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Prévia do material em texto

IISBN 85 08 03888 71
A Itália de 1815 consistia em oito Estados
distintos, a maioria sob o domínio direto ou
indireto da Áustria. Os ideais nacionalistas
que dominavam a Europa de meados do
século XIX fizeram crescer entre os povos
da península o desejo de se unirem em um
só país - duas forças motivadoras
impulsionaram este movimento de unificação:
a liberdade e a independência.
Neste trabalho, o Autor examina as forcas
em conflito que lutaram para determinar á
forma de uma Itália unificada: o
conservadorismo saboiano, o republicanismo
e o socialismo municipal mazzinistas, a
rivalidade entre Garibaldi e Cavour.
John Gooch é professor-adjunto de História
na Universidade de Lancaster.
~ db iat:ere&s:b do- o-oIa/llb
História
ékLra& dreas- c/a,dri&
Administração Antropologia Artes
Ciências Comunicações Direito
Economia Educação Enfermagem
Filosofia Geografia Lingüística Literatura
Odontologia Política Psicologia Sociologia
\.
INCIPIOS
ooch
,sértC
I l'RINCíl'lOS
ÚL1\NlOS Lfl-NÇfl-NlEt.nOS
Gêneros literários
Angélica Soares
Análise de investimentos
e taxa de retorno
Pedra Schubert
A rede urbana
Roberta Lobato Corrêa
A lingua portuguesa no
mundo
Sílvio Elia
Empréstimos lingüísticas
Nelly Carvalho
O cotidiano da pesquisa
Nelson de Castro Senra
Iniciação ao Latim
Zelia de Almeida Cardoso
Expressões idiomáticas e
convencionais
Stel1a Ortweiler Tagnin
O espaço urbano
Reberta Labato Corrêa
A acentuação gráfica em
vigor .
Uma sistematização crítica
Amini Boainain Hauy
Fotografia e História
Bóris Kossoy
Cenografia
Anna Mantovani
Getulismo e trabalhismo
AngeJa de Castro Gomes
Maria Celina O'Araújo
Artigo e crase
Maria Aparecida Baccega
História do negro brasileiro
Clóvis Moura
O Terceiro Mundo e a nova
ordem internacional
Antonio Carlos Wolkmer
Articulação do texto
Elisa Guimarães
O império de Carlos Magno
José Roberto Mello
Novas tecnologias em
Educação
Lili Kawamura
Comunicação do corpo
Monica Rector e Aluizio R.
Trinta
Terceiro Mundo
Conceito e História
Tullo Vigevani
Introdução à Sociologia do
Trabalho
Augusto Caccia Bava Jr.
Morfemas do Português
Vai ler Kehdi
Rlf1~~ts
John Gooch
Professor Adjunto de H istória da
Universidade de Lancaster (Grã-Bretanha)
-A UNIFIPAÇAO
DA ITALIA
Tradução de
Lólio Lourenço de Oliveira
ea
editora álit'4
M;PLA
OI.A DI
OOU&C!0
Direção
Benjamin Abdala Junior
Samira Youssef Campedelli
Preparação de texto
Sérgio Roberto Torres
Edição de arte (miolo)
Milton Takeda
Divina Rocha Corte
Composição/Paginação em vídeo
Marco Antonio Fernandes
Capa
Ary Norrrtanha
Antonio Ubirajara Domiencio
,,
© 1986 John Gooch
Título do original em inglês:
The unification of /ta/y
Primeira publicação por
Methuen & Co. Ltd.
11 New Fetter Lane, London
ISBN 85 08 03888 7
1991
Todos os direitos reservados
Editora Ática S.A. - Rua Barão de Iguape, 110
Tel.: (PABX) 278-9322 - Caixa Postal 8656
End. Telegráfico "Bomlivro" - São Paulo
Sumário
Quadro cronológico 4
Mapa: A unificação da Itália 12
1. Introdução 13
2. Correntes da revolução, 1815-48 15
o legado napoleônico 15
Buonarroti e os Carbonari 16
Mazzini e a Jovem Itália 18
Nacionalismo econômico 21
Nacionalismo cultural 22
3. A primeira guerra do Risorgimento, 1848-9 __ 26
o advento da revolução 27
Cattaneo e Milão 29
A guerra de Carlos Alberto 31
Manin e a república veneziana 33
A república romana 35
Nápoles e Sicília 37
4. Que espécie de Itália? Mazzini e
Cavour, 1849-59 40
Primeiras reaçôes a 1848 40
Mazzini e Pisacane: o malogro da insurreição 42
Cavour e a origem da predominância do Piemonte 44
5. O triunfo do Piemonte, 1859-70 49
A guerra de 1859 e a anexação da Itália central 50
Garibaldi e a Sicília 52
Os problemas de uma monarquia parlamentar 56
A guerra 'de 1866 59
O final romano 60
6. O Risorgimento na história 64
7. Sugestão de leituras _ 68
5
I
~
Quadro cronológico
Ano Piemonte Reino das Duas Estados Papais I Ano Os ducados Lombardia Venécia Geral
Sicílias
1807 Fundação dos ~ 1807
Carbonari
1814-15 II 1814-15 Congresso de
Viena
1820 Revolução (jul.)
I 1820
1821 Revolução (março), 1821 Congresso de
acarretando a Laibach
abdicação de Vítor (instalado a
Emanuel I, esmagado 26/jan.)
por Carlos Félix (morto
em 1831) e pelos
austríacos (abr.-out.)
1830 • 1830 Morte do Papa
Pio VIII (30/nov.)
1831 Entronização de Carlos Revoluções debeladas I 1831 Revoluç6es em Eleição do papaAlberto pelos austríacos (fev.- Parma e Módena Gregório XVIrnar.) debeladas pelos (2/fev.)
austríacos (fev.)
1832 ,I 1832 Mazzini
(1805-72) funda
a Jovem Itália
1834 Mazzini fracassa na .~ 1834
invasão da Sabóia
(fev.)
1837 Insurreições malogram 1/ 1837
1843 Insurreições malogram
~
1843
1844 Insurreição dos irmãos 1844
Bandiera malogra (jun.)
1846 II 1846 Eleição do papa
Pio IX (16/jun.)
1847 Guarda civil formada \ 1847 Levantes A Itália é abalada
em Roma: os reprimidos (set.) por uma crise
austríacos ocupam I econômicaFerrara (jul.) (outono)
6 I 7
Quadro cronológico - continuação
Ano Piemonte Reino das Duas Estados Papais II Ano Os ducados Lombardia Venécia Geral
Sicílias
1848 Constituição provisória Levantes Ijan.); o Manifestações contra 1848 Os austríacos Protesto Revolução Ano das
é proclamada (8/fev.); governo provisório da o novo ministério ocupam Parma "não-fumante" bem-sucedida revoluções
Carlos Alberto declara Sicília declara (1 °/jan.); o papa e Módena (jan.): começa em contra os
guerra aos austríacos definitivamente outorga Constituição Constituição Milão (1 ?/jan.); austríacos em
(26/mar.); piemonteses depostos Fernando II (13/mar.); o papa provisória é os austríacos e Veneza
derrotados pelos e sua dinastia (13/abr.); declara não possuir proclamada na polícia matam (22/mar)
austríacos em Fernando dissolve a ambições temporais Toscana manifestantes
Custozza (25/jul.); assembléia e a guarda (29/abr); o papa foge (15/fev.) (3/jan.); "cinco
armistício com a nacional de Nápoles (24/nov.) dias gloriosos"
Áustria (10/ago.) (17/maio) (18-23/mar.) em
Milão; plebiscito
aprova fusão
com Piemonte
(8/jun.);
austríacos
tomam Milão
(5/ago.)
1849 Retomada da guerra Inicia-se a retomada Assembléia popular
11
1849 Os austríacos Veneza capitula
com a Austria da Sicília (29/mar.); proclama Roma restauram o aos austríacos
(20/mar); os Palerma é retomada república (1O/fev.); os domínio da (27/ago.)
piemonteses são (15/abr.) austríacos reocupam Toscana (28/jul.)
derrotados em Novara Ferrara (8/fev.);
(23/mar) e Carlos soldados franceses
Alberto abdica, sendo desembarcam em
seu sucessor Vítor Civitavecchia (24/abr.);
Emanuel 11(morto em os franceses tomam
1878); arrnistlcio Roma (2/jul.)
(26/mar.); Pazde Milão
(6/ago.)
1850 Cavour (1810-61) Pio IX retorna a Roma
.11 1850
torna-se ministro (12/abr.)
1852 Cavou r torna-se
J
1852 É abolida a
primeiro-ministro Constituição da
(4/nov.) Toscana
(6/maio)
1855 Piemonte entra na 11' 1855 Os austríacos
Guerra da Crirnéia i'l abandonam a
contra a Rússia Toscana
(26/jan.)
1856 Cavour no Congresso ,I 1856
de Paris
1857 Malogro da invasão ~ 1857 Pallavicino funda
da Sicília por Pisacane
I
a Sociedade
(10 Ijul.) Nacional Italiana
8 I 9
1 Quadro cronológico - continuação
Ano Piemonte Reino das Duas Estados Papais
Sicílias 1I Ano Os ducados Lombardia Venécia Geral
1858 Pacto de Plombiéres
com Napoleão III , 1858 Orsini tenta
120/jul.) assassinar
Napoleão III
11
114/jan.)
1859 Aliança com a França
126/jan,); ultimato 1859 Os governantes
austríaco a Piemonte da Toscana, de
123/abr,); guerra com Parma e de
a Áustria 129/abr,); Módena fogem
austríacos derrotados após revoluções
pelos franceses e I" (abrv-rnaio):
piemonteses em I1 assembléia de
Magenta 14/jun,1. pelos I Toscana aprova
franceses em Solferino I a fusão com
124/jun,) e pelos Piemonte
piemonteses em San 120/ago,)
Martino 124/jun,);
armistício entre a
Áustria e a França
18/jul.) que precedeu
a paz de Vilafranca
111/jul.) que obteve a
Lombardia para o
Piemonte; Cavour
renuncia 112/jul,),
1860 Cavour volta ao Desassossego na Sicflia Os patriotas aprovam
ministério 120/jan,); (abril) antecede o a incorporaçãoao 1860 Os ducados
incorporação dos desembarque de Piemonte (rnar.): aprovam a fusão
ducados trnar.): cessão Garibaldi 11807-82) rebeliões 18/set,); \ com o Piemonteda Sabóia e de Nice à em Marsala 11O/maio); soldados piemonteses I e são
França 11~/abr.) Garibaldi toma a ilha ocupam tudo exceto incorporados
em nome de Vítor Roma 111-29/set,), (rnar.]
Emanuel, navega para vencendo a batalha
o continente 118/ago,), de Castelfidardo
entra em Nápoles 118/set.)
17/set,) e vence a
batalha do Volturno
11~/out.): Garibaldi
entrega as regiões a
Vítor Emanuel f Zô/out.)
em Teano
10
continuação1 Quadro cronológico
Ano Reino da Itália
16
1861
17/mar.
1862
29/ago.
1866
18/abr.
20/jun.
24/jun.
20/jul.
3/0ut.
1867
3/nov.
1870
19/jul.
20/set.
o rei Vitor Emanuel II adota o titulo de "Rei da Itália"
Tropas italianas detêm, em Aspromonte, a marcha de Garibaldi
sobre Roma
A Itália alia-se à Prússia
A Itália em guerra com a Áustria
O exército italiano é derrotado em Custozza
A marinha italiana é derrotada em Lissa
Paz de Viena: a Áustria cede Venécia à Itália
Garibaldi é derrotado pelos franceses em Mentana
Deflagração da guerra franco-prussiana
Tropas italianas ocupam Roma
12,
0"'ti C_P'.'_
ÁUSTRIA·HUNGRIA
r-------
I:
I
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I
I
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Reino das
Duas Sicilias,
I
I
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I
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I
I
I
I
I
I
I:
I
I
I
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A unificação da Itália
1
Introdução
Em 1815, a Itália consistia de oito Estados distintos.
A maioria deles estava sob o controle direto ou indireto
da Áustria? e os que não estavam eram governados por reis
conservadores, absolutistas. Quarenta e cinco anos depois,
Piemonte-Sardenha, longe de se imaginar que fosse suficien-
temente poderoso para de saída dominar a península, deu
o primeiro rei à Itália e selou a unificação do país. Para
chegar a isso, foi preciso vencer a dominação estrangeira,
depor os governantes locais absolutos, e unir os diversos
entusiasmos de patriotas em apoio a um Estado pequeno e
conservador que ocupava apenas o extremo noroeste do
país e cujas classes superiores falavam habitualmente o fran-
cês, e não o italiano. E tudo deveria ser feito sem provocar
a intervenção repressiva das grandes potências, acostuma-
das, desde o século XV, a enxergar a Itália como seu par-
que de diversões. Nessas circunstâncias, não é de admirar
que, após consumada a unificação, Gladstone a descrevesse
como "uma das maiores maravilhas de nossa época".
O Risorgimento, movimento pela unificação da Itália,
foi considerado, por seus contemporâneos, uma vitória do
nacionalismo - força dominante na Europa de meados
14,
do século XIX. Para poder avaliar em que medida é exato
esse julgamento, é necessário desembaraçar os inúmeros
fios que teceram a "revolução nacional" da Itália; pois o
Risorgimento foi basicamente um processo durante o qual
muitas lutas convergiram para tornar-se uma só luta. Em
seu âmago, encontram-se duas forças motivadoras. A pri-
meira foi a busca de liberdade política dentro da Itália.
Os que lutavam por essa meta, espalhavam-se por todo
um espectro que ia da burguesia, que só queria reformar e
limitar os poderes dos monarcas absolutistas, até os demo-
cratas, como Garibaldi, que desejavam o envolvimento do
povo na política. A segunda força era a busca da indepen-
dência. O desejo de livrar-se da dominação estrangeira
opressora reunia basicamente os que estavam diretamente
sob o tacão austríaco, aqueles cujos governantes dependiam
das baionetas austríacas para se manter, e os que procura-
vam livrar-se do domínio de príncipes italianos "estrangei-
ros".
As facções implicadas em cada uma dessas lutas - e,
naturalmente, elas muitas vezes se relacionavam - de
modo algum concordavam a respeito de seus objetivos. E
nunca foi um resultado previsível que essas divergências
só tivessem solução mediante a criação de uma Itália unifi-
cada. A história do Risorgimento é o relato de como e por
que esses muitos grupos lutaram, primeiro, separados e fra-
cassaram e, a seguir, lutaram juntos e conseguiram êxito.
2
Correntes da
revolução, 1815-48
Durante a primeira etapa do Risorgimento, os auvis-
tas acreditavam nas técnicas de rebelião para derrubar os
monarcas impopulares. Seus métodos - conspiração e
insurreição - fracassaram. Este fracasso, contudo, contri-
buiu para o êxito a longo prazo do Risorgimento, pois aju-
dou, primeiro, a demonstrar que, para deflagrar uma
revolta, não era suficiente apenas recrutar um grupo pequeno
e dedicado de combatentes e esperar que outros seguissem
seu exemplo; para unir os homens era preciso haver uma
base ideológica aceita igualmente por todos. Em segundo
lugar, e de igual importância, o malogro dos ativistas e o
silencioso êxito dos homens de negócio e dos escritores con-
tribuíram para uma crescente consciência da identidade
nacional. Sem isso, não poderia ter havido uma revolução
"nacional". Até então, porém, idéias e ação constituíam
preocupação de apenas alguns poucos.
o legado napoleônico
De 1796 até 1815, a Itália esteve sob domínio francês.
Depois de 1815, o período de controle francês deixou para
16,
os patriotas um importante legado. Os ativistas de esquerda
podiam olhar com nostalgia para a república estabelecida
em Roma, em fevereiro de 1798, para as duas repúblicas
cisalpinas do norte, criadas em 1797 e em 1800, e para a
república partenopéia proclamada em Nápoles, em 1799.
Os monarquistas podiam voltar-se para o reino da Itália e
o reino de Nápoles instituídos nos últimos anos da domina-
ção francesa. Mais ainda, a eficiência da administração
francesa ofereceu um contraste chocante com o modo de
governar absolutista. Contudo, a conseqüência mais impor-
tante do domínio francês foi plantar na cabeça das pessoas
a idéia de que a Itália podia tornar-se um Estado unitário.
Buonarroti e os Carbonari
Durante mais de dez anos depois da Restauração da
monarquia, as sociedades secretas tramaram contra os gover-
nantes absolutistas. No norte da Itália, a Liga dos Mestres
Sublimes e Perfeitos, fundada em 1818 e dirigida por Filippo
Buonarroti, disseminava a conspiração a partir de seu quar-
tel-general em Turim. Sua meta imediata era a independên-
cia em relação à Áustria, e seu alvo final - revelado somente
a alguns - era uma sociedade comunista. No reino das
Duas Sicílias, seus equivalentes eram os Carbonari (nome
devido aos carvoeiros rurais), que haviam existido em Nápo-
les desde 1807 e cujo alvo principal era a Igreja.
