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ESTRUTURA DA CONTABILIDADE BRASILEIRA AULA 2 Profª Edenise Aparecida dos Anjos 2 CONVERSA INICIAL Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)! Nesta aula, vamos estudar especificamente as características da informação contábil e sua capacidade de ser útil para seus usuários. Os temas a serem explorados são: Característica da informação contábil útil e característica qualitativa fundamental: relevância; Características qualitativas fundamentais: representação fidedigna; Características qualitativas de melhoria: comparabilidade e verificabilidade; Características qualitativas de melhoria: tempestividade e compreensibilidade; Restrição do custo versus benefício da informação contábil. CONTEXTUALIZANDO Anteriormente, estudamos os aspectos conceituais da contabilidade, os relatórios contábeis e principais usuários. Nesta aula, nosso enfoque é direcionado sobre a qualidade das informações contábeis, ou características qualitativas da informação contábil. Para iniciar nossa aula, apresenta-se o seguinte questionamento: quais as características que se espera da informação contábil para que um usuário a classifique como útil e a utilize como base para a sua tomada de decisão? A informação, para ser útil, precisa conter alguns atributos, como ser relevante e representar de maneira fidedigna a situação da entidade. Deve ainda ser passível de ser melhorada, ao ser comparada, verificada, compreensível e ser apresentada tempestivamente, ou seja, no momento oportuno. São muitos atributos? Não se preocupe, vamos estudar cada um deles e apresentar exemplos que facilitam o entendimento. Bons Estudos! TEMA 1 – CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DE INFORMAÇÕES FINANCEIRAS ÚTEIS As características qualitativas da informação contábil são atributos que tornam a informação contida nos relatórios contábeis úteis, para que seus usuários possam tomar suas decisões. Voltando aos objetivos dos relatórios 3 contábeis, já estudamos que são emitidos de acordo com as normas contábeis, para atender as necessidades de uma ampla gama de usuários. Agora vamos estudar a qualidade da informação gerada pelos Demonstrativos Contábeis, analisando suas características fundamentais, como relevância das informações, e se representam de forma fidedigna a situação patrimonial e financeira de uma entidade. De forma complementar aos atributos fundamentais, espera-se ainda que a qualidade dessas informações possa ser aumentada, por meio das características de melhoria, quanto à capacidade de serem comparadas e verificadas; em termos da disponibilidade da informação, a tempo de ser utilizada no momento certo, com tempestividade; e em relação a seu conteúdo, a compreensibilidade, na perspectiva de seus usuários. Assim, as características qualitativas são classificadas em dois grupos: fundamentais e de melhoria. A Figura 1 apresenta as características de cada uma. Figura 1 – Características qualitativas Fonte: CPC, 2019. Em síntese, os relatórios contábeis, elaborados de acordo com as normas, devem produzir informações que possam ser julgadas como úteis por seus usuários. Para aprender sobre essas características fundamentais e de melhoria, vamos estudá-las individualmente, iniciando pelas características fundamentais. C ar ac te rí st ic as Q u al it at iv as Fundamentais Relevância Representação fidedigna Melhoria Comparabilidade Verificabilidade Tempestividade Compreensibilidade 4 1.1 Características qualitativas fundamentais As características qualitativas fundamentais da informação contábil são classificadas em relevância e representação fidedigna. São classificadas como fundamentais pois representam os preceitos básicos do que se espera dos demonstrativos contábeis; são carregadas de valor, tanto quantitativa (expressos em números e valor) quanto qualitativamente (percepção de qualidade). 1.2 Características qualitativas fundamentais: relevância A relevância é uma das características qualitativas fundamentais, relacionada com a capacidade de uma informação fazer a diferença nas decisões tomadas pelos seus usuários, ainda que eles optem por não tirar vantagem, e mesmo que já tenham conhecimento delas e de outras fontes (CPC, 2019). Essa classificação é apresentada na estrutura conceitual da contabilidade. Mas qual a importância da característica da relevância? Essa é uma das principais características da informação contábil, pois esse atributo deve estar contido em todas as informações apresentadas pelos Demonstrativos Contábeis, independente do fato de as informações apresentarem cunho quantitativo (de quantidade), valores monetários e quadros explicativos. Somente assim o