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O Livro dos Médiuns Capítulo XXIX

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Grupo de estudos Espíritas Maria modesto
Estudando o Livro dos médiuns
Capítulo XXIX
Reuniões e Sociedades
Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-NC-ND
 
 
"Os Espíritos são atraídos na razão da simpatia que lhes inspire a natureza moral do meio que os evoca. Os Espíritos superiores se comprazem nas reuniões sérias, onde predominam o amor do bem e o desejo sincero, por parte dos que as compõem, de se instruírem e melhorarem.
OLE- Introdução ao estudo da Doutrina Espírita - VI
Reuniões espíritas
Trechos retirados de O Livro dos Médiuns, da Revista Espírita e de O que é o Espiritismo.
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			REUNIÕES EM GERAL
324. As reuniões espíritas podem oferecer grandes vantagens, pois permitem o ESCLARECIMENTO pela permuta de pensamentos, pelas perguntas e observações feitas por qualquer um, de que todos podem aproveitar-se. Mas para se obterem resultados desejáveis, requerem condições especiais que vamos examinar, porque seria errôneo tratá-las como as das sociedades comuns.
			REUNIÕES EM GERAL
Aliás, constituindo-se as reuniões em verdadeiros todos coletivos o que a elas concerne é uma consequência natural das instruções individuais dadas anteriormente. Devem elas tomar as mesmas precauções e preservar-se das mesmas dificuldades referentes aos indivíduos. Foi por isso que deixamos este capítulo por último.
As reuniões espíritas diferem muito quanto às suas características, segundo os seus propósitos. E por isso mesmo a sua constituição deve também diferir. Segundo sua natureza elas podem ser frívolas, experimentais ou instrutivas. 
O Livro dos Médiuns – Capítulo XXIX – Reuniões e Sociedades
Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
			REUNIÕES EM GERAL
“Estando a nossa Sociedade (Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas) regularmente constituída, por isso mesmo procede com mais ordem e método do que se marchasse ao acaso; mas, fora isso, ela não é mais preponderante do que milhares de sociedades livres ou reuniões particulares que existem na França e no estrangeiro. 
(...) o que ela quer é instruir-se; eis porque não admite em seu seio senão pessoas sérias e animadas do mesmo desejo, porque o ANTAGONISMO DE PRINCÍPIOS é uma causa de perturbação. 
Se ela adotou certos princípios gerais, não é por um estreito espírito de exclusivismo; ela tudo viu, tudo estudou, tudo comparou, e foi após isso que formou uma opinião baseada na experiência e no raciocínio; somente o futuro pode se encarregar de lhe dar razão ou não.
			REUNIÕES EM GERAL
Ela (a Sociedade), não busca nenhuma supremacia, e só aqueles que não a conhecem podem lhe supor a ridícula pretensão de absorver todos os partidários do Espiritismo, ou de se colocar como reguladora universal. 
Se ela não existisse, cada um de nós se instruiria por seu lado, e, em vez de uma única reunião, talvez formássemos dez ou vinte, e eis toda a diferença. 
Nós não impomos nossas ideias a ninguém; aqueles que as adotam é porque as consideram justas; os que vêm a nós é porque pensam aqui encontrar ocasião de aprender, mas isto não é como afiliação.
 Nós não formamos nem seita, nem partido; estamos REUNIMOS PARA O ESTUDO DO ESPIRITISMO como outros para o estudo da Frenologia*, da História ou de outras ciências;
*Frenologia (do Grego: φρήν, phrēn, "mente"; e λόγος, logos, "lógica ou estudo") é uma teoria que reivindica ser capaz de determinar o caráter, características da personalidade, e grau de criminalidade pela forma da cabeça (lendo "caroços ou protuberâncias").
			REUNIÕES EM GERAL
e como nossas reuniões não se baseiam sobre nenhum interesse material, pouco nos importa se outras se formam ao nosso lado.
Eis, pois, senhores, um ponto essencial a não perder de vista, é que nem formamos uma seita, nem uma sociedade de propaganda, nem uma corporação com um interesse comum; se cessássemos de existir, o Espiritismo não sofreria nenhum dano, e de nossos restos vinte outras sociedades se formariam. 
É preciso que saibam que AS RAÍZES DO ESPIRITISMO NÃO ESTÃO NA NOSSA SOCIEDADE, MAS NO MUNDO INTEIRO. Há algo de mais poderoso do que eles, de mais influente que todas as sociedades: é a doutrina que vai ao coração e à razão dos que a compreendem; e sobretudo dos que a praticam.
			REUNIÕES EM GERAL
Lembrai-vos, senhores, da maneira como a Sociedade se formou. Eu recebia em minha casa algumas pessoas em petit comité; tendo esse número aumentado, foi dito: é preciso um local maior. Para tê-lo, era preciso pagar, então teríamos que nos cotizar. Foi dito ainda: é preciso ordem nas sessões; não podemos admitir o primeiro que chegar, então é necessário um regulamento; eis toda a história da Sociedade. Ela é muito simples, como vedes. A IDEIA DE FUNDAR UMA INSTITUIÇÃO NÃO PASSOU PELO PENSAMENTO DE NINGUÉM, NEM A DE OCUPAR-SE DO QUE QUER QUE FOSSE, FORA DOS ESTUDOS, e eu declaro mesmo, de maneira muito formal, que se por ventura a Sociedade quisesse ir além desse objetivo, eu não a seguiria.”
Revista Espírita 1860 » Abril » Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
Kardec disse que a sociedade Parisiense de estudos espírita não era uma instituição... E o que dizer das nossas instituições “Espíritas”?
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		Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
Teria sido a "Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas" a 1ª Sociedade espírita do mundo? Parece que sim. É verdade que, muito antes de haver Allan Kardec fundado aquela sociedade, que lhe deu, aliás, muita dor de cabeça, por falta de compreensão de seus companheiros, surgiram, tanto na América do Norte como na Europa, diversas sociedades de investigações psíquicas.
Nos Estados Unidos, por exemplo, depois dos célebres fenômenos de Hydesville, em 1848, fundaram-se muitos centros de investigações. Disse um observador imparcial que, pouco depois de 1848, chegou-se a registrar, nos Estados Unidos, o espantoso total de 300 círculos ou centros de estudos e experiências mediúnicas. Não sabemos se há exagero, mas inegavelmente havia muitos centros de estudos psíquicos nos Estados Unidos, antes da Sociedade espírita fundada por Allan Kardec
Centros de pesquisas mediúnicas nos Estados Unidos no século XIX
Centros de pesquisas mediúnicas nos Estados Unidos no século XIX
		Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
Conquanto já houvesse muitas sociedades fundadas para estudar os fenômenos de além túmulo, tudo indica que foi a "Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas", a primeira sociedade de caráter "espírita", isto é, sociedade fundada e orientada com base na doutrina espírita.
As sociedades fundadas anteriormente, aliás, numerosas, não tinham ainda "caráter espírita" porque ainda não havia sido codificada a doutrina espírita. Eram apenas sociedades em que se faziam sessões experimentais de mediunismo, porque havia médiuns, ou se estudavam os fenômenos extra terrenos, mas aquelas sociedades não tinham nem podiam ter orientação doutrinária, uma vez que a codificação de Allan Kardec começou em 1857, com a publicação do Livro dos Espíritos.
		Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
Antes da doutrina, portanto, não poderia ter havido, a rigor, o que se possa chamar sociedade "espírita". O Esclarecimento desta questão depende do conceito de sociedade "espírita". Que é, finalmente, o que se entende por sociedade "espírita"? Por sociedade "espírita" entende-se aquela que se orienta pela doutrina espírita, isto é, a doutrina codificada por Allan Kardec.
Pode haver, e há, sociedades de metapsíquica, sociedade de estudos psíquicos, sociedades de investigações psíquicas, etc., mas o qualificativo de sociedade "espírita" é inerente ao tipo de sociedade em que se estude e aceite a doutrina espírita.
		Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
Há sociedades, por exemplo, que se destinam a fazer experiências mediúnicas, que trabalham com médiuns, que obtêm fenômenos importantes, mas não seguem a orientaçãodoutrinária do Espiritismo, não se inspiram, portanto, na doutrina espírita.
Não se pode dizer que tais agremiações sejam sociedades "espíritas", embora tenham elas por objetivo principal a experimentação mediúnica. Podem ser, quando muito, sociedades de metapsíquica.
		Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
Já se vê, afinal de contas, que a "Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas" tem de ser considerada, historicamente, a 1a. Sociedade de caráter "espírita" do mundo, embora, houvesse, antes dela, diversos sociedades fundadas para estudar a fenomenologia de além túmulo.
Fundada em 1o. de abril de 1858, a "Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas" teve por presidente o próprio Allan Kardec, seu fundador.
Conforme consta na página final da Revista Espírita de maio de 1858, Kardec deu ciência da criação da Sociedade, nos seguintes termos:
FUNDADA EM PARIS A 1º DE ABRIL DE 1858
E autorizada por portaria do Sr. Prefeito de Polícia, conforme o aviso de S. Excelência, o Sr. Ministro do Interior e da Segurança Geral, em data de 13 de abril de 1858.
A extensão, por assim dizer universal, que tomam diariamente as crenças espíritas fazia desejar-se vivamente a criação de um centro regular de observações. Esta lacuna acaba de ser preenchida. A Sociedade cuja formação temos o prazer de anunciar, composta exclusivamente de pessoas sérias, isentas de prevenções e animadas do sincero desejo de esclarecimento, contou, desde o início, entre os seus associados, com homens eminentes por seu saber e por sua posição social. Estamos convictos de que ela é chamada a prestar incontestáveis serviços à constatação da verdade. Sua lei orgânica lhe assegura uma homogeneidade sem a qual não haverá vitalidade possível. Está baseada na experiência dos homens e das coisas e no conhecimento das condições necessárias às observações que são o objeto de suas pesquisas. Vindo a Paris, os estranhos que se interessam pela Doutrina Espírita encontrarão, assim, um centro ao qual poderão dirigir-se para obter informações e onde poderão também relatar suas próprias observações[1].
[1] Para informações relativas à Sociedade, dirigir-se ao Sr. ALLAN KARDEC, rue Sainte-Anne, n. 59, das 3 às 5 horas; ou ao Sr. LEDOYEN, livreiro, Galeria d’Orléans, n. 31, no Palais-Royal
		Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
O estatuto da sociedade é um modelo de rigor. Pode parecer, hoje, muito rígido, mas tem pontos ainda oportunos. O Estatuto (regulamento) dessa entidade, o primeiro Centro Espírita regularmente constituído no mundo, estava normatizado por 29 artigos que tratavam dos objetivos e fins, da constituição, dos sócios, da administração, das sessões e de outras disposições (inserido no Capítulo XXX de "O Livro dos Médiuns"). Ninguém podia, por exemplo, assistir às sessões sem prévia autorização do presidente, sem uma espécie de "teste", como se diz hoje, para saber quais seriam as intenções da pessoa que desejasse tomar parte nas sessões. Nenhuma pergunta poderia ser feita aos espíritos, nas sessões da Sociedade, sem ser submetida à apreciação da presidência. O estatuto era rigoroso.
		Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
O Codificador era rigoroso no cumprimento das disposições estatutárias e na disciplina na condução das atividades aí realizadas. Exigia de todos os participantes extrema seriedade e isso contribuiu para dar muita credibilidade à instituição e aos seus pronunciamentos acerca dos assuntos tratados. Era extremamente prudente e austero nos pareceres exarados e nunca permitiu que a Sociedade se tornasse arena de controvérsias e debates estéreis.
		Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
Poder-se-á dizer que hoje não se usa mais isto, que tais exigências tinham cabimento no tempo de Allan Kardec, mas atualmente não se pode mais fazer sessão espírita com tanta meticulosidade, etc. Quem lê, todavia, o estatuto elaborado por Allan Kardec, nota logo, à primeira vista, que o Codificador levava as coisas do Espiritismo muito a sério. Se, até hoje, todas as sociedades espíritas seguissem, pelo menos em parte, a orientação da "Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas", não haveria sessões "espetaculares", com a casa cheia de curiosos, sem objetivos de iluminação espiritual.
		Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
De acordo com o relatório de abril de 1862, publicado no mencionado periódico, a Sociedade experimentou considerável crescimento nesses dois anos de funcionamento, com 87 sócios efetivos pagantes, contando entre os membros: cientistas, literatos, artistas, médicos, engenheiros, advogados, magistrados, membros da nobreza, oficiais do exército e da marinha, funcionários civis, empresários, professores e artesãos. O número de visitantes chegava a quase 1500 pessoas por ano.
		Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
Embora tenha sido a SPEE a primeira entidade espírita oficialmente constituída, ela nunca teve sobre outras quaisquer vínculos de ascendência, filiação ou solidariedade material, e os laços que as unia eram apenas de identidade de objetivos e de troca de experiências.
Kardec, que desempenhava o cargo de presidente desde a criação da entidade, fatigado com o excesso de trabalho e aborrecido com as querelas administrativas, por várias vezes, externou o desejo de renunciar mas deixou a semente para o futuro. Instado, porém, pelos mentores espirituais, continuou no exercício da presidência até a data de sua desencarnação. A Sociedade, infelizmente, não se desenvolveu, mas ficou, apesar de tudo, o modelo, o registro histórico, o exemplo de trabalho, ordem e sinceridade, traços característicos do Codificador da doutrina espírita.
		Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
Kardec, que desempenhava o cargo de presidente desde a criação da entidade, fatigado com o excesso de trabalho e aborrecido com as querelas administrativas, por várias vezes, externou o desejo de renunciar mas deixou a semente para o futuro. Instado, porém, pelos mentores espirituais, continuou no exercício da presidência até a data de sua desencarnação. A Sociedade, infelizmente, não se desenvolveu, mas ficou, apesar de tudo, o modelo, o registro histórico, o exemplo de trabalho, ordem e sinceridade, traços característicos do Codificador da doutrina espírita.
		Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
A Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas se viu sujeita a muitas vicissitudes, mas sobrepôs às calúnias e maledicências de toda sorte, firmou-se, cresceu e veio a ser modelo para numerosas associações de estudo e propaganda da Nova Revelação, posteriormente criadas na França e em várias outras partes do mundo, inclusive no Brasil.
 Jorge Murta.
http://espiritismocomprofundidade.blogspot.com/2012/07/spee-sociedade-parisiense-de-estudos.html
A escassez de médiuns 
Revista Espírita , fevereiro de 1861 
Certamente para os que vão a essas REUNIÕES COM O ÚNICO OBJETIVO DE VER EFEITOS, O MÉDIUM SERÁ TÃO INDISPENSÁVEL QUANTO O MÚSICO NO CONCERTO; mas para os que, antes de tudo, buscam instruir-se, que querem aprofundar-se nas várias partes da Ciência, em falta de um instrumento de experimentação terão mais de um meio de obtê-lo.
 Por outro lado, os melhores médiuns estão sujeitos a intermitências mais ou menos longas, durante as quais há suspensão total ou parcial da faculdade mediúnica, sem falar das numerosas causas acidentais, que momentaneamente podem privar-nos de seu concurso. 
Acrescentemos ainda que os médiuns perfeitamente flexíveis, os que se prestam a todos os gêneros de comunicações, são ainda mais raros. Em geral possuem aptidões especiais, das quais importa não desviá-los. 
Vê-se portanto que se não houver elementos de reserva, podemos ficar desprevenidos quando menos o esperamos, e seria aborrecido que em tais condições os trabalhos fossem interrompidos.
 No presente artigo, Kardec explica que ao notar a escassez de médiuns em uma reunião espírita, não é necessário “cruzar os braços ou suspendera a sessão”. 
Ummédium, e sobretudo um bom médium, é incontestavelmente um dos elementos essenciais em toda reunião que se ocupa de Espiritismo; mas seria erro pensar que, em sua falta, nada mais resta que cruzar os braços ou suspender a sessão. 
Absolutamente não compartilhamos a opinião de uma pessoa que compara uma sessão espírita sem médiuns a um concerto sem músicos. A nosso ver, existe uma comparação muito mais justa ─ a do Instituto e de todas as sociedades científicas que sabem empregar o seu tempo sem ter permanentemente sob os olhos o material de experimentação. Vai-se a um concerto ouvir música. É, pois, evidente que se os músicos estiverem ausentes, o objetivo falhou. Mas numa reunião espírita, vamos ─ ou, pelo menos, deveríamos ir ─ para nos instruirmos. A questão agora é saber se não podemos fazê-lo sem o médium. 
 O ensino fundamental que se vem buscar nas reuniões espíritas sérias é, sem dúvida, dado pelos Espíritos. 
Mas que frutos tiraria um aluno das lições dadas pelo mais hábil professor se ele também não trabalhasse? 
Se não meditasse sobre o que ouviu? 
Que progressos faria a sua inteligência se tivesse constantemente o mestre ao seu lado, para lhe mastigar a tarefa e lhe poupar o esforço de pensar?
 Nas reuniões espíritas, os Espíritos desempenham dois papéis:
 uns são professores que desenvolvem os princípios da Ciência, elucidam os pontos duvidosos, e sobretudo ensinam as leis da verdadeira moral; 
outros são material de observação e de estudo, que servem de aplicação.
 
 
Dominada a lição, sua tarefa está acabada e a nossa principiada: 
A DE TRABALHAR NAQUILO QUE NOS FOI ENSINADO, A FIM DE MELHOR COMPREENDERMOS E DE MELHOR APREENDERMOS O SEU SENTIDO E O SEU ALCANCE. 
 
É a fim de nos deixar o tempo livre para cumprirmos o nosso dever ─ permitam-nos a expressão clássica ─ que os Espíritos suspendem, por vezes, as suas comunicações. Bem que eles nos querem instruir, mas com a condição de que lhes secundemos os esforços. Eles se cansam de repetir incessantemente, mas inutilmente, a mesma coisa. Eles advertem. Se não são ouvidos, retiram-se, a fim de termos tempo para refletir.
Na ausência de médiuns, o que fazer? 
Na ausência de médiuns, uma reunião que se propõe algo mais que ver manejar um lápis, tem mil e um meios de empregar o tempo de maneira proveitosa. Limitamo-nos a indicar alguns, sumariamente:
1.º ─ Reler e comentar as comunicações anteriores, cujo estudo aprofundado fará ressaltar melhor o seu valor.
Se alguém alegasse que isto seria fastidioso e monótono, diríamos que ninguém se cansa de ouvir um bonito trecho de música ou de poesia; que depois de haver escutado um sermão eloquente, gostaríamos de o ler com a cabeça fresca; que certas obras são lidas vinte vezes, porque a cada vez nelas descobrimos algo de novo. Aquele que apenas é tocado pelas palavras se aborrece ao ouvir a mesma coisa repetida apenas duas vezes, mesmo que essa coisa seja sublime; sente necessidade de coisas novas para despertar o seu interesse, ou melhor, para distraí-lo. Aquele que raciocina tem um sentido a mais: é mais tocado pelas ideias do que pelas palavras. É por isso que gosta de ouvir mais vezes aquilo que lhe vai ao espírito, sem parar no ouvido.
2.º ─ Narrar os fatos de que se tem conhecimento, discuti-los, comentá-los, explicá-los pelas leis da Ciência Espírita; examinar-lhes a possibilidade ou a impossibilidade; ver o que encerram de provável ou de exagero; distinguir a imaginação da superstição, etc.
3.º ─ Ler, comentar e desenvolver cada artigo de “O Livro dos Espíritos” e de “O Livro dos Médiuns,” bem como todas as outras obras sobre o Espiritismo.
Esperamos nos desculpem citarmos aqui as nossas próprias obras, o que é muito natural, pois que para isso foram escritas. Aliás, não passa isto de uma indicação e não de uma recomendação expressa. Aqueles aos quais elas não convierem podem livremente pô-las de lado. Longe de nós a pretensão de pensar que outros não as possam fazer tão boas ou melhores. APENAS JULGAMOS QUE, ATÉ O MOMENTO, A CIÊNCIA NELAS É ENCARADA DE MODO MAIS COMPLETO DO QUE EM MUITAS OUTRAS, E QUE ELAS RESPONDEM A UM MAIOR NÚMERO DE PERGUNTAS E DE OBJEÇÕES. É POR ESSE MOTIVO QUE AS RECOMENDAMOS. QUANTO AO SEU MÉRITO INTRÍNSECO, SÓ O FUTURO LHES SERÁ O GRANDE JUIZ.
Daremos um dia um catálogo racional das obras que direta ou indiretamente tratam da Ciência Espírita, na Antiguidade e nos tempos modernos, na França e no estrangeiro, entre os autores sacros e os profanos, tão logo tenhamos reunido os elementos necessários. É um trabalho naturalmente muito longo, e ficaremos muito agradecidos às pessoas que quiserem facilitar-nos a tarefa, fornecendo-nos documentos e indicações.
4.º ─ Discutir os vários sistemas de interpretação dos fenômenos espíritas.
Sobre esta matéria, recomendamos a obra do Sr. de Mirville e a do Sr. Louis Figuier, que são as mais importantes. A primeira é rica em fatos do mais alto interesse, colhidos em fontes legítimas. Só a conclusão é contestável, porque vê apenas demônios em toda parte. É certo que o acaso o serviu ao seu gosto, pondo-lhe sob as vistas o que melhor poderia ajudá-lo, ao passo que lhe ocultava os inumeráveis fatos que a própria religião vê como obra dos anjos e dos santos.
