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MATEUS 
 VOLTAR 
 
 Introdução 
 Plano do livro 
 Capítulo 1 Capítulo 8 Capítulo 15 Capítulo 22 
 Capítulo 2 Capítulo 9 Capítulo 16 Capítulo 23 
 Capítulo 3 Capítulo 10 Capítulo 17 Capítulo 24 
 Capítulo 4 Capítulo 11 Capítulo 18 Capítulo 25 
 Capítulo 5 Capítulo 12 Capítulo 19 Capítulo 26 
 Capítulo 6 Capítulo 13 Capítulo 20 Capítulo 27 
 Capítulo 7 Capítulo 14 Capítulo 21 Capítulo 28
 
INTRODUÇÃO 
 
 Nosso conhecimento deste Evangelho vem por meio dos códices 
do Novo Testamento, escritos em pergaminhos do IV e V séculos A. D., 
de fragmentos escritos em papiros de data mais antiga, de versões 
primitivas, como por exemplo a Siríaca e a que se chama Latina Antiga, 
e de citações dos escritores patrísticos desde o século II de nossa era. Os 
problemas relacionados com o texto e sua transmissão são os mesmos 
que se aplicam ao Novo Testamento em geral. 
 
I. AUTORIA 
 Em comum com os outros três Evangelhos, este livro é anônimo. 
Entretanto, o nome do apóstolo Mateus (9.9 e 10.3) se associa com ele 
desde o século II. Existem na História Eclesiástica, de Eusébio, escrita 
cedo, no século IV, citações de Papias, bispo no século II (3.39), de 
Irineu, bispo de Leão, no século II (5.8,2) e de Orígenes, grande teólogo 
do século III (6.25). Todos estes concordam em afirmar que este 
Evangelho foi escrito por Mateus, para cristãos hebreus, na língua 
hebraica. Sem dúvida, estes escritores queriam dizer aramaico. Eusébio 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 2 
acrescenta o testemunho da sua corroboração duas vezes em seu livro 
histórico (3.24,6 e 5.10,3). Apesar de tantas evidências dum original 
aramaico, dele não existe o menor vestígio. As primeiras citações do 
Evangelho são em grego e não há qualquer teólogo em nossos dias que 
duvide de que o Evangelho, escrito no grego de sua forma atual, existisse 
na segunda parte do primeiro século. Embora não levando o nome do 
autor, o Evangelho fornece pelo menos uma evidência interna que 
confirma sua autoria tradicional. A história da chamada de Mateus, em 
9.9, é seguida da narrativa de uma refeição a qual Jesus compareceu em 
companhia de publicanos e pecadores (9.10 e segs.). O trecho começa 
com as palavras kai egeneto autou anakeimenou en te(i) oikia(i) 
(9.10). Visto que as últimas três palavras significam «em casa», o trecho 
sugere que a refeição fosse oferecida na casa de Jesus. Entretanto, o 
trecho paralelo em Mc 2.15 indica claramente que a festa teve lugar na 
casa de Levi, isto é, Mateus. O texto em Marcos reza assim: en te(i) 
oikia(i) autou, na casa dele. O sentido alternativo de Mt 9.10 é que «em 
casa» quer dizer «na minha casa», isto é, na do autor, e isto concorda 
plenamente com Marcos e com os fatos apresentados por ambos os 
evangelistas. Esta frase serve, então, para identificar o autor. 
 
II. ORIGENS DO EVANGELHO 
 A hipótese predominante entre teólogos atuais é que o Evangelho 
de Marcos foi escrito primeiro do que Mateus e Lucas, cujas obras se 
baseiam em parte sobre Marcos, de onde foram hauridos trechos inteiros, 
com variantes editoriais e, em parte, sobre outros documentos, agora 
desconhecidos, que lhes foram acessíveis. Não há certeza sobre o ponto. 
A evidência em favor da hipótese encontra-se na bem conhecida obra de 
Streeter, The Four Gospels. Consultar também o artigo geral Os 
Quatro Evangelhos. Podemos concordar que os principais ensinos do 
Senhor, tanto como os fatos concernentes a Sua vida, ministério, morte e 
ressurreição foram transmitidos pelos cristãos primitivos na forma de 
uma tradição oral. É provável que esta tradição fosse conservada numa 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 3 
forma inalterada, pelo seu uso como catecismo de batizandos. O prefácio 
ao terceiro Evangelho confirma que diversas pessoas procuraram, 
naquele período, incorporar esta tradição em forma escrita (Lc 1.1-2). 
 É bem compreensível que os escritores cristãos, inclusive os 
evangelistas, aproveitaram tais originais orais e escritos. Há, porém, 
outras considerações com respeito ao primeiro Evangelho. Se o autor for 
Mateus, foi ele testemunha ocular do muito que relata, o que não foi o 
caso dos outros dois evangelistas sinóticos. A tradição de que ele 
escreveu em aramaico é possivelmente baseada em notas compostas por 
ele, ou memorandos das palavras do Nosso Senhor, em sua língua 
materna que serviam para seu próprio uso e para aqueles a quem 
pregava. Não devemos excluir a possibilidade da preparação de tais 
notas no tempo do ministério do Senhor, nem da probabilidade do seu 
uso geral como base de muitas tradições subseqüentes, tanto orais como 
escritas. 
 Parece certo que pelo menos no II século o Evangelho segundo S. 
Mateus já ocupava o primeiro lugar entre os quatro. Alguns pensam que 
a inferência natural é que naquela época este Evangelho era considerado 
como o primeiro a ser escrito. Dois fatos possibilitam esta teoria. 
Primeiro, que o Evangelho foi escrito para os cristãos hebreus da 
Palestina, que constituíram as comunidades cristãs mais primitivas. A 
evidência interna disto é forte e repousa em certos fatos, como as 
referências a Jerusalém como a «Cidade Santa», a menção do sinédrio e 
dos concílios da sinagoga, o notável respeito dado à lei mosaica, a 
linguagem rabínica de 16.19 e 18.18 e, principalmente, o uso das 
profecias do Velho Testamento. O segundo fato que contribui para dar 
primeiro lugar a este Evangelho segue logicamente o primeiro. Constitui 
uma forte conexão com o Velho Testamento e destarte uma introdução 
apropriada ao Novo. Logo no começo se refere ao Velho Testamento, 
citando Davi e Abraão como antepassados de Jesus Cristo. É notável 
também que muito do grande discurso que conhecemos como o Sermão 
da Montanha, que constitui, pela sua posição no Novo Testamento, o 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 4 
alicerce da ética cristã, apresenta uma minuciosa explanação da relação 
que existe entre a ética do novo evangelho e a da lei. Em todos os 
primeiros manuscritos gregos do Novo Testamento, este Evangelho 
ocupa o primeiro lugar entre os quatro e, na maioria, os Evangelhos se 
encontram no começo do Novo Testamento. 
 
III. O PROPÓSITO DO EVANGELHO 
 É patente que o propósito do evangelista é apresentar em ordem a 
história do nascimento, ministério, paixão e ressurreição de Jesus Cristo. 
Ele agrupa seus fatos a redor de cinco grandes discursos de Nosso 
Senhor: o Sermão da Montanha (5.1-7.27); a comissão aos apóstolos 
(10.5-42); as parábolas (13.1-53); o discurso sobre a humildade e o 
perdão (18.1-35); e o discurso apocalíptico (24.1-25.46). O evangelista 
indica esta divisão pela repetição da mesma fórmula, ao fim de cada 
discurso: «E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso...». Os 
trechos que intervêm contam dos milagres e outros acontecimentos que 
seguem certa ordem, que facilita ao leitor fixá-los de memória. O trecho 
inicial, antes do primeiro discurso (Cap. 1 a 4) consiste da narrativa do 
nascimento e infância de Jesus, o ministério de João Batista, o batismo e 
tentação do Senhor, e uma introdução geral ao seu ministério. O clímax 
da paixão e ressurreição segue logo o último dos cinco discursos. O 
evangelista cita freqüentemente versículos tirados das profecias do 
Velho Testamento e, de fato, interpreta essas profecias como tendo 
cumprimento em Jesus Cristo; tudo é interpretado de um modo que seria 
para o judeu palestino do I século prova incontestável, a qual a igreja 
cristã tem adotado. 
 Os trechos seguintes são peculiares a S. Mateus: a narrativa do 
nascimento e da infância (1.18 a 2.23); a introdução geral ao ministério 
na Galiléia (4.23-25); a referência a Is 53.4 (8.17); a cura dos dois cegos 
e um mudo endemoninhado e a alusão às ovelhas que não têm pastor 
(9.27-38);o convite aos cansados e oprimidos (11.28-30); a referência a 
Is 42.1-4 (12.15-21); a parábola do trigo e do joio e do tesouro 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 5 
escondido, a da pérola de grande valor, e a da rede lançada ao mar 
(13.24-30,34-50); a referência geral ao ministério da cura (15.29-31); a 
descoberta do dinheiro na boca dum peixe (17.24-27); o ensino sobre as 
crianças e anjos de guarda (18.10-11); os ensinos a respeito da 
reconciliação, oração e perdão (18.15-35); o ensino sobre eunucos 
(19.10-12); a parábola dos trabalhadores na vinha (20.1-16); a parábola 
dos dois filhos (21.28-32); a censura aos fariseus (23); certos trechos do 
discurso apocalíptico, que é muito mais amplo neste do que nos outros 
Evangelhos sinóticos (24); a parábola das dez virgens (25.1-13); o juízo 
dos bodes e ovelhas (25.31-46); o suicídio de Judas (27.1-10); a 
ressurreição dos santos (27.52-53); a guarda posta ao sepulcro (27.62-
66); o boato falso do roubo do corpo de Jesus e a grande comissão 
(28.11-20). 
 O evangelista exibe um estilo literário que lhe é peculiar, cuja 
característica mais notável é a falta de pormenores na descrição dos 
feitos. As narrativas são geralmente sumárias e os detalhes se entrosam. 
Vê-se claramente esta tendência comparando as histórias da cura do 
criado do centurião (8.5-13); e da ressurreição da filha de Jairo (9.18-
26), com os trechos paralelos em Lucas. A formação e a apresentação de 
Mateus são fundamentalmente simétricas. 
 
PLANO DO LIVRO 
 
I. O NASCIMENTO E INFÂNCIA DE JESUS CRISTO - (1.1-2.23) 
 
II. A PREPARAÇÃO PARA O MINISTÉRIO PÚBLICO DE 
 JESUS - (3.1-4.17) 
 
III. O COMEÇO DO MINISTÉRIO PÚBLICO - (4.18-25) 
 
IV. PRIMEIRO DISCURSO. O SERMÃO DA MONTANHA 
 - (5.1-7.29) 
 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 6 
V. MILAGRES - (8.1-9.34) 
 
VI. A MISSÃO DOS DOZE - (9.35-10.4) 
 
VII. SEGUNDO DISCURSO. A COMISSÃO AOS DOZE - (10.5-11.1) 
 
VIII. JOÃO BATISTA E CRISTO - (11.2-24) 
 
IX. O CONVITE DO EVANGELHO - (11.25-30) 
 
X. DISPUTA COM OS FARISEUS - (12.1-45) 
 
XI. JESUS E SUA FAMÍLIA - (12.46-50) 
 
XII. TERCEIRO DISCURSO. OS ENSINOS PARABÓLICOS 
 - (13.1-53) 
 
XIII. JESUS NA SUA PÁTRIA - (13.24-58) 
 
XIV. A MORTE DE JOÃO BATISTA - (14.1-12) 
 
XV. MILAGRES - (14.13-36) 
 
XVI. CONTROVÉRSIAS COM FARISEUS, SOBRE RITUAIS 
 - (15.1-20) 
 
XVII. MAIS MILAGRES - (15.21-39) 
 
XVIII. CONTROVÉRSIA CONTRA FARISEUS E SADUCEUS - (16.1-12) 
 
XIX. A CONFISSÃO DE SIMÃO PEDRO - (16.13-20) 
 
XX. PRIMEIRO AVISO DOS SOFRIMENTOS DE CRISTO - (16.21-28) 
 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 7 
XXI. A TRANSFIGURAÇÃO - (17.1-13) 
 
XXII. A CURA DO MENINO LUNÁTICO - (17.4-21) 
 
XXIII. SEGUNDO AVISO DOS SOFRIMENTOS DE CRISTO 
 - (17.22-23) 
 
XXIV. O TRIBUTO DO TEMPLO - (17.24-27) 
 
XXV. QUARTO DISCURSO. ENSINAMENTOS SOBRE A 
 HUMILDADE E PERDÃO - (18.1-19.2) 
 
XXVI. ENSINAMENTOS SOBRE O DIVÓRCIO, COMO 
 RESPOSTA AOS FARISEUS - (19.3-12) 
 
XXVII. A BÊNÇÃO SOBRE AS CRIANÇAS - (19.13-15) 
 
XXVIII. RIQUEZAS E A SALVAÇÃO - (19.16-20.16) 
 
XXIX. TERCEIRO AVISO DOS SOFRIMENTOS DE CRISTO 
 - (20.17-19) 
 
XXX. O PEDIDO DE TIAGO E JOÃO - (20.20-28) 
 
XXXI. A CURA DOS DOIS CEGOS - (20.29-34) 
 
XXXII. OS ACONTECIMENTOS DA ÚLTIMA SEMANA DO 
 MINISTÉRIO - (21.1-23.39) 
 
XXXIII. QUINTO DISCURSO. OS ÚLTIMOS TEMPOS - (24.1-25.46) 
 
XXXIV. A PAIXÃO, MORTE E RESSURREIÇÃO - (26.1-28.20) 
 
 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 8 
COMENTÁRIO 
 
I. O NASCIMENTO E INFÂNCIA DE JESUS CRISTO - 1.1-2.23 
 
Mateus 1 
a) A genealogia de Jesus (1.1-17) 
 Livro da geração (1), isto é, sua árvore genealógica. Davi (1). Em 
descrevendo as origens de Nosso Senhor até Davi, vê-se que o propósito 
era o de mostrar que as promessas feitas a Davi, como progenitor do 
Messias, são cumpridas em Jesus Cristo (ver 2Sm 7.12-16; Sl 89.29,36-
37; Sl 132.11). Abraão (1). Promessas semelhantes foram dadas a 
Abraão (ver Gn 12.7; 13.15; 17.7; 22.18 e Gl 3.16). 
 Tamar (3). Estrangeira e mulher de moral duvidosa (ver Gn 38). 
Raabe (5). Estrangeira também e originalmente prostituta (ver Js 2.1; Hb 
11.31). Rute (5). Moabita. Ver o livro de Rute para sua história. Aquela 
que foi mulher de Urias (6), isto é, Bate-Seba (ver 2Sm 12.10-24). O 
fato que o texto a descreve nesta maneira sugere uma recordação 
intencional da sua relação ilícita com Davi. 
 Salomão (7) é provável que esta genealogia não delineia a 
descendência natural, a qual se encontra em Lc 3.23-38, mas a linha real 
e legal, em virtude de que Jesus Cristo era herdeiro do trono de Davi. 
Ozias (8), isto é, Uzias (Is 6.1 e 2Cr 26.1), também chamado Azarias 
(2Rs 14.21). Três gerações são omitidas aqui (ver 1Cr 3.11-12), a fim de 
adaptar a genealogia ao plano do evangelista (ver verso 17). Esta prática 
com genealogias era aceita, e não se admite por isto inexatidão. É 
possível que haja omissões também na primeira e terceira seções da 
genealogia (vv. 2-6,12-16). 
Jeconias (11), chamado também Joaquim (2Rs 24.8) e Conias (Jr 
22.24-28); foi privado de descendência sobre o Trono de Davi (Jr 22.30). 
Desse modo Jesus Cristo não era descendente natural dele. A 
deportação para a Babilônia (11), se refere aos setenta anos do 
cativeiro. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 9 
 José, marido de Maria (16). As palavras são escolhidas com 
muito cuidado para evitar qualquer impressão de que José fosse o pai 
natural de Jesus Cristo. Como esposo de Maria, era pai legal, de sorte 
que o direito ao trono de Davi foi transmitido por ele. O casamento de 
José e Maria teve lugar depois da conceição, mas antes do nascimento de 
Jesus Cristo. 
 Catorze gerações... catorze gerações... catorze gerações... (17). 
A genealogia foi agrupada propositadamente deste modo pelo 
evangelista, para facilidade de aprendê-la. A palavra grega oun, 
traduzida «de sorte que», implica uma ordem artificial. O sentido da 
frase é: «isto completa as gerações... entre as catorze gerações». 
 
b) O nascimento de Jesus (1.18-25) 
 Desposada (18). Isto quer dizer que já era noiva de José sem ser 
casada. Infidelidade depois do noivado era considerada adultério. Do 
Espírito Santo (18). A conceição foi operação miraculosa de Deus, o 
Espírito Santo, pela qual «o verbo se fez carne». 
Não queria infamar... intentou deixá-la secretamente (19). Estas 
duas possibilidades se ofereciam a José, conforme as leis e costumes 
judaicos. Um homem do caráter de José escolheria naturalmente a 
segunda. 
Projetando ele isso (20). Conhecendo o caráter impecável de 
Maria, naturalmente ficou perplexo, com tal situação. O anjo (20). A 
intervenção dum anjo não faz a história inverossímil. Foi essencial nas 
circunstâncias, de vez que nenhum esposo acreditaria na veracidade do 
fato da conceição duma virgem, se não lhe fosse revelada de modo 
sobrenatural. Em sonho (20). Até hoje, no oriente, os sonhos são 
considerados meio importante de revelação divina. Filho de Davi (20). 
Esta é a forma hebraica para expressar «descendente de Davi». Jesus 
(21). É a forma grega do nome hebraico Josué, que significa «o Senhor 
salva». 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 10 
Ele salvará o seu povo dos seus pecados (21), isto é, da culpa e do 
castigo do pecado, tanto como da sua influência e poder. Eis a grande 
declaração fundamental do evangelho no inicio do Novo Testamento. 
 Para que se cumprisse (22). Isto quer dizer que a declaração do 
profeta fez os acontecimentos inevitáveis. Da parte do Senhor pelo 
profeta (22). Nota-se que o Senhor é o autor da profecia. O profeta é o 
porta-voz. Foi assim que os judeus compreenderam a inspiração. A 
Igreja Cristã aceitou este ponto de vista até o advento do liberalismo do 
século XIX. Todas as vezes que o texto utiliza a frase «pelo profeta» a 
tradução mais exata seria “por intermédio do profeta”. 
Eis que a virgem conceberá... Emanuel (23). Esta é uma citação 
da versão grega dos LXX, de Alexandria, de Is 7.14. No grego, a frase 
Deusconosco é tirada da versão dos LXX de Is 8.8, onde é a tradução da 
palavra hebraica Emanuel. Esta é a segunda de duas declarações 
importantíssimas a respeito do evangelho, todas as duas no espaço de 
três versículos (ver nota sobre o verso 21). A segunda revela que Jesus é 
Deus. Podemos dizer que toda a revelação cristã se baseia nestes três 
versos. 
 E não a conheceu (25). Esta descrição conserva perfeitamente o 
fato do nascimento de Cristo pela Virgem. É implícito, entretanto, que, 
depois do nascimento de Jesus, José e Maria coabitavam normalmente. 
Seu Filho primogênito (25). Estas palavras não existem nos melhores e 
mais exatos manuscritos e deviam ser omitidas. Porém, sugerem que 
Maria tinha outros filhos mais novos e pelo menos é prova de que sua 
presença no texto não constituiu dificuldade na aceitação deste fato pelos 
cristãos da Igreja primitiva. Os nomes dos irmãos do Senhor são citados 
em Mc 6.3. 
 
Mateus 2 
c) Os magos do Oriente (2.1-12) 
 Belém (1). É a mesma aldeia onde o rei Davi nasceu. Não era a 
cidade de José e Maria. O motivo da sua residência ali é dado em Lc 2.1-
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 11 
5. A aldeia era ao sul de Jerusalém. Judéia (1), isto é, a província 
romana da Judéia, das três províncias palestinas a oeste do Jordão é a 
que fica mais a sul. O rei Herodes (1). Da família Iduméia, era rei, sob 
os romanos, de toda a Palestina. Cognominado geralmente Herodes, o 
Grande. Os magos, talvez astrólogos pertencentes á mesma classe de 
homens chamados caldeus em Dn 2.2. É provável que vieram da 
Mesopotâmia. Embora existindo muitas lendas a respeito, nada se sabe 
das circunstâncias da sua viagem, além dos pormenores dados neste 
Evangelho. 
Aquele nascido Rei dos Judeus (2). Esta frase constitui eco das 
esperanças messiânicas dos judeus. Sua estrela (2). Não há evidência 
suficiente para sabermos se era fenômeno astronômico ou uma 
manifestação sobrenatural. A adorá-lo (2). É patente que os magos já o 
consideraram como Ser divino. 
 Os príncipes dos sacerdotes e escribas (4). Era natural que os 
magos se referiam aos chefes religiosos. Os escribas (heb. sopherim, gr. 
grammateis) eram os intérpretes oficiais da lei mosaica e constituíam 
uma espécie de ordem de religiosos eruditos. Cristo (4). Tradução grega 
da palavra hebraica Messias. Ambas significam «o ungido». Os reis e 
sacerdotes judeus eram ungidos como sinal de consagração e a cerimônia 
lhes dava uma santidade especial. 
 E tu Belém... meu povo de Israel, (6). Referência a Miquéias 
(5.2), sem ser citação exata dos LXX, nem tradução literal do hebraico. 
Sem dúvida, os chefes religiosos compreendiam o trecho como profecia 
a respeito do nascimento do Messias e com esta interpretação a Igreja 
Cristã concorda. 
 A casa (11). A santa família não se achava mais no estábulo da 
estalagem de Belém. Visto que este incidente tomou lugar a um tempo 
indeterminado durante o período de dois anos depois do nascimento de 
Jesus (ver o verso 16), há possibilidade de que a família estivesse na 
Galiléia. A matança dos inocentes em Belém, por Herodes, numa data 
posterior foi baseada na profecia e não nas informações que lhe foram 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 12 
dadas a respeito do lugar onde o menino Jesus fora encontrado. 
Adoraram (11). Os magos teriam recebido uma revelação ampla a 
respeito da pessoa de Cristo. Dádivas (11). As três qualidades de dádivas 
são consideradas usualmente como símbolos do ofício tríplice de Cristo, 
como rei, sacerdote e profeta. 
 
d) A fuga para o Egito (2.13-23) 
 O anjo (13), melhor, «um anjo». Herodes há de procurar o 
menino (13). Se a família tinha mudado já de Belém, escapou assim da 
matança ali. Porém, ainda seria difícil ficar escondida, permanecendo na 
Palestina. 
 A morte de Herodes (15). Ocorreu no ano 4 A. C. Devido ao erro 
no cálculo dos anos da era cristã, que foi adotada só no IV século, esta 
era começou realmente uns 4 a 6 anos depois do nascimento de Cristo. 
Do Egito chamei o meu Filho (15). Citação do hebraico de Os 
11.1. No contexto original, o trecho se refere à redenção de Israel do 
Egito pela mão de Moisés. Sua significação oculta, introduzida pelo 
Espírito Santo, é patenteada aqui pelo evangelista. 
 Segundo o tempo (16). A implicação aqui é que a visita dos 
magos teve lugar quando o Senhor tinha quase dois anos de idade. Ver 
nota sobre o verso 11 e cf. o verso 7. A citação do verso 18 é tirada em 
grande parte dos LXX e talvez em parte do hebraico de Jr 31.15. O 
contexto de Jeremias encadeia a promessa da ressurreição e restauração 
das crianças mortas por Herodes a suas mães. Ramá era cidade da tribo 
de Benjamim (ver Js 18.25), cujo território se achava logo ao norte de 
Jerusalém. Raquel – esposa de Jacó e mãe de Benjamim, serve como 
símbolo das mães benjamitas. 
 A terra de Israel (20), isto é, a Palestina. 
 Arquelau (22). Filho de Herodes, o Grande. Na morte de seu pai, 
em 4 A. C., Arquelau assumiu o poder nas províncias da Judéia, Samaria 
e Iduméia, enquanto os outros filhos de Herodes dividiram os demais 
domínios restantes entre si. Era tirano notório. As partes da Galiléia 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 13 
(22). Das três seções da Palestina, a Galiléia era situada mais ao norte. 
Fizera parte dos domínios de Herodes, o Grande, mas na sua morte não 
passou a Arquelau, mas ao seu irmão Herodes Antipas, outro filho de 
Herodes, o Grande. Antipas não era rei, mas tetrarca, título grego que 
significa «governador da quarta parte». 
 Uma cidade chamada Nazaré (23). Situada no centro da Galiléia, 
nos morros do norte da planície de Esdraelom. Este não foi o primeiro 
contato da sagrada família com Nazaré. Lc 1.26 revela que a virgem 
Maria morava ali. A narrativa dada por Lucas mostra também que ela 
tinha parentes na Judéia. Em Mt 13.55, José é chamado «o carpinteiro», 
traduzido do gr. tekton, que significa tanto «pedreiro» como 
«carpinteiro». Pesquisas recentes revelam que Belém era o centro dum 
grêmio de pedreiros que praticavam sua profissão em todo o país. Este 
fato pode explicar a conexão que José tinha com Belém e Galiléia. É 
possível que sentiu que, depois do nascimento do Senhor, seu dever era 
ficar em Belém, para Criá-Lo ali, mas foi obrigado a mudar de intenção, 
em consideração aos fatos supramencionados. Se ele tinha compromissos 
em Nazaré, seria a coisa mais natural fixar-se ali. Ele será chamado 
nazareno (23). O evangelista emprega este termo para significar 
habitante de Nazaré. Esta expressão não é citada duma profecia do Velho 
Testamento; por isso, o modo de apresentá-la não é muito positivo. Pode 
ser que o evangelista se refira à profecia de Isaías a respeito de Cristo, 
como rebento (heb. netser, cf. Is 11.1). O termo não tem conexão 
alguma como nazireus mencionados em Nm 6. 
 
