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ISCED Manual de Introdução ao Direito Curso de Licenciatura em Administração Pública Disciplina de Introdução ao Direito Código: ISCED1 – CONT2 1 º Ano T otal De H oras /1 o SEMSTRE: 75 CRÉDITOS (SNATCA): 3 INSTITUTO SUPER INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - ISCED ISCED Manual de Introdução ao Direito i Direitos de autor (copyright) Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónico, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)). A não observância do acima estipulado, o infractor é passível a aplicação de processos judiciais em vigor no País. Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) Coordenação do Programa de Licenciaturas Rua Dr. Lacerda de Almeida. No 211, Ponta - Gea Beira - Moçambique Telefone: 23323501 Cel: +258 Fax: 23323501 E-mail: direcção@isced.ac.mz Website: www.isced.ac.mz ISCED Manual de Introdução ao Direito ii Agradecimentos Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância Coordenação do Programa das licenciaturas e os autores que elaboraram o presente manual, agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições: Pela coordenação Direcção Académica Pelo design Direcção de Qualidade e Avaliação do ISCED Financiamento e Logística Instituto Africano de Promoção e Educação a Distância (IAPED), Revisão Final Elaborado Por: Dr. Francisco Paulino Botelho David Júnior – Licenciado em Direito pela Universidade Católica de Moçambique e Mestrando em Gestão de Recursos Humanos pela UP/Unipiaget de Moçambique ISCED Manual de Introdução ao Direito iii Índice Visão geral 1 Benvindo ao Módulo de Introdução ao Direito ............................................................... 1 Objectivos do Módulo....................................................................................................... 1 Quem deveria estudar este módulo ................................................................................ 2 Como está estruturado este módulo ............................................................................... 2 Ícones de actividade ......................................................................................................... 3 Habilidades de estudo ...................................................................................................... 4 Precisa de apoio? ............................................................................................................. 6 Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ................................................................................ 6 Avaliação .......................................................................................................................... 7 TEMA – I: INTRODUÇÃO (O Homem, a Sociedade e o Direito). 9 UNIDADE Temática 1.1. A natureza social do homem. .................................................... 9 Introdução ......................................................................................................................... 9 Sumário ........................................................................................................................... 14 Exercícios de Auto-Avaliação ......................................................................................... 14 Exercícios ........................................................................................................................14 UNIDADE Temática 1.2. As diversas ordens sociais normativas e sua interligação. ...... 15 Introdução ...................................................................................................................... 15 Sumário .......................................................................................................................... 21 Exercícios ........................................................................................................................ 21 UNIDADE Temática 1.3. Valores Fundamentais de Direito. ........................................... 22 Introdução ...................................................................................................................... 22 Sumário .......................................................................................................................... 24 Exercícios ........................................................................................................................ 25 TEMA – II: O DIREITO 26 UNIDADE Temática 2.1. Noção e Sistemas de Direito. .................................................. 26 Introdução ............................................................................................................ 26 Sumário .......................................................................................................................... 37 Exercícios ........................................................................................................................ 38 UNIDADE Temática 2.2. As normas Jurídicas e as sanções. ........................................... 38 Introdução ............................................................................................................ 38 Sumário .......................................................................................................................... 46 ISCED Manual de Introdução ao Direito iv Exercícios ........................................................................................................................ 46 UNIDADE Temática 2.3 As Fontes de Direito ................................................................. 48 Introdução ............................................................................................................ 48 Sumário .......................................................................................................................... 57 Exercícios ........................................................................................................................ 57 UNIDADE Temática 2.4. Os Ramos do Direito ................................................................ 59 Introdução ............................................................................................................. 59 Sumário .......................................................................................................................... 69 Exercícios ........................................................................................................................ 69 TEMA - III: A CONSTITUIÇÃO DO ESTADO, ENQUANTO REFERÊNCIA ESSECIAL DO ORDENAMENTO JURÍDICO 70 UNIDADE Temática 3.1. Noção de Constituição. ........................................................... 70 Introdução ............................................................................................................ 70 Sumário ..........................................................................................................................78 Exercícios ........................................................................................................................ 78 UNIDADE Temática 3.2 Acepções, Classificacao e Estrutura da Constituição ................ 79 Sumário .......................................................................................................................... 84 Exercícios ........................................................................................................................ 84 TEMA - IV: A PESSOA, FUNDAMENTO E FIM DA ORDEM JURIDICA 85 Introdução 85 Sumário .......................................................................................................................... 89 Exercícios ........................................................................................................................ 89 Sumário .......................................................................................................................... 94 Exercícios ........................................................................................................................ 94 Sumário .......................................................................................................................... 98 Exercícios ........................................................................................................................ 