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Indaial – 2019 GeoGrafia Urbana Prof.ª Talita Cristina Zechner Lenz 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Prof.ª Talita Cristina Zechner Lenz Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: L575g Lenz, Talita Cristina Zechner Geografia urbana. / Talita Cristina Zechner Lenz. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 213 p.; il. ISBN 978-85-515-0378-2 1. Planejamento urbano. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 910.091732 III apresentação Caro acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Geografia Urbana! Nesta disciplina, trataremos de aspectos conceituais e empíricos relacionados à geografia e suas interfaces com o espaço urbano. A geografia urbana procura explicar a distribuição das cidades e as semelhanças e contrastes socioespaciais que existem entre e dentro delas. O tema central da Unidade 1 será “a cidade, o urbano e a urbanização: formulações teórico-conceituais”, que oferece um panorama geral dos assuntos e aspectos que são estudados no plano da geografia urbana. Além de revelar o campo de estudo da geografia urbana, outro ponto central desta unidade consiste em apresentar e discorrer a respeito dos diferentes critérios que podem ser utilizados para classificar os espaços urbanos. Você aprenderá, ainda, quais são os principais agentes produtores do espaço urbano, além de entender o que é urbanização. Na Unidade 1 desta disciplina, você conhecerá o conceito de rede urbana e poderá compreender como ocorre o processo de hierarquização e classificação das cidades. Seguindo este eixo temático, serão apresentadas as principais características do estudo Regiões de Influência das Cidades. Ao final desta primeira unidade, você irá conhecer as contribuições de Milton Santos no estudo da rede urbana brasileira. Na Unidade 2, o foco dos estudos é o espaço urbano brasileiro. A unidade visa apresentar as principais fragilidades dos espaços urbanos brasileiros e, por outro lado, procura realçar algumas experiências positivas advindas das cidades brasileiras. Em se tratando dos problemas urbanos que afetam o Brasil e diversos outros países na atualidade, um dos importantes desafios que se impõe é o uso adequado dos recursos naturais e a busca por alternativas que visem minimizar os danos ambientais decorrentes do aumento da população residente em áreas urbanas, com o intuito de melhor a qualidade de vida da população e também de procurar um convívio mais harmonioso no que se refere à relação sociedade e natureza. Serão analisados aspectos como a rede de saneamento básico, violência urbana e a problemática das favelas. Ainda na Unidade 2, para evidenciar alguns aspectos positivos da urbanização brasileira, serão analisados a experiência de Brasília e de Curitiba. No caso de Brasília, o enfoque está em evidenciar como o planejamento das cidades pode contribuir para a construção de cidades que sejam mais apropriadas e agradáveis para se viver. Ao examinarmos a experiência de Curitiba, atenção especial é dedicada na análise dos espaços IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! urbanos com finalidade de uso direcionada para o lazer, tal como ocorre com os parques urbanos. Outro aspecto a ser tratado será a relação entre o turismo e os espaços urbanos. Vamos conhecer quais são as principais modalidades de turismo que ocorrem neste espaço e qual a relação entre turismo, espaço urbano e patrimônio histórico. Já na Unidade 3, o grande tema de estudo é o Planejamento Urbano. Vamos conhecer os aspectos conceitos do planejamento urbano e tomar contato com os principais instrumentos e ferramentas adotados no exercício de planejar as cidades. Além disso, vamos identificar e analisar alguns aspectos da dimensão ambiental do planejamento urbano. Por fim, o último tópico de estudos irá abordar o conceito de cidades para as pessoas, realçando a questão da mobilidade urbana. Desejo a você uma ótima leitura e uma excelente jornada de estudos! Prof.ª Talita Cristina Zechner Lenz NOTA V VI VII UNIDADE 1 – A CIDADE, O URBANO E A URBANIZAÇÃO: FORMULAÇÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS......................................................................................... 1 TÓPICO 1 – ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA GEOGRAFIA URBANA .............................. 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 O QUE ESTUDA A GEOGRAFIA URBANA? ................................................................................ 4 2.1 O QUE É URBANO? ........................................................................................................................ 9 2.2 OS AGENTES PRODUTORES DO ESPAÇO URBANO ............................................................ 16 2.3 O QUE É URBANIZAÇÃO? ......................................................................................................... 21 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 28 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 29 TÓPICO 2 – O ESTUDO DA GEOGRAFIA URBANA NO BRASIL ............................................ 31 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 31 2 REDE URBANA E FUNÇÕES URBANAS ...................................................................................... 31 2.1 HIERARQUIA URBANA E CLASSIFICAÇÃO DAS CIDADES .............................................. 34 2.2 REDE URBANA BRASILEIRA: HIERARQUIA DAS CIDADES, SEGUNDO O REGIC ...... 38 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 45 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 46 TÓPICO 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DE MILTON SANTOS NA ANÁLISE URBANA ............ 49 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 49 2 AS CONTRIBUIÇÕESDE MILTON SANTOS NA ANÁLISE URBANA ................................ 49 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 59 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 64 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 65 UNIDADE 2 – O ESPAÇO URBANO BRASILEIRO ........................................................................ 69 TÓPICO 1 – DESAFIOS NOS ESPAÇOS URBANOS BRASILEIROS ......................................... 71 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 71 2 A QUESTÃO DO SANEAMENTO BÁSICO .................................................................................. 72 3 O PROBLEMA DA VIOLÊNCIA URBANA E A QUESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA ...... 86 4 AS FRAGILIDADES DA QUESTÃO DA HABITAÇÃO NO BRASIL: FAVELAS E SEUS PROBLEMAS DE URBANIZAÇÃO .................................................................................... 93 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................102 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................104 TÓPICO 2 – ASPECTOS POSITIVOS DA URBANIZAÇÃO BRASILEIRA .............................107 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................107 2 A EXPERIÊNCIA DE BRASÍLIA .....................................................................................................107 3 A EXPERIÊNCIA DE CURITIBA .....................................................................................................115 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................128 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................129 sUmário VIII TÓPICO 3 – O ESPAÇO URBANO E O TURISMO........................................................................131 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................131 2 TURISMO NOS ESPAÇOS URBANOS .........................................................................................131 3 TURISMO CULTURAL E PATRIMÔNIO .....................................................................................134 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................139 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................143 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................145 UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO URBANO ...................................................................................147 TÓPICO 1 – O QUE É PLANEJAMENTO URBANO? ...................................................................149 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................149 2 O QUE É PLANEJAMENTO URBANO E QUAL SUA RELEVÂNCIA PARA AS CIDADES? ............................................................................................................................................150 2.1 ETAPAS DO PLANEJAMENTO URBANO ...............................................................................161 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................169 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................171 TÓPICO 2 – A DIMENSÃO AMBIENTAL DO PLANEJAMENTO URBANO .........................173 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................173 2 COMPONENTES DA QUALIDADE AMBIENTAL URBANA .................................................173 3 PROCESSOS DE DEGRADAÇÃO E RECUPERAÇÃO DO AMBIENTE URBANO ...........180 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................185 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................187 TÓPICO 3 – A CIDADE PARA AS PESSOAS .................................................................................189 