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1 Sumario 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 3 2 CARACTERÍSTICAS DA CONTABILIDADE PÚBLICA ....................................... 4 3 O CONTADOR PÚBLICO NA GESTÃO PÚBLICA ............................................. 5 4 FINANÇAS PÚBLICAS ........................................................................................ 7 5 PROCESSO ORÇAMENTÁRIO BRASILEIRO ................................................... 8 5.1 Plano Plurianual – PPA ................................................................................. 9 5.2 Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO ....................................................... 10 5.3 Lei Orçamentária Anual – LOA ................................................................... 11 5.4 Ciclo de planejamento e orçamento ............................................................ 12 5.5 Aspectos Legais do Orçamento Público ..................................................... 16 5.6 Lei de Responsabilidade Fiscal .................................................................. 19 5.7 Objetivos da Lei de Responsabilidade Fiscal ............................................. 20 5.8 Balanço Geral da União – BGU .................................................................. 24 5.9 Matriz de Saldos Contábeis ........................................................................ 26 6 GESTÃO FINANCEIRA PÚBLICA x PRIVADA ................................................. 27 6.1 Planejamento orçamentário empresarial .................................................... 28 6.2 Objetivos da gestão financeira pública ....................................................... 29 6.3 Planejamento orçamentário público ............................................................ 30 7 ADIMINISTRAÇÃO PÚBLICA ........................................................................... 31 8 CONCEITOS HISTÓRICOS DO CONSENTIMENTO E DA PREVISÃO FINANCEIRA ..................................................................................................................... 37 9 DINÂMICA DA GESTÃO FINANCEIRA ............................................................ 41 10 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .................................................................... 43 11 BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 44 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 CARACTERÍSTICAS DA CONTABILIDADE PÚBLICA Fonte: cienciascontabeis.com.br Define-se Contabilidade Pública como sendo o ramo da contabilidade que registra, controla e demonstra a execução dos orçamentos, dos atos e fatos da fazenda pública e o patrimônio público e suas variações. Portanto, seu escopo relaciona-se ao controle e gestão dos recursos públicos. Com o advento da Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF (Lei Complementar 101/2000), a Contabilidade Pública alçou uma maior importância e valorização. A Contabilidade Pública - seja na área Federal, Estadual, Municipal ou no Distrito Federal - tem como base a Lei 4.320, de 17 de março de 1964, que instituiu normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. A Lei 4.320/64 está para a Contabilidade Aplicada à Administração Pública assim como a Lei das Sociedade por Ações (Lei 6.404/76) está para a Contabilidade aplicada à atividade empresarial. A Contabilidade Pública registra a previsão da receita e a fixação da despesa, estabelecidas no Orçamento Público aprovado para o exercício, escritura a execução orçamentária da receita e da despesa, faz a comparação entre a previsão e a realização das receitas e despesas, controla as operações de crédito, a dívida ativa, os valores, os créditos e obrigações, revela as variações patrimoniais e mostra o valor do patrimônio. 5 A Contabilidade pública está interessada também em todos os atos praticados pelo administrador, sejam de natureza orçamentária (previsão da receita, fixação da despesa, empenho, descentralização de créditos etc.) ou sejam meramente administrativos (contratos, convênios, acordos, ajustes, avais, fianças, valores sob responsabilidade, comodatos de bens, etc.) representativos de valores potenciais que poderão afetar o patrimônio no futuro. O objeto de qualquer contabilidade é o patrimônio. A Contabilidade Pública não está interessada somente no patrimônio e suas variações, mas, também, no orçamento e sua execução (previsão e arrecadação da receita e a fixação e a execução da despesa). A Contabilidade Pública, além de registrar todos os fatos contábeis (modificativos, permutativos e mistos), registra os atos potenciais praticados pelo administrador, que poderão alterar qualitativa e quantitativamente o patrimônio. O objetivo da Contabilidade Pública é o de fornecer aos gestores informações atualizadas e exatas para subsidiar as tomadas de decisões, aos órgãos de controle interno e externo para o cumprimento da legislação e às instituições governamentais e particulares informações estatísticas e outras de interesse dessas instituições. 3 O CONTADOR PÚBLICO NA GESTÃO PÚBLICA A Administração Pública está fortemente ligada à Contabilidade, pois é através dela que se pode oferecer ao administrador as informações necessárias para que este possa tomar decisões durante sua gestão frente ao Poder Executivo e desta forma obter êxito. As Administrações Públicas após a Lei de Responsabilidade Fiscal, entraram na era do planejamento para que suas ações nos gastos públicos atendam os anseios da população. A Lei define regras para execução dos trabalhos e proíbe que se gaste mais do que se arrecada. O profissional da contabilidade tem papel de relevante importância na administração pública e na execução do trabalho neste setor. Muitas vezes a imagem do contador fica distorcida porque a contabilidade púbica está focalizada no objetivo de prestação de contas do governo, deixando de apresentar formas de controle efetivo para gestão governamental. A sociedade está cada vez mais consciente de que quem paga a conta do mau uso do dinheiro público é o cidadão, e não tolera mais administradores irresponsáveis, e é aqui 6 que entra a contabilidade, gerando informações no sentido de atender as exigências da lei e dos administradores públicos. Segundo cita Fábio Brandalise et al. (2009). Neste aspecto, é essencial um processo de capacitação contínua e direcionada para as competências do cargo e da carreira profissional (DE OLIVEIRA, 2015). Oliveira et al. (p.31, 2009), indicam que: “Os processos de formação e de capacitação continuadadevem estar orientados para a construção das competências necessárias ao exercício do cargo e ao desempenho do papel esperado da carreira”. Fonte: tupuedes.cl A demanda de informações exigida do profissional contábil é grande, especificamente do setor público, em que é pressionado por apresentar informação que correspondam às exigências de maior transparência e que possam dar suporte à tomada de decisão da administração (SILVA, 2008) e ainda sobre atualizações concernentes à adoção das Normas Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público nos últimos anos, tem aumentado a exigência de formação. Para suprir tais exigências, o profissional contábil necessita de qualificação profissional continuada, direcionada a um perfil de valorização, compromisso e competência no exercício de sua função que possa resultar numa melhor apresentação das informações que são base para as tomadas de decisões mediante a formação de um profissional competente e consciente de suas atribuições. 7 4 FINANÇAS PÚBLICAS Fonte:controversia.com.br 1 A retomada do crescimento econômico inclusivo e sustentável depende da realização de ajustes céleres e contundentes na gestão das finanças públicas, notadamente, com os propósitos de assegurar a reversão da trajetória de crescimento acelerado da dívida soberana, retomar a confiança dos agentes econômicos e permitir o financiamento adequado das diversas políticas públicas de interesse nacional. Ao longo de 2017, a dívida bruta, indicador internacionalmente aceito para aferir a saúde financeira de um país, alcançou 74% do PIB, com um crescimento de 4 pontos percentuais em apenas um ano, cujo resultado financeiro foi deficitário em cerca de meio trilhão de reais. Em que pese a queda acentuada de arrecadação, associada à forte recessão econômica, influem nesse desequilíbrio o crescimento real constante das despesas ao longo dos últimos anos e a concessão de renúncias fiscais em ritmo acelerado – os benefícios tributários, financeiros e creditícios atingiram 5,4% do PIB no último exercício. O impacto da dívida pública, associado ao aumento de despesas, à queda de arrecadação e às restrições orçamentárias impostas pela Emenda Constitucional 95, limitaram a quantidade de recursos disponíveis para a aplicação em políticas e programas 1 Acesso Portal TCU (Tribunal de Contas da União). 