98 UNIDADE Temática 4.1. Conceito de interpretação da lei ............................................. 99 Introdução ...................................................................................................................... 99 Sumário ........................................................................................................................ 105 Exercícios ...................................................................................................................... 105 Sumário ........................................................................................................................ 110 Exercícios ...................................................................................................................... 110 Sumário ........................................................................................................................ 117 Exercícios ...................................................................................................................... 117 Sumário ........................................................................................................................ 121 ISCED Manual de Introdução ao Direito v Exercícios ...................................................................................................................... 122 Sumário ........................................................................................................................ 127 Exercícios ...................................................................................................................... 127 ISCED Manual de Introdução ao Direito 1 Visão geral Benvindo ao Módulo de Introdução ao Direito Objectivos do Módulo Este módulo insere-se na área curricular do Curso Profissional de Técnico de Gestão, dado o papel relevante e fundamental, que o Técnico de Gestão deve possuir ao tomar contacto com a realidade social, entendida como estrutura jurídica. Este módulo constitui a base do conhecimento jurídico que os alunos vão adquirindo ao longo do curso, bem como da compreensão de que a análise social pode ser realizada de acordo com uma estrutura jurídica. Trata-se de um módulo fundamental, pois, visa a compreensão da importância da lei como instrumento regulador da vida em sociedade. É fundamental uma plena percepção do processo de formação da lei e de como está presente em todas as situações do mundo actual. Após a leccionação destes conteúdos o aluno deverá conhecer e compreender a inter-relação entre “Imperatividade”, “Liberdade” e “Responsabilidade”. Entender o conceito de Direito. Fazer um breve percurso histórico disciplina Compreender o Processo de Produção das Leis na Assembleia da República. Identificar e caracterizar as diferentes fontes de Direito. Saber dividir os diferentes ramos de direito Saber manusear a legislação geral Objectivos Específicos Compreender as diferentes Ordens Normativas Sociais; ISCED Manual de Introdução ao Direito 2 Desenvolver a capacidade inicial de resolução de problemas jurídicos com base na lei Quem deveria estudar este módulo Este módulo foi concebido de forma a servir aos diferentes grupos de estudantes e cursos sendo que adequa-se mais aos estudantes que frequentem o primeiro ano dos cursos de Planificação e Administração, Gestão de Recursos Humanos, Contabilidade e Auditoria, Economia, Marketing, Direito entre outros. O mesmo modulo serve a todos que tenham interesse em promover a sua iniciação no mundo de Direito alargando assim os seus conhecimentos porque afinal, o conteúdo desde modelo pode ser assumido como sendo transversal abrangendo quase totalidade de áreas quer do conhecimento cientifico assim como social. Como está estruturado este módulo O presente módulo de introdução a direito, dirigido aos estudantes do 1º ano do curso de Licenciatura em Administração Pública, à semelhança dos restantes do ISCED, está estruturado da seguinte forma: Páginas introdutórias Um índice completo. Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo, resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu estudo, como componente de habilidades de estudos. Conteúdo desta Disciplina / módulo Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez comporta certo número de unidades temáticas visualizadas por um sumário. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma introdução, objectivos, conteúdos. No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são incorporados antes exercícios de auto-avaliação, só depois é que aparecem os de avaliação. Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros exercícios teóricos, Problemas não resolvidos e actividades práticas algumas incluído estudo de casos. ISCED Manual de Introdução ao Direito 3 Outros recursos A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED pensando em si, num cantinho, mesmo o recóndido deste nosso vasto Moçambique e cheio de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu módulo para você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na biblioteca do seu centro de recursos mais material de estudos relacionado com o seu curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para além deste material físico ou electrónico disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus estudos. Auto-avaliação e Tarefas de avaliação Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios de auto-avaliação apresentam duas características: primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, exercícios que mostram apenas respostas. Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação massem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras. Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de correcção e subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exercícios de avaliação é uma grande vantagem. Comentários e sugestões Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza didácticoPedagógica, etc deveriam ser ou estar apresentadas. Pode ser que graças as suas observações, o próximo módulo venha a ser melhorado. Ícones de actividade Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc. ISCED Manual de Introdução ao Direito 4 Habilidades de estudo O principal objectivo deste capítulo é o de ensinar aprender a aprender. Aprender aprende-se. Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos, procedendo como se segue: 1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de leitura. 2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida). 3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR). 4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão. 5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou as de estudo de caso se existirem. IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo, respectivamente como, onde e quando estudar, como foi referido no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada hora, etc. É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já domina bem o anterior. Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos de cada tema, no módulo. ISCED Manual de Introdução ao Direito 5 Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama- se descanso à mudança de actividades). Ou seja, que durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das actividades obrigatórias. Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente incapaz! Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que está a se formar. Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades. É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado não conhece ou não lhe é familiar; Precisa de apoio? Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, página trocada ou invertidas, etc). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento ISCED Manual de Introdução ao Direito 6 e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, sms, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando a preocupação. Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes (Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante – CR, etc. As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED indigitada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza pedagógica e/ou administrativa. O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida em que permite-lhe situar, em termos do grau de aprendizagem com relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade temática, no módulo. Tarefas (avaliação e auto-avaliação) O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e auto avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues duas semanas antes das sessões presenciais seguintes. Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da disciplina/módulo. Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os mesmos devem ser dirigidosao tutor/docente. Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor. ISCED Manual de Introdução ao Direito 7 O plágio1 é uma violação do direito intelectual do(s) autor(es). Uma transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um autor, sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade científica e o respeito pelos direitos autoriais devem caracterizar a realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED). Avaliação Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância, estando eles fisicamente separados e muito distantes do docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma avaliação mais fiável e consistente. Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A avaliação do estudante consta detalhada do regulamento de avaliação. Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de frequência para ir aos exames. Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira. A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira. Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois) trabalhos e 1 (um) (exame). Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados como ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das referências bibliográficas utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros. 1 Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização. ISCED Manual de Introdução ao Direito 8 Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de Avaliação. ISCED Manual de Introdução ao Direito 9 TEMA – I: INTRODUÇÃO (O Homem, a Sociedade e o Direito). UNIDADE Temática 1.1. A natureza social do homem e a necessidade de regras como condição de subsistência da vida social UNIDADE Temática 1.2. As diversas ordens sociais normativas e sua interligação UNIDADE Temática 1.3 Valores Fundamentais de Direito UNIDADE Temática 1.3. EXERCÍCIOS deste tema UNIDADE Temática 1.1. A natureza social do homem Introdução Pretende-se nesta unidade temática que o estudante compreenda a natureza social do homem em se juntar e viver em sociedade Ao completar esta unidade, você será capaz de diferenciar as diferentes correntes que se debruçam da sociabilidade do homem. Objectivos Identificar as principais causas da sociabilidade do homem; Explicar porque o homem e considerado ser iminentemente social; Explicar as correntes que se debruçam sobre a natureza social do homem; Desenvolver um espirito crítico sobre a sociabilidade do homem. 1.1.1. A Natureza Social do Homem ISCED Manual de Introdução ao Direito 10 Sobre a natureza social do homem, duas teses fundamentais debateram-se e foram, no entanto chamadas para o nosso estudo nesse módulo. Temos a considerar: 1.Tese Naturalista – baseia-se na Ordem e defende que o Homem é um ser “naturalmente social”, dizendo que ao Homem dada a sua natureza não lhe é possível desenvolver totalmente as suas capacidades se não se envolver em relação com os outros Homens. Os Naturalistas acreditam que onde existe o Homem, existe sociedade – Ubi homo, ibi societas – pois o Homem mais que um ser social é um ser que nasce na e da sociedade e que vive na sociedade, para a sociedade e em função dela. A palavra sociedade provém do latim socius que significa aliado ou o que auxilia. A concepção naturalista tem como base a noção de ordem, a qual segundo uma perspectiva de Acção Social leva à prática de certos hábitos para se “estar em ordem”, o que nos leva à formulação de leis e normas. 2.Tese Contratualista – tem como ponto comum um estado présocial, onde o Homem vive livre, afirmando que o Homem é um ser isolado que forma sociedade através de um acordo de vontades, de modo a poder salvaguardar os seus interesses. A Tese Contratualista possui várias teorias de diversos autores, sendo que todas elas partem do princípio de que o Homem passa por um estado pré-social, o Estado da Natureza, e que através do Contrato Social passa, então ao Estado de Sociedade. Thomas Hobbes na sua obra De Cive desenvolve uma teoria política em que o Homem inicialmente feroz, egoísta, violento e perigoso – homo hominis lupus–, tinha tendência para a desordem e injustiça, o que gerava agressões mutuas e por isso sentiu a necessidade de, abdicando de determinadas liberdades, criar uma força superior, o Estado, com poder supremo e absoluto para garantir a justiça, a paz e a segurança. Jean-Jacques Rousseau apresentou uma teoria económica com base no princípio da propriedade. Rousseau defendia o mito do Bom Selvagem, onde o Homem, vivendo no Estado Natural, demonstrava bondade, ISCED Manual de Introdução ao Direito 11 para proteger as pessoas e os bens da corrupção e das desigualdades geradas pela sociedade e/ou poder, entrega os seus direitos e liberdades ao Estado, de modo a que vontade geral defendese um bem comum, sendo que quem desrespeita-se a vontade geral seria coagido a respeita-la e a obedecer-lhe. A vida em sociedade garante ao Homem a sua subsistência, a preservação da espécie e realização das suas necessidades, as quais podem ser agrupadas em 5 níveis, segundo a pirâmide de Maslow: 1º Nível – necessidades fisiológicas – alimentação, dormir, etc.; 2º Nível – necessidade de segurança – protecção contra perigos físicos e económicos; 3º Nível – necessidade de pertença – ser aceite numa comunidade humana; 4º Nível – necessidade de estima – ser reconhecido, ser apreciado; 5º Nível – necessidade de realização pessoal – exprimir a sua própria criatividade/capacidade. A vida em sociedade pressupõe a existência de relações intersubjectivas – conjunto de acções e interacções recíprocas entre os Homens –, as quais originam as relações sociais. Não é por vários indivíduos se encontrarem no mesmo espaço que eles têm relações sociais, a esse fenómeno chama- se coexistência. 1.1.2. A necessidade de regras como condição de subsistência da vida social Já na Antiguidade se dizia que onde existe o Homem existe Sociedade (ubi homo, ibi societas). Mas também se dizia que onde houver Sociedade haverá Direito (ubi societas, ibi ius). ISCED Manual de Introdução ao Direito 12 Com efeito, sendo a sociedade indispensável à vida do Homem, a Convivência humana em sociedadeexige que se defina e prevaleça uma ordem, a que a todos se submetam, isto é, um conjunto de regras gerais e padrões que orientem de forma imperativa o comportamento do Homem e estabeleçam as regras de organização dessa sociedade bem como as instituições que dela fazem parte. Dessa ordem social, destaca-se a ordem jurídica, ou seja o Direito. A ordem jurídica é, pois, a ordem social regulada ou constituída pelo Direito, ou seja, por um conjunto de normas gerais, abstractas e imperativas, cuja observância pode ser assegurada de forma coerciva pelo Estado. A sociedade é, ao mesmo tempo, a forma de vida por excelência do Homem e uma realidade ordenada pelo Direito. De facto, o meio social ordenado em que vive o homem (a sociedade) é instituído pelo Direito, através da definição de regras de conduta e padrões de comportamento individual e colectivo e de um sistema organizativo em que se estrutura e funciona a sociedade. O Direito regula, assim, um conjunto de relações que poderíamos figurar num “triângulo normativo” da seguinte forma: relações entre cidadãos (linha de base), que têm lugar num plano de igualdade jurídico-social; relações entre os cidadãos e o Estado (linha ascendente), determinando-se aquilo que os cidadãos devem à ISCED Manual de Introdução ao Direito 13 sociedade (Estado) como contribuição para o bem comum; relações entre o Estado e os cidadãos (linha descendente), em que o primeiro (Estado) aparece com obrigações face aos seus segundos (cidadãos). As linhas da estrutura da ordem jurídica esboçada correspondem, assim, respectivamente, às três intenções normativas clássicas da Justiça: justiça comutativa, justiça geral ou legal; justiça distributiva. O carácter societário do Direito fica assim evidente: esse carácter societário determina-se pela ligação estreita e necessária entre o Direito e a Sociedade. Sumário Nesta unidade temática estudamos principalmente as correntes que se debruçam sobre a natureza social do homem. Vimos a tese Naturalista baseia-se na Ordem e defende que o Homem é um ser “naturalmente social”, enquanto a tese Contratualista tem como ponto comum um estado pré-social, onde o Homem vive livre, afirmando que o Homem é um ser isolado que forma sociedade através de um acordo de vontades, de modo a poder salvaguardar os seus interesses. ISCED Manual de Introdução ao Direito 14 Exercícios 1. Quais são os principais traços que diferenciam a teoria jusnaturalista da teoria jus contratualista referentes a sociabilidade do Homem? 