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REVISTA PERSPECTIVAS EM PSICOLOGIA 
 
RReevviissttaa PPeerrssppeeccttiivvaass eemm PPssiiccoollooggiiaa,, VV.. 1155 nn..11.. JJaann // JJuunn 22001111 1 
Sociedade de Psicologia do Triângulo Mineiro 
 
Diretoria (2010-2011) 
Presidente: Eulalia Henriques Maimone 
Vice Presidente: Helena de Ornellas Sivieri Pereira 
1ª. Secretária: Cirlei Evangelista Silva Souza 
2ª. Secretária: Larissa Guimarães Martins Abrão 
1ª. Tesoureira: Célia Vectore 
2ª. Tesoureira: Marineia Crosara Resende 
Coordenador de Eventos: Walter Mariano de Faria Silva Neto 
Editor da Revista: Moisés Fernandes Lemos 
 
 
UFTM – Universidade Federal do Triângulo Mineiro 
 
Reitor: Virmondes Rodrigues Junior 
 
Instituto de Educação, Artes, Letras, Ciências Humanas e Sociais 
 
Diretora: Fábio César da Fonseca 
 
Curso de Psicologia 
 
Coordenadora: Helena de Ornellas Sivieri Pereira 
 
 
 
UFU - Universidade Federal de Uberlândia 
 
Reitor: Alfredo Júlio Fernandes Neto 
 
Instituto de Psicologia 
 
Diretora: Áurea de Fátima Oliveira 
 
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Psicologia 
 
Coordenador: Ederaldo José Lopes 
 
Curso de Psicologia 
 
Coordenador: Joaquim Carlos Rossini 
http://www.uftm.edu.br/upload/institucional/Prof._Dr._Virmondes_Rodrigues_Junior.pdf
REVISTA PERSPECTIVAS EM PSICOLOGIA 
2 
RReevviissttaa PPeerrssppeeccttiivvaass eemm PPssiiccoollooggiiaa,, VV.. 1155 nn..11.. JJaann // JJuunn 22001111 
 Expediente 
 
A Revista Perspectivas em Psicologia é uma revista científica semestral, publicada pela da 
Sociedade de Psicologia do Triângulo Mineiro e pelos cursos de Psicologia da Universidade 
Federal do Triângulo Mineiro e da Universidade Federal de Uberlândia. Ela é enviada a 
bibliotecas universitárias do Brasil com a missão de incentivar e difundir o conhecimento 
científico nas diversas áreas da Psicologia tendo como referência a produção do 
conhecimento sobre fatos e fenômenos da região 
 
 
Editor 
 
Moisés Fernandes Lemos (UFG-CAC) 
 
 
Conselho Editorial 
 
Antonio Roazzi (UFPE) 
Célia Vectore (UFU) 
Cláudia Davis (PUCSP) 
Eduardo Costa (Coimbra/PT) 
Elias Humberto Alves (UNICAMP) 
Eulália Henriques Maimone (UNIUBE) 
Fernando Antônio de Oliveira Leite (UNIMINAS) 
José Lino de Oliveira Bueno (USP/Rib. Preto) 
Marcela Cornejo Cancino (PUC – Santiago-Chile) 
Maria Aparecida Morgado (UFMT) 
Maria Gracite (Coimbra/PT) 
Maria Elisabeth Montagna (PUC-SP) 
Miguel Mahfoud (UFMG) 
Sinésio Gomide Júnior (UFU) 
Teresa Benitez Gray (Universidad de Oriente - Cuba). 
 
 
 
Endereço da Revista 
Universidade Federal de Uberlândia 
Campus Umuarama 
Av. Pará, 1720, Bloco 2C, Sala 31, Bairro Umuarama 
CEP 38405-320 – Uberlândia – MG. 
 
 
 
 
 
REVISTA PERSPECTIVAS EM PSICOLOGIA 
 
RReevviissttaa PPeerrssppeeccttiivvaass eemm PPssiiccoollooggiiaa,, VV.. 1155 nn..11.. JJaann // JJuunn 22001111 3 
Publicada originalmente com o título de: Revista da Sociedade de Psicologia do Triângulo 
Mineiro. Primeiro volume e número (V.1 N.1) publicado em dezembro de 1998. Uberlândia 
– MG. 
 
