da sociedade, que se deu após essas 
grandes adequações e modificações.
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
98
6 CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE (CTSA) 
– INTERPRETAÇÕES SOBRE A NOVA FORMAÇÃO
Sob a nova ótica de formação, agora com o criticismo social, ciência e 
tecnologia passam a ter uma conotação diferente e menos isolada. O ensino de 
Ciências com enfoque ciência, tecnologia, sociedade e ambiente (CTSA) a partir de 
questões sociocientíficas (QSC), “tem por objetivo a emancipação dos sujeitos ao 
fazer com que eles problematizem a ciência e participem de seu questionamento 
público, engajando-se na construção de novas formas de vida e de relacionamento 
coletivo” (MARTINEZ, 2012, p. 55).
Para o referido autor, as questões sociocientíficas e a perspectiva CTSA 
“têm em comum o objetivo de focar o ensino de Ciências na formação para a 
cidadania dos estudantes no ensino básico e superior, bem como nos processos 
de formação cidadã mais amplos abrangidos na sociedade”.
Para contextualizar esta temática, convido-o para analisarmos, juntos, 
duas interpretações, baseadas nos filósofos Wiebe Bijker e Milton Santos. 
6.1 CTS SOB NOVAS ÓTICAS
Ao debater o tema CTS, procuramos trazer para a conversaa contribuição 
dos seguintes pesquisadores: Wiebe Bijker e Milton Santos.
Wiebe Bijker (1951- ) é um construtivista social que trabalhou visando 
estabelecer novas bases teóricas e metodológicas entre a CTS. O elo para esta 
nova parceria seria a sociedade e, no momento em que assume este ponto de 
vista, começa a trabalhar com o também construtivista social Trevor Pinch. 
Ambos envolvidos na divulgação de documentos que debatem o relacionamento 
entre ciência e tecnologia, e destacando a importância da essência social 
(BENAKOUCHE, 2005). 
Outro pesquisador que traremos para a discussão é Milton Santos (1926-
2001), um geógrafo brasileiro que, por sua vez, tratou das questões relacionadas 
à CTS sob a ótica da informação. 
6.2 CTS SOB A ÓTICA DE MILTON SANTOS 
Milton Santos traz à luz a discussão do meio ambiente e sua relação 
com CTS, portanto, na visão desse pesquisador já poderíamos usar o conceito 
CTSA. Ele aborda questões como o espaço e a sucessão de relacionamento entre 
o homem e a natureza, bem como a da organização humana. Dessa forma, faz 
uma interessante análise sobre a divisão do espaço geográfico. Para entender 
TÓPICO 1 | CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE
99
melhor, trazemos um trecho do texto “A natureza do espaço”, que trata sobre as 
considerações do autor sobre meio natural, meio técnico e meio técnico-científico-
informacional.
O meio natural
Quando tudo era meio natural, o homem escolhia da natureza 
aquelas suas partes ou aspectos considerados fundamentais ao exercício da 
vida, valorizando, diferentemente, segundo os lugares e as culturas, essas 
condições naturais que constituíam a base material da existência do grupo.
Esse meio natural generalizado era utilizado pelo homem sem 
grandes transformações. As técnicas e o trabalho se casavam com as dádivas 
da natureza, com a qual se relacionavam sem outra mediação.
O que alguns consideram como período pré-técnico exclui uma 
definição restritiva. As transformações impostas às coisas naturais já eram 
técnicas, entre as quais a domesticação de plantas e animais aparece como 
um momento marcante: o homem mudando a Natureza, impondo-lhe leis. 
A isso também se chama técnica.
Nesse período, os sistemas técnicos não tinham existência 
autônoma. [...]. A harmonia socioespacial assim estabelecida era, desse 
modo, respeitosa da natureza herdada, no processo de criação de uma 
nova natureza. Produzindo-a, a sociedade territorial produzia, também, 
uma série de comportamentos, cuja razão é a preservação e a continuidade 
do meio de vida. Exemplo disso são, entre outros, o pousio, a rotação de 
terras, a agricultura itinerante, que constituem, ao mesmo tempo, regras 
sociais e regras territoriais, tendentes a conciliar o uso e a “conservação” 
da natureza: para que ela possa ser outra vez utilizada. Esses sistemas 
técnicos sem objetos técnicos não eram, pois, agressivos, pelo fato de serem 
indissolúveis em relação à Natureza que, em sua operação, ajudavam a 
reconstituir.
O meio técnico 
O período técnico vê a emergência do espaço mecanizado. Os 
objetos que formam o meio não são, apenas, objetos culturais; eles são 
culturais e técnicos ao mesmo tempo. Quanto ao espaço, o componente 
material é crescentemente formado do “natural” e do “artificial”. Mas, o 
número e a qualidade de artefatos variam. As áreas, os espaços, as regiões, 
os países passam a se distinguir em função da extensão e da densidade da 
substituição, neles, dos objetos naturais e dos objetos culturais, por objetos 
técnicos.
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
100
Os objetos técnicos, maquínicos, juntam à razão natural sua 
própria razão, uma lógica instrumental que desafia as lógicas naturais, 
criando, nos lugares atingidos, mistos ou híbridos conflitivos. Os objetos 
técnicos e o espaço maquinizado são lócus de ações “superiores”, graças 
à sua superposição triunfante às forças naturais. Tais ações são, também, 
consideradas superiores pela crença de que ao homem atribuem novos 
poderes, o maior é a prerrogativa de enfrentar a Natureza, natural ou já 
socializada, vinda do período anterior, com instrumentos que já não são 
prolongamento do seu corpo, mas que representam prolongamentos do 
território, verdadeiras próteses. Utilizando novos materiais e transgredindo 
a distância, o homem começa a fabricar um tempo novo, no trabalho, no 
intercâmbio, no lar. Os tempos sociais tendem a se superpor e contrapor 
aos tempos naturais. [...].
O meio técnico-científico-informacional
O terceiro período começa praticamente após a Segunda Guerra 
Mundial, e sua firmação, incluindo os países de terceiro mundo, vai 
realmente dar-se nos anos 70. É a fase a que R. Richta (1968) chamou de 
período técnico-científico, e que se distingue dos anteriores pelo fato da 
profunda interação da ciência e da técnica, a tal ponto que certos autores 
preferem falar de tecnociência para realçar a inseparabilidade atual dos 
dois conceitos e das duas práticas.
Essa união entre técnica e ciência vai dar-se sob a égide do mercado. 
E o mercado, graças exatamente à ciência e à técnica, torna-se um mercado 
global. A ideia de ciência, a ideia de tecnologia e a ideia de mercado global 
devem ser encaradas conjuntamente, e desse modo podem oferecer uma 
nova interpretação à questão ecológica, já que as mudanças que ocorrem na 
natureza também se subordinam a essa lógica.
Neste período, os objetos técnicos tendem a ser ao mesmo tempo 
técnicos e informacionais, já que, graças à extrema intencionalidade de 
sua produção e de sua localização, eles já surgem como informação; e, na 
verdade, a energia principal de seu funcionamento é também a informação. 
Já hoje, quando nos referimos às manifestações geográficas decorrentes dos 
novos progressos, não é mais de meio técnico que se trata. Estamos diante 
da produção de algo novo, a que estamos chamando de meio técnico-
científico-informacional.
Da mesma forma como participam da criação de novos processos 
vitais e da produção de novas espécies (animais e vegetais), a ciência e a 
tecnologia, junto com a informação, estão na própria base da produção, 
da utilização e do funcionamento do espaço e tendem a constituir o seu 
substrato. [...].
TÓPICO 1 | CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE
101
Podemos então falar de uma cientificização e de uma tecnicização 
da paisagem. Por outro lado, a informação não apenas está presente nas 
coisas, nos objetos técnicos, que formam o espaço, como ela é necessária à 
ação realizada sobre essas coisas. A informação é o vetor fundamental do 
processo social e os territórios são, desse modo, equipados para facilitar a 
sua circulação. [...]. 
Os espaços assim requalificados atendem, sobretudo, aos interesses 
dos atores hegemônicos da economia, da cultura e da política e são 
incorporados plenamente às novas correntes mundiais. O meio técnico-
científico-informacional é a cara geográfica da globalização.
Sustentando que os vários elementos envolvidos no processo de 
inovação tecnológica constituem uma teia contínua (“seamless web”), Bijker 
pretende dar conta dessa realidade através da elaboração de uma teoria que: 
a) explique tanto a mudança quanto a estabilidade das técnicas; 
b) seja simétrica, ou seja, possa ser aplicada tanto às técnicas que dão certo 
como às que falham;
c) considere tanto as estratégias inovadoras dos atores como o caráter 
limitador das estruturas; e, finalmente
d) evite distinções a priori entre o social, o técnico, o político ou o econômico. 
FONTE: Santos (2006, p. 157-161)
Após esta leitura, você conseguiu identificar os aspectos importantes 
da relação entre CTS(A) que Milton Santos aborda? Como você pôde ver, essa 
questão é analisada na perspectiva de que as relações foram sendo estabelecidas 
ao longo do tempo e de maneira dialética. O autor destaca questões que merecem 
ser reanalisadas, como: a necessidade de determinar as características do mundo 
atual (como modernidade, pós-modernidade eglobalização), assim como a 
história das relações entre CTSA. Outro ponto que merece ser revisitado são as 
relações entre CTSA em uma lógica de mercado, ou seja, buscar reflexões sobre o 
sistema produtivo como um todo.
6.3 CTSA SOB A ÓTICA DE WIEBE BIJKER
Um dos principais incentivadores do movimento construtivista social foi 
Wiebe Bijker. Para entendermos melhor suas ideias e ideais, compartilharemos 
um pequeno trecho do artigo “Tecnologia é Sociedade: contra a noção de impacto 
tecnológico”, de Benakouche (1999, p. 11-13), que aborda os principais vieses 
deste pesquisador. 
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
102
Diante de tal agenda, propõe o uso de alguns conceitos básicos e 
operacionais, postos inclusive à prova nos vários estudos de caso que 
realizou, dentre os quais se destacam os de grupos sociais relevantes, 
estrutura tecnológica (“technological frame”), flexibilidade interpretativa 
(“interpretative flexibility”) e estabilização ou fechamento (“closure”). 
Os “grupos sociais relevantes” são aqueles mais diretamente 
relacionados ao planejamento, desenvolvimento e difusão de um artefato 
dado; na verdade, seria na interação entre os diferentes membros desses 
grupos que os artefatos são constituídos. Nesse processo, os atores não 
agem aleatoriamente, mas segundo padrões específicos, isto é, agem a 
partir das “estruturas tecnológicas” às quais estão ligados; esta noção – 
central, neste quadro analítico-descritivo – é ampla o suficiente para incluir 
teorias, conceitos, estratégias, objetivos ou práticas utilizadas na resolução 
de problemas ou mesmo nas decisões sobre usos, pois não se aplica apenas 
a grupos profissionais especializados, mas a diferentes tipos de grupos 
sociais. Segundo Bijker, existiriam diferentes graus de inclusão nessas 
estruturas, isto é, de envolvimento.
Na medida em que os grupos atribuem diferentes significados a um 
mesmo artefato, sua construção supõe um exercício de negociações entre 
esses mesmos grupos, onde o uso da retórica é um recurso poderoso, ou seja, 
é objeto de uma “flexibilidade interpretativa”. Quando esta atividade de 
ajustes se estabiliza e um significado é fixado ou aceito, diz-se que o artefato 
atingiu o estágio de “fechamento”. É justamente a prática da flexibilidade 
interpretativa que retira dos artefatos sua obturacidade; é ela que explica 
porque os mesmos não têm uma identidade ou propriedades intrínsecas, as 
quais seriam responsáveis por seu sucesso ou o seu fracasso, seus “impactos” 
positivos ou negativos. Em outras palavras, o não reconhecimento da 
importância desse processo é que leva à crença equivocada do determinismo 
da técnica. Assim é que tudo, numa tecnologia dada, do seu planejamento a 
seu uso, estaria sujeito a variáveis sociais e, portanto, estaria aberto à análise 
sociológica. No entanto, pode-se perguntar: ao se adotar essa perspectiva 
não se corre o risco de se cair num reducionismo social? Não, respondem os 
pesquisadores identificados com a mesma. O reconhecimento da existência 
de estruturas tecnológicas evitaria esse risco: na medida em que as mesmas 
influenciam a ação dos diferentes grupos sociais relevantes, essas estruturas 
seriam justamente as pontes que ligam tecnologia e sociedade, levando à 
constituição de conjuntos sociotécnicos (BIJKER, 1995).
Após esta leitura, você pode traçar os principais pontos elencados pelo autor? 
Se você citou a questão da importância de debater as ações dos conceitos 
CTSA em conjunto, com o enfoque nas ações sociais, fez uma excelente leitura. 
Wiebe Bijker foi um dos grandes defensores da participação da sociedade nas 
discussões relacionadas à ciência, e como consequência, demonstra em todos os 
seus discursos o repúdio à parceria entre sociedade e tecnologia.
TÓPICO 1 | CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE
103
A partir das colocações proporcionadas pelos dois autores é possível 
elencar pontos que merecem ser revistos, como a forma com que as comunicações 
de massa são disponibilizadas e utilizadas pela sociedade, assim como a 
importância da tecnologia no cotidiano e a dependência tecnológica. 
7 CARACTERIZANDO O MUNDO ATUAL
Ao caracterizar o mundo atual, faz-se necessário observar três vertentes 
singulares: modernidade, pós-modernidade e globalização. É importante analisar 
esses três pontos para que se possa avançar nos estudos sobre CTSA. Vamos lá?
O que vem a ser a modernidade? Para muitos, o conceito de modernidade 
refere-se a ideias bastante controversas, compreendendo desde pequenas 
práticas a formas de perceber, conceber e viver o mundo. Para melhor situá-lo, 
relembramos três grandes eventos: Revolução Industrial, Revolução Francesa e 
Revolução Científica. 
A pós-modernidade ainda é complexa e a ideia não é amplamente aceita 
por todos os cientistas e pensadores. As dúvidas e diferenças surgiram por volta 
de 1970 e 1990, mas ainda assim pode-se verificar duas linhas de discursos, 
quando o termo é pós-modernidade: a da continuidade e a do rompimento.
FIGURA 16 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS CONCEITOS DE MODERNIDADE, PÓS-
MODERNIDADE E GLOBALIZAÇÃO
FONTE: Adaptado de David Harvey (2003)
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
104
Agora, quando o assunto é globalização, o termo é mais conhecido, 
tendo em vista que é assunto atual e amplamente divulgado e trabalhado na 
mídia. Como todo conceito, esse também apresenta seus prós e contras, pois 
está fortemente ligado à maneira como foi apreendido pela sociedade. O marco 
inicial da globalização é fracamente indicado, como no período da Revolução 
Tecnocientífica, porém, viu-se nesse uma importante ferramenta de longo alcance, 
com ligações para diferentes partes do mundo. 
A globalização está amparada, principalmente, nos avanços tecnológicos, 
assim como nas relações sociais e econômicas, no mercado da conectividade e da 
virtualidade. A compressão da globalização, conhecida como compressão tempo-
espaço, é abordada como sendo a responsável por alterar a forma de comunicação 
entre as pessoas, como a telefonia móvel (HARVEY, 2003). Porém, como tudo tem 
seu outro lado, assim também é na globalização, podendo proporcionar tanto a 
inclusão como a desigualdade social. 
Uma importante observação precisa ser feita sobre esse ponto: deve-se 
cuidar para que os avanços tecnológicos não venham a causar o determinismo 
tecnológico, o que ocasionaria o mesmo pensamento de que a ciência e a 
tecnologia são neutras. Nesse momento, o que se deve buscar é usar a tecnologia 
como ferramenta e não como base.
105
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• A ciência, como forma de explicar a realidade, apresenta as seguintes 
características: linguagem própria; conhecimento acumulável, registrável e 
refutável; e articulação entre procedimentos metodológicos e fundamentos 
epistemológicos.
• A tecnologia, como sinônimo de técnica, nos permite pensar das tecnologias 
mais simples até as mais avançadas, como roupa, ferramentas e celulares; e, 
quando falamos em tecnocracia, podemos entender como ideologização da 
técnica.
• A sociedade pode ser analisada e interpretada de diversas formas e são vários 
os autores que apresentam algum parecer sobre o tema sociedade. 
• A ciência e a tecnologia apresentam um modelo de crescimento e evolução 
linear.
• O movimento que engloba ciência, tecnologia e sociedade está baseado em uma 
visão mais crítica sobre a parceria entre ciência e tecnologia, o que permitiu 
inserir outros pontos para debate das questões sociais, políticas, culturais e 
econômicas acerca da ciência e das tecnologias.
• Há várias interpretações acerca das relações CTS(A), e as de Milton Santos e 
Wiebe Bijker são duas delas.
• Os conceitos de modernidade, pós-modernidade e globalização são importantes 
para a discussão acerca de ciência, tecnologia e sociedade, mas apresentam 
concepções e interpretações bastante controversas.
106
AUTOATIVIDADE
1 Leia acharge a seguir: 
FONTE: Disponível em: <http://www2.uol.com.br/laerte/tiras/>. Acesso em: maio 2015.
A análise da charge nos remete ao fenômeno da insegurança no 
emprego, vivido, nos dias atuais, por muitas pessoas. Esta insegurança 
também está atrelada ao desenvolvimento de novas tecnologias, o que, por 
sua vez, tornou-se mais evidente nos últimos anos. Com base nos efeitos 
nocivos, é correto afirmar que:
a) ( ) Produz sensação de apreensão quanto à continuidade futura de um 
cargo e/ou de um papel dentro do ambiente de trabalho. 
b) ( ) O maior aumento da insegurança no trabalho ocorreu em meados dos 
anos de 1990, entre os trabalhadores que exercem atividades manuais. 
c) ( ) Trata-se de um fenômeno recente causado por profundas alterações 
no contexto do mercado de trabalho. 
d) ( ) Os estudos apontam que a insegurança no emprego é restrita ao 
ambiente de trabalho, não afetando a saúde e a vida pessoal dos 
empregados.
2 Com referência à comunicação de massa, identifique a opção 
correta. 
a) ( ) A comunicação de massa engendra um tipo de comunicabilidade 
do “entre nós”, que se reporta aos telespectadores, ouvintes e 
aos brasileiros, em geral, gerando a ilusão de pertencerem a uma 
comunidade. 
b) ( ) A comunicação de massa caracteriza-se pela divisão entre a figura do 
emissor e a do receptor autorizado e pela negligência do monopólio 
comunicativo e do cerceamento de práticas populares. 
c) ( ) A comunicação de massa fundamenta-se na premissa de que tudo 
pode ser mostrado e dito, não estabelecendo critérios sobre quem 
pode dizer e quem pode ouvir. 
107
d) ( ) O receptor autorizado tem um espaço da fala para opinar e contradizer, 
não sendo necessário que suas funções sejam definidas na estrutura 
do campo comunicativo. 
e) ( ) Na comunicação de massa, o espaço social sui generis é transformado 
em um espaço social heterogêneo, em que emissor e receptor têm 
papéis bem definidos. 
108
109
TÓPICO 2
TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E 
COMUNICAÇÃO (TIC)
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, ao falarmos das tecnologias da informação e comunicação 
como fator determinante no advento da sociedade da informação, estamos a falar 
das transformações resultantes do processo da globalização de mercados e dos 
avanços do uso dos processos tecnológicos na vida cotidiana dos indivíduos. 
Desse mosaico de transformações exercidas pelos meios tecnológicos na vida 
cotidiana dos indivíduos emerge o conceito de sociedade da informação. Sob 
este prisma, o que iremos apresentar nas próximas páginas busca assinalar as 
tecnologias da informação e comunicação como fator determinante no advento da 
sociedade da informação. Portanto, esperamos que este tópico possa contribuir, 
de certa forma, para inseri-lo no debate sobre a sociedade da informação e que 
sirva de ferramenta para expandir o seu horizonte pensante.
2 AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E 
COMUNICAÇÃO (TIC) COMO FATOR DETERMINANTE NO 
ADVENTO DA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
Nos últimos anos do século XX o mundo vem adquirindo uma nova 
configuração, fundamentada nas tecnologias da informação e da comunicação. 
A sociedade pós-industrial vem sofrendo modificações de forma acelerada, 
reestruturando o capitalismo, na medida em que todas as economias do planeta 
passam a interdepender umas das outras, em escala global.
Diante disso, observa-se que as grandes organizações mundiais passam 
por um processo de descentralização e interconexão das empresas, exemplos 
desse processo são: o aumento do capital frente ao trabalho, com o declínio do 
sindicalismo e crescente desemprego e a incorporação massiva da mulher no 
mundo do trabalho. 