II. A PREPARAÇÃO PARA O MINISTÉRIO PÚBLICO DE 
JESUS - 3.1-4.17 
 
Mateus 3 
a) O ministério de João Batista (3.1-12) 
 Ver notas sobre Mc 1.1-8; Lc 3.1-20. Cf. Jo 1.6-34. Naqueles dias 
(1), quer dizer, uns vinte e oito ou trinta anos depois dos acontecimentos 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 14 
descritos por último. João Batista (1), filho de Zacarias e Isabel e primo 
de Nosso Senhor, chamado e consagrado desde seu nascimento para ser 
o precursor de Cristo (ver. Lc 1.5-25,57-80). O deserto de Judéia (1). 
Banda oriental da província da Judéia, a leste da serra principal e a oeste 
do Mar Morto. Não era deserto arenoso, mas não permitia cultivo 
rendoso. 
 Arrependei-vos (2). O sentido radical desta grande palavra 
evangélica significa uma mudança de coração e de pensamento quanto 
ao pecado. O termo «conversão» acentua a mesma mudança na relação 
com Deus. O Reino dos Céus (2). Esta expressão é peculiar a Mateus, 
que a adota onde os outros evangelistas escrevem «Reino de Deus». 
Explica-se esta diferença na origem e mentalidade judaica de Mateus, de 
vez que os judeus consideravam blasfêmia qualquer referência ao nome 
de Deus. Por esta razão substituíam o termo«Céus». O reino de Deus 
significava a soberania ou domínio divino que os judeus esperavam no 
reino de Israel, em cumprimento das suas esperanças messiânicas. 
Utilizando a expressão «é chegado o reino», João Batista indicou 
que o advento de Jesus ia introduzir a nova ordem. Voz do que clama 
no deserto... endireitai as suas veredas (3). Citação dos LXX de Is 40.3 
que confirma que aquela passagem fala profeticamente de João Batista. 
João era uma «voz», o único fim de sua pregação era o de mostrar Jesus 
Cristo aos homens. Sua tarefa era a de preparar o caminho, chamando os 
homens ao arrependimento, para que pudessem aceitar o Senhor. 
 Gafanhotos (4). Alguns pensam que se refere a certa qualidade de 
feijão do mesmo nome. Entretanto, o povo mais pobre comia gafanhotos. 
 Eram batizados (6). O modo de batismo, no tempo de João 
Batista ou depois, é assunto nunca resolvido por expositores e 
comentaristas. Ver notas sobre Mc 1.4 e Mc 1.9-11. Confessando seus 
pecados (6), não necessariamente a João, mas a Deus. 
 Os fariseus (7). A mais importante das seitas religiosas entre os 
judeus, que apareceram no período entre os dois Testamentos. Seu 
objetivo era acentuar e defender as noções religiosas judaicas em 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 15 
oposição ao helenismo, desde que este estava crescendo no Oriente, 
mercê da influência dos reis gregos da casa Selêucida da Síria. O nome é 
a forma helenística do hebraico perushim, «os separados». O nome que 
adotavam por si mesmos era hasidim, «os piedosos». Mantinham uma 
observância escrupulosa da letra da lei mosaica, mas consideravam a 
tradição rabínica igual às escrituras do Velho Testamento. 
 Saduceus (7). Segunda, em ordem, das seitas judaicas, depois dos 
fariseus; é provável que se originaram como reação àquele partido. É 
possível que o nome se derive do hebraico saddiq, «justos». Ensinavam 
que a virtude deve ser praticada por amor à própria virtude, sem visar a 
recompensa. Aceitando essa premissa, chegaram a negar a existência do 
mundo futuro. Eram os racionalistas da igreja judaica. 
 A ira futura (7), isto é, o dia de juízo. 
 Frutos (8), como evidência de genuíno arrependimento. A 
mensagem do evangelho declara que a participação no Reino de Deus 
não é privilégio de uma só raça ou nação, mas é acessível a todos, 
mediante o arrependimento e a fé. O privilégio dos judeus pertencia 
somente ao período do Velho Testamento (ver Gl 3.28-29). 
 Estas pedras (9), quer dizer, as pedras que estavam ali no chão. O 
Batista ensinava que a nação judaica não possuía mais privilégio perante 
Deus, por razão de sua descendência de Abraão, do que aquelas pedras. 
E agora... (1). Desta maneira impressionante e vivida é expressa a 
doutrina de Jo 3.18 «já está condenado». 
 O fogo (10). A fogueira que consome o lixo. 
 Cujas alparcas não sou digno de levar (11). João se sentia 
indigno de fazer o menor serviço para o Senhor Jesus. Sua conhecida 
humildade é bem ilustrada em Jo 3.30. Com o Espírito Santo e com 
fogo (11). O Espírito Santo caiu sobre a Igreja no dia de Pentecostes e é 
acessível a todo crente desde aquele dia. É provável que Pentecostes 
constituiu o batismo vaticinado pelo Batista (ver At 2.33). A 
característica que distingue o crente é que ele é guiado pelo Espírito de 
Deus (ver Rm 8.14). 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 16 
 Limpará a sua eira (12). A pá era utilizada para joeirar o grão. 
Durante o período do evangelho este juízo continua, semelhante à 
separação do trigo e da palha, que corresponde à aceitação ou rejeição do 
evangelho. Terá sua consumação no último dia. 
 Recolherá seu trigo (12). Ver 24.31. 
 Fogo que nunca se apagará (12). Aquele fogo queimará até o 
fim, até que cumpra todo o seu propósito (ver. Is 34.10; Jr 7.20; 17.27; 
Ez 20.47-48). 
 
b) O batismo de Jesus (3.13-17) 
 Ver nota sobre Mc 1.9-11; Lc 3.21-22. 
 Cumprir toda a Justiça (15). Seu batismo era um passo 
necessário para cumprir todos os justos propósitos de Deus. Embora não 
precisando de arrepender-se e não tendo pecado para confessar, Jesus, 
pelo ato de submeter-se ao batismo, ocupou o lugar do pecador. Este ato 
simbólico ilustrou outro batismo maior (ver 20.22) que O esperava no 
Calvário, onde Ele cumpriu cabalmente a vontade divina, pela qual veio 
ao mundo corno substituto do pecador. 
 Lhe (16). Omitido em alguns manuscritos. Viu (16). Parece que 
Jesus viu a pomba, símbolo da paz, mas Jo 1.31-34 mostra que João a 
viu também. O Espírito de Deus (16). Naquele momento sagrado, todas 
as três pessoas da Santíssima Trindade, eram ou visíveis ou audíveis aos 
sentidos humanos. Não significa este ato que Jesus não era um com o 
Espírito desde seu nascimento, melhor, desde a eternidade. Agora veio o 
Espírito para revesti-Lo de poder para seu ministério público. 
 Meu filho amado (17). Isto não quer dizer que o Pai estava 
proclamando que Jesus era seu filho, pela primeira vez, nem que Jesus 
chegou a compreender só naquele momento sua única relação com o Pai. 
Era cônscio dessa relação desde sua infância (ver Lc 2.49). A mesma 
proclamação foi reiterada pelo Pai na ocasião da transfiguração (17.5). 
 
 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 17 
Mateus 4 
c) A tentação de Jesus (4.1-11) 
 Ver notas sobre Lc 4.1-13; Mc 1.12-13. 
 Então (1). Imediatamente depois do seu batismo. Há uma relação 
íntima entre o batismo e a tentação. No primeiro, Jesus se dedicou ao 
caminho da cruz. No segundo, o diabo lhe apresentou meios pelos quais 
Ele podia efetuar seu ministério sem ir à cruz. 
 Conduzido pelo Espírito (1). Foi pela expressa vontade de Deus 
que esta crise se produziu na vida de Jesus. Não é que Deus queria ver se 
Jesus cairia ou não, mas uma demonstração da impossibilidade da Sua 
queda. Ele foi ao deserto (1) porque era preciso enfrentar esta terrível 
prova a sós. 
 O diabo (1). Um dos nomes da serpente primitiva do Jardim do 
Éden, que ocasionou a queda do homem (Ap 12.9). É o «príncipe deste 
mundo» (Jo 16.11), «o príncipe das potestades do ar» (Ef 2.2). Nestes 
dias científicos, alguns acham dificuldade em acreditar na realidade do 
mundo dos espíritos, mas não ofende nosso raciocínio o ensino bíblico 
quanto ao mundo invisível habitado por inteligências que, duma maneira 
que ignoramos, exercem o poder de sugestão sobre nossa mente. Desde 
Gênesis até o Apocalipse, a Bíblia ensina que o diabo tem personalidade. 
 Tendo jejuado (2). A necessidade do jejum não é explicada. 
Talvez fosse para demonstrar que, quando mais fraco fisicamente, o 
Senhor era capaz de enfrentar e vencer o diabo em toda a sua força. O 
jejum acompanharia um tempo de oração fervorosa. 
 Manda que estas pedras se tornem em pães (3). O escopo da 
tentação era maior do que um simples apelo à fome. Parece que havia a 
sugestão que pudesse evitar a cruz, tornando-se um reformador social 
popular. 
 Está escrito (4). Cada vez que foi tentado, o Senhor se apoiou na 
Escritura, dando exemplo fundamental do uso «da espada do Espírito» 
(ver Ef 6.17). Não só de pão viverá o homem... (4). Citação dos LXX 
de Dt 8.3. A citação serve para indicar que o homem sente necessidade 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 18 
tanto espiritual como material e que, conseqüentemente, o primeiro 
dever de Jesus era o de pregar a palavra de Deus. A palavra «só» indica 
que as necessidades materiais não haviam de ser completamente 
esquecidas. Não era então incoerente quando Nosso Senhor operou 
prodígios como o sustento dos cinco mil (14.13-21). 
 O transportou (5). Sem duvida, em pensamento, por sugestão. 
Ver o verso 8 n. A cidade santa (5). Esta frase ocorre duas vezes neste 
Evangelho e nenhuma vez nos outros três. Talvez indique que o 
Evangelho fosse dirigido aos habitantes de Jerusalém. Pináculo (5). É 
provável que seja referência ao terraço da ala do templo. 
 Lança-te daqui (6). A tentação era a de impressionar as massas 
com milagres. Está escrito (6). O diabo sabe citar a Escritura quando lhe 
convém. Entendemos que aEscritura, que era conhecida de Jesus, veio a 
sua memória, e a tentação consistiu em sua aplicação errônea. A citação 
dos LXX de Sl 91.11-12. É notável que este Salmo, o único trecho da 
Escritura citado pelo diabo, promete, nos versículos que se seguem, a 
vitória sobre ele. 
 Não tentarás o Senhor teu Deus (7). Citado dos LXX de Dt 6.16. 
Neste caso, tentar a Deus quer dizer obrigá-Lo a evitar o desastre. Um 
homem podia pôr a mão no fogo e queixar-se que Deus não evitou que 
se queimasse. 
 Um monte muito alto (8). O fato de não existir montanha alguma 
de onde se possa ver o mundo inteiro prova que estas experiências eram 
subjetivas. 
 Tudo isto te darei (9). Em diversos lugares a Bíblia revela que o 
diabo é responsável pelo governo dos impérios mundiais. Me adorares 
(9). Aqui a tentação era evitar a cruz e estabelecer um reino pela força, 
um procedimento que teria tido muita aceitação dos judeus, que assim 
entendiam o reino. 
 Satanás (10). O nome em hebraico significa adversário. Satanás é 
o advogado de acusação contra os filhos de Deus, nos tribunais do céu. 
Quanto a seu nome, ver Ap 12.9. Quanto a sua atividade, ver 1Cr 21.1; 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 19 
Jó 1.2 e Zc 3. Ao Senhor teu Deus adorarás... (10). Citação dos LXX 
de Dt 6.13. Estabelece um dos princípios fundamentais da religião. 
 
d) A residência de Jesus em Cafarnaum (4.12-17) 
 João estava preso (12). Para circunstâncias de sua prisão e morte, 
ler 14.1-12. A cidade de Cafarnaum, onde Jesus foi habitar nessa época, 
era colônia romana, perto do Mar da Galiléia e o centro do Governo 
romano na Galiléia. 
 Zebulom e Naftali (13). As regiões limítrofes são mencionadas em 
Js 19.10-16,32-39. A citação nos vers. 15 e 16 é adaptada dos LXX de Is 
9.1-2. Grande luz (16). Cf. Lc 2.32; Jo 8.12 e 12.46. 
 Arrependei-vos (17). O Senhor continuou a mensagem de João 
Batista. Cf. 3.2\ e 10.7. 
 
III. O COMEÇO DO MINISTÉRIO PÚBLICO - 4.18-25 
 
a) A chamada dos quatro discípulos (4.18-22) 
 Ver nota sobre Mc 1.16-20; cf. Lc 5.1-11. 
 Simão, chamado Pedro (18). As prováveis circunstâncias da 
mudança do nome se encontram em Jo 1.42; cf. Mt 16.18. 
 Eu vos farei pescadores de homens (19). Esta promessa é ligada à 
primeira de todas as chamadas do Evangelho, o que sugere que a tarefa 
principal do cristão, no mundo, é ganhar outros para Cristo. 
 Consertando (21), ou, talvez preparando as redes para pescar. 
 Deixando imediatamente o barco e seu Pai (22). Seguir a Jesus 
às vezes significa o abandono da profissão e separação da família. A 
chamada do Evangelho requer lealdade absoluta. 
 
b) Um ministério de pregação e de curas (4.23-25) 
 Nas suas sinagogas (23). Salões, nas cidades provinciais, onde as 
congregações dos judeus se reuniam para oração e louvor, no sábado, e 
para instrução e administração da justiça, nos outros dias da semana. Seu 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 20 
uso começou nos dias de Esdras e Neemias. O Evangelho do Reino 
(23). As boas notícias que o Reino de Deus já ia estabelecer-se. 
 Curando todas as enfermidades (23). Nosso Senhor cumpriu este 
ministério de curas pelo motivo de pura compaixão, em cumprimento da 
profecia, e assim evidenciou suas credenciais como o Messias. 
 Síria (24). Província romana ao norte da Palestina. 
 Endemoninhados (24). O estado de ser possuído por demônios era 
comum no tempo de Nosso Senhor. A natureza do caso é misteriosa, mas 
ainda existe em certos países pagãos e alguns consideram que certos 
casos nos manicômios das nações civilizadas podem ser atribuídos a este 
mal. Não obstante as objeções dos racionalistas, o crente na Bíblia só 
pode aceitá-lo como fato, como fez o Senhor. Esta obra não é adequada 
para tratar do assunto satisfatoriamente. 
 Decápolis (25). Comarca de dez cidades gregas, a maior parte 
estando a leste do Jordão e atingindo, no Norte, até Damasco. A frase 
«além do Jordão» significa o distrito de Peréia, que é a Gileade do Velho 
Testamento. 
 
 
IV. PRIMEIRO DISCURSO: O SERMÃO DA MONTANHA - 5.1-7.29
 
 A forma abreviada deste sermão se encontra em Lc 6.20-29. É 
bem provável que os ensinos do sermão fossem repetidos em diversas 
ocasiões. 
 
Mateus 5 
a) O caráter cristão (5.1-12) 
 Subiu (1). O fim de subir seria de evitar as multidões e estar a sós 
com os discípulos para ensiná-los. Ver Lc 6.17 nota. 
 Bem-aventurados (3). «felizes». 
 Os pobres de espírito (3). Alusão a Is 57.15. No início, o 
Evangelho apela aos que compreendem sua necessidade e estão prontos 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 21 
a depender de outrem para as necessidades da vida espiritual. O verso 4 
refere-se a Is 61.3 e Sl 126.5. Refere-se aos que estão convictos do 
pecado ou que lamentam a condição pecaminosa do mundo. Tem 
também sua aplicação para os cristãos que sofrem perseguição ou 
desprezo por causa de sua fé. O conforto nos é dado agora no coração e 
será manifesto abertamente no mundo vindouro. A palavra eles, nos 
versos 4-9, é enfática. 
Os mansos (5), isto é, os altruístas. A palavra herdarão (5) indica 
uma posição na família de Deus. A terra (5). «A nova terra em que 
habita a justiça» (2Pe 3.13), cf. Sl 37.11. 
Os limpos de coração (8, cf. Sl 24.4; 51.10; 73.1). Deus requer a 
pureza na alma, o que é somente possível por meio do novo nascimento. 
Verão a Deus (8). Agora pela fé, mais tarde face a face (cf. Jo 14.9; 1Jo 
3.2). 
Os pacificadores (9). O primeiro sentido é que estes são os que 
efetuam a paz entre Deus e o homem, por meio de Cristo, pela 
proclamação aos homens da reconciliação do evangelho. Há também 
referência aqui à paz estabelecida entre homem e homem. 
Os vv. 10-12 não deixariam os ouvintes em dúvida quanto à atitude 
do mundo para com o evangelho. O Novo Testamento sempre representa 
o cristão como alvo de possível perseguição. 
 
b) Testemunho cristão (5.13-16) 
 No original dos vv. 13 e 14, a palavra vós é enfatizada. A utilidade 
mais evidente do sal é a de conservar da corrupção. 
 Vós sois a luz do mundo (14), refletindo a luz que iluminou o 
coração. Ver verso 16 e cf. Jo 8.12 e 2Co 4.5-6. 
 Alqueire (15). Toda casa possuía essa medida. Candeia (15), 
melhor, «castiçal». 
 Glorifiquem (16). Dá a idéia de render louvor a Deus. 
 
 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 22 
c) A relação entre o evangelho e a lei (5.17-48) 
 A lei (17). Termo comum entre os judeus para a primeira das três 
divisões das Escrituras hebraicas, isto é, os cinco livros do Pentateuco. 
Contudo, o termo tinha, às vezes, um uso mais amplo (ver verso 18). 
 Os profetas (17). Esta referência é propriamente à segunda das 
divisões das Escrituras hebraicas, que consiste nos livros de Josué a 
2Reis e de Isaías a Malaquias. Mas, quando Nosso Senhor emprega as 
palavras «a lei ou os profetas» é bem provável que se refere a todo o 
Velho Testamento (cf. 7.12). Jesus cumpriu cabalmente a lei, em Sua 
vida, pela observação constante de seus preceitos; em Seus ensinos, pela 
pregação da ética do amor que cumpre a lei (Rm 13.10) e em Sua morte, 
pela satisfação de suas exigências. 
 Jota (18). A letra hebraica é yod, a menor do alfabeto. O til era 
um pequeno sinal como a cedilha, cuja presença em certas palavras 
podia alterar o sentido. A lei, aqui, seria uma referência a todo o Velho 
Testamento, Nosso Senhor apresenta nesta passagem um conceito muito 
sublime da inspiração bíblica e indica claramente que o evangelho é 
baseado no Velho Testamento. 
 O menor no reino dos céus (19). Não é possível concluir se o 
Senhor se refere aqui aos que não têm valor no reino e que nele nunca 
entrarão ou se está indicando que haverá diferenças de posição e 
galardão entre os salvos no estado final. Ver 18.1-6. A primeira 
alternativa talvez seja a mais provável. 
 Se a vossa justiça não exceder (20). Nestes termos o Senhor 
aponta a necessidade de honestidade e realidade na vida espiritual. 
Entrareis no reino dos céus (20). Sinônimo de receber a vida eterna 
(ver Jo 3.16). 
 Não matarás (21). O sexto mandamentodo decálogo, citado dos 
LXX de Êx 20.13. O grego do original refere-se somente à vida humana. 
 Qualquer que se encolerizar (22). Nosso Senhor ensina que o 
pecado é realmente cometido no coração antes de ser exteriorizado. Aos 
olhos de Deus essa ofensa é a mesma como a do homem que mata. A lei 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 23 
mosaica podia refrear as ações externas. Jesus, tratando com o coração 
corrupto do homem, transforma-o (ver Rm 8.3-4). Neste sentido, sua 
ética cumpre a lei, porque soluciona o problema básico, permitindo, 
assim, que a lei se cumpra. 
 Sem motivo (22). Omitido em diversos manuscritos. Raca (22). 
«Néscio», expressão hebraica de desprezo (ver 2Sm 6.20). 
 Réu de Juízo (22). Quer dizer, comparecer perante a assembléia 
local que se reunia na sinagoga e que era sujeita ao grande concílio dos 
setenta, o Sinédrio, em Jerusalém. 
 Sinédrio (22). O grande concílio dos setenta. O Senhor menciona 
essa suprema autoridade para indicar a enormidade da ofensa. Louco 
(22). Tradução da palavra grega more. É mais provável que a palavra 
original fosse a hebraica moreh, expressão de condenação, cujo uso 
significaria um ódio mortal. Fogo do inferno (22), gr. ten geennan tou 
pyros. Geena é a forma helenizada do nome do Vale de Hinom, em 
Jerusalém, onde fogueiras queimavam continuamente o lixo da cidade. 
Ilustra bem a perdição final. 
 Tua oferta (23). Refere-se ao sacrifício dado a Deus, de acordo 
com a lei mosaica. 
 Vai reconciliar-te primeiro (24). Deus não pode receber nem o 
culto nem a pessoa daquele que não vive em perfeita comunhão com o 
seu próximo. 
 Concilia-te depressa (25). Os princípios severos enunciados nos 
vv. 25-26 têm sua expressão ainda mais forte em Mt 6.14-15 e Mt 18.23-
25. 
 Não cometerás adultério (27). Sétimo mandamento do decálogo, 
tirado dos LXX de Êx 20.14. O adultério é o ato de coabitar 
maritalmente com a mulher de outrem. Na Bíblia, este termo nunca se 
refere exclusivamente à infidelidade do marido para com sua esposa. 
 Qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar (28). É 
patente que o Senhor não condena aqui a atração natural entre os sexos, 
mas o olhar licencioso, talvez com referência especial às mulheres 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 24 
casadas. Em seu coração (28). A sede do pecado. As ações iníquas têm 
sua origem no coração corrupto. Como no caso do sexto mandamento, a 
lei mosaica julga apenas os atos exteriores, enquanto Jesus trata do 
motivo interior. 
 Escandalizar (29), isto é, servir de cilada. Este sentido da palavra 
original deve ser lembrado no momento da tentação. Arranca-o e atira-
o (29). Custe o que custar, o pecado há de ser extirpado. A linguagem 
dos vv. 29 e 30 fornece uma ilustração impressionante. Tua mão direita 
(30). A mão simboliza a ação, enquanto o olho representa o desejo. 
 Qualquer que repudiar sua mulher (31-32). O verso 31 repete 
resumidamente a instrução dada em Dt 24.1. Em contraste com Moisés, 
Nosso Senhor proíbe absolutamente o divórcio. No Seu ensino sobre o 
mesmo assunto em 19.3-9, se vê que a provisão mosaica se acomodava à 
natureza caída do homem. De vez que Jesus veio com o propósito de 
transformar a natureza humana, Ele repudia tal acomodação e restaura o 
quinhão primitivo. 
 A não ser por causa da prostituição (32). Muitas vezes esta frase 
é mal compreendida. A infidelidade da parte da mulher não constitui 
motivo legítimo para divórcio e, então, não pode ser considerada como 
motivo para a proibição absoluta de Mc 10.11 e Lc 16.18. Não há, 
porém, contradição alguma entre estes três trechos. Prostituição (não 
adultério) refere-se à infidelidade da parte da mulher antes do casamento. 
Caso fosse descoberta depois do casamento, as palavras do Senhor 
obrigam o homem a repudiar a mulher, porque aos olhos de Deus, o 
casamento era nulo. O escritor destas linhas crê que a Escritura ensina 
que toda mulher pertence, pelas leis da natureza estabelecidas por Deus, 
ao primeiro homem com quem tenha relações sexuais e que qualquer 
cerimônia de casamento com outrem, celebrada durante a vida daquele 
homem, constitui adultério. Faz que ela cometa adultério (32), isto é, 
apresenta-a publicamente no papel de uma mulher adúltera. Consoante 
este ensino, o marido que se divorciasse de sua esposa declararia 
abertamente que ela teria pertencido a outrem antes de casar com ele. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 25 
Não perjurarás (33). Esta exortação abrange as leis mencionadas 
em Êx 20.7; Lv 19.12; Nm 30.2. 
De maneira nenhuma jureis (34). É a proibição contra qualquer 
juramento. A lei mosaica introduziu o juramento, sob condições bem 
definidas, como proteção contra a desonestidade do coração humano. 
Mas o Senhor veio transformar o coração do homem, de sorte que o 
juramento não é mais necessário. Ele pode restaurar o quinhão primitivo 
e, assim, proíbe por completo o juramento e cumpre plenamente o 
propósito da lei. Ver Tg 5.12. Nem pelo céu... nem pela terra (34-35). 
Citação de Is 66.1. 
Jerusalém (35). Neste Evangelho a cidade capital ocupa um lugar 
significativo. A cidade do Grande Rei (35). Frase tirada do Sl 48.2. 
Jerusalém, na Palestina, ainda desfrutava desta prerrogativa até a morte e 
ressurreição do Senhor. Agora existe a nova Jerusalém (Gl 4.26). 
É de procedência maligna (37). A necessidade de juramento tinha 
sua origem na natureza pecaminosa do homem, como no caso do 
divórcio supra, sendo a lei impotente para remediar a situação (Rm 8.3). 
Olho por olho... (38). Citação dos LXX de Lv 24.20, é a lei de 
retaliação. Servia não tanto como mandamento, permitindo que a pessoa 
injuriada exigisse o máximo direito perante os juízes, antes que estes 
guardassem dentro dos seus limites legais a vingança do pleiteando. 
Que não resistais ao mal (39). Outra tradução: «que não resistais 
ao homem mau». A lei mosaica de retaliação ilustra a justiça e juízo 
inerrantes de Deus. O Senhor manda que uma injúria não há de ser 
repelida. O escritor interpreta este ensino, tomando como base moral 
desta exortação o fato que Ele satisfez cabalmente, no Calvário, todo e 
qualquer requerimento da lei, cumpriu toda a justiça, endireitou todo o 
mal e, na sua própria pessoa, sofreu toda vingança e retribuição. Sua 
ética de não resistência é ligada indissoluvelmente a sua morte 
expiatória. Se Ele não tivesse satisfeito uma vez para sempre a justiça 
divina, tal ética não teria base moral. Se a ética de justiça e retidão, em 
distinção ao amor e não-resistência, fosse mantida depois do Calvário 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 26 
(como muitos ainda praticam e ensinam), o resultado seria uma negação 
da obra consumada por Cristo. 
 Obrigar (41). Referência à prática romana de fornecer um sistema 
postal, obrigando os membros da população civil a carregar as cartas. 
 Amarás o teu próximo (43). Ver Lv 19.18. Aborrecerás o teu 
inimigo (43). Esta última frase não existe no Velho Testamento, mas 
expressa seu espírito, por exemplo, Dt 23.6. 
 Amai os vossos inimigos (44). O mandamento chamando ao amor 
existia em Lv 19.18, mas é patente do contexto que sua aplicação entre 
os israelitas era limitada. No evangelho, não há mais separação entre os 
homens (Gl 3.28; Cl 3.11). Remove-se, então, esta limitação e o 
mandamento tem uma aplicação universal. O Novo Testamento ensina 
que sua aplicação é internacional (Lc 10.25-37), social (Tg 2.1-9) e 
pessoal (Rm 8.10). 
Filhos (45). Dando implicação de semelhança. A regeneração é 
moral. 
 Publicano (46), gr. telonai, significando «cobradores de impostos», 
traduzido inexatamente, na Vulgata, publicani, daí «publicanos». Os 
publicani eram realmente funcionários que ofereciam em leilão os 
impostos de diversas regiões de um país. Os funcionários subordinados 
vendiam novamente o direito de cobrança aos agentes locais, que 
exploravam ao máximo o povo. Estes cobradores eram considerados 
traidores pelos judeus, e seu nome representava tudo o que é vil. 
 Que fazeis de mais? (47). A implicaçãocontida nesta pergunta é o 
segredo da ética cristã. O amor faz mais do que sua obrigação. 
Publicanos (47). Uma versão alternativa dá ethnikoi «gentios». O termo 
dá a entender que estes não possuem concerto divino e não se pode 
esperar deles coisa melhor. 
 Sede vós pois perfeitos (48). Adaptado de Lv 19.2. O argumento é 
que o crente deve ser guiado pelo quinhão perfeito da ética do 
evangelho, em contraste com o nível menos elevado da lei. 
 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 27 
Mateus 6 
d) Esmolas, oração e jejum (6.1-18) 
 Esmolas (1). Também pode ser traduzido «justiça». Para serdes 
vistos (1). Refere-se aos fariseus e sua religião hipócrita. 
 Já receberam seu galardão (2); tendo agora seu galardão, irão 
sentir falta no futuro. 
 Não saiba a tua mão esquerda... (3). Quer dizer, esconde tais atos 
mesmo dos amigos mais chegados. 
 Publicamente (4). Omitido em algumas versões. 
 Hipócritas (5). O sentido literal dá a entender atores. A palavra 
não significa necessariamente impostura intencional. Descreve uma 
religião exteriorizada e ritualista. O verso 6 é uma adaptação dos LXX 
de 2Rs 4.33 e Is 26.20. 
 Não useis de vãs repetições (7). Refere-se a muitas rezas formais 
adotadas pelos fariseus, que pouco importavam com sua significação. 
 Vosso Pai sabe (8). Alguns textos dizem Deus Vosso Pai. A 
oração não consiste em dar a Deus informações a respeito de nossas 
necessidades. 
 Vós orareis assim (9). Ver nota sobre Lc 11.1-4. Neste trecho 
paralelo de Lucas, lemos «quando orardes dizei» (Lc 11.2). A oração que 
segue serve como modelo e como oração a ser repetida. 
 Pai nosso (9). Somente um filho de Deus, uma pessoa que nasceu 
de novo, pode fazer uso corretamente desta oração. Santificado (9), isto 
é, considerado com toda a reverência santa. Teu nome (9). Subentende o 
caráter ou essência de Deus, e que Ele realmente é. 
 Venha o teu reino (10). O reino virá quando o último inimigo 
estiver destruído, à volta do Senhor (ver 1Co 15.24-28). Assim na terra 
como no céu. Cumprir-se-á «nos novos céus e nova terra» (cf. 2Pe 3.13). 
 Cada dia (11), gr. epiousion. Esta palavra é desconhecida fora de 
seu uso aqui e no trecho paralelo de Lucas. Não significa «cotidiano». 
Os teólogos não concordam ainda se significa para hoje ou para amanhã. 
Ver Lc 11.3 n. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 28 
 Dívidas (12). Todo pecado constitui uma dívida perante Deus. 
Como nós perdoamos (12). O perdão divino não é concedido por 
perdoarmos aos outros e o perdão humano deve imitar o divino. 
 Não nos induzas... (13). A mesma idéia ocorre em Lc 21.36. Teu 
reino... amém (13). Esta frase é omitida em alguns textos. Constitui uma 
afirmação de fé completando assim a oração. 
 É notável que a única frase na oração, que merecesse comentário 
especial de Nosso Senhor, é aquela que trata do perdão (14-15). Como 
em Mc 11.21-26, a ética de amor e de perdão é inseparável da 
justificação pela fé. Para aceitar a graça de Deus livremente, com 
consciência pura, é imprescindível compreender que Cristo sofreu a pena 
de pecado na cruz. Isto significará que nunca mais podemos insistir 
sobre o castigo de outrem ou a retribuição do mal, mas deveremos 
mostrar o amor e o perdão a todos livremente. Compare-se Mt 18.32,35. 
 Quando jejuardes (16). No contexto, há uma conexão entre o 
jejum e a oração e aquele, como esta, é uma prática secreta entre o 
indivíduo e seu Deus. 
 