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................189 2 CIDADE PARA PESSOAS, MOBILIDADE URBANA E ESPAÇOS PÚBLICOS ..................190 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................201 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................204 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................205 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................207 1 UNIDADE 1 A CIDADE, O URBANO E A URBANIZAÇÃO: FORMULAÇÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir dos estudos desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer o campo de estudo da geografia urbana; • aprender quais critérios são utilizados para classificar os espaços urbanos; • reconhecer quais são os agentes produtores do espaço urbano; • entender o que é urbanização; • conhecer o conceito de rede urbana; • compreender o processo de hierarquização e classificação das cidades; • reconhecer as principais características do estudo das regiões de influência das cidades; • conhecer as contribuições de Milton Santos no estudo da rede urbana brasileira. Esta unidade está organizada em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA GEOGRAFIA URBANA TÓPICO 2 – O ESTUDO DA GEOGRAFIA URBANA NO BRASIL TÓPICO 3 – CONTRIBUIÇÕES DE MILTON SANTOS NA ANÁLISE URBANA BRASILEIRA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA GEOGRAFIA URBANA 1 INTRODUÇÃO O objetivo deste tópico é apresentar a Geografia Urbana enquanto campo de estudos. Para tanto, inicialmente será examinado quais as possibilidades de análise que este campo disciplinar oferece e quais são as abordagens usualmente empregadas. Em seguida, discute-se o conceito de urbano procurando apontar quais são os elementos fundamentais que o caracterizam. Avançando, será discutido o conceito de urbanização, realçando as nuances que este conceito adquire no âmbito da Geografia. O debate a respeito da geografia urbana toma força na atualidade, tendo em vista que a maior parte da população mundial reside em áreas urbanas. Além disso, mesmo aquela que vivem além dos limites administrativos ou funcionais de uma cidade terão seu estilo de vida influenciado em algum grau por uma cidade próxima ou mesmo distante. Neste sentido, compreender as interações espaciais que se estabelecem entre os espaços rurais e urbanos são questões relevantes no campo da geografia urbana. Outro aspecto interessante a ser observado éde que, o fenômeno de intensificação da urbanização desencadeia alguns problemas urbanos que são similares em distintas partes do mundo. Por outro lado, observa- se que os resultados desses processos se manifestam na diversidade de ambientes urbanos que caracterizam o mundo contemporâneo. De modo geral, poderíamos dizer que que a geografia urbana é o ramo da geografia humana relacionado aos vários aspectos que compõem as cidades. Particularmente, a geografia urbana procura ainda explicar a distribuição das cidades e as semelhanças e contrastes socioespaciais que existem entre e dentro delas. Outro aspecto importante que será analisado neste tópico consiste na análise dos elementos que caracterizam o espaço urbano e como eles podem variar de acordo com os diferentes países. Vamos apresentar o conceito de morfologia urbana para você e analisar quais são os principais agentes produtores do espaço urbano. Por fim, vamos conhecer um pouco a respeito da história da urbanização. Venha conosco! UNIDADE 1 | A CIDADE, O URBANO E A URBANIZAÇÃO: FORMULAÇÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS 4 2 O QUE ESTUDA A GEOGRAFIA URBANA? O mundo contemporâneo é um mundo urbano. Isso é evidente na expansão das áreas urbanas e na extensão das áreas de influências urbanas em grande parte da superfície habitável do planeta. Na atualidade, os moradores urbanos superam em número os residentes rurais (PACIONE, 2005). Os lugares urbanos — cidades e vilas — são de fundamental importância: para a distribuição da população dentro dos países; na organização da produção, distribuição e das trocas econômicas; na estruturação da reprodução social e da vida cultural; e na alocação e exercício do poder (PACIONE, 2005). Na Figura 1 podemos observar o fenômeno da população urbana distribuída espacialmente pelo mundo. Acompanhe. FIGURA 1 – MUNDO: POPULAÇÃO URBANA EM 2014 FONTE: <https://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_mundo/mundo_populacao_ urbana.pdf>. Acesso em: 11 mar. 2019. Ademais, além do que pudemos perceber na Figura 1 estima-se que o número de habitantes urbanos e o nível de urbanização global provavelmente aumentarão nos próximos anos. Mesmo aqueles que vivem além dos limites administrativos ou funcionais de uma cidade, terão seu estilo de vida influenciado em algum grau por uma cidade próxima ou mesmo distante. Nós habitamos um mundo urbano em que a disseminação de áreas urbanas e de influências urbanas se constituem de um fenômeno global. Os resultados destes processos se manifestam na diversidade de ambientes urbanos que caracterizam o mundo contemporâneo (PACIONE, 2005). Observe na Figura 2 como o padrão de urbanização na cidade de Toronto, no Canadá, é planejado e organizado. População residente em área urbana (%) menos de 20 de 20 a 40 de 20 a 60 de 60 a 80 mais de 80 sem dados TÓPICO 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA GEOGRAFIA URBANA 5 FIGURA 2 – TORONTO (CANADÁ): EXEMPLO DE CAPITAL URBANA FONTE: <https://achahistory.org/images/conferences/2011_toronto/toronto_skyline.jpg>. Acesso em: 19 jun. 2019. Toronto é uma das principais cidades do Canadá, e, como podemos observar nesta paisagem, vários traços eminentemente urbanos caracterizam essa cidade, tais como edificações verticalizadas e a concentração de um conjunto expressivo de prédios na área urbana. O estudo das cidades é um elemento central de diversas ciências sociais, incluindo a geografia, que oferece em seu aparato metodológico recursos específicos para analisar condição urbana. De acordo com Pacione (2005), o escopo e o conteúdo da Geografia Urbana são abrangentes e incluem o estudo de lugares urbanos como "pontos no espaço", bem como a investigação da estrutura interna das áreas urbanas. Além disso, da Geografia Urbana derivam subáreas de estudo que procuram analisar aspectos como a dinâmica populacional no espaço urbano, economia urbana, política e governança, comunidades urbanas, habitação ou questões de transporte, entre outros temas. Para tanto, os estudos de Geografia Urbana baseiam-se em uma rica mistura de informações teóricas e empíricas para avançar nos conhecimentos sobre a cidade. Por sua vez, Briney (2018) comenta que a Geografia Urbana é o ramo da geografia humana relacionado aos vários aspectos que compõem as cidades. Neste sentido, no rol de atribuições do geógrafo urbano está o estudo dos processos espaciais que criam padrões que podem ser observados em áreas urbanas. Para fazer isso, eles estudam, por exemplo, as características de determinado local, sua evolução e seu crescimento e, trabalhar com classificações como aldeias, vilas, municípios, cidades entre outros recortes espaciais, que variam conforme o país em que atuam. Outro aspecto que é estudado na Geografia Urbana é a localização da cidade e sua importância em relação a diferentes regiões e cidades. Aspectos econômicos, políticos e sociais dentro do espaço urbano também são importantes no estudo da Geografia Urbana. UNIDADE 1 | A CIDADE, O URBANO E A URBANIZAÇÃO: FORMULAÇÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS 6 Para estudar as diferentes dimensões que compõem o espaço das cidades, a Geografia Urbana articula saberes advindos de outras áreas da geografia. A geografia física, por exemplo, é importante para entender por que uma cidade está localizada em uma área específica, uma vez que as condições ambientais e locais desempenham um grande papel no desenvolvimento ou não de uma cidade. Já a geografia cultural pode ajudar na compreensão de várias condições relacionadas às pessoas que residem em determinada área sob o prisma da cultura, enquanto a geografia econômica ajuda a entender os tipos de atividades econômicas e empregos disponíveis em uma área. Campos fora da geografia, como gerenciamento de recursos, antropologia e sociologia urbana, também se articulam com a Geografia Urbana (BRINEY, 2018). A Geografia Urbana procura ainda explicar a distribuição das cidades e as semelhanças e contrastes socioespaciais que existem entre e dentro delas. Neste sentido, Pacione (2005) sustenta que se todas as cidades fossem únicas e distintas, isso seria uma tarefa praticamente impossível. No entanto, embora cada cidade tenha um caráter individual e particular, os locais urbanos também exibem características comuns que variam apenas em grau de incidência, ou importância, dentro de cada tecido urbano específico. Todas as cidades contêm áreas de espaço residencial, linhas de transporte, atividades econômicas, infraestrutura de serviços, áreas comerciais e prédios públicos. Em diferentes regiões do mundo, o processo histórico de evolução urbana pode ter seguido uma trajetória semelhante. Cada vez mais, processos semelhantes, como os de suburbanização e gentrificação, estão operando dentro de cidades distintas espalhadas ao redor do mundo. Além disso, as cidades também apresentam problemas comuns em graus variados, incluindo moradia inadequada, constrangimentos econômicos, pobreza, problemas de saúde, desigualdade social, congestionamentos