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
110
FIGURA 17 – SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
FONTE: Disponível em: <http://webquests.edufor.pt/webquest/soporte_
horizontal_w.php?id_actividad=2826&id_pagina=1>. Acesso em: maio 2015.
Com o crescente aumento do uso das Tecnologias da Informação e 
de Comunicação nos diversos setores da atividade humana, bem como a sua 
integração às facilidades das telecomunicações, tornou-se evidente a possibilidade 
de ampliar cada vez mais, tanto o acesso à informação, quanto o desenvolvimento 
de novos meios que proporcionem de forma rápida sua distribuição no campo 
das pesquisas científicas. As atividades tradicionais, como a leitura, a escrita, 
o correio, o comércio, a publicidade ou o ensino, em atividades realizadas em 
ambientes virtuais, passam agora a ser capturadas por esses novos dispositivos 
tecnológicos de informática, cada vez mais avançados.
Esse processo, que teve a sua origem no fim dos anos 1960 e início dos 
anos 1970, não foi, por si só, responsável pela nova forma de organização social. 
Centrado na ideia de informação e comunicação, o uso das TIC resultou da 
interação de três processos independentes: revolução da tecnologia da informação; 
da economia (crise econômica do capitalismo e do estatismo e a consequente 
reestruturação de ambos); e apogeu de movimentos sociais e culturais, tais como 
a afirmação das liberdades individuais, dos direitos humanos, do feminismo e do 
ambientalismo (CASTELLS, 2001).
Na escala societária, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) 
constituíam um limiar sobre o qual se sucediam os acontecimentos políticos, militares 
ou científicos, tornando-se desta forma uma expressão de competição global, cuja 
lógica encontrava-se inserida dentro de uma economia informacional/global; e 
uma nova cultura, a cultura da virtualidade real, em que a sociedade e a cultura 
estão subjacentes à ação e às instituições sociais em um mundo interdependente. A 
interação entre esses processos e as reações por eles desencadeadas fez surgir uma 
nova estrutura social dominante, a sociedade em rede.
Na época atual, as chamadas Tecnologias de Informação e Comunicação 
(TIC) constituem ferramentas indispensáveis no processo de fortalecimento 
e integração das nações na nova cadeia global. Segundo Castells (2001), esse 
TÓPICO 2 | TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC)
111
processo foi de extrema importância, pois seu papel conferiu uma dinâmica e 
formação de redes das diversas esferas da atividade humana. Esta nova lógica 
preponderante de redes, sobre a qual a nova sociedade se assenta, transformou 
todos os domínios de vida social e econômica.
Por intermédio da tecnologia, redes de capital, de trabalho, de 
informação e de mercados conectaram funções, pessoas e locais 
valiosos ao redor do mundo, ao mesmo tempo em que desconectaram 
as populações e territórios desprovidos de valor e interesse para 
a dinâmica do capitalismo global. Seguiram-se exclusão social e 
não pertinência econômica de segmentos de sociedades, de áreas 
urbanas, de regiões e de países inteiros, constituindo o que chamo 
de ‘o Quarto Mundo’. A tentativa desesperada de alguns desses 
grupos sociais e territórios para conectar-se à economia global e 
escapar da marginalidade levou a uma situação que chamo de ‘a 
conexão perversa’, quando o crime organizado em todo o mundo 
tirou vantagem de sua condição para promover o desenvolvimento 
da economia do crime global. O objetivo é satisfazer o desejo proibido 
e fornecer mercadorias ilegais à contínua demanda de sociedades e 
indivíduos abastados (CASTELLS, 1999, p. 411).
A fim de compreender o surgimento das novas formas de organização 
social por conta das tecnologias informacionais, devemos observar os resultados 
dessa “revolução tecnológica na estrutura social”, a saber:
• informação e conhecimento estão profundamente inseridos na cultura das 
sociedades; 
• as novas tecnologias da informação agregam processos de produção, distribuição 
e direção, permitindo diferentes tipos de atividades interligadas de acordo com 
o modo organizativo que se ajusta melhor à estratégia da empresa ou à história 
da instituição. Três conceitos surgem dessa transformação fundamental do 
modo em que o sistema de produção opera e, juntos, formam as bases atuais 
da nova economiae forçarão a redefinição da estrutura ocupacional, além do 
sistema de classes da nova sociedade: articulações entre as atividades; redes que 
configuram as organizações; e fluxos de fatores de produção e de mercadorias; 
flexibilidade e adaptabilidade são necessidades fundamentais para a direção de 
organizações, pois complexidade e incerteza são características essenciais do 
novo meio ambiente organizacional; 
• as novas tecnologias de comunicação têm um impacto direto sobre os meios de 
comunicação e sobre a formação de imagens, representações e opinião pública 
em suas sociedades, resultando em uma tensão crescente entre globalização e 
individualização no universo dos audiovisuais; 
• as fontes de poder na sociedade e entre as sociedades são alteradas pelo caráter 
estratégico das tecnologias e da informação na produtividade da economia e na 
eficácia das instituições sociais. A habilidade de promover a mudança tecnológica 
está relacionada diretamente com a habilidade de uma sociedade para difundir 
e intercambiar informações e relacioná-las com o restante do mundo.
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
112
3 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
E COMUNICAÇÃO – TIC
Desde os primórdios da humanidade, o homem sempre sentiu a 
necessidade de se comunicar com os outros homens. As novas tecnologias vêm 
efetuando mudanças sociais drásticas nos diversos segmentos da sociedade. As 
chamadas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) têm se apresentado 
como um fator decisivo na nova organização social, sem precedentes na história.
O próprio capitalismo passa por um processo de profunda 
restauração, caracterizado por maior flexibilidade de gerenciamento; 
descentralização das empresas e sua organização em redes tanto 
internamente quanto em suas relações com outras empresas; 
considerável fortalecimento do papel do capital vis-à-vis o trabalho, 
com o declínio concomitante da influência dos movimentos de trabalho; 
incorporação maciça das mulheres na força de trabalho remunerada, 
geralmente em condições discriminatórias; intervenção estatal para 
desregular os mercados de forma seletiva e desfazer o estado do bem-
estar social com diferentes intensidades e orientações, dependendo da 
natureza das forças e instituições políticas de cada sociedade; aumento 
da concorrência econômica global em um contexto de progressiva 
diferenciação dos cenários geográficos e culturais para acumulação e a 
gestão de capital (CASTELLS, 1999, p. 21).
Primeiramente, para melhor compreender o conceito de Tecnologias da 
Informação e Comunicação - TIC e o seu papel nas sociedades atuais, de forma a 
dar uma “robustez” mais ampla às nossas reflexões, faremos um pequeno aporte 
histórico sobre o conceito de tecnologia em Manuel Castells. Neste sentido, 
segundo afirma o autor (1999, p. 24):
Para dar os primeiros passos nessa direção, devemos levar a tecnologia a 
sério, utilizando-a como ponto de partida desta investigação; devemos 
localizar esse processo de transformação tecnológica revolucionária 
no contexto social em que ele ocorre e pelo qual está sendo moldado; 
e devemos lembrar que a busca pela identidade é tão poderosa quanto 
a transformação econômica e tecnológica no registro da nova história.
O termo tecnologia provém do verbo grego tictein, que significa "técnica, 
arte, ofício", juntamente com o sufixo "logia", que significa "estudo", portanto, o 
conhecimento prático que almeja alcançar um determinado fim concreto.
O Dicionário de Sociologia, de Alan Johnson (1997), indica a palavra 
“tecnologia” como o repositório acumulado de conhecimento cultural sobre 
ambientes físicos e seus recursos materiais, com vistas a satisfazer desejos e vontades. 
Contudo, segundo afirma Johnson (1997), tecnologia não pode ser confundida com 
a ciência, na medida em que ela consiste de conhecimentos práticos sobre como 
usar recursos materiais, ao passo que a ciência consiste de conhecimento abstrato e 
teorias sobre como o processo do conhecimento se constrói.
Na sociedade industrial, o conceito de tecnologia esteve associado à forma 
de produto, passando, portanto, a não mais designar a forma de produção, ou seja, 
concentra-se nos produtos, nos processos, nos equipamentos e nas operações.
TÓPICO 2 | TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC)
113
Assim, na visão de Masi (1999), esta lógica, em que a tecnologia se torna uma 
ferramenta indispensável nas relações de produção, obrigou o mundo da produção 
industrial a sofrer grandes mudanças, tanto no processo de regulamentação da 
empresa, como na organização do trabalho, de forma a responder aos imperativos 
que a própria tecnologia trouxe para o aperfeiçoamento das condições de vida do 
homem. Nesse sentido, para Masi (1999, p. 158), as principais transformações 
provocadas por esses imperativos são as seguintes:
• Um intervalo de tempo mais curto exigido pelo processo produtivo 
para levar até o fim a realização de um produto.
• Um aumento da necessidade de capital para a produção.
• Maior especialização e definição de funções, operações, processos 
e materiais, com uma consequente rigidez que impede conversões de 
uma operação para outra.
• Maior necessidade de mão de obra especializada.
•Maior exigência de organização de todas as atividades especializadas 
envolvidas, o que resulta na posterior exigência de outros especialistas: 
os especialistas em organizações.
• A necessidade de planejamento, em face do tempo e dos capitais 
empregados, da rigidez dos processos, das exigências organizacionais 
e da instabilidade do mercado em relação aos sistemas industriais que 
utilizam tecnologias avançadas.
Já no século XX, a tecnologia passa a ser descrita como um campo do 
conhecimento que, além de usar o método científico, cria e/ou transforma 
processos materiais. Assim, segundo Masi (1999), a tecnologia passa a ser o 
motor do desenvolvimento da sociedade, elevando o padrão de vida de uma 
determinada sociedade, reduzindo desta forma as desigualdades. Nesse sentido, 
na visão de Masi (1999, p. 159), a tecnologia passa a ser:
uma nova forma de racionalidade funcional que modifica os 
modelos educacionais, ‘os sistemas de especulação, tradição e 
razão’; revolucionando os transportes e as comunicações, cria 
novos tipos de relações sociais (onde, por exemplo, as relações de 
parentesco são substituídas por ligações de trabalho e profissionais) 
e de interdependência econômica. A tecnologia, enfim, modifica a 
percepção (também estética, como testemunham as novas tendências 
das artes figurativas) do espaço e do tempo.
Na visão de Castells (2001, p. 49), a tecnologia corresponde:
(ao) uso de conhecimento científico para especificar as vias de se fazer as 
coisas de uma maneira reproduzível. Entre as tecnologias da informação 
incluo, como todo o conjunto convergente de tecnologias em microeletrônica, 
computação (software e hardware), telecomunicações/radiodifusão, e 
optoeletrônica. Além disso, diferentemente de alguns analistas, também 
incluo nos domínios da tecnologia da informação a engenharia genética e 
seu crescente conjunto de desenvolvimento e aplicações.
Com base nessa citação, torna-se claro que a tecnologia não determina a 
sociedade, nem a sociedade escreve o curso da transformação tecnológica. Portanto, 
para Castells (2001), a tecnologia e a sociedade são categorias interdependentes, 
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
114
na medida em que a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas 
“ferramentas tecnológicas”. Nesse sentido, para Castells (2001), a tecnologia é 
uma condicionante, e não determinante, da sociedade. 
Por conseguinte, a relação entre tecnologia e sociedade está marcada pela 
presença do papel do Estado, podendo estimular ou constranger ambientes de 
inovação tecnológica, organizando as forças sociais dominantes em determinado 
tempo e espaço. Em grande medida, o grau de tecnologia existente numa 
sociedade é a representaçãode sua capacidade coletiva de controle sobre o meio 
político, isto é, de determinação sobre o formato das instituições, ou seja, do 
próprio Estado, no sentido de que este permita o melhor desenvolvimento das 
iniciativas e o uso das tecnologias a favor dos indivíduos. Desta feita, “o processo 
histórico em que esse desenvolvimento de forças produtivas ocorre assinala as 
características da tecnologia e seus entrelaçamentos com as relações sociais” 
(CASTELLS, 2001, p. 31).
Sob esta ótica, a tecnologia não pode ser vista como uma “ferramenta” 
que busca resolver problemas imediatos que se apresentam numa determinada 
sociedade, mas sim como um meio integrante e compatível com a sociedade em 
que está inserida. Para o sociólogo espanhol Manuel Castells Oliván, o suposto 
dilema do determinismo tecnológico é falso. Portanto, não se trata de perguntar 
se a tecnologia determina comportamentos na sociedade ou se a sociedade 
é quem controla a tecnologia. Como diz Castells (2001, p. 25), “a tecnologia é 
a sociedade e a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas 
ferramentas tecnológicas”. Isso não impede de admitir que no começo é uma 
parte da sociedade que dá o start, para depois os outros se apropriarem das 
inovações. Foi o que aconteceu nos EUA, quando um setor específico da sociedade 
introduziu essas novas formas de produção, comunicação, gerenciamento e vida 
(CASTELLS, 2001).
Nessa medida, tanto a informação como o conhecimento criam um novo 
sistema baseado num complexo integrado de rede global de interação, em que 
a produtividade e a competitividade das suas unidades dependem basicamente 
de sua capacidade de gerar, processar e aplicar de forma eficiente a informação 
baseada no conhecimento.
Sem dúvida, informação e conhecimento sempre foram elementos 
cruciais no crescimento da economia, e a evolução da tecnologia 
determinou em grande parte a capacidade produtiva da sociedade e os 
padrões de vida, bem como formas sociais de organização econômica 
[...]. A emergência de um novo paradigma tecnológico organizado em 
torno de novas tecnologias da informação, mais flexíveis e poderosas, 
possibilita que a própria informação se torne o produto do processo 
produtivo. Sendo mais preciso: os produtos das novas indústrias 
de tecnologia da informação são dispositivos de processamento da 
informação. Ao transformarem os processos de processamento da 
informação, as novas tecnologias da informação agem sobre todos 
os domínios da atividade humana e possibilitam o estabelecimento 
de conexões infinitas entre diferentes domínios, assim como entre os 
elementos e agentes de tais atividades (CASTELLS, 2001, p. 88).
TÓPICO 2 | TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC)
115
Assim, para Castells (2001), o que caracteriza a atual revolução tecnológica 
não é a centralização do conhecimento e da aplicação, senão o uso da informação 
para a gestão de todo o processamento da informação e gerenciamento, num 
processo de retroalimentação eterno, promovendo a passagem de três estágios 
das novas tecnologias de telecomunicações nas últimas décadas, quais sejam: a 
automação das tarefas, as experiências de usos e a reconfiguração das aplicações. 
“Nos dois primeiros estágios, os avanços tecnológicos se caracterizam pelo learn 
by using, isto é, pelo aprender usando. No último, são os usuários que aprenderam 
a tecnologia fazendo, o que acabou resultando na configuração das redes e na 
descoberta de novas aplicações” (CASTELLS, 2001, p. 51).
Desta feita, seria incorreto falar de uma Sociedade Informacional, 
implicando uma inadequada “homogeneidade das formas sociais” em qualquer 
lugar do globo sob o novo sistema. Não se trata de reduzir os povos da Terra ao 
novo paradigma informacional, mas, segundo o pensador espanhol, poderíamos 
falar de uma sociedade informacional assim como falamos da “sociedade urbano-
industrial, cujas características são bem definidas e algumas de suas principais 
estão difundidas mundialmente” (CASTELLS, 1999, p. 38).
116
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
● As novas tecnologias da informação e comunicação têm um impacto direto na 
vida social dos indivíduos.
● Os novos dispositivos de informação constituem verdadeiras fontes de 
poder nas sociedades, e são alterados de acordo com o caráter estratégico da 
produtividade da economia e na eficácia das instituições sociais.
● O termo tecnologia provém do verbo grego tictein, que significa criar, 
produzir, significando, portanto, o conhecimento prático que almeja alcançar 
um determinado fim concreto.
● O que caracteriza a renovação tecnológica não é a centralidade do conhecimento 
e nem da informação.
● Tecnologia não pode ser confundida com ciência, na medida em que ela 
consiste de conhecimentos práticos sobre como usar recursos materiais, ao 
passo que a ciência consiste de conhecimento abstrato e teorias sobre como o 
processo do conhecimento se constrói.
● A expressão Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC refere-se 
ao conjunto de recursos tecnológicos capazes de produzir e disseminar 
informações, ou seja, ferramentas que permitem arquivar e manipular 
informações em forma de textos, imagens e sons, permitindo, desta forma, 
que nos comuniquemos uns com os outros.
● São cinco os elementos que caracterizam o novo paradigma das tecnologias da 
informação e comunicação.
117
AUTOATIVIDADE
Nessa nova sociedade, o conhecimento é essencial para aumentar a 
produtividade e a competição global. É fundamental para a invenção, para 
a inovação e para a geração de riqueza. As tecnologias de informação e 
comunicação (TICs) proveem uma fundação para a construção e aplicação 
do conhecimento nos setores públicos e privados. É nesse contexto que se 
aplica o termo exclusão digital, referente à falta de acesso às vantagens e 
aos benefícios trazidos por essas novas tecnologias, por motivos sociais, 
econômicos, políticos ou culturais.
Considerando as ideias do texto acima, avalie as afirmações a seguir.
I- Um mapeamento da exclusão digital no Brasil permite aos gestores de políticas 
públicas escolherem o público-alvo de possíveis ações de inclusão digital.
II- O uso das TICs pode cumprir um papel social, ao prover informações 
àqueles que tiveram esse direito negado ou negligenciado e, portanto, permitir 
maiores graus de mobilidade social e econômica.
III- O direito à informação diferencia-se dos direitos sociais, uma vez que esses 
estão focados nas relações entre os indivíduos e, aqueles, na relação entre o 
indivíduo e o conhecimento.
IV- O maior problema de acesso digital no Brasil está na deficitária tecnologia 
existente em território nacional, muito aquém da disponível na maior parte 
dos países de primeiro mundo.
É correto apenas o que se afirma em:
a) ( ) II e IV.
b) ( ) I e II.
c) ( ) III e IV.
d) ( ) I, II e III.
e) ( ) I, III e IV.
2 (ENADE – 2011) A cibercultura pode ser vista como herdeira legítima 
(embora distante) do projeto progressista dos filósofos do século XVII. De 
fato, ela valoriza a participação das pessoas em comunidades de debate e 
argumentação. Na linha reta das morais da igualdade ela incentiva uma forma 
de reciprocidade essencial nas relações humanas. Desenvolveu-se a partir de 
uma prática assídua de trocas de informações e conhecimentos, coisa que os 
filósofos do Iluminismo viam como principal motor do progresso.
1 (ENADE - 2011) Exclusão digital é um conceito que diz respeito 
às extensas camadas sociais que ficaram à margem do fenômeno 
da sociedade da informação e da extensão das redes digitais. O 
problema da exclusão digital se apresenta como um dos maiores 
desafios dos dias de hoje, com implicações diretas e indiretas sobre os mais 
variados aspectos da sociedade contemporânea.
118
[...] A cibercultura não seria pós-moderna, mas estaria inserida perfeitamente 
na continuidade dos ideais revolucionários e republicanos de liberdade, 
igualdade e fraternidade. A diferença é apenas que, na cibercultura, esses 
“valores” se encarnamem dispositivos técnicos concretos. Na era das 
mídias eletrônicas, a igualdade se concretiza na possibilidade de cada um 
transmitir a todos; a liberdade toma forma nos softwares de codificação e no 
acesso a múltiplas comunidades virtuais, atravessando fronteiras, enquanto a 
fraternidade, finalmente, se traduz em interconexão mundial.
O desenvolvimento de redes de relacionamento por meio de computadores e a 
expansão da internet abriram novas perspectivas para a cultura, a comunicação 
e a educação. De acordo com as ideias do texto acima, a cibercultura:
a) ( ) Representa uma modalidade de cultura pós-moderna de liberdade de 
comunicação e ação.
b) ( ) Constituiu negação dos valores progressistas defendidos pelos 
filósofos do Iluminismo.
c) ( ) Banalizou a ciência ao disseminar o conhecimento nas redes sociais.
d) ( ) Valorizou o isolamento dos indivíduos pela produção de softwares de 
codificação.
e) ( ) Incorpora valores do Iluminismo ao favorecer o compartilhamento de 
informações e conhecimentos.
119
TÓPICO 3
AVANÇOS TECNOLÓGICOS
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, ao falarmos de avanços tecnológicos, se torna importante 
compreendermos sobre as práticas de inovação, compreender comunidades 
virtuais e seus impactos e conhecer um pouco das novidades tecnológicas 
existentes.
