Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CÂNCER DE COLO DO ÚTERO Incidência A cada ano, mais de 56 mil mulheres são diagnosticadas com câncer de colo de útero na América latina e caribe e mais de 28 mil perdem a vida por conta dessa doença (OMS, 2018). No ano do triênio 2020-2022, espera-se 16.590 novos casos de câncer de colo do útero, risco de 15,43 casos a cada 100 mil mulheres. É o segundo tipo de câncer mais incidente nas regiões norte, nordeste e centro-oeste (tumores de pele não melanoma são mais frequentes). Na região sul ocupa a quarta posição e, na região sudeste, a quinta posição. Logo, vemos que a incidência desse tipo de câncer coincide com as regiões onde são encontradas pessoas em maior vulnerabilidade social. Nos países com baixo e médio IDH, o segundo tipo de câncer mais incidente é o câncer do colo do útero (INCA, 2020). Com exceção do câncer de pele, esse tumor é o que apresenta maior potencial de prevenção e cura quando diagnosticado precocemente. Fatores de risco HPV → IST; Principal fator; transmissão frequentemente sexual (exs: fricção, parto); Causa alterações nas células da escamosa e células glandulares, tornando-se precursora do câncer do colo uterino. 99% das mulheres com C. uterino tem algum tipo de HPV. A manifestação clínica do HPV: condiloma, geralmente acuminado (verruga), onde tem uma maior potência de contagio. Vale salientar que mesmo sendo essa a forma de transmissão principal, não necessariamente o condiloma precisa estar presente para haver a transmissão, lembrar que existem mais de 200 tipos de HPV e, por esse motivo, a frequência de transmissibilidade e a relação com o câncer de colo variam com o tipo. Os principais tipos de HPV oncogênicos são 16 e 18, que correspondem a 70% dos casos; Início precoce da atividade sexual → IST; Multiplicidade de parceiros sexuais; Tabagismo; Baixa condição socioeconômica; Imunossupressão; Uso prolongado de contraceptivos orais → Esse fator de risco encontra-se apenas em algumas literaturas. Prevenção A prevenção primária consiste em prevenir o contágio pelo Papiloma vírus Humano → vacina e preservativo; combater ao tabagismo. A prevenção secundária consiste no diagnóstico precoce através de exames citopatológico e rastreamento, independentemente da mulher ter recebido a imunização ou não. Vacina HPV 0,5 ml, IM, 2 doses (0 e 6 meses; 0 é a primeira dose e 6 meses depois toma a segunda dose); Quadrivalente (tipos 6, 11, 16 e 18 - Os dois primeiros causam verrugas genitais e os dois últimos são responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo do útero). Previnem-se meninos e meninas em uma faixa etária considerada ideal (antes do início da exposição sexual): meninas de 9 a 14 anos, 11 meses e 29 dias; meninos de 11 a 14 anos, 11 meses e 29 dias. Pessoas com HIV/AIDS e imunodeprimidos, entre 9 e 26 anos (3 doses/0, 2 e 6 meses). Contraindicada durante a gestação. A vacina também é indicada às pessoas com baixa imunidade, exemplos: transplantados de órgãos e pacientes oncológicos. Homens e mulheres de 9 a 26 anos, 3 doses, mediantes prescrição. Câncer do colo do útero e classificações É um tumor que se desenvolve a partir de alterações no colo do útero. Essas alterações são chamadas de lesões precursoras, são totalmente curáveis na maioria das vezes e, se não tratadas, podem, após muitos anos, se transformar em câncer. As lesões precursoras ou o câncer em estágio inicial não apresentam sinais ou sintomas, mas conforme a doença avança podem aparecer sangramento vaginal, corrimento e dor, nem sempre nessa ordem. Assim sendo, este tipo de afecção se dá por transformações intraepiteliais progressivas, evoluindo para um processo invasor num período de 10 a 20 anos. Essas lesões pré- invasivas (pré-malignas), levam, portanto, muitos anos para desenvolver a NEOPLASIA INTRAEPITELIAL CERVICAL (NIC). O colo do útero é revestido por várias camadas de células epiteliais pavimentosas, arranjadas de forma bastante ordenada. Essa desordenação das camadas é acompanhada por alterações nas células que vão desde núcleos mais corados até figuras atípicas de divisão celular. Quando a desordenação ocorre nas camadas mais basais do epitélio estratificado, estamos diante de uma Neoplasia Intraepitelial Cervical Grau I (NIC I) – lesão de baixo Grau (anormalidades do epitélio no 1/3 proximal da