e poluição ambiental (PACIONE, 2005). Em resumo, muitas características e preocupações comuns são compartilhadas pelos lugares urbanos. Essas características e preocupações compartilhadas representam as bases para o estudo da Geografia Urbana. O caráter dos ambientes urbanos, em todo o mundo, é o resultado de interações entre uma série de forças ambientais, econômicas, tecnológicas, sociais, demográficas, culturais e políticas que operam em uma variedade de escalas geográficas que vão do global ao local (PACIONE, 2005). NOTA Acadêmico! Você conhece as expressões suburbanização e gentrificação? Apresentamos a seguir, de modo resumido, o significado de cada uma delas, acompanhe. TÓPICO 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA GEOGRAFIA URBANA 7 Suburbanização: é um processo relacionado com o desenvolvimento de subúrbios em torno das grandes cidades e áreas metropolitanas. O processo de suburbanização é gerado pelo crescimento demográfico (aumento da população total) e pelareestruturação interna das cidades. Muitos residentes das grandes cidades já não vivem e trabalham na mesma área urbana, optando por viver em subúrbios e deslocar-se para trabalhar noutras áreas. Os subúrbios são áreas habitadas localizadas na periferia imediata de uma cidade, fora dos limites administrativos desta ou mesmo no exterior dos limites de uma conturbação. FONTE: <http://www.forumdascidades.pt/content/suburbanizacao>. Acesso em: 19 jun. 2019. A respeito do tema da suburbanização, é interessante apontar que, antigamente, os subúrbios eram relacionados a pessoas de baixo poder aquisitivo, que moravam nestes lugares pois o custo era mais baixo. Hoje, a procura por subúrbios tem vindo de pessoas com poder aquisitivo considerável e que buscam condomínios fechados de alto padrão, de modo a preservar-se do caos e da violência dos grandes centros, além de contar, muitas vezes, com o slogan de morar mais próximo de atrativos naturais. Gentrificação: para entender a gentrificação imagine um bairro histórico em decadência ou que apesar de estar bem localizado é reduto de populações de baixa renda, portanto, desvalorizado. Lugares que não oferecem nada muito atrativo para fazer. Enfim, lugares que você não recomendaria o passeio a um amigo. Pense, porém, que de um tempo para cá, a estrutura deste bairro melhorou muito: aumentou a segurança pública e agora há parques, iluminação, ciclovias, novas linhas de transporte, ruas reformadas, variedade de comércio, restaurantes, bares, feiras de rua etc. Uma verdadeira revolução que traria muitos benefícios para os moradores da região, porém eles não podem mais morar ali, pois, depois de todos esses melhoramentos, o valor do aluguel dobrou, a conta de luz triplicou e as idas semanais ao mercadinho da esquina ficaram cada vez mais caras, ou seja, junto com toda a melhora, o custo de vida subiu tanto que não cabe mais no orçamento dos atuais moradores. E o mais cruel de tudo é perceber que, enquanto o antigo morador procura um novo bairro, pessoas de maior poder aquisitivo estão indo morar no seu lugar. Gentrificação vem de gentry, uma expressão inglesa que designa pessoas ricas, ligadas à nobreza. O termo surgiu nos anos 60, em Londres, quando vários gentriers migraram para um bairro que, até então, abrigava a classe trabalhadora. Este movimento disparou o preço imobiliário do lugar, acabando por “expulsar” os antigos moradores para acomodar confortavelmente os novos donos do pedaço. O evento foi chamado de gentrification, que numa tradução literal, poderia ser entendida como o processo de enobrecimento, aburguesamento ou elitização de uma área [...]. Um processo de gentrificação possui bastante semelhança com um projeto de revitalização urbana, com a diferença que a revitalização pode ocorrer em qualquer lugar da cidade e normalmente está ligada a uma demanda social bastante específica, como reformar uma pracinha de bairro abandonada, promovendo nova iluminação, jardinagem, bancos etc. UNIDADE 1 | A CIDADE, O URBANO E A URBANIZAÇÃO: FORMULAÇÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS 8 E quem se beneficia da obra são os moradores do entorno e, por tabela, a cidade toda [...]. Note, na charge a seguir, como o fenômeno da gentrificação altera a forma de uso dos espaços. FONTE: <http://www.courb.org/pt/o-que-e-gentrificacao-e-por-que-voce-deveria-se- preocupar-com-isso/>. Acesso em: 19 jun. 2019. Assim, ao iniciarmos o estudo da Geografia Urbana uma das primeiras inquietações que despontam consiste em entender o que estuda este campo disciplinar da geografia. Pacione (2005) pontua que existem duas abordagens básicas para a Geografia Urbana. A primeira refere-se à distribuição espacial dos municípios e cidades e às ligações entre elas: o estudo dos sistemas das cidades. A segunda refere-se à estrutura interna dos espaços urbanos: o estudo da cidade como um sistema (PACIONE, 2005). Seguindo esta linha de pensamento, Strohaeckher (2017, p. 202) complementa que: A Geografia Urbana [...] é o ramo da Geografia que se concentra nos estudos e interpretações sobre a localização e o arranjo espacial das cidades. Ela tem como objeto de estudo a sociedade urbana a partir de sua organização espacial, enfocando duas dimensões básicas: a interurbana e a intraurbana. Na escala interurbana, a Geografia estuda as relações/interações que se estabelecem entre diferentes cidades no âmbito econômico, político, social, cultural e/ou de gestão, conformando as redes e os sistemas urbanos. Na escala intraurbana, a Geografia objetiva analisar a organização espacial de uma cidade ou metrópole, especificamente, através do estudo de sua gênese, formação e dinâmica socioespacial, dos processos espaciais, dos agentes produtores do espaço urbano e seus interesses políticos e econômicos, do direito à cidade, das formas de representação do espaço social, da questão ambiental urbana. Estes aspectos, atrelados a escala interurbana e intraurbana, serão examinados no decorrer desta disciplina. A autora, pontua ainda que: TÓPICO 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA GEOGRAFIA URBANA 9 Outro elemento importante sobre o estudo inerente ao campo da Geografia Urbana é a compreensão de que as categorias espaço e tempo jamais devem estar dissociadas. O anacronismo temporal pode conduzir a interpretações equivocadas do fenômeno da urbanização da sociedade. Em síntese, espaço e tempo são categorias fundamentais e indissociáveis para a compreensão da organização espacial da sociedade humana ao longo da história (STROHAECKHER, 2017, p. 203). 2.1 O QUE É URBANO? Ao abordar o conceito de urbano, é útil fazer uma distinção entre a questão do que é um lugar urbano e o que é urbano. Isso é mais do que um exercício de semântica. A distinção entre o urbano como uma entidade física e o urbano como uma qualidade que nos ajuda a entender a complexidade da vida urbana e ilumina diferentes abordagens para o estudo das cidades (PACIONE, 2005). Sobre o assunto, convém apontar que: Apesar de tradicionalmente estabelecidas como modos de qualificar as sociedades e o espaço, as categorias rural e urbano estão sujeitas às transformações que vem sendo operadas no decorrer do tempo. Com efeito, a realidade histórica sobre tais categorias demonstra uma grande diversidade de estruturas e organizações (IBGE, 2017, p. 10). Iniciamos nossa abordagem reconhecendo, sob o prisma internacional, os principais métodos empregados para identificar o espaço urbano, embasados nas contribuições de Pacione (2005), importante e renomado geógrafo britânico, a saber: a) Tamanho da população: como os lugares urbanos são geralmente maiores do que os locais rurais, em algum momento, ao longo da escala do tamanho da população, deveria ser possível discernir quando uma aldeia/vila se torna uma cidade. Na prática, esse limiar populacional urbano varia ao longo do tempo e do espaço. Na Suécia, qualquer assentamento com mais de 200 habitantes é classificado como urbano no censo nacional, enquanto nos EUA o mínimo de população para o status urbano é de 2.500; na Suíça é 10.000, aumentando para 30.000 no Japão. Essa diversidade reflete o contexto social. Dada a distribuição esparsa do assentamento em muitas áreas da Suécia, um limiar de 200 pode ser apropriado, enquanto que em um país densamente povoado como o Japão, praticamente todos os assentamentos excedem uma população tão baixa de limiar urbano. Se não for explicitado, essas diferenças podem complicar a comparação internacional (PACIONE, 2005). b) Base econômica: em alguns países o tamanho da população é combinado com outros critérios diagnósticos para definir um lugar urbano. Na Índia, por exemplo, um assentamento deve ter mais de 75% da população masculina adulta engajada em trabalho não agrícola para ser classificada como urbana (PACIONE, 2005). UNIDADE 1 | A CIDADE, O URBANO E A URBANIZAÇÃO: FORMULAÇÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS 10 c) Critérios administrativos: a maioria das cidades e vilas do mundosão definidas de acordo com critérios legais ou administrativos. A definição de lugares urbanos pelos governos nacionais leva a uma grande diversidade, o que cria dificuldades para a pesquisa comparativa que só pode ser superada por analistas urbanos construindo suas próprias definições e aplicando-as uniformemente em todo o mundo. Um segundo problema com as definições administrativas é que elas podem ter pouca correspondência com a extensão física real da área urbana. Um problema