No sul, os Carbonari aderiram a um levante de elemen-
tos do exército Bourbon, na noite de I? para 2 de julho
de 1820. Fernando cedeu rapidamente e outorgou uma ver-
são da Constituição radical espanhola de 1812 - que tinha
uma só câmara eleita -, e viu-se desde logo diante de um
levante separatista na Sicília. No Congresso de Laibach, a
26 de janeiro de 1821, Fernando obteve apoio europeu e,
com a ajuda de Viena, esmagou os rebeldes na batalha de
Rieti, a 7 de março de 1821.
17
No Piemonte, aristocratas liberais e burgueses demo-
cratas conspiravam para introduzir um regime constitucio-
nal e unificar a província com a Lombardia e Venécia em
um reino da alta Itália. A revolução estourou na noite de
9 para 10 de março e o rei Vítor Emanuel I abdicou imedia-
tamente em favor de seu irmão Carlos Félix. Como a Áus-
tria, a Rússia e a Prússia não aceitassem uma Constituição
piemontesa, Carlos Félix negou categoricamente que tivesse
alguma coisa a ver com ela. Com a ajuda austríaca, repri-
miu facilmente os rebeldes.
As revoluções de 1820-1 haviam deposto reis em Turim
e em Nápoles com aparente facilidade. Contudo, foram
esmagadas com igual facilidade pela intervenção austríaca,
realçando a importância da reação das grandes potências
a acontecimentos internos da Itália. Observando o destino
desses levantes, as pessoas começaram a vincular constitu-
cionalismo a independência, já que parecia que a liberdade
interna só podia prevalecer na medida em que os austríacos
não a sufocassem. Quando a revolução de julho de 1830
levou ao poder, na França, um regime constitucional, os
conspiradores tiveram a esperançade que a França manti-
vesse uma política de não-intervenção internacional e os
protegesse contra a Áustria. .
A revolução reberitou novamente em 1831, começando
em Módena e espalhando-se rapidamente para Parma,
Bolonha, Marcas e Úmbria. Ainda uma vez, carecia de
qualquer tipo de raízes firmes e de uma causa unificadora.
Havia um grupo que queria tornar Francisco IV, de Módena,
um feroz reacionário, o cabeça de um movimento nacional
liberal. De início, ele aprovou esse plano, mas depois mudou
de idéia e,mandou prender os conspiradores a 3 de fevereiro
de 1831, dois dias antes do começo previsto para a insurrei-
ção. Em Bolonha, o ressentimento fora crescendo diante
do atraso e das restrições do governo clerical. O intervalo
entre a morte de Pio VIII, a 30 de novembro de 1830, e a
eleição de Gregório XVI, a 2 de fevereiro de 1831, permitiu
;.
18
1 o amadurecimento da conspiração e, a 4 de fevereiro de
1831, estourou um levante em Bolonha. Francisco IV fugiu
imediatamente para Viena, em busca de ajuda, e a duquesa
de Parma refugiou-se com a guarnição austríaca de Piacenza.
Em Bolonha, a aristocracia e a alta burguesia tomaram as
rédeas das mãos dos conspiradores, e puseram-se a desmon-
tar o governo papal, expedindo uma Constituição a 4 de
março de 1831. A essa altura, a revolução foi solapada do
exterior. O futuro Napoleão III estava conspirando em
Roma, e Metternich, habilmente, colocou diante do rei Luís
Filipe da França o espectro do bonapartismo instaurado na
Itália central. A França reconheceu imediatamente que a
intervenção austríaca era uma "questão de família" - o
duque de Módena e a duquesa de Parma eram ambos mem-
bros da família real austríaca -, e os soldados austríacos
marcharam para esmagar a revolta, que terminou a 26 de
março, quando o governo provisório de Bolonha capitulou.
Maz~inie a Jovem Itália
Giuseppe Mazzini (1805-72) nasceu em Gênova, viveiro
do republicanismo e do nacionalismo, e cresceu em meio
ao acalorado debate que ali grassava entre revolucionários
e conservadores. Associou-se a um ramo dos Carbonari,
em 1827, mas logo se desiludiu com sua falta de um propó-
sito político claro: "Meu iniciador não emitiu uma só sílaba
que desse uma pista no que concerne a federalismo ou unida-
de, a república ou monarquia", escreveu mais tarde, "ape-
nas guerra contra o governo, nada mais que isso". Em
breve definiu seu próprio objetivo: libertar a Itália da ocu-
pação austríaca, do controle indireto exercido por Viena,
do despotismo principesco, do privilégio aristocrático e da
autoridade clerical. Preso em novembro de 1830, ficou
detido por pouco tempo, antes de ser libertado e exilado
no mês de janeiro seguinte. Enquanto estava na prisão é
111
19
que desenvolveu as idéias que o levaram a fundar a Gio-
vine Italia (Jovem Itália), em 1832.
A nova sociedade patriótica revolucionária de Mazzini
foi uma reação aos fracassos de 1820-1 e de 1831, a partir
dós quais concluiu que os velhos revolucionários haviam
sido cautelosos demais e que o movimento nacionalista ita-
liano havia atingido um ponto de maturidade que o colo-
cava à frente de sua liderança. Era, também, uma reação
aos levantes que se verificavam por toda a Europa em
1830-2, o que levava muitos a perceber que a revolta estava
no ar. Mais especificamente, Mazzini foi influenciado por
um livro publicado em 1831 por Buonarroti, intitulado
Reflexões sobre o governo federal aplicado à Itália. Nesse
livro, o velho revolucionário confessava haver abandonado
sua crença numa república federativa em favor de uma
república unitária, já que esta seria um caminho melhor
para evitar a desigualdade social e teria melhores condições
de defender-se.' Contudo, Buonarroti ainda acreditava que,
antes que qualquer coisa pudesse acontecer na Itália, deve-
ria haver uma revolução democrática na França. Mazzini
desprezava essa atitude de "esperar para ver", acreditando
que a Itália podia construir seu próprio futuro.
A Jovem Itália foi fundada, primeiro, sobre uma firme
crença no progresso, que havia sido sufocado pela Restau-
ração. Mazzini acreditava que Deus atribuíra missões tanto
a povos quanto a nações, e o vigoroso sentimento de nacio-
nalismo patriótico que conferiu à Jovem Itália alicerçava-
se em sua convicção de que os italianos podiam converter-
se numa nação-Estado e de que a Itália tinha uma missão
no mundo livre. A segunda característica importante do
movimento era sua ênfase em uma Itália unificada, em con-
traposição ao localismo de outros movimentos patrióticos.
Em terceiro lugar, Mazzini era um republicano: acreditava
que apenas essa forma de governo podia garantir a igual-
dade entre as pessoas.
Mazzini visava a combinar pensamento e ação pelo
duplo meio da educação e da insurreição popular. Em ter-
20,
mos práticos, foi singularmente malsucedido. Uma conspi-
ração articulada em Marselha, em 1833, para invadir a
Sabóia, foi denunciada, e uma outra, a seguir, no mesmo
ano, para um levante de patriotas em Nápoles, deu em
nada. Em fevereiro de 1834, uma pequena tropa de mazzi-
nistas atravessou a fronteira da Suíça para a Sabóia. Ao
ver que a população local não demonstrava entusiasmo
algum pela convocação para pegar em armas, logo bateram
em retirada.
O fiasco da invasão da Sabóia marcou o fim da pri-
meira fase das atividades de Mazzini e, em fevereiro de
1836, ele declarou que a Jovem Itália suspendera inteira-
mente suas atividades. O próprio Mazzini fugiu para Lon-
dres, em 1837, ali permanecendo durante os onze anos
seguintes. Em 1839, anunciou que ia reconstituir a Giovine
Italia, com o acréscimo importante de grupos de operários:
"No primeiro período de nossa existência trabalhamos pelo
povo, mas não com o povo". Contudo, permaneceu impla-
cavelmente hostil ao socialismo, acreditando que as classes
todas deviam unir-se na luta pela Itália, e não manter-se
separadas, umas contra as outras. E ele não tomava conhe-
cimento dos problemas agrários que atingiam tão profun-
damente a vida diária das massas camponesas em muitas
partes da Itália.
O exemplo de Mazzini gerou uma série de imitadores.
Os levantes na Sicília e no reino de Nápoles, em 1837, e
os continuados tumultos nos Estados Papais impeliram
Nicola Fabrizi a fundar a Legione ltalica (Legião Itálica),
.em 1839, e a procurar unir os diversos grupos de conspira-
dores. Um levante em Nápoles, planejado para 31 de julho
de 1843, jamais teve lugar, e os grupos que, abrupta e
desorganizadamente, se sublevaram nos Estados Papais,
foram logo esmagados e tiveram seus cabeças executados.
Os irmãos Bandiera, membros da Giovine Italia que haviam
fundado sua própria sociedade secreta, tentaram promover
uma insurreição na Calábria, em junho de 1844. Mas ela
21
fracassou e os dois irmãos foram presos e fuzilados. A agi-
tação era endêmica por quase toda a Itália, às vésperas de
1848, mas era de natureza local e de base muito estreita.
Havia pessoas persuadidas dos ideais mazzinistas; a grande
massa continuava firmemente desinteressada por eles.
Nacionalismo econômico
Nos anos anteriores a 1848, a maior parte da Itália era
economicamente atrasada. Sem contar a seda, os principais
produtos eram cereais, óleo, vinho, lã, algodão e linho,
produzidos principalmente para consumo local. Os merca-
dos externos eram de difícil penetração; devido ao obstá-
culo das altas tarifas impostas pela maioria dos países; e
uma acentuada tendência a aplicar os lucros excedentes na
terra, muitas vezes por razões sociais, privava a indústria
do investimento tão necessário. A Lombardia era exceção
nesse quadro geral. Ali, um clima favorável permitia o cres-
cimento das amoreiras, e a seda se tornou o produto predo-
minante. A partir de 1824, à medida que os mercados exte-
riores expandiam, os lombardos venderam inicialmente em
Londres e, depois, quando, primeiro, a seda indiana e,
depois, a chinesa e a japonesa passaram a predominar, des-
locaram-se para os mercados francês e alemão. Os produto-
res de seda lombardos irritaram-se com as tarifas restritivas
a eles impostas por Vienae opuseram-se energicamente às
pretensões austríacas de afastar seus negócios de seu tradi-
cional fluxo através de Gênova e de fazê-los deslocar-se
para Trieste, temerosos de assim se verem postos à margem
do desenvolvimento europeu.
Ainda que não diretamente interessados na unificação,
os homens de negócios da Lombardia foram ficando mais
interessados no progresso e no desenvolvimento econômico
à medida que desenvolveram seus negócios de exportação.
As regras do mercado e os desenvolvimentos da ciência e
22
I·,
da tecnologia eram de considerável importância para eles,
e surgiam jornais e revistas para fornecer a esses economis-
tas o conhecimento que procuravam. Nessa área é que se
podiam fazer ligações entre liberdade de comércio e liber-
dade do indivíduo. Escrevendo na Revista Comercial, de
14 de julho de 1847, Camillo Cavour, futuro primeiro-minis-
tro da Itália, colocou a questão com toda a clareza: "Esta-
mos convencidos de que, atuando no sentido de reduzir as
barreiras que nos dividem, estamos atuando para o pro-
gresso intelectual e moral da Itália, tanto quanto para sua
prosperidade material".
As barreiras tarifárias erguidas por uma Itália dividida
constituíam um obstáculo político ao desenvolvimento eco-
nômico. Outra conseqüência adversa da divisão política era
uma rede insuficiente de comunicações. Somente a Lombar-
dia possuía uma boa rede de estradas e de canais. O sis-
tema ferroviário era rudimentar; existiam apenas três
pequenos trechos de estrada de ferro no território contro-
lado pela Áustria, e mais um no Piemonte' e um em Nápo-
les. Regimes assim tão atrasados desanimavam e irritavam
os liberais moderados que contavam com aprimorar sua
situação econômica e obter vantagens das oportunidades
que podiam ser oferecidas por instituições financeiras, livre
comércio e boas comunicações de um sistema estatal mais
moderno.
11
I:
Nacionalismo cultural
!
Paralelamente aos ativistas republicanos, existia, em
1848, um influente grupo de moderados que propagavam
suas idéias por meio de livros e revistas. O nacionalismo
cultural foi proposto, pela primeira vez, na revista Antolo-
gia, fundada em Florença, em 1821, para difundir idéias
literárias num público nacional. Outro precursor da explo-
são literária da década de 1840 foi a revista Anais Univer-
1,
I,
,I
23
sais de Estatistica, Economia Pública, História, Viagem e
Comércio, fundada em Milão, em 1824. O Congresso de
Cientistas Italianos, que se reuniu pela primeira vez em
Pisa, em 1839, foi outra expressão da consciência nacional
bem como um veículo para a difusão de idéias progressis-
tas. Embora se excluísse formalmente qualquer discussão
política, os debates sobre problemas econômicos e sociais
continham, indiscutivelmente, um colorido reformista.
Uma enxurrada de livros de história publicados tornou
os liberais muito mais conscientes de seu passado nacional.
Em 1839, Troya editou o primeiro volume de sua História
da Itália na Idade Média. Nove anos antes, o conde Cesare
Balbo havia editado uma História da Itália sob dominio
dos bárbaros, à qual deu seqüência com um Sumário da
história da Itália, em 1846. A revista toscana Arquivo His-
tórico Italiano e a Sociedade Piemontesa para a História
Patriótica faziam parte do mesmo fenômeno.
O prirrieiro de muitos programas para a unificação sur-
gidos naqueles anos foi o Da primazia moral e civil dos ita-
lianos, de Vincenzo Gioberti, publicado em 1843. Católico
liberal, que acreditava que a tática de Mazzini havia malo-
grado, e que preferia depositar sua confiança nos príncipes,
Gioberti acreditava que um risorgimento italiano seria o
primeiro passo para a hegemonia mundial de uma Igreja
reformada. Propunha uma confederação de Estados sob a
liderança do papa, apoiada pelo Piemonte: a união da Itá-
lia, escreveu ele, "deve começar por onde estão presentes
predominantemente a fé e a força, isto é, na cidade sagrada
e na província guerreira". O Sumário da história da Itália,
de Balbo, contribuiu para dar uma base histórica ao con-
ceito do papa como defensor da liberdade italiana.
Um programa alternativo para a unificação surgiu
quando Balbo publicou Das esperanças da Itália, em 1844.
Afirmando que a monarquia piemontesa estava destinada
a liderar a Itália, colocou resolutamente a luta dentro de
um quadro europeu. Para que a Áustria fosse expulsa da
24
península, seria necessário o apoio das grandes potências.
Para Balbo, a tarefa inicial era a de estabelecer um corpo
de opinião nacionalista racional e moderado. O argumento
em favor do Piemonte como líder natural de uma Itália
unificada também foi colocado vigorosamente por Massimo
d' Azeglio em Os mais recentes acontecimentos na Roma-
nha (1846) e Proposta de um programa em prol da opinião
nacional italiana (1847). D' Azeglio sugeria ser do interesse
dos príncipes aliar-se aos moderados, que estavam procu-
rando livrar a Itália da reação: "Se os soberanos italianos
não quiserem que seus súditos se tornem liberais extrema-
dos", escreveu, "devem, eles próprios, tornar-se liberais
moderados". Seu programa incluía conselhos comunais elei-
tos popularmente, julgamento público por júri, leis de
imprensa progressistas, um sistema geral de estradas de
ferro e a derrubada das barreiras comerciais internas.
Por que haviam fracassado as revoltas? Os governos
absolutistas haviam-se mostrado vulneráveis ao primeiro
ataque, mas em condições de recuperar-se com ajuda externa.
Isso ressalta a importância do alinhamento internacional:
até o malogro do Concerto da Europa, em 1824-5, a Grã-
Bretanha esteve disposta a apoiar a intervenção pelas gran-
des potências onde quer que a ordem parecesse estar amea-
çada e, a partir de quando ela se retraiu, voltando-se para
suas preocupações internas, a Áustria manteve-se capaz e
disposta a atuar como o policial da Europa. Os revolucioná-
rios não tinham apoio do povo dentro dos Estados que pro-
curavam subverter, pela boa razão de que não se haviam
preocupado em considerar que isso fosse necessário. Onde
os moderados alcançaram algum êxito temporário, seu
intenso localismo impediu a formação de uma frente unida:
em 1831, o governo provisório da Bolonha não havia tido
o menor interesse em ajudar os rebeldes da vizinha Módena.