e) Advertência contra preocupações mundanas (6.19-34) 
 Cf. Lc 12.13-21,33-34. Aí estará também o vosso coração (21). 
Quando o coração está nos céus, todo o ser se consagra aos interesses de 
Cristo. 
 Os olhos (22). Representam aqui os interesses, desejos, ambições e 
o que prende nossa atenção. A frase significa que estas coisas 
representam todo o caráter do homem. Bons (22). Inteiramente entregues 
aos interesses de Cristo e ao serviço de Deus. 
 Se os teus olhos forem maus (23). Quer dizer, quando o espírito 
se preocupa com coisas más. Para a expressão «olho maligno», ver Dt 
15.9; Pv 28.22. Se porém a luz que em ti há são trevas... (23). Uma 
descrição gráfica do coração que não responde às coisas de Deus. 
 Não podeis servir a Deus e a Mamom (24). É impossível manter 
uma atitude ambígua. Não há terreno neutro na guerra espiritual. O 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 29 
serviço que não é devotado não é realmente o serviço de Deus. Mamom 
é palavra aramaica que significa «riquezas» e, neste contexto, representa 
o dinheiro e interesses mundanos. 
 Não andeis cuidadosos (25) ou, não sejais preocupados. Cf. Lc 
12.22-31. Vida (25) é o gr. psyche, «alma». A palavra «alma», na 
Bíblia, tem um sentido diferente do atual, que é derivado da filosofia de 
Platão. O uso bíblico origina-se do hebraico nephesh, que quer dizer 
personalidade ou ego. Às vezes se refere à vida natural do eu, em 
contraste com a vida espiritual, ver Hb 4.12. A alma é o centro das 
emoções e dos apetites. Em toda a Bíblia, o comer e o beber são 
considerados como função da alma, como aqui. 
 Olhai (26), ou estudai. 
 Poderá acrescentar um côvado (27). A frase é difícil. A palavra 
grega helikia, traduzida «estatura», deve ser «idade». O côvado é 
aproximadamente meio metro; então, se fosse questão de estatura, seria 
necessário empregar um termo como «meia polegada». Uma 
interpretação da passagem é que ninguém passa, nem por meio metro, o 
determinado fim da jornada de sua vida. 
 Olhai (28), ou estudai, como no verso 26. 
 Salomão em toda a sua glória (29). Quanto a sua vida, ver 1Rs 1-
11; 1Cr 28; 2Cr 9. Os pormenores de sua glória são relatados em 1Rs 
10.4-7. 
Os gentios (32). Estão citados aqui como exemplo daquela atitude 
mundana e profana. Deus garante o sustento material de todos quantos 
cumprirem as condições ditadas por Ele e, muitas vezes, provê ainda 
mais (verso 30). 
 Buscai primeiro o reino de Deus... (33). Eis uma das frases 
fundamentais mais características deste Evangelho. Buscar o reino de 
Deus quer dizer confiar de entrar nele pessoalmente e, então, convidar 
outros. A justiça de Deus é aquela perfeita justiça de Cristo que Ele 
imputa a todo crente (ver Rm 3.21-22). Todas estas coisas vos serão 
acrescentadas (33). “Estas coisas” se refere principalmente às 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 30 
necessidades da vida, mencionadas nos vv. 25 e 31, que tão facilmente se 
tornam a maior preocupação do homem. 
Em consideração deste fato, o cristão não deve preocupar-se com o 
futuro, como o verso 34 indica. O presente lhe dará uma suficiência de 
dificuldades e tentações. 
 
Mateus 7 
f) Perfeitas relações para com o próximo (7.1-12) 
 Cf. Lc 6.37-42 com os vv. 1-5. 
 Não julgueis (1). Ou, não façais críticas. Não é para apontarmos 
responsabilidades nem discriminarmos, em nossa atitude para com os 
outros, mas devemos tratar a todos, especialmente os inconversos, com 
perfeito amor. Porém, dentro da família e dentro da igreja existe um 
julgamento que é legítimo (ver 1Co 5, especialmente os vv. 3,12-13). 
Aqui, o Senhor estabelece um princípio geral. 
O verso 2 concorda com 6.14-15, ver notas. 
 Argueiro (3) ou cisco. Trave, ou tábua. O exagero é propositado, 
para dar ênfase ao ensino. O verso 6 seria uma advertência contra a 
pregação irrefletida do evangelho. É preciso ter cuidado em discernir a 
vontade de Deus quanto às pessoas a quem deveríamos testificar. O 
mesmo ensino se encontra em Pv 9.7-8; 23.9. 
 Os vv. 7-8 constituem uma das mais notáveis promessas do Novo 
Testamento, quanto à oração. Cf. Lc 11.9-13. 
 Se vós, pois, sendo maus (11). Aqui o Senhor confirma a doutrina 
do pecado original. Boas coisas (11). O trecho paralelo em Lucas 
substitui «o Espírito Santo» (Lc 11.13). 
 O verso 12 proclama o grande princípio, «a lei dourada». É a 
manifestação, na prática, do amor cristão. Na palavra inicial «portanto», 
vê-se a conexão entre uma perfeita relação entre Deus e o homem e do 
homem para com seu próximo. A bondade de Deus, que dá as boas 
coisas àqueles que lhas pedirem, exigeque este princípio seja posto em 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 31 
prática, como conseqüência lógica. Esta é a lei e os profetas. Cf. Rm 
13.8-10. Ver também Mt 5.17 n. 
 
g) A chamada do evangelho (7.13-23) 
 Estreita (13). A porta é estreita devido ao fato de que, na vida 
cristã, não há lugar para coisa alguma que não represente devoção 
singela à causa do Mestre e dedicação total do homem e de todos os seus 
bens àquele fim. A exclusão de interesse próprio e a separação do mundo 
com seus cuidados e diversões tornam a porta e o caminho estreitos. 
Espaçoso (13). Cômodo para a multidão. 
 Vida (14). Aqui, como em inúmeros casos na Bíblia, é o contraste 
de perdição (13). São os dois destinos do homem. Poucos (14). Aqui 
encontramos um dos mistérios da providência divina cuja verdade é 
provada na experiência, em cada geração sucessiva da raça. É a minoria 
que alcança a salvação. Na sua totalidade, porém, haverá «uma grande 
multidão» (Ap 7.9). 
 Falsos profetas (15). Estes são os que ensinam o erro e que 
pretendem autoridade divina para seus ensinos. Vestidos como ovelhas 
(15). Quer dizer, apresentando-se como verdadeiros cristãos e talvez 
pensando que o são de fato. Lobos devoradores (15). Pelo seu zelo em 
desviar os homens do caminho da salvação, eles os destroem com sua 
propaganda falsa. 
 Por seus frutos os conhecereis (16). Muitos que ensinam erros 
têm uma vida exterior exemplar. São reconhecidos, todavia, não pela 
conduta, como pelo ensino. 
 Corta-se e lança-se no fogo (19). Eles serão cortados da igreja de 
Cristo e, finalmente, destruídos na segunda morte. 
 Nem todo... entrará no reino dos céus (21). Mesmo nesse 
período de ministério de Nosso Senhor, haveria muitos fazendo uma 
profissão pública de discípulo, embora insinceros e interesseiros. É 
possível ter uma relação com Jesus Cristo que não seja a que 
proporciona a salvação. É o grande perigo de uma profissão sem 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 32 
possessão. Aquele que faz (21). Uma vida de serviço e santidade é a 
única prova final de genuína regeneração. 
Naquele dia (22). O dia do juízo. Não profetizamos nós em teu 
nome? (22). Alusão a Jr 14.14; 27.15. É possível ocupar uma posição de 
destaque e responsabilidade na igreja de Cristo e ser enganado a respeito 
de sua própria salvação. Este fato explica muita história cristã. 
Expulsamos demônios (22). O mesmo fato é verdade no caso de 
reformadores moralistas. Muitas maravilhas (22) - gr. dynameis, 
«obras poderosas». Homens de grande influência e poder não escapam 
desta condenação. 
Direi (23) - gr. homologeso, «admitirei» ou «confessarei». 
Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade (23). Citação do 
Sl 6.8, sendo a maior parte dos LXX. A conduta pecaminosa evidencia 
um coração irregenerado. 
 
h) Aceitação ou rejeição do evangelho (7.24-27) 
 Cf. Lc 6.46-49. 
 E as pratica (24). Como no verso 21, o tema principal é sempre a 
obediência. A rocha (24). Cf. 1Co 3.9-11. A parábola descreve o 
contraste entre a perdição eterna do falso e a estabilidade e triunfo final 
do verdadeiro. Cf. as duas casas, a da sabedoria e a da tolice de Pv 9. 
 
i) O efeito do sermão (7.28-29) 
 Concluindo Jesus este discurso (28). Todos os cinco discursos 
em que se baseia este Evangelho terminam com esta fórmula. Ver. 11.1; 
13.53; 19.1; 26.1. Consultar também a nota a respeito das origens do 
Evangelho na Introdução. A multidão (28). Nesta referência ao povo e 
também aos escribas, no verso 29, vê-se a implicação duma diferença de 
atitude entre o povo e seus dirigentes. Ver Jo 7.47-49. 
 Tendo autoridade (29). Era patente que Ele era Mestre nesses 
assuntos e não se interessava na mera repetição de interpretações 
tradicionais da lei. Não como os escribas (29). A interpretação comum é 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 33 
que Jesus não era da mesma classe como os escribas. Existem, porém, 
certas indicações de que Jesus era, de fato, considerado como escriba e, 
neste caso, as palavras significam «não conforme ao modo geral dos 
escribas». Certos textos gregos acrescentam a palavra auton, que daria o 
sentido de «seus escribas». No caso de ser parte do texto original, esta 
interpretação, seria a correta. Caso não fosse, o fato de ser intercalada em 
outra versão indica, pelo menos, que, nos tempos primitivos ou a 
primeira interpretação era considerada autêntica, ou que se impôs no 
texto. 
 
V. OS MILAGRES - 8.1-9.34 
 
Mateus 8 
a) A purificação do leproso (8.1-4) 
 Ver notas sobre Mc 1.40-45; Lc 5.12-14. 
 Podes tornar-me limpo (2). Conforme a lei de Moisés, a 
imundícia cerimonial era aplicável aos casos de lepra. Ver Lc 13, 
especialmente Lc 13.45-46. 
 Jesus tocou-o... (3). Por tal gesto notável normalmente se tornava 
imundo cerimonialmente o agente. Porém, no caso de Jesus, Ele 
purificou o leproso pelo contacto. 
 Olha não o digas a alguém (4). Há diversas interpretações desta 
ordem de Jesus, que Ele manifestou em outras ocasiões também. 
Provavelmente Ele não queria atrair a multidão por meio de milagres 
somente, nem tão pouco apresentar-se no papel de um pregador popular, 
fazendo propaganda com curas miraculosas. 
 Mostra-te ao sacerdote (4). Em obediência à lei mosaica (ver Lv 
13). Apresenta a oferta que Moisés determinou (4). As instruções 
mosaicas para a purificação do leproso, que tipificam a redenção de 
Cristo encontram-se em Lv 14.2-32. Para lhes servir de testemunho 
(4), isto é, como evidência ao sacerdote que o leproso foi curado. 
 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 34 
b) A cura do criado do centurião (8.5-13) 
 Uma narração mais completa deste milagre é dada em Lc 7.2-10 
(ver notas). 
 Centurião (5). O posto de centurião era entre sargento e tenente, 
que correspondia a subtenente e era de muita responsabilidade. 
 Criado (6) - gr. país, lit. «rapaz». Esta palavra tinha diversos 
sentidos, como no português, às vezes significando menino e outras, 
criado. Paralítico e violentamente atormentado (6). Não significa 
necessariamente que sentia muita dor. 
 O centurião, respondendo, disse (8). O centurião não assistiu 
pessoalmente como se vê no trecho paralelo de Lc 7.1-10. A resposta foi 
dada por intermédio de mensageiros. Uso semelhante da palavra «disse» 
se acha em 11.3. 
 Criado (9). Aqui significa escravo. 
 Maravilhou-se (10). Uma indicação da perfeita humanidade de 
Cristo. Tanta fé (10). O centurião compara Jesus a si mesmo, no sentido 
de que Ele está sob autoridade. Indica assim que crê que Jesus tem todo 
o poder de Deus a seu dispor, e que sua palavra será obedecida 
incontinenti, mesmo em questões de doença e de morte. 
 Do oriente e do ocidente (11). Citação dos LXX do Sl 107.3. Cf. 
também Is 49.12; 59.19; Ml 1.11. O Senhor se refere à entrada dos 
gentios no reino, mercê do evangelho, e à vasta assembléia final, quando 
Ele voltar. 
 Assentar-se-ão (11) - lit. reclinar-se-ão à mesa. Os antigos 
tomavam as refeições reclinados num divã, apoiados no cotovelo 
esquerdo. O Senhor pinta o quadro oriental de um grande banquete para 
ilustrar o mundo vindouro, não somente aqui como nas parábolas das 
bodas (Mt 22.1-14) e da grande ceia (Lc 14.15-24). 
 Filhos do reino (12). Os judeus, a quem o reino pertencia em 
realidade. Trevas exteriores (12). Quer dizer a perdição, a segunda 
morte. Ali haverá pranto e ranger de dentes (12). A palavra ali é 
enfática. A frase alude ao Sl 112.10. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 35 
 Como creste (13). A nossa fé é sempre a medida da bênção 
almejada. 
 
c) A cura da sogra de Pedro (8.14-17) 
 Ver notas sobre Mc 1.29-34; cf. Lc 4.38-41. 
 Jazendo (14). No chão, num colchão de palha. 
 Serviu-os (15). Este pormenor é incluído para chamar a atenção à 
natureza imediata e completa da cura. 
 Expulsou os espíritos (16). Esses espíritos eram maus, diabólicos. 
Tais seres pertencem a outro mundo invisível, cuja natureza e 
características ignoramos, apesar do progresso científico. Ver notas em 
4.24 n. e 9.32 n. 
 Com a sua palavra (16).Melhor, «com uma palavra». 
 Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou as nossas 
doenças (17). Esta citação, tirada do hebraico de Is 53.4, é importante 
pela razão que estabelece o sentido da primeira frase desse verso. 
Refere-se ao ministério de curas e não ao Calvário. A frase não está bem 
traduzida nos LXX. Mc 5.30 e Lc 8.46 dão a entender que as curas feitas 
pelo Senhor custaram-lhe caro, fisicamente. 
 
d) O preço do discipulado e uma tempestade apaziguada (8.18-27) 
 Ver notas sobre Mc 4.35-41; Lc 8.22-25; 9.57-62. 
 Ordenou que passassem (18). Muitas vezes o Senhor desejou 
evitar as massas, para estar a sós com Deus ou com os discípulos. 
 Um escriba (19). Quase sempre os escribas são mencionados no 
plural. Mestre... eu te seguirei (19). Tais palavras têm uma significação 
tanto espiritual como literal. Ver Ap 14.4. Mestre, lit. «professor». É 
notável que o Senhor não faz do discipulado uma coisa fácil, mas exige 
que cada um pague o preço. 
 O Filho do homem (20). O título que o Senhor adotava com mais 
freqüência quando falava de Si mesmo. Talvez se origine em Dn 7.13, 
onde o título leva uma significação messiânica. Na visão de Daniel, o 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 36 
reino do Filho do homem segue os remos dos quatro animais grandes e 
os substitui. Nas escolas apocalípticas, no tempo do Senhor, o título era 
aplicado ao Messias. 
 Outro de seus discípulos (21). Por isso concluímos que aquele que 
achou dificuldade em aceitar Cristo incondicionalmente era um discípulo 
professo. Sepultar meu pai (21). Significa que desejava ficar em casa 
até a morte de seu pai. 
 Deixa aos mortos sepultar os seus mortos (22). Uma resposta 
difícil. Temos que deixar, em certo sentido, o mundo aos que são do 
mundo, para que sigam a vida comum do mundo e nos dediquemos à 
tarefa urgente do reino. Notem que a chamada de Cristo há de ter 
precedência sobre todos os deveres da vida, inclusive os da família. Ver 
Mt 10.37 n. 
 Tempestade (24). Gr. seismos, «perturbação». 
 Seus discípulos (25). Mais exato «eles». Os melhores textos 
omitem também a palavra «nos» de «salva-nos». 
 Temeis (26) – gr. deiloi, «covardes». 
 
e) A cura dos endemoninhados gergesenos (8.28-34) 
 Ver notas sobre Mc 5.1-20; Lc 8.26-39. 
 Gergesenos (28). Melhor, gadarenos. Gergesa era uma cidade da 
banda oriental do mar da Galiléia, cujo sítio consta ser o de algumas 
ruínas descobertas recentemente, de nome Kersa. A cidade pertencia ao 
distrito de Gadara, tendo o mesmo nome como o de uma das cidades de 
Decápolis. Tanto a cidade como o distrito de Gadara formavam parte da 
maior região administrativa de Gerasa, cujo centro era a cidade de 
Gerasa, em Gileade. 
 Dois endemoninhados (28). Somente Mateus faz menção de dois 
endemoninhados; os trechos paralelos dos outros evangelistas sinóticos 
falam de um apenas. Uma possível explicação é que o caso de um deles 
era mais notável devido a sua conversação com Cristo e testemunho 
subseqüente naquela região. Assim seria provável que ele seria o único 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 37 
dos dois sobre quem os evangelistas Marcos e Lucas tinham 
informações. Mesmo se o evangelista Mateus não tivesse assistido à 
cura, e sua chamada é narrada no cap. 9, ele era íntimo daqueles que 
testemunharam este duplo feito. Ver notas sobre 20.30; 21.7. 
 Que temos nós contigo (29) – gr. ti heimin kai soi. O sentido é 
«o que há de comum entre nós». A pergunta expressa ressentimento com 
a intromissão. Atormentar-nos antes do tempo (29). No Novo 
Testamento a palavra grega basanisai não se limita ao uso primitivo de 
«torturar», mas tem o sentido mais amplo de «causar sofrimento ou 
perda de qualquer maneira». É notável que os espíritos malignos sabem 
que a futura retribuição os espera. 
 Uma grande manada de porcos (30). Estes animais eram 
imundos pelas ordenanças da lei mosaica. Era proibido aos judeus 
possuí-los. 
 Toda aquela manada se precipitou... e morreu (32). Este é o 
único milagre em que Nosso Senhor destruiu vida animal. Não é fácil 
compreender porque Ele cedeu ao desejo dos demônios. Pode ser que o 
princípio, neste caso, seja que os que desobedecem com conhecimento 
de erro, como no caso dos porqueiros, privam-se da proteção divina e se 
expõem à vontade das forças maléficas. Talvez sirva como exemplo aos 
que tentaram a Deus (Sl 78.41). Ver Mc 5.11-13 n. 
 Rogaram-lhe que se retirasse (34). O incidente terminou em 
tragédia. O povo preferiu seus negócios ao Salvador. 
 