8 públicos, tornando necessária e premente a melhoria dos mecanismos de coordenação, planejamento, monitoramento e avaliação de políticas e programas públicos. Tais medidas, associadas à estabilização das despesas públicas e melhoria da arrecadação, podem propiciar condições para o decréscimo relevante dos juros básicos sem descontrole inflacionário, reduzindo as despesas financeiras e a dívida pública. Em conjunto, essas são condições essenciais para elevar a taxa de investimento da economia brasileira, que caiu para 15,6% no último exercício, e abrir caminho para reformas estruturantes – inclusive do marco regulatório das finanças públicas, adequando-o às melhores práticas nacionais e internacionais –, de forma a possibilitar um crescimento sustentável: melhoria da governança fiscal, desburocratização e elevação da eficiência tributária, aumento da qualidade do gasto, aperfeiçoamento do planejamento e do orçamento público, reequilíbrio das contas dos entes subnacionais. A constituição de um ambiente de transparência, planejamento, equilíbrio fiscal e elevação da produtividade revela-se, enfim, não um propósito em si mesmo; ao contrário, trata-se do estabelecimento de fundamentos seguros para a elevação da competitividade nacional, da atração de novos e crescentes investimentos internos e estrangeiros e da sustentabilidade das políticas econômicas e sociais necessárias ao desenvolvimento do país. O TCU, como parte fundamental da estrutura de governança da União, pode contribuir no enfrentamento dos desafios atuais e futuros das finanças públicas. Por meio de auditorias, diagnósticos, cooperação técnica, relatórios sistêmicos e análises de contas consolidadas, o TCU pode ampliar a transparência e confiança nas informações financeiras, evidenciar riscos, propor alternativas e fornecer subsídios técnicos para qualificar as discussões e decisões da sociedade, do Congresso Nacional e do Governo Federal. 5 PROCESSO ORÇAMENTÁRIO BRASILEIRO 2O modelo orçamentário brasileiro é definido na Constituição Federal de 1988 do Brasil. Compõe-se de três instrumentos: o Plano Plurianual – PPA, a Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO e a Lei Orçamentária Anual - LOA. 2 Economista. Consultor de Orçamentos e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados. 9 Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I - O plano plurianual; II - As diretrizes orçamentárias; III - Os orçamentos anuais. O PPA, com vigência de quatro anos, tem como função estabelecer as diretrizes, objetivos e metas de médio prazo da administração pública. Cabe à LDO, anualmente, enunciar as políticas públicas e respectivas prioridades para o exercício seguinte. Já a LOA tem como principais objetivos estimar a receita e fixar a programação das despesas para o exercício financeiro. Assim, a LDO ao identificar no PPA as ações que receberão prioridade no exercício seguinte torna-se o elo entre o PPA, que funciona como um plano de médio- prazo do governo, e a LOA, que é o instrumento que viabiliza a execução do plano de trabalho do exercício a que se refere. De acordo com a Constituição Federal, o exercício da função do planejamento é um dever do Estado, tendo caráter determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. Assim, o planejamento expresso no Plano Plurianual assume a forma de grande moldura legal e institucional para a ação nacional, bem como para a formulação dos planos regionais e setoriais. O § 1º do inciso XI do art. 167 da Constituição Federal é um argumento forte em relação à importância que os constituintes deram ao planejamento no Brasil: § 1º Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exercício financeiro poderá ser iniciado sem prévia inclusão no plano plurianual, ou sem lei que autorize a inclusão, sob pena de crime de responsabilidade. 5.1 Plano Plurianual – PPA Encontram-se, na literatura orçamentária e financeira, indicações de alguns problemas relacionados com o funcionamento do modelo orçamentário acima descrito. 10 Decorrem, em sua maioria, da inexistência da lei complementar mencionada no § 9º do art. 165 da CF. Em relação ao PPA, a primeira questão que pode ser colocada neste contexto se refere ao entendimento da expressão "de forma regionalizada". Sua finalidade está ligada ao mandato constitucional de "redução das desigualdades regionais" (§ 7º do art. 165 da CF 88). Ou seja, sendo apresentado de forma regionalizada, o plano permitirá ser devidamente avaliado em relação àquele objetivo. 5.2 Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO Uma das principais funções da LDO é estabelecer parâmetros necessários à alocação dos recursos no orçamento anual, de forma a garantir, dentro do possível, a realização das metas e objetivos contemplados no PPA. É papel da LDO ajustar as ações de governo, previstas no PPA, às reais possibilidades de caixa do Tesouro Nacional e selecionar dentre os programas incluídos no PPA aqueles que terão prioridade na execução do orçamento subsequente. Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: § 2º - A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas e prioridadesda administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente, orientará a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. Observe-se que prioridade pode ser entendida como o grau de precedência ou de preferência de uma ação ou situação sobre as demais opções. Em geral, é definida em razão da gravidade da situação ou da importância de certa providência para a eliminação de pontos de estrangulamento. Também se considera a relevância do empreendimento para a realização de objetivos estratégicos de política econômica e social. Apesar da existência de vários problemas relacionados com este importante instrumento de planejamento, não há dúvidas que ele continua sendo útil em antecipar o debate dos grandes problemas orçamentários (como por exemplo, salário mínimo, compensações a estados e municípios, alterações tributárias, política de pessoal) no fórum adequado, no plenário do Poder Legislativo. 11 5.3 Lei Orçamentária Anual – LOA A lei orçamentária da União estima receitas e fixa as despesas para um exercício financeiro. De um lado, permite avaliar as fontes de recursos públicos no universo dos contribuintes e, de outro, quem são os beneficiários desses recursos. Reza o § 5º do artigo 165 da Constituição de 1988: § 5º - A lei orçamentária anual compreenderá: I - O orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; II - O orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto; III - O orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público. Orçamentos Fiscal e da Seguridade O Orçamento Fiscal abrange os três poderes, seus fundos, órgãos, autarquias, inclusive as fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público. Compreende também as empresas públicas, sociedades de economia mista e demais controladas que recebam quaisquer recursos do Tesouro Nacional, exceto as que percebam unicamente sob a forma de participação acionária, pagamento de serviços prestados, ou fornecimento de bens, pagamento de empréstimo e financiamento concedidos e transferências para aplicação em programa de financiamento. Este último, refere-se aos 3% do IR e do IPI destinados aos FNO, FCO, FNE, e 40% das contribuições do PIS/PASEP, destinados ao BNDES. O Orçamento da Seguridade Social Particularmente, constitui o detalhamento dos montantes de receitas vinculados aos gastos da seguridade social - especialmente as contribuições sociais nominadas no art. 195 da Constituição. Compreende também outras contribuições que lhe sejam asseguradas ou transferidas pelo orçamento fiscal, bem como do detalhamento das programações relativas à saúde, à previdência e à assistência social que serão financiadas por tais receitas. Esse 12 orçamento abrange todas as entidades e órgãos vinculados à seguridade social, da administração direta e indireta, bem como fundos e fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público. Orçamento de Investimento das Estatais As Estatais, operando nas condições e segundo as exigências do mercado, não teriam obrigatoriedade de ter suas despesas e receitas operacionais destas empresas integrem o orçamento público. As despesas de custeio das empresas estatais vinculadas ao Executivo (entendidas como empresas públicas e as sociedades de economia mista, subsidiárias, controladas) terão seus orçamentos organizados e acompanhados com a participação do MPO, mas não são apreciadas pelo Legislativo. A inclusão de seus investimentos é justificada na medida em que tais aplicações constam com o apoio do orçamento fiscal e até mesmo da seguridade que fornecem os recursos ou com o apoio do Tesouro que concede aval para as operações de financiamento, ou com "lucros e excedentes" de aplicações de recursos públicos. Por uma questão de racionalidade, transparência e evitar a dupla contagem não se incluem neste orçamento as programações de estatais cujos trabalhos integrem os orçamentos fiscal e da seguridade social (CBTU, CODEVASF, CONAB, CPRM, EMBRAPA, RADIOBRÁS, SERPRO). 