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Dimensionamento de um sistema solar térmico para aquecimento da água da piscina do IST Guilherme Calretas Machado Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Mecânica Orientadores: Prof. Carlos Augusto Santos Silva Eng. Mário Miguel Franco Marques de Matos Júri Presidente: Prof. Edgar Caetano Fernandes Orientador: Prof. Carlos Augusto Santos Silva Vogal: Eng. Diana Pereira Neves Junho 2017 II III Agradecimentos Agradeço aos Engenheiros Rui Pedro Pereira, João Patrício e Mário de Matos por toda a ajuda que me deram a juntar a informação necessária sobre as instalações e o sistema de aquecimento da piscina. Agradeço à professora Ana Flor que me disponibilizou uma estação total para registar os ângulos de sombreamento no telhado da piscina, provocados pelos edifícios em redor. Agradeço ao João Januário, que foi comigo para o telhado medir os ângulos. Agradeço ao professor Carlos Santos Silva por ter aceite orientar-me após o professor Paulo Ferrão se tornar presidente da FCT. Agradeço toda a ajuda na estruturação e organização da tese e no foco ao objectivo. Deixo ainda um agradecimento especial pelo o apoio extraordinário que me deu nos últimos dias de trabalho. Agradeço aos meus amigos. Agradeço à minha família. Agradeço à minha mãe. Desculpa a demora. IV V Abstract This study intends to dimension a solar thermal system for the pool and to verify the technical and financial viability of its execution. A model of the currently installed system was created using Polysun. The usage profile inserted in the model was estimated from an old usage profile of a week during normal school period. The natural gas consumption of the real system, measured during the year 2014, is the only energy consumption data available to validate de model. Comparing it with the results of the model’s simulation, there’s an error in the annual gas consumption of 10%. Based on the simulation results and on typical recommendations found in literature on this field, a solar heating system was designed and inserted in the model. The results show a reduction in gas consumption over 40% comparing to the model without solar. The system can be considered technically viable. A sensitivity analysis of the system was made, inserting isolated variations in a few chosen parameters of the solar system, showing how the performance of the system is affected and allowing to present improvements to the system. The annual savings each proposed system provides were calculated in a short financial analysis. A market study wasn’t made to estimate the initial cost of the installation, so this study can´t guarantee the financial viability of the system. The maximum initial investment recommended, to have a return of the investment in 15 years, was calculated, helping to make a better-informed decision on the investment. Key words: solar thermal, swimming pool, domestic hot water, Polysun, modeling, dimensioning, technical viability, financial viability. VI VII Resumo Neste trabalho pretende-se dimensionar um sistema solar térmico para a piscina e estudar a viabilidade técnica e financeira da sua instalação. Foi criado, no software Polysun, um modelo do sistema real. O perfil de utilização introduzido no modelo foi estimado com base em registos de utilização registados durante uma semana de período normal de aulas. As medições do consumo de gás natural consumido em 2014 são os únicos dados energéticos disponíveis do sistema real para validar o modelo. Comparando o com os resultados do modelo verificou-se um erro no consumo de gás anual perto dos 10%. Com base nos resultados do modelo e em recomendações típicas encontradas em literatura sobre o assunto, foi dimensionado um sistema solar e introduzido no modelo. Os resultados obtidos apresentam uma redução no consumo de gás superior a 40% relativamente aos resultados do modelo sem solar. Considera-se então que o sistema é tecnicamente viável. Fez-se uma análise de sensibilidade ao sistema, introduzindo variações isoladas em alguns parâmetros do sistema solar, permitindo verificar de que modo afectam o desempenho do sistema e apresentar variações melhoradas do sistema. Calcularam-se as poupanças anuais que os sistemas proporcionam. Não foi feito um orçamento da instalação do sistema, assim este estudo não garante a viabilidade económica da instalação do sistema. No entanto calculou-se o valor de investimento inicial máximo para que exista retorno do investimento em 15 anos, o que permite tomar uma decisão mais informada em relação ao investimento. Palavras chave: solar térmico, piscina, água quente sanitária, Polysun, modelação, dimensionamento, viabilidade técnica, viabilidade económica. VIII IX Índice 1 Introdução ........................................................................................................................................ 1 1.1 Enquadramento e Motivação ................................................................................................... 1 1.2 Objectivos e contributos .......................................................................................................... 1 1.3 Metodologia e estrutura ........................................................................................................... 2 2 Estado da arte .................................................................................................................................. 3 2.1 Colectores solares ................................................................................................................... 3 2.1.1 Colectores solares planos ................................................................................................... 3 2.1.2 Colectores de tubos de vácuo ............................................................................................. 8 2.1.3 Concentradores solares ...................................................................................................... 9 2.2 Campo de colectores solares ................................................................................................ 11 2.2.1 Modo de ligação dos colectores solares ........................................................................... 11 2.3 Circuito solar .......................................................................................................................... 13 2.3.1 Fluído de transferência térmica ......................................................................................... 13 2.3.2 Caudal no circuito primário ................................................................................................ 14 2.3.3 Tubagens ........................................................................................................................... 14 2.3.4 Permutador ........................................................................................................................ 15 2.3.5 Vaso de expansão ............................................................................................................. 16 2.3.6 Acessórios anti-retorno ...................................................................................................... 17 2.3.7 Purgador de ar ................................................................................................................... 17 2.3.8 Válvula de segurança ........................................................................................................ 17 2.4 Ferramentas de dimensionamento ........................................................................................ 17 2.4.1 Metodologia de Cálculo simplificado ................................................................................. 17 3 Caso deestudo (piscina do IST) .................................................................................................... 20 3.1 Descrição física ..................................................................................................................... 20 3.2 Sistema de aquecimento actual ............................................................................................ 22 3.3 Estimativas das necessidades térmicas ................................................................................ 26 3.3.1 Ocupação da piscina ......................................................................................................... 26 3.3.2 Número de banhos/consumo de AQS ............................................................................... 28 3.4 Modelo do sistema actual ...................................................................................................... 28 X 3.4.1 Parâmetros dos componentes utilizados no Polysun........................................................ 29 3.4.2 Controladores .................................................................................................................... 33 3.4.3 Resultados da simulação do modelo actual ...................................................................... 34 4 Soluções com solar térmico propostas .......................................................................................... 38 4.1 Pré-análise de soluções ........................................................................................................ 38 4.2 Configuração escolhida ......................................................................................................... 41 4.3 Componentes do sistema ...................................................................................................... 41 4.3.1 Colectores solares ............................................................................................................. 