 
 
 
Capa 
 
Andréia Fernandes Malaquias Assistente - Comunicação Social /UFTM 
 
 
Diagramação 
 
 
Thimoteo Pereira Cruz 
 
 
Impressão e Acabamento 
 
 
Gráfica Univesitária da Universidade Federal do Triângulo Mineiro 
 
 
Ficha catalográfica: 
 
 
 REVISTA PERSPECTIVAS EM PSICOLOGIA. Uberlândia, 
V.15 N.1, jan/jun.2011. (V.1 N.1 de dezembro de 1998) 
 Sociedade de Psicologia do Triângulo Mineiro. 
 Universidade Federal do Triângulo Mineiro. 
 Universidade Federal de Uberlândia 
 
 Semestral 
 
 1. Psicologia 
 
 ISSN 2237-6917 CDU: 159.9 
 
 
Revista indexada ao 
INDEX-PSI 
(www.psicologia-online.org.br/index_psi.html) 
http://www.psicologia-online.org.br/index_psi.html
REVISTA PERSPECTIVAS EM PSICOLOGIA 
4 
RReevviissttaa PPeerrssppeeccttiivvaass eemm PPssiiccoollooggiiaa,, VV.. 1155 nn..11.. JJaann // JJuunn 22001111 
Editorial 
 
 
 
 
EDITORIAL 
 
 
 
 
SAÚDE E COMPROMISSO SOCIAL 
 
Moisés Fernandes Lemos 
 
 Na década de oitenta, a sociedade organizada já levantava bandeiras, exigindo do 
Estado garantias de investimentos em saúde pública, educação e saneamento básico, por 
entender que essa era uma maneira de melhorar a qualidade de vida da população mais 
sofrida. Isso faz muito tempo, mas nas últimas décadas o Brasil observou a consolidação do 
regime democrático e hoje podemos participar diretamente da destinação de verbas públicas, 
atendendo às necessidades das diversas regiões de um país continental. Os problemas de 
saneamento básico foram relativamente resolvidos, as endemias e a mortalidade infantil 
foram controladas. O Brasil ainda tem muitos problemas, entretanto, nos últimos anos o 
número de brasileiros abaixo da linha da pobreza diminuiu, assim como diminuiu o número 
de mortes por fome, por problemas de saúde de fácil controle como diarréia e doenças 
infantis passíveis de coberturas pelas vacinações. Cresceu o número de brasileiros na escola, 
aumentando, principalmente a quantidade de anos em que o brasileiro permanece nela. 
Aumentou a incidência de brasileiros com carteiras assinadas, com capacidade de compra, 
com duas ou mais refeições dia e o acesso à casa própria. Enfim, as condições de vida no 
Brasil melhoraram, consideravelmente, nos últimos anos, elevando a expectativa de vida de 
nosso povo. 
Mas nesse cenário, hoje nos perguntamos: quais os desafios das instituições de ensino em 
Psicologia e as exigências do mercado de trabalho para a atuação em saúde? Para tentar 
responder a este questionamento retomamos um pouco da história da Psicologia. As 
experiências de Wundt na Alemanha levaram ao reconhecimento da Psicologia como área do 
saber, dotando-a de um objeto de estudo e de um método de investigação científica que a 
deram o status de ciência do comportamento. Os esforços de Freud, estabelecendo as bases 
da Psicanálise contribuíram, sobremaneira, para o desenvolvimento da clínica e 
indiretamente para a inclusão da Psicologia na área de saúde, seja pelo desenvolvimento da 
teoria, de procedimentos técnicos ou da prática clínica. Não obstante, foi a pequena 
possibilidade de recuperação dos pacientes internados nos hospitais psiquiátricos suscitou 
questionamentos em diversos países, levando ao surgimento dos primórdios do movimento 
denominado de anti-psiquiatria. Na década de 60 a luta anti-manicomial atinge seu ápice na 
Itália com Franco Baságlia que fecha os manicômios, dando aos internos um tratamento mais 
humano e devolvendo-lhes a cidadania. As experiências de Baságlia geram um movimento 
sem precedentes, com repercussão no mundo todo. 
REVISTA PERSPECTIVAS EM PSICOLOGIA 
 