Mesmo em suas próprias localidades, havia faltado capaci-
dade às insurreições para galvanizar o apoio necessário:
uma doutrina dinástica artificial, tal como a que sustentava
25
o levante de Módena de 1831, e idéias vagas de uma assem-
bléia constituinte eram por demais incompreensíveis, e até
mesmo os lemas mazzinistas "República", "Progresso" e
"Associação" eram obscuros e ininteligíveis para quase
todo o mundo. Antes de 1848, não existia na Itália nem
uma situação revolucionária em que o descontentamento
generalizado pudesse funcionar como detonador, nem uma
ideologia unificadora que mantivesse acesas as chamas,
caso uma faísca houvesse acendido o fogo.
3
A primeira guerra do
Risorgimento, 1848-9
No correr de 1847, foram criados os ingredientes para
a revolução. Era necessária uma liderança de algum tipo
para centralizar o descontentamento, e o novo papa, Pio
IX, parecia disposto a oferecê-Ia. Suas palavras e seus atos
despertaram o entusiasmo dos que lutavam por um regime
de governo liberal constitucional, dos que lutavam pela
independência da Áustria, e dos que aspiravam a construir
uma Itália unificada. Criava-se, também, algo semelhante
a uma situação revolucionária, em conseqüência do agrava-
mento da difícil situação econômica do povo. O catalisador
foi a revolta na Sicília, que ocasionou a queda de muitos
governantes absolutistas. Outros haviam sido derrubados
antes, mas o que deu então à revolução seu momento de
êxito foi a ausência de intervenção estrangeira. A Áustria
estava preocupada em sufocar suas próprias revoluções, e
a França lutava com as dificuldades de depor a monarquia
conservadora dos Orléans e substituí-Ia pela Segunda Repú-
blica. Nenhuma outra grande potência mostrou qualquer
interesse em intervir. Uma vez mais, as lutas eram emfavor
da independência e da liberdade - mas seriam elas em
favor da Itália?
27
o advento da revolução
Em junho de 1846, Pio IX tornou-se papa. Sua reputa-
ção liberal confirmou-se quando anistiou muitos prisionei-
ros políticos, instalou comissões para estudar a reforma
dos procedimentos legais, civis e criminais, e anunciou um
programa de ferrovias. Essas ações deram origem a pres-
sões por mais reformas políticas, tais como liberdade de
imprensa e formação de uma guarda civil. Temores de que
uma conspiração clericalista estivesse em vias de aprisionar
o papa e massacrar os liberais levaram à formação de uma
guarda desse tipo em julho de 1847; no mesmo mês, os aus-
tríacos, alarmados com o que acontecia em Roma, ocupa-
ram Ferrara e ameaçaram marchar sobre as Legações
Papais, despertando uma onda generalizada de protesto
patriótico por toda a Itália.
No correr do outono de 1847, uma terceira força se
acresceu às do reformismo e do patriotismo. Depois de dois
anos desastrosos, a colheita foi melhor, mas os preços se
mantiveram elevados e a Itália foi então atingida pelos efei-
tos da crise econômica européia. Por toda a parte na zona
rural, mas particularmente na Sicília, os camponeses que
dependiam intensamente dos direitos comuns de pastagem,
de coleta de lenha e frutas silvestres, e de caça, tentaram
recuperar terras que haviam sido ilegalmente cercadas depois
de 1815. Uma tendência oculta de agitação camponesa mais
ou menos continuada estendeu-se por 1848 adentro, contri-
buindo para a instabilidade dos príncipes absolutistas.
No correr desse mesmo período, a repressão e a con-
cessão marcharam de mãos dadas na Itália. Distúrbios em
Milão e em Reggio Calabria foram sufocados, mas algu-
mas reformas menores na Toscana e no Piemonte excitaram
o apetite por maiores mudanças. As diferentes lutas come-
çavam a ligar-se umas às outrasna mente popular: a 8 de
novembro, quando Milão festejava a indicação de um ita-
28
liano, Carlo Bartolomeo Romilli, como arcebispo sucedendo
a um austríaco, as ruas vibraram com os gritos de "Viva
Pio IX, viva a Itália". A polícia reprimiu violentamente a
manifestação, matando uma pessoa e ferindo sessenta.
Em fins de dezembro de 1847, foi anunciado um novo
ministério em Roma, inteiramente composto por cardeais,
decepcionando os que esperavam um governo leigo. Houve
uma manifestação mais importante a 1? de janeiro de 1848
e o alarme público aumentou com as notícias de que os aus-
tríacos haviam marchado sobre Parma e Módena. Em Tos-
cana e em Gênova, os democratas moderados mobilizaram
a opinião pública em favor de uma guarda civil para prote-
ger e aumentar seus direitos.
Como parte da montagem de uma campanha antiaus-
tríaca na Lombardia, o professor Giovanni Cantori pediu
aos cidadãos de Milão que deixassem de fumar - o tabaco
era monopólio do governo - a partir de 1? de janeiro de
1848. Esse gesto ocasionou enorme reação. O vice-rei revi-
dou, mandando que a polícia saísse à rua com charutos
para, provocar a multidão e, então, prender os perturbado-
res. O exército austríaco juntou-se à ação e, a 3 de janeiro,
seis manifestantes foram mortos e cinqüenta foram feridos.
Os distúrbios deflagravam de alto a baixo na península,
ligados entre si pelo reformismo e pelo patriotismo antiaus-
tríaco, mas basicamente respondendo a situações e ocorrên-
cias locais. Uma ação de maior monta de alcance geral pode-
ria transformar os focos locais numa conflagração generali-
zada. Ela ocorreu bem ao sul, na Sicília.
A 9 de janeiro de 1848, apareceu um manifesto nas
ruas de Palermo instigando os sicilianos a pegar em armas
para recuperar seus direitos legítimos. Por trás dessas pala-
vras corajosas não havia qualquer organização concreta,
mas apenas um acordo entre um pequeno grupo de patrio-
tas em ir para as ruas e levantar o povo. Após um início
vacilante, a 12 de janeiro, a insurreição ganhou velocidade,
à medida que sicilianos de todas as classes se congregaram I
29
numa campanha para recuperar sua Constituição de 1812
e sacudir o jugo continental Bourbon. A 2 de fevereiro, o
comitê geral de Palermo assumiu poderes de governo provi-
sório e, em meados do mês, as únicas tropas dos Bourbons
que haviam permanecido na ilha foram encarceradas em
Siracusa e em Messina.
A insurreição difundiu-se para o território continental
a 17 de janeiro, e Fernando II sucumbiu rapidamente ante
o fantasma da revolução. Seu chefe de polícia e seu confes-
sor foram ambos exilados, formou-se um novo ministério,
e a 29 de janeiro um decreto do rei anunciou a introdução
de uma Constituição. Embora esta contivesse dispositivos
relativos a uma câmara eleita, o verdadeiro poder permane-
cia nas mãos da Coroa. O decreto foi recebido alegremente
em Nápoles e desdenhosamente rejeitado por Palermo. Con-
tudo, finalmente uma brecha fora aberta no muro do absolu-
tismo. A 8 de fevereiro, Carlos Alberto, rei do Piemonte,
cedeu às pressões e publicou um projeto de Constituição que
garantia a liberdade de imprensa e a liberdade de associação,
mas que mantinha a maior parte dos poderes nas mãos da
Coroa. A 15 de fevereiro, a Toscana fez o mesmo.
Em março de 1848, os compromissos entre os monar-
cas absolutos e os moderados haviam acalmado a agitação
por quase toda parte. Mas Palermo continuava a lutar pela
autonomia, e na Lombardia-Venécia se concentravam perto
de 70000 soldados austríacos a fim de reprimir distúrbios e
intervir em qualquer parte da Itália. As notícias sobre a
queda de Metternich, a 14 de março, e a introdução da Cons-
tituição austríaca dois dias depois foram o sinal para que o
norte da Itália tentasse livrar-se da dominação austríaca.
Cattaneo e Milão
Quando, a 17 de março, chegou a Milão a notícia da
queda de Metternich, os moderados, que queriam conces-
'1 31
30
I
sões da Áustria, associaram-se temporariamente aos radi-
cais, que queriam a insurreição. A figura-chave dessa aliança
foi Carlo Cattaneo (1801-69). Advogado que havia feito
um acurado estudo de economia, Cattaneo era um republi-
cano liberal, mas não um democrata. Era também federa-
lista, desconfiando do Piemonte como instrumento poten-
cial de opressão e desejando que um congresso italiano se
reunisse em Roma para decidir o futuro da Itália. Acima
de tudo, era um municipalista, mais preocupado com a
defesa da liberdade política em sua própria região do que
com a independência da Itália.
A luta contra as tropas austríacas começou em Milão,
a 18 de março, e os moderados, liderados pelo prefeito,
Gabriele Casati, pediram ajuda ao Piemonte "para expul-
sar o inimigo comum para além dos Alpes". As coisas mar-
chavam numa direção que pareceu perigosa a Cattaneo,
que foi excluído do governo provisório então constituído.
Depois dos "cinco dias gloriosos", Milão expulsou o
comandante austríaco Radetzky, que se retirou para Vero-
na, uma das duas únicas cidades na Lombardia-Venécia
que não se haviam libertado do ocupante. Então, Cattaneo
passou a compartilhar da sorte com os moderados e con-
cordou em adiar a discussão sobre a futura forma de governo
a guerra vinta (até que se vencesse a guerra). Sendo uma
vitória dos moderados, isso significou o triunfo da lealdade
local municipal sobre tudo mais.
O pedido de ajuda de Milão chegou a Turim na tarde
de 23 de março e, no dia seguinte, Carlos Alberto anunciou
sua intenção de auxiliar a Lombardia contra os austríacos,
manifestando-se a respeito do tema da libertação nacional
e mostrando confiar em "que Deus tivesse posto a Itália
em condições de ser capaz de agir por si mesma". O rei
do Piemonte percebeu a oportunidade de acrescentar a
Lombardia a suas possessões; queria, também, apoiar os
moderados e evitar a vitória do republicanismo milanês,
que ameaçaria seu próprio governo e possivelmente provo-
caria a intervenção das grandes potências.
I,
Cattaneo, que temia que o republicanismo milanês
fosse sufocado, caso o Piemonte assumisse o comando da
cruzada contra a Áustria, atuou no sentido de evitar que
o exército lombardo caísse sob controle píernontês. Tentou,
então,dissolver o governo moderado, convocar uma assem-
bléia lombarda e pedir a intervenção da França. Mazzini,
que chegara a Milão, causou-lhe transtorno ao realçar a
necessidade de primeiro obter a independência, enquanto
Cattaneo via como requisitos primeiros o estabelecimento
da república e da democracia. Os resultados de um plebis-
cito convocado por Carlos Alberto, publicados a 8 de junho,
confirmaram a derrota de Cattaneo. Chamados a votar a
favor ou contra a fusão com o Piemonte, 561 002 foram
favoráveis à anexação e apenas 681 a seu adiamento. Den-
tro de dois meses, as suspeitas de Cattaneo a respeito de
Carlos Alberto iriam confirmar-se.
A guerra de Carlas Alberta
A guerra nacional foi uma humilhação militar. O exér-
cito piemontês, inteiramente despreparado para uma cam-
panha ofensiva, marchou lentamente através da Lombardia
na direção de Verona, onde Radetzky aguardava reforços
de Viena, e não conseguiu evitar a chegada de uma tropa
austríaca de reposição. Junho transcorreu em inatividade,
enquanto Carlos Alberto aguardava os resultados do plebis-
cito lombardo. Estava, então, preparado para tomar par-
tido da Lombardia e dos ducados de Parma e de Módena,
mas estava sob a pressão das tropas que se dispusera a
enfrentar. Seu próprio governo não aceitaria outra solução
que não estivesse baseada na evacuação das tropas austría-
cas da Itália.
A 25 de julho, os exércitos de Radetzky venceram os
piemonteses na batalha de Custozza. Carlos Alberto pôs-
se em retirada, ciente de que só poderia começar a nego-
I.'---
32
ciar com Viena quando suas tropas estivessem fora da
Lombardia. O problema era Milão, que continuava sendo
um viveiro de republicanismo: se ela continuasse lutando,
com ou sem êxito, o exemplo de seu heroísmo se altearia
em gritante contraste com o malogro do exército regular e
daria novas esperanças ao republicanismo. O rei resolveu
a dificuldade retirando-se para a cidade e, a seguir, entre-
gando-a aos austríacos. Carlos Alberto anunciou o armistí-
cio com a Áustria a 10 de agosto, acrescentando que "a cau-
sa da independência italiana ainda não está perdida".
Nos meses seguintes, acontecimentos internacionais
voltaram-se contra a Itália. O comandante militar do impe-
rador Fernando, o príncipe Windischgratz, subjugou uma
revolta em Viena, a T? de novembro, e as pretensões de
uma mediação internacional entre Viena e Turim fracassa-
ram, quando se tornou claro que a França não interviria
em auxílio do Piemonte. Em novembro, as grandes potên-
cias haviam decidido que a Itália deveria retomar às fron-
teiras de 1815. Contudo, as forças internas que haviam sido
desencadeadas pela revolta não estavam dispostas a con-
cordar. Em dezembro, os democratas assumiram o poder
no Piemonte dispostos a prosseguir com a guerra, e não a
render-se à Áustria. Carlos Alberto foi hábil em aquiescer
a essas idéias: ele queria restaurar o prestígio perdido da
monarquia e voltar a entrar em Milão como libertador, e
os democratas estavam dispostos a lhe oferecer o comando
do exército - um ato político necessário, mas militarmente
imprudente.
A segunda rodada da guerra começou a 20 de março
de 1849 e terminou três dias depois com a derrota dos pie-
monteses na batalha de Novara. Carlos Alberto abdicou
naquela mesma noite em favor de seu filho mais velho,
Vítor Emanuel, e retirou-se imediatamente para a Espanha
- tão às pressas que se esqueceu de assinar um ato formal
de abdicação. Vítor Emanuel encontrou-se com Radetzky
em Vignale, na tarde de 24 de março de 1849 para discutir
33
as condições da paz. Mais tarde, difundiu-se uma lenda de
que, naquele encontro, o rei recusou a oferta de uma expan-
são do reino em troca da abolição da Constituição e de
abrir mão da bandeira tricolor vermelha, branca e verde.
Na verdade, Radetzky jamais propôs a abolição da Consti-
tuição, mas ofereceu a Vítor Emanuel uma paz mais branda
se ele estivesse disposto a voltar-se contra os democratas.
A isto o novo rei estava disposto, deixando perfeitamente
claro que não aprovava os democratas nem a retomada da
guerra e que se propunha a governar de maneira autoritá-
ria. Evidentemente, isso foi aceito pela Áustria, e o armistí-
cio foi acertado a 26 de março.
Manin e a república veneziana
Em janeiro de 1848, Daniele Manin (1804-57), eminente
político veneziano, solicitou que a Lombardia e a Venécia
fossem "verdadeiramente nacionais e italianas", exigindo
que Viena renunciasse ao controle do exército, da marinha
e das finanças e que se abolissem os dízimos e se introdu-
zisse a liberdade de expressão. Por causa disso, as autorida-
des austríacas puseram-no numa prisão, da qual seria liber-
tado por uma revolta popular a 17 de março, depois da che-
gada a Veneza da notícia da queda de Metternich. Cinco
dias mais tarde, notícias do levante em Milão impeliram
Manin a liderar uma revolta que rapidamente pôs abaixo
os austríacos. Durante os dezoito meses seguintes, Manin
foi a figura de maior destaque enquanto Veneza, primeiro,
tentava obter sua independência e, depois, lutava por ela.
Embora consciente de um sentimento nacional italiano,
Manin era primeiro e acima de tudo um municipalista,
como Cattaneo, e lutava por sua cidade. Em segundo lugar,
e com a mesma intensidade, era um republicano burguês,
sem qualquer ideal socialista. Visava a políticas iluminadas
- controle do preço do pão, elevação de salários e garan-
hr-'" T [lI
34
tia de emprego dos trabalhadores municipais. Como Catta-
neo, concordava também em deixar para mais tarde qual-
quer decisão a respeito da forma de governo de uma Veneza
independente a guerra finita.
Quando, a 8 de junho, a província da Venécia votou
maciçamente em favor da fusão com a Lombardia em um
novo reino constitucional, Veneza ficou sozinha para conti-
nuar sua cruzada contra a Áustria. Seguiu-se um período
confuso, em que alguns argumentavam em favor da fusão;
outros, de não abandonar a política ajustada de pospor as
decisões; e ainda outros, de solicitar a ajuda da república
francesa. Manin era cauteloso com CarIos Alberto, temendo
que ele vendesse a Venécia aos austríacos em troca da Lom-
bardia - coisa que, de fato, estava disposto a fazer. Então,
a 23 de junho, a repressão da insurreição dos trabalhado-
res de Paris deu fim a qualquer esperança numa interven-
ção da França para ajudar uma república irmã. Precisando
das tropas piemontesas para manter a independência de
Veneza, Manin deixou-se persuadir a aceitar a fusão, a 3
de julho. Três semanas depois o exército de CarIos Alberto
marchou para a derrota em Custozza.
