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CRIMES SEXUAIS CONTRA CRIANÇAS E PERÍCIA CRIMINAL A perícia para além do local de crime. RAÍZA SANDES E SUZYELAINE MARQUES PSICÓLOGAS PERITAS CRIMINAIS OFICIAIS IV Congresso Nacional on-line de Perícia Criminal INTRODUÇÃO O abuso sexual contra crianças e adolescentes é considerado um problema de saúde pública (WHO, 2006, 2017). Atlas da Violência de 2018: no Brasil ocorre em torno de 500 mil casos de estupro por ano; Cerca de 70% das vítimas são crianças e adolescentes; Os abusos acontecem principalmente dentro de casa; INTRODUÇÃO ▪ Os agressores, em 67% dos casos, são parentes próximos ou conhecidos. ▪ São quase 24 mil denúncias por ano de violência sexual contra crianças e adolescentes, através do Disque 100; ▪ Quase 20 mil casos notificados por ano no Sistema de Saúde; Esses números tendem a aumentar ainda mais diante da pandemia do novo coronavírus; ▪ A SaferNet registrou um aumento de 108% nas denúncias de pornografia infantil durante a pandemia no País; ▪ Em abril de 2020, foram 9.995 denúncias; ▪ Precisamos encontrar meios de proteger as crianças e os adolescentes, de garantir que os seus direitos sejam respeitados e também pensar alternativas para aumentar a punibilidade dos agressores. INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO Daí nos deparamos com três problemáticas: 1. Muitas crianças demoram a perceber que estão sendo abusadas; 2. O abuso sexual acaba virando um "segredo" familiar; 3. Quando os casos são denunciados e chegam à perícia já não encontramos vestígios materiais. Lei nº 13.431/2017 estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência. Violência sexual Qualquer contato ou interação entre uma criança ou adolescente - que não estão aptos para compreender totalmente ou consentir com aquele ato - e alguém em estágio de desenvolvimento psicossexual mais avançado. A VIOLÊNCIA A VIOLÊNCIA Exploração sexual comercial É o uso da criança ou do adolescente em atividade sexual em troca de remuneração ou qualquer outra forma de compensação, de forma independente ou sob patrocínio, apoio ou incentivo de terceiro, seja de modo presencial ou por meio eletrônico; A VIOLÊNCIA Tráfico de pessoas O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento da criança ou do adolescente, dentro do território nacional ou para o estrangeiro, com o fim de exploração sexual, mediante ameaça, uso de força ou outra forma de coação, rapto, fraude, engano, abuso de autoridade, aproveitamento de situação de vulnerabilidade ou entrega ou aceitação de pagamento, entre os casos previstos na legislação. A VIOLÊNCIA Violência Intrafamiliar É toda ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de outro membro da família. FATORES ASSOCIADOS À VIOLÊNCIA Crises sociais e econômicas, desemprego, instabilidade financeira; Características familiares; Aceitação cultural de posse da mulher sobre o homem, a naturalização da dominação de um gênero sobre o outro e de uma faixa etária sobre a outra; Virtualização das relações... • Segundo o Art. 158 do Código de Processo Penal (CPP): “quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado”. • Mas quais são os vestígios deixados pela violência sexual? Como procederemos o exame de corpo de delito se a violência sexual nem sempre é física e nem sempre deixa marcas no corpo da vítima ou no local em que o crime foi praticado? A INVESTIGAÇÃO O artigo 167 do CPP afirma que nos casos em que os vestígios do crime já desapareceram, a prova testemunhal poderá suprir sua falta, mas somente quando não for possível a realização do exame de corpo de delito. Dentro de um processo investigativo, espera-se que o testemunho corrobore com outros meios probatórios relacionados aos autos, importando a credibilidade do respectivo depoimento e o critério com que o julgador o aferirá. A INVESTIGAÇÃO