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1 Montaigne Aula 09 3 Filosofia O pensamento em tempos de crise O século XVI, na França, não foi fácil para os espíritos mais sensíveis. Os conflitos religiosos atingiram todos os segmentos, dos mais simples aos mais altos escalões da nobreza e do poder. Em 1572, o massacre de São Barto- lomeu foi o ápice dessas discórdias: milhares de huguenotes mortos por católicos irados e vingativos de outras violências pretéritas. Uma espiral que conheceu ainda muitos lances até a pacificação. DUBOIS, François. O massacre de São Bartolomeu. 1572. 1 óleo sobre tela, color; 94 cm x 154 cm. Musée cantonal des Beaux-Arts, Suíça. © W ik im ed ia C om m on s/ M us ée ca nt on al d es B ea ux -A rt s, Su íç a Em meio a esse turbilhão, uma saída era o refúgio no interior do país e, muitas vezes, no interior de si mesmo. Assim como Epicuro retirou-se da cida- de democrática que não existia mais, subjugada pelos macedônicos, Michel Eyquem, senhor de Montaigne, nome de um imponente castelo do interior da França, livrou-se de seu cargo de magistrado, que lhe dava prestígio e distinção e passou a viver quase a totalidade de seu tempo no terceiro andar da torre arredondada de sua propriedade, na qual montou uma esplêndida biblioteca. Tinha 37 anos e, além do enfado com as misérias políticas e reli- giosas de Paris, um cálculo renal persistente o fez deixar o espaço público e dedicar-se aos seus pensamentos, um tanto descrente de tudo mas, por outro lado, conformado com as circunstâncias: “A glória a que aspiro é a de ter vivido tranquilo [...] em sendo a filosofia incapaz de mostrar o caminho que con- duz ao repouso da alma que a todos convém, que cada qual por seu lado o procure.” É preciso lembrar que vivíamos, na Europa, uma fase de mudanças estruturais importantes, com a dissolução da velha ordem feudal e a consolidação de um capitalismo comercial marcado pela expansão marítima e pela subjugação das colônias, provocando um aumento impressionante de riquezas, parti- cularmente, metais preciosos. Essas novas fronteiras – fruto da coragem e da determinação de muitos ho- mens – promoveram alterações nas estruturas mentais e também mexe- ram com o imaginário, favorecendo a ideia de que “cada um pode cons- truir sua própria existência”, sem, necessariamente, ficar amarrado aos fluxos e ritmos das corporações de ofício ou dos rituais políticos e sociais da nobreza que marcaram a Idade Média. Emblemática é a visão de um contemporâneo de Montaigne, William Shakespeare, em seu Romeu e Julieta, que conta a história de dois jovens que se re- belam contra as determinações de suas famílias e acabam por uni-las com seus exemplos extremos de independência individual. 2 Extensivo Terceirão A perspectiva dos artistas do Renascimento, igualmente, entregavam para o espectador, o olhar do pintor; a Reforma Protestante de Lutero afirmava a possibilidade de o próprio crente construir a sua fé, sem a mediação dos padres; Copérnico desloca a Terra do centro do Universo; os portugueses e espanhóis des- cobrem novas terras e gentes; o comércio tira da terra o prestígio e produz novos ricos onde antes não havia mais que repetição e imobilismo. © W ik im ed ia C om m on s/ Fo tó gr af o de sc on he ci do Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) Montaigne vai captar essas mudanças e buscar pen- sar sobre elas, não com uma perspectiva didática nem prescritiva, mas autorreflexiva, isto é, olhando para si mesmo em meio ao torvelinho de alterações, buscando encontrar-se e encontrar tranquilidade para sobreviver à doença e às decepções públicas. Assim, o principal inte- ressado em seus textos parecia ser o próprio Montaigne, como, aliás, vai criticar o filósofo Pascal. Até o fim da vida a sua obra, Ensaios, foi sendo acrescida de notas, co- mentários e correções, como se o autor estivesse sempre lembrando (ou aprendendo) algo diferente do já dito. Afinal como ele mesmo afirmou, não há um “definitivo” no pensar humano e nem mesmo na sua natureza: “O homem é de natureza muito pouco definida, estranha- mente desigual e diverso. Dificilmente o julgaríamos de uma maneira decidida e uniforme”. O homem e a sua obra Formado em Direito, alfabetizou-se em latim e amava os livros. Intelectual engajado, trabalhou na magistratura até que as cólicas, a crise político-religiosa e a morte incontornável de um grande amigo, Étienne de la Boétie, fizeram-no parar e mudar. Aliás, sobre a amizade que manteve com Étiene, ele assim escreveu no ensaio 38: “Na amizade (a verdadeira) as almas entrosam e se confundem em uma única alma, tão unidas uma a outra que não se distinguem, não se lhes perce- bendo sequer a linha de demarcação. Se insistirem para que eu diga por que o amava, sinto que eu não saberia expressar senão respondendo: porque era ele; porque era eu.” Apesar de ter se retirado da vida pública e passado e viver em sua torre, Montaigne não se apartou de vez do mundo. Tornou-se conselheiro informal do Parlamento e ainda foi prefeito de Bordeaux. Além disso, em 1580, par- tiu em viagem pela Europa e só retornou 15 meses depois. Dessa forma, fica claro que as reflexões de Montaigne foram nutridas pela experiência e pela observação. E essas experiências e observações revelaram-lhe um mundo em declínio e uma ideia de homem em conflito com as tradições. Se, por um lado, esse conflito forjou o indivíduo moderno, por outro, viver em uma época marcada por mudanças de paradigmas contribui para um estado de espírito muito reticente. Daí a dúvida e o ceticismo que marcam a obra do pensador francês. Não lhe parece que há alguma semelhança com o que vivemos nesse começo de século XXI? O estado de espírito abalado pelas mudanças e perdas (políticas, religiosas, sociais e pessoais) está inscrito na obra de Montaigne. Seu texto, originalmente publicado em três volumes, é uma série de tentativas (essais, em francês) de reflexão sobre diversos temas que o autor considerava importantes, sem nenhum método ou pretensão a priori, apenas o de ir encadeando pontos de vista, sem necessidade de conclusão ou finalidade e muito menos lição ou receitas aos seus leitores. Os Ensaios, como ficaram conhecidos, buscavam demonstrar, principalmente, a falta de objetividade e certeza em relação às coisas. Mas mesmo isso não é dito explicitamente. O livro é um convite à reflexão sobre a relatividade das coisas do mundo. À maneira dos estoicos e dos epicuristas, o afastamento de Montaigne de grande parte das atividades da vida pública não era propriamen- te uma fuga, mas um distanciamento voluntário que lhe permitiu refletir criteriosamente sobre os diversos acon- tecimentos de sua vida e de sua época. Trata-se de uma tomada de conhecimento e consciência de si, por meio dessas reflexões. Uma travessia, para apreender, com- preender e consolar-se com a perda (do amigo), a doença (que lhe causava dores terríveis) e a morte (inevitável e próxima.) No leque de questões filosóficas lançadas pelos pensadores, desde os pré-socráticos, Montaigne acres- centava mais uma, rica e profunda: que sei eu? Assim como os céticos, duvidava do poder da razão e, mesmo contemporâneo dos renascentistas (já na sua última fase, obscurecida pelos conflitos religiosos), Aula 09 3Filosofia 3 não acreditava tanto na capacidade humana, tecendo considerações sobre nossa pequenez e falta de impor- tância na ordem cósmica. Sem ser um crítico feroz da Igreja – tanto que só foi parar no Index quase um século após a sua morte – atacava os dogmas e as tentativas escolásticas de legitimar o divino pela razão. Sobrava-lhe a consciência de nossa fragilidade e finitude. E o pensamento deveria ocupar-se de como sobreviver e consolar-se com isso, procurando viver o mais dignamente possível até o fim inescapável. Com essa perspectiva, Montaigne produziu uma obra humana, demasiadamente humana. Inspirador de Rousseau na sua convicção da natureza boa dos ho- mens, pensouigualmente em uma educação calcada na indagação, na dúvida, na investigação, como caminho para o crescimento do homem e o desenvolvimento de “cabeças bem-feitas” ao invés de “cabeças cheias” de conhecimentos fúteis ou inúteis. No capítulos dos Ensaios Do Pedantismo e Da Edu- cação das Crianças, o pensador critica, por um lado, a Escolástica e os excessos de uma formação abstrata e, por outro lado, o mundanismo vazio da cultura livresca dos renascentistas. As mesmo tempo observador arguto de seu tempo e com formação sólida nos clássicos, Montaigne preferiu a linguagem simples da crônica, inaugurando a literatura filosófica. Educar as crianças, na perspectiva de Montaigne, era prepará-las para a “aventura da vida” e por isso ele defendia que o quanto antes elas deveriam se afastar dos pais e experimentar outras culturas e vivências, além de se acostumarem a discutir opiniões divergentes das suas, para desenvolver a capacidade de produzir argumentos ou, como afirmava o pensador, “atritar e polir nosso cérebro contra o de outros”. Crítico dos estudos sem reflexão, voltados apenas à memorização – “É prova de crueza e de indigestão regurgitar o alimento como foi engolido”, dizia ele – Montaigne entendia a importância do estudo da Filosofia, História e Literatura como componentes fun- damentais da formação do caráter. As ciências deveriam ser estudadas por quem tivesse aptidão e interesse em usá-las profissionalmente. Mas, ser humano é tarefa para todos e para todos os dias, advertia o pensador. O que lhe parece isso? A ética em Montaigne Sua vivência e sua atenção às conversas com as mais distintas classes sociais, além de sua leitura das crônicas e lendas de sua época, somadas ao convívio desde a infância com a produção clássica, principalmente latina, fizeram-no desenvolver uma percepção sobre o com- portamento humano que permite afirmar uma postura “antropológica” muito antes de essa ciência se