41 4.3.2 Circuito solar ...................................................................................................................... 44 4.4 Parâmetros dos componentes no Polysun ............................................................................ 48 4.4.1 Campo de colectores ......................................................................................................... 48 4.4.2 Fluído de transferência térmica ......................................................................................... 49 4.4.3 Tubagens ........................................................................................................................... 49 4.4.4 Bombas .............................................................................................................................. 50 4.4.5 Permutadores .................................................................................................................... 50 4.4.6 Caldeiras ............................................................................................................................ 50 4.4.7 Acumulador solar ............................................................................................................... 50 4.4.8 UTA .................................................................................................................................... 51 4.4.9 Edifício, piscina e consumo de AQS ................................................................................. 51 4.5 Controladores ........................................................................................................................ 51 4.6 Resultados ............................................................................................................................. 53 5 Análise de sensibilidade ................................................................................................................. 54 5.1 Orientação dos painéis .......................................................................................................... 54 5.1.1 Alterações efectuadas ao sistema para utilização do campo de colectores com orientação de 35º 56 5.1.2 Resultados do sistema com campo de colectores com orientação de 35º ....................... 57 5.2 Inclinação dos painéis ........................................................................................................... 58 5.3 Quantidade de painéis em série ............................................................................................ 59 5.4 Volume do acumulador .......................................................................................................... 60 5.5 Simulação de um sistema com as variações mais benéficas ............................................... 60 6 Análise financeira ........................................................................................................................... 62 6.1 Redução na despesa anual em gás natural .......................................................................... 62 XI 6.2 Aumento na despesa anual de energia eléctrica .................................................................. 62 6.3 Investimento inicial máximo recomendado ........................................................................... 63 7 Conclusões e trabalhos futuros ...................................................................................................... 65 8 Referências bibliográficas .............................................................................................................. 67 XII Lista de Figuras Figura 1 - Vista explodida de um colector solar de placa plana.............................................................. 4 Figura 2- Comparação da eficiência de um painel de baixa temperatura com a de um painel de alta temperatura ............................................................................................................................................. 7 Figura 3- Comparação da eficiência de um painel solar plano com e sem cobertura. ........................... 8 Figura 4- Principio de funcionamento do tubo de calor ........................................................................... 9 Figura 5- Corte transversal de um CPC da Ao Sol ............................................................................... 10 Figura 6 - Painéis solares ligados em série .......................................................................................... 11 Figura 7 - Painéis solares ligados em paralelo ..................................................................................... 12 Figura 8 - Painéis solares montados em paralelo de canais ................................................................ 13 Figura 9 - Montagem do vaso de expansão na aspiração da bomba ................................................... 16 Figura 10 - Distancia de sombreamento entre fileiras de colectores solares ....................................... 19 Figura 11 - Localização do pavilhão da piscina .................................................................................... 20 Figura 12 - Dimensões do telhado ........................................................................................................ 21 Figura 13 - Representação das obstruções solares no telhado............................................................ 22 Figura 14 - Esquema do sistema de aquecimento actualmente instalado ........................................... 23 Figura 15 - depósito de AQS 216P 2000 .............................................................................................. 25 Figura 16 - Configuração do modelo do sistema actual criado e identificação dos tubos do sistema . 29 Figura 17- Parâmetros do edifício da piscina ........................................................................................ 31 Figura 18- Parâmetros da piscina......................................................................................................... 32 Figura 19- Parâmetros do consumo de AQS ........................................................................................ 32 Figura 20- Identificação dos controladores e dos componentes que accionam ................................... 33 Figura 21 – Parâmetros do consumo de AQS ajustados ...................................................................... 36 Figura 22 – Sistema solar 1................................................................................................................... 38 Figura 23 – Sistema solar 2................................................................................................................... 39 Figura 24 - Sistema solar 3 ................................................................................................................... 39 Figura 25 - Sistema solar 4 ................................................................................................................... 40 Figura 26 - Sistema solar 5 ................................................................................................................... 40 Figura 27 - Configuração do sistema solar térmico desenvolvido no Polysun ..................................... 41 Figura 28 - Área útil do telhado ............................................................................................................. 42 Figura 29 - Sombreamento total nos painéis e percurso do sol (31 de Dezembro) ............................. 44 Figura 30 - Configuração dos painéis no telhado ................................................................................. 44 Figura 31 - Perda de carga no painel EM2V/2,0 ................................................................................... 45 Figura 32 - Ligação dos painéis em paralelo e comprimento dos segmentos de tubagem até ao painel mais distante ......................................................................................................................................... 46 Figura 33 - Cálculo do vaso de expansão ............................................................................................. 48 Figura 34 - Parâmetros do campo de colectores .................................................................................. 49 Figura 35 - Parâmetros do fluído de transferência térmica ................................................................... 49 XIII Figura 36 - Identificação dos tubos do sistema ..................................................................................... 49 Figura 37 - Parâmetros da piscina com capa........................................................................................ 51 Figura 38 - Identificação dos controladores do sistema solar e dos componentes que accionam....... 52 Figura 39 - Sombreamentos no campo de colectores orientado a 35º ................................................. 55 Figura 40 - Sombreamentos no campo de colectores orientado a -55º................................................ 55 Figura 41 - Consumo de combustível anual do sistema para diferentes ângulos de inclinação .......... 58 Figura 42 - Variação do consumo de combustível com o aumento do volume do acumulador ........... 60 XIV Lista de Tabelas Tabela 1 - Vantagens e desvantagens de diferentes modelos de absorsor ........................................... 4 Tabela 2 - Tipos de caixas ...................................................................................................................... 5 Tabela 3 - Características dos painéis de alta e baixa temperatura utilizados ....................................... 