2. Em que Consistia o mito do Bom Selvagem teorizado por Rosseau? 3. Qual é a importância das relações intersubjectivas na sociedade? 4. Identifique e diferencie as diferentes manifestações da justiça dentro da sociedade. 5. Qual o papel ou importância das normas na sociedade? UNIDADE Temática 1.2. As diversas ordens sociais normativas e sua interligação. Introdução A sociedade esta constituída por diversos institutos que visam dar forma e certa ordem a própria sociedade. Tais institutos regulam os diversos domínios da vida em sociedade, desde o casamento, as trocas comerciais, as relações da mais diversa natureza entre outros. Como estudantes de direito devemos ser capazes de compreender esse instituto e bem como diferencia-los. Identificar as diferentes ordens Objectivos normativas sociais; Caracterizar as diferentes ordens normativas sociais; Relacionar as ordens normativas sociais; ISCED Manual de Introdução ao Direito 15 1.2.1 As diferentes ordens normativas sociais e sua interligação Ao contrário da ordem natural, em que os fenómenos ocorrem segundo uma sucessão invariável (ciclo de reprodução animal, marés, ciclo de água, movimentos da terra, etc.), a ordem social é constituída por uma rede complexa e mutável de regras provenientes de ordens normativas de diversa índole, a saber: a) A ordem moral – aponta normas ou regras que tratam de influenciar a consciência e moldar o comportamento do indivíduo em função daquilo que se considera o Bem e o Mal; As normas morais visam o indivíduo e não directamente a organização social em que se integram; a ordem moral tem como sanção a reprovação da formação moral da pessoa ou a má reputação; b) A ordem religiosa – tem por função regular as condutas humanas em relação a Deus, com base na Fé; ISCED Manual de Introdução ao Direito 16 c) A ordem de trato social – aponta normas que se destinam a permitir uma convivência agradável entre as pessoas mas que não são propriamente indispensáveis à subsistência da vida em sociedade. Inclui normas sobre a maneira de estar e se comportar em acontecimentos sociais (normas de etiqueta e boas maneiras, de cortesia e urbanidade); normas sobre a forma de vestir (moda), normas típicas de uma profissão (deontologia), normas de uma determinada região (usos e costumes), etc.; d) A ordem jurídica - é constituída pelas normas mais relevantes da vida em sociedade e, ao contrário, das outras ordens normativas, serve-se da coacção como meio de garantir a observância das suas normas, caso estas não forem acatadas voluntariamente. É, pois, um conjunto de normas que regulam as relações sociais, impondo- se aos homens de forma obrigatória e com recurso à coercibilidade. 1.2.1 As relações entre as diversas ordens normativas sociais 1.2.2. Relações entre Direito e Moral A vida social só é possível se forem efectivas as regras determinadas para o procedimento dos homens. Tais regras, de cunho ético, emanam, fundamentalmente, da Moral e do Direito, que procuram ditar como deve ser o comportamento de cada um. Sendo ambos – Moral e Direito – normas de conduta, evidentemente apresentam um campo comum. Assim, aquele que estupra uma menor infringe, ao mesmo tempo, norma jurídica, contida no Código Penal, e norma moral (neminem laedere = não prejudicar a ninguém). ISCED Manual de Introdução ao Direito 17 Miguel Reale elucida que "o Direito representa apenas o mínimo da Moral declarado obrigatório para que a sociedade possa sobreviver. Como nem todos podem ou querem realizar de maneira espontânea as obrigações morais, é indispensável armar de força certos preceitos éticos, para que a sociedade não soçobre. A Moral, em regra, dizem os adeptos dessa doutrina, é cumprida de maneira espontânea, mas, como as violações são inevitáveis, é indispensável que se impeça, com mais vigor e rigor, a transgressão das regras que a comunidade considerar indispensáveis à paz social". Haveria, portanto, um campo de acção comum, sendo mais amplo o da Moral. Mas seria correcto dizer-se que todas as normas jurídicas estão contidas no plano moral? A resposta é, obviamente, negativa. Acções existem, entretanto, que interessam apenas ao Direito, como ocorre, por exemplo, com as formalidades de um título de crédito. Existem outras que são indiferentes ao Direito, mas que a Moral procura disciplinar. É o que acontece, v.g., com a prostituição. Com efeito, a mulher que se dedica à prostituição não sofre qualquer sanção jurídica, posto que a prostituição, em si, não é crime. Contudo, como salienta Bassil Dower, é considerada como “câncer social”e a mulher que a prática, por um motivo de ordem ética, fica marginalizada, sujeitando- se à repulsa geral. Conquanto tenham um fundamento ético comum, as normas morais e jurídicas possuem caracteres próprios que as distinguem, embora as regras da Moral exerçam, normalmente, enorme influência sobre as de Direito. Esses caracteres distintivos podem ser sistematizados sob um tríplice aspecto: em razão do campo de acção, da intensidade da sanção que acompanha a norma em cada caso ou dos efeitos de cada uma delas. Sob o aspecto do campo de acção, a Moral actua, sobretudo, no foro íntimo do indivíduo, enquanto o Direito se interessa, essencialmente, pela acção exteriorizada pelo homem, ou seja, por aquilo que ele fez ou ISCED Manual de Introdução ao Direito 18 deixou de fazer na vida social. Assim, a maquinação de um crime, podendo ser indiferente ao Direito, é repudiada pela Moral, encontrando reprovação na própria consciência. Já a exteriorização desse pensamento, com a efectiva prática do crime, importa em conduta relevante para o Direito, que mobiliza o aparelho repressivo do Estado para repor o equilíbrio social. Quanto à intensidade da sanção, a Moral estabelece sanções individuais e internas (remorso, arrependimento, desgosto) ou de reprovação social (ex.: a prostituta é colocada a margem da sociedade). O Direito estabelece sanção mais enérgica, consubstanciada em punição legal (ex.: aquele que mata fica sujeito a uma pena de prisão maior). Quanto aos efeitos, observa-se que da norma jurídica decorrem relações de carácter bilateral, ao passo que da regra moral deriva consequência unilateral, isto é, quando a Moral diz a um que ame o seu próximo, pronuncia-o unilateralmente, sem que ninguém possa reclamar aquele amor; quando o Direito determina ao devedor que pague a prestação, proclama-o bilateralmente, assegurando ao credor a faculdade de receber a dita prestação. De forma sucinta, podemos fazer a distinção entre a ordem jurídica (Direito) e a ordem moral de acordo com os seguintes critérios: a) Critério do “mínimo ético”: O Direito só acolhe e impõe as regras morais cuja observância é imprescindível para a subsistência da paz, da liberdade e da justiça em sociedade. O Direito constitui aquele mínimo ético ou moral que resulta da coincidência das suas normas com as regras morais. Isto equivale a dizer que o Direito não se propõe, como seu fim essencial, garantir certa concepção ética da sociedade mas tampouco ignora as normas morais; na verdade, o Direito não prescreve condutas imorais; ISCED Manual de Introdução ao Direito 19 b) Critério da coercibilidade: As normas morais só têm relevância para a consciência de cada um, enquanto as normas jurídicas se impõem ao indivíduo na medida em que são coercivas, ou seja, podem ser impostas pela força; c) Critério da exterioridade: Ao Direito, que se preocupa essencialmente com a conduta externa ou visível do homem, basta que o