Prévia do material em texto
IISBN 85 08 03888 71 A Itália de 1815 consistia em oito Estados distintos, a maioria sob o domínio direto ou indireto da Áustria. Os ideais nacionalistas que dominavam a Europa de meados do século XIX fizeram crescer entre os povos da península o desejo de se unirem em um só país - duas forças motivadoras impulsionaram este movimento de unificação: a liberdade e a independência. Neste trabalho, o Autor examina as forcas em conflito que lutaram para determinar á forma de uma Itália unificada: o conservadorismo saboiano, o republicanismo e o socialismo municipal mazzinistas, a rivalidade entre Garibaldi e Cavour. John Gooch é professor-adjunto de História na Universidade de Lancaster. ~ db iat:ere&s:b do- o-oIa/llb História ékLra& dreas- c/a,dri& Administração Antropologia Artes Ciências Comunicações Direito Economia Educação Enfermagem Filosofia Geografia Lingüística Literatura Odontologia Política Psicologia Sociologia \. INCIPIOS ooch ,sértC I l'RINCíl'lOS ÚL1\NlOS Lfl-NÇfl-NlEt.nOS Gêneros literários Angélica Soares Análise de investimentos e taxa de retorno Pedra Schubert A rede urbana Roberta Lobato Corrêa A lingua portuguesa no mundo Sílvio Elia Empréstimos lingüísticas Nelly Carvalho O cotidiano da pesquisa Nelson de Castro Senra Iniciação ao Latim Zelia de Almeida Cardoso Expressões idiomáticas e convencionais Stel1a Ortweiler Tagnin O espaço urbano Reberta Labato Corrêa A acentuação gráfica em vigor . Uma sistematização crítica Amini Boainain Hauy Fotografia e História Bóris Kossoy Cenografia Anna Mantovani Getulismo e trabalhismo AngeJa de Castro Gomes Maria Celina O'Araújo Artigo e crase Maria Aparecida Baccega História do negro brasileiro Clóvis Moura O Terceiro Mundo e a nova ordem internacional Antonio Carlos Wolkmer Articulação do texto Elisa Guimarães O império de Carlos Magno José Roberto Mello Novas tecnologias em Educação Lili Kawamura Comunicação do corpo Monica Rector e Aluizio R. Trinta Terceiro Mundo Conceito e História Tullo Vigevani Introdução à Sociologia do Trabalho Augusto Caccia Bava Jr. Morfemas do Português Vai ler Kehdi Rlf1~~ts John Gooch Professor Adjunto de H istória da Universidade de Lancaster (Grã-Bretanha) -A UNIFIPAÇAO DA ITALIA Tradução de Lólio Lourenço de Oliveira ea editora álit'4 M;PLA OI.A DI OOU&C!0 Direção Benjamin Abdala Junior Samira Youssef Campedelli Preparação de texto Sérgio Roberto Torres Edição de arte (miolo) Milton Takeda Divina Rocha Corte Composição/Paginação em vídeo Marco Antonio Fernandes Capa Ary Norrrtanha Antonio Ubirajara Domiencio ,, © 1986 John Gooch Título do original em inglês: The unification of /ta/y Primeira publicação por Methuen & Co. Ltd. 11 New Fetter Lane, London ISBN 85 08 03888 7 1991 Todos os direitos reservados Editora Ática S.A. - Rua Barão de Iguape, 110 Tel.: (PABX) 278-9322 - Caixa Postal 8656 End. Telegráfico "Bomlivro" - São Paulo Sumário Quadro cronológico 4 Mapa: A unificação da Itália 12 1. Introdução 13 2. Correntes da revolução, 1815-48 15 o legado napoleônico 15 Buonarroti e os Carbonari 16 Mazzini e a Jovem Itália 18 Nacionalismo econômico 21 Nacionalismo cultural 22 3. A primeira guerra do Risorgimento, 1848-9 __ 26 o advento da revolução 27 Cattaneo e Milão 29 A guerra de Carlos Alberto 31 Manin e a república veneziana 33 A república romana 35 Nápoles e Sicília 37 4. Que espécie de Itália? Mazzini e Cavour, 1849-59 40 Primeiras reaçôes a 1848 40 Mazzini e Pisacane: o malogro da insurreição 42 Cavour e a origem da predominância do Piemonte 44 5. O triunfo do Piemonte, 1859-70 49 A guerra de 1859 e a anexação da Itália central 50 Garibaldi e a Sicília 52 Os problemas de uma monarquia parlamentar 56 A guerra 'de 1866 59 O final romano 60 6. O Risorgimento na história 64 7. Sugestão de leituras _ 68 5 I ~ Quadro cronológico Ano Piemonte Reino das Duas Estados Papais I Ano Os ducados Lombardia Venécia Geral Sicílias 1807 Fundação dos ~ 1807 Carbonari 1814-15 II 1814-15 Congresso de Viena 1820 Revolução (jul.) I 1820 1821 Revolução (março), 1821 Congresso de acarretando a Laibach abdicação de Vítor (instalado a Emanuel I, esmagado 26/jan.) por Carlos Félix (morto em 1831) e pelos austríacos (abr.-out.) 1830 • 1830 Morte do Papa Pio VIII (30/nov.) 1831 Entronização de Carlos Revoluções debeladas I 1831 Revoluç6es em Eleição do papaAlberto pelos austríacos (fev.- Parma e Módena Gregório XVIrnar.) debeladas pelos (2/fev.) austríacos (fev.) 1832 ,I 1832 Mazzini (1805-72) funda a Jovem Itália 1834 Mazzini fracassa na .~ 1834 invasão da Sabóia (fev.) 1837 Insurreições malogram 1/ 1837 1843 Insurreições malogram ~ 1843 1844 Insurreição dos irmãos 1844 Bandiera malogra (jun.) 1846 II 1846 Eleição do papa Pio IX (16/jun.) 1847 Guarda civil formada \ 1847 Levantes A Itália é abalada em Roma: os reprimidos (set.) por uma crise austríacos ocupam I econômicaFerrara (jul.) (outono) 6 I 7 Quadro cronológico - continuação Ano Piemonte Reino das Duas Estados Papais II Ano Os ducados Lombardia Venécia Geral Sicílias 1848 Constituição provisória Levantes Ijan.); o Manifestações contra 1848 Os austríacos Protesto Revolução Ano das é proclamada (8/fev.); governo provisório da o novo ministério ocupam Parma "não-fumante" bem-sucedida revoluções Carlos Alberto declara Sicília declara (1 °/jan.); o papa e Módena (jan.): começa em contra os guerra aos austríacos definitivamente outorga Constituição Constituição Milão (1 ?/jan.); austríacos em (26/mar.); piemonteses depostos Fernando II (13/mar.); o papa provisória é os austríacos e Veneza derrotados pelos e sua dinastia (13/abr.); declara não possuir proclamada na polícia matam (22/mar) austríacos em Fernando dissolve a ambições temporais Toscana manifestantes Custozza (25/jul.); assembléia e a guarda (29/abr); o papa foge (15/fev.) (3/jan.); "cinco armistício com a nacional de Nápoles (24/nov.) dias gloriosos" Áustria (10/ago.) (17/maio) (18-23/mar.) em Milão; plebiscito aprova fusão com Piemonte (8/jun.); austríacos tomam Milão (5/ago.) 1849 Retomada da guerra Inicia-se a retomada Assembléia popular 11 1849 Os austríacos Veneza capitula com a Austria da Sicília (29/mar.); proclama Roma restauram o aos austríacos (20/mar); os Palerma é retomada república (1O/fev.); os domínio da (27/ago.) piemonteses são (15/abr.) austríacos reocupam Toscana (28/jul.) derrotados em Novara Ferrara (8/fev.); (23/mar) e Carlos soldados franceses Alberto abdica, sendo desembarcam em seu sucessor Vítor Civitavecchia (24/abr.); Emanuel 11(morto em os franceses tomam 1878); arrnistlcio Roma (2/jul.) (26/mar.); Pazde Milão (6/ago.) 1850 Cavour (1810-61) Pio IX retorna a Roma .11 1850 torna-se ministro (12/abr.) 1852 Cavou r torna-se J 1852 É abolida a primeiro-ministro Constituição da (4/nov.) Toscana (6/maio) 1855 Piemonte entra na 11' 1855 Os austríacos Guerra da Crirnéia i'l abandonam a contra a Rússia Toscana (26/jan.) 1856 Cavour no Congresso ,I 1856 de Paris 1857 Malogro da invasão ~ 1857 Pallavicino funda da Sicília por Pisacane I a Sociedade (10 Ijul.) Nacional Italiana 8 I 9 1 Quadro cronológico - continuação Ano Piemonte Reino das Duas Estados Papais Sicílias 1I Ano Os ducados Lombardia Venécia Geral 1858 Pacto de Plombiéres com Napoleão III , 1858 Orsini tenta 120/jul.) assassinar Napoleão III 11 114/jan.) 1859 Aliança com a França 126/jan,); ultimato 1859 Os governantes austríaco a Piemonte da Toscana, de 123/abr,); guerra com Parma e de a Áustria 129/abr,); Módena fogem austríacos derrotados após revoluções pelos franceses e I" (abrv-rnaio): piemonteses em I1 assembléia de Magenta 14/jun,1. pelos I Toscana aprova franceses em Solferino I a fusão com 124/jun,) e pelos Piemonte piemonteses em San 120/ago,) Martino 124/jun,); armistício entre a Áustria e a França 18/jul.) que precedeu a paz de Vilafranca 111/jul.) que obteve a Lombardia para o Piemonte; Cavour renuncia 112/jul,), 1860 Cavour volta ao Desassossego na Sicflia Os patriotas aprovam ministério 120/jan,); (abril) antecede o a incorporaçãoao 1860 Os ducados incorporação dos desembarque de Piemonte (rnar.): aprovam a fusão ducados trnar.): cessão Garibaldi 11807-82) rebeliões 18/set,); \ com o Piemonteda Sabóia e de Nice à em Marsala 11O/maio); soldados piemonteses I e são França 11~/abr.) Garibaldi toma a ilha ocupam tudo exceto incorporados em nome de Vítor Roma 111-29/set,), (rnar.] Emanuel, navega para vencendo a batalha o continente 118/ago,), de Castelfidardo entra em Nápoles 118/set.) 17/set,) e vence a batalha do Volturno 11~/out.): Garibaldi entrega as regiões a Vítor Emanuel f Zô/out.) em Teano 10 continuação1 Quadro cronológico Ano Reino da Itália 16 1861 17/mar. 1862 29/ago. 1866 18/abr. 20/jun. 24/jun. 20/jul. 3/0ut. 1867 3/nov. 1870 19/jul. 20/set. o rei Vitor Emanuel II adota o titulo de "Rei da Itália" Tropas italianas detêm, em Aspromonte, a marcha de Garibaldi sobre Roma A Itália alia-se à Prússia A Itália em guerra com a Áustria O exército italiano é derrotado em Custozza A marinha italiana é derrotada em Lissa Paz de Viena: a Áustria cede Venécia à Itália Garibaldi é derrotado pelos franceses em Mentana Deflagração da guerra franco-prussiana Tropas italianas ocupam Roma 12, 0"'ti C_P'.'_ ÁUSTRIA·HUNGRIA r------- I: I I I I I i Reino das Duas Sicilias, I I I I I i I I I I I I I: I I I '~L___________ _ _ A unificação da Itália 1 Introdução Em 1815, a Itália consistia de oito Estados distintos. A maioria deles estava sob o controle direto ou indireto da Áustria? e os que não estavam eram governados por reis conservadores, absolutistas. Quarenta e cinco anos depois, Piemonte-Sardenha, longe de se imaginar que fosse suficien- temente poderoso para de saída dominar a península, deu o primeiro rei à Itália e selou a unificação do país. Para chegar a isso, foi preciso vencer a dominação estrangeira, depor os governantes locais absolutos, e unir os diversos entusiasmos de patriotas em apoio a um Estado pequeno e conservador que ocupava apenas o extremo noroeste do país e cujas classes superiores falavam habitualmente o fran- cês, e não o italiano. E tudo deveria ser feito sem provocar a intervenção repressiva das grandes potências, acostuma- das, desde o século XV, a enxergar a Itália como seu par- que de diversões. Nessas circunstâncias, não é de admirar que, após consumada a unificação, Gladstone a descrevesse como "uma das maiores maravilhas de nossa época". O Risorgimento, movimento pela unificação da Itália, foi considerado, por seus contemporâneos, uma vitória do nacionalismo - força dominante na Europa de meados 14, do século XIX. Para poder avaliar em que medida é exato esse julgamento, é necessário desembaraçar os inúmeros fios que teceram a "revolução nacional" da Itália; pois o Risorgimento foi basicamente um processo durante o qual muitas lutas convergiram para tornar-se uma só luta. Em seu âmago, encontram-se duas forças motivadoras. A pri- meira foi a busca de liberdade política dentro da Itália. Os que lutavam por essa meta, espalhavam-se por todo um espectro que ia da burguesia, que só queria reformar e limitar os poderes dos monarcas absolutistas, até os demo- cratas, como Garibaldi, que desejavam o envolvimento do povo na política. A segunda força era a busca da indepen- dência. O desejo de livrar-se da dominação estrangeira opressora reunia basicamente os que estavam diretamente sob o tacão austríaco, aqueles cujos governantes dependiam das baionetas austríacas para se manter, e os que procura- vam livrar-se do domínio de príncipes italianos "estrangei- ros". As facções implicadas em cada uma dessas lutas - e, naturalmente, elas muitas vezes se relacionavam - de modo algum concordavam a respeito de seus objetivos. E nunca foi um resultado previsível que essas divergências só tivessem solução mediante a criação de uma Itália unifi- cada. A história do Risorgimento é o relato de como e por que esses muitos grupos lutaram, primeiro, separados e fra- cassaram e, a seguir, lutaram juntos e conseguiram êxito. 2 Correntes da revolução, 1815-48 Durante a primeira etapa do Risorgimento, os auvis- tas acreditavam nas técnicas de rebelião para derrubar os monarcas impopulares. Seus métodos - conspiração e insurreição - fracassaram. Este fracasso, contudo, contri- buiu para o êxito a longo prazo do Risorgimento, pois aju- dou, primeiro, a demonstrar que, para deflagrar uma revolta, não era suficiente apenas recrutar um grupo pequeno e dedicado de combatentes e esperar que outros seguissem seu exemplo; para unir os homens era preciso haver uma base ideológica aceita igualmente por todos. Em segundo lugar, e de igual importância, o malogro dos ativistas e o silencioso êxito dos homens de negócio e dos escritores con- tribuíram para uma crescente consciência da identidade nacional. Sem isso, não poderia ter havido uma revolução "nacional". Até então, porém, idéias e ação constituíam preocupação de apenas alguns poucos. o legado napoleônico De 1796 até 1815, a Itália esteve sob domínio francês. Depois de 1815, o período de controle francês deixou para 16, os patriotas um importante legado. Os ativistas de esquerda podiam olhar com nostalgia para a república estabelecida em Roma, em fevereiro de 1798, para as duas repúblicas cisalpinas do norte, criadas em 1797 e em 1800, e para a república partenopéia proclamada em Nápoles, em 1799. Os monarquistas podiam voltar-se para o reino da Itália e o reino de Nápoles instituídos nos últimos anos da domina- ção francesa. Mais ainda, a eficiência da administração francesa ofereceu um contraste chocante com o modo de governar absolutista. Contudo, a conseqüência mais impor- tante do domínio francês foi plantar na cabeça das pessoas a idéia de que a Itália podia tornar-se um Estado unitário. Buonarroti e os Carbonari Durante mais de dez anos depois da Restauração da monarquia, as sociedades secretas tramaram contra os gover- nantes absolutistas. No norte da Itália, a Liga dos Mestres Sublimes e Perfeitos, fundada em 1818 e dirigida por Filippo Buonarroti, disseminava a conspiração a partir de seu quar- tel-general em Turim. Sua meta imediata era a independên- cia em relação à Áustria, e seu alvo final - revelado somente a alguns - era uma sociedade comunista. No reino das Duas Sicílias, seus equivalentes eram os Carbonari (nome devido aos carvoeiros rurais), que haviam existido em Nápo- les desde 1807 e cujo alvo principal era a Igreja. No sul, os Carbonari aderiram a um levante de elemen- tos do exército Bourbon, na noite de I? para 2 de julho de 1820. Fernando cedeu rapidamente e outorgou uma ver- são da Constituição radical espanhola de 1812 - que tinha uma só câmara eleita -, e viu-se desde logo diante de um levante separatista na Sicília. No Congresso de Laibach, a 26 de janeiro de 1821, Fernando obteve apoio europeu e, com a ajuda de Viena, esmagou os rebeldes na batalha de Rieti, a 7 de março de 1821. 