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1 Assunto Prático 01: Aptidão Agrícola das Terras 1. Introdução 1.1. Conceito: Adaptabilidade das terras para um tipo específico de utilização agrícola, pressupondo-se um ou mais distintos níveis de manejo. Neste conceito pressupõe-se a necessidade de informações, as quais deverão ser utilizadas adotando-se um sistema de estratificação que permita a transmissão de conhecimento de forma sistematizada e técnica, ou seja, com o uso de um sistema de classificação. A determinação da aptidão agrícola pressupõe planejamento de uso das terras. 1.2. Tipos de classificação Naturais (taxonômicas): Considera-se um conjunto considerado simultâneo de atributos ou propriedades relacionadas a origem do objeto a ser classificado. Exemplos: Soil taxonomy; e Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SBCS). Técnicas (objetivas): Alguns atributos ou propriedades são considerados e deve atender um objetivo específico e de aplicação prática. Exemplos: Aptidão agrícola: FAO/Brasileiro e Capacidade de Uso. Terras para Irrigação. Os levantamentos de informações que estão associados aos sistemas de classificação taxonômicos de solos são a fonte mais completa de dados que podem ser utilizados na definição da aptidão agrícola das terras. Estes levantamentos são, contudo, de custo elevado e requerem pessoal técnico especializado, o que limita a sua utilização, pois a aplicação para a definição da aptidão agrícola das terras requer detalhes em escala pequena. 2 Recomenda-se que sejam feitos ou utilizados levantamentos pedológicos detalhados (escala 1:10.000 a 1:25.000) ou semi-detalhados ((escala 1:25.000 a 1:100.000). O uso dos levantamentos de classes de solo disponíveis, como o do Ceará (1:600.000), em escalas muito grandes, não fornecem os detalhes necessários para a aplicação de sistemas de definição da aptidão agrícola em nível de propriedade agrícola. 2. Sistema de Classificação da Capacidade de Uso 2.1. Introdução Estruturado pelo Serviço de Conservação do Solo dos EUA. A grande contribuição deste sistema foi a de ter influenciado todos os sistemas subseqüentes que incluem a produção sustentada, ou seja, apresenta enfoque conservacionista. É utilizado em várias partes do mundo e sofreu várias adaptações. Objetiva agrupar solos já mapeados nos EUA em classes de capacidade de uso para programas de planejamento agrícola. Torna a informação já existente nos levantamentos de solos (nível detalhado) mais acessível, de forma prática, ao usuário. É uma interpretação dos mapas de solos dos levantamentos existentes nos EUA. Nos países em que está informação não está disponível, procurou-se suprir esta informação, mapeando-se atributos como declive, textura, permeabilidade etc. Porém limita bastante uma interpretação mais consistente. 2.2. Estrutura Grupos de Uso (3 grupos): Estabelecidos com base nos tipos de intensidade de uso. Classes de Uso (8 classes): Baseadas no grau de limitação de uso. Subclasses de Uso (Índices): Baseadas na natureza da limitação de uso. Unidades de Uso (Índices): 3 Baseadas em condições específicas que afetam o uso ou manejo da terra. Classes de Capacidade de Uso: Grupo A: I até IV - com aptidão para culturas. Grupo B: V - refere-se a classes de solos com problemas de drenagem, pedregosidade ou de adversidade climática problemática para cultivos; e VI e VII - necessitam de manejo especial. Grupo C: VIII - não apresentam retornos para insumos referentes a manejo para culturas, pastagens ou florestas. São as seguintes classes de capacidade de uso (I a VIII): A - Terras cultiváveis: Classe I - sem problemas especiais de conservação; Classe II - problemas simples de conservação; Classe III - problemas complexos de conservação; e Classe IV - ocasionalmente ou em extensão limitada com sérios problemas de conservação. B - Terras cultiváveis apenas em casos especiais de algumas culturas permanentes e adaptadas, em geral, para pastagem ou reflorestamento: Classe V - Sem necessidade de práticas especiais de conservação; Classe VI - . com problemas especiais de conservação; e Classe VII - com problemas complexos de conservação. C - Terras impróprias para vegetação produtiva e próprias para proteção da flora e da fauna silvestres, para recreação ou para armazenamento de água. Índices: São adicionados às classes de aptidão definindo subclasses e unidades de uso. São indicativos dos principais problemas em nível detalhado. 