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No Brasil é apresentado o Projeto de Lei do deputado Paulo Delgado, que reduz o 
número de leitos e propõe meios alternativos ao tratamento do doente mental. Os 
trabalhadores da saúde se organizam em movimento e em 1985 é realizada uma convenção, 
exigindo mudanças significativas no modelo de saúde. Como consequência da organização 
dos trabalhadores em saúde pública o país adota um modelo de assistência inspirado no 
modelo de assistência sandinista, o qual teve como inspiração o modelo cubano. Observa-se, 
então, uma mudança significativa na assistência pública à saúde, com a redução de leitos e 
com a implantação das políticas do SUS em substituição ao modelo de hospitalização do 
INPS. Como principal recurso à assistência e promoção da saúde mental a lei prevê a 
instalação dos CAPS e a realização de oficinas terapêuticas. A saúde passa a ser um esforço 
conjunto de diversas áreas do saber, havendo uma horizontalização do poder na equipe 
interdisciplinar que atende à demanda, ou seja, a saúde mental deixa de ser uma atribuiçãodo psiquiatra, contando com as contribuições de profissionais de diversas áreas, dentre elas a 
Psicologia. 
No que se refere à expansão das áreas de atuação da psicologia clínica os profissionais 
com formação de inspiração psicanalítica, por influência da Psicanálise Argentina, de forte 
inspiração socialista, começam a praticar uma clínica mais social, posto que a Psicologia 
clínica passe a ser praticada de maneira mais extensa, afirmando seu compromisso com as 
camadas menos favorecidas da população, mas por diversas razões que não cabe aqui 
discuti-las amiúde. Fato é que a Psicologia Clínica ao ser aplicada em larga escala carece da 
adequação das técnicas para atender uma clientela mais ampla da população, inaugurando a 
chamada clínica extensa, que sem negar as origens psicanalíticas faz uma clínica mais 
voltada para o social, se adaptando gradativamente às características da sociedade brasileira. 
Se na década de 1980 recebíamos formação voltada para a Psicologia de atendimentos 
individuais em consultórios, hoje ainda temos deficiências: carecemos de formar 
profissionais para uma nova realidade: a saúde pública. Não basta ensinar técnicas 
atendimentos clínicos, colocar profissionais no mercado em larga escala, pois suas primeiras 
oportunidades de trabalhar provavelmente serão na saúde pública. No entanto, o modelo de 
formação que ele recebeu não o capacita para atuar nessa área, gerando problemas para 
quem contrata e para o próprio psicólogo que se vê frustrado em suas iniciativas e com a 
identidade profissional pouco estabelecida. 
Nesse cenário, nos parece que o grande desafio para quem atua em saúde pública seja, 
por um lado, trabalhar numa equipe interdisciplinar, colocando sua escuta treinada a serviço 
do grupo. Por outro, vimos como um desafio o desenvolvimento de habilidades e 
competências, adequando as técnicas para o atendimento em grupo, com o envolvimento das 
famílias, das instituições e da rede social. O aprimoramento das oficinas terapêuticas é outro 
desafio, já que na prática elas não cumprem o papel previsto na legislação. Cabe ainda 
destacar que o papel do psicólogo na equipe não está garantido na lei, devendo os colegas 
que ali atuam justificar suas permanências nas equipes de trabalho e essa justificativa se faz 
com empenho e resultados. 
Entendemos que esse problema deva ser resolvido pela categoria e pelas instituições 
formadoras de tal maneira que o público alvo seja mais bem assistido. Destacamos, ainda, 
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que não da para pensar em formação em Psicologia sem pensar em Psicologia Aplicada. O 
compromisso profissional do psicólogo deve ser essencialmente com a sociedade, como 
retribuição dos investimentos sociais em sua formação e capacitação como forma de 
diminuir o sofrimento humano, seja a instituição formadora pública ou privada, posto que 
todas usufruam das benesses do Governo. 
Sendo assim, cabe aos periódicos de Psicologia estimular a discussão, difundir os 
resultados de pesquisas e publicar avanços e retrocessos da área. Essas experiências, 
certamente, contribuirão para que a Psicologia alcance seu lugar na história. Nesse sentido, a 
Revista Perspectivas em Psicologia, sem perder de vista sua proposta generalista, soma 
esforços com as demais publicações do gênero, buscando um lugar para os psicólogos nas 
equipes de saúde, por mérito e competência. Tenham uma boa leitura! 
 
 
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Artigos 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAMINHOS METODOLÓGICOS NA PESQUISA 
EM PSICOLOGIA: PESQUISANDO A ATUAÇÃO 
DO PSICÓLOGO ESCOLAR 
 
Marilene Proença Rebello de Souza (USP – São Paulo - SP) 
Anabela Almeida Costa e Santos Peretta (UFU – Uberlândia - MG) 
Juliana Sano de Almeida Lara (UFU – Uberlândia - MG) 
Roseli Fernandes Lins Caldas (Instituto Mackenzie – São Paulo - SP) 
 
Resumo 
O presente artigo propõe-se a apresentar e discutir os recursos metodológicos utilizados para realização da 
pesquisa “A atuação do psicólogo da rede pública de ensino frente à demanda escolar: concepções, 
práticas e inovações”, no estado de São Paulo. A investigação foi organizada em duas frentes 
concomitantes: 1) pesquisa de campo sobre práticas psicológicas desenvolvidas na rede pública de 
educação, que contemplou aplicação de questionários e realização de entrevistas; 2) análise documental 
por meio da revisão de literatura sobre a atuação do psicólogo na educação. Foi possível mapear onde e 
como atuam os psicólogos paulistas. Identificaram-se avanços nas práticas profissionais psicológicas no 
campo da educação, os quais anunciam que psicólogos têm se apropriado dos conhecimentos da 
Psicologia Escolar e Educacional Crítica. 
Palavras-chave: psicologia escolar; metodologia; atuação do psicólogo; ensino público. 
 
Abstract 
Methodological paths Research in Psychology: survey on school psychologist proceedings 
This article aims to present and discuss the methodological resources for the research “School 
Psychologists in Public School Education: conceptions, practices and innovations” in the State of São 
Paulo, Brazil. The investigation was organized into two concomitant fronts: 1) field research on the 
psychological practices developed in public education, which included questionnaires and interviews; 2) 
document analysis by reviewing the literature about the practice of psychologists in education. It enabled 
the mapping of where and how the psychologists work. Advances in professional psychological practice 
in education were identified, which announced that psychologists have appropriated the knowledge from 
Critical School Psychology. 
Keywords: school psychology; methodology; psychologist performance; public education. 
 