17 No Piemonte, aristocratas liberais e burgueses demo- cratas conspiravam para introduzir um regime constitucio- nal e unificar a província com a Lombardia e Venécia em um reino da alta Itália. A revolução estourou na noite de 9 para 10 de março e o rei Vítor Emanuel I abdicou imedia- tamente em favor de seu irmão Carlos Félix. Como a Áus- tria, a Rússia e a Prússia não aceitassem uma Constituição piemontesa, Carlos Félix negou categoricamente que tivesse alguma coisa a ver com ela. Com a ajuda austríaca, repri- miu facilmente os rebeldes. As revoluções de 1820-1 haviam deposto reis em Turim e em Nápoles com aparente facilidade. Contudo, foram esmagadas com igual facilidade pela intervenção austríaca, realçando a importância da reação das grandes potências a acontecimentos internos da Itália. Observando o destino desses levantes, as pessoas começaram a vincular constitu- cionalismo a independência, já que parecia que a liberdade interna só podia prevalecer na medida em que os austríacos não a sufocassem. Quando a revolução de julho de 1830 levou ao poder, na França, um regime constitucional, os conspiradores tiveram a esperançade que a França manti- vesse uma política de não-intervenção internacional e os protegesse contra a Áustria. . A revolução reberitou novamente em 1831, começando em Módena e espalhando-se rapidamente para Parma, Bolonha, Marcas e Úmbria. Ainda uma vez, carecia de qualquer tipo de raízes firmes e de uma causa unificadora. Havia um grupo que queria tornar Francisco IV, de Módena, um feroz reacionário, o cabeça de um movimento nacional liberal. De início, ele aprovou esse plano, mas depois mudou de idéia e,mandou prender os conspiradores a 3 de fevereiro de 1831, dois dias antes do começo previsto para a insurrei- ção. Em Bolonha, o ressentimento fora crescendo diante do atraso e das restrições do governo clerical. O intervalo entre a morte de Pio VIII, a 30 de novembro de 1830, e a eleição de Gregório XVI, a 2 de fevereiro de 1831, permitiu ;. 18 1 o amadurecimento da conspiração e, a 4 de fevereiro de 1831, estourou um levante em Bolonha. Francisco IV fugiu imediatamente para Viena, em busca de ajuda, e a duquesa de Parma refugiou-se com a guarnição austríaca de Piacenza. Em Bolonha, a aristocracia e a alta burguesia tomaram as rédeas das mãos dos conspiradores, e puseram-se a desmon- tar o governo papal, expedindo uma Constituição a 4 de março de 1831. A essa altura, a revolução foi solapada do exterior. O futuro Napoleão III estava conspirando em Roma, e Metternich, habilmente, colocou diante do rei Luís Filipe da França o espectro do bonapartismo instaurado na Itália central. A França reconheceu imediatamente que a intervenção austríaca era uma "questão de família" - o duque de Módena e a duquesa de Parma eram ambos mem- bros da família real austríaca -, e os soldados austríacos marcharam para esmagar a revolta, que terminou a 26 de março, quando o governo provisório de Bolonha capitulou. Maz~inie a Jovem Itália Giuseppe Mazzini (1805-72) nasceu em Gênova, viveiro do republicanismo e do nacionalismo, e cresceu em meio ao acalorado debate que ali grassava entre revolucionários e conservadores. Associou-se a um ramo dos Carbonari, em 1827, mas logo se desiludiu com sua falta de um propó- sito político claro: "Meu iniciador não emitiu uma só sílaba que desse uma pista no que concerne a federalismo ou unida- de, a república ou monarquia", escreveu mais tarde, "ape- nas guerra contra o governo, nada mais que isso". Em breve definiu seu próprio objetivo: libertar a Itália da ocu- pação austríaca, do controle indireto exercido por Viena, do despotismo principesco, do privilégio aristocrático e da autoridade clerical. Preso em novembro de 1830, ficou detido por pouco tempo, antes de ser libertado e exilado no mês de janeiro seguinte. Enquanto estava na prisão é 111 19 que desenvolveu as idéias que o levaram a fundar a Gio- vine Italia (Jovem Itália), em 1832. A nova sociedade patriótica revolucionária de Mazzini foi uma reação aos fracassos de 1820-1 e de 1831, a partir dós quais concluiu que os velhos revolucionários haviam sido cautelosos demais e que o movimento nacionalista ita- liano havia atingido um ponto de maturidade que o colo- cava à frente de sua liderança. Era, também, uma reação aos levantes que se verificavam por toda a Europa em 1830-2, o que levava muitos a perceber que a revolta estava no ar. Mais especificamente, Mazzini foi influenciado por um livro publicado em 1831 por Buonarroti, intitulado Reflexões sobre o governo federal aplicado à Itália. Nesse livro, o velho revolucionário confessava haver abandonado sua crença numa república federativa em favor de uma república unitária, já que esta seria um caminho melhor para evitar a desigualdade social e teria melhores condições de defender-se.' Contudo, Buonarroti ainda acreditava que, antes que qualquer coisa pudesse acontecer na Itália, deve- ria haver uma revolução democrática na França. Mazzini desprezava essa atitude de "esperar para ver", acreditando que a Itália podia construir seu próprio futuro. A Jovem Itália foi fundada, primeiro, sobre uma firme crença no progresso, que havia sido sufocado pela Restau- ração. Mazzini acreditava que Deus atribuíra missões tanto a povos quanto a nações, e o vigoroso sentimento de nacio- nalismo patriótico que conferiu à Jovem Itália alicerçava- se em sua convicção de que os italianos podiam converter- se numa nação-Estado e de que a Itália tinha uma missão no mundo livre. A segunda característica importante do movimento era sua ênfase em uma Itália unificada, em con- traposição ao localismo de outros movimentos patrióticos. Em terceiro lugar, Mazzini era um republicano: acreditava que apenas essa forma de governo podia garantir a igual- dade entre as pessoas. Mazzini visava a combinar pensamento e ação pelo duplo meio da educação e da insurreição popular. Em ter- 20, mos práticos, foi singularmente malsucedido. Uma conspi- ração articulada em Marselha, em 1833, para invadir a Sabóia, foi denunciada, e uma outra, a seguir, no mesmo ano, para um levante de patriotas em Nápoles, deu em nada. Em fevereiro de 1834, uma pequena tropa de mazzi- nistas atravessou a fronteira da Suíça para a Sabóia. Ao ver que a população local não demonstrava entusiasmo algum pela convocação para pegar em armas, logo bateram em retirada. O fiasco da invasão da Sabóia marcou o fim da pri- meira fase das atividades de Mazzini e, em fevereiro de 1836, ele declarou que a Jovem Itália suspendera inteira- mente suas atividades. O próprio Mazzini fugiu para Lon- dres, em 1837, ali permanecendo durante os onze anos seguintes. Em 1839, anunciou que ia reconstituir a Giovine Italia, com o acréscimo importante de grupos de operários: "No primeiro período de nossa existência trabalhamos pelo povo, mas não com o povo". Contudo, permaneceu impla- cavelmente hostil ao socialismo, acreditando que as classes todas deviam unir-se na luta pela Itália, e não manter-se separadas, umas contra as outras. E ele não tomava conhe- cimento dos problemas agrários que atingiam tão profun- damente a vida diária das massas camponesas em muitas partes da Itália. O exemplo de Mazzini gerou uma série de imitadores. Os levantes na Sicília e no reino de Nápoles, em 1837, e os continuados tumultos nos Estados Papais impeliram Nicola Fabrizi a fundar a Legione ltalica (Legião Itálica), .em 1839, e a procurar unir os diversos grupos de conspira- dores. Um levante em Nápoles, planejado para 31 de julho de 1843, jamais teve lugar, e os grupos que, abrupta e desorganizadamente, se sublevaram nos Estados Papais, foram logo esmagados e tiveram seus cabeças executados. Os irmãos Bandiera, membros da Giovine Italia que haviam fundado sua própria sociedade secreta, tentaram promover uma insurreição na Calábria, em junho de 1844. Mas ela 21 fracassou e os dois irmãos foram presos e fuzilados. A agi- tação era endêmica por quase toda a Itália, às vésperas de 1848, mas era de natureza local e de base muito estreita. Havia pessoas persuadidas dos ideais mazzinistas; a grande massa continuava firmemente desinteressada por eles. Nacionalismo econômico Nos anos anteriores a 1848, a maior parte da Itália era economicamente atrasada. Sem contar a seda, os principais produtos eram cereais, óleo, vinho, lã, algodão e linho, produzidos principalmente para consumo local. Os merca- dos externos eram de difícil penetração; devido ao obstá- culo das altas tarifas impostas pela maioria dos países; e uma acentuada tendência a aplicar os lucros excedentes na terra, muitas vezes por razões sociais, privava a indústria do investimento tão necessário. A Lombardia era exceção nesse quadro geral. Ali, um clima favorável permitia o cres- cimento das amoreiras, e a seda se tornou o produto predo- minante. A partir de 1824, à medida que os mercados exte- riores expandiam, os lombardos venderam inicialmente em Londres e, depois, quando, primeiro, a seda indiana e, depois, a chinesa e a japonesa passaram a predominar, des- locaram-se para os mercados francês e alemão. Os produto- res de seda lombardos irritaram-se com as tarifas restritivas a eles impostas por Vienae opuseram-se energicamente às pretensões austríacas de afastar seus negócios de seu tradi- cional fluxo através de Gênova e de fazê-los deslocar-se para Trieste, temerosos de assim se verem postos à margem do desenvolvimento europeu. Ainda que não diretamente interessados na unificação, os homens de negócios da Lombardia foram ficando mais interessados no progresso e no desenvolvimento econômico à medida que desenvolveram seus negócios de exportação. As regras do mercado e os desenvolvimentos da ciência e 22 I·, da tecnologia eram de considerável importância para eles, e surgiam jornais e revistas para fornecer a esses economis- tas o conhecimento que procuravam. Nessa área é que se podiam fazer ligações entre liberdade de comércio e liber- dade do indivíduo. Escrevendo na Revista Comercial, de 14 de julho de 1847, Camillo Cavour, futuro primeiro-minis- tro da Itália, colocou a questão com toda a clareza: "Esta- mos convencidos de que, atuando no sentido de reduzir as barreiras que nos dividem, estamos atuando para o pro- gresso intelectual e moral da Itália, tanto quanto para sua prosperidade material". As barreiras tarifárias erguidas por uma Itália dividida constituíam um obstáculo político ao desenvolvimento eco- nômico. Outra conseqüência adversa da divisão política era uma rede insuficiente de comunicações. Somente a Lombar- dia possuía uma boa rede de estradas e de canais. O sis- tema ferroviário era rudimentar; existiam apenas três pequenos trechos de estrada de ferro no território contro- lado pela Áustria, e mais um no Piemonte' e um em Nápo- les. Regimes assim tão atrasados desanimavam e irritavam os liberais moderados que contavam com aprimorar sua situação econômica e obter vantagens das oportunidades que podiam ser oferecidas por instituições financeiras, livre comércio e boas comunicações de um sistema estatal mais moderno. 11 I: Nacionalismo cultural ! Paralelamente aos ativistas republicanos, existia, em 1848, um influente grupo de moderados que propagavam suas idéias por meio de livros e revistas. O nacionalismo cultural foi proposto, pela primeira vez, na revista Antolo- gia, fundada em Florença, em 1821, para difundir idéias literárias num público nacional. Outro precursor da explo- são literária da década de 1840 foi a revista Anais Univer- 1, I, ,I 23 sais de Estatistica, Economia Pública, História, Viagem e Comércio, fundada em Milão, em 1824. O Congresso de Cientistas Italianos, que se reuniu pela primeira vez em Pisa, em 1839, foi outra expressão da consciência nacional bem como um veículo para a difusão de idéias progressis- tas. Embora se excluísse formalmente qualquer discussão política, os debates sobre problemas econômicos e sociais continham, indiscutivelmente, um colorido reformista. Uma enxurrada de livros de história publicados tornou os liberais muito mais conscientes de seu passado nacional. Em 1839, Troya editou o primeiro volume de sua História da Itália na Idade Média. Nove anos antes, o conde Cesare Balbo havia editado uma História da Itália sob dominio dos bárbaros, à qual deu seqüência com um Sumário da história da Itália, em 1846. A revista toscana Arquivo His- tórico Italiano e a Sociedade Piemontesa para a História Patriótica faziam parte do mesmo fenômeno. O prirrieiro de muitos programas para a unificação sur- gidos naqueles anos foi o Da primazia moral e civil dos ita- lianos, de Vincenzo Gioberti, publicado em 1843. Católico liberal, que acreditava que a tática de Mazzini havia malo- grado, e que preferia depositar sua confiança nos príncipes, Gioberti acreditava que um risorgimento italiano seria o primeiro passo para a hegemonia mundial de uma Igreja reformada. Propunha uma confederação de Estados sob a liderança do papa, apoiada pelo Piemonte: a união da Itá- lia, escreveu ele, "deve começar por onde estão presentes predominantemente a fé e a força, isto é, na cidade sagrada e na província guerreira". O Sumário da história da Itália, de Balbo, contribuiu para dar uma base histórica ao con- ceito do papa como defensor da liberdade italiana. Um programa alternativo para a unificação surgiu quando Balbo publicou Das esperanças da Itália, em 1844. Afirmando que a monarquia piemontesa estava destinada a liderar a Itália, colocou resolutamente a luta dentro de um quadro europeu. Para que a Áustria fosse expulsa da 24 península, seria necessário o apoio das grandes potências. Para Balbo, a tarefa inicial era a de estabelecer um corpo de opinião nacionalista racional e moderado. O argumento em favor do Piemonte como líder natural de uma Itália unificada também foi colocado vigorosamente por Massimo d' Azeglio em Os mais recentes acontecimentos na Roma- nha (1846) e Proposta de um programa em prol da opinião nacional italiana (1847). D' Azeglio sugeria ser do interesse dos príncipes aliar-se aos moderados, que estavam procu- rando livrar a Itália da reação: "Se os soberanos italianos não quiserem que seus súditos se tornem liberais extrema- dos", escreveu, "devem, eles próprios, tornar-se liberais moderados". Seu programa incluía conselhos comunais elei- tos popularmente, julgamento público por júri, leis de imprensa progressistas, um sistema geral de estradas de ferro e a derrubada das barreiras comerciais internas. Por que haviam fracassado as revoltas? Os governos absolutistas haviam-se mostrado vulneráveis ao primeiro ataque, mas em condições de recuperar-se com ajuda externa. Isso ressalta a importância do alinhamento internacional: até o malogro do Concerto da Europa, em 1824-5, a Grã- Bretanha esteve disposta a apoiar a intervenção pelas gran- des potências onde quer que a ordem parecesse estar amea- çada e, a partir de quando ela se retraiu, voltando-se para suas preocupações internas, a Áustria manteve-se capaz e disposta a atuar como o policial da Europa. Os revolucioná- rios não tinham apoio do povo dentro dos Estados que pro- curavam subverter, pela boa razão de que não se haviam preocupado em considerar que isso fosse necessário. Onde os moderados alcançaram algum êxito temporário, seu intenso localismo impediu a formação de uma frente unida: em 1831, o governo provisório da Bolonha não havia tido o menor interesse em ajudar os rebeldes da vizinha Módena. Mesmo em suas próprias localidades, havia faltado capaci- dade às insurreições para galvanizar o apoio necessário: uma doutrina dinástica artificial, tal como a que sustentava 25 o levante de Módena de 1831, e idéias vagas de uma assem- bléia constituinte eram por demais incompreensíveis, e até mesmo os lemas mazzinistas "República", "Progresso" e "Associação" eram obscuros e ininteligíveis para quase todo o mundo. Antes de 1848, não existia na Itália nem uma situação revolucionária em que o descontentamento generalizado pudesse funcionar como detonador, nem uma ideologia unificadora que mantivesse acesas as chamas, caso uma faísca houvesse acendido o fogo. 3 A primeira guerra do Risorgimento, 1848-9 No correr de 1847, foram criados os ingredientes para a revolução. Era necessária uma liderança de algum tipo para centralizar o descontentamento, e o novo papa, Pio IX, parecia disposto a oferecê-Ia. Suas palavras e seus atos despertaram o entusiasmo dos que lutavam por um regime de governo liberal constitucional, dos que lutavam pela independência da Áustria, e dos que aspiravam a construir uma Itália unificada. Criava-se, também, algo semelhante a uma situação revolucionária, em conseqüência do agrava- mento da difícil situação econômica do povo. O catalisador foi a revolta na Sicília, que ocasionou a queda de muitos governantes absolutistas. Outros haviam sido derrubados antes, mas o que deu então à revolução seu momento de êxito foi a ausência de intervenção estrangeira. A Áustria estava preocupada em sufocar suas próprias revoluções, e a França lutava com as dificuldades de depor a monarquia conservadora dos Orléans e substituí-Ia pela Segunda Repú- blica. Nenhuma outra grande potência mostrou qualquer interesse em intervir. Uma vez mais, as lutas eram emfavor da independência e da liberdade - mas seriam elas em favor da Itália? 