4 Subclasses: Consideram-se quatro naturezas: e: limitações pela erosão presente e/ou risco de erosão; s: limitações relativas ao solo; a: limitações por excesso de água; e c: limitações climáticas. Unidades de uso: Especificam mais a natureza da limitação: Exemplos: s-hi: limitação de natureza relativa ao solo e associada a problemas de hidromorfismo; s-pd: limitação de natureza relativa ao solo e associada a problemas de pedregosidade; s-di: limitação de natureza relativa a solo e associada a distrofismo; s-ti: limitação de natureza relativa a erosão e associada a tiomorfismo; etc. Exemplos do Sistema de Classificação da Capacidade de Uso: IIIpd-di ⇒ Classe III, com problemas de pedregosidade e distrofismo. IIi ⇒ Classe II, com problemas de inundação. 2.3. Levantamento Utilitário das Terras As informações necessárias para a aplicação do Sistema de Capacidade de Uso são as características e/ou propriedades do perfil do solo (independente de serem fatores limitantes ou não), a declividade do terreno, a erosão já sofrida pela terra, uso atual, o estádio de desbravamento e outras características gerais da propriedade. 5 2.3.1. Perfil do solo Não necessariamente limitantes: Profundidade efetiva: É a espessura máxima do solo em que as raízes não encontram impedimto físico para penetrar livremente, facilitando a fixação da planta e servindo como meio para a absorção de água e nutrientes. Exemplos de impedimento físico considerado: presença de rocha consolidada, fragipans, lençol freático sem possibilidade de rebaixamento por drenagem, etc. Índices utilizados: 0: não identificada; 1: muito profundos (> 2 m); 2: profundos (1 a 2 m); 3: moderadamente profundos (0,5 a 1 m); 4: rasos (0,25 a 0,5 m); 5: muitos rasos (< 0,25 m). Textura do perfil do solo: obtida a partir da análise granulométrica e do uso do triângulo textural. Pode ser estimada em condições de campo pela sensação ao tato da massa de solo úmida. Principais grupamentos texturais utilizados: 0: não identificado; 1: textura muito argilosa; 2: textura argilosa; 3: textura média; 4: textura siltosa; 5: textura arenosa. Permeabilidade do perfil do solo: capacidade que o solo apresenta de transmitir água e ar. É a velocidade do fluxo através de uma secção transversal unitária de solo saturado, sob determinado gradiente hidráulico. Estimada pela análise conjunta de sua textura, friabilidade, estrutura e quantidade de poros visíveis a olho nu. 0: não identificada; 1: rápida (> 150 mm/h); 2: moderada (5 a 150 mm/h); e 3: lenta (< 5 mm/h). 6 2.3.2. Fatores limitantes específicos Fatores limitantes: critério diagnóstico que afeta adversamente o uso da terra São vários, cada um com os seus índices próprios: Pedregosidade (pd); Risco de inundação (i); Caráter abrupto (ab); Caráter vértico (vê); Hidromorfismo (h); Seca prolongada (se); Geada ou vento frio (gd); Baixa saturação de bases ou caráter distrófico (di); Capacidade de retenção de cátions muito baixa (ct); Tiomorfismo (ti); Sodicidade (so); Salinidade (sl); Presença de carbonatos (ca); 2.3.3. Características e/ou propriedades do solo de notação facultativa São informações adicionais. Classificação pedológica: devem ser notadas com razoável conhecimento do levantador.Devem ser usadas notações do sistema de classificação vigente. Cor do solo: notação adotada com referência a caderneta de Munsell. Produtividade aparente: estimada pelo tipo de vegetação espontânea e colheitas auferidas pelos agricultores. Outras características: substrato geológico; vegetação primitiva; forma de declive; e outras de interesse local. 2.3.4. Declividade do terreno A: declives < 2%; B: declives entre 2 e 5%; C: declives entre 5 e 10%; 7 D: declives entre 10 e 15%; E: declives entre 15 e 45%; F: declives entre 45 e 70%; G: declives > 70%. 