desen- volver. Para Montaigne, a avaliação da conduta deve levar em conta quem é o sujeito que pratica um ato e em qual situação ele se encontra. O universalismo platônico, dogmatizado pela igreja cristã não se coadunava com a vida prática, observada pela lente atenta do pensador francês. Cada um é cada qual, diríamos hoje. Em um dos capítulos mais famosos dos Ensaios, o capítulo 31, Dos Canibais, Montaigne expressa a concepção ética que procurou desenvolver, em meio aos conflitos religiosos na Europa e ao extermínio e escravização dos indígenas e negros nas Américas e na África. Fazendo referência a índios levados do Brasil para a França por Nicolau Durand de Villegaignon, fundador da “França Antártica” e que eram apresentados como “selvagens”, afirmou Montaigne: “[...] Não vejo nada de bárbaro ou selvagem no que dizem daqueles povos; e, na verdade, cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra. E é natural, porque só podemos julgar da verdade e da razão de ser das coisas pelo exem- plo e pela ideia dos usos e costumes do país em que vivemos. Neste, a religião é sempre a melhor, a administração excelente, e tudo o mais perfeito. A essa gente chamamos selvagens como denomi- namos selvagens os frutos que a natureza pro- duz sem intervenção do homem. No entanto aos outros, àqueles que alteramos por processos de cultura e cujo desenvolvimento natural modifica- mos, é que deveríamos aplicar o epíteto.” E, antecipando Rousseau, disse: “Esses povos não me parecem, pois, merecer o qualificativo de selvagens somente por não terem sido senão muito pouco modificados pela inge- rência do espírito humano e não haverem quase nada perdido de sua simplicidade primitiva. As leis da natureza, não ainda pervertidas pela imis- ção dos nossos, regem-nos até agora e mantive- ram-se tão puras que lamento por vezes não as tenha o nosso mundo conhecido antes, quando havia homens capazes de apreciá-las.” A morte na obra do filósofo Para Montaigne, filosofar é aprender a morrer. Her- deiro do estoico Cícero, Montaigne afirma que toda a sabedoria só serve para consolar-nos diante dessa certeza inevitável. Do que adianta dedicarmo-nos à observação e à reflexão, às leituras e estudos se tudo isso não servisse para nos preparar para momento único? Para Montaigne, é inútil imaginar podermos conhecer algo do “Divino”, daí suas críticas à Escolástica. Vivemos neste 4 Extensivo Terceirão mundo como em uma redoma e não há aqui o trânsito do Divino. Não que isso revelasse um ateísmo em Montaigne. Apenas reforçava a ideia de que o Criador não se envolvia com a criatura e essa jornada, do começo ao indiscutível fim era tarefa humana, exclusivamente humana. Assim como o Renascimento tardio trará um Rem- brandt e um Velázquez (e que você conhecerá nas aulas de História), Montaigne buscou, na sua obra, compor um autorretrato, expressando o que via e sentia e pensava das coisas de seu tempo e das que foram objeto de seus estudos. Não se trata de apresentar um estudo sobre a Verdade e nem mesmo sobre verdades, mas sobre uma perspectiva pessoal das coisas que lhe tocaram ou que ele considerava importantes, submetendo-as ao seu olhar, como o olhar dos pintores e arquitetos do Renascimento que expressavam não o que era certo ou deveria ser visto, mas o que eles viam. © W ik im ed ia C om m on s/ He nr y Sa lo m é Torre onde era localizada a biblioteca de Michel de Montaigne, Castelo de Montaigne, Saint-Mi- chel-de-Montaigne, Dordonha, França Na solidão do terceiro andar da torre do castelo francês, o pensador propôs abalar os dogmas e a busca de verdades metafísicas com um livro meio sem pé nem cabeça, que fala de amor e da percepção com a mesma intensidade que trata da função dos polegares, da importância do uso de roupas e das razões das flatulências (acreditem!), para mostrar como o corpo e o pensamento são fontes de conhecimentos singulares e que não são moldados a priori mas, pelo contrário, expressam a diversidade de que tudo é feito. Por isso sua obra tem na pergunta “que sei eu?,” um ponto de inflexão original e fecundo: como Sócrates, a “ignorância” assumida é a condição de abertura para o conhecimento, fruto da observação e reflexão, sem assumir como certo a tradição, mas aceitando as variações como re- gra e não como defeito. Mas tudo isso com moderação, bom senso, alegria de conhecer e sem a falsidade e a presunção das relações sociais formais mas sim com a liberdade que a solidão voluntária permite. E assim, na torre do seu castelo, Montaigne produziu uma obra e uma filosofia marcantes. Montaigne foi um grande frasista. Fiquem algumas de suas “pérolas”: • Ensinam-nos a viver quando a vida já passou. • Quem teme o sofrimento sofre já aquilo que teme. • A minha opinião é que nós temos de nos emprestar aos outros, mas apenas nos darmos a nós mesmos. • Aquele que castiga quando está irritado, não corrige, vinga-se. • Os prazeres devem ser evitados se trazem em seu rastro dores maiores, e as dores devem ser procura- das se trazem em seu rastro prazeres maiores. • Cada homem traz a forma inteira da condição humana. • Pouco adianta subir em pernas de pau, pois mesmo sobre pernas de pau ainda temos de andar com nossas pernas. E no trono mais elevado do mundo ainda estamos sentados sobre nosso traseiro. • Nenhum vento serve para quem não tem porto de destino. E você? Já produziu alguma frase que expresse sua visão de mundo? Testes Assimilação 09.01. Preencha a lacuna. criticou a educação livresca e mnemônica, propondo um ensino voltado para a experiência e para a ação. Acreditava que a educação livresca exigiria muito tempo e esforço, o que afastaria os jovens dos assuntos mais ur- gentes da vida. Para ele, a educação deveria formar indivíduos aptos ao julgamento, ao discernimento moral e à vida prática. a) Sócrates. c) Kant. e) Montaigne. b) Platão. d) Descartes. 09.02. “Que sei eu?”. O projeto intelectual do filósofo teve a finalidade de testar maneirasde pensar que escapassem do caminho da erudição e da aplicação de ideias alheias. Quando se recolheu para escrever a obra Ensaios, sua decisão era voltar- -se para si mesmo e reconstruir a própria história por intermédio de temas escolhidos ao acaso. Para este filósofo, o processo formativo coincide com o conhecimento de si, lançar-se nas ex- periências e tomar posição perante os acontecimentos da vida”. O texto faz referência a: a) Tales de Mileto. c) Montaigne. e) Michel Foucault. b) Platão. d) Kant. Aula 09 5Filosofia 3 09.03. O filósofo contemporâneo Michel Foucault procurou mostrar que há duas formas de compreender a filosofia, uma delas é ”como busca da sabedoria, entendendo o conheci- mento como algo que vem de fora”. Assim, de acordo com essa ideia, a filosofia deve ser compreendida como a) uma prática de vida, um pensamento sobre nós mesmos. b) a própria vida, ou seja, as coisas que aprendemos no cotidiano. c) as experiências que adquirimos fora do nosso contexto. d) a busca de um saber que está fora de cada um de nós. 09.04. Para Montaigne, as crianças não devem ser educadas perto dos pais, porque sua afeição torna os filhos “demasiada- mente relaxados” e isso não os prepara “para a aventura da vida”. O objetivo principal da educação seria permitir à criança: a) salvar sua alma para a vida celestial. b) se introduzir de corpo e alma nos dogmas da fé. c) não ser educada pelos pais, uma vez que eles não têm instrução educacional como a dos mestres. d) a formulação de julgamentos próprios sem ter que aceitar acriticamente as leituras que a escola recomenda. Aperfeiçoamento 09.05. Para Montaigne, deve-se formar um homem honesto e capaz de refletir por si mesmo. Este homem deverá procurar o diálogo com os outros, tendo senso de relatividade sobre todas as coisas. Assim, ele conseguirá se adaptar à sociedade o onde deverá viver em harmonia com os outros homens e com o mun- do. Ele será um espírito livre e liberto de crenças e superstições. Esta visão de Montaigne sobre a formação humana reflete a) uma crítica ao modelo educacional escolástico típico de seu tempo. b) a proposta educacional que era conduzida nas escolas de sua época. c) sua admiração pelo desempenho das crianças no domínio escolar de seu tempo. d) sua crítica ao modelo político absolutista dominante nos governos da Europa do século XVI. e) a importância dos valores religiosos para o estabelecimen- to do caráter nas crianças em formação escolar. 09.06. Leia a frase. “Uma cabeça bem-feita vale mais do que uma cabeça cheia”. Com essa frase, retirada da obra Ensaios, Montaigne: a) estabeleceu uma relação entre o plano dialético e o plano metafísico. b) ignorou toda a cultura clássica e o conjunto de informa- ções contidas nos livros. c) apoiou a educação escolástica de seu tempo, baseada no acúmulo de informações gerais. d) criticou a educação livresca e mnemônica, propondo um ensino voltado para a experiência e para a ação. 09.07. O caráter antropológico da obra de Montaigne diz respeito: a) a sua negação da diversidade humana. b) a sua preocupação com os valores religiosos. c) a sua busca de compreender o homem em suas diferentes dimensões. d) a aceitação da tese de que o homem europeu era superior aos demais povos. e) a sua visão evolutiva do gênero humano que, mais tarde, vai influenciar Darwin em sua Teoria da Evolução biológica. 