27 o advento da revolução Em junho de 1846, Pio IX tornou-se papa. Sua reputa- ção liberal confirmou-se quando anistiou muitos prisionei- ros políticos, instalou comissões para estudar a reforma dos procedimentos legais, civis e criminais, e anunciou um programa de ferrovias. Essas ações deram origem a pres- sões por mais reformas políticas, tais como liberdade de imprensa e formação de uma guarda civil. Temores de que uma conspiração clericalista estivesse em vias de aprisionar o papa e massacrar os liberais levaram à formação de uma guarda desse tipo em julho de 1847; no mesmo mês, os aus- tríacos, alarmados com o que acontecia em Roma, ocupa- ram Ferrara e ameaçaram marchar sobre as Legações Papais, despertando uma onda generalizada de protesto patriótico por toda a Itália. No correr do outono de 1847, uma terceira força se acresceu às do reformismo e do patriotismo. Depois de dois anos desastrosos, a colheita foi melhor, mas os preços se mantiveram elevados e a Itália foi então atingida pelos efei- tos da crise econômica européia. Por toda a parte na zona rural, mas particularmente na Sicília, os camponeses que dependiam intensamente dos direitos comuns de pastagem, de coleta de lenha e frutas silvestres, e de caça, tentaram recuperar terras que haviam sido ilegalmente cercadas depois de 1815. Uma tendência oculta de agitação camponesa mais ou menos continuada estendeu-se por 1848 adentro, contri- buindo para a instabilidade dos príncipes absolutistas. No correr desse mesmo período, a repressão e a con- cessão marcharam de mãos dadas na Itália. Distúrbios em Milão e em Reggio Calabria foram sufocados, mas algu- mas reformas menores na Toscana e no Piemonte excitaram o apetite por maiores mudanças. As diferentes lutas come- çavam a ligar-se umas às outrasna mente popular: a 8 de novembro, quando Milão festejava a indicação de um ita- 28 liano, Carlo Bartolomeo Romilli, como arcebispo sucedendo a um austríaco, as ruas vibraram com os gritos de "Viva Pio IX, viva a Itália". A polícia reprimiu violentamente a manifestação, matando uma pessoa e ferindo sessenta. Em fins de dezembro de 1847, foi anunciado um novo ministério em Roma, inteiramente composto por cardeais, decepcionando os que esperavam um governo leigo. Houve uma manifestação mais importante a 1? de janeiro de 1848 e o alarme público aumentou com as notícias de que os aus- tríacos haviam marchado sobre Parma e Módena. Em Tos- cana e em Gênova, os democratas moderados mobilizaram a opinião pública em favor de uma guarda civil para prote- ger e aumentar seus direitos. Como parte da montagem de uma campanha antiaus- tríaca na Lombardia, o professor Giovanni Cantori pediu aos cidadãos de Milão que deixassem de fumar - o tabaco era monopólio do governo - a partir de 1? de janeiro de 1848. Esse gesto ocasionou enorme reação. O vice-rei revi- dou, mandando que a polícia saísse à rua com charutos para, provocar a multidão e, então, prender os perturbado- res. O exército austríaco juntou-se à ação e, a 3 de janeiro, seis manifestantes foram mortos e cinqüenta foram feridos. Os distúrbios deflagravam de alto a baixo na península, ligados entre si pelo reformismo e pelo patriotismo antiaus- tríaco, mas basicamente respondendo a situações e ocorrên- cias locais. Uma ação de maior monta de alcance geral pode- ria transformar os focos locais numa conflagração generali- zada. Ela ocorreu bem ao sul, na Sicília. A 9 de janeiro de 1848, apareceu um manifesto nas ruas de Palermo instigando os sicilianos a pegar em armas para recuperar seus direitos legítimos. Por trás dessas pala- vras corajosas não havia qualquer organização concreta, mas apenas um acordo entre um pequeno grupo de patrio- tas em ir para as ruas e levantar o povo. Após um início vacilante, a 12 de janeiro, a insurreição ganhou velocidade, à medida que sicilianos de todas as classes se congregaram I 29 numa campanha para recuperar sua Constituição de 1812 e sacudir o jugo continental Bourbon. A 2 de fevereiro, o comitê geral de Palermo assumiu poderes de governo provi- sório e, em meados do mês, as únicas tropas dos Bourbons que haviam permanecido na ilha foram encarceradas em Siracusa e em Messina. A insurreição difundiu-se para o território continental a 17 de janeiro, e Fernando II sucumbiu rapidamente ante o fantasma da revolução. Seu chefe de polícia e seu confes- sor foram ambos exilados, formou-se um novo ministério, e a 29 de janeiro um decreto do rei anunciou a introdução de uma Constituição. Embora esta contivesse dispositivos relativos a uma câmara eleita, o verdadeiro poder permane- cia nas mãos da Coroa. O decreto foi recebido alegremente em Nápoles e desdenhosamente rejeitado por Palermo. Con- tudo, finalmente uma brecha fora aberta no muro do absolu- tismo. A 8 de fevereiro, Carlos Alberto, rei do Piemonte, cedeu às pressões e publicou um projeto de Constituição que garantia a liberdade de imprensa e a liberdade de associação, mas que mantinha a maior parte dos poderes nas mãos da Coroa. A 15 de fevereiro, a Toscana fez o mesmo. Em março de 1848, os compromissos entre os monar- cas absolutos e os moderados haviam acalmado a agitação por quase toda parte. Mas Palermo continuava a lutar pela autonomia, e na Lombardia-Venécia se concentravam perto de 70000 soldados austríacos a fim de reprimir distúrbios e intervir em qualquer parte da Itália. As notícias sobre a queda de Metternich, a 14 de março, e a introdução da Cons- tituição austríaca dois dias depois foram o sinal para que o norte da Itália tentasse livrar-se da dominação austríaca. Cattaneo e Milão Quando, a 17 de março, chegou a Milão a notícia da queda de Metternich, os moderados, que queriam conces- '1 31 30 I sões da Áustria, associaram-se temporariamente aos radi- cais, que queriam a insurreição. A figura-chave dessa aliança foi Carlo Cattaneo (1801-69). Advogado que havia feito um acurado estudo de economia, Cattaneo era um republi- cano liberal, mas não um democrata. Era também federa- lista, desconfiando do Piemonte como instrumento poten- cial de opressão e desejando que um congresso italiano se reunisse em Roma para decidir o futuro da Itália. Acima de tudo, era um municipalista, mais preocupado com a defesa da liberdade política em sua própria região do que com a independência da Itália. A luta contra as tropas austríacas começou em Milão, a 18 de março, e os moderados, liderados pelo prefeito, Gabriele Casati, pediram ajuda ao Piemonte "para expul- sar o inimigo comum para além dos Alpes". As coisas mar- chavam numa direção que pareceu perigosa a Cattaneo, que foi excluído do governo provisório então constituído. Depois dos "cinco dias gloriosos", Milão expulsou o comandante austríaco Radetzky, que se retirou para Vero- na, uma das duas únicas cidades na Lombardia-Venécia que não se haviam libertado do ocupante. Então, Cattaneo passou a compartilhar da sorte com os moderados e con- cordou em adiar a discussão sobre a futura forma de governo a guerra vinta (até que se vencesse a guerra). Sendo uma vitória dos moderados, isso significou o triunfo da lealdade local municipal sobre tudo mais. O pedido de ajuda de Milão chegou a Turim na tarde de 23 de março e, no dia seguinte, Carlos Alberto anunciou sua intenção de auxiliar a Lombardia contra os austríacos, manifestando-se a respeito do tema da libertação nacional e mostrando confiar em "que Deus tivesse posto a Itália em condições de ser capaz de agir por si mesma". O rei do Piemonte percebeu a oportunidade de acrescentar a Lombardia a suas possessões; queria, também, apoiar os moderados e evitar a vitória do republicanismo milanês, que ameaçaria seu próprio governo e possivelmente provo- caria a intervenção das grandes potências. I, Cattaneo, que temia que o republicanismo milanês fosse sufocado, caso o Piemonte assumisse o comando da cruzada contra a Áustria, atuou no sentido de evitar que o exército lombardo caísse sob controle píernontês. Tentou, então,dissolver o governo moderado, convocar uma assem- bléia lombarda e pedir a intervenção da França. Mazzini, que chegara a Milão, causou-lhe transtorno ao realçar a necessidade de primeiro obter a independência, enquanto Cattaneo via como requisitos primeiros o estabelecimento da república e da democracia. Os resultados de um plebis- cito convocado por Carlos Alberto, publicados a 8 de junho, confirmaram a derrota de Cattaneo. Chamados a votar a favor ou contra a fusão com o Piemonte, 561 002 foram favoráveis à anexação e apenas 681 a seu adiamento. Den- tro de dois meses, as suspeitas de Cattaneo a respeito de Carlos Alberto iriam confirmar-se. A guerra de Carlas Alberta A guerra nacional foi uma humilhação militar. O exér- cito piemontês, inteiramente despreparado para uma cam- panha ofensiva, marchou lentamente através da Lombardia na direção de Verona, onde Radetzky aguardava reforços de Viena, e não conseguiu evitar a chegada de uma tropa austríaca de reposição. Junho transcorreu em inatividade, enquanto Carlos Alberto aguardava os resultados do plebis- cito lombardo. Estava, então, preparado para tomar par- tido da Lombardia e dos ducados de Parma e de Módena, mas estava sob a pressão das tropas que se dispusera a enfrentar. Seu próprio governo não aceitaria outra solução que não estivesse baseada na evacuação das tropas austría- cas da Itália. A 25 de julho, os exércitos de Radetzky venceram os piemonteses na batalha de Custozza. Carlos Alberto pôs- se em retirada, ciente de que só poderia começar a nego- I.'--- 32 ciar com Viena quando suas tropas estivessem fora da Lombardia. O problema era Milão, que continuava sendo um viveiro de republicanismo: se ela continuasse lutando, com ou sem êxito, o exemplo de seu heroísmo se altearia em gritante contraste com o malogro do exército regular e daria novas esperanças ao republicanismo. O rei resolveu a dificuldade retirando-se para a cidade e, a seguir, entre- gando-a aos austríacos. Carlos Alberto anunciou o armistí- cio com a Áustria a 10 de agosto, acrescentando que "a cau- sa da independência italiana ainda não está perdida". Nos meses seguintes, acontecimentos internacionais voltaram-se contra a Itália. O comandante militar do impe- rador Fernando, o príncipe Windischgratz, subjugou uma revolta em Viena, a T? de novembro, e as pretensões de uma mediação internacional entre Viena e Turim fracassa- ram, quando se tornou claro que a França não interviria em auxílio do Piemonte. Em novembro, as grandes potên- cias haviam decidido que a Itália deveria retomar às fron- teiras de 1815. Contudo, as forças internas que haviam sido desencadeadas pela revolta não estavam dispostas a con- cordar. Em dezembro, os democratas assumiram o poder no Piemonte dispostos a prosseguir com a guerra, e não a render-se à Áustria. Carlos Alberto foi hábil em aquiescer a essas idéias: ele queria restaurar o prestígio perdido da monarquia e voltar a entrar em Milão como libertador, e os democratas estavam dispostos a lhe oferecer o comando do exército - um ato político necessário, mas militarmente imprudente. A segunda rodada da guerra começou a 20 de março de 1849 e terminou três dias depois com a derrota dos pie- monteses na batalha de Novara. Carlos Alberto abdicou naquela mesma noite em favor de seu filho mais velho, Vítor Emanuel, e retirou-se imediatamente para a Espanha - tão às pressas que se esqueceu de assinar um ato formal de abdicação. Vítor Emanuel encontrou-se com Radetzky em Vignale, na tarde de 24 de março de 1849 para discutir 33 as condições da paz. Mais tarde, difundiu-se uma lenda de que, naquele encontro, o rei recusou a oferta de uma expan- são do reino em troca da abolição da Constituição e de abrir mão da bandeira tricolor vermelha, branca e verde. Na verdade, Radetzky jamais propôs a abolição da Consti- tuição, mas ofereceu a Vítor Emanuel uma paz mais branda se ele estivesse disposto a voltar-se contra os democratas. A isto o novo rei estava disposto, deixando perfeitamente claro que não aprovava os democratas nem a retomada da guerra e que se propunha a governar de maneira autoritá- ria. Evidentemente, isso foi aceito pela Áustria, e o armistí- cio foi acertado a 26 de março. Manin e a república veneziana Em janeiro de 1848, Daniele Manin (1804-57), eminente político veneziano, solicitou que a Lombardia e a Venécia fossem "verdadeiramente nacionais e italianas", exigindo que Viena renunciasse ao controle do exército, da marinha e das finanças e que se abolissem os dízimos e se introdu- zisse a liberdade de expressão. Por causa disso, as autorida- des austríacas puseram-no numa prisão, da qual seria liber- tado por uma revolta popular a 17 de março, depois da che- gada a Veneza da notícia da queda de Metternich. Cinco dias mais tarde, notícias do levante em Milão impeliram Manin a liderar uma revolta que rapidamente pôs abaixo os austríacos. Durante os dezoito meses seguintes, Manin foi a figura de maior destaque enquanto Veneza, primeiro, tentava obter sua independência e, depois, lutava por ela. Embora consciente de um sentimento nacional italiano, Manin era primeiro e acima de tudo um municipalista, como Cattaneo, e lutava por sua cidade. Em segundo lugar, e com a mesma intensidade, era um republicano burguês, sem qualquer ideal socialista. Visava a políticas iluminadas - controle do preço do pão, elevação de salários e garan- hr-'" T [lI 34 tia de emprego dos trabalhadores municipais. Como Catta- neo, concordava também em deixar para mais tarde qual- quer decisão a respeito da forma de governo de uma Veneza independente a guerra finita. Quando, a 8 de junho, a província da Venécia votou maciçamente em favor da fusão com a Lombardia em um novo reino constitucional, Veneza ficou sozinha para conti- nuar sua cruzada contra a Áustria. Seguiu-se um período confuso, em que alguns argumentavam em favor da fusão; outros, de não abandonar a política ajustada