usuário poderá avaliar se a informação é útil, verificando a capacidade de influenciar a tomada de decisão. No entanto, para o uso da informação contábil, o usuário precisa ter conhecimento dos elementos patrimoniais e de resultados, para que possa realizar suas análises. É nesse momento que entra o julgamento da utilidade da informação, pois a partir dos valores preditivos e confirmatórios é possível decidir se a informação disponibilizada para tomada de decisão será ou não utilizada. A informação relevante deve conter valor preditivo, que são os dados constantes nos relatórios, que podem ser processados como entradas para serem utilizados em previsões (análise da entrada de dinheiro em caixa em períodos futuros). Deve também apresentar valor confirmatório, em referência à informação disponível nos relatórios, que ao serem analisadas e confrontadas com períodos anteriores fornecem um feedback da situação encontrada. Espera- se que uma informação relevante contenha os dois valores, preditivo e confirmatório, ao mesmo tempo. 5 Figura 2 – Características qualitativas Fonte: CPC, 2019. Exemplo: analise a seguinte situação A empresa XX Ltda analisou a necessidade de investir em novos equipamentos para aumentar sua produção e consequentemente suas vendas. Para isso, decidiu verificar com fornecedores e instituições financeiras qual a melhor opção. Os fornecedores e instituições, para conceder o crédito para a Empresa XX, solicitaram os demonstrativos contábeis dos últimos três anos e do ano corrente. De posse dos demonstrativos contábeis, analisam os períodos anteriores para avaliar o desempenho da empresa (valor confirmatório) e verificar sua capacidade de gerar fluxos de caixa futuros para saldar dívidas (valor preditivo). Analisam ainda se ela tem estoques para vender; além dos direitos a receber de seus clientes e do nível de endividamento (obrigações a pagar) nos últimos anos (valor confirmatório), para analisar a capacidade a capacidade futura de pagamento (valor preditivo). Somente após tais análises os fornecedores e as instituições financeiras avaliam a concessão dos empréstimos/financiamento para a empresa XX. Sendo aprovado pelas entidades credoras, a empresa XX agora analisa qual a melhor opção. Observe, neste exemplo hipotético, que a base para a concessão de crédito está atrelada à qualidade da informação contábil e sua relevância, e aos valores preditivos e confirmatórios contidos na sua apresentação. Somente assim poderá ser julgada como útil para a tomada de decisão. Informação relevante Valor preditivo Utilizada como dados de entrada para previsões Valor confirmatório Fornece feedback sobre avaliações anteriores 6 1.3 Materialidade A relevância é diretamente associada ao conceito de materialidade, pois se uma informação material for omissa ou distorcida, pode influenciar as decisões dos usuários dos relatórios financeiros (CPC, 2019). Ressalta-se, nesse contexto, que a contabilidade é realizada com requinte de detalhes; todavia, nem todas as informações são relevantes para seus usuários,se pensarmos nos esforços necessários para a sua elaboração e nas métricas de proporções. Exemplo: analise a seguinte situação Uma empresa de grande porte distribui por departamentos o material de consumo. Em determinado período, identificou o total de despesas com papel A4 no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). De posse dessa informação, o encarregado pelas despesas de papel A4, decidiu, então, identificar quantas folhas de papel A4 cada departamento consome, para atribuir de forma correta as despesas aos seus respectivos departamentos. Para isso, designou uma equipe para fazer o controle. Essa decisão foi tomada levando em consideração a relevância e a materialidade da informação? Para responder essa pergunta, vamos comparar a despesa de R$ 5.000,00 com a Receita Líquida de Vendas da entidade, no valor aproximado de R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais). Analise, agora, o quanto essas despesas (R$ 5.000,00) consomem das receitas líquidas de vendas nesse mesmo período. 