A tecnologia faz parte do nosso dia a dia e vem se expandindo cada vez 
mais. Neste tópico, queremos apenas trazer algo sobre as novas tecnologias, mas 
fique antenado nos noticiários, todos os dias temos o lançamento de uma nova 
tecnologia.
2 TENDÊNCIAS ORGANIZACIONAIS DO SÉCULO XXI
Muitas pessoas não conseguem trabalhar sem seu laptop ou smartphone. 
Além disso, para muitos é impossível imaginar o dia sem o Google ou, para outros, 
mensagens de texto, WhatsApp ou Facebook para ficar em contato com uma grande 
rede de colegas. Em apenas uma década a tecnologia mudou muito a forma 
como trabalhamos e nos comunicamos. E na próxima década, com o aumento da 
velocidade das conexões da internet, haverá mudanças mais profundas para o 
trabalho do que qualquer coisa vista até o momento. Todas as informações serão 
mais fáceis de visualizar e analisar.
As empresas enfrentam mudanças mais abrangentes e com maior alcance 
em suas implicações do que qualquer coisa desde a Revolução Industrial moderna, 
que ocorreu no início de 1900 (BALTZAN; PHILLIPS, 2012). Para auxiliar na 
compreensão e influência das tecnologias em nosso modo de vida, observe as 
informações das figuras a seguir, nelas consta uma nova tecnologia que já vem 
sendo utilizada por empresas e pela educação, chama-se: comunidades virtuais.
120
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
FIGURA 18 – COISAS QUE VAMOS DIZER PARA NOSSOS NETOS
FONTE: Baltzan e Phillips (2012)
FIGURA 19 – COMO SEREMOS LEMBRADOS POR NOSSOS NETOS
FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/JJh21n> Acesso em: 13 dez. 2017.
3 COMUNIDADES VIRTUAIS
Você já ouviu falar em comunidade virtual? Também encontramos 
com o nome de grupo virtual, mas perante a bibliografia vamos trabalhar com 
comunidade virtual.
TÓPICO 3 | AVANÇOS TECNOLÓGICOS
121
As comunidades virtuais são redes virtuais de comunicação interativa, 
organizadas em interesses compartilhados. Ao analisarmos o passado, na origem 
das primeiras civilizações, o ser humano era nômade, vivia da caça, pesca e coleta 
de produtos na natureza. Com o passar dos anos o ser humano aprendeu a se 
organizar em grupos, assim nascendo as primeiras comunidades, as quais deram 
origem às civilizações. Esses grupos humanos definiram formas de expressar 
valor moral e cultural, de acordo com cada época. Com as novas tecnologias 
constituíram-se grupos de sujeitos ligados por vínculos não formalizados, com 
características comuns, formando-se as comunidades virtuais (MUSSOI; FLORES; 
BEHAR, 2007).
NOTA
As comunidades virtuais se constituem de grupos de pessoas interconectadas 
em busca da inteligência coletiva.
FIGURA 20 – PRINCÍPIOS DA CIBERCULTURA 
FONTE: Os autores
122
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
Uma comunidade virtual é uma inteligência coletiva em potencial. Um 
grupo humano se interessa em constituir-se como comunidade virtual para 
aproximar-se do ideal do coletivo inteligente, mais imaginativo, mais capaz de 
aprender e inventar. A virtualização ou desterritorialização das comunidades 
no ciberespaço são condições para haver inteligência coletiva em grande escala. 
A inteligência coletiva é o terceiro princípio da cibercultura. O ciberespaço é a 
ferramenta de organização de comunidades de todos os tipos, o melhor uso do 
ciberespaço pode ser alcançado ao se colocar em sinergia os saberes, as imaginações 
e as energias espirituais daqueles que estão conectados a ele. A cibercultura é a 
expressão da aspiração de construção de um laço social, fundado sobre a reunião 
em torno de centros de interesses comuns, no compartilhamento de informações, 
na cooperação e nos processos de colaboração (MUSSOI; FLORES; BEHAR, 2007).
DICAS
Quer conhecer mais sobre a Cibercultura? Então leia o livro de Pierre Lévy. 
Cibercultura. Rio de Janeiro: Editora 34, 1999.
Para estimular sua leitura e aprofundar o conceito de cibercultura, 
trazemos alguns trechos do livro de Pierre Lévy (1999, p. 11).
Pensar a cibercultura: esta é a proposta deste livro. Em geral me 
consideram um otimista. Estão certos. Meu otimismo, contudo, não 
promete que a Internet resolverá, em um passe de mágica, todos 
os problemas culturais e sociais do planeta. Consiste apenas em 
reconhecer dois fatos. Em primeiro lugar, que o crescimento do 
ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens ávidos 
para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes 
daquelas que as mídias clássicas nos propõem. Em segundo lugar, 
que estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, 
e cabe apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas deste 
espaço nos planos econômico, político, cultural e humano.
 
O referido autor apresenta a contextualização dos princípios da cibercultura 
no mundo atual, e conclui que o programa da cibercultura é o universal sem 
totalidade, ou seja, possui uma relação profunda com a ideia de humanidade e se 
abastece da diversidade cultural.
A interconexão para a interatividade é supostamente boa, quaisquer 
que sejam os terminais, os indivíduos, os lugares e momentos que ela 
coloca em contato. As comunidades virtuais parecem ser um excelente 
meio (entre centenas de outros) para socializar, quer suas finalidades 
sejam lúdicas, econômicas ou intelectuais, quer seus centros de 
interesse sejam sérios, frívolos ou escandalosos. A inteligência coletiva, 
enfim, seria o modo de realização da humanidade que a rede digital 
TÓPICO 3 | AVANÇOS TECNOLÓGICOS
123
universal felizmente favorece, sem que saibamos a priori em direção 
a quais resultados tendem as organizações que colocam em sinergia 
seus recursos intelectuais. Em resumo, o programa da cibercultura é o 
universal sem totalidade (LÉVY, 1999, p. 132).
As comunidades virtuais podem ter diversidade de pessoas, como de 
assuntos. Para educação, uma comunidade virtual cria uma relação de professor-
aluno que dialogam e estabelecem regras juntos. O professor, nesta situação, é o 
mediador, orientador, instigador do processo. 
Palloff e Pratt (2004) apresentam técnicas instrucionais centradas no aluno 
para que o professor tenha sucesso nas interações das comunidades:
• Acesso e habilidade: o professor deve utilizar apenas tecnologias que sirvam 
aos objetivos da aprendizagem; a tecnologia deve ser mantida em um nível 
simples, para que seja transparente ao aluno; o professor deve se certificar de 
que o aluno tenha habilidade necessária para usar a tecnologia.
• Abertura: sempre comece a atividade com apresentação; use atividades de 
aprendizagem que levem em consideração a experiência e a resolução de 
problemas.
• Comunicação: deixe claro ao alunoas diretrizes para a comunicação, incluindo 
a net etiqueta; exemplifique como realizar uma boa comunicação; estimule a 
participação; acompanhe os alunos que não participam.
• Comprometimento: explique suas expectativas em relação à utilização do 
tempo; explique a realização de trabalhos, prazos de entrega e meios pelos 
quais a avaliação será elaborada; crie uma agenda de publicação junto aos 
alunos; apoie o desenvolvimento de boas habilidades de gerenciamento de 
tempo.
• Colaboração: trabalhe com estudos de caso, trabalhos em pequenos grupos, 
simulações e utilização do pensamento crítico; faça com que os alunos enviem 
seus trabalhos para a comunidade, para maior interação com os demais 
colegas; faça perguntas abertas para estimular a discussão.
• Reflexão: coloque regras quanto ao tempo de postagem da mensagem; estimule 
os alunos a refletir, escrever off-line e depois transcrever para a comunidade; 
faça perguntas abertas e estimule a reflexão sobre o material utilizado.
• Flexibilidade: varie as atividades para atender todos os estilos de aprendizagem 
e oferecer um interesse adicional; negocie as diretrizes da atividade com os 
alunos, assim promovendo maior engajamento; use a internet como uma 
ferramenta e um recurso de ensino e estimule os alunos a buscar referências 
que possam compartilhar.
Analisando ao nosso redor, temos diversas formas de comunidades 
virtuais, e você deve conhecer muitas delas. Veremos no próximo subtópico essas 
formas, conhecidas por redes sociais.
124
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
3.1 REDES SOCIAIS
As redes sociais podem ser vistas como uma tecnologia com menos 
seguidores para a sua utilização como uma ferramenta de trabalho, mas não 
deve ser, devido ao número de assinantes dessa tecnologia. Esses sites permitem 
que o usuário faça várias atividades, tais como: postar um perfil, fotos, vídeos, 
chat, blog, e se conectar com seus pares através de boletins individuais, grupos 
privados e fóruns.
Quais são os aspectos críticos que definem uma tecnologia de rede social? 
Tradicionalmente, os traços dessas ferramentas incluem a criação de um login no 
site, que fornece uma página de perfil, em que muitas vezes você pode adicionar 
fotos e outros conteúdos. Você pode se conectar com outras pessoas que conhece 
ou pode encontrar novas pessoas através do site, tornando-se o seu "amigo". Este 
título serve para designar, no site, que duas pessoas estão ligadas de alguma 
forma. Isso proporciona a capacidade de receber atualizações em suas páginas 
"de amigos", comunicar-se com eles através de e-mail no local/comentários/chat, e 
criar grupos específicos no site em torno de temas ou conteúdo. A seguir, veremos 
algumas novidades tecnológicas.
DICAS
Alguns sites que você deve acessar para ficar dentro das atualidades tecnológicas:
<http://www.cienciahoje.pt/3445>
<http://olhardigital.uol.com.br/home>
<http://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia>
<http://revistapesquisa.fapesp.br/>
<http://www2.uol.com.br/sciam/>
<http://www.abc.org.br/centenario/>
<http://www.scielo.org/php/index.php?lang=pt>
125
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• Algumas tendências para as empresas perante as tecnologias.
• O que são comunidades virtuais e para que servem.
• O que é cibercultura e seus princípios.
• O que são redes sociais.
126
1 (ENADE – 2014) O trecho da música “Nos bailes da vida”, de Milton 
Nascimento, “todo artista tem de ir aonde o povo está”, é antigo, e a música, 
de tão tocada, acabou por se tornar um estereótipo de tocadores de violões 
e de roda de amigos em Visconde de Mauá, nos anos de 1970. Em tempos 
digitais, porém, ela ficou mais atual do que nunca. É fácil entender o porquê: 
antigamente, quando a informação se concentrava em centro de exposição, 
veículos de comunicação, editoras, museus e gravadoras, era preciso passar por 
uma série de curadores, para garantir a publicação de um artigo ou livro, a 
gravação de um disco ou a produção de uma exposição. O mesmo funil, que 
poderia ser injusto e deixar grandes talentos de fora, simplesmente porque não 
tinham acesso às ferramentas, às pessoas ou às fontes de informação, também 
servia como filtro de qualidade. Tocar violão ou encenar uma peça de teatro em 
um grande auditório costumava ter um peso muito maior do que fazê-lo em um 
bar, um centro cultural ou uma calçada. Nas raras ocasiões em que esse valor 
se invertia, era justamente porque, para uso do espaço “alternativo”, havia 
mecanismos de seleção tão ou mais rígidos que o espaço oficial. 
A partir do texto acima, avalie as asserções a seguir e a relação entre elas.
I- O processo de evolução tecnológica da atualidade democratiza a produção 
e a divulgação de obras artísticas, reduzindo a importância que os centros de 
exposição tinham nos anos de 1970.
PORQUE
II- As novas tecnologias possibilitam que artistas sejam independentes, 
montem seus próprios ambientes de produção e disponibilizem seus trabalhos, 
de forma simples, para um grande número de pessoas.
A respeito dessas asserções, assinale a opção correta.
a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa 
correta da I.
b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma 
justificativa correta da I.
c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. 
2 (ENADE – 2013) Uma revista lançou a seguinte pergunta em um editorial: 
“Você pagaria um ladrão para invadir sua casa?”. As pessoas mais espertas 
diriam provavelmente que não, mas companhias inteligentes de tecnologia 
estão, cada vez mais, dizendo que sim. Empresas como a Google oferecem 
recompensas para hackers que consigam encontrar maneiras de entrar em seus 
softwares. Essas companhias frequentemente pagam milhares de dólares pela 
AUTOATIVIDADE
127
descoberta de apenas um bug, o suficiente para que a caça a bugs possa fornecer 
uma renda significativa. As empresas envolvidas dizem que os programas 
de recompensa tornam seus produtos mais seguros. “Nós recebemos mais 
relatos de bugs, o que significa que temos mais correções, o que significa uma 
melhor experiência para nossos usuários”, afirmou o gerente de programa 
de segurança de uma empresa. Mas os programas não estão livres de 
controvérsias. Algumas empresas acreditam que as recompensas devem 
apenas ser usadas para pegar cibercriminosos, não para encorajar as pessoas a 
encontrar as falhas. E também há a questão de double-dipping, a possibilidade 
de um hacker receber um prêmio por ter achado a vulnerabilidade e, então, 
vender a informação sobre o mesmo bug para compradores maliciosos.
Considerando o texto acima, infere-se que: 
a) ( ) Os caçadores de falhas testam os softwares, checam os sistemas e 
previnem os erros antes que eles aconteçam e, depois, revelam as 
falhas a compradores criminosos.
b) ( ) Os caçadores de falhas agem de acordo com princípios éticos 
consagrados no mundo empresarial, decorrentes do estímulo à livre 
concorrência comercial.
c) ( ) A maneira como as empresas de tecnologia lidam com a prevenção 
contra ataques dos cibercriminosos é uma estratégia muito bem-
sucedida.
d) ( ) O uso das tecnologias digitais de informação e das respectivas 
ferramentas dinamiza os processos de comunicação entre os usuários 
de serviços das empresas de tecnologia.
e) ( ) Os usuários de serviços de empresas de tecnologia são beneficiários 
diretos dos trabalhos desenvolvidos pelos caçadores de falhas 
contratados e premiados pelas empresas.
128
129
TÓPICO 4
GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA 
INTERNACIONAL
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Os elementos que compõem o repertório da civilização ocidental em termos 
de instituições, códigos jurídicos, leis, estatutos reguladores e pacificadores, 
por muito tempo encontraram-se centrados em favorecer o poder político e os 
sistemaseconômicos, os quais, no momento presente, encontram-se em situação 
de crise e mal-estar dos indivíduos, e a alternativa diante deste cenário tem sido a 
retomada das formas de viver e fazer, dos costumes, valores, relações e vínculos 
de interdependência e reciprocidade no interior das comunidades. 
Vivemos em um momento de crises e impasses, isso encontra-se 
diretamente relacionado com as matrizes e modelos teóricos que legitimavam o 
crescimento econômico equilibrado (crença no mercado autorregulado), o modelo 
de organização política (Estado neoliberal), o sistema monetário internacional 
(baseado no padrão-ouro) e o equilíbrio de poder na geopolítica internacional 
(hegemonia norte-americana e europeia). 
Sem sombra de dúvidas, representamos uma civilização centrada no 
otimismo do progresso e do trabalho capitalista, e cada vez mais é reconhecida 
a afirmação do individualismo. À medida que avança o processo de conquista 
da propriedade e da individualização dos sujeitos, faz-se necessário cada vez 
mais constituir normas e um conjunto de outros valores éticos, sociais e de 
regulamentação que garantam equidade e paz nas relações dos indivíduos. 
Bem, você deve estar se perguntando: como chegamos a este estado?! Ao longo 
dos próximos dois subtópicos procuramos apresentar elementos para que se 
compreenda o processo político, social e histórico desse quadro. 
2 GLOBALIZAÇÃO: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA
Trata-se de um fenômeno de organização e circulação política, econômica, 
comercial e cultural, que foi praticado pelas mais diversas sociedades e desde 
os mais antigos mercadores (fenícios) da antiguidade, que se organizavam em 
caravanas por terra e expedições de navegadores por mares e oceanos.
130
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
FIGURA 21 – GLOBALIZAÇÃO
FONTE: Disponível em: <http://queconceito.com.br/wp-content/uploads/Globaliza 
ção.jpg>. Acesso em: 7 dez. 2017.
Alguns autores situam o fenômeno no final do século XV e ao longo do 
século XVI, quando se dá início às grandes navegações que partiam do continente 
europeu em direção a regiões como a América, África, Oceania e Ásia. 
A globalização também é apresentada como sendo resultante das 
concepções e direitos/deveres que existiam no interior da Revolução Francesa e da 
Revolução Industrial inglesa do século XVIII, ao desenvolvimento do capitalismo 
em escala mundial, bem como uma continuidade da lógica civilizacional que 
tem sido designada por modernidade (concentração da população nas cidades, 
industrialização da produção, racionalização do pensamento, laicidade do Estado), 
que se acentuará ao longo do século XIX.
As possibilidades de atuação da economia, em favor dos interesses de 
mercado, foram potencializadas pelo espírito capitalista, que estava amparado 
na livre circulação de mercadorias das doutrinas do “deixe ir, deixe vir e tudo 
se autorregulará”. Esta fórmula e lei foram responsáveis por conferir ao sistema 
financeiro a dinâmica da “oferta e da procura” de produtos, a transitoriedade e a 
flutuação de preços, de lucros e de taxas de impostos, que por sua vez atribuíram 
ampla independência, liberdade nas relações comerciais e na prestação de serviços.
O mercado preocupou-se, também, em perceber o potencial de consumo/
mercado, passando a intercambiar produtos entre as regiões que não eram capazes 
TÓPICO 4 | GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA INTERNACIONAL
131
de produzi-los. A esta prática pode-se exemplificar com os produtos ingleses e 
franceses, que eram negociados com produtos e as populações dos países indianos, 
americanos, africanos.
Resumidamente, o mercado atendia às demandas de economia (comércio, 
circulação e consumo de produtos); o Estado, por sua vez, atendia a necessidades 
de serviços junto à população (serviços educacionais, infraestrutura, habitação, 
saúde e lazer).
A globalização, que se apresenta ao nosso momento histórico, ganhou 
ênfase no final dos anos de 1980, quando foi reconhecido o fim do cenário da Guerra 
Fria, com as experiências da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) 
e foi desfeito o muro de Berlim, que separava a Alemanha Oriental (comunista/
socialista) da Alemanha Ocidental (capitalista). 
Ocorreu também a formação da OMC: Organização Mundial do Comércio 
(que conta com a adesão de mais de 150 países) e os blocos econômicos da UNIÃO 
EUROPEIA, NAFTA, MERCOSUL, APEC, ASEAN, entre outros. Na América 
Latina estruturou-se a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o 
Caribe), órgão para pensar o desenvolvimento econômico, social e sustentável. Esta 
articulação de países indica um forte movimento de regionalização das relações 
econômicas e políticas, assim como das relações sociais e culturais entre os mesmos, 
e por sua vez, dos conceitos de fronteira, espaço, nação, Estado, entre outros.
Ianni (1994) foi categórico quando refletiu que a fábrica global é tanto 
metáfora quanto realidade, altamente determinada pelas exigências da reprodução 
ampliada do capital. 
No âmbito da globalização, os interesses de mercado revelam-se ávidos 
por processos que sejam capazes de promover cada vez mais a concentração e 
centralização do capital, para tanto articulam em torno de si empresas, mercados, 
forças produtivas, centros decisórios, alianças, estratégias e planejamentos de 
corporações, que se estendem e ultrapassam províncias, nações e continentes, ilhas 
e arquipélagos, mares e oceanos (IANNI, 1994).
Os Estados, em vez de desaparecer, adquirem uma nova lógica de operação, 
em que seu poder é limitado frente à expansão das forças transnacionais que 
reduzem a capacidade dos governos de controlar os contatos entre as sociedades e 
os indivíduos, por sua vez são forçados a impulsionar as relações transfronteiriças. 
Nessa perspectiva, os problemas políticos nem sempre são resolvidos de forma 
adequada e satisfatoriamente, então, eis que se faz necessário buscar a cooperação 
com outras nações e agentes não estatais a fim de atender tais demandas 
(KEOHANE; NYE, 1989).
132
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
2.1 O TERCEIRO SETOR
O terceiro setor ganhou espaço de constituição e atuação a partir dos 
anos de 1990. E instalou-se como alternativa em meio ao setor público/estatal 
(primeiro setor) e o setor privado/industrial/mercado (segundo setor), no sentido 
de intermediar, gerenciar e prestar serviços de interesse público em situações e 
contextos que os dois outros setores não atingem/alcançam.
Por meio dessa formulação e composição de setores, cria-se um vácuo 
de poder e ação que favorece a constituição de organizações, coletividades 
internacionais e transnacionais, governamentais e não governamentais, que se 
propõem a apresentar decisões políticas e ações sociais.
