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Projetos Sociais Universidade do Sul de Santa Catarina UnisulVirtual Palhoça, 2015 Universidade do Sul de Santa Catarina Projetos sociais Créditos Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul Reitor Sebastião Salésio Herdt Vice-Reitor Mauri Luiz Heerdt Pró-Reitor de Ensino, de Pesquisa e de Extensão Mauri Luiz Heerdt Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional Luciano Rodrigues Marcelino Pró-Reitor de Operações e Serviços Acadêmicos Valter Alves Schmitz Neto Diretor do Campus Universitário de Tubarão Heitor Wensing Júnior Diretor do Campus Universitário da Grande Florianópolis Hércules Nunes de Araújo Diretor do Campus Universitário UnisulVirtual Fabiano Ceretta Campus Universitário UnisulVirtual Diretor Fabiano Ceretta Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Ciências Sociais, Direito, Negócios e Serviços Amanda Pizzolo (coordenadora) Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Educação, Humanidades e Artes Felipe Felisbino (coordenador) Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Produção, Construção e Agroindústria Anelise Leal Vieira Cubas (coordenadora) Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Saúde e Bem-estar Social Aureo dos Santos (coordenador) Gerente de Operações e Serviços Acadêmicos Moacir Heerdt Gerente de Ensino, Pesquisa e Extensão Roberto Iunskovski Gerente de Desenho, Desenvolvimento e Produção de Recursos Didáticos Márcia Loch Gerente de Prospecção Mercadológica Eliza Bianchini Dallanhol Livro didático UnisulVirtual Palhoça, 2015 Designer instrucional Marina Melhado Gomes da Silva Projetos sociais Walery Luci da Silva Maciel Livro Didático Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul Copyright © UnisulVirtual 2015 Professor conteudista Walery Luci da Silva Maciel Designer instrucional Marina Melhado Gomes da Silva Projeto gráfico e capa Equipe UnisulVirtual Diagramador(a) Noêmia Mesquita Revisor(a) Diane Dal Mago ISBN 978-85-7817-875-8 e-ISBN 978-85-7817-874-1 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. 361.25 M14 Maciel, Walery Luci da Silva Projetos sociais : livro didático / Walery Luci da Silva Maciel ; designer instrucional Marina Melhado Gomes da Silva. – Palhoça: UnisulVirtual, 2015. 91 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7817-875-8 e-ISBN 978-85-7817-874-1 1. Política social 2. Serviço social – Administração – Brasil. 3. Ação social. I. Silva, Marina Melhado Gomes da. II. Título. Sumário Introdução | 7 Capítulo 1 Projetos sociais: mitos e fatos | 9 Capítulo 2 Elaborando projetos sociais | 23 Capítulo 3 Sustentabilidade dos projetos sociais | 41 Capítulo 4 A gestão do projeto social | 61 Considerações Finais | 85 Referências | 87 Sobre a Professora Conteudista | 91 Introdução Caro(a) estudante, Estamos iniciando com você mais uma Unidade de Aprendizagem, tendo como tema de estudo projetos sociais. Os projetos sociais, sua elaboração, execução, gestão, avaliação e monitoramento constituem campo de ação e reflexão do assistente social em sua atuação profissional, tanto na esfera pública quanto na privada. Dessa forma, deve constituir objeto permanente de estudo e pesquisa, tendo em vista o aprimoramento e a excelência dessa ação. A complexidade das questões sociais com as quais trabalhamos diariamente constitui um desafio tanto para seu entendimento quanto para a busca de soluções. Sabemos que a compreensão dessas questões só é possível por meio do cruzamento de diferentes olhares, perspectivas e saberes, o que envolve pesquisa, estudo e ação multidisciplinar. Dentro dessa perspectiva, os projetos sociais surgem como uma ferramenta de grande relevância, à medida que permitem a ação coletiva, a construção a partir de diferentes olhares e a gestão conjunta e partilhada. Veremos que, como toda ferramenta de intervenção, os projetos sociais apresentam possibilidades e limites. Para compreendê-los, vamos iniciar nosso estudo buscando entender o que são projetos sociais, os mitos e fatos que rondam sua prática. Avançaremos refletindo sobre sua elaboração, sua sustentabilidade; encerrando, será debatido acerca de sua gestão, para o que tomaremos conhecimento de algumas metodologias. Sugerimos que você estude com empenho, pois o tema é interessante e de extrema relevância a sua formação profissional. Para tanto, leia os textos com atenção, explore os exercícios e demais ferramentas de aprendizagem que estão a sua disposição, reflita, questione, critique. Vamos construir juntos(as) mais essa etapa, em direção da consecução de seu projeto profissional. Bons estudos! Professora Walery. 9 Habilidades Seções de estudo Capítulo 1 Projetos sociais: mitos e fatos Seção 1: O que é um projeto social Seção 2: Os projetos no cotidiano da gestão social Neste capítulo, dialogaremos com o(a) estudante, abordando o que é um projeto social, os mitos e fatos que perpassam sua elaboração, gestão e avaliação, bem como enfocaremos a sua relevância no cotidiano das organizações. Com este conteúdo, o(a) estudante desenvolverá habilidades baseadas na compreensão a respeito do que é um projeto social e sua importância para sua práxis profissional. 10 Capítulo 1 Seção 1 O que é um projeto social Um projeto (social) nasce de uma ideia de um desejo ou interesse de realizar algo, ideia que toma forma, se estrutura e se expressa através de um esquema (lógico), o qual, no entanto, é apenas esboço(sempre) provisório, já que sua implementação exige constante aprendizado e reformulação. (ARMANI, 2004, p. 18). Quando nos referimos a um projeto de forma genérica, estamos nos reportando a algo que se espera alcançar em uma situação futura, algo a ser construído; estamos, portanto, falando de sonho, visão, desejo de realizar alguma coisa para mudar uma determinada situação. Quando tratamos de projetos sociais não é diferente, pois seu conceito e conteúdo sempre irão tratar de sonhos, esperanças, desejos de mudança. O diferencial é o de estarmos lidando, prioritariamente, com ideias e aspirações coletivas, voltadas para a construção do bem comum. Antes de iniciarmos nosso estudo para o entendimento do que seja o projeto social, precisamos situá-lo dentro da lógica de planejamento, lógica essa que opera tanto na gestão das organizações públicas, quanto na gestão das organizações do terceiro setor. Segundo Armani (2004), os projetos não acontecem de forma isolada; eles fazem parte de um processo de tomada de decisão que compreende três níveis de formulação: o nível dos grandes objetivos e eixos estratégicos de ação, a política (que em nosso estudo trataremos como planos); o nível intermediário em que os planos são traduzidos em linhas mestras de ações temáticas, os programas; por fim, o nível das ações concretas, demarcadas em tempo e espaço, os projetos. De acordo com Baptista (2002), a planificação acontece logo após a tomada de decisão, tendo como alvo a busca de soluções para uma determinada realidade, para o que serão ordenadas as ações então necessárias. “Estas decisões são explicitadas, sistematizadas, interpretadas e detalhadas em documentos que representam graus crescentes de níveis de decisão: planos, programas e projetos”. (BAPTISTA, 2002, p. 97). 1.1 Planos Os planos, conforme Cury (2001), fornecem um referencial teórico e político, bem como as estratégias que permitirão a elaboração dos programas e projetos. No plano, os problemas são selecionados e concentrados em áreas de interesses, para as quais serão elaborados posteriormente os programas e projetos. 11 Projetos Sociais Para Cohen e Franco (2000), um plano concentra a soma de programas que buscam objetivos comuns, dispondo as ações programáticas em uma sequência temporal conforme sua racionalidade técnica e suas prioridades de atendimento. De acordo com Baptista (2002), o plano esboça as decisões de caráter geral do sistema, suas linhas políticas e estratégicas. Alémdisso, define responsabilidades, sendo um marco de referência para elaboração dos programas e projetos específicos, zelando pela coerência interna da organização, e também pela externa, no que concerne a sua relação com o contexto com o qual se relaciona. 1.2 Programas Quando nos referimos aos programas, de acordo com Cohen e Franco (2000), estamos falando de um conjunto de projetos que buscam o mesmo objetivo. Segundo os autores, o programa estabelece as prioridades de intervenção, identificando e ordenando os projetos, definindo o âmbito institucional e alocando os recursos que serão necessários. Corroborando com esse pensamento, Tenório (1999) afirma que o programa agrupa projetos que se assemelham em termos de objetivos e áreas de atuação. Para Baptista (2002), o programa é basicamente um desdobramento do plano, com projeções mais detalhadas a partir de informações mais específicas com relação aos diferentes níveis e modalidades de intervenção. Para a autora, não se trata apenas de junção de vários projetos, pois pressupõe a coerência e a vinculação entre esses. Segundo Cury (2001, p. 41), o programa é o aprofundamento do plano, o detalhamento por setor das políticas e diretrizes do plano. Podemos definir um programa como um conjunto de projetos que buscam os mesmos objetivos. Ele estabelece as prioridades nas intervenções, ordena os projetos e aloca os recursos setorialmente. Os planos e os programas organizam e sistematizam as ações, de forma que, em relação ao tempo, os planos são elaborados para execução entre 1 a 20 anos, e os programas entre 1 a 5 anos. Quanto à abrangência, os planos são definidos no nível das estratégias; já os programas, partindo das estratégias que definem as linhas programáticas para a ação, portanto, são demarcados no nível tático. Dentro dessa cadeia de tomada de decisão, chegamos, finalmente, aos projetos, os quais passamos a estudar agora. 