09.08. Sobre a concepção de educação do filósofo Montaig- ne, analise as afirmativas a seguir. I. As crianças não devem ser educadas perto dos pais, porque sua afeição torna os filhos “demasiadamente relaxados” e isso não os prepara “para a aventura da vida”. II. O objetivo principal da educação seria permitir à criança a formulação de julgamentos próprios sem ter que aceitar acriticamente as leituras que a escola recomenda. III. A receita ideal para treinar a capacidade de análise é acostumar-se a considerar opiniões diferentes e acima de tudo conhecer culturas e experiências diversas daquelas a que o aluno se familiarizou. IV. O filósofo se rebelava contra a cobrança de memorização mecânica dos conteúdos ensinados aos alunos. Estão de acordo com o pensamento filosófico de Montaigne a) somente I e IV. c) somente III e IV. e) I, II, III e IV b) somente I, II e IV. d) somente I, II e III. 09.09. Os “Ensaios”, de Montaigne, tratam de uma enorme variedade de temas: da vaidade, da liberdade de consciência, dos coxos, etc., e por serem ensaios não têm uma unidade aparente. Livremente, o filósofo deixa seu pensamento fluir e ganhar forma no papel, vagando de ideia em ideia, de associação a associação. Não escreve para agradar os leitores, nem escreve de modo técnico ou com vistas à instrução. Ele pretende, ao contrário, escrever para as gerações futuras, a fim de deixar um traço daquilo que ele foi, daquilo que ele pensou em um dado momento. Montaigne adotou o princípio grego “Conhece-te a ti mesmo”. Portanto, segundo ele, a escrita a) é um meio de chegar ao conhecimento de si mesmo. b) afasta o homem de Deus e das verdadeiras aspirações da alma. c) estimula a memorização de informações como forma de educação humana. d) registra tudo aquilo que se deve evitar no processo de formação educacional das crianças. e) retrata somente as aparências e não se relaciona com as essências eternas citadas pelos grandes pensadores da história da filosofia. 6 Extensivo Terceirão 09.10. (CPII – RJ) – À qual escola filosófica da Antiguidade, Michel de Montaigne, pensador francês do sé- culo XVI, pode ser associado? a) Aos acadêmicos, por afirmar a superioridade da ciência sobre as opiniões. b) Aos sofistas, por afirmar que o ho- mem é a medida de todas as coisas. c) Ao epicurismo, por crer no valor das paixões como guia da conduta. d) Ao pirronismo, por considerar todo conhecimento como opinião. Aprofundamento 09.11. Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) compara, nos trechos, as guerras das sociedades Tupinambá com as chamadas “guerras de religião” dos franceses que, na segunda metade do século XVI, opunham católicos e protestantes. “(...) não vejo nada de bárbaro ou selvagem no que dizem daqueles povos; e, na verdade, cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra. (...) Não me parece excessivo julgar bárbaros tais atos de crueldade [o canibalis- mo], mas que o fato de condenar tais defeitos não nos leve à ceguei- ra acerca dos nossos. Estimo que é mais bárbaro comer um homem vivo do que o comer depois de morto; e é pior esquartejar um ho- mem entre suplícios e tormentos e o queimar aos poucos, ou entregá- -lo a cães e porcos, a pretexto de devoção e fé, como não somente o lemos mas vimos ocorrer entre vizinhos nossos conterrâneos; e isso em verdade é bem mais grave do que assar e comer um homem previamente executado. (...) Po- demos, portanto, qualificar esses povos como bárbaros em dando apenas ouvidos à inteligência, mas nunca se compararmos a nós mes- mos, que os excedemos em toda sorte de barbaridades.” MONTAIGNE, Michel Eyquem de. Ensaios. São Paulo: Nova Cultural, 1984. De acordo com o texto, pode-se afirmar que, para Montaigne, a) a ideia de relativismo cultural baseia-se na hipótese da origem única do gênero humano e da sua religião. b) a diferença de costumes não constitui um critério válido para julgar as diferentes sociedades. c) os indígenas são mais bárbaros do que os europeus, pois não conhecem a virtude cristã da piedade. d) a barbárie é um comportamento social que pressupõe a ausência de uma cultura civilizada e racional. e) a ingenuidade dos indígenas equivale à racionalidade dos europeus, o que explica que os seus costumes são similares. 09.12. (FCC – SP) – Não cometo esse erro tão comum de julgar os outros por mim. Acredito de bom grado que o que está nos outros possa divergir essencialmente daquilo que está em mim. Não obrigo ninguém a agir como ajo e concebo mil e uma maneiras diferentes de viver; e, contrariamente aoque ocorre em geral, espantam-me bem menos as diferenças entre nós do que as semelhanças. Não imponho a outrem nem meu modo de vida nem meus princípios; encaro-o tal qual é, sem estabelecer comparações. O fato de não ser continente não me impede de admirar e aprovar os Feuillants* e os capuchinhos que o são; pela imaginação ponho-me muito bem em sua pele e os estimo e honro tanto mais quanto divergem de mim. Aspiro particularmente a que julguem cada qual como é, sem estabelecer para- lelos com modelos tirados do comum. Minha fraqueza não altera absolu- tamente o apreço em que deva ter quem possui força e vigor. Embora me arraste ao nível do solo, não deixo de perceber nas nuvens, por mais alto que se elevem, certas almas que se distinguem pelo heroísmo. Já é muito para mim ter o julgamento justo, ainda que não o acompanhem minhas ações, e manter ao menos assim incorruptível essa qualidade. Já é muito ter boa vontade, mesmo quando as pernas fraquejam. *Ordem religiosa. Extraído de MONTAIGNE, Michel de. “Catão, o jovem”, Ensaios, trad. Sérgio Milliet, São Paulo, Nova Cultural, 1996, p. 213. Embora me arraste ao nível do solo, não deixo de perceber nas nuvens, por mais alto que se elevem, certas almas que se distinguem pelo heroísmo. Com a frase acima, Montaigne a) adverte aos que subiram muito alto de que podem vir um dia a cair. b) contrapõe a sua humildade ao orgulho dos que se creem heróis. c) deixa entrever a mágoa por não ser reconhecido como um grande homem. d) indica que a maior distância não impede o reconhecimento da posição do outro. e) sugere que estar preso ao solo é um privilégio que os que muito subiram não podem desfrutar. 09.13. (FCC – SP) – Não cometo esse erro tão comum de julgar os outros por mim. Acredito de bom grado que o que está nos outros possa divergir essencialmente daquilo que está em mim. Não obrigo ninguém a agir como ajo e con- cebo mil e uma maneiras diferentes de viver; e, contrariamente ao que ocorre em geral, espantam-me bem menos as diferenças entre nós do Aula 09 7Filosofia 3 que as semelhanças. Não imponho a outrem nem meu modo de vida nem meus princípios; encaro-o tal qual é, sem estabelecer comparações. O fato de não ser continente não me impede de admirar e aprovar os Feuillants* e os capuchinhos que o são; pela imaginação ponho-me muito bem em sua pele e os estimo e honro tanto mais quanto divergem de mim. Aspiro particularmente a que julguem cada qual como é, sem estabelecer paralelos com modelos tirados do comum. Minha fraqueza não altera absolutamente o apreço em que deva ter quem possui força e vigor. Embora me arraste ao nível do solo, não deixo de perceber nas nuvens, por mais alto que se elevem, certas almas que se distinguem pelo heroísmo. Já é muito para mim ter o julgamento justo, ainda que não o acompanhem minhas ações, e manter ao menos assim incorruptí- vel essa qualidade. Já é muito ter boa vontade, mesmo quando as pernas fraquejam. *Ordem religiosa. Extraído de MONTAIGNE, Michel de. “Catão, o jovem”, Ensaios, trad. Sérgio Milliet, São Paulo, Nova Cultural, 1996, p. 213. Para Montaigne, a) quanto maiores forem as diferenças, mais devem ser respeitadas e valorizadas. b) ao julgar o outro, é preciso colocar-se na sua pele e agir como ele age. c) por frequentes que sejam as diferenças entre os homens, predominam sempre as semelhanças. d) se os leigos são muito diferentes uns dos outros, os religiosos tendem à uni- formidade. e) ainda que sejam muito diversas as maneiras de viver, há princípios comuns a todos os homens. 09.14. (FCC – SP) – Acerca de Montaigne Montaigne, o influente filósofo francês do século XVI, foi um conser- vador, mas nada teve de rígido ou estreito, muito menos de dogmático. Por temperamento, foi bem o contrário de um revolucionário; certa- mente faltaram-lhe a fé e a energia de um homem de ação, o idealismo ardente e a vontade. Seu conservadorismo aproxima-se, sob certos as- pectos, do que no século XIX viria a ser chamado de liberalismo. Na concepção política de Montaigne, o indivíduo deve ser deixado livre dentro do quadro das leis, e a autoridade do Estado deve ser a mais leve possível. Para o filósofo, o melhor governo será o que menos se fizer sentir; assegurará a ordem pública sem invadir a vida privada e sem pre- tender orientar os espíritos. Montaigne não escolheu as instituições sob as quais viveu, mas resolveu respeitá-las, a elas obedecendo fielmente, como achava correto num bom cidadão e súdito leal. Que não lhe pe- dissem mais do que o exigido pelo equilíbrio da razão e pela clareza da consciência. Adaptado da introdução aos Ensaios, de Montaigne. Trad. de Sergio Milliet. S. Paulo: Abril, Os Pensadores, 1972. Na concepção política de Montaigne, a) o governo, em sua disposição liberal, deve atuar como uma espécie de mentor ideológico da esfera individual. b) o Estado, como instituição pública, deve adequar-se ao papel que lhe atribui a vontade soberana da população. c) as leis que emanam do Estado devem ser respeitadas pelos cidadãos, em cuja vida privada ele evitará interferir. d) os bons e leais cidadãos devem obediência às instituições, ainda que com sacrifício dos ditames da consciência e da racionalidade. e) a ausência do Estado se justifica quando os ideais da vida privada são por si mesmos capazes de orientar a instância pública. 