5.4 Ciclo de planejamento e orçamento O PPA é peça de mais alta hierarquia dentre a tríade orçamentária, embora esta seja somente constituída de leis ordinárias. Esse é o modelo disposto em nossa Carta Magna, que determina em seu art. 165, § 7º, que os orçamentos devem ser compatibilizados com o plano plurianual. No § 2º desse artigo exige que a LOA deve ser elaborada conforme dispuser a LDO. E no art. 166 § 3º, I, prevê a admissão de emendas ao orçamento somente se compatíveis com o plano plurianual e com a LDO. A técnica utilizada na elaboração dessas leis orçamentárias – a do Orçamento Programa, ao possibilitar uma linguagem unificada nas relações entre essas três leis, permite a desejada e preconizada integração entre o planejamento e o orçamento. 13 Todas as leis orçamentárias são de iniciativa do Poder Executivo que as envia, sob a forma de proposta, para apreciação e aprovação do Poder Legislativo. Cabe ao Chefe do Poder Executivo sancioná-las e executá-las. Compete ao Poder Legislativo acompanhar e fiscalizar sua execução. O ciclo integrado de planejamento e orçamento pode ser ilustrado da seguinte maneira: Apreciação do Orçamento pelo Poder Legislativo O processo de apreciação do orçamento no Congresso Nacional. Reconhece que é o Poder Executivo que determina a formação da agenda para o conjunto de políticas públicas a serem formalizadas no orçamento. No âmbito do Poder Legislativo federal a apreciação das peças orçamentárias cabe à Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO) (Art. 166, § 1º, I e II, CF), composta por trinta Deputados Federais e dez Senadores da República, com igual número de suplentes, regida pela Resolução nº 1 do Congresso Nacional, de 26 de dezembro de 2006 (Resolução nº 1/06-CN). A CMO emite parecer e delibera sobre os projetos de lei do plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamentos anuais e suas alterações (créditos adicionais), além de outras matérias de cunho orçamentário. Em seu âmbito são apresentadas as emendas aos projetos para inclusão dos interesses dos parlamentares, respeitando os prazos, limites e condições determinados pela Resolução. Cada proposta de PPA, LDO ou LOA recebe proposições acessórias durante sua tramitação, que auxiliarão na análise das proposições principais e determinarão regras para atuação dos relatores e a apresentação de emendas. Dentre essas proposições acessórias destacam-se o parecer preliminar, os relatórios setoriais (somente no caso do projeto da LOA), as emendas e os destaques. As emendas podem ser apresentadas pelos parlamentares de forma individualizada ou coletiva. As emendas individuais são apresentadas por qualquer parlamentar detentor do mandato e também por relatores das propostas, sendo estas limitadas à correção de erros ou omissões contidas nos projetos em análise. As emendas coletivas derivam do consenso dos parlamentares reunidos em comissões permanentes de cada Casa do Congresso Nacional – Emendas de Comissão – ou dos parlamentares pertencentes à mesma unidade da federação – Emendas de Bancada. No caso das Emendas de 14 Comissão, sua apresentação fica condicionada à aprovação pela maioria de seus membros, e as Emendas de Bancada devem constar de ata assinada por, no mínimo, 3/4 (três quartos) de deputados federais e 2/3 (dois terços) de senadores da respectiva unidade da federaçãopara serem submetidas à apreciação da CMO. 15 Fonte: desenho criado por MOGNATTI (2008) 16 5.5 Aspectos Legais do Orçamento Público Fonte: notícias.universia.com.br No nosso ordenamento jurídico, o tema Finanças Públicas tem sua importância reconhecida na Constituição Federal, que estabeleceu um novo sistema de planejamento e orçamento, que deveria ser aperfeiçoado através de leis complementares. Nesse sentido, foi editada a Lei de Responsabilidade Fiscal – Lei Complementar 101 de 2000 e foi recepcionada como Lei Complementar a Lei 4.320 de 1964, até que seja editada a Lei Complementar que irá substituí-la. Os instrumentos de planejamento e orçamento previstos na CF, a saber: o PPA – Plano Plurianual, a LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias e a LOA – Lei Orçamentária Anual se materializam através de lei ordinária, de caráter temporário e projetos de iniciativa do Poder Executivo. Complementam as normas de gestão do planejamento e orçamento público o Decreto nº 2829 de 1998 e a Portaria nº 42 de 1999. Estes normativos definem que toda ação finalística do Governo será estruturada em programas orientados para a consecução de objetivos estratégicos e traz conceitos e regras que dão sustentação ao sistema de planejamento orçamentário. 17 Dos dispositivos legais citados, destacam-se a Constituição Federal, que representa a base estrutural deste estudo e a Lei de Responsabilidade Fiscal, pela sobreposição dos temas que serão tratados, condição que impõe a necessidade de uma abordagem mais profunda de seus propósitos. A Constituição Federal de 1988 mostra-se como o ponto de partida para análise do processo orçamentário brasileiro, pois definiu instrumentos de planejamento e orçamento com elevado grau de detalhe, que importa conhecer para melhor definir o escopo de um novo dispositivo legal. “Dos Orçamentos”, da Constituição Federal, na forma abaixo: § 9º - Cabe à lei complementar: I - Dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e a organização do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária anual; II - Estabelecer normas de gestão financeira e patrimonial da administração direta e indireta bem como condições para a instituição e funcionamento de fundos. No entanto, é necessário conhecer outras matérias cogentes, abordadas na Constituição Federal, pois a gestão do orçamento não pode estar dissociada de temas importantes relacionados com administração financeira, como a dívida pública, fiscalização financeira, sistemas de avaliação e controle e outros. Nesse sentido, no Capítulo denominado “DAS FINANÇAS PÚBLICAS”, art. 165, está prevista a edição de outra Lei Complementar, que deverá dispor sobre: I - Finanças públicas; II - Dívida pública externa e interna, incluída a das autarquias, fundações e demais entidades controladas pelo Poder Público; III - Concessão de garantias pelas entidades públicas; IV - emissão E resgate de títulos da dívida pública; V - Fiscalização financeira da administração pública direta e indireta; VI - Operações de câmbio realizadas por órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; VII - Compatibilização das funções das instituições oficiais de crédito da União, resguardadas as características e condições operacionais plenas das voltadas ao desenvolvimento regional. 