2.3.5. Erosão Expressa por meio de indicadores de tipo e grau de erosão: Indicadores gerais: A: Geral 0: presente, mas em grau não identificado; θ: erosão não aparente, tal como ocorre em solos virgens recobertos de vegetação. B: Erosão laminar 1: ligeira - já aparente, mas com < 25% do solo superficial removido (horizonte A), ou quando não for possível identificar a profundidade normal do horizonte A de um solo virgem, com mais de 15 cm do solo superficial (horizonte A) remanescente; 2: moderada - com 25% a 75% do solo superficial removido (horizonte A), ou quando não for possível identificar a profundidade normal do horizonte A de um solo virgem, com 5 a 15 cm do solo superficial (horizonte A) remanescente; 3: severa - com mais de 75% do solo superficial removido (horizonte A) e, possivelmente com o horizonte B aflorando, ou quando não for possível identificar a profundidade normal do horizonte A de um solo virgem, com menos de 5 cm do solo superficial (horizonte A) remanescente; 4: muito severa - com todo solo já superficial removido (horizonte A) e com o horizonte B bastante afetado (erodido), já havendo, em alguns casos, sido removido em proporções entre 25 e 75% da profundidade original; 5: extremamente severa - com o horizonte B, em sua maior parte, já removido, e com o C atingido, encontrando-se o solo praticamente destruído para fins agrícolas; 6: símbolo reservado para áreas desbarrancadas ou translocações de blocos de terra. C: Erosão em sulcos a: Freqüência dos sulcos 7: ocasionais - sulcos distanciados mais de 30 m; 8: freqüentes - sulcos distanciados a menos de 30 m, ocupando área inferior a 75%; 8 9: muito freqüentes - sulcos distanciados a menos de 30 m, ocupando área superior a 70 %. b: Profundidade dos sulcos: 7, 8 e 9 (somente números) - sulcos superficiais, cruzados por máquinas e que se desfazem com o preparo; 7, 8 e 9 (circundados por Ο) - sulcos rasos cruzados por máquinas e que não se desfazem com o preparo; 7, 8 e 9 (circundados por � ) - sulcos profundos, que não podem ser cruzados por máquinas agrícolas e que ainda não atingiram o horizonte C; 7V, 8V e 9V - sulcos muito profundos que não podem ser cruzados por máquinas agrícolas e que atingiram o horizonte C. Erosão eólica: Tipos L: litorânea C: comtinental Graus: 1: pequena ou ligeira; 2: regular ou moderada; 3: severa ou intensa. 2.3.6. Uso atual, nível tecnológico e estádio de desbravamento Devem ser levantadas informações relativas ao uso atual nas diferentes áreas da propriedade em que o levantamento será feito, bem como o nível tecnológico adotado nestas áreas ou, então, o estádio de desbravamento das áreas. 2.3.7. Características gerais da propriedade Informações como benfeitorias (casas, currais, depósitos etc), cercas divisórias, estradas internas e externas da propriedade, presença de barragens etc devem ser levantadas e alocadas. 2.3.8. Notação das informações Essas informações são representadas por símbolos e notações convencionais, dispostos numa fórmula que sintetiza as condições encontradas em cada área considerada homogênea. 9 Fórmula mínima: atualuso erosãoedeclividad dadepermeabilitexturaefetivadeprofundida Fórmula obrigatória: atualusotestanilimfatores erosãoedeclividad dadepermeabilitexturaefetivadeprofundida Fórmula máxima: É a fórmula obrigatória acrescida de outros elementos passíveis de identificação. A classificação pedológica, a cor do solo e a sua produtividade aparente, quando conhecidos ou identificáveis, poderão ser colocados, optativamente, antes da fração da formula. Exemplo de uma fórmula máxima hipotética: 2122 LpcMtalpd72B 2/12/33 p6/5YR5LV −− − −− −− 2.4. Identificação da classe de capacidade de uso A identificação da capacidade de campo é feita pela verificação das diferentes propriedades levantadas e a identificação do grau de limitação, sendo a definição da classe de aptidão agrícola associada ao grau de limitação mais severo das propriedades avaliadas. Essa definição passa pela associação de graus de limitação a classes de uso do Sistema de Capacidade de Uso. No quadro 1 pode-se observar um exemplo de conversão de propriedades e graus de limitações em classes de capacidade de uso. No entanto este quadro deve ser definido para as diferentes situações de ambiente, ou seja, um quadro utilizado para a região da caatinga, certamente não é o mesmo da região dos cerrados, assim como o quadro utilizado para a região dos Inhamus não é o mesmo para o Maciço de Baturité. 