frequente é a subutilização, em que a área construída da cidade se estende além do limite administrativo urbano. Isso pode levar a grandes dificuldades fiscais para a cidade, que pode vir a sofrer com constrangimentos no que tange a arrecadação de impostos (PACIONE, 2005). d) Definições funcionais: para abordar situações como as manchas urbanas, os pesquisadores urbanos criaram "regiões urbanas funcionais" que refletem a extensão real da influência urbana. Conforme fica evidente, a adoção de distintos critérios, sejam eles o tamanho da população, a base econômica, os critérios administrativos ou funcionais, dependem do posicionamento e das intencionalidades dos diferentes gestores públicos, situados em distintos tempos e espaços. Além disso, as características inerentes a cada cidade também interferem no peso atribuído a cada um dos critérios apresentados. Ainda no que diz respeito a distinção entre o espaço rural e urbano, um estudo do IBGE (2017) aponta que: Conceitos centrais da Geografia, os espaços urbanos e rurais se apresentam na atualidade com características diversas e são marcados por relações e funções cada vez mais interligadas, o que evidencia a complexidade na definição de uma abordagem única para sua delimitação. Mesmo reconhecendo a dificuldade em estabelecer distinções entre o meio urbano e o meio rural, não se pode ignorar sua importância para fins da ação pública e privada tendo em vista o planejamento territorial do Brasil. A grande demanda de classificações por parte da academia, da administração pública e da sociedade em torno desse tema não deixa dúvidas quanto à pertinência dessa discussão de forma contínua, considerando diversas abordagens e escalas. As transformações que ocorreram no campo e nas cidades nos últimos 50 anos vêm a demandar, nos dias de hoje, abordagens multidimensionais na classificação territorial. O rural e o urbano, enquanto manifestações socioespaciais, se apresentam de forma bastante complexa e heterogênea, portanto, a identificação de padrões dessas manifestações se constitui um desafio principalmente ao se considerar a extensão do território brasileiro (IBGE, 2017, p. 7, grifo nosso). Complementando a classificação proposta por Pacione (2005), no quadro a seguir estão elencadas as técnicas e critérios de classificação do rural e do urbano, publicados recentemente em um estudo do IBGE, acompanhe: TÓPICO 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA GEOGRAFIA URBANA 11 QUADRO 1 – PRINCIPAIS CRITÉRIOS UTILIZADOS PARA DEFINIR O ESPAÇO COMO URBANO FONTE: Adaptado de IBGE (2017) Como você pode observar, a utilização de cada critério depende do objetivo e da intencionalidade do sujeito responsável em classificar determinado espaço. Na prática, quando pensamos em abordagens multidimensionais, precisamos ter em mente que todas estas dimensões, ou seja, todos os aspectos da vida urbana, apontados anteriormente, operam no espaço concomitantemente, engendrando sua configuração espacial. Quer dizer, no campo disciplinar da geografia parece fazer sentido ter em mente uma pergunta de fundo quando se ouvir falar em “urbano” e “rural”. Urbano a partir de qual dimensão? Ou ainda: urbano segundo qual definição? E ainda refletir sobre: quem estabeleceu esta definição? A quem ela interessa? E quais são as possibilidades e os limites das mesmas? Colaborando com esta discussão, Duarte (2007, p. 46) traz o exemplo de Portugal para contribuir com a reflexão: Em outros países, a classificação de um município como urbano é feita por critérios estruturais e funcionais. Nos critérios estruturais estão os dados demográficos, como o número de habitantes, eleitores e, principalmente, a densidade demográfica; nos critérios funcionais encontra-se a presença de serviços básicos para a vida da cidade. Em Portugal, é preciso, para que um aglomerado populacional seja considerado cidade, que haja pelo menos metade dos seguintes serviços: hospital, farmácias, bombeiros, casa de espetáculo ou centro cultural, museu e biblioteca, hotel, escola de ensino médio, escola de ensino pré- primário e creches, transporte público, parques e jardins públicos. UNIDADE 1 | A CIDADE, O URBANO E A URBANIZAÇÃO: FORMULAÇÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS 12 Retomando a descrição exposta no Quadro 1 (Principais critérios utilizados para definir o espaço como urbano), os quatro critérios iniciais têm sua compreensão facilitada pois você provavelmente já se aproximou, de alguma forma, deste conteúdo, direta ou indiretamente, ao longo do seu curso. Contudo, o debate sobre a morfologia urbana insere-se, particularmente, no âmbito dos estudos da Geografia Urbana. Vamos entender melhor do que se trata este conceito? A morfologia urbana refere-se à forma, à função e ao layout da cidade. Neste sentido, atributos geográficos, incluindo forma, densidade e padrão de categorias de uso da terra refletem o resultado do processo de urbanização (MAYHEW, 2015). Sposito (2017a) também discorre sobre o tema. Acompanhe o fragmento da explicação, selecionado e exposto, a seguir: MORFOLOGIA URBANA Maria Encarnação Beltrão Sposito Se o termo morfologia urbana designa aquilo que se refere à forma, o conceito de morfologia urbana vai muito além da análise das formas urbanas em si, embora a contemple. O próprio sentido dado ao termo “forma urbana” é variado e, apenas para ilustrar, vale lembrar que o apreço que arquitetos e urbanistas têm em relação ao estudo e ao projeto das formas urbanas. Num primeiro sentido, poderíamos identificar forma ao aspecto visível de uma coisa, ao arranjo ordenado de objetos ou a um padrão (SANTOS, 1985, p. 50). Em outras palavras, forma refere-se à aparência externa que um dado objeto tem e, ainda, como ressalta Serra (1987, p. 51), apoiando-se nas ideias de Locke, ao contorno de um dado objeto ou de um espaço, associando, assim, a forma às partes externas ou limítrofes de uma extensão, bem como ao que está circunscrito a esses limites. Assim pensando, o conceito de morfologia urbana, compreendendo o estudo da forma urbana, deveria se voltar à análise da extensão urbana. Talvez, por isso, não sem frequência, o estudo da forma urbana remete à apreensão da planta urbana e à elaboração de tipologias, segundo as quais se procuram classificar diferentes planos urbanos e reconhecer as formas que as cidades têm em função desses planos ou mesmo da ausência deles, quando a configuração resultante da disposição das vias e de outros espaços da cidade é desordenada e/ou resulta de um processo em que o desenho prévio ou o planejamento não ocorreu. Considerando-se a forma como um dos elementos constitutivos da morfologia e o plano urbano como arcabouço dessa forma, poderíamos reconhecer a extensão urbana como designativa da morfologia de uma cidade, já que a extensão do plano ou da planta urbana é o que, via de regra, orienta a expansão territorial e dá materialidade real ou potencial à redefinição da morfologia urbana [...]. FONTE: SPOSITO, M. E. B. Morfologia Urbana. In: SPOSITO, E. S. (Org.). Glossário de geografia humana e econômica. São Paulo: Editora Unesp, 2017. p. 297. TÓPICO 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA GEOGRAFIA URBANA 13 A seguir, acompanhe um exemplo visual de uma morfologia urbana e o modo como se configura o desenho das ruas e a ocupação dos espaços: FIGURA 3 – EXEMPLO DE MORFOLOGIA URBANA FONTE: <https://i2.wp.com/epum.eu/wp-content/uploads/2018/09/ Screenshot-2018-09-07-20.53.48-1.png?w=1361>. Acesso em: 19 jun. 2019.Outra possibilidade de estudar o espaço urbano é a partir das análises dos fluxos. É adequado que a relação entre os espaços urbanos e rurais considere as ligações urbano-rurais, que podem ser representadas pelos fluxos de bens, pessoas, recursos naturais, capital, trabalho, serviços, informação e tecnologia, conectando zonas rurais e urbanas, tendo em vista que essas conexões são complementares e sinérgicas, interferindo na configuração espacial (IBGE, 2017). Acerca da leitura do espaço a partir do prisma dos fluxos e sobre a combinação desta análise com distinção entre o urbano e o rural, Duarte (2007, p. 37) observa que: Na economia brasileira, a grande revolução dos últimos anos foi o chamado agronegócio. Não mais aquela paisagem agrária ligada ao atraso, como um estágio pré-urbano. Não, pelo contrário, são regiões com vocação agrícola que apresentam os mais altos índices de desenvolvimento econômico e de qualidade de vida. Porém, é UNIDADE 1 | A CIDADE, O URBANO E A URBANIZAÇÃO: FORMULAÇÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS 14 inegável que isso aconteceu graças a inovações mecânicas, físico- químicas e biológicas. As inovações mecânicas têm alguma relação com a história da mecanização da produção no campo; já as inovações físico-químicas e biológicas ganharam impulso nas últimas décadas. Em relação a essas inovações, por mais que sejam aplicadas no campo, nas regiões agrícolas, o desenvolvimento de pesquisa em ciência e tecnologia está intimamente ligado à realidade urbana. Os centros de excelência de pesquisa agrícola geralmente estão localizados em centros urbanos ou fazem parte de uma rede de instituições públicas e privadas dispersas pelo território nacional e internacional [...]