12 Capítulo 1 1.3 Projetos Como nascem os projetos sociais? O que motiva pessoas, grupos, movimentos e organizações a empreenderem em projetos sociais? A resposta a essas questões podem ser encontradas nas diversas conceituações em torno do tema. De acordo com Stephanou (2003, p. 11): Os projetos sociais nascem do desejo de mudar uma realidade. Os projetos são pontes entre o desejo e a realidade. São ações estruturadas e intencionais, de um grupo ou organização social, que partem da reflexão e do diagnóstico sobre uma determinada problemática e buscam contribuir, em alguma medida, para “um outro mundo possível”. Os projetos consistem na materialização dos sonhos, da expectativa, do atendimento do que está sendo demandado. Bomfim (2004, p. 61) compreende projeto como “um conjunto de hipóteses acerca de uma situação problemática e das estratégias de solução, de forma que o futuro seja diferente da situação presente”. Para Tenório (1999), Cohen e Franco (2000) e Kelling (2002), um projeto concentra um trabalho, ou conjunto de atividades inter-relacionadas, a serem realizadas com prazo determinado, em um esforço temporário, contando com recursos preestabelecidos, tendo em vista o alcance de objetivos específicos. Os projetos podem apresentar diferentes formas e tamanhos. Alguns são de curta duração e dispendem de recursos mínimos; outros, de médio e longo prazo, exigem maior volume de recursos, e uma estrutura (física, humana, administrativa) mais complexa para sua realização. De acordo com Kelling (2002), os projetos têm com características comuns: são empreendimentos independentes com propósitos e objetivos distintos e de duração limitada. Podem contar, ainda, com data para início e fim, recursos e estrutura administrativa própria. De acordo com Baptista (2002), o projeto é o documento que sistematiza e ordena o desenho prévio da operação de uma série de ações, consistindo na unidade elementar do processo sistemático de racionalização de decisões. Segundo a autora, é o instrumental mais próximo da execução, trazendo em seu conteúdo o detalhe das atividades a serem desenvolvidas, os prazos para execução e a definição dos recursos necessários a sua execução. Com esse pensamento, corrobora Cury (2001, p. 41) quando afirma que um projeto é um empreendimento planejado que consiste num conjunto de atividades inter-relacionadas e coordenadas para alcançar objetivos específicos dentro dos limites de um orçamento e de um período de tempo dados. é a unidade mais específica e delimitada dentro da lógica do planejamento, é a unidade mais operativa de ação, o instrumental mais próximo da execução. 13 Projetos Sociais De acordo com Armani (2004), a grande utilidade dos projetos está no fato de eles possibilitarem a prática de planos e programas sob a forma de unidades de intervenção concreta. Complementa o autor: “os projetos ainda são a melhor solução para organizar ações sociais uma vez que eles “capturam” a realidade complexa em pequenas partes, tornando-as mais compreensíveis, planejáveis e manejáveis”. (2004, p. 18). Dentro desse pensamento, Stephanou (2003) afirma que os projetos sociais não são realizações isoladas; dessa forma, não mudam a realidade sozinhos, pois estão sempre em interação por meio de diferentes modalidades de relação com planos e programas, numa visão mais abrangente da questão social, seja no âmbito público ou no terceiro setor. Assim, “projetos sociais não existem a partir de si mesmos. Em geral, são construídos a partir de organizações que têm intervenções sociais de maior amplitude do que os próprios projetos” (STEPHANOU, 2003, p. 25). Cabe ainda ressaltar que o projeto é muito mais que um documento organizado para ser encaminhado na busca de apoio financeiro: ele é um conjunto de possibilidades em torno de uma situação problema e das estratégias para sua solução, visando à mudança futura de uma determinada realidade. Dessa forma, segundo Bomfim (2004), os projetos apresentam uma dimensão política e científica: política, pois demandam de decisão para o alcance de uma solução; e científica, pois acontecem a partir de uma metodologia que envolve o conhecimento e a intervenção de forma intencional e planejada. Seção 2 Os projetos no cotidiano da gestão social “Projeto é o lado pragmático da crença de que podemos construir o futuro de acordo com o que desejamos. Mas será que podemos, de fato, construir o futuro?” (BOMFIM, 2004, p. 59). A execução de projetos como parte da concretização do que foi planejado nos planos e programas, tanto no contexto da esfera pública quanto no terceiro setor, isto é, na gestão social, envolve algumas questões que precisam ser conhecidas e observadas para que esses alcancem os resultados desejados, observados seus limites e possibilidades, o que é característico a todas as ferramentas de planejamento e gestão. 14 Capítulo 1 2.1 O porquê dos projetos sociais Como mencionamos anteriormente, os projetos sociais nascem do desejo de mudar uma determinada realidade, constituindo-se como pontes entre a realidade vivida e a desejada. Mais que isso: os projetos também constituem a possibilidade de expressão e participação no que é público e coletivo, e esse fato se dá em um momento de profundas e marcantes transformações das relações entre o público e o privado, passando a constituir uma importante ferramenta de gestão utilizada tanto pelo Estado quanto pela sociedade civil organizada. De acordo com Stephanou (2003), o entendimento da importância dos projetos sociais, na atual conjuntura, demanda da percepção das mudanças ocorridas nas últimas décadas, tanto na esfera estatal quanto na sociedade civil. A implementação das políticas públicas passaram a acontecer de formas alternativas a partir da democratização em aspectos fundamentais da intervenção do Estado na sociedade, o que pode ser observado pelo estabelecimento das eleições livres e diretas, descentralização, maior comunicação e controle social, criação e implementação de instrumentosde governança que permitem maior visibilidade, inauguração de novas formas de participação na elaboração das políticas públicas e de seus orçamentos. Tudo isso é viabilizado por meio de instrumentos como: conselhos de direitos, orçamentos participativos, estatutos de cidadania, fóruns, entre outros. Concomitantemente, a sociedade civil, independente de sua heterogeneidade, vem se fortalecendo e desenvolvendo novas formas de organizações, que possibilitam o protagonismo na ação social, passando a atuar de forma direta nas questões sociais, como também participando ativamente na elaboração de políticas públicas. Diferente de uma concepção assistencial, os projetos sociais se inscrevem num horizonte de construção de direitos e afirmação cidadã. Sua ênfase é a noção de justiça social, o que somente pode ser alcançado através da participação e do exercício da cidadania. (STEPHANOU, 2003. p. 25). 2.2 O lugar dos projetos sociais Qual o lugar que os projetos sociais adquirem dentro deste novo contexto de relações entre o estado e sociedade civil? De acordo com Stephanou (2003), os projetos sociais atuam como uma ferramenta capaz de delimitar a ação social, possibilitando uma avaliação contínua do que está sendo realizado e apontando para novas direções, quando isso se faz necessário. 15 Projetos Sociais Quando se trata do estabelecimento de novas relações, continua o autor, os projetos sociais possibilitam a associação de diferentes agentes, estatais e da sociedade civil, de forma ágil, dispensando a criação formal de novos órgãos para a execução de ações comuns em torno de problemas que precisam de rápida e eficiente solução. O projeto social facilita o estabelecimento de parcerias entre atores sociais que, embora não compartilhem a mesma visão em termos de política global, estão dispostos a agir conjuntamente em intervenções delimitadas (parcerias inter-governos que possuem programas diferenciados; parcerias entre órgãos públicos e a iniciativa privada, organizações comunitárias, ONGs etc. (STEPHANOU, 2003.p.16). Ações deste tipo mobilizam mais gente para participar, promovem parcerias e motivam o grupo participante, facilitando a administração mais racional e transparente dos recursos. É o que chamamos de eficiência (ARMANI, 2004, p. 19). Os projetos sociais permitem o estabelecimento de relações transparentes, nas quais são definidos os compromissos e responsabilidades de cada ator social envolvido com a ação. Dentro desse contexto, um novo paradigma surge na ação social, que busca maior racionalidade nos desempenhos e resultados, bem como inaugura novos instrumentos que deem conta dessas novas exigências. Esse novo paradigma é o que Cury (2001) denomina de compromisso ético, em que predomina a otimização de recursos, o controle e avaliação de resultados, a clareza nos compromissos e responsabilidades, os quais não têm um fim em si mesmo, mas passam a ser expressão das exigências trazidas nessa nova forma de gestão das questões sociais. No que diz respeito ao protagonismo do Estado e da sociedade civil em torno das questões e ações sociais, os projetos sociais proporcionam ao Estado uma nova forma de execução das políticas públicas, e para a sociedade civil possibilitam experiências inovadoras, o enraizamento ou renovação de políticas públicas, o fortalecimento da democracia e o empoderamento da sociedade civil. (STEPHANOU, 2003; CURY, 2001). Ações sociais planejadas e estruturadas favorecem a participação efetiva de todos os setores envolvidos com a ação, especialmente aqueles que serão beneficiados, na medida em que exige objetivos, metas e critérios de avaliação bastante claros. Surge então, espaço para expressões de interesses e visões diferentes e de negociação e construção de consensos, assim como o fortalecimento do protagonismo dos setores excluídos. A esse processo chamamos de empoderamento (ou “empowerment”). (ARMANI, 2004. p. 19) 