membrana). Se a desordenação avança 2/3 proximais da membrana estamos diante de uma Neoplasia Intraepitelial Cervical Grau II (NIC II) – Alto Grau. Na Neoplasia Intraepitelial Cervical Grau III (NIC III) – Alto Grau (carcinoma in situ), o desarranjo é observado em TODAS as camadas, sem romper a membrana basal. A coilocitose, alteração que sugere a infecção pelo HPV, pode estar presente ou não. Quando as alterações celulares se tornam mais intensas e o grau de desarranjo é tal que as células invadem o tecido conjuntivo do colo do útero abaixo do epitélio, temos o carcinoma invasor. Para chegar a câncer invasor, a lesão não tem, obrigatoriamente, que passar por todas essas etapas. (LOWY; SCHILLER, 2006) Quadro 1- Nomenclaturas citopatológicas e histopatológicas utilizadas desde o início da realização do exame citopatológico para o diagnóstico das lesões cervicais escamosas e suas equivalências. (Brasil, 2013) Observações: Analisando o resultado da paciente com NIC I: houve um desarranjo, mas numa camada muito pequena, não se espera progressão pra esse tipo de lesão, pois NIC I tem maior probabilidade de regressão ou persistência do que de progressão. Logo faz-se o tratamento da paciente diante dos sintomas que ela apresenta, leucorreia, por exemplo, e solicita volta para o preventivo após 6 meses. Lembrar que diante dessas características, NIC I não é considerada uma lesão precursora do câncer de colo do útero. Sinais e sintomas Fase pré-clínica: sem sintomas (detecta-se pela prevenção secundária – diagnóstico precoce e rastreamento). Realização periódica do exame citopatológico e confirmadas pela colposcopia e exame histopatológico. No decorrer dos anos a doença progride. Estágio invasor: sangramento vaginal (espontâneo, após o coito ou esforço), leucorreia e dor pélvica. Podem estar associados com queixas urinárias ou intestinais nos casos mais avançados. Prevenção do câncer de colo do útero O que fazer? Como fazer? Quem faz? Acolhimento com escuta qualificada Identificar os motivos da procura pelo atendimento; Direcionar para o atendimento necessário. Equipe multiprofissional Avaliação Global Entrevista/anamnese: Idade; realização prévia de exame citopatológico e data; Outros exames intravaginais? Medicamentos vaginais? Histórias de relações sexuais com preservativo nas 48 horas anteriores ao exame? (fatores que podem ocasionar prejuízo à leitura da amostra coletada); Antecedentes pessoais obstétricos, cirurgias pélvicas e antecedentes patológicos – ISTs e HPV; Data da última menstruação; Presença de queixas relacionadas a corrimentos vaginais. Embora a avaliação de corrimentos vaginais não demande a coleta de colpocitológico, a queixa deve ser avaliada no momento do exame e tratada quando necessário, não descartando a oportunidade de realizar a coleta do material se o motivo de contato da mulher se deu pelo corrimento. No entanto, em alguns casos, como na suspeita de tricomoníase, recomenda-se tratar a mulher e reagendar a coleta do material cervical em 3 meses, pelo risco de prejuízo da amostra; Dispareunia e sangramentos vaginais. Enfermeiro (a)/Médico (a) Exame físico específico: Inspeção dosórgãos genitais externos; Observar aspecto do colo, secreção anormal do colo, lesões vegetantes ou ulceradas. Exame citopatológico do colo do útero: Orientar a usuária sobre procedimento, esclarecer dúvidas e ansiedades; preencher a requisição do exame; realizar coleta do material segundo normas técnicas de coleta; a coleta deve ser feita pelo menos 5 dias após o término da menstruação. Identificado anormalidades durante procedimentos, é necessário avaliação do enfermeiro ou médico; orientação sobre buscar o resultado do exame; agendar retorno para resultado; Na presença de secreção vaginal anormal, friabilidade do colo, efetuar coleta para análise laboratorial e tratar de acordo com abordagem sindrômica; prescrição de TTT para outras doenças detectadas; Na presença de lesões suspeitas e sangramentos vaginais, encaminhar para avaliação especializada, haja vista que podem ser manifestações de doença invasora e devido a necrose tecidual, pode-se não identificar a presença de células neoplásicas. Técnicos em enfermagem*/ Enfermeiro (a)/ Médico (a) * A coleta de citopatológico para rastreio poderá ser realizada por técnicos em enfermagem devidamente treinados, em localidades onde