Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Finanças e Contabilidade Públicas 2019.2 FRANCISCO JOSÉ GOMES TEORIA E PRÁTICA De acordo com as NBC-T e o Manual de Contabilidade Aplicado ao Setor Público 7ª Edição Francisco José Gomes Finanças e Contabilidade Públicas Teoria e Prática De acordo com as NBC-T e o Manual de Contabilidade Aplicado ao Setor Público Fortaleza-CE Agosto de 2019 © 2019.2 By Francisco José Gomes Capa: Francisco José Gomes Diagramação: Francisco José Gomes Dados Internacionais de Catalogação da Publicação (CIP) Gomes, Francisco José Finanças e contabilidade públicas: teoria e prática, de acordo com as NBC-T e o Manual de Contabilidade Aplicado ao Setor Público. 7ª ed. / Francisco José Gomes. Fortaleza, ago. 2019. ISBN nº 9999999999 Índice sistemático para catalogação 1. Finanças Públicas 2. Contabilidade Governamental 3. Contabilidade Pública ©É proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio. A violação dos direitos do autor é crime estabelecido no artigo 184 do Código Penal (Lei nº 9.610/98) Impresso no Brasil/Printed in Brazil À Deus, pelo dom da vida e pelo seu eterno amor conosco. Aos meus filhos Giuliano e Giovanna pelo carinho e apoio incondicional. SUMÁRIO SUMÁRIO 3 1ª PARTE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, FINANÇAS E ORÇAMENTO PÚBLICOS 8 1 A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL 9 1.1 NOÇÕES GERAIS 9 1.2 DEFINIÇÕES E CARACTERÍSTICAS DAS ENTIDADES DA ADMINISTRAÇÃO INDIRETA 11 1.2.1 AUTARQUIAS 11 1.2.2 FUNDAÇÃO 11 1.2.3 EMPRESAS PÚBLICAS 12 1.2.4 SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA 12 1.2.5 CONSÓRCIOS PÚBLICOS 13 1.3 LEITURA COMPLEMENTAR 13 1.4 EXERCÍCIOS DE VERIFICAÇÃO DA APRENDIZAGEM 13 2 FINANÇAS PÚBLICAS 15 2.1 INTRODUÇÃO 15 2.1.1 ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO 15 2.1.2 CLASSIFICAÇÃO DAS FINANÇAS PÚBLICAS 16 2.2 ATRIBUIÇÕES ECONÔMICAS DO ESTADO 16 2.2.1 FUNÇÃO ALOCATIVA 16 2.2.2 FUNÇÃO DISTRIBUTIVA 17 2.2.3 FUNÇÃO ESTABILIZADORA 17 2.3 LEITURA COMPLEMENTAR 18 2.4 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 18 3 - ORÇAMENTO PÚBLICO 19 3.1 ASPECTOS HISTÓRICOS 19 3.2 CONCEITOS 19 3.3 ORÇAMENTO TRADICIONAL, ORÇAMENTO-PROGRAMA E ORÇAMENTO BASE ZERO 20 3.3.1 ORÇAMENTO TRADICIONAL 20 3.3.2 ORÇAMENTO-PROGRAMA 20 3.3.3 ORÇAMENTO BASE ZERO 21 3.4 TIPOS DE ORÇAMENTOS 21 3.5 ASPECTOS DO ORÇAMENTO 22 3.6 PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS 22 3.6.1 PRINCÍPIO DA UNIDADE (TOTALIDADE) 22 3.6.2 PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE 22 3.6.3 PRINCÍPIO DO ORÇAMENTO BRUTO 23 3.6.4 PRINCÍPIO DA ANUALIDADE OU PERIODICIDADE 23 3.6.5 PRINCÍPIO DA NÃO-AFETAÇÃO DAS RECEITAS (NÃO VINCULAÇÃO) 23 3.6.6 PRINCÍPIO DA DISCRIMINAÇÃO OU ESPECIALIZAÇÃO 24 3.6.7 PRINCÍPIO DA EXCLUSIVIDADE 24 3.6.8 PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO 25 3.6.9 DEMAIS PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS 25 3.7 LEITURA COMPLEMENTAR 25 3.8 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 25 4 O PROCESSO ORÇAMENTÁRIO 27 4.1 PROCESSO DE PLANEJAMENTO 27 4 Finanças e contabilidade públicas | teoria e prática – Francisco José Gomes 4.1.1 PLANO PLURIANUAL 27 4.1.2 LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS 27 4.1.3 LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL 29 4.2 CICLO ORÇAMENTÁRIO 30 4.2.1 ELABORAÇÃO DA PROPOSTA ORÇAMENTÁRIA 30 4.2.2 DISCUSSÃO, VOTAÇÃO E APROVAÇÃO DA LEI ORÇAMENTÁRIA 31 4.2.3 EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA 32 4.2.4 AVALIAÇÃO E CONTROLE 32 4.3 CRÉDITOS ADICIONAIS 33 4.3.1 CLASSIFICAÇÃO 33 4.3.2 AUTORIZAÇÃO E ABERTURA 33 4.3.3 VIGÊNCIA 33 4.3.4 FONTES DE RECURSOS 34 4.4 LEITURA COMPLEMENTAR 34 4.5 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 34 5 RECEITA PÚBLICA 37 5.1 CONCEITO 37 5.2 CLASSIFICAÇÃO 37 5.2.1 CLASSIFICAÇÃO QUANTO À VINCULAÇÃO AO ORÇAMENTO 37 5.2.2 CLASSIFICAÇÃO POR CATEGORIA ECONÔMICA E FONTE DE RECURSOS 38 5.2.3 CLASSIFICAÇÃO QUANTO À ORIGEM OU QUANTO E A FONTE DE RECURSOS 41 5.2.4 CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO IMPACTO DA RECEITA PÚBLICA NO PATRIMÔNIO DA ENTIDADE 41 5.3 CODIFICAÇÃO DA RECEITA ORÇAMENTÁRIA 41 5.4 ESTÁGIOS DA RECEITA PÚBLICA 42 5.4.1 PREVISÃO 42 5.4.2 LANÇAMENTO 43 5.4.3 ARRECADAÇÃO 43 5.4.4 RECOLHIMENTO 43 5.5 ANULAÇÃO E RESTITUIÇÃO DE RECEITA PÚBLICA 43 5.6 DÍVIDA ATIVA 44 5.7 A RECEITA PÚBLICA E A LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL 44 5.8 LEITURA COMPLEMENTAR 45 5.9 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 45 6 DESPESA PÚBLICA 47 6.1 CONCEITO 47 6.2 CLASSIFICAÇÃO 47 6.2.1 CLASSIFICAÇÃO QUANTO À VINCULAÇÃO AO ORÇAMENTO 47 6.2.2 CLASSIFICAÇÃO INSTITUCIONAL 47 6.2.3 CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL-PROGRAMÁTICA 48 6.2.4 CLASSIFICAÇÃO POR CATEGORIAS ECONÔMICAS 49 6.2.5 CLASSIFICAÇÃO POR NATUREZA DA DESPESA 52 6.2.6 CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO IMPACTO DA DESPESA PÚBLICA NO PATRIMÔNIO DA ENTIDADE 54 6.3 ESTÁGIOS DA DESPESA 54 6.4 RESTOS A PAGAR 56 6.5 DESPESAS DE EXERCÍCIOS ANTERIORES 56 6.6 LIMITES DA DESPESA PÚBLICA 57 6.6.1 TETO DOS GASTOS PÚBLICOS 57 6.6.2 LIMITES DAS DESPESAS COM PESSOAL 59 6.6.3 LIMITES DAS DESPESAS COM OPERAÇÕES DE CRÉDITO 61 6.7 LEITURA COMPLEMENTAR 62 6.8 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 62 PARTE 2 – CONTABILIDADE GOVERNAMENTAL 54 5 Finanças e contabilidade públicas | teoria e prática – Francisco José Gomes 7 CARACTERÍSTICAS E ESPECIFICIDADES DA CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO 65 7.1 PREFÁCIO 65 7.2 CONCEITO 66 7.3 OBJETIVO E FUNÇÃO DA CONTABILIDADE PÚBLICA 67 7.4 OBJETO DE ESTUDO 67 7.5 CAMPO DE APLICAÇÃO 67 7.6 GRUPOS DE INTERESSES (USUÁRIOS) 69 7.7 CONFRONTO ENTRE RECEITAS E DESPESAS 69 7.8 NORMAS APLICÁVEIS 70 7.9 EXERCÍCIO FINANCEIRO 70 7.10 REGIMES CONTÁBEIS 71 7.10.1 REGIMES CONTÁBEIS DA CONTABILIDADE ORÇAMENTÁRIA 71 7.10.2 REGIME CONTÁBIL DA CONTABILIDADE PATRIMONIAL 72 7.11 SISTEMA CONTÁBIL UTILIZADO PELA CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO 72 7.11.1 SUBSISTEMA ORÇAMENTÁRIO 73 7.11.2 SUBSISTEMA PATRIMONIAL 73 7.11.3 SUBSISTEMA DE COMPENSAÇÃO 74 7.11.4 SUBSISTEMAS DE CUSTOS 74 7.12 LEITURA COMPLEMENTAR 75 7.13 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 75 8 PLANO DE CONTAS APLICADO AO SETOR PÚBLICO 78 8.1 ASPECTOS GERAIS 78 8.2 ESTRUTURA DO PLANO DE CONTAS APLICADO AO SETOR PÚBLICO 79 8.3 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 80 9 ESCRITURAÇÃO NA CONTABILIDADE PÚBLICA 82 9.1 MÉTODOS DE ESCRITURAÇÃO 82 9.2 LIVROS CONTÁBEIS 83 9.2.1 LIVRO DIÁRIO 84 9.2.2 LIVRO RAZÃO 84 9.3 A ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL E A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO 85 9.4 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 85 10 ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL NO SUBSISTEMA ORÇAMENTÁRIO 86 10.1 ESQUEMA PARA CONTABILIZAÇÃO NO SUBSISTEMA ORÇAMENTÁRIO 86 10.2 REGISTROS CONTÁBEIS NO SUBSISTEMA ORÇAMENTÁRIO 87 10.3 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 94 11 ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL NO SUBSISTEMA PATRIMONIAL 99 11.1 O PATRIMÔNIO SOB O ASPECTO QUALITATIVO 99 11.1.1 BENS 99 11.1.2 VALORES 100 11.1.3 CRÉDITOS 100 11.1.4 OBRIGAÇÕES 100 11.2 O PATRIMÔNIO SOB O ASPECTO QUANTITATIVO 101 11.2.1 ATIVO 101 11.2.2 PASSIVO 101 11.2.3 O PATRIMÔNIO LÍQUIDO, SALDO PATRIMONIAL OU SITUAÇÃO LÍQUIDA PATRIMONIAL 102 11.3 REGISTROS CONTÁBEIS NO SUBSISTEMA PATRIMONIAL 103 11.4 LEITURA COMPLEMENTAR 104 11.5 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 104 12 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS DO SETOR PÚBLICO 111 6 Finanças e contabilidade públicas | teoria e prática – Francisco José Gomes 12.1 BALANÇO PATRIMONIAL 112 12.2 BALANÇO ORÇAMENTÁRIO 113 12.2.1 ELABORAÇÃO DO BALANÇO ORÇAMENTÁRIO 113 12.2.2 ANÁLISE DO BALANÇO ORÇAMENTÁRIO 114 12.3 BALANÇO FINANCEIRO 115 12.4 DEMONSTRAÇÃO DAS VARIAÇÕES PATRIMONIAIS 115 12.5 ANEXOS AUXILIARES DA LEI Nº 4.320/64 116 12.5.1 ANEXO Nº 01 – DEMONSTRAÇÃO DAS RECEITAS E DESPESAS SEGUNDO AS CATEGORIAS ECONÔMICAS 116 12.5.2 ANEXO Nº 02 – DEMONSTRAÇÃO DA NATUREZA DAS DESPESAS SEGUNDO AS CATEGORIAS ECONÔMICAS (CONSOLIDADO E POR UNIDADE ORÇAMENTÁRIA) 117 12.5.3 ANEXO Nº 06 – DEMONSTRAÇÃO DOS PROGRAMAS DE TRABALHO E SUA DIVISÃO EM PROJETOS E ATIVIDADES: 117 12.5.4 ANEXO Nº 07 – DEMONSTRATIVO DE FUNÇÕES, PROGRAMAS E SUBPROGRAMAS, POR PROJETOS E ATIVIDADES:118 12.5.5 ANEXO Nº 08 – DEMONSTRATIVO DE FUNÇÕES, PROGRAMAS E SUBPROGRAMAS, CONFORME O VÍNCULO DOS RECURSOS: 118 12.5.6 ANEXO Nº 09 - DEMONSTRATIVO DAS DESPESAS POR ÓRGÃOS E FUNÇÕES: 118 12.5.7 ANEXO Nº 10 – COMPARATIVO DA RECEITA ORÇADA COM A ARRECADADA: 118 12.5.8 ANEXO Nº 11 – COMPARATIVO DA DESPESA AUTORIZADA COM A REALIZADA: 118 12.5.9 ANEXO Nº 16 – DEMONSTRAÇÃO DA DÍVIDA FUNDADA: 119 12.5.10 ANEXO Nº 17 – DEMONSTRAÇÃO DA DÍVIDA FLUTUANTE: 119 12.6 DEMONSTRATIVOS CONTÁBEIS DA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL (LRF) 119 12.6.1 RELATÓRIO RESUMIDO DE EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA (RREO) 119 12.6.2 RELATÓRIO DE GESTÃO FISCAL (RGF) 120 12.7 TRANSPARÊNCIA FISCAL 120 13 ATIVIDADES PARA REVISÃO 122 BIBLIOGRAFIA 129 ANEXO I - NATUREZA DA RECEITA E FONTES 130 ANEXO II – CLASSIFICAÇÃO DA DESPESA QUANTO À SUA NATUREZA 132 ANEXO III – CLASSIFICAÇÃO DA DESPESA POR FUNÇÃO E SUBFUNÇÃO 136 PREFÁCIO As Finanças Públicas, como uma disciplina que incorpora conteúdo das Ciências Econômicas, da Ciência Política e do Direito Financeiro, ocupa-se do estudo da atividade financeira e das ações do Setor Público decorrentes do Orçamento Públicos e dos seus efeitos na economia. Estudar as Finanças Públicas é analisar as causas e os efeitos que as ações do Governo provocam na economia, principalmente