6 Tabela 4 - Características dos painéis com e sem cobertura utilizados ................................................. 7 Tabela 5 - Vantagens e desvantagens da ligação em série ................................................................. 12 Tabela 6 - Vantagens e desvantagens da ligação em paralelo ............................................................ 12 Tabela 7 - Vantagens e desvantagens da ligação em paralelo de canais ............................................ 13 Tabela 8 - Temperatura de fusão da mistura para diferentes concentrações (mássicas) de propanediol na água .................................................................................................................................................. 14 Tabela 9 - Principais vantagens e desvantagens dos permutadores externos em relação aos internos ............................................................................................................................................................... 15 Tabela 10 - Inclinação de referência para painéis ................................................................................ 18 Tabela 11 - Coordenadas geográficas do pavilhão da piscina ............................................................. 20 Tabela 12 - Principais dimensões do pavilhão da piscina, da piscina e número de duches nos balneários ............................................................................................................................................................... 20 Tabela 13 - Características técnicas das caldeiras 1, 2 e 3 .................................................................. 22 Tabela 14 - Características técnicas das bombas hidráulicas de circulação ........................................ 23 Tabela 15 - Características técnicas do permutador de placas AQS ................................................... 24 Tabela 16 - Características técnicas do depósito de AQS .................................................................... 25 Tabela 17 - Características técnicas da UTA ........................................................................................ 25 Tabela 18 - Características das tubagens ............................................................................................. 25 Tabela 19 - Utilização da piscina medida em período de aulas............................................................ 26 Tabela 20 - Perfil de utilização da piscina utilizado e generalização para dia útil ................................ 27 Tabela 21 - Perfil de consumo de AQS diário (hora a hora) ................................................................. 28 Tabela 22 - Principais parâmetros das tubagens .................................................................................. 29 Tabela 23 - Principais parâmetros das bombas de circulação ............................................................. 30 Tabela 24 - Permutadores de calor utilizados ....................................................................................... 30 Tabela 25 - Parâmetros da caldeira "a gás 200kW" alterados ............................................................. 30 Tabela 26 - Parâmetros do acumulador do programa que foram alterados ......................................... 30 Tabela 27 - Parâmetros da "ventoinha com quatro tubos 7" alterados................................................. 31 Tabela 28 - Descrição das funções dos controladores ......................................................................... 33 Tabela 29 - Comparação do consumo de combustível real (2014) com o do modelo ......................... 34 Tabela 30 - Ajustes mensais ao consumo de AQS ............................................................................... 35 Tabela 31 - Consumo de combustível do modelo e comparação com o real ....................................... 36 Tabela 32 - Consumo de energia auxiliar (gás natural e electricidade) anual dos sistemas ................ 40 Tabela 33 – Características técnicas do painel EM2V/2.0 Al-Cu da Ensol .......................................... 43 Tabela 34 - Distancia mínima entre fileiras ...........................................................................................43 XV Tabela 35 - Cálculo de propriedades do fluído ..................................................................................... 46 Tabela 36 - Cálculo das perdas por fricção nos segmentos até ao painel mais afastado .................... 46 Tabela 37 - Cálculo do comprimento de tubagem equivalente das perdas localizadas (Zeta) ............ 47 Tabela 38 - Perdas de carga no circuito ............................................................................................... 47 Tabela 39 - Parâmetros dos tubos do sistema...................................................................................... 50 Tabela 40 - Parâmetros do acumulador do programa que foram alterados ......................................... 51 Tabela 41 - Descrição das funções dos controladores do sistema solar .............................................. 52 Tabela 42 - Comparação dos consumos de combustível obtidos na simulação do sistema solar com os do modelo do sistema actual e o real, medido em 2014 ....................................................................... 53 Tabela 43 - Numero máximo de painéis para as orientações de 35º e -55º ......................................... 54 Tabela 44 - Comparação de alguns resultados da simulação do sistema com campo de colectores orientado a 0º, 35º e -55º ...................................................................................................................... 55 Tabela 45 - Resultados do sistema 2 .................................................................................................... 57 Tabela 46 - Consumo de combustível anual para vários ângulos de inclinação .................................. 58 Tabela 47 - Caudal mínimo, máximo e recomendado para o colector EM2V/2.0 Al-Cu ...................... 59 Tabela 48 - Verificação e escolha de caudais....................................................................................... 59 Tabela 49 - Resultados das simulações efectuadas para montagens de 2 e de 4 painéis em série ... 59 Tabela 50 - Combinação de variações escolhida ................................................................................. 61 Tabela 51 - Resultados do sistema 3 .................................................................................................... 61 Tabela 52 - Redução dos custos em gás natural prevista cada sistema .............................................. 62 Tabela 53 - Aumento da despesa de energia eléctrica prevista para cada sistema ............................ 62 Tabela 54 - Tabela de cálculo de cash flow .......................................................................................... 63 Tabela 55 - Valor máximo de investimento recomendado e poupanças por ano para cada sistema .. 64 XVI Lista de Abreviaturas AEIST – Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico AQS – Água(s) quente(s) sanitária(s) CPC – Colector Parabólico Composto ERSE – Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos FPC – Flat Plate Colector (colector solar plano) GEE – Gases de efeito de estufa IST – Instituto Superior Técnico PTC – Parabolic-Trough Colector (Colector cilindro-parabólico) UTA – Unidade de Tratamento de Ar 1 1 Introdução 1.1 Enquadramento e Motivação O aumento da população e o desenvolvimento exponencial de novas tecnologias traduziram-se em necessidades energéticas cada vez mais elevadas e, por consequência, emissões de GEE também muito elevadas. Torna-se então essencial reduzir o consumo de energias provenientes de combustíveis fósseis. As principais formas de atingir este objectivo passam por aumentar a eficiência energética dos sistemas e a utilização de fontes de energia alternativas, em particular energias renováveis. Para além da redução das emissões, o investimento nas energias renováveis permite actualmente, em muitos casos, uma vantagem financeira muito interessante. Sendo um país com uma exposição solar privilegiada, Portugal possui condições muito favoráveis à utilização da energia solar, pelo que esta é uma fonte de energia que deve ser aproveitada, tanto para produção de electricidade como para a produção de calor. A elevada incidência de radiação solar, permite a instalação de sistemas de aproveitamento térmico que reduzam substancialmente, ou até que substituam, o consumo de combustíveis fósseis para aquecimento de AQS. No campus Alameda do IST o aquecimento da piscina, AQS e tratamento do ar do pavilhão da AEIST é responsável por um consumo considerável de gás natural. Em 2014 foi medido um consumo total de 48362,04 m3 de gás natural. Actualmente, a piscina encontra-se encerrada, pois tem sido difícil encontrar uma solução de exploração eu seja economicamente viável. Assim, a instalação de um sistema solar térmico poderá ser uma forma de reduzir este consumo, reduzindo simultaneamente as emissões e os custos monetários associados. Assim a instalação de um sistema solar poderá, também, facilitar a reabertura da piscina, um serviço que melhora a qualidade de vida da comunidade do IST e a envolvente. Um sistema solar no IST é uma estratégia ambiental que seria certamente reconhecida publicamente o que também pode ser um factor positivo a considerar. Seria também um bom exemplo a seguir para outras instituições. 1.2 Objectivos e contributos Este trabalho tem como objectivo o dimensionamento e o estudo da a viabilidade técnica e financeira de um sistema solar térmico no pavilhão da AEIST de forma a reduzir a quantidade de combustível que é consumido no aquecimento da água da piscina, das AQS e no tratamento do ar do pavilhão. 