L’historie du merveilleux dans les temps modernes, pelo Sr. Figuier, é interessante sob outro ponto de vista. Não se sabe muito bem por que, ali se encontram fatos longa e minuciosamente narrados, mas que vale a pena conhecer. Quanto aos fenômenos espíritas propriamente ditos, ocupam a parte menos considerável dos quatro volumes. Enquanto o Sr. de Mirville tudo explica pelo diabo, quando os outros o explicam pelos anjos, o Sr. Figuier, que nem acredita nos diabos nem nos anjos, nem nos Espíritos, bons ou maus, tudo explica, ou pensa explicar, pelo organismo humano. O Sr. Figuier é um cientista. Escreve com seriedade e se apoia no testemunho de alguns cientistas. Pode-se, pois, considerar o seu livro como a última palavra da Ciência oficial sobre o Espiritismo, e essa palavra é a negação de todo princípio inteligente fora da matéria. É uma pena que a Ciência seja posta a serviço de tão triste causa. Porém, ela, que nos desvenda incessantemente as maravilhas da Criação, e que escreve o nome de Deus em cada folha das plantas e nas asas de cada inseto, não é por isso culpada. Culpados são os que se esforçam para, em nome dela, persuadir que após a morte não restam mais esperanças.
Os espíritas não constituem nem uma sociedade secreta, nem uma afiliação. Eles não devem, pois, ter nenhum sinal secreto para mútua identificação. Eles nada ensinam e nada praticam que não possa ser conhecido por toda a gente e não têm, por consequência nada a ocultar. Um sinal, uma senha, poderiam ademais, ser também usado por falsos irmãos, e o resultado é fácil de ser imaginado. 
Viagem Espírita em 1862, Instruções particulares dadas aos Grupos em resposta a algumas das questões propostas
XI - Sobre o uso de práticas exteriores de cultos nos grupos
Instruções particulares dadas aos Grupos em resposta a algumas das questões propostas – Viagem Espírita em 1862
Devemos iniciar reuniões ou sessões espíritas com preces? 
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Frequentes vezes me tem sido indagado se é útil começar as sessões com preces e atos exteriores de culto religioso. A resposta não é apenas minha, mas também dos Espíritos que trataram deste assunto. 
É, sem dúvida, não apenas útil, PORÉM NECESSÁRIO ROGAR, ATRAVÉS DE UMA INVOCAÇÃO ESPECIAL*, por uma espécie de prece, o concurso dos bons Espíritos. Essa prática predispõe ao recolhimento, condição especial a toda reunião séria. O mesmo não se dá quanto às práticas exteriores de culto, através das quais certos grupos creem dever abrir suas sessões e que têm mais de um inconveniente, apesar da boa intenção com que são sugeridas. 
Tudo nas reuniões espíritas deve se passar religiosamente, isto é, com gravidade, respeito e recolhimento. Mas é preciso não esquecer que o Espiritismose dirige a todos os cultos. 
Verbo evocar
O verbo evocar se refere ao ato de fazer com que algo apareça por meio de chamamento. É maioritariamente usado para fazer o chamamento de algo sobrenatural. Com este sentido, é sinônimo de invocar, chamar e conjurar:
evocar os espíritos;
evocar o diabo;
evocar almas penadas.
Evocar se refere também ao ato de tornar algo presente pela sua lembrança ou na sua imaginação, sendo sinônimo de lembrar, relembrar e recordar:
evocar o passado;
evocar a infância;
evocar um mundo perfeito.
https://duvidas.dicio.com.br/evocar-invocar-ou-avocar/
Verbo invocar
O verbo invocar indica o ato pedir auxílio, bem como o ato de chamar uma divindade ou santo para pedir proteção e ajuda. Neste sentido, pode ser sinônimo de evocar, chamar, conjurar:
invocar a proteção de Deus;
invocar os santos;
invocar a Virgem Maria.
Invocar se refere também ao ato de citar em seu favor, apresentando como algo favorável. 
invocar a lei ou a Constituição;
invocar um privilégio;
invocar o perdão.
https://duvidas.dicio.com.br/evocar-invocar-ou-avocar/
Por conseguinte ele não deve adotar formalidades de nenhum em particular. Seus inimigos já foram muito longe, tentando apresenta-lo como uma seita nova, buscando um pretexto para combatê-lo. 
É preciso, pois, não fortalecer essa opinião pelo emprego de rituais dos quais não deixariam de tirar partido, para dizer que as assembleias espíritas são reuniões de protestantes, de cismáticos, etc. Seria uma leviandade supor que essas fórmulas são de natureza a acomodar certos antagonistas. 
O Espiritismo chamando a si homens de todas as crenças, para uni-los sob o manto da caridade e da fraternidade, habituando-os a se olharem como irmãos qualquer que seja sua maneira de adorar a Deus, NÃO DEVE MELINDRAR AS CONVICÇÕES DE NINGUÉM PELO EMPREGO DE SINAS EXTERIORES DE QUALQUER CULTO. 
São poucas as reuniões espíritas, por menores que sejam os grupos, que, sobretudo na França, não tenham membros ou assistentes pertencentes a diferentes religiões. Se o Espiritismo se colocasse abertamente na área de uma delas, afastaria as outras. Ora, como há espíritas em todas, assistiríamos à formação de grupos católicos, judeus, ou protestantes, assim perpetuando o antagonismo religioso que é missão do Espiritismo abolir.
Esta é, também, uma das razões pela qual deve-se abster, nas reuniões, de discutir dogmas particulares, o que, necessariamente, melindraria certas consciências. As questões morais, entretanto, são de todas as religiões e de todos os países. O Espiritismo é um terreno neutro sobre o qual todas as opiniões poderia nascer da controvérsia. 
Não esqueçais de que a desunião é um dos meios através dos quais os inimigos do Espiritismo buscam atacá-lo.
É com esse fim que eles induzem certos grupos a se ocuparem de questões irritantes ou comprometedoras, sob o pretexto astucioso de que não se deve colocar a luz sob o alqueire. Não vos deixeis prender nessa armadilha! Sejam os dirigentes de grupos firmes na recusa de todas as sugestões deste gênero, se não quiserem passar por cúmplices dessas maquinações. 
O emprego de aparatos exteriores do culto teria idêntico resultado: uma cisão entre os adeptos. Uns terminariam por achar que não são devidamente empregados, outros, pelo contrário, que o são em excesso. Para evitar esse inconveniente, tão grave, ACONSELHAMOS A ABSTENÇÃO DE QUALQUER PRECE LITÚRGICA, SEM EXCEÇÃO MESMO DA ORAÇÃO DOMINICAL POR MAIS BELA QUE SEJA. 
Como, para fazer parte de um grupo espírita, não se exige que ninguém abjure sua religião, permita-se que cada um faça a seu bel prazer e mentalmente, a prece que julgar a propósito. 
O importante é que não haja nada de ostensivo e, sobretudo, NADA DE OFICIAL. O mesmo se pode dizer com relação ao sinal da cruz, ao hábito de se colocar de joelhos, etc... 
Sem essa linha de conduta neutra, não se poderia impedir, por exemplo, que um muçulmano, integrante de um grupo espírita, se prosterne e coloque a face contra a terra, recitando em voz alta sua fórmula sacramental: “Só há um Deus e Maomé é o seu profeta!” 
O inconveniente não existe quando as preces feitas em intenção de qualquer pessoa, são independentes de todo e qualquer culto particular. 
Dito tudo isso, creio supérfluo salientar o quanto haveria de ridículo em fazer-se toda uma assistência repetir em coro uma prece ou fórmula qualquer, como alguém me afirmou já ter visto ser praticado.
Deve ficar bem entendido que o que acaba de ser dito não se aplica senão aos grupos e sociedades, constituídos de pessoas estranhas umas às outras, porém nunca em reuniões íntimas de família, nas quais, naturalmente, cada pessoa é livre de agir como bem entender, uma vez que, em tal ambiente, não se corre o risco de melindrar a ninguém. 
O Evangelho segundo o Espiritismo Capítulo XXVIII - Coletânea de preces espíritas 
I - Preces gerais » Reuniões espíritas
Onde quer que se encontrem duas ou três pessoas reunidas em meu nome, eu com elas estarei. (S. MATEUS, 18:20.)
Estarem reunidas, em nome de Jesus, duas, três ou mais pessoas, não quer dizer que basta se achem materialmente juntas. É preciso que o estejam espiritualmente, em comunhão de intentos e de ideias, para o bem. Jesus, então, ou os Espíritos puros, que o representam, se encontrarão na assembleia. 
O espiritismo nos faz compreender como podem OS ESPÍRITOS ACHAR-SE ENTRE NÓS. COMPARECEM COM SEU CORPO FLUÍDICO OU ESPIRITUAL E SOB A APARÊNCIA QUE NOS LEVARIA A RECONHECÊ-LOS, SE SE TORNASSEM VISÍVEIS. Quanto mais elevados são na hierarquia, tanto maior é neles o poder de irradiação; é assim que eles possuem o dom da ubiquidade e que podem se encontrar em muitos pontos simultaneamente: para isso é suficiente um raio de seu pensamento.
Dizendo as palavras acima transcritas, quis Jesus mostrar o efeito da união e da fraternidade. O que o atrai não é o maior ou menor número de pessoas que se reúnam, pois, em vez de duas ou três, houvera ele podido dizer dez ou vinte, mas o sentimento de caridade que reciprocamente as anime. Ora, para isso, basta que elas sejam duas. 
Contudo, se essas duas pessoas oram cada uma por seu lado, embora dirigindo-se ambas a Jesus, não há entre elas comunhão de pensamentos, sobretudo se não estão movidas por um sentimento de mútua benevolência. 
Se se olham com prevenção, com ódio, inveja ou ciúme, AS CORRENTES FLUÍDICAS DE SEUS PENSAMENTOS, longe de se conjugarem por um comum impulso de simpatia, REPELEM-SE. Nesse caso, não estarão reunidas em nome de Jesus, que, então, não passa de pretexto para a reunião, não o tendo este por verdadeiro motivo. (Cap. XXVII, nº 9.)
Isso não significa que ele seja surdo à voz de uma única pessoa; e se ele não disse: “Atenderei a todo aquele que me chamar”, é que, antes de tudo, exige o amor do próximo, do qual se pode dar mais provas quando são muitos, e distanciados de todo sentimento pessoal, do que no isolamento. 
Segue-se que, se, NUMA ASSEMBLEIA NUMEROSA, SOMENTE DUAS OU TRÊS PESSOAS SE UNEM DE CORAÇÃO, PELO SENTIMENTO DE VERDADEIRA CARIDADE, ENQUANTO AS OUTRAS SE ISOLAM E SE CONCENTRAM EM PENSAMENTOS EGOÍSTAS OU MUNDANOS, ELE ESTARÁ COM AS PRIMEIRAS E NÃO COM AS OUTRAS. Não é, pois, a simultaneidade das palavras, dos cantos ou dos atos exteriores que constitui a reunião em nome de Jesus, mas a comunhão de pensamentos, em concordância com o espírito de caridade que ele personifica. (Cap. X, nos 7 e 8; cap. XXVII, nos 2 a 4.)