através da execução do orçamento público. O estudo das Finanças Públicas é comumente centrado no estudo dos aspectos orçamentários e das questões fiscais, ficando a contabilidade pública ou governamental em segundo plano. Certamente, em função do impacto da atividade orçamentária do Estado na economia, tanto do lado dos gastos do governo, como do lado da arrecadação de tributos (estimado em percentual do Produto Interno Bruto - PIB), é que se dá mais atenção ao estudo das questões orçamentárias nas Finanças Públicas. Mas os efeitos da execução orçamentária na economia não seriam evidenciados, se não, por meio das técnicas da Contabilidade Governamental, que se preocupa, entre outras questões, com a previsão e com a execução dos orçamentos públicos. Por outro lado, considerando que a Contabilidade aplicada ao setor público tem a função de estudar o patrimônio público e os reflexos que a atividade orçamentária e financeira do Estado, que compreende o estudo da receita, da despesa, do orçamento e do crédito público, bem como todos os demais reflexos decorrentes da ação dos administradores sobre esse patrimônio, é por meio dela que são evidenciados os efeitos das ações do Setor Público na economia nacional. É baseado nessas premissas que este trabalho busca, por meio do estudo da atividade orçamentária e financeira do Estado e das técnicas utilizadas pela Contabilidade, evidenciar a essencialidade do papel da Contabilidade para o estudo das Finanças Públicas. Este trabalho está dividido em duas partes. Na primeira, em seu primeiro capítulo será feita um breve estudo sobre a estrutura da Administração Pública, já no segundo capítulo serão estudados os aspectos introdutórios e conceituais das Finanças Públicas, dando ênfase à atividade financeira e as atribuições econômicas do Estado. Nos capítulos seguintes da primeira parte, será estudado o orçamento público, partindo do estudo dos seus conceitos e princípios, adentrando em seguida no estudo do ciclo orçamentário e dos créditos orçamentários e concluindo com o estudo da receita e da despesa pública. A segunda parte é destinada ao estudo da Contabilidade Pública, propriamente dita. Começa pelo estudo da parte conceitual e das características dessa área da Contabilidade, passando pela análise da escrituração contábil nos diversos subsistemas contábeis adotados na Contabilidade aplicada ao Setor Público, culminando com o estudo das diversas espécies de demonstrativos contábeis empregadas no Setor Público para a divulgação dos reflexos da atividade financeira e orçamentária no patrimônio público, com a exposição de uma breve análise desses demonstrativos. O autor 1ª PARTE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, FINANÇAS E ORÇAMENTO PÚBLICOS 1 A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL 1.1 Noções Gerais Estudar a Contabilidade aplicada ao Setor Público sem antes conhecer o ente ou as entidades na qual ela é empregada gera uma série de dificuldades de entendimento. Diante deste fato, neste Capítulo será estudada a estrutura da República Federativa do Brasil, prevista na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. O Estado, que atualmente conhecemos como uma entidade dotada de personalidade jurídica, é uma criação do homem com vistas a prover a defesa dos seus interesses individuais e coletivos visando o disciplinamento da convivência em sociedade. O Estado deve ser estudado como um instrumento de organização política de uma sociedade, que por meio de uma carta política, a Constituição, cria uma estrutura administrativa e atribui funções a esta estrutura com vistas a atingir determinados objetivos. A Constituição Federal, ao organizar política e administrativamente o Estado brasileiro, estabeleceu que que a estrutura política-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, como entidades autônomas (art. 18 da CF/88). Estas são as entidades dotadas de personalidade jurídica de direito público interno que compõem a Federação brasileira. No entanto, essas entidades não se confundem com a República Federativa do Brasil que é uma pessoa jurídica de direito público externo (Estado) formada pela união indissolúvel dos estados, do Distrito Federal e dos municípios (art. 1º, da CF/88). Na divisão do poder político de cada ente da Federação foi adotada a clássica divisão tripartite de Benjamin Constant. Ou seja, com exceção dos municípios, cada ente político integrante da Federação foi dotado dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Os municípios só têm os poderes Legislativo e Executivo. Celso Antônio Bandeira de Mello, ao tratar da Organização Administrativa do Brasil, afirma que o aparelho estatal exercente de atividade administrativas é composto pela própria pessoa do Estado, atuando por meio de suas unidades interiores, que são os órgãos, e por pessoas jurídicas que cria para auxiliá-lo nos seus misteres, que são as autarquias, as fundações públicas (governamentais), as empresas públicas, as sociedades de economia mista.1 O ente político integrante da federação e seus órgãos integram a administração direta. Já as entidades que eles criam para o exercício de serviços públicos descentralizados compõem a administração indireta, Outro conhecimento que o estudante da Administração Pública necessita ter é a noção sobre o que seja órgão público. Ele precisa ser visto de forma diversa da entidade da qual ele faz parte, pois com ela não se confunde. A entidade pública é dotada de personalidade jurídica e o órgão não. De acordo com Maria Sylvia Zanella Di Pietro, órgão público pode ser definido como uma unidade administrativa que congrega atribuições exercidas pelos agentes públicos que o integram como o fim de expressar a vontade do Estado.2 O órgão é a unidade de atuação integrante da estrutura da Administração Pública Direta e das entidades da Administração Pública Indireta (art. 1º, § 2º, inc. I, da Lei nº 9.784, de 29/01/1999). No que tange especificamente à estrutura da Administração Pública no Brasil, com já pode ser percebido, ela foi dividida em Administração Direta e Indireta. Esta divisão é aplicada a todos os entes integrantes da Federação. A ideia da divisão da Administração Pública em direta e indireta parte do princípio que o Estado pode desenvolver por si mesmo as suas atividades administrativas que tem constitucionalmente a seu encargo, como pode prestá-las através de outros sujeitos. Para prestar as atribuições estatais por meio de terceiros, 1 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 27. ed., rev. e atual. até a EC 64. São Paulo: Malheiros,2010, p. 137. 2 DI PIETRO. Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 575. 10 Finanças e contabilidade públicas | teoria e prática – Francisco José Gomes pode haver a transferência das atividades para particulares explorá-las - neste caso, a transferência é feita por meio de permissões ou concessões – ou ainda, o Estado pode criar outras pessoas especificamente para o exercício de seu mister. A Administração Direta é composta pelos poderes e pelos respectivos órgãos que os compõem e estão diretamente subordinados ao chefe do poder. Como exemplo da Administração Direta, cita-se o caso da União que é composta, no caso do seu Poder Executivo, pela Presidência da República, seus ministérios, secretarias e demais órgãos diretamente subordinados ao chefe deste Poder, que é o Presidente da República. Também faz parte da Administração Direta da União, os poderes Legislativo e Judiciário e seus respectivos órgãos. Por uma questão de simetria, esta configuração também é aplicada, com pequenas variações nos órgãos integrantes de cada poder das administrações dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Já a Administração Indireta no Brasil é composta por entidades descentralizadas dotadas de personalidade jurídica e patrimônio próprio para o exercício das suas funções institucionais. No Brasil, atualmente, são espécies de entidades de Administração Indireta: as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e os consórcios públicos. Na Figura 1, a seguir, o leitor terá uma melhor visão da configuração da Administração Pública brasileira exposta neste Capítulo. Figura 1 - Organograma da Administração Pública no Brasil República Federativa do Brasil União Federal Poder Legislativo Senado Federal Câmara dos Deputados Tribunal de Contas da União (TCU) Poder Executivo Gabinete do Presidente da República Ministérios Órgãos, Departamentos, Repartições, Etc. Secretarias Autarquias Fundações Empresas Públicas Sociedades de Economia Mista Consórcios públicos Poder Judiciário Estados Conforme Organização Própria Distrito Federal Conforme Organização Própria Municípios Conforme Organização Própria 11 Finanças e contabilidade públicas | teoria e prática – Francisco José Gomes 1.2 Definições e Características das Entidades da Administração Indireta 1.2.1 Autarquias As Autarquias são pessoas jurídicas de direito público criadas para prestação de serviço público contando com um capital exclusivamente público. Com a criação da Autarquia, há uma descentralização por outorga (transferência da titularidade e execução do serviço público). A Autarquia surge como um longa manus da atuação do Estado, pois tem a mesma personalidade jurídica da Administração direta por se criada para prestação de serviço público. Ex: INSS (Instituto Nacional do Seguro Social); INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária); IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis); INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial); Banco Central (fiscaliza as demais instituições financeiras); CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica que tem por finalidade fiscalizar as atividades desenvolvidas pela iniciativa