09.15. (UNIOESTE – PR) – Referindo-se à Filosofia, Montaigne escreve: “É singular que em nosso século as coisas sejam de tal forma que a filo- sofia, até para as pessoas inteligen- tes, seja um nome vão e fantástico, que se considera de nenhum uso e de nenhum valor, tanto por opi- nião como de fato. Creio que a cau- sa disso são esses ergotismos [que significa abuso de silogismos na argumentação] que invadiram seus caminhos de acesso. É um grande erro pintá-la inacessível às crianças e com um semblante carrancu- do, sobranceiro e terrível. Quem a mascarou com esse falso semblan- te, lívido e medonho? Não há nada mais alegre, mais jovial, mais vivaz e quase digo brincalhão. Ela só pre- ga festa e bons momentos. Uma fi- sionomia triste e inteiriçada mostra que não é ali sua morada” MONTAIGNE I, 26, p. 240. Depois de ler o texto acima, atenta- mente, assinale a alternativa CORRETA. a) Montaigne entende que a filosofia destina-se somente a algumas pessoas muito inteligentes, pois é inacessível para a maioria delas. b) Montaigne considera que a filosofia é carrancuda e triste porque é crítica e precisa assustar as pessoas. c) Montaigne concorda que a filosofia é um nome vão e fantástico: não tem nenhum uso e nenhum valor para as pessoas inteligentes. d) Montaigne argumenta que a filo- sofia é brincalhona e jovial, aberta a muitos, inclusive para as crianças. e) Montaigne julga que a filosofia deve ser sempre terrível e se con- trapor à festa e à alegria. 8 Extensivo Terceirão 09.16. (UNIOESTE – PR) – “Quem procura alguma coisa aca- ba chegando a este ponto: ou diz que a encontrou, ou que ela não pode ser encontrada, ou ainda está buscando. Toda a filosofia está dis- tribuída por estes três gêneros. Seu intento é buscar a verdade, a ciên- cia e a certeza. Os peripatéticos, epicuristas, estoicos e outros pen- saram havê-la encontrado. Estes estabeleceram as ciências que te- mos e trataram-nas como conheci- mentos certos. Clitômaco, Carnéa- des e os acadêmicos desesperaram de sua busca e declararam que a verdade não podia ser compreen- dida com nossos meios. [...]. Pirro e outros céticos ou eféticos – [...] – dizem que estão ainda em bus- ca da verdade. Estes declaram que os que pensam havê-la encontrado enganam-se infinitamente; e que há ainda vaidade ousada demais nesse segundo escalão que assegu- ra que as forças humanas não são capazes de atingi-la. Pois, estabele- cer a medida de nossa capacidade de conhecer e julgar a dificuldade das coisas é uma ciência grande e extrema, da qual duvidam que o homem seja capaz” MONTAIGNE, Ensaios II, 12.Sobre o excerto acima que trata dos partidos dos filósofos, seguem as seguintes afirmações: I. De acordo com os Acadêmicos e outros, a verdade, a ciência e a certeza podem ser encontradas mediante esforço mental. II. Pirro e outros céticos ou eféticos estão seguros de ter encontrado a verdade porque são vaidosos. III. Os peripatéticos, epicuristas e estoicos estabelecem que ainda não encontraram a verdade, mas continuam buscando. IV. Não há diferença entre os três gêneros de filosofia. A partir dessas afirmações, a) apenas uma está correta. b) somente uma está incorreta. c) duas estão corretas e duas incor- retas. d) todas estão corretas. e) todas estão incorretas. 09.17. (UEL – PR) – Leia e relacione os textos de Copérnico e Montaigne que seguem. “Por isso, dei-me à tarefa de ler os livros de todos os filósofos que pudesse adquirir, disposto a indagar se nunca nenhum teria opinado a existência de outros movimentos das esferas do Mundo, diferentes dos que lhes apresentavam quantos ensinavam matemática nas escolas. E de fato des- cobri, primeiro em Cícero, que Nicetas reconhecera que a Terra se move. Depois também em Plutarco verifiquei que tinha havido outros da mesma opinião. (...) Assim, aproveitei, desde logo, a oportunidade e comecei também eu a especular acerca da mobilidade da Terra. (...)” Nicolau Copérnico. “As revoluções das orbes celestes”. Trad. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1984. p. 8-9. “(...) no que tomo de empréstimo aos outros, vejam unicamente se soube escolher algo capaz de realçar ou apoiar a ideia que desenvolvo, a qual, sim, é sempre minha. Não me inspiro nas citações; valho-me delas para corroborar o que digo e que não sei tão bem expressar, ou por insufici- ência da língua ou por fraqueza dos sentidos. Não me preocupo com a quantidade e sim com a qualidade das citações. (...)” Michel de Montaigne. Ensaios. Trad. 2. ed. Brasília/São Paulo: UNB/Hucitec, 1987, ℓ.2. cap.10. Como se pode perceber nos textos, uma das características dos “humanistas” da Renascença em relação aos pensadores da Antiguidade clássica foi a a) fé inabalável na sua sabedoria e em suas experiências. b) desvalorização de suas obras como fonte de conhecimento e de pesquisa. c) utilização de suas obras como complemento das próprias experiências. d) importância dada as suas obras como fonte única do saber. e) reprodução dos seus ensinamentos e atenção na citação das fontes. 09.18. (UNESP – SP) – Os homens, diz antigo ditado grego, atormentam-se com a ideia que têm das coisas e não com as coisas em si. Seria grande passo, em alívio da nossa miserável condição, se se provasse que isso é uma verdade absoluta. Pois se o mal só tem acesso em nós porque julgamos que o seja, parece que estaria em nosso poder não o levarmos a sério ou o colocarmos a nosso serviço. Por que atribuir à doença, à indigência, ao desprezo um gosto ácido e mau se o podemos modificar? Pois o destino apenas suscita o incidente; a nós é que cabe determinar a qualidade de seus efeitos. Michel de Montaigne. Ensaios, 2000. Adaptado. De acordo com o filósofo, a diferença entre o bem e o mal a) representa uma oposição de natureza metafísica, que não está sujeita a rela- tivismos existenciais. b) relaciona-se com uma esfera sagrada cujo conhecimento é autorizado somente a sacerdotes religiosos. c) resulta da queda humana de um estado original de bem-aventurança e har- monia geral do Universo. d) depende do conhecimento do mundo como realidade em si mesma, indepen- dente dos julgamentos humanos. e) depende sobretudo da qualidade valorativa estabelecida por cada indivíduo diante de sua vida. Aula 09 9Filosofia 3 Desafio 09.19. (UEM – PR) – O filósofo francês Michel de Montaigne (1533-1592) escreveu o ensaio “Dos canibais” com base em seu en- contro com nativos ameríndios levados do Brasil para a França em 1557. Neste ensaio, o autor afirma: “[...] acho que não há nessa nação nada de bárbaro e de selvagem, pelo que me contaram, a não ser porque cada qual chama de barbárie aquilo que não é de seu costume; como verdadeiramente parece que não te- mos outro ponto de vista sobre a verdade e a razão a não ser o exemplo e o modelo das opiniões e usos do país em que estamos. Nele sempre está a religião perfeita, a forma de governo perfeita, o uso perfeito e cabal de todas as coisas. Eles são selvagens, assim como chamamos selvagens os frutos que a natureza, por si mesma e por sua marcha habitual, produziu; sendo que, em verdade, antes deveríamos chamar de selvagens aqueles que com nossa arte alteramos e des- viamos da ordem comum.” Montaigne. Ensaios. Cit. Por FIGUEIREDO, V. (org.) Filosofia: Temas e percursos. São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2013, p. 34. Acerca da diferença entre civilização e barbárie, assinale o que for correto. 01) Para Montaigne, a comparação dos usos e costumes da civilização europeia com os dos povos ameríndios permite afirmar a superioridade de uma cultura sobre a outra. 02) A selvageria e a barbárie não podem ser atribuídas às civilizações, mas sim àqueles usos e costumes que se desviam da ordem natural. 04) Para Montaigne, a verdade e a razão admitem mais de um ponto de vista, de acordo com a perspectiva em que as questões são abordadas. 08) O mito do “bom selvagem” é a noção de que a nature- za humana é originalmente boa, mas seria corrompida pela sociedade. 16) Montaigne propõe que não é possível fazer críticas a qualquer cultura, porque cada uma possui valores e padrões próprios. 09.20. (UEM – PR) – “Com base no que me foi relatado, penso que não há nada de bárbaro e de selvagem nessa nação. Cada um chama de barbárie aquilo que não é de seu costume. Parece verdadeiro dizer que nós só temos como crité- rio para identificar a verdade e a razão o exemplo, as opiniões e os costumes do lugar que estamos. É onde estamos que vemos a verdadeira religião, o governo perfeito, o mais completo e total uso de todas as coi- sas. Eles [os chamados bárbaros] são selvagens tanto quanto nós chamamos de selvagens os frutos que a Natureza produz por si e em seu ritmo ordinário. De- veríamos chamar de bárbaro, ao contrário, tudo aqui- lo que alteramos pelo nosso artifício e desviamos da ordem comum.” MONTAIGNE. M. Ensaios. In: FILHO, J. S. Filosofia e filosofias: existência e sentidos. Belo Horizonte: Autêntica, 2016, p. 480. A partir do texto citado, assinale o que for correto. 01) Povos com costumes não adequados às sociedades ci- vilizadas são classificados corretamente como bárbaros. 02) Para o filósofo, aquilo que é conforme a natureza não pode ser qualificado como bárbaro. 04) O filósofo chama a atenção para o critério de qualifica- ção de outros povos e de seus costumes, mostrando o quanto tais critérios são particulares e não universais. 08) Barbárie são costumes antinaturais, inaceitáveis em so- ciedades civilizadas e cultas. 16) Para o filósofo, o critério “bárbaro” ou “selvagem” decorre de uma visão particular e restrita dos costumes dos outros. Gabarito 09.01. e 09.02. c 09.03. a 09.04. d 09.05. a 09.06. d 09.07. c 09.08. e 09.09. a 09.10. d 09.11. b 09.12. d 09.13. a 09.14. c 09.15. d 09.16. e 09.17. c 09.18. e 09.19. 14 (02 + 04 + 08) 09.20. 