Capítulo 29 – Reuniões e sociedades
O Livro dos Médiuns
324. As reuniões espíritas podem oferecer grandes vantagens, pois permitem o esclarecimento pela permuta de pensamentos, pelas perguntas e observações feitas por qualquer um, de que todos podem aproveitar-se. Mas para se obterem resultados desejáveis, requerem condições especiais que vamos examinar, porque seria errôneo tratá-las como as das sociedades comuns. Aliás, constituindo-se as reuniões em verdadeiros todos coletivos o que a elas concerne é uma consequência natural das instruções individuais dadas anteriormente. Devem elas tomar as mesmasprecauções e preservar-se das mesmas dificuldades referentes aos indivíduos. Foi por isso que deixamos este capítulo por último.
As reuniões espíritas diferem muito quanto às suas características, segundo os seus propósitos. E por isso mesmo a sua constituição deve também diferir. Segundo sua natureza elas podem ser frívolas, experimentais ou instrutivas.
325. As reuniões frívolas constituem-se de pessoas que só se interessam pelo aspecto de passatempo que elas podem oferecer através das manifestações de Espíritos levianos, que gostam de se divertir nessas espécies de reunião, pois nelas gozam de inteira liberdade. É nessas reuniões que se costumam pedir as coisas mais banais, que se pedem aos Espíritos a predição do futuro, que se experimentam a sua perspicácia para adivinhar a idade das pessoas, o que elas trazem nos bolsos, revelar pequenos segredos e mil outras coisas dessa importância.
				
Essas reuniões são inconsequentes, mas como os Espíritos levianos são às vezes bastante inteligentes, e em geral bem humorados e joviais, acontecem frequentemente coisas bastante curiosas, de que o observador pode tirar proveito. AQUELE QUE SÓ TIVESSE PRESENCIADO ESSAS SESSÕES E JULGASSE O MUNDO DOS ESPÍRITOS SEGUNDO ESSA AMOSTRA, TERIA DELE UMA IDEIA MUITO FALSA, como a de alguém que julgasse toda a população de uma grande cidade pela de alguns dos seus bairros. O simples bom senso nos diz que os Espíritos elevados não podem comparecer a reuniões dessa espécie, e que as pessoas presentes são tão inconsequentes como as entidades manifestantes. Quem quiser se ocupar de coisas fúteis deve naturalmente evocar Espíritos levianos, como numa reunião social chamariam comediantes para se divertirem. Mas haveria profanação em convidar pessoas de nomes veneráveis, misturando assim o sagrado com o profano.				
Um Duende
Revista Espírita- Março 1859 – Conversas Familiares de Além-Túmulo 
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O Sr. J..., um dos nossos companheiros na Sociedade, por diversas vezes tinha visto chamas azuis passeando sobre o seu leito. Certos de que se tratava de uma manifestação, tivemos a ideia de evocar um desses Espíritos, na sessão de 20 de janeiro último, a fim de nos instruirmos sobre a sua natureza.
1. ─ (Evocação).
─ Mas que queres de mim?
2. ─ Com que fim te manifestaste em casa do Sr. J...?
─ Que te importa?
3. ─ Em verdade, a mim pouco importa, mas para o Sr. J... é diferente.
─ Ah! Que boa razão!
NOTA: Estas primeiras perguntas foram feitas pelo Sr. Kardec. O Sr. J... continuou o interrogatório.
 
4. ─ É que eu não recebo qualquer um em minha casa, de boa vontade.
─ Estás enganado. Eu sou muito bom.
5. ─ Faze-me então o favor de dizer o que vens fazer em minha casa.
─ Julgas acaso que, pelo fato de ser bom, eu te devo obedecer?
6. ─ Disseram-me que és um Espírito leviano.
─ Pois neste caso julgaram-me muito mal.
7. ─ Se é calúnia, prova-o.
─ Eu não ligo.
8. ─ Eu bem poderia empregar um meio de te fazer dizer quem és.
─ Palavra que isto me divertiria um pouco.
9. ─ Intimo-te a que digas o que vens fazer em minha casa.
─ Tinha um único propósito: divertir-me.
10. ─ Isto não concorda com o que me foi dito pelos Espíritos superiores.
─ Fui mandado a tua casa e tu sabes a razão. Estás satisfeito?
11. ─ Então mentiste?
─ Não.
12. ─ Não tinhas, então, más intenções?
─ Não. Disseram-te o mesmo que eu.
13. ─ Podes dizer qual a tua categoria entre os Espíritos?
─ Tua curiosidade me agrada.
14. ─ Desde que pretendes ser bom, por que não respondes de modo mais conveniente?
─ Porventura eu te insultei?
15. ─ Não, mas por que respondes de maneira evasiva e te recusas a dar-me as explicações que te peço?
─ Tenho a liberdade de fazer o que quero, entretanto sob o comando de certos Espíritos.
16. ─ Ainda bem! Vejo com prazer que começas a ser mais razoável, por isso prevejo que iremos ter relações amigáveis.
─ Deixa de conversa fiada. Será muito melhor.
17. ─ Sob que forma aqui estás?
─ Não tenho nenhuma forma.
18. ─ Sabes o que é o perispírito?
─ Não, a não ser que seja o vento.
19. ─ Que poderia eu fazer para te ser agradável?
─ Já te disse. Cala-te.
20. ─ A missão que vieste desempenhar em minha casa te fez progredir como Espírito?
─ Isto é outro assunto. Não me faças tais perguntas. Sabes que obedeço a certos Espíritos. Dirige-te a eles. Quanto a mim, deixa-me ir.
21. ─ Porventura teríamos tido más relações numa outra existência, o que seria a causa de teu mau humor?
─ Não te recordas de quanto disseste mal de mim e a quem quisesse ouvir? Cala-te, digo-te eu.
22. ─ Eu só digo de ti aquilo que me foi dito por Espíritos superiores a teu respeito.
─ Também disseste que eu te havia obsidiado.
23. ─ Ficaste satisfeito com o resultado obtido?
─ Isso é problema meu.
24. ─ Queres então que conserve de ti uma opinião desfa­vorável?
─ É possível. Vou-me embora.
 
OBSERVAÇÃO: Pelas conversas relatadas podemos ver a diversidade extrema existente na linguagem dos Espíritos, conforme o seu grau de elevação. A dos Espíritos desta natureza é caracterizada quase sempre pela grosseria e pela impaciência. Quando chamados a reuniões sérias, percebe-se que não vêm de boa vontade e têm pressa de partir, porque não se sentem à vontade no meio de seus superiores e de pessoas que os apertam com perguntas. Já não acontece o mesmo NAS REUNIÕES FRÍVOLAS, ONDE AS PESSOAS SE DIVERTEM COM AS SUAS FACÉCIAS. Ali estão em seu ambiente e se regalam.
326. As reuniões experimentais têm mais particularmente por finalidade A PRODUÇÃO DE MANIFESTAÇÕES FÍSICAS. Para muitas pessoas representam um espetáculo mais curioso do que instrutivo. Os incrédulos saem delas mais espantados do que convencidos, quando não tenham visto outra coisa, e se voltam inteiramente para a procura de possíveis artifícios, nada entendendo do que viram supõem naturalmente a existência de truques. Acontece inteiramente o contrário com os que estudaram o assunto. Estes compreendem de antemão a possibilidade das ocorrências e os fatos positivos determinam assim a consolidação de suas convicções. Por outro lado, se houvessem truques, eles estariam em condições de descobri-los.
Apesar disso, essas espécies de experimentação têm uma utilidade que ninguém poderia negar, pois FORAM ELAS QUE LEVARAM A DESCOBERTA DAS LEIS QUE REGEM O MUNDO INVISÍVEL, E PARA MUITAS PESSOAS SÃO AINDA UNS PODEROSOS MOTIVOS DE CONVICÇÃO. Mas sustentamos que ELAS NÃO SÃO SUFICIENTES PARA INICIAR ALGUÉM NA CIÊNCIA ESPÍRITA, pois o simples fato de ver um mecanismo engenhoso não pode dar o conhecimento da mecânica para quem não esteja informado das suas leis. Contudo, se essas experiências fossem dirigidas com método e prudência poderia obter-se resultados bem melhores. Voltaremos logo a tratar deste assunto.
O Espírito batedor de Aube
Revista Espírita, janeiro de 1861.
Um dos nossos assinantes nos transmite detalhes muito interessantes sobre manifestações que se deram, e se dão ainda agora, numa localidade do departamento de Aube, cujo nome silenciaremos, uma vez que a pessoa em cuja casa ocorrem os fenômenos não gosta de ser assaltada por numerosas visitas de curiosos, que não deixariam de ir procurá-la. Essas manifestações barulhentas já lhe produziram vários dissabores. Aliás, o nosso correspondente nos conta os fatos como testemunha ocular e nós o conhecemos bastante para sabê-lo digno de confiança.
Extraímos as passagens mais interessantes de seu relato: “Há quatro anos, em 1856, na cidade onde resido, em casa do Sr. R..., deram-se manifestações que, até certo ponto (...) As manifestações haviam cessado há muito tempo e o Sr. R... julgava-se livre delas quando, há pouco tempo, recomeçaram como outrora. Então pude ser testemunha durante vários dias seguidos. Assim, contarei o que vi com meus próprios olhos.
“A pessoa que é objeto dessas manifestações é o filho do Sr. R..., de dezesseis anos e que, portanto, tinha doze quando as manifestações ocorreram por primeira vez. É um rapaz de inteligência excessivamente limitada, que não sabe ler nemescrever e que raramente sai de casa. (...) Os fenômenos geralmente se produzem a partir do momento em que o menino se deita e começa a dormir. Durante o sono ele fala ao Espírito com autoridade e assume o tom de comando de um perfeito oficial superior, apesar de jamais ter assistido a exercícios militares. Simula um combate, comanda a manobra, conquista a vitória e se julga nomeado general no campo de batalha. Quando ordena ao Espírito que dê umas tantas pancadas, acontece por vezes que este dá mais do que lhe é ordenado. Então o menino pergunta: “Como farás para tirar as pancadas que deste a mais?” Aí, o Espírito se põe a raspar, como se apagasse alguma coisa. Quando o menino comanda, fica numa grande agitação e por vezes grita tão forte que a voz se extingue numa espécie de estertor. Sob comando, o Espírito bate todas as marchas francesas e estrangeiras, mesmo as dos chineses. Não lhes pude verificar a exatidão, pois não as conheço. Mas frequentemente acontecia que o menino dissesse: “Não é assim! Recomece!” E o Espírito obedecia. Devo dizer de passagem que, durante o sono e comandando, o menino é muito grosseiro.