2 Pretende-se encontrar soluções que sejam técnica e financeiramente mais viáveis, comparar os seus resultados e realizar uma análise de sensibilidade aos factores variáveis, contribuindo para que uma decisão informada possa ser tomada. 1.3 Metodologia e estrutura De forma a cumprir os objectivos será utilizado o seguinte método: -Recolha dos dados disponíveis acerca do caso em estudo; -Criação de um modelo do sistema de aquecimento actual numa ferramenta de dimensionamento de sistemas solares térmicos; -Validação do modelo; -Teste de soluções com solar térmico no modelo criado. Esta tese encontra-se estruturada da seguinte forma: neste primeiro capítulo foi introduzida a motivação e os objectivos da dissertação. No segundo capítulo é revisto o estado da arte em termos de tecnologias para aquecimento de águas quentes sanitárias em piscinas e das ferramentas de análise. No Capítulo 3 é apresentado o caso de estudo e da metodologia de análise, com validação do modelo de referência. No Capítulo 4 são apresentadas possíveis soluções para o aquecimento de águas na piscina e no Capítulo 5 é feita uma análise de sensibilidade às soluções. No capítulo 6 é feita uma avaliação financeira às soluções. O Capítulo 7 apresenta as principais conclusões do trabalho. 3 2 Estado da arte 2.1 Colectores solares Os colectores de energia solar são os componentes principais dos sistemas solares térmicos. São equipamentos que absorvem energia da radiação solar incidente, convertem-na em calor e transferem este calor para um fluído (geralmente água, uma mistura de água e anticongelante, ar ou óleo) que corre no interior do absorsor. Existem diversos tipos de colector solar, mas em qualquer uma das variadas soluções construtivas, existe um absorsor e um fluido circulante. Os parâmetros mais relevantes para a análise do desempenho do painel são [1]: -Eficiência do colector (𝜂). Razão entre a energia convertida em calor e a radiação incidente no colector; -Eficiência óptica (𝜂𝑜). Percentagem de radiação incidente no colector que pode ser convertida em calor. É dada pelo produto da transmissividade da cobertura com o coeficiente de absorção do absorsor (𝜂𝑜 = 𝜏 𝛼); -Factor de perda de calor (𝜂𝑘).Percentagem de calor perdido devido ao desenho e isolamento térmico do aparelho. Depende da diferença de temperatura entre o absorsor e o meio ambiente; -Temperatura de estagnação. Temperatura máxima que o absorsor pode atingir. Acontece quando as temperaturas das perdas térmicas são iguais ao calor absorvido. 2.1.1 Colectores solares planos São os colectores mais utilizados graças à sua versatilidade. Na Figura 1 está representada a vista explodida de um colector solar plano típico [2]. 4 Figura 1 - Vista explodida de um colector solar de placa plana Neste tipo de colector a placa absorsora encontra-se dentro de uma caixa com cobertura transparente e isolamento térmico. A maior ou menor eficiência de um painel solar plano deve-se essencialmente às propriedades radiactivas da superfície absorsora, do tipo de cobertura transparente, do isolamento térmico e do percurso do fluido dentro do painel. Os isolamentos mais utilizados são a lã de rocha e a lã de vidro cujas propriedades mecânicas não sofrem alterações quando sujeitos a temperaturas da ordem de 150 °C, valor próximo da temperatura de estagnação deste tipo de painéis. Existem vários modelos de placas absorsoras. Na Tabela 1 encontram-se alguns modelos de absorsores e as suas principais vantagens e desvantagens [3]. A tubagem existente em alguns modelos de absorsor é normalmente de cobre visto que é um material muito bom condutor de calor. Tabela 1 - Vantagens e desvantagens de diferentes modelos de absorsor Modelo de absorsor Ilustração Vantagens Desvantagens Absorsor Roll-bond Boas propriedades térmicas, separação de materiais – reciclagem simplificada Sujeito a corrosão do alumínio em contacto com o tubo de cobre Faixa absorsora com tubo de cobre soldado Tamanho flexível e barato Muitos pontos de soldadura Absorsor com sistema de tubo prensado entre duas folhas de metal Separação de materiais – reciclagem simplificada Custo elevado de produção por causa das ligações Absorsor com sistema de tubos “clipados” Tamanho flexível – taxa de escoamento flexível Baixa optimização de transferência de calor 5 Absorsor de escoamento total em aço inoxidável Optimização do calor para o liquido Peso elevado e elevada inércia térmica Absorsor em serpentina Dois pontos soldados no sistema de tubos Elevadas perdas de pressão em relação ao absorsor de superfície total Absorsor de superfície total Baixas perdas de pressão em relação ao absorsor em serpentina Muitos pontos de soldadura no sistema de tubos, preço elevado A caixa do colector pode ser de plástico, alumínio, aço ou madeira envernizada. Na Tabela 2 [3] comparam-se algumas características das caixas de diferentes materiais. Tabela 2 - Tipos de caixas Caixa Alumínio Aço Plástico Madeira envernizada Peso Baixo Elevado Médio Elevado Construção Fácil Fácil Médio Difícil Consumo energético Elevado Baixo Médio Baixo Custo Elevado Baixo Baixo Médio Outros Aumento do tempo de recuperação energética e reciclável Raramente utilizado Pouco utilizado Material ecológico, apenas instalações integradas no telhado O material mais utilizado para a cobertura é o vidro com baixo teor de ferro, visto que transmite até 90% da irradiação solar de curto comprimento de onda incidente enquanto que é praticamente opaca à radiação de longo comprimento de onda que é emitida pela placa absorsora. O vidro pode ainda receber tratamentos superficiais de textura e revestimentos anti-reflexo que permitem melhorar a transmissividade de forma significativa. Coberturas de plástico, mais leves e baratas que o vidro, também podem ser utilizadas em algumas aplicações. Possuem transmissividades elevadas para comprimentos de onda curtos, mas normalmente possuem também transmissividades relativamente elevadas para longos comprimentos de onda (transmissividade pode atingir 0.40 para comprimentos de onda longos). Os plásticos estão também muito mais limitados do que o vidro nas temperaturas que podem suportar sem se deteriorar ou alterar as suas dimensões. A placa colectora deverá absorver o máximo de irradiação que for possível, e transferir o calor retido para o fluído de transporte, com o mínimo de perdas possível. Os materiais mais utilizados são o cobre, o alumínio e o aço inoxidável. Para aplicações de baixas temperaturas também são utilizados plásticos resistentes a radiação ultravioleta. A absortância da placa colectora para radiação solar depende da qualidade da superfície e da sua cor, sendo normalmente utilizada a cor preta. 6 A superfície da placa colectora pode receber revestimentos que permitem elevados coeficientes de absorção (α) para a radiação solar (pequenos comprimentos de onda) e baixos valores de emissividade (ε) para a radiação própria (longos comprimentos de onda). No revestimento selectivo, que consiste em duas camadas de material com propriedades ópticas diferentes, podem ser utilizados diferentes princípios de funcionamento. Por um lado, pode ser utilizado um revestimento com elevado coeficiente de absorção solar e elevada transmissividade de infravermelhos sobre uma superfície muito reflectiva com baixa emissividade. Por outro lado, pode ser aplicado um revestimento com elevada transmissividade solar e com uma elevada reflectividade de infravermelhos (espelho de calor) sobre um material com elevado coeficiente de absorção. [2] Estes tratamentos especiais permitem a produção de colectores mais eficientes para altas temperaturas (painéis de alta temperatura) relativamente aos painéis solares planos sem tratamentos especiais (painéis de baixa temperatura). Na Figura 2 pode ser observada a comparação entre um colector solar plano de baixa temperatura e um de alta temperatura, para uma radiação incidente de 900 W/m2. As características dos painéis encontram-se na Tabela 3. É possível observar que o painel de baixa temperatura apresenta uma melhor eficiência se a diferença entre a temperatura do painel e a do ar exterior for inferior a 22,5 °C. Se se pretender, por exemplo, uma temperatura no painel 45 °C superior à do ar, o painel de baixa temperatura apresenta uma eficiência de 61% enquanto que que o de alta temperatura apresenta 67% de eficiência. Se a temperatura do painel for de 90 °C e a do ar exterior for 20 °C as eficiências reduzem-se para 50% e 63% respectivamente, uma diferença bastante significativa. [1] Tabela 3 - Características dos painéis de alta e baixa temperatura utilizados Painel Eficiência óptica, 𝜼𝟎 Coeficiente de perdas, 𝒂𝟏 Alta temperatura 0,73 1,3 𝑊/𝑚2. 𝐾 Baixa temperatura 0,79 3,7 𝑊/𝑚2. 𝐾 7 Figura 2- Comparação da eficiência de um painel de baixa temperatura com a de um painel de alta temperatura 2.1.1.1 Colector solar plano sem cobertura São os colectores mais simples e são compostos apenas pelo absorsor. Têm uma eficiência óptica elevada, geralmente superior a 0,9, mas um coeficiente de perdas térmicas muito elevado, próximo de 10 𝑊/𝑚2. 𝐾 ou superior. Assim, este tipo de colector é pouco eficiente quando se pretende aquecer o fluido térmico a temperaturas elevadas. Tem, no entanto, a vantagem de ser de fácil aplicação e bastante económico, em relação aos outros colectores. Os colectores sem cobertura são, portanto, apropriados para aplicações de temperaturas baixas, próximas da temperatura ambiente (piscinas, por exemplo) em que as perdas térmicas são baixas e a eficiência do colector é próxima da eficiência óptica do mesmo. Tal pode ser verificado comparando o desempenho de um painel sem cobertura com um painel solar plano, como indicado na Figura 3, para uma radiação solar incidente de 900 𝑊/𝑚2. As características dos painéis encontram-se na Tabela 4. Neste caso pode observar-se que, para diferenças de temperatura entre o painel e o ar ambienteinferiores a cerca de 14°C, o painel simples é mais eficiente que o painel plano com cobertura. [1] Tabela 4 - Características dos painéis com e sem cobertura utilizados Painel Eficiência óptica, 𝜼𝟎 Coeficiente de perdas, 𝒂𝟏 Sem cobertura 0,95 14 𝑊/𝑚2. 