O terceiro setor constitui uma espécie de sociedade civil de caráter jurídico. 
Os órgãos que compõem o terceiro setor podem ser sociedades, associações, 
fundações, institutos, ONGs (Organismos Não Governamentais), OSCIPs 
(Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). As ONGs que compõem 
uma associação civil de direito privado, sem fins lucrativos ou econômicos, 
encontram-se pautadas nas normas e legislações da Declaração Universal dos 
Direitos Humanos e na Constituição Federal. Essas associações recebem doações 
de empresas e pessoas físicas que procuram deduzir impostos que devem ser 
pagos ao governo federal, para tanto precisam atuar em atividades que se 
caracterizam como: entidades de interesse público, como fundos de direitos da 
criança e do adolescente; instituições de ensino e pesquisa; e atividades culturais 
e audiovisuais.
Entre as críticas que são feitas à modalidade, encontram-se as situações em 
que se caracterizam espaços que favorecem a atuação de grupos que se utilizam 
de verbas públicas em nome de grupos privilegiados. 
3 GLOBALIZAÇÃO: UM BALANÇO
A globalização pode apresentar sua face mais bem-sucedida, que reside 
no fato de que foi capaz de favorecera intercomunicação entre povos e as pessoas 
das mais diferentes e inusitadas regiões do planeta, diminuir as fronteiras no 
campo dos transportes e promover intercâmbios nas atividades de comunicação 
e informações.
A formação dos grupos regionais é capaz de conferir aos seus membros 
uma melhor possibilidade de negociação e barganhas no jogo das relações que 
se dão no cenário mundial. Por outro lado, quando interpretadas nas relações 
internas, em especial com os membros que compõem o grupo do qual fazem parte, 
evidenciam-se realidades sociais, culturais, condições de produção e capacidade 
de consumo desigual, de forte dependência tecnológica e vulnerabilidades 
política e econômica (a exemplo disso pode-se considerar o grupo NAFTA, que é 
composto pelos países: Canadá, Estados Unidos da América e México).
Todavia, acabou por prevalecer o caráter de fazer com que as relações 
políticas, os governos, os grupos sociais e movimentos culturais fossem colocados 
TÓPICO 4 | GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA INTERNACIONAL
133
a favor dos interesses da economia. Acabou-se por padronizar cada vez mais os 
processos de produção, os desejos de consumo, os estilos de vida e as culturas, 
anulando cada vez mais as diferenças, identidades, as especificidades, as tradições 
locais e regionais, qualquer tipo de fronteiras e valores morais tradicionais.
Os modelos ideais de globalização que foram postulados garantiam que 
os indivíduos se abrissem a uma imensa variedade e riqueza de itens, tanto 
materiais como imateriais. Munidos desses itens, a vida ganharia uma dinâmica 
e a criatividade dos ares de liberdade, que por sua vez contagiariam com imensa 
alegria e colocariam em movimento o ambiente cultural e intelectual dos hábitos, 
dos costumes, das mentalidades de todos e a todos em toda face da Terra 
(BERMAN, 1986).
A partir das formulações de produção, trabalho e economia postuladas 
pelos teóricos do século XIX, gerou-se uma espécie de novo modelo antropológico 
de homem, o Homo economicus, que tem como centro e modo de vida os princípios da 
economia, que se revela pelos aspectos de um comportamento de individualismo 
exacerbado, competição desenfreada e o consumismo sem sentido, numa espécie 
de busca pelo ter e ter cada vez mais, e obtido a qualquer custo.
AUTOATIVIDADE
1 (ENADE – 2014) Com a globalização da economia social por meio das 
organizações não governamentais, surgiu uma discussão do conceito de empresa, 
de sua forma de concepção junto às organizações brasileiras e de suas práticas. 
Cada vez mais é necessário combinar as políticas que priorizam modernidade e 
competitividade com incorporação dos setores atrasados mais intensivos de mão 
de obra. A respeito desta temática, avalie as afirmações a seguir:
I- O terceiro setor é uma mistura dos dois setores clássicos da sociedade, o 
público representado pelo Estado, e o privado representado pelo empresariado 
em geral. 
II- É o terceiro setor que viabiliza o acesso da sociedade à educação e ao 
desenvolvimento de técnicas industriais, econômicas, financeiras, políticas e 
ambientais.
III- A responsabilidade tem resultado na alteração do perfil corporativo e 
estratégico das empresas, que têm reformulado a cultura e a filosofia que 
orientam as ações institucionais. 
Está correto o que se afirma em: 
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) II, apenas.
c) ( ) I e III, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.
134
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
4 A POLÍTICA INTERNACIONAL
A política ganhou um caráter internacional a partir do século XVIII, 
quando do surgimento do Estado Moderno, em que o sistema capitalista irá se 
instalar a fim de obter condições e favorecimentos para expandir seus alcances em 
termos de matérias-primas, frentes de investimento e mercado consumidor. Ela 
pode ser identificada ainda quando da vigência do regime de Colonialismo, que 
vigorou na era das grandes navegações, quando Espanha e Portugal estabeleciam 
e organizavam politicamente suas colônias de exploração nos continentes 
americano e africano.
5 O ESTADO MODERNO E O LIBERALISMO
Surge no contexto em que ocorre o enfraquecimento do Antigo Regime 
(marcado pelas monarquias), das aristocracias, do clero, da Igreja Católica como 
um todo, diante do fortalecimento crescente do Estado moderno, da burguesia 
comercial, do liberalismo e do capitalismo. 
O Estado moderno possuía como principal intento reestruturar os 
governos de forma laica/secular, de forma a estabelecer regulação política, 
jurídica e institucional das relações entre religião e política, Igreja e Estado, ou 
seja, conferir emancipação do Estado e do ensino público dos poderes eclesiásticos 
e de toda referência e legitimação religiosa. Nesse contexto, caberia ao Estado 
garantir a neutralidade em matéria religiosa (ou a concessão de tratamento 
estatal isonômico às diferentes agremiações religiosas), a tolerância religiosa e as 
liberdades de consciência, de religião (incluindo a de escolher não ter religião) e 
de culto (CASANOVA, 1994). 
A busca por um novo/outro conjunto de valores morais, o exercício de 
métodos sofisticados de pensar e sentir, a racionalidade desprendida de uma 
matriz religiosa dogmática, o reconhecimento da subjetividade inerente às 
relações humanas, a defesa da liberdade de pensar e agir conforme uma ética 
particular/interiorizada, tudo isto vai reforçar a crítica aos resquícios que ainda 
persistiam do mundo feudal, do Antigo Regime e dos sistemas monárquicos que 
perduraram ao longo dos séculos XVII e XVIII.
O Estado Moderno e o Liberalismo concatenam todo um processo 
histórico, com múltiplas determinações: a ideia moderna de indivíduo (que não 
se restringe ao ideário liberal) e que surgiu em meio a mudanças profundas e 
que abrangiam as mais diversas relações humanas, tais como religião, política, 
economia, trabalho, família, ideias, artes: tudo convergindo e reforçando 
mutuamente para produzi-la.
O Imperialismo que surgiu foi uma formação de governo e política, que 
se praticou muito no século XIX, e foi exercido pelos países europeus para com 
TÓPICO 4 | GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA INTERNACIONAL
135
os países de regiões como a África, América e Ásia, de onde obtinham matérias-
primas para empreender sua produção industrial, consolidavam relações 
comerciais e mercados consumidores e exerciam influência/dominação cultural. 
6 O NEOLIBERALISMO E A TERCEIRA VIA
O neoliberalismo forjou-se a partir dos elementos já existentes no interior 
do liberalismo clássico do século XVIII, porém, agora privilegiou os ideais 
econômicos, em especial os princípios de liberdade de empreendimento, de 
propriedade e de lucro, em detrimento das demandas/necessidades políticas e 
sociais (legitimidade, direitos e serviços) dos indivíduos.
Dentre as críticas que são feitas ao neoliberalismo tem-se as políticas 
que promovem a redução da interferência/regulação do Estado nas atividades 
econômicas/financeiras, permitindo o livre funcionamento do mercado, inclusive 
na distribuição da riqueza; assim como na promoção de bem-estar, em prol da 
privatização por grupos privados na oferta de serviços de saúde, educação, 
cultura, pensões, entre outros.
No contexto de política econômica, os governos deveriam atuar no sentido 
de favorecer mudanças tecnológicas e a rentabilidade das empresas, favorecendo 
cada vez mais o mercado livre e a redução da taxa de acumulação.
As principais experiências de governos neoliberais podem ser identificadas 
com o caso da Inglaterra, sob o governo da primeira ministra Margareth Thatcher, 
e dos Estados Unidos, com o presidente Ronald Reagan; do ditador Augusto 
Pinochet, no Chile; e em termos de bases teóricas, a Escola de Chicago, liderada 
pelos economistas Milton Friedman e George Stigler.
A ‘terceira via’ foi apresentada como alternativa frente às crises que 
emergiam das políticas neoliberais, que propõe uma espécie de humanização do 
capitalismo, nos aspectos do malefício do Estado neoliberal eda sociedade de livre 
mercado. Na qual estariam engajados tanto dirigentes políticos de países ricos e 
representantes de empresas transnacionais, que em meio às crises econômicas se 
dedicariam a amenizar os impactos sociais, as injustiças, revoluções e caos, no 
sentido de manter a paz e coesão social.
 
Anthony Giddens (2001), um dos principais estudiosos e defensores da 
‘terceira via’, a explica como sendo uma estratégia de âmbito mais global, a fim de 
favorecer e melhorar as sociedades burguesas e democráticas, uma perspectiva 
de que os Estados/governos devem se reformar e a sociedade civil se qualificar/
educar no sentido de os indivíduos exercerem a cidadania para participar e 
decidir diante das demandas de caráter coletivo.
136
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
Os defensores da ‘terceira via’ interpretam que grande parte dos problemas 
que acometem os países pobres e subdesenvolvidos não são fruto da economia 
global ou das práticas de exploração das nações ricas, e sim das condições internas 
das próprias sociedades.
A terceira via pode ser observada quando partidos políticos de esquerda, 
ou de cunho social, trabalhista e democrático, procuram ajustar suas políticas aos 
moldes neoliberais e, por outro lado, criar modos particulares de amenizar os 
problemas sociais e os riscos de degradação sociopolítica de seus países, em meio 
ao capitalismo que se torna cada vez mais global e ao mercado que se faz cada vez 
mais onipresente, ambos processos de pouca probabilidade de reversão. 
7 TENDÊNCIAS AOS GOVERNOS E À POLÍTICA 
INTERNACIONAL
Existem impasses que se abatem sobre as mais diversas nações e países 
do globo, tais como governos e os sistemas políticos altamente burocratizados 
e quase falidos, e incapazes de conseguirem proporcionar justiça e bem-estar 
social, envolvidos em redes profundas de corrupção.
O estudioso Ladislau Dowbor procura fazer uma síntese da trajetória e 
do perfil do conceito de governo, levando em consideração o caráter que este 
apresentou em termos de princípios na responsabilidade pela administração, na 
relação com os cidadãos e no atributo que norteia os espaços, os processos e as 
instâncias que compõem um governo.
Observe com atenção o quadro a seguir, que faz as devidas distinções e 
estabelece comparações e reflexões.
QUADRO 6 – EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE GOVERNO - LADISLAU DOWBOR
FONTE: World Public Sector Report (2005, p. 7)
ADMINISTRAÇÃO 
PÚBLICA
NOVA GESTÃO 
PÚBLICA
GOVERNANÇA 
PARTICIPATIVA
PRINCÍPIOS 
ORIENTADORES
Cumprimento de 
leis e regras
Eficiência e 
resultados
Responsabilidade, 
transparência e 
participação
RESPONSABILIDADE 
DA 
ADMINISTRAÇÃO 
SUPERIOR
Políticos Clientes Cidadãos, atores
RELAÇÃO 
CIDADÃO-ESTADO
Obediência Credenciamento Empoderamento
ATRIBUTO-CHAVE Imparcialidade Profissionalismo Participação
TÓPICO 4 | GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA INTERNACIONAL
137
Estabelecendo relação com o quadro geral dos modelos econômicos que 
influenciaram e configuraram os sistemas políticos, pode-se situar os modelos 
de liberalismo à estrutura de governo denominada de ‘administração pública’, 
modelo de governo que vigorou ao longo do neoliberalismo na categoria de ‘nova 
gestão pública’ como que sendo pertencente à terceira via, identificado também 
como ‘governança participativa’.
Nesse contexto de mudanças de modelos de Estado/governo, cada vez 
mais o Estado é chamado a ampliar os investimentos em recursos humanos e 
infraestrutura local, sendo de responsabilidade do Estado proteger os grupos 
vulneráveis e o meio ambiente, aproximar o Estado da população, criar meios e 
políticas que favoreçam a inclusão e participação efetiva dos cidadãos, reduzir 
as oportunidades de corrupção, garantir estabilidade macroeconômica, favorecer 
parcerias entre o setor público e o privado, gerir os processos de privatização, 
fortalecer redes industriais em nível nacional, regional e internacional; apoiar as 
exportações, entre outros. 
DICAS
Acesse a página do professor da Universidade de São Paulo/USP Ladislau Dawbor. 
Aprofunde seus conhecimentos sobre política, governo, economia, tecnologia e sociedade 
com as dicas e sugestões de livros, artigos e filmes lá indicados. Disponível em: <http://
dowbor.org/>. Acesso em: 4 jun. 2015.
138
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:
• A globalização consiste em um fenômeno antigo em meio às sociedades que 
procuravam intercambiar produtos, tecnologias e informações, porém, ganhou 
forte impulso ao final da década de 1980, quando ocorreu a queda do Muro de 
Berlim e do fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
• O fenômeno da mundialização das relações financeiras e da globalização 
favoreceu alguns grupos regionais que buscam tanto favorecer como proteger 
os processos industriais que existem no interior dos países membros, e neste 
contexto os governos desempenham papel fundamental. 
• Dentre os desafios que ocorrem no interior dos grupos econômicos está 
a heterogeneidade das bases produtivas, a vulnerabilidade econômica, 
instabilidades políticas e a diversidade sociocultural de cada país membro.
• A terceira via consiste em uma união de representantes de órgãos políticos 
e financeiros que pretendem apresentar soluções no sentido de amenizar e 
humanizar os impactos do sistema neoliberal em meio à sociedade e às 
populações. 
• O perfil de Estado/governo que se faz necessário no cenário político atual é o 
de um governo capaz de proteger os grupos vulneráveis e o meio ambiente, 
criar meios e políticas que favoreçam a inclusão e participação efetiva dos 
cidadãos, reduzir a corrupção, garantir estabilidade macroeconômica, gerir 
os processos de privatização, fortalecer redes industriais em nível nacional, 
regional e internacional.
139
1 (ENADE – 2014) Ideais liberais e métodos democráticos vieram, 
gradualmente, se combinando num modo tal que, se é verdade que os direitos 
de liberdade deram início à condição necessária para a direta aplicação das 
regras do jogo democrático, é igualmente verdadeiro que, em seguida, o 
desenvolvimento da democracia se tornou o principal instrumento para a 
defesa dos direitos de liberdade. 
De acordo com a orientação teórica expressa no texto acima, avalie as 
afirmações a seguir.
I- Liberalismo e democracia, doutrinas políticas distintas, exercem grande 
influência no ordenamento político das sociedades atuais.
II- Liberalismo e democracia são doutrinas políticas que surgiram em 
momentos diferentes e convergiram para dar origem à democracia liberal.
III- Liberalismo é uma doutrina política incongruente com o ideal igualitário, 
que caracteriza a tradição democrática. 
É correto o que se afirma em: 
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) III, apenas. 
c) ( ) I e II, apenas.
d) ( ) II e III, apenas. 
e) ( ) I, II e III. 
AUTOATIVIDADE
140
141
TÓPICO 5
RELAÇÕES DE TRABALHO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Um indivíduo/trabalhador, consciente de si e de seu fazer profissional, 
geralmente pergunta-se sobre aspectos inerentes ao ofício, tais como: saber 
fazer, técnica, matéria-prima e energia, os meios de produção, o produto, custo, 
margem de lucro, jornada de trabalho, remuneração, condições de trabalho, 
comércio, consumo, categoria de trabalho, reconhecimento e valor/sentido social 
e a realização, a satisfação/sentido pessoal, os âmbitos e as instituições que 
intermedeiam seu fazer profissional.
2 ORIGEM/SIGNIFICADO DA PALAVRA TRABALHO
Ao pensar e refletir sobre relações de trabalho, parece que se toca em uma 
questão que é responsável por causar entusiasmo e resistência aos indivíduos, ao 
mesmo tempo as pessoas se sentem dispostas e se dedicam a certa atividade e, 
por outro lado, recuam diante das condições, regramentos e normatizações em 
que precisarão estar alinhadas e adequadas. Percebe-se, também, uma espécie 
de um relutar diante do fato da exploração do homem pelo próprio homem, no 
sentido de obter e gerar riqueza. 
Conta-se com todo um processoe imaginário histórico para que isso 
ocorra, no sentido de que as relações de trabalho se encontram forjadas em meio 
a elementos religiosos, sociais, econômicos e políticos, e procura-se apresentar as 
principais concepções e dinâmicas que o homem atribuiu ao trabalho ao longo 
de sua jornada histórica, bem como as possibilidades do momento presente e 
vislumbrar tendências que as relações de trabalho podem trilhar. 
Albornoz (2008) apresenta que a expressão trabalho contém muitos 
significados, tais como esforço, fadiga, sofrimento, labuta, castigo, realização, 
sacrifício; que existem muitas expressões, nas mais diferentes línguas, como labor 
e operare no italiano, travailler no francês, work no inglês; bem como comporta 
correlações entre as mesmas, como no caso da palavra latina arvum, que significa 
terreno arável, que surgiu da noção do alemão arbeit, que significa trabalho. 
Na Grécia antiga, pode ser associada à noção de poiesis, que significava 
o fazer, a fabricação, o que o ser humano produz tanto material: uma obra de 
arte executada por um artista, escultor, ceramista; como não material: instituições 
sociais, referências culturais etc. 
142
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
A expressão trabalho, tal como é escrita e utilizada na língua portuguesa, 
deriva da expressão latina tripalium, que ao longo da Idade Média era o nome 
dado a um instrumento de tortura que apresentava três paus reunidos, utilizado 
pelos camponeses e servos para bater o trigo, as espigas de milho, e para desfiar 
e esfiapar o linho; certa vez foi adaptado e utilizado como instrumento de tortura 
(ALBORNOZ, 2008). 
O missionário católico Raimundo Lélio (1232-1315), que atuou entre 
os povos catalães no século XIII, foi o responsável por reabilitar a expressão e 
concepção ‘trabalho’, que foi amplamente difundida na sociedade moderna 
industrial e capitalista (GANDILLAC, 1995). A concepção de trabalho também é 
identificada na denominação de tripalium, que foi extraída do latim e designava 
um instrumento de tortura reservado aos escravos. Lélio a substituiu pela 
expressão treballan, que é oriunda do idioma catalão, que designa a habilidade 
em elaborar a matéria bruta, transformando-a em obra, realização e propriedade 
humana, e dignificadora do próprio homem.
Labor e trabalho são expressões muito utilizadas e até sinônimos, porém 
Arendt (2007) nos propõe que se faça distinção entre elas. Por labor a autora 
relaciona o ato de trabalhar, que está na labuta, numa lógica de estar em curso, 
na disposição de verbo no gerúndio, está ocorrendo, não comporta a noção de 
produto final. Por trabalho designa as atividades feitas com as mãos, a noção de 
produto, trata-se de um trabalho que é apresentado como acabado. 
Os estudiosos são unânimes ao apresentar que a palavra trabalho deve 
ser identificada e compreendida ainda nas sociedades ágrafas (sociedade sem 
escrita), quando ocorreu a passagem das atividades de caça, coleta e pesca à 
prática da agricultura e na domesticação dos animais. 
Durante muitos séculos, a moral e a ética do “trabalho” e da “conquista” 
permaneceram, em grande parte, como um fato circunscrito ao universo rural, 
ao lavrar e semear a terra, colher e armazenar alimentos, domesticar e tratar 
animais, construir pontes, moinhos, celeiros, castelos, palácios, igrejas, minerais, 
metais preciosos, entre outros.
