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Apostila de Filosofia para o Ensino Fundamental

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APOSTILA 2015 
 
FILOSOFIA 
 
ALUNO:_______________________________ 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 1 
 
 
INDICE 
 
OBJETIVOS PEDAGÓGICOS ....................................................................................................................................... 2 
 
ENSAIO INTRODUTÓRIO: JUÍZOS INTUITIVOS ......................................................................................................... 3 
 
1. FILOSOFIA? - A FILOSOFIA NA ESCOLA, NA VIDA, NO MUNDO...........................................................................4 
 
2. ATITUDES FILOSÓFICAS E CONHECIMENTO FILOSÓFICO ................................................................................ 7 
 
3. VISÃO PANORÂMICA DO INÍCIO DA FILOSOFIA: DE TALES A ARISTÓTELES ................................................. 11 
 
4. O SER HUMANO E SER LIVRE .............................................................................................................................. 20 
 
5. A IMPORTÂNCIA DA LIBERDADE ......................................................................................................................... 21 
 
6. FILOSOFIAS HELENÍSTICAS .................................................................................................................................. 33 
 
7. DUVIDAR: O PENSAMENTO EM BUSCA DE NOVOS HORIZONTES .................................................................. 39 
 
8. DÚVIDA METÓDICA: O EXERCÍCIO DA DÚVIDA POR DESCARTES .................................................................. 44 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................................................. 52 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 2 
 
 
OBJETIVOS PEDAGÓGICOS 
 
Esta Apostila apresenta a filosofia como um conhecimento que possibilita o desenvolvimento de um estilo 
próprio de pensamento. A filosofia pode ser considerada como conteúdo produzido pelos filósofos ao longo do tempo, 
mas também como o exercício do pensamento que busca o entendimento das coisas, das pessoas e do meio em que 
vivem. Portanto, um pensar histórico, crítico e criativo, é aquele que discute os problemas da vida à luz da História da 
Filosofia. 
No interior desta Apostila são desenvolvidas relações interdisciplinares. É a filosofia buscando na ciência, 
na história, na arte e na literatura, entre tantas outras possibilidades, apoio para analisar o problema estudado, 
entendendo-o na complexidade da sociedade contemporânea. 
Se propõe o estudo da filosofia por meio da leitura dos textos; de atividades investigativas; de pesquisas e 
debates, que orientam e organizam o estudo da filosofia. 
As atividades tem por objetivo a leitura dos textos, a assimilação e entendimento dos conceitos da tradição 
filosófica. As pesquisas são importantes porque acrescentam informações, fixam e aprofundam o conteúdo estudado. 
Sempre é proposto um ponto de partida, podendo surgir novos problemas e novas questões a serem pesquisadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 3 
 
ENSAIO INTRODUTÓRIO: JUÍZOS INTUITIVOS 
 
1. Explique com suas palavras o que é filosofia. 
 
______________________________________________________________________________________________
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2. Quem pode ser um filósofo? 
 
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3. Sócrates, um dos mais importantes filósofos gregos, acreditava que o reconhecimento da própria ignorância como 
ponto de partida é parte da abertura para o ato de conhecer. A partir dessa afirmativa reflita sobre a famosa frase de 
Sócrates apresentada abaixo: 
 
 
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Só sei 
que nada 
sei. 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 4 
 
 
1. FILOSOFIA? - A FILOSOFIA NA ESCOLA, NA VIDA, NO MUNDO... 
 
Conceitos e pré-conceitos acerca da filosofia 
 
O estudo da filosofia envolve muitos conceitos. Conceitos que são ideias desenvolvidas ou elaboradas a 
respeito de um assunto. Exigem de nós análise, reflexão e síntese. Antes de chegar ao conceito de alguma coisa, 
porém, são formados sobre ela um pré-conceito. 
O pré-conceito é uma ideia ainda não elaborada, um pouco vaga, por assim dizer, “de ouvir falar”. É uma 
primeira noção de algo. É por isso que muitos pré-conceitos tem sentido negativo: são parciais, incompletos, tomam 
a parte pelo todo. É o caso dos preconceitos (ou pré-conceitos) raciais, sexuais, religiosos e políticos. O pré-conceito 
não é ainda um conhecimento definitivo, mas é um ponto de partida e, se bem desenvolvido, pode tornar-se um 
conceito, ou seja, um conhecimento mais amplo e completo. 
Os juízos intuitivos são pré-conceitos nesse sentido. São pontos de partida que ajudam a desenvolver um 
conceito mais elaborado. O preconceito só se torna algo negativo quando nos restringimos a ele, sem desenvolvê-lo. 
Aí ele nos limita, ou seja, nos impede de ver as coisas de outra maneira. 
Para chegar a um conceito em filosofia, portanto, precisamos começar com os pré-conceitos e desenvolvê-
los. Essa é uma das tarefas da filosofia. Uma boa maneira de identificar esses pré-conceitos é perguntar: por que 
tenho de estudar essa matéria? O que se pretende com isso? Que utilidade ela vai ter na minha vida? A existência da 
filosofia faz alguma diferença no mundo? 
 É bem verdade que você pode fazer essas perguntas com relação a qualquer outra disciplina, mas é a 
filosofia que propõe esse tipo de questionamento. E é junto com você que ela pretende investigar a resposta. É o que 
faremos nas próximas atividades. 
 
ATIVIDADES 
 
1. Você considera a escola parte da sua vida? Em caso positivo, é uma parte agradável ou desagradável? Por quê? 
 
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________2. Existem coisas importantes que você deveria ter aprendido na escola, mas até agora não aprendeu? Dê 
exemplos? 
 
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________ 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 5 
 
3. Existem coisas que não são aprendidas na escola? Quais? 
 
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________ 
 
 
4. Na escola, você aprende mais a fazer perguntas ou a respondê-las? 
 
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______________________________________________________________________________________________ 
 
 
5. A escola ensina você a pensar melhor? Como? 
 
______________________________________________________________________________________________
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______________________________________________________________________________________________ 
 
 
6. Que tipo de coisa você imagina aprender nas aulas de filosofia? 
 
______________________________________________________________________________________________
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______________________________________________________________________________________________ 
 
 
7. Por que você acha que existe a disciplina filosofia na sua escola? 
 
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________ 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 6 
 
 
 
Etimologia da palavra filosofia e o início do filosofar 
 
As palavras tem história, e a história está cercada de significados. Quando exploramos o significado das 
palavras, encontramos diversos sentidos que já foram utilizados pelas pessoas através dos tempos. 
Isso acontece porque a linguagem é uma espécie de herança que recebemos das gerações passadas. Por 
meio dela podemos entender melhor o mundo, construir novos significados e até mesmo criar novas palavras, 
enriquecendo nossa vida e o patrimônio que iremos transmitir às próximas gerações. Assim, um pouquinho de nós 
fica para os outros. 
A filosofia é uma linguagem de amor à sabedoria. Nasceu do amor que busca compreender o mundo, os 
outros e a si mesmo. O amor cria laços, vincula, se expressa e se comunica. Foi o desejo de compreender a 
realidade que gerou a filosofia. 
Do mesmo modo que você tem um nome, e seu nome tem uma história, querendo mostrar um significado 
pessoal e social, também o nome filosofia tem uma história e um significado próprios, que vamos agora explorar e 
conhecer. 
A palavra filosofia é de origem grega. O filósofo Platão, citando outro filósofo, Pitágoras, registra em seus 
Diálogos, escritos no século V a.C., a ideia de que somente o ser humano é capaz de filosofar, ou seja, de buscar a 
sabedoria. Os seres humanos não são como os outros animais, que apenas seguem seus instintos e não tem 
necessidade de saber; tampouco são deuses, que também não tem necessidade de saber, pois já conhecem tudo. 
Somente os seres humanos, que estão a meio caminho entre os animais e os deuses, percebem que ignoram as 
coisas e sentem necessidade de conhecê-las. Essa consciência da própria ignorância e a busca da verdade, nos 
tornam filósofos. É isso que nos faz humanos. É por isso que nos movemos em diversas direções, construindo 
diferentes tipos de saber. 
Veja a seguir a composição da palavra filosofia. (Observação: o ph tem som de f; antigamente se escrevia 
pharmárcia, Philipe). 
 