Mateus 9 
f) A cura do paralítico (9.1-8) 
 Ver notas sobre Mc 2.1-12; Lc 5.17-26. 
 Entrando no barco passou (1). Jesus nunca fica onde não é bem-
vindo. Sua cidade (1). Cafarnaum. Ver Mc 4.13. 
 Vendo a fé deles (2). A fé ativa traz benefícios para outros. 
Perdoados te são os teus pecados (2). Jesus atendeu primeiro à 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 38 
necessidade espiritual do homem, sendo maior do que sua necessidade 
física. 
 Ele blasfema (3). A suposta blasfêmia consistiu na pretensão de 
perdoar pecado. Jesus, sem ser informado, sabia instintivamente, em seu 
coração, o que era a natureza dos pensamentos ímpios deles. E fez uma 
pergunta aguda. Não houve resposta e, de fato, não era fácil responder. 
Pode ser que os escribas, que consideravam Jesus como enganador 
pensassem mais fácil dizer insinceramente «perdoados te são os teus 
pecados», visto que não se observaria resultado exterior. Tal atitude 
daria a entender que é mais fácil restaurar fisicamente do que 
espiritualmente. Outra resposta seria que ambas as coisas são fáceis com 
Deus. 
 Maravilhou-se (8). Os melhores textos dizem «teve medo». 
 
g) A vocação de Mateus (9.9-13) 
 Ver notas sabre Mc 2.13-17; Lc 5.27-32. 
 Na alfândega (9). Era um abrigo na rua, onde os cobradores de 
impostos, sentados, recebiam as taxas e emolumentos. 
 Em casa (10). Gr. en te (i) oikia(i). Podia significar a casa de 
Jesus, mas os outros sinóticos mostram que a casa era de Mateus (Mc 
2.15; Lc 5.29, onde o gr. eu te (i) oikia(i) autou, «na casa dele»). A 
única interpretação possível que se apresente no Evangelho de Mateus é 
que o dono da casa era o mesmo escritor deste Evangelho. É parte da 
evidência interna que Mateus é o autor do Evangelho. Publicanos (10). 
Ver. 5.46 n. 
 Sãos (12), gr. «fortes». 
Misericórdia quero e não sacrifício (13). Citação dos LXX de Os 
6.6. E não (13). Quer dizer «em preferência a». O mesmo princípio foi 
enunciado por Samuel na conhecida passagem de 1Sm 15.22. O mesmo 
trecho recebe um novo fulgor de glória enquanto Jesus o interpreta à luz 
da salvação para os pecadores. Os justos (13). O uso da palavra é irônico 
e se refere aos que se justificavam a si mesmos. A escritura declara «não 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 39 
há um justo nem um sequer», Rm 3.10. Ao arrependimento (13). Os 
melhores textos omitem estas palavras; entretanto, sua omissão deixa 
uma lacuna. 
 
h) O jejum (9.14-17) 
 Ver nota sobre Mc 2.18-22; Lc 5.33-39. 
 Muitas vezes (14). Alguns textos omitem estas palavras. O ensino 
de Nosso Senhor é que o jejum não é um fim em si mesmo e há de ser 
praticado somente nas circunstâncias convenientes. O jejum dos fariseus 
formava parte daquela justiça que o Senhor acabou de condenar (ver 
verso 13). 
 Os filhos das bodas (15). Os convivas. Enquanto o esposo está 
com eles (15). Enquanto continuavam as festividades das bodas, que às 
vezes ocupavam alguns dias. Lhes será tirado o esposo (15). Jesus 
refere-se aqui à sua própria morte e ascensão. Os vv. 16 e 17 anunciam o 
princípio que Jesus Cristo veio estabelecer uma dispensação inteiramente 
nova, que de modo algum se adaptaria aos moldes da antiga economia 
judaica. O império da lei tem de ceder para que a graça tenha lugar. 
 Pano novo (16). Pano cru. 
 Odres (17). Sacos feitos de pele, muito usados no Oriente para 
transportar líquidos. O processo de fermentação do vinho novo 
rebentaria odres velhos que teriam perdido sua elasticidade. 
 
i) A cura da mulher que tinha umfluxo de sangue e a 
ressurreição da filha de um governador (9.18-26) 
 Ver notas sobre Mc 5.22-43; Lc 8.41-56. 
 Um chefe (18). Um juiz. Sabemos dos outros sinóticos que seu 
nome era Jairo. Adorou (18). O ato é sugestivo, por sua compreensão da 
divindade de Jesus. Faleceu agora (18). Os outros Evangelhos contam 
que a filha de Jairo estava moribunda quando o pai chegou e como, na 
volta para casa, encontrou mensageiros informando que ela morrera. 
Mateus combina as duas fases numa só. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 40 
 Ficarei sã (21) - gr. sothesomai, «serei salva». O uso do verbo 
«salvar», num caso de restauração física, facilmente faz-nos entender 
que tais milagres têm o fim de ilustrar a restauração espiritual. 
 Filha (22). Era costume um rabi dirigir-se assim a uma mulher. 
Tua fé te salvou (22). Ver nota supra. O incidente é uma ilustração 
notável da fé em ação. 
 O verso 23 descreve a situação comum numa casa oriental, onde 
haja morte. Eram pagas pessoas para lamentarem o falecido. Os 
instrumentistas tocavam flautas. 
 A menina não está morta, mas dorme (24). O Senhor quis dizer 
que sua morte se tornara um sono passageiro devido ao fato que, dentro 
em breve, ia ressuscitá-la. 
 Pegou-lhe na mão (25). Talvez fez isto para que não se assustasse 
pelo despertar brusco. 
 
j) A cura de dois cegos e um mudo (9.27-34) 
 Cf. 12.22-23; 20.30-34. Ver também Lc 11.14-26. 
 Filho de Davi (27). Naquela época, usava-se este termo falando-se 
do Messias. 
 A casa (28). Talvez na casa de Jesus em Cafarnaum, ou na casa de 
Mateus, como no verso 10. Credes vós... (28). Aqui, como nos outros 
milagres, é a necessidade de fé que é sublinhada. 
 Olhai que ninguém o saiba (30). Ver nota sobre 8.4 e, para o 
verso 31, cf. Mc 1.45; 7.36. É bem possível que essa desobediência 
dificultou o ministério do Senhor, atraindo a seu lado muita gente sem 
fome espiritual, assim contribuindo para a necessidade de ensinar por 
meio de parábolas (ver cap. 13). 
 O verso 33 salienta uma conexão entre os espíritos malignos e a 
incapacidade física. 
 O príncipe dos demônios (34). Satanás. Ver 12.24-37. 
 
 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 41 
VI. A MISSÃO DOS DOZE - 9.35-10.4 
 
 Ver notas sobre Mc 3.13-19; Lc 6.12-19. 
 Como ovelhas que não têm pastor (36). Citação de Nm 27.17. 
As palavras seguem, com certa divergência, os LXX. Ver também Ez 
34.5. Os vv. 37-38 constituem uma das passagens missionárias mais 
importantes do Novo Testamento. Cf. Lc 10.2; Jo 4.35-38. 
 
Mateus 10 
 Poder sobre os espíritos imundos (1). Autoridade sobre os 
demônios. 
 Apóstolos (2). Gr. Apostolon. No original a palavra não goza da 
significação especial que lhe foi dada no decorrer da história cristã, mas 
apenas «missionários». Os doze, que são chamados pelo termo mais 
comum de discípulos, no verso 1, aqui são denominados apóstolos em 
virtude da comissão especial que lhes fora cometida. Notem que os 
nomes dos doze são agrupados aos pares, o que bem podia corresponder 
à organização dada pela sua missão. 
 O primeiro, Simão (2). O nome de Pedro se encontra no primeiro 
lugar em todas as quatro listas dos doze, (cf. Mc 3.16; Lc 6.14; At 1.13). 
Nos Evangelhos e nos Atos ele é o mais destacado dos doze e 
provavelmente era o líder natural entre eles. Não se segue, porém, que 
sua liderança jamais tenha sido transmitida a seus sucessores. 
 Bartolomeu (3). Geralmente é considerado idêntico a Natanael, de 
Jo 1.45-51. Lebeu, apelidado Tadeu (3). Os melhores textos citam 
apenas «Tadeu». Lucas dá-lhe o nome Judas (6.16; At 1.13). Simão 
Cananita (3). Não quer dizer que habitava em Canaã. Simão era outrora 
membro do partido nacionalista, cujos membros se chamavam «zelotes» 
(hebraico qanna, daí o gr. kananaios, «cananeu», termo mais exato). O 
partido tinha resistido a Herodes, o Grande, e estava prestes a opor-se a 
qualquer governo estrangeiro pela força das armas. Era como o 
«Maquis». 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 42 
 Judas Iscariotes (4). O nome Iscariotes pode significar membro da 
tribo de Issacar ou habitante de Queriote (Js 15.25), ou aquele que levava 
a bolsa (do aramaico secariota, «bolsa»), ou aquele que foi estrangulado 
(do hebraico iscara, «estrangulação»). A segunda hipótese é a mais 
provável. 
 
VII. SEGUNDO DISCURSO. A COMISSÃO DOS DOZE - 
10.5-11.1 
 
 Ver nota sobre Mc 6.7-13; Lc 9.1-6. 
 Pelo caminho das gentes (5). Havia, na Galiléia, cidades gregas 
que seguiam uma vida separada dos judeus. Os apóstolos haviam de 
limitar-se às cidades dos judeus. Os samaritanos (5). Eles ocupavam a 
região central da Palestina, entre a Judéia e a Galiléia. Eram 
descendentes dos povos orientais importados pelos assírios, depois da 
destruição do reino israelita no norte, que se misturaram com os nativos 
israelitas. Desde o tempo de Neemias, eram inimigos ferrenhos dos 
judeus. Cf. Jo 4.9. 
 A casa de Israel (6). Nem no Velho Testamento, nem no Novo, 
limita-se este termo somente às dez tribos do norte. 
 É chegado o reino dos céus (7). Esta era a mensagem tanto de 
João Batista (ver 3.2 n.) como de Jesus (4.17). 
 Cintos (9). A dobra do cinto servia como bolso para guardar 
dinheiro. 
 Túnicas (10). Gr. chitônas, túnica exterior semelhante à toga 
romana. Bordão (10). Cf. Mc 6.8, que dá a entender que havia apenas 
um bordão entre dois. Parece que o Senhor não queria que fossem como 
viajantes comuns. Digno é o operário do seu alimento (10). Eles 
haviam de depender das ofertas e da hospitalidade daqueles a quem iam 
pregar. Estas palavras são citadas em 1Tm 5.18, na forma dada por 
Lucas. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 43 
 Procurai saber (11). No Oriente, era tão comum oferecer 
hospitalidade que muito provavelmente receberiam muitos convites para 
serem hospedados; entretanto, eles não deviam aceitar hospedagem da 
parte dos que rejeitassem sua mensagem. 
 Saudai-a (12). A saudação comum era «paz seja convosco», o que 
explica o vers. 13. 
 Sacudi o pó dos vossos pés (14). Este ato simbólico significava 
rejeição e condenação. Nem o pó da cidade ímpia havia de permanecer 
em contacto com eles. 
 Em verdade (15) – gr. amen, transliteração da palavra hebraica 
para ,«em verdade», que dava ênfase ao que segue. 
 Sodoma e Gomorra (15). A história da destruição destas cidades 
se encontra em Gn 19. Ver também Ez 16.49-50; Jd 7. Aplica-se este 
ensino a Cafarnaum, em Mt 11.23-24. O vers. 16 se refere à mansidão e 
à vida exteriormente indefesa dos cristãos em face dos seus inimigos no 
mundo. 
 Prudentes como as serpentes (16). Cf. Gn 3.1, a frase revela quão 
necessária seria a sabedoria, de vez que a serpente era universalmente 
considerada a mais prudente de todos os animais. A natureza daquela 
virtude seria bem diferente, como a seguinte frase indica. Vê-se o 
exemplo desta sabedoria na prática, em 1Co 9.19-23. É sugestivo que 
estas qualidades deviam manifestar-se em face da terrível oposição que 
haviam de encontrar. Com o vers. 17, cf. Mc 13.9-13; Lc 12.11-12; 
21.12-19. 
 Vos será ministrado (19). O vers. seguinte revela que isto seria 
pelo ministério pessoal do Espírito Santo. 
 O irmão (21). O grego omite o artigo definido. Os filhos se 
levantarão (21). Esta frase é um resumo de Mq 7.6. 
 Por causa do meu nome (22). Porque pertencem a Mim. Aquele 
que perseverar até o fim será salvo (22), isto é, que perseverar numa 
vida de fé. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 44 
 Alguns têm interpretado a última parte do vers. 23 no sentido de 
que o Senhor se referia a um encontro com os apóstolos, mais tarde, no 
Seu ministério. Porém, esta interpretação não consoa com a noção dada 
neste Evangelho e em todo o Novo Testamento, a respeito da vinda do 
Filho do homem. Parece que este trecho difícil amplia a comissão 
apostólica, que se refere aqui a circunstâncias puramente locais, para 
incluir a obra missionária da igreja universal em todos os séculos. Como 
fato histórico, ainda é verdade que existem judeus que precisam do 
Evangelho e que estãodispostos a aceitá-lo. 
 No vers. 24, o Senhor ensina aos discípulos que se ocupem do 
mesmo trabalho com que Ele se ocupou, não esperando melhor 
tratamento do que o que Ele mesmo recebeu. 
 Belzebu (25) – gr. Beelzeboul ou Beezeboul. O nome refere-se a 
um demônio e é, provavelmente, um termo de desprezo para Satanás. A 
origem do termo não é conhecida. A primeira parte do vocábulo vem do 
hebraico baal, «senhor». Talvez a segunda se derive do hebraico zebul, 
«casa». Assim, Satanás seria chamado «senhor da casa» (dos demônios). 
Este sentido concorda bem com o contexto. Outros têm achado uma 
conexão com o nome Baal-Zebube, «senhor das moscas», divindade 
pagã mencionada em 2Rs 1. Neste caso, a mudança da consoante final 
para «l» sugere o hebraico zebel, «esterco» ou «lixo». 
 Não temais... (28). A pior coisa que nossos inimigos podem fazer 
é destruir a vida corporal, o que não impede a bendita ressurreição para a 
vida eterna. A Deus, porém, pertence o poder da «segunda morte», que é 
eterna destruição. Alma (28). Personalidade ou entidade pessoal. O 
contraste aqui feito é entre este mundo e o que há de vir. 
 Inferno (28). Geena, sinônimo da segunda morte. Ver 5.22 n. 
Ceitil (29) -- gr. assariou. A moeda romana «asse», que valia no tempo 
de Nosso Senhor a décima sexta parte de um denário, tendo hoje o valor 
de cinco cruzeiros ou menos. 
 Sem vosso Pai (29). Sem que Ele se interesse. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 45 
 Me confessar (32). Testificar que pertence a Mim. No final de 
contas, o discipulado secreto é impossível. Como se vêem nos vv. 34 e 
39, esta confissão pública de fé em Cristo acarreta divisão e conflitos, 
primeiramente na vida da família. Ver o trecho paralelo de Lc 12.49-53. 
A mensagem angélica de «paz na terra», que foi proclamada quando 
Jesus nasceu, não tem seu cumprimento exterior neste mundo. Cumpre-
se, agora, no coração e caráter daquele que crê, mais perfeitamente, no 
mundo vindouro, na «nova terra». 
 Espada (34). Apto símbolo da divisão, assim interpretada por Lc 
12.51. Os vv. 35-36 são uma citação de Mq 7.6, traduzida do hebraico, 
que leva a influência dos LXX. 
 O verso 37 ensina que todo homem deve escolher entre as 
obrigações muito íntimas para com os parentes mais chegados e as de 
Cristo. Cf. Mt 15.4. ver Lc 14.26 nota. 
 Digno de mim (37). Idôneo para meu serviço. Os vv. 38-39 
repetem-se em 16.24-25. Ver também Mc 8.34-35; Lc 11.23; 14.26-27; 
Jo 12.25. 
 Não toma a sua cruz (38). Esta é a primeira menção da cruz no 
Evangelho, bem como no Novo Testamento. Era costume o condenado 
carregar sua cruz até o lugar da execução. Há muita evidência de que o 
Senhor já antecipara a maneira de sua morte. Estas palavras são o ponto 
culminante da sua advertência aos apóstolos, que sua missão atrairia 
prisões e perseguições e até a morte como em Seu caso. Estas palavras 
importantes têm também uma significação profundamente espiritual, que 
constitui a base do ensino do apóstolo Paulo a respeito da identificação 
do crente com a cruz de Cristo (ver Gl 2.20). 
 Quem achar a sua vida (39). Refere-se àqueles que vivem de 
modo egoísta. Vida -- ver 6.25 n. Aqui a palavra significa a vida do ego, 
ou vida natural, em contraste com a vida espiritual. Achá-la-á (39). No 
mundo vindouro. A vida gasta totalmente no serviço de Cristo, neste 
mundo, achará sua máxima expressão e contentamento depois, na vida 
eterna. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 46 
 Galardão de profeta... galardão de justo (41). Refere-se à 
recompensa merecida por ter recebido um profeta ou um justo. 
 Estes pequenos (42). Uma provável referência aos discípulos 
fracos, ou talvez aos discípulos em geral. 
 
Mateus 11 
Cf. o verso 11.1 com 7.28 n. 
 
VIII. JOÃO BATISTA E CRISTO - 11.2-24 
 
 Os vv. 2-19 constituem trecho paralelo de Lc 7.18-35 (ver notas). 
 No cárcere (2). Já foi mencionado este aprisionamento em 4.12, 
mas as circunstâncias são descritas no cap. 14.3-12, onde os pormenores 
da morte de João são relatados. Feitos de Cristo (2). Seus milagres. Dois 
(2). Gr. duo. Alguns textos trazem dia, que deve ser traduzida «por». 
 Aquele que havia de vir (3). O Messias profetizado no Velho 
Testamento, cuja vinda João havia proclamado. 
 Os cegos vêem (5). Alusão a Is 35.5; 61.1, onde este e mais outros 
milagres citados neste verso são mencionados, como obras que o 
Messias deveria efetuar. João entenderia tal alusão. Aos pobres é 
anunciado o evangelho (5). Mais outra alusão à profecia de Is 61.1, 
concernente ao Messias, que João entenderia. 
 Uma cana agitada pelo vento (7). Uma coisa tão comum que 
ninguém prestaria atenção nela. 
 Muito mais (9). A citação, no versículo 10, vem de Ml 3.1, 
somente as primeiras palavras seguem os LXX. João Batista era o 
precursor de Cristo, como estava predestinado, e como o verso 11 
sugere, era último dos profetas do Velho Testamento. Ver também o 
verso 13. Ele pertence à dispensação do Velho Testamento. Há diversas 
interpretações do verso 11. O crente mais fraco, tendo a luz do 
conhecimento da Glória de Deus na face de Jesus Cristo ressurreto, é 
mais privilegiado do que era João. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 47 
 Os que de mulher têm nascido (11). A frase quer dizer «homens 
mortais» e enfatiza a vida neste mundo. Ainda que João fosse o maior de 
todos nesta vida, não há posição aqui na terra que se compare à glória da 
vida vindoura. É lícito perguntar em que sentido era João o maior entre 
os mortais. Talvez seja que, de toda a humanidade, só ele percebeu, com 
suas faculdades, no mesmo instante, as três pessoas da santíssima 
Trindade (3.16-17). Neste caso, a interpretação poderia ser que, na vida 
futura esta será a experiência comum do mais pequeno no reino. 
 Se faz violência ao reino dos céus (12) – gr. biazetai. O 
problema do sentido desta frase e o da conexão dos vv. 12-14 com o 
contexto é muito grande. Parece que o desenvolvimento do pensamento é 
o seguinte: João, pelo seu batismo de pecadores, abriu o reino dos céus 
àqueles que, de modo algum, teriam sido considerados idôneos para 
obtê-lo. Ele representa o ponto culminante do testemunho do Velho 
Testamento. Era ele o cumprimento da profecia da vinda de Elias. Se 
tomamos biazetai no sentido passivo, então a frase, com a seguinte, 
significa que desde João os arautos e mensageiros do reino são recebidos 
com violenta perseguição. Não apoiamos a interpretação segundo a qual 
estas não teriam sido as palavras do Senhor, mas de um redator que 
escreveu sobre a vida de João, depois de decorridos os primeiros anos da 
igreja primitiva. A expressão “desde os dias de João Batista até agora” 
pode ser traduzida «desde os dias quando João pregava». Do outro lado, 
no trecho paralelo de Lc 16.16, o verbo biazetai está na voz média. 
Neste caso, a frase podia significar que o reino dos céus está impondo 
sua influência ao mundo e comunicando sua força e entusiasmo aos que 
o recebem e nele entram. 
 É este Elias que havia de vir (14). Ver Ml 4.5-6. Aqui o Senhor 
declara positivamente que a profecia a respeito da vinda de Elias foi 
cumprida na pessoa de João Batista. É importante notar que não é 
preciso tomar literalmente toda profecia do Velho Testamento. Parece 
que o sentido de Ml 4.6 é que João havia de ligar o Velho com o Novo 
Testamento. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 48 
 Esta geração (16). Recusou abrir os seus ouvidos e se excusou a 
atender a João e a Jesus. O Senhor os assemelha a crianças que brincam 
nas ruas. 
Alguns interpretam o versículo 17 como descrição de brincadeira de 
criança - brincando de casamento e de enterro. Outros consideram que 
era brincadeira popular em que cantavam os responsos nas palavras deste 
verso. Os ouvintes de Jesus opuseram-se primeiro a João (18) e depois a 
Ele (19) e, assim, a aplicação do ensino é patente. 
 A sabedoria é justificada por seus filhos (19). Alguns textos 
substituem «filhos» por obras. No trecho paralelo de Lucas, lê-se 
«filhos», o que talvez influa no texto aqui.De outro lado, «obras» pode 
ser uma glosa sobre filhos. Em todo caso, o sentido é o mesmo, 
referindo-se aos frutos da sabedoria. A sentença quer dizer tanto a 
sabedoria de João como a de Jesus, que se expressa na pregação de um 
novo modo de viver, tendo sido justificada pelos resultados. 
 As denúncias contra as cidades da Galiléia (20-24) são 
mencionadas por Lucas, mas com outra conotação. Ver Lc 10.13-16. 
 Corazim (21). Distava uma hora de viagem a norte de Cafarnaum. 
Betsaida. Situava-se na banda ocidental do Mar da Galiléia, a uns cinco 
quilômetros a sudeste de Corazim. 
 Tiro e Sidom (22). Cidades situadas na costa mediterrânea da 
Síria, além da fronteira setentrional da Palestina. 
O verso 23 refere-se a Is 14.13-15, onde a frase se aplica ao rei da 
Babilônia e tem uma possível alusão a Satanás. Inferno (23) - gr. 
haidou, que corresponde ao hebraico sheol, «sepulcro». Cf. verso 24 
com 10.15. 
 
IX. O CONVITE DO EVANGELHO - 11.25-30 
 
 Respondendo (25). As palavras que se seguem expressam a 
resposta do coração de Jesus às circunstâncias descritas nos vv. que 
precedem. Graças te dou (25). Gr. exomologoumai, «reconheço». 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 49 
Pequeninos (25). No sentido espiritual. Refere-se aos que recebem a 
revelação divina com simplicidade de fé. 
 O verso 27 cf. com Jo 3.35; 17.2. 
 A figura empregada nos vv. 28-30 teria imediata aceitação numa 
comunidade agrícola. 
 O Jugo (29). Bem pode representar o ensino de Cristo, o que, por 
implicação, contrasta com os ensinos opressivos dos fariseus (ver Mt 
23.4). Encontrareis descanso para vossas almas (29). Estas palavras 
são tiradas de Jr 6.16. Os LXX trazem: «encontrareis purificação das 
vossas almas» - sendo corrigida no Evangelho conforme o sentido 
hebraico. 
 Suave (30) - gr. chrestos, «bom» ou «simpático». O trecho é 
peculiar ao Evangelho de Mateus. 
 