𝐾 Com cobertura 0,79 3,7 𝑊/𝑚2. 𝐾 0.4 0.45 0.5 0.55 0.6 0.65 0.7 0.75 0.8 0.85 0.9 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 E fi c iê n c ia Diferença de temperatura (°C) Painel de baixa temperatura Painel de alta temperatura 8 Figura 3- Comparação da eficiência de um painel solar plano com e sem cobertura. 2.1.2 Colectores de tubos de vácuo Este tipo de colector consiste num painel formado por um conjunto de tubos de vidro que contêm no seu interior o tubo onde circula o fluído. O tubo interior é de cor escura para absorver a radiação solar e o exterior é transparente à radiação solar e opaco à radiação própria. O espaço entre os dois tubos é evacuado, normalmente abaixo dos 10-5 bar, reduzindo as perdas térmicas visto que não existe convecção entre os dois tubos, ou seja, as perdas de calor entre o fluído térmico e o ar exterior são apenas radiactivas. [1] Comparando com os colectores solares planos, os tubos de vácuo apresentam uma eficiência óptica um pouco mais baixa devido á forma do tubo (0,6 < 𝜂0 < 0,8). Por outro lado, possuem um valor global de perdas térmicas inferior aos colectores planos (𝑎1 < 1,5 𝑊/𝑚 2. 𝐾). Estes sistemas permitem atingir- se temperaturas próximas dos 100 °C e a temperatura de estagnação é de cerca de 200 °C. [1] Existem dois tipos de colectores de tubos de vácuo: tubos com fluxo directo e tubos com separação de fluídos. No primeiro caso, o fluído térmico que circula no interior dos tubos é o mesmo que circula no resto sistema. O fluído pode circular através de um tubo simples em “U” ou através de tubos concêntricos, em que o fluído frio entra no tubo exterior e retorna quente no tubo interior. No segundo caso, cada tubo de vácuo tem no seu interior um tubo de calor (cujo funcionamento é descrito no ponto seguinte) e o fluído que circula no interior de cada tubo não entra em contacto com o fluído que circula no resto do sistema. [1] O colector de tubos de calor utiliza a fenómenos de mudança de fase liquido-vapor de materiais para transferir calor com elevada eficácia. Na Figura 4 [2] observa-se o esquema de funcionamento de um colector de tubos de calor. Neste tipo de colector, cada tubo de calor (deverá ser de um material condutor térmico de alta eficiência), é colocado dentro de um tubo evacuado transparente. O tubo de calor está normalmente ligado a uma placa absorsora que preenche o tubo evacuado. O tubo de calor 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 E fi c iê n c ia Diferença de temperatura (°C) Coletor sem cobertura Colector com cobertura 9 contem um fluído (por exemplo metanol) que irá sofrer uma evaporação-condensação cíclica. Numa das extremidades (zona quente) o fluído evapora ao receber o calor da radiação solar e desloca-se, por difusão, até á outra extremidade (zona fria). Na zona fria o fluído condensa libertando o seu calor latente. Após a condensação o fluído migra, por efeito da gravidade ou por capilaridade (dependendo da posição dos tubos), para a zona quente completando assim o ciclo. Nesta circulação do fluído a energia que provocou a evaporação numa das extremidades é, portanto, transportada para a outra extremidade, libertando-se quando ocorre a condensação. A extremidade onde ocorre a condensação está inserida na tubagem do painel onde circula o fluído térmico, pelo que o calor libertado na condensação é transferido para o fluído térmico durante a sua passagem pelo painel. [2] Por não existir evaporação ou condensação a temperaturas superiores à temperatura de mudança de fase, o tubo de calor possui uma protecção inerente contra o sobreaquecimento e o congelamento. Este autocontrolo de limite de temperatura é uma característica exclusiva aos colectores de tubos de calor [2]. Em relação aos FPCs, estes colectores podem trabalhar a temperaturas mais elevadas e com bom desempenho. Também absorvem tanto a radiação directa como a difusa, no entanto os tubos de calor possuem uma maior eficiência para pequenos ângulos de incidência do que os FPCs, o que é uma vantagem em termos do desempenho diário do colector. Figura 4- Principio de funcionamento do tubo de calor 2.1.3 Concentradores solares 10 2.1.3.1 Colectores parabólicos compostos (CPCs) A tecnologia destes colectores foi desenvolvida com o objectivo de reduzir as perdas térmicas existentes nos colectores planos e baseia-se na redução da área de absorção, em comparação com a área de captação da radiação solar. Estes colectores têm um aspecto exterior e dimensões semelhantes aos colectores solares planos. No interior apresentam uma superfície reflectora que, num corte transversal, é constituída por duas parábolas como se pode observar na Figura 5. O ângulo de abertura das superfícies reflectoras permite captar a radiação incidente numa vasta gama de ângulos assim como grande parte da radiação difusa. A configuração da superfície reflectora permite, através de múltiplas reflexões internas, concentrar a radiação, direccionando-a para o absorsor. O absorsor pode apresentar diversas configurações: pode ser cilíndrico (um tubo evacuado, por exemplo) ou pode ser semelhante a uma placa absorsora de um colector solar plano, como o apresentado na Figura 5. [3] Figura 5- Corte transversal de um CPC da Ao Sol Comparando com o colector solar plano, o CPC apresenta uma eficiência óptica semelhante (𝜂0 na ordem dos 0,70) mas possui um melhor isolamento térmico (𝑎1 < 3,5 𝑊/𝑚 2. 𝐾). Tem uma elevada eficiência com baixa radiação, mantem uma elevada eficiência com elevadas diferenças de temperaturas entre o absorsor e o ar exterior. Funciona com elevadas temperaturas sendo que a temperatura de estagnação ultrapassa os 200 °C. A principal desvantagem em relação ao colector plano é o preço ser mais elevado. [3] 2.1.3.2 Colectores cilindro-parabólicos (PTC) Este tipo de colector solar concentra a radiação solar incidente na superfície parabólica reflectora numa linha de foco ao longo do eixo do colector. Na linha de foco é instalado um tubo receptor no interior do qual circula o fluido que irá absorver a radiação concentrada através das paredes do tubo. Estes colectores possuem um sistema de seguimento solar de um eixo e apenas utiliza a radiação solar directa. [4] 11 As centrais de energia solar concentrada são a principal aplicação dos PTCs, alimentando um ciclo de vapor para produção de electricidade. Utilizam-se rácios de concentração geométrica entre 20 e 30, atingindo-se temperaturas entre 300 e 400 °C. [4] Os PTCs são também utilizados em aplicações que requerem temperaturas entre 100 e 250 °C. As aplicações deste tipo são o aquecimento de processos industriais, refrigeração e quando existem necessidades térmicas de baixa temperatura com uma taxa de consumo muito elevada (1900l/dia no mínimo), como as AQS e o condicionamento do ar ambiente de grandes infra-estruturas (hospitais, escolas, instalações desportivas, prisões, etc.) ou aquecimento de piscinas de grande dimensão. São normalmente utilizados rácios de concentração geométrica entre 15 e 20. Neste tipo de aplicações, as vantagens dos PTCs em relação aos colectores tradicionalmente utilizados para aquecimento de água são as menores perdas térmicas, e portanto a maior eficiência, a temperaturas de funcionamento mais elevadas, uma menor área de colectores necessária para a mesma potência e o facto de não existir o risco de se atingir temperaturas de estagnação perigosas, visto que o sistema de controlo pode colocar o colector numa posição fora de foco. As desvantagens são o maior custo de instalação emanutenção devido ao sistema de seguimento solar e também a necessidade de limpar os componentes. O facto dos PTCs apenas utilizarem radiação solar directa cria também uma limitação geográfica à sua instalação e em situações de elevada velocidade do vento pode ser necessário colocar os colectores numa posição fora de foco, interrompendo a produção. Estudos realizados utilizando dados de instalações deste tipo concluem que a eficiência geral média do campo solar é de cerca de 40%, com um pico de eficiência máxima de 60%. [4] 2.2 Campo de colectores solares 2.2.1 Modo de ligação dos colectores solares Numa instalação solar térmica que utilize mais do que um painel solar, a ligação dos painéis entre si e à tubagem deverá potenciar o rendimento dos painéis, e sempre que possível deverá ser concebida de tal modo que fique hidraulicamente equilibrada sem que para isso seja necessário o recurso a órgãos de equilibragem. Existem três modos de ligação dos painéis entre si: em série, em paralelo e em paralelo de canais. 