 
 
1. Conceitos e pré-conceitos acerca da filosofia 
 
ATIVIDADES 
 
1. Qual é o seu nome? Por que você tem esse nome? Você sabe quem o escolheu e por quê? 
 
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________ 
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________ 
 
 
Filosofia = philos + sophia (philos = amizade, amor fraterno; sophia = sabedoria; sophós = sábio) 
Filosofia = amor fraterno pelo saber, amizade pela sabedoria. 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 7 
 
 
2. ATITUDES FILOSÓFICAS E CONHECIMENTO FILOSÓFICO 
 
Filosofia X filosofar 
 
Vimos que a palavra filosofia significa amor fraterno pelo saber ou amizade pela sabedoria. Isso 
significa, portanto, que o que define o filósofo, como você talvez já tenha notado pelos textos apresentados, é certa 
atitude em relação ao conhecimento. 
O filósofo não pretende ser o sábio nem possuir a verdade. Se assim fosse, ele deixaria de ser filósofo, ou 
então se tornaria arrogante ou dogmático, ou seja, um indivíduo apegado às próprias convicções. Como Platão já 
havia percebido e registrado, o saber definitivo pertence aos deuses. Mas, se reconhecermos que estamos a meio 
caminho, ou prestes a caminhar, poderemos conseguir muita coisa. 
 
Atitudes filosóficas 
 
Apresentamos, a seguir, um resumo das atitudes filosóficas básicas. Tenha em mente aquilo que você e 
seus colegas já elaboraram anteriormente sobre a filosofia e o filosofar. Note que cada uma das atitudes envolve um 
conjunto de habilidades que podem ser exercitadas na sua reflexão pessoal e na reflexão coletiva, em sala de aula e 
em outros espaços do pensar. 
 
Questionar: Significa ser curioso, perguntar a si mesmo e aos outros sobre tudo o que existe, colocar em questão as 
afirmações feitas sobre a realidade, interessar-se pelas coisas e pensar sobre elas, suspeitar do que é dito 
habitualmente, desconfiar das convenções estabelecidas. Algumas perguntas podem ajudá-lo no ato de questionar: 
 
. O que é? O que são as coisas que estão à nossa volta? Como se definem, o que significam (os costumes, as 
crenças, a natureza)? Quem somos? O que significam nossa experiência, nossas ideias, sensações, emoções? 
Exemplos: o que é a vida? Quem sou eu? 
 
. Como acontece? Como funcionam as coisas naturais e humanas, que relações elas mantêm entre si? Exemplos: 
como surgiu a vida? Como determinar o que é vivo ou não? Como sou? Como me tornei o que sou? 
 
. Por quê? Para quê? Qual o sentido, a razão, a justificativa, a finalidade, o objetivo das coisas ou dos fenômenos 
naturais e humanos? Por que elas são o que são e por queacontecem dessa maneira? Exemplos: para que existe a 
vida? Por que eu existo? 
 
Investigar: Quer dizer procurar respostas para os problemas, examinar e comparar essas respostas, buscar as 
conclusões mais satisfatórias (nem sempre definitivas), questionar as próprias perguntas para avaliar se são 
satisfatórias e se vale a pena investigá-las. Fazem parte do investigar: 
 
. Formular hipóteses, analisar e classificar diferentes tipos de respostas abrindo um amplo leque de alternativas. 
 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 8 
 
 
. Comparar e examinar alternativas, distinguindo opções válidas, consistentes, interessantes, significativas. 
 
. Estabelecer critérios para julgar e classificar as opções. Escolhê-las, defini-las. 
 
. Formular e desenvolver conceitos que explicam o quê, o como e o porquê de algo. 
 
. Analisar as bases a partir das quais construímos nossos conceitos e verificar se são seguras, claras, razoáveis. 
 
. Buscar os princípios a partir dos quais possamos explicar as coisas. 
 
. Examinar as razões e os argumentos apresentados que justificam as ideias, assim como formular e desenvolver 
suas próprias razões e argumentos para defender ou criticar ideias próprias e alheias. 
 
Ampliar os horizontes: Significa ter sempre a mais ampla visão possível do assunto, considerando seus vários 
aspectos. Essa atitude filosófica envolve: 
 
. Considerar maneiras alternativas de enxergar a realidade e manter-se aberto a novas visões de mundo, 
cultivando o gosto pela diversidade. 
 
. Pesquisar o que já é conhecido, levando em conta como e o porquê daquele conhecimento ter sido elaborado e 
se ainda pode nos ser útil. 
 
. Imaginar novas possibilidades, desenvolver ideais, confrontá-los com a realidade e perguntar-se de que modo 
podem se tornar reais. 
 
. Elaborar sínteses que englobem o que foi analisado, desenvolvendo imagens ou visões do todo. 
 
. Levar em conta quem está falando algo, assim como o que está sendo dito e como a pessoa se expressa. 
 
 
O cartum a seguir faz referência ao filósofo grego Sócrates, que viveu no século V a.C., em Atenas. 
Sócrates dedicou a vida a praticar a filosofia com aqueles que estivessem dispostos a investigar suas próprias ideias, 
buscando compreender o próprio pensamento, seus pressupostos e as consequências daí advindas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 9 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os companheiros de diálogo de Sócrates eram principalmente os jovens atenienses. Entre eles, havia um 
discípulo que mais tarde se tornaria um filósofo famoso: Platão. Foi Platão quem escreveu os Diálogos, nos quais 
Sócrates aparece como personagem e interlocutor de conversas filosóficas sobre os mais variados temas: o amor, o 
conhecimento, a coragem, a morte, a verdade, a aprendizagem... 
Lendo os Diálogos, percebemos que o método de investigação que Sócrates utilizava para filosofar 
caracterizava-se por: 
 
. reconhecer a própria ignorância como ponto de partida e abertura para o ato de conhecer; 
 
. fazer perguntas que levassem o interlocutor a examinar cuidadosamente as ideias que ele e os outros 
apresentavam sobre o tema em discussão. 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 10 
 
 
Como filósofo, Sócrates examinava com rigor as ideias de qualquer um que se dispusesse a discutir com 
ele, e isso costumava encantar os jovens. Infelizmente, também despertou a desconfiança de alguns cidadãos 
atenienses. Foram eles que levaram Sócrates ao tribunal, quando este tinha cerca de 70 anos e era acusado de 
ateísmo e corrupção da juventude. Julgado e condenado, foi obrigado a beber cicuta, um veneno. Seus amigos o 
incentivaram a fugir, mas Sócrates preferiu cumprir as leis da cidade que amava e pela qual tantas vezes lutara em 
guerras, defendendo a democracia e a liberdade. 
Para Sócrates não fazia sentido vivem sem filosofar, ou seja, sem poder investigar, examinar a si mesmo, 
aos outros e ao mundo. E isso se reflete claramente em sua máxima: “Uma vida sem reflexão não vale a pena ser 
vivida”. 
 
O conhecimento filosófico 
 
Se o filósofo é aquele que busca a verdade, sem a possuir, se é aquele que interroga sobre todas as 
coisas, o que será, então, o conhecimento filosófico? Se você está se perguntando isso, estamos no caminho certo. 
Uma resposta óbvia é que o conhecimento filosófico é o resultado da atitude filosófica. Isso significa que o 
exercício e o processo de filosofar produzem conhecimento filosófico. Mas isso ainda é pouco. Alguém poderia 
perguntar: “Mas então qual é a diferença entre o conhecimento filosófico e os outros tipos de conhecimento, como a 
matemática, a biologia, a arte, a religião, a sabedoria popular, ou qualquer ideia que nos ocorra?” 
Para responder a essa pergunta, é preciso examinar as semelhanças e as diferenças que existem entre a 
filosofia e outras formas de conhecimento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
(...) todo aquele que pretenda tornar-se de fato um filósofo, deverá “uma vez na vida”, voltar-se para si mesmo, e 
tentar destruir, em seu íntimo, todas as ciências admitidas até então a fim de reconstruí-las. A filosofia – o amor 
pela sabedoria – é uma tarefa inteiramente pessoal do sujeito filosofante: deve forjar-se como sua sabedoria, como 
aquele saber, que tende a universalizar-se, que ele adquire por si próprio, e do qual pode tornar-se responsável 
desde o início, a cada passo (...) [Edmund Husserl. Meditaciones Cartesianas. p. 38] 
 