𝑃𝑟𝑜𝑝𝑜𝑟çã𝑜: 5.000,00 3.000.000,00 = 0,001667 𝑥100 = 0,17% Analisando a proporção de 0,17%, podemos inferir que não faz sentido montar uma equipe para analisar quanto de papel A4 cada departamento consome – ou seja, essa informação é imaterial. Afinal, o custo para quantificar quanto cada departamento consome de folhas é maior que o benefício da informação. Portanto, é imaterial e irrelevante para a tomada de decisão. Agora vamos tomar como base a mesma despesa com papel A4, mudando apenas para o contexto de uma microempresa, que obtém Receitas líquidas de Vendas no valor de R$ 120.000,00 (centro e vinte mil reais) no período. Quando analisado o consumo de papel no valor de$ 5.000,00, comparando-o com as receitas, vamos obter um percentual de 4,17%. Segue cálculo: 7 𝑃𝑟𝑜𝑝𝑜𝑟çã𝑜: 5.000,00 120.000,00 = 0,041667 𝑥100 = 4,17% Pode-se agora inferir que a mesma despesa, considerada como imaterial e não significativa para a empresa de grande porte, é material para uma microempresa – ou seja, deve ser quantificada para identificar os motivos pelos quais essa despesa consome 4,17% das receitas, sendo portanto relevante para análise e posterior tomada de decisão. Aplicar os conceitos de materialidade, julgar o que é relevante ou não para uma entidade, não é tarefa fácil, pois requer, do contador, vivência, expertise e bom senso no exercício de sua função. Em resumo, uma informação relevante deve ser oportuna, ou seja, deve servir o usuário no momento em que ele precisa, permitindo análise, interpretação e utilização, para estabelecer metas, fazer investimentos, enfim, tomar decisões que vão influenciar nos negócios da entidade que reportou a informação. TEMA 2 – CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS FUNDAMENTAIS: REPRESENTAÇÃO FIDEDIGNA Para serem úteis, as informações contábeis, além de relevantes, precisam representar fielmente a situação financeira do patrimônio, que está sendo retratada nos relatórios contábeis, ou seja, deve ser fidedigna. Essa representação pode ser feita em palavras e números, como apresentar o nome correto das contas e os saldos das transações a que se refere, evitando o uso de terminologias genéricas, como despesas gerais, por meio das quais não é possível identificar quais são essas despesas e seus respectivos valores, suprimindo assim informações que possam vir a ser importantes para a tomada de decisão. Na perspectiva da estrutura conceitual, para a elaboração de relatórios financeiros úteis, as informações financeiras não devem apenas representar fenômenos relevantes, mas também, de forma fidedigna, a essência dos fenômenos que se pretende representar (CPC, 2019). Assim, a característica qualitativa de uma informação fidedigna é a representação fiel da situação patrimonial de uma entidade em determinado 8 período. Deve ainda ser maximizada por três características: completa, neutra e isenta de erros. Figura 3 – Representação fidedigna Fonte: CPC, 2019. 2.1 Representação fidedigna: completa Uma representação completa inclui todas as informações necessárias para que o usuário compreenda os fenômenos que estão sendo representados, inclusive todas as descrições e explicações necessárias. Por exemplo, a representação completa de grupo de ativos inclui, no mínimo, a descrição da natureza dos ativos do grupo, a representação numérica de todos os ativos do grupo, e a descrição daquilo que a representação numérica retrata (como valor do custo histórico ou valor justo). Uma informação completa envolve também explicações de fatos significativos sobre a natureza e as dimensões de qualidade da informação. Por exemplo, as notas explicativas que evidenciam as práticas contábeis, além de políticas, critérios e normas adotados para elaboração dos relatórios. 2.2 Representação fidedigna: neutra A informação, para ser neutra, deve ser imparcial, não tendenciosa, buscando apresentar dados e informações sem viés (CPC, 2019). Assim, a neutralidade diz respeito à não existência de viés na escolha da forma de registro ou de mensuração, quer para melhorar artificialmente a realidade, quer para piorá- la. A neutralidade em casos de incertezas no reconhecimento dos elementos contábeis é apoiada pelo exercício da prudência, devendo-se adotar o menor valor para os ativos e o maior valor para os passivos. Nesse contexto, o contador deve ter cautela, ou seja, exercer o princípio da prudência, de modo que REPRESENTAÇÃO FIDEDIGNA COMPLETA NEUTRA LIVRE DE ERROS 9 os ativos ou receitas não sejam superestimados, e os passivos ou despesas não sejam subestimados. Exemplo A empresa, a partir do uso das características confirmatórias e preditivas da informação contábil, observou um padrão de inadimplência, identificando um percentual de 3% dos valores que ela deveria receber por mês de seus clientes, não sendo pagos ou saldados. Nesse caso, para que a conta de Duplicatas a Receber de clientes no Ativo não ficasse superestimada, apresentando um valor que não será convertido em caixa (dinheiro), a contabilidade reconhece essa perda estimada com clientes de liquidação duvidosa. Ao reconhecer essa perda, ocorre a redução do valor da conta de Duplicatas a receber, evidenciando somente os valores que a empresa efetivamente espera receber em dinheiro no caixa, e com os quais poderá contar para uso em operações diárias. Ativos: (+) Duplicatas de Clientes a receber (-) Perdas estimadas de cliente de liquidação duvidosa (=) Saldo de Duplicatas de Clientes a receber 2.3 Representação fidedigna: livre de erros Representação fidedigna não significa representação precisa em todos os aspectos. Diante disso, espera-se no mínimo que os demonstrativos contábeis elaborados de acordo com as práticas e normas contábeis sejam isentos ou livre de erros, representando fielmente a situação econômica e financeira da entidade. Por exemplo, quando a estimativa de preço ou valor não pode ser estimada com precisão, o valor deve ser descrito de forma clara e precisa como sendo estimativa. Assim, a informação conterá em seu escopo as limitações da estimativa; se nenhum erro tiver sido cometido na escolha e na aplicação do processo, será representada de forma fidedigna. Em resumo, pode-se afirmar que as Demonstrações contábeis estão longe de se constituírem em uma ciência exata, pois as informações ou os valores informados são consequência da utilização de julgamentos. Dessa forma, espera- se que contenham as características fundamentais de relevância e representação fidedignas, para que possam orientar os usuários na tomada de decisão. 10 2.4 Aplicação das características qualitativas fundamentais A estrutura conceitual (CPC, 2019) determina três passos, definidos como processos eficientes para aplicação das características qualitativas fundamentais, para elaboração eobservação das informações contábeis. Figura 4 – Aplicação das características qualitativas fundamentais Fonte: CPC, 2019. Por fim, entende-se que as informações apresentadas nos demonstrativos contábeis, para serem classificadas como úteis por seus usuários, devem ser relevantes (conter valores preditivos e confirmatórios), influenciando na tomada de decisão, devem conter representação fidedigna (a informação precisa ser completa, neutra e Isenta de erro), observando os preceitos de prudência e materialidade nos registros, além de reconhecimento e desreconhecimento dos elementos patrimoniais e de resultados apresentados. TEMA 3 – CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DE MELHORIA As características de melhoria, como o termo aponta, tem o objetivo de elevar o nível de qualidade da informação contábil. Assim, uma informação, além de relevante e fidedigna, deve ter ainda a capacidade de ser comparada, verificada, compreensível e apresentada no momento oportuno, tempestivo para a tomada de decisão. • Identificar o fenômeno econômico, com informações sobre o que pode ser útil para os usuários das informações financeiras da entidade que reporta. 1º Passo: • Identificar o tipo de informação sobre esse fenômeno que é mais relevante. 2º Passo: • Determinar se essas informações estão disponíveis e se podem fornecer representação fidedigna do fenômeno econômico. 3º Passo: 11 Figura 5 – Características de melhoria Fonte: CPC, 2019. 3.1 Comparabilidade A comparabilidade é característica qualitativa que permite, aos usuários, tomarem decisões que envolvem escolher entre alternativas, como vender ou manter o investimento, ou investir em uma ou outra entidade. Esse processo é facilitado quando as entidades divulgam seus relatórios contábeis; sua utilidade será aumentada se puderem se forem comparados a informações similares sobre outras entidades, e sobre a mesma entidade, referentes a outro período ou outra data (CPC, 2019, item 2,24). Para facilitar esse processo, os demonstrativos contábeis devem ser divulgados e publicados evidenciando os resultados de pelo menos dois períodos. Veja o exemplo do balanço Patrimonial da Cia Alpargatas S.A., em que se pode observar que o ativo total referente ao exercício de 2018 foi de R$ 3.980.105; no ano de 2019, foi de R$ 4.522.040. A comparabilidade permite a análise dos elementos patrimoniais e de resultados, para avaliar a situação econômica e financeira de uma entidade. CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DE MELHORIA Comparabilidade Capacidade de verificação Tempestividade Compreensibilidade 12 Tabela 1 – Balanço Patrimonial Alpargatas S.A. ALPARGATAS S.A. Fonte: B3, 2020. Então comparabilidade é isso? Esse é um exemplo de como a informação contábil deve ser útil para seus usuários, pois é necessário que apresente elementos que possam ser comparados, o que inclui as informações da própria empresa em períodos diferentes (2018 e 2019), e de outras empresas do mesmo segmento ou área de atuação, para que se possa fazer inferências. Por segmento, entende-se determinados grupo de entidades que desenvolvem atividades econômicas semelhantes, como produtos, serviços e mercado consumidor. Os usuários comparam a informação contábil, para