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Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital Autor: Nelma Fontana Aula 10 15 de Junho de 2020 Sumário Introdução .......................................................................................................................................................... 3 Da Seguridade Social .......................................................................................................................................... 5 1 – Saúde ........................................................................................................................................................ 8 2 – Previdência Social ................................................................................................................................... 12 3 – Assistência Social .................................................................................................................................... 19 Da Educação, Cultura e Desporto .................................................................................................................... 21 1 – Educação ................................................................................................................................................ 21 2 – Cultura .................................................................................................................................................... 31 3 – Desporto ................................................................................................................................................. 34 Da Ciência, Tecnologia e Inovação ................................................................................................................... 35 Da Comunicação Social .................................................................................................................................... 38 1 – Propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens ........................... 41 2 – Concessão, permissão e autorização ..................................................................................................... 42 Do meio ambiente ............................................................................................................................................ 44 Da família, do adolescente, da criança, do jovem e do idoso ......................................................................... 52 1 – Da família ............................................................................................................................................... 52 2 – Criança, adolescente e jovem ................................................................................................................. 55 2 – Idosos ...................................................................................................................................................... 58 Do Índio ............................................................................................................................................................ 59 1 – Direito à Diferença.................................................................................................................................. 60 2 – Direito à terra ......................................................................................................................................... 60 3 – Capacidade processual ........................................................................................................................... 63 Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 2 142 Resumo ............................................................................................................................................................. 65 Destaques da legislação ................................................................................................................................... 74 Considerações Finais ........................................................................................................................................ 92 Questões Comentadas ..................................................................................................................................... 92 Lista de Questões ........................................................................................................................................... 128 Gabarito.......................................................................................................................................................... 142 Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 3 142 ORDEM SOCIAL INTRODUÇÃO A Constituição Federal reservou o Título VIII para dispor sobre a ORDEM SOCIAL, o que demonstra claramente a intenção do legislador constituinte de frisar a característica de Constituição Social do novo texto. A ordem social, nos termos do artigo 193 da Constituição Federal, tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais. A ordem social não está dissociada da ordem econômica. Trabalho é direito social e está relacionado ao bem-estar social, pois dele o indivíduo conquistará meios de acesso a outros direitos sociais, como a educação, a saúde, o lazer, a previdência, dentre outros. Nessa linha, é dever do Estado propiciar meios de adequados de trabalho, respeitando a dignidade da pessoa humana, para que o indivíduo possa produzir riqueza para o país e esta possa promover a justiça social. Direitos fundamentais e a ordem social formam a base do Estado Democrático de Direito. Na ordem social estão elencados direitos sociais, serviços públicos sociais, direitos difusos e direitos de personalidade, associados ao envelhecimento, à juventude, à infância e à formação de família. O Supremo Tribunal Federal, na ADI 1.923, entendeu que os setores de saúde (CF, art. 199), educação (CF, art. 209), cultura (CF, art. 215), desporto e lazer (CF, art. 217), ciência e tecnologia (CF, art. 218) e meio ambiente (CF, art. 225) configuram serviços públicos sociais, em relação aos quais a Constituição, ao mencionar que “são deveres do Estado e da Sociedade” e que são “livres à iniciativa privada”, permite a atuação, por direito próprio, dos particulares, sem que para tanto seja necessária a delegação pelo poder público. Com efeito, nos termos do Título VIII da Constituição Federal, compõem a ordem social: Ordem Social Base Primado do trabalho Objetivo Bem-estar e justiça sociais Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 4 142 (2019/VUNESP/TJ-RO/Juiz de Direito Substituto) De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, as áreas da saúde, educação, cultura, desporto e lazer, ciência e tecnologia e meio ambiente configuram A) serviços sociais, para os quais a Constituição Federal autoriza que particulares atuem, por direito próprio, sem que, para tanto, seja necessária delegação pelo poder público. B) serviços sociais de titularidade do poder público, podendo ser prestados pela iniciativa privada em regime de exclusividade mediante celebração de contrato de gestão, precedido de licitação. C) atividade econômica, pois a Constituição Federal autoriza que sejam prestados em regime de concorrência, por particulares e pelo poder público, sem que, para tanto, seja necessária delegação ou fiscalização pelo poder público. D) serviços sociais de titularidade do poder público, podendo ser prestados pelas entidades do Terceiro Setor integrantes da Administração Pública indireta. E) típicos serviços públicos, podendo ser prestados pela iniciativaprivada em regime de delegação, sem transferência de titularidade, após regular procedimento de licitação. Gabarito: A O rd em S o ci al Seguridade Social Educação, Cultura e Desporto Ciência, Tecnologia eInovação Comunicação social Meio ambiente Família, criança, adolescente, jovem e idosos Índios Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 5 142 Comentário: Para o Supremo Tribunal Federal, as áreas da saúde, educação, cultura, desporto e lazer, ciência e tecnologia e meio ambiente configuram serviços sociais, para os quais a Constituição Federal autoriza que particulares atuem, por