Escher (1898-1972) era extremamente meticuloso e organizado com o seu trabalho, em todos os seus aspectos. 
Sabia sempre exatamente o que fazia e por que o fazia. As suas “ilusões de uma ilusão”, como ele uma vez 
descreveu algumas gravuras que um amigo lhe tinha acabado de comprar, tem um caráter de fascínio permanente. 
Não são exatamente aquilo que parecem a um primeiro ou segundo olhar, mas sim verdadeiras abordagens do 
infinito. [Caderno de obras de Escher – Exposição no Brasil. Brasília, ABIGRAF, 1993] 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 11 
 
 
3. VISÃO PANORÂMICA DO INÍCIO DA FILOSOFIA: DE TALES A ARISTÓTELES 
 
Os pré-socráticos 
 
A partir do século VI a.C., surgem as primeiras escolas filosóficas nos principais centros da civilização 
helênica – Grécia e colônias gregas das ilhas do Mar Egeu, da Ásia Menor, da Sicília e Itália Meridional. Essas 
escolas são denominadas “pré-socráticas” por precederem Sócrates, filósofo que abre uma nova era da filosofia. 
Dessas escolas, as mais importantes são: 
 
. Escola jônica: recebe esse nome por causa da Jônia, colônia grega da costa ocidental da Ásia Menor. Seus 
representantes mais ilustres são: Tales de Mileto (624-546 a.C.), Anaximandro (611-546 a.C.), Anaxímenes (586-525 
a.C.) e Heráclito (535-470 a.C.). Esses quatro pensadores são os fundadores da filosofia no sentido específico, pois 
lançaram as bases dos problemas filosóficos discutidos até hoje no Ocidente: a verdade, a totalidade, a ética e a 
política. 
 
. Escola pitagórica: deve o nome a seu fundador, Pitágoras (580-500 a.C.). Outros pensadores importantes dessa 
escola: Filolau (século V a.C.), Arquitas (século IV a.C.) e Alcmeón (século VI a.C.). Esses pensadores manifestam 
ao mesmo tempo tendências místico-religiosas e tendências científico-racionais. A influência dessa escola estende-
se até os nossos dias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
. Escola eleática: recebe esse nome de Eléia, cidade situada no sul da Itália e local de seu florescimento. Nessa 
escola encontramos os grandes nomes de Xenófanes (570-480 a.C.), Zenão (510 -? a.C.) e Melisso (490 - ? a.C.). 
Nesse grupo famoso de pensadores, as questões filosóficas concentram-se na comparação entre o valor do 
conhecimento sensível e o valordo conhecimento racional. De suas reflexões resulta que o único conhecimento 
válido é aquele fornecido pela razão. 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 12 
 
 
 
. Escola pluralista: é composta por Anaxágoras (499-428 a.C.), Empédocles (492-432 a.C.) e Demócrito (460-370 
a.C.). O denominador comum nas posturas filosóficas desses pensadores consiste em admitir que não há um 
princípio único que explique o universo. Existem vários princípios que, misturando-se, formam a multiplicidade das 
coisas existentes – daí a denominação “pluralista”. 
 
Os sofistas 
 
Os sofistas eram professores ambulantes, sem cidade fixa, pagos pelos próprios alunos. Atuaram em 
meados do século V a.C. Os mais importantes foram Protágoras (490-410 a.C.), Górgias (485-380 a.C.) e Pródicos 
(460 - ? a.C.). Sofista significa mestre de sabedoria. 
Os sofistas captaram as mudanças causadas pelo exercício da democracia e passaram a preparar os 
líderes políticos para os novos tempos. Era preciso aprender a dialogar com os cidadãos, de cujos votos dependia a 
organização da sociedade. 
O que diziam os sofistas? Diziam que os ensinamentos dos filósofos cosmologistas estavam repletos de 
erros e contradições e que não tinham utilidade para a vida da pólis. Apresentavam-se como mestres da oratória ou 
retórica (arte de falar em público), afirmando ser possível ensinar os jovens tal arte para que fossem bons cidadãos. 
Que arte era essa? A arte da persuasão. Os sofistas ensinavam técnicas de persuasão aos jovens, que 
aprendiam a defender determinada posição ou opinião, depois a posição ou opinião contrária, de modo que, numa 
assembleia, soubessem ter fortes argumentos a favor ou contra uma opinião e ganhassem a discussão. 
Historicamente, há dificuldades para conhecer o pensamento dos grandes sofistas porque não possuímos 
seus textos; restaram apenas fragmentos. Por isso nós os conhecemos pelo que deles disseram os seus adversários 
– Platão, Xenofonte, Aristóteles – e não temos como saber se estes disseram a verdade sobre os sofistas. Os 
historiadores mais recentes consideram os sofistas verdadeiros representantes do espírito democrático, isto é, da 
pluralidade conflituosa de opiniões e interesses, enquanto seus adversários seriam partidários de uma política 
aristocrática, na qual somente algumas opiniões e interesses teriam o direito de fato perante a sociedade. 
 
Sócrates (470 -399 a.C.) 
 
Sócrates, considerado o “patrono da filosofia”, a dividiu em antes e depois dele: os filósofos anteriores são 
chamados de pré-socráticos; os posteriores, pós-socráticos. 
As divergências inerentes à democracia demandavam um novo enfoque filosófico. Sócrates buscou-o em 
seu interior. Refletindo sobre si mesmo, descobriu que, apesar da variedade das coisas, somos capazes de formar 
conceitos universais. Por exemplo: apesar de existirem muitas árvores diferentes, temos um conceito de árvore que 
se aplica a todas elas. 
Ora, pensou Sócrates, também podemos encontrar um conceito universal de justiça que, pode ser igual 
para todos, será capaz de resolver as divergências e discórdias na assembleia dos cidadãos. Compete aos filósofos 
convencer os cidadãos a procurar dentro de si as soluções, como disciplina e austeridade. 
As praças públicas eram sua sala de aula. Sua metodologia baseava-se no conhecimento próprio. 
Tomando como lema o “conhece-te a ti mesmo” (inscrito no templo de Apolo), ajudava os interlocutores a encontrar a 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 13 
 
verdade das coisas e conceitos. Por meio do diálogo de sucessivas perguntas e respostas, o “aluno” acabava 
reconhecendo que seu conceito de justiça, por exemplo, não estava correto. Essa primeira parte do processo é 
chamada de ironia (“interrogação”, em grego). 
A partir daí, Sócrates começava a segunda parte do processo, que consistia em estimular o interlocutor a 
procurar em seu interior os conceitos verdadeiros. É o que denominou maiêutica (a arte de dar à luz), em 
homenagem à mãe, que era parteira. Ela intermediava o nascimento de um novo ser; ele o nascimento da verdade. 
Esse extraordinário sábio, porém, contrariou interesses dos poderosos, que o condenaram a beber um 
veneno chamado cicuta; há mais de dois mil anos já se matava quem tinha coragem de denunciar o erro e a 
corrupção. 
 
Platão (427 - 347 a.C.) 
 
Platão foi um dos maiores pensadores da história da filosofia. Suas obras, que nos chegaram completas, ao 
contrário das obras de outros filósofos da época, atravessaram os séculos e continuam a ser estudadas e a 
influenciar o pensamento ocidental. Suas contribuições foram originais e vastas. 
Discípulo e amigo de Sócrates, retomou os conceitos e valores universais do mestre, introduzindo uma 
modificação: eles são apenas representações de outro mundo, ao qual denominou mundo das ideias. Esse mundo 
constitui a verdadeira realidade, só alcançável pelos filósofos, amigos da sabedoria, por meio do intelecto. 
Segundo Platão, o mundo em que vivemos é apenas uma sombra do mundo das ideias. Ele explica isso por 
meio da alegoria do mito da caverna. Numa caverna, homens amarrados diante de uma tela só conseguem ver a 
sobra das coisas e pessoas que são projetadas pela luminosidade de uma fogueira posta atrás deles, como uma 
sessão de cinema. 
Na alegoria platônica, a caverna sombria é o nosso mundo cotidiano percebido pelos sentidos. O sol é a luz 
da verdade a iluminar essências eternas (as ideias) das quais apenas percebemos sombras móveis. Libertar-nos das 
impressões sensoriais, para vermos as coisas como realmente são, é tarefa do filósofo. 
 Vejamos agora a versão da Alegoria da Caverna elaborada por Maurício de Sousa. “Alegoria da Caverna”, 
um pequeno texto que aparece no Livro VII de A República, uma obra clássica de Platão, escrita no século IV a.C. 
Alegoria é a representação de ideias abstratas por meio de imagens; no caso, realidade, verdade e ilusão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 14 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 15 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 16 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 17 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 18 
 
 
Aristóteles (384 - 322 a.C.) 
 