privada, nelas interferindo se forem contrárias à Constituição, em particular às regras da ordem econômica: da livre concorrência e livre iniciativa. Irá combater a formação de monopólio). As Autarquias possuem as seguintes características: ▪ Autonomia administrativa: elas têm liberdade para gerir as suas atividades. Ex: Autarquia tem liberdade para contratar pessoas, mas com concurso público; para contratar serviços, mas por licitação e etc. ▪ Autonomia financeira: elas têm verbas próprias que, em regra, vem do orçamento, mas nada impede que venha dos serviços por ela prestados. ▪ Patrimônio próprio. As Agências Reguladoras são espécies do gênero autarquias. Assim possuem as mesmas características, exceto pelo fato de se submeterem a um regime especial. As Agências Reguladoras: ▪ têm por finalidade a regulamentação, controle e fiscalização da execução dos serviços públicos transferidos ao setor privado; ▪ são dotadas de poder normativo, ou seja, podem estabelecer unilateral e previamente as regras através das quais um serviço público será executado por terceiro. No entanto, não têm autonomia política (poder de fazer leis); ▪ fiscalizam o cumprimento das regras de execução e aplicam penalidades quando as regras forem mal executadas; ▪ conferem estabilidade aos seus dirigentes, ainda que não tenham entrado através de concurso público “Compete privativamente ao Senado Federal aprovar previamente, por voto secreto, após arguição pública, a escolha de titulares de outros cargos que a lei determinar” (art. 52, III, “f” da CF); ▪ são dotadas de maior autonomia financeira, podendo cobrar taxas pelos serviços que fiscalizam através de lei que as criou. 1.2.2 Fundação Fundações são pessoas jurídicas de direito público ou de direito privado criadas somente para a prestação de serviço público, contando com um capital inteiramente público e patrimônio próprio personalizado. Se for dotada de personalidade jurídica de direito público, o serviço público será transferido por outorga (99% das fundações que integram o Estado são de personalidade jurídica de direito público). Se for dotada de personalidade jurídica de direito privado, o serviço público será transferido por delegação. É relevante não as confundir com as Fundações particulares, pois embora esta também tenha patrimônio personalizado, submete-se a regime jurídico diferente. Nas Fundações particulares, os bens são particulares; não há um controle pelo Tribunal de Contas; os seus dirigentes não se submetem a mandado de segurança, a ação popular e nem a Ação Civil Pública. 12 Finanças e contabilidade públicas | teoria e prática – Francisco José Gomes Ex: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e estatística); FUNAI (Fundação Nacional do Índio); FEBEM (Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor); Hospital das Clínicas; Biblioteca Nacional; Fundação Memorial da América Latina; Fundação Zoológico; Fundação Butantã; PROCON (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor), Fundação Padre Anchieta Rádio e TV Cultura (esta última é a única Fundação com personalidade jurídica de direito privado). As fundações que tiverem personalidade de direito público serão também chamadas de Autarquias Fundacionais, pois vão se assemelhar às autarquias, com exceção do patrimônio personificado. São características das fundações estatais: ▪ Autonomia administrativa: Tem liberdade para tomar suas decisões nesse setor, sem necessitar de concordância da Administração Direta. Ex: Pode contratar pessoas através de concurso; adquirir bens através de licitação; gerir as suas atividades; etc. ▪ Autonomia financeira: Tem verbas próprias para gerir suas atividades. A principal fonte de verbas vem do orçamento, mas não impede que possam cobrar pelos serviços que prestam; ▪ Patrimônio próprio personalizado: O patrimônio é personalizado, personificado, diferenciando-se das demais. As pessoas jurídicas de base associativa têm como aspecto principal as pessoas que as integram, já as pessoas jurídicas de base fundacional têm como aspecto peculiar o patrimônio, pois ele vai beneficiar as pessoas que se encontram na Administração e as que estão fora dela. 1.2.3 Empresas Públicas Empresas Públicas são pessoas jurídicas de direito privado criadas para a prestação de serviço público ou para a exploração de atividade econômica, contando com um capital exclusivamente público e constituídas sob qualquer modalidade empresarial. A descentralização do serviço público só se faz por delegação (só transfere a execuçãodo serviço público). Com relação à exploração de atividade econômica devem se submeter aos princípios da ordem econômica (art. 170 e 173, §1º da CF). Ex: BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social: financia projetos de natureza social - presta serviço público); Caixa Econômica Federal (explora atividade econômica); Radio Brás (responsável pela voz do Brasil: presta serviço público). As principais características das empresas públicas são: ▪ Autonomia administrativa: Tem liberdade para gerir as suas atividades, tomar decisões. Ex: Pode contratar pessoas por concurso público; pode contratar serviços por meio de licitação; ▪ Autonomia financeira: Tem verbas próprias e verbas que vêm do orçamento; ▪ Patrimônio próprio: A Administração Direta transferiu parte de seu patrimônio a elas. Não se pode falar em execução do direito privado contra a Empresa Pública, pois o patrimônio é público, dando-se o pagamento por meio de precatórios. 1.2.4 Sociedades de economia mista As sociedades de economia mista são pessoas jurídicas de direito privado criadas para prestação de serviço público ou exploração de atividade econômica, contando com um capital misto, parte pertencente ao ente federado que a criou e parte pertencente aos particulares. Elas sempre serão constituídas sob a modalidade de sociedade anônima, nos termos da Lei nº 6.404/1976. A descentralização do serviço público só se faz por delegação (só transfere a execução do serviço público). Com relação à exploração de atividade econômica, assim como as Empresas Públicas, também estão submetidas aos princípios da ordem econômica (art. 170 e 173, §1º da CF). Diferem-se da empresa pública, pois contam com um capital misto (participação da iniciativa privada) e são constituídas sob a modalidade de sociedade anônima. Ex: Banco do Brasil (exerce atividade econômica); Petrobrás (presta serviço público); Sabesp (presta serviço público); e Metrofor (presta serviços públicos de transporte). As sociedades de economia mista são caracterizadas por terem: 13 Finanças e contabilidade públicas | teoria e prática – Francisco José Gomes ▪ Autonomia administrativa: Tem liberdade para gerir as suas atividades, tomar decisões. Ex: Pode contratar pessoas por concurso público; pode contratar serviços por meio de licitação; ▪ Autonomia financeira: Tem verbas próprias e verbas que vêm do orçamento; ▪ Patrimônio próprio: A Administração Direta transferiu parte de seu patrimônio a elas. Não se pode falar em execução do direito privado contra a Sociedade de economia Mista, pois o patrimônio é público, dando-se o pagamento por meio de precatórios. 1.2.5 Consórcios Públicos A figura dos consórcios públicos surgiu com o advento da Emenda Constitucional nº 19/1998 visando a gestão associada de serviços públicos. Passando a ser mais uma espécie de entidade da Administração Pública Indireta. O conceito de consórcio público pode ser extraído do artigo 241 da CF, com redação dada pela citada emenda constitucional. Já o disciplinamento desta espécie de entidade é feito pela Lei nº 11.107/2005. Da simples leitura do artigo 241 da Constituição Federal pode-se dizer que os consórcios públicos serão criados por lei com a finalidade única de executar a gestão associada de serviços públicos. Para esse fim a que se destinam os consórcios públicos, os entes consorciados, que podem ser a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no todo em parte, destinarão pessoal e bens essenciais à execução dos serviços transferidos. Veja a redação da norma constitucional na íntegra: Art. 241. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio de lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos. Pela Lei nº 11.107/2005, que dispõe sobre normas gerais de consórcios públicos, a natureza jurídica dos consórcios públicos pode ser de pessoa jurídica de direito público, quando constituir associação pública mediante a vigência das leis de ratificação do protocolo de intenções; ou de pessoa jurídica de direito privado, quando atender aos requisitos de legislação civil. Portanto, o consórcio público quando criado sob a forma de pessoa jurídica de direito público integra a administração indireta de todos os entes que o criaram. Quando criado sob a forma de pessoa jurídica de direito privado a lei silencia sobre o fato deste integrar ou não a esfera da administração pública indireta dos entes criadores. Maria Sylvia Zanella de Di Pietro afirma que se um consórcio público criado for sob a forma de pessoa jurídica de direito público integra a administração indireta dos entes criadores, o consórcio público criado sob a forma de pessoa jurídica de direito privado também deverá integrar, uma vez que o ente político (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) não poderá criar um ente administrativo (consórcio público) que executará um serviço público de competência daquele sem que este faça parte da máquina administrativa, seja ela direta ou indireta.3 1.3 Leitura Complementar ▪ DI PIETRO, Maria Sylvia Zanela. Direito administrativo. 25ª ed. São Paulo: Atlas, 2012. Cap. 2, 4 10 e 12; ▪ Silva, Lino Martins da. Contabilidade governamental: um enfoque administrativo. 8ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. Cap. 1. 