As concepções foram alteradas, inclusive as mais antigas, quando 
reunidas nos livros da Bíblia Sagrada, em que o trabalho não é mais visto como 
um indício da maldição de Deus a Adão e Eva, com a expulsão do paraíso, sendo 
que teriam que ganhar o pão com o suor do próprio rosto. Os gregos distinguiam 
entre esforço do trabalho na terra, a fabricação do artesão que servia ao usuário, 
e a atividade livre do cidadão que discutia os problemas da cidade. De modo 
muito semelhante na Idade Média, trabalhar com as mãos era sinônimo de ser 
escravo ou servo, um indício de que o indivíduo pertencia aos grupos inferiores 
da sociedade.
A partir da reforma protestante, empreendida pelo teólogo Martinho 
Lutero (1483-1546), a concepção de trabalho foi profundamente reformulada no 
TÓPICO 5 | RELAÇÕES DE TRABALHO
143
sentido de que o trabalho, como vocação, conduziria os indivíduos à salvação da 
alma. João Calvino (1509-1564), teólogo francês, apresentava a noção de que o 
trabalho, o êxito e a prosperidade material em vida deveriam ser compreendidos 
como uma forma de conquistar a benevolência de Deus. Ambas as teorias 
favoreceram o contexto no qual implantavam-se políticas de mercantilismo e 
capitalismo. 
O sociólogo Max Weber (1864-1920) defendeu, em seus estudos, que os 
valores religiosos do protestantismo favoreceram e coincidiam com o espírito do 
capitalismo, no sentido de que superavam a moral católica de renúncia ao mundo 
material, do acúmulo de bens financeiros e ao lucro, na vida religiosa de devoção 
contemplativa e de renúncia ao mundo material.
A noção de vocação para o trabalho foi associada também à ideia de 
amor ao próximo, e quanto mais intensa a atividade profissional, maior a 
aproximação da salvação. Por outro lado, a falta de vontade de trabalhar passou 
a ser compreendida como ausência do estado de graça e do não merecimento da 
salvação de Deus. Assim, estava autorizado que todo indivíduo empreendesse a 
busca pela riqueza material, podendo realizar grandes ações e assim galgar sua 
própria salvação. 
Uma das principais alterações que a modernidade realizou foi a de 
apropriar-se da concepção positiva de trabalho e mudar o ambiente de realização 
do mesmo, que do interior das casas ou no interior das corporações de ofício 
passou a ser realizado em cidades, no interior dos espaços das fábricas.
Foi nesta época que surgiram as noções de divisão de trabalho, na qual 
cada indivíduo, com a fração/parte que desempenha, na sua especialidade, 
contribui à soma de trabalho coletivo, que por sua vez gera a riqueza de cada 
nação, o que se tornaria uma espécie de consciência e interesse coletivo e comum 
a todo indivíduo. É nesse momento que a mudança de percepção da noção de 
trabalho passa a ocorrer, no sentido de que as pessoas passam a trabalhar para 
poder consumir, e não mais para produzir algo.
A partir do século XVIII, os economistas Adam Smith (1723-1790) e David 
Ricardo (1772-1823) reforçam os valores de atividades produtivas e de riqueza 
material, e defendem que o trabalho é o grande responsável pela riqueza social, o 
que por sua vez supervalorizou a ideia de homem operário, Homo economicus, que 
produz riqueza, que contribui para que o sistema econômico continue a alcançar 
seus objetivos e lançar novas possibilidades de investimentos e lucratividade. Foi 
nesse contexto que o estudioso alemão Karl Marx (1818-1883) defendeu que a 
essência do homem é o trabalho e não a sua vida espiritual. Passou a observar 
mais de perto a relação do homem e do trabalho, ao ponto de analisar dimensões 
peculiares e subjetivas da relação do homem com o trabalho e a mercadoria, e se 
engajar ativamente em fazer o processo de crítica e denúncia das contradições 
que envolviam trabalhadores, proprietários dos meios de produção e burgueses 
comerciantes, abrangendo o sistema capitalista como um todo.
144
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
No entanto, a perspectiva de Marx era a de que o exercício crítico, através 
da intelectualidade, não era suficiente, para ele o mundo não se transforma com o 
pensamento e leis, o mundo deveria ser transformado pela práxis, na organização 
dos trabalhadores e na realização de atos revolucionários. A divisão do trabalho 
era responsável pela alienação do homem na sociedade capitalista, que por sua 
vez se revelava em face à perda da totalidade e da dignidade humana. Caberia 
ao proletariado a responsabilidade pelo ato de fazer a revolução e transformar a 
sociedade, tomar o poder e abolir a relação capitalista de produção. Em meioao 
campo de luta e revoluções, os trabalhadores deveriam estar conscientes de si e 
de sua classe/categoria e empreender as revoluções que fossem necessárias a fim 
de desfazer o quadro de desigualdade, injustiças e exploração que o trabalho 
favorecia. Marx defendia a superação do sistema capitalista pelo comunismo, 
numa espécie de sociedade associativa em que o livre desenvolvimento individual 
seria a condição do livre desenvolvimento de todos (MARX; ENGELS, 2010).
Segundo Abbagnano (2000), a relação do trabalho com a existência humana 
passa a ser lugar-comum na cultura contemporânea. Mesmo fora do âmbito 
marxista, o caráter penoso atribuído ao trabalho não é atribuído ao trabalho em 
si, mas às condições sociais em que ele é realizado nas sociedades industriais.
O trabalho passa a ser visto como parte fundamental da natureza humana. 
O trabalho é ainda hoje visto como um valor social, sendo o trabalhador um 
personagem social merecedor de respeito, admiração e dignidade pelas obras 
que faz a si, a seus familiares e semelhantes.
A nova concepção que foi atribuída ao trabalho combina com os valores das 
mudanças no interior da fabricação de produtos. O homem, reconhecendo que o 
trabalho não era mais motivo de sofrimento e castigo, mas sim uma atividade que 
o tornaria socialmente reconhecido, sentiu-se motivado e disposto a se dedicar e 
doar a fim de preencher as oportunidades e a demanda da manufatura e indústria 
nascente, bem como o campo das invenções de máquinas e técnicas e o próprio 
sistema capitalista, que estavam exigindo.
Trabalho, geralmente, pode ser definido como atividade coordenada 
de caráter físico ou intelectual, necessária a qualquer tarefa, serviço ou 
empreendimento, ocupação, ofício, exercício de profissão. Um aspecto que 
distingue o trabalho humano do trabalho dos outros animais está no fato de que o 
trabalho e esforço humanos são atribuídos à intencionalidade, além da operação 
instintiva e programada que é reconhecida nas atividades dos animais. No homem 
é percebido o grau de especialização, complexidade, tanto das atividades, como 
dos meios dos quais ele se utiliza para realizar o trabalho.
A produção artesanal, produção familiar em espaços domésticos ou 
pequenas oficinas, como alfaiates, ceramistas, sapatarias, na qual importa fazer 
um bom trabalho, um produto único, com maestria e arte de fazê-lo. O trabalhador 
encontrava-se livre para organizar seu trabalho, a seleção de sua matéria-prima, 
o começo, a forma, a técnica, o ritmo, os detalhes, o acabamento, a entrega. Não 
ocorre a distinção de trabalho e lazer, divertimento e cultura, ambos se fundem. 
TÓPICO 5 | RELAÇÕES DE TRABALHO
145
A Europa viveu seu momento de desenvolvimento industrial ainda no 
século XIX, na América Latina ocorreu somente na segunda metade do século XX, 
realidades nas quais o processo de aprimoramento da produção acabou por se 
modificar, não seguindo a lógica de fases e processos que ocorreram na Europa. 
O quadro industrial dessa região apresenta-se ora como que ainda na segunda 
revolução industrial, e ora na produção que se utiliza de tecnologia de ponta e 
robotização, em especial a migração e empregabilidade no setor de serviços. Ao 
mesmo tempo, encontram-se inúmeros desafios em termos de dependência em 
relação a tecnologias e desigualdades no que diz respeito ao acesso ao emprego.
No século XIX, pode-se falar que a produção capitalista, que introduziu 
a máquina a vapor e a modernização dos métodos de produção, desintegrou 
costumes e introduziu novas formas de organização da vida social. A transição 
da produção artesanal para a manufatureira e desta para a produção fabril, a 
migração do campo para a cidade; o fim da servidão; o desmantelamento da 
família patriarcal; a introdução do trabalho feminino e infantil.
A individualização da produção, a programação das atividades, linhas 
de montagem, produção em série e o consumo em massa (fordismo e taylorismo) 
almejavam articular o acesso a matérias-primas, à mão de obra, ao fácil 
escoamento da produção e obter maiores margens de lucros entre os custos e 
a comercialização da produção, que por sua vez acarretam deslocamentos que 
desperdiçavam tempo significativo na vida dos trabalhadores, além da produção 
de poluição e impactos ao meio ambiente.
 
A maquinização e a mecanização da produção conferiram ao trabalhador 
a percepção da perda do saber fazer, a perda da noção de produtor. Diante disso, 
o trabalhador se sentiu pressionado a se adaptar para poder operar as máquinas 
que estavam sendo introduzidas nos espaços de trabalho. A separação, divisão 
e especialização da produção fizeram com que o produtor não conseguisse mais 
reconhecer a totalidade do produto depois de pronto. Mudanças da concentração 
da população em relação às atividades econômicas e oportunidades de trabalho, 
assim como o trabalho na indústria, acabaram por concentrar a população em 
determinadas regiões e cidades, tornando-as superpovoadas. 
O que Marx procurou definir como ‘alienação’ encontrava-se nascente 
nesses processos, e depois poderia ainda ser verificada em situações como a do 
consumo dos produtos que estavam sendo produzidos/consumidos, no contexto 
industrial em que a produção se dava em grande escala e para consumo em massa. 
Trabalhadores como alfaiates, costureiras, sapateiros, eram os testemunhos mais 
expressivos desse processo.
Diante da reflexão de Arendt (2007), podemos afirmar que, desde o século 
XIX, o Homo faber foi perdendo sua aura e passou a ser valorizado o “princípio 
da felicidade”. De fato, o progresso da civilização não produziu uma sociedade 
de indivíduos políticos ou de trabalhadores que amam seu ofício, e sim uma 
sociedade de consumidores, de indivíduos isolados e desenraizados, uma cultura 
146
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
de massa imersa em futilidade. E a construção da identidade deixou de ser 
pautada em atividades criativas e produtivas, à medida que o trabalho se tornou 
apenas um meio de satisfazer necessidades ou desejos de consumo.
3 AS MULHERES NO CONTEXTO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
As mulheres participaram da produção de utensílios, alimentos e 
mercadorias desde os tempos mais remotos, que envolviam desde as atividades no 
interior da casa, família e comunidade. A alimentação, o artesanato e a educação 
das crianças foram inseridos no interior dos espaços de trabalho com fortes 
projetos a partir da Revolução Industrial. Os maiores problemas surgem quando 
as mulheres passam a ser empregadas no interior das indústrias modernas, em 
meio a longas jornadas de trabalho, com a presença de maquinários, em que os 
salários pagos às mulheres eram inferiores.
 A gradual introdução das mulheres no campo de trabalho favoreceu 
a mudança de hábitos e costumes por parte das mesmas. O fato de trabalhar 
no interior das fábricas exigia novos comportamentos, posturas e até uma 
indumentária que favorecesse a realização das atividades e evitasse possíveis 
acidentes de trabalho. Os vestidos longos e rodados, os chapéus e demais 
acessórios ofereciam risco de acidentes se usados nos espaços de trabalho em 
meio às máquinas.
As roupas que deveriam ser usadas no interior das indústrias precisavam 
ser justas, retas e que cobrissem o corpo o máximo possível. A condição e imposição 
do meio de trabalho foram responsáveis por depreciar a feminilidade, fragilidade 
e sensibilidade da mulher e favorecer uma postura rígida, tenaz e ereta. Foi neste 
contexto que a estilista francesa Coco Chanel (1883-1971) começa a projetar roupas 
com design mais favorável às atividades no interior das fábricas e empresas, nas 
quais se destacam cortes e precisão geométrica das roupas e modelos ajustados 
ao corpo, ausentes de babados, volumes, acessórios, entre outros.
1º de Maio: Dia do Trabalhador, Dia do Trabalho ou Dia Internacional dos 
Trabalhadores 
Esta data, que é comemorada em diversos países, como Brasil, Portugal, Austrália, Angola, 
França, Suécia,Moçambique, é resultante de uma greve geral de trabalhadores que ocorreu 
no ano de 1886, no interior de Chicago, nos Estados Unidos da América. A paralisação 
foi responsável por envolver diversos parques industriais da cidade. Dentre as causas da 
paralisação encontrava-se a redução da jornada de trabalho. A presença dos manifestantes 
na rua se estendeu por diversos dias e acabou por ser reprimida com violência pelas tropas 
do governo, causando inúmeras mortes.
ATENCAO
TÓPICO 5 | RELAÇÕES DE TRABALHO
147
A partir dos anos de 1990 o toyotismo, idealizado pelo engenheiro-
mecânico Taiichi Ohno (1912-1990), tornou-se tendência no interior dos sistemas 
produtivos. Esse rearranjo produtivo apresenta, como princípios, a otimização 
da produção em todas as fases e a integração de todos os setores no interior dos 
espaços produtivos; no campo deliberativo requer a descentralização da tomada 
de decisões; produção de itens diferenciados; formação de alianças e redes de 
atividades empresariais; por parte dos indivíduos requer trabalho em equipe, 
proporciona a participação nos resultados, subcontratação e exige qualificação 
constante.
4 O TRABALHO NOS TEMPOS CONTEMPORÂNEOS
O homem contemporâneo possui uma relação com o trabalho, que foi 
instaurada ainda no século XIX e que ganhou desenvolvimento e aprofundamento 
ao longo do século XX. Trata-se da produção industrial, tecnológica e a prestação 
de serviços no interior de grandes cidades. O espaço primordial de realização dos 
indivíduos torna-se o espaço no interior das cidades, os espaços das indústrias e 
o âmbito público das relações.
A era industrial deixou de cumprir sua ‘grande promessa’: fabulosas 
realizações materiais e intelectuais. O sonho de sermos senhores independentes de 
nossas vidas terminou quando despertamos para o fato de que todos nos tornamos 
peças ínfimas da máquina burocrática, com nossos pensamentos, sentimentos e 
gostos manipulados pelo governo, pela indústria e pelas comunicações de massa 
que controlam tudo (FROMM, 1987).
Uma das questões cruciais de tal processo diz respeito à passagem do 
regime fordista (século XIX) ao regime chamado de produção toyotista. A técnica 
tornou cada vez mais fragmentado o processo de trabalho e, consequentemente, 
independente dos indivíduos, bem como aleatório com quem o faz, em que já 
não importa como cada um o faz; importa sim que cada indivíduo mantenha-se 
submetido ao todo, mantenha os laços, as passagens, o fluxo do processo, com o 
mínimo de interferência criativa, inovação que possa tornar os fluxos ainda mais 
eficientes.
 
Trabalhar em uma mesma empresa por muitos anos, ser homenageado 
e receber condecorações de três, cinco, dez, 15, 20 anos de empresa, faz parte da 
geração anterior à qual nos encontramos e que tende a se tornar cada vez mais 
raro. Especialmente no ramo do terceiro setor. 
No interior das grandes organizações descortinam-se tendências à 
rotatividade, à terceirização, cooperativas de trabalho, atividades autônomas, 
grupos de voluntariado, economia solidária, entre outras. No panorama atual 
de sistemas de governos, grupos empresariais e relações de trabalho, cadencia-
se a internacionalização dos processos de produção e comercialização e a 
148
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
mercantilização/financeirização das relações econômicas e sociais, no sentido de 
que reforçam o sistema capitalista e o poder do mercado, dimensões em que a 
noção de competição e propriedade prevalecem como moral e finalidade última, 
o que por sua vez acaba por fragilizar as estruturas de Estado, as relações sociais 
e culturais entre os indivíduos.
A tecnologia da informação, a descoberta e desenvolvimento de novos 
materiais, as mudanças e oscilações nas estruturas de mercado e a capacidade 
de competitividade e as relações intra e interpessoais parecem ser os elementos 
que mais permeiam as relações de trabalho. No interior dessas novas tendências 
identifica-se a busca dos indivíduos em vivenciar experiências que aliem trabalho, 
moradia, realização de projetos pessoais, formação continuada, vivências 
familiares, sociais e de lazer.
4.1 AS POSSIBILIDADES DO TRABALHO INFORMAL
O trabalho informal é o que ocorre nas experiências de trabalho artesanal 
e prestação de serviços, em que envolve intensa dedicação de mão de obra, de 
caráter temporário, geralmente apresenta pouco montante de capital envolvido 
e acaba apresentando acordos à parte das legislações trabalhistas; o que por sua 
vez acaba não concorrendo como linhas de financiamentos, seja de bancos ou 
governos; como exemplo, pode-se relacionar as práticas de trabalho no ramo do 
vestuário e alimentação.
Como economia solidária, pode-se entender as atividades que ocorrem 
de forma coletiva e em estruturas suprafamiliares, articuladas em associações, 
cooperativas, empresas autogestadas, grupos de produção, clubes de trocas etc., 
cujos participantes tanto podem ser trabalhadores dos meios urbano e rural. 
Os envolvidos nas atividades de economia solidária exercem forte 
controle e gerenciamento das atividades e dos resultados. Realizam atividades 
econômicas de produção de bens, de prestação de serviços, de fundos de crédito 
(cooperativas de crédito e os fundos rotativos populares), de comercialização 
(compra, venda e troca de insumos, produtos e serviços) e de consumo solidário. 
As atividades econômicas devem ser permanentes ou principais, ou seja, a razão 
de ser da organização.
4.2 RELAÇÕES DE TRABALHO E OS PROCESSOS LEGAIS 
NO BRASIL
O trabalho livre e assalariado ganhou espaço após a abolição da escravidão 
aplicada aos trabalhadores negros no Brasil em 1888 e com a gradual vinda dos 
imigrantes europeus. As condições impostas eram ruins, acabaram por gerar no 
interior do país as primeiras discussões sobre leis trabalhistas. Os imigrantes 
TÓPICO 5 | RELAÇÕES DE TRABALHO
149
traziam consigo a experiência do movimento operário e sindical no interior dos 
países europeus, o que por sua vez favoreceu a estruturação de organizações de 
trabalhadores, círculos operários, sindicatos e demais frentes de representação. 
No final do século XIX surgem as primeiras normas trabalhistas, por meio 
do Decreto nº 1.313, de 1891, que regulamentou o trabalho dos menores de 12 
a 18 anos. Em 1912, foi fundada a Confederação Brasileira do Trabalho (CBT), 
durante o 4º Congresso Operário Brasileiro. Dentre as causas defendidas pela 
Confederação estavam: a jornada de trabalho de oito horas, fixação do salário-
mínimo, indenização para acidentes, contratos coletivos ao invés de individuais.
No cenário internacional do pós-1ª Guerra Mundial, em 1919, surge a 
Organização Internacional do Trabalho (OIT), órgão internacional que por sua 
vez impulsionou a formação de um Direito do Trabalho. O surgimento deste 
órgão, naquele momento histórico, visava intermediar o conflito entre o capital e 
o trabalho, e que era visto como uma das principais causas dos desajustes sociais 
e econômicos, inclusive motivadores de guerras.
DICAS
Caro estudante, procure saber mais sobre a atuação da Organização Internacional 
do Trabalho-OIT. Trata-se do órgão responsável pelas convenções e recomendações que 
norteiam as questões relacionadas ao trabalho em nível internacional.
Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/content/apresenta%C3%A7%C3%A3o>. Acesso 
em: 3 jun. 2015.
A política trabalhista brasileira se consolida, de fato, após a Revolução de 
30, quando Getúlio Vargas cria o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. 
A Constituição de 1934 foi a primeira a tratar de Justiça do Trabalho e Direito 
do Trabalho, assegurando a liberdade sindical, salário-mínimo, jornada de 
oito horas, repouso semanal, férias anuais remuneradas, proteção do trabalho 
feminino e infantil e igualdade salarial.
No Brasil de 1964, com o golpe militar e a instalação da ditadura, ocorreram 
fortes medidas de repressão à classe trabalhadora, com o Decreto nº 4.330, as 
intervenções atingiramsindicatos em todo o Brasil. Este decreto é conhecido 
como a lei antigreve, que impôs tantas regras para realizar uma greve que, na 
prática, elas ficaram proibidas.
Depois de anos sofrendo cassações, prisões, torturas e assassinatos, em 
1970 um novo movimento sindicalista se reestrutura no interior do Estado de São 
Paulo, no chamado ABCD paulista. No ano de 1978 ocorre uma grande greve em 
150
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
DICAS
Conheça o site do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE. Lá você encontrará 
resoluções sobre o funcionamento das centrais sindicais, leis e convenções ao exercício das 
profissões, orientações sobre os trâmites contratuais e demissionais, seguro-desemprego, 
trabalho temporário, políticas de microcrédito, trabalho decente, entre outros.