A INVESTIGAÇÃO Violência sexual intrafamiliar, se torna ainda mais difícil o processo investigativo, tendo em vista que os principais agressores são com vinculo íntimo com a criança. Determinantes sociais e culturais com dinâmicas que são extremamente difíceis de serem abordadas. O PROCESSO DE REVELAÇÃO Processo doloroso para a maior parte das vítimas; Fenômenos como: Negação e Retratação são comuns. Síndrome do segredo 1 2 VÍTIMA Pode apresentar: ✓ Comportamentos sexuais descontextualizados ✓ Sintomas de estresse pós-traumático ✓ Depressão ✓ Ansiedade ✓ Dissociação ✓ Raiva A VÍTIMA Variáveis que influenciam nas consequências: ✓ A idade da criança no início dos abusos; ✓ O tempo de duração dos abusos; ✓ O grau de violência e o tipo da atividade; ✓ Relação abusador/vítima; ✓ Ausência de figuras protetoras; ✓ O suporte familiar/social na revelação. A VÍTIMA Fatores de risco: ✓ Multifatorial; ✓ Vulnerabilizadade social; ✓ Fatores culturais (questão de gênero, os rituais sobre iniciação sexual, tradições de grupos específicos, um forte apelo ao consumo, erotização infantil); ✓ Dinamica familiar violenta ou desestruturada; A VÍTIMA Estudo realizado 159 laudos de perícias psicológicas realizadas no ITEP foram analisados: ✓ 83,02% do sexo feminino; 16,98% do sexo masculino ✓ 92,45% com idade entre 3 e 17 anos completos ✓ 94,34% Abuso Sexual foi a principal causa de encaminhamento para a Perícia O AUTOR DA VIOLÊNCIA Pessoas próximas, do sexo masculino... São psicopatas? São pedófilos? São serial killer? Não existe um perfil único de abusador/abusadora sexual A maioria dos abusadores não tem comportamento criminal específico e apenas 4% sofrem de doença mental severa O AUTOR DA VIOLÊNCIA Stirpe e Stermac (2003): Os autores de violência mostram maior índice de vitimização sexual na infância (60,6%); A maior parte dos seus abusadores foram os próprios pais; Entrevistados reportaram maior incidência de violência física na infância; Ambiente familiar desorganizado O AUTOR DA VIOLÊNCIA Greenberg et al (2005): A metade dos participantes havia sido sexual ou fisicamente vitimizada antes dos 16 anos de idade. Tanto os pais quanto os padrastos possuíam relativamente poucas vítimas e raramente utilizaram ameaças ou força. Mais da metade dos dois grupos penetrou suas vítimas oral, vaginal ou analmente. Os padrastos apresentaram maior índice de excitação do que os pais. O AUTOR DA VIOLÊNCIA Lambie et al (2002), Nova Zelândia: Os participantes reportaram que o prazer não estaria no ato em si, mas no nível de fantasias, masturbação. Fatores como tipo de violência sexual sofrida, índice de excitação sexual, nível de fantasias e masturbação, contato social durante a infância e suporte emocional podem ser identificados como colaboradores para que o sujeito cometa a violência sexual. O AUTOR DA VIOLÊNCIA Estudo de Saradjian e Nobus (2003): examinaram as distorções cognitivas de 14 abusadores religiosos contra crianças. Distorções que minimizariam a culpa e os ajudavam a manter uma auto-imagem positiva: “Como um padre, tudo está bem; Deus me chamou para ser um padre. Quando Ele me chamou, Ele sabia das minhas necessidades [de desejo sexual por crianças]”. O AUTOR DA VIOLÊNCIA Rovinski e Pelisoli (2019): Alguns autores podem praticar violência sexual contra crianças por considerarem-na frágeis e vulneráveis, além de compreenderem que dificilmente serão descobertos; São considerados oportunistas e impulsivos e agem de acordo com a disponibilidade e a ocasião; Não há uma escolha preferencial de vítima, pois o abuso é o padrão de comportamento com todas as pessoas; Associação com comportamentos do tipo antissocial, como mentiras e furtos. Pessoascom alta evitação social Prejuízos na capacidade de empatia e de intimidade E nós, agentes da Segurança Pública, como devemos agir? O agente de segurança O DECRETO N 