verificar como a empresa evoluiu nos últimos anos, se é rentável, gera lucros aos proprietários, e qual o percentual de crescimento de período a período. Pode-se fazer comparações, ainda, com as informações publicadas de outras empresas do mesmo segmento. Assim, para afirmar que uma empresa obteve um bom desempenho em determinado período, é preciso comparar os resultados da empresa analisada com os resultados de outras empresas do mesmo segmento. A característica qualitativa da comparabilidade permite também a análise do segmento de mercado de atuação das entidades, e se o momento é propício para investir nesse tipo de organização. Veja que a comparabilidade permite aos usuários tomarem os mais diversos tipos de decisão, sejam internas (compras, vendas, produção e investimento), como externas (investimentos, em outras entidades, concessão de créditos, abertura de ações no mercado, entre outros aspectos). Nesse entendimento, a comparabilidade permite aos usuários identificar as variações econômicas e financeiras de uma entidade entre diferentes 13 períodos, buscando compreender similaridades. Por exemplo, se o elemento de análise for o estoque, as contas analisadas devem ser correlatas às contas de estoques, para que se mantenha a similaridade, permitindo assim entender as diferenças. Dentre as características da comparabilidade, pode-se observar que um dos pontos importantes repousa sobre a consistência da informação de um período para outro. Por exemplo, critérios de apuração dos inventários-estoques, se os mesmos métodos foram aplicados de período a período, se houve mudança nas políticas da empresa, e outras diferenças que mais adiante vamos estudar no reconhecimento e desreconhecimento dos elementos patrimoniais. A apuração do inventário-estoques corresponde ao método adotado por uma empresa para avaliar seus estoques e apurar o custo do produto vendido – e consequentemente o lucro no momento da venda. Em síntese, um único fenômeno econômico, apresentado de forma fidedigna, pode contemplar as características necessárias de uma informação contábil. No entanto, sua relevância é diminuída se não puder ser comparável. 3.2 Capacidade de verificação: verificabilidade Dentre as características de melhoria, destaca-se a capacidade de verificação da informação contábil. Por exemplo, a informação apresentada de forma fidedigna (representação fiel dos eventos econômicos e financeiros da entidade) permite que os usuários verifiquem, confiram, façam auditorias e perícias, chegando a um consenso sobre os métodos e práticas aplicados para a elaboração dos demonstrativos contábeis. Assim, a capacidade de verificação significa que diferentes observadores, bem informados e independentes, podem chegar a um consenso, embora não a um acordo necessariamente completo, quanto ao fato de que a representação específica é fidedigna (CPC, 2019). A capacidade de verificação pode ser direta e indireta. 14 Figura 6 – Capacidade de Verificação Fonte: B3, 2020. A verificação direta pode ser classificada como quantitativa, observada por exemplo na contagem dos estoques físicos para comparação com os relatórios emitidos no sistema, na conferência do dinheiro em caixa no fim do expediente, dentre outras finalidades. A verificação indireta, por sua vez, está relacionada com os métodos de aplicação contábil. Um exemplo é verificar o valor contábil do estoque, checando as informações (quantidades e custos) e recalculando o estoque final, com métodos como a média ponderada móvel ou o método primeiro a entrar, primeiro a sair (CPC, 2019). Por fim, observe que a capacidade de verificação pode ser tanto quantitativa (contagem da quantidade física dos estoques) quanto qualitativa (por exemplo, o método aplicado para reconhecer o valor contábil dos estoques). Carece, ainda, da representação fidedigna e da comparabilidade das informações. A capacidade de verificação é relevante, na medida que os relatórios contábeis apresentam as informações referentes aos eventos econômicos e financeiros da entidade, e as complementem com explicações sobre métodos e políticas aplicados na sua elaboração. Somente assim os usuários poderão julgar a utilidade da informação fornecida. VERIFICAÇÃO DIRETA verificar o valor ou outra representação por meio de observação direta, por exemplo, conferindo o dinheiro do caixa. INDIRETA verificar os dados de entrada de modelo, fórmula ou outra técnica e recalcular os dados de saída utilizando a mesma metodologia. Por exemplo: recalcular a folha de pagto ouimpostos 15 TEMA 4 – CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DE MELHORIA: TEMPESTIVIDADE E COMPREENSIBILIDADE Assim como as características fundamentais, a comparabilidade e a verificação são importantes. Para classificar uma informação como útil, ela deve ser apresentada no momento certo – deve ser tempestiva e compreensível. Vamos estudar agora as características qualitativas de melhoria. 