Mateus 12 
X. DISPUTA COM OS FARISEUS - 12.1-45 
 
a) O sábado (12.1-21) 
 Ver nota sobre Mc 2.23-3.6; Lc 6.1-11. 
 Um sábado (1). O sétimo dia da semana começava ao pôr do sol 
de sexta-feira e terminava ao pôr do sol, no sábado. 
 O que não é lícito (2). Os fariseus haviam carregado o dia do 
sábado com uma multidão de minuciosas observâncias não prescritas por 
Moisés. Parece que eles protestaram neste caso contra o ato de debulhar 
espigas com as mãos. 
 Não tendes lido (3). Uma referência a 1Sm 21.1-6. O argumento 
aqui é que, em caso de necessidade, as provisões da lei cerimonial não 
eram insuperáveis. 
 Pães da proposição (4). Ver Lv 24.5-9. Os colocados na mesa do 
lugar santo do tabernáculo, cada sábado, e depois de tirados de lá, o 
sacerdote e sua família os comiam. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 50 
 O verso 5 alude a Nm 28.9. Os sacerdotes preparavam os 
sacrifícios no sábado, não obstante a proibição geral do trabalho. Se as 
necessidades do culto no templo permitiam que o sacerdote profanasse o 
sábado, com tanto mais razão o serviço de Cristo sanciona a mesma 
liberdade. 
 Misericórdia quero e não sacrifício (7). Ver nota sobre 9.3. O 
princípio anunciado aqui é que a ética é mais importante que o ritual. 
Não é difícil perceber a aplicação do princípio no contexto. O verso 8 
assevera que Jesus Cristo tem o direito de interpretar as ordenanças 
mosaicas, que não devem interferir em seu serviço. 
 O verso 13 aponta o fato que o poder para obedecer acompanhou o 
mandamento. 
 Os vv. 18-21 são tirados de Is 42.1-4. A última parte é um pouco 
abreviada, seguindo o hebraico, mas na última frase segue os LXX. 
 Meu servo (18). No trecho original do Velho Testamento refere-se 
a Israel, isto é, o verdadeiro Israel é corporalmente representado na 
pessoa do Messias. Ver também Is 41.9. Anunciará aos gentios o Juízo 
(18). Esta é uma profecia que a justiça de Deus seria revelada aos gentios 
por meio do evangelho. 
 Os vv. 19-20 revelam a mansidão de Jesus. Ele nunca clamou em 
voz alta, nem combateu em debate amargamente. Ele nunca desprezou 
nem ofendeu a fé mais fraca que seja e nem a consciência pesada. Até 
que faça triunfar o juízo (20). Ou, até o triunfo final da justiça. 
 
b) Exorcismo e a blasfêmia dos fariseus (12.22-37) 
 Ver nota sobre Mc 3.22-30; Lc 11.14-22. 
 Não é este o Filho de Davi? (23) - título messiânico, ver. 9.27 n. 
 Belzebu (24). Ver 10.25 n. Aqui Belzebu é identificado com 
Satanás. 
 Jesus conhecendo os seus pensamentos (25) - gr. eidos. Ele 
percebeu, ou compreendeu, o verdadeiro sentido de seus pensamentos. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 51 
 Vossos filhos (27). Talvez uma referência aos discípulos dos 
fariseus. Um exemplo de exorcismo entre os judeus é citado em At 
19.13-16. 
 O reino de Deus (28). Mateus adota geralmente o termo «o reino 
dos céus», cuja significação é idêntica. Ver 3.2 n. É chegado a vós (28). 
O reino os achou desprevenidos. O poder do Senhor sobre os demônios 
era evidência da sua identidade messiânica. 
 O verso 29 é difícil de interpretar. Uma interpretação é que este 
poder do Senhor sobre os demônios mostra que Satanás já estava 
«manietado». Esta limitação da atividade de Satanás podia ter acontecido 
quando o reino de Deus veio, talvez quando o Senhor venceu as 
tentações de Satanás no deserto, antes de iniciar seu ministério público. 
Satanás é «furtado» todas as vezes que as almas são tomadas presas pelo 
evangelho de Cristo. 
 Quem não é comigo é contra mim (30). Não há meio termo. Ou 
ganhamos almas para Cristo ou afugentamo-las de Deus. Em Mc 9.40 o 
inverso desta verdade é ensinado. Este trecho se aplica a qualquer ensino 
positivamente antibíblico, ao passo que o de Marcos se refere mais aos 
casos como de divergências denominacionais. 
 A blasfêmia contra o Espírito (31). Este pecado, a rejeição 
propositada de Cristo e sua salvação é o único que, pela natureza, priva o 
homem da possibilidade de perdão. Ver Nm 15.27-31, onde há referência 
à oferta para expiação do pecado cometido por ignorância e não do 
pecado intencional. Cometer pecado intencionalmente era blasfêmia 
contra o Senhor. Ver Mc 3.28-29 n. e cf. Lc 12.10. 
 O verso 32 apresenta um contraste que à primeira vista parece 
estranho. A explicação é que o Espírito Santo é quem oferece a salvação 
ao coração do homem. 
 Pelo fruto se conhece a árvore (33). O argumento aqui é que as 
boas obras de Cristo eram evidência de sua bondade e em conseqüência 
não deram lugar à blasfêmia cometida pelos fariseus. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 52 
 A ilustração da árvore é de sentido duplo, porque o verso 34 mostra 
tanto a malevolência dos fariseus quanto a bondade de Cristo. 
 Por tuas palavras (37). Palavras não são a causa, mas a evidência 
de justificação ou de condenação. 
 
c) O sinal (12.38-45) 
 Ver também Lc 11.29-32 e cf. Mc 8.11-12. 
 Tomaram a palavra (38). E a continuação do pensamento dos 
versos anteriores. Apresentada a afirmação do Senhor, os fariseus pedem 
evidência, apesar de tudo o que tinham visto de milagres. A palavra 
adúltera (39) significa infiel a Deus; esta metáfora se usa muito no 
Velho Testamento. 
 O profeta Jonas (39). Consultar o livro de Jonas para 
pormenores. O verso 40 é tirado dos LXX de Jn 1.17. 
 Três dias e três noites (40). O período em apreço era da sexta-
feira de tarde até o domingo de manhã. A expressão quer dizer que três 
períodos de vinte e quatro horas, da sexta-feira, sábado e domingo, eram 
parcial e completamente cumpridos. Ventre da baleia (40). A palavra 
grega traduzida «baleia» quer dizer um grande monstro do mar. 
 Os ninivitas (41). É significativo que o Senhor dá aos ninivitas a 
mesma historicidade como os seus próprios ouvintes têm. 
 A rainha do meio dia (42). A rainha de Sabá. Ver 1Rs 10. O 
Senhor compara sua sede de sabedoria humana com a atitude dos que 
recusaram ouvir aquele que é mais do que Salomão (42). Notem as 
afirmações semelhantes quanto à importância de Jesus, nos vv. 6 e 41. 
 Os vv. 43-45 servem como ilustração do fato que os judeus, 
embora purificados da idolatriadurante o cativeiro babilônico, 
mostraram uma incredulidade e dureza de coração que produziram um 
pior estado moral do que aquele que antes possuíam, quando eram 
idólatras, antes do cativeiro. Cf. Lc 11.24-26. 
 
 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 53 
XI. JESUS E SUA FAMÍLIA - 12.46-50 
 
 Ver notas sobre Mc 3.21,31-35; Lc 8.19-21. 
 
Mateus 13 
XII. TERCEIRO DISCURSO. OS ENSINOS PARABÓLICOS 
- 13.1-53 
 
a) A parábola do semeador (13.1-23) 
 Ver notas sobre Mc 4.1-20; Lc 8.4-10. 
 Por parábolas (3). Uma parábola ilustra uma verdade espiritual 
na forma de uma história. O verso 11 revela que originalmente eram 
dadas aos que ignoravam por completo as verdades espirituais. Ver notas 
sobre os vv. 13-14 abaixo. Os discípulos, porém, compreenderam e, 
assim, não precisavam de parábolas para atrair sua atenção. A palavra 
vós, no verso 11, é enfática e serve de contraste. A interpretação desta 
parábola foi dada pelo Senhor nos vv. 18-23. 
 Os mistérios (11). A palavra dá a idéia de segredos, que só os 
iniciados poderiam compreender. 
 O verso 12 anuncia um princípio do mundo espiritual. Cf. o pai do 
pródigo que correu ao encontro do filho quando este regressou (Lc 
15.20); também o endurecimento do coração de Faraó por Deus, depois 
de ter recusado o aviso de Moisés (Êx 8.32-9.12). 
 Vendo não vêem (13). As coisas espirituais não têm significação 
para aqueles dotados somente de compreensão natural. Mesmo quando 
as contemplam eles não entendem, na mesma maneira que os animais 
não entendem as coisas do nosso mundo. Ver 1Co 2.14. 
 Os vv. 14 e 15 são copiados, palavra por palavra, dos LXX de Is 
6.9-10, que descreve a chamada do profeta, o estado do povo a quem foi 
enviado, e cita a mensagem que ele havia de comunicar-lhe. Como no 
tempo de Isaías, assim também no tempo do Senhor, os judeus fecharam 
os olhos propositadamente contra a verdade espiritual. Ver Mc 4.12 n. A 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 54 
bem-aventurança mencionada no verso 16 explica-se no fato de que 
nasceu uma Luz, com a vinda de Cristo, que era desconhecida nos 
tempos do Velho Testamento. 
 A palavra do reino (19). A mensagem do evangelho. 
Compreendem (19). Significa perceber, crer e apropriar. 
 Se ofende (21). Cai na cilada de satanás. 
 Os cuidados deste mundo (22). Refere-se às preocupações que os 
interesses mundanos quase sempre trazem. 
 Dá fruto (23). Note-se mais uma vez que é preciso dar fruto para 
provar a realidade da fé (cf. 7.24). 
 
b) Outras parábolas (13.24-53) 
 1. A PARÁBOLA DO TRIGO E DO JOIO (13.24-30) - O reino 
dos céus (24). Aqui, esta frase aplica-se ao método pelo qual Deus opera 
durante o tempo do evangelho. O propósito, nesta parábola é o de revelar 
aquele método, como se vê da interpretação dada pelo Senhor nos vers. 
37-43. 
 Joio (25). Uma espécie de centeio falso que cresce como erva 
daninha no meio do trigo. É muito parecida ao verdadeiro centeio até que 
as espigas se formam. Farinha de trigo feita com a mistura deste centeio 
falso é venenosa. 
 2. A PARÁBOLA DO GRÃO DE MOSTARDA (13.31-32) - Cf. 
Mc 4.30-32; Lc 13.18-19. A mais pequena (32). A semente de mostarda 
é normalmente muito pequena. Plantas (32) --gr. lachanon, «plantas» 
ou «legumes». Na Palestina, a mostarda atinge a altura de alguns metros. 
Vêm as aves dos céus e se aninham nos seus ramos (32). Esta frase se 
encontra em diversos trechos do Velho Testamento (cf. Ez 17.23; 31.5; 
Sl 104.12; Dn 4.12-21), é semelhante aos LXX de Dn 4.21. Estas 
referências fornecem a explicação da parábola. Em Ez 17, a «árvore» é o 
novo Israel. Isto é o reino dos céus mencionado na parábola. Mas, em Ez 
31 e Dn 4, a árvore representa os impérios do mundo gentio, da Assíria e 
da Babilônia, respectivamente. Desta maneira, a parábola antecipa o 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 55 
desenvolvimento da igreja como poder universal, o que se cumpriu em 
sua plenitude na idade média. Ora, a interpretação das aves, dada no 
verso 19 acima, como figura do maligno, completa o quadro da igreja 
visível em sua apostasia. Esta interpretação é mais provável do que 
aquela que vê nessa série de parábolas somente o crescimento benéfico 
do evangelho. Cf. Mc 4.30-32 n. 
 3. A PARÁBOLA DO FERMENTO (13.33) - Fermento. Em 
todos os casos, na Bíblia, onde o fermento é mencionado 
simbolicamente, representa o mal. Este fato conforma com a 
interpretação dada acima, da parábola da mostarda. Uma medida - gr. 
sata, corresponde ao hebraico seah - aproximadamente seis litros. 
 4. A EXPLICAÇÃO DA PARÁBOLA DO JOIO (13.34-43) - A 
citação do verso 35 é tirada do Sl 78.2. A primeira parte é citada dos 
LXX, a segunda do hebraico. É notável que o evangelista interpreta o 
Salmo como profecia de Cristo. 
 Filhos (38). Este termo é empregado para significar os que 
pertencem ou ao reino, ou ao maligno, respectivamente. 
 O que causa escândalo e os que cometem iniqüidades (41). 
Alusão ao texto hebraico de Sf 1.3. O grego da palavra «iniqüidade» é 
anomian, ilegalidade. 
 Os justos resplandecerão (43). Alusão a Dn 12.3. Não é que a 
parábola nem sua explicação implicam dever o cristão tolerar o mal. 
Antes apresenta esta vida terrestre, na qual tantas vezes o mal 
predomina, na luz do último triunfo da justiça, aqui descrita. 
 5. AS PARÁBOLAS DO TESOURO ESCONDIDO E DA 
PÉROLA DE GRANDE VALOR (13.44-46) - Também (44). Omitido 
em alguns textos. Uns interpretam o verso 44 como referência a Nosso 
Senhor, que deu tudo o que tinha para comprar o tesouro, que era o seu 
povo. Outros o interpretam como o pecador dando tudo para conseguir a 
salvação. Sem dúvida, há elementos de verdade nas duas interpretações. 
Esta dupla interpretação também se aplica à parábola da pérola de grande 
valor. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 56 
 6. A PARÁBOLA DA REDE (13.47-50) - Neste caso, uma 
interpretação da parábola é dada logo. Sua significação é muito 
semelhante à da parábola do joio. Quando a rede é lançada pelo 
evangelista, apanha os que são realmente convertidos e também os que 
somente fazem uma profissão. Na consumação dos séculos (49). Haverá 
naquele tempo a aceitação e a rejeição de muitos. 
 7. FIM DO DISCURSO (13.51-53) - Instruído (52), ou, que se 
tornou discípulo. Coisas novas e velhas (52). De sua vez, os discípulos 
iam tornar-se responsáveis pelos ensinos do Mestre, ressaltando novas 
verdades de tudo que aprenderam Dele e, ao mesmo tempo, revelando a 
beleza da verdadeira significação escondida dos ensinos do Velho 
Testamento. Para o verso 53, ver nota sobre 7.28. 
 
XIII. JESUS EM SUA PÁTRIA - 13.54-58 
 
 Ver notas sobre Mc 6.1-6, cf. Lc 4.16-30. 
 Sua pátria (54). Mais provavelmente Nazaré e não Cafarnaum (cf. 
4.13). Maravilhavam-se (54). A palavra no original é muito forte: 
«ficavam atônitos». 
 O filho do carpinteiro (55). A palavra no grego significa também 
pedreiro. Ver nota sobre 2.23. Como o nome de José não é mencionado, 
muitos comentaristas concluem que já morrera. Seus irmãos (55). Não 
há razão para supor que estes irmãos, tanto como as irmãs mencionadas 
no verso seguinte, não eram filhos de José e Maria. 
 A incredulidade (58). Daqueles que pensavam conhecê-lo melhor, 
o que limitou o poder de Deus. 
 
Mateus 14 
XIV. A MORTE DE JOÃO BATISTA - 14.1-12 
 
 Ver notas sobre Mc 6.14-29; Lc 9.7-9. Herodes, o tetrarca (1). 
Este é Herodes Antipas, filho de Herodes, o Grande. Tinha governado a 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 57 
Galiléia e a Peréia desde a morte de seu pai. A significação de tetrarca é 
dada na nota sobre 2.2. 
 Criados (2). Gr. paisin, «rapazes». João Batista ressuscitou dos 
mortos (2). Parece que esta superstição tinha muita aceitação. Lc 9.7 dá 
a idéia que Herodes não era o autor desta idéia. Cf. Mt 16.14. 
 Herodias (3). Mulher de Filipe, irmão de Herodes. Este não é 
Filipe, o tetrarca (Lc 3.1), mas outro irmão do mesmo nome. Não se sabe 
quais eram os pais dela. 
 A filha de Herodias (6). Salomé, filha de Herodias e de Filipe. 
Casou-se depois com seu tioFilipe, o tetrarca. Note-se que os 
acontecimentos deste cap. não são dados em ordem cronológica, mas na 
ordem que facilita a retenção na memória do leitor. 
 
XV. MILAGRES 14.13-36 
 
a) A primeira multiplicação dos pães (14.13-21) 
 Este é o único milagre que todos os evangelistas registram. Ver 
notas sobre Mc 6.30-46; Lc 9.10-17; Jo 6.1-15. 
 Jesus ouvindo isto (13). Esta frase liga os milagres, que seguem, 
com a morte de João, quanto a ordem cronológica. Vê-se dos vv. 1-2 que 
Mateus narra sua história no passado. Aqui, como em outros trechos, o 
propósito do escritor não é contar a história na sua ordem cronológica, 
mas apresentá-la de um modo que fique gravada na memória. O povo 
(13), melhor a multidão. 
 A hora é já avançada (15). Indicação de que era a hora do jantar. 
Pães (17), melhor, pãezinhos. 
 Se assentasse (19). Iam reclinar-se sobre o cotovelo esquerdo, pois 
era o costume daquela época, para comerem. 
 Alcofas (20) – gr. kophinous, «cesta para comprar». Ver notas 
sobre Lc 9.17. Este milagre ilustra o valor de alimentar-nos com Cristo 
no coração, mediante fé na sua palavra. Ver Jo 6.27-59, que relata o 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 58 
discurso do Senhor, sobre o «pão da vida», que seguiu, como resultado 
direto da multiplicação miraculosa. 
 
b) Jesus anda por cima do mar (14.22-36) 
 À quarta vigília da noite (25). Quer dizer, entre três e seis horas 
da madrugada. Sou eu (27) – gr. ego eimi. Esta frase representa o nome 
de divindade. Ver Êx 3.14. 
 Respondeu-Lhe Pedro (28). Só Mateus conta esta ação de Pedro. 
O incidente é muito característico daquele discípulo impulsivo. 
 És... o Filho de Deus (33). No aramaico o uso dessa expressão 
dava a entender que Jesus era divino. 
 Genesaré (34). A planície a noroeste do Mar da Galiléia. A ação 
de Pedro descendo do barco respondendo à chamada de Jesus, ilustra 
claramente a fé que responde à chamada do evangelho e também o 
conflito entre a fé e a dúvida que surge tantas vezes na experiência do 
cristão. 
 
Mateus 15 
XVI. CONTROVÉRSIAS COM OS FARISEUS SOBRE 
RITUAIS - 15.1-20 
 
 Ver nota sobre Mc 7.1-23. 
 De Jerusalém (1). Parece que os principais chefes religiosos 
vieram para investigar o ministério e doutrina de Jesus. 
 A tradição dos anciãos (2). No tempo do Senhor, os judeus criam 
que, além da lei escrita de Moisés, havia uma lei oral que lhe fora dada 
no Sinai, e que esta lei lhes fora transmitida verbalmente até o tempo da 
grande sinagoga ou concílio dos anciãos, que sucedeu a Esdras, depois 
da volta do cativeiro. Aquele concílio continuava até 91 A. C. e seria o 
autor dos muitos acréscimos à lei de Deus, que se encontram no 
Judaísmo, tanto antigo como moderno. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 59 
 Não lavam as mãos (2). Este ato consistia em derramar um 
pouquinho de água fria sobre as mãos estendidas. Os judeus não se 
interessavam em limpeza, mas no ritual. 
 Por que transgredis vós também (3). O Senhor mostra que os 
acréscimos à palavra de Deus chegam a contradizê-la no fim. 
 Honra a teu pai e a tua mãe (4). Quinto mandamento do 
decálogo. Ver Êx 20.12; Dt 5.16. Quem maldisser... morra de morte 
(4). Citação dos LXX de Êx 21.17. 
 É oferta (5). Era possível para o judeu, aproveitando-se de uma 
falsa interpretação da lei, dedicar seus bens ao templo e assim fugir da 
responsabilidade de sustentar os pais e continuar a desfrutar de seus 
bens. Note-se que o Senhor interpreta o mandamento de honrar aos pais 
num sentido prático. Para as crianças, o significado é a obediência (Ef 
6.1-3) e para os adultos, o sustento dos pais. O Senhor condenou aquela 
prática comum, baseado na tradição, posto que destruiu por completo o 
propósito da lei (verso 6). 
 O mandamento (6) gr. entolen. Outros manuscritos dizem nomon 
«lei» e logon «palavra». Talvez seja a última a mais provável. 
 Os vers. 8-9 citam Is 29.13 e seguem os LXX, onde difere do 
hebraico. 
 Contamina (11). Profana o homem. É termo técnico, que ilustra a 
idéia judaica segundo a qual o comer certos alimentos vedados priva o 
homem de santidade e, por último, de sua aceitação por Deus. Os chefes 
dos judeus ofenderam-se com esta contradição propositada de seus 
próprios ensinos. 
 Nos vv. 13-14 o Senhor ensina luminosamente aos discípulos que 
os fariseus não têm missão de Deus, sendo eles mesmos cegos. Eles e 
tudo o que sua religião representava seriam destruídos. 
 Pedro, falando da parte dos outros, pede uma explanação do ditado 
que tanto ofendera. Então o Senhor, mais pormenorizadamente, 
continuou o ensino, para benefício deles. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 60 
 Ventre (17) gr. aphedrona, vocábulo raro que significa «esgoto» 
ou «cloaca». 
 Isso contamina (18). «Isso» é enfático. 
 Maus pensamentos (19). Quer dizer desígnios ímpios. Blasfêmias 
(19). Não somente a blasfêmia no sentido estrito, mas também a crítica 
ou difamação de outrem. 
 
XVII. MAIS MILAGRES - 15.21-39 
 
a) A mulher cananéia (15.21-28) 
 Ver notas sobre Mc 7.24-30. 
 Tiro e Sidom (21). Ver notas sobre 11.22. Esta é a única ocasião, 
de que sabemos, em que o Senhor saiu fora das fronteiras da Palestina, 
durante seu ministério. 
 Uma mulher cananéia (22). A mulher era uma gentia, 
descendente dos cananeus, que habitavam a Síria e a Palestina, antes da 
conquista de Josué. 
 Filhos (26). Por este termo Nosso Senhor se refere aos judeus. Os 
cachorrinhos são os gentios. O Senhor mostrou esta atitude a fim de 
provar a fé da mulher. 
 
b) A segunda multiplicação dos pães (15.29-39) 
 Ver notas sobre Mc 7.31-8.10. É uma perversidade sugerir que 
este milagre é o mesmo referido em Mt 14.13-21, sendo esta uma 
segunda versão de um acontecimento só. Se um Evangelho tivesse 
mencionado os cinco mil somente, e outro quatro mil somente, então 
teria sido mais difícil refutar esta opinião. Mas não somente Mateus, mas 
também Marcos, refere-se aos dois acontecimentos e de um modo tão 
claro que se torna patente que para eles havia dois milagres diferentes. 
 Glorificava (31). Ver nota sobre 9.8. 
 Cestos (37) – gr. spyridas, o que se usava no mercado, então 
maiores do que as cestas de 14.20. Ver nota sobre 16.9-10. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 61 
 Magdala (39). Mais correto seria Magadã. Alguns pensam que 
fosse subúrbio de Tiberíades. Estes milagres de multiplicação de pães 
revelam claramente a compaixão do Senhor e sua prontidão em 
satisfazer as necessidades do homem, quer sejam materiais, quer 
espirituais. Tiago oferece um ótimo comentário sobre este ponto (Tg 
2.14-17). 
 
Mateus 16 
XVIII. CONTROVÉRSIAS COM FARISEUS E SADUCEUS - 
16.1-12 
 
 Ver notas sobre Mc 8.11-21. 
 Adúltera (4). Aqui a palavra tem o sentido espiritual de infidelidade 
a Deus. O sinal do profeta Jonas (4). Ver nota sobre 12.39-41. 
 A outra banda (5). Refere-se ao Mar da Galiléia. Para o verso 9, 
cf. 14.17-21; para o verso 10, cf. 15.3-38. É importante notar que as 
diferentes palavras «alcotas» e «cestos», utilizadas nestes versos, são um 
ponto de diferença, que põe em relevo o fato de serem descritos dois 
acontecimentos independentes. 
 
XIX. A CONFISSÃO DE SIMÃO PEDRO - 16.13-20 
 
 Ver notas sobre Mc 8.27-33; Lc 9.18-21. 
 As partes de Cesaréia de Filipos (13). Esta cidade era situada no 
Nordeste da Galiléia, perto da nascente do Jordão. Partes, quer dizer «o 
distrito». 
 O verso 14 revela que a opinião pública deu ao Senhor uma 
posição de maior destaque, identificando-o com os heróis nacionais do 
passado. João Batista (14). O próprio Herodes deu crédito a esta 
superstição. Ver nota sobre 14.2. Sabemos, de 21.26, que João era muito 
estimado pelo povo, como profeta. A vinda de Elias foi profetizada por 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 62 
Malaquias (4.5) e os judeus ligavam muitas vezes o nome de Jeremias 
com o profeta prometido em Dt 18.15. 
 Tu és Cristo (16). Simão Pedro reconheceu e declarou 
abertamente a divindade do Senhor. É possível que tenha falado da parte 
de todos os discípulos.O verso 20 dá a entender que era uma convicção 
que todos aceitavam. 
 Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja (18). 
A palavra grega traduzida «pedra» é petra e serve de trocadilho ao nome 
de Pedro, que em grego é Petros. A interpretação católico-romana desta 
passagem é que Pedro é a pedra fundamental da igreja, que gozava de 
uma primazia entre os apóstolos e se tornou bispo de Roma, passando 
esta primazia a seus sucessores, os papas. Era difícil sustentar a primeira 
proposição e impossível defender as outras. Uns comentaristas, apoiados 
por alguns pais da igreja, tendem a identificar a pedra ou com a 
confissão de Pedro ou com o Senhor mesmo. A interpretação mais 
simples é que Pedro é indicado como a pedra, sem ser o único 
fundamento. Os doze fundamentos da igreja são mencionados em Ef 
2.20 e Ap 21.14. Esta interpretação é apoiada pelo fato de que as 
mesmas palavras são dirigidas a todos os discípulos em 18.18, como a 
Pedro em 16.19. 
 A palavra traduzida igreja, gr. ekklesian, significa uma 
assembléia escolhida. Nunca se usa em referência à organização exterior 
da igreja, mas refere-se a toda a companhia dos fiéis para incluir toda a 
alma regenerada. Esta é a primeira menção da palavra no Novo 
Testamento. Seu uso nos LXX corresponde ao hebraico qahal, 
«congregação». 
 As portas do inferno não prevalecerão contra ela (18). A 
interpretação comum deste trecho sempre era que os poderes do mal 
nunca poderão prevalecer contra a igreja de Cristo. Embora verdade, o 
sentido mais real é que a morte nunca vencerá finalmente os crentes, 
visto que todos ressuscitarão um dia. A palavra inferno, gr. haidês, 
significa sepulcro, hebraico sheol. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 63 
 As chaves do reino (19). Isto significa que Pedro tinha o direito de 
entrar no reino por si mesmo, onde teria autoridade geral, simbolizada 
pelas chaves que lhe foram confiadas. Pela pregação do evangelho, 
Pedro abriu o reino dos céus para todo o crente e fechou-o aos 
descrentes. O livro dos Atos relata o desenvolvimento dessa passagem. 
Quando Pedro pregou, no dia de Pentecostes (At 2.1-40), ele abriu a 
porta do reino pela primeira vez. Ver At 8.14-17; 15.7. As expressões 
ligar e desligar eram uma parte do vocabulário legal dos judeus e se 
referem às coisas proibidas e às permitidas pela lei. Pedro e os demais 
discípulos iam continuar na terra a obra de Cristo, pregando o evangelho 
e revelando a vontade de Deus aos homens, sendo revestidos com a 
mesma autoridade que o Mestre possuía. No céu, Cristo sanciona o que é 
feito no seu nome, em obediência a sua palavra, aqui na terra. 
 Que a ninguém dissessem (20). A revelação ficou restrita aos 
discípulos até depois da ressurreição do Senhor. Cf. 17.9 n. 
 