Isolada e cronicamente carente de dinheiro - os
demais Estados italianos não comprariam bônus venezia-
nos, nem aceitariam papel-moeda veneziano - Veneza ainda
não estava inteiramente sozinha. O Piemonte tentou, uma
segunda vez, derrotar a Áustria pela força das armas e,
em março de 1849, a recém-constituída república romana
aproximou-se de Veneza com vistas à formação de um bloco
democrático. Manin foi obrigado a recusá-Io, pois tinha
necessidade do apoio militar piemontês, mas CarIos Alberto
deixou de ajudá-Io na batalha de Novara.
Depois de Novara, Veneza decidiu continuar lutando.
Foram em vão as esperanças de Manin de que a Grã-Breta-
nha e a França pudessem intervir para salvar a jovem repú-
blica: a Segunda República manifestou que não desejava
empreender aventuras arriscadas no exterior, e Palmerston
I
,
I
L-
35
disse, a 20 de abril de 1849, que o tempo era chegado para
a paz a qualquer preço. Num último lance diplomático,
Veneza aliou-se à Hungria, a 20 de maio de 1849. Final-
mente sozinha, após o colapso da república romana, carente
de alimentos e de munição, bombardeada pela artilharia
austríaca e assolada pela cólera, a cidade recebeu a notícia
do colapso da revolução húngara a 19 de agosto de 1849.
Imediatamente foram abertas negociações e, oito dias
depois, tropas austríacas entravam na piazza San Marco.
No dia seguinte, Manin partiu para o exílio.
A república romana
No correr dos primeiros meses de 1848, Pio IX tentou
acalmar a agitaçãopopular e fortalecer a autoridade papal,
embora ao pedir a bênção de Deus para a Itália ele excitasse
os patriotas. A 13 de março, foi outorgada uma Constitui-
ção e, quinze dias depois, após saber da notícia de levantes
em Viena e em Milão, Pio atendeu a um pedido do Pie-
monte e concordou em guarnecer de tropas a fronteira com
a Venécia para manter os austríacos ocupados. Premido
pela maioria leiga do governo, o papa permitiu que suas
tropas cruzassem o rio PÓ, a 20 de abril. Imediatamente,
a Áustria tornou pública sua hostilidade e, confrontado
com a possibilidade de um cisma na Igreja Católica, Pio
IX retirou-se da luta nacional, proclamando, a 29 de abril,
que não tinha ambições temporais. Os contemporâneos
encararam esse ato como uma traição; os historiadores têm-
se inclinado a vê-Io como a destruição de um mito artifi-
cialmente criado de um papa liberal.
Em' setembro, a situação nos Estados Papais era ten-sa.
Numa tentativa para recuperar o terreno perdido, o papa
nomeou PeIlegrino Rossi como cabeça da administração,
a 16 de setembro de 1848. Rossi deu início a um programa
de ordem pública, e suas medidas, entre as quais a diminui-
36
ção da liberdade de imprensa e a ampliação dos poderes da
polícia, despertou o ódio dos democratas. Ao abrir-se o par-
lamento, a 15 de novembro, Rossi foi assassinado. Nove
dias depois, o papa fugiu para Gaeta, em busca de refúgio
junto ao rei de Nápoles. Os deputados romanos entregaram
o poder a uma junta de três homens, respaldada por um
movimento democrático de massa nas províncias, e os patrio-
tas afluíram em quantidade para Roma, entre eles Giuseppe
Garibaldi. Em fins de dezembro, a junta anunciou a convo-
cação de uma assembléia a ser eleita por sufrágio universal
direto. A assembléia reuniu-se a 5 de fevereiro de 1849 e,
cinco dias depois, declarou Roma uma república.
Desde o momento de seu nascimento, começaram a
arregimentar-se forças contra a jovem república. A 8 de
fevereiro, chegaram notícias de que tropas austríacas haviam
voltado a ocupar Ferrara e sabia-se que tropas dos Bour-
bons estavam reunindo-se no sul. Quando chegaram as notí-
cias da derrota piemontesa em Novara, a 23 de março, o
poder foi entregue a um triunvirato de que fazia parte Maz-
zini. Roma estava, então, numa posição desesperada: a
Áustria e a França estavam ambas determinadas a promo-
ver a restauração do papa e nenhuma outra grande potên-
cia opunha-se a elas. Tropas francesas desembarcaram em
Civitavecchia, a 24 de abril, e marcharam sobre Roma, ata-
cando a cidade seis dias depois. No correr de maio, os aus-
tríacos avançaram para o interior dos Estados papais,
tomando Bolonha, Ancona e Perúgia; a república foi ata-
cada por Fernando lI; e 4000 espanhóis desembarcaram e
tomaram Terracina, na fronteira do reino de Nápoles. A 4
de junho, 35000 soldados franceses desencadearam seu
grande ataque. Após um mês de intensa luta, a cidade deci-
diu recebê-Ios "impassivelmente", a 2 de julho. Naquela
noite, Garibaldi abandonou a cidade para prosseguir com
a luta. Após uma tortuosa jornada, durante a qual faleceu
sua mulher, Anita, chegou a Gênova no ano seguinte, e
dali partiu para Liverpool e Nova York. Não regressou à
37
Itália por quatro anos. Nesse ínterim, Mazzini escapara de
Civitavecchia a 12 de julho, disfarçado e usando passaporte
norte-americano.
Nápoles e Sicília
Os rebeldes sicilianos, recusando-se a aceitar a conces-
são de Fernando II de um parlamento na ilha, sentiram-se
encorajados com o levante de Milão. Um governo provisó-
rio proclamou, a 13 de abril de 1848, que Fernando e seus
sucessores estavam banidos para sempre do trono da Sicília
e anunciou que, uma vez reformada a Constituição, seria
convocado um príncipe italiano para ocupar o trono. Esta
medida destinou-se a garantir o necessário apoio britânico
e a abrandar aqueles que temiam que o novo governo
pudesse ir longe demais na direção dos revolucionários que
queriam pôr em execução mudanças sociais.
No território continental, as notícias dos "cinco dias"
de Milão deram origem a distúrbios antiaustríacos (ver p.
30). Um núcleo de artesãos e trabalhadores de Nápoles
começou a disseminar idéias revolucionárias, mas os laz-
zari (as massas de pobres napolitanos) mantinham-se leais
a Fernando II. Os choques de abril e maio entre a Coroa
e o governo moderado terminaram quando Fernando II dis-
solveu a assembléia e a guarda nacional de Nápoles a 17
de maio. Os democratas do continente não fizeram qual-
quer tentativa para aliar-se aos camponeses que se agitavam
por quase toda parte, e em meados de julho os levantes
haviam sido esmagados. A 7 de setembro, o reacionário
Raffaele Longobardi assumiu o ministério do interior, e o
absolutismo foi restaurado no território continental.
Na Sicília, o separatismo era visto como se fosse a par-
teira da democracia. Em julho, após um trabalho de parto
de quatro meses, um parlamento eleito elaborou uma Cons-
tituição que, pelos padrões de então, era muito avançada,
38
uma vez que dela constava o princípio da soberania popu-
lar. O rei ofereceu, então, à ilha seu próprio parlamento,
exército e administração, mas isso foi enfaticamente recu-
sado. Então, a 28 de fevereiro de 1849, no chamado "Ato
de Gaeta", Fernando fez sua oferta final. A Sicília seria
governada por um vice-rei, mas teria seu próprio parla-
mento, finanças separadas, ministros sicilianos e funcioná-
rios públicos sicilianos. Aceitar isso significava capitulação;
rejeitar significava guerra sem apoio britânico ou francês.
A ilha tergiversou - e os moderados mudaram de posição
à medida que .perderam o controle os grupos que haviam
sido utilizados para expulsar os Bourbons, e se apresenta-
ram reivindicações socialistas de nacionalização de terras.
A 19 de março de 1849, Fernando anunciou que estava ter-
minada a trégua e, dez dias depois, o general Carlo Filan-
gieri deu início ao processo de retomada da ilha. As cida-
des caíram uma após outra e, finalmente, a 15 de abril de
1849, Palermo estava de volta às mãos dos Bourbons.
Por que malogrou a revolução de 1848-9? A primeira
e mais óbvia resposta é que o vácuo de poder deixado pela
retirada da Áustria foi apenas temporário. Assim que Viena
recuperou o controle de seus assuntos internos, ficou livre
para esmagar as revoltas italianas. Estas, por sua vez, não
tinham como obter apoio externo; apenas a França parecia
simpatizar-se com os revolucionários republicanos, mas
Luís-Napoleâo Bonaparte estava mais preocupado em tran-
qüilizar os católicos franceses quanto à sua moderação,
mediante a restauração do papa, do que em dar apoio à
jovem planta do nacionalismo. Em segundo lugar, as diver-
sas revoltas haviam, no fundo, sido localistas, e não nacio-
nalistas; símbolo disso era a bandeira da república vene-
ziana, que era a tricolor italiana, vermelha, branca e verde,
com o leão de São Marcos num dos cantos. Carlos Alberto
lutara pelo Piemonte; Cattaneo, por Milão; Manin, por
Veneza; os romanos, por sua república; e os sicilianos, por
39
sua ilha. Em 1848, ninguém lutou pela Itália. Em terceiro
lugar, os revolucionários estavam, ainda, politicamente divi-
didos; evidência disso é a suspensão do debate a respeito
da natureza do governo em Milão e Veneza a guerra vinta.
O malogro de 1848 foi de grande importância na histó-
ria do Risorgimento, pois ajudou a deixar claros alguns
fatos. A insurreição não funcionaria. Toda tentativa de
avanço exigia um esforço unificado para que pudesse ter
alguma chance de êxito. Um esforço desse tipo fracassaria
se não houvesse uma liderança comprometida que todos
pudessem aceitar. E qualquer programa político comum
não deve contrapor os que estão dispostos a lutar pela inde-
pendência; os nacionalistas da classe média não queriam o
socialismo a qualquer preço. Também era vital o apoio
estrangeiro para que se desse fim à dominação austríaca.
A diversidade de idéias e de metas havia dividido os patrio-
tas. O fracasso provocou o reconhecimento da necessidade
de encontrar um denominador comum. Mas, até que a per-gunta "Que espécie de Itália?" pudesse ser respondida com
certo grau de unanimidade, a unificação da Itália conti-
nuou sendo um sonho.
4
Que' espécie de Itália?
Mazzini e Cavour,
1849-59
Primeiras reações a 1848
o domínio austríaco restabeleceu-se rapidamente e
ampliou-se no norte da Itália, Na Lombardia-Venécia,
Radetzky instituiu uma política de repressão dura, o que
alienou as massas, e elevou de um terço o imposto sobre a
terra, irritando os proprietários fundiários. Tropas austría-
cas ocuparam a Toscana até 1855 e as Legações Papais até
1859; e Viena também sustentou os ducados de Parma e
de Módena. Os vínculos se estreitaram mediante um tra-
tado de comércio internacional entre a Áustria e a Lombar-
dia, em 1851, e, em 1852, mediante uma unificação alfande-
gária por cinco anos entre a Áustria, Parma e Módena.
No reino das Duas Sicílias, o regime constitucional termi-
nou em março de 1849, quando a câmara foi dissolvida.
Foram feitos alguns acenos ao separatismo siciliano,
mediante a criação de uma administração separada e de
um ministro para a Sicília, mas a ilha era governada por
um vice-governador e a autoridade última era do rei de
Nápoles. Durante essa dominação despótica, o campesinato
passava muito mal e a nobreza, bem: o odiado macinato
(imposto sobre os cereais) foi reintroduzido e aumentado,
41
mas o imposto sobre a terra foi mantido a 1%, e a nobreza
valeu-se da venda de terras anteriormente de posse coletiva
e, desse modo, ampliou seu patrimônio.
Começou, então, a autópsia de 1848, e com ela a extin-
cão do republicanismo mazzinista. A contestação teve iní-
cio, primeiro, com Giuseppe Ferrari, em Filosofia e revolu-
ção, publicado em 1851. Ferrari acreditava que a ajuda da
França era fundamental para o êxito de uma revolução ita-
liana e rejeitava a antiquada crença de Mazzini apenas
numa revolução política, afirmando que a Itália devia ter
também uma revolução social. Mazzini reagiu com a publi-
cação de uma manifesto que continha um vago esboço de
um programa sócio-econômico, e começou uma vez mais
a montar grupos conspiratórios nos Estados Papais, na
Toscana e na Lombardia. Nessa etapa, os republicanos e
os socialistas partilhavam a opinião de que uma revolução
italiana nacional só poderia vir como parte de uma revolu-
ção européia mais ampla e esperavam que a Segunda Repú-
blica francesa reacendesse as chamas de 1848. Suas esperan-
ças se frustraram quando o golpe de Estado de Luís-Napo-
leão Bonaparte, a 2 de dezembro de 1851, deu fim à existên-
cia da Segunda República.
Em Piemonte-Sardenha, as eleições de dezembro de
1849 deram origem a uma câmara dominada pelos conserva-
dores. Pressões vindas do rei e dos grupos de direita, no sen-
tido da suspensão do Statuto de março de 1848, podiam ter,
a essa altura, aniquilado o liberalismo piemontês, mas o pri-
meiro-ministro, Massimo d' Azeglio, foi bem-sucedido em
resistir a isso. Um segundo perigo era o de que o desenvolvi-
mento político piemontês pudesse ser paralisado dentro do
constitucionalismo monárquico conservador representado
pelo Statuto - nulla di piú, null di meno (nada mais, nada
menos). O que evitou isso, foi a pressão para reformar a
legislação eclesiástica e dar fim aos privilégios clericais, tais
como a jurisdição independente. A separação de Turim do
Papado, que então começava, foi um passo importante para
42
a criação de um novo foco para os sentimentos patrióticos.
A Igreja havia traído a revolução nacional e o governo cons-
titucional: o apoio ao Piemonte representou um golpe con-
tra ela, bem como um ponto em favor da Itália.
Mazzini e Pisacane: o malogro da insurreição
Em abril de 1853, Mazzini rebatizou seu partido como
Partido da Ação e modificou o quadro de associados para
aumentar a representação da classe operária. Sua tática
também mudou: reconhecendo que as cidades estavam
muito bem policiadas, determinou que se sublevassem as
massas rurais, mediante o exemplo de pequenos grupos de
patriotas. Quatro tentativas de sublevar o povo de Luni-
giana, entre setembro de 1853 e julho de 1856, fracassaram
inteiramente e, em conseqüência disso, Mazzini começou a
considerar uma aliança com os socialistas. Estes estavam
dispostos a manter relações operacionais éom ele, uma vez
que se haviam perdido todas as esperanças de ajuda externa
da França com o golpe de Estado de dezembro de 1851. A
nova associação justificou-se pela teoria da bandiera neutra
(bandeira neutra): as discussões ideológicas seriam suspen-
sas a fim de juntar elementos políticos distintos para um
programa de ação comum. Em conseqüência dessa mudança
de rumo na política, Mazzini estabeleceu um acordo com
um soldado inteligente, ainda que algo teimoso, Carlo Pisa-
cane.
Carlo Pisacane (1818-57) havia servido no exército do
rei de Nápoles, antes de aparecer em Londres, em 1847.
Ali se encontrou e associou-se com exilados republicanos e
socialistas, antes de regressar em 1848, para combater, pri-
meiro pelo Piemonte, a seguir, pela república romana. Pisa-
cane era um socialista com idéias bem evoluídas a respeito
dos interesses de classe e dos perigos de colaborar com as
classes médias. Não acreditava que os interesses do proleta-
43
riado e da burguesia pudessem chegar a um acordo político
e não tinha grande respeito pelos insurretos mazzinistas,
criticando particularmente o fato de não terem um programa
social: "Um povo que se rebela antes de saber que remédio
aplicar a seus males está perdido", escreveu ele.
Duas coisas impeliram Pisacane à ação. Ficou alar-
mado com as conseqüências da participação do Piemonte
na Guerra da Criméia (1854-6), a qual parece ter sido reco-
nhecida como a força mais capaz de unificar a Itália, uma
vez que se opunha energicamente às políticas de Cavour; e
acreditava que as forças antiburguesas tinham uma chance
de vitória, porque a repressão social e política havia che-
gado a níveis insuportáveis, enquanto os elementos conser-
vadores e antipopulares não possuíam suficiente coesão
para reprimir qualquer revolta. Isso parecia particularmente
verdadeiro no sul, e dois pequenos levantes na Sicília, em
novembro de 1856, estimularam o Partido da Ação a bus-
car obter êxito lá ..