 
Artigo Recebido em 03/01/2012 e Aprovado em 29/8/2012 
 
 
MARILENE PROENÇA REBELLO DE SOUZA, ANABELA ALMEIDA COSTA E SANTOS PERETTA, JULIANA 
SANO DE ALMEIDA LARA, ROSELI FERNANDES LINS CALDAS 
 
 
 
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8 
Introdução 
 
O presente artigo se propõe a apresentar e 
discutir os recursos metodológicos utilizados 
para a realização da pesquisa “A atuação do 
psicólogo da rede pública de ensino frente à 
demanda escolar: concepções, práticas e 
inovações”. Considerando a relevância da 
escolha e sistematização do percurso 
metodológico para os estudos científicos, o 
presente texto tem como objetivo 
compartilhar os desafios e os caminhos 
encontrados para desenvolver estudo 
comprometido com conhecer e discutir a 
atuação em Psicologia Escolar e Educacional. 
A pesquisa em questão foi desenvolvida em 
âmbito nacional, nos estados de São Paulo, 
Rondônia, Acre, Minas Gerais, Bahia, Santa 
Catarina e Paraná. 
Buscou-se manter uma unidade 
metodológica em todos os estados, 
possibilitando, assim, que tivéssemos acesso a 
uma espécie de “estado da arte” da prática 
profissional em Psicologia no campo da 
educação. E, neste artigo, nos deteremos mais 
especificamente no modo como se deu a 
condução do estudo no estado de São Paulo. 
Destaca-se a relevância de São Paulo para que 
se conheçam as tendências e as peculiaridades 
da atuação em Psicologia. É possível 
constatar que o estado concentra quase um 
terço dos psicólogos brasileiros
1
 e abriga os 
principais centros de pesquisa e formação que 
têm desenvolvido propostas de mudança de 
rumos na Psicologia Escolar e Educacional. 
 A Psicologia Escolar passou por uma 
grande transformação desde a década de 
1980, quando foram desvelados os 
compromissos político-ideológicos que 
vinham sendo assumidos até então poresta 
ciência e profissão. Passou-se, então, de uma 
atuação psicológica marcada pela intervenção 
junto à dimensão individual das questões 
escolares, para práticas mais comprometidas 
com os aspectos institucionais e políticos da 
educação. 
Tais mudanças também impactaram a 
pesquisa em Psicologia Escolar e 
Educacional. Há cerca de 20 anos, 
começaram a ganhar evidência trabalhos 
dedicados a compreender o processo de 
escolarização. A temática das políticas 
públicas em Educação também se tornou foco 
de atenção das pesquisas em Psicologia 
(Souza, 2010a). Em consonância com a 
vertente de pesquisa voltada à compreensão 
de como as políticas públicas em Educação 
têm sido implantadas e apropriadas pelos 
diversos participantes da vida diária escolar, 
estão os estudos que buscam compreender 
como tem se dado a inserção da psicologia na 
educação pública brasileira (Balbino, 2008; 
Marinho-Araújo, Neves, Penna-Moreira e 
Barbosa, 2011). O estudo deste tema tem se 
revelado fundamental para a compreensão de 
quais conquistas têm sido alcançadas, bem 
como para que se identifique quais são os 
desafios e as lutas necessárias a garantir que o 
psicólogo seja um profissional que tenha 
possibilidades de atuação e efetivas 
contribuições para a educação brasileira. 
É neste cenário que se insere a pesquisa 
aqui apresentada, que teve como objetivo 
geral identificar e analisar concepções e 
práticas desenvolvidas pelos psicólogos da 
rede pública frente às queixas escolares, 
oriundas do sistema educacional, visando 
compreender em que medida apresentam 
elementos inovadores e pertinentes às 
discussões recentes na área de Psicologia 
Escolar e Educacional em busca de um ensino 
de qualidade para todos. O estudo foi 
organizado em duas frentes concomitantes, 
contemplando modalidades distintas de 
CAMINHOS METODOLÓGICOS NA PESQUISA EM PSICOLOGIA: PESQUISANDO A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO 
ESCOLAR 
 