10 Quadro 1. Limitações, graus de limitações e parâmetros na avaliação de propriedades do solo para o enquadramento em classes de capacidade de uso das terras Parâmetros de avaliação Classes de capacidade de uso MO N P K Ca Mg Al Limitação Grau de limitação % mg.dm-3 mmolc.kg-1 I II III IV V VI VII VIII Alta 5 0,2 5 >20 >2, 3 >42 >8 <3 * * * * * * * * Média 3 0,1 5 10 1,2 31 4 7 * * * * * * Baixa 1 0,0 5 5 <1, 2 8 2 10 * * * * * Fertilidade Muito baixa <1 <0 ,05 <5 <0, 6 <8 <2 >10 * * * Muito profundo > 2 m * * * * * * * * Produndo 2 a 1 m * * * * * * * * Moderado 1 a 0,5 m * * * * * * * Raso 0,5 a 0,25 m * * * * * Profundidade efetiva Muito raso <0,25 * * * Rápida > 15 cm/hora * * * * * * * * Moderada 15 a 5 cm/hora * * * * * * Permeabilidade Lenta < 5 cm/hora * * * * Sem pedras * * * * * * * * <1 % * * * * * * * 1 a 10 % * * * * * * 10 a 30 % * * * * * 30 a 50 % * * * Pedregosidade >50 % * * Ocasional Recorrência de 5 ou mais anos * * * Freqüente Recorrência entre 1 e 5 anos * * Risco de inundação Muito freqüente Todos os anos * Plano 0 a 2% (Classe A) * * * * * * * * Suave ondulado 2 a 6 % (Classe B) * * * * * * Ondulado 6 a 13 % (Classe C) * * * * * Forte ondulado 13 a 25% (Classe D) * * * * Montanhos o 25 a 55% (Classe E) * * * Classes de declive Escarpado >55 % * * Não aparente Sem sinais perceptíveis de erosão * * * * * * * * Ligeira Até 25 % do horizonte A removido * * * * * * Moderada 25 a 75% do horizonte A removido * * * * * Forte Mais de 75 % do A removido e B exposto * * * Muito forte A removido e B severamente erodido * * Grau de erosão laminar Extremame nte forte A e B removidos e horizontes C exposto * Superficiais Ocasionais: a menos de 30 m entre si * * * * * * Freqüentes: a menos de 30 m entre si * * * * * Muito freqüentes: ocupam mais de 75 % da área * * * * Rasos Ocasionais * * * * * Frequentes * * * * Muito frequentes * * * Profundos Ocasionais * * * * Freqüentes * * * Sulcos Muito frequentes * * Voçorocas * 11 2.5. Recomendações práticas para a execução do levantamento utilitário Para a execução dos trabalhos de campo e escritório deverão ser adotadas medidas que permitam não só o planejamento das atividades a serem desenvolvidas, mas a sua efetiva execução. Para tanto deverão ser avaliadaas as condições de execução dos serviços (distâncias, área a ser levantada, acomodações etc), bem como deverão ser previstos a utilização de equipamentos e utensílios(trados, sacos plásticos, pranchetas, reservatório de água, GPS etc). Também deverão ser previstos todas as atividades e materiais de escritório para a edição do relatório descritivo, como também dos mapas que comporão o produto final a ser entregue ao solicitante dos serviços. Mapas deverão ser utilizados, destacando-se aquele de campo que vai ser utilizado para todas as anotações necessárias para a execução dos serviços. O mapa base ou mapa de campo pode ser: fotografias aéreas; mapa planialtimétrico, mapa de restituição e mapa planimétrico. Deverão ser compor os seguintes mapas ao final dos trabalhos: uso atual, capacidade de uso, levantamento do meio físico, pedológico etc. 2.6. Exemplo de aplicação do Sistema de Capacidade de Uso O caso do Assentamento Lages em Caridade – CE (Chaves, 2005). 12 Figura 1. Classes de relevo do Assentamento Lages no município de Caridade-CE (Fonte: Chaves, 2005). 13 Figura 2. Caracterísiticas e/ou propriedades do meio físico do Assentamento Lages no município de Caridade-CE (Fonte: Chaves, 2005). 14 Figura 3. Classes de capacidade de uso do Assentamento Lages no município de Caridade-CE (Fonte: Chaves, 2005). 15 Figura 4. Classes de solo do Assentamento Lages no município de Caridade-CE(Fonte: Chaves, 2005). 