de pospor as decisões; e ainda outros, de solicitar a ajuda da república francesa. Manin era cauteloso com CarIos Alberto, temendo que ele vendesse a Venécia aos austríacos em troca da Lom- bardia - coisa que, de fato, estava disposto a fazer. Então, a 23 de junho, a repressão da insurreição dos trabalhado- res de Paris deu fim a qualquer esperança numa interven- ção da França para ajudar uma república irmã. Precisando das tropas piemontesas para manter a independência de Veneza, Manin deixou-se persuadir a aceitar a fusão, a 3 de julho. Três semanas depois o exército de CarIos Alberto marchou para a derrota em Custozza. Isolada e cronicamente carente de dinheiro - os demais Estados italianos não comprariam bônus venezia- nos, nem aceitariam papel-moeda veneziano - Veneza ainda não estava inteiramente sozinha. O Piemonte tentou, uma segunda vez, derrotar a Áustria pela força das armas e, em março de 1849, a recém-constituída república romana aproximou-se de Veneza com vistas à formação de um bloco democrático. Manin foi obrigado a recusá-Io, pois tinha necessidade do apoio militar piemontês, mas CarIos Alberto deixou de ajudá-Io na batalha de Novara. Depois de Novara, Veneza decidiu continuar lutando. Foram em vão as esperanças de Manin de que a Grã-Breta- nha e a França pudessem intervir para salvar a jovem repú- blica: a Segunda República manifestou que não desejava empreender aventuras arriscadas no exterior, e Palmerston I , I L- 35 disse, a 20 de abril de 1849, que o tempo era chegado para a paz a qualquer preço. Num último lance diplomático, Veneza aliou-se à Hungria, a 20 de maio de 1849. Final- mente sozinha, após o colapso da república romana, carente de alimentos e de munição, bombardeada pela artilharia austríaca e assolada pela cólera, a cidade recebeu a notícia do colapso da revolução húngara a 19 de agosto de 1849. Imediatamente foram abertas negociações e, oito dias depois, tropas austríacas entravam na piazza San Marco. No dia seguinte, Manin partiu para o exílio. A república romana No correr dos primeiros meses de 1848, Pio IX tentou acalmar a agitaçãopopular e fortalecer a autoridade papal, embora ao pedir a bênção de Deus para a Itália ele excitasse os patriotas. A 13 de março, foi outorgada uma Constitui- ção e, quinze dias depois, após saber da notícia de levantes em Viena e em Milão, Pio atendeu a um pedido do Pie- monte e concordou em guarnecer de tropas a fronteira com a Venécia para manter os austríacos ocupados. Premido pela maioria leiga do governo, o papa permitiu que suas tropas cruzassem o rio PÓ, a 20 de abril. Imediatamente, a Áustria tornou pública sua hostilidade e, confrontado com a possibilidade de um cisma na Igreja Católica, Pio IX retirou-se da luta nacional, proclamando, a 29 de abril, que não tinha ambições temporais. Os contemporâneos encararam esse ato como uma traição; os historiadores têm- se inclinado a vê-Io como a destruição de um mito artifi- cialmente criado de um papa liberal. Em' setembro, a situação nos Estados Papais era ten-sa. Numa tentativa para recuperar o terreno perdido, o papa nomeou PeIlegrino Rossi como cabeça da administração, a 16 de setembro de 1848. Rossi deu início a um programa de ordem pública, e suas medidas, entre as quais a diminui- 36 ção da liberdade de imprensa e a ampliação dos poderes da polícia, despertou o ódio dos democratas. Ao abrir-se o par- lamento, a 15 de novembro, Rossi foi assassinado. Nove dias depois, o papa fugiu para Gaeta, em busca de refúgio junto ao rei de Nápoles. Os deputados romanos entregaram o poder a uma junta de três homens, respaldada por um movimento democrático de massa nas províncias, e os patrio- tas afluíram em quantidade para Roma, entre eles Giuseppe Garibaldi. Em fins de dezembro, a junta anunciou a convo- cação de uma assembléia a ser eleita por sufrágio universal direto. A assembléia reuniu-se a 5 de fevereiro de 1849 e, cinco dias depois, declarou Roma uma república. Desde o momento de seu nascimento, começaram a arregimentar-se forças contra a jovem república. A 8 de fevereiro, chegaram notícias de que tropas austríacas haviam voltado a ocupar Ferrara e sabia-se que tropas dos Bour- bons estavam reunindo-se no sul. Quando chegaram as notí- cias da derrota piemontesa em Novara, a 23 de março, o poder foi entregue a um triunvirato de que fazia parte Maz- zini. Roma estava, então, numa posição desesperada: a Áustria e a França estavam ambas determinadas a promo- ver a restauração do papa e nenhuma outra grande potên- cia opunha-se a elas. Tropas francesas desembarcaram em Civitavecchia, a 24 de abril, e marcharam sobre Roma, ata- cando a cidade seis dias depois. No correr de maio, os aus- tríacos avançaram para o interior dos Estados papais, tomando Bolonha, Ancona e Perúgia; a república foi ata- cada por Fernando lI; e 4000 espanhóis desembarcaram e tomaram Terracina, na fronteira do reino de Nápoles. A 4 de junho, 35000 soldados franceses desencadearam seu grande ataque. Após um mês de intensa luta, a cidade deci- diu recebê-Ios "impassivelmente", a 2 de julho. Naquela noite, Garibaldi abandonou a cidade para prosseguir com a luta. Após uma tortuosa jornada, durante a qual faleceu sua mulher, Anita, chegou a Gênova no ano seguinte, e dali partiu para Liverpool e Nova York. Não regressou à 37 Itália por quatro anos. Nesse ínterim, Mazzini escapara de Civitavecchia a 12 de julho, disfarçado e usando passaporte norte-americano. Nápoles e Sicília Os rebeldes sicilianos, recusando-se a aceitar a conces- são de Fernando II de um parlamento na ilha, sentiram-se encorajados com o levante de Milão. Um governo provisó- rio proclamou, a 13 de abril de 1848, que Fernando e seus sucessores estavam banidos para sempre do trono da Sicília e anunciou que, uma vez reformada a Constituição, seria convocado um príncipe italiano para ocupar o trono. Esta medida destinou-se a garantir o necessário apoio britânico e a abrandar aqueles que temiam que o novo governo pudesse ir longe demais na direção dos revolucionários que queriam pôr em execução mudanças sociais. No território continental, as notícias dos "cinco dias" de Milão deram origem a distúrbios antiaustríacos (ver p. 30). Um núcleo de artesãos e trabalhadores de Nápoles começou a disseminar idéias revolucionárias, mas os laz- zari (as massas de pobres napolitanos) mantinham-se leais a Fernando II. Os choques de abril e maio entre a Coroa e o governo moderado terminaram quando Fernando II dis- solveu a assembléia e a guarda nacional de Nápoles a 17 de maio. Os democratas do continente não fizeram qual- quer tentativa para aliar-se aos camponeses que se agitavam por quase toda parte, e em meados de julho os levantes haviam sido esmagados. A 7 de setembro, o reacionário Raffaele Longobardi assumiu o ministério do interior, e o absolutismo foi restaurado no território continental. Na Sicília, o separatismo era visto como se fosse a par- teira da democracia. Em julho, após um trabalho de parto de quatro meses, um parlamento eleito elaborou uma Cons- tituição que, pelos padrões de então, era muito avançada, 38 uma vez que dela constava o princípio da soberania popu- lar. O rei ofereceu, então, à ilha seu próprio parlamento, exército e administração, mas isso foi enfaticamente recu- sado. Então, a 28 de fevereiro de 1849, no chamado "Ato de Gaeta", Fernando fez sua oferta final. A Sicília seria governada por um vice-rei, mas teria seu próprio parla- mento, finanças separadas, ministros sicilianos e funcioná- rios públicos sicilianos. Aceitar isso significava capitulação; rejeitar significava guerra sem apoio britânico ou francês. A ilha tergiversou - e os moderados mudaram de posição à medida que .perderam o controle os grupos que haviam sido utilizados para expulsar os Bourbons, e se apresenta- ram reivindicações socialistas de nacionalização de terras. A 19 de março de 1849, Fernando anunciou que estava ter- minada a trégua e, dez dias depois, o general Carlo Filan- gieri deu início ao processo de retomada da ilha. As cida- des caíram uma após outra e, finalmente, a 15 de abril de 1849, Palermo estava de volta às mãos dos Bourbons. Por que malogrou a revolução de 1848-9? A primeira e mais óbvia resposta é que o vácuo de poder deixado pela retirada da Áustria foi apenas temporário. Assim que Viena recuperou o controle de seus assuntos internos, ficou livre para esmagar as revoltas italianas. Estas, por sua vez, não tinham como obter apoio externo; apenas a França parecia simpatizar-se com os revolucionários republicanos, mas Luís-Napoleâo Bonaparte estava mais preocupado em tran- qüilizar os católicos franceses quanto à sua moderação, mediante a restauração do papa, do que em dar apoio à jovem planta do nacionalismo. Em segundo lugar, as diver- sas revoltas haviam, no fundo, sido localistas, e não nacio- nalistas; símbolo disso era a bandeira da república vene- ziana, que era a tricolor italiana, vermelha, branca e verde, com o leão de São Marcos num dos cantos. Carlos Alberto lutara pelo Piemonte; Cattaneo, por Milão; Manin, por Veneza; os romanos, por sua república; e os sicilianos, por 39 sua ilha. Em 1848, ninguém lutou pela Itália. Em terceiro lugar, os revolucionários estavam, ainda, politicamente divi- didos; evidência disso é a suspensão do debate a respeito da natureza do governo em Milão e Veneza a guerra vinta. O malogro de 1848 foi de grande importância na histó- ria do Risorgimento, pois ajudou a deixar claros alguns fatos. A insurreição não funcionaria. Toda tentativa de avanço exigia um esforço unificado para que pudesse ter alguma chance de êxito. Um esforço desse tipo fracassaria se não houvesse uma liderança comprometida que todos pudessem aceitar. E qualquer programa político comum não deve contrapor os que estão dispostos a lutar pela inde- pendência; os nacionalistas da classe média não queriam o socialismo a qualquer preço. Também era vital o apoio estrangeiro para que se desse fim à dominação austríaca. A diversidade de idéias e de metas havia dividido os patrio- tas. O fracasso provocou o reconhecimento da necessidade de encontrar um denominador comum. Mas, até que a per-gunta "Que espécie de Itália?" pudesse ser respondida com certo grau de unanimidade, a unificação da Itália conti- nuou sendo um sonho. 4 Que' espécie de Itália? Mazzini e Cavour, 1849-59 Primeiras reações a 1848 o domínio austríaco restabeleceu-se rapidamente e ampliou-se no norte da Itália, Na Lombardia-Venécia, Radetzky instituiu uma política de repressão dura, o que alienou as massas, e elevou de um terço o imposto sobre a terra, irritando os proprietários fundiários. Tropas austría- cas ocuparam a Toscana até 1855 e as Legações Papais até 1859; e Viena também sustentou os ducados de Parma e de Módena. Os vínculos se estreitaram mediante um tra- tado de comércio internacional entre a Áustria e a Lombar- dia, em 1851, e, em 1852, mediante uma unificação alfande- gária por cinco anos entre a Áustria, Parma e Módena. No reino das Duas Sicílias, o regime constitucional termi- nou em março de 1849, quando a câmara foi dissolvida. Foram feitos alguns acenos ao separatismo siciliano, mediante a criação de uma administração separada e de um ministro para a Sicília, mas a ilha era governada por um vice-governador e a autoridade última era do rei de Nápoles. Durante essa dominação despótica, o campesinato passava muito mal e a nobreza, bem: o odiado macinato (imposto sobre os cereais) foi reintroduzido e aumentado, 41 mas o imposto sobre a terra foi mantido a 1%, e a nobreza valeu-se da venda de terras anteriormente de posse coletiva e, desse modo, ampliou seu patrimônio. Começou, então, a autópsia de 1848, e com ela a extin- cão do republicanismo mazzinista. A contestação teve iní- cio, primeiro, com Giuseppe Ferrari, em Filosofia e revolu- ção, publicado em 1851. Ferrari acreditava que a ajuda da França era fundamental para o êxito de uma revolução ita- liana e rejeitava a antiquada crença de Mazzini apenas numa revolução política, afirmando que a Itália devia ter também uma revolução social. Mazzini reagiu com a publi- cação de uma manifesto que continha um vago esboço de um programa sócio-econômico, e começou uma vez mais a montar grupos conspiratórios nos Estados Papais, na Toscana e na Lombardia. Nessa etapa, os republicanos e os socialistas partilhavam a opinião de que uma revolução italiana nacional só poderia vir como parte de uma revolu- ção européia mais ampla e esperavam que a Segunda Repú- blica francesa reacendesse as chamas de 1848. Suas esperan- ças se frustraram quando o golpe de Estado de Luís-Napo- leão Bonaparte, a 2 de dezembro de 1851, deu fim à existên- cia da Segunda República. Em Piemonte-Sardenha, as eleições de dezembro de 1849 deram origem a uma câmara dominada pelos conserva- dores. Pressões vindas do rei e dos grupos de direita, no sen- tido da suspensão do Statuto de março de 1848, podiam ter, a essa altura, aniquilado o liberalismo piemontês, mas o pri- meiro-ministro, Massimo d' Azeglio, foi bem-sucedido em resistir a isso. Um segundo perigo era o de que o desenvolvi- mento político piemontês pudesse ser paralisado dentro do constitucionalismo monárquico conservador representado pelo Statuto - nulla di piú, null di meno (nada mais, nada menos). O que evitou isso, foi a pressão para reformar a legislação eclesiástica e dar fim aos privilégios clericais, tais como a jurisdição independente. A separação de Turim do Papado, que então começava, foi um passo importante para 42 a criação de um novo foco para os sentimentos patrióticos. A Igreja havia traído a revolução nacional e o governo cons- titucional: o apoio ao Piemonte representou um golpe con- tra ela, bem como um ponto em favor da Itália. Mazzini e Pisacane: o malogro da insurreição Em abril de 1853, Mazzini rebatizou seu partido como Partido da Ação e modificou o quadro de associados para aumentar a representação da classe operária. Sua tática também mudou: reconhecendo que as cidades estavam muito bem policiadas, determinou que se sublevassem as massas rurais, mediante o exemplo de pequenos grupos de patriotas. Quatro tentativas de sublevar o povo de Luni- giana, entre setembro de 1853 e julho de 1856, fracassaram inteiramente e, em conseqüência disso, Mazzini começou a considerar uma aliança com os socialistas. Estes estavam dispostos a manter relações operacionais éom ele, uma vez que se haviam perdido todas as esperanças de ajuda externa da França com o golpe de Estado de dezembro de 1851. A nova associação justificou-se pela teoria da bandiera neutra (bandeira neutra): as discussões ideológicas seriam suspen- sas a fim de juntar elementos políticos distintos para um programa de ação comum. Em conseqüência dessa mudança de rumo na política, Mazzini estabeleceu um acordo com um soldado inteligente, ainda que algo teimoso, Carlo Pisa- cane. Carlo Pisacane (1818-57) havia servido no exército do rei de Nápoles, antes de aparecer em Londres, em 1847. Ali se encontrou e associou-se com exilados republicanos e socialistas, antes de regressar em 1848, para combater, pri- meiro pelo Piemonte, a seguir, pela república romana. Pisa- cane era um socialista com idéias bem evoluídas a respeito dos interesses de classe e dos perigos de colaborar com as classes médias. Não acreditava que os interesses do proleta- 43 