16 Capítulo 1 2.3 O perfil das organizações e a execução dos projetos sociais Quando se trata da elaboração e execução de projetos no âmbito das organizações do terceiro setor, faz-se necessária uma reflexão em torno do perfil destas organizações, seus elementos culturais e organizacionais, seu estilo de pensar e agir. Para que a elaboração e execução de projetos não seja uma ação isolada dentro do contexto de uma organização, ou seja, algo temporal, fortuito, visando unicamente ao atendimento de interesses de financiadores ou a alavancagem temporária de recursos, a instituição precisa desenvolver e manter em sua cultura alguns elementos, os quais, juntos, contribuem não só para o êxito do projeto, como também para o seu sucesso como um todo. De acordo com Armani (2004), alguns elementos são fundamentais para que uma organização obtenha eficácia com seus projetos. Vejamos: • Flexibilidade e aprendizagem institucional: É imprescindível que a organização provoque, entre todos os envolvidos com seu trabalho, uma atitude crítica e que resulte num processo constante de reflexão, visando ao aprendizado e experimentação coletiva com a prática social. Para tanto, segundo o autor, é fundamental que o estilo e a cultura de gestão estejam baseados em: a) Uma prática de reflexão crítica, de aprendizado e de investigação permanentes; b) Uma estrutura organizacional que permita diferentes formas de participação de todos os envolvidos; c) Flexibilidade para experimentar, adaptar, inovar, de forma que os instrumentos metodológicos de gestão do projeto, tais como objetivos, resultados, indicadores, entre outros, não se tornem em elementos que venham “engessar” a organização. • Planejamento estratégico institucional: Uma organização que orienta suas ações por meio do planejamento estratégico trabalha como mais possibilidade de alcançar êxito em seus projetos, pois o planejamento estratégico possibilita a criação de uma sólida base em termos de análise e conhecimento do contexto onde a organização atua, bem como o conhecimento de suas forças e fraquezas, das viabilidades e riscos das diferentes alternativas de ação, permitindo o estabelecimento de um marco estratégico orientador de suas ações. Dentro desse contexto, os projetos se caracterizam como uma expressão do plano estratégico, pois “já nascem com certo grau de maturação, a partir da interseção de uma boa análise de contexto com a visão estratégica de organização” (ARMANI, 2004, p. 27). 17 Projetos Sociais • Participação: A participação de todos os envolvidos com a organização e seus projetos, equipe gestora e executora, apoiadores, público alvo, é de extrema relevância para que se alcancem os fins propostos. Armani (2004) destaca que a participação do público alvo ou cidadão beneficiário do projeto na sua gestão pode ser considerada um fim em si mesmo, uma vez que não podem ser considerados resultados positivos aqueles que acontecem sem que haja o devido envolvimento e participação dos potenciais beneficiários das ações do projeto. Para tanto, são necessárias as construções de consensos, a realização do planejamento participativo em todos os níveis da organização e do projeto, a definição e distribuição de papéis e responsabilidades entre todos os envolvidos e o estabelecimento de uma atitude dialógica que permita espaços de debate de reflexão. Nesse sentido, conclui o autor: Talvez a contribuição mais relevante do elemento participação no desenvolvimento de projetos sociais seja o questionamento da visão tradicional segundo a qual apenas a organização que promove e projeto pode definir os termos e julgar seus resultados sociais. Se a participação de beneficiários e de outros atores dá-se de forma efetiva, ela fará com que os parâmetros de condução e de avaliação de um empreendimento social dêem-se pela construção coletiva a partir das várias visões e interesses de todos os atores envolvidos e não por apenas uma entidade de forma exclusiva. (ARMANI, 2004, p. 29).Dentro dessa perspectiva de participação, Baptista (2002, p. 34), ao analisar o papel do planejador, afirma, O profissional precisa, de partida, se preparar para a interlocução com esses sujeitos, conhecer suas representações, seus sistemas de valores, suas noções e práticas, os quais são de certa forma instrumentadores e orientadores de suas percepções, e da elaboração de suas respostas. Dessa forma, concluímos que a participação precisa estar inserida na cultura e na estrutura da organização como elemento facilitador para a construção de relações horizontalizadas, que permitam a expressão das expectativas e demandas de todos os envolvidos com e na organização e seus projetos. 18 Capítulo 1 2.4 Articulação de projetos sociais De acordo com Stephanou (2003), os projetos se articulam a partir de redes de relacionamentos. Isso significa que os diferentes atores que protagonizam os projetos conversam entre si. O termo rede “sugere a ideia de articulação, conexão, vínculos, ações complementares, relações horizontais entre parceiros, interdependência de serviços para garantir a integralidade da atenção aos segmentos sociais vulnerabilizados ou em situação de risco social e pessoal” (BOURGUIGNON, 2001, p. 4). Estamos nos referindo a um conjunto integrado de profissionais de diversas áreas, organizações governamentais e não governamentais, que partilham informações e ideias na gestão e execução de serviços e programas que priorizam o atendimento integral ao cidadão, em situação de risco e vulnerabilidade social, na visão da garantia e vivência de direitos. Na rede são criados espaços de trabalho onde as práticas de cooperação constituem um meio para encontrar saídas e soluções para a intervenção na realidade social complexa. A partir dessa perspectiva, o trabalho em rede exige grande sintonia com a realidade local, com uma sociedade civil fortalecida e organizada, com uma cultura de organização social capaz de mobilizar-se e de atuar participativamente na administração pública. Resgata-se, então, o papel das organizações do terceiro setor, as quais precisam ter definidos seus objetivos e propósitos, tendo bem esclarecida a noção de que seus planos e projetos de atuação não poderão dar conta de todas as problemáticas sociais das quais serão demandadas. Ao Estado, dentro da visão do trabalho em rede, caberá sempre a responsabilidade pela formulação e execução das políticas sociais, visto que as organizações serão parceiras e nunca responsáveis por essas políticas. De acordo com Cury (2001), as redes constituem instrumentos eficazes na mobilização de diferentes agentes para ações coletivas nos espaços públicos, fortalecendo as organizações por meio da troca de experiências e capacitações. Também possibilitam que essas organizações invistam na capacidade relacional, permitindo o acesso a novos conhecimentos e informações, condição fundamental para o trabalho social e o desenvolvimento de projetos. 19 Projetos Sociais Conforme Stephanou (2003), nenhuma organização pode esperar obter apoio aos seus projetos a partir de relações fortuitas e ocasionais, ou a partir unicamente do conhecimento da realidade onde atua, ou do valor da causa defendia ou da solução pretendida. A busca de parceria ou outras formas de apoio, de acordo com o autor, está associada a três níveis de articulação: a. Apoio e fomento: Neste nível acontece a articulação com grandes doadores ou financiadores individuais, agências de cooperação, bancos, fundos governamentais, fundo de empresas privadas, organismos e igrejas, entre outros. Neste nível se obtém apoio financeiro em menor escala, suporte para capacitação e treinamento de recursos humanos. b. Mediações: Neste nível o projeto se articula com outras organizações, governamentais ou não governamentais, associações sociais ou comunitárias, organismos públicos de abrangência local ou regional. São obtidos recursos financeiros, ou estabelecidas parcerias para o desenvolvimento de projetos de interesse comum. A mediação acontece observando-se as afinidades entre as organizações, a similaridade de suas missões, além dos objetivos e ideologias que sejam comuns. c. Gestão local: Neste nível, o projeto vai se articular com a população beneficiária das ações e dos recursos então alocados, uma articulação que acontece com os grupos de base e com lideranças locais, atores importantes para o desenvolvimento do projeto, pois nenhum projeto avança sem o apoio e a adesão local. Para tal, é importante a leitura da realidade social e o conhecimento da cultura local, além da percepção acurada das situações de vulnerabilidade social, econômica, das carências e das potencialidades da população envolvida, assuntos a serem enfocados na realização do diagnóstico, um dos temas a serem tratados em nosso próximo capítulo de estudo. Para concluir, conheça, no quadro a seguir, alguns dos mitos e fatos em torno dos projetos sociais nas organizações, para entender as dificuldades na implantação desse tipo de projeto em sua prática profissional. 20 Capítulo 1 Quadro 2.1 – Mitos e fatos em torno dos projetos sociais Mitos Fatos 1. Os projetos sociais configuram como uma grande saída para os problemas financeiros da organização, pois têm a capacidade de alavancarem recursos de forma rápida e eficiente. Os projetos sociais configuram como uma ferramenta que têm prazo, duração, e recursos pré-definidos, estão voltados para problemas, situações pontuais no contexto da organização, diferem de seus serviços e ações de caráter permanente, para os quais os gestores devem prover os recursos necessários ao custeio. 2. Basta escrever o projeto que os recursos já estão disponíveis. Vimos que a elaboração de projetos e sua posterior execução não podem acontecer de forma isolada. Devem fazer parte de um processo de articulação para que se obtenha êxito na mobilização dos recursos. Os recursos estão disponíveis para entidades e projetos que se articulam. 