22 (02 + 04 + 16) 10 Extensivo Terceirão 1B Francis Bacon e Descartes Aula 10 3 Filosofia Francis Bacon Longe da ideia de um pensador contemplativo, Bacon foi um atuante político. Desde muito cedo foi educado para a diplomacia e chegou aos mais altos cargos e honrarias nos governos de Elizabeth I e Jaime I, tornando-se Barão e Visconde. No entanto, sua carreira foi abruptamente inter- rompida por uma acusação de corrupção. Bacon escapou da prisão mas teve de abandonar seus postos políticos. E aí começou a carreira do pensador, incorporando a expe- riência e as reflexões sobre o período de intensa atividade política voltada para objetivos claros e práticos. O resultado desse retiro forçado e dessa reflexão pragmática foram as obras NovumOrganum e Da Dignidade e do Progresso das Ciências, além da utopia A Nova Atlântida. © W ik im ed ia C om m on s/ N at io na l P or tr ai t G al le ry , L on dr es , I ng la te rr a Francis Bacon (1561-1626) Esse espírito pragmático, proveniente de uma vida voltada para as questões políticas, jurídicas, do poder, levaram o pensador inglês a afirmar que o conheci- mento é como um espelho, que reflete a realidade, reproduzindo assim suas formas na mente das pessoas. Por isso, antes de conhecer, é preciso polir esse espelho, afastando todas as suas deformidades. Caso contrário, o conhecimento que a mente captará será igualmente deformado. Mas a importância de Bacon não se limita a associar o conhecimento ao mundo prático. O que o destaca entre os pensadores da época é sua convicção de que o co- nhecimento deve servir a objetivos práticos. Fora disso, pensava Bacon, o conhecimento não tinha finalidade. Essa convicção pode ser resumida na seguinte afirmação: saber é poder. Poder sobre a natureza, sobre aquilo que está no mundo e que pode ser modificado em favor dos homens (como as caravelas, a pólvora, a bússola, o relógio, a imprensa, etc.). O pensamento vol- tado para a contemplação, para um fim que não guarda relação com algo de proveito prático, como pensava Aristóteles, o conhecimento como um fim em si não valia nada para Bacon. Segundo ele, esse conhecimento é como uma prostituta que se preocupa apenas com a sua satisfação e não com a sobrevivência de seus filhos. O conhecimento que interessa a Francis Bacon está associado ao experimento. E o experimento pressupõe romper o equilíbrio das coisas, esse suposto equilíbrio derivado da vontade divina que pôs tudo no seu lugar e com sua função já determinada, cabendo a nós apenas conhecer estas coisas, sem modificá-las. Bacon acredi- tava que a experiência e o conhecimento derivado da experiência serviria para melhorar a natureza, tornan- do-a útil para nós. Ou, nas palavras do próprio Bacon: “... a finalidade (humana) é o conhecimento das causas e dos movimentos secretos das coisas; e o alargamento das fronteiras do império humano, para a efetivação de todas as coisas possíveis” . Ídolos Na obra Novum Organum, Francis Bacon fez uma crítica à lógica aristotélica e apresentou um novo mé- todo para o conhecimento, afastando-se do silogismo e destacando a observação e a experimentação como forma de conhecer a verdade que as coisas “ocultam”. No entanto, esse conhecimento do real pressupunha afastar as deformações do intelecto já que Bacon tinha a convicção de que o intelecto humano cria suas próprias dificuldades. Ele chamará essas dificuldades de ídolos. Aula 10 11Filosofia 3 Antecipando em muitos séculos as discussões culturais, o pensador inglês afirmava que um dos ídolos que nublam o intelecto são os ídolos da tribo. Trata-se das deformações próprias da leitura humana das coisas, tendo como fundamento o caráter humano – nosso in- consciente, diria mais tarde Freud – e não a objetividade das coisas. Assim, ao observar as coisas, o homem não faz a leitura das coisas em si, mas a leitura das coisas mediadas pela natureza própria do homem. Outro ídolo é o da caverna. Aqui a deformação é resultado da formação individual de cada um, suas leitu- ras, instrução escolar, educação familiar, que funcionam como uma “caverna individual” no fundo da qual a luz da natureza é distorcida, deformada. O terceiro ídolo é o do foro: Essa distorção é o resultado das relações sociais, das ideias concebidas no espaço público e que ganham ares de verdade ao circularem como senso comum. A linguagem sintetiza situações díspares e formam conceitos que são repetidos e absorvidos sem reflexão crítica. Mas como as palavras nem sempre correspondem aos fatos, a distorção se naturaliza e o intelecto fica obstruído. O quarto e último ídolo é o do teatro, que corres- ponde aos sistemas filosóficos e suas demonstrações inadequadas (aqui, como é de se imaginar, a crítica se concentra na lógica aristotélica). Isto é, para Francis Bacon, nem toda filosofia gera um bom conhecimento. Boa parte dela produz erros e cria universos ficcionais, como as representações dos teatros. Essa depuração dos ídolos permitiria, segundo o pensador inglês, o conhecimento objetivo, pois que a nossa mente refletiria, sem distorções, o que se percebe. Na sua opinião, essa total transparência entre o real e a apreensão do real é possível? Se a sua resposta for não, então qual a importância do pensamento de Bacon? Indução e dedução Aristóteles vê o conhecimento a partir de um pro- cesso dedutivo. Exemplo: todos os homens são mortais é o conceito universal do qual o particular Sócrates é homem, por isso permite afirmar, “verdadeiramente” que Sócrates é mortal. O trabalho dedutivo serve para provar coisas já sabidas. Funciona como um elemento de verificação e não de descoberta. Por isso Francis Bacon não via utilidade no método dedutivo. Para ele, o conhecimento pode ser afirmado por meio do método indutivo, no qual o conjunto de obser- vações (descobertas) permite generalizações confiáveis, para além dos exemplos observados. Esse método é o que permite um contato efetivo com a natureza e, a partir dela, construir um conhecimento válido e útil. Bacon foi um obsessivo verificador de hipóteses, tanto que morreu de uma complicação pulmonar ao testar o tempo de conservação da carne sob intenso frio. Prova- velmente exagerou na experiência. O filósofo Bertrand Russell conta uma anedota sobre o método indutivo: um funcionário do censo visita uma cidadezinha e, ao perguntar para mil pessoas como se chamavam, todos respondiam “Williams”. Convencido, por indução, que só poderiam existir Williams naquela cidade estranha, deixou de visitar as demais residências e foi tomar cerveja em um pub. Lá encontrou o prefeito da cidade, Jones. Qual a crítica que Russell faz a Francis Bacon? Essa crítica, na sua opinião, invalida a ideia do pensador inglês? Bacon, pensador “quase” moderno Das contribuições e novidades trazidas pelo pensa- mento de Francis Bacon, pode-se levantar suspeitas e formular críticas. Mas um mérito é incontestável: Bacon contribuiu decisivamente para superar o pensamento teológico, fixando seu olhar para o homem e suas possibilidades frente a uma natureza a ser conhecida e dominada. Daí o filósofo ser um crítico da matemática e um admirador da física. As coisas palpáveis, seus mo- vimentos e transformações interessavam; as coisas abs- tratas e sem utilidade não interessavam. A ciência como técnica encontra em Bacon seu primeiro agitador. Mas havia ainda a necessidade de sistematizar essa ciência para que ela desse conta de abarcar a natureza ampla- mente. Podemos dizer que Bacon arranhou a superfície da Ciência Moderna, arando seu solo fértil. Mas foi com Descartes que a Ciência Moderna frutificou. René Descartes: influências Em uma pequena cidade no sul da Alemanha, Neuburg, em meio a um rigoroso frio, encontramos Descartes, então um jovem de 23 anos, literalmente vivendo em uma estufa, um pequeno quarto com aquecimento central, no qual se entregava intensa e permanentemente aos seus pensamentos. Do lado de fora, iniciava-se um conflito que devastou a Europa, a Guerra dos 30 anos. Embora aparentemente Descartes tenha passado ao largo de tão intenso e devastador conflito, é lícito imaginar que sua determinação em encontrar uma certeza universal, uma verdade única e indissolúvel esteja associada aos seus temores em um mundo avassalado pela incerteza e pelo conflito. 12 Extensivo Terceirão René Descartes (1596-1651) © W ik im ed ia C om m on s/ An dr é Ha ta la HALS, Frans Franchoisz. Retrato de René Descartes. ca. 1649-1700. 1 óleo sobre tela, color; 77,5 cm x 68,5 cm. Museu do Louvre, Paris O jovem Descartes encontrava-se ali, próximo ao caudaloso rio Danúbio, servindo ao exército de Maxi- miliano, Duque da Baviera, que havia declaradoguerra a Frederico V, rei protestante da Boêmia. A Guerra dos Trinta Anos era mais um desdobramento de um século de conflitos com a Reforma Protestante como pano de fundo, outro desequilíbrio de “verdades” que se enfrentavam ferozmente em busca de uma solução. E Descartes, que estudara em uma tradicional escolar jesuíta, herdando um catolicismo arraigado mas não in- questionável, passava o tempo destes conflitos viajando para aprender no grande livro do mundo e meditando, meditando. Do período da escola – o colégio jesuíta La Flèche, no Anjou – Descartes debruçou-se sobre seis anos de estudos humanísticos e mais três de matemá- tica e teologia. Toda a orientação que recebia estava marcada pela rigidez escolástica, fundamentada na discussão – interminável – com os grandes tratadistas do passado, sem que houvesse uma preocupação em compartilhar as efervescentes questões apresentadas pelos intelectuais do presente, como Kepler, Bruno e Galileu. A matemática foi a ciência que o mobilizou, embora Descartes lamentasse o desperdício de seu uso para coi- sas mais relevantes. Filho de uma família abastada e com uma tradição no Direito, o desorientado Descartes não se furtou às preces paternas e ingressou na Universidade de Poitiers, onde se bacharelou. Seu espírito, no entanto, estava atormentado por suas dúvidas e ansiedades e a carreira de advogado não parecia ser suficiente para aplacá-lo. Assim, em 1618, o jovem Descartes toma uma decisão surpreendente, ingressando na carreira das armas. Alista-se no exército holandês de Maurício de Nassau, mais interessado nas viagens que a função lhe proporcionaria que nos combates que o aguardavam. Passeando pelas ruas da cidade, enquanto aguardava alguma atividade militar do Exército de Nassau, Descartes avistou em um muro um desafio matemá- tico. Sem compreender bem o holandês, solicitou a um senhor que o ajudasse. Este, o matemático Issac Beekman, desafiou-o a