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8ºAula Processo argumentativo: Por que aprendê-lo? Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • refletir acerca do processo argumentativo; • diferenciar os conceitos de argumentação, convencimento e persuasão. Olá pessoal, tudo bem até aqui? Espero que sim. Primeiramente, quero lançar alguns questionamentos retóricos, mas, por favor, pensem a respeito, pois eles são cruciais para o desenrolar da nossa última reflexão. Vamos lá? 1. Quando perdemos a “razão” em uma discussão? 2. Por que o “outro” (ou eu) precisa(o) GRITAR para se(me) manter no controle da situação? 3. Em quais momentos somos levados a fazer o que não queremos e/ou concordamos? 4. O que leva uma pessoa a ter o “possível” controle da situação? Perguntas simples? Complexas? Ao respondê-las usamos criticidade ou nos limitamos ao senso comum? Pois bem, certamente cada uma delas irá ganhar força durante as próximas páginas. Então, vamos emergir nesse oceano de possibilidades e reflexões com o intuito de crescermos enquanto profissionais e seres humanos. Afinal, a língua portuguesa também envolve a oralidade, não apenas a escrita e leitura. E, quem sabe argumentar se sai melhor em qualquer situação profissional! Avante, o mundo é nosso! Bons estudos! 42 1 – O processo argumentantivo e suas imbricações 2 – Argumentar, convencer e persuadir: Abordagens conceituais Seções de estudo 1 - O processo argumentantivo e suas imbricações “[...] vitimados por uma educação desestimulante, submetidos ao julgamento crítico da opinião pública, massifi cados pela mídia, vivemos nossas vidas adiando ou perdendo nossos sonhos e isso nos torna infelizes” (ABREU, 2009, p.09). A epígrafe que inaugura nossa última aula nos coloca para pensar sobre a grande relevância que a educação exerce em nossas vidas, uma vez que nem sempre encontramos dentro do sistema educacional condições para irmos além das nossas limitações e produzimos requisitos suficientes para galgarmos um espaço no mercado de trabalho que exige uma formação que vá além das estruturas curriculares. Infelizmente, nos deparamos com sistemas ineficazes, profissionais desestimulados e condições precárias e limitadas dentro das escolas públicas (aqui falando em caráter de Brasil); claro que temos professores e gestores empenhados e que conseguem desenvolver um trabalho significativo capaz de impulsionar seus discentes a irem além do óbvio. No entanto, pesquisas nos revelam que há muito que ser feito para que realmente possamos ter condições de sairmos das escolas preparados para enfrentamos o “mundo”. Todavia, sabemos que todo esse descaso não é gratuito, pelo contrário, pois uma sociedade analfabeta, sem criticidade e sem condições de argumentar a favor dos seus direitos é muito mais fácil de ser manipulada, uma vez que o conhecimento é o corolário dos detentores do saber. Com isso, chegamos ao coração da nossa discussão, haja vista que o nosso objetivo é entendermos como funciona o processo argumentativo, o porquê de tantas pessoas possuírem poder sobre nossas vidas e a “facilidade” que alguns exercem na vida dos “outros”. Diante disso, nos compete verificarmos o que seja argumentar. Para tanto, contaremos com a leitura de um livro basilar da área: “A arte de argumentar: gerenciando razão e emoção” de Antônio Suárez Abreu. Diante disso, o autor nos coloca para pensar sobre o que seja argumentar: Segundo o senso comum, argumentar é vencer alguém, forçá-lo a submeter-se à nossa vontade. Defi nição errada! Von Clausewitz, o gênio militar alemão, utiliza-a para defi nir GUERRA e não ARGUMENTAÇÃO. Seja em família, no trabalho, no esporte ou na política, saber argumentar é, em primeiro lugar, saber integrar-se ao universo do outro. É também obter aquilo que queremos, mas de modo cooperativo e construtivo, traduzindo nossa verdade dentro da verdade do outro (ABREU, 2009, p.10). Ao lermos a citação em evidência possivelmente alguns pensamentos povoaram nossa mente, não!? Quantas vezes