1.4 Exercícios de Verificação da Aprendizagem 1. De acordo com a Constituição Federal, como é dividida a organização político-administrativa da República Federativa do Brasil? 2. Quanto ao exercício das funções típicas do Estado brasileiro, com é dividida a Administração Pública no Brasil? 3. Quais são as espécies de entidades integrantes da Administração Pública Indireta? 4. O que diferencia uma Autarquia de uma Fundação? 3 DI PIETRO. Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2012. 14 Finanças e contabilidade públicas | teoria e prática – Francisco José Gomes 5. Quais as espécies de entidades da Administração Pública Indireta podem desenvolver atividades econômicas? 6. As secretarias diretamente ligadas ao chefe do Poder Executivo de um Município ou de um Estado fazem parte qual espécie de administração pública? 7. Pesquise como é a estrutura administrativa de um dos entes políticos da Federação brasileira e exponha de forma gráfica esta estrutura, identificando os órgãos que integram a Administração Direta e as Entidades da sua Administração indireta. 8. Julgue as seguintes afirmativas como certo ou errado: a. Na organização administrativa da União, o ente político é a pessoa jurídica de direito público interno, ao passo que os entes administrativos recebem atribuição da própria Constituição para legislar, tendo plena autonomia para exercer essa função. Certo Errado b. A administração direta é o conjunto de órgãos que integram a União e exercem seus poderes e competências de modo centralizado, ao passo que a administração indireta é formada pelo conjunto de pessoas administrativas, como autarquias e empresas públicas, que exercem suas atividades de forma descentralizada. Certo Errado c. As empresas públicas e as sociedades de economia mista são pessoas jurídicas de direito privado. Certo Errado 2 FINANÇAS PÚBLICAS 2.1 Introdução O estudo das Finanças Públicas é fundamental para o entendimento das consequências dos negócios do Setor Público na economia nacional. As Finanças Públicas ou Economia do Setor Público estuda os efeitos das atividades do Setor Público na economia, bem como também, o comportamento geral do setor no tocante ao nível de alocação de recursos utilizados, a distribuição de renda entre os consumidores e a estabilidade econômica. Desta forma, as FinançasPúblicas cuida de toda a ação estatal para a satisfação das necessidades coletivas e do momento e da conveniência da aplicação destas ações para o atendimento destas necessidades. Anteriormente, as Finanças Públicas centrava seu estudo nas questões da tributação, equilíbrio orçamentário e dívida pública, com ênfase nos aspectos internos da gestão governamental, ou seja, o estudo dos negócios do setor público não era visto dentro do processo econômico. Isto se dava em função da filosofia do Estado não intervencionista dos economistas clássicos. O Estado que vigorou na época do liberalismo econômico, chamado de Estado Mínimo, que segundo os economistas clássicos como Adam Smith e Jean Baptista Say, tinha como atribuições básicas prover segurança, justiça, infraestrutura (estradas, aeroportos, portos etc.), educação, saúde e cuidar da soberania nacional, passou, a partir do início do século XX, a ser um Estado Intervencionista, ou seja, passou a ter novas atribuições voltadas para a intervenção na economia. Do final do século XIX até o início do século XX predominou o liberalismo econômico, onde a economia era regida pelas leis de mercado, com pouca ou quase nenhuma intervenção do Estado na economia. Com o crescimento acelerado das despesas públicas, notadamente, no início do século XX, com a Primeira Guerra Mundial e com as sequentes crises do sistema capitalista, que culminou com a gravíssima depressão dos anos trinta, o economista inglês John Mayard Keynes foi o principal doutrinador que buscou uma fórmula salvadora para o capitalismo. Para ele, era preferível uma perda de parte da liberdade econômica para o Estado do que a perda total da liberdade individual. As teorias keyneisianas respaldaram os esforços dos Governos para retirarem as suas respectivas economias da crise depressiva dos anos trinta. Desde então a intervenção estatal passou a ser naturalmente aceita, principalmente na utilização dos instrumentos de política de estabilização econômica. Atualmente, os Governos têm funções econômicas decisivas na satisfação das necessidades individuais e coletivas. E as Finanças Públicas tornaram-se a Economia Política de nossos dias, à medida que a maioria das decisões econômicas é gerada na esfera política e os seus efeitos são sentidos na esfera econômica. 2.1.1 Atividade Financeira do Estado O Estado para exercer as suas inúmeras atribuições e atender aos seus objetivos necessita desenvolver também, entre outras atividades meio, a atividade financeira voltada para a obtenção, a gestão e a aplicação de recursos necessários para o funcionamento das suas instituições. A atividade financeira do Estado deve ser estruturada de modo a obter o máximo de recursos financeiros possíveis para que os governantes possam, de modo eficiente, atingir o principal objetivo do Estado que é a promoção do bem comum da sua população. Rubens Gomes de Souza, citando por Silva4, afirma que a atividade financeira do Estado desenvolveu-se fundamentalmente em três campos: a receita, isto é, a obtenção de recursos patrimoniais; 4 Silva, Lino Martins da. Contabilidade governamental: um enfoque administrativo. 9ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. 16 Finanças e contabilidade públicas | teoria e prática – Francisco José Gomes a gestão, que é a administração e conservação do patrimônio público; e finalmente, a despesa, ou seja, o emprego de recursos patrimoniais para a realização dos fins do Estado. Segundo Silva, no Estado moderno, as Finanças Públicas não são somente um meio de assegurar a cobertura das despesas do governo, mas também, fundamentalmente, um meio de intervir na economia, de exercer pressão sobre a estrutura produtiva e de modificar as regras de distribuição de renda5. 2.1.2 Classificação das Finanças Públicas SILVA classifica as Finanças Públicas nas seguintes espécies: ▪ Finanças positivas – estuda a prática da atividade financeira do Estado. ▪ Finanças normativas – estuda as regras e normas que subordinam o Estado na atividade financeira.6 A primeira classificação das Finanças Públicas é estudada pelas ciências econômicas e a segunda pelas ciências jurídicas, mais especificamente, pelo ramo do direito financeiro. 2.2 Atribuições Econômicas do Estado Para atingir as suas atribuições o Estado realiza atividade meio e atividade fim. As atividades meio do Estado são aquelas voltadas para o funcionamento da máquina estatal destinada a consecução das suas atribuições. São as atividades administrativas, como as realizações de concurso público para a contratação de servidores, a realização de licitações para a contratação de fornecimento de bens e serviços, a atividade da administração tributária voltada para a arrecadação de tributos, a atividade de elaboração, aprovação e execução do orçamento público, etc. Já as atividades fins são a razão da existência do Estado. Elas são voltadas para o efetivo atendimento das necessidades da população, como a prestação dos serviços de segurança, de saúde pública, de educação, jurisdicional, etc. As atividades fins são a razão da existência do Estado. Analisando as atribuições do Estado sobre a ótica da economia, vamos verificar que o mesmo exerce algumas funções econômicas. Richard Musgrave classificou as funções econômicas do Estado em função alocativa, distributiva e estabilizadora7. Estas funções também são denominadas de funções fiscais do orçamento, principal instrumento de ação estatal na economia. Essa classificação é feita apenas para melhor estudar as funções econômicas, haja vista que as ações empreendidas em cada uma delas atuam implicitamente nas demais funções, o que compõe um quadro interativo de repercussões. 2.2.1 Função Alocativa O Estado realiza alocação de recursos nos casos em que há ineficiência nas ações do setor privado. Duas situações são bem típicas na alocação de recursos: os investimentos em infraestrutura econômica e a provisão de bens públicos e bens meritórios. Os investimentos em infraestrutura por parte do Estado, como rodovias, ferrovias, portos, geração e distribuição de energia elétrica, etc., ocorrem em função dos altos investimentos que são necessários e a demora que há na obtenção do retorno da aplicação. Em função destes aspectos o setor privado não tem estimulo em atuar nesta área da economia. A alocação de recursos em bens públicos e bens meritórios se dá em função de que certos bens têm características especiais que inviabilizam o fornecimento dos mesmos pelo sistema de mercado. Os bens públicos típicos, diferentemente dos bens privados, não obedecem às leis de mercado, onde há uma troca direta entre o vendedor e o comprador e uma transferência da propriedade do bem. No caso do bem público os benefícios não podem ser individualizados e nem recusados pelos consumidores. No caso do fornecimento de iluminação pública, por exemplo, não há competição entre os consumidores e 5 Id. 6 Ibid. 7 Musgrave, Richard A. Finanças públicas: teoria e prática. São Paulo: Campos, 1980. p. 6. 17 Finanças e contabilidade públicas | teoria e prática – Francisco José Gomes nem há como deixar de atender um determinado consumidor pelo não pagamento. Daí a necessidade do Estado fornecer bens como este, onde é financiado por todos por meio do pagamento de tributos. Há ainda a alocação de recursos em bens mistos (meritórios), onde há característica de bens privados, mas a sua utilidade social tem muito mais importância. É o caso, por exemplo, do serviço de educação, que pode ser comercializado normalmente pelo mercado, mas o Estado pode alocar recursos neste tipo de serviço com a justificativa do interesse no aumento do nível cultural da sociedade, obtida pela educação de todos. 