2.2.1.1 Ligação em série Na ligação em série, representada na Figura 6, o fluído térmico percorre todos os painéis, um após o outro. Figura 6 - Painéis solares ligados em série 12 Este tipo de montagem implica que apenas o primeiro painel da série recebe fluído à temperatura mais baixa do circuito primário, os painéis seguintes recebem fluído térmico pré-aquecido pelos painéis anteriores. Isto significa que o primeiro painel terá melhor rendimento que o segundo, o segundo melhor rendimento que o terceiro, etc. A perda de carga total dos painéis será igual à soma da perda de carga em cada um dos painéis, mais a perda de carga nas linhas de ligação. Na Tabela 5 estão resumidas as principais vantagens e desvantagens deste tipo de ligação. [1] Tabela 5 - Vantagens e desvantagens da ligação em série Vantagens Desvantagens Adapta-se a qualquer tipo de colector Baixo rendimento Baixo custo de instalação Elevados custos com energia de apoio Instalação simples Número de colectores montados em série limitado (por perda de carga elevada) 2.2.1.2 Ligação em paralelo Na ligação em paralelo, representada na figura, cada painel trabalha de forma independente, sendo percorrido pelo seu caudal nominal. Figura 7 - Painéis solares ligados em paralelo Este tipo de montagem implica que, se todos os painéis forem iguais, todos os painéis recebem fluído térmico à temperatura mais baixa do circuito primário, o que significa que terão todos o mesmo ΔT e o mesmo rendimento. A perda de carga total será igual à soma da perda de carga de um dos painéis com a perda de carga nas linhas de ligação ao painel mais afastado da origem. Na Tabela 6 estão resumidas as vantagens e as desvantagens deste tipo de ligação. [1] Tabela 6 - Vantagens e desvantagens da ligação em paralelo Vantagens Desvantagens Adapta-se a qualquer tipo de colector Instalação medianamente complexa Perda de carga baixa Bom rendimento térmico Custos de ligação mais elevados que na ligação em série Custos com energia de apoio reduzidos Número ilimitado de colectores montados em paralelo 13 2.2.1.3 Ligação em paralelo de canais Na ligação em paralelo de canais o fluído térmico percorre todos os painéis da forma representada na Figura 8. Figura 8 - Painéis solares montados em paralelo de canais Este tipo de montagem é uma variação da ligação em paralelo que apenas alguns colectores permitem, e não permite a ligação directa de mais de quatro painéis. A perda de carga é baixa e o rendimento elevado. Na estão resumidas as vantagens e desvantagens deste tipo de ligação. [1] Tabela 7 - Vantagens e desvantagens da ligação em paralelo de canais Vantagens Desvantagens Perda de carga baixa Não se podem ligar mais de quatro painéis, entre si Bom rendimento térmico Baixo custo de montagem Não se adapta a todos os tipos de colector Custos com energia de apoio reduzidos Instalação simples de executar 2.3 Circuito solar 2.3.1 Fluído de transferência térmica O fluído de transferência térmica transporta o calor produzido nos colectores para o seu destino. A água é, normalmente, o principal constituinte do fluído de transferência térmica pois possui as propriedades necessárias [3]: • Capacidade térmica elevada; • Condutividade térmica elevada; • Baixa viscosidade; • Baixo preço; • Não entra em combustão. A temperatura do fluído de transferência pode atingir temperaturas negativas durante a noite o que prova problemas devido ao congelamento da água. Para aumentar o intervalo de temperaturas em que a água se encontra no estado liquido é adicionado anticongelante, normalmente glicol. Desta forma baixa-se o ponto de congelamento e aumenta-se a temperatura de ebulição da mistura. No entanto a adição de glicol tem efeitos negativos nas propriedades do fluído de transferência térmica [3]: 14 • Diminuição da capacidade térmica; • Redução da condutividade térmica; • Aumento da viscosidade; • Aumento da expansão térmica; • Aumento da fricção; • Aumento do efeito corrosivo. Devido ao aumento de efeito corrosivo da água, é ainda necessária a adição de inibidores de acordo com os materiais específicos da instalação. [3] Importa ainda referir que a mistura água/glicol com inibidores líquidos satisfaz o requisito de biodegradabilidade de não ser tóxico nem irritante. [3] As temperaturas de fusão da mistura, no caso da utilização de um propanediol, ou propileno glicol, encontram-se na Tabela 8. [5] Tabela 8 - Temperatura de fusão da mistura para diferentes concentrações (mássicas) de propanediol na água Concentração (%) Temperatura de fusão (°C) 15 -5,0 25 -10,0 35 -16,6 45 -26,2 2.3.2 Caudal no circuito primário Segundo manual “energia solar térmica”, recomendam-se caudais elevados para que se obtenha uma boa eficiência dos colectores. Para um sistema solar para habitação de uma ou duas famílias é referido o valor de 40 l/h por metro quadrado de superfície de colector como ideal. Já para o aquecimento de piscinas é recomendado um caudal volumétrico entre os 80 e os 110 l/h por metro quadrado de superfície de absorsor. [3] 2.3.3 Tubagens Em sistemas solares são frequentemente utilizadas tubagens de aço inox, aço negro, aço galvanizado, cobre, e de materiais plásticos. As tubagens de cobre são as mais utilizadas no transporte de calor entre os colectores solares e os acumuladores por sere um material economicamente competitivo e tecnicamente adequado. O cobre é resistente à corrosão dos líquidos de transferência térmica e também dos agentes exteriores. É um material que, graças a sua maleabilidade e ductilidade, permite ser dobrado, o que permite a execução de traçados complicados e evitar alguns elementos de ligação. [3] O diâmetro da tubagem é muito importante visto que influencia directamente a velocidade do escoamento e, portanto, as perdas de pressão nas linhas de ligação. Devem tentar manter-se as perdas 15 de pressão tão baixas quanto possível, especialmente em instalações solares, nas quais a eficiência do sistema é normalmente uma prioridade face aos custos. Para manter a perda de pressão baixa é necessário manter a velocidade de escoamento abaixo dos 0,7m/s. [3] Em sistemas solares, a tubagem deve ter um isolamento térmico que permita minimizar as perdas no transporte de energia. Para tubagens de cobre até 18x1 recomenda-se um mínimo de 30 mm de espessura de isolamento, para dimensões superiores um mínimo de 40 mm. O material utilizado deve ter uma condutividade térmica de 𝐾 ≤ 0,0035 𝑊/𝑚𝐾. [3] 2.3.4 Permutador Num sistema solar é necessário um permutador de calor para a transferência do calor transportado no circuito primário para o acumulador. Os permutadores de calor podem ser diferenciados entre externos e internos. [3] Os permutadores internos podem ser tubulares lisosou tubulares com alhetas. Os permutadores tubulares lisos possuem uma maior capacidade de troca de calor por metro quadrado de superfície de transferência de calor. No entanto, os tubulares com alhetas têm uma superfície de contacto maior por comprimento de tubo, sendo o seu design compacto vantajoso para utilizar em tanques de armazenamento compacto. A instalação dos permutadores é feita na vertical, promovendo o efeito de estratificação térmica no acumulador. As ligações devem ser feitas de modo a que o fluido de transferência térmica percorra o permutador de cima para baixo, de modo a optimizar a transferência de calor. [3] Os permutadores de calor externos podem ser de placas ou tubulares. As ligações devem ser feitas de modo a que o fluxo entre os dois líquidos seja feito em contra corrente, normalmente com o liquido mais quente a percorrer o permutador de cima para baixo. Os permutadores externos devem ser bem isolados termicamente. Na Tabela 9 estão resumidas algumas vantagens e desvantagens dos permutadores de externos, em relação aos internos. [3] Tabela 9 - Principais vantagens e desvantagens dos permutadores externos em relação aos internos Vantagens Desvantagens Capacidade de transferência de calor mais elevada Preço mais elevado Raramente existe redução devido ao calcário Necessidade de uma bomba adicional na parte secundária do circuito Possibilidade de utilização de um permutador para vários acumuladores Alguns permutadores externos de placas têm ainda a particularidade de poderem ser adaptados ás necessidades aumentando ou diminuindo o número de placas do permutador. 16 O permutador externo de placas e o interno (serpentina) são os de utilização mais comum nas instalações solares, tendo valores de eficácia tipicamente de 0,75 e 0,55 respectivamente. Para volumes de acumulação a partir dos 3000L recomenda-se a utilização de permutadores externos. A potência do permutador recomendada é, tipicamente, de 750 W/m2 de superfície colectora. [6] 2.3.5 Vaso de expansão Trata-se de um recipiente de metal fechado que tem no seu interior uma membrana flexível que separa dois meios: um gás (normalmente nitrogénio) que está a uma pressão pré-estabelecida; o fluído de transferência térmica que entra no vaso de expansão devido ao aumento de volume quando aquecido. [3] O vaso de expansão tem o objectivo de absorver as dilatações e contracções da água no interior do sistema hidráulico, de modo a que a pressão se mantenha dentro de um patamar pré-definido. O vaso de expansão deve ainda manter, em permanência, uma pressão constante na linha de aspiração e ao mesmo tempo garantir uma sobrepressão, em relação à atmosfera de 0,5 bar no topo da instalação. Estes princípios são a resposta mais comum entre os especialistas, mas existem aspectos adicionais a ter em conta. É mencionado que, na realidade, a parte da instalação onde se deve manter a pressão, o mais estável possível, é nos painéis. Assim o vaso de expansão deverá ser montado imediatamente antes destes. O facto de ser o local onde o fluído térmico está mais frio é altamente benéfico para a vida útil do vaso de expansão. No entanto, com esta localização perde-se, parcialmente, o controlo na pressão de aspiração da bomba. [1] Por outro lado, há quem defenda que o vaso de expansão deverá ser montado necessariamente na aspiração da bomba, no circuito de ida para os colectores, como indicado na parte esquerda da Figura 9. Caso não haja espaço pode ser montado, deve ser montado em alternativa como indicado na parte direita da Figura 9 (neste caso é absolutamente necessário a instalação de um purgador automático antes do vaso de expansão, para facilitar a evacuação de gases). [6] Figura 9 - Montagem do vaso de expansão na aspiração da bomba A forma geral de calcular o volume de água armazenada no vaso de expansão (Vexp) deve contemplar três parcelas referentes a: 1) aumento do volume de água (Ve), devido ao aquecimento desde a temperatura de referência, geralmente 10 ºC (Tmin), até à temperatura máxima de serviço do sistema (Tmax); 2) volume mínimo de água a ser armazenado no vaso e que possa fazer frente a uma fuga no sistema (Vv); 3) volume total de água contida nos painéis solares (Vk). 