Pisacane desembarcou em Sapri a 28 de junho de 1857
com uma tropa de cerca de 350 homens. Todos os indícios
eram maus: a organização local não estava pronta; as auto-
ridades haviam sido alertadas; os líderes locais haviam deci-
dido a não agir enquanto não houvesse claros sinais de que
o empreendimento teria êxito; e a maior parte dos campo-
neses estava fora, na Apúlia, trabalhando na colheita. Insur-
reições em Livorno e em Gênova, planejadas por Mazzini
para incitar seus moradores, deixaram de acontecer. Espe-
rando ter engrossadas suas fileiras com grande número de
camponeses entusiasmados, o grupo só recebeu a adesão
de um único homem idoso. AI? de julho, entrou em ação
contra tropas locais, sendo mortos cerca de 150 dos seguido-
res de Pisacane. Os sobreviventes foram encurralados no
dia seguinte; depois que os habitantes de uma aldeia vizi-
nha voltaram-se contra eles, e Pisacane foi morto. Sua
morte veio provar que'as massas estavam muito desprepara-
das para se associarem a revolucionários cujos objetivos
não compreendiam, e com os quais não se afinavam.
·
44
Cavour e a origem da predominância do
Piemonte
o conde Camillo Benso di Cavour (1810-61) nasceu
em Turim, segundo filho de um aristocrata conservador.
Após servir quatro anos no exército, renunciou a sua patente
em 1831 e viajou longamente pela Europa, visitando a
França, a Inglaterra, a Suíça e a Bélgica. Tornou-se um
especialista em desenvolvimento agrícola e comercial. Assis-
tiu também à revolução de julho, e isso o tornou, por toda
a vida, um adversário do republicanismo e do socialismo,
bem como do anti-racionalismo das dinastias conservado-
ras. Seu rumo político determinou-se precocemente; em
março de 1833, escreveu a um amigo: "Afirmo-lhe que sou
verdadeiramente favorável ao juste milieu, aspirando ao
progresso social, desejando-o e por ele trabalhandocom
todas as minhas forças, mas decidido a não pagar por ele
o preço de uma convulsão política e social generalizada".
Para refrear a anarquia, por um lado, e o despotismo, por
outro, Cavour desenvolveu um sistema baseado na liderança
de uma elite racional alicerçada num parlamento eleito pela
minoria instruída e responsável. Idéias como essas tornaram
conservadores Guizot, na França, e Peel, na Grã-Bretanha.
No Piemonte, fizeram de Cavour um liberal.
Cavour ingressou no governo piemontês, em outubro
de 1850, como ministro da agricultura, tornando-se pri-
meiro-ministro, pela primeira vez, 25 meses depois. A base
de sua predominância na política piemontesa, que manteve
até a morte, encontra-se na resistência conjunta por ele
engendrada, em fevereiro de 1852, entre os dois maiores
agrupamentos políticos do parlamento piemontês - seu
próprio partido de centro-direita e o grupo de centro-
esquerda de Ratazzi - contra a pretensão do rei de estabe-
lecer o julgamento sem júri para delitos de imprensa. Esse
connubio (casamento), como foi chamado, deu a Cavour
1I
III
II
II1
"
J
45
considerável liberdade de manobra. Um extenso corpo de
apoio no centro do espectro político habilitou-o a conter
os extremos do republicanismo mazzinista e do despotismo
monárquico; permitiu-lhe, também, alterar sua base polí-
tica de acordo com as circunstâncias, manobrando para a
direita, quando queria amordaçar a imprensa, ou para a
esquerda, quando queria estimular o sentimento naciona-
lista; e proporcionou-lhe uma base de apoio parlamentar
durante longo período de tempo. Contudo, Cavour foi acu-
sado de deixar atrás de si um amargo legado. Para alguns,
ele é o pai do transjormismo, a prática de reformular os
gabinetes a fim de incluir elementos dissidentes e furtar-se
a perigosas críticas parlamentares, amplamente presente
na Itália liberal e contra a qual o fascismo representou uma
reação. Ademais, o connubio impedia o crescimento de
um sistema pluripartidário; em lugar dele, a política italiana
passou a girar. em torno de líderes monolíticos singulares
- Cavour, Depretis, Crispi e, finalmente, Mussolini.
Cavour assentou bases econômicas sólidas para sobre
elas fundar a expansão do Piemonte. Acabou com o prote-
cionismo, concluindo tratados bilaterais com a França, Grã-
Bretanha, Bélgica e Áustria. Sob sua orientação geral,
introduziram-se novas técnicas na agricultura; expandiram-
se metalúrgicas, fundições e fábricas; a frota mercante cres-
ceu; o Banca Nazionale foi fundado; e expandiram-se as
ferrovias, as rodovias e o telégrafo. A posição da Igreja
também foi enfraquecida à medida que se aboliram os tri-
bunais eclesiásticos e os direitos de asilo e que se introduziu
o casamento civil. Em 1855, Cavour desafiou o rei e a
antiga direita, fazendo aprovar uma lei que suprimia todos
os conventos que não fossem dedicados à pregação, ao
ensino, ou ao cuidado dos doentes. Essas políticas anticleri-
cais começaram a indispor o Papado e, conseqüentemente,
atraíram democratas moderados e republicanos hesitantes.
Em 1852, Cavour encontrou-se com Napoleão IlI. Per-
cebeu rapidamente que a expansão piemontesa devia ter
46
apoio externo, fator que faltara em 1848; a 7 de setembro
de 1852, ele escreveu a um companheiro nacionalista,
Michelangelo Castelli: "nosso destino depende sobretudo
da França. Queiramos ou não, teremos de ser seu parceiro
na grande disputa que, mais cedo ou mais tarde, se irá tra-
var na Europa". A oportunidade veio em 1854. Posterior-
mente, certos historiadores do Risorgimento descreveram
o envolvimento piemontês na Guerra da Criméia como o
ato calculado de um estadista de larga visão, que progra-
mou obter a simpatia das grandes potências como primeira
etapa de um programa de expansão. A verdade foi muito
diversa. Cavour queria apenas arrancar de Viena algumas
concessões bastante desimportantes, mas Vítor Emanuel
estava ansioso por entrar na guerra - tendo até mesmo se
oferecido para comandar os exércitos aliados. A 9 de janeiro
de 1855, o primeiro-ministro soube, pelo representante fran-
cês em Turim, que o rei pretendia pô-lo para fora, introdu-
zir um primeiro-ministro conservador e entrar na guerra.
A ver a Coroa enganar o parlamento e impingir-lhe um
ministério, o que viria a interromper o progresso feito pelo
parlamento desde 1852, Cavour preferiu concordar com a
guerra.
No Congresso de Paris, que se seguiu ao término das
hostilidades, Cavour procurou utilizar a simpatia interna-
cional para enfraquecer a dominação austríaca do norte
da Itália. Seu esquema para depor os governantes Habs-
burgo dos ducados de Parma e de Módena falhou quando
a Grã-Bretanha se recusou a desmembrar o Império Turco
a fim de encontrar um principado no Danúbio para um
daqueles duques. Isso obrigou Cavour a reconhecer que
apenas negociações diplomáticas não fariam progredir a
causa piemontesa, e que havia "somente uma solução ver-
dadeiramente eficiente para a questão italiana: o canhão".
Cavour precisava da simpatia internacional para agir
contra a Áustria, e o governo constitucional do Piemonte
era um fator para assegurá-Ia. Precisava, também, atrair
47
os patriotas italianos para longe do republicanismo e do
socialismo. Giorgio Pallavicino, fundador da Sociedade
Nacional Italiana, teve nisto papel fundamental. Desde
1851, Pallavicino trabalhava incansavelmente para conver-
ter à causa do Piemonte aqueles que haviam participado
de 1848, argumentando que querer a independência era que-
rer os meios de obtê-Ia e que o único meio disponível era
o exército piemontês. Este e a opinião nacional eram, em
sua opinião, as duas "forças vivas da Itália", e ele plane-
jou ligá-Ias uma à outra. Isso significava convencer os
patriotas de colorações diversas a enterrar suas divergên-
cias até que a Áustria fosse posta para fora da península:
"Primeiro a independência, depois a liberdade". Ele con-
quistou primeiro Manin, depois Cattaneo e, finalmente,
Giuseppe Garibaldi, o carismático general guerrilheiro, cujos
bandos haviam tido um desempenho muito melhor do que
o exército regular. Cavour estimulou a Sociedade, formal-
mente fundada em 1857, a tornar públicas suas metas e a
organizar os voluntários que começavam a pulular no Pie-
monte, percebendo que isso atrairia para seu séquito os
muitos democratas que se desagradavam das técnicas de
Mazzini.
Os exércitos piemonteses e os voluntários entusiasma-
dos não bastariam para expulsar os austríacos do norte da
Itália. Para ser bem-sucedido, o novo nacionalismo italiano
precisava do apoio ativo da França. Paradoxalmente, a ten-
tativa de um carbonaro italiano, Felice Orsini, de assassi-
nar Napoleão III, a 14 de janeiro de 1858, foi o que impe-
liu Paris a apoiar Turim. Em seu julgamento, Orsini fez
um apelo apaixonado ao imperador francês para que tor-
nasse a Itália independente, afirmando que não haveria paz
na Europa' enquanto não o fizesse. Napoleão ficou impres-
sionado e, em maio de 1858, fez propostas secretas a
Cavour. Ofereceu uma aliança contra a Áustria em troca
de um casamento entre seu sobrinho e a filha de Vítor
Emanuel. Num encontro secreto em Plombiêres, a 20 de
48
julho - sobre o qual Cavour não consultou seu gabinete
-, firmou-se o acordo. Isto revela muito claramente os
objetivos limitados de Cavour. Após provocar uma guerra
com a Áustria, Napoleão propôs a divisão da Itália em qua-
tro partes: um reino da alta Itália, que incluiria Piemonte-
Sardenha, Lombardia, Venécia e a Romanha; Roma e seus
arredores, a serem governados pelo papa; um reino sepa-
rado da Itália central, talhado a partir do restante dos Esta-
dos Papais e da Toscana; e um reino do sul, sobre o qual
nada se dizia. Em troca da ajuda para realizar isso, Napo-
leão exigia o casamento piemontês bem como Nice e Sabóia.
O tratado da aliança foi assinado a 26 de janeiro de 1859,
e o casamento teve lugar quatro dias depois.
No último momento, a esmerada manobra de Cavour
pareceu estar à beira de dar em nada. Não só a Grã-Breta-
nha ofereceu-se como mediadora entre o Piemonte e a Áus-tria, como a França pareceu mudar de idéia. Então, a 23
de abril de 1859, a Áustria apresentou um ultimato a Turim,
exigindo que o exército piernontês fosse desmobilizado e
que os regimentos de voluntários organizados sob a égide
da Sociedade Nacional Italiana fossem dissolvidos. Cavour
recusou-se a atender à exigência e a guerra foi deflagrada
a 29 de abril.
5
o triunfo do Piemonte,
1859-70
Toda a habilidade diplomática de Cavour e sua ânsia
pela expansão não teria valido de nada, se não houvessem
sido favorecidas por um ambiente internacional favorável,
no momento em que o Piemonte desencadeou o que iria
tornar-se a conquista da Itália. A Rússia, ainda magoada
com o fato de a Áustria ter deixado de apoiá-Ia durante a
Guerra da Criméia, concordou em não intervir em favor
dela na Itália; e a Prússia, humilhada pela Áustria em
Olmütz, nove anos antes, quando procurara conseguir parte
do controle da Alemanha, não tinha melhor disposição
em relação a Viena. A França tendia a ver, na expansão
. do Piemonte no norte da Itália, um obstáculo para a Áus-
tria. E a Grã-Bretanha estava disposta a oferecer um apoio
ativo às ambições piemontesas.
A causa italiana era uma causa popular na Grã-Breta-
nha. Havia grande admiração pela cultura italiana; a legisla-
ção anticlerical do Piemonte agradava aos sentimentos anti-
papais; as minas de enxofre da Sicília e as ferrovias italia-
nas ofereciam oportunidades de investimento e de lucro;
Garibaldi era igualmente venerado como herói pelas classes
trabalhadoras e pela alta sociedade; e o rei de Nápoles era
50
detestado. A rainha Vitória expressou uma opinião profun-
damente sentida por todos ao escrever que "como um país
constitucional liberal, que ergue uma barreira contra os prin-
cípios tanto obscurantistas e absolutistas quanto revolucio-
nários [... ] [o Piemonte] tem direito de esperar de nós que
o apoiemos". Finalmente, a eleição geral de 1859 colocara
o leme da política britânica nas mãos de um primeiro-minis-
tro, Palmerston, que era antiaustríaco e calculava que dar
respaldo ao Piemonte reduziria o poder da França na
Europa continental. As circunstâncias favoreceram o Pie-
monte em 1859 e continuaram a fazê-Io até o momento
em que Roma foi afinal conquistada, onze anos mais tarde.
A guerra de 1859 e a anexação da Itália
central
Vítor Emanuel comandou um exército misto, composto
de 93000 italianos e 200000 franceses, apenas por dezoito
dias, durante os quais o exército austríaco não efetuou
nenhum avanço significativo, até que, a 14 de maio, che-
gasse Napoleão 111para assumir o comando supremo. As
tropas coligadas avançaram para Milão e os soldados fran-
ceses travaram sangrenta batalha em Magenta, a 4 de junho,
depois da qual os austríacos abandonaram Milão e recua-
ram para o leste. Nesse ínterim, os guerrilheiros de Gari-
baldi capturaram Bréscia e Saló, ao norte. Francisco José
assumiu então pessoalmente o comando das tropas austría-
cas e marchou com seu exército ao encontro das tropas alia-
das que avançavam. A 24 de junho, os austríacos foram
derrotados em batalhas simultâneas contra os franceses,
em Solferino, e os piemonteses, em San Martino.
Nesse meio tempo, a guerra estimulara uma seqüência
de levantes que fariam Cavour enfrentar um sério dilema.
Uma insurreição toscana, a 27 de abril, depôs o grão-duque
e fez de Vítor Emanuel 11 o protetor da província pelo
I
i
I:
51
tempo que durasse a guerra. Os governantes de Parma e
Módena fugiram após a batalha de Magenta e os ducados
pediram para ser anexados por Turim. Ao mesmo tempo,
as tropas austríacas foram chamadas de volta de Bolonha,
e a população concedeu o poder de "ditador" a Vítor Ema-
nuel. Rapidamente, as perturbações populares estenderam-
se para o sul através das Legações Papais e até a Úmbria
e as Marcas.
O nacionalismo disseminava-se mais rapidamente do
que esperara Napoleão 111.Continuar a guerra seria sofrer
baixas mais pesadas. Seria também colocar a Itália central
nas mãos do Piemonte. Em vez disso, Napoleão 111prefe-
riu propor unilateralmente um armistício, a 5 de julho,
aceito por Francisco José três dias depois. Os termos elabo-
rados pelos dois imperadores entregavam à França a maior
parte da Lombardia, que a transferiria a Turim; Venécia
continuava sendo parte do império austríaco; os governan-
tes da Toscana e de Módena deveriam voltar a seus tronos;
e o governo papal voltaria a impor-se às Legações. Cavour
quis dissuadir Vítor Emanuel de aceitar essas condições e
renunciou quando o rei se recusou a seguir sua orientação.
Uma vez que Venécia não havia sido entregue, de acordo
com o Pacto de Plombieres, Nice e Sabóia continuaram
em mãos piemontesas.
O sentimento popular atuava, então, em favor do
Piemonte. Uma assembléia representativa eleita em Tos-
cana, a 7 de agosto, proclamou, por unanimidade, a queda
definitiva da dinastia anterior e, treze dias depois, votou
em favor de tornar-se parte do reino constitucional de Vítor
Emanuel. Parma, Módena e as Legações Papais expressa-
ram o mesmo sentimento popular. Embora os quatro Esta-
dos centrais formassem uniões militares e alfandegárias,
os diplomatas piemonteses, presentes à Conferência de Paz
de Zurique, opuseram-se com êxito à idéia de que se nomeas-
se um regente para governar conjuntamente os quatro Esta-
dos.
~- w
52
Em janeiro de 1860, Cavour voltou ao poder, conven-
cido de que se poderia convencer a França a aceitar que o
Piemonte anexasse os quatro Estados centrais italianos, em
troca de Sabóia e Nice. Quando Napoleão 111 replicou com
a idéia de uma Toscana independente, o que seria um obstá-
culo à unificação, o primeiro-ministro decidiu recorrer à
democracia em apoio a sua diplomacia. Em março de 1860,
realizaram-se, na Toscana e Emília, plebiscitos baseados
em sufrágio universal, nos quais se apresentou aos eleitores
a escolha entre "anexação à monarquia constitucional do
rei Vítor Emanuel 11" ou um "reino em separado" de natu-
reza não-especificada. Em Emília, votaram 427512, de um
eleitorado de 526218 (81070), dos quais 426006 escolheram
a anexação; na Toscana, votaram 386445 dos 534000 (73%),
com 366571 favoráveis à anexação. Ambos os Estados foram
declarados, por um decreto régio, parte integrante do reino
piemontês-sardo e, a I? de abril de 1860, anunciou-se que,
em troca, Sabóia e Nice seriam entregues à França. No caso
destas, a democracia funcionou retrospectivamente: plebisci-
tos realizados a 15 e 22 de abril resultaram em esmagadoras
maiorias favoráveis à união com a França - 85% em Nice
e 97% na Sabóia.