2.2.2 Função Distributiva A função distributiva está diretamente ligada à prática da justiça social, onde os governos adotam políticas voltadas para alterar a distribuiçãode renda ditada pelos mercados, sempre que o perfil distributivo prevalecente se torna socialmente inaceitável. A promoção do ajustamento na distribuição de renda nacional, como função do Estado, justifica-se na medida em que realiza a correção das falhas de mercado. O nível ideal de distribuição de renda é sempre uma questão de difícil equacionamento, cabendo a sociedade definir o que considera como níveis justos na distribuição de renda e de riqueza. A distribuição de renda, atualmente, é realizada pelas medidas adotadas pelo Estado visando solucionar os problemas graves de miséria e de melhoria progressiva da qualidade de vida nas camadas mais pobres da população. Considerando que o problema da distribuição de renda tem por base tirar de uns para melhorar a situação de outros, o mecanismo fiscal mais eficaz é o que combina tributos progressivos sobre a classe de renda mais elevada com a transferência para aquelas classes de renda mais baixa. Assim como nas outras funções, o orçamento público é o principal instrumento para viabilização das políticas públicas de distribuição de renda. Um exemplo clássico de meio para promover a distribuição de renda é a utilização do imposto de renda progressivo, onde paga mais quem aufere maior renda, para cobrir os gastos com subsídios de programas de alimentação, transporte, moradia popular, etc. A distribuição de renda pode ser realizada ainda por meio de subsídios aos bens de consumo popular financiado pela maior incidência de impostos sobre os bens de consumo supérfluos que são consumidos pela classe que possui renda mais alta. Além dessas formas clássicas de distribuição de renda, o Estado também exerce a função distributiva por meio de prestação de serviços públicos de educação, de saúde, de capacitação profissional gratuita, etc. Apesar de se reconhecer nestas medidas um meio para realizar a distribuição de renda, os economistas deixam de analisá-las por não serem consideradas como instrumento de política fiscal do Estado. 2.2.3 Função Estabilizadora A função estabilizadora adquiriu importância, como meio de o Estado prover a estabilização da economia, a partir da depressão econômica de trinta. Daí em diante ela sempre esteve no cenário econômico, como meio de luta contra as pressões inflacionarias e contra o desemprego. As medidas de estabilização dizem respeito, para uma dada capacidade produtiva, o uso da política orçamentária visando à manutenção de níveis desejáveis de produção, emprego, preços, e equilíbrio no Balanço de Pagamentos, ou seja, as grandes variáveis macroeconômicas, cujo desempenho afeta a economia em uma dimensão nacional. A essência da função estabilizadora é colocar a economia sobre a linha da fronteira da capacidade de produção e de demanda, pois caso a demanda seja superior a capacidade de produção, os preços tenderão a subir e se for inferior, haverá desemprego. Musgrave justifica a necessidade da função estabilizadora da política fiscal, alegando que a manutenção de um elevado nível de emprego e a estabilidade dos preços não é resultado automático do funcionamento do sistema de mercado, mas sim, uma orientação por parte da política implementada pelo setor público8. 8 Musgrave, Richard A. Finanças públicas: teoria e prática. São Paulo: Campos, 1980. p. 11. 18 Finanças e contabilidade públicas | teoria e prática – Francisco José Gomes O Estado exerce esta função quando, por exemplo, ao surgir desemprego na economia, ele adota medidas que visem a incrementar a demanda agregada e o nível de atividade econômica. Por outro lado, existe a necessidade dosar as ações, pois casos os gastos realizados pelo Estado excedam o produto disponível, em condições de elevado nível de emprego, provocará inflação, ou seja, desestabilização dos preços. O mecanismo básico da política de estabilização é a ação estatal sobre a demanda agregada, aumentando-a ou reduzindo-a conforme a necessidade. E esta atuação do Estado, além do uso de outros mecanismos como as de cunho monetário, é realizada por meio do orçamento público. No lado da despesa, o impacto das compras do governo sobre a demanda agregada é expressivo. Do lado da receita, a atuação pode ser feita por meio de aumento de alíquota de impostos em setores da economia em que haja excesso de recursos, visando desestimular a produção. 2.3 Leitura Complementar ▪ Silva, Lino Martins da. Contabilidade governamental: um enfoque administrativo. 7ª Ed. São Paulo: Atlas, 2004. Cap. 1; ▪ Giacomoni, James. Orçamento Público. 13ª Ed. São Paulo: Atlas, 2005. Cap. 2. 2.4 Exercícios de Fixação 9. O Estado para atingir os seus objetivos realiza uma série de atividades, com a contratação e a qualificação de pessoal, a realização de licitações para selecionar os melhores bens e serviços, etc. Como são classificadas estas atividades do Estado? 10. Qual é a finalidade do estudo das finanças públicas? 11. Na economia contemporânea, sob o ponto de vista da atuação do Estado na economia, como você classificaria o Estado brasileiro, por quê? 12. Cite quais são as funções econômicas do Estado e qual o principal instrumento utilizado para implementá-las? 13. “É preciso ter um bolo maior para que todos possam ter uma fatia maior. A questão distributiva é facilmente solúvel quando a economia está crescendo rapidamente e a população não.” Avalie esta afirmativa. 14. Na medida em que há um maior crescimento das exportações e a cada dia há maiores filas de caminhões nos portos nacionais, o Estado brasileiro está exercendo as suas funções econômicas adequadamente? Qual é a função econômica diretamente ligada com esta questão? 15. A atual gestão do Governo Federal, preocupada com a necessidade de crescimento econômico do país em função do clamor dos mais diversos setores da sociedade organizada, lançou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Pesquise sobre quais as medidas previstas nesse programa e as enquadre dentro das funções econômicas do Estado. 3 - ORÇAMENTO PÚBLICO 3.1 Aspectos Históricos Muito se especula sobre a origem do uso do orçamento público como instrumento de controle dos governantes e como meio para planejar e controlar as suas ações. O orçamento é um dos mais antigos instrumentos utilizado na gestão dos negócios públicos. Ele foi concebido inicialmente como um mecanismo de controle político dos órgãos de representação sobre governantes, no tocante a cobrança de tributos. Ao longo do tempo, ele sofreu mudanças, tanto na parte conceitual como técnica, no sentido de tornar-se um importante instrumento de planejamento e acompanhamento das funções do Estado. Os estudiosos do Orçamento Público são unânimes ao afirmar que a primeira aparição de norma voltada para controle dos governantes se deu na Inglaterra, no ano de 1217. Giacomoni, citando BURKHEAD, afirma que o artigo 12 da famosa Carta Magna inglesa, outorgada pelo Rei João Sem Terra trazia o seguinte: Nenhum tributo ou auxilio será instituído no Reino, senão pelo seu conselho comum, exceto com o fim de resgatar a pessoa do Rei, fazer seu primogênito cavaleiro e casar sua filha mais velha uma vez, e os auxílios para esse fim serão razoáveis em seu montante.9 Na França, em 1789, a Constituição trouxe um mandamento de que “nenhum imposto será cobrado sem o consentimento da nação”. Nos Estados Unidos, em 1765, foi estabelecido pelos colonos da Virginia que “somente a Assembleia Geral da Colônia tem o direito e o poder de exigir imposto dos seus habitantes”. No Brasil, apesar das lutas de insignes figuras como Felipe dos Santos (1720) e Joaquim José da Silva Xavier (1789) contra a cobrança de impostos pela Metrópole portuguesa, somente com a primeira Constituição brasileira de 1924 foi que passaram a existir as primeiras regras norteadoras da atividade do Estado voltadas para a arrecadação de impostos e para a realização de gastos públicos. Mas somente com a Constituiçãorepublicana de 1891 foi que passou a haver maior clareza na definição das competências do Congresso Nacional para estimar as receitas a serem arrecadadas e fixar as despesas a serem realizadas em cada ano. As demais Constituições brasileiras até a atual Carta Magna consagraram dispositivos voltados para o disciplinamento das atividades orçamentárias e financeiras do Estado. Na atual Constituição Federal vigente (1988), o processo orçamentário nacional está disciplinado pelo seu Capítulo II, que trata das Finanças Públicas (art. 163 a 169) voltadas para a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Nos tópicos seguintes desta parte deste trabalho serão estudadas estas disposições constitucionais sobre o Orçamento Público. 3.2 Conceitos O conceito de orçamento tem sofrido ao longo dos tempos significativas mudanças, em decorrência da evolução de suas funções. Giacomoni divide a evolução conceitual de orçamento público em orçamento tradicional e orçamento moderno. O primeiro tinha a função de controle político, já o segundo, tem como principal função, servir de instrumento de administração10. 9 Giacomoni, James. Orçamento Público. 13ª Ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 45. 10 Op. cit., p. 64 a 65. 