16 3. Sistema FAO/Brasileiro (Aptidão Agrícola) 3.1. Introdução Desenvolvido na década de 60. Apresenta características bastante inovadoras: a. Considera na sua estrutura os níveis de manejo Os problemas dos diferentes tipos de agricultores são diferenciados (Quadro 2). b. Considera a estimativa de viabilidade de redução dos problemas (Quadro 3). c. Estrutura permite ajustamento a novos conhecimentos permitindo: Adaptações regionais; Ajuste em função metodologia que sintetiza as qualidades do ecossistema em cinco parâmetros: Nutrientes (N); Água (A); Oxigênio (O); Mecanização (M); e Erosão (E). Quadro 2. Níveis de manejo considerados no sistema FAO/Brasileiro Nível de manejo Práticas agrícolas Capital aplicado no melhoramento e conservação do solo e lavouras Trabalho A Refletem baixo nível tecnológico Praticamente não é aplicado Principalmente braçal. Alguma tração animal com implementos simples B Refletem nível tecnológico médio Modesta aplicação Tração animal C Refletem alto nível tecnológico Aplicação intensiva Mecanização em quase todas as fases 17 Quadro 3. Classes de viabilidade de melhoramento no sistema FAO/Brasileiro Classe Viabilidade de melhoramento Classe a1 Melhoramento viável com práticas simples e pequeno emprego de capital. Classe b Melhoramento viável com práticas intensivas e mais sofisticadas e considerável aplicação de capital. Esta classe ainda é considerada economicamente compensadora. Classe c Melhoramento viável somente com práticas de grande vulto; aplicadas a projetos de larga escala que estão, normalmente, além das possibilidades individuais dos agricultores. Classe d Sem viabilidade técnica ou econômica de melhoramento. 1 – As letras minúsculas a, b e c são usadas, além da indicação da classe de viabilidade de melhoramento, também para indicar aptidão para lavouras. Embora seu uso fique bem claro no contexto, quando indica variabilidade de melhoramento a letra é grifada. 3.2. Aplicação do sistema FAO/Brasileiro a. Estimativa dos problemas: É uma síntese da influência das propriedades do ecossistema; Estimativa dos desvios ∆N; ∆A; ∆O; ∆E e ∆M; Estimar em relação a que? Solo ideal X Solo real (Quadro 4) Graus de desvios considerados: Nulo = 0 Ligeiro = 1 Moderado = 2 Forte = 3 Muito forte = 4 18 Quadro 4. Relação entre solo ideal (∆i = 0, onde ∆i = N,A,O,E e M) e solo real (∆i ≥ 0) Parámetro Solo ideal Solo real Nutrientes ∆N = 0 ∆N ≥ 0 Água ∆A = 0 ∆A ≥ 0 Oxigênio ∆O = 0 ∆O ≥ 0 Suscetibilidade à erosão ∆E = 0 ∆E ≥ 0 Impedimentos a mecanização ∆M = 0 ∆M ≥ 0 Estimativa de desvios subjetiva ⇒ convergência de critérios. Pode-se usar critérios de referência como auxílio nesta estimativa, não ficando tão subjetiva assim (Quadro 5). b. Estimativa da redução destes problemas, conforme nível de manejo considerado: É um balanço entre intensidade dos desvios e possibilidades, dificuldades e conveniência de sua redução. Deve-se considerar as opções dos vários níveis de manejo, refletindo diferenças em insumos e técnica. É uma estimativa da viabilidade de melhoramento. Considera-se, no sistema, as classes de viabilidade de melhoramento. Exemplos: ∆N = 4 para as Areias Quartzosas da Serra da Ibiapaba, antes do melhoramento. ∆N = 1b, após melhoramento, mesmo aplicando fertilizantes e corretivos (o melhoramento pode não eliminar toda a deficiência). A viabilidade de melhoramento está intimamente ligada às condições sócioeconômicas, sintetizadas grosseiramente na forma de níveis de manejo. 19 Quadro 5. Grau de desvio (limitações) das condições agrícolas dos solos em relação ao solo ideal, quanto a nutrientes ou fertilidade (N), disponibilidade de água (A), oxigênio (O), suscetibilidade à erosão (E) e impedimentos à mecanização 0 (nulo) ∆N Elevada reserva de nutrientes. Nem mesmo plantas exigentes respondem a adubação. Ótimos rendimentos por mais de 20 anos. Ao longo do perfil: V%>80%, S>6 cmolkg-1, TAL=0, na camada arável, e condutividade elétrica (CE) < 4 dSm-1 a 25 oC. ∆A Floresta perenifólia ou presença de lençol freático ou sub irrigação. Não há deficiência de água em nenhuma parte do ano. Incluem-se