solucionar o problema até o dia seguinte e Descartes não só se incumbiu da tarefa, como o fez de maneira original. Iniciava-se uma ami- zade de duas décadas que teve um efeito profundo sobre as decisões intelectuais de Descartes: Eu estava dormindo até que você me acordou, disse Descartes ao seu amigo que o estimulou a estudar não só a matemá- tica, mas também a física. Um ano mais tarde, na Alemanha, imerso em seus pensamentos – provavelmente desde então estivera meditando sobre matemática e física incessantemente – no calor escaldante da estufa em frente à qual passava horas e horas, Descartes teve uma série de sonhos que mudariam sua vida. Estas visões o convenceram de que sua missão consistia em buscar uma verdade universal para o mundo, através da matemática. Comovido com a determinação que agora se abria em sua vida, Descartes decidiu fazer uma peregrinação até o santuário de Loreto, na Itália. Depois, dedicar-se-ia, por completo, à sua tarefa. Sua obra Apesar de o sonho de 1619 tê-lo convencido a procurar o verdadeiro método para se chegar ao co- nhecimento de todas as coisas, só em 1625, de volta a Paris e incentivado pelo Cardeal De Bérulle, Descartes resolveu levar a sério a sua tarefa. Incapaz de meditar em meio ao burburinho da capital francesa, compra uma casa na Holanda que, além do sossego e da distância das distrações da Corte, era uma ilha de tolerância e liberdade de pensamento. Lá nasceu sua primeira obra, as Regras para a Direção do Espírito, na qual já ficava clara a determinação de que a ver- dade não pode ser encontrada no estudo das coisas antes que se verifique a capacidade da mente em apreendê-las. Percebe-se aqui a reviravolta cartesiana, fundadora da Filosofia Moderna. Enquanto, até então, a preocu- pação dos pensadores concentrava-se na razão última das coisas, isto é, em uma preocupação ontológica, Descartes levanta uma questão de precedência, isto é, uma questão gnosiológica, na qual o importante, antes de conhecer as coisas, é verificar de que maneira é possível conhecer as coisas. Em 1633, Descartes anuncia a publicação de uma grande obra, O Tratado sobre o Mundo e sobre o Homem. No entanto, no mesmo ano Galileu foi obrigado a abjurar de suas ideias perante o Tribunal da Inquisição. Descartes fica apreensivo e resolve guardar seus escritos. Pensa mesmo em queimar tudo. No entanto, não é o que ele faz. Entre 1633 e 1637 trabalha febrilmente na sua obra, procurando dar a ela um caráter mais “palatável” à Igreja sem perder o hori- zonte de suas ideias e convicções além de, ao contrário Aula 10 13Filosofia 3 de Galileu, demonstrar o caráter objetivo da razão e indicar as regras nas quais devemos nos inspirar para alcançar tal objetividade. Nascia assim, o Discurso sobre o Método. O método Basicamente, o método cartesiano consistiu em estabelecer os princípios fundamentais para a seguir derivar deles suas consequências, assim como os teoremas são derivados dos axiomas. Dessa forma Des- cartes esperava construir, sobre bases firmes e sólidas, um edifício filosófico que ficasse imune à controvérsia fútil que havia caracterizado a filosofia até então. Por isso Descartes apoia-se nas ciências matemáticas, herança profunda de seus estudos em La Flèche e de suas conversas com Issac Beekman, para construir uma forma de verificar o conhecimento sobre o mundo a partir de um método rigoroso e incontestável. Sem ele, o conhecimento sobre o mundo continuaria a ser uma hipótese contestável ao infinito e, portanto, nunca poderia se tornar uma ciência. A fundamentação das regras para um Método partiu das convicções de Descartes a respeito da necessidade de se construir um edifício novo para as Ciências e não simplesmente reformar o velho prédio escolástico. Nas suas Meditações Metafísicas (1641), obra na qual refle- te e aprofunda as questões propostas no Discurso sobre o Método, Descartes nos conta: “Muitos anos atrás percebi quantas opiniões fal- sas vinha aceitando como verdadeiras desde minha infância, e quão dúbio tudo o que nelas buscava deveria ser. Decidi, então, que, se realmente qui- sesse estabelecer algo de sólido e duradouro nas ci- ências, teria que, deliberadamente, me livrar de to- das as opiniões que até então aceitara e começar a construir tudo de novo, a partir do zero.(...) Como a razão já havia me persuadido de que deveria dei- xar de acreditar tanto nas coisas que parecem ser manifestamente falsas como naquelas que não são inteiramente certas e indubitáveis, o menor funda- mento para uma dúvida seria suficiente para me fazer rejeitar qualquer de minhas opiniões.” A dúvida metódica A submissão de todo o conhecimento a um processo de suspensão de validade é o que ficará conhecido, no pensamento cartesiano, como dúvida metódica. Não se trata de duvidar para destruir a possibilidade de virmos a conhecer mas, ao contrário, trata-se de duvidar para encontrar um caminho seguro e indubitável para o conhecimento. Descartes apresenta quatro regras para o conhe- cimento de tudo o que a razão é capaz de conhecer, e que seriam suficientes, contanto que tomasse a firme e constante resolução de não deixar uma única vez de observá-los. • Nunca aceitar coisa alguma como verdadeira sem que a conhecesse evidentemente como tal; ou seja, evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e não incluir em meus juízos nada além daquilo que se apresentasse tão clara e distintamente a meu es- pírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida. • Dividir cada uma das dificuldades que examinasse em tantas parcelas quantas fossem possíveis e ne- cessárias para melhor resolvê-las. • Conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos; e supondo certa a ordem mesmo entre aqueles que não precedem naturalmente uns aos outros. • Fazer em tudo enumerações tão completas e revisões tão gerais, que eu tivesse certezade nada omitir. Pronto! Agora Descartes estava em condições de olhar o mundo que o cercava em busca de algo que fosse realmente verdadeiro. Montado em sua dúvida metódica e aplicando suas regras de verificação, indagava o pensador francês: “Haveria algo que sobreviveria a esta investida de questionamentos? Seria a realidade algo apre- ensível? Nossa mente seria capaz de conhecer o mundo, verdadeiramente?” A verdade, para Descartes, é intelectual e se mani- festa pela evidência. E a evidência, para Descartes, se alcança pela intuição, que é a ideia presente na mente, sem qualquer mediação. É, conforme as palavras do pensador, “(...) um conceito da mente pura e atenta, que nasce unicamente da luz da razão”. Logo, para Descartes, as Ideias, são entes reais e não somente representações ou imagens de coisas materiais. A percepção (por exemplo, penso, logo existo) não é a percepção de uma coisa a partir das ideias, mas a percepção da existência da ideia como uma realidade objetiva, real em si mesma. Estas ideias, Descartes buscava construí-las abs- traindo todas as condições materiais e psicológicas que poderiam influir no pensamento, deixando pensamento puro, uma “visão objetiva da verdade”, isto é, uma evi- dência. Percebam que não se trata de uma apropriação da realidade que é subjetivada, mas de um encontro da 14 Extensivo Terceirão verdade em mim, uma verdade subjetiva, real e existente como algo distinto das coisas que consideramos “reais”, incluindo meu próprio corpo físico. A primeira certeza Descartes submete então todos os conhecimentos ao ponto fixo da dúvida, alavanca arquimediana usada para alcançar a certeza. E o resultado? Ele responde: “Mas logo depois atentei que, enquanto queria pensar assim que tudo era falso, era necessaria- mente preciso que eu, que o pensava, fosse algu- ma coisa. E, notando que esta verdade – penso, logo existo – era tão firme e tão certa que todas as mais extravagantes suposições dos céticos não eram capazes de a abalar, julguei que podia admi- ti-la sem escrúpulo como o primeiro princípio da filosofia que buscava.” Descartes anuncia o cogito (pensamento) como uma evidência da existência deste pensamento, de que há uma realidade pensante (res cogitans). Esta é sua primeira certeza! Mesmo a dúvida mais extravagante não é capaz de impugnar a certeza de que penso. Este “penso, logo exis- to”, não é um silogismo, isto é, uma argumentação que parta de uma premissa maior. Não! Trata-se de um ato in- tuitivo que me evidencia a verdade, que é a existência de uma realidade pensante, sem qualquer mediação entre pensamento e ser. Esta realidade pensante não precisa de corpo nem espaço. Existe independente das coisas outras que vemos e tocamos. Descartes vai chamá-la de alma. Do conhecimento do EU para o conhecimento do mundo Nas Meditações Metafísicas, Descartes afirmou a respeito do cogito e do caminho aberto por ele: “Estou certo de que sou uma coisa que pensa... mas não saberei eu, igualmente, o que é necessário para que eu tenha certeza de uma verdade? Cer- tamente, nesse primeiro conhecimento, nada há que me assegure sua verdade, exceto a percepção, clara e distinta daquilo que afirmo, que não seria suficiente para me garantir que aquilo que afirmo é verdadeiro se fosse possível que algo que conce- bo clara e distintamente viesse a ser falso. Dessa forma, parece-me que posso já estabelecer, como regra geral, que todas as coisas que percebo, muito claramente e muito distintamente são verdadeiras.” Pois bem. Podemos depreender que Descartes esta- belece uma dupla forma de apreensão das verdades. Pela intuição, que é um movimento da alma, inato e imediato, não silogístico, e pela dedução a partir das intuições claras e distintas. Enfim, o que podemos conhecer do mundo? Para Descartes, assim como o pensamento revela o que é claro e distinto, a realidade objetiva apreensível é a que se apresenta como clara e distinta. E o que é? Descartes assim nos ensina: “Não há, portanto, mais que uma mesma ma- téria em todo o universo. E