direito próprio, sem que, para tanto, seja necessária delegação pelo poder público (ADI 1.923). DA SEGURIDADE SOCIAL Nos termos do artigo 194 da Constituição Federal, a seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Note que a seguridade social são as ações praticadas pelos trabalhadores, aposentados, empregadores e Governo (gestão quadripartite). Seguridade social não é um direito, mas dela são decorrentes três direitos sociais: saúde, assistência social e previdência social. Destaque-se que saúde e assistência social estão desvinculados de qualquer tipo de contraprestação, já os direitos relativos à previdência social dependem de contribuição. Cabe ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I - universalidade da cobertura e do atendimento; II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; V - equidade na forma de participação no custeio; VI - diversidade da base de financiamento, identificando-se, em rubricas contábeis específicas para cada área, as receitas e as despesas vinculadas a ações de saúde, previdência e assistência social, preservado o caráter contributivo da previdência social; VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. Agora, de onde vem os recursos destinados ao custeio da seguridade social? Da sociedade, do empregador, do trabalhador e dos cofres públicos. Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 6 142 O artigo 195 da Constituição Federal dispõe que a seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro. As contribuições sociais do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada poderão ter alíquotas diferenciadas em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão de obra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho. II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, podendo ser adotadas alíquotas progressivas de acordo com o valor do salário de contribuição, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime Geral de Previdência Social; 1. Temos aqui uma diferença entre servidores públicos e trabalhadores integrados ao RGPS, uma vez que a Constituição Federal, no artigo 40, § 18,dispõe que incidirá contribuição sobre os proventos de aposentadorias e pensões concedidas pelo regime próprio de previdência quando superarem o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social. 2. O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei (§ 8º, artigo 195, CF/88). III - sobre a receita de concursos de prognósticos. IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar. 1. Outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social poderão ser instituídas, desde que não cumulativas e mediante lei complementar. Perceba: as contribuições acima enumeradas são instituídas por lei, mas novas contribuições de seguridade social dependerão de lei complementar. Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 7 142 2. As contribuições sociais destinadas ao custeio da seguridade social não se sujeitam à anterioridade tributária, mas só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado (§ 6º, 195, CF/88). 3. As entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei são isentas de contribuição para a seguridade social (artigo 195, § 7º, da CF/88). 4. A pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade social, como estabelecido em lei, não poderá contratar com o Poder Público nem dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios (artigo 195, § 3º, da CF/88). A proposta de orçamento da seguridade social será elaborada de forma integrada pelos órgãos responsáveis pela saúde, previdência social e assistência social, tendo em vista as metas e prioridades estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias, assegurada a cada área a gestão de seus recursos. A lei definirá os critérios de transferência de recursos para o sistema único de saúde e ações de assistência social da União para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e dos Estados para os Municípios, observada a respectiva contrapartida de recursos. As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas à seguridade social constarão dos respectivos orçamentos, não integrando o orçamento da União. A Constituição Federal proíbe a criação, a majoração ou a extensão de benefício ou de serviço da seguridade social sem a correspondente fonte de custeio (§ 5º, artigo 195). (2020/VUNESP/AVAREPREV-SP/Procurador Jurídico) Considerando o que dispõe a Constituição Federal no que diz respeito à seguridade social, assinale a alternativa correta. A) São alguns dos objetivos da seguridade social a uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais, além da seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços. B) A seguridade social caracteriza-se pelo seu caráter democrático e descentralizado de administração, mediante gestão tripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores e do Governo nos órgãos colegiados. C) As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas à seguridade social constarão dos respectivos orçamentos, e deverão integrar o orçamento da União. D) A pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade social, como estabelecido em lei, não poderá ser impedida de contratar com o Poder Público, mas poderá deixar de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios. Nelma Fontana Aula 10 DireitoConstitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 8 142 E) A lei não poderá instituir outras fontes com o objetivo de garantir a manutenção ou expansão da seguridade social, além daquelas já expressamente previstas na Constituição Federal. Gabarito: A Comentários: A) Certo. Dentre outros, são objetivos da seguridade social, nos termos do artigo 195 da Constituição Federal: uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais (II) e a seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços (III). B) Errado. A seguridade social caracteriza-se pelo seu caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados (VII). C) Errado. Nos termos do § 1º do artigo 195 da Constituição Federal, as receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas à seguridade social constarão dos respectivos orçamentos, não integrando o orçamento da União. D) Errado. A pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade social, como estabelecido em lei, não poderá contratar com o Poder Público nem dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditício (195, § 3º, CF/88). E) Errado. A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I (artigo 195, § 4º, da CF/88). 1 – SAÚDE Saúde é direito fundamental a todos assegurado e deve ser interpretado como direito indissociável de vida. Cabe ao Poder Público, independentemente da esfera federativa, envidar todos os esforços necessários ao atendimento da população. O artigo 196 da Constituição Federal dispõe que a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. A norma constitucional, embora programática, não pode ser interpretada pelas autoridades públicas apenas como promessa constitucional. Todas as normas constitucionais são dotadas de eficácia jurídica, ainda que a integralidade de algumas dependa de normatividade futura ou de realidade socioeconômica do Estado. Nessa toada, não pode o Estado alegar a escassez de recursos para deixar de cumprir o mínimo essencial. É dever do Estado atender aos enfermos, fornecer os medicamentos necessários, realizar cirurgias, custear internações. É fato que nem sempre será possível prestar atendimento público a toda a população, com a Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 9 142 qualidade prevista na Constituição e nas leis, porém as autoridades públicas não poderão simplesmente se omitir. Com relação à oferta de medicamentos, duas decisões do Supremo Tribunal Federal merecem destaque, sendo uma referente aos medicamentos de alto custo e outra a respeito de remédios não cadastrados na ANVISA. Vejamos. 