fomos submetidos a gritos do “outro”, pois esse não possuía argumentos para continuar o diálogo? Ou quantas vezes fizemos uso desse artificio na falta de condições para defendermos o que almejávamos e/ou nos sentimos acuados? Não, essa não é uma aula de autoajuda, fiquem tranquilos. O objetivo é muito maior. O foco aqui é entendermos que alguns posicionamentos que vivenciamos com frequência precisam ser repensados, pois estão totalmente ligados as nossas ações e possivelmente refletirá em nosso sucesso, ou não, profissional e pessoal. Vamos pensar! Quais tipos de clientes iremos encontrar em nosso dia a dia? Quantas explosões de humor? Falta de controle? De argumentos? Tudo isso, e muito mais, possivelmente resultará em ações que teremos que aprender a lidar, certo!? Então, vamos refletir: certamente eu não terei condições de conhecer o universo do outro, entender suas frustações e limitações, no entanto, eu possuo condições de administrar as minhas atitudes. Aqui, chegamos a outro ponto crucial do processo argumentativo. Tal, como nos coloca Abreu: EU preciso aprender a integrar o universo do outro. Fácil, evidentemente que não, mas trabalharemos em prol de adquirir tal competência. Para tanto, convido vocês a lerem nosso próximo subitem que objetiva vislumbrar sobre o gerenciamento de informação e de relação. Vamos lá! 1.1 - Gerenciando informação e gerenciando relação Durante nossas aulas frisamos muito acerca da importância em praticarmos a leitura e a escrita, uma vez que o binômio: ler e escrever, nos propicia condições para exercermos nossa cidadania com criticidade. Entretanto, percebemos que a condição para dominarmos tais atividades não é simplória, pelo contrário, exige muito de cada um de nós; e nem sempre fomos iniciados neste universo com possibilidades suficientes para termos domínio. Todavia, se faz notório a urgência em termos tais práticas como prioritárias em nossas vidas, pois são cruciais, já que estamos inseridos em uma sociedade grafocêntrica. No entanto, não podemos ser inocentes e acreditamos em tudo que lemos. Precisamos ler sim, mas questionando sempre o texto como produto e não como verdade pronta e acabada, haja vista que atrás de cada autor há ideologias a serem propagadas. Tendo isso firmado o outro cuidado a ser tomado é entender que as informações adquiridas por meio da leitura não são suficientes, uma vez que elas precisam ser transformadas em conhecimentos. Nesse sentido, Abreu (2009, p.11) valida que “já é coisa sabida que o mais importante não são as informações em si, mas o ato de transformá-las, em conhecimento”. Nesse ponto o autor nos leva a refletir acerca do gerenciamento de informação. Pois bem, e o que é gerenciar relação? Em linhas gerais, é o que acabamos de ler, ou seja, administrar o que chega até nós 43 1 - Argumentar, convencer e persuadir: abordagens conceituais com criticidade. A favor de uma melhor compreensão vamos ler o fragmento que segue: [...] Enquanto a Viena se reunia em cafeterias para discutir ideias, a Viena pobre procurava por “ambientes aquecidos” para se proteger do frio, ler os jornais, se manter informadas e tomar uma tigela de sopa. Esses jornais mostravam-lhes que seus problemas tinham uma única causa – os judeus. O prefeito Lueger era declaradamente antissemita e sabia que conseguiria apoio de maneira muito fácil ao jogar a culpa – falsamente – pelas difíceis condições nos empresários judeus. “Tudo menos os judeus”. Disse ele certa vez (SCHLOSS, 2013, p. 31). O excerto que acabamos de ler encontra-se no livro “Depois de Auschwitz: o emocionante relato da irmã de Anne Frank que sobreviveu ao holocausto” de Eva Scholoss. Enquanto lia o livro supracitado separei um tempo para refletir sobre o gerenciamento de informações, pois o discurso propagado no período pelos seguidores do Hitler foi responsável pela “verdade” difundida entre parte da população adepta aonazismo. Por favor, não sou favorável ao nazismo, pelo contrário, mas o que quero validar é o poder da