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investigação: 1) investigação das práticas 
psicológicas desenvolvidas na rede pública de 
educação, realizada por meio da pesquisa de 
campo; 2) investigação das discussões 
recentes na literatura sobre a atuação do 
psicólogo na educação, realizada por meio da 
análise documental. Ao optarmos por estes 
dois procedimentos visávamos estabelecer um 
diálogo teórico-prático no que se refere à 
atuação em Psicologia Escolar. Tal recurso 
possibilitou que identificássemos como e em 
que medida as discussões e proposições que 
comparecem nas publicações recentes da área 
de Psicologia Escolar e Educacional têm sido 
incorporadas nas práticas dos profissionais 
que atuam junto à rede pública de educação. 
Conhecer a atuação dos psicólogos que 
estão vinculados ao ensino público do estado 
de São Paulo foi uma tarefa complexa, 
desenvolvida por meio de estratégias que 
possibilitaram o acesso a informações 
quantitativas e qualitativas sobre a inserção 
dos profissionais e as práticas por eles 
desenvolvidas. 
A possibilidade de que estratégias 
quantitativas e qualitativas possam ocupar 
uma relação de complementariedade em 
estudos científicos vem sendo abordada por 
importantes pesquisadores (Minayo & 
Sanches, 1993; Spink, 1999), que questionam 
a ideia de dicotomia entre essas formas de 
conduzir pesquisas. As abordagens 
quantitativas possibilitam conhecer a 
magnitude de fenômenos sociais, enquanto as 
abordagens qualitativas propiciam que novos 
aspectos de um fenômeno emerjam e 
possibilitam que sejam compreendidos os 
significados sob a perspectiva dos sujeitos 
envolvidos (Serapioni, 2000). 
Spink (1999) propõe a triangulação 
metodológica, ou seja, a utilização de técnicas 
múltiplas para que se conheça o objeto de 
pesquisa proposto. A triangulação de 
informações quantitativas e qualitativas, sob 
tal perspectiva, pode ser utilizada como forma 
de enriquecimento do estudo de fenômenos 
complexos e multifacetados. 
Deste modo, as informações quantitativas 
nos possibilitaram fazer um mapeamento 
amplo do número de psicólogos do estado, de 
suas modalidades de intervenção e dos 
referenciais utilizados para a condução do 
trabalho, enquanto as estratégias qualitativas 
de pesquisa foram fundamentais para que 
fosse aprofundada a compreensão a respeito 
das práticas desenvolvidas e dos contextos em 
que se inserem. 
 
Conhecendo as práticas dos psicólogos na 
rede pública de educação 
 
No Estado de São Paulo, centramos a 
busca por psicólogos nas Secretarias 
Municipais de Educação após verificarmos 
que não havia psicólogos trabalhando na 
Secretaria da Educação deste estado. Devido à 
impossibilidade de contatar os 645 municípios 
do estado, foi composta uma amostra de 133 
municípios para contato, obedecendo aos 
seguintes critérios: a) boa receptividade por 
parte dos psicólogos do município à pesquisa; 
b) contato com psicólogos que participam de 
atividades na universidade e que, portanto, 
poderiam apresentar informações relevantes à 
pesquisa; c) contemplar todas as regiões do 
Estado de São Paulo, tendo como referência 
as cidades-sede das Diretorias de Ensino 
subordinadas à Secretaria da Educação do 
Estado de São Paulo (vide Figura 1); d) 
contatar todos os municípios da região 
metropolitana de São Paulo. 
Optou-se por realizar contato com as 
cidades-sede de cada Diretoria de Ensino 
porque estas correspondem a municípios de 
MARILENE PROENÇA REBELLO DE SOUZA, ANABELA ALMEIDA COSTA E SANTOS PERETTA, JULIANA 
SANO DE ALMEIDA LARA, ROSELI FERNANDES LINS CALDAS 
 
 
 
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10 
grande porte que aglutinam à sua volta um 
conjunto de municípios pequenos e médios, 
circunscritos a cada diretoria. Desta forma, 
consideramos que as cidades pertencentes a 
uma mesma diretoria sofreriam, no âmbito 
educacional, a influência de uma mesma 
administração, centralizada na cidade-sede. 
Quanto à região metropolitana de São 
Paulo, optou-se por contatar todos os 
municípios que a compõem, por ser uma 
região que concentra um grande número de 
instituições de Ensino Superior com cursos de 
Psicologia. De acordo com a Associação 
Brasileira de Ensino de Psicologia (ABEP, 
2010), no Ensino Superior há 33 cursos de 
Psicologia na capital e nove nos demais 
municípios da Grande São Paulo, totalizando 
42 dos 99 cursos de Psicologia oferecidos no 
Estado de São Paulo (42%). 
 
Figura 1. Divisão do Estado de São Paulo em 
Diretorias de Ensino 
Extraído de: Souza (2010b) 
 