riado e da burguesia pudessem chegar a um acordo político e não tinha grande respeito pelos insurretos mazzinistas, criticando particularmente o fato de não terem um programa social: "Um povo que se rebela antes de saber que remédio aplicar a seus males está perdido", escreveu ele. Duas coisas impeliram Pisacane à ação. Ficou alar- mado com as conseqüências da participação do Piemonte na Guerra da Criméia (1854-6), a qual parece ter sido reco- nhecida como a força mais capaz de unificar a Itália, uma vez que se opunha energicamente às políticas de Cavour; e acreditava que as forças antiburguesas tinham uma chance de vitória, porque a repressão social e política havia che- gado a níveis insuportáveis, enquanto os elementos conser- vadores e antipopulares não possuíam suficiente coesão para reprimir qualquer revolta. Isso parecia particularmente verdadeiro no sul, e dois pequenos levantes na Sicília, em novembro de 1856, estimularam o Partido da Ação a bus- car obter êxito lá .. Pisacane desembarcou em Sapri a 28 de junho de 1857 com uma tropa de cerca de 350 homens. Todos os indícios eram maus: a organização local não estava pronta; as auto- ridades haviam sido alertadas; os líderes locais haviam deci- dido a não agir enquanto não houvesse claros sinais de que o empreendimento teria êxito; e a maior parte dos campo- neses estava fora, na Apúlia, trabalhando na colheita. Insur- reições em Livorno e em Gênova, planejadas por Mazzini para incitar seus moradores, deixaram de acontecer. Espe- rando ter engrossadas suas fileiras com grande número de camponeses entusiasmados, o grupo só recebeu a adesão de um único homem idoso. AI? de julho, entrou em ação contra tropas locais, sendo mortos cerca de 150 dos seguido- res de Pisacane. Os sobreviventes foram encurralados no dia seguinte; depois que os habitantes de uma aldeia vizi- nha voltaram-se contra eles, e Pisacane foi morto. Sua morte veio provar que'as massas estavam muito desprepara- das para se associarem a revolucionários cujos objetivos não compreendiam, e com os quais não se afinavam. · 44 Cavour e a origem da predominância do Piemonte o conde Camillo Benso di Cavour (1810-61) nasceu em Turim, segundo filho de um aristocrata conservador. Após servir quatro anos no exército, renunciou a sua patente em 1831 e viajou longamente pela Europa, visitando a França, a Inglaterra, a Suíça e a Bélgica. Tornou-se um especialista em desenvolvimento agrícola e comercial. Assis- tiu também à revolução de julho, e isso o tornou, por toda a vida, um adversário do republicanismo e do socialismo, bem como do anti-racionalismo das dinastias conservado- ras. Seu rumo político determinou-se precocemente; em março de 1833, escreveu a um amigo: "Afirmo-lhe que sou verdadeiramente favorável ao juste milieu, aspirando ao progresso social, desejando-o e por ele trabalhandocom todas as minhas forças, mas decidido a não pagar por ele o preço de uma convulsão política e social generalizada". Para refrear a anarquia, por um lado, e o despotismo, por outro, Cavour desenvolveu um sistema baseado na liderança de uma elite racional alicerçada num parlamento eleito pela minoria instruída e responsável. Idéias como essas tornaram conservadores Guizot, na França, e Peel, na Grã-Bretanha. No Piemonte, fizeram de Cavour um liberal. Cavour ingressou no governo piemontês, em outubro de 1850, como ministro da agricultura, tornando-se pri- meiro-ministro, pela primeira vez, 25 meses depois. A base de sua predominância na política piemontesa, que manteve até a morte, encontra-se na resistência conjunta por ele engendrada, em fevereiro de 1852, entre os dois maiores agrupamentos políticos do parlamento piemontês - seu próprio partido de centro-direita e o grupo de centro- esquerda de Ratazzi - contra a pretensão do rei de estabe- lecer o julgamento sem júri para delitos de imprensa. Esse connubio (casamento), como foi chamado, deu a Cavour 1I III II II1 " J 45 considerável liberdade de manobra. Um extenso corpo de apoio no centro do espectro político habilitou-o a conter os extremos do republicanismo mazzinista e do despotismo monárquico; permitiu-lhe, também, alterar sua base polí- tica de acordo com as circunstâncias, manobrando para a direita, quando queria amordaçar a imprensa, ou para a esquerda, quando queria estimular o sentimento naciona- lista; e proporcionou-lhe uma base de apoio parlamentar durante longo período de tempo. Contudo, Cavour foi acu- sado de deixar atrás de si um amargo legado. Para alguns, ele é o pai do transjormismo, a prática de reformular os gabinetes a fim de incluir elementos dissidentes e furtar-se a perigosas críticas parlamentares, amplamente presente na Itália liberal e contra a qual o fascismo representou uma reação. Ademais, o connubio impedia o crescimento de um sistema pluripartidário; em lugar dele, a política italiana passou a girar. em torno de líderes monolíticos singulares - Cavour, Depretis, Crispi e, finalmente, Mussolini. Cavour assentou bases econômicas sólidas para sobre elas fundar a expansão do Piemonte. Acabou com o prote- cionismo, concluindo tratados bilaterais com a França, Grã- Bretanha, Bélgica e Áustria. Sob sua orientação geral, introduziram-se novas técnicas na agricultura; expandiram- se metalúrgicas, fundições e fábricas; a frota mercante cres- ceu; o Banca Nazionale foi fundado; e expandiram-se as ferrovias, as rodovias e o telégrafo. A posição da Igreja também foi enfraquecida à medida que se aboliram os tri- bunais eclesiásticos e os direitos de asilo e que se introduziu o casamento civil. Em 1855, Cavour desafiou o rei e a antiga direita, fazendo aprovar uma lei que suprimia todos os conventos que não fossem dedicados à pregação, ao ensino, ou ao cuidado dos doentes. Essas políticas anticleri- cais começaram a indispor o Papado e, conseqüentemente, atraíram democratas moderados e republicanos hesitantes. Em 1852, Cavour encontrou-se com Napoleão IlI. Per- cebeu rapidamente que a expansão piemontesa devia ter 46 apoio externo, fator que faltara em 1848; a 7 de setembro de 1852, ele escreveu a um companheiro nacionalista, Michelangelo Castelli: "nosso destino depende sobretudo da França. Queiramos ou não, teremos de ser seu parceiro na grande disputa que, mais cedo ou mais tarde, se irá tra- var na Europa". A oportunidade veio em 1854. Posterior- mente, certos historiadores do Risorgimento descreveram o envolvimento piemontês na Guerra da Criméia como o ato calculado de um estadista de larga visão, que progra- mou obter a simpatia das grandes potências como primeira etapa de um programa de expansão. A verdade foi muito diversa. Cavour queria apenas arrancar de Viena algumas concessões bastante desimportantes, mas Vítor Emanuel estava ansioso por entrar na guerra - tendo até mesmo se oferecido para comandar os exércitos aliados. A 9 de janeiro de 1855, o primeiro-ministro soube, pelo representante fran- cês em Turim, que o rei pretendia pô-lo para fora, introdu- zir um primeiro-ministro conservador e entrar na guerra. A ver a Coroa enganar o parlamento e impingir-lhe um ministério, o que viria a interromper o progresso feito pelo parlamento desde 1852, Cavour preferiu concordar com a guerra. No Congresso de Paris, que se seguiu ao término das hostilidades, Cavour procurou utilizar a simpatia interna- cional para enfraquecer a dominação austríaca do norte da Itália. Seu esquema para depor os governantes Habs- burgo dos ducados de Parma e de Módena falhou quando a Grã-Bretanha se recusou a desmembrar o Império Turco a fim de encontrar um principado no Danúbio para um daqueles duques. Isso obrigou Cavour a reconhecer que apenas negociações diplomáticas não fariam progredir a causa piemontesa, e que havia "somente uma solução ver- dadeiramente eficiente para a questão italiana: o canhão". Cavour precisava da simpatia internacional para agir contra a Áustria, e o governo constitucional do Piemonte era um fator para assegurá-Ia. Precisava, também, atrair 47 os patriotas italianos para longe do republicanismo e do socialismo. Giorgio Pallavicino, fundador da Sociedade Nacional Italiana, teve nisto papel fundamental. Desde 1851, Pallavicino trabalhava incansavelmente para conver- ter à causa do Piemonte aqueles que haviam participado de 1848, argumentando que querer a independência era que- rer os meios de obtê-Ia e que o único meio disponível era o exército piemontês. Este e a opinião nacional eram, em sua opinião, as duas "forças vivas da Itália", e ele plane- jou ligá-Ias uma à outra. Isso significava convencer os patriotas de colorações diversas a enterrar suas divergên- cias até que a Áustria fosse posta para fora da península: "Primeiro a independência, depois a liberdade". Ele con- quistou primeiro Manin, depois Cattaneo e, finalmente, Giuseppe Garibaldi, o carismático general guerrilheiro, cujos bandos haviam tido um desempenho muito melhor do que o exército regular. Cavour estimulou a Sociedade, formal- mente fundada em 1857, a tornar públicas suas metas e a organizar os voluntários que começavam a pulular no Pie- monte, percebendo que isso atrairia para seu séquito os muitos democratas que se desagradavam das técnicas de Mazzini. Os exércitos piemonteses e os voluntários entusiasma- dos não bastariam para expulsar os austríacos do norte da Itália. Para ser bem-sucedido, o novo nacionalismo italiano precisava do apoio ativo da França. Paradoxalmente, a ten- tativa de um carbonaro italiano, Felice Orsini, de assassi- nar Napoleão III, a 14 de janeiro de 1858, foi o que impe- liu Paris a apoiar Turim. Em seu julgamento, Orsini fez um apelo apaixonado ao imperador francês para que tor- nasse a Itália independente, afirmando que não haveria paz na Europa' enquanto não o fizesse. Napoleão ficou impres- sionado e, em maio de 1858, fez propostas secretas a Cavour. Ofereceu uma aliança contra a Áustria em troca de um casamento entre seu sobrinho e a filha de Vítor Emanuel. Num encontro secreto em Plombiêres, a 20 de 48 julho - sobre o qual Cavour não consultou seu gabinete -, firmou-se o acordo. Isto revela muito claramente os objetivos limitados de Cavour. Após provocar uma guerra com a Áustria, Napoleão propôs a divisão da Itália em qua- tro partes: um reino da alta Itália, que incluiria Piemonte- Sardenha, Lombardia, Venécia e a Romanha; Roma e seus arredores, a serem governados pelo papa; um reino sepa- rado da Itália central, talhado a partir do restante dos Esta- dos Papais e da Toscana; e um reino do sul, sobre o qual nada se dizia. Em troca da ajuda para realizar isso, Napo- leão exigia o casamento piemontês bem como Nice e Sabóia. O tratado da aliança foi assinado a 26 de janeiro de 1859, e o casamento teve lugar quatro dias depois. No último momento, a esmerada manobra de Cavour pareceu estar à beira de dar em nada. Não só a Grã-Breta- nha ofereceu-se como mediadora entre o Piemonte e a Áus-tria, como a França pareceu mudar de idéia. Então, a 23 de abril de 1859, a Áustria apresentou um ultimato a Turim, exigindo que o exército piernontês fosse desmobilizado e que os regimentos de voluntários organizados sob a égide da Sociedade Nacional Italiana fossem dissolvidos. Cavour recusou-se a atender à exigência e a guerra foi deflagrada a 29 de abril. 5 o triunfo do Piemonte, 1859-70 Toda a habilidade diplomática de Cavour e sua ânsia pela expansão não teria valido de nada, se não houvessem sido favorecidas por um ambiente internacional favorável, no momento em que o Piemonte desencadeou o que iria tornar-se a conquista da Itália. A Rússia, ainda magoada com o fato de a Áustria ter deixado de apoiá-Ia durante a Guerra da Criméia, concordou em não intervir em favor dela na Itália; e a Prússia, humilhada pela Áustria em Olmütz, nove anos antes, quando procurara conseguir parte do controle da Alemanha, não tinha melhor disposição em relação a Viena. A França tendia a ver, na expansão . do Piemonte no norte da Itália, um obstáculo para a Áus- tria. E a Grã-Bretanha estava disposta a oferecer um apoio ativo às ambições piemontesas. A causa italiana era uma causa popular na Grã-Breta- nha. Havia grande admiração pela cultura italiana; a legisla- ção anticlerical do Piemonte agradava aos sentimentos anti- papais; as minas de enxofre da Sicília e as ferrovias italia- nas ofereciam oportunidades de investimento e de lucro; Garibaldi era igualmente venerado como herói pelas classes trabalhadoras e pela alta sociedade; e o rei de Nápoles era 50 detestado. A rainha Vitória expressou uma opinião profun- damente sentida por todos ao escrever que "como um país constitucional liberal, que ergue uma barreira contra os prin- cípios tanto obscurantistas e absolutistas quanto revolucio- nários [... ] [o Piemonte] tem direito de esperar de nós que o apoiemos". Finalmente, a eleição geral de 1859 colocara o leme da política britânica nas mãos de um primeiro-minis- tro, Palmerston, que era antiaustríaco e calculava que dar respaldo ao Piemonte reduziria o poder da França na Europa continental. As circunstâncias favoreceram o Pie- monte em 1859 e continuaram a fazê-Io até o momento em que Roma foi afinal conquistada, onze anos mais tarde. A guerra de 1859 e a anexação da Itália central Vítor Emanuel comandou um exército misto, composto de 93000 italianos e 200000 franceses, apenas por dezoito dias, durante os quais o exército austríaco não efetuou nenhum avanço significativo, até que, a 14 de maio, che- gasse Napoleão 111para assumir o comando supremo. As tropas coligadas avançaram para Milão e os soldados fran- ceses travaram sangrenta batalha em Magenta, a 4 de junho, depois da qual os austríacos abandonaram Milão e recua- ram para o leste. Nesse ínterim, os guerrilheiros de Gari- baldi capturaram Bréscia e Saló, ao norte. Francisco José assumiu então pessoalmente o comando das tropas austría- cas e marchou com seu exército ao encontro das tropas alia- das que avançavam. A 24 de junho, os austríacos foram derrotados em batalhas simultâneas contra os franceses, em Solferino, e os piemonteses, em San Martino. Nesse meio tempo, a guerra estimulara uma seqüência de levantes que fariam Cavour enfrentar um sério dilema. Uma insurreição toscana, a 27 de abril, depôs o grão-duque e fez de Vítor Emanuel 11 o protetor da província pelo I i I: 51 tempo que durasse a guerra. Os governantes de Parma e Módena fugiram após a batalha de Magenta e os ducados pediram para ser anexados por Turim. Ao mesmo tempo, as tropas austríacas foram chamadas de volta de Bolonha, e a população concedeu o poder de "ditador" a Vítor Ema- nuel. Rapidamente, as perturbações populares estenderam- se para o sul através das Legações Papais e até a Úmbria e as Marcas. O nacionalismo disseminava-se mais rapidamente do que esperara Napoleão 111.Continuar a guerra seria sofrer baixas mais pesadas. Seria também colocar a Itália central nas mãos do Piemonte. Em vez disso, Napoleão 111prefe- riu propor unilateralmente um armistício, a 5 de julho, aceito por Francisco José três dias depois. Os termos elabo- rados pelos dois imperadores entregavam à França a maior parte da Lombardia, que a transferiria a Turim; Venécia continuava sendo parte do império austríaco; os governan- tes da Toscana e de Módena deveriam voltar a seus tronos; e o governo papal voltaria a impor-se às Legações. Cavour quis dissuadir Vítor Emanuel de aceitar