XX. PRIMEIRO AVISO DOS SOFRIMENTOS DE CRISTO - 
16.21-28 
 
 Ver notas sobre Mc 8.34-38; Lc 9.22-27. 
 Desde então (21). A fé dos discípulos, que a confissão de Pedro 
evidenciou, tinha chegado ao ponto de justificar o prenúncio dos 
sofrimentos de Cristo. Desde este momento, o ministério do Senhor 
assume outro caráter, enquanto Ele procura preparar seus discípulos a 
aceitar o fato que Ele tinha que sofrer, mesmo contra as expectativas 
deles. Anciãos (21). Os chefes religiosos. É provável que se refira aos 
membros do Sinédrio. O terceiro dia (21). Os três dias eram sexta-feira, 
sábado e domingo, contando-se os dias conforme o uso dos judeus. 
 De modo nenhum te acontecerá isso (22). A reação imediata de 
Pedro ao novo ensino do Senhor mostra que eles estavam longe de 
compreender o significado do sofrimento do Mestre. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 64 
 Satanás (23). O Senhor reconheceu nas palavras de Pedro uma 
repetição das tentações que sofreu no deserto, cujo fim era evitar a cruz. 
Escândalo (23). Armadilha ou cilada. Compreendes (23) – gr. 
phroneis. É difícil traduzir esta palavra, que ocorre também em Rm 8.5 
e Fp 2.5. Significa adotar uma atitude sobre a qual se baseia a vida e as 
ações. Os vv. 24 e 25, confronte-os com 10.38-39. 
 Renuncie-se a si mesmo (24). Renunciar as imposições da própria 
vontade. Tome sobre si (24). O original quer dizer «levantar». A palavra 
é mais forte do que é usada em 10.38 e implica que a cruz deve ser 
levantada para que todos possam vê-la. 
 Sua alma (26) -- gr. ten psychen autou, a mesma palavra que é 
traduzida «vida» no verso anterior. Perder a alma ou a vida significa 
perecer. Ver nota sobre 6.25 e 10.39. 
 Então dará a cada um segundo as suas obras (27). As palavras 
são tiradas dos LXX do Sl 62.12 e Pv 24.12, substituindo-se kata ten 
praxin por kata ta erga. Esta mudança dá ênfase à direção da vida, mais 
do que aos atos individuais. Este grande princípio fundamental do Velho 
Testamento torna-se mais explícito pelo Senhor, ao esclarecer que terá 
cumprimento na Sua volta. O conteúdo de ambos estes trechos do Velho 
Testamento é significativo, levando-nos o de Provérbios a examinar os 
nossos corações. 
 O verso 28 tem causado dificuldades. Talvez possa referir-se a 
qualquer das seguintes manifestações do reino de Cristo, principalmente 
a Transfiguração (que já ocorrera. Cf. 2Pe 1.16, onde o apóstolo Pedro 
afirma ter presenciado a vinda de Cristo), o dia de Pentecostes ou a 
destruição de Jerusalém. 
 
Mateus 17 
XXI. A TRANSFIGURAÇÃO - 17.1-13 
 
 Ver notas sobre Mc 9.2-13; Lc 9.28-36. Pedro, Tiago e João (1). 
Estes três discípulos testemunharam em certas ocasiões acontecimentos a 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 65 
que os demais não assistiram. O fato de serem três cumpriu cabalmente a 
lei de Moisés a respeito de testemunhas. 
 Transfigurou-se (2). Sua forma e aparência mudaram-se. 
 Moisés e Elias (3). Eles representam a lei e os profetas, 
respectivamente. Ver Jd 9, onde há uma alusão à ressurreição de Moisés 
e 2Rs 2.11, que conta a história do arrebatamento de Elias. 
 Bom é estarmos aqui (4). Pedro queria perpetuar a visão daquela 
situação e propôs a construção de tabernáculos ou tendas. 
 Uma voz (5). A voz do Pai, as palavras faladas nessa ocasião se 
comparam às de 3.17. 
 A ninguém conteis a visão (9). Supomos que os outros discípulos 
estavam incluídos nessa proibição. Cf. 16.20. Quanto mais perto da cruz 
o Senhor chegava, tanto mais evitava, propositadamente, qualquer 
manifestação popular em seu favor, que bem podia ter acontecido se os 
discípulos tivessem proclamado o que sabiam. Cf. Jo 6.14-15. 
 A pergunta dos discípulos no verso 10 tem sua explicação na 
suposição de que a ressurreição de Jesus significaria o fim do mundo e a 
inauguração do reino. Assim concluíram que seria necessário Elias voltar 
e manifestar-se publicamente primeiro. Sua aparição no monte 
justificaria essa espera. O Senhor respondeu com as palavras de Ml 4.5-
6, que vaticina a vinda de Elias. 
 Restaurará todas as coisas (11). Ver Lc 1.17. Aqui o Senhor 
reitera que a profecia da vinda de Elias fora cumprida com João Batista. 
Ver nota sobre 11.14. Jesus não fala dele por nome, mas lembra seu 
sofrimento que é comparado ao que ele mesmo vai passar (12). 
 
XXII. A CURA DUM MENINO LUNÁTICO - 17.14-21 
 
 Ver nota sobre Mc 9.14-29; Lc 9.37-42. 
 Sofre muito (15) -- gr. kakos echei, «está muito doente». 
 Fé como um grão de mostarda (20). Isto significa que a fé, uma 
vez implantada no coração, cresce normalmente como qualquer outro 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 66 
organismo. Este monte (20). Refere-se a qualquer obstáculo ou 
dificuldade que parece ser impossível na vida do cristão. Talvez seja 
uma alusão indireta ao desaparecimento da economia judaica e, mais 
tarde, do Império Romano pagão. Os melhores manuscritos omitem o 
verso 21, que é uma interpolação de Mc 9.29. 
 
XXIII. SEGUNDO AVISO DOS SOFRIMENTOS DE CRISTO 
- 17.22-23 
 
 Ver notas sobre Mc 9.30-32. Cf. Lc 9.43-45. 
 Achando-se eles (22). Neste período o Senhor viajou de um lugar 
para outro sem alarde, ao mesmo tempo preparando seus discípulos para 
a última viagem a Jerusalém, a qual começaem 19.1. Este segundo aviso 
do seu futuro sofrimento não é mais bem compreendido pelos discípulos 
do que o primeiro. As narrativas de Marcos e Lucas revelam que eles 
começaram a manifestar certa apreensão quanto ao futuro, mas não 
ousaram pedir explicações. 
 
XXIV. O TRIBUTO DO TEMPLO - 17.24-27 
 
 Didracmas (24). Gr. ta didrachma, «duas dracmas», que era a 
taxa de meio siclo que cada judeu maior de vinte anos deveria recolher 
para a manutenção do templo. Valeria cerca de vinte centavos 
americanos. 
 Os alheios (26). Os povos subjugados sempre pagavam uma taxa 
mais pesada e pagavam primeiro. Os filhos, isto é, o povo do rei era 
livre. O Senhor Jesus Cristo era senhor e dono do templo e não lhe cabia 
pagar a taxa. Entretanto, sua recusa em pagá-la bem podia ser mal 
entendida e, nesta circunstância, o Senhor não quis ofender. De outro 
lado, quando um princípio fundamental estava em jogo, o Senhor não 
modificava sua mensagem para não ofender. Cf. 15.10-14. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 67 
 Um estáter (27). Esta moeda de prata era a tetradracma – gr. 
statera -- que equivalia ao siclo e era a quantia exata para o pagamento 
da taxa de duas pessoas. 
 
XXV. QUARTO DISCURSO. ENSINAMENTOS SOBRE A 
HUMILDADE E O PERDÃO 18.1-19.2 
 
 Este é o último grande discurso antes de Jesus viajar a Jerusalém. 
Marcos observa que foi dado em casa, referindo-se provavelmente à casa 
de Pedro (Mc 9.33 - cf. Mt 17.25). O discurso foi proferido em 
conseqüência do ciúme que se manifestou entre os discípulos no 
caminho para Cafarnaum. 
 
Mateus 18 
a) A humildade (18.1-20) 
 Ver também Mc 9.33-37; Lc 9.46-48. 
 Um menino (2). Talvez um membro da família de Pedro. 
 Vos converterdes (3) – gr. straphete, «virar». O termo significa 
que a vida toda, e não somente a pessoa, torna-se para Deus, o que 
acontece numa genuína conversão. Vos fizerdes como meninos (3). A 
conversão não significa somente a fé, humildade e simplicidade de 
crianças, mas também o novo começo da vida por meio da regeneração. 
 Receber em meu nome (5), isto é, pelo fato de a criança me 
pertencer. 
 Os vv. 8-9 constituem um parêntese no tema geral e falam dos 
escândalos, lit. «ciladas». Repetem substancialmente os vv. 29-30. Mão, 
pé e olho, respectivamente, as ações, a conduta e os desejos. O fogo 
eterno.... o fogo do Inferno (8-9). A segunda morte. Ver 5.22 n. 
 No verso 10 o tema da humildade continua, onde se expressa a 
idéia de que a falta de humildade constitui uma ofensa. 
 Seus anjos sempre vêem a face de meu Pai (10). Esta é mais 
uma razão para honrar e não desprezar as crianças. É uma alusão aos 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 68 
anjos de guarda que acompanham a toda criança, pelo menos de toda 
criança piedosa. Seu ministério é explicado em Hb 1.14, que descreve os 
anjos na presença do Pai dos Céus, onde esperam suas ordens a respeito 
das crianças. Alguns consideram que se refere à representação exata da 
criança, já presente no mundo espiritual da realidade. O termo é 
empregado neste sentido em At 12.15, onde o vocábulo moderno seria «é 
seu espírito». Entretanto, não há evidência de que os cristãos 
mencionados em At 12.15 acreditavam nesta idéia mais do que as 
pessoas modernas crêem seriamente em fantasmas. 
 Os melhores manuscritos omitem o verso 11. É lamentável perder 
do contexto este lindo verso tão bem conhecido, mas a omissão é justa. 
Se fosse parte do original, teria sido difícil omiti-lo. De outro lado, não é 
difícil compreender que este verso, tirado de Lc 19.10 foi intercalado 
para fazer uma conexão mais natural entre os vv. 10 e 12. Uma versão 
mais completa da parábola da ovelha perdida se encontra em Lc 15.3-7. 
 Se perca (14). Este verso não exclui a possibilidade da perdição, 
mas observa somente que Deus não a deseja. 
 Teu irmão (15). É provável que esta palavra não se limita ao 
irmão na fé, mas tem um sentido mais amplo. Repreende-o (15). É 
preciso que reconheça o seu erro. A última parte do verso 16 vem de Dt 
19.15, seguindo os LXX em geral. O Senhor incorpora este justo e 
razoável princípio da lei mosaica no Novo Testamento, onde serve para 
o benefício da Igreja Cristã. 
 Um gentio e publicano (17). Tais pessoas não seriam aceitas na 
igreja. O pecador obstinado deve ser cortado da comunhão cristã, ao 
menos provisoriamente. Exemplos disso são dados em 1Co 5.4-5 e 1Tm 
1.20. Para o verso 18, cf. 16.19 n. Aqui a promessa é dirigida a todos os 
discípulos. 
 O verso 19 é uma das grandes promessas do evangelho com 
respeito à oração. É preciso notar a conexão do verso com todo o 
contexto. A promessa é dada propriamente aos discípulos reunidos, com 
Cristo no meio (20), com o fim de disciplinar um irmão no erro (17). 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 69 
Repete-se sua autoridade para exercer esta função (18) e a promessa é 
cumprida porque agem da parte do Pai, no nome do Filho. 
 Em meu nome (20). Esta frase subentende o direito à sua 
autoridade. 
 
b) O perdão (18.21-19.2) 
 Pedro aproximando-se (21). O tema dos versos seguintes 
naturalmente segue o dos versos 14-17, visto que, para ganhar um irmão, 
é preciso perdoá-lo quando se arrepende. Este trecho é peculiar a 
Mateus. 
 Setenta vezes sete (22). Esta frase significa inúmeras vezes ou, 
simplesmente, «sempre». A expressão é um grande contraste com o 
perdão limitado de Pedro. 
 Dez mil talentos (24). Uma quantia muito elevada que 
corresponderia aproximadamente a cinco milhões de dólares americanos. 
Para que Se lhe pagasse (25). Naturalmente a venda do servo e de sua 
família não seria suficiente para pagar a enorme dívida. Este não é o 
ponto importante da parábola. 
 Cem dinheiros (28). Refere-se aos dinheiros romanos, cujo valor 
total seria de aproximadamente oito dólares, num contraste notável com 
os dez mil talentos do verso 24. 
 Atormentadores (34) – gr. basanistais. Uma tradução desta 
palavra é «carrascos». Uma explicação da parábola é dada nas notas 
sobre 6.14-15. O verdadeiro perdão vem do coração que já foi purificado 
e regenerado. O perdão é um dos sinais duma fé verdadeira. Outro 
aspecto dessa verdade é dado em Ef 4.32. 
 
Mateus 19 
 O verso 19.1 indica o fim da seção XXV, deste Comentário. Ver 
nota sobre 7.28. 
 Os vv. 1-2 descrevem sucintamente uma viagem da Galiléia à 
região da Judéia, além do Jordão, isto é, Peréia. Tal viagem levaria muito 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 70 
tempo, no qual se passaram os acontecimentos descritos em Lc 9.15-
18.34. Também pertencem a este período na Peréia os ensinos e 
incidentes de Mt 19.3-20.34. 
 
XXVI. ENSINAMENTOS SOBRE O DIVÓRCIO, COMO 
RESPOSTA AOS FARISEUS - 19.3-12 
 
 Por qualquer motivo (3). O motivo da pergunta era que existiam 
dois ensinamentos entre os rabis judaicos sobre o divórcio. Um recusava 
o divórcio, a não ser por infidelidade ou imoralidade; o outro o permitia 
por qualquer pretexto trivial. 
 Aquele que os fez no princípio (4). Referência a Gn 1.27 dos 
LXX. 
 E disse (5). Em Gênesis, a frase que segue não é atribuída a Deus, 
mas constitui parte da narrativa (ver Gn 2.24). Porém o Senhor a atribui 
ao Criador. Este fato revela sua compreensão da inspiração das 
Escrituras. 
 Uma só carne (6). Os dois se tornam um pelo ato sexual. Na sua 
explicação do assunto, o Senhor deixou Moisés de lado e se referiu à 
revelação primitiva no Éden. 
 A segunda pergunta dos fariseus (7) alude a Dt 24.1. Jesus 
respondeu que a lei mosaica se acomodava, em certas coisas, à natureza 
pecaminosa do homem. 
 Prostituição (9). Ver nota sobre 5.32. Comete adultério (9). 
Melhor, faz dela uma adúltera. Esta tradução alternativa é comparável 
com o trecho paralelo em 5.32 (ver notas). 
 Não convém casar (10). O pensamento dos discípulos era este, 
que é mais prudente para o homem não se casar, uma vez que este ato o 
liga indissoluvelmente a sua mulher. É difícil seguir a conexão de 
pensamento entre os vv. 9-10 e os que precedem. 
 Esta palavra (11). Talvez uma referência à indissolubilidadedo 
casamento do verso 9. Neste caso, suas observações sobre eunucos, no 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 71 
verso 12, têm o propósito de mostrar a possibilidade de disciplina que o 
cristão pode exercer sobre si. Se ele pode disciplinar-se a ponto de se 
abster do casamento, pode, também, disciplinar-se no sentido de guardar 
suas promessas de fidelidade conjugal. Esta palavra pode ser também 
uma referência ao comentário dos discípulos, no verso 10. Neste caso, os 
vv. 11,12 querem dizer que há alguns que são capazes de se conformar 
com a idéia dos discípulos, não se casando. 
 Se castraram (12). A má compreensão destas palavras, que foram 
tomadas literalmente nos tempos de ascetismo, acarretou tragédias, de 
quando em quando, no decurso da história cristã. As palavras referem-se 
a abstenção do casamento por causa do evangelho. O princípio em 
apreço é explicado em 1Co 7.25-38. Quem pode receber isto, receba-o 
(12). Parece que o Senhor se refere à observação dos discípulos, no verso 
10, e não à indissolubilidade do casamento. Este verso não glorifica a 
vida de celibato, mas implica que somente os que são verdadeiros 
eunucos podem aceitar o pensamento dos discípulos. Aqueles que podem 
abandonar todo o desejo de casamento por causa do reino dos céus 
podem ser chamados a uma vida de celibato. Caso não possa fazer isso, o 
homem deve casar-se normalmente. 
 
XXVII. A BÊNÇÃO SOBRE AS CRIANÇAS - 19.13-15 
 
 Ver notas sobre Mc 10.13-16; Lc 18.15-17. 
 Meninos (13). Parece que não eram crianças, mas meninos de uma 
idade tal que podiam responder à chamada de Cristo. 
 Dos tais (14). Pessoas com a disposição de crianças. 
 
XXVIII. RIQUEZAS E SALVAÇÃO - 19.16-20.16 
 
 Para os vv. 16-29. Cf. notas sobre Mc 10.17-31; Lc 18.18-30. 
 Bom Mestre (16). Muitos manuscritos omitem a palavra «bom». 
A tradução alternativa do verso 17, conforme esta modificação, diz: “Por 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 72 
que me perguntas a respeito do que é bom?”. A frase “não há bom senão 
um só” concorda com Marcos e Lucas. Não é que o Senhor negue sua 
divindade por estes termos, mas aponta ao seu interrogador as 
implicações contidas no adjetivo bom. 
Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos (17). 
A força do argumento é que o mancebo supunha que os guardava. A 
frase não é uma declaração do Evangelho. As Escrituras sempre afirmam 
que ninguém é capaz de guardar os mandamentos. Para os vv. 18.19. Cf. 
Êx 20.12-16; Dt 5.16-20; Lv 19.18. A citação vem dos LXX. O mancebo 
errou supondo que tinha guardado os mandamentos (20), especialmente 
o do amor ao próximo. Contudo ele percebeu que tinha necessidade. 
Se queres ser perfeito (21). Cf. 5.48 n. Vai vende tudo o que tens 
e dá-o aos pobres (21). Tirado do contexto, este mandamento não é uma 
instrução geral que obriga a todo crente seguir uma vida de pobreza. O 
Senhor chamou o homem a este passo, posto que seria a prova mais certa 
de sua sinceridade. O mandamento concorda com o princípio bíblico que 
o cristão deve possuir somente o que é necessário para a vida diária e 
para o trabalho de Deus em que se ocupa. 
Há três interpretações do verso 24. Primeira, o camelo e o fundo da 
agulha podem ser considerados literalmente. Segunda, a palavra camelo 
significaria «corda» e o fundo da agulha considerar-se-ia ainda 
literalmente. Terceira, a palavra camelo seria considerada literalmente, 
mas o fundo da agulha referir-se-ia a uma pequena porta ao lado da porta 
principal de Jerusalém, pela qual um camelo somente depois de 
descarregado podia passar e, mesmo assim, ajoelhado e empurrado. Esta 
última interpretação parece a mais razoável. Em todo caso, o sentido é 
compreensível e os discípulos logo o entenderam (25). 
A Deus tudo é possível (26). Uma alusão a Gn 18.14; Jó 42.2; Zc 8.6. 
A salvação não é possível pelo esforço humano. É ato sobrenatural. 
Nós deixamos tudo (27). Aqui Pedro se compara ao mancebo rico 
que tinha recusado a renunciar seus haveres. Que receberemos? Refere-
se à promessa do Senhor de «um tesouro no céu» (21). O Senhor 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 73 
responde bondosamente a pergunta, mas na parábola seguinte (20.1-16) 
adverte-os do perigo de julgar o assunto por um padrão terreno. Ver 
notas sobre o verso 30. 
Na regeneração (28) – gr. palingenesia. Esta frase tem relação 
com o mundo renovado do futuro, «o novo céu e a nova terra». Vos 
assentareis para julgar (28). Cf. 1Co 6.2-3. Ap 3.21. 
Ou mulher (29). Alguns manuscritos omitem estas palavras. Cem 
vezes tanto (29). Alguns textos trazem pollaplasiona, «muitas vezes». 
 O argumento do verso 30, que se repete em 20.16, é que a 
recompensa, no mundo vindouro, depende da graça de Deus e da fé em 
Cristo, e não da qualidade nem da quantidade do serviço feito. 
 
Mateus 20 
 Esta parábola, que está só em Mateus, sublinha este fato. 
 Um dinheiro (2). Moeda romana que valia uns poucos cruzeiros. 
 Ociosos na praça (3). Os que queriam empregar-se soíam reunir-
se na praça. 
 As horas mencionadas nos vv. 5-6 são meio-dia, três da tarde e 
cinco da tarde, respectivamente. 
 Recebereis o que for justo (7). Alguns manuscritos omitem esta 
frase. 
 Começando pelos derradeiros (8). Há uma conexão entre esta 
frase e 19.30-20.16. Este é o tema principal da parábola. 
 O verso 15 mostra que tudo depende da graça de Deus que tem 
direito de dar ou de negar como ele quiser. É preciso cuidar que esta 
bondade divina não produza em nós uma mágoa. 
 O verso 16 ensina que todos os crentes receberão igualmente a 
recompensa, sendo a vida eterna que a morte de Cristo lhes conseguiu. 
Esta atitude divina, quando julgada do ponto de vista material, como nos 
vv. 11-12, será considerada assim: os derradeiros serão os primeiros e os 
primeiros serão os derradeiros. Muitos serão chamados mas poucos 
escolhidos (16). Omitido em alguns manuscritos. Entretanto, cabe bem 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 74 
no texto e se refere às palavras do Senhor em 19.23-26, onde ele fala da 
dificuldade que muitos experimentam em crer e obedecer ao evangelho, 
pelo fato de se acharem preocupados com o que podem ganhar para si, 
quer no mundo presente, quer no mundo futuro. 
 
XXIX. TERCEIRO AVISO DOS SOFRIMENTOS DE 
CRISTO - 20.17-19 
 
 Ver notas sobre Mc 10.32-34; Lc 18.31-34. A viagem para 
Jerusalém continua agora depois da visita à Peréia (ver 19.1-2 n). Como 
os acontecimentos finais da vida do Senhor se aproximam. Ele procura 
mais uma vez instruir seus discípulos. E mais uma vez eles não podem 
compreender, como se vê no pedido dos filhos de Zebedeu, que segue. 
Contudo, o cumprimento desta profecia minuciosa fortaleceria sua fé na 
hora da realização. Cf. a mensagem do anjo em 28.6. 
 
XXX. O PEDIDO DE TIAGO E JOÃO - 20.20-28 
 
 Ver notas sobre Mc 10.35-45. 
 Filhos de Zebedeu (20). Mt 4.21 revela que os dois filhos eram os 
apóstolos Tiago e João. 
 Dize (21) - melhor, «manda». Tanto o pedido como a indignação 
dos outros discípulos (24) mostram que todos os discípulos ainda 
esperavam o estabelecimento do reino terrestre, apesar da profecia tão 
clara da paixão e morte do Senhor, que Ele acabara de anunciar. 
 Alguns manuscritos omitem a última parte da pergunta do Senhor, 
no verso 22. É possível que fora adaptada do trecho paralelo, Mc 10.38. 
Esta nota aplica-se também ao verso 23. Tanto o cálice como o batismo 
referem-se ao sofrimento e morte do Senhor. 
 Seja vosso serviçal (26). Como no verso 27, uma tradução 
melhor, «será vosso serviçal». 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 75 
 Para ser servido (28). Não devemos rejeitar o serviço de outrem. 
Mesmo Cristo aceitou, mas Ele não ambicionou tal serviço e nós 
devemos seguir seu exemplo. A sua vida (28) - gr. ten psychen autou, 
«sua alma». Resgate (28) - gr. lytron. Esta frase importante fornece uma 
das poucas ocasiões em que a doutrina duma redenção vicária é 
mencionada nos Evangelhos sinóticos. A palavra significa o preço pago 
para libertar cativos. Naturalmente,nem Deus nem o diabo receberam 
um lucro material pela morte do Senhor, como alguns têm imaginado no 
passado. O preço consistia na necessidade de dar a sua vida. Destarte sua 
vida se tornou o preço de nossa redenção. 
 
XXXI. A CURA DOS DOIS CEGOS - 20.29-34 
 
 Ver notas sobre Mc 10.46-52; Lc 18.35-43. 
 Dois cegos (30). Marcos e Lucas mencionam apenas um. Ver nota 
sobre 8.28. 
 