1. O Supremo Tribunal Federal, no RE 566.471, decidiu que o Estado não é obrigado a fornecer, em regra, medicamentos de alto custo solicitados judicialmente quando não estiverem registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Para o Tribunal, nos casos de remédios de alto custo não disponíveis no sistema, o Estado só poderá ser obrigado a fornecê-los se preenchidos três requisitos: a) comprovação de extrema necessidade do medicamento, b) incapacidade financeira do paciente e de sua família para sua aquisição e c) o fármaco deve estar registrado na agência reguladora. 2. O STF, no RE 657.718, entendeu que o Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais. A ausência de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) impede, como regra geral, o fornecimento de medicamento por decisão judicial. Para o Tribunal, será possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro sanitário, em caso de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao previsto na Lei 13.411/2016), quando preenchidos três requisitos: 1) a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras); 2) a existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no exterior; e 3) a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil. As ações que demandem fornecimento de medicamentos sem registro na Anvisa deverão necessariamente ser propostas em face da União. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. Nos termos do artigo 198 da Constituição Federal, as ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único. O SUS deve ser organizado a partir das seguintes diretrizes: I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo; Sendo a saúde direito de todos e responsabilidade do Estado, qualquer dos entes da federação, isoladamente, ou conjuntamente, poderá figurar no polo passivo de demanda judicial que requeira tratamento médico adequado a necessitado (RE 855.178). II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III - participação da comunidade. Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 10 142 Fontes de custeio O sistema único de saúde será financiado com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. A Constituição Federal determina que entes federativos apliquem, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais de suas receitas. No caso da União, a receita corrente líquida do respectivo exercício financeiro, não podendo ser inferior a 15%. No caso dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, o produto da arrecadação de seus respectivos tributos e sobre transferências tributárias constitucionalmente previstas, recebidas de entes federativos de maior nível, em percentuais definidos por lei complementar, que será reavaliada a cada cinco anos. Gestão O § 4º do artigo 198 da Constituição Federal, excepcionando a regra geral do concurso público para admissão de pessoal, autoriza que os gestores locais do sistema único de saúde admitam agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias por meio de processo seletivo público, de acordo com a natureza e complexidade de suas atribuições e requisitos específicos para sua atuação. Esses servidores poderão perder os cargos em caso de descumprimento dos requisitos específicos, fixados em lei, para o seu exercício. Lei federal disporá sobre o regime jurídico, o piso salarial profissional nacional, as diretrizes para os Planos de Carreira e a regulamentação das atividades de agente comunitário de saúde e agente de combate às endemias, competindo à União, nos termos da lei, prestar assistência financeira complementar aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, para o cumprimento do referido piso salarial (artigo 198, § 5º, da CF/88). Iniciativa Privada A assistência à saúde poderá ser exercida pela iniciativa privada (artigo 199 da CF/88). Entretanto, é vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em lei. As instituições privadaspoderão, inclusive, participar de forma complementar do SUS, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos. As instituições privadas com fins lucrativos não poderão receber recursos públicos para auxílios ou subvenções. Atribuições do SUS Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 11 142 Nos termos do artigo 200 da Constituição Federal, ao Sistema Único de Saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos; II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador; III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde; IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico; V - incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento científico e tecnológico e a inovação; VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo humano; VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. (2019/MPE-SP/MPE-SP/Promotor de Justiça Substituto) Considerando o entendimento consolidado do Supremo Tribunal Federal, assinale a alternativa INCORRETA. A) A ausência de registro na Anvisa não impede o fornecimento de medicamento por decisão judicial. B) Os entes da Federação, em decorrência da competência comum, são solidariamente responsáveis nas demandas prestacionais na área da saúde, e diante dos critérios constitucionais de descentralização e hierarquização, compete à autoridade judicial direcionar o cumprimento conforme as regras de repartição de competências e determinar o ressarcimento a quem suportou o ônus financeiro. C) O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais. D) É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro sanitário, em caso de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao previsto na Lei no 13.411/2016), quando preenchidos três requisitos: I – a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil, salvo no caso de medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras; II – a existência de registro do Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 12 142 medicamento em renomadas agências de regulação no exterior; III – a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil. E) As ações que demandem o fornecimento de medicamentos sem registro na Anvisa deverão ser necessariamente propostas em face da União. Gabarito: A Comentários: A) Errada. Segundo posicionamento do Supremo Tribunal Federal, o Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais, de maneira que a ausência de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) impede, como regra geral, o fornecimento de medicamento por decisão judicia (RE 566.471). B) Certa. Segundo entendimento do STF (RE 855.178), qualquer dos entes da federação, isoladamente, ou conjuntamente, poderá figurar no polo passivo de demanda judicial referente à saúde. C) Certa. A Assertiva tem a mesma justificativa da letra A. D) Certa. A assertiva faz referência à decisão do STF proferida no RE 657.718, segundo a qual será possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro sanitário, em caso de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao previsto na Lei 13.411/2016), quando preenchidos três requisitos: 1) a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras); 2) a existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no exterior; e 3) a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil. E) Certa. No RE 657.718, o STF fixou que as ações que demandem fornecimento de medicamentos sem registro na Anvisa deverão necessariamente ser propostas em face da União. 2 – PREVIDÊNCIA SOCIAL A previdência social é direito fundamental positivo, de segunda geração, classificado como direito social. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (artigo 201 da CF/88). Seus propósitos são atender, na forma da lei: 1) cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho e idade avançada; 2) proteção à maternidade, especialmente à gestante; Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 13 142 3) proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; 4) salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; 5) pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes. Os requisitos para concessão de benefícios previdenciários devem ser iguais para todos, exceto a possibilidade de aposentadoria especial, com redução de idade e tempo de contribuição, na forma da lei complementar, para: 1) deficientes, desde que tenham sido previamente submetidos a avaliação biopsicossocial realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar; 2) trabalhadores expostos a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação; A respeito dos benefícios, a Constituição Federal determina: A gratificação natalina dos aposentados e pensionistas terá por base o valor dos proventos do mês de dezembro de cada ano. É vedada a filiação ao regime geral de previdência social, na qualidade de segurado facultativo, de pessoa participante de regime próprio de previdência (artigo 201, § 5º, da CF/88). B en ef íc io Valor mínimo mensal de um salário mínimo. Atualização, na forma da lei, de todos os salários de contribuição utilizados para o cálculo do benefício. Reajustamento dos benefícios para preservação do valor real, nos termos da definidos em lei. Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 14 142 (2019/IBFC/Prefeitura de Cabo de Santo Agostinho/Procurador Municipal) A respeito das disposições constitucionais acerca da previdência social, analise as afirmativas abaixo e dê valores de Verdadeiro (V) ou Falso (F). ( ) É possível a filiação ao regime geral de previdência social, na qualidade de segurado facultativo, de pessoa participante de regime próprio de previdência. ( ) A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. ( ) Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de cima para baixo. A) V, V, V B) V, F, F C) F, V, V D) F, V, F Gabarito: C Comentário: Primeira assertiva: falsa. É vedada a filiação ao regime geral de previdência social, na qualidade de segurado facultativo, de pessoa participante de regime próprio de previdência (artigo201, § 5º, da CF/88). Segunda assertiva: verdadeira. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (artigo 201, caput, da CF/88). Terceira assertiva: verdadeira. Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo (artigo 201, § 2º, da CF/88). Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 15 142 Regras para aposentadoria A Emenda Constitucional 103/2019 alterou significativamente as regras para aposentadoria. As idades e os tempos de contribuição foram modificados e uma série de regras de transição foram enumeradas. Nos termos do artigo 201 da Constituição Federal, é assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da lei, obedecidas as seguintes condições: Regra Geral Homem Mulher 65 anos (20 anos de contribuição). 62 anos (15 anos de contribuição). Para homens filiados ao RGPS antes da EC 103/2019, o tempo mínimo de contribuição é de 15 anos. Trabalhador rural, garimpeiro, pescador artesenal e os de regime de economia familiar Homem Mulher 60 anos (15 anos de contribuição) 55 anos (15 anos de contribuição) Professor Homem Mulher 60 anos (25 anos de contribuição) 57 anos ( 25 anos de contribuição) (observado o tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação básica, nos termos de lei complementar) Cálculo do benefício O valor das aposentadorias não será inferior a um salário mínimo nem poderá ultrapassar o teto do RGPS (atualmente, R$ 5.839,45 por mês). O valor da aposentadoria considerará todas as contribuições feitas pelo segurado desde julho de 1994. Ao atingir a idade e o tempo de contribuição mínimos, os trabalhadores do RGPS poderão se aposentar com 60% da média de todas as contribuições previdenciárias efetuadas desde julho de 1994. A cada ano a mais de contribuição, além do mínimo exigido, serão acrescidos dois pontos percentuais aos 60%. Assim, para ter direito à aposentadoria no valor de 100% da média de contribuições, as mulheres deverão contribuir por 35 anos e os homens, por 40 anos. Para fins de aposentadoria, será assegurada a contagem recíproca do tempo de contribuição entre o Regime Geral de Previdência Social e os regimes próprios de previdência social, e destes entre si, observada a compensação financeira, de acordo com os critérios estabelecidos em lei (§ artigo 201, 9º, da CF/88). Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 16 142 O tempo de serviço militar e o tempo de contribuição ao Regime Geral de Previdência Social ou a regime próprio de previdência social terão contagem recíproca para fins de inativação militar ou aposentadoria, e a compensação financeira será devida entre as receitas de contribuição referentes aos militares e as receitas de contribuição aos demais regimes. Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenciária. É vedada a contagem de tempo de contribuição fictício para efeito de concessão dos benefícios previdenciários e de contagem recíproca. Alíquotas ▪ Até um salário mínimo: 7,5% ▪ Entre um salário mínimo e R$ 2 mil: 9% ▪ Entre R$ 2 mil e R$ 3 mil: 12% ▪ Entre R$ 3 mil e o teto do RGPS: 14% O § 12 do artigo 201 da Constituição Federal estabelece que a lei instituirá sistema especial de inclusão previdenciária, com alíquotas diferenciadas, para atender aos trabalhadores de baixa renda, inclusive os que se encontram em situação de informalidade, e àqueles sem renda própria que se dediquem exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua residência, desde que pertencentes a famílias de baixa renda. Nesse caso, a aposentadoria corresponderá a um salário mínimo. Acúmulo de benefício Nos termos do § 15 do artigo 201 da Constituição Federal, lei complementar estabelecerá vedações, regras e condições para a acumulação de benefícios previdenciários. Nos casos em que o acúmulo for permitido, serão pagos 100% do benefício de maior valor a que a pessoa tem direito, mais um percentual da soma dos demais. Esse percentual vai variar de acordo com o valor do benefício: 100% do valor até um salário mínimo; 60% do valor que estiver entre um e dois salários mínimos; 40% do que estiver entre dois e três salários; 20% entre três e quatro salários mínimos; e 10% do que ultrapassar quatro salários mínimos. Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 17 142 Regras de transição No Regime Geral de Previdência Social, a EC 103/2019 fixou cinco regras de transição, sendo quatro por tempo de contribuição e uma por idade. Cabe ao contribuinte verificar qual delas trará situação mais favorável. Vejamos: 1) Transição por sistema de pontos Nessa regra, o tempo de contribuição é somado com a idade. Mulheres poderão se aposentar a partir de 86 pontos e homens, de 96, já em 2019. O tempo mínimo de contribuição para mulheres é de 30 anos e para homens, de 35 anos. A cada ano, será exigido um ponto a mais, chegando a 105 pontos para os homens, em 2028, e 100 pontos para as mulheres, em 2033. Os professores da educação básica que comprovarem, exclusivamente, exercício da função de magistério na educação infantil e nos ensinos fundamental e médio terão redução de cinco pontos. 2) Transição por tempo de contribuição e idade mínima Por essa regra, as mulheres poderão se aposentar aos 56 anos, desde que tenham pelo menos 30 anos de contribuição, em 2019. Já para os homens, a idade mínima será de 61 anos e 35 anos de contribuição. A idade mínima exigida subirá seis meses a cada ano, até chegar aos 62 anos de idade para elas, em 2031, e aos 65 anos de idade para eles, em 2027. Os professores da educação básica que comprovarem, exclusivamente, exercício da função de magistério na educação infantil e nos ensinos fundamental e médio terão redução de cinco anos na idade e no tempo de contribuição. 3) Transição com fator previdenciário (pedágio de 50%) Por essa regra, as mulheres com mais de 28 anos de contribuição e os homens com mais de 33 anos de contribuição poderão optar pela aposentadoria sem idade mínima, desde que cumpram um pedágio de 50% sobre o tempo mínimo que faltava para se aposentar (30 anos para elas e 35 anos para eles). 4) Transição com idade mínima e pedágio de 100% Essa regra estabelece uma idade mínima e um pedágio de 100% do tempo que faltava para atingir o mínimo exigido de contribuição (30 anos para mulheres e 35 anos para homens). Para mulheres, a idade mínima será de 57 anos e, para homens, de 60 anos. Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 18 142 Professores da educação básica que comprovarem, exclusivamente, exercício da função de magistério na educação infantil e nos ensinos fundamental e médio terão redução de cinco anos na idade e no tempo de contribuição (52 anos de idade e 25 de contribuição, para mulheres, e 55 anos de idade e 30 de contribuição, para homens). 