. Ou seja, o comentário do autor ressalta que é possível que se estabeleça um entrelaçamento entre o espaço rural e o espaço urbano, que ocorre, sobretudo, em virtude das redes geográficas que se engendram. Dependendo do enfoque pretendido, o uso de uma determinada forma de classificação do espaço pode ser insuficiente para apreender a realidade que se apresenta: No Brasil, o Decreto Lei n. 311, de 02.03.1938 associa a delimitação de zonas rurais e urbanas aos municípios. Contudo, muitas vezes as transformações econômicas e sociais alteram profundamente a configuração espacial dos municípios sem que a legislação consiga acompanhar em tempo hábil as novas estruturas territoriais e o processo de distribuição espacial das populações e das atividades econômicas. É verdade também que os limites oficiais entre zona urbana e zona rural, são em grande parte instrumentos definidos segundo objetivos fiscais que enquadram os domicílios sem considerar necessariamente as características territoriais e sociais do município e de seu entorno. Atendem, portanto, aos objetivos das prefeituras, mas dificultam políticas públicas e investimentos preocupados com as outras facetas e escalas da classificação rural-urbano (IBGE, 2017, p. 10, grifo nosso). É notável que as transformações que ocorrem no espaço são dinâmicas e o balizamento a partir de uma lei, dependendo da situação, pode representar atrasos. Observe, também, que a lei que delimita as zonas rurais e urbanas é antiga, de 1938. Note as especificações apontadas na lei: DICAS Para acessar o conteúdo integral do Decreto da Lei n° 311, de 02/03/1938, acesse o link a seguir: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1930-1939/decreto-lei-311-2- marco-1938-351501-publicacaooriginal-1-pe.html. TÓPICO 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA GEOGRAFIA URBANA 15 Vale realçar, ainda, que em se tratando dos limites oficiais entre zona urbana e zona rural e os objetivos fiscais, existem aspectos passíveis de críticas no que diz respeito ao tipo de imposto cobrado. O texto a seguir esclarece qual o tipo de imposto cobrado nas áreas rurais e urbanas. ITR x IPTU – Qual imposto a pagar? Muitos proprietários que possuem terras no entorno das cidades já depararam com este problema. Eles são surpreendidos com a cobrança do IPTU (Imposto sobre a Propriedade Territorial Urbana) de suas terras, nas quais mantêm suas atividades agrícolas ou pastoris. Há casos até de cobrança simultânea dos dois impostos: o IPTU e o ITR (Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural). Esse fato tornou-se mais comum depois da Constituição de 1988, que deu mais poderes aos municípios para tributar. Com isso, eles decretaram a ampliação do perímetro urbano do município, abrangendo áreas rurais que estão sendo ocupadas com lavouras e pastagens. Só que muitas dessas áreas não têm nada de urbano. O Código Tributário Nacional, em seu Artigo 31, estabelece os critérios pelos quais o imóvel pode ser considerado urbano. Tem que ter pelo menos três itens de uma lista de equipamentos e serviços públicos, como vias públicas, posteamento, iluminação pública, calçada, meio fio, rede de água e esgotos, escola pública e posto de saúde até 3 quilômetros de distância. Essa confusão acontece em razão do critério adotado para a tributação dos imóveis nessas condições. O Código Tributário Nacional adotou o critério da localização. Ele diz que imóvel rural é aquele localizado fora da zona urbana do município. No entanto, para efeitos de tributação, a legislação agrária adotou o critério da destinação. Todo imóvel que for destinado à produção agrícola, avícola, pecuária etc. paga o ITR, independentemente de sua localização. Para os casos dessa natureza, além de prevalecer a legislação agrária, a jurisprudência brasileira já consolidou esse entendimento. Portanto, o proprietário que tenha recebido a cobrança do IPTU deve pedir imediatamente o cancelamento desse imposto na prefeitura. Enquanto a propriedade for destinada à produção agrícola, o imposto devido é o ITR. Lembre-se: pagar dois impostos sobre o mesmo imóvel é bitributação, o que é ilegal. FONTE: <http://www.nippo.com.br/campo/lei/lei438.php>. Acesso em: 17 mar. 2019. UNIDADE 1 | A CIDADE, O URBANO E A URBANIZAÇÃO: FORMULAÇÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS 16 2.2 OS AGENTES PRODUTORES DO ESPAÇO URBANO Além de entendermos quais são os critérios adotados para distinguir e caracterizar o espaço urbano, é necessário compreender quem são os agentes produtores do espaço urbano. Neste sentido, a contribuição de Roberto Lobato Corrêa é relevante. Em sua obra O espaço urbano, de 1989, considerada um clássico nos estudos da Geografia Urbana, o autor lança o questionamento: quem produz o espaço urbano? Para responder esta indagação, o autor criou uma tipologia de natureza analítica que identifica os principais agentes que formam o espaço urbano. Selecionamos um resumo desta obra acerca desta questão e o apresentamos a seguir. Quem são estes agentes sociais que fazem e refazem a cidade? a) Os proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais. b) Os proprietários fundiários. c) Os promotores imobiliários. d) O Estado. e) Os grupos sociais excluídos. Que estratégias e ações concretas desempenham no processo de fazer e refazer a cidade? a) Os grandes proprietários industriais e as grandes empresas comerciais são, em razão da dimensão de suas atividades, grandes consumidores de espaço. Necessitam de terrenos amplos e baratos que satisfaçam requisitos locacionais pertinentes às atividades de suas empresas – junto a portos, a vias férreas ou em locais de ampla acessibilidade à população. Porém, as relações entre os proprietários dos meios de produção e a terra urbana são mais complexas. A especulação fundiária tem duplo efeito. De um lado onera os custos de expansão na medida em que esta pressupõe terrenos amplos e baratos. Do outro, o aumento do preço dos imóveis, resultante do aumento do preço da terra, atinge os salários da força de trabalho. É importante também considerar, que os conflitos entre proprietários industriais e fundiários não mais constituem algo absoluto como no passado. Isso se deve: • ao desenvolvimento das contradições entre capital e trabalho, que tornaperigosa a abolição de qualquer forma de propriedade, entre elas a da terra, pois isto poderia levar a que se demandasse a abolição da propriedade capitalista; • através da ideologia da casa própria, que inclui a terra, pode-se minimizar as contradições entre capital e trabalho; • à própria burguesia adquirir terras, de modo de que a propriedade fundiária passou a ter significado no processo de acumulação; TÓPICO 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA GEOGRAFIA URBANA 17 • à propriedade da terra ser pré-requisito fundamental para a construção civil que, por sua vez, desempenha papel extremamente importante no capitalismo, amortecendo áreas de atividade industrial; e • à propriedade fundiária e seu controle pela classe dominante terem ainda função de permitir o controle do espaço através da segregação residencial, cumprindo, portanto, significativo papel na organização do espaço. Nas grandes cidades, onde a atividade fabril é expressiva, a ação espacial dos proprietários industriais leva à criação de amplas áreas fabris em setores distintos das áreas residenciais nobres, onde mora a elite, porém próximo às áreas proletárias. Deste modo, a ação deles modela a cidade, produzindo seu próprio espaço e interferindo decisivamente na localização de outros usos da terra. b) Os proprietários de terras atuam no sentido de obterem a maior renda fundiária de suas propriedades, interessando-se em que estas tenham o uso mais remunerador possível, especialmente uso comercial ou residencial de status. Estão interessados no valor de troca da terra e não no seu valor de uso. Alguns dos proprietários fundiários, os mais poderosos, poderão até mesmo ter suas terras valorizadas através do investimento público em infraestrutura, especialmente viária. A demanda de terras e habitações depende do aparecimento de novas camadas sociais, que tenham rendas capacitadas a participar do mercado de terras e habitações. Depende ainda da política que o Estado adota para permitir a reprodução do capital, como reforço do aparelho estatal pelo aumento do número de funcionários e através da ideologia da casa própria. Os diferenciais das formas que a ocupação urbana na periferia assume são, em relação ao uso residencial, o seguinte: urbanização de status e urbanização popular variando de acordo com a localidade da área. Aquelas bem localizadas são valorizadas por amenidades físicas, como mar, lagoa, sol, verde etc.; e agem pressionando o Estado visando à instalação de infraestrutura. Tais investimentos valorizam a terra; e campanhas publicitárias exaltando as qualidades da área são realizadas ao mesmo tempo; consequentemente seu preço sobe. Estas terras são destinadas à população de status. Como se trata de uma demanda solvável, é possível aos proprietários tornar-se também promotores imobiliários; loteiam, vendem e constroem casas de luxo. E com isso os bairros fisicamente periféricos não são mais percebidos como estando localizados na periferia urbana, pois afinal de contas bairros de status não são socialmente periféricos. Como exemplos, as cidades litorâneas como Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Fortaleza, são frutos das valorizações fundiárias. Naquelas mal localizadas e sem amenidades, serão realizados os loteamentos: as habitações serão construídas pelo sistema de autoconstrução UNIDADE 1 | A CIDADE, O URBANO E A URBANIZAÇÃO: FORMULAÇÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS 18 ou pelo Estado, que aí implanta