9.603/2018 Escuta especializada X Depoimento especial O PAPEL DO PSICÓLOGO NA INVESTIGAÇÃO Nos casos de investigação de suspeita de abuso sexual, há consenso entre os autores quanto a privilegiar o testemunho da criança; O objetivo é buscar dados que explicitem como os fatos ocorreram, mas nem sempre é possível; Existem situações em que surgem dúvidas sobre o contexto de produção de fala da criança; Nesses casos o trabalho do perito psicólogo vem complementar a investigação da ocorrência da suposta vitimização por meio de uma avaliação psicológica. PERÍCIA PSICOLÓGICA Avaliação realizada por psicólogo que visa responder a questões de ordem psicológica formuladas pela autoridade policial, judiciária ou do Ministério Público. É um meio probatório, uma atividade técnica e processual, que se materializa no processo por meio do laudo pericial (Silva, 2019). PERÍCIA PSICOLÓGICA A avaliação pericial dirige-se ao esclarecimento de aspectos psicológicos que estão diretamente ligados a questões legais. Finalidade de auxiliar o agente jurídico na tomada de decisão esclarecendo questões relacionadas ao conhecimento psicológico O QUE PODEMOS AVALIAR? Avaliação das funções cognitivas Pode-se estudar “a capacidade atencional, o controle mental, as funções motoras, as funções visuais, a linguagem, os processos de memória (visual e verbal) e intelectuais” (Serafim et al, 2017, p. 66). Avaliação da personalidade Estrutura e dinâmica da personalidade Impacto Psíquico Avaliar a possíveis repercussões da violência sofrida por supostas vítimas E a credibilidade do testemunho?? Detectar a presença de PSICOPATOLOGIAS Identificação de falsas denúncias? PERÍCIA PSICOLÓGICA Observação do comportamento Observação da interação familiar Entrevistas Visitas institucionais e domiciliares. Testes Psicologicos Metodologias lúdicas (bonecos anatômicos) TESTEMUNHO INFANTIL Demandas de depoimento especial (Lei 13.431/2017 e Decreto 9.603/2018 ) Armazenamento e recuperação de informações e fatos (memória) Sugestionabilidade Emoções envolvidas Necessidade de agradar o entrevistador REFERÊNCIAS 1. Brasil, Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017. 2. Brasil. Conselho Federal de Psicologia. Resolução nº017 de 2012. 3. Brasil. Conselho Federal de Psicologia. Resolução nº08 de 2010. 4. Brasil. Código de Processo Penal, 1941. 5. Brasil. Código de Processo Civil,2015. 6. Brasil, Decreto 9.603/2018, de 10 de agosto de 2018. 7. Stein, Lilian Milnitsky; Pergher, Giovanni Kuckartz; Feix, Leandro da Fonte. Desafios da oitiva de crianças e adolescentes: técnica de entrevista investigativa. 2009. 8. Schaefer, Luiziana Souto. Indicadores psicológicos e comportamentais na perícia de crianças com suspeita de abuso sexual. 9. Gomide, Paula Inez Cunha; Camargo, Everline Bedin; Fernandes, Marcia Gonzales. Analysis of the Psychometric Properties of a Parental Alienation Scale. Paidéia sep-dec. 2016, Vol. 26, No. 65, 291-298. doi:10.1590/1982-43272665201602. 10. Fermann, Ilana Luiz; Chambart, Daniela Inaiá; Foschiera, Laura Nichele; Bordini, Thays Carolyna Pires Mazzini; Habigzang, Luísa Fernanda. Perícias Psicológicas em Processos Judiciais Envolvendo Suspeita de Alienação Parental Psicologia: Ciência e Profissão Jan/Mar. 2017 v. 37 n°1, 35-47. https://doi.org/10.1590/1982-3703001202016. 11. Tourinho Filho, Fernando da Costa (2014). Código de Processo Penal - Comentado - 2 Vols. - 15ª Ed. 12. Jung, Flavia Hermann. Avaliação Psicológica Pericial: Áreas e Instrumentos. Avaliação Psicológica Instituto de Pós-Graduação – IPOG Goiânia-GO, 14 de agosto de 2013 13. Rovinski, Sonia Liane Reichert (2013). Fundamentos da perícia psicológica forense. São PauloVetor, 3ª ed. https://doi.org/10.1590/1982-3703001202016 OBRIGADA!! CONTATOS: RAIZASANDES@HOTMAIL.COM SUZYELAINE.MARQUES@HOTMAIL.COM
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