“Uma noite eu assistia a uma dessas cenas. Havia cinco horas que o filho R... se achava em grande agitação. Experimentei acalmá-lo por meio de passes magnéticos. Logo, porém, tornou-se furioso e revolveu toda a cama. No dia seguinte deitou-se à minha chegada e, como de costume, adormeceu em poucos minutos. Então as pancadas e arranhaduras começaram. De repente ele disse ao Espírito: “Vem cá; eu vou te adormecer.” E com grande surpresa nossa, magnetizou-o, apesar da resistência do Espírito, que parecia recusar-se, segundo depreendo de sua conversa. Depois o despertou, desmagnetizando-o como o teria feito um magnetizador profissional. Percebi, então, que dava a impressão de recolher muito fluido, que me atirou em cima, apostrofando-me e injuriando-me. Ao despertar, não tem nenhuma lembrança do que aconteceu.
Longe de se atenuarem, os fatos se agravam mais e mais, de modo aflitivo, para exasperação do Espírito, que certamente teme perder o domínio que exerce sobre o rapaz. Eu quis perguntar-lhe o nome e os antecedentes, mas só obtive mentiras e blasfêmias. AQUI É OCASIÃO DE ADVERTIR QUE QUANDO FALA, ELE O FAZ PELA BOCA DO RAPAZ, QUE LHE SERVE DE MÉDIUM FALANTE. Em vão tentei despertar-lhe melhores sentimentos por meio de boas palavras. Ele me responde que a prece de nada lhe serve; que experimentou aproximar-se de Deus, mas só encontrou gelo e nevoeiro. Então me chama de beato e, sempre que oro mentalmente, observo que se enfurece e bate com redobrada intensidade. Diariamente traz objetos muito volumosos, ferro, cobre, etc. Quando lhe pergunto onde os obtém, responde que os tira de gente desonesta. Se lhe prego moral, fica furioso. Uma noite me disse que se eu insistisse quebraria tudo e que não iria embora antes da Páscoa. Depois cuspiu-me no rosto. Perguntado por que motivo assim se ligava ao jovem R..., respondeu: “Se não fosse este, seria um outro.” O próprio pai não está livre dos assaltos desse Espírito malévolo. Muitas vezes seu trabalho é interrompido porque aquele lhe bate, puxa-lhe as roupas e o belisca até sangrar.
“Fiz o que foi possível, mas já não tenho recursos. Ademais, é muito difícil obter bons resultados, tendo em vista que o senhor e a senhora R..., a despeito do desejo de livrar-se do Espírito, porque ele lhes ocasionou verdadeiros prejuízos, sendo obrigados a trabalharem para viver, NÃO ME AJUDAM, POIS SUA FÉ EM DEUS NÃO TEM MUITA CONSISTÊNCIA.” 
Omitimos uma porção de detalhes que apenas corroborariam aquilo que relatamos. Contudo, dissemos o bastante para mostrar que se pode dizer desse Espírito, como de certos malfeitores, que ele é da pior espécie.
Na sessão da Sociedade de 9 de novembro último foram dirigidas a São Luís as seguintes perguntas a respeito:
1. ─ Teríeis a bondade de dizer-nos alguma coisa sobre o Espírito que obsidia o jovem R...?
─ A inteligência do moço é das mais fracas, e quando o Espírito se apodera dele, fica completamente alucinado, principalmente pelo fato de seu corpo estar mergulhado no sono. Assim, o raciocínio não tem nenhum domínio sobre seu cérebro, que é entregue à obsessão desse Espírito turbulento.
2. ─ Pode um Espírito relativamente superior exercer sobre outro uma ação magnética e paralisar as suas faculdades?
─ UM BOM ESPÍRITO NADA PODE SOBRE OUTRO A NÃO SER MORALMENTE. Nunca fisicamente. A fim de PARALISAR PELO FLUIDO MAGNÉTICO, É PRECISO AGIR SOBRE A MATÉRIA, E O ESPÍRITO NÃO É MATÉRIA SEMELHANTE A UM CORPO HUMANO.
3. ─ Como, então, pretende o jovem R... magnetizar o Espírito e adormecê-lo?
─ ELE ASSIM O IMAGINA, E O ESPÍRITO SE PRESTA À ILUSÃO.
4. ─ O pai deseja saber se não haveria um meio de se desembaraçar desse hóspede importuno; se ainda por muito tempo seu filho estaria sujeito a essa prova...
─ Quando o jovem estiver desperto dever-se-á, junto com ele, evocar bons Espíritos, a fim de o pôr em contato com estes e, por tal meio, afastar os maus, que o obsidiam durante o sono.
5. ─ Poderíamos agir daqui, evocando esse Espírito, a fim de moralizá-lo, ou talvez o próprio Espírito do rapaz?
─ Talvez não seja possível no momento. Eles são ambos muito materializados. É necessário agir diretamente sobre o corpo do ser vivo, por meio da presença de bons Espíritos, que virão até ele.
6. ─ Não compreendemos bem a resposta.
─ Digo que é necessário chamar o concurso de bons Espíritos, que poderão tornar o rapaz menos acessível às impressões do mau Espírito.
7. ─ Que poderemos fazer por ele?
─ O mau Espírito que o obsidia não o largará facilmente, desde que não é fortemente repelido por ninguém. Vossas preces e vossas evocações são uma arma fraca contra ele. SERIA NECESSÁRIO AGIR DIRETA E MATERIALMENTE SOBRE A PESSOA A QUEM ELE ATORMENTA. PODEIS ORAR, POIS A PRECE É SEMPRE BOA. NÃO O CONSEGUIREIS, ENTRETANTO, POR VÓS MESMOS, SE NÃO FORDES SECUNDADOS POR AQUELES MAIS INTERESSADOS NO CASO, A SABER, O PAI E A MÃE. Infelizmente, estes não têm aquela fé em Deus que centuplica as forças, e Deus não ouve senão aqueles que a ele se dirigem com confiança. Assim, não podem queixar-se de um mal que nada fazem para evitar.
8. ─ Como conciliar a sujeição desse jovem ao império de tal Espírito, com a autoridade que sobre ele exerce o jovem, de vez que ele ordena e o Espírito obedece?
─ O ESPÍRITO DESSE MOÇO É POUCO ADIANTADO MORALMENTE, MAS É MAIS AVANÇADO DO QUE SE PENSA, EM INTELIGÊNCIA. Em outras existências abusou de sua inteligência, não dirigida para um fim moral, mas, ao contrário, para objetivos ambiciosos. Agora encontra-se em punição num corpo que não lhe permite livre curso à inteligência e o mau Espírito aproveita a sua fraqueza. Ele se deixa levar em questões sem importância, porque o sabe incapaz de lhe ordenar coisas sérias. Ele se diverte. A TERRA FORMIGA DE ESPÍRITOS ASSIM, EM PUNIÇÃO EM CORPOS HUMANOS. EIS POR QUE HÁ TANTOS MALES DE TODOS OS MATIZES.
OBSERVAÇÃO: A observação vem confirmar esta explicação. Durante o sono, o menino mostra uma inteligência incontestavelmente superior à de seu estado normal, o que prova um desenvolvimento anterior, mas reduzido a estado latente sob esse envoltório grosseiro. É SÓ NOS MOMENTOS DE EMANCIPAÇÃO DA ALMA, NOS QUAIS NÃO SOFRE TANTO A INFLUÊNCIA DA MATÉRIA, QUE SUA INTELIGÊNCIA SE EXPANDE, E NO QUAL TAMBÉM EXERCE UMA ESPÉCIE DE AUTORIDADE SOBRE O SER QUE O SUBJUGA. Mas quando retorna ao estado de vigília, suas faculdades se aniquilam sob o envoltório material que a comprime. Não está aí um ensino moral prático?
Revelamos o desejo de evocar esse Espírito, mas nenhum dos médiuns presentes se interessou em servir-lhe de intérprete. A Srta. Eugênia, que também havia mostrado repugnância, repentinamente tomou do lápis num movimento involuntário e escreveu:
1. ─ Não queres? Ah! Tu escreverás. Oh! Pensas que não te dominarei? Pois bem! Eu aqui estou, mas não te espantas muito. Eu te farei ver minha força.
NOTA: Então o Espírito faz a médium desferir um soco na mesa e quebrarvários lápis. 
2. ─ Já que está aqui, diga-nos por que motivo se ligou filho do Sr. R...
─ Até parece que eu teria que vos fazer confidências! Para começar, sabei que tenho uma grande necessidade de atormentar alguém. UM MÉDIUM DOTADO DE RACIOCÍNIO ME REPELIRIA. EU ME APEGO A UM IDIOTA QUE NÃO ME OPÕE NENHUMA RESISTÊNCIA.
 
. ─ NOTA: Alguém ponderou que, a despeito desse ato de covardia, esse Espírito não deixa de ter inteligência. Ele responde sem que lhe tenham perguntado diretamente:
─ Um pouco. Não sou tão tolo quanto pensais.
4. ─ Que era você em vida?
─ Não era grande coisa: um homem que fez mais mal do que bem, pelo que é cada vez mais castigado.
5. ─ Considerando-se que você é punido por ter praticado o mal, deve compreender a necessidade de fazer o bem. Não quer tratar de se melhorar?
─ Se quisésseis ajudar-me, eu perderia menos tempo.
6. ─ Não pedimos mais que isso, mas é necessário que você tenha vontade. Ore conosco. Isto o ajudará.
(Aqui o Espírito dá uma resposta blasfematória).
7. ─ CHEGA! NÃO QUEREMOS OUVIR MAIS. ESPERÁVAMOS DESPERTAR EM VOCÊ ALGUNS SENTIMENTOS BONS. Foi com este objetivo que o chamamos. Mas desde que você responde a nossa benevolência com palavras vis, pode retirar-se.
─ Ah! Aqui termina a vossa caridade! Porque pude resistir um pouco, vejo que essa caridade logo estaca. É que não valeis mais do que eu. Sim, poderíeis moralizar-me mais do que pensais, se soubésseis conduzir-vos de acordo, para começar, no interesse do idiota que sofre, no do pai que não se assusta muito e finalmente no meu, se assim vos agrada.
8. ─ Diga-nos o seu nome, a fim de que possamos chamá-lo.
─ Oh! Meu nome pouco vos importa. Chamai-me, se quiserdes, o Espírito do jovem idiota.
9. ─ Se quisemos fazê-lo calar é porque disse uma palavra sacrílega.
─ Ah! ah! O senhor chocou-se! Para saber o que há na lama é preciso revolvê-la.
10. Alguém diz: ─ Esta imagem é digna do Espírito. É ignóbil.
─ Quereis poesia, moço? Ei-la: Para conhecer o perfume da rosa é necessário cheirá-la.