5) Aposentadoria por idade A regra da aposentadoria por idade exige idade mínima de 65 anos para homens. Para as mulheres, a idade mínima começa em 60 anos, em 2019, e sobe seis meses a cada ano, até chegar a 62 anos em 2023. Em ambos os casos é exigido tempo de contribuição mínima de 15 anos. Aposentadoria Compulsória O § 16 do artigo 201, incluído pela EC 103/2019, criou para os empregados dosconsórcios públicos, das empresas públicas, das sociedades de economia mista e das suas subsidiárias a aposentadoria compulsória aos 75 anos de idade, observado o cumprimento do tempo mínimo de contribuição. Previdência privada complementar Nos termos do artigo 202 da Constituição Federal, o regime de previdência privada, de caráter complementar e organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência social, será facultativo, baseado na constituição de reservas que garantam o benefício contratado, e regulado por lei complementar. A lei complementar que instituir o regime de previdência privada complementar assegurará ao participante o pleno acesso às informações relativas à gestão de seus respectivos planos. As contribuições do empregador, os benefícios e as condições contratuais previstas nos estatutos, regulamentos e planos de benefícios das entidades de previdência privada não integram o contrato de trabalho dos participantes, assim como, à exceção dos benefícios concedidos, não integram a remuneração dos participantes, nos termos da lei (§ 2°). É vedado o aporte de recursos a entidade de previdência privada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, suas autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista e outras entidades públicas, salvo na qualidade de patrocinador, situação na qual, em hipótese alguma, sua contribuição normal poderá exceder a do segurado (§ 3º). Lei complementar disciplinará a relação entre a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios, inclusive suas autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas controladas direta ou indiretamente, enquanto patrocinadores de planos de benefícios previdenciários, e as entidades de previdência complementar. No que couber, a mesma legislação será aplicada às empresas privadas permissionárias ou concessionárias de prestação de serviços públicos. Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 19 142 Desaposentação e reaposentação Pode o aposentado pelo RGPS que tenha voltado (ou continuado) a trabalhar, e consequentemente, a contribuir, requerer o recálculo de sua aposentadoria, para aumentar o seu valor, considerando o montante das novas contribuições? Dito de outra forma, pode o aposentado desaposentar-se e aposentar-se novamente com valor majorado? O Supremo Tribunal Federal, no RE 381.367, em tese de repercussão geral com julgamento de mérito, definiu que apenas por meio de lei é possível fixar critérios para o recálculo de benefícios com base em novas contribuições decorrentes da permanência ou da volta do trabalhador ao mercado de trabalho após concessão da aposentadoria. “No âmbito do Regime Geral de Previdência Social – RGPS, somente lei pode criar benefícios e vantagens previdenciárias, não havendo, por ora, previsão legal do direito à ‘desaposentação’ ou ‘reaposentação’, sendo constitucional a regra do artigo 18, parágrafo 2º, da Lei 8.213/1991”. Em sede de embargos de declaração, o STF definiu que: 1) os aposentados pelo Regime Geral de Previdência Social que tiveram o direito à desaposentação ou à reaposentação reconhecido por decisão judicial definitiva mantiveram seus benefícios no valor recalculado. 2) Em relação às pessoas que obtiveram o recálculo por meio de decisões das quais ainda cabe recurso, ficou definido que os valores recebidos de boa-fé não serão devolvidos ao INSS. Entretanto, daí para frente, ficou definido que os valores dos benefícios deveriam voltar aos anteriores à data da decisão judicial. 3 – ASSISTÊNCIA SOCIAL A assistência social é parte da seguridade social e, além de direito social, constitui uma política pública definida pela Constituição Federal, de caráter não contributivo, para que todos possam ter os seus direitos básicos garantidos. Por meio dela, as pessoas vulneráveis ou que enfrentam dificuldades na família ou na convivência com a comunidade têm apoio, orientação, acolhimento e proteção, além de encaminhamento aos serviços da assistência social ou a outras políticas públicas, como saúde e educação. A gestão da política de assistência social é compartilhada entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. As ações governamentais são realizadas com recursos do orçamento da seguridade social e por meio de outras fontes. Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 20 142 O artigo 203 da Constituição Federal dispõe que a assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social. Perceba: 1) a assistência social é destinada a brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil; 2) para ser beneficiado pela assistência social não é necessário ser contribuinte, uma vez trata-se de política pública em benefício de vulneráveis e não de seguro social. São objetivos da assistência social (artigo 203 da CF/88): I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. Mensalmente, o INSS deve pagar o Benefício de Prestação continuada (BPC) à pessoa com deficiência e aos idosos que atenderem aos requisitos contidos em lei. O BPC beneficia tanto brasileiros como estrangeiros com residência fixa e regular no Brasil. A respeito do assunto, o STF, no RE 587.970, fixou a seguinte tese de repercussão geral: “Os estrangeiros residentes no país são beneficiários da assistência social prevista no artigo 203, inciso V, da Constituição Federal, uma vez atendidos os requisitos constitucionais e legais.” Nos termos do artigo 204 da Constituição Federal, a assistência social será organizada com base nas seguintes diretrizes: I - descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social; II - participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. A Constituição autoriza que os Estados e o Distrito Federal vinculem a programa de apoio à inclusão e promoção social até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de: 1) despesas com pessoal e encargos sociais; 2) serviço da dívida; 3) qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações apoiados. Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 21 142 DA EDUCAÇÃO, CULTURA E DESPORTO 1 – EDUCAÇÃO Educação, dever do Estado e da família, é direito fundamental a todos assegurado (brasileiros e estrangeiros) e deve ser promovido e incentivado com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. O dever do Estado com a educação compreende a oferta de educação básica e educação superior. 1. Educação Básica A educação básica é obrigatória e gratuita dos quatro aos dezessete anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria. A educação básica obrigatória compreende a educação infantil(a partir dos 4 anos), o ensino fundamental e o ensino médio. Cuidado! A educação infantil é dividida em seis categorias: creche e berçário; grupo 1 (crianças de 1 a 2 anos); grupo 2 (crianças de 2 anos); grupo 3 (crianças de 3 anos); grupo 4 (crianças de 4 anos) e grupo 5 (crianças de 5 anos). Somente a partir do grupo quatro (crianças de quatro anos) é que a educação infantil passa a compor a educação básica obrigatória. O ensino fundamental tem nove anos de duração e está dividido em anos iniciais (do primeiro ao quinto ano) e anos finais (do sexto ao nono ano). O ensino médio tem três anos de duração (do primeiro ao terceiro ano). O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo, de maneira que o seu não oferecimento pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importará a responsabilidade da autoridade competente. A exigência de idade mínima de quatro e seis anos para ingresso, respectivamente, na educação infantil e no ensino fundamental, bem como a fixação da data limite de 31 de março para que referidas idades estejam completas foram declaradas constitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento da ADPF 292, exigências previstas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e em resoluções do Conselho Nacional de Educação. Fixou-se a seguinte tese: “é constitucional a exigência de seis anos de idade para o ingresso no ensino fundamental, cabendo ao Ministério da Educação a definição do momento em que o aluno deverá preencher o critério etário”. Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 22 142 É dever do Poder Público prestar atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. O ensino noturno regular, adequado às condições do educando, deve ser oferecido pelo Poder Público. É dever do Estado prestar atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. Por outro lado, o ensino inclusivo em todos os níveis de educação é obrigação constitucionalmente imposta às escolas públicas e particulares. Educação Infantil (creche e pré-escola) A educação infantil constitui a primeira etapa do processo da educação básica e representa prerrogativa constitucional indisponível, que assegura às crianças, para efeito de seu desenvolvimento integral, o atendimento em creche e o acesso à pré-escola. A Constituição Federal assegura a educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças de zero até cinco anos de idade (artigo 208, IV). O Estado deve criar condições objetivas que possibilitem, de maneira concreta, em favor das crianças até cinco anos de idade o efetivo acesso e atendimento em creches e unidades de pré-escola. Segundo o Supremo Tribunal Federal, a educação infantil constitui direito subjetivo público de crianças até cinco anos de idade ao atendimento em creches e pré-escolas, de modo que é possível a intervenção do Poder Judiciário para sua efetivação (RE 554.075 AgR). Dito de outra forma, para o STF, a norma constitucional tem eficácia plena e aplicabilidade imediata. Ensino Fundamental (do primeiro ao nono ano) É dever do Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola. É papel da família combater a evasão escolar e promover a devida assistência aos educandos. O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, mas a Constituição Federal assegura às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais. O ensino religioso constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, mas a sua matrícula será facultativa. Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 23 142 O Supremo Tribunal Federal, na ADI 4.439, conferiu interpretação conforme à Constituição ao art. 33, caput e §§ 1º e 2º, da Lei 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), e ao art. 11, § 1º, do acordo Brasil-Santa Sé aprovado por meio do DL 698/2009 e promulgado por meio do Decreto 7.107/2010, para assentar que o ensino religioso em escolas públicas pode ter natureza confessional. A rede pública, em igualdade de condições, oferecerá ensino confessional das diversas crenças, mediante requisitos formais de credenciamento, de preparo, previamente fixados pelo Ministério da Educação. O ensino deve ser ministrado por integrantes, devidamente credenciados, da confissão religiosa do próprio aluno, a partir de chamamento público já estabelecido em lei para hipóteses semelhantes e, preferencialmente, sem qualquer ônus para o poder público (Informativo 879). Ensino Médio Quanto ao ensino médio gratuito, a Constituição Federal dispõe no artigo 208, II, que é dever do Estado promover a sua progressiva universalização. (2019/MPE-SC/MPE-SC/Promotor de Justiça) O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, e somente pode ter natureza não confessional, conforme o atual entendimento do Supremo Tribunal Federal. Gabarito: Errado. Comentário: De fato, nos termos do artigo 210, § 1º, da Constituição Federal, o ensino religioso é um componente curricular que deve ser oferecido aos alunos. Entretanto, a sua matrícula será facultativa. Quanto à natureza não confessional, o Supremo tribunal Federal decidiu em sentido diverso, ao garantir que a disciplina seja ministrada por professores credenciados, da religião dos alunos, e seja oferecida como ensino religioso confessional (ADI 4.439). 2. Educação Superior A Constituição Federal impõe como dever do Estado quanto à educação, o acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um (artigo 208, V), do que resulta a oferta de educação superior. Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 24 142 Nos termos do artigo 207 da Constituição Federal, as universidades gozam de autonomia didático- científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. As instituições de pesquisa científica e tecnológica também gozam das mesmas garantias. A autonomia é o espaço de discricionariedade conferido constitucionalmente à atuação normativa infralegal de cada universidade para o desempenho de suas funções. As universidades são espaços de liberdade e de libertação pessoal e política. Seu título indica a pluralidade e o respeito às diferenças, às divergências para se formarem consensos, legítimos apenas quando decorrentes de manifestações livres. Por isso, a Constituição ali garante, de modo expresso, a liberdade de aprender e ensinar e, ainda, de divulgar livremente o pensamento. Frise-se: 1. A Constituição Federal assegura às universidades e às instituições de pesquisa científica e tecnológica autonomia. No uso de sua autonomia administrativa, é facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei. 2. A atuação das universidades deve ser pautada na tríade ensino, pesquisa e extensão. 1. Segundo posicionamento do Supremo Tribunal Federal, a Lei 8.112/1990 aplica-se aos professores universitários federais, que integram os quadros dos servidores públicos civis da União. Dessa forma, oafastamento remunerado de servidor para participar em programa de pós-graduação stricto sensu em instituição de ensino superior no País e no exterior deve obedecer aos requisitos mínimos fixados pela lei, não havendo que falar em ofensa à autonomia universitária (artigo 96ªA da Lei 8.112/90). Para o Tribunal, inexiste na autonomia universitária espaço discricionário para a liberação dos professores A u to n o m ia didático-científica administrativa gestão financeira e patrimonial Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 25 142 universitários federais para participar de pós-graduação stricto sensu a qualquer tempo, sem observância dos requisitos mínimos legalmente determinados (ADI 4.406). 2. Fere a autonomia universitária a lei estadual que autoriza o Chefe do Poder Executivo local a criar campus universitário (ADI 2.367). 3. Para o STF, em razão de sua autonomia didático-científica, administrativa, financeira e patrimonial, as universidades estaduais podem criar e organizar procuradorias jurídicas, para a defesa dos interesses das universidades, inclusive em face dos próprios Estados-membros que as constituíram (ADI 5.215). 4. Na ADPF 548, o STF, em defesa da autonomia universitária, suspendeu os efeitos de atos judiciais proferidas por juízes eleitorais que determinaram a busca e apreensão de panfletos e materiais de campanha eleitoral em universidades e nas dependências das sedes de associações de docentes e que proibiram aulas com temática eleitoral e reuniões e assembleias de natureza política, impondo a interrupção de manifestações públicas de apreço ou reprovação a candidatos nas eleições gerais de 2018, em ambiente virtual ou físico de universidades federais e estaduais. 5. Fere a autonomia universitária a imposição legal de que o escritório de prática jurídica preste serviço aos finais de semana, para atender necessitados presos em decorrência de flagrante delito (ADI 3.792). 