áreas de campos hidrófilos e subtropicais sempre úmidos. Quanto a ∆A ,são possíveis dois cultivos por ano. ∆O Aeração boa em qualquer época do ano – bem (D4) a expressividade drenados (D1) ∆E Após 10-20 anos: horizonte A permanece intacto. Erosão ligeira, que possa ocorrer, é controlada facilmente. Plano, ou Quase (p), declive < 3%, e bem permeável. ∆M Podem ser usados na maior parte da área, sem dificuldades, todo ano, todos os tipos de maquinaria agrícola; rendimento do trator (% de horas efetivamente usadas ), RT > 90% . Solos planos (p) ou suave ondulados (s) com < 8% de declive, sem outros impedimentos à mecanização ( pedregosidade, rochosidade, texturas extremas e tipos de argilas ) 1 (Ligeiro) ∆N Boa reserva de nutrientes, boa produção por mais de 10 anos, com pequenas exigências para manter produção depois. V > 50%, S >3, TAL < 30% , condutividade elétrica < 4dSm-1 e Tna < 6%. (Latossolos eutróficos, por exemplo). ∆A Água disponível (Ad): pequena deficiência durante o período curto na estação de crescimento. Só plantas bem sensíveis é que são prejudicadas no seu crescimento. Floresta subperenífera (estação seca de 1 a 3 meses ). Em climas mais secos: solos com lençol freático, condicionando boa disponibilidade de água às plantas, ou irrigados. Aptidão para dois cultivos é marginal. ∆O Plantas de raízes mais sensíveis têm dificuldade na estação chuvosa; moderadamente drenados (D5). ∆E Após 10-20 anos: <25% do horizonte A original da maior parte da área; Ap formado de material A (exceto se A muito espesso), na maior parte da área. Erosão bem controlada por culturas selecionadas (cana-deaçucar) ou cultivos arbóreos ou parcelas pequenas. Suave ondulação (s), declives 3-8% (SSM: classe 1 da erosão). ∆M Maioria dos tipos de maquinaria sem ou com ligeira dificuldade, RT: 75-90%; (a) suave ondulação (s),com 3-8% de declive sem outros impedimentos; (b) planos com pedregosidade (0,05 a 1,0), rochosidade (2-10%) ou profundidade limitante; (c) planos, com textura muito grosseira (arenosa, cascalhenta etc.), argilosa com argila 2:1, ou problemas de drenagem. 20 2 (Moderado) ∆N Um ou mais nutrientes com reserva limitada. Bons rendimentos só nos poucos anos iniciais. Reserva no solo ou no ciclo orgânico ou condutividade elétrica: 4-8 dSm-1 ou TNa 6-15%.(Latossolosnão eutróficos sob florestas, por exemplo). ∆A Ad: deficiente durante período um tanto longo; plantas muito sensíveis podem ser cultivas. Floresta subcaducifólia (estação seca de 3-6 meses ou 3, se arenoso). Também floresta caducifólia com solos com alta capacidade de retençãodeAd. Praticamente não há possibilidade de dois cultivos. ∆O Imperfeitamente drenados (D6) ou com risco permanente de inundação ocasional (recorrência:>5 anos). ∆E Após 10-20 anos; 25 a 75% do horizonte A é removido da maior parte da área; Ap é constituído localmente do material de B. pequenas voçorocas podem ocorrer. Controle à erosão deve ser intensivo. Cultivo de árvores sem a completa remoção da vegetação ainda funciona bem, relevo ondulado, declive 8-20% (SSM: classe 2 da erosão). ∆M Só tipos mais leves de equipamento, algumas vezes só durante parte do ano, tracionados por animais. Se usado trator, RT:50-75%; (a) ondulados,8-20% de declive, sem outros impedimentos, se usado para agricultura formam-se sulcos freqüentes e profundos; (b) declive <20%, com pedregosidade, rochosidade ou profundidade limitante;; (c) planos, com textura muito grosseira (arenosa, cascalhenta etc.), argilosa com argila 2:1, ou problemas de drenagem. 