enormes e monótonos conjuntos habitacionais, que ocasionam vários distúrbios sociais. c) Por promotores imobiliários, entende-se um conjunto de agentes que realizam, parcialmente ou totalmente, as seguintes operações: incorporação; financiamento; estudo técnico; construção ou produção física do imóvel; e comercialização ou transformação do capital-mercadoria em capital- dinheiro, agora acrescido de lucro. Quais são as estratégias dos promotores imobiliários? Produzir habitações com inovações, com valor de uso superior às antigas, obtendo-se, portanto, um preço de venda cada vez maior, o que amplia a exclusão das camadas populares. É possível haver a produção de habitações para os grupos de baixa renda? Quando esta produção é rentável? • é rentável se são super ocupadas por várias famílias ou por várias pessoas solteiras que alugam um cômodo; • é rentável se a qualidade da construção for péssima, com seu custo reduzido ao mínimo; • é rentável quando se verifica enorme escassez de habitações, elevando os preços a níveis insuportáveis. A estratégia basicamente é a seguinte: dirigir-se, em primeiro lugar, à produção de residências para satisfazer a demanda solvável; e, depois, obtém- se ajuda do Estado no sentido de tornar solvável a produção de residências para satisfazer a demanda não solvável. Exemplos: BNH, COHABS, FGTS. As estratégias dominantes, de construir habitações para a população que constitui a demanda solvável, tem um significativo rebatimento espacial. De fato, a ação dos promotores se faz correlacionada a: preço elevado da terra de alto status do bairro; acessibilidade, eficiência e segurança dos meios de transporte; amenidades naturais ou socialmente produzidas; e esgotamento dos terrenos para a construção e as condições físicas dos imóveis anteriormente produzidos. A atuação espacial dos promotores se faz de modo desigual criando e reforçando a segregação residencial que caracteriza a cidade capitalista. E, na medida em que os outros setores do espaço produzem conjuntos habitacionais populares, a segregação é ratificada. d) O Estado atua também na organização espacial da cidade. Sua atuação tem sido complexa e variável tanto no tempo como no espaço, refletindo a dinâmica da sociedade da qual é parte constituinte. TÓPICO 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA GEOGRAFIA URBANA 19 O Estado dispõe de um conjunto de instrumentos que pode empregar em relação ao espaço urbano. São os seguintes: • direito de desapropriação e precedência na compra de terras; • regulamentação do uso do solo; • controle de limitação dos preços das terras; • limitação da superfície da terra de que cada um pode se apropriar; • impostos fundiários e imobiliários que podem variar segundo a dimensão do imóvel, uso da terra e localização; • taxação de terrenos livres, levando a uma utilização mais completa do espaço urbano; • mobilização de reservas fundiárias públicas, afetando o preço da terra e orientando; • espacialmente a ocupação do espaço; • investimento público na produção do espaço, através de obras de drenagem, desmontes, aterros, e implantação de infraestrutura; • organização de mecanismos de créditos à habitação; e • pesquisas, operações testes como materiais e procedimento de construção, bem como o controle de produção e do mercado deste material. e) Os grupos sociais excluídos são aqueles que não possuem renda para pagar o aluguel de uma habitação digna e muito menos para comprar um imóvel. Este é um dos fatores, que ao lado do desemprego, doenças, subnutrição, delineiam a situação social dos grupos excluídos. A estas pessoas restam como moradia: cortiços, sistemas de autoconstrução, conjuntos habitacionais fornecidos pelo agente estatal e as degradantes favelas. As três primeiras possibilidades habitacionais pressupõem uma vinculação a um agente sem, no entanto, ocasionar transformação da camada populacional excluída em agente modelador do espaço urbano. É na produção da favela, em terrenos públicos e privados que os grupos sociais excluídos se tornam, efetivamente, agentes modeladores. A ocupação destes terrenos que dão ensejo à criação das favelas é uma forma de resistência à segregação social e sobrevivência ante a absoluta falta de outros meios habitacionais. Aparentemente desprovida de qualquer elaboração espacial, as favelas acrescentam uma lógica que inclui a proximidade a mercados de trabalho. Outro fenômeno observado é a progressiva urbanização da favela, até se tornar um bairro popular.Isto se explica pela ação dos moradores que pretendem a melhoria das condições de vida, conjuntamente com o Estado que, por motivos diversos, destina recursos à urbanização das favelas. No processo de produção concreta de um bairro residencial ou de um distrito industrial, vários agentes estão presentes. Como exemplo, o bairro de Copacabana. Desde a década de 1870, são verificadas tentativas de valorização fundiária da área, entretanto de início malsucedidas. A partir de 1892, iniciou-se UNIDADE 1 | A CIDADE, O URBANO E A URBANIZAÇÃO: FORMULAÇÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS 20 a valorização do local resultante de uma aliança de interesses comuns, firmada entre proprietários fundiários, promotores imobiliários, bancos e empresas industriais e comerciais. O Estado fazia-se presente pelos interesses comuns no poder. O capital fundiário imobiliário, associado a outros capitais, estava, entretanto, interessado apenas em produzir habitações para a população de status elevados, produzindo mesmo residências de veraneio e novos espaços. Do exposto dessume-se de que a partir de fins do século XIX, a cidade tornou- se objeto de lucro. Assim como em Copacabana, de modo semelhante, repetiu- se o fenômeno na Barra da Tijuca. FONTE: <http://reverbe.net/cidades/wp-content/uploads/2011/08/Oespaco-urbano.pdf>. Acesso em: 9 mar. 2019. Considerando o período que se estende de 1989 até a década de 2010, vários avanços surgiram no campo de estudo do espaço urbano e da atuação dos agentes na transformação das cidades. Furini (2014) sintetizou de modo didático como os agentes urbanos podem ser agrupados, tendo em vista seu campo de atuação, observe. QUADRO 2 – CLASSIFICAÇÃO DOS AGENTES URBANOS CONFORME OS CAMPOS DE AÇÃO FONTE: Adaptado de Furini (2014) TÓPICO 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA GEOGRAFIA URBANA 21 Com base na proposta de classificação de Furini (2014), vamos pensar em alguns possíveis exemplos de atores? Como exemplo de agente que ajuda a produzir o espaço urbano em uma escala interurbana, poderíamos mencionar o presidente de um conselho estadual de turismo. Um agente individual que interfere no espaço urbano poderia ser uma pessoa física que se dirige até a sede da prefeitura municipal buscando orientações sobre quais regras seguir, no que diz respeito às obrigações de manutenção da calçada em frente à sua casa. Como agente privado, podemos mencionar uma construtora que “adota” e ajuda a manter e a cuidar da pracinha situada em frente ao local onde o edifício da referida construtora foi construído. Exemplo de agente urbano ativo seria o vereador que, na ocasião de realização da sessão da câmara, traz à tona as preocupações dos residentes de uma determinada rua que estão lidando com a ocupação indevida e desorganizada de um prédio situado no bairro. Já, um agente casual poderia ser um sujeito que está interessado em organizar uma maratona no centro da cidade para celebrar o aniversário do município, ou seja, irá realizar uma atividade pontual. Por sua vez, um dos agentes produtores do espaço urbano classificado como direto, seria o prefeito do município, enquanto que os representantes dos movimentos sociais, poderiam ser vistos como agentes subjetivos. Por fim, um exemplo de possível agente urbano regulamentado seriam os técnicos e especialistas do setor de planejamento urbano. Esses exemplos nos ajudam a refletir sobre a diversidade de atores que atuam no espaço urbano. Lembre-se que dependendo do tipo de análise ou do tipo de direcionamento de uma pesquisa, poderão ser ponderados e selecionados determinados agentes em detrimento de outros. Neste momento, interessa ressaltar que é ampla a gama de atores envolvidos no processo de produção e consumo do espaço urbano. 