𝑉𝑒 = 𝛽 𝑉𝐴 (𝑇𝑚𝑎𝑥 − 𝑇𝑚𝑖𝑛) (1) 17 𝑉𝑉 ≥ 0,005 𝑉𝐴 (2) 𝑉𝑉 ≥ 3 (3) 𝑉𝑒𝑥𝑝 = 𝑉𝑒 + 𝑉𝑉 + 1,1×𝑉𝑘 (4) Na expressão (1) β representa o coeficiente de expansão do fluído térmico e VA o volume total de água contida no sistema. No caso de painéis solares em que o fluído térmico é o mesmo que percorre o resto do circuito solar, Vk deverá ser sempre considerado no dimensionamento do vaso de expansão, mas a temperatura a partir da qual se considera a formação de vapor será limitada a 110 ~ 120 ºC, pelo que normalmente se utiliza Tmax = 120 ºC. No caso dos colectores de tubos de calor, em que o fluído que percorre a instalação nunca entra dentro dos tubos de vácuo, caso se possa considerar que 𝑝0 ≤ 4 bar é suficiente para evitar a formação de vapor no interior dos painéis, devemos ignorar Vk. [1] 2.3.6 Acessórios anti-retorno Quando a bomba de circulação não está em funcionamento (nomeadamente no período da noite) é essencial que esteja instalada uma válvula anti-retorno, ou um freio de gravidade, no fluxo de retorno entre a bomba e o colector, para evitar o arrefecimento do tanque de armazenamento. Este acessório deve ser dimensionado de forma a que a pressão do fluído de transferência térmica não seja suficiente para abrir a válvula. [3] 2.3.7 Purgador de ar No ponto mais alto do sistema solar deve ser instalado um purgador de ar automático com válvula de fecho total ou um purgador de ar manual. Estes purgadores servem para drenar o ar do circuito solar depois de preenchido com o fluído de transferência térmica e quando for necessário durante o período de operação normal do sistema. Têm de ser resistentes ao glicol e a temperaturas de pelo menos 150°C. Em situação de estagnação do sistema, a válvula deve estar fechada para que não exista o risco de perda do fluído de transferência térmica por evaporação. [3] 2.3.8 Válvula de segurança Os sistemas têm que estar equipados com uma válvula de segurança com uma largura nominal mínima de DN 15 (na secção de entrada). Quando é excedida a pressão de regulação a válvula abre e permite o escoamento do fluido de transferência para um tanque colector. [3] 2.4 Ferramentas de dimensionamento O cálculo da energia captada por um sistema solar térmico é muito complexo, pelo que é feito com recuso a um programa de cálculo. 2.4.1 Metodologia de Cálculo simplificado 18 2.4.1.1 Área de colectores Existem fórmulas aproximadas que permitem fazer uma estimativa simplificada da superfície de colectores necessária. Para tal começa-se por estipular o calor necessário anualmente para aquecimento da água (Qu), a radiação solar anual no local, a eficiência média do sistema e a fracção solar que se deseja atingir. A área da superfície de colectores pode então ser estimada, em primeira aproximação, pela seguinte expressão[3]: 𝐴𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑜𝑠 𝑐𝑜𝑙𝑒𝑡𝑜𝑟𝑒𝑠[𝑚2] = 𝑄𝑢[𝑘𝑊ℎ]×𝐹𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 𝑅𝑎𝑑𝑖𝑎çã𝑜 𝑛𝑜 𝑙𝑜𝑐𝑎𝑙[𝑘𝑊ℎ 𝑚2⁄ ]×𝑒𝑓𝑖𝑐𝑖𝑒𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑜 𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎 (5) 2.4.1.2 Orientação e inclinação dos painéis Um painel sem seguimento solar deverá ser instalado com a orientação e ângulo de inclinação que maximize a radiação incidente e, portanto, a energia produzida. No hemisfério norte, a orientação óptima é geralmente de 0º, ou seja, para o Sul geográfico. Naturalmente que por vezes tal não se verifica, devido às sombras criadas pela envolvente do local, ou devido ao perfil das necessidades térmicas, por exemplo. O angulo de inclinação óptimo vai depender da latitude do local. São ainda recomendadas inclinações diferentes dependendo da altura do ano em que o sistema é utilizado. Na Tabela10 encontram-se as inclinações recomendadas em função a latitude do local para utilizações em diferentes períodos do ano. [6] Tabela 10 - Inclinação de referência para painéis Período de utilização Ângulo de inclinação recomendado Inverno Latitude do local + 15º Verão Latitude do local - 15º Todo o ano Latitude do local - 5º 2.4.1.3 Distância mínima entre fileiras Devido ao efeito de sombreamento próprio num campo de painéis, as fileiras não devem estar próximas demasiado próximas umas das outras. Considera-se que às 12 horas solares do dia mais curto do ano as filas de colectores não devem sombrear a fila que se à sua retaguarda. Assim, as distâncias mínimas entre fileiras podem ser calculadas através das seguintes expressões, baseadas na Figura 10: 𝑑1 = 𝑏 sin(α) tan(𝛽) (6) 𝑑 = 𝑑1 + 𝑏 cos (𝛼) (7) 𝛽 = 90° − |𝐿 − 𝛿𝑆| (8) onde 𝑑 é o passo entre fileiras, 𝑑1 é a distância entre as fileiras, 𝑏 é o comprimento dos coletores solares α é o angulo de inclinação dos coletores solares, 𝛽 é o angulo de altitude solar ás 12 horas solares do solstício de inverno, 𝐿 é a latitude do local e 𝛿𝑆 é o angulo de declinação solar. 19 Figura 10 - Distancia de sombreamento entre fileiras de colectores solares 20 3 Caso de estudo (piscina do IST) 3.1 Descrição física A infra-estrutura em estudo está localizada no campus da Alameda do IST, junto à Avenida Rovisco Pais, Lisboa e pertence ao pavilhão da AEIST. As coordenadas geográficas são as seguintes: Tabela 11 - Coordenadas geográficas do pavilhão da piscina Latitude Longitude 38°44'09.3"N 9°08'14.5"W Figura 11 - Localização do pavilhão da piscina Na Tabela 12 estão apresentadas as principais dimensões do pavilhão da piscina, do tanque da piscina e dos balneários. Tabela 12 - Principais dimensões do pavilhão da piscina, da piscina e número de duches nos balneários Dimensões do pavilhão da piscina (interior) Comprimento [m] Largura [m] Altura [m] Área [m2] Volume [m3] 33,5 13,1 9,3 438,85 4081,305 Dimensões da piscina Comprimento [m] Largura [m] Área [m2] Profundidade média [m] Volume [m3] 24,9 8,8 219,12 1,9 409,4 Número de duches nos balneários da piscina Masculino Feminino 7 12 21 A carga térmica do edifício é suportada por um sistema de aquecimento instalado na cave do edifício imediatamente a oeste do pavilhão da piscina. O calor produzido pelo sistema é utilizado no aquecimento das AQS consumidas nos balneários e no aquecimento da água da piscina. É também utilizado no condicionamento do ar do pavilhão. A UTA encontra-se instalada no telhado do pavilhão da piscina. As principais dimensões do telhado encontram-se descritas na Figura 12 e foram medidas com recurso ao Google Maps [7]. Figura 12 - Dimensões do telhado Os sombreamentos no telhado foram medidos utilizando uma estação total num ponto central do telhado. Mediu-se o ângulo zenital entre a estação total e o topo dos edifícios envolventes. Os ângulos de altitude dos edifícios foram medidos de 4,5 em 4,5 graus azimutais (5 grados) em torno da estação total, tendo sido feitas um total de 64 medições desde os -153 graus a Este do até aos 130.5 graus a Oeste. Na Figura 13 estão representadas as obstruções solares que envolvem o telhado do pavilhão da piscina. A figura foi obtida introduzindo as medições efectuadas após tratamento de dados no SolTerm. 22 Figura 13 - Representação das obstruções solares no telhado 3.2 Sistema de aquecimento actual O sistema de aquecimento que actualmente se encontra instalado está esquematizado na Figura 14. Toda a carga térmica é suportada por um conjunto modular de 3 caldeiras cujas características se apresentam na Tabela 13. Tabela 13 - Características técnicas das caldeiras 1, 2 e 3 Características técnicas Caldeiras 1, 2 e 3 Fabricante Roca Modelo NG 400/260 Ano de fabrico 1998 Potência nominal (kW) 310 Temperatura máxima (°C) 95 Pressão máxima (bar) 4 O aquecimento é feito através de um circuito de água fechado. Existem no circuito de aquecimento primário um total de quatro bombas hidráulicas de circulação, instaladas no circuito da UTA, no circuito da piscina e duas, em paralelo, no circuito do depósito de AQS, cujo funcionamento é feito apenas por uma das bombas sendo a segunda de reserva. Na Tabela 14 encontram-se as características técnicas das bombas de circulação (a bomba da piscina não dispunha de placa de características técnicas). 