indivíduo cumpra as normas em vigor, enquanto a Moral exige, além disso, uma adesão íntima (interior) aos valores éticos que prescreve. Têm sido ainda referidos na doutrina outros critérios distintivos, como: i) O critério teleológico, segundo o qual a Moral visa a perfeição a pessoa humana, enquanto o Direito tem por objectivo a realização da justiça na vida social; ii) O critério do objecto, conteúdo ou matéria, segundo o qual a Moral regula toda a conduta humana, individual e social, interessando-lhe inclusivamente o que é puramente interno, enquanto o Direito respeita exclusivamente aos comportamentos sociais; iii) O critério da perspectiva, conforme o qual a Moral considera a conduta preferentemente “do lado interno”, enquanto o Direito considera sobretudo o lado externo, a conduta exteriorizada2 Pode dizer-se, em suma, que as condutas que nem todas as condutas humanas entram na esfera do Direito, mas sim aquelas que são suscetíveis de pôr em causa a ordem social de convivência, os fundamentos da própria sociedade. Todavia, entre as diversas ordens sociais normativas estabelecem-se relações, influenciando-se reciprocamente, como facilmente nos damos conta no quotidiano. ISCED Manual de Introdução ao Direito 20 1.2.3 O Direito e a Politica Deve ter-se ainda em conta a relação especial que existe entre o Direito e a Política, na base da premissa segunda a qual o Direito limita o campo político, enquanto a Política determina a formatação da ordem jurídica, suas fontes e campo de aplicação. Na verdade, é impensável o Direito fora do quadro da existência de uma sociedade erigida em Estado, dotado dos órgãos de poder encarregados de ditar e aplicar o Direito. Efectivamente, o Direito é uma ciência política por excelência. Sumário As Ordens Sociais Normativas são aquelas que coordenam a vida em sociedade, caracterizando-se todas elas pelo carácter imperativo e obrigatório das suas normas, diferenciando-se por isso da Ordens Físicas ou Naturais. A Ordem Física ou da Natureza é uma ordem de necessidade, que exprime uma relação entre os seres e são invioláveis, de onde se conclui que a Ordem Social é uma ordem de liberdade, pois apesar das suas normas serem impostas ao Homem e exprimirem um dever, ser elas podem ser violadas e/ou alteradas, ao contrário da Ordem Natural cujas normas são aplicadas de forma invariável e constante independentemente da vontade do Homem e muitas vezes contra ela Exercícios 1. Qual a importância das ordens normativas sociais na sociedade? 2. Quais são os traços que diferenciam a ordem jurídica das demais? 3. Caracterize, dando exemplos, as relações que se estabelecem entre as diversas ordens sociais normativas? 4. Como se manifesta o critério do mínimo ético no direito? De um exemplo prático inspirando nas práticas societárias. ISCED Manual de Introdução ao Direito 21 UNIDADE Temática 1.3. Valores Fundamentais de Direito Introdução O Direito esta composto por valores essenciais que visa garantir ao individuo certa segurança nas transações que realiza no seu dia a dia e assim oferecer um pouco mais de certeza em todos os acto que este pratica. E importante como estudante nesse curso compreender quais são os valores oferecidos pelo Direito como forma de garantia aos cidadãos. Identificar os valores de Direito; Objectivos Caracterizar os diferentes valores; Relacionar os valores; 1.3.1 Valores fundamentais do Direito Desde que foi assumido como uma das dimensões mais importantes da cultura, o Direito está ligado ao esforço histórico de realização de valores fundamentais na convivência social, a saber: a) Justiça: É o fim último do Direito. Designa, segundo alguns autores (como Leibniz), proporção, ponderação, adequação, ISCED Manual de Introdução ao Direito 22 correspondência a um fim. Na Grécia Antiga, a Justiça fazia-se equivaler à igualdade; na tradição judaico-cristã, supõe conformidade do agir humano com a vontade divina; expressase também no conceito de carácter social que diz respeito à repartição dos bens escassos entre os homens. A Justiça é ainda encarada em função do tipo de relações que se estabelecem entre os indivíduos (justiça comutativa) entre os indivíduos e a sociedade, em termos de sujeição anormas fixadas pelo Estado (justiça geral ou legal) e entre o Estado e os indivíduos, tendo estes direitos em relação àquele (justiça distributiva). Para poder vigorar na sociedade, o Direito deve impor uma ordem de convivência justa. A validade do Direito reside na Justiça, isto é, na justeza da ordem jurídica. b) Equidade: Significa procurar ou promover a justiça, tendo em devida conta as desigualdades sociais, o que implica dar tratamento diferenciado a situações desiguais, dentro de parâmetros legalmente aceitáveis. Para o ser realmente, a Justiça exige a consideração dos casos concretos na aplicação das normas, não podendo cingir-se a uma aplicação cega. Por isso, o Juiz, na sua função de julgar, obedece à lei mas também à sua consciência, além de considerar o convencionado pelas partes, sempre que as normas o permitam. c) Segurança: Quer dizer que aos cidadãos deve ser dada a necessária confiança na estabilidade (ou permanência) das normas jurídicas. As normas jurídicas não podem ser alteradas a cada dia que passa, a fim de garantirem aos cidadãos a possibilidade de orientar a sua conduta presente e futura com a necessária estabilidade. É assim que as leis novas só devem em princípio dispor para o futuro (princípio da irretroactividade da lei). d) Certeza Jurídica: Significa que aos cidadãos deve ser dada a possibilidade de terem um conhecimento preciso acerca do sistema de normas jurídicas vigentes na sociedade, para orientarem convenientemente a sua conduta e defenderem os seus interesses. Os cidadãos devem estar em condições de gerir e prever os efeitos da sua conduta com base em normas jurídicas vigentes e do conhecimento geral. Por isso, em regra, as normas jurídicas, escritas de forma clara, com rigor e objectividade, devem ser publicadas no Boletim Oficial. ISCED Manual de Introdução ao Direito 23 1.3.2 Os diversos sentidos do termo Direito Como temos referido, o Direito é a ordenação da convivência humana em sociedade através de normas jurídicas de acordo com a Justiça. Existe assim uma relação essencial e necessária entre o Direito e a Justiça. Se este tópico é pacífico na definição do Direito, não existe unanimidade na formulação o conceito de Direito. Este termo costuma ser utilizado com vários significados: - Num sentido normativo, Direito é o conjunto ou sistema de normas e princípios jurídicos, é o ordenamento jurídico que regula a vida em sociedade e determina o seu modo de ser e de funcionar. Fala-se assim de: Constituição da República, Código Civil, Direito Comercial, Direito Internacional, Direito Inglês, etc. - Direito pode designar o local ou instituição em que se administra a Justiça (os Tribunais); pode significar ciência jurídica, sabedoria jurídica dos jurisconsultos ou inclusive, património de uma pessoa (direitos e obrigações)...Há, porém, duas acepções fundamentais do Direito: direito objectivo e direito subjetivo. Direito objectivo - É o conjunto de regras gerais, abstractas e imperativas, vigentes num determinado momento, para reger as relações humanas, e impostas, coactivamente, à obediência de todos. Os Códigos Penal, de Processo, Civil etc., bem como qualquer uma de suas regras, são exemplos de direito objectivo. Direito subjectivo – É constituído pelos poderes, posições de privilégio ou faculdades que as normas de direito objectivo atribuem às pessoas de modo a que estas possam salvaguardar os seus legítimos interesses: direito à vida, direito à integridade física, direito ao bom nome e à privacidade, direito ao casamento, etc. Dito de outro modo, direito subjectivo é faculdade ou prerrogativa do indivíduo de invocar a lei na defesa de seus interesses. Parte integrante do direito objectivo, o direito subjectivo de uma pessoa corresponde sempre ao dever de outra, que, se não o cumprir, poderá ser compelida a observá-lo através de medidas judiciais. A Constituição de Moçambique, pode estatuir, por exemplo, que "é garantido a todos o direito à propriedade privada". Esta norma jurídica de direito objectivo. Assim, se alguém violar a minha propriedade, poderei accionar o Poder Judicial para que a infracção seja sanada. Essa faculdade que tenho de movimentar a máquina judiciária para o reconhecimento de um direito que a lei me garante é que constitui o direito subjectivo. Disso resulta que o direito objectivo é o conjunto de leis dirigidas a todos, ao passo que o direito subjectivo é a faculdade que ISCED Manual de Introdução ao Direito 24 tem cada um de invocar essas leis a seu favor sempre que o entenda, para defender o seu legítimo interesse. Sumário O Direito como ordem normativa reguladora da vida social, baseia-se num conjunto de valores, que promovem a adesão prática da comunidade aos seus imperativos e atribuem validade à sua vigência. Como valores fundamentais do Direito temos: Justiça, Equidade, Segurança e Certeza Jurídica Exercícios 1. Defina justiça? 