essas condições e renunciou quando o rei se recusou a seguir sua orientação. Uma vez que Venécia não havia sido entregue, de acordo com o Pacto de Plombieres, Nice e Sabóia continuaram em mãos piemontesas. O sentimento popular atuava, então, em favor do Piemonte. Uma assembléia representativa eleita em Tos- cana, a 7 de agosto, proclamou, por unanimidade, a queda definitiva da dinastia anterior e, treze dias depois, votou em favor de tornar-se parte do reino constitucional de Vítor Emanuel. Parma, Módena e as Legações Papais expressa- ram o mesmo sentimento popular. Embora os quatro Esta- dos centrais formassem uniões militares e alfandegárias, os diplomatas piemonteses, presentes à Conferência de Paz de Zurique, opuseram-se com êxito à idéia de que se nomeas- se um regente para governar conjuntamente os quatro Esta- dos. ~- w 52 Em janeiro de 1860, Cavour voltou ao poder, conven- cido de que se poderia convencer a França a aceitar que o Piemonte anexasse os quatro Estados centrais italianos, em troca de Sabóia e Nice. Quando Napoleão 111 replicou com a idéia de uma Toscana independente, o que seria um obstá- culo à unificação, o primeiro-ministro decidiu recorrer à democracia em apoio a sua diplomacia. Em março de 1860, realizaram-se, na Toscana e Emília, plebiscitos baseados em sufrágio universal, nos quais se apresentou aos eleitores a escolha entre "anexação à monarquia constitucional do rei Vítor Emanuel 11" ou um "reino em separado" de natu- reza não-especificada. Em Emília, votaram 427512, de um eleitorado de 526218 (81070), dos quais 426006 escolheram a anexação; na Toscana, votaram 386445 dos 534000 (73%), com 366571 favoráveis à anexação. Ambos os Estados foram declarados, por um decreto régio, parte integrante do reino piemontês-sardo e, a I? de abril de 1860, anunciou-se que, em troca, Sabóia e Nice seriam entregues à França. No caso destas, a democracia funcionou retrospectivamente: plebisci- tos realizados a 15 e 22 de abril resultaram em esmagadoras maiorias favoráveis à união com a França - 85% em Nice e 97% na Sabóia. Garibaldi e a Sicília Na noite de 3 para 4 de abril de 1860, um mestre enca- nador chamado Francisco Riso iniciou uma pequena insur- reição em Palermo. Ela foi rapidamente debelada e treze de seus cabeças foram fuzilados. Essa retaliação das autori- dades Bourbons ocasionaram de imediato uma reação ines- peradamente dramática: motins estouraram em outras cida- des por toda a ilha e, em breve, grupos armados controla- ram o interior, como haviam feito em 1848. A situação revolucionária, pela qual esperavam os republicanos sulis- tas, subitamente parecia estar desenvolvendo-se. Só faltava 1,,- 53 um líder para o movimento, e um eminente republicano sici- liano, Francesco Crispi, pediu a Garibaldi que empunhasse a bandeira da independência. Garibaldi estava sendo pressionado a ir para Nice, cidade em que nascera, para lá liderar uma campanha con- tra o plebiscito. Mas convenceu-se a ir para o sul depois que Crispi lhe mostrou um telegrama - provavelmente for- jado - que dizia que a revolução se avolumava por todo o interior da Sicília. Cavour preocupava-se profundamente com as conseqüências internacionais, caso Garibaldi fosse para a Sicília, para Nice ou para os Estados Papais, como parecia estar cogitando fazer, na medida em que qualquer um desses atos poderia provocar a intervenção das grandes potências e fazer o Piemonte perder a boa vontade de que vinha desfrutando. Não conseguiu deter a expedição, mas impediu que o rei lhe desse apoio declarado. Garibaldi desembarcouem Marsala a 10 de maio de 1860, acompanhado de seus famosos Mille (os Mil) - real- mente 1088 homens e 1 mulher. Metade de sua tropa era de origem burguesa, e a outra metade composta de arte-; sãos e operários. O maior grupo de mesma origem provi- nha da Lombardia, e havia apenas 45 sicilianos no destaca- mento. Como seu grupo estava diante de 25000 soldados dos Bourbons, que ocupavam a ilha, suas chances de êxito pareciam muito pequenas. Qualquer que fosse o resultado, Cavour esperava tirar proveito dele: escrevendo seis dias após o desembarque, afirmava: "Se a insurreição siciliana for esmagada, não diremos nada; se tiver êxito, intervire- mos em nome da humanidade e da ordem". Sua esperança era ou ver-se livre de um patriota, que era também um democrata com simpatias republicanas, ou esvaziar o êxito de seu incômodo aliado. Duas forças vieram em ajuda de Garibaldi e permiti- ram-lhe alcançar o impossível. Uma era o tradicional sepa- ratismo das classes média e alta da Sicília. As tentativas dos Bourbons para conquistar esses grupos, após as revolu- --- ._- S4 ções de 1820-1, pela renúncia às tarifas do selo e do tabaco e pela não-reintrodução do recrutamento, não conseguiram conquistá-Ios para Nápoles, em grande parte porque o governo, no continente, insistia em tentar pressionar em favor da reforma agrária. Esta ação também deu origem ao segundo elemento que desestabilizou a Sicília: a agitação camponesa. Com o fim legal do feudalismo, grandes senho- res rurais punham em prática uma política cruel de cerca- mento de terras comuns. O carnpesinato perdeu uma série de direitos dos quais dependia para viver: cortar lenha, colher bolotas de carvalho e castanhas, queimar calcáreo, recolher restos de colheita e, mais do que tudo, pastorear animais. Os lentos e incompreensíveis procedimentos legais não os ajudavam nem um pouco. A 13 de maio, Garibaldi anunciou que assumia a dita- dura da Sicília em nome de Vítor Emanuel lI, e dois dias depois obteve importante vitória sobre as tropas dos Bour- bons em Calatafimi. A seguir, atacou Palermo; e o coman- dante dessa cidade, não conseguindo obter nenhuma instru- ção clara de Nápoles, capitulou a 6 de junho. Então, Gari- baldi dividiu a ilha em 24 distritos, cada um com um gover- nador, cancelou muitos dos impostos e tarifas dos Bour- bons, entre os quais o odiado macinato, e expediu um decreto dividindo as terras comunais entre os que haviam lutado na guerra de libertação, ou seus herdeiros. Seguiram- se graves dist úrbios à medida que os camponeses, total- mcut c desinteressados de acompanhar Garibaldi ao territó- rio coutiuentul, tentavam apossar-se das terras que haviam sido ilcgulmcntc adquiridas a partir de 1812. A revolução política, Garibaldi estava disposto a liderar; a revolução social ultrapassava de muito o que ele podia admitir. As armas de seus soldados voltaram-se contra o campesinato em Bronte, a 4 de agosto de 1860, e muitos sicilianos come- çaram a pensar que a anexação ao Piemonte oferecia o melhor caminho para a estabilidade e a segurança. ~ SS Cavour viu-se em posição muito difícil em conseqüên- cia do êxito de Garibaldi. A França começou a pressionar no sentido de um armistício de seis meses entre Nápoles e a Sicília, e, uma vez que Garibaldi não dava sinal de estar disposto a adiar seu salto para o território continental, avul- tava o fantasma da intervenção francesa. Ademais, o rei solapava ativamente a política de seu primeiro-ministro. Vítor Emanuel escreveu a Garibaldi transmitindo, como "sugestão", a proposta de que todas as tropas dos Bour- bons deixassem a Sicília, se Garibaldi prometesse não desembarcar em território continental, mas mandou-lhe também uma mensagem secreta, aconselhando-o a respon- der em termos respeitosos, mas a afirmar que se não agisse contra o território continental os patriotas italianos iriam censurá-Io. O que mais preocupava Cavour era que Gari- baldi simplesmente se recusasse a desistir da ditadura que assumira e que a estendesse a Nápoles. Cavour tentou aniquilar o governo de Nápoles por den- tro, mas fracassou nisso. Ordenou, então, que a marinha, dissimuladamente, impedisse o mais possível a travessia de Garibaldi, mas sua caça acabou cruzando os estreitos de Messina na terceira tentativa, a 18 e 19 de agosto de 1860. A 7 de setembro, após repelir uma frágil resistência, Gari- baldi entrou em Nápoles para uma entusiasmada recepção; dois dias depois, como temia Cavour, anunciou que, antes da anexação, pretendia libertar Roma - ação essa fadada a resultar na intervenção francesa. Foi então que Cavour demonstrou até onde chegava sua habilidade diplomática, ao persuadir Napoleão 11I a concordar que o Piemonte ocu- passe a Úmbria e as Marcas, para reprimir uma insurreição Iabricada, com a condição de que Roma se mantivesse inviolável. As tropas piemontesas cruzaram as fronteiras papais a 11 de setembro e, em dezoito dias, a campanha estava terminada. Em um só lance, trouxera os exércitos reais até a fronteira norte do reino de Nápoles. 56 AI? de outubro, os exércitos de Garibaldi derrotaram 30000 soldados dos Bourbons na batalha de Volturno. Con- tudo, no momento mesmo de seu êxito militar, Garibaldi estava em vias de enfrentar uma derrota política. Cavour convocou o parlamento no dia seguinte, e este aprovou a anexação do reino dos Bourbons mediante um decreto real após um plebiscito. Este foi devidamente realizado deze- nove dias depois. No continente, votaram 1312366 (79,50,70 dos eleitores inscritos), dos quais 1302064 optaram pela união com a Itália "una e indivisível"; na Sicília, votaram 432720 (75,2% 'dos eleitores), dos quais 432053 votaram a favor da união. Em nenhum dos dois casos, ofereceu-se aos eleitores a opção de um reino em separado, como se fizera na Emília e na Toscana. Frustrado em seus planos, Garibaldi encontrou-se com Vítor Emanuel II em Teano, a 26 de outubro de 1860, e cedeu-lhe a posse do reino Bour- bon. Segundo algumas fontes, o rei respondeu saudando-o como "meu melhor amigo"; segundo outros, disse apenas "obrigado". As últimas tropas dos Bourbons na Sicília capitularam quando a fortaleza de Messina tombou, a 13 de março de 1861, e onze dias depois rendeu -se a última guarnição em território continental. Os problemas de uma monarquia parlamentar o reino da Itália passou a existir formalmente a 17 de março de 1861, quando Vítor Emanuel adotou o novo título. Seus problemas eram enormes. Uma economia atra- sada baseava-se predominantemente na agricultura, e sua capacidade de criar riqueza era, pois, extremamente limi- tada. A grande massa da população vivia em condições da mais abjeta pobreza e ignorância - um levantamento de 1864 estimava que, de cerca de 26000000 de pessoas, não 57 I' mais de 12% eram alfabetizadas - e pouca lealdade manti- nha além das relativas à família e à aldeia. E grande par- cela do novo reino manifestava a maior relutância em acei- tar e em submeter-se ao domínio piemontês: entre 1861 e 1865, travou-se uma guerra civil, no sul, contra grandes grupos de bandoleiros, e, quando ela terminou, muitas dezenas de milhares de civis haviam morrido. Essa guerra foi em grande medida de origem social, tendo muito a ver com a lentidão do governo em distribuir as glebas e com o fracasso dos camponeses em conseguir uma mínima parcela, mas muitos a viram como um fato político indicativo de que a Itália ainda não estava preparada para a completa unificação. A estrutura do futuro sistema de governo apresentava dificuldades maiores. Deveria a Itália ser centralizada, como a França, ou descentralizada, como os Estados Uni- dos, ou deveria situar-se em algum ponto intermediário não determinado? De início, foi proposto que o país fosse divi- dido em umas sete ou oito grandes regiões dirigidas por governadores indicados pela Coroa, mas essa proposta foi criticada com diversos fundamentos: as regiões eram de dimensões extremamente variadas, algumas delas não cons- tituíam entidades históricas, e o sul era grande demais para ser uma única região dessa natureza.Por trás dessas críti- cas estava o temor de que essas regiões pudessem tornar- se autonomistas, e também, talvez, o fantasma do "gover- nador ultrapoderoso". Em fins de 1861, a idéia regional havia malogrado, sendo substituída pela introdução de pre- feitos para controlar províncias - em muito maior número, mas consideravelmente menores em tamanho. Essa estru- tura foi 'incorporada às leis sobre unificação legislativa e administrativa, de março de 1865, que confirmou o poder da Coroa de indicar prefeitos e nomear governadores das províncias, e que atribuía ao governo central muitas das responsabilidades que anteriormente cabiam às províncias, S8 tais como a construção e a manutenção de estradas. Para a Lombardia, particularmente, a nova estrutura represen- tou notável perda de autonomia. A Igreja e o Estado foram formalmente separados no Código Civil Italiano, instituído em janeiro de 1866, que reconheceu a legalidade do casa- mento puramente civil. O sistema eleitoral, introduzido em 1861, instituiu colé- gios eleitorais que escolhiam 443 deputados para a câmara baixa do parlamento; os membros da câmara alta, ou Senado, eram indicados pelo rei. Para ser eleitor, era pre- ciso ter pelo menos 25 anos, saber ler e escrever, e pagar pelo menos 40 tire de impostos diretos por ano. Essas res- trições resultaram num eleitorado de 418696, ou menos de 2% da população. O contraste com os plebiscitos de 1860 é chocante. Mesmo essa diminuta "nação política" tinha pouco interesse pela política nacional: nas eleições realiza- das a 27 de janeiro de 1861, apenas 239583 incomodaram- se em votar. Mais importante, talvez, foi a eleição geral de outubro de 1865, que assistiu ao surgimento de uma esquerda constitucional que rejeitava as idéias mazzinistas e preferia atuar pela reforma dentro do quadro de uma monarquia constitucional. Os conservadores moderados (conhecidos como a destra, ou direita) venceram aquela elei- ção, mas a esquerda elegeu perto de 120 deputados e, onze anos depois, esse grupo derrubou os herdeiros de Cavour. Roma e Venécia permaneciam ainda fora do controle do novo reino. A 25 de março de 1861, Cavour afirmou publicamente que Roma devia ser a capital da Itália, mas acrescentou que o novo reino devia chegar lá com o apoio da França. A barreira aparentemente insuperável para isso era o fato de o Papado não abrir mão de seu poder tempo- ral. Os políticos procuravam resolver a questão romana por via diplomática, enquanto Vítor Emanuel II e Garibaldi queriam resolver ambas as questões pela força. O rei insti- gou Garibaldi a pensar em outra expedição, talvez à Hun- I ~ S9 gria, de onde a Itália podia apoderar-se de Venécia; porém, quando, em Marsala, em julho de 1862, o herói da guerrilha proclamou "O Roma, o morte" (Roma ou a morte), o rei apressou-se a publicar uma proclamação desaprovando o empreendimento. Garibaldi livrou-se das autoridades e atin- giu o território continental ao sul, mas foi brecado por tro- pas italianas em Aspromonte, a 29 de agosto de 1862. Como afrouxar o controle austríaco no nordeste e como fazer a França concordar com o desaparecimento do Estado Papal, que Napoleão Il l restaurara em 1849, continuaram sendo problemas de dificuldade aparentemente insolúvel. Quando, em 1864, Napoleão 1I1 apoiou a transferência da capital ita- liana de Turim para Florença, assim o fez na crença de que isso indicava o abandono das aspirações romanas. A guerra de 1866 O catalisador inesperado que reajustou o equilíbrio internacional de poder de modo a permitir que a Itália com- pletasse sua unificação apresentou-se sob a forma da ambi- ção prussiana. Em princípios de julho de 1865, Bismarck, chanceler da Prússia, sondou o governo italiano