seja necessário, visando ampliar o acesso da população-alvo ao exame. Planos de cuidado Consulta de retorno: Interpretação do resultado e conduta; comunicar as alterações que foram encontradas, esclarecer dúvidas e apoio emocional; orientar, se necessário, realização de outros procedimentos/acompanhamento; garantir continuidade do cuidado; Orientar quanto à periodicidade de realização do exame citopatológico: 1. Os dois primeiros exames são feitos com intervalo de um ano e, se os resultados foram normais (sem lesões precursoras), o exame deve ser feito a cada três anos. 2. O início da coleta deve ser aos 25 anos de idade para as mulheres que já tiveram atividade sexual, e seguem até os 64 anos. 3. Se tiver ≥64 anos e realizado 2 ou mais exames negativos consecutivos nos últimos 5 anos: interromper procedimentos. 4. Para aquelas que têm mais de 64 anos e nunca realizaram o exame: realizar 2 exames com intervalo de 1 a 3 anos, se ambos forem negativos, são dispensadas. 5. Aquelas que tiveram lesões pré-neoplásicas retornam ao rastreio trienal após apresentarem dois exames de controle citológicos semestrais normais, após TTT das lesões precursoras. Enfermeiro (a)/Médico (a) Encaminhamentos para serviços de referência. Acompanhamento de usuárias pós-exame: Contato contínuo com mulheres com resultado alterado, estimulando a adesão ao tratamento e detectar as faltosas. Equipe multiprofissional Estímulo às ações de prevenção primária. Ações de vigilância em saúde: busca ativa de mulheres dentro da população. Educação em saúde. Fonte: Protocolos da atenção básica – saúde das mulheres (BRASIL, 2016). Anormalidades nos exames citopatológicos: 1. Atipias (sem forma/alteração de forma) de significado indeterminado*. 2. Lesão intraepitelial de baixo grau (NIC- I): Repetição de citologia em seis meses – se dois exames negativos, seguir rotina de rastreamento; se lesão igual ou mais grave, encaminhar para colposcopia. 3. Lesão intraepitelial de alto grau (NIC II): encaminhar para colposcopia. 4. Lesão intraepitelial de alto grau, não podendo excluir microinvasão ou carcinoma epidermoide invasor (NIC- III): encaminhar para colposcopia. 5. Adenocarcinoma in situ ou invasor: encaminhar para colposcopia. *ATIPIAS DE SIGNIFICADO INDETERMINADO (ASCUS): 1. Em células escamosas - Provavelmente não neoplásica/menor grau de suspeita - Conduta: repetição da citologia em 6 meses (≥30 anos) ou 12 meses (<30 anos). Se dois exames citopatológicos subsequentes com intervalo de seis meses (no caso de mulheres com 30 anos ou mais) ou 12 meses (no caso de mulheres com menos de 30 anos) forem negativos, a mulher deverá retornar à rotina de rastreamento citológico trienal; - Não se pode afastar lesão de alto grau/maior grau de suspeita – Conduta: Encaminhamento para colposcopia. 2. Em células glandulares - Provavelmente não neoplásica/maior grau de suspeita - Conduta: Encaminhamento para colposcopia. - Não se pode afastar lesão de alto grau/maior grau de suspeita – Conduta: Encaminhamento para colposcopia. 3. De origem indefinida - Provavelmente não neoplásica/maior grau de suspeita - Conduta: Encaminhamento para colposcopia. - Não se pode afastar lesão de alto grau/maior grau de suspeita – Conduta: Encaminhamento para colposcopia. Condutas para Atipias em Células Escamosas (ASCH) 1. Lesão intraepitelial de baixo grau/menor grau de suspeita: repetição da citologia em 6 meses. 2. Lesão intraepitelial de alto grau/maior grau de suspeita: encaminhamento para colposcopia. 3. Lesão intraepitelial de alto grau, não podendo excluir microinvasão/ maior grau de suspeita: encaminhamento para colposcopia. 4. Carcinoma epidermoide invasor/ maior grau de suspeita: encaminhamento para colposcopia. Condutas para Atipias em Células Glandulares (AGUS) 1. Adenocarcinoma in situ: encaminhamento para colposcopia. 