Aristóteles foi aluno de Platão, que por sua vez foi discípulo de Sócrates. Deles herdamos, em grande 
parte, o modo de pensar, agir, organizar os conhecimentos e a compreensão da realidade. 
Dos três, Aristóteles foi o que exerceu maior influência. Ele liderou a história da filosofia até o século XVIII, 
e ainda hoje suas obras servem de base para os novos desdobramentos do saber. Os estudos de Aristóteles 
abrangem os mais variados campos: teoria do conhecimento, ética, política, biologia, cosmologia e outros. 
Aristóteles discordou de seu mestre Platão em relação à teoria do conhecimento. Para ele, as ideias, ou 
seja, os conceitos não são eternos nem habitam um mundo à parte. O conceito universal é formado a partir dos 
conhecimentos dos sentidos. Por um processo de abstração, o intelecto elimina os aspectos particulares dos seres e 
fica apenas com a essência. Por exemplo, a ideia que temos de cavalo, não tem cor, raça ou tamanho. 
O conhecimento é adquirido por dois processos: a dedução e a indução, ambos essenciais para a formação 
das ciências. A dedução parte do geral para o particular.Por exemplo: todos os homens são mortais. Ora, Paulo é 
homem. Logo, Paulo é mortal. A indução, ao contrário, parte do particular para o geral: o ferro, o alumínio e o cobre 
transmitem eletricidade. Logo, todos os metais transmitem eletricidade. É pela indução que os cientistas testam os 
medicamentos. Funcionando em um número razoável de pessoas, é estendido para todos. Como se sabe, a eficácia 
da indução não é 100% garantida. Poderá, por exemplo, haver um metal que não transmita a eletricidade ou um 
medicamento que não produza a eficácia esperada. 
A Lógica foi outra grande contribuição de Aristóteles. É ela desenvolve as regras do bom uso do raciocínio. 
 
ATIVIDADES 
 
1. Sintetize a noção de filosofia que você adquiriu pela leitura deste capítulo. 
 
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2. Consulte um dicionário de sua preferência e verifique o significado da palavra mito. Depois os compare com o que 
você estudou neste capítulo. 
 
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FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 19 
 
 
3. Como os filósofos gregos filosofariam em nossa época? 
 
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4. Se você fosse professor, usaria pensamentos dos filósofos gregos para tornar seus alunos mais críticos? 
 
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Para refletir 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As narrativas gregas, apesar de fantasiosas, são impregnadas de sabedoria e conhecimento das paixões 
humanas, dos problemas existenciais e da necessidade de leis que possibilitem a vida em comum. 
 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 20 
 
 
4. O SER HUMANO E O SER LIVRE 
 
O tema que investigaremos neste capítulo será a Liberdade. A relação do tema proposto com a liberdade 
nos ajudará a descobrir novos aspectos e ampliar ainda mais nossa compreensão. Neste caso, ainda estamos na 
questão central: quem é o ser humano? Vejamos então como a reflexão sobre a liberdade pode nos ajudar a 
compreender melhor quem somos e a própria filosofia. 
 
Filosofar é preciso, vier é (im)preciso 
 
Quando cruzavam os mares, os antigos navegadores portugueses costumavam cantar: “Navegar é preciso/ 
viver não é preciso”. No título deste texto, fizemos um trocadilho com as palavras preciso e impreciso. 
Para tratar do tema da liberdade na nossa existência, é interessante fazer esse contraponto. Embora seja 
apenas uma introdução ao tema, ou seja, a “ponta do fio”, já podemos vislumbrar os horizontes da questão. Afinal, 
quando nos perguntamos para que ou por que existimos, estamos levantando também outro problema: o que 
devemos ou podemos fazer de nossas vidas? 
Será que somos livres para decidir o que seremos da vida? Ou já estará decidido, em algum lugar (nos 
genes, nos planos divinos...), quem somos e o que vai acontecer na nossa vida? Seremos apenas atores, 
representando papéis escritos por algum autor desconhecido e misterioso, ou autores de nossa própria existência? 
Observe que concepções de liberdade diferentes estão envolvidas nas diversas definições de ser humano e 
do sentido de nossa existência. Que crenças estarão por detrás da expressão tão comum: “Foi o destino que quis!” 
Que destino é esse? Trata-se de um destino criado para o ser humano ou pelo ser humano? 
Leia a seguir a reflexão do filósofo Karl Jaspers sobre a liberdade, a humanidade e a filosofia. 
] 
 
 
 
 
 
 
Na reflexão acima, Karl Jaspers nos traz algumas pistas para montarmos nossa própria teia e 
compreendermos a proposta: qual a relação entre o filosofar e a investigação do ser humano? Por que essa 
investigação envolve uma reflexão sobre você mesmo? E por que algumas dimensões da experiência de ser gente – 
como o pensar, o sentir, o comunicar, o agir, o fazer e o próprio filosofar – merecem destaque especial? Qual o 
sentido dos fios condutores da teia: conhecimento, amor e liberdade? 
Se essas perguntas lhe ocorreram, estamos caminhando bem nesta introdução ao filosofar. Não se 
preocupe em dar respostas definitivas e completas. Estamos apenas começando. Como uma música que chama 
nossa atenção, a filosofia revela aos poucos, suas nuances, à medida que a ouvimos de novo, refletindo sobre aquilo 
que tínhamos pensado antes. 
 
 
Quem se dedica à filosofia põe-se à procura do homem, escuta o que ele diz, observa o que ele faz e se 
interessa por sua palavra e ação, desejoso de partilhar, como seus concidadãos, do destino comum da 
humanidade. 
Karl Jaspers 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 21 
 
 
 
5. A IMPORTÂNCIA DA LIBERDADE 
 
“O homem nasce livre e, por toda parte, é posto a ferros.” 
Jean Jacques Rousseau 
 
 
Mal entendida, negada, almejada, sobretudo usurpada, a liberdade sempre foi uma questão fundamental na 
história da filosofia e da humanidade. Ela é a base da Ética. 
 Na história das nações, está registrado quanto sangue foi derramado para conquistar ou reconquistar a 
liberdade. No Brasil, esquartejaram Tiradentes para intimidar os seguidores do lema da Conjuração Mineira: Libertas 
quae sera tamen (“Liberdade ainda que tardia”). 
Na Antiguidade, o preço da derrota de um povo em guerra com outro era a morte ou a escravidão. 
Na Idade Moderna, tivemos a escravidão dos africanos,que no Brasil durou mais de três séculos. Os 
sofrimentos pelos quais passavam eram tão atrozes que muitos se suicidaram; outros fugiram para o interior do 
território, onde formaram povoações. 
No Brasil, a liberdade ainda não raiou para grande parte da população. O analfabetismo, o desemprego, a 
fome, as doenças – provenientes do descaso do governo na educação e na justiça em favor da sociedade – 
impedem que a liberdade surja no horizonte, como diz o Hino da Independência. Entre nós, a liberdade ainda é uma 
aspiração, uma esperança, que já custou a cabeça de Zumbi (chefe dos Palmares), de Tiradentes e de tantos outros 
que morreram lutando contra os grilhões da escravidão. 
Enfim, a liberdade tem sido motivo de trágicas e heróicas batalhas. 
 