MTE. Ministério do Trabalho e Emprego. Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/portal-
mte/>. Acesso em: 3 jun. 2015.
São Bernardo do Campo (SP) e que ganhou aderência de trabalhadores de todo 
o país.
Após o fim da ditadura militar, em 1985, e em meio às mudanças no 
cenário econômico, com a promulgação da Constituição de 1988, as conquistas 
dos trabalhadores foram restabelecidas; por exemplo, a Lei nº 7.783/89, que 
restabelecia o direito de greve e a livre associação sindical e profissional, a 
aposentadoria rural; Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT); Benefício de 
Prestação Continuada (BPC); Programa de Erradicação do Trabalho Infantil 
(PETI); bolsa escola e, ulteriormente, bolsa família, entre outros.
LEITURA COMPLEMENTAR
A TERCEIRIZAÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO
Grupos de empresários e empregadores apresentam argumentos no 
sentido de que a geração de emprego formal, e até a abertura de empresas, 
no Brasil, são dificultadas diante dos custos que as leis trabalhistas acabam 
acarretando. Alegam que em torno de 67% do salário consiste em tributos, que 
são pagos ao governo, que procura atender a leis de descanso remunerado, 13º 
salário, FGTS, adicionais em casos de horas extras, insalubridade e trabalho 
noturno. E diante deste cenário é que ganham espaço as ideias de terceirização 
no interior dos postos de trabalho.
Terceirização é o processo pelo qual uma empresa deixa de executar 
uma ou mais atividades realizadas por trabalhadores diretamente contratados 
e as transferem para outra empresa. A terceirização se realiza de duas formas, 
não excludentes. Na primeira, a empresa deixa de produzir bens ou serviços 
utilizados em sua produção e passa a comprá-los de outra – ou outras empresas 
–, o que provoca a desativação, parcial ou total, de setores que anteriormente 
funcionavam no interior da empresa. 
TÓPICO 5 | RELAÇÕES DE TRABALHO
151
A outra forma é a contratação de uma ou mais empresas para executar, 
dentro da “empresa-mãe”, tarefas anteriormente realizadas por trabalhadores 
contratados diretamente. Essa segunda forma de terceirização pode referir-se 
tanto a atividades-fim como a atividades-meio. Entre as últimas podem estar, 
por exemplo, limpeza, vigilância, alimentação. Tem-se observado também que 
vem ocorrendo o processo de quarteirização, a contratação de uma empresa pela 
empresa-mãe, que deverá gerir as relações com o conjunto das empresas terceiras 
contratadas no interior da mesma.
 O processo de terceirização da produção e da prestação de serviços no 
Brasil, e em quase todos os países capitalistas, desenvolveu-se como parte do 
rearranjo produtivo, iniciado na década de 70 do século XX, a partir da terceira 
Revolução Industrial, e que se prolonga até os dias de hoje. São mudanças 
importantes na organização da produção e do trabalho e, no caso específico da 
terceirização, na relação entre empresas. 
A adoção deste processo foi intensificada e disseminada no âmbito 
da reestruturação produtiva que marcou os anos 90. A partir do ano 2000, a 
economia brasileira iniciou um lento processo de recuperação, com taxas de 
crescimento positivas, porém o cenário do mercado de trabalho já é o da difusão 
generalizada da terceirização da mão de obra. Se, inicialmente, as empresas 
precisaram enxugar os custos para garantir sua sobrevivência, o processo de 
terceirização não apresentou retrocesso diante da melhora do cenário econômico, 
tendo permanecido como um elemento fundamental da mudança do processo 
produtivo e do mercado de trabalho brasileiros.
Em nível internacional destaca-se que as atividades mais atingidas pela 
terceirização, em suas diferentes formas, são aquelas próprias da Tecnologia da 
Informação (TI), o que inclui o trabalho de programadores, de processamento 
de dados e de desenvolvimento de softwares. O avanço rápido e constante nesses 
processos tecnológicos facilita a troca de dados, a execução de projetos e a entrega 
de produtos, independentemente do local onde o trabalho é executado.
A maior preocupação constatada a partir das fontes de informação sobre 
os Estados Unidos é a possibilidade de demissão em massa de trabalhadores 
americanos qualificados em decorrência de processos de terceirização nos 
quais as contratantes são empresas americanas. Nesse caso, o mais comum tem 
sido a adoção do international outsourcing (compra do componente ou serviço 
em outro país), do offshoring (realocação da empresa em outro país) ou ainda 
do on-site offshoring (contratação de trabalhadores estrangeiros imigrantes 
ou de trabalhadores em seus países de origem). Os países europeus, quando 
comparados com os Estados Unidos, demandam menos serviços terceirizados e 
adotam algumas barreiras culturais que dificultam a transferência de atividades 
de um país para outro. 
Dentre os setores mais vulneráveis à terceirização no continente, 
tem-se que a maioria está relacionada à área de TI, que atuam nos ramos de 
152
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE
desenvolvimento de softwares, processamento de dados, vendas, serviços de 
atendimento ao cliente, pesquisa, desenvolvimento e designs, finanças, recursos 
humanos e gerenciamento. Estima-se que os trabalhadores indianos da área de 
computação, por exemplo, recebam entre 1/5 e 1/10 do que é pago a um americano 
pela mesma função.
No Brasil os ramos de atividades que mais registram processos de 
terceirização são o setor público, no interior das unidades de governo, o setor 
financeiro, como bancos, os setores elétrico, químico, de petróleo e petroquímico 
e da construção civil.
Diante das formas mais explícitas de precarização das condições de 
trabalho e de vulnerabilidade da condição do trabalhador que resultam dos 
processos de privatização, tem-se um novo relacionamento sindical entre 
empregador e empregado, que aponta a desmobilização dos trabalhadores 
para reivindicações e greves, eliminação das ações sindicais e trabalhistas que 
reclamam pelos direitos sociais.
Texto adaptado de DIEESE. Departamento Intersindical de Estatísticas 
e Estudos Socioeconômicos. O processo de terceirização e seus efeitos 
sobre os trabalhadores no Brasil. Convênio SE/MTE nº 04/2003, Processo nº 
46010.001819/2003-27. 
FONTE: Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/data/files/FF8080812BA5F4B7012BAAF91A9E060F/
Prod03_2007.pdf>. Acesso em: 2 jun. 2015.
153
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você aprendeu que:
• A palavra trabalho tem origem nas práticas e atividades das mais antigas 
sociedades, comporta muitas diferenças de escrita, em especial na forma como 
as sociedades concebiam e ao valor moral que atribuíram à mesma.
• No interior da forma de produção artesanal o trabalhador detém o 
conhecimento de todas as fases de produção, pode atender à vontade pessoal 
de quem procura pelo produto, o produto consiste em um exemplar único e o 
artesão acompanha também o processo de comercialização do produto.
• No interior do processo de produção de forma manufaturada se dá a 
especialização e divisão de funções, a produção passa a ocorrer fora do local 
de moradia dos responsáveis pela produção, o que por sua vez favorece os 
primórdios das grandes indústrias.• No interior dos modos organização industrial do século XVIII e XIX 
prevaleceram os modelos fordista e taylorista, que se caracterizam pelo perfil 
de produção organizada em linhas de produções, em série e consumo em 
grande escala, e obedecem à organização e administração científica.
• O toyotismo consiste numa forma de organização no interior de empresas e 
processos produtivos que contempla a descentralização do poder e formação 
de redes de trabalho, a diferenciação da produção, forte controle da produção 
e qualificação constante dos trabalhadores.
• A terceirização pode ocorrer de diferentes formas: pela contratação de uma 
empresa que subcontrata trabalhadores para exercer funções no interior de 
uma empresa-mãe, como também quando uma empresa passa a comprar parte 
dos processos e dos produtos de outra empresa para compor o seu produto 
final.
154
1 Karl Marx (1818-1883), pensador alemão que se dedicava a denunciar as 
contradições no interior do sistema capitalista, ao longo de sua vida precisou 
mudar-se por diversas vezes de país, pois o teor de suas ideias acabava por 
lhe render inimigos de forte influência e poder político. Além disso, também 
passou por problemas com renda, sendo socorrido pelo amigo e colega/escritor 
F. Engels. Pergunta-se: no que consistiam as principais ideias e teorias de Marx? 
I- A ideia principal estava em explicar, denunciar e combater as contradições 
que estavam disfarçadas e camufladas no interior do regime comunista.
II- Argumentava que a divisão do trabalho era responsável por alienar o 
trabalhador, assim como, por lhe extorquir a sua dignidade.
III- Defendia que estaria única e exclusivamente nas mãos do proletariado 
conduzir a revolução que substituiria o capitalismo pelo comunismo.
IV- As teorias de Marx apresentavam que o proletariado deveria fazer 
a revolução e transformar a sociedade, tomar o poder e abolir a relação 
capitalista de produção. 
Agora, assinale a alternativa correta: 
a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. 
b) ( ) Somente as sentenças III e IV estão corretas.
c) ( ) Somente as sentenças II e III estão corretas. 
d) ( ) As alternativas II, III e IV estão corretas.
AUTOATIVIDADE
2 (ENADE – 2014) O debate sociológico acerca das novas relações 
de trabalho e consumo no capitalismo se intensificou desde a 
segunda metade do século XX, especialmente a partir de um 
novo modelo de acumulação, marcado pela “flexibilização 
dos processos produtivos”. Como aponta David Harvey a este respeito, 
a acumulação flexível “é marcada por um confronto direto com a rigidez 
do fordismo. Ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos 
mercados de trabalho, dos produtos e dos padrões de consumo”. E, ainda, mais 
importante do que isso é a redução aparente do emprego regular, em favor 
do crescente uso do trabalho em tempo parcial, temporário ou subcontratado.
FONTE: HARVEY, D. A condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992. 
De acordo com a afirmação acima, a acumulação flexível: 
I- Gerou cada vez mais trabalho especializado, responsável pelo aumento da 
racionalidade do processo produtivo.
II- Pode ser considerada uma expansão do princípio fordista de produção. 
III- Aumentou a precarização das relações de trabalho no capitalismo 
contemporâneo.
155
IV- Implica crescente heterogeneidade dos mercados de trabalho e dos 
padrões de consumo.
É correto apenas o que se afirma em: 
a) ( ) I e II.
b) ( ) I e III.
c) ( ) II e III.
d) ( ) II e IV.
e) ( ) III e IV.
156
157
UNIDADE 3
POLÍTICAS PÚBLICAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade você será capaz de:
• conhecer e analisar as principais características das políticas públicas do Brasil;
• refletir sobre a organização do sistema educacional brasileiro;
• caracterizar os pilares de alicerce do desenvolvimento sustentável;
• refletir sobre o contexto de desenvolvimento sustentável;
• retratar as ferramentas de gestão socioambiental para a sustentabilidade;
• conhecer as ações nacionais de segurança e defesa pública;
• refletir sobre como o aumento populacional e o avanço tecnológico impac-
tam sobre os ecossistemas;
• perceber a importância do sistema de transportes no desenvolvimento 
econômico do país;
• conhecer as políticas nacionais para a habitação e o saneamento;
• identificar os modos de vida urbano e rural, sua organização social, seme-
lhanças e diferenças e sua interdependência;
• destacar as características que identificam o meio urbano e o meio rural.
Esta unidade está dividida em sete tópicos. No decorrer da unidade você en-
contrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO
TÓPICO 2 – POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE
TÓPICO 3 – HABITAÇÃO E SANEAMENTO
TÓPICO 4 – TRANSPORTES E SEGURANÇA 
TÓPICO 5 – POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA EM ÂMBITO NACIONAL
TÓPICO 6 – VIDA RURAL, URBANA E ECOLOGIA
TÓPICO 7 – MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
158
159
TÓPICO 1
POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Quando falamos em políticas públicas, estamos nos referindo aos direitos 
e deveres do Estado para com as pessoas que compõem a sociedade e, assim 
como o Estado, gozam de seus direitos civis e políticos. Estamos também sujeitos 
ao conjunto de normas jurídicas e sociais, formando assim um marco regulatório 
previamente fixado no que diz respeito à distribuição harmônica dos elementos 
que formam os direitos, deveres e responsabilidades em prol do desenvolvimento 
educacional, econômico e social. A vida em sociedade está ligada à política e 
não há ação social sem ação política, quer seja promovida pelo Estado ou pela 
sociedade (RAMOS, 2014).
2 POLÍTICA PÚBLICA ATUAL
O termo política possui várias definições, as quais denotam a organização e 
o estudo das ações a serem realizadas para o bem-estar da população. Percebemos 
que a política é algo complexo, mas que se bem administrado ou exercido, poderá 
ter efeitos positivos junto à população. 
As primeiras reflexões sobre o que é política surgiram na Grécia antiga, 
com os filósofos, a quem eram atribuídos os dons do pensamento, das 
ideias e, consequentemente, do conhecimento. 
Pode-se citar Sócrates e dois de seus principais sucessores, Platão e 
Aristóteles, como sendo os primeiros a tratarem das questões da ética 
e da política. A Grécia era considerada o berço da democracia, ainda 
que nem todos os seus iluminados viam no modelo democrático a 
melhor maneira de conduzir o povo. Ao aproximar-se das leituras 
sobre a vida e obra desses pensadores, percebe-se, por conclusão, 
que para eles a solução para os problemas da sociedade deve passar, 
necessariamente, pela educação. Passados mais de dois mil anos, 
continua-se lutando pelos mesmos direitos à igualdade e combatendo-
se os mesmos problemas relacionados à ética e à moral, sem as quais 
não se exercita a verdadeira política (RAMOS, 2014, p. 9).
Portanto, “o cotidiano (político) é construído por aqueles que interagem 
nesse contexto. Fazer política é interagir nos acontecimentos e participar 
criticamente da sua história” (RAMOS, 2014, p. 9).
“A política sempre está ligada ao exercício do poder em sociedade, seja em 
nível individual, quando se trata das ações de comando, seja em nível coletivo, 
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS
160
quando um grupo (ou toda sociedade) exerce o controle das relações de poder 
em uma sociedade” (SANTOS, 2012, p. 2). Assim, as políticas públicas são de 
responsabilidade do Estado, com base em organismos políticos e entidades da 
sociedade civil, que derivam de normatizações, ou seja, se estabelece um processo 
de tomada de decisões – nossa legislação. Ao iniciarmos nossos estudos sobre 
a organização da educação no Brasil, precisamos ter em mente que a educação 
é intencional, principalmente no que diz respeito ao sistema escolar. Os atores 
que permitem discussões sobre um determinado problema da sociedade são: a 
sociedade civil organizada; os servidores públicose os políticos.
As etapas ou fases do processo da política distinguem-se de acordo 
com o entendimento de cada autor, mas comumente podem se 
classificar como: 
• Identificação do problema: é a primeira etapa e consiste na 
identificação, ou levantamento do problema a ser considerado como 
foco da política pública.
• Agenda: é a etapa em que se definem os focos de atuação do 
governo. É o conjunto de problemas e demandas que comporão o 
plano de ação. A formação da Agenda de Governo consiste numa fase 
tumultuada e competitiva, com os envolvidos dedicados na conquista 
de espaço para os interesses que defendem. 
• Tomada de decisão: adoção da política, em consenso (de comum 
acordo), as partes decidem sobre os diversos aspectos, ou focos, que a 
política abrangerá. 
• Implementação: é a etapa em que as decisões deixam de ser 
intenções e passam a ser intervenções na realidade. 
• Monitoramento, Avaliação, Ajustes: são etapas de acompanhamento 
do processo de formulação/elaboração da política, oferecendo 
informações para possíveis ajustes na direção dos resultados esperados 
(RAMOS, 2014, p. 14-15).
Com base nesses argumentos, a educação no contexto brasileiro está 
prevista, é regida (legislada) por normas jurídicas que compelem os cidadãos e 
o poder público a cumpri-las. De acordo com Motta (1997, p. 75), a educação é a:
[...] manifestação cultural que, de maneira sistemática e intencional, 
forma e desenvolve o ser humano. [...] A educação é a ação exercida 
pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda 
preparadas para a vida social; tem por objetivo suscitar e desenvolver 
na criança certo número de estados físicos, intelectuais e morais 
reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio 
especial que a criança, particularmente, se destina.
 Estes princípios e fins aparecem no texto da Constituição Federal de 1988 
e posteriormente são reafirmados na Lei de Diretrizes e Bases - LDB, Lei 9.394, de 
20 de dezembro de 1996, direcionando a educação brasileira, e que em seu Art. 2˚ 
trata “Dos Princípios e Fins da Educação Nacional” (BRASIL, 1996).
Desta forma, a LDB 9.394/96 regulamentou o que foi tratado sobre 
educação na Constituição Federal abordando a educação escolar. O Título V trata 
dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino; em seu Capítulo I, demonstra 
TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO
161
a composição dos níveis escolares, formada pela Educação Básica; Educação de 
Jovens e Adultos; Educação Profissional; Educação Superior e Educação Especial.
Educação Básica é formada de três etapas: Educação Infantil, Ensino 
Fundamental e Ensino Médio. Conforme a LDB, são finalidades da 
Educação Básica ‘[...] desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação 
comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe 
meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores’ (art. 22). 
As modalidades importam em atendimentos afeitos a peculiaridades 
que podem dizer respeito a uma população específica ou a objetivos 
de formação mais especializada ou complementar. No primeiro caso, 
encontramos a educação de jovens e adultos e a educação especial. No 
segundo caso, a educação profissional.
A educação de jovens e adultos (EJA) enseja a escolarização daqueles 
que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no Ensino 
Fundamental ou Médio. Contempla cursos de EJA e exames supletivos. 
Os cursos e os exames são acessíveis para estudantes maiores de 15 
anos (Ensino Fundamental) e de 18 anos (Ensino Médio).
A educação especial destina-se aos educandos portadores de 
necessidades especiais e deve estar contemplada em todas as etapas 
da educação. A legislação estabelece a sua oferta preferencial na rede 
regular de ensino e em classes comuns, embora possibilite a oferta 
desta modalidade em classes e escolas especiais.
Pode-se identificar a inserção da educação profissional na Educação 
Básica de três modos: ensino técnico - concomitante, integrado 
ou sequencial ao Ensino Médio, inclusive EJA; formação inicial e 
continuada de trabalhadores articulada ao Ensino Fundamental ou 
Médio, inclusive EJA; preparação básica para o trabalho no Ensino 
Fundamental e Médio, inclusive EJA (FARENZENA, 2010).
Como podemos ver, a preocupação em fortalecer a educação como um 
direito, um currículo integrado, é o ponto de partida para assegurar os direitos 
fundamentais da sociedade. Para que essa proposta ocorresse na educação 
brasileira tivemos mudanças significativas, principalmente a partir da LDB – Lei 
de Diretrizes e Bases da Educação, Lei no 9.394, de 1996, que marcou a educação 
e fez com que gerasse muito investimento, tanto no sentido intelectual, como 
financeiro. Um dos princípios da LDB é a valorização do profissional da educação 
escolar, a qual defende que:
A formação dos profissionais da educação, de modo a atender 
às especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos 
objetivos das diferentes etapas e modalidades da educação básica, terá 
como fundamentos:
I– a presença de sólida formação básica, que propicie o conhecimento 
dos fundamentos científicos e sociais de suas competências de trabalho;
II– a associação entre teorias e práticas, mediante estágios 
supervisionados e capacitação em serviço;
III– o aproveitamento da formação e experiências anteriores, em 
instituições de ensino e em outras atividades (BRASIL, 1996, art. 61).
A partir daí, muitos acordos e reformas foram realizados na educação, 
priorizando a qualidade da mesma. O Plano Nacional de Educação para o decênio 
2011-2020 indica algumas diretrizes que demonstram esse interesse, enfatizando 
a melhoria da qualidade de ensino, a formação para o trabalho, a valorização 
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS
162
dos profissionais da educação, entre outras que indiretamente também enfocam 
a formação docente. Dentre as 20 metas traçadas do PNE para até 2020, seis (da 
13 até a 18) pretendem aumentar a qualidade do ensino com base na formação 
inicial e principalmente continuada, em diferentes níveis.