Garibaldi e a Sicília
Na noite de 3 para 4 de abril de 1860, um mestre enca-
nador chamado Francisco Riso iniciou uma pequena insur-
reição em Palermo. Ela foi rapidamente debelada e treze
de seus cabeças foram fuzilados. Essa retaliação das autori-
dades Bourbons ocasionaram de imediato uma reação ines-
peradamente dramática: motins estouraram em outras cida-
des por toda a ilha e, em breve, grupos armados controla-
ram o interior, como haviam feito em 1848. A situação
revolucionária, pela qual esperavam os republicanos sulis-
tas, subitamente parecia estar desenvolvendo-se. Só faltava
1,,-
53
um líder para o movimento, e um eminente republicano sici-
liano, Francesco Crispi, pediu a Garibaldi que empunhasse
a bandeira da independência.
Garibaldi estava sendo pressionado a ir para Nice,
cidade em que nascera, para lá liderar uma campanha con-
tra o plebiscito. Mas convenceu-se a ir para o sul depois
que Crispi lhe mostrou um telegrama - provavelmente for-
jado - que dizia que a revolução se avolumava por todo
o interior da Sicília. Cavour preocupava-se profundamente
com as conseqüências internacionais, caso Garibaldi fosse
para a Sicília, para Nice ou para os Estados Papais, como
parecia estar cogitando fazer, na medida em que qualquer
um desses atos poderia provocar a intervenção das grandes
potências e fazer o Piemonte perder a boa vontade de que
vinha desfrutando. Não conseguiu deter a expedição, mas
impediu que o rei lhe desse apoio declarado.
Garibaldi desembarcouem Marsala a 10 de maio de
1860, acompanhado de seus famosos Mille (os Mil) - real-
mente 1088 homens e 1 mulher. Metade de sua tropa era
de origem burguesa, e a outra metade composta de arte-;
sãos e operários. O maior grupo de mesma origem provi-
nha da Lombardia, e havia apenas 45 sicilianos no destaca-
mento. Como seu grupo estava diante de 25000 soldados
dos Bourbons, que ocupavam a ilha, suas chances de êxito
pareciam muito pequenas. Qualquer que fosse o resultado,
Cavour esperava tirar proveito dele: escrevendo seis dias
após o desembarque, afirmava: "Se a insurreição siciliana
for esmagada, não diremos nada; se tiver êxito, intervire-
mos em nome da humanidade e da ordem". Sua esperança
era ou ver-se livre de um patriota, que era também um
democrata com simpatias republicanas, ou esvaziar o êxito
de seu incômodo aliado.
Duas forças vieram em ajuda de Garibaldi e permiti-
ram-lhe alcançar o impossível. Uma era o tradicional sepa-
ratismo das classes média e alta da Sicília. As tentativas
dos Bourbons para conquistar esses grupos, após as revolu-
--- ._-
S4
ções de 1820-1, pela renúncia às tarifas do selo e do tabaco
e pela não-reintrodução do recrutamento, não conseguiram
conquistá-Ios para Nápoles, em grande parte porque o
governo, no continente, insistia em tentar pressionar em
favor da reforma agrária. Esta ação também deu origem
ao segundo elemento que desestabilizou a Sicília: a agitação
camponesa. Com o fim legal do feudalismo, grandes senho-
res rurais punham em prática uma política cruel de cerca-
mento de terras comuns. O carnpesinato perdeu uma série
de direitos dos quais dependia para viver: cortar lenha,
colher bolotas de carvalho e castanhas, queimar calcáreo,
recolher restos de colheita e, mais do que tudo, pastorear
animais. Os lentos e incompreensíveis procedimentos legais
não os ajudavam nem um pouco.
A 13 de maio, Garibaldi anunciou que assumia a dita-
dura da Sicília em nome de Vítor Emanuel lI, e dois dias
depois obteve importante vitória sobre as tropas dos Bour-
bons em Calatafimi. A seguir, atacou Palermo; e o coman-
dante dessa cidade, não conseguindo obter nenhuma instru-
ção clara de Nápoles, capitulou a 6 de junho. Então, Gari-
baldi dividiu a ilha em 24 distritos, cada um com um gover-
nador, cancelou muitos dos impostos e tarifas dos Bour-
bons, entre os quais o odiado macinato, e expediu um
decreto dividindo as terras comunais entre os que haviam
lutado na guerra de libertação, ou seus herdeiros. Seguiram-
se graves dist úrbios à medida que os camponeses, total-
mcut c desinteressados de acompanhar Garibaldi ao territó-
rio coutiuentul, tentavam apossar-se das terras que haviam
sido ilcgulmcntc adquiridas a partir de 1812. A revolução
política, Garibaldi estava disposto a liderar; a revolução
social ultrapassava de muito o que ele podia admitir. As
armas de seus soldados voltaram-se contra o campesinato
em Bronte, a 4 de agosto de 1860, e muitos sicilianos come-
çaram a pensar que a anexação ao Piemonte oferecia o
melhor caminho para a estabilidade e a segurança.
~
SS
Cavour viu-se em posição muito difícil em conseqüên-
cia do êxito de Garibaldi. A França começou a pressionar
no sentido de um armistício de seis meses entre Nápoles e
a Sicília, e, uma vez que Garibaldi não dava sinal de estar
disposto a adiar seu salto para o território continental, avul-
tava o fantasma da intervenção francesa. Ademais, o rei
solapava ativamente a política de seu primeiro-ministro.
Vítor Emanuel escreveu a Garibaldi transmitindo, como
"sugestão", a proposta de que todas as tropas dos Bour-
bons deixassem a Sicília, se Garibaldi prometesse não
desembarcar em território continental, mas mandou-lhe
também uma mensagem secreta, aconselhando-o a respon-
der em termos respeitosos, mas a afirmar que se não agisse
contra o território continental os patriotas italianos iriam
censurá-Io. O que mais preocupava Cavour era que Gari-
baldi simplesmente se recusasse a desistir da ditadura que
assumira e que a estendesse a Nápoles.
Cavour tentou aniquilar o governo de Nápoles por den-
tro, mas fracassou nisso. Ordenou, então, que a marinha,
dissimuladamente, impedisse o mais possível a travessia de
Garibaldi, mas sua caça acabou cruzando os estreitos de
Messina na terceira tentativa, a 18 e 19 de agosto de 1860.
A 7 de setembro, após repelir uma frágil resistência, Gari-
baldi entrou em Nápoles para uma entusiasmada recepção;
dois dias depois, como temia Cavour, anunciou que, antes
da anexação, pretendia libertar Roma - ação essa fadada
a resultar na intervenção francesa. Foi então que Cavour
demonstrou até onde chegava sua habilidade diplomática,
ao persuadir Napoleão 11I a concordar que o Piemonte ocu-
passe a Úmbria e as Marcas, para reprimir uma insurreição
Iabricada, com a condição de que Roma se mantivesse
inviolável. As tropas piemontesas cruzaram as fronteiras
papais a 11 de setembro e, em dezoito dias, a campanha
estava terminada. Em um só lance, trouxera os exércitos
reais até a fronteira norte do reino de Nápoles.
56
AI? de outubro, os exércitos de Garibaldi derrotaram
30000 soldados dos Bourbons na batalha de Volturno. Con-
tudo, no momento mesmo de seu êxito militar, Garibaldi
estava em vias de enfrentar uma derrota política. Cavour
convocou o parlamento no dia seguinte, e este aprovou a
anexação do reino dos Bourbons mediante um decreto real
após um plebiscito. Este foi devidamente realizado deze-
nove dias depois. No continente, votaram 1312366 (79,50,70
dos eleitores inscritos), dos quais 1302064 optaram pela
união com a Itália "una e indivisível"; na Sicília, votaram
432720 (75,2% 'dos eleitores), dos quais 432053 votaram a
favor da união. Em nenhum dos dois casos, ofereceu-se
aos eleitores a opção de um reino em separado, como se
fizera na Emília e na Toscana. Frustrado em seus planos,
Garibaldi encontrou-se com Vítor Emanuel II em Teano,
a 26 de outubro de 1860, e cedeu-lhe a posse do reino Bour-
bon. Segundo algumas fontes, o rei respondeu saudando-o
como "meu melhor amigo"; segundo outros, disse apenas
"obrigado". As últimas tropas dos Bourbons na Sicília
capitularam quando a fortaleza de Messina tombou, a 13
de março de 1861, e onze dias depois rendeu -se a última
guarnição em território continental.
Os problemas de uma monarquia
parlamentar
o reino da Itália passou a existir formalmente a 17
de março de 1861, quando Vítor Emanuel adotou o novo
título. Seus problemas eram enormes. Uma economia atra-
sada baseava-se predominantemente na agricultura, e sua
capacidade de criar riqueza era, pois, extremamente limi-
tada. A grande massa da população vivia em condições da
mais abjeta pobreza e ignorância - um levantamento de
1864 estimava que, de cerca de 26000000 de pessoas, não
57 I'
mais de 12% eram alfabetizadas - e pouca lealdade manti-
nha além das relativas à família e à aldeia. E grande par-
cela do novo reino manifestava a maior relutância em acei-
tar e em submeter-se ao domínio piemontês: entre 1861 e
1865, travou-se uma guerra civil, no sul, contra grandes
grupos de bandoleiros, e, quando ela terminou, muitas
dezenas de milhares de civis haviam morrido. Essa guerra
foi em grande medida de origem social, tendo muito a ver
com a lentidão do governo em distribuir as glebas e com o
fracasso dos camponeses em conseguir uma mínima parcela,
mas muitos a viram como um fato político indicativo de
que a Itália ainda não estava preparada para a completa
unificação.
A estrutura do futuro sistema de governo apresentava
dificuldades maiores. Deveria a Itália ser centralizada,
como a França, ou descentralizada, como os Estados Uni-
dos, ou deveria situar-se em algum ponto intermediário não
determinado? De início, foi proposto que o país fosse divi-
dido em umas sete ou oito grandes regiões dirigidas por
governadores indicados pela Coroa, mas essa proposta foi
criticada com diversos fundamentos: as regiões eram de
dimensões extremamente variadas, algumas delas não cons-
tituíam entidades históricas, e o sul era grande demais para
ser uma única região dessa natureza.Por trás dessas críti-
cas estava o temor de que essas regiões pudessem tornar-
se autonomistas, e também, talvez, o fantasma do "gover-
nador ultrapoderoso". Em fins de 1861, a idéia regional
havia malogrado, sendo substituída pela introdução de pre-
feitos para controlar províncias - em muito maior número,
mas consideravelmente menores em tamanho. Essa estru-
tura foi 'incorporada às leis sobre unificação legislativa e
administrativa, de março de 1865, que confirmou o poder
da Coroa de indicar prefeitos e nomear governadores das
províncias, e que atribuía ao governo central muitas das
responsabilidades que anteriormente cabiam às províncias,
S8
tais como a construção e a manutenção de estradas. Para
a Lombardia, particularmente, a nova estrutura represen-
tou notável perda de autonomia. A Igreja e o Estado foram
formalmente separados no Código Civil Italiano, instituído
em janeiro de 1866, que reconheceu a legalidade do casa-
mento puramente civil.
O sistema eleitoral, introduzido em 1861, instituiu colé-
gios eleitorais que escolhiam 443 deputados para a câmara
baixa do parlamento; os membros da câmara alta, ou
Senado, eram indicados pelo rei. Para ser eleitor, era pre-
ciso ter pelo menos 25 anos, saber ler e escrever, e pagar
pelo menos 40 tire de impostos diretos por ano. Essas res-
trições resultaram num eleitorado de 418696, ou menos de
2% da população. O contraste com os plebiscitos de 1860
é chocante. Mesmo essa diminuta "nação política" tinha
pouco interesse pela política nacional: nas eleições realiza-
das a 27 de janeiro de 1861, apenas 239583 incomodaram-
se em votar. Mais importante, talvez, foi a eleição geral
de outubro de 1865, que assistiu ao surgimento de uma
esquerda constitucional que rejeitava as idéias mazzinistas
e preferia atuar pela reforma dentro do quadro de uma
monarquia constitucional. Os conservadores moderados
(conhecidos como a destra, ou direita) venceram aquela elei-
ção, mas a esquerda elegeu perto de 120 deputados e, onze
anos depois, esse grupo derrubou os herdeiros de Cavour.
Roma e Venécia permaneciam ainda fora do controle
do novo reino. A 25 de março de 1861, Cavour afirmou
publicamente que Roma devia ser a capital da Itália, mas
acrescentou que o novo reino devia chegar lá com o apoio
da França. A barreira aparentemente insuperável para isso
era o fato de o Papado não abrir mão de seu poder tempo-
ral. Os políticos procuravam resolver a questão romana
por via diplomática, enquanto Vítor Emanuel II e Garibaldi
queriam resolver ambas as questões pela força. O rei insti-
gou Garibaldi a pensar em outra expedição, talvez à Hun-
I
~
S9
gria, de onde a Itália podia apoderar-se de Venécia; porém,
quando, em Marsala, em julho de 1862, o herói da guerrilha
proclamou "O Roma, o morte" (Roma ou a morte), o rei
apressou-se a publicar uma proclamação desaprovando o
empreendimento. Garibaldi livrou-se das autoridades e atin-
giu o território continental ao sul, mas foi brecado por tro-
pas italianas em Aspromonte, a 29 de agosto de 1862. Como
afrouxar o controle austríaco no nordeste e como fazer a
França concordar com o desaparecimento do Estado Papal,
que Napoleão Il l restaurara em 1849, continuaram sendo
problemas de dificuldade aparentemente insolúvel. Quando,
em 1864, Napoleão 1I1 apoiou a transferência da capital ita-
liana de Turim para Florença, assim o fez na crença de que
isso indicava o abandono das aspirações romanas.
A guerra de 1866
O catalisador inesperado que reajustou o equilíbrio
internacional de poder de modo a permitir que a Itália com-
pletasse sua unificação apresentou-se sob a forma da ambi-
ção prussiana. Em princípios de julho de 1865, Bismarck,
chanceler da Prússia, sondou o governo italiano quanto a
sua atitude na eventualidade de uma guerra entre a Prússia
e a Áustria. Nessa etapa, a França não estava disposta a
dar sua bênção a tal guerra, mas, em fevereiro de 1866,
quando Bismarck pediu uma aliança militar com a Itália,
preparatória da guerra, Napoleão 11I mudou de idéia. A
18 de abril, foi assinada uma aliança defensiva-ofensiva
que obrigava a Itália a declarar guerra à Áustria tão logo
a Prússia desse início às hostilidades, em troca do que rece-
beria Venécia e a província de Mântua que lhe havia sido
tomada em 1859. Como nenhum dos dois signatários con-
fiasse no outro, o tratado tinha a curta duração de três
meses. Viena procurou destruir aquela parceria, oferecendo-
se a ceder Venécia à França, que a repassaria a Vítor Ema-
11
60
nuel, caso a Itália voltasse atrás no acordo feito. A Itália
não podia concordar com esse esquema, porque Napoleão
III apenas lhe entregaria Venécia sob a condição de que a
Itália aceitasse o domínio papal em Roma. Vítor Emanuel
lI, como sempre, estava ansioso por guerrear, e a Itália
não tinha de fato outra escolha senão acompanhá-Io.