18 Outro dispositivo que merece destaque é o art. 168, que acrescenta mais um tema à Lei Complementar que deverá regulamentar os orçamentos, quando define o compromisso de repassar os recursos das dotações orçamentárias aos órgãos até o dia 20 de cada mês, na forma abaixo especificada: Art. 168. Os recursos correspondentes às dotações orçamentárias, compreendidos os créditos suplementares e especiais, destinados aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública, ser-lhes-ão entregues até o dia 20 de cada mês, em duodécimos, na forma da lei complementar a que se refere o art. 165, § 9º. Neste mesmo capítulo, temos outro dispositivo, que trata dos limites das despesas com pessoal e as condições para o seu enquadramento nos padrões determinados, a saber: Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar. § 2º Decorrido o prazo estabelecido na lei complementar referida neste artigo para a adaptação aos parâmetros ali previstos, serão imediatamente suspensos todos os repasses de verbas federais ou estaduais aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios que não observarem os referidos limites. § 3º Para o cumprimento dos limites estabelecidos com base neste artigo, durante o prazo fixado na lei complementar referida no caput, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios adotarão as seguintes providências: I - Redução em pelo menos vinte por cento das despesas com cargos em comissão e funções de confiança; II - Exoneração dos servidores não estáveis. § 4º Se as medidas adotadas com base no parágrafo anterior não forem suficientes para assegurar o cumprimento da determinação da lei complementar referida neste artigo, o servidor estável poderá perder o cargo, desde que ato normativo motivado de cada um dos Poderes especifique a atividade funcional, o órgão ou unidade administrativa objeto da redução de pessoal. Constituição, também, se preocupou com o controle e a avaliação, ao estabelecer, em seu art. 74, que “Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma 19 integrada, sistema de controle interno...”, com a finalidade de avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual e a execução dos programas de governo e dos orçamentos da União, dentre outras funções. Na análise destes dispositivos, destacam-se temas que precisam ser regulados por lei complementar, um mais abrangente, voltado para a gestão das finanças públicas, que deu origem à LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal entre outros. 5.6 Lei de Responsabilidade Fiscal Fonte: br.sageone.com A Lei Complementar n. º 101/00, conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF representa a maior inovação dos últimos tempos em termos de finanças públicas. Delimita a ação dos gestores de recursos públicos de todas as esferas de governo, nas diversas ações, como as regras que buscam disciplinar os níveis de endividamento e os gastos com pessoal, na busca de combater os desmandos e o descrédito da sociedade na gestão pública. Também estabelece mecanismos de transparência da gestão através da exigência de publicação de relatórios, demonstrativos de execução orçamentária e a presença, em audiência pública, de autoridades, de forma a fornecer à sociedade explicações de política 20 e um quadro mais preciso da utilização dos recursos que são colocados à disposição dos governantes. Avaliar o que representa a LRF na gestão financeira das instituições públicas e o que falta para melhorar seria uma grande tarefa, mas fugiria do foco deste estudo, motivo pelo qual basta ter uma visão da sua estrutura e identificar os temas que carecem de regulamentação. Nesta análise, se observa uma grande sobreposição de temas com a Lei Complementar prevista no art. 165, § 9º, principalmente em relação aos instrumentos de planejamento – LDO e LOA, execução orçamentária – receita e despesas, controle e avaliação, dentre outros. Ao avaliar a ementa do projeto de Lei que deu origem à LRF, se observa que a intenção do legislador à época era regulamentar o os artigos 163 e 169 da Constituição Federal, como segue: Regula o art. 163, incisos I, lI, III e IV, e o art. 169 da Constituição Federal, dispõe sobre princípios fundamentais e normas gerais de finanças públicas e estabelece o regimede gestão fiscal responsável, bem assim altera. Na versão Final, a Lei Complementar nº 101 de 2000, estende a referência à Constituição para todo o Capítulo II, que trata de “Finanças Públicas”, incluindo o art. 165 § 9º, como se observa no art. 1º, abaixo transcrito, o que justifica o tratamento que é dado a alguns temas que serão avaliados no contexto de uma nova lei. Art. 1o Esta Lei Complementar estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, com amparo no Capítulo II do Título VI da Constituição. Pelo exposto, não é possível determinar o conteúdo de uma nova lei de finanças públicas sem considerar o conteúdo da LRF e como o tratamento dado aos temas pode ser harmonizado, sem prejudicar as regras já consolidadas e que tornaram mais eficiente a gestão dos recursos públicos. 5.7 Objetivos da Lei de Responsabilidade Fiscal O principal objetivo da Lei de Responsabilidade Fiscal, de acordo com o caput do art. 1º, consiste em estabelecer “normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal”. 21 Por sua vez, o parágrafo primeiro desse mesmo artigo procura definir o que se entende como “responsabilidade na gestão fiscal”, estabelecendo os seguintes postulados Princípios Orçamentários Para concluir a análise da legislação vigente, é importante trazer para o nosso contexto os princípios orçamentários, aqueles já incorporados na legislação e consagrados pela doutrina, pois se apresentam como premissas básicas de ação a serem cumpridas a fim de assegurar os fins a que se propõe uma proposta orçamentária. Nesse sentido, cabe destacar: Princípio da Unidade O orçamento deve ser uno, ou seja, deve existir apenas um orçamento para dado exercício financeiro. Dessa forma, integrado, é possível obter um retrato geral das finanças públicas e, o mais importante, permite-se ao Poder Legislativo o controle racional e direto das operações financeiras de responsabilidade do Executivo. Este princípio está legalmente previsto no Art. 2º da Lei 4.320/64 e pelo § 5º do art. 165 da CF. Princípio da Universalidade O orçamento deve conter todas as receitas e todas as despesas do ente estatal, o que facilita o controle parlamentar e limita as ações do gestor. Este princípio está legalmente previsto nos artigos 2º e 3º da Lei 4.320/64, de forma objetiva, e respaldado pelo § 5º do art. 165 da CF, que reúne os orçamentos fiscal, da seguridade social e o de investimentos das estatais. Princípio da Anualidade O orçamento deve ser elaborado e autorizado para um determinado período de tempo, geralmente um ano. A exceção se dá nos créditos especiais e extraordinário, autorizados nos últimos quatro meses do exercício e reabertos nos limites de seus saldos, incorporados ao orçamento do exercício seguinte. No Brasil, o exercício financeiro coincide com o ano civil. Este princípio está legalmente previsto no Artigo 2º da Lei 4.320/64, de forma objetiva, e respaldado pelo § 5º do art. 165 da CF. 22 Princípio da Exclusividade A lei orçamentária deverá conter apenas matéria orçamentária ou financeira. Ou seja, dela deve ser excluído qualquer dispositivo estranha à estimativa de receita e à fixação de despesa. Não se inclui na proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita. Este princípio encontra-se previsto no art. 165, § 8º da CF. Como afirma SANTA HELENA (2003), este princípio limita o conteúdo da lei orçamentária, restringindo o legislador, impedindo que nela se incluam normas pertencentes a outros campos jurídicos, como forma de se tirar proveito de um processo legislativo mais rápido. Princípio da Especificação ou Discriminação As receitas e as despesas devem aparecer de forma discriminada, de tal forma que se possa saber, pormenorizadamente, as origens dos recursos e sua aplicação. De outra forma, “A Lei de Orçamento não consignará dotações globais para atender indiferentemente as despesas…, ". Trata-se de mais um princípio que facilita o controle do Legislativo sobre o orçamento. Está legalmente previsto nos artigos 5º e 15 da Lei 4.320/64. Princípio da Legalidade Historicamente, sempre se procurou dar um cunho jurídico ao orçamento, ou seja, para ser legal, tanto as receitas e as despesas precisam estar previstas a Lei Orçamentária Anual, GONTIJO (2004). Ou seja, a aprovação do orçamento deve observar processo legislativo porque trata- se de um dispositivo de grande interesse da sociedade. O respaldo a este princípio pode ser encontrado nos art. 37 e 166 da CF. O Art. 166 dispõe que: "Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicionais serão apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma do regimento comum." Princípio da Publicidade Já consagrado pela Administração Pública, este princípio determina que o orçamento deverá ser publicado nos veículos oficiais de comunicação para conhecimento 23 do público e para eficácia de sua validade. Trata-se de um princípio consagrado no art. 37 da CF de 88: "A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: ...". Princípio do Orçamento Bruto De acordo com este princípio, todas as parcelas da receita e da despesa devem aparecer no orçamento em seus valores brutos, sem qualquer tipo de dedução. A intenção é a de impedir a inclusão de valores líquidos ou de saldos resultantes do confronto entre receitas e as despesas. Está legalmente previsto no Art. 6º da Lei 4.320/ Princípio da Não Afetação De acordo com esse princípio, a receita não pode sofrer vinculações. Nenhuma parcela da receita poderá ser reservada ou comprometida para atender a certos casos ou a determinado gasto. Este princípio encontra-se claramente expresso no inciso IV do art. 167 da CF, mas aplica-se somente às receitas de impostos e possui exceções, como a repartição do produto da arrecadação dos impostos pertencentes aos Estados e Municípios a que se referem os artigos 158 e 159 da CF, a destinação de recursos para manutenção e desenvolvimento do ensino, art. 212 da CF, prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º", também da CF. Princípio da Reserva Legal Os projetos das leis orçamentárias – PPA / LDO / LOA serão de iniciativa privativa do Poder Executivo, nos termos da Constituição Federal. Diz o art. 165, da Constituição Federal: Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I – O plano plurianual; II – As diretrizes orçamentárias; III – os orçamentos anuais. 