4.1 Tempestividade Por tempestividade, podemos entender a disponibilização das informações com tempo hábil para influenciar na tomada de decisão por parte de seus usuários. Entende-se, assim, que quanto mais antiga uma informação, menos útil ela é. Exemplo Uma empresa de pequeno porte de vendas no varejo foi atingida fortemente pela recessão econômica em que vive o país. Com menor poder aquisitivo, os clientes estão endividados e sem dinheiro para adquirir os produtos de consumo, seja a prazo ou a vista. Diante disso, o empresário percebe que não está passando por um bom momento, mas as vendas que foram parceladas em períodos anteriores estão aquecendo o caixa. Otimista, na expectativa de aumentar suas vendas com a chegada das festas de fim de ano, abasteceu seus estoques. No mesmo período, a contabilidade, que é terceirizada, fechou os demonstrativos contábeis da empresa. O contador observou que o volume de vendas da empresa vinha reduzindo significativamente nos últimos anos para o mesmo período. Assim, o cenário econômico não era propício para adquirir um volume tão grande de mercadorias, pois essa ação poderia comprometer o fluxo de caixa no futuro próximo. Pensou em conversar com o empresário, imprimiu os relatórios e guardou-os na gaveta. Passados três meses, o empresário chegou desaminado ao escritório, manifestando a possibilidade de fechar as portas, pois não conseguiria vender seus estoques, e estava ficando sem caixa. O contador, mais que depressa, puxa os demonstrativos contábeis guardados. 16 Agora reflita, essa informação é relevante para o empresário neste momento? Caso o contador tivesse reportado a informação no momento oportuno, o empresário “poderia” ter tomado decisões mais conservadoras, comprando um volume menor de mercadorias, ou talvez realizando companhas de marketing para atrair mais clientes, fazendo promoções, baixando os preços. Enfim, uma informação somente é valiosa e útil se influenciar tempestivamente a tomada de decisão. Nesse contexto, pode-se observar que os registros contábeis fornecem informações de resultados que já ocorreram. Por isso, uma informação perde a relevância se o contador demorar muito tempo para comunicá-la ou divulgá-la. Quanto mais antiga a informação, menos valor ela tem, pois perde a relevância – ou seja, a capacidade de influenciar: a tomada de decisão; a análise de desempenho (mensal, trimestral ou anual) da entidade; o valor preditivo para fornecer informações para projeções futuras; a capacidade de verificação e comparação; entre outras características. 4.2 Compreensibilidade Característica de melhoria, a compreensibilidade tem como função apresentar e classificar as informações evidenciadas nos demonstrativos contábeis, de modo claro e conciso, tornando-as compreensíveis aos usuários da informação (CPC, 2019). Exemplo de compreensibilidade Pelo MEP, o resultado de equivalência patrimonial é reconhecido diretamente no resultado do período, enquanto a variação cambial do investimento no exterior deve ser reportada em conta específica do Patrimônio Líquido (Ajuste Acumulado de Conversão – Outros Resultados Abrangentes), sendo somente reconhecida como receita ou despesa no resultado, quando da realização dos investimentos (venda ou baixa do investimento líquido). Fonte: Gelbcke; Martins; Santos, 2018, p. 231 Você, aluno que está iniciando seu curso, consegue entender a explicação dos autores? Conhece todos os termos utilizados, como MEP (Método de equivalência patrimonial), Variação cambial, Resultados Abrangentes, Realização dos investimentos? 17 Alguns alunos, por já estarem no mercado de trabalho, pode ser que já conheçam, mas a maioria não. Afinal, é necessário que o aluno percorra uma trilha de conhecimentos, ao longo da qual lhe serão apresentados aos poucos, e de forma evolutiva, conceitos, definições, técnicas, classificações etc., para que ao longo do curso possa construir conhecimento, de forma que esteja habilitado para aplicar a contabilidade e desenvolver competências para interpretar as informações contábeis, inerentes à prática da profissão. Assim, para que possa construir conhecimento, o aluno deve ser munido de informações claras e concisas, para ser considerado como habilitado para, por exemplo, interpretar os termos descritos no recorte apresentado. Com os usuários dos demonstrativos contábeis, acontece o mesmo, pois os relatórios são elaborados de acordo com as normas contábeis vigentes, e por vezes apresentam