quanto a sua atitude na eventualidade de uma guerra entre a Prússia e a Áustria. Nessa etapa, a França não estava disposta a dar sua bênção a tal guerra, mas, em fevereiro de 1866, quando Bismarck pediu uma aliança militar com a Itália, preparatória da guerra, Napoleão 11I mudou de idéia. A 18 de abril, foi assinada uma aliança defensiva-ofensiva que obrigava a Itália a declarar guerra à Áustria tão logo a Prússia desse início às hostilidades, em troca do que rece- beria Venécia e a província de Mântua que lhe havia sido tomada em 1859. Como nenhum dos dois signatários con- fiasse no outro, o tratado tinha a curta duração de três meses. Viena procurou destruir aquela parceria, oferecendo- se a ceder Venécia à França, que a repassaria a Vítor Ema- 11 60 nuel, caso a Itália voltasse atrás no acordo feito. A Itália não podia concordar com esse esquema, porque Napoleão III apenas lhe entregaria Venécia sob a condição de que a Itália aceitasse o domínio papal em Roma. Vítor Emanuel lI, como sempre, estava ansioso por guerrear, e a Itália não tinha de fato outra escolha senão acompanhá-Io. A guerra, que começou a 20 de junho de 1866, caracte- rizou-se por uma falta de coordenação entre a Itália e a Prússia e por desconfianças e rivalidades no seio do alto comando italiano que destruíram a coesão militar. Quatro dias depois do início das hostilidades, o exército italiano foi derrotado na batalha de Custozza. O exército prussiano teve melhor sorte em Kõniggrãtz, a 3 de julho, e cinco dias depois Bismarck começava a discutir condições com seu adversário derrotado. A Itália recusou-se a interromper suas operações de guerra, na esperança de tomar o Tren- tino, onde as unidades de Garibaldi penetravam com grande êxito. A 20 de julho, foi a vez de a marinha italiana ser humilhada nas mãos da Áustria, na batalha de Lissa, e no dia seguinte a Prússia anunciou uma trégua. Incapaz de, por si só, levar avante a luta, a Itália perdeu as esperanças de conquistar o Trentino, por enquanto, e suspendeu a guerra. De acordo com as condições da Paz de Viena, assi- nada a 3 de outubro de 1866, a Áustria cedia Venécia à itá- lia e reconhecia o novo reino; num plebiscito realizado dezoito dias mais tarde, 647486 venecianos aprovaram a união com a Itália, com apenas 60 votos contrários. Sendo agora Roma o único ponto que restava a resolver, a Itália pôde então afrouxar os vínculos com a França, o que mui- tos consideraram humilhante - ainda que necessário. o final romano Problemas internos relegaram por algum tempo a ques- tão romana a segundo plano, após a guerra de 1866. A 61 situação financeira da Itália era desesperadora, e foi neces- sário tomar medidas para reduzir a vultosa dívida nacional decorrente da unificação: entre elas, a introdução generali- zada do macino a partir de janeiro de 1869. Havia, também, um problema permanente de desordem interna, de que foi exemplo a revolta de Palermo de setembro de 1866. A Sicí- lia era um terreno fértil para qualquer tipo de agitador, devido a seu tradicional separatismo, pelo fato de o governo haver deixado de cumprir sua palavra e vendido as terras eclesiásticas, ao invés de distribuí-Ias por sorteio, e porque a supressão dos conventos, parte do programa anticlerical, havia posto fim às obras de caridade de que os mais pobres sempre haviam dependido. Uma confusa rebelião, em que as multidões entoavam um slogan de apoio à República, à Coroa e à Igreja, estendeu-se de 15 a 22 de setembro, quando foi esmagada pelo exército. Para manter a ordem daí para a frente, o governo realizou entendimentos infor- mais com a Máfia. Na primavera de 1867, Garibaldi começou a ficar inquieto novamente, e em março começou a planejar uma insurreição no Lácio. Quase todo mundo se opôs a esse plano, exceto Vítor Emanuel 11, que, veladamente, estimu- lou o "Leão de Caprera". Os motivos do rei não eram, porém, perfeitamente fáceis de compreender, pois, particu- larmente, disse que pretendia perseguir os garibaldistas dentro dos Estados Papais e "massacrá-Ios de modo que não restasse um só deles". Apesar de estar sob vigilância, Garibaldi escapuliu de seu refúgio na ilha de Caprera e chegou à fronteira papal a 23 de outubro para assumir o comando dos voluntários que ali o aguardavam. Um levante planejado para ocorrer no dia anterior emRoma fracas- sara, cortando pela raiz as bases da expedição, e a che- gada de tropas francesas, para proteger o papa, selou o destino de Garibaldi. Seus voluntários foram definitiva- mente derrotados na batalha de Mentana, a 3 de novem- bro de 1867, principalmente pela assustadora potência do novo rifle chassepot. 62 Em fins de 1867, a questão romana parecia encontrar- se num impasse sem solução. Os franceses afirmavam publi- camente que a Itália jamais se apoderaria de Roma e os italianos proclamavam que, mais cedo ou mais tarde, ela se tornaria a capital da Itália. Os políticos conservadores con- tentavam-se em aguardar o desenrolar dos acontecimentos e, em julho de 1870, a deflagração da guerra franco-prussiana ofereceu uma oportunidade. Vítor Emanuel 11 pretendeu, desde logo, participar dela ao lado dos franceses, calculando que eles venceriam e que, a seguir, agradecidos, abririam mão da Cidade Sagrada, mas foi contido por seus ministros mais prudentes. A notícia da batalha de Sedan e da declara- ção da Terceira República, que chegou à Itália a 5 de setem- bro, inflamou o gabinete para a ação e foi decidido tomar Roma sem mais delongas. Às 5 horas e 15 minutos da manhã de 20 de setembro, a artilharia italiana começou a abrir uma brecha nos muros de Roma, na Porta Pia, e às 10 horas e 10 minutos a batalha havia terminado. A tomada da cidade custou a vida de 49 soldados italianos e 19 da guarda papal. Ao contrário das três guerras anteriores do Risorgi- mento, este último ato mostrou-se insípido e destituído de um princípio estimulante. Para compensar isso, fizeram-se planos para que Vítor Emanuel 11chegasse em marcha triun- fal ao centro da nova capital, passando pelo Fórum Romano e pela Via Sacra, mas esses planos deram em nada. Final- mente, o rei entrou sub-repticiamente em Roma, em dezem- bro de 1870,para inspecionar os danos causados pela enchente do Tibre. Ao descer de sua carruagem à porta do palácio Quirinal, voltou-se para o general Marmora e murmurou "Aqui estamos nós, finalmente". Bem a propósito, as pala- vras foram pronunciadas não em italiano, mas em piemontês. Foram ideais e ambição que, em conjunto, criaram uma Itália unificada. Os ideais encontravam-se principal- mente na esquerda. Os mártires que morreram diante de esquadrões de fuzilamento austríacos ou napolitanos santi- 63 ficaram a luta pela independência. A Jovem Itália manteve vivos os ideais com seu compromisso com a ação; e Maz- zini proporcionou tanto uma ideologia política quanto uma convicção furiosamente nacional de que a Itália podia e devia passar a existir. Os êxitos militares de Garibaldi e seu surpreendente carisma pessoal obtiveram vitórias para a Itá- lia no campo de batalha e nos salões de recepção da Europa. Mas ele era tão violentamente democrático quanto decidida- mente nacionalista. Em 1860, dificilmente esses ideais podiam harmonizar-se e, em Teano, em novembro, Garibaldi demonstrou que sua maior lealdade era para com a Itália. Contudo, continuou apegado aos ideais democráticos e envolto numa vaga aura de republicanismo, constituindo, assim, uma ameaça ao Estado que Cavour havia instituído. A ambição era do Piemonte, e, embora partilhada por Cavour e Vítor Emanuel, estes eram herdeiros de um desejo existente há muito tempo: segundo o cardeal Richelieu, o grão-duque CarIos Emanuel I, do Piemonte (1580-1630), dissera-lhe certa vez que a Itália era "como uma alcachofra, que deve ser comida folha por folha". A contribuição de Cavour ao Risorgimento foi a de criar um Estado constitu- cional que as grandes potências consideraram tolerável e os patriotas italianos acabaram por considerar aceitável. Em 1859, ele teve a habilidade de beneficiar-se da oportuni- dade que lhe foi oferecida pela simpatia britânica e fran- cesa pelo Piemonte. Daí para frente, e até sua morte, em 1861, teve de exercitar todas as suas notáveis artes de mani- pulação para proteger a recém-nascida Itália contra Gari- baldi, que queria ir longe demais e demasiadamente rápido. 6 o Risorgimento na história Uma vez que cada um dos regimes que governaram a Itália desde 1870 têm, em algum momento, reivindicado para si a verdadeira herança do Risorgimento, o passado veio a ter, na Ítália, uma importância política magnificada. Críticos de cada um e de todos esses regimes têm apontado os defeitos do Estado italiano criado em 1870. O resultado tem sido um debate vivo - e por vezes violento _ a res- peito do passado que habitualmente tem sido avaliado em termos de "êxito" ou "fracasso". Os historiadores dinásticos de fins do século XIX for- jaram um Risorgimento em que a casa de Sabóia havia sido o porta-bandeira do constitucionalismo liberal, aliando-se a quaisquer forças progressistas que estivessem a seu alcance para o bem maior do povo italiano. Ao fazê-Io, apenas imi- taram Vítor Emanuel 11, que, em 1851, espalhava perma- nentemente a lenda do "rei liberal", proclamando haver pessoalmente salvo a Constituição em 1849 (ver p. 32 aci- ma). Logo outras lendas se acrescentaram ao lote: por exemplo, que Vítor Emanuel desejara continuar lutando, em julho de 1859, mas fora impedido por Napoleão Ill, o que é completamente falso. As primeiras histórias do Risor- 65 gimento douraram o papel desempenhado pela Coroa sim- plesmente omitindo documentos que contrariavam essa ima- gem, ou traduzindo erroneamente fontes estrangeiras. O "Risorgimento heróico" de fins do século XIX foi, desse modo, um alvo fácil para o ataque dos historiadores libe- rais do século XX, que começaram a revelar as imperfei- ções da monarquia. Esse "desmascaramento" prosseguiu durante o período fascista. De modo algum o fascismo vivia muito à vontade lado a lado com a monarquia, e trabalhos que demonstras- sem as deficiências da casa de Sabóia não deixavam de ser incentivados. Contudo, a historiografia fascista procurava enaltecer os elementos de poder e de grandeza nacional, enquanto davam pouco destaque ao tema da liberdade. Os historiadores também pintavam o Risorgimento como um processo contínuo de integração das massas na nação, o qual culminava no fascismo. Em busca de figuras heróicas que justificassem Mussolini, Garibaldi foi às vezes descrito como precursor de D' Annunzio, e a expedição a Sapri (ver p. 43 acima) foi decantada como a verdadeira precursora da Marcha sobre Roma de 1922. Críticas acerbas forarri feitas ao Risorgimento, nas décadas de 1920 e de 1930, pelo marxista italiano Antonio Gramsci. Embora, por temperamento, mais inclinado ao Partido da Ação, liderado por Mazzini e Garibaldi, do que aos moderados burgueses de Cavour, Gramsci criticava Mazzini e Garibaldi por seu fracasso em mobilizar as mas- sas rurais camponesas, como haviam feito os jacobinos no início da Revolução Francesa. Essa rivoluzione mancata (re- volução malograda) foi, ao ver de Gramsci, o fato central que condenou a Itália ao liberalismo e, a seguir, ao fas- cismo. Para ele, o Partido da Ação deixara de desenvolver a tríade de partido, programa e agitação das massas rurais, que eram as coisas essenciais para uma revolução bem-suce- dida e, desse modo, não passaram de propagandistas dos moderados. A teoria da traição, de Gramsci, foi precipi- 66 tada em tomar o exemplo da revolução de fevereiro de 1917, na Rússia, como um tipo ideal. Historiadores socialis- tas criticaram-no com base no fato de que a aliança natu- ral entre o proletariado industrial que lidera e o proletariado rural que o segue e apóia, única coisa que poderia ter pro- duzido uma reviravolta histórica, foi impossível devido ao atraso da industrialização na Itália. A descrição do Risorgimento como "a revolução dos ricos" é difícil de contestar, mas da Segunda Grande Guerra para cá a acusação de fracasso de Gramsci tem sido refu- tada por historiadores neoconservadores com base princi- palmente em duas coisas: primeiro, que uma aliança entre a burguesia e o campesinato, que - como vimos - vez por outra veio a suceder, jamais poderia ter-se tornado a base permanente da unificação, uma vez que cada um des-ses grupos buscava metas diferentes e, por isso, estavam fadados a se desunirem assim que um dos dois houvesse atingido aquelas metas; e, em segundo lugar, que, em todo caso, uma revolução camponesa, se houvesse ocorrido, teria atacado a burguesia fundiária, cuja acumulação de capital foi um pilar fundamental da arrancada industrial e econô- mica da década de 1890. Sem o excedente produzido por um campesinato sem terra ou adscrito, essa arrancada pode- ria não ter acontecido. Essas opiniões são ainda muito con- trovertidas especialmente na esquerda política. Historiadores não-italianos têm muitas vezes acentuado o papel fundamental desempenhado pelas grandes potên- cias na unificação da Itália. Ainda que circunstâncias inter- nacionais favoráveis constituíssem pré-requisito essencial para que o Risorgimento se completasse com êxito, elas apenas permitiram que o Piemonte unificasse a Itália, mas não o forçaram a fazê-lo. As forças motivadoras devem ser buscadas dentro da Itália e entre os italianos. Como vimos, elas foram complexas: diversas espécies e graus de patrio- tismo e de idealismo atuaram lado a lado com a maquina- ção dinástica, às vezes amigavelmente, às vezes não. Forças 67 sociais e econômicas foram conduzi das - e às vezes impul- sionadas - por indivíduos de caráter extremamente variado: Mazzini, Cavour, Garibaldi, Vítor Emanuel, Pisacane e Pallavicino, todos eles contribuíram para o resultado final, mas nem todos estavam de acordo uns com os outros. Naquilo em que contemporâneos freqüentemente estiveram em conflito, não se pode esperar que os historiadores che- guem a um consenso satisfatório. Foi tão complexa a luta pela unificação e são ainda tão fortes as emoções que ainda consegue despertar, que sua história continuará a ser rees- crita por cada geração e a partir de todas as perspectivas políticas. 