nós a conhecemos so- mente pelo fato de que ela é extensa, já que todas as propriedades que percebemos distintamente nela nos remetem a essa propriedade: que ela pode ser dividida segundo as suas partes e pode receber todas as diversas disposições que nós ob- servamos poderem se verificar por meio do movi- mento de suas partes.” Assim, gosto, cheiro, cor, peso não são essenciais pois não se pode aplicar a elas as regras da clareza e da distinção. Não há também qualquer interferência do mundo objetivo na constituição do pensamento. O mundo objetivo é extensão geométrica distinto por sua grandeza, figura, posição e movimento e apreendido pelo pensamento pelas regras do método. E só. Como enfatiza Descartes: “A natureza da matéria ou do corpo tomado globalmente não consiste em que é uma coisa dura, pesada, colorida ou que afeta os nossos sen- tidos de qualquer outro modo, mas somente no fato de que é uma substância extensa com com- primento, largura e profundidade.” O movimento, as transformações, enfim, tudo o que vemos na natureza, Descartes resume a um mecanicis- mo resultante do movimento retilíneo – do qual todos os outros derivam, e da inércia. O movimento originário (big-bang?!) impulsionou matéria em todas as direções e, desde então, tudo é tão somente choque entre partí- culas movendo-se em um universo sem vazios, já que tudo é extensão. Não há um sentido, uma finalidade, uma qualidade no movimento. O que há é a extensão quantificável, mensurável, matematizável. Não se pode mais falar, a se concordar com Descartes, em um mundo que “cumpre qualquer função ou desígnio”. Deus conti- nua como criador do mundo, mas não reside nele. O mundo está “livre” para ser fatiado pelos cientistas. Aula 10 15Filosofia 3 Testes Assimilação 10.01. (UNESP – SP) – Os ídolos e noções falsas que ora ocupam o intelecto humano e nele se acham implantados não somente o obstruem a ponto de ser difícil o acesso da verdade, como, mesmo depois de superados, poderão ressurgir como obstáculo à própria instauração das ciências, a não ser que os homens, já precavidos contra eles, se cuidem o mais que possam. O homem se inclina a ter por verdade o que prefere. Em vista disso, rejeita as dificuldades, levado pela impaciência da investigação; rejeita os princípios da natureza, em favor da supers- tição; rejeita a luz da experiência, em favor da arro- gância e do orgulho, evitando parecer se ocupar de coisas vis e efêmeras; rejeita paradoxos, por respeito a opiniões vulgares. Enfim, inúmeras são as fórmulas pelas quais o sentimento, quase sempre impercepti- velmente, se insinua e afeta o intelecto. Francis Bacon. Novum Organum [publicado originalmente em 1620], 1999. Adaptado. Na história da filosofia ocidental, o texto de Bacon preconiza a) um pensamento científico racional afastado de paixões e preconceitos. b) uma crítica à hegemonia do paradigma cartesiano no âmbito científico. c) a defesa do inatismo das ideias contra os pressupostos da filosofia empirista. d) a valorização romântica de aspectos sentimentais e intui- tivos do pensamento. e) uma crítica de caráter ético voltada contra a frieza do trabalho científico. 10.02. (UFSJ – MG) – Sobre os ídolos preconizados por Francis Bacon, é CORRETO afirmar que: a) “A consequência imediata da ação dos ídolos é a inscri- ção do Homem num universo de massacre e sofrimento racional-indutivo, onde o conhecimento científico se distancia da filosofia, se deteriora e se amesquinha”. b) “Toda idolatria é forjada no hábito e na subjetividade humanos”. c) “Os ídolos invadem a mente humana e para derrogá-los, é necessário um esforço racional-dedutivo de análise, como bem advertiu Aristóteles”. d) “Os ídolos da caverna são os homens enquanto indivíduos, pois cada um [...] tem uma caverna ou uma cova que intercepta e corrompe a luz da natureza”. 10.03. (UEL – PR) – Leia o texto a seguir.O pensamento moderno caracteriza-se pelo crescente abandono da ciência aristotélica. Um dos pensadores modernos desconfortáveis com a lógica dedutiva de Aristóteles – considerando que esta não permitia ex- plicar o progresso do conhecimento científico – foi Francis Bacon. No livro Novum Organum, Bacon for- mulou o método indutivo como alternativa ao méto- do lógico-dedutivo aristotélico. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamen- to de Bacon, é correto afirmar que o método indutivo consiste a) na derivação de consequências lógicas com base no corpo de conhecimento de um dado período histórico. b) no estabelecimento de leis universais e necessárias com base nas formas válidas do silogismo tal como preservado pelos medievais. c) na postulação de leis universais com base em casos obser- vados na experiência, os quais apresentam regularidade. d) na inferência de leis naturais baseadas no testemunho de autoridades científicas aceitas universalmente. e) na observação de casos particulares revelados pela experiência, os quais impedem a necessidade e a univer- salidade no estabelecimento das leis naturais. 10.04. (PUCPR) – “Ciência e poder do homem coincidem, uma vez que, sendo a causa ignorada, frustra-se o efeito. Pois a natureza não se vence, se não quando se lhe obedece. E o que à contemplação apresenta-se como causa é regra na prática”. Em relação a esse aforismo III do Livro I do Novum Organum de Francis Bacon, considere a alternativa que apresenta a interpretação correta: a) O saber, para Bacon, é uma forma de alterarmos as leis da natureza e, com isso, seus fenômenos podem ser contro- lados tendo em vista um benefício humano. b) O autor menciona que o conhecimento, o saber, está ligado ao poder, ou seja, mediante o conhecimento é possível, de maneira segura e rigorosa, conquistar o poder sobre a natureza. c) Para Bacon, é inerente ao saber uma forma de controle sobre a natureza, mas principalmente sobre as pessoas, possibilitando um poder incondicional ao detentor do saber. d) O saber já possui um valor em si mesmo, o que conduz, consequentemente, de acordo com Bacon, a um poder. e) O que Bacon pretende dizer é que o saber nem sempre tem uma relação com a prática e que é a conveniência individual desse saber que determina seu valor. 16 Extensivo Terceirão Aperfeiçoamento 10.05. (UEL – PR) – Segundo Francis Bacon, “são de quatro gêneros os ídolos que bloqueiam a mente humana. Para melhor apresentá-los, lhes assinamos nomes, a saber: Ídolos da Tribo; Ídolos da Caverna; Ídolos do Foro e Ídolos do Teatro”. BACON, F. Novum Organum. Tradução de José Aluysio Reis de Andrade. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 21. Com base nos conhecimentos sobre Bacon, os Ídolos da Tribo são: a) Os ídolos dos homens enquanto indivíduos. b) Aqueles provenientes do intercurso e da associação recíproca dos indivíduos. c) Aqueles que imigraram para o espírito dos homens por meio das diversas doutrinas filosóficas. d) Aqueles que chegam ao espírito humano por meio de regras viciosas de demonstração. e) Aqueles fundados na própria natureza humana. 10.06. (UEM – PR) – A Filosofia Moderna compreende os séculos XVII e XVIII, caracterizando-se por um acentuado racionalismo que se opõe ao pessimismo teórico do ceticis- mo, o qual duvida da capacidade da razão humana poder alcançar um conhecimento certo fundamentado em uma verdade universal. Assinale o que for correto. 01) René Descartes, no Discurso do Método, instaura a dúvida metódica; deve ser, portanto, considerado um adepto do ceticismo. 02) O dogmatismo opõe-se ao ceticismo, pois é uma dou- trina segundo a qual é possível atingir a certeza de ver- dades inquestionáveis. 04) Para o racionalismo, o ponto de partida do conheci- mento é o sujeito como consciência de si reflexiva, isto é, como consciência que conhece sua capacidade de conhecer. 08) Francis Bacon é um dos mais importantes céticos do século XVII, pois, para ele, o homem nunca poderia libertar-se dos ídolos que impedem sua razão de alcan- çar qualquer saber efetivo. 16) O racionalismo acredita que a vida ética pode ser total- mente racional, visto que a razão humana é capaz de conhecer a origem, as causas e os efeitos das paixões e das emoções, podendo dominá-las e governá-las. 10.07. (UEPG – PR) – Sobre o método cartesiano, assinale o que for correto. 01) René Descartes buscou encontrar um método que o levasse à verdade indubitável. 02) O método cartesiano está fundamentado na razão. 04) O método seguro baseia-se em quatro regras de racio- cínio: da evidência, da análise, da ordem e da enume- ração. 08) A frase “cogito ergo sum” está se referindo à auto evi- dência como exercício do sujeito pensante. 10.08. (UEL – PR) – Leia o texto a seguir. E se escrevo em francês, que é a língua de meu país, e não em latim, que é a de meus preceptores, é porque espero que aqueles que se servem apenas de sua razão natural inteiramente pura julgarão melhor minhas opiniões do que aqueles que não acreditam senão nos livros dos antigos. E quanto aos que unem o bom sen- so ao estudo, os únicos que desejo para meus juízes, não serão de modo algum, tenho certeza, tão parciais a favor do latim que recusem ouvir minhas razões, porque as explico em língua vulgar. DESCARTES, R. Discurso do Método. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado Jr. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Coleção “Os pensadores”. p. 79. Com base nos conhecimentos sobre Descartes e o surgi- mento da filosofia moderna, assinale a alternativa correta. a) A língua vulgar, o francês, expressa de modo mais ade- quado o espírito da modernidade por estar livre dos preconceitos da língua dos doutos, o latim. b) Redigir o Discurso do Método em francês teve propósito similar à tradução da bíblia para o alemão feita por Lutero: facilitar o acesso à sacralidade do texto em língua vulgar. c) O desencantamento do mundo, resultante da radical crítica cartesiana à tradição, teve como consequência o abandono da referência à divindade. d) As ideias expressas por Descartes em seu Discurso do Método refletem a postura tipicamente moderna de ruptura total com o passado. e) A razão natural inteiramente pura é um atributo inerente à natureza humana, independentemente da tradição ou da cultura à qual o humano se vincula. 