O QUE É LIBERDADE 
 
“Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta, 
que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”. 
Cecília Meireles 
 
Na epígrafe acima, Cecília Meireles expressa um paradoxo: a liberdade não é explicável, mas é entendível. 
De fato, há mais de dois milênios os filósofos vêm refletindo sobre o conceito de liberdade e ainda não chegaram a 
uma definição unânime. 
O conceito da liberdade é complexo. Vamos começar fazendo-lhe uma pergunta à queima roupa: como 
você definiria liberdade? Se pensou autodeterminação, em alternativas de escolhas, em decisão, em fazer ou não 
fazer algo sem ser obrigado a isso, você está no caminho certo. 
Mas logo terá de enfrentar outros desafios: Como somos livres, se não podemos fazer tudo o que 
queremos? Os fatos que mudam os rumos de nossas vidas, de nosso país, podem ser previstos e evitados? É 
possível construir uma nova sociedade, mais justa e fraterna? E o temido destino? A nossa sorte está mesmo escrita 
nas estrelas? 
Os itens seguintes o ajudarão a procurar respostas a essas e outras questões. 
 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 22 
 
 
 
As várias formas de liberdade 
 
A liberdade é qualificada de acordo com o objeto a que se refere. Por exemplo, a liberdade física é a que 
nos confere o direito de locomoção, de ir e vir. Quando somos privados desse direito por ilegalidade ou abuso de 
poder, a Constituição nos garante o recurso jurídico do habeas corpus (em latim, “que tenhas o [teu] corpo”), por 
meio do qual se pode revogar uma prisão considerada injusta. Mas, em nossa sociedade perigosa e violenta, a 
liberdade de locomoção é cada vez mais restrita. 
A liberdade política nos concede o poder de atuar nos rumos da organização da sociedade. Também esse 
aspecto da liberdade é dificultado por forças interessadas em manter privilégios. 
A liberdade jurídica nos torna iguais em direitos e deveres perante a Lei, o que entre nós ainda é uma 
utopia. 
A liberdade religiosa nos permite seguir o credo de nossa preferência ou de não seguir nenhum credo. 
A liberdade profissional nos dá a possibilidade de seguir a profissão que vá ao encontro de nossos 
interesses e tendências. Mas entre esses direitos e a realidade do trabalho no Brasil existe uma grande distância. 
 
Os limites da liberdade 
“Nossa liberdade é uma liberdade condicionada, uma liberdade em condição 
humana, nossa vida se desenvolve entre os limites acessíveis de uma liberdade 
zero e de uma liberdade infinita.” 
 
Georges Gusdorf 
 
Não existe liberdade zero. Por mais escravizada que se encontre uma pessoa, sempre lhe sobra algum 
poder de escolha. Em qualquer situação, nunca faltará a possibilidade de dizer sim ou não, de se mostrar contrário 
ou favorável a algo, de na ausência de outros meios revelar aprovação apenas pela expressão do rosto. Até pelo 
pensamento é possível exercer a liberdade. 
Do mesmo modo que não existe liberdade zero, também não há liberdade infinita ou absoluta. Ninguém 
pode escolher tudo. Ninguém, por exemplo, escolhe entre nascer e não nascer, nem escolhe seus pais, nem o País, 
nem a época em que vive. 
Somos, pois, limitados, condicionados, determinados por uma série de fatores que não dependem da nossa 
vontade. Em filosofia, a palavra necessidade sintetiza todos os obstáculos que agem sobre nós e nos impedem de 
ser, fazer e conseguir o que gostaríamos. 
 
“Poderia se dizer que livre, livre mesmo, é quem decide de uma hora para outra que 
naquela noite quer jantar em Paris e pega um avião. Mas mesmo este depende de estar 
com o passaporte em dia e encontrar lugar na primeira classe. E nunca escapará da dura 
realidade de que só chegará em Paris para o almoço do dia seguinte. O planeta tem seus 
protocolos.” [VERISSIMO, Luis Fernando. Veja, São Paulo, (26): 27, 29 jun. 1988] 
 
Além desses condicionamentos ou determinismos inevitáveis, existem outros, evitáveis, criados pelo próprio 
homem. O ladrão, por exemplo, corre o risco de perder a liberdade de locomoção, e os que se drogam se arriscam a 
ficarem viciados, escravizando-se às drogas. A liberdade, como a saúde, requer cultivo e vigilância. 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 23 
 
 
 
Mas as restrições à liberdade não são criadas apenas pelos indivíduos, isoladamente. É na organização 
social e política que se constrói a maioria dos entraves à liberdade. Um povo composto por analfabetos, doentes e 
famintos tem uma liberdade restrita às suas condições subumanas. O que podemos fazer, então? 
 
A liberdade como conquista 
“A liberdade é algo que se tem e não se tem, que se quer e se conquista.” 
Friedrich Nietzsche 
 
A conquista moral depende da consciência psicológica, ou seja, antes de podermos julgar sobre o bem e o 
mal, sobre o certo e o errado, temos consciência de nossos atos, sentimo-nos autores de nossas ações. 
A questão da liberdade requer um exame sobre nossa situação pessoal e social. Vejamos, por exemplo, o 
caso de um estudante que mora na periferia de uma metrópole. Ele gostaria de cursar medicina, mas não pode, 
porque trabalha durante o dia e não existe faculdade de medicina à noite. Que opções lhe restam? O que ele deve 
fazer para se realizar? 
Milhões de jovens estão na mesma situação desse estudante, e aqueles que não se deixam abater pelos 
condicionamentos adversos atingem ao menos parte de seus objetivos. Mesmo pessoas com sérias limitações 
físicas, como era o caso do conhecido sociólogo Betinho, conseguem superar os obstáculos e se tornam modelos de 
cidadania e agentes de mudança social. Por isso, não se deve desistir da luta. O que aí está pode mudar, sim. 
A liberdade não é uma dádiva, algo que recebemos sem esforço. Ao contrário, ela é uma conquista que 
pode conduzir a outras conquistas, um caminho que pode levar a outros caminhos, com novos obstáculos e 
horizontes. O uso da liberdade faz a história do indivíduo e da sociedade. Segundo Sartre, não importa o que fizeram 
de nós, não importam as condições adversas em que nos encontramos: importante é o que podemos fazer com o 
que fizeram de nós. 
 
Livres com os outros 
“Temos aprendido a voar como as aves, a nadar como os peixes, 
 mas ainda não aprendemos a sensível arte de viver como irmãos.” 
Martin Luther King 
 
Costuma-se dizer: “Minha liberdade termina onde começa a liberdade do outro”. Isso só faz sentido em 
algumas situações, como no condomínio de um edifício. Tenho liberdade para ouvir a música que quiser. O volume, 
porém, não deverá incomodar o vizinho. 
Mas o exercício da liberdade se realiza com o outro, na interação social, na verdadeira política, na luta pela 
justiça, pela igualdade dos direitos essenciais pela solidariedade. O individualismo, o “cada um por si”, enfraquece 
nosso poder de ação. 
É conhecida a velha história do pai que, à beira da morte, chamou os filhos e deu um feixe de varas para 
que cada um tentasse quebrá-lo. Ninguém conseguiu. Então, ele desamarrou o feixe e foi quebrando vara por vara. 
Com isso, o sábio pai quis demonstrar o poder da união e a fragilidade do individualismo. 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 24Liberdade e responsabilidade 
“Liberdade significa responsabilidade. É por isso que tanta gente tem medo dela. 
Georges Bernard Shaw 
 
O termo responsabilidade pode ser sinônimo de “cumprimento de dever”. Assim, é responsável quem 
cumpre seus deveres. Em filosofia, responsabilidade constitui a consequência necessária – o corolário – da 
liberdade. O ato livre é necessariamente um ato pelo qual se deve responder. Porque sou livre, tenho de assumir as 
consequências de minhas ações e omissões. Já os animais irracionais, por não serem livres, não são responsáveis 
pelo que fazem ou deixam de fazer. Ninguém pode condenar um cavalo que lhe deu um coice. Só o ser humano 
comete crime e só ele pode ser julgado. 
Racional e livre, ele tanto constrói como destrói; tanto ergue escolas e hospitais como inventa bombas 
capazes de destruir o planeta; tanto ama como odeia; tanto salva como mata. Às vezes, o mesmo homem salva com 
uma das mãos e mata com a outra. 
Não há como se espantar diante do incrível poder que a liberdade confere ao homem: para o bem e para o 
mal. Mas basta observar nossas cidades, com seus miseráveis, com seus mutilados e mortos no trânsito, com seus 
desempregados, com seus menores abandonados e prostituídos, para concluir que temos usado muito mal a 
liberdade. 
Diante de tantos horrores, somos tentados a indagar: vale a pena ser livre? A pergunta filosófica. Cada um 
terá razões favoráveis ou contrárias à liberdade. Dos ditadores e autoritários já conhecemos a resposta. 
De acordo com Sartre, não há como escolher: o homem é condenado a ser livre. Já para Rousseau, 
“abdicar da liberdade é destruir a própria natureza humana”. 
 