7 Sugestão de leituras (o lugar de publicação, quando não especificado, é Londres; edições em brochura estão marcadas com asterisco) Recentemente, foram publicados dois ótimos apanha- dos sobre a Itália de inícios do século XIX, que se comple- mentam reciprocamente muito bem: Stuart Woolf, A his- tory of Italy, 1700-1860: lhe social conslrainls of political change (Methuen, 1979) *; e Harry Hearder, Italy in the Age of lhe Risorgimento (Longman, 1983) ". Alguns dos principais documentos desse período foram editados e tra- duzidos em Denis Mack Smith, The making of Italy, 1796-1870 (Macmillan, 1968), e Derek Beales, The Risorgi- mento and lhe unification of ltaly (Allen & Unwin, 1971) *. Estudo mais especializado é o de Denis Mack Smith, A his- tory of Sicily: modern Sicily after 1713 (Chatto & Windus, 1968). Dentre os principais protagonistas do Risorgimento, Mazzini foi o que recebeu um tratamento compreensivo em E. E. Y. Hales, Mazzini and the secret societies: lhe making of a mytn (Eyre & Spottiswoode, 1956); o mesmo autor escreveu uma biografia de Pio IX, Pio Nono: a study in European politics and religion in the nineteenth century 69 (Eyre & Spottiswoode, 1956). A biografia mais recente de Garibaldi é a de Jasper Ridley, Garibaldi (Constable, 1974). O livro de Denis Mack Smith, Victor Emmanuel, Cavour and the Risorgimento (Oxford, Oxford University Press, 1971) é inestimável. O papel de Cavour é estudado porme- norizadamente numa biografia recente, também de Denis Mack Smith, Cavour (Weidenfeld & Nicolson, 1985; Methuen, 1985 "). Clara Maria Lovett, Carlo Cattaneo and lhe politics of lhe Risorgimento (Haia, Martinus Nijhoff, 1972), estuda a carreira e o pensamento de um personagem importante, ainda que menor. Kent Roberts Greenfield, Economics and tiberalism in lhe Risorgimento: a study of nationalism in Lombardy, 1814-1848 (Baltimore, Johns Hopkins University Press, 1965), analisa um aspecto das raízes econômicas do Risor- gimento. Dois livros tratam de aspectos importantes da revolução de 1848 na Itália: Paul Ginsborg, Daniele Manin and the Venetian revolution of 1848-49 (Cambridge, Cam- bridge University Press, 1979), e Alan Sked, The survivor of lhe Habsburg empire: Radetzky, the imperial army and the class war, 1848 (Longman, 1979). O papel da Socie- dade Nacional Italiana, freqüentemente desprezado, é estu- dado em Raymond Grew, A sterner plan for unity: the Ita- lian National Society in the Risorgimento (Princeton, Prin- ceton University Press, 1963). As razões de Gramsci para uma "revolução malograda" são explicadas em J. M. Cammett, Antonio Gramsci and the origins of Italian com- munism (Stanford, Stanford University Press, 1967). Quatro outros Lancaster Pamphlets contêm material relacionado com o aqui exposto. Martin Blinkhorn, Musso- tini and fascist Italy, estuda um período subseqüente da his- tória italiana; e J. M. MacKenzie, The partition of Africa, situa os interesses coloniais italianos em seu cenário interna- cional. O contexto internacional da diplomacia de Musso- lini é apresentado, em dois desses pamphlets, por Ruth Henig, Versailles and after, 1919-1933 e The origins of lhe Second World War. E§] PRINCÍPIOS 1 Paródia, paráfrase & eia. - Alfonso Romano de San!' Anna * 2 Teoria do conto - Nádl8 Banella GOlJib * 3 A personagem - Beth Brel! * 4 O foco narrativo - Lígia Chapanu Moraes Leue * 5 A crônica - Jorge de Sã * 6 Versos, sons, ritmos - Norma Goldstein * 7 Erotismo e literatura - Jesus Antônio Durigan * 8. Semântica _ Rodolfo lIari & João Wanderlev Geraldi * 9. A pesquisa sociolingüística - Fernando Tarallo,.* 10. Pronúncia do inglês norte-americano - Martha Steinberg * 11 Rumos da literatura inglesa - Maria Hsa Cevasco & Valler lellis Siqueire * 12, Técnicas de comunicação escrita -Izidaro Blikstein * 13, O caráter social da ficçAo do Brasil -Fábio Lucas * 14, Best·seller: a literatura de mercado - Muniz Sodré * 15. O signo - Isaae Epstein * 16, A dança _ Miriam Garcia Mendes * 17. linguagem e persuasão _ Adilson Citelli * 18. Para uma nova gramática do português - Mário A. Perini * 19. A telenovela - Samira Youssel Campedelli * 20. A poesia lírica - Salete de Alrneida Cara* 21. Períodos literários - ligia Cademariori t 22 Informática e sociedade - Antonio Ncoíau Youssef & Vrcente Paz Fernandez * 23. Espaço e romance - Antonro Dimas * 24 O herói - flév~ R. KOlhe * 25. Sonho e loucura - José Robeflo Wollf * 26 Ensino da Opressão? li:lerdade? - Evanildo 8echara • 27 inglesa - Noções introdutórias - Ma'rfha Stein _ Iniciação à música popular brasileira - Waldenyr Caldas* 29. Estrutura da noticia - Nilson lage * 30 Conce~o de psiquiatria - Adilson Granõinc & Durval Nogueira. 31 O inconsciente - Um estudo crftico - Alfredo Naf!ah Neto * 32. A histeria - Zacaria Borge Ali Ramadam·. 33 O trabalho na América latina colonial - Ciro Flamarion S. Cardoso • 34. Umbanda - José Guilherme Cantor Magnani * 35. Teoria da informaçao - Isaae Epslein •. 36. O enredo - Samrs Nahid de Mesquita •. 37. linguagem jornallstica - Nilson Lage * 38. O feudalismo: economia e sociedade - Hamilton M. Monteiro * 39. A cidade-Estado antiga - Ciro Flamarion S Cardoso. 40. Negr~ude _ Usos e sentidos - Kabengele Munanga •. 41. Imprensa feminina - DuleHia Sehreeder BUlloni • 42. Sexo e adolescência - lçamr Tiba • 43. Magia e pensamento mágico - Paula Montere •. 44 A metalinguagem _ Samira Chalnub • 45 Psicanálise e linguagem - Eliana de Moura Castro • 46. Teoria da literatura - Roberla Acízelo de Souza •. 47, Sociedades do Antigo Oriente Próximo - CIIO Flamarion S Cardoso •. 48 lutas camponesas no Nordeste - Manuel Conee de Andlade •. 49 A linguagem literária - Domco Proença F"no * 50. Brasil Império - Hamilton M. MOntello • 51 Perspectivas históricas da educação - tene Mana Ieeesa Iooes • 52 Camponeses - Margarida Mana Moura •. 53 Região e organização espacial - Robeno Lobato Conêa * 54 Despotismo esclarecido - FranCISco José Calazans Faleon •. 55. Concordância verbal Mana Aparecida Baccega * 56. Comunicação e cultura brasileira - Virgilio Noya Pinto •. 57. Conceito de poesia - Pedro lvra •. 58. literatura comparada - Tania Franco Carvalhal •. 59. Sociedades indigenas - AlcidaRlta Ramos * 60 Modernismo brasileiro e vanguarda - lucia Helena. 61 Personagens da literatura infanto-juvenil - Sonia Saornâo Khéde * 62. Cibernética - Isaac Epstein •. 63. Greve - Fatos e significados - Pedro Castro • 64. A aprendizagem do ator - Antonio Januzeür Janõ * 65 Carnaval, carnavais - José Carlos Sebe • 66 Brasíl República - Hamilton M. Monteiro • 67. Computador e ensino - Uma aplicação à língua portuguesa - Cnsme P C Marques, M Isabel l. de Ma110s & Yves de Ia Taille • 68 Modo capitalista de prOdução e agricultura _ ArlOvaldo Umbelino de Oliveira. 69. Casamento, amor e desejo no Ocidente Cristão - Ronaldo Valnfas •. 70. Marxismo e teoria da revolução proletária - Eder Saõer • 71. Pescadores do mar - Simone Carneiro Ma/donado •. 72. A alegoria - Flavio R. Kothe •. 73. Consciência e identidade - Malvina Moszkat •. 74 Oficina de tradução - A teoria na prática - Bosemarv Arrojo •. 75. História do movimento operário no Brasil - Antonio Paulo Rezende* 76. Neuroses - Manuellgnacio Ouiles • 77. Surrealismo - Marilda de Vasconeellos Rebouças * 78. Romantismo - Adilson Cllelli •. 79. Higiene bucal- Giorgio de Michelí, Carlos Eduardo Aun & Michel Nico'au Youssef •. 80 Aspectos econômicos da educação - ladislau Dowbor • 81. Escola Nova - Cristiano Di Giorgi •. 82. Análise da conversação - l.uiz Antônio Marcuschi •. 83. O Estado Federal - Dalmo de Abreu Dallari •. 84. Huminismo _ Francisco José Calazans Falcon • 85 Constituições _ CéJia Galvão OUlrrno & Marra Lúcia Montes •. 86 L~eratura infantil - Voz de criança - Maria José Paio & Maria Rosa D. Oliveira. 87. A imagem - Eduardo Neiva Jr. • 88 Teoria lexical- Margarida Basilio •. 89. A pol~ica externa do Brasil recente - Soma Regina de Mendonça & Vlrglnia Maria Fontes • 153. História da música - Da Idade da Pedra à Idade do Rock - Valdir Montanarr * 154 Pós-modernismo e literatura - Domício Proença Filho •. 155. Make or Do? Etc., etc ... Resolvendo difictlldades - Eliana Valdés lóoez & Solange M3IQues Rollo • 156 O Nordeste e a questão regional - Manuel Correia de Andrade * 157. A guerra na Grécia Antiga - Marcos Atvllo Pereira de Souza. 15B Introdução à dramaturgia - Renata Pallcttmi • 159. A pesquisa em história - Marra ao Pilar de Araúlo vaua. Marra do RosáriO da Cunha Peixoto & Vara Mana Aun Khoury * 160 A RevoluçAo Industrial - José Jobson de Andrade Arruda •. 161 Antropologia aplicada - Frans Moonen * 162 O complexo de Édipo - Pranklin Goldgrub * 163. As cruzadas - José ROberto Meilo •. 164 Representação política Celso Fernandes Campllongo * 165. Geopolltica do Brasil - Manuel Correia de Andrade •. 166 Gêneros literários - Angélica Soares. 167 Análisa de investimentos e taxa de retorno - Pedre Sehubert •. 168. A rede urbana - Robeno tobato Corrêa * 169 A Ilngua portuguesa no mundo - Sâvio Ella * 170 Empréstimos lingüisticos - Nelly Carvalho •. 171 O cotidiano da pesquisa - Nelson de Castro Senra •. 172 Iniciação ao latim - Zelia de Almeida Cardoso • 173 Expressões idiomáticas e convencionais - Slella Ortweiler Iaqmn •. 174 O espaço urbano - Boberto Lobato Corrêa • 175 Acentuação gráfica em vigor - Ammr Bcamam Hauv •. 176 Fotografia e história - Boris Kossoy * 177 Cenografia - Anna Mantovani •. 178. Getulismo e trabelhismo - Angela de Castro Gomes & Maria Celina D' AraújO •. 179. Artigo e crase - Maria Aparecida Baccega • 180. História do negro brasileiro - Clóvis Moura * 181 O Terceiro Mundo e a nova ordem internacional AntoniO Carlos wr.orer •. 182. A articulação do texto - Elisa GUimarães •. 183 O império de Carlos Magno - José Roberto Mello •. 184 Novas tecnologlas em educação - lff Kawamura * 185 Comunicação do corpo - Monica Reclor & Aluizio R Trrnta* 186. Terceiro Mundo - Conceito e história - Tullo Vigevani • 187 Introdução à sociologia do trabalho - Augusto Caceia 8ava Jr. • 188. Morfemas do português - valter Kehdl • 189. Educação. tecnocracia e democratização - Maria de lourdes Manzim Covre * 190 Evolução humana - Celso Piedemome de Lima * 191 Neologismo - Criação lexical - Ieda Mana Alves • 192 Amazônia - Benna K 8ecker • 193 Introdução ao maneirismo e à prosa barroca - Seglsmunôo Spna & Morrrs W CroU • 194 As duas Argentinas - Emanuel Soares da Velga Garcla •. 195 O período regencial - Arnaldo Fazolr Filho. 196 A Antigüidade Tardia - Watdn Fleltas Owera t 197 Planejamento familiar - Gilda de Castro Rodngues •. 198 Introdução à terapia familiar - Magdalena Ramos * 199. linguagem e sexo - Malcolm Coullhard •. 200. Aristocratas versus burgueses? A Revolução Francesa - T C. W. 81anning * 201. O Tratado de Versalhes - RUlh Henig * 202. Jung - Gustavo 8arcellos •. 203 A geografia lingü[stica no Brasil - Silvia Figueiredo 8randão • 204. A Revolução Norte-Americana - M. J. Heale • 205, As origens da Revolução Russa - AlanWood * 206 CoesAoecoerência textuais - teoro- topes Fávero • 207. Como analisar narrativas - Cândida Vilares Gancho. 208 Inconfidência Mineira - Cândida Vilares Gancho & Vera Vilhena •. 209. O sistema colonial - José Robeno Amaral Lapa •. 210 A unificação da Itália - John Gooch • 211 A posse da terra - Cândida Vllares Gancho, Helena Quelroz F Lopes & Vera Vilhena • 212 As origens da Primeira Guerra Mundial - Rulh Henig • 213 As origens de Segunda Guerra Mundial - Ruth Henig • 214 O Antigo Regime - William Deyie brasileire '1822-19851 - Amado Luiz Cervo & Clodoaldo Bueno * 90. Energia & fome - Gilberto Kobler Corrêa* 91. Sonhar, brincar, criar, interpretar - Arlindo C. Pimenta. 92. História da literatura alemã - Eloá Heise & Ruth Rõhl • 93. História do trabalho - Caros Roberto de Oliveira. 94 Nazismo - "O Triunfo da Vontade" - Aleir Lenharo •. 95. Fascismo italiano - Anqeo Irento • 96. As drogas - luiz Carlos Rocha * 97 Poesia InfantM - Maria da Glória Bordini • 98. Pactos e estabiizaçio econômica - Pedra Scuro Neto. 99 Estética do sorriso - Mchel Nrcolau Youssef, Carlos Eduardo Aun & Glorgio de Mleh~1 •. 100. leitura sem palavras -Lucéce D' Aléssio Ferrara. 101 O Diab"o no imaginário cristão - Carlos Roberto F Nogueira * 102. Psicoterapias - Zacaria Borge Ali Ramadam •. 103 O conto de fadas - Nelly Novaes Coelho. 104 Guia teórico do alfabetizador - Mirlam lemle. 105 Entrevista - O diálogo possível- Crernkía de AraúlO Medina '. 106. Ouilombos - Resistência ao escravismo - Clóvis Moura •. 107. Raça - Conceito e Preconceito -- EI!ane Azevêdo •. 108. Candomblé - Religião e resistência cultural - Raul lody * 109 Abolição e reforma agrária - Manuel Correia de Andrade • 110. Poemas eróticos de Carlos Drummond de Andrade ~ Hna de Cassa Barbosa •. 111. Cinema e montagem - Eduardo Leone & Mana Dora Mourão • 112 Democracia - Décio Saes • 113 O verbo inglês - Teoria e prática - Valler Lellrs Sqoeea * 114 Descobrimentos e colonização - Jaruce Theodoro da Silva. 115 O. João VI: os bastidores da independência -leilaMezanAlglanli * 116 Escravidão negra no Brasil - Suelv Robles Reis de üuenoz • 117 Anarquismo e anarcossindicalismo - Giuseppina Sferra* 118. A feitiçaria na Europa moderna - Laura de Mello e Souza. 119 Funções da linguagem - Samira Chalhub •. 120 Ciclo da vida - R~ose ritmos - Ihales de Azevedo • 121. Televisão e psicanálise - MunlZ Soce * 122 Cultura popular no Brasil - Marcos Ayala & Maria Ignez Novas Ayala • 123 Desenvolvimento da personalidade - Simbolos e arquétipos - Carros Byinglan •. 124 Imperialismo qreco-tomano - Norbeno Luiz Guarinello • 125, Períodos filosóficos - João da Penha •. 126 Os povos bárbaros - Maria Sonsoles Guerras * 127. Abolição - Antono Torres Montenegro •. 128 Como ordenar as idilias - Edlvaldo M Bnaventura • 129 Advérbios - Eneida Bcmtm t 130 Imprensa operária no Brasil - Marra Nazaretn Ferreua •. 131 O método junguiano - Gaeco Ulson •. 132 O fantástico - Selma Caassns Rodrrgues * 133 Gramsci e a escola - Luna Galano Mochcovltch •. 134 Dimensões simbólicas da personalidade - Cenos Bvmqton •. 135 Estrutura da personalidade - Persona e sombra - Carlos BYlng!on* 136 Grandezas e unidades de medida - O Sistema Internacional de Unidades - Romeu C Rocha-Filho •. 137 linguagem e ideologia - José lUlzhonn * 138 Subordinação e coordenação - Confrontos e contrastes - Flávia de Barros Carone * 139 Ernest Hemingway - Julian Nazano • 140. Roma Republicana - Norma Musco Mendes •. 141 Pesquisa de mercado - Marina Rutter & Sertório Augus!o de Abreu * 142 Burguesia e capitalismo no Brasil - Artomo Carlos Maneo * 143 Sistemas de comunicação popular - Joseph M. lwten • 144. Evolução biológica - Controvérsias - Celso Piedemonte de lima •. 145. Arqueologia T Pedro Paulo Abreu Funari * 146. Escara - Problema na hospitalização - Maria Coeli Campedelli & Raquel Rapone Gaidzinski • 147. Injeções - Modos e métodos - Brigilla Pfeilfer Caslellanos t 148 Ecologia cultural - Uma antropologia da mudança - Renale Bflgiue Viertler •. 149. fncas e astecas - Culturas pré-colombianas - Jorge Luiz Ferreira • 150 O pensamento medieval- Inês C Inacio & Tania Regina de luca • 151 O romance picaresco - MarIO Gonzál~z * 152 História 11I';"'" .;, l- IJ 1 impressão e acabamento I 1 ~rlC&. 2 FONE 447·6511 j l~ j 2 Educação, tecnocracia e democratização Maria de Lourdes Manzini Covre Evolução humana Celso Piedemonte de Lima Neologismo Criação lexical Ieda Maria Alves Amazônia Bertha K. Becker Introdução ao Maneirismo e à Prosa Barroca Segismundo Spina e Morris W Croll As duas Argentinas Emanuel Soares da Veiga Garcia O Perlado Regencial Arnaldo Fazeli Filho A Antigüidade Tardia Waldir Freitas Oliveira Planejamento familiar Gilda de Castro Rodrigues Introdução à terapia familiar Magdalena Ramos Linguagem e sexo Malcolm Coulthard Aristocratas versus burgueses? A Revolução Francesa T. C. W. Blanning O Tratado de Versalhes Ruth Henig Jung Gustava Barcellos A Geografia Iingülstlc8 no Brasil Silvia Figueiredo Brandão A Revolução Norte·Americana M. J. Heale As origens da Revolução Russa Alan Wood Coesão e coerência textuais Leonor Lopes Fávero Como analisar narrativas Cândida Vilares Gancho Inconfidência Mineira Cândida Vilares Gancho Vera Vilhena O Sistema Colonial Jasé Roberto Amaral Lapa A Unificação da Itália John Gooch A posse da terra Cândida Vilares Gancho Helena Queiraz F. Lopes Vera Vilhena As origens da Primeira Guerra Mundial Ruth Henig As origens da Segunda Guerra Mundial Ruth Henig O Antigo Regime WilJiam Deyle