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Nietzsche PROFESSORA ROBERTA CRIVORNCICA Ressentimento e inversão de valores A oposição Senhor/Escravo, Nobre/Plebeu, remete à Vontade de Potência porque é nela onde as forças de diferenciação e expansão organizam o corpo do homem. Ao nobre, por sorte, cuidado, condições adequadas, é possível o livre fluxo de sua força; ao escravo, por azar, descuido, condições desfavoráveis, sua ação está vedada, quase completamente obstruída, sua potência de diferenciação é debilitada. Vontade de Potência O nobre confunde sua valoração com o mundo, porque o mundo mesmo parece estar em suas mãos, ele demonstra um controle de si e de sua relação com o que lhe é exterior, os dois movem-se em harmonia, uma dança onde os dois crescem em potência; já o escravo de imediato cria uma separação entre ele e o mundo, negando o exterior em busca de afirmar-se com seus parcos recursos. Nietzsche analisa do ressentimento através de uma fisiopsicologia: de que forma o ressentimento nasce da impotência e contamina o organismo? Analisando o Nobre e o Plebeu podemos ver como no primeiro, a ação toma corpo e mesmo a reação é forte o bastante para encontrar caminhos novos e inesperados. O nobre dispõe de uma plasticidade que o faz ativo no processo, ele é capaz de agir de múltiplas maneiras e afirmar-se sempre com o máximo de potência e espontaneidade; não há hesitação em pôr-se à prova! Já o escravo, acovardado pelos estímulos que vêm de fora, cegado pelo medo, não encontra saídas, fica paralisado, consegue apenas esboçar reações mecânicas, reflexos prosaicos, toscos e infrutíferos; não se sente digno de lutar. A cama está armada para o nascimento do ressentimento. Como diz Nietzsche: “O ressentimento, a ninguém é mais prejudicial que ao próprio ressentido” (Nietzsche, Ecce Homo, §6). Em sua incapacidade de agir, o tipo escravo tende a se tornar cada vez mais doente e incapaz, cada vez mais extenuado e incapacitado. Em sua busca por afirmação, ele recorre a táticas desesperadas: a confundindo com o alívio de energias represadas, tomando excêntricas atitudes que descarregam de uma vez toda sua força, mas que o torna, por fim, ainda mais frágil frente aos estímulos externos. O ressentido busca o alívio de sua dor, seu desconforto, a Vontade de Potência busca caminhos para afirmar-se, mas encontra apenas becos sem saída. Então, já incapaz de afirmar, até mesmo a reação torna-se inautêntica, incapaz de criar e diferenciar-se, inapta para dar conta da relação entre as forças interiores com as exteriores. Chega o momento para o qual Nietzsche nos alertou: a dor se contamina de ressentimento. Mágoa, raiva, ira, ódio tomam a consciência. Ao fraco, abre-se o assustador destino de ressentido, a incapacidade de esquecer aqueles que o ofenderam, a raiva contida, dissimulada, daqueles que o superaram, a dor persistente e atrofiadora, a sede de vingança. P ro fe sso ra R o b e rta C riv o rn c ic a - F ilo so fia Nietzsche PROFESSORA ROBERTA CRIVORNCICA Eterno Retorno “Alguns milênios serão necessários para o mais potente dos pensamentos"” Nietzsche Nietzsche repensou o conceito de Eternidade, que coloca o ser em detrimento do vir-a-ser. Toda a história do pensamento ocidental, desde Platão, está contaminada pelo pensamento transcendente. É preciso então retornar aos pré- socráticos, junto a Heráclito e relembrar o rio que flui eternamente sem nunca parar, e no qual nunca podemos entrar duas vezes. O maior representante da segunda tese é Platão que pensa a eternidade fora da existência, no mundo das Ideias, mas existem inúmeros outros que seguiram sua filosofia: Aristóteles, com o Motor Imóvel; Plotino, negando a eternidade para a natureza sensível; Santo Agostinho, trazendo o platonismo para o cristianismo e pensando um Deus eterno e atemporal criador de tudo a partir do nada; São Tomás de Aquino; passando por Descartes entre outros; até chegarmos em Kant e a modernidade. Eternidade Temporal versus Eternidade Atemporal Nietzsche retorna a Heráclito para pensar o mundo como fogo eterno que se consome e se recria, mas sempre aqui, neste mundo. Sua