A responsabilidade moral 
 
O homem não é responsável por todos os atos que pratica. Só o é em duas condições fundamentais; fora 
delas não há mérito nem demérito nas ações humanas: 
 
a. O ato deve ser consciente. O ato moral e responsável supõe que o agente o tenha praticado com um mínimo de 
consciência e lucidez; requer o conhecimento das consequências decorrentes do ato. Muitos criminosos são 
absolvidos por falta de provas de que agiram conscientemente. 
 
b. O ato deve ser livre. Além de consciente, o ato moral terá de ser livre. Coações internas, como distúrbios psíquicos 
incontroláveis, podem atenuar ou anular a responsabilidade moral de um ato. Coações externas, como o uso da força 
e da ameaça de morte, também isentam o agente moral da responsabilidade do ato. 
 
É a própria liberdade que nos oferece a possibilidade de corrigir o mau uso que se faz dela. Não resolve 
ficar lamentando a má sorte da vida ou o que os outros fizeram de nós e do mundo; importa, antes, reagir com as 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 25 
 
forças e as armas que nos sobram. Se não reagirmos, ninguém o fará por nós. “O futuro do homem é o próprio 
homem”, diz Ponge; “o futuro do mundo está em nossas próprias mãos”, diz Sartre. 
 
 
A negação da liberdade 
“(...) nada jamais foi tão insuportável para um homem e uma sociedade humana do que a liberdade”. 
Fiodor Dostoiévski (Os irmãos Karamazov) 
 
O conceito de liberdade não faz parte daquelas certezas apodíticas, como “dois mais dois são quatro”. 
Diverge-se quanto a sua concepção e muitos até mesmo negam que ela exista. A seguir, veremos como a liberdade 
é anulada pelo determinismo absoluto e pelo fatalismo. 
 
 
 
 
 
 
 
O DETERMINISMO ABSOLUTO 
 
O cientista geralmente parte do pressuposto de que todo fenômeno tem uma causa. É o que se denomina 
princípio da causalidade. Uma doença, por exemplo, é efeito ou sintoma de uma causa. Compete ao cientista 
descobrir a causa e extingui-la. 
O princípio da causalidade supõe ainda uma correspondência necessária entre causa e efeito. Ou seja, 
uma determinada causa produz sempre determinado efeito. Por exemplo, sob determinadas condições, o calor (a 
causa) fará necessariamente a água ferver (o efeito). Se a mesma causa, sob condições idênticas, produzisse 
efeitos diferentes, seria impossível fazer ciência. Essa correspondência necessária entre causa e efeito chama-se 
determinismo científico, que é aplicado a vários ramos da ciência, como a física, a química e a biologia. O 
determinismo científico favoreceu o desenvolvimento da ciência nos últimos três séculos. 
 
 
 
 
A partir da teoria da relatividade de Albert Einstein e das descobertas da física quântica, os cientistas 
passaram a trabalhar, em alguns campos de pesquisa, com uma certeza restrita, não absoluta, ou seja, com 
previsões prováveis. 
Mas não estaríamos comentando aqui o determinismo científico se ele não tivesse dado origem, no século 
XIX, ao determinismo absoluto, com graves consequências para as ciências humanas em geral e para a filosofia em 
particular. 
O determinismo absoluto ou universal estende às ciências humanas o mesmo princípio aplicado às ciências 
naturais. Assim, os fatos de nossa vida e da história, por exemplo, passam a ser decorrentes de um complexo 
 
Apodítico: diz-se de uma verdade ou argumento evidentes por si, não necessitando de provas para serem 
compreendidos e aceitos. 
 
Determinismo absoluto: aplicação do princípio da causalidade das ciências naturais às ciências humanas. 
Assim, os fatos de nossa vida e da história passam a ser decorrentes de um complexo sistema de causas e 
efeitos inevitáveis e independentes de nossa vontade. 
 
Determinismo científico: teoria de que todo fenômeno tem uma causa (princípio da causalidade). O princípio 
da causalidade supõe uma correspondência necessária entre causa e efeito. 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 26 
 
sistema de causas e efeitos inevitáveis e independentes de nossa vontade. O determinismo absoluto leva o 
mecanicismo, segundo o qual o homem é previsível e controlável como uma máquina e, portanto, sem 
autodeterminação, sem liberdade. Atualmente, o determinismo absoluto já não tem o prestígio de que desfrutava no 
século XIX, embora persistam suas marcas e influências na civilização ocidental. 
 
O FATALISMO 
 
Se a liberdade nem sempre é compreendida por cientistas e filósofos, imaginemos pelas pessoas comuns, 
que tem muito mais dificuldades em interpretar os complexos fenômenos da realidade. É mais fácil atribuí-los 
simplesmente a entidades transcendentes. 
Denomina-se fatalismo ou destino a crença de que os fatos de nossa vida dependem não do exercício de 
nossa liberdade, mas da vontade de forças superiores, como Deus ou deuses. 
É comum encontrarmos pessoas fatalistas. Após tragédias como enchentes e mortes no trânsito, há 
sempre alguém para justificar: “Tinha de acontecer, era o destino, estava escrito...” 
Às vezes, a intervenção das forças transcendentes ocorre em forma de milagre. Num desastre, por 
exemplo, morrem todos os passageiros, exceto uma criança. Então, sempre aparece alguém para atribuir a Deus a 
bondade de ter salvado a criança, o que põe Deus em péssima situação: se salvou a criança, por que deixou morrer 
seus pais e os outros passageiros? 
No caso seguinte chega a ser hilário. O rabino Nilton Bonder conta que num enterro em dia chuvoso, a 
viúva ao ser cumprimentada por ele, disse: “Rabino, até Deus está chorando”. Alguém ao lado sussurrou: “Quer dizer 
que quando alguém morre num dia ensolarado, Deus está sorrindo?”. 
O fatalismo é muito mais antigo que o determinismo absoluto. Ele advém certamente da Pré-História. 
Chegou até nós na forma de narrativas míticas, como a das Moiras gregas. São três irmãs fiandeiras que decidem o 
destino humano. Cloto faz o fio da vida de cada um; Láquesis determina o comprimento do fio, ou seja, a duração da 
vida; e Ántropos corta o fio quando chega a hora da morte. 
Portanto, o nascimento, as condições de vida e a morte dependeriam apenas das temíveis Moiras, palavra 
que em grego significa destino. Os romanos chamavam as Moiras de Parcas. 
A crença no destino nega radicalmente a liberdade humana e é maléficapara a sociedade: se o nosso 
destino já está predeterminado, para que educar os motoristas? Para que lutar por justiça? Para que reivindicar o fim 
das opressões? 
Se não existe liberdade, também não existe responsabilidade. Se somos determinados pelo destino, não há 
como responsabilizar os desonestos, os exploradores, os ladrões e os assassinos, pois estariam destinados a 
cometer crimes, sendo, portanto, vítimas, mais que culpados. 
Os adeptos do fatalismo ignoram que os homens é que constroem e destroem cidades, criam culturas, 
erguem civilizações, arquitetam guerras e promovem a paz. Apesar dos condicionamentos, o homem se define pela 
liberdade e pela responsabilidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 27 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Édipo, vítima do destino 
 
Segundo a mitologia grega, Édipo nasceu com o destino de assassinar o pai e casar-se com a mãe. 
 
Sabedores disso, os pais mandaram matá-lo. O encarregado da execução, porém, apiedou-se da criança 
e deixou-a pendurada pelos pés numa árvore. Um pastor recolheu-a e levou-a para o seu senhor, que não 
tinha filhos. Assim, Édipo cresceu longe da cidade de seus verdadeiros pais. 
 
Já moço, dirigiu-se a Tebas, cidade onde nascera. No caminho, discutindo com um homem, o matou, sem 
saber que era o rei de Tebas, seu verdadeiro pai. 
 
À porta da cidade, teve de responder ao enigma de uma esfinge. Se errasse a resposta, seria morto, 
como muitos já o tinham sido. O enigma era: “Qual é o ser que de manhã tem quatro pés, ao meio-dia, 
dois, e ao entardecer, três?” Édipo acertou ao responder que era o homem, o qual de manhã (na infância) 
engatinha, ao meio-dia (durante quase toda a vida) anda sobre dois pés e ao entardecer (na velhice) anda 
sobre os dois pés e apoiando em uma bengala. 
 