3. Se a causa é boa, tudo vai dar certo e o apoio será alcançado. A obtenção de apoio a um projeto vai muito além do valor ou mérito da causa abraçada ou da solução que se busca. O apoio será alcançado a partir do nível e da qualidade das relações estabelecidas, bem como dos tipos de articulação construídas em seu entorno. 4. Se há disponibilidade de um recurso ou o acesso a um determinado financiador, a organização deve elaborar um projeto e encaminhá-lo, não deixando passar a oportunidade. A presença dos projetos no cotidiano de uma organização deve fazer parte do seu processo de planejamento, acontecendo de forma planificada, atendendo demandas percebidas, refletidas e discutidas com todos os envolvidos, não obedecendo a modismo, ofertas esporádicas, descoladas de seu cotidiano. 5. Se a ideia, o sonho, surgiu no contexto da organização, ela poderá executar o projeto de forma isolada, pois o que vale é sua percepção e conhecimento da realidade onde atua. Por mais importante que seja o profundo conhecimento de uma causa ou realidade, a execução dos projetos sempre irá depender da capacidade da organização de se relacionar e de construir de forma articulada e conjunta as soluções desejadas. Fonte: Cury (2001), Stephanou (2003), Armani (2004). 21 Projetos Sociais A intervenção profissional do assistente social, seja em organizações públicas ou do terceiro setor ou nos movimentos sociais, deve acontecer embasada na visão da complexidade que permeia esses contextos sociais, os quais apresentam diferenciados problemas, desafios, expectativas, necessidades e demandas, cuja solução precisa ser construída de forma debatida, articulada, negociada. Portanto, não existem soluções ou fórmulas mágicas, instantâneas, que possam produzir resultados significativos e duradouros. A elaboração e execução de projetos sociais precisa ser entendida a partir dessa visão, entendendo seus limites e possibilidades,para que resultem em construções e conquistas consequentes e permanentes. 23 Habilidades Seções de estudo Capítulo 2 Elaborando projetos sociais Seção 1: Ciclo de vida de um projeto social Seção 2: Viabilidade Seção 3: Diagnóstico Seção 4: Roteiro: escrevendo o projeto social Neste capítulo, estaremos aprofundando o estudo em torno dos projetos sociais, agora enfocando assuntos como sua viabilidade, diagnóstico, e o roteiro de elaboração. Ao finalizar este capítulo, o(a) estudante estará apto a realizar um estudo de viabilidade, bem como um diagnóstico, tendo subsídios que permitirão a elaboração de um projeto por meio do roteiro então desenvolvido. 24 Capítulo 2 Seção 1 Ciclo de vida de um projeto social Um projeto não começa nem termina na elaboração de sua proposta. Há um caminho a ser percorrido. Em geral, no início, há um conjunto de idéias e desejos (mais ou menos vagas) a respeito de alguns objetivos ou do que se quer fazer. Estas idéias provêm do trabalho que o grupo já realiza ou de algum problema em vias de transformar-se em demanda (STEPHANOU, 2003, p. 41). De acordo com CEPAL (1997), Keelling (2002) e Stephanou (2003), todo projeto social passa por uma série de fases ou etapas, que vão desde sua concepção até sua conclusão, sendo que nessas são encontradas necessidades e características próprias. Cada uma das etapas está associada a um conjunto de estudos que são necessários para conhecer e avaliar diversas características do projeto. À medida que as etapas são vencidas, maiores informações são adquiridas, diminuindo, dessa forma, o risco de implementação de um projeto que não atenda as demandas. Para Keelling, “a compreensão do ciclo de vida é importante para o sucesso na gestão de projetos, porque acontecimentos significativos ocorrem em progressão lógica e cada fase deve ser devidamente planejada e administrada” (2002, p. 13). Neste sentido, CEPAL (1997), Stephanou (2003) e Armani (2004) identificam como partes do ciclo de vida de um projeto as seguintes etapas ou fases: • Fase da identificação: Entre o problema e a elaboração propriamente dita do projeto, existe um período de consultas e estudos preliminares em que se buscam informações sobre as questões mais importantes Nessa fase acontece a identificação da oportunidade da intervenção, delimitando-se seu objeto e seu âmbito. É a fase do diagnóstico e do reconhecimento dos limites institucionais, que devem ser levados em conta. Nessa fase, também, verifica-se a viabilidade técnica, política e financeira, que irão determinar, por fim, a sustentabilidade da ideia. • Fase da elaboração: Armani (2004) define como constituintes dessa fase: a formulação do objetivo do projeto, a proposição dos resultados imediatos, a indicação das atividades e ações, a análise lógica da intervenção, a identificação dos fatores de risco, a definição dos indicadores, seus meios de verificação e procedimentos de monitoramento e avaliação, a análise da sustentação lógica do projeto, a montagem do plano operacional, a determinação dos custos e da viabilidade financeira e, por fim, sua redação. 25 Projetos Sociais De acordo com Stephanou (2003), o trabalho de redação fica sob a responsabilidade de um pequeno núcleo de trabalho com representação dos envolvidos com e no projeto social. • Fase da aprovação: Considerando que a busca pelos recursos é o que permitirá a execução do projeto, deve, portanto, acontecer desde seu início, sendo aquela fase em que se têm aprovados e garantidos os recursos para sua implementação. Com uma proposta redigida, fica mais fácil estabelecer contatos e articular parcerias ou apoios. Mesmo que ainda existam pontos obscuros ou idéias imprecisas, qualquer interlocutor sempre terá mais segurança em apoiar o projeto se conseguir visualizá-lo no papel. Por isso, o esforço para a articulação de um projeto ocorre após sua formulação. Na maioria das vezes, as articulações implicarão em mudanças no que já havia sido escrito. E isso é muito positivo. (STEPHANOU, 2003, p. 41). • Fase de implementação: É a fase mais complexa de todo o ciclo, pois este é o momento do desenvolvimento das atividades e da utilização dos recursos, tendo como alvo o alcance dos resultados e objetivos estipulados. Na realidade, a implementação do projeto é um processo constante de pensar e repensar as ações, resultados e indicadores que se pretende alcançar. Significa estabelecer processos de monitoramento e avaliação, bem como um contínuo esforço de articulação e mobilização de recursos em torno dos objetivos do projeto. • Fase da avaliação: Corresponde ao momento em que se questionam os resultados e os impactos de todos os esforços e recursos envolvidos. Diferente da avaliação contínua, que acontece ao longo da implementação, essa acontece em espaços maiores de tempo, normalmente em períodos marcantes ao longo do projeto, como, por exemplo, ao final de cada ano. Dessa forma, a conclusão de um projeto pressupõe uma avaliação final seguida pela elaboração de relatórios, que apontem os resultados e ou impactos alcançados com suas ações. • Fase de replanejamento: Tendo como base as conclusões da avaliação, no replanejamento buscam-se rever objetivos, resultados, premissas, fatores de risco. Enfim, é a hora de planejar novamente a partir do aprendizado adquirido até então. De acordo com Stephanou (2003), a conclusão de um projeto nem sempre é o seu fim, pois podem surgir outras ideias ou desafios que acabem gerando novos projetos, que, por sua vez, podem ser replicados em outros lugares, e assim o ciclo se retroalimenta. 26 Capítulo 2 Seção 2 Viabilidade Refletir sobre a viabilidade e interrogar-se sobre as possibilidades de realização da ação sem problemas, e sobre as possibilidades de que estas se mantenham quando a ajuda e os apoios findarem. É também perguntar-se, se os resultados esperados justificam os esforços e os investimentos previstos. (BEAUDOUX, 1993, p. 42). O estudo de viabilidade dentro do processo de elaboração do projeto social, conforme citação acima, demonstra o cuidado que deve antecipar qualquer tomada de decisão ou ação. Lembrando que os projetos sociais caracterizam- se por tratarem da construção de direitos e afirmação cidadã, num universo que envolve recursos, pessoas, organizações públicas e sociais, a realização das ações planejadas deverão ter seus resultados atestados por meio de relações e da prestação de contas transparentes. De acordo com Keelling (2002), o estudo de viabilidade é um dos passos mais importantes para o êxito no desenvolvimento do projeto; porém, na maioria das vezes, é negligenciado e ou subutilizado. Segundo o autor, se conduzido e realizado adequadamente, esse estudo torna-se o fundamento sobre o qual definições importantes no escopo do projeto, tais como seus objetivos e sua justificativa, podem ser estabelecidas, dando ao processo maior segurança e confiabilidade. Para Stephanou (2003), os aspectos a serem considerados para a verificação da viabilidade de um projeto social dependem muito da sua natureza e do contexto onde será realizado. O autor, de maneira ampla, identifica esses aspectos a partir de dois agrupamentos: aspectos econômicos e socais. Os aspectos econômicos dizem respeito à capacidade da organização, e, consequentemente, do projeto, de alavancarem os recursos necessários a sua implementação. Para tanto, o estudo de viabilidade deve: a. Realizar o levantamento prévio do tipo e da quantidade de recursos que serão necessários; b. Considerar as fontes financiadoras e suas políticas de ação, modalidades de financiamento - fundo perdido, linhas de crédito, subsídios, empréstimos, incentivo fiscal, as formas de acesso - editais públicos, fluxo contínuo, concursos, contato direto; c. Demonstrar que o projeto é economicamente viável e que os recursos a serem empregados são qualitativa e quantitativamente justificáveis; 27 Projetos Sociaisd. Prever a