2. Adenocarcinoma invasor: encaminhamento para colposcopia. Exame citopatológico - Papanicolau Amostra satisfatória é aquela que apresente células em quantidade suficiente, bem distribuídas, fixadas e coradas, de tal modo que sua visualização permita uma conclusão diagnóstica. Os aspectos de representatividade dos epitélios não constam no item de satisfação da amostra, mas deverá ser dada a informação (obrigatória) dos epitélios representados na amostra. É competência exclusiva do profissional responsável pela paciente decidir se a representatividade da amostra esta adequada, levando em consideração as condições próprias de cada uma, como a idade, estado menstrual, limitações anatômicas, objetivo do exame, entre outras. Anatomicamente o colo do útero é dividido em endocérvive, parte interna, que constitui o canal cervical e ectocérvice, parte externa, que mantêm contato com a vagina. A endocérvice é revestida por uma camada única de células cilíndricas produtoras de muco – epitélio colunar simples, também chamado glandular. A ectocérvice é revestida por um tecido de várias camadas de células planas – epitélio escamoso estratificado. Entre esses dois epitélios (colunar e escamoso), encontra-se a junção escamocolunar (JEC), que é uma linha que pode estar tanto na ecto como na endo cérvice, dependendo da situação hormonal da mulher. Na infância e no período pós- menopausa, geralmente, a JEC situa-se dentro do canal cervical. No período da menacme, fase reprodutiva da mulher, geralmente a JEC situa- se no nível do orifício externo ou para fora desse – ectopia ou eversão. Quando nessa situação, o epitélio colunar da endocérvice fica em contato com o ambiente vaginal ácido, hostil a essas células, e células subcilíndricas, de reserva, bipotenciais, por meio de metaplasia, se transformam em células mais adaptadas (escamosas), dando origem a um novo epitélio, entre os epitélios originais (colunar e escamoso), chamado de terceira mucosa ou zona de transformação. É na zona de transformação que se localizam mais de 90% das lesões precursoras ou malignas do colo do útero. É oportuno que se atente para a representatividade da JEC nos esfregaços vaginais, porém a amostra adequada pode não ter a representação completa da JEC, o que deverá ser avaliado pelo profissional. A presença de células metaplásicas ou células endocervicais (representativas da JEC) tem sido considerada indicador de qualidade da coleta, pelo fato de essa coleta objetivar a obtenção de elementos celulares representativos do local onde se situa a quase totalidade dos cânceresdo colo do útero. - A coleta: Introduzido o espéculo na vagina, inspeção visual do interior da vagina e colo do útero, escamação da superfície externa (ectocérvice) e interna (endocérvice) do colo do útero com uma espátula de madeira (espátula de Ayre) e uma escova endocervical. As células colhidas são colocadas numa lâmina para análise em laboratório especializado em citopatologia. - Coleta em gestantes: feito em qualquer momento da gravidez, preferencialmente até o sétimo mês. Utiliza-se apenas a espátula de Ayre, pois nessas mulheres é proibida a retirada de amostras da endocérvice. - Cuidados na coleta: Nas 48h que antecedem a coleta evitar: exame de ultrassonografia vaginal, uso de lubrificantes, espermicidas ou medicamentos vaginais, pois estes são fatores que podem ocasionar prejuízo à leitura da amostra coletada. O exame não deve ser feito no período menstrual, porém se for a única oportunidade e a mulher esteja menstruada, podem-se adicionar gotas de ácido acético a 2% à solução fixadora, buscando melhorar a qualidade da amostra. Tratamento do câncer - Cirurgia - Radioterapia externa ou braquiterapia (radioterapia intravaginal) - Quimioterapia - Cuidados paliativos. Anotações ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ Referências INCA. Instituto nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Estimativa 2020: incidência de câncer no Brasil. Ministério da Saúde, Brasil, 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolos da Atenção Básica: Saúde das Mulheres / Ministério da Saúde, Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa – Brasília: Ministério da Saúde, 2016. RICCI, S. S. Enfermagem materno-neonatal e saúde da mulher. Guanabara Koogan, edição 1, 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Controle de Câncer de Colo de Útero e de Mama. Brasília, 2013. (Cadernos da Atenção Básica, n. 13). MELO, M. C. S. C. M. et al. O Enfermeiro na Prevenção do Câncer do Colo do Útero: o Cotidiano da Atenção Primária. Revista Brasileira de Cancerologia, 58(3): 389- 398, 2012. PASSOS, R. et al. Manual de enfermagem para concursos e residências: saúde pública. João Pessoa, PB: Editora brasileiro e passos, 2018. LOWY, D.R; SCHILLER, J.T. Prophylactic human papillomavirus vaccines. J Clin Invest, 2006.
Compartilhar