informações complexas. Por isso, a compreensibilidade é uma característica qualitativa importante, permitindo o entendimento da informação por meio de padronização e métodos pré-determinados, como estamos vendo ao longo da disciplina. No entanto, isso não significa que os termos e jargões técnicos específicos da área contábil e de negócios devem ser suprimidos (ocultados) para que sejam compreensíveis. Porque, assim como acontece nas Ciências Jurídicas, na Contabilidade os usuários devem estar aptos para interpretar as informações contábeis fornecidas. Por isso, “os Relatórios financeiros devem ser elaborados para usuários que têm conhecimento razoável das atividades comerciais e econômicas e que revisam e analisam as informações de modo diligente” (CPC, 2019). Neste contexto, destaca-se a importância do profissional da Contabilidade, pois, por vezes, mesmo que os usuários sejam habilitados, seus conhecimentos podem não ser suficientes, cabendo aqui o papel consultivo do contador para sanar dúvidas, sempre que solicitado. As características qualitativas de melhoria devem potencializar o máximo possível a qualidade das informações contábeis. Todavia, se as informações não forem relevantes, representando fidedignamente os fenômenos econômicos e financeiros de uma entidade, perdem totalmente sua utilidade (CPC, 2019). 18 TEMA 5 – RESTRIÇÕES DO CUSTO SOBRE RELATÓRIOS FINANCEIROS ÚTEIS Nos temas anteriores, abordamos as características qualitativas fundamentais e de melhoria de uma informação contábil, como critérios que qualificam uma informação contábil como útil. Qual é o custo benefício de gerar as informações contábeis? Já pensou sobre isso? Imagine um mercadinho da sua comunidade, bairro ou vila, publicando seus Demonstrativos Contábeis no Diário Oficial da União. Consideramos aqui uma microempresa que fatura até R$ 120.000 (cento e vinte mil reais) por mês. Destaque para o fato de que esse tipo de empresa é desobrigado da divulgação pública de seus relatórios financeiros. Tabela 2 – Custos de publicação para o Diário Oficial no Estado do Paraná CUSTO DE PUBLICAÇÃO Custo por cm Diário Oficial Executivo (Poder Executivo Estadual) R$ 26,00 (centímetro) Diário Oficial Comércio, Indústria e Serviços R$ 30,00 (centímetro) CUSTO DE PUBLICAÇÃO POR PÁGINA Custo por página inteira Diário Oficial Comércio, Indústria e Serviços R$ 1.620,00 (17 x 27 cm) - A4 R$ 2.790,00 (25 x 31 cm) – Tabloide R$ 5.709,00 (30 x 52 cm) - Página dupla Avalia: realmente vale a pena para esta microempresa publicar suas informações no Diário Oficial, elaborar demonstrativos, notas explicativas de forma pormenorizada, desembolsando de R$ 1.620,00 a 5.709,00? A quem se destina ou quem são os usuários dessa informação? Vale o custo? Qual o benefício? Essas são perguntas que devem ser levadas em consideração, pois os relatórios contábeis, elaborados de acordo comas normas contábeis, são destinados primariamente aos usuários externos, que farão uso dessa informação para a tomada de decisão, pensando em investimentos em outras empresas, vendas de ações no mercado financeiros, negócios de fusão, incorporação, cisão. De modo geral, envolvem grandes negociações. Para uma microempresa, o custo pode não ter benefícios, pois o esforço para emiti-las pode não trazer resultados (benefícios) para a empresa, transformando-se em despesas. 19 Por outro lado, no caso de uma sociedade anônima, que está obrigada a publicar o conjunto completo de demonstrações contábeis, para atender às normas da CMV (Comissão de valores Mobiliários) e da bolsa de valores, há a necessidade de produzir informação aos acionistas quanto à distribuição dos lucros, aos investidores interessados nas atividades da empresa, calculando o preço das ações, pensando nos demais usuários interessados. O custo benefício é relevante, pois seus usuários aguardam o momento da divulgação e publicação dos demonstrativos contábeis, para avaliar se continuam ou não a investir na empresa. Assim, e diante de tudo que já estudamos nesta aula, pode-se inferir que os custos para divulgar uma informação devem ser imbuídos de benefícios. A estrutura conceitual da contabilidade define o custo como “uma restrição generalizada que pode ser fornecida pelo relatório financeiro, e desse modo, devem ser justificados pelos seus respectivos benefícios” (CPC, 2019). Os fornecedores da informação, ou seja, a entidade que reporta, representada pela contabilidade, demandam tempo e esforço em termos de coleta de dados, processamento, adequação às normas, verificação e disseminação de informações financeiras. É um trabalho minucioso, e por isso se deve levar em consideração o custo-benefício de gerar a informação. Sob o