6. O STF, no RE 601.580, revisou a sua jurisprudência e passou a considerar compatível com a Constituição Federal a previsão normativa que asseguradora ao servidor público federal civil ou militar matrícula em instituição pública de ensino na localidade para onde foi removido, ainda que originariamente o servidor estivesse estudando em universidade privada, caso não exista na localidade instituição particular semelhante. Foi aprovada a seguinte tese: “É constitucional a previsão legal que assegure, na hipótese de transferência ex officio de servidor, a matrícula em instituição pública, se inexistir instituição congênere à de origem” 7. Para o STF, o sistema de cotas para ingresso nas Universidades e faculdades públicas para alunos que comprovem ter cursado integralmente os ensinos fundamental e médio em escolas públicas ou para negros é compatível com a ideia de igualdade material (ADI 4.868). (2019/FUNDEP (Gestão de Concursos)/MPE-MG/Promotor de Justiça Substituto) O dever do Estado em relação à educação, consoante a Constituição de 1988, será efetivado mediante a garantia de, exceto: A) progressiva universalização do ensino médio gratuito. B) atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 26 142 C) educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças de até 6 (seis) anos de idade. D) acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um. Gabarito: C Comentários: Letras A, B e D estão certas. O artigo 208 da Constituição Federal elenca o dever do Estado com a educação. No inciso II, consta a progressiva universalização do ensino médio gratuito. No inciso III, atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. No inciso V, acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um. A letra C está errada, uma vez que a educação infantil é destinada às crianças de zero a cinco anos (artigo 208, IV, da CF/88). 3. Princípios constitucionais de organização do ensino No artigo 206, a Constituição Federal prescreve os princípios básicos norteadores do ensino no Brasil. São eles: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; O Supremo Tribunal Federal negou provimento ao RE 888.815, com repercussão geral reconhecida, no qual se discutia a possibilidade de o ensino domiciliar (homeschooling) ser considerado como meio lícito de cumprimento, pela família, do dever de prover educação, uma vez que não há legislação que regulamente preceitos e regras aplicáveis a essa modalidade de ensino. Para o Tribunal, a Constituição Federal não veda de forma absoluta o ensino domiciliar, mas proíbe qualquer de suas espécies que não respeite o dever de solidariedade entre a família e o Estado como núcleo principal à formação educacional das crianças, jovens e adolescentes. III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; 1. O STF considera inconstitucional a cobrança de taxa de matrícula em universidades públicas, por afronta ao artigo 206, IV, que assegura a gratuidade de ensino público em estabelecimentos oficiais. A respeito do tema, foi editada a Súmula Vinculante 12: “A cobrança de taxa de matrícula nas Universidades Públicas viola o disposto no artigo 206, inciso IV, da Constituição Federal.” Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 27 142 2. Lado outro, no que tange ao oferecimento de cursos de especialização pelas universidades públicas, o STF, no RE 597.854/GO, admitiu a cobrança de tarifa. Sobre o tema, foi aprovada a seguinte tese de repercussão geral: “A garantia constitucional da gratuidade de ensino não obsta a cobrança por universidades públicas de mensalidade em cursos de especialização.” 3. Os Colégios Militares possuem peculiaridades aptas a diferenciá-los dos estabelecimentos oficiais de ensino e qualificá-los como instituições educacionais sui generis, de maneira que a quota mensal escolar nos Colégios Militares, segundo o STF, não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há ofensa concreta ou potencial ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação (ADI 5.080). 4. É inconstitucional a cobrança de anuidade relativa à alimentação por instituição profissionalizante (RE 357.148). V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade. VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. 4. Iniciativa Privada Os serviços de educação configuram serviço público não privativo, podendo ser prestados pelo setor privado independentemente de concessão, permissão ou autorização. Tratando-se de serviço público, incumbe às entidades educacionais particulares, na sua prestação, rigorosamente, acatar as normas gerais de educaçãonacional e as dispostas pelo Estado-membro, no exercício de competência legislativa suplementar. Nos termos do artigo 209 da Constituição Federal, o ensino é livre à iniciativa privada, desde que atendidas a duas condições: ✓ cumprimento das normas gerais da educação nacional; ✓ autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público. Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 28 142 5. Organização dos sistemas de ensino A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório (artigo 211 da CF/88). A educação básica pública atenderá prioritariamente ao ensino regular. Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil. Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio. Cabe à União: ✓ organizar o sistema federal de ensino e o dos Territórios; ✓ financiar as instituições de ensino públicas federais; ✓ exercer, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. 6. Aplicação de recursos públicos A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios devem aplicar percentual mínimo da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. A parcela da arrecadação de impostos transferida pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não é considerada receita do governo que a transferir, mas receita do governo que a receber. Os percentuais das receitas de impostos são os seguintes: União Estados Distrito Federal Municípios Sistema federal de ensino Sistema estadual de ensino Sistema distrital de ensino Sistema municipal de ensino 18% 25% 25% 25% Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 29 142 A aplicação desses percentuais mínimos constitui princípio constitucional sensível, de modo que a sua inobservância poderá gerar a intervenção federal nos Estados e no Distrito Federal (artigo 34, VII, “e”, da CF/88). Pelo mesmo motivo, os Municípios poderão sofrer a intervenção estadual (artigo 35, III, da CF/88). Para efeitos de gastos com manutenção e desenvolvimento do ensino, não se inclui o pagamentos de proventos de profissionais da educação inativos (STF. ACO 2.799 AgR). A distribuição dos recursos públicos assegurará prioridade ao atendimento das necessidades do ensino obrigatório, no que se refere a universalização, garantia de padrão de qualidade e equidade, nos termos do plano nacional de educação. Os programas suplementares de alimentação e assistência à saúde serão financiados com recursos provenientes de contribuições sociais e outros recursos orçamentários. A educação básica pública terá como fonte adicional de financiamento a contribuição social do salário- educação, recolhida pelas empresas na forma da lei. As cotas estaduais e municipais da arrecadação da contribuição social do salário-educação serão distribuídas proporcionalmente ao número de alunos matriculados na educação básica nas respectivas redes públicas de ensino. Nos termos do artigo 213 da Constituição Federal, os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que: ✓ comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação; ✓ assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no caso de encerramento de suas atividades. A Constituição Federal autoriza a utilização de recursos públicos para concessão de bolsas de estudo para o ensino fundamental e médio, na forma da lei, aos que demonstrarem insuficiência de recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública na localidade da residência do educando (artigo 213, § 1º). Entretanto, a prioridade do Poder Público deve ser a de investir prioritariamente na expansão de sua rede na localidade. As atividades de pesquisa, de extensão e de estímulo e fomento à inovação realizadas por universidades e/ou por instituições de educação profissional e tecnológica poderão receber apoio financeiro do Poder Público (§ 2º do artigo 213 da CF/88). Plano Nacional de Educação Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 30 142 Nos termos do artigo 217 da Constituição Federal, a lei estabelecerá o plano nacional de educação (PNE), de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzam a: I - erradicação do analfabetismo; II - universalização do atendimento escolar; III - melhoria da qualidade do ensino; IV - formação para o trabalho; V - promoção humanística, científica e tecnológica do País. VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto. (2019/FCC/MPE-MT/Promotor de Justiça Substituto) De