20 Finanças e contabilidade públicas | teoria e prática – Francisco José Gomes Sergio Pinto Martins afirma que o Orçamento pode ser conceituado como um “plano de trabalho governamental expresso em termos monetários, que evidencia a política econômica financeira do um Governo e em cuja elaboração devem ser observadas regras norteadoras”11. Ainda segundo Martins: ▪ Objetivamente, o Orçamento é o ramo das Ciências das Finanças que estuda a lei do orçamento e o conjunto de normas que se refere a sua preparação, sanção legislativa, execução e controle. ▪ Subjetivamente, o orçamento constitui a faculdade adquirida pelo povo de aprovar a priori, por seus representantes legitimamente eleitos, os gastos que o Estado realizará durante um determinado exercício.12 Juridicamente, o Orçamento é conceituado um ato de previsão de receitas e fixação de despesas para um determinado período de tempo. O Orçamento é o instrumento base para a contabilização dos fatos contábeis nas entidades para os quais ele será aplicado. O Orçamento é denominado ainda, como Lei de Meios, estabelece os parâmetros para a gestão do Patrimônio, traçando o seu rumo, através de procedimentos utilizados na sua elaboração. Em outras palavras: O ORÇAMENTO é um instrumento de PLANEJAMENTO, proposto pelo poder executivo e aprovado pelo legislativo, utilizado para disciplinar programas de custeios, transferências, investimentos e estimar receitas. 3.3 Orçamento Tradicional, Orçamento-Programa e Orçamento Base Zero No estudo do orçamento, considerando a evolução conceitual das espécies de orçamentos é importante fazer um paralelo entre o Orçamento Tradicional, o Orçamento-Programa (moderno) e Orçamento Base Zero. Analisando a história conceitual do orçamento público, podemos classificá-lo em orçamento tradicional e o orçamento moderno. O Orçamento-Programa e Orçamento Base Zero são espécies de orçamento moderno. 3.3.1 Orçamento Tradicional O Orçamento Tradicional é uma espécie de orçamento que privilegia a alocação de recursos para a aquisição de meios para o funcionamento do Estado, sem levar em consideração as funções que são exercidas por ele. Esta sistemática orçamentária é dissociada dos processos de planejamento e programação das funções executivas do Estado. O Orçamento Tradicional tem também como principal função a de possibilitar aos órgãos de representação um controle político sobre os Executivos. Este espécie de orçamento está em desuso, embora ainda haja alguns traços dele nos orçamento elaborados atualmente pelas esferas de governo da República Federativa do Brasil. 3.3.2 Orçamento-Programa Segundo GIACOMONI, a ONU em 1959 conceitua o Orçamento-Programa como um sistema em que se presta mais atenção às coisas que o um governo realiza, do que às coisas que ele adquire. As coisas que um governo adquire, tais como serviços pessoais, provisões, equipamentos, meios de transporte etc., são apenas meios empregados para o cumprimento de suas funções. As coisas que um governo realiza em cumprimento de suas funções podem ser estradas, escolas, casos tramitados e resolvidos ou quaisquer inúmeras coisas que podem ser apontadas13. O Orçamento-Programa enfatiza as realizações das funções do Estado. Ele deve apresentar os propósitos e objetivos para os quais os créditos se fazem necessários, os custos dos programas propostos 11 Silva, Lino Martins da. Contabilidade governamental: um enfoque administrativo. 8ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. 12 Op. cit. 13 Giacomoni, James. Orçamento Público. 14ª ed. - São Paulo: Atlas, 2007. p. 154 e 155. 21 Finanças e contabilidade públicas | teoria e prática – Francisco José Gomes para atingir àqueles objetivos e dados quantitativos que meçam as realizações e o trabalho levado a efeito em cada programa, ou seja, este tipo de orçamento é um instrumento de administração pública. A complexidade da implantação do orçamento-programa reside na dificuldade da definição dos produtos finais do Estado e na adoção de padrões de medição de trabalho e de alcance desses produtos. Em segundo lugar, certas atividades relevantes do Estado são intangíveis, seus resultados não se apresentam a medições. No Brasil, assim como na maioria dos países da América Latina, a idealização de orçamento moderno está representada no Orçamento-programa. A Lei nº 4.320/64, apesar de fazer referência a programas de trabalho em diversos dispositivos, não criou as condições para a implantação do Orçamento-programa no Brasil. No entanto, desde o ano de 1967, o Orçamento da União passou a trazer as despesas classificadas por programas, compostos por subprogramas e esses divididos em projetos e atividades. É a classificação programática do orçamento que será vista adiante, em tópico específico. Atualmente, existem portarias da Secretaria do Tesouro Nacional que determinam que os orçamentos públicos no Brasil obedeçam à classificação funcional-programática. Em função desta determinação, o orçamento-programa é obrigatório para todas as esferas de governo do nosso País. 3.3.3 Orçamento Base Zero O Orçamento Base Zero, também conhecido como Orçamento por Estratégia, é uma técnica para elaboração do orçamento público. KOHAMA (2007, p. 79) conceitua o Orçamento Base Zero como um processo operacional de planejamento e orçamento que exige de cada administrador a fundamentação da necessidade dos recursos totais solicitados, e em detalhes lhe transfere o ônus da prova, a fim de que ele justifique a despesa. GIACOMONI (2009, p. 60) afirma que o modelo de orçamento base zero foi desenvolvido originariamente pela empresa de alta tecnologia Texas Instruments e adaptado para o setor público, por solicitação de Jimmy Carter, quando governador do Estado da Geórgia (EUA), que posteriormente levou a metodologia para a Administração Federal. O Orçamento Base Zero não é uma maneira de organizar ou de apresentar o orçamento público, mas sim, uma forma de avaliação e tomada de decisão sobre despesas. De acordo como o modelo, as ações, ou partes delas, de um programa governamental constituem-se em unidades de decisão cujas necessidades de recursos são avaliadas em pacotes de decisão. Os pacotes de decisão, após analisados ordenados, fornecem as bases para a apropriação de recursos nos orçamentos operacionais14. No processo tradicional de elaboração de orçamento, tomam-se por base as atividades do exercício anterior, determinam-se os seus custos e acrescenta-se a este custo a inflação do período e uma carga de trabalho para o ano seguinte, sem haver uma revisão detalhada das operações em andamento e dos níveis de gastos. Ou seja, há apenas a projeçãodas mesmas atividades de um exercício para o exercício seguinte, sem que haja o questionamento da validade dos gastos, a comparação dos gastos com as quantidades físicas de necessidades atendidas e a solicitação de recurso não obedecem a nenhuma prioridade. Já no Orçamento Base Zero o processo operacional de planejamento e orçamento exige de cada administrador a justificativa detalhada dos recursos solicitados. Com isso, há a necessidade de que todas as funções dos órgãos e departamentos da Administração Pública sejam analisadas e identificadas em pacotes de decisão, os quais serão avaliados e ordenados por relevância. 3.4 Tipos de Orçamentos Os orçamentos públicos, quanto à forma da sua elaboração podem ser classificados em orçamento legislativo, executivo e mistos. ▪ Orçamento Legislativo – é aquele cuja elaboração, discussão e aprovação são de competência do Poder legislativo. Cabendo ao Poder Executivo apenas a sua execução. ▪ Orçamento Executivo – é o orçamento elaborado, aprovado, executado e controlado pelo Poder Executivo. Este tipo de orçamento é utilizado nos estados onde existem governos ditatoriais. 14 Giacomoni, James. Orçamento Público. 14ª ed. - São Paulo: Atlas, 2007. p. 61. 22 Finanças e contabilidade públicas | teoria e prática – Francisco José Gomes ▪ Orçamento Misto – é a espécie de orçamento elaborado pelo Poder Executivo e submetido à aprovação do Poder Legislativo. É o tipo de orçamento utilizado no Brasil. 3.5 Aspectos do Orçamento O orçamento público pode ser visto sobre uma multiplicidade de aspectos, onde os principais são: o político, o jurídico, o econômico e o financeiro. ▪ Aspecto político – o orçamento é visto como um plano de governo ou programa de ação de um grupo político que detém o poder. ▪ Aspecto jurídico – sobre este aspecto, o orçamento é observado como uma lei dentro do conjunto de normas de um país. ▪ Aspecto econômico – o orçamento é uma peça de execução das funções econômicas de um Estado. ▪ Aspecto financeiro – o orçamento é tratado como um fluxo monetário das entradas de receita e das saídas de despesas públicas. 3.6 Princípios Orçamentários Os princípios orçamentários são regras que norteiam a elaboração do orçamento anual, tendo em vista a necessidade de torná-lo fiel aos objetivos e metas estabelecidos no Plano Plurianual e na Lei de Diretrizes Orçamentárias. Em consequência da falta de unanimidade entre os estudiosos da matéria, inúmeros foram os princípios surgidos ao longo da história. No entanto, poucos se sobressaíram e se confirmaram na doutrina. Adiante serão analisados os princípios orçamentários de maior representatividade, especialmente os integrados à legislação brasileira. 