23 Figura 14 - Esquema do sistema de aquecimento actualmente instalado Tabela 14 - Características técnicas das bombas hidráulicas de circulação Características técnicas Bomba AQS 1 e 2 Bomba UTA Bomba Piscina Fabricante LOWARA Grundfos SIME Modelo AFLCG 40-120 UPS 30-80 180 - Potencia (W) 27-450 145-245 - Tensão (V) 230 230 - Frequência (Hz) 50 50 - Corrente (A) 0,22-2,70 0,65-1,05 - 24 Quando é necessário fornecer calor ao tanque de AQS, à UTA ou à piscina, a(s) bomba(s) respectiva(s) liga(m) fazendo a água circular. A água abandona o colector de retorno e atravessa o módulo de caldeiras para ser aquecida. O número de caldeiras que acende depende das necessidades térmicas do momento. Ao sair do módulo de caldeiras, a água quente entra no colector de ida e em seguida é encaminhada pelo funcionamento da(s) bomba(s) para onde for necessário o aquecimento. O aquecimento do depósito de AQS é feito através de um permutador de placas exterior, mantendo a água do tanque a uma temperatura de 60 °C, medida de segurança contra a legionella. Nas Tabela 15 apresentam-se algumas características técnicas do permutador e do depósito de AQS respectivamente. Para informações mais detalhadas sobre o deposito de AQS consultar o anexo. Tabela 15 - Características técnicas do permutador de placas AQS Características técnicas Permutador AQS Fabricante ARSOPI THERMAL, S.A. Modelo FH00-HJ-36 Nº fábrica 11328TH Ano de fabrico 2013 Lado A Lado B Temperatura cálculo (°C) 0/130 0/130 Pressão cálculo (bar) 10 10 Pressão ensaio (bar) 13 13 Volume (l) 0,81 0,765 Fluído 1/2 1/2 Potência térmica (kW) 25/200 Data ensaio Jun/13 Peso (kg) 21 Aperto máximo (mm) 91 Aperto mínimo (mm) 91 Código aplicável ASME VIII-1 25 Tabela 16 - Características técnicas do depósito de AQS Características técnicas Depósito AQS Figura 15 - depósito de AQS 216P 2000 Fabricante SiCC Modelo 216P 2000 Nº fabrica 0804915015 Ano de fabrico 2008 Tratamento VITROFLEX Capacidade (dm3) 2000 Temperatura máxima (°C) 99 Pressão máxima (bar) 8 A piscina é, também, aquecida através de um permutador de placas. A água da piscina deve ser mantida entre os 25 e os 28 °C. A placa de características técnicas do permutador da piscina está danificada e ilegível. A UTA utiliza água quente a 80 °C, retornando a 60 °C. Depois de fornecer o calor onde era necessário, a água entra no colector de retorno, completando o circuito. Na Tabela 17 estão apresentadas algumas características técnicas da UTA. Para informações mais completas sobre as características da UTA e o seu funcionamento podem ser consultadas no em anexo as páginas do catálogo do fabricante referentes ao modelo instalado. Tabela 17 - Características técnicas da UTA Características técnicas UTA Fabricante C.I.C. Jan Hrebec Modelo H 10 RT Caudal de r (m3/h) 9000 Caudal de água 80/60 °C (m3/h) 3,7 Potência de aquecimento max. @ Tvst = 15°C (kW) 84,4 Potência do ventilador de insuflação (kW) 4,1 Potencia do ventilador de extracção (kW) 3,8 Foram medidos, utilizando uma fita métrica, os perímetros exteriores de alguns tubos dos circuitos de aquecimento. As medições do perímetro, o material dos tubos e o diâmetro externo encontram-se resumidas na Tabela 18. Tabela 18 - Características das tubagens Circuito Material Perímetro Exterior(cm) Diâmetro Exterior (mm) 26 Caldeira - UTA Ferro Fundido 19 60,479 Caldeira - AQS Ferro Fundido 13,5 42,972 Caldeira – Permutador piscina Ferro Fundido 24 76,394 Permutador piscina – Circulação piscina PVC 23,6 75,121 3.3 Estimativas das necessidades térmicas Durante a realização desta tese, a piscina encontra-se encerrada, pelo que não foi possível efectuar medições no local, de modo a ter uma estimativa mais corretã da carga térmica da piscina e das AQS ou até da UTA. Assim, as necessidades térmicas foram estimadas a partir de dados antigos da ocupação da piscina, algumas medições previamente efectuadas pelo projecto campus sustentável e aproximações baseadas nas dimensões das instalações. 3.3.1 Ocupação da piscina Retirou-se de um breve estudo efectuado em 2014 pelo Eng. Fernando Prata Lourenço o perfil de utilização semanal da piscina da AEIST apresentado na Tabela 19, medido durante o período de aulas. Tabela 19 - Utilização da piscina medida em período de aulas Horas 2º 3º 4º 5º 6º Sábado 07:40 5 5 6 5 6 08:20 8 3 6 3 6 09:00 3 5 3 6 2 2 09:40 15 7 15 6 15 2 10:20 4 5 5 5 5 3 11:00 4 5 5 5 5 15 11:40 5 6 5 6 5 20 12:20 6 22 6 22 6 3 13:00 12 20 14 20 10 3 15:50 0 0 0 0 16:30 11 0 7 0 7 17:20 18 20 22 23 32 18:00 20 22 22 14 24 18:40 18 9 17 10 12 27 19:20 1 0 1 0 1 20:00 12 9 13 6 10 Total 142 138 147 131 146 48 Destas medições decorre que existia uma média de utilização de 141 utentes por dia (útil). Dados de 2011 fornecidos pela desportiva do técnico apontam para uma média que pode rondar os 215 utentes por dia, uma utilização cerca de 1,5 vezes superior à da tabela. É ainda referido que o valor foi estimado com dados de Fevereiro e que a amostra não é representativa dos meses mais quentes, em que a procura dos serviços da piscina aumenta. Visto que a AEIST pretende um aumento de utilizadores quando a piscina reabrir, decidiu-se utilizar o perfil de utilização semanal da Tabela 19 multiplicado por 1,5 atingindo-se a utilização média diária estimada em 2011, chegando-se assim a o perfil de utilização de dia útil generalizado apresentado na Tabela 20. Tabela 20 - Perfil de utilização da piscina utilizado e generalização para dia útil Horas 2º 3º 4º 5º 6º Dia útil Sábado 07:40 8 8 10 8 10 9 08:20 13 5 10 5 10 9 09:00 5 8 5 10 4 6 4 09:40 23 11 23 10 23 18 4 10:20 7 8 8 8 8 8 5 11:00 7 8 8 8 8 8 23 11:40 8 10 8 10 8 9 31 12:20 10 34 10 34 10 20 5 13:00 19 31 22 31 16 24 5 15:50 0 0 0 0 0 0 16:30 17 0 11 0 11 8 17:20 28 31 34 36 49 36 18:00 31 34 34 22 37 32 18:40 28 14 26 16 19 21 19:20 2 0 2 0 2 1 20:00 19 14 20 10 16 16 Total 225 216 231 208 231 225 77 28 3.3.2 Número de banhos/consumo de AQS O numero de banhos diários foi estimado considerando que todos os utilizadores da piscina tomam banho (após a utilização) consumindo cada um 40 l de água quente a 50°C, o que se traduz em 9000l de AQS em dia útil e 3080l ao sábado. O cruzamento de dados das tabelas Tabela 19 e Tabela 20 permite a determinação do perfil de consumo hora a hora de AQS diário, apresentado na Tabela 21. Tabela 21 - Perfil de consumo de AQS diário (hora a hora) Horário Dia útil Sábado nº banhos litros(50°C) % nº banhos litros(50°C) % das 8 as 9 9 360 4 das 9 as 10 15 600 6,7 4 160 5,2 das 10 as 11 18 720 8 4 160 5,2 das 11 as 12 16 640 7,1 28 1120 36,4 das 12 as 13 9 360 4 31 1240 40,2 das 13 as 14 44 1760 19,6 10 400 13,0 das 14 as 17 das 17 as 18 8 320 3,5 das 18 as 19 68 2720 30,2 das 19 as 20 21 840 9,3 das 20 as 21 17 680 7,6 Total 225 9000 100 77 3080 100 3.4 Modelo do sistema actual Utilizando o Polysun, foi modelado um sistema com o objectivo de simular o sistema de aquecimento actualmente instalado. A configuração do modelo criado pode ser observada na Figura 16 onde também se identificam os tubos com números. 29 Figura 16 - Configuração do modelo do sistema actual criado e identificação dos tubos do sistema Não foi possível recriar no programa o conjunto de 3 caldeiras que funcionam por escalões dependendo das necessidades térmicas, pelo que foram utilizadas 3 caldeiras separadas: uma para a UTA, uma para as AQS e outra para a piscina. 3.4.1 Parâmetros dos componentes utilizados no Polysun A maioria dos componentes do sistema modelado foram obtidos editando alguns parâmetros de equipamentos já existentes no Polysun. 3.4.1.1 Tubagens Foram utilizadas as tubagens já existentes no programa com os diâmetros externos mais próximos dos que foram medidos. A espessura de isolamento foi colocada a 0 mm em todos os tubos. Não existem tubagens de ferro fundido no programa pelo que foram utilizadas tubagens de aço. Tabela 22 - Principais parâmetros das tubagens Tubo Nome do tubo no Polysun Diâmetro externo (mm) Diâmetro interno (mm) Comprimento (m) 1 e 2 Tubo em aço 2’’ 60,3 54,5 35 3 e 4 Tubo em aço 1 ¼’’ 42,4 32,2 2 5 e 6 Tubo em aço 1 ¼’’ 42,4 32,2 4 7 e 8 Tubo em aço 2 ½’’ 76,1 70,3 2 9 e 10 PVC 65 75,2 66,9 8 11 Tubo em aço 1 ¼’’ 42,4 32,2 48 12 e 13 Tubo em aço 1 ¼’’ 42,4 32,2 2 3.4.1.2 Bombas Foram utilizadas bombas já existentes no programa com parâmetros próximos das bombas reais. As bombas escolhidas e os respectivos caudais encontram-se na Tabela 23. No caso da bomba do circuito 30 da piscina, a escolha foi feita com base em bombas tipicamente utilizadas noutras piscinas e que permitem caudais superiores a 9000 l/h, com potências que ultrapassam os 700W. Tabela 23 - Principais parâmetros das bombas de circulação Circuito Nome da bomba no Polysun Caudal (l/h) UTA Grundfos UPS 32-80 (F) 2800 AQS Wilo-Stratos-D 40/1-12 3740 Piscina Wilo-Stratos-D 80/1-12 8890 3.4.1.3 Permutadores O permutador de calor do depósito de AQS utilizado já existia no programa. O permutador da piscina foi obtido editando a potencia de transferência de calor. Os permutadores utilizados estão apresentados na Tabela 24. Tabela 24 - Permutadores de calor utilizados Permutador Nome do permutador no Polysun Alterações AQS 150 kW/K - Piscina 150 kW/K Potência alterada para 300kW/k 3.4.1.4 Caldeiras As caldeiras utilizadas foram obtidas editando a caldeira sem bomba integrada “a gás 200 kW” já existente no programa. As alterações efectuadas estão apresentadas na Tabela 25. Tabela 25 - Parâmetros da caldeira "a gás 200kW" alterados Caldeira Potência (kW) Rendimento (%) Temperatura de segurança (°C) “a gás 200 kW” 200 90 140 Utilizada 310 83 95 3.4.1.5 Deposito de AQS O depósito de AQS foi obtido através da edição do acumulador que o programa cria quando se utiliza opção “redefinir acumulador”, opção que permite definir as conexões existentes. Na Tabela 26 encontram-se os parâmetros que foram alterados. Tabela 26 - Parâmetros do acumulador do programa que foram alterados Acumulador Volume (l) Altura (m) Perdas de calor em estado estacionário (W) Isolamento térmico Espessura do isolamento (mm) Original 600 1,7 0 PU rígido 80 Utilizado 2000 2,4 183 Poliestireno 60 31 3.4.1.6 UTA Como aproximação da UTA editou-se um módulo “ventoinha” do Polysun. Os parâmetros modificados podem ser consultados na Tabela 27. Tabela 27 - Parâmetros da "ventoinha com quatro tubos 7" alterados UTA Potência de aquecimento nominal (W) Caudal nominal de água quente (l/h) Caudal nominal de ar (l/s) Potência da ventoinha (W) “Ventoinha com quatro tubos 7” (original) 5200 222,8 101 78 Utilizado 30000* 3700 2500 4100 *Este valor é o máximo que o programa permite colocar. 3.4.1.7 Edifício, piscina e consumo de AQS Os parâmetros utilizados no edifício da piscina, na piscina e no consumo de AQS que se encontram nas Figura 17, Figura 18 e Figura 19 respectivamente. Figura 17-
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