Com isso, Édipo entrou como herói em Tebas e, mais tarde, casou-se com a rainha, que era a sua própria 
mãe. Cumpriu-se, assim, o destino. 
 
Em Santa Catarina, entre os descendentes dos açorianos, existe uma lenda semelhante. Um menino, 
segundo a predição de uma cigana, nasceu com o destino de morrer vitimado pelos chifres de um touro. 
Então, os pais nunca o deixaram sair sozinho, Mas, um dia, ao visitar um parente, o menino subiu num 
caixote para arrancar um berrante de parede e caiu em cima da ponta do chifre. Morreu. Mais uma vez, os 
esforços humanos foram impotentes contra o destino. 
 
As duas lendas, separadas por mais de vinte séculos, encarnam e procuram justificar a mentalidade 
fatalista. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Édipo responde ao enigma da esfinge. 
Pintura em vaso grego do século V a.C. 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 28 
 
 
 
 
 
 
Acepções da liberdade 
“É o que posso expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado porque não se criou a si 
mesmo, e como, no entanto, é livre, uma vez que foi lançado no mundo, é responsável por tudo o que faz”. 
Jean-Paul Sartre 
 
É de Aristóteles a primeira reflexão sistemática sobre a liberdade. Observe, no texto a seguir, que ela é, 
essencialmente, a que estamos desenvolvendo neste capítulo. 
 
“[...] Mas é evidente que o homem é a origem de suas próprias ações e se não somos 
capazes de relacionar nossa conduta a quaisquer outras origens que não sejam as que 
estão dentro de nós mesmos, então as ações cujas origens estão em nós devem também 
depender de nós e ser voluntárias”. [ARISTÓTELES. Ética a Nicômancos. Tradução do 
grego de Mário da Grama Kury. Brasíli: Ed. Universidade de Brasília, 1985. p. 57, 1113 b] 
 
Esse texto de Aristóteles demonstra que nossos atos livres tem origem em nós mesmos; são causados por 
nós. Os atos livres implicam na decisão soberana da inteligência e da vontade. Por isso, temos de responder por 
eles. Essa acepção aristotélica de liberdade predomina até hoje na história da filosofia. 
Sartre levou o conceito de Aristóteles. Para ele, a liberdade é, antes de tudo, o que qualifica o homem, a 
sua humanidade. Não é possível não ser livre. Embora não tenha criado a si mesmo, é responsável por tudo o que 
faz. Não há como renunciar a liberdade. O homem é condenado à liberdade e isso é motivo de angústia. 
Mas o homem não age sempre de acordo com a responsabilidade que decorre de sua condição livre. Pode 
usar de má-fé, degrada-se, mente para si mesmo. 
Para Kant, assim como para Cecília Meireles, a liberdade é algo que qualquer pessoa entende, mas 
ninguém sabe explicar. Segundo Kant, consiste em seguir racionalmente as regras criadas pelo próprio indivíduo. 
Kant pronuncia a época em que o homem deve emancipar-se de todas as tutelas para tornar-se legislador de si. 
Como ser racional autônomo, não deve obedecer, a não ser às leis que lhes são determinadas pela sua consciência 
moral. A razão é legisladora universal, ou seja, é o homem que cria e reconhece as leis e só assim se submete a ela. 
Outros filósofos como Espinosa e Hegel, divergem de Aristóteles quanto à origem do ato livre. Para eles 
não é o indivíduo a causa de liberdade, e sim o todo, que pode ser a Natureza (para os antigos estóicos), a 
Substância (segundo Espinosa) ou o Espírito como história (no caso de Hegel). Nessa acepção, agir livremente é 
agir de acordo com as regras e as leis do todo. A totalidade é que é soberana e livre. Os homens, partes da 
totalidade, devem agir de acordo com ela. O indivíduo não escolhe isoladamente, cabe-lhe apenas agir 
conscientemente, de acordo com as determinações da totalidade. 
De acordo com os estóicos, o homem livre segue a sabedoria da racionalidade da natureza e de sua 
própria razão, que lhe garantem o domínio sobre a irracionalidade das paixões. 
Para Espinosa e Hegel, a liberdade depende igualmente do conhecimento da necessidade, ou seja, das 
determinações do todo. A escravidão corresponde à falta de consciência da necessidade. 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 29 
 
Marx e Engels concordam com esses dois filósofos quanto à consciência da necessidade, mas para eles 
não basta ter conhecimento dos entraves naturais e sociais da liberdade. É preciso agir e modificar a realidade em 
prol da maior autonomia do homem diante dos obstáculos que o impedem de se realizar. 
 
 
 
A boa e a má escolha 
“Há ocasiões em que utilizamos um bem como se fosse um mal e, 
ao contrário, um mal como se fosse um bem.” 
Epicuro 
 
Fazemos escolhas desde o amanhecer até a noite. Escolhemos frutas, roupas, amigos, amores, filmes, 
músicas, colégios, pessoas, profissões, políticos... 
Mas as escolhas nem sempre são fáceis e simples como optar entre ir ao cinema e ir ao teatro. Não 
escolhemos uma profissão com a mesma tranquilidade com que compramos um par de tênis. Há uma diferença 
considerável entre escolher um filme para ver e um candidato em quem votar. As escolhas variam da aquisição de 
um alfinete à declaração de guerra a outro país. 
Em relação à escolha, há que se notar outra característica humana: dentre as alternativas, optamos pela 
que consideramos melhor para nós, ou pela menos ruim, conforme o ditado: “Dos males, o menor”. Ao fazer 
compras, queremos sempre o melhor e o mais barato. Na escolha da profissão, optamos, se possível, pela que 
oferece maior realização pessoal e financeira. Para amigos, escolhemos aqueles que nos dão maior satisfação. 
Enfim, escolher o melhor é tão cotidiano e universal quanto comer e beber. 
Mas eis o problema: nem sempre o subjetivamente melhor é objetivamente o melhor. Às vezes, ignoramos 
o que seja realmente um bem para nós. A escolha depende do conhecimento. Só escolhe bem quem conhece todos 
os aspectos e implicações de cada alternativa. Ora, ainda é muito grande nossa ignorância sobre a realidade 
humana. O que (ou mesmo quem) nos faz mais felizes, mais realizados? Muitos desconhecem até os alimentos que 
deveriam ingerir para gozar de boasaúde. Maior ainda é o desconhecimento em relação aos prazeres. A busca da 
satisfação imediata pode custar sérios males ao futuro. 
Às vezes, erramos também nas transações comerciais. É por isso que os antigos nos aconselham a não 
decidir nada de importante sem pensar muito e tentar conhecer todos os aspectos da questão. Algumas pessoas só 
decidem no dia seguinte, pois acreditam que, durante o sono, o inconsciente seleciona a melhor opção. Daí o ditado: 
“O travesseiro é o melhor conselheiro”. 
Na política, é comum a eleição de candidatos que nunca seriam escolhidos se os eleitores estivessem mais 
bem informados. A ignorância é adubo para demagogos e corruptos. 
Tudo isso, porém, não significa que os males do mundo são frutos apenas da ignorância, como pensava 
Sócrates. Para esse filósofo, o homem só pratica o mal quando ignora o bem. 
Na verdade, às vezes cometemos deliberadamente o mal para satisfazer um prazer passageiro ou para 
conseguir algo que não obteríamos por meios lícitos. Nem sempre a razão comanda nossas ações. Agimos também 
conduzidos por paixão, por impulsos inconscientes. É por isso que o filósofo cristão Paulo de Tarso afirmou: “Não 
faço o bem que quero, mas faço o mal que não quero” (Romanos 7: 19). 
Também não devemos nos esquecer das determinações emotivas, do coração, que, segundo Pascal, tem 
razões que a própria razão desconhece. 
 