XXXII. OS ACONTECIMENTOS DA ÚLTIMA SEMANA DO 
MINISTÉRIO - 21.1-23.39 
 
Mateus 21 
a) A entrada triunfal em Jerusalém (21.1-11) 
 Ver notas sobre Mc 11.1-10; Lc 19.29-39; Jo 12.12-15. 
 Betfagé (1). Uma aldeia perto de Betânia, situada a uns dois 
quilômetros a leste de Jerusalém, do outro lado do cume do Monte das 
Oliveiras. 
 O Senhor os há de mister (3). A narrativa dos últimos 
acontecimentos na vida do Senhor revela que havia em Jerusalém e 
circunvizinhanças pessoas que reconheciam Jesus como o Senhor. É 
possível que eles se tornaram discípulos durante o tempo do primeiro 
ministério em Jerusalém, que João descreve. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 76 
 A citação do verso 5 é uma combinação de Is 62.11 e Zc 9.9 e 
adota em geral os LXX. 
 Hosana (9). Palavra hebraica que quer dizer «salve Senhor». 
Encontra-se em 2Sm 14.4 e Sl 118.25. Deste mesmo Salmo, verso 26, é 
tirada a aclamação bendito o que vem em nome do Senhor. 
Há um contraste notável nos vv. 10 e 11, entre os homens da 
cidade, que ignoravam a identidade do Senhor, e a multidão que sabia 
responder à pergunta deles. É muito provável que dentro da multidão 
houvesse muitos galileus que tinham ido ali para assistir à festa e que já 
conheciam o Senhor, em conseqüência de suas pregações e ministério de 
curas no Norte. 
 
b) A purificação do templo (21.12-17) 
 Ver notas sobre Mc 11.15-19; Lc 19.45-47. 
 O templo (12) - gr. to hieron. O termo indica toda a área em cima 
do monte Moriá que o templo, seus recintos e corte ocupavam. De Deus 
(12). Omitido em alguns textos. Cambistas (12). As taxas do templo só 
se pagavam com moedas sagradas e, por esta razão, era necessário 
cambiar dinheiro. A venda de pombas tinha por fim o sacrifício. Na sua 
censura (13), o Senhor cita os LXX de Is 56.7 e Jr 7.11. 
 Indignaram-se (15). Não era somente a popularidade do Senhor 
que provocava sua ira, mas também o uso pelos meninos do título de 
Filho de Davi, que implicava em Jesus ser o Messias. Os sofismas de 
seus inimigos silenciaram perante os louvores dos meninos, 
cumprimento da profecia do Salmo que o Senhor citou (Sl 8.2). 
 Betânia (17). Uma aldeia no declive oriental do Monte das 
Oliveiras, a uns dois quilômetros a leste de Jerusalém. Ali morava 
Lázaro e suas irmãs. 
 
c) A figueira infrutífera (21.18-22) 
 Ver notas sobre Mc 11.12-14,20-26. Senão folhas (19). O fruto da 
figueira aparece em fevereiro, antes das folhas que só nascem em abril 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 77 
ou maio. Era natural, então, esperar que a árvore desse fruto. Nunca 
mais nasça fruto de ti (19). O contexto indica que a figueira infrutífera 
foi escolhida pelo Senhor para ilustrar as dificuldades e obstáculos no 
caminho do evangelho ou da vida espiritual. 
 
d) Disputa com os fariseus, no templo (21.23-22.14) 
 Ver notas sobre Mc 11.27-12.12; Lc 21.1-19. 
 1. O SENHOR SILENCIA SEUS INTERROGADORES (21.23-
27) - Aqui o Senhor raciocina que a pregação de João Batista foi feita 
sem a autoridade deles e que Ele podia ensinar do mesmo modo. 
 2. A PARÁBOLA DOS DOIS FILHOS (21.28-32) - Esta parábola 
está ligada aos versos anteriores pela referência a João (32). Os 
sacerdotes e anciãos não tinham crido nEle (25), ao passo que o povo o 
considerava profeta (26). É notável que no vers. 32 o Senhor dá a 
resposta à pergunta que ele mesmo fizera. 
 Reino de Deus (31). Ver notas sobre 12.28. 
 No caminho da justiça (32), quer dizer, João veio dirigi-los no 
caminho da justiça. Nem vos arrependestes (32). Os fariseus eram 
semelhantes ao filho que professou obediência sem praticá-la. Os 
publicanos se assemelham aos que primeiro desobedeceram e depois se 
arrependeram e foram aceitos por Deus. 
 3. A PARÁBOLA DOS LAVRADORES MAUS (21.33-46) - Ver 
nota sobre Mc 12.1-12. 
 Plantou uma vinha... edificou uma torre (33). Estas palavras são 
adaptadas dos LXX de Is 5.1-2. Os lavradores representam os chefes 
religiosos dos judeus; os servos são os profetas do Velho Testamento. 
Deste modo, a parábola descreve a perseguição e a rejeição dos profetas 
pelos dirigentes civis e eclesiásticos da nação, que dentro em breve iam 
rejeitar o próprio Filho de Deus. 
 No verso 42 o Senhor cita exatamente os LXX do Sl 108.22-23. A 
pedra é Jesus Cristo. Esta história ilustra sua rejeição pelos judeus, pela 
qual Ele se tornou a pedra angular da Igreja Cristã, quando Deus o 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 78 
ressuscitou dentre os mortos. Devido à incredulidade e desobediência os 
judeus são rejeitados e seu privilégio é dado a uma nação (i.e a Igreja 
Cristã) que dê os seus frutos (43). Há uma explanação do trecho em 
apreço em 1Pe 2.4-10. 
 Uma interpretação do verso 44 é a seguinte: A primeira frase 
refere-se aos que estão despedaçados, quando vieram a Cristo para serem 
reconstituídos novas criaturas nEle; a segunda frase refere-se àqueles que 
serão destruídos finalmente por Ele no dia do juízo. 
 
Mateus 22 
 4. A PARÁBOLA DAS BODAS (22.1-14) - Cf. Lc 14.16-24. Esta 
parábola ilustra a dispensação do evangelho, a graça de Deus, a rejeição 
da mesma pelos judeus e a chamada dos gentios. 
 Celebrou as bodas (2). Era o costume oriental que as festividades 
eram celebradas no lado do noivo e não da noiva. Os pais do noivo 
responsabilizavam-se para as bodas. 
 As saídas dos caminhos (9) - gr. tas diexodous ton hodon, 
«encruzilhada». 
 Tanto maus como bons (10). Encontram-se ambos dentro da 
igreja visível. 
 Vestido de núpcias (11). Este vestido, que era apropriado para as 
bodas, foi providenciado pelo dono da festa para cada convidado. 
 Levai-o (13). Os melhores manuscritos omitem. Haverá pranto e 
ranger de dentes (13). Ver 8.12 n. O contexto dá a entender que o verso 
14 ensina que há muitos ouvintes do evangelho e membros da igreja 
visível e apenas poucos corações estão em comunhão com Deus. 
 
e) A questão do tributo a César (22.15-22) 
 Ver notas sobre Mc 7.13-17; Lc 20.20-26. 
 Os herodianos (16). Membros do partido que favorecia à dinastia 
de Herodes e apoiava a autoridade romana. Seu interesse na religião era 
mínimo e geralmente eles se opunham amargamente aos fariseus. O 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 79 
recado deles, citado no verso 16, era insincero, cheio de palavras 
hipócritas e lisonjeiras. A finalidade da pergunta no verso 17 era 
embaraçar o Senhor. Se ele respondesse afirmativamente, seria 
denunciado perante o povo como traidor. Respondendo negativamente, 
podia ser denunciado às autoridades romanas. 
 César (17). Título do imperador romano e chefe de estado. César 
era o sobrenome de Júlio César, o primeiro que aspirou à autocracia, 
adotada por seu filho adotivo, que foi depois o Imperador Augusto. Logo 
chegou a ser considerado título. 
 Dinheiro (19). Ver 20.2 n. 
 Dai pois a César... (21). O Senhor ensina que devemos dar aos 
magistrados civis tudo o que lhes é devido, contanto que não interfiram 
no que pertence a Deus. 
 
f) Os saduceus e a ressurreição (22.23-33) 
 Ver notas sobre Mc 12.18-27; Lc 20.27-40. 
 Os saduceus (23). Ver nota 3.7. 
 Conhecendo (29), isto é, entendendo o sentido. O poder de Deus 
(29). A ressurreição é a evidência máxima desse poder. Cf. Rm 1.4 e Ef 
1.19-20. 
 Nem são dados em casamento (30) - gr. oute gamizontai, 
quando o sujeito do verbo é a mulher, como pode ser o caso aqui, o 
sentido é «dar-se em casamento». O sentido literal do verso é que nem os 
homens nem as mulheres se casam. Os anjos de Deus (30). Melhor, «os 
anjos» simplesmente. O argumento é que os anjos não reproduzem suas 
espécies. A resposta do Senhor não é uma inferência que as famíliasnão 
estarão unidas no mundo vindouro. 
 Moisés disse (34). Ver Dt 25.5-6. Esta ordenança se chama a Lei 
do Levirato. Um caso primitivo ocorre em Gn 38.8. Os LXX desse verso 
são a base da citação em apreço. 
 
 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 80 
g) Controvérsia com os fariseus continuada (22.34-46) 
 Ver notas sobre Mc 12.28-37. 
 Para o experimentar (35). A resposta do Senhor à pergunta do 
verso 37 é adaptada de Dt 6.5, onde se encontra o mandamento original. 
Aqui a citação vem em parte dos LXX e em parte do hebraico. 
Obediência a Deus é a primeira obrigação do homem. 
 Primeiro e grande (38). Melhor, grande e primeiro. 
 Semelhante a este (39). A semelhança consiste na necessidade de 
evidenciar o amor, com sua devoção absoluta ao bem-estar de outrem. A 
citação é tirada de Lv 19.18. Para o verso 40, cf. Rm 13.10. 
 Em espírito (43). Talvez uma referência a uma inspiração do 
Espírito Santo. A citação no verso 44 vem dos LXX do Sl 110.1. A força 
da citação repousa na expressão «Meu Senhor». O trecho profetizou a 
presença atual de Cristo sentado à destra do Pai. A resposta à pergunta 
do Senhor significa que Cristo é tanto Deus como Homem, implicando 
assim sua divindade. 
 
Mateus 23 
h) A denúncia dos fariseus (23.1-39) 
 Cf. Mc 12.38-40; Lc 20.45-47. 
 Na cadeira de Moisés (2). Sinônimo da autoridade de Moisés. 
 Observai pois... o que vos disserem (3). Em consideração das 
censuras que se seguem, é patente que o Senhor se refere às coisas 
lícitas. Muito depende do sentido em que ocupam a cadeira de Moisés. 
Não se pode incluir, por exemplo, a tradição dos anciãos, condenada em 
15.1-20. Como o texto revela, o pecado dos fariseus consistia mais em 
suas práticas más do que nos seus ensinamentos, visto que eles mesmos 
não praticavam o que pregavam. 
 Alargam as franjas dos seus vestidos (5). A franja era um 
amuleto que consistia numa fita de pergaminho em que foram inscritos 
certos trechos do Pentateuco. A franja era enrolada e colocada dentro de 
um pequeno cilindro de metal, levado num estojo quadrado, de couro. Os 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 81 
judeus prendiam esses estojos à testa e no dorso da mão direita, com 
correias, como interpretação literal de Dt 6.8-9. Normalmente eram 
usados somente durante a oração, mas parece que os fariseus os usavam 
sempre com muita ostentação. Alargam as franjas (5). Usavam tais 
franjas em obediência a Nm 15.38-39. 
 Rabi (7-8) - gr. Rabbei, que significa literalmente do hebraico 
«meu professor». Mestre (8), isto é, professor. O Cristo, omitido nos 
melhores textos, provavelmente uma glosa. 
 A ninguém chameis vosso Pai (9), isto é, no sentido espiritual. 
Este mandamento condena o uso da palavra Padre, com referência ao 
Clero ou Capelão. Mestres (10) - gr. kathegetai, lit. guias ou dirigentes 
- professores. Servo (11) - gr. diakonos, ministro ou servidor. Os vers. 
10,12 são muito típicos dos ensinos de Nosso Senhor. Cf. Lc 14.11; 
18.14. 
 Fechais aos homens o reino dos céus (13). Dificultavam o 
progresso do pecador em busca do arrependimento e conversão. 
 Devorais as casas das viúvas (14). Extorquiam dinheiro dos 
indefesos, de forma que estes contraíam dívidas embaraçosas, enquanto 
eles mesmos exibiam sua religião. Mais rigoroso juízo (14). Frase 
omitida nos melhores textos. 
 Prosélito (15). Os judeus reconheciam duas classes de prosélitos: 
os que aceitavam os chamados sete preceitos de Noé e os que se 
submetiam à circuncisão, tornando-se, pela religião, autênticos judeus. 
 Os vv. 16,22 ilustram bem os sofismas dos fariseus quanto aos 
juramentos. Templo (16) - gr. naos, “santuário”. O Senhor ensina que 
todos os juramentos são de igual valor e que ninguém pode fugir das 
conseqüências perante Deus, sob os pretextos citados neste versículo. 
 Dizimais (23). Pela lei mosaica, a décima parte de toda a produção 
devia ser dada para uso dos sacerdotes e levitas. Ver Lv 27.30. Diversas 
qualidades da hortelã crescem na Palestina Endro, gr. anethon, planta 
da Palestina que nasce sem cultivo, cuja fruta é usada na medicina. A 
semente do cominho tinha valor como especiaria. Os fariseus 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 82 
observavam minuciosamente a lei a respeito dessas coisinhas e se 
esqueciam por completo dos preceitos mais importantes. 
 Coais um mosquito (24). Os judeus coavam vinho antes de o 
tomar, a fim de evitar qualquer contato com coisas imundas. O interior 
está cheio de rapina e de iniqüidade. Os fariseus viviam do que 
extorquiam de outrem. 
 Sepulcros caiados (27). Desde que qualquer contato com um 
cadáver produzia imundície na pessoa, conforme a lei de Moisés, era 
costume caiar os sepulcros para serem bem visíveis e assim evitar 
qualquer contato com os mesmos. 
 Condenação do Inferno (33). Seriam considerados dignos do 
Geena. Ver 5.22 n. 
 Para que sobre vós caia (35). A geração à qual estas palavras 
foram dirigidas representa o auge na história pecaminosa da nação, 
começando com o assassínio de Abel, por seu irmão Caim (ver Gn 4 e 
Hb 11.4) e continuando até a morte de Zacarias, filho de Baraquias. Em 
2Cr 24.20-21 lemos a narrativa do homicídio de Zacarias, filho de 
Jeoiada, «no pátio da casa do Senhor». Sabemos que os livros de 
Crônicas encerram o Cânon Hebraico do Velho Testamento. Então, se 
este é o incidente ao qual o Senhor alude, a menção de Abel e Zacarias 
pode ser considerada como uma referência a todo o Velho Testamento. É 
problema que o Zacarias que foi morto em 2Cr 24, não era filho de 
Baraquias. O Zacarias em apreço era o profeta (Zc 1.1). Este viveu 
depois do cativeiro, na época que encerra a história do Velho 
Testamento. Contudo, não há tradição nem evidência de que fosse 
assassinado. Outra possibilidade é que este Zacarias é idêntico ao 
Zacarias, filho de Jeberequias, mencionado em Is 8.2. Deste último não 
há outros dados. Este trecho de Mateus é também incluído no Evangelho 
de Lucas (11.49-51). 
 Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta (38). Referência a 1Rs 
9.7-8; Jr 12.7; 22.5. Aqui o Senhor prediz a destruição do templo. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 83 
 O ministério do Senhor aos judeus termina com o vers. 39, que 
prenuncia sua morte, ressurreição e ascensão à presença do Pai. Dali em 
diante Ele seria conhecido somente pelo novo nascimento. Bendito o 
que vem... (39). Estas palavras são tiradas dos LXX do Sl 118.26. 
 
XXXIII. QUINTO DISCURSO. OS ÚLTIMOS TEMPOS - 
24.1-25.46 
 
 Para 24.1-51 ver notas sobre Mc 13.1-37 e Lc 21.5-38. 
 
Mateus 24 
a) A aproximação do fim (24.1-14) 
 Templo (1) - gr. hierou, significa «recintos do templo». 
 A profecia do verso 2 foi cumprida no tempo do Imperador 
Juliano, que, num esforço vão de reconstruir o templo, mandou tirar até 
aquelas pedras que foram deixadas no tempo da destruição de Tito. 
 Tua vinda (3) - gr. parousia, palavra que expressa uma visita 
real. As perguntas dos discípulos revelam que eles associavam a 
destruição de Jerusalém com o clímax do fim do mundo, e que eram 
convencidos de que Jesus era o Messias cuja manifestação futura, em 
glória, no fim do mundo, ia inaugurar o eterno estado messiânico. Em 
parte, suas convicções eram corretas, quanto à primeira convicção, só 
parcialmente. A destruição de Jerusalém era o sinal de que a velha ordem 
já era obsoleta e que a nova havia começado. Os discípulos ainda 
ignoravam a crucificação e ressurreição, as profecias a respeito das quais 
eles não tinham crido. Compreenderam que a nova era seria inaugurada 
pela ressurreição do Senhor, que marcava a transição. 
 Muitos virão (5). Durante os quarenta anos entre a ressurreição do 
Senhor e a destruição de Jerusalém, apareceram diversos falsos cristos 
que conseguiram muitos adeptos. 
 É mister que tudo isso aconteça (6). Frase tirada dos LXX de Dn 
2.28; cf. Ap 1.1; 4.1. Os melhores manuscritos omitem a palavra «tudo». 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 84 
 Se levantar reino contra reino (7). Alusão a Is 19.2; 2Cr 15.6. O 
texto seguemais o hebraico do que os LXX. É instrutivo consultar o 
contexto de ambos os trechos do Velho Testamento, para compreender 
melhor seu sentido. Fomes e pestes (7). Gr. limoi kai loimoi. A 
semelhança entre estas duas palavras gregas causaria omissão da 
segunda palavra em alguns textos. 
 Dores (8). Dores de parto que caracterizarão o início da época 
messiânica. 
 Surgirão muitos falsos profetas (11). Ver notas sobre 7.15-16. 
 O verso 12 indica que a influência do mundo ser forte demais para 
muitos cristãos professos. 
 É notável que a perseverança é um requisito que acompanha a 
verdadeira conversão (13). 
 Mundo (14) - gr. oikoumene(i), o mundo habitado ou civilizado. 
 
b) A grande tribulação (24.15-28) 
 A abominação da desolação... no lugar santo (15). Esta frase 
misteriosa constitui parte do vocabulário técnico apocalíptico. A frase 
tem sua origem em Dn 9.27; 12.11. No trecho paralelo em Lc 21.20, a 
explicação é dada como o cerco de Jerusalém por exércitos vitoriosos e 
da subseqüente destruição da cidade e do Santuário. O profeta Daniel 
(15). O Senhor confirma a autoria do livro de Daniel, o profeta. Seus 
vestidos (18) - gr. himation, «manto». Nem no sábado (20). Refere-se à 
tradição legal dos judeus, que proibia viagem que excedesse uma curta 
distância. 
 O verso 21 é adaptado de Jl 2.2 e Dn 12.1. Os horrores do cerco de 
Jerusalém cumpriram amplamente a predição. Cerca de um milhão de 
judeus foram mortos, a maioria sendo crucificada e uns dois milhões 
vendidos como escravos miseravelmente. 
 Escolhidos (22). Ver 22.14. 
 Farão tão grandes sinais e prodígios (24). Referência a 
Deuteronômio 13.1-4. A explicação dada em Deuteronômio quanto à 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 85 
função de falsos profetas revela muito do ensino profundo contido nas 
palavras do Senhor. 
 No interior da casa (26) - gr. tameiois, lit. «armazéns». O verso é 
uma advertência para aqueles que correm atrás de qualquer falso profeta 
que pretenda ser o Cristo, nas regiões rurais. Também adverte do perigo 
de crer nos rumores falsos de que Cristo vive clandestinamente na 
cidade. 
 Quando o Filho do homem vier, será manifesto abertamente a 
todos (27). 
 A força do verso 28 é que as aves de rapina logo aparecem quando 
há um cadáver na rua, sendo guiadas pelo instinto ou por um olfato 
sensível, sem outra advertência. Do mesmo modo, todos os verdadeiros 
crentes perceberão a vinda do Senhor, ainda que tenha a rapidez de um 
relâmpago (27) e serão arrebatados à sua presença. 
 
c) A vinda do Filho do homem (24.29-31) 
 Logo depois da aflição daqueles dias (29). A tribulação não 
terminou com a destruição de Jerusalém. O comentarista pensa que 
inclui a subseqüente era cristã. Talvez terá uma intensificação da 
tribulação no fim da era. As expressões utilizadas no verso 29 são mais 
uma vez exemplos da linguagem técnica das profecias. São tiradas de Is 
13.10; 34.4, com algumas variações dos LXX. O primeiro trecho refere-
se à destruição do Império Babilônico e o outro ao Juízo Final, no fim do 
mundo. 
 O sinal do Filho do homem (30). Quer dizer que o Filho do 
homem é o sinal. Todas as tribos da terra se lamentarão (30). Alusão 
a Zc 12.10-14. Agora, os homens lamentam em arrependimento; no dia 
do juízo será o pranto de desespero. O Filho do homem, vindo sobre as 
nuvens do céu (30). Alusão a Dn 7.13, que parece ser também urna 
profecia da ascensão. As palavras referem-se, sem dúvida, à volta de 
Cristo, em glória. No verso 31, notem as alusões a Is 27.13; Dt 30.4; Zc 
2.6. O Senhor comenta o acontecimento que se chama o arrebatamento 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 86 
dos santos. O apóstolo Paulo amplia suas palavras em 1Ts 4.15-17. 
Notem em dois trechos a presença do Senhor em pessoa, a dos anjos ou 
do arcanjo, a trombeta, o arrebatamento dos santos e as nuvens. 
 
d) Exortação à vigilância (24.32-51) 
 Esta parábola (32). A força da parábola é que os acontecimentos 
descritos pelo Senhor, nos vv. 5-28 constituem sinais da certeza e 
iminência da vinda do Senhor. Parece que não há base bíblica neste 
contexto, para comparar a figueira com os judeus, nem para formular 
outras interpretações fantásticas. 
 O verso 34 oferece dificuldades e tem diversas explicações, como a 
seguinte: Esta geração - seria uma referência aos que vêem sinais do 
fim; outros pensam que a geração é a raça dos judeus; outros ainda 
consideram que a palavra tem o mesmo sentido como em Fp 2.15, onde 
se refere aos descrentes em geral. Estas coisas (34). Refere-se ao cerco 
de Jerusalém e contrasta com «aquele dia e hora» (36), que fala do fim 
do mundo. Cf. Lc 21.32 n. O verso 35 revela o contraste entre a natureza 
temporal do universo criado e o caráter eterno da verdade espiritual. 
 Mas unicamente meu Pai (36). Os melhores manuscritos 
conservam as palavras que antecedem, «nem o filho». Ver trecho 
paralelo em Mc 13.32. É difícil compreender esta oração do Senhor 
quanto à limitação dos seus conhecimentos. Não podemos concluir disso 
que seu conhecimento era limitado por causa da encarnação. At 1.7 
revela que tais assuntos constituem ainda a prerrogativa do Pai. 
 Os dias de Noé (37). Ver a destruição em Gn 7.7. 
 Será levado um e deixado o outro (40). Não é claro se um é 
levado à glória e o outro deixado para o juízo, ou se um é levado à 
destruição e o outro deixado vivo. O fato importante é que haverá no fim 
a separação das duas classes que irão para seus destinos diferentes. Ver 
13.49. 
 A pequena parábola do verso 43 serve como advertência para 
aqueles que querem interpretar as alusões das parábolas muito 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 87 
literalmente. A vinda do Filho do homem é comparada às circunstâncias 
de como vem um ladrão à noite. É patente que a história serve somente 
para ilustrar a necessidade de vigiar. O trecho dos vv. 42-51 é 
comparável a Lc 12.36-48 e também a passagem paralela em Mc 13. 
 Pranto e ranger de dentes (51). Ver 8.12 n. 
 