A guerra, que começou a 20 de junho de 1866, caracte-
rizou-se por uma falta de coordenação entre a Itália e a
Prússia e por desconfianças e rivalidades no seio do alto
comando italiano que destruíram a coesão militar. Quatro
dias depois do início das hostilidades, o exército italiano
foi derrotado na batalha de Custozza. O exército prussiano
teve melhor sorte em Kõniggrãtz, a 3 de julho, e cinco dias
depois Bismarck começava a discutir condições com seu
adversário derrotado. A Itália recusou-se a interromper
suas operações de guerra, na esperança de tomar o Tren-
tino, onde as unidades de Garibaldi penetravam com grande
êxito. A 20 de julho, foi a vez de a marinha italiana ser
humilhada nas mãos da Áustria, na batalha de Lissa, e no
dia seguinte a Prússia anunciou uma trégua. Incapaz de,
por si só, levar avante a luta, a Itália perdeu as esperanças
de conquistar o Trentino, por enquanto, e suspendeu a
guerra. De acordo com as condições da Paz de Viena, assi-
nada a 3 de outubro de 1866, a Áustria cedia Venécia à itá-
lia e reconhecia o novo reino; num plebiscito realizado
dezoito dias mais tarde, 647486 venecianos aprovaram a
união com a Itália, com apenas 60 votos contrários. Sendo
agora Roma o único ponto que restava a resolver, a Itália
pôde então afrouxar os vínculos com a França, o que mui-
tos consideraram humilhante - ainda que necessário.
o final romano
Problemas internos relegaram por algum tempo a ques-
tão romana a segundo plano, após a guerra de 1866. A
61
situação financeira da Itália era desesperadora, e foi neces-
sário tomar medidas para reduzir a vultosa dívida nacional
decorrente da unificação: entre elas, a introdução generali-
zada do macino a partir de janeiro de 1869. Havia, também,
um problema permanente de desordem interna, de que foi
exemplo a revolta de Palermo de setembro de 1866. A Sicí-
lia era um terreno fértil para qualquer tipo de agitador,
devido a seu tradicional separatismo, pelo fato de o governo
haver deixado de cumprir sua palavra e vendido as terras
eclesiásticas, ao invés de distribuí-Ias por sorteio, e porque
a supressão dos conventos, parte do programa anticlerical,
havia posto fim às obras de caridade de que os mais pobres
sempre haviam dependido. Uma confusa rebelião, em que
as multidões entoavam um slogan de apoio à República, à
Coroa e à Igreja, estendeu-se de 15 a 22 de setembro,
quando foi esmagada pelo exército. Para manter a ordem
daí para a frente, o governo realizou entendimentos infor-
mais com a Máfia.
Na primavera de 1867, Garibaldi começou a ficar
inquieto novamente, e em março começou a planejar uma
insurreição no Lácio. Quase todo mundo se opôs a esse
plano, exceto Vítor Emanuel 11, que, veladamente, estimu-
lou o "Leão de Caprera". Os motivos do rei não eram,
porém, perfeitamente fáceis de compreender, pois, particu-
larmente, disse que pretendia perseguir os garibaldistas
dentro dos Estados Papais e "massacrá-Ios de modo que
não restasse um só deles". Apesar de estar sob vigilância,
Garibaldi escapuliu de seu refúgio na ilha de Caprera e
chegou à fronteira papal a 23 de outubro para assumir o
comando dos voluntários que ali o aguardavam. Um levante
planejado para ocorrer no dia anterior emRoma fracas-
sara, cortando pela raiz as bases da expedição, e a che-
gada de tropas francesas, para proteger o papa, selou o
destino de Garibaldi. Seus voluntários foram definitiva-
mente derrotados na batalha de Mentana, a 3 de novem-
bro de 1867, principalmente pela assustadora potência do
novo rifle chassepot.
62
Em fins de 1867, a questão romana parecia encontrar-
se num impasse sem solução. Os franceses afirmavam publi-
camente que a Itália jamais se apoderaria de Roma e os
italianos proclamavam que, mais cedo ou mais tarde, ela se
tornaria a capital da Itália. Os políticos conservadores con-
tentavam-se em aguardar o desenrolar dos acontecimentos e,
em julho de 1870, a deflagração da guerra franco-prussiana
ofereceu uma oportunidade. Vítor Emanuel 11 pretendeu,
desde logo, participar dela ao lado dos franceses, calculando
que eles venceriam e que, a seguir, agradecidos, abririam
mão da Cidade Sagrada, mas foi contido por seus ministros
mais prudentes. A notícia da batalha de Sedan e da declara-
ção da Terceira República, que chegou à Itália a 5 de setem-
bro, inflamou o gabinete para a ação e foi decidido tomar
Roma sem mais delongas. Às 5 horas e 15 minutos da manhã
de 20 de setembro, a artilharia italiana começou a abrir uma
brecha nos muros de Roma, na Porta Pia, e às 10 horas e
10 minutos a batalha havia terminado. A tomada da cidade
custou a vida de 49 soldados italianos e 19 da guarda papal.
Ao contrário das três guerras anteriores do Risorgi-
mento, este último ato mostrou-se insípido e destituído de
um princípio estimulante. Para compensar isso, fizeram-se
planos para que Vítor Emanuel 11chegasse em marcha triun-
fal ao centro da nova capital, passando pelo Fórum Romano
e pela Via Sacra, mas esses planos deram em nada. Final-
mente, o rei entrou sub-repticiamente em Roma, em dezem-
bro de 1870,para inspecionar os danos causados pela enchente
do Tibre. Ao descer de sua carruagem à porta do palácio
Quirinal, voltou-se para o general Marmora e murmurou
"Aqui estamos nós, finalmente". Bem a propósito, as pala-
vras foram pronunciadas não em italiano, mas em piemontês.
Foram ideais e ambição que, em conjunto, criaram
uma Itália unificada. Os ideais encontravam-se principal-
mente na esquerda. Os mártires que morreram diante de
esquadrões de fuzilamento austríacos ou napolitanos santi-
63
ficaram a luta pela independência. A Jovem Itália manteve
vivos os ideais com seu compromisso com a ação; e Maz-
zini proporcionou tanto uma ideologia política quanto uma
convicção furiosamente nacional de que a Itália podia e
devia passar a existir. Os êxitos militares de Garibaldi e seu
surpreendente carisma pessoal obtiveram vitórias para a Itá-
lia no campo de batalha e nos salões de recepção da Europa.
Mas ele era tão violentamente democrático quanto decidida-
mente nacionalista. Em 1860, dificilmente esses ideais podiam
harmonizar-se e, em Teano, em novembro, Garibaldi
demonstrou que sua maior lealdade era para com a Itália.
Contudo, continuou apegado aos ideais democráticos e
envolto numa vaga aura de republicanismo, constituindo,
assim, uma ameaça ao Estado que Cavour havia instituído.
A ambição era do Piemonte, e, embora partilhada por
Cavour e Vítor Emanuel, estes eram herdeiros de um desejo
existente há muito tempo: segundo o cardeal Richelieu, o
grão-duque CarIos Emanuel I, do Piemonte (1580-1630),
dissera-lhe certa vez que a Itália era "como uma alcachofra,
que deve ser comida folha por folha". A contribuição de
Cavour ao Risorgimento foi a de criar um Estado constitu-
cional que as grandes potências consideraram tolerável e
os patriotas italianos acabaram por considerar aceitável.
Em 1859, ele teve a habilidade de beneficiar-se da oportuni-
dade que lhe foi oferecida pela simpatia britânica e fran-
cesa pelo Piemonte. Daí para frente, e até sua morte, em
1861, teve de exercitar todas as suas notáveis artes de mani-
pulação para proteger a recém-nascida Itália contra Gari-
baldi, que queria ir longe demais e demasiadamente rápido.
6
o Risorgimento
na história
Uma vez que cada um dos regimes que governaram a
Itália desde 1870 têm, em algum momento, reivindicado
para si a verdadeira herança do Risorgimento, o passado
veio a ter, na Ítália, uma importância política magnificada.
Críticos de cada um e de todos esses regimes têm apontado
os defeitos do Estado italiano criado em 1870. O resultado
tem sido um debate vivo - e por vezes violento _ a res-
peito do passado que habitualmente tem sido avaliado em
termos de "êxito" ou "fracasso".
Os historiadores dinásticos de fins do século XIX for-
jaram um Risorgimento em que a casa de Sabóia havia sido
o porta-bandeira do constitucionalismo liberal, aliando-se
a quaisquer forças progressistas que estivessem a seu alcance
para o bem maior do povo italiano. Ao fazê-Io, apenas imi-
taram Vítor Emanuel 11, que, em 1851, espalhava perma-
nentemente a lenda do "rei liberal", proclamando haver
pessoalmente salvo a Constituição em 1849 (ver p. 32 aci-
ma). Logo outras lendas se acrescentaram ao lote: por
exemplo, que Vítor Emanuel desejara continuar lutando,
em julho de 1859, mas fora impedido por Napoleão Ill, o
que é completamente falso. As primeiras histórias do Risor-
65
gimento douraram o papel desempenhado pela Coroa sim-
plesmente omitindo documentos que contrariavam essa ima-
gem, ou traduzindo erroneamente fontes estrangeiras. O
"Risorgimento heróico" de fins do século XIX foi, desse
modo, um alvo fácil para o ataque dos historiadores libe-
rais do século XX, que começaram a revelar as imperfei-
ções da monarquia.
Esse "desmascaramento" prosseguiu durante o período
fascista. De modo algum o fascismo vivia muito à vontade
lado a lado com a monarquia, e trabalhos que demonstras-
sem as deficiências da casa de Sabóia não deixavam de ser
incentivados. Contudo, a historiografia fascista procurava
enaltecer os elementos de poder e de grandeza nacional,
enquanto davam pouco destaque ao tema da liberdade. Os
historiadores também pintavam o Risorgimento como um
processo contínuo de integração das massas na nação, o
qual culminava no fascismo. Em busca de figuras heróicas
que justificassem Mussolini, Garibaldi foi às vezes descrito
como precursor de D' Annunzio, e a expedição a Sapri (ver
p. 43 acima) foi decantada como a verdadeira precursora
da Marcha sobre Roma de 1922.
Críticas acerbas forarri feitas ao Risorgimento, nas
décadas de 1920 e de 1930, pelo marxista italiano Antonio
Gramsci. Embora, por temperamento, mais inclinado ao
Partido da Ação, liderado por Mazzini e Garibaldi, do que
aos moderados burgueses de Cavour, Gramsci criticava
Mazzini e Garibaldi por seu fracasso em mobilizar as mas-
sas rurais camponesas, como haviam feito os jacobinos no
início da Revolução Francesa. Essa rivoluzione mancata (re-
volução malograda) foi, ao ver de Gramsci, o fato central
que condenou a Itália ao liberalismo e, a seguir, ao fas-
cismo. Para ele, o Partido da Ação deixara de desenvolver
a tríade de partido, programa e agitação das massas rurais,
que eram as coisas essenciais para uma revolução bem-suce-
dida e, desse modo, não passaram de propagandistas dos
moderados. A teoria da traição, de Gramsci, foi precipi-
66
tada em tomar o exemplo da revolução de fevereiro de
1917, na Rússia, como um tipo ideal. Historiadores socialis-
tas criticaram-no com base no fato de que a aliança natu-
ral entre o proletariado industrial que lidera e o proletariado
rural que o segue e apóia, única coisa que poderia ter pro-
duzido uma reviravolta histórica, foi impossível devido ao
atraso da industrialização na Itália.
A descrição do Risorgimento como "a revolução dos
ricos" é difícil de contestar, mas da Segunda Grande Guerra
para cá a acusação de fracasso de Gramsci tem sido refu-
tada por historiadores neoconservadores com base princi-
palmente em duas coisas: primeiro, que uma aliança entre
a burguesia e o campesinato, que - como vimos - vez
por outra veio a suceder, jamais poderia ter-se tornado a
base permanente da unificação, uma vez que cada um des-ses grupos buscava metas diferentes e, por isso, estavam
fadados a se desunirem assim que um dos dois houvesse
atingido aquelas metas; e, em segundo lugar, que, em todo
caso, uma revolução camponesa, se houvesse ocorrido, teria
atacado a burguesia fundiária, cuja acumulação de capital
foi um pilar fundamental da arrancada industrial e econô-
mica da década de 1890. Sem o excedente produzido por
um campesinato sem terra ou adscrito, essa arrancada pode-
ria não ter acontecido. Essas opiniões são ainda muito con-
trovertidas especialmente na esquerda política.
Historiadores não-italianos têm muitas vezes acentuado
o papel fundamental desempenhado pelas grandes potên-
cias na unificação da Itália. Ainda que circunstâncias inter-
nacionais favoráveis constituíssem pré-requisito essencial
para que o Risorgimento se completasse com êxito, elas
apenas permitiram que o Piemonte unificasse a Itália, mas
não o forçaram a fazê-lo. As forças motivadoras devem ser
buscadas dentro da Itália e entre os italianos. Como vimos,
elas foram complexas: diversas espécies e graus de patrio-
tismo e de idealismo atuaram lado a lado com a maquina-
ção dinástica, às vezes amigavelmente, às vezes não. Forças
67
sociais e econômicas foram conduzi das - e às vezes impul-
sionadas - por indivíduos de caráter extremamente variado:
Mazzini, Cavour, Garibaldi, Vítor Emanuel, Pisacane e
Pallavicino, todos eles contribuíram para o resultado final,
mas nem todos estavam de acordo uns com os outros.
Naquilo em que contemporâneos freqüentemente estiveram
em conflito, não se pode esperar que os historiadores che-
guem a um consenso satisfatório. Foi tão complexa a luta
pela unificação e são ainda tão fortes as emoções que ainda
consegue despertar, que sua história continuará a ser rees-
crita por cada geração e a partir de todas as perspectivas
políticas.
7
Sugestão de leituras
(o lugar de publicação, quando não especificado, é Londres; edições em
brochura estão marcadas com asterisco)
Recentemente, foram publicados dois ótimos apanha-
dos sobre a Itália de inícios do século XIX, que se comple-
mentam reciprocamente muito bem: Stuart Woolf, A his-
tory of Italy, 1700-1860: lhe social conslrainls of political
change (Methuen, 1979) *; e Harry Hearder, Italy in the
Age of lhe Risorgimento (Longman, 1983) ". Alguns dos
principais documentos desse período foram editados e tra-
duzidos em Denis Mack Smith, The making of Italy,
1796-1870 (Macmillan, 1968), e Derek Beales, The Risorgi-
mento and lhe unification of ltaly (Allen & Unwin, 1971) *.
Estudo mais especializado é o de Denis Mack Smith, A his-
tory of Sicily: modern Sicily after 1713 (Chatto & Windus,
1968).
Dentre os principais protagonistas do Risorgimento,
Mazzini foi o que recebeu um tratamento compreensivo
em E. E. Y. Hales, Mazzini and the secret societies: lhe
making of a mytn (Eyre & Spottiswoode, 1956); o mesmo
autor escreveu uma biografia de Pio IX, Pio Nono: a study
in European politics and religion in the nineteenth century
69
(Eyre & Spottiswoode, 1956). A biografia mais recente de
Garibaldi é a de Jasper Ridley, Garibaldi (Constable, 1974).
O livro de Denis Mack Smith, Victor Emmanuel, Cavour
and the Risorgimento (Oxford, Oxford University Press,
1971) é inestimável. O papel de Cavour é estudado porme-
norizadamente numa biografia recente, também de Denis
Mack Smith, Cavour (Weidenfeld & Nicolson, 1985;
Methuen, 1985 "). Clara Maria Lovett, Carlo Cattaneo and
lhe politics of lhe Risorgimento (Haia, Martinus Nijhoff,
1972), estuda a carreira e o pensamento de um personagem
importante, ainda que menor.
Kent Roberts Greenfield, Economics and tiberalism
in lhe Risorgimento: a study of nationalism in Lombardy,
1814-1848 (Baltimore, Johns Hopkins University Press,
1965), analisa um aspecto das raízes econômicas do Risor-
gimento. Dois livros tratam de aspectos importantes da
revolução de 1848 na Itália: Paul Ginsborg, Daniele Manin
and the Venetian revolution of 1848-49 (Cambridge, Cam-
bridge University Press, 1979), e Alan Sked, The survivor
of lhe Habsburg empire: Radetzky, the imperial army and
the class war, 1848 (Longman, 1979). O papel da Socie-
dade Nacional Italiana, freqüentemente desprezado, é estu-
dado em Raymond Grew, A sterner plan for unity: the Ita-
lian National Society in the Risorgimento (Princeton, Prin-
ceton University Press, 1963). As razões de Gramsci para
uma "revolução malograda" são explicadas em J. M.
Cammett, Antonio Gramsci and the origins of Italian com-
munism (Stanford, Stanford University Press, 1967).
Quatro outros Lancaster Pamphlets contêm material
relacionado com o aqui exposto. Martin Blinkhorn, Musso-
tini and fascist Italy, estuda um período subseqüente da his-
tória italiana; e J. M. MacKenzie, The partition of Africa,
situa os interesses coloniais italianos em seu cenário interna-
cional. O contexto internacional da diplomacia de Musso-
lini é apresentado, em dois desses pamphlets, por Ruth
Henig, Versailles and after, 1919-1933 e The origins of lhe
Second World War.