AUTOATIVIDADE
(IFRN – Concurso Público – Grupo Magistério – Políticas e Gestão Escolar 
2012) A concepção curricular que articula o Ensino Médio à formação 
técnica, além de estabelecer o diálogo entre os conhecimentos científicos, 
tecnológicos, sociais, humanísticos, habilidades relacionadas ao trabalho e 
de superar o conceito da escola dual e fragmentada, pode representar, em 
essência, a quebra da hierarquização de saberes e colaborar, de forma efetiva, 
para a educação brasileira como um todo, no desafio de construir uma nova 
identidade para essa última etapa da educação básica. A proposta curricular a 
que esse enunciado se refere é: 
a) ( ) Currículo integrado. 
b) ( ) Currículo tecnicista. 
c) ( ) Currículo tradicional. 
d) ( ) Currículo profissionalizante.
Para atualizar a temática da Educação em nosso país, a leitura a seguir trata 
dos trâmites da implantação do Sistema Nacional de Educação (SNE). Assim, com 
o objetivo de efetivar a implantação do SNE, o Decreto de 26 de abril de 2017, da 
Presidência da República, convoca a 3ª Conferência Nacional de Educação, prevista 
para ocorrer em Brasília no ano de 2018, conforme detalhes do texto a seguir. 
[...] O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe 
conferem o art. 84, caput, incisos IV e VI, alínea "a", da Constituição,
DECRETA: 
Art. 1º Fica convocada a 3ª Conferência Nacional de Educação - 
CONAE, a ser realizada na cidade de Brasília, Distrito Federal, com 
o tema "A Consolidação do Sistema Nacional de Educação - SNE e 
o Plano Nacional de Educação - PNE: monitoramento, avaliação 
e proposição de políticas para a garantia do direito à educação de 
qualidade social, pública, gratuita e laica". 
§ 1º A União, sob a orientação do Ministério da Educação - MEC e 
observado o disposto no art. 8º da Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, 
promoverá a realização da CONAE, a ser precedida de conferências 
municipais, distrital e estaduais, articuladas e coordenadas pelo 
Fórum Nacionalde Educação - FNE, nos termos do art. 6º da Lei nº 
13.005, de 2014. 
§ 2º A etapa nacional da 3ª CONAE, a ser realizada em 2018, será 
precedida pelos seguintes eventos: 
I- conferências livres, a serem realizadas no ano de 2017; 
II- conferências municipais ou intermunicipais, a serem realizadas até 
o final do segundo semestre de 2017; e 
III- conferências estaduais e distrital, a serem realizadas até o final do 
segundo semestre de 2018. 
TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO
163
 Art. 2º As conferências nacionais de educação serão realizadas com 
intervalo de até quatro anos entre elas, com o objetivo de avaliar a 
execução do PNE vigente e subsidiar a elaboração do PNE para o 
decênio subsequente. 
Art. 3º São objetivos específicos da CONAE: 
I- acompanhar e avaliar as deliberações da CONAE de 2014, verificar 
seus impactos e proceder às atualizações necessárias; 
II- avaliar a implementação do PNE, com destaque específico ao 
cumprimento das metas e das estratégias intermediárias, sem 
prescindir de uma análise global do plano e; 
III- avaliar a implementação dos planos estaduais, distrital e 
municipais de educação, os avanços e os desafios para as políticas 
públicas educacionais. 
Art. 4º O tema central da 3ª CONAE será dividido nos seguintes eixos 
temáticos: 
I- O PNE na articulação do SNE: instituição, democratização, 
cooperação federativa, regime de colaboração, avaliação e regulação 
da educação. 
II- Planos decenais e SNE: qualidade, avaliação e regulação das 
políticas educacionais.
III- Planos decenais, SNE e gestão democrática: participação popular 
e controle social.
IV- Planos decenais, SNE e democratização da Educação: acesso, 
permanência e gestão. 
V- Planos decenais, SNE, Educação e diversidade: democratização, 
direitos humanos, justiça social e inclusão.
VI- Planos decenais, SNE e políticas intersetoriais de desenvolvimento 
e Educação: cultura, ciência, trabalho, meio ambiente, saúde, 
tecnologia e inovação; 
VII- Planos decenais, SNE e valorização dos profissionais da Educação: 
formação, carreira, remuneração e condições de trabalho e saúde. 
VIII- Planos decenais, SNE e financiamento da educação: gestão, 
transparência e controle social. 
Art. 5º As diretrizes gerais e organizativas para a realização da CONAE 
serão elaboradas pelo MEC e coordenadas pelo FNE, observado o 
disposto no art. 8º da Lei nº 13.005, de 2014 [...] 
(Este texto não substitui o original publicado no Diário Oficial da 
União - Seção 1 - 27/04/2017, Página 19).
Conforme a leitura anterior, observa-se que em 2017 deveria ter ocorrido 
Conferências Municipais e Intermunicipais com o tema: “A consolidação do 
Sistema Nacional de Educação – SNE e o Plano Nacional de Educação – PNE, 
voltado para o monitoramento, avaliação e proposição de políticas para a garantia 
do direito à educação de qualidade social, pública, gratuita e laica”. Assim, as 
conferências municipais deveriam discutir e fornecer subsídios sobre a efetivação 
da implantação SNE e do PNE, em preparação às conferências estaduais e a 
Nacional, prevista para o ano de 2018. No entanto, devido ao turbulento momento 
político enfrentado no Brasil, apenas duas capitais (Belo Horizonte/MG e São 
Paulo/SP) realizaram o evento naquele ano, e dois terços das capitais brasileiras 
não tem sequer a previsão de data para organizá-las.
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS
164
NOTA
Até a conclusão deste livro, em janeiro de 2018, a última atualização sobre a 
implantação do Plano Nacional de Educação, prevista pelo Projeto de Lei Complementar 
PLP 413/2014, foi o Parecer do Relator, Dep. Glauber Braga (PSOL-RJ), pela aprovação 
deste, e do PLP 448/2017, apensado, como substitutivo. O parecer foi apresentado em 22/
dez./2017 à Comissão de Educação. Portanto, o projeto encontra-se ainda em tramitação 
no Congresso Nacional.
Para acompanhar a tramitação na íntegra, acesse: <http://www.camara.gov.br/
proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=620859>. Maiores informações também 
estão disponíveis no site do MEC: <http://pne.mec.gov.br/sistema-nacional-de-educacao>.
CNTE defende a instituição do SNE de forma articulada entre os entes federados
A Confederação Nacional dos 
Trabalhadores em Educação (CNTE) 
divulgou em setembro (2017), a nota 
pública:  Análise do documento da 
SASE/MEC sobre Sistema Nacional 
de Educação. O documento analisa o 
texto —  Instituir um Sistema Nacional 
de Educação: agenda obrigatória para 
o país — disponibilizado pelo Ministério 
da Educação (MEC), em junho para 
amplo debate nacional.
Na nota, a entidade posiciona-se em acordo com vários pontos do texto apresentado pelo 
MEC, pelo fato do seu conteúdo exprimir conceitos referendados nas duas Conferências 
Nacionais de Educação (CONAEs), e por absorver propostas das entidades educacionais, 
como a CNTE, apresentadas ao longo do processo histórico do debate sobre o Sistema 
Nacional de Educação (SNE).
Para a Confederação, as graves fragilidades resultantes da ausência de um SNE estão em 
destaque no documento, como: I) ausência de referenciais nacionais de qualidade, capazes 
de orientar a ação supletiva para a busca da equidade; II) a descontinuidade de ações; III) 
a fragmentação de programas; e IV) a falta de articulação entre as esferas de governo 
são fatores que, de fato, não contribuem para a superação das históricas desigualdades 
econômicas e sociais do país.
A CNTE entende que o texto do MEC reafirma a educação como um direito inalienável e 
que realiza um diagnóstico dos avanços e desafios para garantia desse direito, num contexto 
histórico e político, apresentando uma proposta de instituição do SNE realizado por um 
conjunto articulado de quatro dimensões, levando a uma nova forma de organização da 
Educação Nacional: alterações na Lei de Diretrizes e Bases; regulamentação do artigo 23 da 
Constituição Federal (CF) ou a Lei de Responsabilidade Educacional; adequação das regras 
de financiamento e dos sistemas de ensino às novas regras nacionais instituição do SNE.
Para o presidente da entidade, Roberto 
Franklin de Leão, o Brasil possui leis 
que estruturam o sistema, como a lei 
que estipula o piso nacional salarial dos 
professores e a própria LDB. Destaca 
que precisamos de mais uma legislação 
nacional para organização da educação 
nacional, a fim de que as políticas sejam 
mais orgânicas, como é o SNE, que 
"respeita a diversidade e as diferenças do 
TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO
165
federalismo brasileiro, considerando a qualidade e distanciando-se da centralização da 
gestão da educação".
Entretanto, mesmo em consenso sobre vários pontos apresentados no documento 
do MEC, a CNTE reafirma a necessidade de um olhar especial na regulamentação do 
Custo Aluno-Qualidade e do piso salarial dos profissionais da educação, conjugada com 
as diretrizes nacionais de carreira; na autonomia das escolas e de seus profissionais; no 
aperfeiçoamento e fortalecimento dos espaços de participação; no estabelecimento de 
critérios para as ações distributivas e supletivas da União e dos estados, via regulamentação 
do art. 23, V, da CF; na regulamentação das receitas para a educação e na definição das 
normas vinculantes para a organização dos sistemas de ensino.
Redação SASE/MEC com informações da CNTE.
FONTE: Disponível em: <http://pne.mec.gov.br/mais-destaques/410-cnte-defende-a-
instituicao-do-sne>. Acesso em: 7 dez. 2017.
Outro documento importante são os Parâmetros Curriculares Nacionais. 
Sua história começa a partir da década de 1980, com as mudanças econômicas e 
sociais de nível mundial e a abertura da política nacional. A partir desse momento, 
as discussões políticas passaram a privilegiar o tema da democracia. Com base 
nesse tema, as reflexões propiciaram a instauração e consolidação de um governo 
e de um regime democrático.
Em decorrência dos debates e dada a importância da democracia, a 
Assembleia Nacional Constituinte, em 1988, institui o Estado Democrático de Direito, 
regulamentado pela Constituição da RepúblicaFederativa do Brasil, denominada 
Constituição Cidadã. Ela estabelece como princípios fundamentais: “I - a soberania; 
II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho 
e da livre iniciativa; V - o pluralismo político” (BRASIL, 1988, Título 1).
FIGURA 22 – CONSTITUIÇÃO CIDADÃ DE 1988
FONTE: Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com/upload/conteudo 
_legenda/8e426990caf5533da936acd858c65f32.jpg>. Acesso em: 7 dez. 2017.
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS
166
O artigo 5º dispõe sobre os direitos e deveres individuais e coletivos, 
segundo o qual “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza” 
(BRASIL, 1988, Título II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais). Desse modo, 
no artigo 6º, são indicados os direitos dos cidadãos; constam como “direitos 
sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, 
a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma 
desta Constituição” (BRASIL, 1988, Capítulo II - Dos Direitos Sociais).
A defesa do exercício da cidadania na escolarização está deliberada no 
artigo 205: “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será 
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno 
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua 
qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988).
Para a disseminação da educação cidadã, outros documentos são 
produzidos a partir de reuniões e pactos mundiais, como a Declaração Mundial 
sobre Educação para Todos, ocorrida em Jomtien – Tailândia. 
Em 1990, reuniram-se representantes dos seguintes países: Indonésia, 
China, Bangladesh, Brasil, Egito, México, Nigéria, Paquistão e Índia, para discutir 
sobre a satisfação das necessidades básicas de aprendizagem, considerando que 
todo cidadão tem direito à educação, e ainda, que a educação favoreça “o progresso 
social, econômico e cultural, a tolerância e cooperação internacional” (UNESCO, 
1998, s.p.). Para suprimir os problemas da educação, melhorar a qualidade 
e disponibilidade, a Declaração traça objetivos como medidas necessárias à 
educação para todos. Assim, os países citados comprometeram-se em cooperar 
e responsabilizar-se com as metas construídas. A partir desse documento, cada 
país construiu planos e metas para alcançar os objetivos educacionais.
Você imagina quais foram as metas traçadas no encontro mundial que resultou 
na Declaração Mundial sobre Educação para Todos? 
As finalidades traçadas são: 1 Satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem; 2 Expandir 
o enfoque; 3 Universalizar o acesso à educação e promover a equidade; 4 Concentrar a 
atenção na aprendizagem; 5 Ampliar os meios de e o raio de ação da educação básica; 6 
Propiciar um ambiente adequado à aprendizagem; 7 Fortalecer as alianças; 8 Desenvolver 
uma política contextualizada de apoio; 9 Mobilizar os recursos; e 10 Fortalecer a solidariedade 
internacional (UNESCO, 1998).
ATENCAO
TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO
167
Ao encontro desse documento, o governo brasileiro inicia discussões 
a respeito da educação nacional e a construção de políticas de educação, que 
discorrem sobre a atualização de processos formativos, processos de avaliação, a 
formação docente, a relação aluno-professor, a gestão escolar, o currículo escolar e 
a criação de projetos, de reformas e de planos. O PCN é um documento norteador 
formulado a partir dessas políticas de educação.
Assim, em 1995, a elaboração dos PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais 
é iniciada, sendo concluída somente em 1997, no governo do presidente Fernando 
Henrique Cardoso. Fique atento, acadêmico, ao estudo desse documento, pois as 
políticas de educação têm objetivos traçados, como toda a prática docente possui.
O objetivo dos PCN (BRASIL, 1997a) é estabelecer à equipe pedagógica 
uma referência curricular e apoio na elaboração do currículo e do projeto 
pedagógico. Conforme os PCN, esse documento é o resultado de um trabalho 
que contou com a participação de um grupo de especialistas ligado ao Ministério 
da Educação (MEC), produzido a partir de estudos e do contexto das discussões 
pedagógicas atuais, no decurso de seminários e debates com professores que 
atuam em diferentes graus de ensino.
FIGURA 23 – CONSTRUÇÃO DOS PARÂMETROS CURRICULARES 
NACIONAIS – PCN
FONTE: Disponível em: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/bibliot 
eca/portugues/img/0056.jpg>. Acesso em: 7 dez. 2017.
O documento dos PCN consiste em uma referência nacional para o Ensino 
Fundamental e Médio. Sua elaboração é de primeiro nível de concretização 
curricular, seguido de propostas curriculares dos Estados e municípios, que 
poderão ser utilizadas como recurso para adaptações ou elaborações curriculares 
realizadas pelas Secretarias de Educação (BRASIL, 1997a).
O texto dos PCN tem função definidora do currículo mínimo, orienta 
práticas pedagógicas e organiza a estrutura escolar. Estabelece o plano curricular 
indicando conteúdos, objetivos, práticas educativas e sugestões de avaliação. 
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS
168
Como é um documento de nível nacional, tenta abranger e ter aplicabilidade em 
todo o território nacional, de maneira homogênea (BARBOSA; FAVERE, 2013).
Os PCN do Ensino Fundamental, do primeiro ao nono ano, são compostos 
de módulos divididos em: Volume 1: Introdução; Volume 2: Língua Portuguesa; 
Volume 3: Matemática; Volume 4: Ciências Naturais; Volume 5: História e 
Geografia; Volume 6: Arte; Volume 7: Educação Física; Volume 8: Apresentação 
dos Temas Transversais e Ética; Volume 9: Meio Ambiente e Saúde; e Volume 10: 
Pluralidade Cultural e Orientação Sexual.
Já os PCN do Ensino Médio são assim distribuídos: Bases legais; 
Linguagens, Códigos e suas tecnologias; Ciências da natureza, Matemática e suas 
tecnologias; Ciências humanas e suas tecnologias.
NOTA
Caro acadêmico, a Educação Infantil também tem documentos norteadores 
do currículo, que são: Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil – RECNEI 
e Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil. O primeiro documento 
pretende orientar o professor, além de discutir conceitos importantes como educar e cuidar, 
entre outros. O RECNEI está dividido em unidades, que são: Introdução, Formação Pessoal 
e Social e Conhecimento de Mundo, Identidade e Autonomia das crianças e Movimento, 
Música, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e Matemática. Já o 
segundo documento está disponível em dois volumes e apresenta recomendações para 
promover a igualdade de oportunidades educacionais.
Para conhecer melhor os documentos, respectivamente, acesse: 
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf>;
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/eduinfparqualvol1.pdf>.
Uma das preocupações centrais dos PCN é o tema da cidadania, da formação 
cidadã. Mais do que o ensino de conteúdos básicos, hoje, na escola, a aprendizagem 
da cidadania é legitimada e indispensável. A disseminação dessa aprendizagem 
transita em documentos oficiais, em autores que escrevem sobre educação e 
em projetos pedagógicos das escolas. Os PCN defendem que o fundamento da 
sociedade democrática é reconhecer o sujeito de direito (BRASIL, 1997b). 
Com base na Constituição de 1988 e na LDB, os Parâmetros Curriculares 
Nacionais propõem uma educação comprometida com a cidadania, sendo 
pautados em princípios que devem orientar a educação escolar: dignidade da 
pessoa humana, igualdade de direitos, participação e corresponsabilidade pela 
vida social. Conforme os PCN, “a educação para a cidadania requer, portanto, que 
TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO
169
questões sociais sejam apresentadas para a aprendizagem e a reflexão dos alunos” 
(BRASIL, 1997b, p. 25). Os conteúdos dos PCN, de acordo com Barbosa (2000, p. 
71), partem:
do princípio de que os conteúdos de ordem cognitiva veiculados 
pela escola – de forma fragmentada, em razão da especialização do 
conhecimentode cada área – não seriam suficientes para atender às 
demandas da atualidade em relação ao perfil ideal do novo homem, 
para que este homem pudesse inserir-se no mundo do trabalho, 
exercer a sua cidadania e participar na construção do bem comum. 
A educação deveria voltar-se, a partir de então, para a formação 
integral dos alunos. Foi, assim, proposta a ampliação da concepção de 
conteúdo escolar, que deveria agora incorporar o ensino de hábitos, 
atitudes, valores, normas e procedimentos que pudessem contribuir 
para o desenvolvimento e socialização dos alunos. 
A inclusão dos temas transversais é um assunto novo, possível na sociedade 
atual, visando uma nova formação comparada a formações anteriores, trazendo 
assuntos de fora, da sociedade, para dentro da escola. Assim, além de objetivos 
cognitivos, os PCN traçam objetivos morais e atitudinais.
Os PCN foram elaborados com a contribuição de um professor espanhol, 
César Coll. A proposta brasileira pretendeu implantar uma reforma curricular, 
dar direcionamento ao trabalho do professor, bem como o que se deve esperar do 
aprendizado do aluno, ou seja, o que deve conter no currículo escolar (BARBOSA; 
FAVERE, 2013).
Os PCN pretendem atender às deliberações da Constituição Federal de 
1988 e assim fixar conteúdos mínimos para o ensino, construindo uma formação 
básica e respeitando as especificidades regionais.
Citando Barreto (2000, p. 35), “o governo federal passa pela primeira vez, 
em meados dos anos noventa, a fazer ele próprio prescrições sobre currículo, que 
vão muito além das normas e orientações gerais que caracterizaram a atuação dos 
órgãos centrais em períodos anteriores”.
Com o intuito de transformar a realidade educacional, o documento defende 
que “faz-se necessária uma proposta educacional que tenha em vista a qualidade 
da formação a ser oferecida a todos os estudantes” (BRASIL, 1997a, p. 27).
A intenção dos PCN é que o professor tenha um auxílio em sua ação 
de reflexão sobre o cotidiano da prática pedagógica, que continuamente esse 
cotidiano transforma-se e exige novas competências docentes. Nesse sentido, 
com esse documento se prevê que seja possível:
- rever objetivos, conteúdos, formas de encaminhamento das 
atividades, expectativas de aprendizagem e maneiras de avaliar;
- refletir sobre a prática pedagógica, tendo em vista uma coerência com 
os objetivos propostos;
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS
170
- preparar um planejamento que possa de fato orientar o trabalho em 
sala de aula;
- discutir com a equipe de trabalho as razões que levam os alunos a 
terem maior ou menor participação nas atividades escolares;
- identificar, produzir ou solicitar novos materiais que possibilitem 
contextos mais significativos de aprendizagem;
- subsidiar as discussões de temas educacionais com os pais e 
responsáveis (BRASIL, 1997a, p. 12).
A proposta apresentada pelos PCN não tem uma concepção rígida de 
currículo; é flexível, com o objetivo de considerar a diversidade brasileira e 
respeitando a autonomia do professor e equipe pedagógica.
Acadêmico, apresentamos aqui uma imagem disponibilizada em outro 
documento importante do MEC, “Ensino Fundamental de Nove anos”, que 
contribui para percebermos a organização desse nível de ensino:
FIGURA 24 – ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS
FONTE: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/noveanorienger.pdf>. 
Acesso em: 5 dez. 2017.