O contato inicial e os questionários 
 
O contato telefônico inicial
2
 com as 
Secretarias de Educação dos municípios 
permitiu obter a informação sobre a presença 
ou não de psicólogos em seu quadro de 
funcionários. Os psicólogos encontrados 
foram convidados a responder questionário, 
enviado via fax, correio ou e-mail, ou 
entregue pessoalmente, no caso de cidades 
próximas, de fácil acesso. O material da 
pesquisa enviado era composto por: Carta de 
apresentação; Termo de Consentimento Livre 
e Esclarecido e Questionário. 
O questionário era de preenchimento 
individual e as perguntas feitas giravam em 
torno do tempo de trabalho do profissional na 
equipe, seu cargo, formação, sua filiação 
teórica e modalidades de atuação de que se 
utilizava para responder às demandas 
escolares. Estruturava-se nos seguintes eixos: 
dados gerais de identificação, formação, 
níveis de ensino em que atua, público-alvo da 
intervenção, modalidades de atuação, projetos 
desenvolvidos, fundamentação teórica e 
contribuições da Psicologia para a Educação. 
Dessa maneira, os 108 questionários 
respondidos proporcionaram a obtenção de 
dados que permitiram a caracterização das 
modalidades de atuação profissional,a 
compreensão das concepções que respaldam 
as práticas psicológicas, a identificação das 
práticas realizadas e a identificação de 
indícios que apontassem o caráter inovador 
das práticas realizadas. Indícios esses que 
serviram de base para a seleção dos 
municípios cujos profissionais seriam 
entrevistados na etapa seguinte da pesquisa. 
Além de proporcionar dados para a 
seleção dos profissionais que participariam da 
segunda etapa da pesquisa, os questionários 
permitiram coletar dados muito ricos na 
caracterização da atuação dos psicólogos que 
atuam na rede pública de educação e das 
práticas que desenvolvem. Optou-se, então, 
por realizar tanto leituras de caráter 
quantitativo, em relação à distribuição da 
amostra e à frequência dos dados, como 
também leituras de caráter qualitativo, com 
categorizações das respostas por similitudes 
CAMINHOS METODOLÓGICOS NA PESQUISA EM PSICOLOGIA: PESQUISANDO A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO 
ESCOLAR 
 
RReevviissttaa PPeerrssppeeccttiivvaass eemm PPssiiccoollooggiiaa,, VV.. 1155 nn..11.. JJaann // JJuunn 22001111 11 
dos conteúdos, principalmente em relação às 
questões abertas. 
A análise estatística utilizou o programa 
Statistical Package for Social Sciences (SPSS) 
– Versão 10, para verificar de que maneira os 
dados coletados dos diferentes eixos do 
questionário se associavam, permitindo a 
formação de perfis dos psicólogos que 
atuavam na rede pública de Educação no 
Estado de São Paulo. Para tanto, foi realizada 
uma categorização das respostas coletadas nos 
questionários e todos os 108 questionários 
respondidos foram tabulados de acordo com 
esta categorização. 
 Foi avaliada a associação entre pares de 
variáveis por meio do teste “qui-quadrado”, 
para verificar quais delas eram significativas. 
Todos os pares possíveis de variáveis foram 
testados. A constatação de associações 
significativas entre variáveis demonstra a 
existência de um padrão na distribuição dos 
dados, determinado por dependência entre 
essas variáveis. A partir das associações 
significativas entre pares de variáveis, foi 
utilizada a Análise de Correspondência 
(ANACOR)
3
 para verificar as associações 
significativas entre duas ou mais variáveis. 
Esta análise gerou um mapa multidimensional 
que permitiu entender como as variáveis se 
associavam, podendo-se criar perfis. 
Para as leituras de caráter quantitativo e 
qualitativo, o questionário foi dividido em três 
grandes categorias: a) identificação; b) 
atuação profissional; c) fundamentação 
teórico-metodológica da atuação. 
 
Identificação 
 
A categoria identificação abrangeu 
informações relativas a: a) dados pessoais: 
sexo e idade; b) Secretaria de Educação: 
cargo (contrato), função (que exercia), tempo 
no cargo e ano de ingresso na Secretaria de 
Educação; c) formação: tempo de formação, 
Instituição formadora e cursos realizados. 
As análises decorreram a partir da 
descrição da frequência dos dados, com 
leituras sobre os valores em médias e 
porcentagens. Em relação às respostas dadas 
sobre o trabalho do psicólogo na Secretaria de 
Educação, além da análise quantitativa sobre 
a distribuição da amostra, foram feitas 
categorizações a partir das diversas respostas 
dadas aos itens: “Cargo” de contratação pela 
Secretaria de Educação; “Função” exercida 
pelo profissional e “Tempo no Cargo”. 
 
Atuação Profissional 
 
A categoria atuação profissional abrangeu 
informações sobre a) clientela: níveis de 
ensino em que atua o psicólogo e público-alvo 
do trabalho; b) modalidades de atuação: com 
as opções: “avaliação psicológica”, 
“atendimento clínico”, “formação de 
professores”, “assessoria às escolas” e 
“outros”; era solicitado que o psicólogo 
especificasse os objetivos e estratégias de 
ação para cada modalidade de atuação; c) 
projetos e trajetória profissional: descrição de 
projetos desenvolvidos ao longo da carreira 
profissional, com destaque para os mais 
relevantes. 
Para as temáticas “Níveis de Ensino”, 
“Público-Alvo” e “Modalidades de Atuação”, 
foi feita uma análise da frequência das 
respostas assinaladas, que foram divididas em 
categorias para obtenção das médias e 
porcentagens. Também foram realizadas 
categorizações de caráter qualitativo, 
buscando-se verificar se o público-alvo era 
predominantemente alunos e pais ou se 
envolvia também outros atores do processo 
ensino-aprendizagem, como professores e 
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SANO DE ALMEIDA LARA, ROSELI FERNANDES LINS CALDAS 
 
 
 
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funcionários. Com relação às modalidades de 
atuação, buscou-se entender, 
qualitativamente, como as práticas são de fato 
realizadas. 
Quanto à temática “Projetos e Trajetória 
profissional”, procurou-se separar os projetos 
citados em categorias, baseadas nos nomes 
dados aos projetos e na análise da descrição 
dos mesmos, tendo como objetivo agrupá-los 
de acordo com o público-alvo do trabalho 
e/ou com o foco da atuação. 
 