3 (Forte) N Um ou mais nutrientes em pequenas quantidades permitem bons resultados só de culturas adaptadas. O rendimento de outras culturas e pastagem é baixo. Cerrado fechado ou terras exauridas ou condutividade elétrica:8-15 dSm-1 e TNa>15% (por exemplo, Latossolos sob cerrado propriamente dito). ∆A Ad: grande deficiência. Só possível plantas mais adaptadas. Caatinga hipoxerófila; floresta caducifólia; transições de cerrado e floresta para caatinga (estação seca de 6 a 8 meses, 3 a 7 se arenoso); precipitação, P-600 a800 mm/ano e irregulares, e temperatura alta, (T) é predominante). ∆O Culturas mais sensíveis, drenagem artificial, ainda viáveis ao nível do agricultor; mal (D7) e muito mal drenado (D8) ou sujeitos a inundações freqüentes (recorrência:1 a 5 anos). ∆E( Após 10-20 anos: >75% do horizonte A removido na maior parte da área. Ap apenas localmente guarda vestígios do antigo A. Ocorre voçorocas rasas, com algumas profundas. Controle é difícil, dispendioso ou inviável. Fortes ondulados (f), declive 20-45% (SSM: classe 3 de erosão). ∆M Só implementos manuais na maior parte da área: (a) declive de 20-45%, forte ondulado: se usado para agricultura, formam sulcos, constituindo forte impedimento à mecanização ; (b) declive <20% com pedregosidade, rochosidade ou solos rasos.RT<50% 21 4 (Muito Forte) ∆N Conteúdo de nutrientes muito restrito com possibilidade remota de agricultura, pastagem e reflorestamento. Somente plantas com muita tolerância conseguem adaptar-se. Campo cerrado ou solos salinos com condutividade elétrica: >15dSm-1 ou tiomórficos. Exemplo: solos rasos álicos sob vegetação campestre (Solos Litólicos e Cambissolos), originários de rochas pelíticas do grupo Bambuí. ∆A Deficiência é severa. Estação de crescimento curta ou mesmo ausente. A vegetação natural é escassa ou só presente durante parte do ano. Caatinga hiperxerófila (estação seca 8 a10 meses, P= 400-600 mm, irregulares, e alta T). ∆O Idem do grau forte, mas melhoramento não é viável ao nível do agricultor. ∆E Os solos para fins agrícolas são destruídos em poucos anos; voçorocas médias e profundas praticamente inutilizam a área agrícola. Risco de danos para a pastagem é muito grande. Montanhoso e escarpado, declive >45%. ∆M Não é possível nem o uso de implementos manuais (a) declive > 45%, montanhoso ou escarpado; (b) declive < 45% com pedregosidade, rochosidade ou solos rasos: se usados para agricultura, formam-se voçorocas. c. Identificação da classe de aptidão Confronto das informações de a e b. Uso de tabelas de conversão (quadros-guia) (Quadro 9). O quadro de conversão ou quadro-guia é o máximo de limitação permitido, para cada delta e para cada nível de manejo, referente a classe de aptidão. A definição da classe de aptidão agrícola deve seguir o princípio de que o uso não pode ser mais intensivo do que permite o delta que está no mínimo. É uma síntese e, portanto, difícil de ser lida com aproveitamento de toda a informação que ela encerra. A mensagem final que chega geralmente na forma de mapa colorido com símbolos. Exemplo: 1Ab(c): Letras A, B e C, maiúsculas ou minúsculas; e entre parênteses ou não, significam aptidão para culturas: A: Aptidão boa no sistema de manejo A; b: Aptidão regular no sistema de manejo B; e 22 (c): Aptidão restrita no sistema de manejo C. ____ Áreas de pior aptidão agrícola na unidade de mapeamento. Ausência de qualquer letra indica inaptidão. Exemplo: 2ab. Existem também as letras P, S e N: P: pastagem plantada; S: silvicultura;e N: pastagem natural. Letras maiúsculas: classes de aptidão boa; Letras minúsculas: classes de aptidão regular; e Letras minúsculas entre parênteses: classes de aptidão restrita. O conceito de aptidão agrícola utilizado tem um sentido amplo para (Quadro 6 e 7): Lavouras; Pastagens plantadas; Pastagens naturais; Silvicultura; Reserva biológica; e Recreação Expressa uma adequação ao uso ao aumento do (s) grau (s) de limitação (ões). 23 Quadro 6. Grupos e classes de aptidão agrícola e alternativas gerais de utilização Grupos Classe Nível de manejo A B C Lavouras A ↑ L ↓ 1 Boa 1A 1B 1C L ↑ I ↓ 2 Regular 2a 2b 2c T ↑ M ↓ 3 Restrita 3(a) 3(b) 3(c) E ↑ I ↓ Pastagem plantada R ↑ T ↓ 4 Boa 4P N ↑ A ↓ 4 Regular 4p A ↑ Ç ↓ 4 Restrita 4(p) T ↑ Õ ↓ Silvicultura e/ou pastagem natural I ↑ E ↓ 5 Boa 5N 5S V ↑ S ↓ 5 Regular 5n 5s A ↑ ↓ 5 Restrita 5(n) 5(s) S ↑ ↓ Sem aptidão para uso agrícola ↑ ↓ 6 Preservação da flora e da fauna Quadro 7. Alternativas de utilização das terras de acordo com o grupo de aptidão agrícola Aumento da intensidade de uso Limitações e Alternativa s Grupos de aptidão Lavoura Preserva ção da flora e da fauna Silvicu ltura e/ou pastage m