2. Em que consiste um Direito Subjectivo? De um exemplo prático de um direito subjectivo retirado da prática societária. 3. Crie uma situação em que, de um lado, encontramos um direito objectivo, norma, e por outro lado o direito subjectivo. ISCED Manual de Introdução ao Direito 25 TEMA – II: O DIREITO UNIDADE Temática 2.1. Introdução. Noção, Fins e Evolução Histórica (Sistemas de Direito) UNIDADE Temática 2.2. As Normas Jurídicas. UNIDADE Temática 2.3. As Fontes de Direito UNIDADE Temática 2.4. Os Ramos de Direito UNIDADE Temática 2.1. Noção e Sistemas de Direito. Introdução Esta unidade pretende dotar os estudantes de conhecimentos gerais e práticos sobre o Direito, bem como dotar lhes de capacidades de identificação da importância deste ramo para a sociedade Moçambicana em particular e das sociedades no geral. O Direito como outras ciências apresentam uma evolução histórica que passa por diferentes fases e que merecem ser conhecidas. Compreender o Direito como ordem social normativa; Compreender a necessidade da existência do Direito; Objectivos Constatar a necessidade da aplicação da prática do Direito Reconhecer a importância histórica do Direito e sua evolução; ISCED Manual de Introdução ao Direito 26 2.1.1 O Conceito de Direito Etimologicamente, o termo Direito vem do latim “ Directum ” do verbo “dirigere ” (dirigir-orientar-endireitar), significando aquilo que é “recto”, “direito” ou “conforme à razão”. Didacticamente, o Direito é o ramo da ciência que estuda as regras gerais, abstractas e imperativas do relacionamento social, criadas pelo Estado e por este impostas, se necessário, de forma coerciva. Deveres e obrigações impõem-se à conduta de todas as pessoas no convívio familiar, na vida laboral e nas relações sociais em geral. A solução dos conflitos, com base no Direito e mediação do Estado, torna possível a vida em sociedade. Assim, Direito não é somente o conjunto de normas gerais, abstractas obrigatórias e coercitivas (normas jurídicas) que regulam, ordenam ou disciplinam os aspectos mais relevantes da vida societária, mas é também o ramo da ciência que tem por objecto o estudo dessas normas. A ciência jurídica tem por objecto discernir, de entre as normas que regem a conduta humana, as que são especificamente jurídicas. Ao contrário de outras normassociais, as normas jurídicas caracterizam- se pelo seu carácter coercitivo, pela existência de sanção imposta pela autoridade do Estado no caso de não observância voluntária. O Direito regula uma enorme e crescente gama de relações humanas e rege-se, em todo o mundo civilizado, por numerosos princípios e regras cuja validade é imposta e aceite como condição da própria sobrevivência social. Tal ordenamento compulsório estabeleceu-se em lenta e trabalhosa evolução, ao longo de séculos, como se verá em seguida, através de uma breve referência às suas matrizes históricas mais conhecidas, para uma melhor compreensão dos sistemas jurídicos vigentes na actualidade. 2.1.2 A evolução histórica do Direito Génese do Direito ISCED Manual de Introdução ao Direito 27 Se nos debruçarmos sobre as diversas teorias do surgimento do Direito, este, segundo entendimento corrente, aparece na sociedade humana juntamente com o Estado, traduzindo a necessidade de a vida societária (cada vez mais complexa e com interesses amiúde divergentes ou mesmo antagónicos) passar a ser regida, não exclusivamente por normas sociais, mas por um conjunto de regras gerais e obrigatórias, criadas e impostas, se necessário, coercivamente, por um grupo especial de indivíduos dedicados a esse fim. Direito Primitivo: O Costume e as primeiras fontes escritas. Remota e primitivamente, o Direito manifestou-se através do Costume. Os usos e tradições das épocas mais recuadas da civilização prepararam o advento posterior do direito escrito. Efectivamente, nos primórdios da Civilização todo o direito estava expresso nos costumes, transmitindo-se de geração em geração, sobretudo, por via oral. O Costume jurídico, enquanto primeira forma histórica de expressão do Direito, era igualmente a que prevalecia nas sociedades esclavagista e feudal. Fonte de direito bastante imperfeita, pela incerteza que, muitas vezes, lhe é inerente, não pode o Costume apresentar a garantia de permanência que caracteriza, em princípio, a lei escrita. Em virtude deste facto, a tendência geral no mundo actual é a substituição do Direito Costumeiro pelo Direito Escrito. Alguns documentos escritos de Direito remontam à Alta Antiguidade: o Código de Amurabi, em Babilónia, situa-se cerca de 2.000 anos a.C; as Leis de Moisés para Israel e as Leis de Manu para a Índia remontam também a épocas bastante recuadas. O mesmo se pode dizer da Lei das Doze Tábuas, entre os romanos. De qualquer maneira, porém, esses antigos monumentos legislativos escritos são, em muitas de suas disposições, reminiscências do antigo direito costumeiro. Expressão desse direito costumeiro antigo é, verba gratia, a chamada Lei de Talião ISCED Manual de Introdução ao Direito 28 (jus talionis), que se traduz na materialização do princípio da vingança para “compensar” danos causados e é ilustrada pela célebre expressão “olho por olho, dente por dente”. Além da forte influência dos costumes e da vingança privada, as regras do Direito Primitivo, caracterizam-se pela forte influência das regras religiosas ou divinas e, frequentemente, pela sua crueldade e arbitrariedade. 2.1.3 O Direito na Grécia Antiga No tocante à investigação relativa ao direito na Grécia Antiga, importa referir que ele não se expressou de modo uniforme em todo o seu território, nas diferentes polis ou cidades, tendo, porém, em comum, a mistura das regras jurídicas, essencialmente costumeiras, com fórmulas de conteúdo moral e teológico. Aristóteles, na sua obra “Constituições Gregas”, reúne 158 constituições das distintas cidades-estados do antigo mundo grego. Seus autores são, além do legendário Licurgo (da antiga Esparta) e dos legisladores Dracon e Solon (de Atenas), figuras como Sócrates e Platão, Faleas (de Calcedónia), Fidón (de Corinto), Hipódamo (de Mileto), Charondas (de Catania), Zeleucos, etc. Na sua obra “A Política”, Aristóteles menciona Onomácritos como o primeiro que adquiriu perícia e fama na legislação. ISCED Manual de Introdução ao Direito 29 Para uma melhor explicação do Direito na Grécia Antiga, procedeu-se à sua divisão de períodos. Assim, inventariaram-se, em primeiro lugar, as práticas jurídicas observadas na Grécia Arcaica (800-500 AC), e, posteriormente, a organização do direito na Grécia Clássica (séc. 500400 AC). Quanto ao período arcaico foram identificados os dois mecanismos mais característicos de seu funcionamento: os ordálios e a vendeta. No tocante aos ordálios, é patente a sua presença no período mais primitivo da cultura grega, assim como em todos os povos de origem indo- europeia. Através dos ordálios, práticas nitidamente marcadas por uma visão mítica do mundo, o corpo do acusado é submetido a provas para testar sua inocência ou culpabilidade. Em geral, há um enfrentamento do acusado com alguns elementos da natureza - como, por exemplo, o fogo e a água. Já no que concerne à vendeta, ou vingança privada, observa-se a sua ocorrência na Grécia Arcaica assim como, praticamente, em todas as culturas antigas da bacia do Mediterrâneo. Como a estrutura das sociedades primitivas se organiza em torno das relações de parentesco, é através dos clãs que se realiza a punição do dano causado. Repara-se a ofensa a um membro de um determinado grupo familiar através da resposta pela força empregada por esta mesma família. Exemplos retirados da literatura, como da tragédia Oréstia, de Ésquilo, demonstram a permanência destas práticas na cultura grega por longo espaço de tempo. Quanto ao período clássico, a pesquisa tem sido feita em torno da hipótese formulada por um grupo de helenistas franceses contemporâneos - a "Escola de Paris", de Jean Pierre Vernant e Marcel Detienne. A hipótese apontava para as tragédias como testemunho fundamental da emergência. ISCED Manual de Introdução ao Direito 30 A maior contribuição do pensamento grego para o direito foi a formação de um corpo de ideias filosóficas e cosmológicas sobre a justiça, mais adequado para apelações nas assembleias populares do que para estabelecer normas jurídicas aplicáveis a situações gerais. As primitivas cosmologias gregas consideravam o indivíduo dentro da transcendental harmonia do universo, emanada da lei divina (logos) e expressa, em relação à vida diária, na lei (nomos) da cidade (polis). 