fala, da escrita, da oratória, do discurso e das informações vinculadas e que chegam até nós. Vamos ler novamente a citação em destaque. Observemos que o caos havia sido instaurado, faltavam mantimentos, empregos e condições básicas de sobrevivência, junto a tudo isso a informação vinculada era de que os judeus estavam com todos os benefícios. Com isso, uma onda de ódio foi acesa. Ao certo, essas pessoas não tinham conhecimento sobre o que de fato acontecia, mas informatividade que não foram verificadas, nem questionadas. Compreenderam o que é gerenciar informação? Qualquer dúvida me escreva, por favor. Agora, vamos pensar sobre o gerenciamento de relação. Quantas vezes repetimos algo que já foi dito com o objetivo de asseguramos ao outro nosso sentimento? Pois bem, gerenciar relação faz parte da nossa construção enquanto seres humanos. Nesse prisma, Abreu pontua que “é no relacionamento com o outro que nos vamos construindo como pessoas humanas e ganhando condições de sermos felizes” (2009, p.20). Pessoas humanas, exatamente isso. A redundância não é gratuita. Infelizmente, muitas pessoas são apenas pessoas. E esse gerenciar de relação não se limita as nossas relações íntimas, mas todas que integram nosso universo. Ademais, é importante validarmos que muitas vezes essas relações nos afetam e nos causam danos físicos e/ou psicológicos. Diante disso, precisamos pensar acerca desse gerenciar. Observem o que Abreu nos diz: Muitas vezes, temos medo do poder do outro e por isso nos retraímos. Muitas pessoas temem o poder de seus chefes, de pessoas de nível social mais elevado, às vezes de seus próprios pais, maridos e esposas. A primeira grande verdade que temos de aprender é que NÓS ATURAMOS OS DÉSPOSTAS QUE NÓS QUEREMOS ATURAR. O poder que alguém tem sobre mim é uma concessão minha! Explosões de raiva, ameaças, acusações não revelam poder, mas fraqueza! Minhas ações são a fonte do poder do outro (2009, p.20). Forte, não!? Eu sei que muitas vezes não temos a possibilidade de sair da situação de forma instantânea, que isso pode levar tempo. No entanto, o que quero frisar para vocês e para mim é que nesse gerenciar de relação eu também tenho voz, ou seja, também compete a “mim” modificar o cenário. Ao certo, quero que cada um tenha consigo após a leitura do fragmento supracitado o poder que temos e que não devemos nos acomodar diante de situações desconfortáveis, mas termos sabedoria para sabermos a hora de dizermos adeus ao que não nos faz bem. Gerenciar relação faz parte do nosso dia a dia, lembre-se disso! E o que seria argumentar? Quais técnicas são necessárias para que eu possa argumentar com veemência? Pensem um pouco sobre isso. Quando vocês se sentem sem argumentos? E quando vocês possuem argumentos? O despreparo para algumas conversas, execução de trabalhos nos deixam ser argumentos, certo? E com isso o resultado esperado dificilmente sairá como almejávamos. Diante disso, vamos ver o que o estudioso Abreu nos diz: Argumentar é a arte de convencer e persuadir. Convencer é saber gerenciar informação, é falar à razão do outro, demostrando, provando. Etimologicamente, signifi ca VENCER JUNTO COM O OUTRO (com + vencer) e não CONTRA o outro. Persuadir é saber gerenciar relação, é falar à emoção do outro [...] Mas em que CONVENCER se diferencia de PERSUADIR? Convencer é construir algo no campo das ideias. Quando convencemos alguém, esse alguém passa a pensar como nós. Persuadir é construir no terreno das emoções, é sensibilizar o outro para agir. Quando persuadirmos alguém, esse alguém realiza algo que desejamos que ele realize (2009, p. 25). Vamos analisar a citação em evidência. Observem que o ato de convencer está relacionado à razão. Para uma melhor compreensão exemplificaremos: Hipoteticamente você deseja cursar odontologia, mas seus pais são fisioterapeutas renomados e possuem uma clínica da cidade em que residem de muito prestígio. Quando ficam sabendo que você está pensando em cursar odontologia argumentam que caso optem por fisioterapia