11. ─ Desde que você disse que poderíamos ajudá-lo, um dos presentes se oferece para instruí-lo. Quer atendê-lo quando for evocado?
─ Para começar, quero ver se me convém. (Depois de uns instantes de reflexão acrescenta:) Sim; irei.
12. ─ Por que se enfurecia o filho do Sr. R... quando o Sr. L... queria magnetizá-lo?
─ Não era ele que se encolerizava. Era eu.
13. ─ Por quê?
─ Não tenho nenhum poder sobre esse homem, que me é superior, por isso não posso suportá-lo. Ele quer arrebatar-me aquele que tenho sob meu domínio, e isso eu não quero.
14. ─ Você deve ver ao seu redor Espíritos mais felizes que você. Sabe por quê?
─ Sim, eu sei. Eles são melhores do que eu.
15. ─ Compreende então que, se em lugar de fazer o mal, fizesse o bem, você seria feliz como eles?
─ Não desejava mais que isso, mas é difícil fazer o bem.
16. ─ Talvez difícil para você, mas não impossível. Você compreende que a prece pode exercer grande influência em sua melhora?
─ Não digo que não. Refletirei sobre isso. Chamai-me algumas vezes.
OBSERVAÇÃO: Como se vê, o Espírito não desmentiu o seu caráter. Entretanto, mostrou-se menos recalcitrante no fim, o que prova que não é inteiramente impermeável ao raciocínio. Ele dispõe de remédio mas é preciso um concurso de vontades ora inexistentes a fim de dominá-lo inteiramente. Isto deve ser um ensinamento para as pessoas que poderiam achar-se em casos semelhantes.
Sem dúvida esse Espírito é muito mau e pertence à escória do mundo espírita. Pode-se dizer que é brutalmente mau, mas que em seres dessa categoria há mais recursos que nos hipócritas. SEM SOMBRA DE DÚVIDA SÃO MUITO MENOS PERIGOSOS QUE OS ESPÍRITOS FASCINADORES QUE, COM O AUXÍLIO DE CERTA DOSE DE INTELIGÊNCIA E UMA FALSA APARÊNCIA DE VIRTUDE, SABEM INSPIRAR EM CERTAS PESSOAS UMA CEGA CONFIANÇA EM SUAS PALAVRAS, CONFIANÇA DE QUE MAIS CEDO OU MAIS TARDE SERÃO VÍTIMAS, PORQUE ESSES ESPÍRITOS JAMAIS AGEM COM VISTAS AO BEM. ELES TÊM SEMPRE UMA SEGUNDA INTENÇÃO. O “Livro dos Médiuns” terá como resultado ─ assim o esperamos ─ pôr-nos em guarda contra suas sugestões, o que, seguramente, lhes não agradará. Como é bem de ver, entretanto, tão pouco nos inquietamos com sua má vontade quanto com a dos Espíritos encarnados que eles podem estimular contra nós. Do mesmo modo que os homens, os maus Espíritos não veem com bons olhos aqueles que, desmascarando as suas torpezas, lhes tiram os meios de fazer o mal.
327. AS REUNIÕES INSTRUTIVAS têm características inteiramente diversas, e como é nelas que podemos obter o verdadeiro ensinamento, insistiremos particularmente nas condições em que devem realizar-se.
A primeira de todas é a de manterem a SERIEDADE em toda a acepção do termo. É necessário que todos estejam convencidos de que os Espíritos a que desejam dirigir-se pertencem a uma natureza especial, que o sublime não podendo se misturar ao banal, nem o bem com o mal, se desejam obter bons resultados é necessário nos dirigirmos aos Espíritos bons. Devemos, COMO CONDIÇÃO EXPRESSA, estar em situação favorável para que eles queiram atender-nos. Ora, os Espíritos superiores não comparecem às reuniões de homens levianos e superficiais, como não compareceriam quando estavam encarnados.
Uma sociedade não é verdadeiramente séria se não se ocupar de assuntos úteis, com exclusão de todos os outros. Se ela deseja obter fenômenos extraordinários por curiosidade ou passatempo, os Espíritos que os produzem poderão comparecer, mas os outros se afastarão. Numa palavra, conforme o caráter da reunião ela sempre encontrará Espíritos dispostos a atender às suas tendências. Uma reunião séria afasta-se da sua finalidade se troca o ensinamento pelo divertimento. As manifestações físicas têm a sua utilidade, como já dissemos. AQUELES QUE DESEJAM VER DEVEM PARTICIPAR DE REUNIÕES EXPERIMENTAIS, E OS QUE DESEJAM COMPREENDER DEVEM DIRIGIR-SE A REUNIÕES DE ESTUDOS. É assim que uns e outros poderão completar a sua instrução espírita, como no estudo da medicina uns vão aos cursos e outros à clínica.
328. A INSTRUÇÃO ESPÍRITA NÃO COMPREENDE SOMENTE O ENSINO MORAL DADO PELOS ESPÍRITOS, MAS TAMBÉM O ESTUDO DOS FATOS. 
Abrange a teoria dos fenômenos, a pesquisa das causas, e como consequência a constatação do que é possível e do que não é, ou seja: a observação de tudo quanto possa fazer que a ciência se desenvolva. 
Seria errôneo acreditar que os fatos estejam limitados aos fenômenos extraordinários, que os que tocam principalmente os sentidos sejam os únicos dignos de atenção. 
Encontram-se a cada passo fatos importantes nas comunicações inteligentes, que as pessoas reunidas, para o estudo não poderiam negligenciar. 
Esses fatos, que seria impossível enumerar surgem de numerosas circunstâncias fortuitas. Embora menos gritantes, não são de menor interesse para o observador que neles encontra a confirmação de um princípio conhecido ou a revelação de um novo princípio, que o leva a penetrar mais fundo nos mistérios do mundo invisível. Nisso há também filosofia.
329. As reuniões de estudo são ainda de grande utilidade para os médiuns de manifestações inteligentes, sobretudo para os que desejam seriamente aperfeiçoar-se e POR ISSO MESMO NÃO COMPARECEM A ELAS COM A TOLA PRESUNÇÃO DA INFALIBILIDADE. 
Uma das grandes dificuldades da prática mediúnica, como já dissemos, encontra-se na OBSESSÃO E NA FASCINAÇÃO. 
Eles poderiam, pois, iludir-se de muito boa fé quanto ao mérito das comunicações obtidas. Compreende-se que os Espíritos enganadores encontram caminho aberto quando lidam com a pessoa ignorante do assunto. É por isso que procuram afastar o médium de todo o controle, chegando mesmo, quando necessário, a fazê-lo tomar aversão a quem quer que possa esclarecê-lo. GRAÇAS AO ISOLAMENTO E À FASCINAÇÃO, PODEM FACILMENTE LEVÁ-LO A ACEITAR TUDO O QUE QUISEREM.
Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-SA-NC
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Nunca repetiríamos demasiado: aí está não somente uma dificuldade, mas um PERIGO. Sim, podemosdizê-lo um verdadeiro perigo. 
O único meio de escapar a ele é submeter-se o MÉDIUM AO CONTROLE DE PESSOAS DESINTERESSADAS E BONDOSAS, que, julgando as comunicações com frieza e imparcialidade, possam abrir-lhe os olhos elevá-los a perceber o que não pode ver por si mesmo. 
Ora, todo médium que teme esse julgamento já se encontra no caminho da obsessão. Aquele que pensa que a luz só foi feita para ele já está completamente subjugado. Leva-se a mal as observações e as repele, irritando-se com elas, não há dúvida quanto à natureza má do Espírito que o assiste.
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Já dissemos que um médium pode carecer dos conhecimentos necessários para compreender os erros, que pode se deixar enganar pelas palavras bonitas e pela linguagem pretensiosa, deixando-se seduzir pelos sofismas, TUDO ISSO NA MAIOR BOA FÉ.
 Eis porque, na falta de suas próprias luzes, deve modestamente recorrer às luzes dos outros, segundo os ditados populares de que quatro olhos vêem melhor do que dois e de que ninguém é um bom juiz em causa própria. 
É desse ponto de vista que as reuniões são de grande utilidade para o médium, se ele for bastante sensato para ouvir os conselhos, porque nelas se encontram pessoas mais esclarecidas do que ele, capaz de perceber os matizes frequentemente muito delicados, pelos quais o Espírito revela a sua inferioridade.
Todo médium que sinceramente não queira se transformar em instrumento da mentira deve procurar produzir nas reuniões sérias, levando para elas o que tiver obtido em particular. 
Deve aceitar com reconhecimento, e até mesmo solicitar o exame crítico das comunicações. 
Se estiver assediado por Espíritos enganadores será esse o meio mais seguro de se livrar deles, provando-lhes que não o podem enganar. 
Aliás, o médium que se irrita com a crítica, tanto menos razão tem para isso quanto o seu amor próprio não está envolvido no assunto, pois se O QUE ESCREVE NÃO É DELE, ao ler a má comunicação a sua responsabilidade é semelhante à de quem lesse os versos de um mau poeta.
Insistimos nesse ponto porque se é ele um tropeço para os médiuns, também o é para as reuniões que não devem confiar levianamente em todos os intérpretes dos Espíritos. 
O concurso de qualquer médium obsedado ou fascinado lhes seria mais prejudicial do que útil. Elas não devem aceitá-lo. 
Julgamos já haver desenvolvido o suficiente para mostrar-lhes que NÃO PODEM ENGANAR-SE QUANTO ÀS CARACTERÍSTICAS DA OBSESSÃO, se o médium não for capaz de reconhecê-la por si mesmo. 
Uma das mais evidentes é sem dúvida a pretensão de estar sozinho com a razão, contra todos os demais. Os médiuns obsedados que não querem reconhecer a sua situação assemelham-se a esses doentes que se iludem quanto à saúde, perdendo-se por não se submeterem ao regime necessário.
330. O que uma reunião séria deve se propor como objetivo é livrar-se dos Espíritos mentirosos. Ela estaria em erro ao considerar-se livre deles tão somente pela sua finalidade e pela qualidade dos seus médiuns. Só o conseguirá quando houver criado para si mesma as condições favoráveis.
Para bem compreender o que se passa nestas circunstâncias remetermos o leitor ao que dissemos atrás, no nº 231, sobre a influência do meio. É necessário representar CADA INDIVÍDUO COMO CERCADO POR UM CERTO NÚMERO DE COMPANHEIROS INVISÍVEIS QUE SE IDENTIFICAM COM O SEU CARÁTER, OS SEUS GOSTOS E AS SUAS TENDÊNCIAS. 
Assim, TODA PESSOA QUE ENTRE NUMA REUNIÃO LEVA CONSIGO OS ESPÍRITOS QUE LHES SÃO SIMPÁTICOS. Segundo o seu número e a sua natureza, esses companheiros podem exercer sobre a reunião e sobre as comunicações uma influência boa ou má. 