pergunta inicial é simples: “Você viveria sua vida mais uma vez e outra, e assim eternamente?”, com este problema se torna possível trabalhar em cima do conceito de Eterno Retorno, um dos mais importantes de sua obra. Ele funciona como uma ferramenta (assim como todo conceito), que o filósofo desenvolve, para enfrentar o niilismo que se espalha como uma sombra pelo corpo da humanidade, toma de assalto o homem e o leva à decadência. Nietzsche vê todo edifício filosófico europeu pautado na eternidade atemporal ruindo rapidamente e resolve tomar um caminho radicalmente diferente para dar conta de uma vida ética. A força do Eterno Retorno está na possibilidade de fundar uma filosofia pautada na imanência pura. Eis a sua importância. Professora Roberta Crivorncica - Filosofia Nietzsche – Amor Fati “Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas. Amor-fati [amor ao destino]: seja este, doravante, o meu amor! Não quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Que minha única negação seja desviar o olhar! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim!“ – Nietzsche, Gaia Ciência, §276 As implicações do Eterno Retorno levam inevitavelmente a outro conceito muito importante que Nietzsche chamou de amor fati (do latim, amor ao destino). Sim, este conceito é o possível resultado do desafio imposto pelo Eterno Retorno do Mesmo: o amor fati representa a plena aceitação da imanência, de um mundo onde Deus está morto. Quem sobrevive à falta de sentido? Quem sobrevive ao niilismo? Apenas aquele que aprende a dizer Sim! Aquele que torna leve o mais pesado dos pesos e aprende a impor novos valores, amando a existência em sua plenitude. Nietzsche ensina que um Sim justifica toda a existência, trazendo novos sentidos para este mundo e navegando através do niilismo, deixando para trás qualquer transcendência. O pensamento seletivo do Eterno Retorno filtra as forças, separa-as entre ativas e reativas. No fundo, não passa de um instrumento ético por onde passa somente o que é afirmativo. Basta lembrar da pergunta: “Quero tudo mais uma vez e incontáveis vezes?“. Nossa vida, tal como a temos vivido até agora é resultado de uma afirmação ou do medo e da fraqueza? O amor fati é o resultado desta seleção das forças ativas. Estamos de posse das consequências do Eterno Retorno para poder afirmar tudo o que é? Amamos devidamente este mundo para interiorizarmos o amor fati? É impossível afirmar o Eterno Retorno sem amar a vida, esta vida mesma, como se nos apresenta. A prova do Eterno Retorno é a mais pesada, a mais difícil, a mais desesperadora, mas como prêmio nos tornamos leves. Se não existe nada além desta existência, há de se concluir que apenas ela merece nosso amor. Aprender a amar nosso destino, encontrar beleza no necessário, esta é a grande lição de Nietzsche já no fim de sua produção intelectual. Este talvez este seja seu último grande ensinamento, aquele que o filósofo levou mais anos para interiorizar: dizer sim à vida, porque só ela existe e somente ela carrega valor em si mesma. Afirmar a realidade e viver em sintonia consigo mesmo. Contribuir assim para que tudo se torne mais belo, mais forte, mais potente. Amor fati implica aceitar o que nos foi dado e tirado. Todos os acontecimentos se inserem numa ordem causal da natureza, assim como cada um de nós. Portanto, só podemos concluir que nada poderia ter acontecido de outra forma, nada poderia ter sido diferente, de nada adianta nos lamentarmos. É preciso afirmar até mesmo o erro, afinal de contas, ele não é um erro! Ele era absolutamente necessário naquele momento e só pode ser interpretado como um erro se tomarmos formas superiores e transcendentes para nos guiar. Vídeo de Nietzsche sobreAmor Fati: https://www.youtube.com/watch?v=2Xzh1BjCA5Q Super Homem de Nietzsche: https://www.youtube.com/watch?v=bxiKqA-u8y4 Sobre inveja e ressentimento: https://www.youtube.com/watch?v=S9ZgNW7VaFc&has_verified =1 https://www.youtube.com/watch?v=2Xzh1BjCA5Q https://www.youtube.com/watch?v=bxiKqA-u8y4 https://www.youtube.com/watch?v=S9ZgNW7VaFc&has_verified=1
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