2.1.3 Direito Romano Os criadores da civilização romana, cujo espírito prático, senso da realidade e tendência para o individualismo se equilibravam com um raro discernimento da conveniência e da necessidade política, edificaram o mais grandioso e perfeito sistema jurídico da idade antiga, que sobrevive num sem-número de concepções, instituições e princípios vigentes no mundo contemporâneo. O direito romano influiu poderosamente sobre a ordem jurídica ocidental e constituiu um dos principais elementos da civilização moderna. O direito romano é o complexo de normas e princípios jurídicos vigentes em Roma, desde a sua fundação (lendária, no século VIII a.C.) até à codificação de Justiniano, falecido no ano 565 (século V I d.C.). A evolução Nos treze séculos da história romana, do século VIII a.C. ao século VI d.C., assistimos, naturalmente, a uma mudança contínua no carácter do direito, de acordo com a evolução da civilização romana, com as alterações políticas, económicas e sociais, que a caracterizavam. Para melhor compreender essa evolução, costuma-se fazeruma divisão em períodos. Tal divisão pode basear-se nas mudanças da organização política do Estado Romano, distinguindo-se, então, a época régia (fundação de ISCED Manual de Introdução ao Direito 31 Roma no século VIII a.C. até a expulsão dos reis em 510 a.C.), a época republicana (até 27 a.C.), o principado até Diocleciano (que iniciou seu reinado em 284 d.C.), e a monarquia absoluta, por este último iniciada e que vai até o fim do período por nós estudado, isto é, até Justiniano (falecido em 565 d.C). 2.1.4 O direito do período pós-clássico O último período, o pós-clássico, é a época da decadência em quase todos os sectores. Assim, também no campo do direito. Vivia-se do legado dos clássicos, que, porém, teve de sofrer uma vulgarização para poder ser utilizado na nova situação caracterizada pelo rebaixamento de nível em todos os campos. Nesse período, pela ausência do génio criativo, sentiu-se a necessidade da fixação definitiva das regras vigentes, por meio de uma codificação que os romanos em princípio desprezavam. Não é por acaso que, excepto aquela codificação das XII Tábuas do século V a.C., nenhuma outra foi empreendida pelos romanos até o período decadente da era pós-clássica. Em suma: O Código Justiniano (colecção das leis imperiais vigentes na época) , o Digesto (selecção das obras dos jurisconsultos clássicos), as Institutas (manual de direito destinado aos estudantes) e as Nove las (as novas leis publica das após a publicação do Código Justiniano) são as quatro grandes obras justinianas e formam o Corpus Juris Civilis , 2.1.5. Direito Germânico A expressão direito germânico indica as instituições e os sistemas jurídicos existentes nas diversas nações bárbaras de origem teutónica que se apossaram da Europa após a queda do Império Romano do ISCED Manual de Introdução ao Direito 32 Ocidente, no ano 476. Importante cara cterística do direito germânico era a chamada personalidade das leis. O direito romano, pelo menos depois que o império atingiu a expansão máxima, no século II, consagrava, ainda que com excepções, o princípio da territorialidade, segundo o qual o direito aplicável às pessoas que se achavam no território do estado era o direito do próprio estado, independentemente da condição nacional ou da origem étnica de seus habitantes. 2.1.6. Séculos XIX e XX Na primeira metade do século XIX, o pensamento jurídico experimentou, por influência da filosofia positivista 21 de Augusto Comte, uma reacção ao idealismo e às teorias do direito natural. De acordo com a doutrina do positivismo analítico, os casos deveriam ser resolvidos mediante o estudo das instituições e leis existentes. Segundo o positivismo histórico, cujo principal representante foi o jurista alemão Friedrich Karl von Sarvin , o direito reside no espírito do povo e o costume é o direito por excelência. O papel do jurista consiste em interpretar esse espírito e aplicá-lo às questões técnicas . A interpretação materialista do direito , surgida em meados do século XIX, iniciou-se com a doutrina marxista, para a qual os sistemas político e judicial representam a superstrutura da sociedade e têm um carácter classista, isto é, estão ao serviço dos interesses da classe dominante e exploradora, detentora dos meios fundamentais de produção. O direito da sociedade capitalista seria, assim, a vontade da burguesia dominante transformada em lei. A teoria pura do direito , cujo representante mais conhecido foi o austríaco Hans Kelsen22, concebia o direito como um sistema autónomo de normas baseado numa lógica interna, com validade e ISCED Manual de Introdução ao Direito 33 eficácia independentes de v a l o r e s e x t r a j u r í d i c o s , os quais só teriam importância no processo de formação do direito. A teoria das leis é uma ciência, com objecto e método determinados, da qual se infere que todo sistema legal é, essencialmente, uma hierarquia de normas. As escolas modernas do realismo jurídico entendem o direito como fruto dos tribunais. Dentro de sua diversidade, essas escolas admitem princípios comuns: a lei decorre da acção dos tribunais; o direito tem um propósito social; as mudanças contínuas e ininterruptas da sociedade verificam-se também no direito; e é necessário distinguir o que é do que deve ser. 2.1.7 Sistemas jurídicos contemporâneos O Direito nas sociedades contemporâneas pode ser classificado, acima dos limites políticos dos estados, em alguns grandes sistemas jurídico s : o ocidental, que abrange o direito continental europeu (ou do grupo francês) e o direito anglo-americano; o muçulmano; o hindu e o chinês. Limitemo-nos aqui a uma abordagem sumária do direito ocidental. Os direitos dos estados que se incluem no sistema ocidental devem suas linhas estruturais às mesmas concepções da tradição filosófica do Ocidente, ao influxo dos princípios da ética cristã e ao predomínio da ideologia liberal. A ordem jurídico-política baseia-se na noção de direitos naturais e invioláveis, entre os quais a liberdade individual que, em suas várias especificações, se erige em valor supremo da vida social. Assenta-se ainda no princípio da soberania popular, no regime representativo e no sistema pluripartidário, no dogma da supremacia da lei, nos princípios da divisão dos poderes e da neutralidade do estado. Na ordem económica, prevalece o princípio capitalista. Apesar dessa afinidade fundamental, distinguem-se, no direito ocidental, um direito continental europeu, ou do grupo francês, e um direito do grupo anglo-americano. ISCED Manual de Introdução ao Direito 34 2.1.8. O sistema de direito continental ou romano-germânico No âmbito do direito continental europeu, situam-se os ordenamentos jurídicos derivados do direito romano: inclui, na Europa, todos os estados com excepção do Reino Unido e dos que integravam o bloco soviético até 1991; a América Latina e, de certo modo, a África do Sul e o Japão. Nos países do direito continental europeu (romano-germânico ou da Civil Law), a característica fundamental do sistema jurídico é a absoluta preeminência do direito escrito e, secundariamente, a tendência para a codificação. O próprio raciocínio jurídico se constrói sobre o pressuposto de que a solução