Uma reunião perfeita seria aquela em que todos os membros, animados do mesmo amor pelo bem, só levassem consigo Espíritos bons. Na falta da perfeição, a melhor reunião será aquela em que o bem supere o mal. Tudo isso é muito lógico para que seja necessário insistir.
331. Uma reunião é um ser coletivo cujas qualidades e propriedades são as dos seus membros, formando uma espécie de feixe. Ora, esse feixe será tanto mais forte quanto mais homogêneo. 
Se ficar bem compreendido o que foi dito no nº 282, pergunta 5, sobre a maneira porque os Espíritos são avisados quando os chamamos, será fácil entender o poder de associação de pensamento dos assistentes.
 SE O ESPÍRITO FOR DE QUALQUER MANEIRA ATINGIDO PELO PENSAMENTO, COMO NÓS SOMOS PELA VOZ, vinte pessoas unidas numa mesma intenção terão necessariamente mais força que uma só. 
Mas para que todos os pensamentos concorram para o mesmo fim é necessário que vibrem em uníssono, que se confundam por assim dizer em um só, o que não pode se dar sem concentração.
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Por outro lado, o Espírito, chegando a um meio que lhe é inteiramente simpático, sente-se mais à vontade. Só encontrando amigos, comparece de boa vontade e mais disposto a responder. Quem quer que tenha seguido com alguma atenção as manifestações espíritas inteligentes pode certamente se convencer desta verdade. 
Se os pensamentos forem divergentes, provocam um entrechoque de ideias desagradáveis para o Espírito e portanto prejudicial à manifestação. Acontece o mesmo com um homem que deve falar numa reunião.
 Se sentir que todo os pensamentos lhe são simpáticos e favoráveis, a impressão que recebe age sobre as suas ideias e lhe dá maior vivacidade. 
A unanimidade dessa influência EXERCE SOBRE ELE UMA ESPÉCIE DE AÇÃO MAGNÉTICA QUE DECUPLICA OS RECURSOS, enquanto a indiferença ou a hostilidade o perturba e paralisa.
É assim que os atores sentem-se eletrizados pelos aplausos. Ora, sendo os Espíritos bem mais impressionáveis que os homens, devem sofrer muito mais a influência do meio.
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Toda reunião espírita deve pois procurar a maior homogeneidade possível. Falamos, bem entendido, das que desejam chegar a resultados sérios e verdadeiramente úteis. Se simplesmente se querem obter quaisquer comunicações, não se importando com a qualidade, é evidente que todas essas precauções não são necessárias. Mas então não se deve lamentar a qualidade do produto.
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Conversas de além-túmulo - Srta. Clary d...
Revista Espírita , Fevereiro 1858 
SENHORITA CLARY D... ─ EVOCAÇÃO 
NOTA: A Senhorita Clary D... interessante menina, falecida em 1850, aos 13 anos de idade, desde então ficou como o gênio da família, onde é evocada com frequência e onde dá um grande número de comunicações do mais alto interesse. A conversa que damos a seguir ocorreu entre nós a 12 de janeiro de 1857, por intermédio de seu irmão, que é médium.
1. ─ Você tem lembrança precisa de sua existência corporal?
─ O Espírito vê o presente, o passado e um pouco do futuro, conforme sua perfeição e sua proximidade de Deus.
2. ─ Esta condição de perfeição é relativa apenas ao futuro, ou se refere igualmente ao presente e ao passado?
─ O Espírito vê o futuro mais claramente à medida que se aproxima de Deus. Depois da morte, a alma vê e abarca de um relance todas as passadas migrações, mas NÃO PODE VER AQUILO QUE DEUS lhe prepara. Para isto é preciso que esteja inteiramente em Deus, há muitas existências.
3. ─ Sabe em que época será sua reencarnação?
─ Em 10 ou em 100 anos.
4. ─ Na Terra ou em outro mundo?
─ Num outro.
5. ─ O mundo para onde irá, comparado com a Terra, terá condições melhores, iguais ou inferiores?
─ Muito melhores que as da Terra. Lá se é feliz.
6. ─ Visto que você se encontra aqui entre nós, está em um lugar determinado? Em que lugar?
─ Estou em APARÊNCIA ETÉREA. Posso dizer que meu Espírito propriamente dito estende-se muito mais longe. Vejo muitas coisas e me transporto muito longe daqui com a velocidade do pensamento. Minha aparência está à direita de meu irmão e guia-lhe o braço.
7. ─ Esse corpo etéreo de que se reveste permite-lhe experimentar sensações físicas, como, por exemplo, decalor e de frio?
─ Quando me lembro muito de meu corpo sinto uma espécie de impressão, como quando se tira um manto e se fica com a sensação de que, por algum tempo, ainda se está com ele.
8. ─ Você disse que pode transportar-se com a velocidade do pensamento. O pensamento não é a própria alma que se desprende de seu envoltório?
─ Sim.
9. ─ Quando seu pensamento se dirige a alguma parte, como se dá a separação de sua alma?
─ A APARÊNCIA SE DESVANECE. O pensamento vai só.
10. ─ É, pois, uma faculdade que se destaca; o ser fica onde está?
─ A FORMA NÃO É O SER.
11. ─ Mas como age esse pensamento? Não age sempre por meio da matéria?
─ Não.
12. ─ Quando sua faculdade de pensar se destaca, você não age, então, por meio da matéria?
─ A sombra se desvanece E REPRODUZ-SE ONDE O PENSAMENTO A GUIA.
13. ─ Considerando-se que você tinha apenas 13 anos quando seu corpo morreu, como é que, sobre perguntas tão abstratas, pode nos dar respostas que estão fora do alcance de uma criança de sua idade?
─ Minha alma é muito antiga!
14. ─ Entre suas existências anteriores pode citar-nos uma na qual tivesse elevado ao máximo os seus conhecimentos?
─ Estive no corpo de um homem que tornei virtuoso. Depois de sua morte, estive no corpo de uma menina cujo rosto estampava a própria alma. Deus me recompensa.
15. ─ Poderia ser-nos permitido vê-lo aqui tal qual é atualmente?
─ Poderia.
16. ─ Como seria possível? Depende de nós, de você ou das pessoas mais íntimas?
─ De vocês.
17. ─ Que condições deveríamos satisfazer para consegui-lo?
─ Vocês se recolherem por algum tempo, com fé e fervor; estarem em menor número; isolarem-se um pouco e arranjarem um médium do gênero de Home*.
*médiuns de efeitos físicos, de aparições, tangibilidade. 
332. A concentração e a comunhão de pensamentos sendo as condições necessárias de toda reunião séria, compreende-se que o grande número de assistentes é uma das causas mais contrárias à homogeneidade. 
Não há, é certo, nenhum limite absoluto para esse número.
 Compreende-se que cem pessoas, suficientemente concentradas a atentas, estarão em melhores condições do que dez pessoas distraídas e barulhentas. 
Mas é também evidente que quanto maior o número, mais dificilmente se preenchem essas condições.
É aliás um fato provado pela experiência que os pequenos círculos íntimos são sempre mais favoráveis às boas comunicações, e isso pelos motivos que expusemos.
333. Outra exigência não menos necessária é a da REGULARIDADE DAS SESSÕES. 
Em todas sempre encontramos Espíritos que poderíamos chamar de frequentadores habituais, mas não nos referimos a esses Espíritos que estão por toda parte e em tudo se intrometem. 
Falamos dos Espíritos protetores ou dos que são mais frequentemente evocados. 
Não se pense que esses Espíritos nada mais tenham a fazer do que nos dar atenção. Eles têm as suas ocupações e podem às vezes encontrar-se em condições desfavoráveis à evocação. 
Quando as reuniões se realizam em dias e horas fixos, eles se colocam à disposição nesses momentos e raramente faltam. 
Há mesmo os que levam a pontualidade ao excesso. Ofendem-se com o atraso de um quarto de hora, e se foram eles que marcaram uma reunião será inútil iniciá-la alguns minutos antes.
Mas acentuemos que embora os Espíritos prefiram a regularidade OS VERDADEIRAMENTE SUPERIORES NÃO SÃO TÃO METICULOSOS. 
A exigência de rigorosa pontualidade é sinal de INFERIORIDADE, como tudo o que é pueril. 
Mesmo fora das horas marcadas eles podem comparecer, e na verdade comparecem espontaneamente quando a finalidade é útil. 
Nada, entretanto, é mais prejudicial à recepção de boas comunicações do que evocá-los a torto e a direito, por simples capricho ou sem um motivo sério. 
Como não estão sujeitos aos nossos caprichos, poderiam não nos atender. E É SOBRETUDO NESSAS OCASIÕES QUE OUTROS PODEM TOMAR-LHES O LUGAR E O NOME.
Das Sociedades Propriamente Ditas
334. Tudo o que dissemos sobre as reuniões em geral aplica-se naturalmente às sociedades regularmente constituídas. Estas entretanto têm de lutar contra algumas dificuldades especiais decorrentes dos próprios liames entre os seus membros. Dos numerosos pedidos que temos recebido, de informações sobre a sua constituição abaixo algumas de nossas explicações.
O Espiritismo, que apenas acaba de nascer, é apreciado de maneiras diversas e muito pouco compreendido na sua essência por grande número de adeptos, para oferecer condições suficientes de união geral entre os seus membros para se formar uma associação.
Não poderão existir estas condições a não ser entre os que compreendam os seus objetivo moral e procuram integrar-se nele.
 Entre os que só o vêem através dos fatos mais ou menos curiosos nenhum elemento sério de ligação poderia existir.
 Colocando os fatos acima dos princípios, uma simples divergência na maneira de considerá-los provocaria a divisão.
Já não se daria o mesmo no tocante aos primeiros, porque sobre a questão moral não podem existir duas maneiras de ver. Também é fato que, por onde quer que se encontrem uma confiança mútua sempre os liga.
A benevolência recíproca, reinando entre eles, afasta todo constrangimento e retraimento originados da SUSCETIBILIDADE, DO ORGULHO QUE SE IRRITA COM A MENOR CONTRADIÇÃO, DO EGOÍSMO que só se interessa por si. 
Uma sociedade em que esses sentimentos dominassem, onde os seus membros se reunissem com o fim de se instruírem e não com a esperança de ver apenas novidades, ou para fazer prevalecer a sua opinião, seria não somente, mas também indissolúvel.
A dificuldade de reunir ainda numerosos elementos dessa maneira homogênea leva-nos a dizer, que NO INTERESSE DOS ESTUDOS E PARA O BEM DA PRÓPRIA CAUSA, AS REUNIÕES ESPÍRITAS DEVEM MULTIPLICAR-SE MAIS PELA CONSTITUIÇÃO DE PEQUENOS GRUPOS do que de grandes associações. 