24 5.8 Balanço Geral da União – BGU As Demonstrações Contábeis Consolidadas da União (DCON), comumente conhecidas como Balanço Geral da União (BGU), são elaboradas em consonância com os dispositivos da Lei nº 4.320/1964, do Decreto-Lei nº 200/1967, do Decreto nº 93.872/1986, da Lei nº 10.180/2001 e da Lei Complementar nº 101/2000. Abrangem, também, as Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBCASP) do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), o Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP) e o Manual SIAFI. Compõe o BGU o Balanço Patrimonial, a Demonstração das Variações Patrimoniais (DVP), o Balanço Orçamentário e o Balanço Financeiro, exigidos pela Lei nº 4.320/1964. Consta, também, a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL), que é um instrumento utilizado para evidenciação das variações dos elementos do Patrimônio Líquido. A partir do exercício de 2015, consta, ainda, a Demonstração do Fluxo de Caixa, que permite a análise da capacidade de a entidade gerarcaixa e equivalentes de caixa e da utilização de recursos próprios e de terceiros em suas atividades. As Demonstrações Contábeis estão complementadas pelas notas explicativas. No encerramento do exercício, o BGU é parte integrante da Prestação de Contas do Presidente da República (PCPR), consolidando informações orçamentárias, financeiras e patrimoniais dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, do Ministério Público da União e da Defensoria Pública da União. Abrange as entidades da administração direta e indireta de todos os Poderes que sejam integrantes do Orçamento Fiscal e da Seguridade Social. A Prestação de Contas do Presidente da República fica integralmente disponível no sítio da internet do Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU), bem como, em meio impresso, na CGU, na STN e em outras instituições públicas, de forma a permitir aos cidadãos o exercício do direito de fiscalização dos recursos públicos. 3O BGU tem a finalidade de apresentar à sociedade a situação e os resultados orçamentário, financeiro e patrimonial da União. Ele é composto pelo Balanço Patrimonial, pela Demonstração das Variações Patrimoniais (DVP), pelo Balanço Orçamentário, pelo Balanço Financeiro, pela Demonstração dos Fluxos de Caixa e pela Demonstração das 3 Ministério da Economia | Secretaria Especial de Fazenda | Secretaria do Tesouro Nacional Disponível em: http://www.tesourotransparente.gov.br/ 25 Mutações do Patrimônio Líquido. Essas demonstrações contábeis são acompanhadas pelas notas explicativas. Dentre os aprimoramentos realizados no BGU de 2018, destacam-se: O estabelecimento de novos critérios e procedimentos a serem observados na classificação de riscos sobre ações ajuizadas contra a União; O estabelecimento de critérios de inadimplência, do risco de crédito e dos ajustes de perdas estimados no âmbito do Fies, passando os financiamentos a serem classificados em ordem crescente de risco (do nível A até o H), sendo registrado ajuste para perdas no montante de R$ 7,8 bilhões de reais em 31/12/2018; Os ajustes na metodologia para projeção de despesas com militares inativos, em atendimento às recomendações do TCU por meio do Acórdão nº 1.322/2018- tcuplenário. O reconhecimento de imóveis destinados à reforma agrária; A constituição de provisões para avais e garantias concedidas pela União aos Estados; e Os ajustes na contabilização do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR). Esses aprimoramentos se somam aos avanços obtidos nos últimos anos na contabilização dos ativos e passivos da União, especialmente quanto aos créditos tributários e de dívida ativa, dos haveres financeiros perante instituições financeiras e entes subnacionais, dos imóveis da União, das participações societárias, das provisões e passivos contingentes, dos passivos previdenciários e dos ativos de infraestrutura. Esse conjunto de informações permite constatar que o passivo a descoberto da União (passivos superiores aos ativos) atingiu o montante de R$ 2,416 trilhões. Não obstante o atingimento desse nível de passivo a descoberto, o diagnóstico efetivo da situação financeira é melhor obtido a partir da análise dos números de cada item patrimonial que compõe o balanço patrimonial, bem como dos fluxos orçamentários e financeiros ocorridos no período. Ou seja, o documento apresenta em detalhes os ativos e os passivos da União, que posicionaram, respectivamente, R$ 5,268 trilhões e R$ 7,684 trilhões ao final de 2018, assim como os principais fluxos do exercício. Nesse sentido, o BGU de 2018 também dá destaque, dentre outros pontos, à situação da seguridade social da União. A arrecadação nessa esfera orçamentária foi de 26 R$ 713,1 bilhões no ano, sendo que as despesas perfizeram um total de R$ 993,7 bilhões, tendo o déficit evoluído para R$ 280,6 bilhões em 2018. Destaca-se ainda que as informações contábeis da União demonstram de forma clara a evolução do déficit dos regimes previdenciários (RGPS e RPPS e pensionistas de militares), bem como a evolução das despesas relativas aos militares inativos, informações que servem de base para o diagnóstico dos regimes de Previdência e do sistema de proteção social dos militares. Assim, o BGU apresenta notas com relação à constituição das provisões e passivos contingentes relacionados a esse tema, bem como aos fluxos orçamentários altamente deficitários do exercício. O Balanço demonstra ainda que a União cumpriu os gastos mínimos constitucionais com ensino e saúde, com folga, respectivamente, de R$ 13,9 bilhões e R$ 4,4 bilhões. Com relação à regra 22 Ministério da Economia | Secretaria Especial de Fazenda | Secretaria do Tesouro Nacional de ouro das finanças públicas, o montante de despesas de capital em 2018 foi de R$ 904,2 bilhões, ao passo que as receitas de operações de crédito consideradas na apuração perfizeram o valor de R$ 868,4 bilhões, sendo a regra cumprida na União com uma margem de suficiência de R$ 35,8 bilhões. No exercício, o montante de restos a pagar (RP) inscritos foi de R$ 189,5 bilhões, o que representa aumento de R$ 34,1 bilhões (22,0%) em relação à inscrição ocorrida no exercício de 2017 (R$ 155,3 bilhões). Contudo, do aumento verificado, R$ 34,0 bilhões (99,6%) se referem à mudança na sistemática de contabilização do pagamento de despesas associadas à emissão da ordem bancária, que passou a ocorrer no momento da efetiva saída de caixa. Sem essa mudança, o estoque de RP teria crescido, em termos nominais, apenas R$ 145 milhões (0,1%). 5.9 Matriz de Saldos Contábeis A MSC foi idealizada pela Secretaria do Tesouro Nacional como principal ferramenta no auxílio à melhoria da qualidade da informação no Setor Público Brasileiro. E essa busca incessante tem base na dificuldade de grande parte da população em obter informações financeiras consistentes e confiáveis a respeito dos entes da Federação. O cenário atual obteve uma melhora significativa com a recepção das informações contábeis e fiscais por meio do Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor 27 Público Brasileiro, o Siconfi, que inovou na forma de obtenção, validação e disponibilização das informações ao público em geral. E o próximo passo do Siconfi é justamente a implantação da MSC, em 2017. A MSC é uma estrutura padronizada apta a representar informações detalhadas extraídas diretamente da contabilidade do Ente, evitando possíveis falhas no processo de preenchimento, com o objetivo de gerar relatórios contábeis e demonstrativos fiscais exigidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Essa estrutura reúne uma relação de contas contábeis e de informações complementares, produzida a partir do Plano de Contas Aplicado ao Setor Público – PCASP Estendido, semelhante a um balancete de verificação. Além disso, as informações enviadas na MSC passarão a ser comparáveis, já que se converterão em relatórios padronizados de acordo com a metodologia definida no Manual de Demonstrativos Fiscais e no Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público, ambos produzidos pela Secretaria do Tesouro Nacional. 