acordo com o ordenamento jurídico e o entendimento do Supremo Tribunal Federal sobre a disciplina da Ordem Social na Constituição Federal, A) o ensino religioso nas escolas públicas brasileiras não pode ter natureza confessional, de modo que não pode ser vinculado a nenhuma religião específica. B) somente as universidades particulares gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, subordinando-se as públicas, sob tais aspectos, ao Ministério competente para a matéria no âmbito da Administração federal. C) a assistência à saúde é livre à iniciativa privada, sendo, contudo, vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos. D) é admissível, atualmente, o ensino domiciliar (homeschooling) como meio lícito de cumprimento, pela família, do dever de prover educação. E) tendo em vista o direito universal à saúde, o Estado, em regra, poderá ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais por decisão judicial, ainda que ausente o seu registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Gabarito: C Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 31 142 Comentários: A) Errada. O Supremo Tribunal Federal, na ADI 4.439/DF, firmou o entendimento de que o ensino religioso nas escolas públicas brasileiras pode ter natureza confessional, isto é, poderá estar vinculado às religiões. B) Errada. As universidades, públicas ou privadas, gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial (artigo 207 da CF/88). C) Certa. O artigo 199 da Constituição Federal dispõe que a assistência à saúde é livre à iniciativa privada. Entretanto, o § 2º do dispositivo veda a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos. D) Errada. Embora a Constituição Federal não vede de forma absoluta o ensino domiciliar, parar Supremo Tribunal Federal, o dever de prover educação não podeser integralmente assumido pela família por falta de legislação que regulamente preceitos e regras aplicáveis a essa modalidade de ensino (RE 888.815). E) Errada. O Supremo Tribunal Federal decidiu, no RE 657.718, com repercussão geral reconhecida, que o Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamento experimental ou sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), salvo em casos excepcionais. 2 – CULTURA A Constituição Federal trata do direito à cultura em seus artigos 215, 216 e 216A. Direito de segunda dimensão, tem como destinatários brasileiros e estrangeiros, independentemente de idade. Típico direito positivo, traz para o Estado o dever de desenvolver ações que socializem a cultura e que fomentem a sua difusão. É papel do Estado garantir a todos o pleno exercício dos direitos culturais e o acesso às fontes da cultura nacional. Deve, ainda, apoiar e incentivar a valorização e a difusão das manifestações culturais (artigo 215 da CF/88). É plenamente compatível com tal determinação constitucional, segundo entendimento do STF, a lei estadual que interfere no domínio econômico para garantir, por meio da chamada “meia entrada” (desconto de 50% nos ingressos), o acesso de jovens e estudantes à educação, à cultura e ao desporto (ADI 2.163). O Estado deverá também proteger as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional (§ 1º, 215, CF/88). Faz parte das ações do Estado, por meio de lei, a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais (§ 2º, 215, CF/88). Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 32 142 Patrimônio cultural brasileiro Nos termos do artigo 216 da Constituição Federal, constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. O Supremo Tribunal Federal, na ADI 5.450, em abril de 2020, reconheceu o futebol como patrimônio cultural brasileiro, o que não significa, evidentemente, que o Brasil tenha criado o esporte, mas que este faça parte da identidade do povo brasileiro. O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação (§ 1º). Por determinação constitucional, todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos ficam tombados (§ 5º). Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei (§ 4º). A Constituição Federal permite que os Estados e o Distrito Federal vinculem a fundo estadual de fomento à cultura até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, para o financiamento de programas e projetos culturais. Entretanto, fica vedada a aplicação desses recursos no pagamento de: 1) despesas com pessoal e encargos sociais; 2) serviço da dívida e 3) qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações apoiados. Plano Nacional de Cultura (PNC) e Sistema Nacional de Cultura (SNC) Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 33 142 A Emenda à Constituição 48/2005 alterou o artigo 215, para incluir o parágrafo terceiro e determinar a criação do Plano Nacional de Cultura. O Plano Nacional de Cultura (PNC) é um conjunto de princípios, objetivos, diretrizes, estratégias e metas que devem orientar o Poder Público na formulação de políticas culturais. A Constituição Federal determina que a lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que conduzem à: ✓ defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro; ✓ produção, promoção e difusão de bens culturais; ✓ formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões; ✓ democratização do acesso aos bens de cultura; ✓ valorização da diversidade étnica e regional. O PNC que está em vigor neste momento foi criado em 2010 (Lei 12.343/2010), com prazo de dez anos de duração, e será aplicado até dezembro de 2020. Frise-se que a Constituição não exige os dez anos de vigência, apenas diz duração plurianual. A lei é que fixou o período de dez anos. Cuidado para não confundir com o Plano Nacional de Educação, que deve ser decenal. A Emenda à Constituição 71/2012 criou o artigo 216A, para instituir o Sistema Nacional de Cultura (SNC). Por meio dele, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios atuam no planejamento e na gestão compartilhadas das políticas culturais. As ações desenvolvidas no âmbito do SNC são as orientadas pelo Plano Nacional de Cultura- PNC, cujas diretrizes e metas devem nortear a formulação das políticas públicas de cultura. O Sistema Nacional de Cultura, organizado em regime de colaboração, de forma descentralizada e participativa, institui um processo de gestão e promoção conjunta de políticas públicas de cultura, democráticas e permanentes, pactuadas entre os entes da Federação e a sociedade, tendo por objetivo promover o desenvolvimento humano, social e econômico com pleno exercício dos direitos culturais. Nos termos do § 1º do artigo 216A, o Sistema Nacional de Cultura fundamenta-se na política nacional de cultura e nas suas diretrizes, estabelecidas no Plano Nacional de Cultura. Lei federal disporá sobre sua regulamentação, bem como sobre sua articulação com os demais sistemas nacionais ou políticas setoriais de governo. O SNC rege-se pelos seguintes princípios: ✓ diversidade das expressões culturais; ✓ universalização do acesso aos bens e serviços culturais; ✓ fomento à produção, difusão e circulação de conhecimento e bens culturais; ✓ cooperação entre os entes federados, os agentes públicos e privados atuantes na área cultural; ✓ integração e interação na execução das políticas, programas, projetos e ações desenvolvidas; Nelma Fontana Aula 10 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 34 142 ✓ complementaridade nos papéis dos agentes culturais; ✓ transversalidade das políticas culturais; ✓ autonomia dos entes federados e das instituições da sociedade civil ✓ transparência e compartilhamento das informações ✓ democratização dos processos decisórios com participação e controle social; ✓ descentralização articulada e pactuada da gestão, dos recursos e das ações; ✓ ampliação progressiva dos recursos contidos nos orçamentos públicos para a cultura. A estrutura do Sistema Nacional de Cultura, nas respectivas esferas da Federação, é constituída de: ✓ órgãos gestores da cultura; ✓ conselhos de política cultural; ✓ conferências de cultura; ✓ comissões intergestores; ✓ planos de cultura; ✓ sistemas de financiamento à cultura; ✓ sistemas de informações e indicadores culturais; ✓ programas de formação na área da cultura; e
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