continuidade das parcerias por meio do estabelecimento de um processo de comunicação entre todos os envolvidos com o projeto – entidade, financiadores, público beneficiário - compatibilizando as urgências e prioridades das demandas com critérios e mecanismos de transparência. e. Prever o apoio além do acordo financeiro, envolvendo, também, apoio técnico, político, além do compromisso mútuo com os objetivos e resultados das ações empreendidas. Quanto aos aspectos sociais do estudo de viabilidade, o autor afirma que esses devem envolver: a. Em nível local, o apoio e adesão das instituições que atuam junto aos grupos sociais alcançados pelo projeto social, considerando que esse apoio é fundamental para a criação e manutenção de canais de comunicação e relacionamento entre os envolvidos “a fim de que as propostas ganhem sustentação, criando-se uma conjunção de esforços na mesma direção” (STEPHANOU, 2003, p. 37); b. A participação ativa da população, visando ao fortalecimento da cidadania e ao enraizamento da proposta junto aos grupos sociais aos quais ela deseja alcançar, tornando-os agentes ativos em todo o processo de elaboração, execução e avaliação do projeto social. c. O respeito e o reconhecimento aos saberes e representações próprios da cultura da população envolvida, não impondo código de valores e condutas, preservando, assim, a dimensão cultural da vida social, condição necessária para que as mudanças ocorram dentro de uma relação de horizontalidade e aceitação. De acordo com Beaudeaux (1993) e Tenório (2002), o estudo de viabilidade parte de interrogações que envolvem a exequibilidade do projeto, sua capacidade de continuidade, além da justificativa entre ação e resultados. O autores, de forma mais detalhada, identificam as seguintes dimensões que devem constar do estudo de viabilidade. São elas: a. Viabilidade técnica: deve prever se, do ponto de vista técnico, as ações são realizáveis e se podem ser exitosas, observando, também, se a população ou grupo beneficiário poderá se apropriar dessas técnicas. Trata de “ verificar se as tecnologias escolhidas serão adequadas quanto à relação: recursos aplicados e resultados possíveis de serem alcançados”. (TENÓRIO, 2002, p. 21). 28 Capítulo 2 b. Viabilidade organizacional: nessa dimensão, o estudo deverá responder questões ligadas à capacidade da organização na gestão do projeto, de forma abrangente e conclusiva, bem como a capacidade dos financiadores em aportar os recursos de acordo com as necessidades programadas. Segundo Armani (2004), trata de verificar se a organização promotora e os demais apoiadores detêm os recursos técnicos e a capacidade operacional adequada ao que está sendo planejado. c. Viabilidade política: segundo Beaudeaux (1993), esse estudo é de extrema importância e deve apontar o quanto e de que forma a organização e o projeto se relacionam com as políticas públicas e com o contexto político local. Para Armani (2004), o estudo da viabilidade política deve indicar até que ponto a iniciativa encontrará a adesão e o apoio da população beneficiária e dos membros da organização promotora. d. Viabilidade econômica: de acordo com Tenório (2002), o estudo da viabilidade econômica irá verificar qual a contribuição que o projeto dará para a população beneficiária como um todo, isto é, trata da combinação entre os recursos envolvidos no projeto e os resultados alcançados. Deve, portanto, responder à questão: as atividades previstas estão consolidadas em um equilíbrio econômico, observadas as regras de estabilidade entre despesas e receitas? e. Viabilidade financeira: quanto à viabilidade financeira, Beaudeaux (1993) ressalta que essa diz respeito ao fluxo de recursos, tanto de entrada quanto de saída, necessários ao programa de desembolso e de realização do projeto, devendo ser também analisados com precisão os fatores condicionantes à obtenção dos recursos e sua posterior utilização. f. Viabilidade ambiental: a preocupação com o meio ambiente deve estar presente em todos os projetos que podem afetar de forma direta ou indireta o equilíbrio ecológico, observando seus resultados no médio e longo prazo, e as consequências do projeto para o meio ambiente. g. Viabilidade social e cultural: para Tenório (2002), a viabilidade social e cultural diz respeito ao equilíbrio que deve existir entre as ações pretendidas e aos saberes e demandas dos grupos envolvidos com o projeto. O autor afirma que “é quando se faz o estudo de viabilidade social que serão verificadas as consequências sociais que surgirão em decorrência dos investimentos realizados pelo projeto” (TENÓRIO, 2002, p. 26). 29 Projetos Sociais A coleta das informações que se faz necessária para a consecução do estudo de viabilidade deve acontecer a partir do levantamento de material bibliográfico acerca do tema/foco do projeto, dos dados de pesquisas e estudos, da análise de indicadores sociais e do amplo e constante debate entre todos os envolvidos com e na organização e, consequentemente, com o projeto. A possibilidade de êxito de um projeto está diretamente ligada ao nível de estudo e pesquisa empreendidos para a realização do seu estudo de viabilidade. Por outro lado, o estudo de viabilidade permite que a organização atue de forma estratégica, com a implementação de projetos bem elaborados, agregando qualidade e avanços às conquistas sociais pretendidas. Seção 3 Diagnóstico O diagnóstico pode, portanto, ser definido “como o aprofundamento das dinâmicas de mudança, potencialidades e obstáculos de uma determinada situação, sendo um processo permanente e sempre participado, pelo que está sempre inacabado. No entanto, vai tendo intensidades diferentes sendo inevitavelmente mais aprofundado –e mais extenso- na fase inicial de lançamento de um projecto e de definição do seu desenho para um horizonte determinado.” (MTS/SEEF, 1999, pp. 6.2-6.3 apud Santos, 2012, p.5). A partir do momento em que se identifica a necessidade e oportunidade de uma intervenção, objeto do projeto social, e é analisada a sua viabilidade, ainda na fase de identificação, os trabalhos avançam na direção de aprofundar o conhecimento da problemática em questão, e isso se dá por meio do diagnóstico. O diagnóstico, dentro do processo de elaboração do projeto social, tem a função de verificar as hipóteses que originaram o projeto, permitindo o aprofundamento das indagações levantadas no estudo de viabilidade e o avanço no conhecimento de todas as questões que envolvem a problemática e o projeto. Para Beaudeaux (1993), é um risco omitir tão importante etapa de conhecimento do meio em que se dá o projeto. Recomenda o autor que não se deve passar às fases mais operacionais de montagem, como busca de apoios e de execução, antes de metodicamente confrontar todas as hipóteses iniciais com a realidade concreta, possibilitando a identificação de fatores negativos e de potencialidades de todo o contexto. 30 Capítulo 2 Armani (2004) chama a atenção para o fato de que o diagnóstico não é neutro, pois sua condução e estrutura estão permeados pela visão político-ideológico de todos os que estão envolvidos no processo, o que irá influenciar todas as definições referentes à situação problema e às demais hipóteses preliminares estabelecidas anteriormente. A partir do diagnóstico, o projeto avança, pois as informações levantadas irão permitir a formulação dos objetivos, estratégias, resultados e ações. Essa é uma fase de extrema importância no ciclo de elaboração do projeto social, e deve acontecer a partir de uma atitude investigativa e participativa. De acordo com Stephanou (2003), investigar significa buscar conhecer os atores envolvidos no projeto, o que os interessa, suas motivações, relações, diferenças e divergências. Significa, também, envolvê-los ativamente na produção do conhecimento a respeito da realidade em que vivem, reconhecendo-se dentro deste processo. Poressa razão, recomenda o autor, “é necessário que os diversos grupos sociais sejam envolvidos na identificação dos problemas existentes, na definição de prioridades, na formulação de estratégias de ação e nos exercícios de avaliação” (2003, p.30). A ideia da participação e reforçada por Tenório (1990, p. 163) quando afirma: O que se precisa entender é que participar é fazer política e esta depende das relações de poder percebidas. Que participar é uma prática social na qual os interlocutores detêm conhecimentos que, apesar de diferentes, devem ser integrados. Que o conhecimento não pertence somente a quem passou pelo processo de educação formal, ele é inerente a todo ser humano. Que se uma pessoa é capaz de pensar sua experiência, ela também é capaz de produzir conhecimento. Que participar é repensar o seu saber em confronto com outros saberes. Participar é fazer com e não para. No que é complementado por Cury (2001, p. 43) quando este autor afirma: É preciso garantir que, independentemente do método utilizado, todos os atores envolvidos no projeto participem do processo, com seus conhecimentos específicos, com suas práticas diferenciadas e suas diferentes leituras da realidade (...). Assim, um dos aspectos fundamentais nesse momento é compreendermos essas diferentes visões de mundo, os diferentes interesses e desejos manifestos. 31 Projetos Sociais A mobilização de todos os envolvidos com a organização e com o projeto requer empenho por parte de quem o coordena. Para essa tarefa, existem várias metodologias participativas eficientes na realização de pesquisas, identificação de atores e levantamento de recursos, que colaboram com o processo de condução e elaboração do projeto social. Estamos falando de pesquisa participante, pesquisa- ação, técnicas de construção de matriz de planejamento como o marco lógico, planejamento estratégico e técnicas de avaliação a partir de grupos de discussão. Se você desejar conhecer um pouco mais sobre o assunto, sugerimos a leitura dos seguintes livros: BROSE, Markus. Metodologia participativa: uma introdução a 29 instrumentos. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2001. MACIEL, Walery Luci da Silva. Gestão social: planejamento e avaliação: livro didático. Palhoça: UnisulVirtual, 2014. Para Armani (2004), o diagnóstico deve permitir: • Uma visão da situação inicial dos potenciais beneficiários por meio do levantamento detalhado de dados e informações que demonstrem suas condições de vida. Essas informações subsidiaram o monitoramento ao longo do projeto e suas avaliações finais. • A identificação das dinâmicas sócio-políticas, culturais e econômicas captadas na situação problema. • A percepção e avaliação de todas as iniciativas similares já em andamento, na esfera pública ou privada. • A identificação das percepções, experiências, e o que esperam os potenciais beneficiários em relação à situação problema. • O engajamento de todos os envolvidos sejam cidadãos beneficiários ou equipe da organização promotora. • A pesquisa bibliográfica sobre o tema, considerando o ponto de vista teórico e as experiências já registradas. 32 Capítulo 2 De acordo com Cury (2001, p.44), o diagnóstico deve envolver as seguintes questões: Quais as informações necessárias para que isso possa se realizar a contento? Quem são e como pensam os atores nessa realidade? Quais seus desejos e necessidades? Quais os problemas, suas causas e seus efeitos? Quais são os valores da equipe do projeto? Eles coincidem? Quais as características e as competências da equipe? Ou seja, analisar o contexto significa não só analisar a realidade externa ao projeto, mas também a sua dinâmica interna, criando uma base para a avaliação final, bem como identificar as situações que possam limitar ou potencializar o alcance dos resultados do projeto. Por sua vez, Santos (2012) afirma que o diagnóstico tem, como finalidades, documentar o estado da ação em face da problemática, identificar as questões mais relevantes por meio das quais serão formulados os objetivos e determinar a importância da problemática e suas principais causas. Em se tratando da definição da problemática, Armani (2004) refere-se a ela como um dos momentos mais importantes do diagnóstico, pois se busca analisá-la como um processo social complexo, com múltiplas causas, e que deve finalizar com a identificação dos problemas mais relevantes para a compreensão da situação como um todo. O autor sugere como passos: • Identificar as situações problemas ou desafios que melhor expressam a problemática em estudo; • Organizar os problemas/desafios de forma que eles se identifiquem por causa e efeito; • Após os dois passos anteriores, identificar um problema central, chave para mudar a situação problema, e que possa ser trabalhado pela ação do grupo que executa o projeto; • Elencar as principais causas do problema central identificado; • Definir as linhas de ação estratégicas relacionadas às causas principais, desde que sejam realizáveis pelo grupo promotor do projeto. De acordo com Armani, “tais linhas de ação podem vir a se tornar projetos específicos ou diferentes objetivos em um único projeto, ou ainda diferentes resultados de um mesmo projeto”. (2004, p. 46). 33 Projetos Sociais Nesse mesmo esforço de identificação da problemática, o Manual de formulação e avaliação de projetos sociais/Division de Desarrollo Social (CEPAL, 1997) sugere como perguntas orientadoras ao processo: • Existe um problema? • Qual é o problema? • Quais são os elementos essenciais do problema? • A quem o problema afeta, ou seja, qual é a população alvo? • Qual é a amplitude atual do problema e suas consequências? • Quais são as informações relevantes acerca do problema para realização de um estudo conclusivo? • Dispõe-se de uma visão clara e definida do contexto geográfico, econômico e social do problema? • Quais são as principais dificuldades para enfrentar o problema? Com base nos autores estudados, sugere-se a matriz abaixo como uma possibilidade para o registro dos resultados dos debates em torno da definição do problema central. Quadro 2.1 - Matriz para definição do problema central Situações Problema Causas Efeitos Problema Central Causas Linhas Estratégicas de Ação Fonte: Adaptação de CEPAL (1997) e Armani (2004). A partir dessas questões realizam-se os debates, reflexões e pesquisas por meio das quais acontece a construção coletiva e participativa de mais uma etapa no ciclo de vida do projeto social. Concluído o diagnóstico, o grupo promotor avança, então, para a fase seguinte, que é a elaboração do projeto social, cujo roteiro passamos a estudar na próxima seção. 34 Capítulo 2 Seção 4 Roteiro: escrevendo o projeto social Assim, o documento escrito do projeto é a sistematização, a concretização de todo o processo de planejamento e um instrumento poderoso na captação de recursos, a qual, se não é o fim de nossa ação, é condição necessária para a sua viabilização. (CURY, 2001 ,p. 49) Dos instrumentos de planejamento, o projeto é aquele que apresenta maior nível de detalhamento. Dessa forma, de acordo com Baptista (2002), para que esse alcance seus objetivos e seja capaz de alavancar os recursos necessários à sua execução, sua apresentação, independente da metodologia utilizada, deve priorizar os seguintes aspectos: • Simplicidade e clareza na apresentação. • Disposição gráfica que permita fácil visualização. • Ilustrações simples e claras. • Objetividade e exatidão na transmissão das informações, nas terminologias e definições técnicas. • Descrição adequada de cada operação. • Descrição exaustiva e abrangente de todos os aspectos que envolvem a questão a que se destina. • Coerência e compatibilidade em todas as suas etapas e na sua relação com os demais níveis da programação. • Relação visível entre suas fases ou etapas, com o alcance dos resultados e dos objetivos preestabelecidos dentrodo organograma previsto. No que diz respeito à metodologia, uma busca não exaustiva na literatura vai nos mostrar uma série de opções, desde as mais simples a outras mais elaboradas. A metodologia para elaboração de um projeto geralmente acompanha um roteiro predeterminado, que, por sua vez, tem sua definição a partir das necessidades ou exigências próprias da organização executora ou do órgão financiador. A redação de uma proposta significa seguir um roteiro básico de questões que devem ser respondidas. Considerando a experiência desta autora e com base em Baptista (2002), Keelling (2002), Armani (2004), Cohen e Franco (2000), Cury (2001), Stephanou (2003) e CEPAL (1997), elencamos os componentes fundamentais para a redação de um projeto, sobre o que passamos a refletir nesta altura de nosso estudo. 35 Projetos Sociais 4.1 Identificação da organização propositora e executora Devem constar, neste item, os dados que permitem identificar as organizações ou grupos envolvidos com o projeto, tais como: nome, endereço, registros fiscais, número de telefones, homepage, e-mail, dados acerca da diretoria, contato, responsável pela elaboração do projeto e responsável por sua execução. Nesse item é importante constar, também, algumas informações acerca da trajetória das organizações envolvidas, informações que ofereçam indicadores de sua experiência e qualificação na execução e gestão de projetos e ações sociais. 4.2 Título do projeto Neste item, as recomendações são de que este deve ser claro, objetivo e que permita visualizar o que será realizado. Neste item, as recomendações são de que este deve ser claro o objetivo do projeto, de forma que se consiga visualizar o que será realizado. Cury (2001) sugere que o título do projeto reflita a natureza do problema enfocado e tenha um impacto significativo em seu leitor. De acordo com Stephanou (2003, p. 48): A escolha do título também merece atenção: ele será um elemento importante para o reconhecimento do projeto junto aos grupos sociais envolvidos. Sendo assim, é interessante que o projeto tenha um título sugestivo e com significado para a população envolvida e os possíveis apoiadores.(...) Quando bem escolhido, o título pode ajudar um projeto a se tornar referência para a população. Além disso, se o projeto for bem sucedido, seu nome torna-se uma “marca”, isto é, uma referência que garante créditos para quem propôs e para quem participou da ação. Isto pode facilitar para a obtenção de novos apoios e fazer daquela ação um caso exemplar a ser seguido por outros grupos sociais. 4.3 Justificativa Na justificativa constam as informações quanto à necessidade do projeto, seus antecedentes, prioridades e alternativas. Realiza-se, também, a análise do contexto, a natureza do problema e, por fim, evidencia-se a viabilidade da proposta, enfatizando as parcerias existentes ou possíveis. A justificativa é considerada a defesa da proposta, devendo ser capaz de demonstrar e convencer aos leitores de que o projeto está embasado em uma visão consistente, tanto da problemática quanto dos caminhos para sua abordagem e intervenção. Deve demonstrar, ainda, que as organizações e ou grupos propositores apresentam as qualificações necessárias para executá-lo e que este é o momento adequado para sua execução. Complementa Cury (2001, p. 50): 36 Capítulo 2 A justificativa deve expor seus argumentos, correlacionando as deficiências locais, necessidades e potencialidades descritas e analisadas com a alternativa de intervenção escolhida, demonstrando a relevância e a necessidade de realização do projeto, bem como sua capacidade de transformação da realidade analisada. 