 
 
FILOSOFIA / ENSINO FUNDAMENTAL / 8º ANO - 2015 30 
 
 
Aristóteles dizia que o conhecimento é o que existe de mais fácil e de mais difícil: fácil, 
porque todos tem sempre algum conhecimento das coisas num certo grau; difícil, porque o 
conhecimento adequado de alguma coisa impõe muitas exigências. Nem sempre o que 
aparece como um bem é bem. Nem sempre o que agrada imediatamente se identifica com 
o bem. Depois, é necessário considerar o bem em diversas dimensões: é o bem do 
momento? é o bem estável? é o bem que tranquiliza? é o bem que constrói? 
O problema seria simples, se consistisse numa distinção teórica entre bem e mal. Ele se 
torna complexo quando descobrimos que toda a dificuldade está em distinguir entre o bem 
e o bem, em hierarquizar os bens, em separar o bem de superfície e o bem profundo, entre 
o bem acidental e o bem substancial, entre o bem aparente e o bem essencial. 
[MENDONÇA, Eduardo P. de. A construção da liberdade. São Paulo: Convívio, 1977. p.97] 
 
Hoje, a escolha do bem, do melhor, qualquer escolha, é seriamente prejudicada pelo excesso de 
informações. Somos bombardeados pelo rádio, televisão, cinema, livros, jornais, revistas, outdoors e internet. Muitas 
dessas informações tem objetivos mercadológicos. Alojam-se em nosso inconsciente, fazendo-nos desejar coisas de 
que não precisamos, que nem sempre serão boas para nós, mas que o mercado deseja vender. Com isso, nossos 
desejos correm o risco de ser os desejos alheios. E a escolha pelo melhor pode virar opção pelo pior. 
 
ATIVIDADES 
 
1. Crie ou encontre no texto uma frase que expresse bem a importância da Liberdade. 
 
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2. Comprove com argumentos a complexidade do conceito de Liberdade. 
 
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3. Faça um comentário sobre a Liberdade como conquista. Cite exemplos de pessoas, inclusive você. 
 
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4. Que relação existe entre individualismo e Liberdade? 
 
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5. Você concorda que a humanidade tem usado muito mal a Liberdade? Por quê? 
 
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6. Que relação existe entre o determinismo científico e o determinismo absoluto? 
 
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7. Qual a diferença entre determinismo absoluto e fatalismo? 
 
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8. Qual é a principal diferença entre a concepção de liberdade de Aristóteles e a dos estóicos? 
 
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9. Qual é a principal diferença entre a concepção de liberdade de Espinosa e a de Kant? 
 
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10. Por que, segundo Sartre, o homem é condenado à liberdade? 
 
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11. O que Marx e Engels introduziram na concepção de liberdade de Espinosa e Hegel? 
 
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6. FILOSOFIAS HELENÍSTICAS 
 
A busca da felicidade interior 
Com a conquista da Grécia pelos macedônicos (322 a.C.), teve início o chamado período helenístico. 
Devido à expansão militar do império macedônico, efetuada por Alexandre Magno, o período helenístico caracterizou-
se por um processo de interação entre a cultura grega clássica e a cultura dos povos orientais conquistados. 
O mesmo processo se deu no campo filosófico. As escolas de Platão (Academia) e de Aristóteles (Liceu) – 
dirigidas, respectivamente, pelos seus discípulos – continuaram abertas e em plena atividade, mas os valores gregos 
começaram a mesclar-se com as mais diversas tradições culturais. 
 
Do público ao privado 
No plano político, a antiga liberdade do cidadão grego, exercida no contexto de autonomia de suas cidades, 
foi desfigurada pelo domínio macedônico da participação do cidadão nos destinos da polis. Com isso, a reflexão 
política também se enfraqueceu. 
Substituiu-se, assim, a vida pública pela vida privada como centro das reflexões filosóficas. Em outras 
palavras, as preocupações coletivas cedem lugar às preocupações pessoais. 
As principais correntes filosóficas desse período vão tratar da intimidade, da vida interior do ser humano. 
Formulam-se, então, diversos modelos de conduta, “artes de viver”, “filosofias de vida”. 
Parece que a principal preocupação dos filósofos era proporcionar às pessoas desorientadas e inseguras 
com a vida social alguma forma de paz de espírito, de felicidade interior em meio às atribuições da época. Um dos 
principais filósofos desse período, Epicuro, aconselhava que as pessoas se afastassem dos perigos e intranquilidade 
da vida política e buscassem a felicidade em sua vida privada. 
Entre as novas tendências desse período, destacaremos o epicurismo, o estoicismo, o pirronismo o 
cinismo. 
 
Epicurismo: o prazer (satisfação pessoal) 
O epicurismo é uma corrente filosófica fundada por Epicuro (341-271 a.C.), que defendia que o prazer é o 
princípio e o fim de uma vida feliz. 
No entanto, Epicuro distinguia dois grandes grupos de prazeres. O primeiro reúne os prazeres mais 
duradouros, que encantam o espírito, como a boa conversação, a contemplação das artes, a audição da música etc. 
O segundo inclui os prazeres mais imediatos, muitos dos quais são movidos pela explosão das paixões e que, ao 
final, podem resultar em dor e sofrimento. 
De acordo com o filósofo, para que possamos desfrutar os grandes prazeres do intelecto, precisamos 
aprender a dominar os prazeres exagerados da paixão, como os medos, os apegos, a cobiça e a inveja. Por isso, os 
epicuristas buscavam a ataraxia, isto é, o estado de ausência da dor, quietude, serenidade e imperturbabilidade da 
alma. 
 
 
 
 
 
 
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Estoicismo: o dever (responsabilidade) 
O estoicismo, fundado a partir das ideias de Zenão de Cício (336-263 a.C.), foi a corrente filosófica de 
maior influência no período helenístico. Os representantes dessa escola, conhecidos como estoicos, defendiam a 
noção de que toda a realidade existente é uma realidade racional, o que quer dizer que todos os seres, os 
indivíduos e a natureza fazem parte dessa realidade racional. 
O que chamamos de Deus, segundo esses pensadores, nada mais é do que a fonte dos princípios 
racionais que regem a realidade. Integrado à natureza, não existe para o ser humano nenhum outro lugar para ir ou 
fugir, além do próprio mundo em que vivemos. Somos deste mundo e, ao morrer, nos dissolvemos neste mundo. 
Não dispomos, portanto, de poderes para alterar substancialmente, a ordem universal do mundo, mas pela 
filosofia, podemos compreendê-la e viver segundo ela. Assim, em vez do prazer dos epicuristas, Zenão propõe o 
dever, vinculado à compreensão da ordem cósmica, como o melhor caminho para a felicidade. É feliz aquele que 
vive segundo sua própria natureza, a qual, por sua vez, integra a natureza do universo. 
Os estóicos também defendiam uma atitude de austeridade física e moral, baseada em virtudes como a 
resistência ante o sofrimento, a coragem ante o perigo, a indiferença ante as riquezas materiais. O ideal perseguido 
era um estado de plena serenidade (ataraxia) para lidar com os sobressaltos da existência, fundado na aceitação e 
compreensão dos “princípios universais” que regem toda a vida. 
 
Pirronismo: a suspensão do juízo (não existe apenas uma verdade) 
O pirronismo, fundado a partir das ideias de Pirro de Élida (365-275 a.C.), foi uma corrente filosófica que 
defendia a ideia de que tudo é incerto, nenhum conhecimento é seguro, qualquer argumento pode ser contestado. 
Por isso, seus seguidores propunham que as pessoas adotassem a suspensão do juízo (epokhé, em 
grego), isto é, a abstenção de fazer qualquer julgamento, já que a busca de uma verdade plena é inútil. Desse modo, 
aceitando que das coisas se podem conhecer apenas aparências e desfrutando o imediato captado pelos sentidos, 
as pessoas viveriam felizes e em paz. 
O pirronismo constituiu, portanto, uma forma de ceticismo, pois professa a impossibilidade do 
conhecimento, da obtenção da verdade absoluta. 
 
Cinismo (negação dos bens materiais como forma de Liberdade) 
A palavra cinismo vem do grego kynicos, significa “como um cão”. O termo cinismo designa, assim, a 
corrente dos filósofos que se propuseram viver como os cães da cidade, sem qualquer propriedade ou conforto. 
Levavam ao extremo a tese socrática de que o ser humano deve procurar conhecer a si mesmo e 
desprezar todos os bens materiais. Por isso, Diógenes de Sínope (c. 413-327) – o pensador mais destacado 
 
Observação: o epicurismo muitas vezes é confundido com um tipo de hedonismo marcado pela 
procura desenfreada dos prazeres mundanos. No entanto, o que Epicuro defendia era uma 
administração

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