de qualquer controvérsia encontra-se numa norma geral criada pelo legislador. A lei é a fonte do direito por excelência e o ideal jurídico se expressa na identidade plena entre o direito e a norma jurídica. Embora nesses ordenamentos a jurisprudência goze de considerável autoridade, não constitui, a rigor, fonte do direito, pois uma decisão só obriga nos limites do caso em que é proferida e não vincula outros tribunais e juízes no julgamento de casos idênticos. Nesse grupo se edificam os dois maiores monumentos da codificação do direito privado moderno: o código civil francês de 1804, chamado Código Napoleão, e o código civil alemão de 1900, que influenciaram os códigos civis da Itália, Portugal, Espanha, Cuba, Brasil, Cabo Verde, Moçambique entre outros. O Código Napoleão inspira-se no sistema de Gayo (romano-francês), que se divide em três partes: Pessoas, Coisas e Acções. Foi modelo para a feitura de códigos nacionais por toda a Europa e não só (v.g. Brasil) e sua influência somente foi mitigada com o surgimento do Código alemão (BGB - Burgeliches Gesetzbuch), cerca de um século depois.O Código civil alemão, que se inspira no sistema de Savigny, apresenta cinco partes. Teoria da Relação Jurídica (parte geral), Direito de ISCED Manual de Introdução ao Direito 35 Propriedade, Direito de Obrigações, Direito de Família e Direito de Sucessões. 2.1.9. O sistema anglo-saxónico ou de Common Law O Direito anglo-saxónico, anglo-americano ou de Common Law, na esteira de RECASENS SICHES, deve ser estudado nos seus dois sentidos históricos, a saber: a) a concepção tradicional (melhor, talvez, seria dizer-se "concepção inicial”), que prevaleceu até os primeiros anos do século XX, e que ainda conserva prestígio residual; e b) o seu mais moderno significado. - O sentido tradicional do common law dos primeiros tempos é o de que esse sistema se constituía de um conjunto de princípios de Direito Natural do homem, de origem divina e, pois, anteriores ao Estado e à sociedade é que o protegiam contra o despotismo dos reis tiranos. Os juízes, portanto, não eram tidos propriamente com os “ criadores” do Direito, mas os seus “descobridores ”, através de suas sentenças. No máximo, portanto, s e admitia que os juízes “criavam” o direito apenas no sentido “formal” mas, não, “materialmente”, uma vez considerada a decisão judicial como o único meio de efectiva concretização do direito. Na hipótese de alteração dos precedentes judiciais, o que se dava eram tãosomente meras rectificações de equívocos anteriores e, não, a “criação” de uma nova regra substancial de direito. Tratar-se-ia de uma “redescoberta” ou ampliação do conteúdo anterior, com a pretensa revelação da autenticidade do direito substancialmente preexistente. - O sentido moderno de Common Law , diferentemente do “ tradicional ” , traduz - se no facto de que o Direito é criado inteiramente pelos tribunais, isto é , n o s d o i s s e n t i d o s , n ã o a p e n a s f o r m a l m a s , t a m b é m ( e principalmente) material ou substancial, consoante o mais amplo e preciso significado da expressão inglesa “judge made law”. A legislação não é tida, p o r t a n t o, c o m o D i r e i t o a u t ê n t i c o , m a s , t a l c o m o e x p r e s s a Roscoe P O U N D , “ c o m o u n i n t r u s o e n e l c ISCED Manual de Introdução ao Direito 36 u e r p o d e l D e r e c h o , l a c u a l s ó l o p u e d e p r o p o r c i o n a r r e g l a s d e t a l l a d a s p a r a l o s c a s o s a q u e s e r e f i e r e d e u n a maneira expressa.” De acordo com ambos os sentidos de Common Law, admite - se , em última análise , e e m caso de conflito, o predomínio dos princípios gerais do Direito, em contraposição a todo e qualquer arbítrio. É esta a tese que se manifesta na chamada doutrina da “ rule of the law ” (“ r e g r a d e D i r e i t o ” ou, melhor, “ p r i n c í p i o d e d i r e i t o ”), assente numa concepção, obviamente, jusnaturalista do Direito, além da experiência jurídica, a justificar esse império do Direito Assim, dentro do chamado “mundo ocidental” (em sentido políticocultural e não em sentido geográfico, obviamente), haverá apenas que considerar duas famílias: a romano-germânica (ou da Civil Law) e a da Common Law (muitas vezes chamada anglo-saxónica, mas a que outros preferem chamar anglo-americana). Escusado seria dizer que as remissões dos sistemas jurídicos realmente existentes no mundo ocidental às duas famílias jurídicas definidas podem não ser perfeitas. Há sistemas híbridos, no sentido de apresentarem traços de mais de uma família, nomeadamente traços da Common Law e da família romano - germânica. Na realidade, a sociedade de informação em que vivemos, a par da recepção no ordenamento jurídico dos países, de uma profusão de normas de direito internacional, tende a fazer aproximar-se os sistemas jurídicos no plano mundial. Esta é, efectivamente, um dos aspectos mais marcantes da evolução do Direito moderno. Sumário No seu longo processo histórico de desenvolvimento, praticamente tão longo quanto a trajetória do ser humano sobre a terra, o direito foi refinando suas normas: no início, as penas ISCED Manual de Introdução ao Direito 37 para os delitos eram, quase sempre, extremamente violentas, muitas vezes constituídas pela pena de morte. Aos poucos, o direito foi incorporando a ideia da proporcionalidade das penas em relação aos crimes: crimes mais violentos mereciam penas mais violentas, crimes mais leves mereciam penas mais leves. Exercícios 1. Resumida e sinteticamente, de o conceito de Direito? 2. O que diferencia o Direito de outras normas existentes na sociedade? 3. Em que fase da evolução do Direito se fala da Vendeta? Em que consistia a mesma? 4. Identifique e caracterize os grandes sistemas de Direito existente no mundo actual? 5. Qual dos sistemas de Direito é utilizado em Moçambique? Justifique. UNIDADE Temática 2.2. As normas Jurídicas e as sanções. Introdução Nesta fase pretendemos transmitir aos alunos o papel das normas jurídicas no desenvolvimento e organização das sociedades para tal é necessário compreender como elas actuam e quais as suas principais características para assim compreender o complexo movimento de sua aplicabilidade e as mais diferentes vicissitudes que gravitam em torno dela. Ao completar esta unidade, você será capaz de: Dar o conceito da norma jurídica. ISCED Manual de Introdução ao Direito 38 Objectivos Identificar a estrutura da norma jurídica Características das normas jurídicas; Assumir a importância dos métodos de medição. As sanções jurídicas como variedade das sanções sociais; Dotar os estudantes ao conhecimento de medição de distâncias 2.2.1 Conceito de norma jurídica Como referimos, a ordem jurídica se expressa através de normas jurídicas, que são regras de conduta social gerais, abstractas e imperativas, adoptadas e impostas de forma coercitiva pelo Estado, através de órgãos ou autoridades competentes. 2.2.3 Características da norma jurídica A partir da própria definição acabada de apresentar, podem extrairse as características mais marcantes da norma jurídica, que são: a) Generalidade: Todos os cidadãos são iguais perante a lei, razão por que a norma jurídica se aplica a todas as pessoas em geral. As normas jurídicas são válidas para todos e a todos obrigam de igual forma; b) Abstracção: As normas jurídicas aplicam-se a um número abstracto de situações, a situações hipotéticas em que poderão enquadrar-se as condutas sociais e não a um indivíduo ou facto concreto da vida social; c) Imperatividade: As normas jurídicas são de cumprimento obrigatório; d) Coercibilidade: As normas jurídicas podem impor-se mediante o emprego de meios coercivos (ou da força) pelos órgãos estaduais competentes, em caso de não cumprimento voluntário. ISCED Manual de Introdução ao Direito 39 A norma jurídica, ao revestir as características de imperatividade e coercibilidade, limita a liberdade do indivíduo, impelindo-o a conter os impulsos pessoais e a eleger as condutas a seguir de modo a não pôr em causa a liberdade dos outros e as bases de convivência social. Assim, para que a norma jurídica possa ser observada efectivamente, a par da sua justeza intrínseca, joga um papel importante a responsabilidade do indivíduo, que
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