4.4 Objetivo geral, objetivos específicos e metas A definição dos objetivos é um momento singular no processo de elaboração e redação do projeto social, pois é neste item que se expressa com exatidão o que efetivamente o grupo ou organização deseja fazer e onde quer chegar. Portanto, a definição dos objetivos deve acontecer de forma debatida e refletida, pois esses irão expressar a “alma do projeto”. A definição dos objetivos, tanto os gerais quanto os específicos, bem como das metas, deve ser feita de forma precisa e clara, demonstrando sua operacionalização. Propor um objetivo é expressar a intenção transformadora da proposta, isto é, a transformação que poderá ser monitorada e avaliada. Por essa razão, deve haver compatibilidade e complementaridade entre metas, objetivos e coerência desses, com a questão foco do projeto e com os seus efeitos sobre a situação problema. De acordo com Cury (2001, p. 45), Não é fácil formular objetivos, mas sua elaboração e delimitação, sua clareza e legitimidade são fundamentais para o êxito de qualquer projeto, já que será em função dos objetivos traçados que todas as ações serão pensadas, executadas e avaliadas. • Objetivo geral: De acordo com Keelling (2002), o objetivo geral é a pedra angular do projeto, pois ele define, em termos simples, o propósito do projeto e o que ele deve alcançar. Toda atividade gira em torno da consecução do objetivo geral, pois sua definição está diretamente ligada aos motivos pelos quais o projeto deve ser desenvolvido. De acordo com Armani (2004), o objetivo geral deixa claro a partir de qual perspectiva o projeto se desenvolverá, expressando seu impacto geral e indo além dos efeitos produzidos na população beneficiária ou organizações envolvidas. A definição do objetivo geral deve ser feita de forma clara, precisa, colocando a problemática em termos de ação positiva, o que servirá como um guia para a definição dos objetivos específicos e das metas. 37 Projetos Sociais 1. Objetivo não é atividade, é intenção, é onde o projeto deseja chegar. Deve ser descrito com clareza e precisão, utilizando-se os verbos no infinitivo. 2. Cada projeto tem um objetivo geral; se houver mais de um, temos então dois ou mais projetos. • Objetivos específicos: De acordo com Stephanou (2003) e Cury (2001), os objetivos específicos apontam para os resultados concretos do projeto, estando vinculados às ações e aos resultados que se deseja alcançar com sua consecução. Configuram como um desdobramento do objetivo geral, expressando diretamente os resultados esperados. Além disso, são o foco imediato do projeto, orientando diretamente nossas ações. Diferentemente do objetivo geral, os objetivos específicos dificilmente serão somente um, pois eles respondem a diferentes perguntas, como: Para que o projeto será implantado? Quais efeitos são esperados? Os objetivos específicos servirão de referencial para o dimensionamento do êxito ou fracasso do projeto, portanto, há que se ter cuidado quanto à quantidade a ser definida, lembrando que, a partir deles, serão demarcadas as metas e ações a serem efetuadas. • Metas: As metas configuram uma parte essencial do projeto, pois são nelas que os objetivos específicos se traduzem em ações e resultados. Pode-se dizer que elas completam a tarefa iniciada com a definição dos objetivos específicos, respondendo o que se quer de um projeto e onde se pretende chegar. As metas devem esclarecer a abrangência (espaço geográfico), o setor de intervenção, os resultados esperados e os prazos. As metas se definem em termos de quantidade, qualidade e tempo. Devem ser claras, precisas e realistas. Considera-se um projeto efetivo na medida em que consegue atingir as metas propostas a partir de seus objetivos específicos. As metas podem ser entendidas como objetivos com prazo, quantidade, qualidade e lugar definidos, respondendo de forma precisa as seguintes questões: Quando? Quanto? Como? Onde? 38 Capítulo 2 4.5 Público-alvo Esse item define aspectos diretamente relacionados à população beneficiária do projeto, isto é, quem, onde e qual o número de pessoas que serão alcançadas pelas ações propostas. Sua definição deve abordar características como: faixa etária, sexo, nível de escolaridade, situação socioeconômicae sociodemográfica, entre outras. Deve-se considerar que um projeto envolve populações de duas formas: direta e indireta. A população diretamente envolvida com o projeto é aquela que está relacionada a ele de forma concreta, participando de forma ativa da elaboração de suas ações, e que será atingida diretamente por seus resultados. Já a população indiretamente envolvida diz respeito àquelas pessoas que se relacionam com o projeto de maneira mais passiva, e que serão atingidas de forma mais distante e indireta, não participando ativamente de sua elaboração e implantação. Stephanou (2003) sugere que o público alvo direto deva ser quantificado e o indireto estimado. Desta forma: Um bom projeto sempre estará preocupado em transformar uma parte do público indireto em população diretamente envolvida, aumentando seu alcance. Isso significa tentar ampliar os acordos, ampliar o raio de ação do projeto e articular políticas de alianças e estratégias de inclusão de outras questões sociais ou públicos existentes em seu local de atuação. (STEPHANOU, 2003, p. 59). 4.6 Metodologia Na metodologia será abordada a maneira de agir ou o modo como as ações serão feitas, envolvendo todos os passos da elaboração do projeto, seus processos, métodos, técnicas e instrumentos para a ação. Serão descritos os caminhos, procedimentos e maneiras pelas quais se pretende organizar, realizar e avaliar o projeto. Dessa forma, são explicitados os sistemas de coordenação, os métodos de avaliação e seus responsáveis. Deverão ser descritas com clareza e concisão as etapas necessárias, quais e como serão desenvolvidas as ações para o alcance dos objetivos e metas propostos. Cury (2001, p. 51) acrescenta que deve-se relatar, resumidamente, o modelo teórico utilizado, explicitar as rotinas e as estratégias planejadas, as responsabilidades e compromissos assumidos, como o projeto vai se desenvolver, todos os envolvidos e o nível de participação/ responsabilidade de cada um. 39 Projetos Sociais 4.7 Requisitos técnicos A abordagem dos requisitos técnicos diz respeito à descrição e previsão de todos os recursos físicos, humanos, tecnológicos e financeiros, que serão necessários para a implementação do projeto, conforme descrito abaixo: a. Recursos humanos: Lista-se o pessoal necessário, especificando função, nível de escolarização, nível de salários, forma de recrutamento e seleção, qualificação profissional, número e tipo de vinculação, quantidade de horas de trabalho e a previsão do programa de capacitação. Abordando sob outro aspecto, Stephanou (2003) diferencia a equipe direta e indiretamente envolvida com o projeto. Para o autor, equipe direta é aquela formada por entidades, grupos ou pessoas que executarão as ações, colocando a “mão na massa”; já a equipe indireta é formada por setores, grupos ou indivíduos que, embora ligados à equipe que executa o projeto, não participam necessariamente de forma direta das ações. São aqueles que trabalham na retaguarda, dando apoio, mantendo a infraestrutura necessária, acompanhando e/ou monitorando o desenvolvimento do projeto. (STEPHANOU, 2003, p. 69). b. Recursos materiais: Previsão dos materiais de consumo e permanentes, instalações e equipamentos que serão necessários. c. Recursos tecnológicos: Previsão de todo aparato tecnológico necessário ao projeto, tais como computadores, mídias, softwares, entre outros. d. Recursos financeiros: A previsão dos recursos financeiros necessários para a execução do projeto é definida em orçamento, onde constam: os valores das despesas (gastos) e receitas (entradas de dinheiro), as fontes de financiamento, os prazos para desembolso e a prestação de contas. Esse item será mais bem detalhado mais adiante neste livro. e. Parcerias e interfaces: Neste item, são relacionadas as parcerias e interfaces estabelecidas para a consecução do projeto, sejam as de ordem financeira, técnica, ou de outro gênero. Aqui também devem ser identificados os apoios externos, bem como quem executará o projeto. 40 Capítulo 2 Por interfaces entendem-se os órgãos da esfera pública (federal, estadual ou municipal), que poderão estar cedendo suas estruturas técnicas, humanas, administrativas, financeiras e de materiais, ao projeto. Por parceria entendem-se empresas e /ou entidades e/ou organizações que estejam apoiando o projeto. Para Stephanou (2003), parceiros em um projeto são instituições ou pessoas que, embora participando diretamente das ações, não são os responsáveis pelos objetivos ou resultados. Os parceiros podem atuar diretamente junto à população envolvida no projeto, responsabilizando-se pela execução de algum aspecto de sua implementação, ou por ações que se dão em períodos temporalmente delimitados (consultorias, auxílios, avaliações), sem que sejam confundidos com a equipe que está implementando diretamente o projeto. (2003, p. 69). 4.8 Sistema de controle e avaliação A descrição do sistema de controle e avaliação a ser adotado deve detalhar a metodologia, os indicadores, o prazo, os tipos de documentos, bem como a equipe responsável por sua elaboração. Com o projeto elaborado e sua redação finalizada, passa-se às próximas etapas, em que acontece seu encaminhamento na busca dos recursos previstos e necessários a sua implementação, posteriormente são definidas as ações necessárias a sua execução, assuntos que passamos a abordar na continuidade de nossos estudos. 41 Seções de estudo Habilidades Capítulo 3 Sustentabilidade dos projetos sociais Seção 1: Orçamento e mobilização de recursos para o projeto social Seção 2: Prestação de contas: transparência e equidade na aplicação dos recursos Seção 3: Análise de riscos, resultados e impactos Neste capítulo, estaremos estudando acerca da sustentabilidade do projeto social, o que envolve seu orçamento e a mobilização de recursos para sua efetivação; analisaremos como se dá a prestação de contas e, dentro da visão ampliada de sustentabilidade, estudaremos como se processa a análise de impactos, riscos e resultados. Ao finalizar este capítulo, o(a) estudante terá desenvolvido habilidades para administrar e captar recursos para organizações e projetos sociais. 