6 GESTÃO FINANCEIRA PÚBLICA X PRIVADA Fonte: revistapegn.globo.com Cada organização tem suas particularidades, porém todas envolvem gestão de recursos, dentre eles os financeiros. Gerir estes recursos de maneira eficaz garante maior permanência da organização no mercado onde está inserida. 28 O objetivo da administração financeira é maximizar a riqueza dos acionistas na empresa, e o principal responsável para isso é o administrador financeiro. As principais decisões estratégicas, defendidas por Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2010), para que o objetivo de aumentar o capital da empresa seja alcançado são: Investimento Financiamento Resultado Tratando sobre decisões de investimento,abrange tanto aplicação de capital em algum ativo, tangível ou não, para a obtenção de retorno futuro, podendo ser a aquisição de uma nova empresa ou implantação de um projeto por exemplo. Ao tratar de decisão em financiamento, entende-se que quando uma empresa tem a capacidade de obter recursos com taxa e prazos compatíveis, ela consegue viabilizar bons projetos de investimento, consequentemente trazendo maior valor para seus acionistas. Sobre as decisões financeiras, cabe a decisão sobre o resultado, a qual trata do capital de giro dentro de um exercício. Como base nas teorias apresentadas, os objetivos do gestor financeiro baseiam-se em multiplicar a riqueza dos acionistas, fazendo investimentos com o capital, financiamentos de projetos que tragam retorno e administração de recursos de capital de giro. 6.1 Planejamento orçamentário empresarial Com o objetivo de administrar o capital de giro e os recursos financeiros, o gestor deverá utilizar ferramentas de planejamento, incluindo o orçamento. Entende-se por orçamento um planejamento financeiro que aloca recursos ao longo de determinando período de tempo. O orçamento deve ser constituído com datas e unidades monetárias, visando atingir o plano financeiro em determinado período. Os orçamentos, além de definidos como curto e longo prazo, podem ser separados por: Orçamento Base Zero: é o orçamento que, segundo Santos et al. (2008), começa de baixo para cima, não carregando valores passados. Classifica 29 cada item do orçamento e sua finalidade com o objetivo de reduzir custos. Na elaboração, envolve questões da real finalidade e possíveis alternativas para adequar melhor os recursos. Orçamento Estático: de acordo com Knuth (2015), é definido com base em um determinado volume de produção que a empresa deseja atingir. Orçamento Matricial: o orçamento matricial tem como objetivo aumentar o resultado da empresa, podendo até mesmo diminuir o valor de itens, mas criar a mesma satis fação ao cliente e remuneração ao acionista (OTLLEY, 1995; HORNGREN ET AL.,1993 apud SANTOS ET AL., 2008). Orçamento de Tendências: O orçamento de tendências, segundo Knuth (2015), está fundado em projetar o futuro com situações já ocorridas, tendo em vista o ciclo de mercado e sazonalidade, ao exemplo de determinado produto que tem média de produção, assim, com histórico de produção há a tendência de que a média de vendas ocorra novamente. O orçamento de vendas, representa a quantidade de vendas que a empresa deseja atingir, devendo conter quantidade, valor unitário e total de vendas. Esse orçamento tem como objetivo visualizar seu potencial dentro de um mercado consumidor, tendo em vista o crescimento histórico, do setor e da economia como um todo, podendo aumentar sua fatia de mercado e aumentando o resultado do exercício. Depois de definido o orçamento de vendas, que estima as receitas, é definido o quanto será gasto para obtenção desses recursos, o chamado Orçamento de produção. Ele é composto por: • Consumo De Matérias-Primas E Matérias Auxiliares; • Custo De Mão De Obra; • Gastos Gerais De Fabricação; Logo, para a obtenção de receitas em determinado período, é elaborado o orçamento de vendas, e deste são orçados os custos para obtenção das receitas estimadas. 6.2 Objetivos da gestão financeira pública Destacando se os principais objetivos da gestão financeira pública: 30 Entende-se como entidade pública “todo serviço prestado pela administração, direta ou indireta, ou por seus delegados, sob normas e controles estatais, para satisfazer a necessidades essenciais ou secundárias da coletividade” (ANDRADE, 2002, p. 35). A estrutura organizacional brasileira, segundo Chiavenato (2008), em um sentido amplo é dividida em três poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, e em três níveis, União, estados e municípios. Esta divisão recebe o nome de aparelho do Estado. Define que os gastos públicos podem ser classificados em três principais pontos de vista: Finalidade do gasto; Natureza do dispêndio; Agente encarregado da execução do gasto. Podem ainda ser classificados os gastos nas categorias de funções, programas e subprogramas. Quanto à natureza do gasto, Silva (1983) identifica quatro principais categorias: custeio, investimento, transferências e inversões financeiras. 6.3 Planejamento orçamentário público O orçamento público pode ser comparado a uma lei, pois descreve em termos financeiros a alocação dos recursos públicos. A base para o orçamento público, está apoiada na Constituição Federal, que determina uma sequência de camadas lógicas e sistêmicas do planejamento de ação governamental, contendo o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e os orçamentos anuais. Existe uma interação entre o plano plurianual e a lei de diretrizes orçamentárias, acompanhada da lei orçamentária anual, assim cumprindo a função legislativa de união entre plano e orçamento. O Plano Plurianual (PPA), é a base do orçamento público, pois tem o objetivo de formular as diretrizes para finanças públicas no período do plano, buscando alocar os recursos de forma eficiente e racional. Ao se tratar das Diretrizes Orçamentárias (LDO), Segundo Lunelli (2015, s.p, apud VARGAS et al, p. 04) afirma que: No Brasil, a Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO - tem como a principal finalidade Orientar a elaboração dos orçamentos fiscal e da seguridade social e de investimento do poder público, incluindo os poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e as empresas públicas e autarquias. Busca sintonizar a Lei Orçamentária 31 Anual - LOA - com as diretrizes, os objetivos e as metas da administração pública, estabelecidas no Plano Plurianual. A Constituição Federal, art. 165 § 2º, assim dispõe: “A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas e prioridades da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício subsequente [...]” (BRASIL, 1988, s.p.). Observa-se semelhanças e as diferenças em cada tipo de organização. Cada uma dessas organizações tem objetivos financeiros diferentes; na gestão privada o objetivo é aumentar a riqueza de quem investiu o capital na organização, tendo em sua base o planejamento e a análise do mercado onde a organização está inserida, pois não adiantaria criar um objetivo com crescimento maior que o mercado suportaria, logo, este planejamento é baseado por análises de mercado e da organização, partindo de um orçamento de quanto a organização faturará em determinado período. A semelhança identificada nos objetivos da gestão pública é que também parte do planejamento como base de suas ações financeiras, porém, em vez de gerar mais riqueza aos “proprietários” (população), visa, com base em leis orçamentárias, atingir objetivos sociais, por ordem de prioridade. Nas questões orçamentárias, partindo do planejamento e do objetivo de aumentar a riqueza dos acionistas/cotistas, a organização privada parte de orçamentos. O orçamento por projeção de vendas; assim, determina onde se quer chegar, pode- se definir como chegar, e o quanto de recursos financeiros deverá ser investido para alcançar esses objetivos, gerando margem e aumentando a riqueza de quem investiu na organização. 