natural Pasta gem Aptidão restrita Aptidão regular Aptidão boa A↑ D↓ 1 L↑ E↓ 2 T↑↑↑↑ S↓ 3 E↑ V↓ 4 R↑ I↓ 5 N↑ O↓ 6 24 Quadro 8. Classes de aptidão agrícola Classes de aptidão Limitações gerais Produções no manejo A Remoção de restrições BOA ligeiras boa no período de 20 anos REGULAR moderadas boa no período de 10 anos parcialmente no manejo A RESTRITA fortes Médias e baixas no período de 10 anos opção de culturas INAPTA excluem a produção sustentada do tipo de utilização em questão Porém, como obtém-se a classe de aptidão agrícola? Exemplo (Quadros 9 e 10) Passos: A estimativa dos deltas do ecossistema em relação ao solo ideal (qualidades do ecossistema). Avaliação da viabilidade de redução dos deltas conforme nível de manejo (refletindo diferenças em insumos e técnica). Confronto de informações obtidas utilizando. Uso de quadros de síntese de informações (Quadro 10.) Observações gerais: Os Quadros-guia (Quadro Tabela 9) são muito gerais. Precisam ser mais específicos Cada cultura poderia Ter a sua O Sistema FAO/Brasileiro não foi suficientemente trabalhado ao nível do usuário/propriedade Pelas suas características está mais condicionado para aplicação para escalas muito pequenas (grandes regiões) Na estimativa das qualidades da terra entra uma grande qtidade de informações não quantificáveis e expressáveis É o conhecimento empírico (um sentimento de percepção), fundamental nas decisões do agricultor. 25 Quadro 9. Quadro-guia de classificação de aptidão agrícola da região semi-árida Aptidão Agrícola Graus de limitação das condições agrícolas das terras para os níveis de manejo A, B e C ∆N ∆A ∆O ∆E ∆M Grupo Sub- grupo Classe Uso agrícola A B C A B C A B C A B C A BC 1 1ABC Boa 0/1 0a 0a 1/2 ½ 1/2 1 1a 0/1a 1 0/1a 0a 2 1/2 0 2 2abc Regular Lavouras 1 1a 1b 2 2 2 2 1/2a 1b ½ 1a 0/1b 2/3 2 1 3 3(abc) Restrita 2 1/2a 1/2b 2/3 2/3 2/3 3 2a 2b 2/3 2a 1/2a 3 2/3 2 4P Boa Pastagem 2a 2 3 2/3a 2 4p Regular 2/3a 2/3 4 3a 2/3 4 4(p) Restrita Plantada 3a 3 4 3/4 3 5S Boa 2/3a 2 1a 3a 2/3 5s Regular Silvicultura 3a 2/3 1a 3a 3 5 5(s) Restrita 4 3 1/2a 4 3 5N Boa 2/3 3 3 3 3 5n Regular Pastagem natural 3 3/4 3/4 3 4 5 5(n) Restrita 4 4 4 3 4 6 6 Preservação da flora e da fauna 26 Quadro 10. Resultado do confronto entre desvios da unidade PLs após redução dos desvios (quando viáveis) e os requisitos de máxima limitação permissível para determinada classe de uso na Tabela-Guia Situação ∆N ∆A ∆O ∆E ∆M A B C A B C A B C A B C A B C PLs 1 1a 1b 2/3 2/3 2/3 1 1a 0/1a 1 0 0 2 2/3 2 Quadro – Guia 1 1a 1b 2/3 2/3 2/3 1 1a 0/1a 1 0/1a 0a 2 2/3 2 a b c (a) (b) (c) A B C A B C A (b) (c) Uso mais intensivo (a) (b) (c) Uso possível 3 (a) (b) (c) Conclusão 3(abc) é o máximo uso possível para a área em questão, ou seja, no sistema de manejo A, B e C, o máximo uso é o de culturas em caráter restrito 27 3.3. Exemplo de aplicação do Sistema FAO/Brasileiro O exemplo de Parambu-CE Quadro 11. Aptidão agrícola das terras das folhas SB.24-Y-A-III-2 – Parambú de acordo com o uso intensivo mais indicado (Fonte Leite & Oliveira, 1996) Figura 5. Mapa da aptidão agrícola da área estudada (Fonte Leite & Oliveira, 1996) 28 Quadro 12. Símbolo, classes de solos, principal limitação, aptidão agrícola, área em hectare e porcentual das terras das folhas SB.24-Y-A-III- 2 – Parambú (Fonte Leite & Oliveira, 1996) 29 4. Bibliografia CHAVES, N.M.A. Levantamento pedológico semidetalhado com fins de determinação das classes de capacidade de uso na área do projeto de Assentamento Lages. Fortaleza: UFC, 2005. 118p. LEITE, F.R.B. & OLIVEIRA, S.B.P. Aptidão agrícola das terras das folhas SB.24-Y-A-III-2 Parambu utilizando sistema de informações geográficas. In: VIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto. Anais. 1996. INPE, p.27-32. LEPSCH, I. F. (coord.). Manual para levantamento utilitário do meio físico e classificação de terras no sistema de capacidade de uso. Campinas: SBCS, 1991. 175p. RESENDE, M., CURI, N. REZENDE, S.B., CORRÊA, G.F. Pedologia: a base para a distinção de ambientes. Viçosa: NEPUT, 1995. 304p.
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