Esses grupos, correspondendo-se entre si, visitando-se, permutando suas observações podem desde logo formar um núcleo da grande família espírita que um dia reunirá todas as opiniões, unindo os homens no mesmo sentimento e fraternidade caracterizados pela caridade cristã.
335. Já vimos como é importante à uniformidade de sentimentos para obtenção de bons resultados. 
Essa uniformidade é naturalmente mais difícil de se obter quando o número de pessoas é maior. 
Nas pequenas reuniões, onde todos se conhecem melhor, tem-se mais segurança na introdução de elementos novos. 
O silêncio e a concentração tornam-se mais fáceis e tudo se passa como em família. 
As grandes assembleias não permitem a intimidade pela variedade de elementos de que se compõem.
Exigem locais especiais, recursos pecuniários e um aparelhamento administrativo que os pequenos grupos dispensam. 
A DIVERGÊNCIA DE CARACTERES, DE IDEIAS, DE OPINIÕES se revelam melhor, oferecendo aos Espíritos perturbadores mais facilidade para semear a discórdia.
Quanto mais numerosa a reunião, mais difícil de se contentar a todos. 
Cada um queria que os trabalhos fossem dirigidos a seu gosto, que fossem tratados de preferência os assuntos que mais lhe interessam, e alguns julgariam que o título de sócio lhes daria o direito de impor os seus pontos de vista. 
DAÍ SURGIRIAM PROTESTOS, CAUSAS DE MAL ESTAR QUE LEVAM CEDO OU TARDE À DESUNIÃO E DEPOIS À DISSOLUÇÃO, sorte de todas as sociedades de qualquer finalidade. 
Os pequenos grupos não estão sujeitos a essas dificuldades. 
A queda de uma grande sociedade pareceria um insucesso para a causa espírita e seus inimigos não deixariam de explorá-la. 
A dissolução de um pequeno grupo passa despercebida, e se um se dispersa, vinte outros se formam a seguir. 
Ora, vinte grupos de quinze a vinte pessoas obterão mais e farão mais para a divulgação do que uma assembleia de trezentas e quatrocentas pessoas.
Dir-se-á por certo que os membros de uma sociedade, agindo como dissemos, não seriam verdadeiros espíritas, desde que o primeiro dever que a doutrina impõe é o da caridade e da benevolência. 
Isso é perfeitamente justo. 
E por isso os que assim pensam SÃO ESPÍRITAS MAIS DE NOME QUE DE FATO.
Não pertencem à terceira categoria(Ver nº 28). Mas quem diria que podem mesmo ser chamados de espíritas? Aqui se apresenta uma consideração de certa gravidade.
Variantes de “espíritas”
Capítulo 3 de O LIVRO DOS MÉDIUNS
28. Entre os que se convenceram estudando diretamente os assuntos podemos distinguir:
Espíritas Experimentadores: Os que acreditam pura e simplesmente nas manifestações. Consideram o Espiritismo como uma simples ciências de observação, apresentando uma série de fatos mais ou menos curiosos. 
Espíritas imperfeitos: Os que não se interessam apenas pelos fatos e compreendem o aspecto filosófico do Espiritismo, ADMITINDO A MORAL QUE DELE DECORRE, MAS SEM A PRATICAREM. A influência da Doutrina sobre o seu caráter é insignificante ou nula. Não modificam em nada os seus hábitos e não se privariam de nenhum de seus prazeres. O avarento continua insensível, o orgulhoso cheio de amor próprio, o invejoso e os ciumentos sempre agressivos. Para eles, a caridade cristã não passa de uma bela máxima. 
Verdadeiros Espíritas: Os que não se contentam em admirar apenas a moral espírita, mas a praticam e aceitam todas as suas consequências. Convictos de que a existência terrena é uma prova passageira, tratam de aproveitar os seus breves instantes para avançar na senda do progresso, única que pode elevá-los de posição no Mundo dos Espíritos, esforçando-se para fazer o bem e reprimir as suas más tendências. Sua amizade é sempre segura, porque a sua firmeza de convicção os afasta de todo mau pensamento. A caridade é sempre a sua regra de conduta.
Há, por fim, os ESPÍRITAS EXALTADOS. A espécie humana seria perfeita, se preferisse sempre o lado bom das coisas. O exagero é prejudicial em tudo. No Espiritismo ele produz uma confiança cega e frequentemente pueril nas manifestações do mundo invisível, fazendo aceitar muito facilmente e sem controle aquilo que a reflexão e o exame demonstrariam ser absurdo ou impossível, pois o entusiasmo não esclarece, ofusca. ESTA ESPÉCIE DE ADEPTOS É MAIS NOCIVA DO QUE ÚTIL A CAUSA DO ESPIRITISMO. São os menos capazes de convencer, porque se desconfia com razão do seu julgamento. 
São enganados facilmente por Espíritos mistificadores ou por pessoas que procuram explorar a sua credulidade. Se apenas eles tivessem de sofrer as consequências o mal seria melhor, mas o pior é que oferecem, embora sem querer, motivos aos incrédulos que mais procuram zombar do que se convencer e não deixam de imputar a todos o ridículo de alguns. Isso não é justo nem racional, sem dúvida, mas os adversários do Espiritismo, como se sabe, só reconhecem como boa a sua razão e pouco se importam de conhecer a fundo aquilo de que falam.
336. Não nos esqueçamos de que o Espiritismo tem inimigos interessados em impedir-lhe o desenvolvimento e que vêem com despeito os seus sucessos. 
Os mais perigosos não são os que o atacam abertamente, mas OS QUE AGEM NA SOMBRA, OS QUE O ACARICIAM COM UMA DAS MÃOS E O APUNHALAM COM A OUTRA. 
Esses seres malfazejos se infiltram por toda à parte onde possam fazer mal. Sabendo que a união é uma força trata de destruí-la, semeando a discórdia.
 Quem poderá então dizer que os que provoquem perturbações nas reuniões não sejam agentes provocadores, interessados na desordem? Seguramente não são verdadeiros nem bons espíritas, pois não podem fazer o bem e sim muito mal. 
Compreende-se que tenham muito mais facilidade de se infiltrar nas reuniões numerosas do que nos pequenos grupos em todos se conhecem. 
Graças a manobras escusas, que passam despercebidas, semeiam a dúvida, a desconfiança e a inimizade. 
Sob a aparência de interesse pela causa CRITICAM TUDO, FORMAM GRUPINHOS que logo rompem a harmonia do conjunto. 
É o que eles querem. 
Tratando com essas pessoas É INÚTIL APELAR AOS SENTIMENTOS DE CARIDADE E FRATERNIDADE, SERIA COMO FALAR A SURDOS VOLUNTÁRIOS, porque o seu objetivo é precisamente o de destruir esses sentimentos que são o maior obstáculo às suas manobras. 
Essa situação, prejudicial a todas as sociedades, o é ainda mais às sociedades espíritas, pois se não levar a uma ruptura provocará preocupações incompatíveis com o recolhimento exigido pelos trabalhos.
 homens sensatos e bem intencionados não terão o direito de crítica e deverão deixar que o mal se efetue sem nada dizer, aprovando-o pelo silêncio?
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337. Se a reunião encaminhar-se mal — poderão perguntar — os homens sensatos e bem intencionados não terão o direito de crítica e deverão deixar que o mal se efetue sem nada dizer, aprovando-o pelo silêncio? 
Não há dúvida que esse direito lhes assiste, constitui-se mesmo num dever, mas se a intenção for realmente boa eles farão a sua advertência de maneira conveniente e benévola, abertamente e não com subterfúgios. 
Se não forem ouvidos, SE RETIRARÃO.
Porque não se conceberia que quem não estivesse de segunda intenção se obstinasse a permanecer numa sociedade de cuja orientação discordasse.
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Pode-se pois estabelecer em princípio que todo aquele que numa reunião espírita provoca desordem ou desunião, ostensivamente ou por meios escusos, é um agente provocador ou pelo menos um mau espírita de que se deve desembaraçar o quanto antes. 
Entretanto os próprios compromissos que ligam os membros de uma sociedade criam obstáculos para isso. 
Eis porque é conveniente evitar as formas de compromissos indissolúveis: os homens de bem sempre se ligam de maneira conveniente; OS MAL INTENCIONADOS SEMPRE O FAZEM DE MANEIRA EXCESSIVA.
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Admissão de novos elementos nos grupos
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338. Além das pessoas notoriamente malévolas que se infiltram nas reuniões há as que, por temperamento, levam a perturbação onde comparecem. 
Dessa maneira nunca será demasiado O CUIDADO NA ADMISSÃO DE NOVOS ELEMENTOS. 
Os mais prejudiciais, nesse caso, não são os ignorantes da matéria, nem mesmo os descrentes.
 A CONVICÇÃO SÓ SE ADQUIRE ATRAVÉS DA EXPERIÊNCIA, e há pessoas de boa fé que querem se esclarecer. 
Aqueles contra os quais particularmente se devem acautelar são as PESSOAS DOTADAS DE IDEIAS PRECONCEBIDAS, OS INCRÉDULOS SISTEMÁTICOS QUE DUVIDAM DE TUDO, MESMO DA EVIDÊNCIA, OS ORGULHOSOS QUE PRETENDEM TER O PRIVILÉGIO DA VERDADE e procuram impor sempre a sua opinião olhando com desdém os que não pensam como eles. 
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Não vos enganeis com o seu pretenso desejo de esclarecimento.
 Encontrareis vários que se sentiriam aborrecidos se fossem obrigados a concordar que estavam errados. 
Guardai-vos sobretudo desses oradores insípidos que sempre querem falar por último e dos que só se comprazem na contradição. 
Uns e outros fazem perder tempo sem proveito, nem mesmo para eles. 
OS ESPÍRITOS NÃO GOSTAM DE PALAVREADOS INÚTEIS.
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339. Diante da necessidade de evitar toda a causa de perturbação e distração, uma sociedade espírita que se organiza deve pôr toda sua atenção nas medidas destinadas a evitar os fatores de desordem e os motivos de prejuízos, facilitando os meios de afastá-los. 
As pequenas reuniões necessitam de um regulamento disciplinar bem simples para ordem das sessões. 
As sociedades regularmente constituídas exigem uma organização mais completa.
 A melhor será a de sistema menos complicado. Umas e outras poderão tirar o que lhes for aplicado, que creiam lhes ser útil, do regulamento da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas que damos logo adiante.
340. As sociedades, pequenas ou grandes e todas as reuniões, seja qual for a sua importância, têm ainda de lutar contra outra dificuldade. Os fatores de perturbação não se encontram somente entre os seus membros, mas também no mundo invisível. Assim como HÁ ESPÍRITOS PROTETORES PARA AS INSTITUIÇÕES, AS CIDADES E OS POVOS, OS ESPÍRITOS MALFEITORES TAMBÉM SE LIGAM AOS GRUPOS E

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