Fundamentação teórico-metodológica da 
atuação 
 
Na categoria fundamentação teórico-
metodológica da atuação, foram agrupadas as 
respostas dadas pelos psicólogos às questões 
sobre os “Autores que fundamentam 
teoricamente o trabalho” e sobre as 
“Contribuições o psicólogo pode dar à 
Educação”, bem como comentários adicionais 
feitos por alguns profissionais. 
A respeito dos “Autores” foram arrolados 
os autores e obras citados pelos psicólogos. 
Procurou-se agrupar autores e obras em 
categorias, levando em conta as abordagens 
dos autores citados. As categorias utilizadas 
foram: “Educação”, para autores da Educação 
e da Psicologia em sua interface com a 
Educação; “Clínica”, para autores da 
psicologia e da psicanálise clínicas; 
“Educação e Clínica”, para autores que fazem 
uma junção entre as duas áreas, como no caso 
da psicopedagogia; e “Outros”, para autores 
que não se encaixavam em nenhuma das 
categorias anteriores. 
A questão referente às “Contribuições à 
Educação” que a atuação do psicólogo pode 
oferecer e os comentários finais feitos pelos 
participantes foram analisadas 
qualitativamente a partir do conteúdo das 
respostas dadas. 
A análise da fundamentação teórico-
metodológica presente nas respostas dadas 
aos questionários foi fundamental para que 
fossem escolhidos os municípios participantes 
da segunda etapa da pesquisa. Foram 
selecionadas equipes municipais ou 
psicólogos que apresentaram indícios de 
criticidade, ou seja, aqueles que apontaram 
para a direção de uma prática crítica. Para o 
levantamento desses indícios, que serviram de 
guia para identificar quais municípios 
apresentavam práticas inovadoras e 
condizentes com uma perspectiva crítica em 
Psicologia Escolar e Educacional, foram 
tomadas como referências as produções 
teóricas explicitadas a seguir. 
Adotou-se a concepção de crítica proposta 
por José de Souza Martins (1977) em 
Sociologia e Sociedade, citada por Maria 
Helena Souza Patto em Introdução à 
Psicologia Escolar (1997, p. 464), 
compreendido como um conceito que conduz 
à raiz dos fenômenos e se opõe a 
naturalização, levando a considerar o contexto 
histórico, político e cultural: 
(...) a possibilidade de pensamento 
crítico – do pensamento que vai à raiz 
do conhecimento, define seus 
compromissos sociais e históricos, 
localiza a perspectiva que o construiu, 
descobre a maneira de pensar e 
interpretar a vida social da classe que 
apresenta esse conhecimento como 
universal, porque supostamente 
objetivo e neutro (Martins, 1977, p.2) 
 
 
 
 
CAMINHOS METODOLÓGICOS NA PESQUISA EM PSICOLOGIA: PESQUISANDO A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO 
ESCOLAR 
 
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Tabela 1. Correspondência entre Indícios de Atuação 
Crítica em Psicologia Escolar e Educacional 
(Tanamachi, 1997) e Itens do Questionário 
 