42 Capítulo 3 Seção 1 Orçamento e mobilização de recursos para o projeto social Dando continuidade ao processo de elaboração do projeto social, seu planejamento e redação não estarão completos sem a inserção do seu orçamento. Esse item é de vital importância na gestão do projeto social como um todo, e é ferramenta fundamental para a mobilização de recursos, sua gestão e posterior prestação de contas. A menção de termos como planejamento, orçamento, cronograma, muitas vezes criam certo antagonismo, remontado a estruturas e processos complicados; porém, se observarmos nosso dia a dia, veremos que constantemente estamos fazendo uso destas ferramentas, na maioria das vezes de forma inconsciente, mas necessária para que nossos projetos e atividades pessoais possam acontecer no curto, médio e longo prazo. Não é diferente quando se trata da gestão dos projetos sociais. No entanto, neste caso, usamos essas ferramentas de forma estruturada e fazendo uso de metodologias, que nos dão segurança quanto à obtenção dos resultados pactuados e desejados. Vejamos. 1.1 Orçamento Tendo como referência o projeto já elaborado, definidas suas atividades, tempo de execução e elencados todos os recursos, físicos, humanos, tecnológicos que serão necessários (conforme vimos no capítulo anterior), passa-se para o detalhamento do nível e tipo destes recursos sob a forma de orçamento. De acordo com Keelling (2002), a eficiência na provisão e gestão dos recursos é de fundamental importância para o êxito do empreendimento. Afirma o autor que os recursos são a energia vital do projeto, portanto, eles devem ser “cuidadosamente escolhidos, acuradamente especificados, e sua aquisição cuidadosamente planejada”(2002, p. 91). Para Souza (2001)e Stephanou (2003), o orçamento pode ser definido como a demonstração do plano de ação em valores monetários para um determinado período de tempo, sendo a materialização do projeto em suas dimensões econômicas. De acordo com Tenório (1999), como instrumento de planejamento e controle, o orçamento possibilita fazer previsões, estabelecer padrões, avaliar resultados, comparando o que foi previsto e o efetivamente realizado. Um bom orçamento deve ser claro, objetivo e bem detalhado, devendo apresentar todos os itens e subitens de despesas a partir de um cronograma de desembolsos ao longo do tempo de duração do projeto. 43 Projetos Sociais Segundo Stephanou (2003, p. 73), “é fundamental que o orçamento seja compatível com o conjunto do projeto, demonstrando uma relação de adequação entre as ações propostas, os itens de despesa e seus valores de mercado”. Para sua elaboração, Souza (2001) e Armani (2004) recomendam que sejam observados: • A determinação dos recursos humanos, materiais, e financeiros necessários às atividades planejadas; • O cálculo dos recursos humanos, materiais e financeiros necessários às atividades relacionadas à gestão do projeto; • O cálculo do custo total do projeto a partir dos gastos relativos a todos os recursos anteriormente indicados; • A indicação da contribuição, sob a forma de recursos, de cada grupo ou instituição envolvida com o projeto; • A quantificação de todas as contribuições locais (contrapartida), tais como trabalho voluntário, equipamentos, materiais, espaço físico, recursos financeiros. • A apresentação das receitas e despesas de forma detalhada, de maneira que permita um bom planejamento da execução e gestão financeira do projeto; • O equilíbrio entre despesas e receitas. Conforme mencionamos anteriormente, a organização do orçamento deve ser um trabalho detalhado e atencioso, sendo todos os itens verificados e calculados cuidadosamente. A entidade ou grupo deve elaborá-lo de forma mais abrangente possível, pois, além de garantir transparência na gestão e prestação de contas, ele servirá de base quando forem necessárias as adequações aos critérios de financiamentos das fontes ou apoiadores para os quais o projeto será encaminhado na busca de recursos. Esses critérios podem se diferenciar de várias formas: itens que não sejam financiáveis (muitas fontes financiadoras não destinam recursos para pagamento de pessoal permanente, por exemplo), tempo de apoio ao projeto (trienal, bienal etc.) e outras. Dessa forma, a entidade ou grupo, de posse de todas as definições, poderá aproximar sua proposta aos critérios das organizações ou agências que sejam potenciais apoiadoras de seu projeto social. De qualquer maneira, o detalhamento do orçamento é uma condição inegociável para garantir a transparência da proposta apresentada. A organização ou grupo, se for fiel a esta proposta (já considerando possíveis ajustes) estará consolidando uma marca de seriedade com o trato dos recursos e respeito aos apoiadores. Em outras palavras, confeccionar um bom orçamento é mais do que levantar números “que fecham”. (STEPHANOU, 2003, p. 74). 44 Capítulo 3 No que diz respeito à contrapartida, chamamos a atenção para sua relevância dentro do escopo do orçamento. Como contrapartida, devem ser considerados todos os recursos locais, próprios ou já contratados pela entidade ou grupo propositor, que estarão sendo empregados ou poderão ser mobilizados para a realização das atividades do projeto social. Devem ser considerados: recursos materiais, tais como espaços físicos e equipamentos; recursos humanos, como trabalho voluntário; doações em bens ou espécie; recursos tecnológicos; recursos provenientes de convênios etc. O cálculo do valor da contrapartida nem sempre é uma tarefa fácil, e geralmente acaba por ser esquecida ou relegada a segundo plano. No entanto, Stephanou alerta que nem sempre a contrapartida oferecida pelos proponentes pode ser contabilizada de forma precisa em termos monetários. Nesses casos, vale a pena acrescentar uma observação ao orçamento, onde conste a referência e uma breve descrição dos recursos que serão disponibilizados para o projeto (recursos humanos, materiais, tecnológicos etc.). No caso da participação de organismos ou instituições públicas, é importante que essa referência seja feita a fim de que o uso de recursos públicos nessas ações seja reconhecido e devidamente valorizado. (2003, p. 73). A contrapartida é uma forma da organização ou grupo demonstrar sua maturidade e credibilidade, bem como sua capacidade de mobilização e de posterior sustentabilidade do projeto. Conforme mencionamos anteriormente, o modelo de orçamento poderá oscilar conforme os critérios e especificidades de cada ente financiador, porém, a título de exemplo do que seria um orçamento transparente e de fácil acompanhamento, sugerimos o modelo abaixo, tendo como base as recomendações dos autores estudados e a experiência da autora na elaboração de projetos. 45 Projetos Sociais Quadro 3.1 - Modelo de orçamento N.º Item de despesa/ discriminação Contrapartida Outros parceiros A ser solicitado Total Recursos Materiais 1. Material Didático 2. Material de Escritório 3. Equipamentos 4. Matéria-Prima / Material Permanente 5. Material de Consumo 6. Espaço físico 7. Outros (ESPECIFICAR) ( * ) Sub-total recursos materiais RECURSOS HUMANOS 8. Coordenação do Projeto 9. Equipe Técnica 9.1 - Profissionais Liberais 9.2 - Professores / Educadores 9.3 - Técnicos Especializados 9.4 - Assistentes 10 Outros (ESPECIFICAR) ( ** ) Sub-total recursos humanos MANUTENÇÃO 11. Água/luz/telefone/combustível 12. Taxas e Impostos 13. Aluguel 14. Outros (ESPECIFICAR) ( ***) Sub-total manutenção COMUNICAÇÃO DO PROJETO 15. Cartazes/folders/ 16. Boletim informativo 17. Manutenção site/blog 18 Outros (ESPECIFICAR) ( ****) Sub-total comunicação do projeto TOTAL GERAL TOTAL PARCEIROS+CONTRAPARTIDA ( * ) - Recursos Materiais - Item 7 - Outros - Especificar ( ** ) - Recursos Humanos - Item 10 - Outros – Especificar ( *** ) - Manutenção - Item 14 - Outras - Especificar: (****) – Comunicação do projeto – Item 18 – Outros – Especificar Fonte: Elaboração da autora, 2015. 46 Capítulo 3 Para que o trabalho em torno do orçamento seja completo e visando sua gestão, é recomendável a elaboração de um cronograma físico financeiro, ferramenta que permitirá o acompanhamento dos gastos em relação às atividades planejadas no período de tempo estabelecido. De acordo com Souza (2001, p. 127), O acompanhamento do cronograma físico-financeiro permite compará-lo com o que foi realizado e medir os resultados dos trabalhos (cumprimento das atividades) relativamente aos recursos aplicados. Esse acompanhamento, além de possibilitar a obtenção de informações objetivas sobre o andamento do projeto, orienta as tomadas de decisão e aponta eventuais necessidades de agir corretivamente. O cronograma físico-financeiro constitui-se em instrumento fundamental na gestão dos recursos financeiros. Para fazer esse acompanhamento sugerimos o modelo abaixo com base nos autores estudados e na experiência da autora em elaboração de projetos. Observamos ser esse um modelo simplificado, considerando o que geralmente é demandado para o acompanhamento de um projeto social de pouca complexidade em termos de atividades e de uso e gestão de recursos. Quadro 3.2 - Modelo de cronograma físico-financeiro Item de despesa Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Acumulado Recursos materiais Recursos humanos Manutenção Comunicação do projeto Sub-total Outras despesas Total geral Fonte: Elaboração da autora, 2015. 1.2 Fontes de financiamento As fontes potenciais de financiamento de um projeto social podem ser públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras, locais ou regionais. Aos gestores do projeto social cabe o cuidado e a reflexão em torno da afinidade que deve existir entre
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