poderá usufruir de todo o conhecimento que ambos possuem, além de dar continuidade a um trabalho de família. Diante dos argumentos trabalhados no campo da razão você pensa e entende que estão com a RAZÃO e modifica sua escolha profissional. Nesse momento ocorreu o convencimento, pois você passou a pensar como seus pais. Agora se os seus “pais” tivessem usado do emocional 44 para conseguirem o que desejavam – certamente não havia acontecido o convencimento, mas sim a persuasão, uma vez que essa trabalha no campo das emoções. Para ficar mais claro: - Mas filho sonhamos tanto com esse momento! Você não pode nos decepcionar. A fisioterapia é o coração dessa família etc. Observem que não foi usado nenhum argumento racional, apenas emocional. “Você” não está pensando como seus pais, mas não tem condições de desapontá-los, pois foi persuadido. Compreenderam a diferença? Qualquer dúvida não hesitem em me escrever! Agora que já sabem a diferença entre convencer e persuadir quero apresentar a vocês o que seja argumentar pela retina do autor que tem sido nosso norte nessa aula. Leiam com atenção, por favor: “Argumentar é, pois, em última análise, a arte de, gerenciando informação, convencer o outro de alguma coisa no plano das ideias e de, gerenciando relação, persuadi-lo, no plano das emoções, a fazer alguma coisa que nós desejamos que ele faça” (ABREU, 2009, p. 26). Nesse momento nossas duas seções de estudos se unem, uma vez que o autor explícita que para dominarmos o processo argumentativo precisamos entender que o processo de gerenciamento de informação está ligado ao convencimento, já que trabalha no campo das ideias; e o processo de gerenciamento de relação está enlaçado com a persuasão, no campo das emoções. Olha que bacana quando as coisas passam a fazer sentido! Não é uma delícia! Por isso amo ensinar e aprender! O fazer SENTIDO é prodigioso e libertador! Retomando a aula Chegamos, enfi m, ao fi nal de nossa última aula! Desejo que tenham gostado e percebido o quanto a linguagem é importante para alcançarmos o sucesso profi ssional independente da área de atuação. Desejo que tenham uma caminhada de sucesso e que sejam persistentes nas difi culdades que encontrarão e que, acima de tudo, sejam felizes e responsáveis nas escolhas! Um forte abraço! Pessoal, tudo bem até aqui? Finalizamos mais uma aula! Vamos relembrar? 1 – O processo argumentantivo e suas imbricações Na nossa primeira seção estudamos sobre o processo argumentativo. Diferenciamos o gerenciar informações do gerenciar relação e de como ambos são importantes em nossas construções argumentativas. 2 – Argumentar, convencer e persuadir: Abordagens conceituais Em nossa segunda seção aprendemos que o ato de argumentar é composto de dois conceitos fulcrais: o convencimento (campo da razão) e a persuasão (campo da emoção). ABREU, Antônio Suarez. A arte de argumentar: gerenciando razão e emoção. 13. Ed. Cotia: Ateliê, 2009. CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. 16.ed. São Paulo: Ática, 2004. Vale a pena Vale a pena ler ABREU, Antônio Suarez. A arte de argumentar: gerenciando razão e emoção. 13. Ed. Cotia: Ateliê, 2009. ABDALA Junior, Benjamin. Literatura, história e política: literaturas de língua portuguesa no século XX. São Paulo: Atelie editorial, 2007. ANDRADE, M. M.; HENRIQUES, A. A Língua Portuguesa: noções básicas para cursos superiores. São Paulo: Atlas, 1992 BARTHES, Roland. Aula. Trad. Leyla PerroneMoisés. São Paulo: Cultrix, 1989. BRANCO, Lúcia; BRANDÃO, Ruth Silviano. A força da Letra: estilo escrita representação. Belo Horizonte: UFMG, 2000. CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. 16.ed. São Paulo: Ática, 2004. CORTINA, Arnaldo. O príncipe de Maquiavel e seus leitores: uma investigação sobre o processo de leitura. São Paulo:Unesp, 2000. CHARTIER, Roger. Os desafios da escrita. Trad. Fulvia M. L Moreto. São Paulo: UNESP, 2002. ______. A aventura do livro: do leitor ao navegador. 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