10.09. (UFU – MG) – Na obra Discurso do método, o filósofo francês Renê Descartes descreve as quatro regras que, segundo ele, podem levar ao conhecimento de todas as coisas de que o espírito é capaz de conhecer. Quanto a uma dessas regras, ele diz que se trata de “dividir cada di- ficuldade que examinasse em tantas partes quantas possíveis e necessárias para melhor resolvê-las”. Descartes. Discurso do método,I-II, citado por: MARCONDES, Danilo. Textos Básicos de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2000. Tradução de Marcus Penchel. Essa regra, transcrita acima, é denominada a) regra da análise. b) regra da síntese. c) regra da evidência. d) regra da verificação. 10.10. (UNESP – SP) – Todas as vezes que mantenho minha vontade dentro dos limites do meu conhecimento, de tal maneira que ela não formule juízo algum a não ser a respeito das Aula 10 17Filosofia 3 coisas que lhe são claras e distintamente representa- das pelo entendimento, não pode acontecer que eu me equivoque; pois toda concepção clara e distinta é, com certeza, alguma coisa de real e de positivo, e, as- sim, não pode se originar do nada, mas deve ter obri- gatoriamente Deus como seu autor; Deus que, sendo perfeito, não pode ser causa de equívoco algum; e, por conseguinte, é necessário concluir que uma tal concepção ou um tal juízo é verdadeiro. René Descartes. Vida e Obra. Os pensadores, 2000. Sobre o racionalismo cartesiano, é correto afirmar que a) sua concepção sobre a existência de Deus exerceu grande influência na renovação religiosa da época. b) sua valorização da clareza e distinção do conhecimento científico baseou-seno irracionalismo. c) desenvolveu as bases racionais para a crítica do mecani- cismo como método de conhecimento. d) formulou conceitos filosóficos fortemente contrários ao heliocentrismo defendido por Galileu. e) se tratou de um pensamento responsável pela fundamen- tação do método científico moderno. Aprofundamento 10.11. (UFSJ – MG) – Ao analisar o cogito ergo sum – penso, logo existo, de René Descartes, conclui-se que a) o pensamento é algo mais certo que a própria matéria corporal. b) a subjetividade científica só pode ser pensada a partir da aceitação de uma relação empírica fundada em valores concretos. c) o eu cartesiano é uma ideia emblemática e representativa da ética que insurgia já no século XVI. d) Descartes consegue infirmar todos os sistemas científi- cos e filosóficos ao lançar a dúvida sistemático-indutiva respaldada pelas ideias iluministas e métodos incipientes da revolução científica. 10.12. (UNIOESTE – PR) – Considerando-se as primeiras linhas das Meditações sobre a filosofia primeira de René Descartes: “Há já algum tempo dei-me conta de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões por verdadeiras e de que aquilo que depois eu fundei so- bre princípios tão mal assegurados devia ser apenas muito duvidoso e incerto; de modo que era preciso tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer- -me de todas as opiniões que recebera até então em minha crença e começar tudo novamente desde os fundamentos, se eu quisesse estabelecer alguma coisa de firme e de constante nas ciências. (...) Agora, pois, que meu espírito está livre de todas as preocupações e que obtive um repouso seguro numa solidão tran- quila, aplicar-me-ei seriamente e com liberdade a des- truir em geral todas as minhas antigas opiniões” É correto afirmar sobre a teoria do conhecimento cartesiana que a) Descartes não utiliza um método ou uma estratégia para estabelecer algo de firme e certo no conhecimento, já que suas opiniões antigas eram incertas. b) Descartes considera que não é possível encontrar algo de firme e certo nas ciências, pois até então esse objetivo não foi atingido. c) Descartes, ao rejeitar o que a tradição filosófica considerou como conhecimento, busca fundamentar nos sentidos uma base segura para as ciências. d) ao investigar uma base firme e indestrutível para o conheci- mento, Descartes inicia rejeitando suas antigas opiniões e uti- liza o método da dúvida até encontrar algo de firme e certo. e) Descartes necessitou de solidão para investigar as suas antigas opiniões e encontrar entre elas aquela que seria o verdadeiro fundamento do conhecimento. 10.13. (UFU – MG) – Na obra Discurso sobre o método, René Descartes propôs um novo método de investigação baseado em quatro regras fundamentais, inspiradas na geometria: evidência, análise, síntese, controle. Assinale a alternativa que contenha corretamente a descrição das regras de análise e síntese. a) A regra da análise orienta a enumerar todos os elementos analisados; a regra da síntese orienta decompor o proble- ma em seus elementos últimos, ou mais simples. b) A regra da análise orienta a decompor cada problema em seus elementos últimos ou mais simples; a regra da síntese orienta ir dos objetos mais simples aos mais complexos. c) A regra da análise orienta a remontar dos objetos mais simples até os mais complexos; a regra da síntese orienta prosseguir dos objetos mais complexos aos mais simples. d) A regra da síntese orienta a acolher como verdadeiro apenas aquilo que é evidente; a regra da análise orienta descartar o que é evidente e só orientar-se, firmemente, pela opinião. 10.14. (UEMA) – O Ceticismo no sentido absoluto consiste em negar, de forma total, a possibilidade do homem em conhecer a verdade. Assim, para o ceticismo absoluto, o homem nada pode afirmar pois nada pode conhecer. Com base nessa afirmação, marque a alternativa que expressa o conceito de Descartes sobre o ceticismo. a) Trata-se de uma posição moderada, pois nega apenas par- cialmente a nossa capacidade de se conhecer a verdade. b) Trata-se de limitar, ao positivamente dado, os fatos imediatos da experiência, fugindo de toda especulação metafísica. c) Trata-se não mais de duvidar por duvidar, mas de examinar criteriosamente todas as áreas a fim de nelas descobrir elementos sobre os quais possa recair alguma suspeita. d) Trata-se de um ceticismo, em que é impossível um saber rigoroso. e) Trata-se da certeza de que o juízo humano nunca concor- da com a realidade de que nunca se pode dizer, pois, que esta ou aquela proposição seja verdadeira. 18 Extensivo Terceirão 10.15. (UFPA) – Segundo Descartes, para se alcançar a ver- dade das coisas, isto é, o conhecimento certo e evidente, é necessário um método. É correto afirmar que esse método, proposto pelo autor, a) valoriza a dúvida e estabelece, por meio de suas regras, que se deve tomar como ponto de partida as sensações e coisas particulares para, posteriormente, se ascender aos axiomas mais gerais. b) consiste no modo seguro e certo de se “aplicar a razão à experiência”, isto é, de se aplicar o pensamento verdadeiro aos dados oferecidos pelo conhecimento sensível. c) dá ênfase à dúvida e ao modelo matemático de racio- cínio como procedimentos que se devem utilizar para se alcançar a verdade e para se evitar os enganos e as opiniões prováveis. d) estabelece, como caminho seguro para se atingir ideias claras e evidentes, o raciocínio silogístico, que parte de enunciados universais para enunciados particulares. e) fornece os procedimentos adequados, de observação e experimentação, que possibilitam organizar e controlar os dados recebidos da experiência sensível, de modo a se obter um conhecimento verdadeiro sobre as coisas. 10.16. (UEM – PR) – “Passemos, então, aos atributos da alma e vejamos se há alguns que existam em mim. [...] Um outro é pen- sar, e verifico aqui que o pensamento é um atributo que me pertence; somente ele não pode ser separado de mim. Eu sou, eu existo: isto é certo; mas por quan- to tempo? Durante todo o tempo em que eu penso; pois talvez poderia acontecer que, seu eu parasse de pensar, ao mesmo tempo pararia de ser ou de exis- tir. Nada admito agora que não seja obrigatoriamente verdadeiro: nada sou, então, a não ser uma coisa que pensa, ou seja, um espírito, um entendimento ou uma razão, que são palavras cujo significado me era ante- riormente desconhecido.” DESCARTES, R. Meditações, 2ª. Meditação. São Paulo: Nova Cultural, 2004, p. 260 e 261. A partir do texto citado, assinale o que for correto. 01) A faculdade de pensar é um atributo que não pode ser separado do sujeito, ligado intimamente ao seu eu. 02) O pensamento é um atributo ligado ao corpo do sujei- to, visto que é somente por meio desse pensamento que elaboramos nossas ideias. 04) Os pensamentos são efêmeros, uma vez que desapare- cem quando deixamos de pensar, não restando nada em nós. 08) Os pensamentos e o conhecimento das coisas já estão na alma humana, e é necessário rememorá-la por um ato de autorreflexão. 16) No processo de autoconhecimento, a primeira consta- tação a que se chega é que o homem é, prioritariamen- te, um ser que pensa, uma coisa pensante. 10.17. (UFSC) – Na obra Meditações Metafísicas, Descartes apresenta a dúvida metódica. Sobre esse tema, é correto afirmar que Descartes: 01) pratica a dúvida porque muitas das suas opiniões ha- viam-se mostrado falsas e desejava fundamentar bem seus conhecimentos. 02) propõe-se a desconfiar apenas daquelas suas opiniões que forem manifestamente falsas, mantendo as que fo- rem relativamente seguras. 04) constata que os seus sentidos raramente o enganam, sendo por isso fontes confiáveis de conhecimento. 08) acaba dando-se conta de que a dúvida metódica impe- de que obtenhamos conhecimento. 16) pensa que as matemáticas, devido à sua clareza, não podem nos enganar. 32) percebe que a dúvida metódica deve
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