2.3 O QUE É URBANIZAÇÃO? A história da urbanização está atrelada à história das cidades. Em termos históricos, Uruk é considerada a cidade mais antiga, tendo sido erguida na região da Mesopotâmia, por volta de 4.500 a.C. Posteriormente, a cidade de Ur foi erguida por volta de 3.800 a.C. e é considerada emblemática na história das cidades. Ambas estavam situadas nas proximidades das margens do Rio Eufrates. Para os sumérios, no entanto, a primeira cidade foi Eridu, que foi fundada em 5.400 a.C., mas, provavelmente, não era uma “cidade” da mesma forma que Uruk ou Ur seria definida, considerando que as formas de organização deste espaço eram menos sofisticadas (MARK, 2014). No ano de 2.600 a.C., Ur era uma metrópole próspera e, em 2.900 a.C., era uma cidade murada com uma população de aproximadamente 65.000 habitantes. A urbanização continuou à medida que a cidade se expandia a partir do centro e, com o tempo, os campos outrora férteis que alimentavam a população estavam esgotados. O uso excessivo da terra, combinado com uma misteriosa mudança no UNIDADE 1 | A CIDADE, O URBANO E A URBANIZAÇÃO: FORMULAÇÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS 22 rio Eufrates, que tirou as águas da cidade, resultou no complexo sendo finalmente abandonado por volta de 500 a.C. Eridu, talvez, por razões semelhantes, foi abandonado em 600 a.C. e Uruk em 650 a.C. (MARK, 2014). Verifica-se assim que o surgimento das cidades está relacionado com às possibilidades de sobrevivência humana propiciada pela produção de excedentes alimentares. No centro de Ur, como em todas as cidades da antiga Mesopotâmia, estava o grande templo que era o local das funções cerimoniais, comerciais e sociais. As atividades religiosas, como os festivais, eram as principais reuniões sociais da época e essas ocasiões eram frequentemente usadas para distribuir alimentos e suprimentos excedentes para a população da cidade. Os sacerdotes do templo, que também eram os governantes da cidade a partir de 3.400 a.C., eram responsáveis por essa distribuição e dependiam fortemente dos agricultores da região para fornecer o excedente de que precisavam. Esse excesso de produção do campo não apenas supria a população da cidade com alimentos, mas também aumentava o comércio de longa distância com outras cidades ao longo do Eufrates, como Tikrit e Eridu. Como a urbanização continuou, no entanto, a necessidade de mais e mais matérias-primas esgotou os recursos naturais da região e, eventualmente, levou à falta de recursos necessários e ao abandono da cidade (MARK, 2014). A urbanização se espalhou da Mesopotâmia para o Egito e de lá para a Grécia. No Egito, grande cuidado foi tomado para que o uso excessivo da terra não levasse ao esgotamento dos recursos. O foco das chamadas grandes cidades do Faraó estava em aspectos culturais como o desenvolvimento da escrita, arquitetura, leis, administração, além dos cuidados com o saneamento e estímulo ao comércio e à produção de artesanato. No Egito, o padrão de urbanização observado foi o disperso, caracterizada por assentamentos urbanos menores e mais especializados (MARK, 2014). Em termos gerais, é possível afirmar que as cidades surgem a partir da necessidade de organização de um dado espaço no sentido de integrá-lo, e aumentar sua independência visando determinado fim, merecendo destaque a ideia de sobrevivência do grupo (SILVA JÚNIOR; ALMEIDA; VERAS, 2017). Saltando desta fase inicial da história na qual surgiram as primeiras cidades, entre os séculos IV a XI, ocorre o desenvolvimento do feudalismo, pautado em uma nova estrutura de classes sociais e em um cenário no qual a terra passa a ser considerada sinônimo de riqueza. Nesta fase da história, a população passou a viver direta ou indiretamente da produção agrícola e surgiram cidades nos cruzamentos de estradas e nas embocaduras dos rios. Sob o prisma da urbanização, esta fase se caracteriza mais pela proliferação do que pelo aumento do tamanho das cidades. Ademais, as Cruzadas ocorrem por volta do século XI, ampliando o alcance e as diversificações dos produtos do comércio (SILVA JÚNIOR; ALMEIDA; VERAS, 2017). Contudo, é com o advento do capitalismo e com as transformações decorrentes da Revolução Industrial queo fenômeno da urbanização e da TÓPICO 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA GEOGRAFIA URBANA 23 expansão das cidades se intensifica. Carlos (2009) explica que a origem da cidade está atrelada à existência de uma ou mais funções urbanas, tais como: industrial, cultural, comercial, administrativa ou política que variam conforme suas condições históricas e suas diferenciações espaciais. Carlos (2009) pontua que a existência da cidade estaria vinculada à, pelo menos, seis elementos: divisão do trabalho; divisão da sociedade em classes; acumulação tecnológica; produção do excedente agrícola decorrente da evolução tecnológica; sistema de comunicação; e certa concentração espacial das atividades não agrícolas. Assim, com o aumento das cidades, ocorre também o avanço dos estudos relacionados a este processo de transformação social e espacial e interessados em compreender o fenômeno da urbanização. Pensar em urbanização nos remete a pensar no aumento das áreas urbanas e nas implicações espaciais deste processo. Para Strohaecker (2017, p. 426): a urbanização pode ser compreendida como um processo que se refere tanto à espacialização dos artefatos geográficos em suas diferentes configurações (abordagem físico-demográfica) bem como às mudanças nas relações comportamentais e sociais que ocorrem na sociedade, como resultado das inovações tecnológicas. Envolve o estudo dos problemas e desafios envoltos neste processo de expansão das cidades. Estes aspectos atrelados à urbanização serão discutidos ao longo desta disciplina. Iniciaremos este debate, examinando os principais sentidos e usos atribuídos a este termo no campo da geografia. Para tanto, apresentamos as reflexões feitas por Sposito (2017b) a respeito do tema. Acompanhe: Urbanização: um dos termos mais diversamente utilizados nas análises produzidas sobre o fato urbano é urbanização. A multiplicidade de acepções com as quais ele vem sendo empregado é consequência, de um lado, da variedade de profissionais que lidam com a problemática em pauta, cada um deles, recebendo uma formação diferente e dando realce a um aspecto desse processo multifacetado. De outro lado, lembramos que essa expressão já foi apropriada pela sociedade, no nível do senso comum, o que acaba esvaziando, muitas vezes, o seu conteúdo conceitual. Além disso, mesmo no âmbito científico, a compreensão de um conceito só é possível no escopo de uma teoria e, como há várias teorias para explicar a urbanização, o que se tem é uma multiplicação de sentidos. Para os profissionais do campo da engenharia, urbanização significa implantação de infraestruturas em espaços urbanos, como sistemas viários, redes de fornecimento ou captação, área de lazer etc. Muito frequentemente, para tais profissionais, todas as ações que envolvem a transformação material de espaços não urbanos em espaços urbanos são reconhecidas como urbanização. UNIDADE 1 | A CIDADE, O URBANO E A URBANIZAÇÃO: FORMULAÇÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS 24 Para os que se dedicam à compreensão de dinâmicas demográficas, o sentido atribuído a esses termos tem sido o do aumento relativo das populações que vivem em cidades, havendo, então, a associação do conceito de urbanização à proporção de distribuição da população entre o campo e a cidade. Arquitetos e urbanistas abordam a urbanização de forma bastante associada ao urbanismo e, em função dessa identificação, prevalece a análise das configurações espaciais e dos conjuntos arquitetônicos que compõem os espaços urbanos, priorizando-se a abordagem das formas urbanas e das funções que se realizam em cada parcela dos territórios urbanos. Mesmo reconhecendo a identidade ou a indistinção que essas profissionais estabelecem entre os dois termos, é preciso observar, como destacou Choay (1965, p. 8), que urbanismo é um termo pesado e ambíguo, surgido em 1910, segundo Bardet (1959), e que tem muitos significados desde aqueles referentes aos trabalhos de engenharia civil, designando também os planos urbanos ou as formas urbanas características de cada época. Slater (1988, p.96), por exemplo, ressalta que, na bibliografia sobre o desenvolvimento urbano da América Latina, o termo urbanização “se encontra reduzido a uma consideração da estrutura social urbana, ou até mesmo, limitado a um estudo sobre a questão da habitação”. Embora as visões apresentadas de forma sucinta possam ser identificadas com diferentes formações profissionais ou diferentes realidades urbanas, não se pode estabelecer generalizações ou se afirmar que essas acepções sejam utilizadas ou expressas pela totalidade dos profissionais que cada uma das áreas de formação citadas, ou que possam ser aceitas como consensuais para se aplicar a quaisquer realidades urbanas [...]. Há geógrafos que adotam, por exemplo, a visão demográfica do termo. Laborde (1994, p. 5), ao iniciar a abordagem da “dinâmica da urbanização”, apoia-se nos dados referentes ao aumento da população urbana no conjunto total da população, ainda que destaque, nas páginas seguintes, fatos, causas e consequências dessa dinâmica, ampliando o escopo inicial da análise. Embora utilize informações relativas aos parâmetros demográficos e políticos- administrativos considerados para se definir o que é cidade, Beaujeu-Garnier (1980, p. 24) é bastante ampla em seu enfoque: urbanização é o movimento de desenvolvimento das cidades, simultaneamente em número e tamanho, isto é, o desenvolvimento numérico e espacial das cidades; ocupa-se de tudo que esta ligado à progressão direta do fenômeno urbano e transforma, pouco a pouco, as cidades ou os arredores e, frequentemente, umas e outros. O esforço de se apresentar uma “definição” de cidade, como no dicionário organizado por Johnston (1994, p. 651, tradução nossa), também revela a pluralidade de acepções com as quais o termo vem sendo utilizado: TÓPICO 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA GEOGRAFIA URBANA 25 se a urbanização for encarada apenas como um fenômeno demográfico, os lugares urbanos são aqueles nos quais os limiares de excesso da população e/ou densidade são frequentemente utilizados em definições dos censos dos lugares urbanos. Contudo, se a urbanização também for considerada tanto como processo estrutural ou processo de comportamento, então os lugares urbanos são aqueles com população acima de um certo tamanho ou densidade, contendo funções econômicas particulares na divisão espacial do trabalho, e com seus próprios estilos particulares de vida. [...] Embora