Mateus 25 
e) A parábola das dez virgens (25.1-13) 
 A parábola mostra a diferença entre os verdadeiros cristãos e os 
nominais e reforça a chamada à vigilância, antes da vinda do Senhor. 
 Saíram ao encontro do esposo (1). Ao anoitecer, no dia do 
casamento, o noivo levava a noiva para casa, acompanhado dos amigos 
de ambos. Em caminho, outros os encontravam levando lâmpadas para 
homenagear os nubentes. 
 As bodas (10). Às vezes as festividades continuavam até sete dias. 
 Em que o Filho do homem há de vir (13). Os melhores 
manuscritos omitem esta frase, que é provavelmente uma glosa. 
 
f) A parábola dos dez talentos (25.14-30) 
 Ver notas sobre Lc 19.11-28. Esta parábola ilustra bem o estado da 
igreja antes da vinda de Cristo e naquela mesma hora. 
 Talentos (15). Seu valor era de aproximadamente 750 dólares. 
Capacidade (15) - gr. dynamin, «poder». Logo (15). Esta palavra deve 
ser a primeira palavra do verso 16. 
 Duro (24). Severo ou sem misericórdia. Ceifas onde não semeaste 
(24). O escravo julgou mal o caráter de seu patrão e por isso não podia 
conhecê-lo bem. 
 Atemorizado (25). O escravo calculava que seu mestre o trataria 
injustamente, fizesse o que fizesse. 
 O verso 26 não constitui uma aceitação da parte do patrão de que o 
julgamento do escravo em relação a seu caráter fosse exato. Diz apenas: 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 88 
«se pensaste assim, deverias ter feito assim...». Para o verso 29, cf. 13.12 
nota. 
 
g) O juízo final (25.31-46) 
 O verso 31 alude a Zc 14.5 sendo a maior parte tirada dos LXX. 
Os melhores manuscritos omitem a palavra «santo». Talvez fosse 
intercalada para concordar mais exatamente a citação com o original. Os 
LXX de Zc 14.5 dizem pantes hoi hagioi, «todos os santos». O 
evangelista glosa hagioi por angeloi, «anjos». 
Todas as nações (32). Todos os gentios. A mesma expressão ocorre 
em 24.9 e 28.19. Duas dificuldades surgem com respeito a este 
julgamento das nações. Primeiro, temos que perguntar se «todas as 
nações» quer referir-se aosque são de fora e, caso sim, aos que não são 
judeus ou aqueles que não são cristãos. Se forem aqueles, a interpretação 
é difícil, visto que a distinção entre judeus e gentios tem sido removida 
pelo evangelho. Em consideração do fato que os justos aparecem no 
juízo, é difícil concluir que os cristãos são excluídos. É provável então 
que o termo seja sinônimo de mundo inteiro, tendo este sentido em 24.9 
e 28.19. Em segundo lugar, temos que perguntar se este juízo é o mesmo 
como aquele descrito em Ap 20.11-15. Os vv. de Ap 20.12-13 declaram 
claramente que este juízo é dos mortos. Mas no trecho em apreço nem se 
fala de vivos e mortos, como tais. Parece que não há solução certa ao 
problema, sendo natural supor que o juízo descrito neste trecho inclui os 
vivos e os mortos. É provável que os dois trechos descrevem os mesmos 
acontecimentos e que a menção dos mortos em Ap 20 seria parte do 
contexto ao qual dá ênfase. 
 Sobre o problema da base do juízo em apreço, em que as obras 
podem ser consideradas por alguns como fator decisivo no destino 
eterno, é preciso notar primeiro que as obras são evidências da natureza e 
da atitude e não são, em si mesmas, meritórias. Em segundo lugar, 
vemos em Ap 20.12-13 que as obras constituem evidência do destino 
eterno. Em terceiro lugar, toda atmosfera do espetáculo apresentado 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 89 
neste trecho concorda inteiramente com a do Evangelho de Mateus em 
sua totalidade, de vez que enfatiza constantemente a realidade da 
religião. Esta realidade manifesta-se na vida pela autocrucificação, em 
contraste com a justiça própria dos fariseus. A ênfase joanina é um 
pouco diferente da de Mateus, sem porém contradizê-la. 
Possuí por herança (34). É significativo que o direito à herança é 
devido ao fato de ser membro da família e não um direito que depende 
de ações. 
Preparado desde a fundação do mundo (34). Preparado muito 
antes de as ações serem feitas. O ponto de suprema importância nos vv. 
35 e 36 é a relação com Cristo. 
Meus irmãos (40). Os irmãos de Cristo são os crentes, membros da 
verdadeira Igreja (ver Hb 2.10-12). Não podemos concluir que os 
cristãos não assistirão a este juízo, do mesmo modo, não concluímos que 
as virgens prudentes (verso 2), por não serem idênticas à noiva, não 
representam os verdadeiros cristãos. 
Fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos (41). Não foi 
preparado para os homens, que sempre tiveram oportunidade de serem 
salvos do perigo. Ver nota sobre 18.8. Nos vv. 42-45 a falha daqueles 
que foram condenados consistiu inteiramente na sua negligência. 
Falharam devido ao fato de não haver amor em suas vidas. 
 O v. 46 alude aos LXX de Dn 12.2, que se refere à ressurreição dos 
mortos. Isto dá a entender que os mortos, tanto como os vivos, 
presenciarão o juízo final. 
 Estes capítulos contêm a descrição dos acontecimentos seguintes: 
a trama dos sacerdotes, a unção do Senhor em Betânia, a traição, a 
instituição da Ceia do Senhor, o julgamento perante os sacerdotes, a 
negação de Pedro, o julgamento perante Pilatos e, finalmente, a 
crucificação e ressurreição. 
 
 
 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 90 
XXXIV. A PAIXÃO, MORTE E RESSURREIÇÃO DE 
CRISTO - 26.1-28.20 
 
 Ver notas sobre Mc 14.1-2; Lc 22.1-2. 
 O primeiro verso indica o fim do quinto discurso do Senhor. Ver 
nota sobre 7.28. 
 A páscoa (2). Esta grande festa inaugurava o ano religioso dos 
judeus e comemorava a libertação nacional do jugo egípcio (ver Êx 12). 
Milhares de peregrinos se ajuntavam em Jerusalém naquela data. A 
morte do Senhor era o cumprimento daquilo que a festa anual 
representava. 
 Sala (3). O pátio do palácio. Caifás (3). Era saduceu e havia sido 
eleito sumo sacerdote no ano anterior ao ministério do Senhor. 
 
Mateus 26 
a) A consulta dos sacerdotes (26.1-5) 
 Cf. 6.13 com Mc 14.3-9 n. e Jo 12.1-8. 
 Simão, o leproso (6). É mencionado somente aqui e no trecho 
paralelo de Mc 14.3. Comparando Jo 12.1-8, parece provável que este 
era o pai de Lázaro, Marta e Maria. 
 Preparando-me para o meu sepultamento (12). A significação 
da ação era que seu sepultamento se achava próximo e deste modo 
simbolizou profeticamente sua sepultura. 
 Este evangelho (13). As boas novas da morte e ressurreição do 
Senhor. 
 
b) A unção e a traição (26.6-16) 
 Para os vv. 14-16 cf. notas sobre Mc 14.10-11; Lc 22.3-6. Judas 
Iscariotes (14). Ver notas em Mc 3.19. 
 Eles lhe pesaram 30 moedas de prata (15). A maior parte destas 
palavras são tiradas dos LXX de Zc 11.12. 
 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 91 
c) A última ceia (26.17-35) 
 Ver notas sobre Mc 14.12-31; Lc 22.7-38; cf. Jo 13.1-38. 
 No primeiro dia da festa dos pães asmos (17). A páscoa durava 
oito dias ao todo. O dia em apreço é quinta-feira, 13 de Nisã, quando 
começavam as disposições para remover a massa levedada das casas. 
Assim chegou a ser chamado popularmente “o primeiro dia dos pães 
asmo”. Comeres a páscoa (17). As famílias dos judeus celebravam a 
páscoa com uma refeição ritual, na noite do dia 14 do mês de Nisã, que 
corresponde aproximadamente a abril. Parece que os discípulos 
supunham que o Senhor ia observá-lo assim. Entretanto, parece que 
celebraram a última ceia na noite do dia 13, isto é, no dia 14 conforme o 
calendário judaico que conta o dia desde o pôr do sol (cf. Introdução ao 
comentário de João e também a nota preliminar sobre Jo 13.1-38, a 
respeito da cronologia joanina). 
 O que mete comigo a mão no prato (23). Todos os que comiam 
juntos faziam isto. A força das palavras do Senhor é que o traidor estava 
presente à mesa naquele momento. Tu o disseste, que significa, «sim, o 
que disseste é verdade». 
 Jesus tomou o pão (26). O cabeça da família judaica tinha o 
costume de fazer isto durante a páscoa. Jesus deu à ação uma 
significação nova. Isto é o meu corpo (26). Se o Senhor tivesse desejado 
indicar por estas palavras que o pão se transformaria em seu corpo, Ele 
teria dito «isto se tornou em meu corpo». 
Durante a festa da páscoa o pai de família tomava o pão na mão e 
dizia: «isto é o pão de aflição que nossos pais comiam na terra do Egito», 
significando que uma coisa representava a outra. As palavras do Senhor 
mudaram completamente a significação de ênfase da festa. Em vez de 
recordar a redenção típica do Egito, agora a festa expressa a fé na 
redenção do pecado, consumada pela sua morte. Gl 4.25 fornece um 
exemplo luminoso deste uso do vocábulo «é» estin, no sentido de 
«representa». Ver também o verso 28. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 92 
 O cálice (27). Durante a celebração da páscoa pelos judeus, o pai 
de família fazia circular três cálices, dos quais o terceiro era chamado o 
cálice da bênção. É provável que este verso se refira ao terceiro. 
 Meu sangue do Novo Testamento (28). A frase é tirada dos LXX 
de Êx 24.8, com alusões a Jr 31.31 e Zc 9.11. O concerto de Êx 24.8 foi 
selado com sangue. Alguns textos omitem a palavra «Novo», mas, sem 
dúvida, a frase é o cumprimento da predição de Jr 31.31. A palavra 
Testamento, gr. Diathekes, não significa um concerto que implica um 
acordo entre dois iguais, mas um dote de um rico em beneficio de 
outrem, como a forma mais comum de doar um dote, era, e ainda é, por 
testamento. Esta palavra tornou à ter este sentido quase exclusivamente. 
Derramado por muitos para a remissão dos pecados (28). Eis uma 
declaração clara que a morte de Jesus era necessária para que Deus 
pudesse perdoar pecados. 
 Aquela morte proporcionou a Deus a base moral pela qual poderia 
justificar o homem. Aquele dia (29). O dia em que ele voltar em glória. 
 A citação do verso 31 é tirada dos LXX de Zc 13.7, a primeira 
palavra gr. pataxon, «firo», é mudada para gr. pataxo, «ferirei». 
 Irei adiante de vós (32). Ele ia guiá-los, na maneira de um pastor 
de ovelhas oriental, que anda na frente. Isto não significa que o Senhor 
iria primeiro à Galiléia para os discípulos irem ali ao seu encontro, mas 
que ele lhes apareceria em Jerusalém,de onde os guiaria à Galiléia. 
 Ainda que me seja mister (35). Melhor, ainda que eu deva morrer. 
 
d) A agonia em Getsêmani e a prisão de Jesus (26.36-56) 
 Ver notas sobre Mc 14.32-52; Lc 22.39-53; Jo 18.1-12. 
 Um lugar chamado Getsêmani (36). Era uma propriedade 
particular situada do outro lado do ribeiro de Cedrom, à base do Monte 
das Oliveiras. 
 A minha alma está cheia de tristeza (38). Citação dos LXX do 
Sl 43.5. Velai (38). Eles deviam ficar acordados para enfrentar qualquer 
eventualidade. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 93 
 Este cálice (39). Referência a sua morte e paixão. Cf. 20.22. 
Parece que o verso 41 expressa o que o Senhor mesmo estava sentindo 
naquele momento. A palavra tentação tem um sentido mais amplo no 
Novo Testamento do que em português e abrange toda qualidade de 
prova de fé e obediência. O Senhor foi tentado a retirar-se da plena 
vontade de Deus, em face do preço tremendo que haveria de pagar para 
cumpri-la. Era sua natureza humana, sua carne, que era imaculada, que 
repelia a cruz. Seu espírito estava pronto e desejoso. Este conflito ocorre, 
em certa forma, em cada discípulo. 
 Dormi agora e repousai (45). É difícil resolver o problema destas 
palavras. Se era um conselho literal para que tomassem o repouso de que 
necessitavam, neste caso houve um intervalo considerável entre esta hora 
e a do verso que se segue. Alguns comentaristas dão a estas palavras um 
sentido irônico. Em ambos os casos estas palavras dão uma idéia de 
consumação do conflito no Getsêmani, do qual Ele saiu vitorioso. 
 Partamos (46). Não para fugir, mas para encontrar-se com os 
oficiais. 
 Amigo (50) - gr. hetaire. A palavra encontra-se também em 20.13 
e 22.12. A palavra sublinha o fato de Judas ser condiscípulo. A que 
vieste? (50), melhor, faça aquilo para que vieste, ou pode ser que fosse 
uma exclamação: «que papel estás cumprindo». Neste caso o gr. ho 
equivale a hoion. 
 Um dos que estavam com Jesus (51). Jo 18.10 revela que era 
Pedro. Puxou da espada (51). Trouxeram a espada do cenáculo onde 
celebraram a Ceia do Senhor (Lc 22.38). 
 Todos os que lançarem mão à espada, a espada morrerão (52). 
Isto é o princípio geral. O Senhor não quer dizer que cada pessoa que usa 
a força perecerá pela força, mas que a força sempre reage contra aqueles 
que dela lançarem mão. Alguns vêem neste verso, que proíbe o uso da 
força mesmo no único caso de justiça absoluta, a proibição do uso de 
armas em quaisquer circunstâncias. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 94 
 Legiões (53). A legião era a maior unidade do exército romano, 
contando uns seis mil homens. O Senhor ensina a Pedro que o uso da 
força é um erro, como também é desnecessário. 
 O verso 54 indica que o Senhor estava cônscio do fato de que sua 
submissão à paixão e morte seria o cumprimento das profecias do Velho 
Testamento. 
 
e) O julgamento perante Caifás e a negação de Pedro (26.57-75) 
 Ver notas sobre Mc 14.53-72; Lc 22.54-65; Jo 18.13-27. 
 Pátio (58). Os principais edifícios eram construídos ao redor desse 
pátio. Criados (58). Melhor, oficiais. No depoimento das testemunhas 
falsas (61) estas se basearam nas palavras do Senhor citadas em Jo 2.19-21. 
 Conjuro-te pelo Deus vivo (63). Esta declaração obrigava a um 
homem a responder, sob juramento, e requeria resposta. O sumo 
sacerdote procurava uma confissão que seria a base de acusação de 
blasfêmia. 
Tu o disseste (64). Isto indica afirmação. Em breve (64). Jesus 
assentou-se à destra de Deus desde a sua ascensão ou, talvez, desde a 
ressurreição. Notem a alusão ao Sl 110.1 e Dn 7.13, na resposta do 
Senhor. A segunda parte da frase referir-se-ia tanto à ascensão como à 
segunda vinda de Cristo. Os chefes religiosos entre os judeus seriam 
testemunhas das virtudes de Cristo após sua ressurreição e assistiriam 
também à sua segunda vinda. A pergunta do verso 68 e o pedido irônico 
quanto ao nome e identidade das pessoas que ele não podia ver, era-lhe 
exigido para que demonstrasse seu poder sobrenatural. 
 Pedro estava assentado fora (69). Dos outros evangelistas 
sabemos que ele se aquentava junto a uma fogueira, no pátio. 
 Não sei o que dizes (70). Quer dizer, «não tenho a mínima idéia do 
que queres dizer». 
 A tua fala te denuncia (73). Os galileus falavam um dialeto 
nortista. 
 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 95 
Mateus 27 
f) O julgamento perante Pilatos (27.1-26) 
 Cf. notas sobre Mc 15.1-15; Lc 23.1-25; Jo 18.28-19.16. 
 O presidente Pôncio Pilatos (2). Este era procurador romano da 
Judéia, de 26 a 37 A.D., cujo cargo dependia do prefeito da Síria e tinha 
sua residência em Cesaréia, mas esteve em Jerusalém para a festa, a fim 
de controlar qualquer revolta ou distúrbio. 
 O sangue inocente (4). O artigo deve ser omitido. 
 Foi-se enforcar (5). At 1.18 diz que ele precipitou-se e supomos 
que isso aconteceu quando quis enforcar-se. 
 Compraram (7). Em tal caso a aquisição era feita no nome do 
homem de onde provinha o dinheiro. A lei considerava a coisa adquirida 
pelo falecido. 
 A menção de Jeremias neste trecho (verso 9) tem dado muita 
dificuldade, dada a suposição de que a citação vem de Zacarias. Diversas 
teorias engenhosas existem para solucionar o problema. De fato, há uma 
alusão a Zc 11.12-13, mas as palavras não concordam 
pormenorizadamente nem com o hebraico nem com os LXX. O 
acréscimo mais importante é a palavra «campo», sobre a qual depende o 
cumprimento da profecia citada pelo evangelista. 
Tanto esta palavra, como as idéias relacionadas a ela, são oriundas 
de Jr 32.6-9, onde ocorre a transação de um campo por tantas moedas de 
prata. A relação entre a profecia e seu cumprimento, ao qual o 
evangelista chama a atenção, depende dos dois trechos do Velho 
Testamento. É compreensível então que dos dois profetas, o evangelista 
escolheria Jeremias, sendo ele o maior e o mais antigo dos dois e que 
também fornece a palavra essencial da citação. 
 Barrabás (16). No aramaico a palavra significa «filho do pai». 
Constitui um contraste propositado com Jesus, o Filho do Pai. 
 Mas que mal fez ele? (23). Esta pergunta de Pilatos, no fim do 
julgamento admite indiretamente a inocência de Cristo. Não é de admirar 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 96 
que Pilatos quisesse transferir a culpa da execução de si mesmo para os 
ombros dos judeus. 
 A resposta dramática do verso 25 marca a tragédia final na história 
dos judeus. A maldição invocada sobre eles mesmos pesa sobre eles até 
hoje. Ouvindo esta declaração dos judeus, Pilatos permitiu que sua 
pusilanimidade e medo de distúrbios superassem seus sentimentos de 
justiça. 
 
g) A crucificação e morte do Senhor (27.27-56) 
 Ver notas sobre Mc 15.16-41; Lc 23.26-49; Jo 19.2,3,17-37. 
 A audiência (27) - gr. to praitorion, transliteração do termo 
latino praetorium. Refere-se à residência do governador. Coorte (27). A 
unidade consistia de 360 homens. No caso em apreço é possível que a 
unidade fosse um manípulo, ou seja, uma fração da coorte. 
 Capa de escarlata (28) - gr. chlamyda kokkinen. Esta capa ou 
clâmide era o manto dos oficiais do exército e que um broche segurava 
no ombro direito. Era também um sinal de realeza. 
 Um homem cireneu, chamado Simão (32). Cirene era uma 
região da África do Norte, habitada por muitos judeus. Estes mantinham 
uma sinagoga em Jerusalém (At 6.9), de forma que haveria sempre 
muitos deles na cidade. Os dois filhos de Simão, Alexandre e Rufo, 
tornaram-se cristãos bem conhecidos mais tarde (ver Mc 15.21). 
Constrangeram (32) - gr. engareusan. Ver notas sobre 5.41 a respeito 
desta palavra. Levar sua cruz (32). O prisioneiro carregava sua própria 
cruz e o Senhor, no início, seguiu este costume (Jo 19.17), mas, 
evidentemente, era demasiado para suas forças. A viga transversal da 
cruz era geralmente ligada com cordas até que chegasse ao lugar da 
execução, quando era fixada em seu lugar. 
 Lugar da Caveira (33). Não se sabe porque o lugar foi assim 
chamado. É possível que a Igreja do Santo Sepulcroesteja erigida em 
cima do lugar, visto que antigamente, mas não agora, a área estava fora 
do muro da cidade. Um sítio alternativo é a colina ao norte de Jerusalém, 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 97 
que é geralmente chamada «o Calvário do Gen. Gordon». À luz das 
últimas pesquisas, a primeira hipótese é mais provável. 
 Deram-lhe a beber vinho misturado com fel (34). Alusão ao Sl 
69.21. Esta bebida era dada aos condenados como anódino. Não quis 
beber (34). O Senhor recusou qualquer mitigação de seus sofrimentos. 
 Repartiram os seus vestidos lançando sortes (35). Citação dos 
LXX do Sl 22.18. As roupas dos condenados eram divididas entre a 
soldadesca, como gratificação. É notável que a última parte do verso é 
omitida nos melhores textos. 
 Meneando as cabeças (39). Alusão aos Sl 22.7 e 109.25, 
seguindo os LXX. 
 Tu que destróis o templo (40). Ver notas sobre 26.61. 
 Os príncipes dos sacerdotes (41). Se o sítio da crucificação fosse 
o da Igreja do Santo Sepulcro, os sacerdotes poderiam do recinto do 
templo insultá-Lo. 
Salvou os outros e a si mesmo não pode salvar-se (42). Esta era 
uma profunda verdade no sentido oposto ao que os sacerdotes queriam 
dizer. Se é o rei (42). Uma melhor tradução diz «Ele é o Rei» e neste 
caso a afirmação é zombaria. 
Confiou em Deus; livre-o (43). Estas palavras são uma citação do 
Sl 22.8, tirada em parte dos LXX e em parte do hebraico. É possível que 
os sacerdotes se lembravam da citação do livro apócrifo de Sabedoria 
(2.13,18-20). 
 A hora sexta (45), isto é, meio-dia. Trevas (45). Naturalmente, 
eclipse do sol no tempo do luar não era possível. Não podemos afirmar 
se o fenômeno era meteorológico ou sobrenatural. 
 Eli, Eli, lamá sabactâni (46). É provável que esta frase em 
aramaico representa as palavras que saíram da boca do Senhor. O 
vocábulo Eli, sugere o hebraico Deus meu, Deus meu, por que me 
desamparaste (46). Citação do Sl 22.1, tirada principalmente dos LXX, 
mas substituindo o grego «Tu» em lugar de ho Theos dos LXX. Neste 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 98 
brado alcançamos as profundezas da redenção. Cristo foi maldito por 
Deus como sacrifício para os pecados (ver Gl 3.13). 
 Elias (47). Alusão ao profeta Elias. O verso 48 refere-se ao Sl 
69.21. É possível que a ação descrita neste verso tinha o fim de zombar 
dEle. 
 O véu do templo se rasgou em dois de alto a baixo (51). O 
acontecimento simboliza lucidamente o fim da separação entre Deus e o 
homem. 
 O estranho incidente descrito nos vv. 52-53 é peculiar a este 
Evangelho. Há possibilidade de que o evangelista mesmo se encontrou 
com um destes santos ressurretos. A história se torna mais estranha pelas 
suas omissões. Não diz o que aconteceu aos santos entre a morte e 
ressurreição do Senhor, nem narra o fim da história deles. É de supor que 
os sepulcros ficaram vazios e que foram trasladados aos céus. Alguns 
pensam que as palavras «a ressurreição dele» devem ser traduzidas «sua 
ressurreição por ele». Isto dá a entender que os santos apareceram em 
Jerusalém, na tarde do dia da crucificação, mas não explica o que 
aconteceu com eles depois. 
 Maria, mãe de Tiago e de José (56). A tradição representa-o 
como irmão de Maria, mãe de Jesus. 
 
h) A sepultura do Senhor (27.57-66) 
 Ver notas sobre Mc 15.42-47; Lc 23.50-56; Jo 19.38-42. 
 Arimatéia (57). Provavelmente um lugar nas serras de Efraim, na 
Palestina central. Lençol (59). Mortalha. 
 No seu sepulcro novo (60). Muitos ricos mandavam construir 
sepulcros ainda durante sua vida. Era costume fechar sepulcros na 
maneira descrita aqui, rodando uma pedra para a porta. Os vv. 62-66 são 
peculiares a Mateus. 
 No dia seguinte (62). O sábado dos judeus. Preparação (62). 
Sexta-feira. 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 99 
 De noite (64). Estas palavras são omitidas nos melhores 
manuscritos. 
 Seguraram o sepulcro (66). O original deste verso é um pouco 
obscuro. Talvez as palavras signifiquem que o sepulcro fosse segurado 
na presença da guarda. 
 
Mateus 28 
i) A ressurreição (28.1-20) 
 Ver notas sobre Mc 16.1-20; Lc 24.1-12; Jo 20.1-31. 
 No fim do sábado (1). Há duas interpretações sobre o tempo 
mencionado aqui. Pode ser uma referência ao sábado à noite, na hora do 
pôr do sol, quando, no calendário judaico o primeiro dia da semana 
começava. Cf. Lc 23.54 onde a palavra grega epiphoskein tem o mesmo 
sentido. Neste caso a visita das mulheres tomou lugar na noite do 
sábado, o terremoto e a descida do anjo durante a mesma noite e, embora 
não mencionado, as mulheres teriam voltado no domingo cedo, de 
manhã (verso 5). A segunda interpretação é que a frase “no fim do 
sábado” refere-se ao levantar do sol no domingo. 
 Neste caso o terremoto ocorreu enquanto as mulheres se 
aproximaram, na alvorada. Chegando ao sepulcro, as mulheres viram os 
guardas prostrados em terra e o anjo assentado na pedra. É preciso 
chamar a atenção ao fato que a pedra não foi removida com o fim de 
libertar o Senhor, o que seria desnecessário, mas para permitir que as 
mulheres entrassem. Das duas alternativas a segunda é a mais aceitável. 
 Respondendo (5). Ele lhes respondeu para acalmar o medo das 
mulheres. Tenhais, melhor, «tenhais vós». No original «vós» é enfático. 
 O Senhor (6). Os melhores manuscritos omitem estas palavras. 
 Ele vai adiante.... o vereis (7). As palavras significam que o 
Senhor irá na frente de seus discípulos como Pastor de ovelhas. A 
declaração não exclui sua manifestação em Jerusalém. Ver 26.32 n. 
 Eu vos saúdo (9) - gr. chairete, a saudação comum daqueles 
tempos. Cf. o nosso «bom dia». 
Mateus (Novo Comentário da Bíblia) 100
 Poder (18) - gr. exousia, «autoridade». 
 Ensinai (19) - gr. matheteusate, «fazei discípulos» ou «ajuntai 
discípulos». 
Ensinando-as a guardar (20). Isto significa mais do que 
conhecimento intelectual. Até a consumação dos séculos (20), ou «fim 
da era», quer dizer «até sua vinda». Quão vagarosos e displicentes somos 
para cumprir esta missão. A existência, no mundo moderno, de milhões 
que nunca ouviram o nome do Salvador é uma vergonha para nós. 
 
 Basil F. C. Atkinson 
 
 
 
 
 
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