3.6.1 Princípio da Unidade (Totalidade) Consagrado pela Lei nº 4.320/64, bem como pela Constituição Federal, o Princípio da Unidade, em sua acepção mais simples, consiste na afirmação de que o Orçamento deve ser unificado em uma só peça, ou seja, todas as receitas e despesas devem estar contidas em uma só lei orçamentária. A Constituição Federal de 1988 estabeleceu o princípio da unidade quando previu que a lei orçamentária anual compreenderá o orçamento fiscal referente aos poderes públicos, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações e ainda, o orçamento de investimento das empresas e o orçamento da seguridade social (art. 165, § 5º). Estes são espécies de orçamento que integram o orçamento geral da entidade para qual ele é feito. Considerando os estudos realizados a respeito deste princípio orçamentário, verifica-se que alguns doutrinadores, como A. Wagner e León Say, entendem que o conceito de unidade deve ser aplicado unicamente ao caixa, para onde ingressariam todas as receitas e sairiam todos os recursos para o pagamento de todas as despesas, possibilitando um maior controle por parte do Legislativo. Observando o crescimento das atividades das entidades públicas, bem como a descentralização e desconcentração administrativa ocorrida ultimamente, o princípio da unidade de caixa torna-se praticamente impossível, e difícil, o princípio da unidade orçamentária. Surge, portanto, a tendência do surgimento de um novo princípio, em substituição ao ora estudado, qual seja o princípio da totalidade orçamentária, onde os orçamentos dos diversos órgãos desconcentrados e descentralizados seriam harmonizados em uma única peça, propiciando uma visão conjunta de todo o montante de receitas e despesas para o exercício. 3.6.2 Princípio da Universalidade Este princípio preconiza que o orçamento deve compreender todas as receitas e as despesas necessárias para a manutenção dos serviços públicos. Inclusive os créditos adicionais, não previstos inicialmente na lei orçamentária anual, a ela são incorporados posteriormente. Claramente incorporado à legislação brasileira, o princípio da universalidade possibilita ao Poder Legislativo, quando da análise da proposta orçamentária: - Conhecer, a priori, todas as receitas e despesas do governo e conceder prévia autorização para arrecadação e realização; 23 Finanças e contabilidade públicas | teoria e prática – Francisco José Gomes - Impedir que o Executivo realize qualquer operação de receita e despesa sem a devida autorização parlamentar; e - Conhecer o exato volume das despesas projetadas pelo governo, a fim de autorizar a cobrança dos tributos necessários para atendê-las. 3.6.3 Princípio do Orçamento Bruto Este princípio determina que todas as receitas e despesas devem aparecer no orçamento pelos seus valores brutos, sem qualquer tipo de dedução. Ele visa impedir que as receitas e as despesas sejam incluídas no orçamento pelos seus valores líquidos. No caso das receitas arrecadadas por um Ente Político que deve repassar determinado percentual a outro Ente, elas devem aparecer pelos seus valores globais, sem nenhuma dedução. 3.6.4 Princípio da Anualidade ou Periodicidade Por este princípio, o orçamento deve ser elaborado para um período limitado de tempo. Em decorrência desta regra, o Poder Executivo fica obrigado a pedir, periodicamente, autorização ao Poder Legislativo para arrecadar receitas e aplicar o produto desta arrecadação. Aceito pelos tratadistas de Direito Financeiro, o princípio da anualidade está claramente evidenciado em nossa Constituição, notadamente em seu art. 165, que é transcrito a seguir: Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I – o plano plurianual; II – as diretrizes orçamentárias; III – os orçamentos anuais. (...) § 5º. A lei orçamentária anual compreenderá: Com base neste princípio, o orçamento fica restrito ao exercício financeiro para o qual foi elaborado. O exercício financeiro no Brasil coincide com o ano civil. A execução orçamentária inicia-se em 1º de janeiro e conclui-se em 31 de dezembro. 3.6.5 Princípio da Não-afetação das Receitas (Não vinculação) Receitas excessivamente vinculadas dificulta a administração de qualquer entidade, permitindo excesso de recursos em determinadas áreas e carência em outras. A par desta premissa, este princípio, com um dos dógmas das Finanças Públicas, que tem a função de impedir que as receitas previstas no Orçamento sejam vinculadas a determinados gastos ou órgãos, visando possibilitar maior flexibilidade no planejamento das políticas públicas e permitir que os gestores públicos competentes possam aplicar as receitas conforme as necessidades de serviços públicos. No âmbito das normas do Direito Financeiro, o princípio da não vinculação das receitas está previsto no art. 167, inciso IV, da Constituição Federal voltado exclusivamente para a não vinculação das receitas de impostos, nos seguintes termos: Art. 167. São vedados: (...) IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostosa que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização de atividades da administração tributária, como determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo; (...) § 4º É permitida a vinculação de receitas próprias geradas pelos impostos a que se referem os arts. 155 e 156, e dos recursos de que tratam os arts. 157, 158 e 159, I, a e b, e II, para a prestação de garantia ou contragarantia à União e para pagamento de débitos para com esta. Pelo disposto, ressalvada as exceções expressas, os entes da federação não podem prevê em seus orçamentos as receitas de seus impostos vinculadas a determinados fins. 24 Finanças e contabilidade públicas | teoria e prática – Francisco José Gomes Em sentido contrário a não vinculação das receitas, as receitas decorrentes das contribuições sociais e econômicas são vinculadas às finalidades para as quais elas foram criadas. Com isso, o ente político criador de uma contribuição destinada a uma determinada finalidade, somente pode usar o produto da sua arrecadação para atender as despesas que justificaram a sua criação. Como exemplo desta vinculação, pode ser citado o fato de os Municípios só poderem gastar a receita auferida com a arrecadação da contribuição para o custeio de iluminação pública com as despesas diretamente relacionadas com o serviço de iluminação pública, como o consumo de energia, a manutenção da rede e novos investimentos visando a ampliação e a melhoria do serviço. As receitas de empréstimos compulsórios também são receitas vinculadas. Isto é, os recursos arrecadados deste tributo só podem ser aplicados nas finalidades constitucionais que autorizam a sua instituição. A despeito deste princípio, nas finanças públicas brasileiras há uma tendência à vinculação de receitas decorrentes de fontes diversas dos impostos, com as decorrentes de taxas e de outras fontes. Em razão disso, no de 1994 foi aprovada uma emenda à Constituição estabelecendo à Desvinculação de Receitas da União (DRU) visando permitir que este ente federativo utilize livremente parte de sua arrecadação, dando maior flexibilidade na aplicação das receitas arrecadadas. A desvinculação de receitas da União vem sendo prorrogada sucessivamente e estará vigente até o dia 31 de dezembro de 2023. E, conforme dispõe a Emenda Constitucional nº 93/2016, que promoveu a última prorrogação da desvinculação, esse mecanismo foi estendido para os estados, o Distrito Federal e os municípios, sendo denominado, neste caso, de Desvinculação das Receitas dos Estados e Municípios (DREM). A DRU desvincula de órgão, fundo ou despesa 30% (trinta por cento) da arrecadação da União relativa às contribuições sociais, sem prejuízo do pagamento das despesas do Regime Geral da Previdência Social, às contribuições de intervenção no domínio econômico e às taxas. A DREM permite aos estados e ao Distrito Federal desvincularem 30% (trinta por cento) das receitas de impostos, taxas e multas, já instituídos ou que vierem a ser criados até 31 de dezembro de 2023, seus adicionais e respectivos acréscimos legais, e outras receitas correntes. A mesma faculdade foi atribuída aos municípios. A DREM não permite que os estados e o Distrito Federal desvinculem recursos destinados ao financiamento das ações e serviços públicos de saúde e à manutenção e desenvolvimento do ensino; receitas que pertencem aos municípios decorrentes de transferências previstas na Constituição Federal, receitas de contribuições previdenciárias e de assistência à saúde dos servidores, demais transferências obrigatórias e voluntárias entre entes da Federação com destinação especificada em lei e de fundos instituídos pelo Poder Judiciário, pelos tribunais de contas, pelo Ministério Público, pelas defensorias públicas e pelas procuradorias-gerais dos estados e do distrito federal. A mesma limitação se aplica aos municípios, com ressalva para as transferências constitucionais estes não realizam e para as transferências órgãos que estes não possuem. 3.6.6 Princípio da Discriminação ou Especialização Por este princípio, as receitas e as despesas devem aparecer no orçamento de forma discriminada, ou seja, de modo que se possa, pormenorizadamente, saber a origem e as aplicações dos recursos públicos. O princípio da discriminação ou especialização é de fundamental importância para o trabalho de fiscalização, tanto por parte dos legisladores quanto pelos agentes fiscalizadores e pelos cidadãos de maneira geral. Pois um orçamento altamente especificado ou detalhado fornece melhores condições para a sua fiscalização. 3.6.7 Princípio da Exclusividade Por este princípio, não devem ser tratadas na lei orçamentária, matérias estranhas à previsão de receitas e fixação de despesas. Considerado antigamente, por vários doutrinadores, como mais uma regra de técnica legislativa, do que propriamente um princípio, a regra da exclusividade ganhou força através do § 8º do art. 165 da Constituição Federal. No entanto, o próprio dispositivo constitucional traz exceções a este princípio. A primeira exceção ao princípio da exclusividade aplicado à Lei Orçamentária é a possibilidade de existir autorização, no texto da lei, para a abertura de créditos adicionais suplementares, até determinado 25 Finanças e contabilidade públicas | teoria e prática – Francisco José Gomes limite, utilizando-se as fontes de recursos determinadas no art. 43 da Lei nº. 4.320/64 (superávit financeiro, excesso de arrecadação, anulação de dotações e operações de crédito). Em seguida, a contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita, pode ser autorizada pela própria Lei de Meios, desde que obedeça aos ditames da Lei prevista no art. 165, § 8º, da Constituição Federal, ainda não editada. Para suprir a lacuna da falta da lei complementar prevista foi aprovada pelo Senado Federal, a resolução nº 87/98 que trata sobre operações de créditos. Conclui-se, portanto, que a maior importância do princípio da exclusividade reside em excluir da Lei Orçamentária, matérias estranhas à fixação de despesas e previsão de receitas, facilitando o fluxo com a necessária celeridade na sua tramitação legislativa. 