ponto de vista dos usuários, podemos observar que também há custo-benefício, pois para se avaliar a utilidade da informação é necessário dispender tempo e contratar especialistas para analisar e interpretar as informações disponibilizadas. Caso essas informações não sejam necessárias ou suficientes, incorrem em custos adicionais para obter as informações em qualquer outra parte, ou para estimá-las. Portanto, procura-se considerar custos e benefícios em relação ao relatório financeiro, de modo geral, e não apenas em relação a entidades individuais que reportam. TROCANDO IDEIAS Estudamos, nesta aula, que os relatórios contábeis devem fornecer informações úteis para a tomada de decisão. No entanto, para serem julgadas como úteis por seus usuários, devem conter características, ou atributos, que as qualifiquem como tal. 20 Com base nos temas apresentados e em um movimento de socialização profissional, sugerimos que conversem com profissionais contábeis em atividade, que você conhece ou no seu ambiente de trabalho, para investigar qual a percepção que apresentam a respeito dos atributos da informação: características qualitativas fundamentais e de melhoria. Investigue como essas características são percebidas pelos contadores; Qual o nível de aplicabilidade na sua rotina (essas características são observáveis no dia a dia?); Quem são os principais usuários que consomem informações contábeis no contexto analisado (usuários internos ou externos). De posse dessas informações, entre no fórum de seu ambiente virtual e discuta, com seus colegas, a aplicabilidade dessas características qualitativas e os principais usuários da informação contábil. NA PRÁTICA As características qualitativas de informações financeiras úteis se aplicam a informações financeiras fornecidas nas demonstrações contábeis, bem como a informações financeiras fornecidas de outras formas. O custo, que é uma restrição generalizada sobre a capacidade da entidade que reporta de fornecer informações financeiras úteis, se aplica de forma similar. (CPC, 2019) Com base neste recorte do CPC, correlacione as características da informação contábil: 1. Características qualitativas fundamentais. 2. Características qualitativas de melhoria. Associe, atribuindo 1 ou 2 paras as sentenças: A capacidade de verificação significa que diferentes observadores bem informados e independentes podem chegar ao consenso, embora não a acordo necessariamente completo. A compreensibilidade tem como função apresentar e classificar as informações evidenciadas nos demonstrativos contábeis de modo claro e conciso tornando- as compreensíveis aos usuários da informação. A representação fidedigna é a representação fiel da situação patrimonial de uma entidade em determinado período. A relevância é relacionada com a capacidade de uma informação fazer a diferença nas decisões tomadas pelos seus usuários, devendo conter valor preditivo e confirmatório ou ambos. Tempestividade é a disponibilização das informações há tempo de influenciar na tomada de decisão por parte de seus usuários. 21 Assinale a sequência correta1: a. 2; 1; 1; 2; 2. b. 2; 2; 1; 1; 2. c. 2; 1; 1; 1; 2. d. 2; 1; 1; 2; 1. e. 2; 2; 1; 2; 1. FINALIZANDO Nesta aula, estudamos a qualidade das informações geradas pelos relatórios contábeis. Podemos pensar, a partir do exposto, sobre a importância das observações das normas contábeis a para sua elaboração. Outro ponto importante que podemos observar é a importância do profissional contábil, seja para a preparação dos dados (reconhecimento e escrituração), como também no auxílio a tomada de decisão, de forma direta ou indireta, por meio dos relatórios emitidos. Por fim, podemos inferir que os usuários da informação, a partir das características qualitativas apresentadas, determinam se elas influenciam ou não a tomada de decisão. São os usuários que determinam a utilidade da informação. 1 O gabarito para essa questão pode ser encontrado ao final deste material, após a seção Referências. 22 REFERÊNCIAS B3 – Brasil, Bolsa, Balcão. Ações. Disponível em: <http://www.b3.com.br/pt_br/produtos-e-servicos/negociacao/renda- variavel/empresas-listadas.htm>. Acesso em: 10 mar. 2020. CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 00 (R2): Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro. 2019. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos>. Acesso em: 10 mar. 2020. GELBCKE, E. R.; MARTINS, E.; SANTOS, A. dos. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades de acordo com as normas internacionais e do CPC. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018. 23 GABARITO A resposta correta é a b. 2; 2; 1; 1; 2.
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