E§]
PRINCÍPIOS
1 Paródia, paráfrase & eia. - Alfonso Romano de San!' Anna
* 2 Teoria do conto - Nádl8 Banella GOlJib * 3 A
personagem - Beth Brel! * 4 O foco narrativo - Lígia
Chapanu Moraes Leue * 5 A crônica - Jorge de Sã *
6 Versos, sons, ritmos - Norma Goldstein * 7 Erotismo
e literatura - Jesus Antônio Durigan * 8. Semântica _
Rodolfo lIari & João Wanderlev Geraldi * 9. A pesquisa
sociolingüística - Fernando Tarallo,.* 10. Pronúncia do
inglês norte-americano - Martha Steinberg * 11 Rumos
da literatura inglesa - Maria Hsa Cevasco & Valler lellis
Siqueire * 12, Técnicas de comunicação escrita -Izidaro
Blikstein * 13, O caráter social da ficçAo do Brasil -Fábio
Lucas * 14, Best·seller: a literatura de mercado - Muniz
Sodré * 15. O signo - Isaae Epstein * 16, A dança _
Miriam Garcia Mendes * 17. linguagem e persuasão _
Adilson Citelli * 18. Para uma nova gramática do português
- Mário A. Perini * 19. A telenovela - Samira Youssel
Campedelli * 20. A poesia lírica - Salete de Alrneida Cara* 21. Períodos literários - ligia Cademariori t 22
Informática e sociedade - Antonio Ncoíau Youssef &
Vrcente Paz Fernandez * 23. Espaço e romance - Antonro
Dimas * 24 O herói - flév~ R. KOlhe * 25. Sonho e
loucura - José Robeflo Wollf * 26 Ensino da
Opressão? li:lerdade? - Evanildo 8echara • 27
inglesa - Noções introdutórias - Ma'rfha Stein _
Iniciação à música popular brasileira - Waldenyr Caldas* 29. Estrutura da noticia - Nilson lage * 30 Conce~o
de psiquiatria - Adilson Granõinc & Durval Nogueira. 31
O inconsciente - Um estudo crftico - Alfredo Naf!ah
Neto * 32. A histeria - Zacaria Borge Ali Ramadam·. 33
O trabalho na América latina colonial - Ciro Flamarion
S. Cardoso • 34. Umbanda - José Guilherme Cantor
Magnani * 35. Teoria da informaçao - Isaae Epslein •.
36. O enredo - Samrs Nahid de Mesquita •. 37. linguagem
jornallstica - Nilson Lage * 38. O feudalismo: economia
e sociedade - Hamilton M. Monteiro * 39. A cidade-Estado
antiga - Ciro Flamarion S Cardoso. 40. Negr~ude _
Usos e sentidos - Kabengele Munanga •. 41. Imprensa
feminina - DuleHia Sehreeder BUlloni • 42. Sexo e
adolescência - lçamr Tiba • 43. Magia e pensamento
mágico - Paula Montere •. 44 A metalinguagem _
Samira Chalnub • 45 Psicanálise e linguagem - Eliana
de Moura Castro • 46. Teoria da literatura - Roberla
Acízelo de Souza •. 47, Sociedades do Antigo Oriente
Próximo - CIIO Flamarion S Cardoso •. 48 lutas
camponesas no Nordeste - Manuel Conee de Andlade
•. 49 A linguagem literária - Domco Proença F"no *
50. Brasil Império - Hamilton M. MOntello • 51
Perspectivas históricas da educação - tene Mana
Ieeesa Iooes • 52 Camponeses - Margarida Mana
Moura •. 53 Região e organização espacial - Robeno
Lobato Conêa * 54 Despotismo esclarecido - FranCISco
José Calazans Faleon •. 55. Concordância verbal Mana
Aparecida Baccega * 56. Comunicação e cultura brasileira
- Virgilio Noya Pinto •. 57. Conceito de poesia - Pedro
lvra •. 58. literatura comparada - Tania Franco Carvalhal
•. 59. Sociedades indigenas - AlcidaRlta Ramos * 60
Modernismo brasileiro e vanguarda - lucia Helena. 61
Personagens da literatura infanto-juvenil - Sonia Saornâo
Khéde * 62. Cibernética - Isaac Epstein •. 63. Greve
- Fatos e significados - Pedro Castro • 64. A
aprendizagem do ator - Antonio Januzeür Janõ * 65
Carnaval, carnavais - José Carlos Sebe • 66 Brasíl
República - Hamilton M. Monteiro • 67. Computador e
ensino - Uma aplicação à língua portuguesa - Cnsme
P C Marques, M Isabel l. de Ma110s & Yves de Ia Taille
• 68 Modo capitalista de prOdução e agricultura _
ArlOvaldo Umbelino de Oliveira. 69. Casamento, amor e
desejo no Ocidente Cristão - Ronaldo Valnfas •. 70.
Marxismo e teoria da revolução proletária - Eder Saõer
• 71. Pescadores do mar - Simone Carneiro Ma/donado
•. 72. A alegoria - Flavio R. Kothe •. 73. Consciência e
identidade - Malvina Moszkat •. 74 Oficina de tradução
- A teoria na prática - Bosemarv Arrojo •. 75. História
do movimento operário no Brasil - Antonio Paulo Rezende* 76. Neuroses - Manuellgnacio Ouiles • 77. Surrealismo
- Marilda de Vasconeellos Rebouças * 78. Romantismo
- Adilson Cllelli •. 79. Higiene bucal- Giorgio de Michelí,
Carlos Eduardo Aun & Michel Nico'au Youssef •. 80
Aspectos econômicos da educação - ladislau Dowbor
• 81. Escola Nova - Cristiano Di Giorgi •. 82. Análise
da conversação - l.uiz Antônio Marcuschi •. 83. O Estado
Federal - Dalmo de Abreu Dallari •. 84. Huminismo _
Francisco José Calazans Falcon • 85 Constituições _
CéJia Galvão OUlrrno & Marra Lúcia Montes •. 86 L~eratura
infantil - Voz de criança - Maria José Paio & Maria Rosa
D. Oliveira. 87. A imagem - Eduardo Neiva Jr. • 88
Teoria lexical- Margarida Basilio •. 89. A pol~ica externa
do Brasil recente - Soma Regina de Mendonça & Vlrglnia
Maria Fontes • 153. História da música - Da Idade da
Pedra à Idade do Rock - Valdir Montanarr * 154
Pós-modernismo e literatura - Domício Proença Filho •.
155. Make or Do? Etc., etc ... Resolvendo difictlldades
- Eliana Valdés lóoez & Solange M3IQues Rollo • 156
O Nordeste e a questão regional - Manuel Correia de
Andrade * 157. A guerra na Grécia Antiga - Marcos
Atvllo Pereira de Souza. 15B Introdução à dramaturgia
- Renata Pallcttmi • 159. A pesquisa em história -
Marra ao Pilar de Araúlo vaua. Marra do RosáriO da Cunha
Peixoto & Vara Mana Aun Khoury * 160 A RevoluçAo
Industrial - José Jobson de Andrade Arruda •. 161
Antropologia aplicada - Frans Moonen * 162 O complexo
de Édipo - Pranklin Goldgrub * 163. As cruzadas -
José ROberto Meilo •. 164 Representação política Celso
Fernandes Campllongo * 165. Geopolltica do Brasil -
Manuel Correia de Andrade •. 166 Gêneros literários -
Angélica Soares. 167 Análisa de investimentos e taxa
de retorno - Pedre Sehubert •. 168. A rede urbana -
Robeno tobato Corrêa * 169 A Ilngua portuguesa no
mundo - Sâvio Ella * 170 Empréstimos lingüisticos -
Nelly Carvalho •. 171 O cotidiano da pesquisa - Nelson
de Castro Senra •. 172 Iniciação ao latim - Zelia de
Almeida Cardoso • 173 Expressões idiomáticas e
convencionais - Slella Ortweiler Iaqmn •. 174 O espaço
urbano - Boberto Lobato Corrêa • 175 Acentuação
gráfica em vigor - Ammr Bcamam Hauv •. 176 Fotografia
e história - Boris Kossoy * 177 Cenografia - Anna
Mantovani •. 178. Getulismo e trabelhismo - Angela de
Castro Gomes & Maria Celina D' AraújO •. 179. Artigo e
crase - Maria Aparecida Baccega • 180. História do
negro brasileiro - Clóvis Moura * 181 O Terceiro Mundo
e a nova ordem internacional AntoniO Carlos wr.orer
•. 182. A articulação do texto - Elisa GUimarães •. 183
O império de Carlos Magno - José Roberto Mello •. 184
Novas tecnologlas em educação - lff Kawamura * 185
Comunicação do corpo - Monica Reclor & Aluizio R Trrnta* 186. Terceiro Mundo - Conceito e história - Tullo
Vigevani • 187 Introdução à sociologia do trabalho -
Augusto Caceia 8ava Jr. • 188. Morfemas do português
- valter Kehdl • 189. Educação. tecnocracia e
democratização - Maria de lourdes Manzim Covre * 190
Evolução humana - Celso Piedemome de Lima * 191
Neologismo - Criação lexical - Ieda Mana Alves • 192
Amazônia - Benna K 8ecker • 193 Introdução ao
maneirismo e à prosa barroca - Seglsmunôo Spna &
Morrrs W CroU • 194 As duas Argentinas - Emanuel
Soares da Velga Garcla •. 195 O período regencial -
Arnaldo Fazolr Filho. 196 A Antigüidade Tardia -
Watdn Fleltas Owera t 197 Planejamento familiar -
Gilda de Castro Rodngues •. 198 Introdução à terapia
familiar - Magdalena Ramos * 199. linguagem e sexo
- Malcolm Coullhard •. 200. Aristocratas versus burgueses?
A Revolução Francesa - T C. W. 81anning * 201. O
Tratado de Versalhes - RUlh Henig * 202. Jung -
Gustavo 8arcellos •. 203 A geografia lingü[stica no Brasil
- Silvia Figueiredo 8randão • 204. A Revolução
Norte-Americana - M. J. Heale • 205, As origens da
Revolução Russa - AlanWood * 206 CoesAoecoerência
textuais - teoro- topes Fávero • 207. Como analisar
narrativas - Cândida Vilares Gancho. 208 Inconfidência
Mineira - Cândida Vilares Gancho & Vera Vilhena •. 209.
O sistema colonial - José Robeno Amaral Lapa •. 210
A unificação da Itália - John Gooch • 211 A posse da
terra - Cândida Vllares Gancho, Helena Quelroz F Lopes
& Vera Vilhena • 212 As origens da Primeira Guerra
Mundial - Rulh Henig • 213 As origens de Segunda
Guerra Mundial - Ruth Henig • 214 O Antigo Regime
- William Deyie
brasileire '1822-19851 - Amado Luiz Cervo & Clodoaldo
Bueno * 90. Energia & fome - Gilberto Kobler Corrêa* 91. Sonhar, brincar, criar, interpretar - Arlindo C.
Pimenta. 92. História da literatura alemã - Eloá Heise
& Ruth Rõhl • 93. História do trabalho - Caros Roberto
de Oliveira. 94 Nazismo - "O Triunfo da Vontade"
- Aleir Lenharo •. 95. Fascismo italiano - Anqeo Irento
• 96. As drogas - luiz Carlos Rocha * 97 Poesia
InfantM - Maria da Glória Bordini • 98. Pactos e estabiizaçio
econômica - Pedra Scuro Neto. 99 Estética do sorriso
- Mchel Nrcolau Youssef, Carlos Eduardo Aun & Glorgio
de Mleh~1 •. 100. leitura sem palavras -Lucéce D' Aléssio
Ferrara. 101 O Diab"o no imaginário cristão - Carlos
Roberto F Nogueira * 102. Psicoterapias - Zacaria Borge
Ali Ramadam •. 103 O conto de fadas - Nelly Novaes
Coelho. 104 Guia teórico do alfabetizador - Mirlam
lemle. 105 Entrevista - O diálogo possível- Crernkía
de AraúlO Medina '. 106. Ouilombos - Resistência ao
escravismo - Clóvis Moura •. 107. Raça - Conceito e
Preconceito -- EI!ane Azevêdo •. 108. Candomblé - Religião
e resistência cultural - Raul lody * 109 Abolição e
reforma agrária - Manuel Correia de Andrade • 110.
Poemas eróticos de Carlos Drummond de Andrade ~ Hna
de Cassa Barbosa •. 111. Cinema e montagem - Eduardo
Leone & Mana Dora Mourão • 112 Democracia - Décio
Saes • 113 O verbo inglês - Teoria e prática - Valler
Lellrs Sqoeea * 114 Descobrimentos e colonização -
Jaruce Theodoro da Silva. 115 O. João VI: os bastidores
da independência -leilaMezanAlglanli * 116 Escravidão
negra no Brasil - Suelv Robles Reis de üuenoz • 117
Anarquismo e anarcossindicalismo - Giuseppina Sferra* 118. A feitiçaria na Europa moderna - Laura de Mello
e Souza. 119 Funções da linguagem - Samira Chalhub
•. 120 Ciclo da vida - R~ose ritmos - Ihales de Azevedo
• 121. Televisão e psicanálise - MunlZ Soce * 122
Cultura popular no Brasil - Marcos Ayala & Maria Ignez
Novas Ayala • 123 Desenvolvimento da personalidade
- Simbolos e arquétipos - Carros Byinglan •. 124
Imperialismo qreco-tomano - Norbeno Luiz Guarinello
• 125, Períodos filosóficos - João da Penha •. 126
Os povos bárbaros - Maria Sonsoles Guerras * 127.
Abolição - Antono Torres Montenegro •. 128 Como
ordenar as idilias - Edlvaldo M Bnaventura • 129
Advérbios - Eneida Bcmtm t 130 Imprensa operária
no Brasil - Marra Nazaretn Ferreua •. 131 O método
junguiano - Gaeco Ulson •. 132 O fantástico - Selma
Caassns Rodrrgues * 133 Gramsci e a escola - Luna
Galano Mochcovltch •. 134 Dimensões simbólicas da
personalidade - Cenos Bvmqton •. 135 Estrutura da
personalidade - Persona e sombra - Carlos BYlng!on* 136 Grandezas e unidades de medida - O Sistema
Internacional de Unidades - Romeu C Rocha-Filho
•. 137 linguagem e ideologia - José lUlzhonn * 138
Subordinação e coordenação - Confrontos e contrastes
- Flávia de Barros Carone * 139 Ernest Hemingway -
Julian Nazano • 140. Roma Republicana - Norma Musco
Mendes •. 141 Pesquisa de mercado - Marina Rutter &
Sertório Augus!o de Abreu * 142 Burguesia e capitalismo
no Brasil - Artomo Carlos Maneo * 143 Sistemas de
comunicação popular - Joseph M. lwten • 144. Evolução
biológica - Controvérsias - Celso Piedemonte de lima
•. 145. Arqueologia T Pedro Paulo Abreu Funari * 146.
Escara - Problema na hospitalização - Maria Coeli
Campedelli & Raquel Rapone Gaidzinski • 147. Injeções
- Modos e métodos - Brigilla Pfeilfer Caslellanos t 148
Ecologia cultural - Uma antropologia da mudança -
Renale Bflgiue Viertler •. 149. fncas e astecas - Culturas
pré-colombianas - Jorge Luiz Ferreira • 150 O pensamento
medieval- Inês C Inacio & Tania Regina de luca • 151
O romance picaresco - MarIO Gonzál~z * 152 História
11I';"'"
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l-
IJ
1
impressão e acabamento
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2
FONE 447·6511
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2
Educação, tecnocracia e
democratização
Maria de Lourdes Manzini
Covre
Evolução humana
Celso Piedemonte de Lima
Neologismo
Criação lexical
Ieda Maria Alves
Amazônia
Bertha K. Becker
Introdução ao Maneirismo
e à Prosa Barroca
Segismundo Spina e Morris
W Croll
As duas Argentinas
Emanuel Soares da Veiga
Garcia
O Perlado Regencial
Arnaldo Fazeli Filho
A Antigüidade Tardia
Waldir Freitas Oliveira
Planejamento familiar
Gilda de Castro Rodrigues
Introdução à terapia familiar
Magdalena Ramos
Linguagem e sexo
Malcolm Coulthard
Aristocratas versus
burgueses?
A Revolução Francesa
T. C. W. Blanning
O Tratado de Versalhes
Ruth Henig
Jung
Gustava Barcellos
A Geografia Iingülstlc8 no
Brasil
Silvia Figueiredo Brandão
A Revolução
Norte·Americana
M. J. Heale
As origens da Revolução
Russa
Alan Wood
Coesão e coerência textuais
Leonor Lopes Fávero
Como analisar narrativas
Cândida Vilares Gancho
Inconfidência Mineira
Cândida Vilares Gancho
Vera Vilhena
O Sistema Colonial
Jasé Roberto Amaral Lapa
A Unificação da Itália
John Gooch
A posse da terra
Cândida Vilares Gancho
Helena Queiraz F. Lopes
Vera Vilhena
As origens da Primeira
Guerra Mundial
Ruth Henig
As origens da Segunda
Guerra Mundial
Ruth Henig
O Antigo Regime
WilJiam Deyle

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