3.6.8 Princípio do Equilíbrio De todos os princípios, este foi o que ganhou maior atenção com a promulgação da Lei de Responsabilidade Fiscal, inclusive fora do âmbito específico do orçamento, como na área das finanças públicas. Este princípio preconiza o equilíbrio orçamentário, onde não se pode gastar mais do que se arrecada. A atual Constituição veda a realização de operações de créditos (empréstimos) que excedam o montante das despesas de capital. Visando o cumprimento deste princípio, a Lei de Responsabilidade Fiscal traz diversos dispositivos voltados para o equilíbrio permanente das contas orçamentárias. 3.6.9 Demais Princípios Orçamentários Além destes princípios analisados, existem vários outros de menor relevância, como: a) Princípio da Clareza – Este princípio preconiza que o orçamento deve ser apresentado de forma clara e compreensiva, acessível a todos os interessados, mesmo que não sejam legisladores ou fiscais. b) Princípio da Publicidade – Este Princípio é uma decorrência do art. 37 da Constituição Federal, onde determina que todos os atos da administração pública devem ser publicados. Formalmente, este princípio é cumprido, pois como todas as leis, a lei orçamentária é publicada nos diários oficiais. Recentemente, a Lei de Responsabilidade Fiscal, através de seu art. 48, determinou que o Orçamento Anual, assim como a Lei de Diretrizes Orçamentárias e o Plano Plurianual, são mecanismos de controle dagestão fiscal, por parte da coletividade, devendo, inclusive, ser publicados em meios eletrônicos de acesso público, ou seja, na Internet. 3.7 Leitura Complementar ▪ Silva, Lino Martins da. Contabilidade governamental: um enfoque administrativo. 7ª Ed. São Paulo: Atlas, 2004. Cap. 2; ▪ Giacomoni, James. Orçamento Público. 13ª Ed. São Paulo: Atlas, 2005. Cap. 3, 4 e 5; ▪ Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 – Art. 163 a 169. ▪ Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. 3.8 Exercícios de Fixação 1. Qual foi a finalidade das normas históricas do Orçamento Público e atualmente, qual a sua finalidade? 2. É verdadeira ou falsa a afirmativa de que o orçamento público tem a função de materializar o planejamento da administração municipal, bem como servir de meio para a população autorizar a arrecadação de receitas e a realização de despesas e ainda, servir de meio de controle dos gastos públicos. Por quê? 3. Considerando os tipos de orçamento existentes, um país totalitário como Cuba aplica qual tipo de orçamento? 4. O gestor público pode gastar o superávit da arrecadação de uma determinada contribuição em qualquer tipo de despesa pública? Por quê? 5. Descreva o que preconiza o princípio orçamentário da anualidade. 26 Finanças e contabilidade públicas | teoria e prática – Francisco José Gomes 6. É verdade que, com base no princípio orçamentário da não afetação das receitas, um Município pode realizar o pagamento dos salários dos seus servidores, diretamente vinculado ao que ele arrecada com seus próprios tributos. Justifique sua resposta. 7. Ao se definir o Orçamento Público como um plano de governo ou programa de ação de um grupo político que detém o poder, o mesmo estará sendo identificado sob o aspecto: a. jurídico b. financeiro c. político d. econômico e. social 8. Qual das opções abaixo não representa um princípio orçamentário: a. Unidade b. Anualidade c. Universalidade d. Capacidade contributiva e. Exclusividade 9. Ao elaborar um orçamento público deve-se observar que o mesmo deverá conter todas as receitas a serem arrecadas e todas as despesas a serem realizadas no exercício financeiro. Isto decorre do princípio: a. da totalidade b. da exclusividade c. da universalidade d. da anualidade e. da unidade 10. Sobre o orçamento público no Brasil é correto afirmar: a. É elaborado e votado pelo Poder Legislativo, por isso é chamado de orçamento legislativo. b. O orçamento público permite que os governantes gastem mais do que arrecadam, pelo fato dos gastos serem realizados com base na despesa fixada e não com base nas receitas arrecadadas. c. O orçamento constitui em uma faculdade adquirida pelo povo de aprovar a priori, por seus representantes legitimamente eleitos, os gastos que o Estado realizará durante um exercício. d. No Brasil, não existe a obrigatoriedade de adoção de orçamento-programa. e. O orçamento público pode ser elaborado para mais de um exercício financeiro. 4 O PROCESSO ORÇAMENTÁRIO 4.1 Processo de Planejamento Atualmente o processo de planejamento orçamentário das atividades da Administração Pública no Brasil, desde a Constituição de 1988, é realizado por meio dos seguintes instrumentos legais: ▪ Lei do Plano Plurianual (PPA); ▪ Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO); ▪ Lei do Orçamento Anual (LOA). De forma didática e resumida, pode ser afirmado que o PPA é o planejamento estratégico da Administração Pública, a LDO estabelece as diretrizes de como executar esse planejamento e a LOA estabelece as regras e a forma de execução desse planejamento de longo prazo. A seguir será estudado detalhadamente cada um desses instrumentos legais. 4.1.1 Plano Plurianual O Plano Plurianual é um instrumento de planejamento orçamentário de iniciativa dos poderes executivos das esferas de governos da nossa Federação, onde são quantificados, especificados e qualificados os custos de cada projeto de duração plurianual ou continuada. O referido instrumento é uma inovação da Constituição Federal de 1988, onde determina no § 1º do seu artigo 165, que a lei que instituir o Plano Plurianual estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. A Constituição Federal remete à lei complementar a regulação de prazos e operacionalização do Plano Plurianual, porém no inciso I do § 2º do artigo 35 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias, estabeleceu que até a entrada em vigor da lei complementar em questão, o projeto do Plano Plurianual, para vigência até o final do primeiro exercício financeiro do mandato subsequente, deverá ser encaminhado até quatro meses antes do encerramento do primeiro exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerramento da sessão legislativa. Com esta determinação o Poder Executivo das unidades da federação deverão encaminhá-lo ao Poder Legislativo até o dia 31 de agosto do primeiro ano de mandado do chefe do executivo. Em suma, o Plano Plurianual: ▪ estabelece metas que deverão ser atingidas através de programas de duração superior a um exercício financeiro; ▪ tem validade de quatro anos, contados do segundo ano de mandato de cada legislatura do chefe do executivo. Com isso o primeiro ano de mandado está abrangido pelo Plano Plurianual elaborado pelo gestor anterior; ▪ Serve de guia para as autorizações orçamentárias anuais. Na ótica da Administração, o plano plurianual é um instrumento de planejamento estratégico das ações que um gestor público estabelece para o seu governo. 4.1.2 Lei de Diretrizes Orçamentárias A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) é um instrumento jurídico introduzido no ordenamento jurídico pátrio pela Constituição Federal de 1998, que tem como finalidade básica, integrar as orientações contidas no Plano Plurianual às metas a serem alcançadas através do Orçamento Anual. Ou seja, ela faz a ligação entre o PPA e a LOA. 4.1.2.1 A LDO na Constituição Federal De acordo com a Constituição Federal, a LDO por finalidade: 28 Finanças e contabilidade públicas | teoria e prática – Francisco José Gomes ▪ contemplar as metas da Administração Pública, inclusive despesas de capital para o exercício financeiro seguinte, detalhando a parcela do PPA que será realizada no ano para o qual a LDO se destina; ▪ orientar a elaboração da Lei Orçamentária Anual; ▪ dispor sobre as alterações na legislação tributária; ▪ prever as mudanças na política de pessoal. 4.1.2.2 A LDO na Lei de Responsabilidade Fiscal Além das atribuições contidas no § 2º do artigo 165 da Constituição Federal para a LDO, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)15, ao tratar do planejamento orçamento orçamentário, estabelece uma série de atribuições para esse instrumento legal. Com estas previsões, a LDO deixou de ser uma mera formalidade legal a ser cumprida, para ter efetiva importância, no sentido de tornar o processo orçamentário mais transparente e possibilitar o aumento da participação do Poder Legislativo no disciplinamento das finanças públicas. De acordo com o artigo 4º da LRF, a Lei de Diretrizes Orçamentárias tem as seguintes atribuições: ▪ promover o equilíbrio entre receitas e despesas; ▪ estabelecer critérios para contingenciamento de dotações, quando a evolução da receita comprometer os resultados orçamentários previstos; ▪ normatizar as formas de controle de custos e de avaliação de resultados, caracterizando o controle operacional das ações desenvolvidas pelos governantes; ▪ estabelecer condições para a concessão de subvenções às instituições privadas; ▪ estabelecer autorização para os municípios custear despesas próprias do Estado e da União; ▪ estabelecer critérios para o Poder Executivo elaborar a programação financeira mensal, inclusive para o
Compartilhar