7 ADIMINISTRAÇÃO PÚBLICA A Administração Pública é dividida em direta e indireta. A primeira diz respeito à união, aos estados, aos municípios e ao distrito federal, já a Administração indireta, se refere às autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas públicas. A Administração Indireta compreende um conjunto de pessoas jurídicas com o propósito de executar tarefas administrativas de forma descentralizada. Cabe ressaltar que a descentralização diz respeito a uma transferência do exercício de atividades 32 administrativas, contemplando mais de uma pessoa jurídica, sema existência de uma relação hierárquica entre elas. Segue algumas características comuns de todas as categorias de entidades que compõem a Administração indireta: Descentralização por outorga, isto é, a transferência de titularidade e da execução são feitas por meio da lei e por prazo indeterminado. Ou seja, quando a delegação é feita por ato administrativo ou por contrato temos as figuras dos concessionários e dos permissionários. No entanto, quando a delegação surge por meio de uma lei que cria ou autoriza a criação das entidades responsáveis temos a Administração Indireta; Personalidade jurídica própria, diferentemente da Administração direta, na qual os órgãos da Administração não possuem personalidade jurídica; Patrimônio próprio; Contratação por concurso público e compras por meio de licitações; Relação de vinculação, não de subordinação, com a Administração direta; Não se sujeitam à falência, inclusive aquelas entidades que exploram atividade econômica, como as empresas públicas e as sociedades de economia mista; Não há uma relação hierárquica com a Administração direta, mas sim uma relação de; vinculação e tutela, controle finalístico e supervisão ministerial. Entidades da Administração indireta Autarquia É o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da Administração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada. Algumas características adicionais: Serviço público personificado; Criada por lei, Pessoa jurídica (PJ) de direito público; Regime de pessoal: estatutário; Foro processual: 33 União: Justiça Federal; Distrito Federal, Estados e Municípios: Justiça Estadual; Elas estão em funcionamento nas mais diversas áreas. Alguns exemplos de autarquias no governo federal são o Banco Central (BC), as agências reguladoras, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e órgãos como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq) e também as universidades federais. Fonte: mailsondanobrega.com.br Fundação Pública Entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, criada em virtude de autorização legislativa, para o desenvolvimento de atividades que não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público, com autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos de direção, e funcionamento custeado por recursos da União e de outras fontes. Outras características: Patrimônio público personificado; 34 Criação autorizada por lei, isto é, a lei apenas autoriza, para que ela seja criada necessita de registro no órgão competente; Regime de pessoal: estatutário; Foro processual: União: Justiça Federal; Distrito Federal, Estados e Municípios: Justiça Estadual; Pode ser de direito: Privado: também chamada de fundação governamental; Público: esta é uma exceção, pois precisa ser CRIADA, não apenas autorizada, por lei, como as autarquias; São exemplos de Fundações Pública: Funai, Funasa, IBGE, Funarte e Fundação Biblioteca Nacional. Fonte: pmsaposse.sp.gov.br Empresas Estatais - Empresa Pública (EP) E Sociedade De Economia Mista (SEM) Empresa pública é a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, com patrimônio próprio e capital exclusivo da União, autorizada por lei (EC 19/1998) para a exploração de atividade econômica que o Governo seja levado a exercer por força de contingência ou de conveniência 35 administrativa podendo revestir-se de qualquer das formas admitidas em direito. Sociedade de Economia Mista é a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, criada por lei para a exploração de atividade econômica, sob a forma de sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em sua maioria à União ou a entidade da Administração Indireta. São exemplos de sociedades de economia mista a Petrobras, o Banco do Brasil, o Banco do Nordeste e a Eletrobrás. Fonte: correiodopovo.com.br A Caixa Econômica e os Correios, muitas vezes, são listados erroneamente como empresas de capital misto, mas elas são companhias públicas, pois seus capitais são integralmente controlados pelo Estado. 36 Fonte: correios.com.br Fonte: correiodoestado.com.br Características comuns das EP e das SEM: Objeto: prestação de serviço público (ex.: Correios) ou exploração de atividade econômica (ex.: Petrobrás); São pessoas jurídicas de direito privado; Regime jurídico híbrido, ou seja, possuem regras mescladas do direito público e do direito privado; Regime de pessoal: CLT, empregados públicos; Não se sujeitam à falência; Não são para-estatais; Contratam por concurso público e compram por meio de licitações; Conforme art. 173, par. 1, III da CF, as EP's e SEM's podem ter estatuto próprio de licitações e contratos, uma vez que competem no mercado privado e as rígidas regras da Lei 8.666 podem engessar as entidades, dificultando a concorrência pela morosidade do processo licitatório. No entanto, na prática este estatuto ainda não existe. 37 8 CONCEITOS HISTÓRICOS DO CONSENTIMENTO E DA PREVISÃO FINANCEIRA obshistoricogeo.blogspot.com O aspecto da ação financeira do poder público, mantém de forma estreita uma ligação com as idéias e as expectativas predominantes sobre o papel que o Estado exerce ou passou a exercer, muitas vezes a despeito das limitações que se pretendeu lhe impor. Desde a época de superioridade do pensamento liberal absoluto - "o melhor Estado é aquele que interfere e até administra menos" - até os dias de hoje - "quando o Estado comparece ou é chamado a comparecer (ou comparece até sem ser chamado) aos mais variados setores da nossa economia e sociedade" O que sempre foi uma constante é que a atividade financeira do Estado, qualquer que fosse o seu aspecto, nunca deixou de ser um ato de modo eminente político, com a necessária legitimação do poder de arrecadar, tanto mais que o surgimento da sua expressão mais significativa, o orçamento público se confunde com a origem dos próprios direitos do cidadão e das instituições de representação popular. 38 Já em nossa época, os técnicos e administradores, que encontraram a sua síntese na chamada “tecnocracia"4, procuram substituir os políticos no domínio da gestão financeira do Estado, com a reiterada invocação da racionalidade e, da eficiência. O consentimento da coletividade e a previsão das contribuições são elementos essenciais das definições mais aceitas do orçamento público, como a de Stourm - "ato contendo a aprovação prévia das receitas e das despesas públicas"; ou a de Bessaignet - "ato pelo qual são previstas e autorizadas as receitas e as despesas anuais do Estado", mas sempre se confundiram com a natureza do próprio orçamento, desde as suas formas mais primárias. Uma das manifestações precursoras é assinalada ainda na época do feudalismo, quando os monarcas, em face do fracionamento do poder, tiveram que reunir em assembleias os senhores feudais, seus vassalos, sempre que necessitassem arrebanhar recursos no interesse comum, geralmente para travarem a guerra; e só o conseguiram mediante o consenso e a fixação comum das contribuições. A instituição das "cúrias régias", em várias regiões da Europa, isto é, de conselhos constituídos por nobres e sacerdotes, foi uma forma de associação encontrada para legitimar resoluções de interesse coletivo, geralmente com conotação financeira. Na Espanha, quando os representantes do comércio e dos ofícios se juntaramaos do clero e da nobreza, a "cúria espanhola" se transformou nas "Cortes", convocadas por vezes para aprovarem tributos extraordinários solicitados pelo rei. Existe um documento de 1091, mediante o qual Afonso VI notificava a cobrança de um tributo extraordinário e se refere ao consentimento dos contribuintes. As chamadas "Cortes de Leão", de 1188, significaram algo como o reconhecimento de que os impostos não deveriam ser cobrados sem o consentimento dos delegados dos contribuintes. Um dos documentos de maior importância na história política - a "Magna Carta" - é estreitamente ligado a aspectos fiscais: o Príncipe João sem Terra, depois de haver imposto uma série de tributos de forma violenta e extorsiva, sofreu a revolta dos barões ingleses, que, em 1215, o obrigaram a assinar aquela "Carta", com a restrição dos poderes reais, notadamente através do compromisso de não cobrar tributos sem o consentimento do "Conselho dos Comuns". Mais tarde, a já "Câmara dos Comuns", além do consentimento 4 Essa forma de governo surgiu a partir da necessidade de estudo do impacto da tecnologia nas sociedades. Os tecnocratas acreditam que com a mecanização do trabalho total, por exemplo, a qualidade de vida das pessoas melhoraria consideravelmente. 