de formas diferentes, as perspectivas apresentadas até aqui incorporam às conceituações apresentadas para a urbanização a abordagem da dimensão espacial, ainda que, em nem todas elas, a dimensão temporal tenha sido privilegiada. A urbanização é um processo e, como tal, deve ser lida como movimento espaço espaço-temporal. Sposito (1992) ressaltou a importância de se realizar um esforço no sentido de buscar a unicidade tempo-espaço e de superar a tradição positivista de legar a análise do tempo à História e a análise do espaço à Geografia. [...] Em função do exposto, para a compreensão da urbanização, enfocar as articulações entre o espaço e tempo exige que se enfrente o desafio de analisar as relações entre diferentes ritmos temporais, entre diferentes escalas e supõe o reconhecimento de rupturas temporais e descontinuidades espaciais. Tomando essa perspectiva, a urbanização é um processo de longa duração, que se inicia com o aparecimento das primeiras cidades e que se revela a partir de diferentes modos de produção, sob diversas formas. Em seu bojo podem ser reconhecidos fatos, dinâmicas e formas de intervenção que, estudados por diferentes profissionais, como nos exemplos já dados, devem ser entendidos e/ou planejados no contexto do processo maior. Essa abordagem teórica pressupõe a aceitação de que a urbanização expressa e ampara a existência de uma divisão social do trabalho entre o campo e a cidade, ela mesma divisão territorial, pois: A urbanização contém/expressaa ideia de processo, remete, necessariamente, à análise da origem da evolução histórica das cidades, em relação ao nível de desenvolvimento das forças produtivas, ao estágio da divisão social e territorial do trabalho, às transformações de ordem política e social, às manifestações de caráter cultural e estético, às revoluções e contrarrevoluções ideológicas e do conhecimento, à Filosofia e à especulação, à Ciência e ao quadro do cotidiano, como já destacou Lefebvre em sua obra (SPOSITO, 1992). FONTE: SPOSITO, M. E. Urbanização. In: SPOSITO, E. S. (Org.). Glossário de geografia humana e econômica. São Paulo: Editora Unesp, 2017, p. 469. Como podemos observar, parte relevante do debate conceitual sobre urbanização se aproxima da complexidade que envolve a conceituação de urbano, vista anteriormente. Feitos estes esclarecimentos de natureza teórica, que visam situar você, acadêmico, sobre o ponto do qual partem as análises que serão feitas UNIDADE 1 | A CIDADE, O URBANO E A URBANIZAÇÃO: FORMULAÇÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS 26 ao longo da disciplina, no próximo tópico, vamos analisar, especificamente, as questões urbanas vinculadas à realidade brasileira. Todavia, antes de finalizar este tópico, deixamos uma sugestão de plano de aula para trabalhar estes conteúdos em sala. DICA DE PLANO DE AULA O que é espaço? Elaborado pelo professor Luiz Carlos Parejo Direcionado para aulas do ensino médio Objetivos O aluno deverá: 1) Compreender a organização do espaço e a sua construção. 2) Perceber que existem diferentes percepções acerca do que é espaço nas diferentes áreas do conhecimento. A Geografia se preocupa com o espaço produzido a partir das relações da sociedade com a natureza e das relações sociais em si. 3) Compreender que as relações econômicas, sociais, políticas, culturais etc. se materializam na forma de casas, prédios, ruas, rede urbana, equipamentos, sistemas de transportes, sistemas de produção agrícola etc. Esses objetos técnicos se fixam no espaço e permanecem por um certo tempo, convivendo com objetos de períodos mais recentes. 4) Perceber que equipamentos urbanos (objetos técnicos) mais antigos e novos formam o espaço atual, sendo que os antigos, muitas vezes, apresentam novos usos. Como exemplo temos o uso atual dos antigos casarios coloniais e do período cafeeiro ou da cana-de-açúcar por redes de fast-food e bancos, pontes que eram utilizadas para a passagem de animais e agora são usadas para passagem de automóveis. 5) Compreender que as análises e os estudos geográficos do espaço se realizam em uma perspectiva dialética de tempo e espaço e que o antigo e o novo interagem no processo de mudança, percebendo que esta herança espacial ajuda a entender a organização do espaço. Por exemplo, as cidades maiores de hoje, junto às linhas ferroviárias, correspondem a antigos entroncamentos ferroviários. 6) Compreender, a partir das abordagens anteriores, que o espaço é uma acumulação desigual de tempos e que se a lógica que o criou mudar, partes dele podem se transformar em um obstáculo e devem ser substituídos por novos objetos ou reaproveitados a partir de uma nova lógica. Estratégias 1) Identificar, em um lugar da cidade: a rua da escola, a rua mais antiga, no bairro mais importante, no centro comercial etc. a arquitetura das edificações. Os alunos deverão fotografar estes imóveis e organizar as fotos a partir da idade deles (eles devem organizar as fotos de forma intuitiva, a partir da sua visão de mundo). TÓPICO 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA GEOGRAFIA URBANA 27 2) Escolher alguns imóveis e pedir para que os alunos descubram, através de pesquisas e entrevistas: a) Quando cada edificação foi construída? b) Como eram usadas no início (residência, comércio, indústria etc.)? c) Qual é o uso atual? d) O que foi modificado do projeto inicial? e) O imóvel tem um valor de mercado elevado ou baixo? 3) Pesquisar sobre o crescimento da mancha urbana da cidade (evolução) e/ou das modificações na área rural (rodovias, ferrovias, sistemas de irrigação, tamanho das propriedades etc.). 4) Localizar, em um mapa ou planta, a área pesquisada, indicando os itens e colocando legenda com informações auxiliares e explicativas. 5) A partir da análise empírica, apresentar os conceitos de: acumulação desigual de tempos, rugosidades (marcas do passado no espaço), relação sociedade- natureza, organização do espaço etc. 6) A partir de filmes e/ou documentários e de um roteiro, apresentar as diferentes paisagens que formam a área pesquisada. Correlacionar com os conceitos e avaliar como as s heranças "ajudaram" ou "atrapalharam" o desenvolvimento do lugar (a presença ou a falta de rodovias, ferrovias, aeroportos ou hidrovias, por exemplo). Conclusão da atividade Convidar moradores antigos para comparar o lugar, como era e como é hoje. Convidar um representante da associação de bairro, um político ou um representante de uma ONG para um debate acerca dos problemas e potencialidades do lugar. Montar um painel sobre alguns lugares, como eram antes e como são hoje. Podemos usar como exemplo os engenhos de cana no Nordeste, as cidades cafeeiras do Centro Sul, a capital de São Paulo, o Rio de Janeiro etc. ou comparar as capitais Salvador (no ciclo da cana), Rio de Janeiro (ciclo do ouro até 1960) e Brasília (a partir da sua construção). Observar que as mudanças em Brasília foram muito pequenas. Conceitos Espaço, construção do espaço, acumulação desigual de tempos, rugosidade, relação sociedade-natureza. Habilidades e Competências Ler, observar, analisar, interpretar, compreender, selecionar e elaborar sistemas de investigação, reconhecer na aparência das formas visíveis e concretas do espaço geográfico atual os processos históricos construídos em diferentes tempos, descrever, localizar, pesquisar, sintetizar, questionar. FONTE: <https://educacao.uol.com.br/planos-de-aula/fundamental/geografia-o-que-e-espaco. htm>. Acesso em: 17 mar. 2019. 28 Neste tópico, você aprendeu que: • O estudo das cidades é um elemento central de diversas ciências sociais, incluindo a geografia, que oferece em seu aparato metodológico recursos específicos para analisar condição urbana. • Outro aspecto que é estudado na Geografia Urbana é a localização da cidade e sua importância em relação a diferentes regiões e cidades. Aspectos econômicos, políticos e sociais dentro das cidades também são importantes neste estudo. • A Geografia Urbana procura, ainda, explicar a distribuição das cidades e as semelhanças e contrastes socioespaciais que existem entre e dentro delas. • Embora cada cidade tenha um caráter individual e particular, os locais urbanos também exibem características comuns que variam apenas em grau de incidência ou importância dentro de cada tecido urbano específico. • Muitas características e preocupações comuns são compartilhadas pelos lugares urbanos, tais como questões de mobilidade, congestionamentos, violência urbana e ocupação de áreas irregulares. • A suburbanização é um processo relacionado com o desenvolvimento de subúrbios em torno das grandes cidades e áreas metropolitanas. • Outro elemento importante sobre o estudo inerente ao campo da Geografia Urbana é a compreensão de que as categorias espaço e tempo jamais devem estar dissociadas. • Apesar de tradicionalmente estabelecidas como modos de qualificar as sociedades e o espaço, as categorias rural e urbano estão sujeitas às transformações que vêm sendo operadas no decorrer do tempo. • Diferentes critérios podem ser adotados para qualificar um local como urbano e os mesmos, variam entre os diferentes países. • O conceito de morfologia urbana, compreendendo o estudo da forma urbana, deveria se voltar à análise da extensão urbana. • Segundo Correa (1989), os principais agentes sociais que fazem e refazem a cidade são: os proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais; os proprietários fundiários; os promotores imobiliários;
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