Ensino Fundamental
Anos Iniciais Anos Finais
1º ano 2º ano 3º ano 4º ano 5º ano 6º ano 7º ano 8º ano 9º ano
A figura acima nos indica uma organização que atualmente deve ser 
planejada em seu conjunto, ou seja, projetando essa prática para o trabalho do 
professor, em que “esta é uma oportunidade preciosa para uma nova práxis dos 
educadores, sendo primordial que ela aborde os saberes e seus tempos, bem como 
os métodos de trabalho, na perspectiva das reflexões antes tecidas” (BRASIL, 
2004, p. 18).
Assim, temos que dar continuidade na definição e redefinição das práticas 
e das ações, que devem ser realizadas com a mesma rapidez e complexidade com 
que ocorre o processo de transformação, não só no Brasil, mas em escala mundial. 
A importância que adquirem, nessa nova realidade mundial, a ciência e 
inovação tecnológica tem levado os estudiosos a denominar a sociedade 
atual de sociedade do conhecimento, sociedade técnico-informacional ou 
sociedade tecnológica, o que significa que o conhecimento, o saber e a 
ciência assumem papel muito mais destacado do que anteriormente. 
Na atualidade, as pessoas aprendem na fábrica, na televisão, na rua, 
nos centros de informação, nos vídeos, no computador, e cada vez 
se ampliam os espaços de aprendizagem (LIBÂNEO, 2012, p. 62-64, 
grifos do autor).
TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO
171
A instituição escolar já não é considerada o único meio ou o meio 
mais eficiente e ágil de socialização dos conhecimentos técnico-científicos e de 
desenvolvimento de habilidades cognitivas e competências sociais requeridas 
para a vida prática.
A tensão em que a escola se encontra não significa, no entanto, seu fim 
como instituição socioeducativa ou o início de um processo de desescolarização 
da sociedade. Indica, antes, o início de um processo de reestruturação dos 
sistemas educativos e da instituição tal como a conhecemos. A escola, hoje, 
precisa não apenas conviver com outras modalidades de educação não formal, 
informal e profissional, mas também, articular-se e integrar-se a elas, a fim de 
formar cidadãos mais preparados e qualificados para um novo tempo. Para isso, 
o ensino escolar deve contribuir para:
a) Formar indivíduos capazes de pensar e aprender permanentemente 
(capacitação permanente) em um contexto de avanço das tecnologias de 
produção e de modificação da organização do trabalho, das relações contratuais 
capital/trabalho e dos tipos de empregos.
b) Prover formação global que constitua um patamar para atender à necessidade 
de maior e melhor qualificação profissional, de preparação tecnológica e 
de desenvolvimento de atitudes e disposições para a vida numa sociedade 
técnico-informacional.
c) Formar cidadãos éticos e solidários.
Assim, pensar o papel da escola nos dias atuais sugere levar em conta 
questões relevantes. A primeira, e talvez a mais importante, é que as transformações 
mencionadas representam uma reavaliação que o sistema capitalista faz de seus 
objetivos.
No entanto, quando o autor Libâneo (2012) faz o alerta de que o ensino 
escolar deve contribuir para formar indivíduos capazes de pensar e aprender 
permanentemente dentro do contexto tecnológico e das relações capital/trabalho, 
poderia, aí, ser acrescentado o termo “harmonização das relações trabalhistas”. O que 
quer dizer que a educação pode e deve ter uma relação próxima e significativa com 
o capitalismo, uma vez que o desenvolvimento educacional deixou de ser estável, 
isto é, com hora e local predeterminados. Hoje, a informação e o conhecimento não 
têm fronteira, eles estão em toda parte, principalmente nas organizações produtoras 
de bens e serviços. Ainda segundo o autor, “a escola deixou de ser o único meio de 
socialização do conhecimento”. Seguindo a mesma linha de raciocínio com relação 
ao capital/trabalho, Liedke (2002, p. 345-346) afirma que: 
No limiar do século 21, os avanços da tecnologia microeletrônica e da 
racionalização das técnicas organizacionais do processo de trabalho, 
orientados por conceitos como produção flexível, produção enxuta e 
especialização flexível, em um contexto de competição capitalista global, 
colocam em xeque a centralidade do trabalho. Decorridos três séculos 
de predomínio da sociedade industrial, o trabalho passa a assumir um 
conteúdo crescentemente intelectual, em contraposição ao conceito 
de trabalho físico, manual. Aumenta a importância da informação, 
do trabalho imaterial, em contraposição ao conceito convencional de 
trabalho, centrado na ideia de transformação da natureza. Para alguns 
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS
172
estudiosos,teria chegado o momento, na história da humanidade, 
de separarem-se, novamente, os conceitos de trabalho, emprego e 
identidade social e individual. Outras formas de socialização, de 
construção das identidades sociais e individuais deverão voltar-se para 
atividades de cunho comunitário, como escolas, clínicas, clubes de 
bairro, manutenção de infraestrutura nas cidades, envolvendo várias 
formas de trabalho voluntário (KUMAR, 1985: CACCIAMALI, 1996). 
Estudos recentes apontam para a importância de políticas voltadas ao 
estímulo das atividades intensivas em mão de obra, ao mesmo tempo 
em que defendem a necessidade de diminuição da jornada de trabalho 
semanal (MATTOSO, 1996; ANTUNES, 1996). Mais do que simples 
especulação, os desafios são amplos e incertas as alternativas. Porém, 
parece certo que as formas precárias de ocupação da força de trabalho 
(trabalho temporário, desregulamentação do trabalho, rebaixamento 
dos salários) estão longe do conceito aristotélico de trabalho humano 
como obra criativa, livre da esfera da necessidade.
No entanto, a Revolução Tecnológica vai além do fenômeno relacionado 
com a dinâmica da informação e comunicação, pois ela é também o objeto de 
dinamização dos saberes, conceitos e dos valores individuais e sociais. Sendo 
assim, essas tecnologias têm se mostrado eficientes e flexíveis em todos os aspectos 
da vida cotidiana, seja no âmbito das relações sociais, econômicas e educacionais, 
principalmente por oferecerem uma gama de alternativas que podem e devem 
ser utilizadas na busca de soluções e na melhoria dos métodos e das formas de 
ensinar e aprender. Isto porque, como sabemos, não existe uma homogeneidade 
regional, isto é, as políticas públicas não conseguem equacionar ou resolver 
os problemas relacionados à distribuição dos meios e recursos necessários ao 
desenvolvimento do indivíduo, do processo educativo e do desenvolvimento 
econômico, onde todos esses conceitos fazem parte da cadeia produtiva como 
um todo, pois um país só se desenvolve com educação, emprego e distribuição 
equitativa de renda, o que vai ao encontro dos princípios da igualdade.
LEITURA COMPLEMENTAR
Universidade pra quê? A força e o futuro da UERJ
Ana Karina Brenner, Bruno Deusdará,
Guilherme Leite Gonçalves e Lia Rocha
Como professor aposentado da UERJ somo-me a estes e estas colegas 
no protesto, na reação e na esperança acerca do que o atual governo sem 
legitimidade democrática está fazendo com esta universidade que se conta entre 
as melhores do país. Na agenda do atual governo liderado pelo PMDB, ciência, 
pesquisa, formação e inclusão social não fazem parte de sua agenda. Colocam 
a universidade no item de gastos e encargos, quando deveria significar um alto 
investimento em favor das novas gerações e do futuro do país, portanto, merecer 
um tratamento prioritário. Uma nação feita de ignorantes está condenada a se 
transformar num país pária, perder o passo da história e sequestrar o futuro dos 
jovens. Mas tudo isso se inscreve dentro do programa da dominação imperial 
TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO
173
que nos quer recolonizar e fazendo-os apenas exportadores de commodities. Para 
isso não se precisa de ciência, de tecnologia, nem de um projeto nacional, apenas 
de espírito subserviente e venal. Recusamos este destino funesto, pois em termos 
de futuro, quando o que vai contar mesmo será uma economia e uma tecno-
ciência montada sobre o fator ecológico. Aí surgiremos como uma das potências 
reitoras, não para dominar, mas para podermos, com os bens e serviços que a 
Mãe Terra nos galardoou, ser a mesa posta para as fomes e as sedes do mundo 
inteiro. É o sentido secreto e providencial de sermos geograficamente grandes 
e ecologicamente ricos. Precisamos resgatar a UERJ, o hospital Pedro Ernesto e 
outras frentes de ensino e pesquisa distribuídos pelo Estado do Rio de Janeiro, 
com seu protagonismo histórico e com seu alto sentido social, especialmente, para 
os mais penalizados pela nossa sociedade injusta e excludente. E vamos triunfar, 
porque nada resiste ao que é bom, justo, digno e ecologicamente responsável. 
Parabéns aos autores e autoras deste corajoso texto, urdido de sã indignação e de 
justa esperança. Leonardo Boff
[...]
 A universidade moderna nasceu de um projeto destinado a desenvolver 
as qualidades humanas e a cultura por meio de um programa de formação, que 
combinava ensino e pesquisa com base no conhecimento científico. Esse projeto, 
no entanto, tinha um vício de origem: era inacessível às classes populares; servia 
apenas à reprodução das elites. Sofria, assim, de um mal-estar que, dentre outras, 
produziu as revoltas estudantis de 1968. A partir desse momento, as políticas 
universitárias se voltaram para articular formação e inclusão social, conhecimento 
científico e igualdade.
A UERJ é resultado de um amadurecimento histórico dessa nova 
universidade. Criada em 1950, destaca-se pelo pioneirismo: primeira universidade 
pública do Brasil a oferecer ensino superior noturno, permitindo a qualificação 
dos trabalhadores; segunda instituição universitária a possuir um hospital das 
clínicas voltado para o ensino; primeira a implantar o sistema de cotas para 
negros, indígenas e estudantes oriundos de escolas públicas.
Nos últimos 10 anos, o número de cursos de doutorado quase dobrou, 
passando de 23 para 43. Em 2016, a UERJ possuía 26.767 estudantes presenciais, 
dos quais 9.900 cotistas e ainda 7.266 alunos de Educação a Distância. Além do 
Hospital Universitário Pedro Ernesto e da Policlínica Piquet Carneiro, ela conta 
com 714 projetos, 253 cursos e 34 programas de extensão, que levam à sociedade 
conhecimento e tecnologias de ponta, envolvendo cerca de 3 milhões de pessoas, 
entre profissionais, estudantes e comunidade atendida.
Nos últimos anos, a UERJ conquistou o regime de trabalho de Dedicação 
Exclusiva, assegurando um plano de carreira com capacidade de atrair os melhores 
quadros acadêmicos. Tal regime é estruturante da carreira docente, garantidor 
da qualidade da pesquisa, do compromisso com a formação de estudantes e 
pesquisadores, e do desenvolvimento tecnológico a partir da fixação de docentes 
em uma única instituição.
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS
174
Hoje, no entanto, todo esse patrimônio corre risco.
Ciência, formação e igualdade social não fazem parte da agenda do PMDB. 
A Universidade lhe é estranha. Em seu programa para o Brasil, “Uma ponte para 
o futuro”, ela é tratada tão somente como encargo ou despesa, desconsiderando 
sua importância como investimento na construção e preservação do patrimônio 
científico e tecnológico de uma nação. Ao assim concebê-la, atribui à educação 
superior a responsabilidade de produzir desajuste fiscal quando é, na verdade, 
potencial de desenvolvimento econômico e de geração de emprego. Mas, então, 
qual é o projeto do PMDB para a Universidade?
Desde o golpe parlamentar, em 2016, o Governo Temer tem realizado 
significativos cortes em políticas sociais, entre elas o ensino superior. Só o MEC 
sofreu corte de R$ 4,3 bilhões. Assim, 15% dos gastos de custeio e 40% das 
despesas de capital, aprovados pelo Congresso para as universidades federais, 
ficaram congelados. No Rio de Janeiro ocorre fato semelhante. Para dar apenas 
um exemplo, no final de 2016, o Governo Pezão reduziu o orçamento da Fundação 
de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro em mais de 30%.
Em agosto de 2017, professores e servidores técnico-administrativos da 
UERJ encontram-se com quatro meses de salários atrasados (mesma situação 
das outras universidades estaduais UEZO e UENF). Também atrasadas estão as 
bolsas de estudantes e residentes. O confisco de salários e bolsas é um confisco 
do orçamento da universidade, e mina as condições de reprodução das forças 
necessárias ao trabalho e à continuidade do patrimônio intelectual, científico e 
democrático adquirido ao longo das décadas. Um exemplo dos efeitos nefastos 
dessa crise é a saída forçada de alguns docentes do regime de dedicação exclusiva.Obrigados a acumular atividades paralelas, muitos desses profissionais não 
retornarão ao regime após esse período.
O resultado da política universitária de Pezão e Temer, cujo não pagamento 
dos salários da UERJ é a expressão mais vil, são vários: evasão de estudantes, fuga 
de cérebros, destruição da pesquisa de ponta, eliminação do legado intelectual, 
extermínio da formação e da cultura. Em outras palavras, a depredação do 
resultado de décadas de investimento material e humano.
Nós, da Universidade, entendemos que docência, pesquisa, cultura e 
formação se relacionam com o futuro. Nossa resistência é a garantia de que o 
projeto de universidade pública, de qualidade, gratuita, cada vez mais plural e 
inclusiva, permaneça. UERJ Resiste!
FONTE: Disponível em: <https://leonardoboff.wordpress.com/2017/08/11/universidade-pra-que-
a-forca-e-o-futuro-da-uerj/>. Acesso em: 9 set. 2017.
175
Neste tópico, você aprendeu que: 
• A vida em sociedade está ligada à política e não há ação social sem ação 
política, quer seja promovida pelo Estado ou pela sociedade.
• As políticas públicas são de responsabilidade do Estado, com base em 
organismos políticos e entidades da sociedade civil, que derivam de 
normatizações, ou seja, se estabelece um processo de tomada de decisões, 
nossa legislação.
• A criação de documentos nacionais norteadores foi possível a partir da década 
de 1980, com a abertura política e com a instituição de um Estado democrático, 
com a Constituição Federal de 1988, como é o caso dos Parâmetros Curriculares 
Nacionais.
• A LDB 9.394/96 regulamentou o que foi tratado sobre educação na Constituição 
Federal, abordando a educação escolar. O objetivo dos PCN é estabelecer 
à equipe pedagógica uma referência curricular e apoio na elaboração do 
currículo e do projeto pedagógico.
• Os PCN têm função definidora do currículo mínimo, orientam práticas 
pedagógicas e organizam a estrutura escolar.
• Uma das preocupações centrais dos PCN é o tema da cidadania, que deve 
resultar em uma formação cidadã.
RESUMO DO TÓPICO 1
176
A partir do que estabelece a Lei nº 9.394/1996, analise as afirmativas a seguir. 
I- A educação profissional técnica de nível médio articulada, segundo essa lei, 
será desenvolvida nas formas integrada e concomitante. 
II- A educação de jovens e adultos deverá ser oferecida, preferencialmente, 
articulada à educação profissional. 
III- As instituições de educação profissional e tecnológica oferecerão cursos 
regulares e cursos especiais, abertos à comunidade. 
IV- Na educação profissional técnica de nível médio, a preparação geral 
para o trabalho e, facultativamente, a habilitação profissional, poderão 
ser desenvolvidas nos próprios estabelecimentos de Ensino Médio ou em 
cooperação com instituições especializadas em educação profissional. 
V- A educação profissional técnica de nível médio, por ter total autonomia 
pedagógica, prescinde de organizar cursos seguindo as orientações contidas 
nas diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de 
Educação. 
Das afirmativas acima, estão corretas, apenas: 
a) ( ) I, II, III e IV. 
b) ( ) II, III, IV e V. 
c) ( ) I e V.
d) ( ) II e IV.
AUTOATIVIDADE
1 Para retomar o que aprendemos até o momento, aponte as características 
principais e o contexto histórico no qual foram construídos os PCN:
2 (IFRN – Concurso Público – Grupo Magistério – Políticas e 
Gestão Escolar 2012)
177
TÓPICO 2
POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao estudo que faremos sobre o Sistema 
de Saúde brasileiro. Este tema levará você a refletir sobre a realidade da saúde 
pública em nosso país e os seus desafios para assegurar o atendimento a todo 
cidadão com dignidade e em igualdade de condições. 
O acesso universal, integral e equânime à assistência em saúde é um 
direito de todos e um dever do Estado, garantido pela Constituição. 
Contudo, para além das obrigações do governo, a saúde também 
é uma responsabilidade coletiva, que implica na participação da 
população nos processos de melhoria e no progresso da qualidade de 
serviços (SCHMIDT, 2015, p. 12).
A gestão do sistema nacional de saúde é bastante complexa, se pensarmos 
em atingir de forma equânime todas as pessoas que dependem do serviço público 
num contexto com desigualdades e desafios sociais aos governos. Concorda 
Zetzsche (2014, p. 3) ao dizer que “Cuidar da saúde significa manter a nação 
em condições de progresso e trabalho, com uma população saudável e menores 
índices de adoecimento e transmissão de doenças”.
O sistema de saúde brasileiro engloba uma rede de serviços prestados 
por instituições públicas e privadas aos cidadãos que se utilizam de uma 
multiplicidade de atendimentos. Considerado exemplo de política pública pelo 
acesso universal à população, demanda ainda maior participação da sociedade 
nos conselhos e conferências municipais de saúde para o efetivo controle social 
na administração pública. 
O fortalecimento da política pública de saúde depende, sobretudo, de 
investimentos que assegurem as ações e programas que impulsionem os indicadores 
de saúde a um nível favorável; é fundamental a melhora da infraestrutura, com 
a ampliação e modernização dos locais de atendimento, qualidade dos serviços 
oferecidos e capacidade técnica dos profissionais contratados para a gestão.
Competência administrativa, visão política e gerencial, profundo 
conhecimento da história do país e de sua dinâmica social, visão 
epidemiológica e crítica, e visão ontológica – visão de respeito e 
reconhecimento do ser humano – (alvo dos programas e políticas de 
saúde) são requisitos mais que necessários àquele ou àquela que vai 
trabalhar em gestão de saúde, quer seja de caráter público ou privado 
(ZETZSCHE, 2014, p. 4).
178
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS
A saúde para os brasileiros, segundo a pesquisa do Instituto de Pesquisas 
Datafolha (2014), é considerada o serviço público mais importante; mas 
diariamente o usuário se depara com problemas, como a falta de médicos, filas 
de espera nas emergências e nos hospitais, demora para realização de cirurgias e 
hospitais sem recursos financeiros. 
FIGURA 25 – IMPORTÂNCIA DA SAÚDE PÚBLICA
FONTE: Disponível em: <http://portal.cfm.org.br/images/PDF/apresentao-integra-datafolha203.
pdf>. Acesso em: 6 jun. 2015.
15
Base: Total Brasil  2.418 entrevistas
P3. Dentre esses serviços que você considerou muito importantes, qual deve ser a primeira prioridade do governo federal, na sua opinião?
Área de maior importância – nível federal
(Estimulada e única)
59%
17%
8%
7%
5%
3%
1%
0,4%
0,3%
46%
25%
9%
11%
3%
3%
1%
1%
‐
Usuário 
do SUS
Não 
usuário
Na segunda etapa, entre as áreas que consideraram importantes, Saúde se destaca, 
como prioridade. Educação fica em segundo lugar, porém bem mais à distância.
 O usuário do SUS dá maior importância para a Saúde.
A partir dessa reflexão, podemos enfatizar a importância da política 
pública de saúde no contexto social brasileiro e a necessidade de gestão técnica 
com profissionais habilitados. A relevância do tema foi abordada no Exame 
Nacional do Estudante – ENADE (2013) e propomos que você leia e responda.
FONTE: Disponível em: <file:///C:/Users/Win8/Desktop/16_TEC_GESTAO_HOSPITALAR.
pdf>. Acesso em: 3 maio 2015.
AUTOATIVIDADE
A questão da saúde no Brasil é complexa e dependente da atuação 
dos vários agentes que a compõem. Cada um desses agentes, 
governo, organizações e sociedade, tem suas responsabilidades 
sobre a qualidade da saúde no Brasil. Ao governo cabe desenvolver 
políticas e realizar investimentos adequados, dentro de um planejamento ao 
longo do tempo; às organizações compete executar essas políticas, como também 
prestar serviços à população com qualidade; e a sociedade, por seu lado, deve 
aderir às ações preventivas promovidas pelo governo e pelas organizações, 
assim como deve ter uma postura ativa, autônoma e corresponsável, em relação 
à sua qualidade de vida. 
TÓPICO 2

Mais conteúdos dessa disciplina