39 quanto à cobrança dos tributos, viria reclamar e obter também o direito de conhecer a aplicação dos recursos. Ao querer sobrepor-se às restrições da "Magna Carta" para cobrar tributos não consentidos, por intermédio da Câmara dos Comuns, o rei Carlos I, em 1649, perdeu o poder e a cabeça. E foi também por querer impor, sem procurar o consentimento, o tributo sobre o papel, o vidro e o chá, que os britânicos provocaram a rebelião e, com isto, a perda das suas 13 colônias da América do Norte que, por sinal, contra eles se levantaram sob a divisa. A casa real da França, por sua vez, que vinha, sem buscar consentimento, aumentando de forma crescente a carga tributária (concentrada no 3º estado, a burguesia, diante da isenção do clero e da aristocracia), se viu confrontada no século XVIII por sério impasse: com os cofres públicos exauridos, apesar da constante sangria, o rei Luiz XVI, em busca de recursos ainda maiores, não viu outra saída senão fazê-lo, já então na procura do consenso, com a convocação dos "estados gerais"; como sabemos, isto desencadeou o processo que desembocou na Revolução Francesa de 1789, que também a ele acabou custando o poder e a própria cabeça. Hoje em dia, nos países ditos civilizados, os deslizes financeiros não mais fazem os governantes perderem propriamente as suas cabeças - a não ser em sentido figurado. Mas podem fazê-los perder a credibilidade e, como consequência, o poder. Está aí o exemplo de Hugh Dalton, um dos maiores financistas de todos os tempos, autor da obra clássica Principles of public finance. Pois bem, quando investido, por volta de 1950, no cargo de ministro da Fazenda da Grã-Bretanha, um simples vazamento de informações, causado por funcionário do segundo escalão e que teve alguma influência no mercado acionário, fez com que se sentisse levado a demitir-se de forma irrevogável. A efervescência política que caracterizou o século XIX, com o recrudescimento dos movimentos de reivindicação social em plena Revolução Industrial, teve o seu reflexo no questionamento da origem dos recursos extraídos da coletividade, ou seja, no lado da receita dos orçamentos. Passou-se a discutir a oportunidade de se substituir mais ou menos intensamente uma tributação até então dominante, de natureza indireta, embutida no preço dos produtos consumidos e, portanto, calcada sobre as contribuições da grande massa, por outra que recolhesse recursos dos que estivessem em melhor situação de renda ou fortuna, ou seja, 40 de acordo com a capacidade contributiva. Para isto o imposto de renda passou a ser considerado o melhor instrumento; instituído pela primeira vez e de forma ainda transitória pelo Gabinete de William Pitt para reforçar o tesouro britânico, durante as guerras napoleônicas, o novo tributo acabou se convertendo no objetivo de todos os movimentos de reivindicação social, como instrumento de justiça tributária, sendo um dos postulados do próprio Karl Marx. O consentimento da representação popular para determinar o volume das contribuições da coletividade - uma das mais importantes, se não a mais importante tarefa do Poder Legislativo - passou a ser discutido também em termos de distribuição da carga tributária por toda a sociedade. Já em nosso século, a escolha e a aplicação dos tributos ou outras formas de receita e o envolvimento de setores ou classes da sociedade na sua cobertura passaram a ser questão nuclear na discussão de qualquer orçamento, o que mais acentua o seu caráter político a necessidade de discuti-lo com a participação mais ampla dos representantes de toda a sociedade envolvida, tarefa na qual estes dificilmente poderiam ser substituídos por elementos da burocracia ou por decisões estreitas de gabinete. Teoricamente, o outro lado do orçamento, a despesa pública, se reveste de caráter não menos político do que a receita pública, pois justifica um interesse e participação da sociedade na destinação dos recursos arrecadados não menores do que na determinação da origem da receita. Aqui, ao componente "consentimento", tão essencial nas decisões sobre a origem e composição da receita, se reúne decisivamente o da "previsão", uma vez que é o volume da despesa que, em última análise, suscita o da receita, desde que, obviamente, a obtenção da receita seja viável em termos de volume e composição. O estreito inter-relacionamento receita/despesa ainda mais se acentua uma vez que se queira estender a influência fiscal sobre a distribuição de renda, sempre presente na constituição da receita pública, também à despesa. É o caso, por exemplo, das intenções do III PND, no Brasil, quando se propôs suplementar a renda das classes mais carentes com benefícios sociais proporcionados através da despesa pública. Como bem lembra James O'Connor, a respeito de tal tipo de benefícios, tais como transportes coletivos subsidiados ou gratuitos, os seus propósitos só 41 se efetivam desde que não sejam distorcidos por um sistema regressivo de receita, que faça com que a conta seja paga pelos próprios supostos beneficiários. 9 DINÂMICA DA GESTÃO FINANCEIRA Planejar refere-se ao desenho de um futuro desejável e dos meios efetivos para realizá-lo. Consiste basicamente em definir os objetivos da instituição e desenhar um caminho para atingi-los. Como o planejamento enquanto função gerencial é discutido em profundidade em outro manual, trataremos aqui apenas dos aspectos referentes ao planejamento financeiro. A elaboração e implantação de um plano integrado de atividade constitui uma das principais funções gerenciais. Os objetivos de uma organização prestadora de serviços de saúde são complexos e às vezes conflitantes; por exemplo, a organização possivelmente pretende oferecer à comunidade os serviços de que ela necessita, em um nível aceitável de qualidade e ao menor custo possível. A complexidade de tais objetivos requer um esforço coordenado de todos os departamentos e unidades envolvidos. O planejamento é exatamente o processo que harmoniza e coordena as diferentes decisões num todo coerente que permita à instituição atingir esses objetivos. 42 Fonte: Adaptação Livro: Gestão De Recursos Financeiros O planejamento financeiro pode ser definido de duas formas. Primeira, ele nada mais é do que um dos eixos do processo de planejamento em geral; parte de um plano geral já traçado, e identifica as necessidades de recursos associadas a ele e as ações que envolvem a mobilização e utilização desses recursos. Segunda, o planejamento financeiro é o processo de definir antecipadamente(prever, programar) a vida e a política financeiras de uma organização, visando a manutenção do equilíbrio financeiro e o alcance de seus objetivos. Apesar de parecerem muito diferentes e de serem às vezes consideradas como atividades distintas, as duas visões são, na verdade, complementares, pois, como já foi dito, a gestão financeira é inseparável dos outros aspectos da gestão das instituições de saúde. Entretanto, existem momentos em que o planejamento financeiro adquire preeminência sobre as outras dimensões do planejamento; por exemplo, quando a prioridade é identificar e mobilizar fontes alternativas de recursos. O papel do profissional financeiro no planejamento deveria ser, portanto, o de integrar-se ao processo geral do planejamento, enfatizando para os demais participantes do processo os riscos de um plano que despreze sua dimensão financeira. Planejamento financeiro é uma função básica para qualquer instituição. A elaboração e o estabelecimento de um plano ou orçamento integrado de atividades são tidos como a principal função do administrador financeiro. No campo do planejamento financeiro discutiremos algumas técnicas que lhe são associadas pelo fato de contribuírem diretamente para o seu objetivo básico, ou seja, decidir o futuro financeiro da instituição: a análise de investimentos e seu complemento, o fluxo de fundos, e a análise custo-benefício com sua variante, a análise custo-efetividade. 43 10 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA VALÉRIA SIMENOV THOMÉ. Instrumentos de Planejamento e a Nova Lei De Finanças Públicas, Brasília, 2012. AFONSO, José Roberto; BARROSO, Rafael. Uma reforma esquecida. Boletim de Desenvolvimento Fiscal nº 5. Brasília: IPEA, 2007. CONTI, José Maurício. Orçamentos públicos: a lei 4.320/1964 comentada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. CORE, Fabiano Garcia. 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