Para a análise dos questionários, foram 
utilizados como base produções de Elenita de 
Rício Tanamachi e Marisa Eugênia Melillo 
Meira a respeito da atuação crítica em 
Psicologia Escolar e Educacional. Meira & 
Tanamachi (2003) defendem que a prática 
crítica em Psicologia Escolar e Educacional 
deve procurar analisar a produção da queixa 
escolar e o processo de subjetivação e 
objetivação da escolarização. Esta abordagem 
deve tentar compreender fenômenos por meio 
de suas múltiplas determinações e o método 
utilizado deve se pautar na reflexão e análise 
dos processos. 
Para identificar se as práticas relatadas 
nos questionários indicavam atuações em 
Psicologia Escolar e Educacional numa 
direção crítica, utilizou-se como base o 
procedimento adotado por Tanamachi em sua 
tese de doutorado, intitulada Visão crítica de 
Educação e de Psicologia: elementos para a 
construção de uma visão crítica de Psicologia 
Escolar (1997), para definir se as teses e 
dissertações estudadas seguiam uma 
perspectiva crítica. A partir dos indícios 
adotados por Tanamachi, fez-se uma 
correlação com os itens do questionário, 
conforme indicado no Quadro 1. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Considerou-se que todos os elementos 
constitutivos de uma atuação crítica, 
apontados acima, não seriam claramente 
observados em todos os itens de um mesmo 
questionário, assim buscou-se por indícios de 
criticidade. Além disso, classificar 
determinada atuação como “crítica” ou “não 
crítica” significaria operar de acordo com a 
lógica formal, ou seja, sem considerar a 
multideterminação dos fenômenos, o que é 
compreendido como essencial a partir do 
referencial teórico adotado. Com a leitura das 
respostas, observou-se que muitas respostas 
apresentavam tanto elementos críticos quanto 
não críticos, encontrando-se numa linha 
contínua entre estes dois pólos. Dessa forma, 
a presença de qualquer um dos elementos 
constitutivos de uma atuação crítica, 
inovadora, ou não crítica, tradicional, não 
necessariamente resultaria em uma 
classificação direta da atuação do psicólogo 
participante como crítica ou não crítica, 
respectivamente. Por isso, na seleção para a 
segunda etapa da pesquisa, foi realizada a 
análise de cada questionário como um todo, 
buscando-se identificar quais participantes 
apresentavam mais tendências à criticidade 
em sua atuação e verificando a coerência 
interna entre as respostas dadas. 
Foram considerados elementos críticos 
aqueles que apontavam para uma atuação que 
contemplasse as multideterminações dos 
fenômenos educacionais e que buscasse 
incluir os diversos atores escolares na 
Indícios de perspectiva 
crítica 
Itens do questionário 
Consideração das múltiplas 
determinações (sociais, 
econômicas, políticas, 
históricas) e presença de 
concepção sobre o homem e 
sobre a educação. 
Público-alvo 
 Foco da intervenção 
 Concepção sobre a queixa 
escolar ou fracasso escolar 
Contribuição teórico-prática 
articulada à realidade em 
que se está inserido. 
 Projetos 
 Modalidade de Atuação 
Pressupostos teórico-
metodológicos/ referência a 
autores do pensamento 
crítico e o modo como são 
apropriados. 
Autores de referência 
 Cursos realizados 
Explicitação de um 
compromisso técnico-
político e/ou teórico-prático 
com a transformação da 
Psicologia. 
 Contribuições do psicólogo à 
educação 
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SANO DE ALMEIDA LARA, ROSELI FERNANDES LINS CALDAS 
 
 
 
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superação das queixas. Consideramos 
elementos não críticos aqueles 
correspondentes a uma atuação que centrasse 
o foco da queixa escolar no indivíduo – 
geralmente no aluno e em sua família – 
desconsiderando as relações institucionais e a 
multiplicidade de determinações sociais e 
históricas que a produzem. Concluiu-se que as 
entrevistas seriam uma etapa fundamental 
para identificar em que medida as atuações 
dos psicólogos aproximavam-se ou 
afastavam-se do que consideramos como 
atuação crítica em Psicologia Escolar e 
Educacional. Além disso, forneceriam 
importantes informações a respeito de quais 
seriam as condições concretas de trabalho que 
possibilitam ou criam empecilhos para 
atuações em perspectiva crítica. 
 
As entrevistas 
 
Seleção dos municípios para entrevista 
 
Para a realização desta etapa da pesquisa, 
foram selecionados 11 dos municípios 
contatados. Adotamos como critério de 
seleção dos municípios para a segunda etapa a 
presença de indicativos de uma atuação crítica 
e inovadora dos psicólogos, conforme 
critérios apontados anteriormente, e que 
contemplasse os avanços teórico-
metodológicos da área de Psicologia Escolar e 
Educacional. 
 
Realização das entrevistas 
 
A realização das entrevistas teve como 
objetivo possibilitar maior aprofundamento a 
respeito das práticas empreendidas pelos 
psicólogos. Por se tratar de um instrumento de 
coleta da linguagem própria do entrevistado, 
possibilitando ao investigador desenvolver 
uma ideia de como o sujeito interpreta 
aspectos da vida social, a entrevista é 
amplamente utilizada em pesquisas de cunho 
qualitativo, sobretudo na área educacional 
(Bogdan & Biklen, 1994). 
Para a realização das entrevistas, as 
Secretarias Municipais de Educação dos 
municípios escolhidos foram novamente 
contatadas para convidar os psicólogos a 
participarem da segunda etapa da pesquisa. 
Toda a equipe dos psicólogos foi convidada 
para a entrevista em grupo, mesmo que 
tivesse como membros profissionais de outras 
áreas e os projetos desenvolvidos pelos 
psicólogos fossem diferentes entre si, pois foi 
tomada como referência a instituição que 
oferece o serviço de Psicologia, e não cada 
profissional isoladamente. Os profissionais 
entrevistados receberam uma carta-convite 
para participação desta etapa da pesquisa e 
também o Termo de Consentimento Livre e 
Esclarecido, referente ao uso do material das 
entrevistas pelos pesquisadores. 
As entrevistas seguiram roteiro 
semiestruturado, elaborado para assegurar que 
o foco da conversa se articulasse com os 
objetivos da pesquisa, e para proporcionar a 
exploração de assuntos levantados pelo 
entrevistado. Por outro lado, o caráter 
semiestruturado da entrevista ofereceu 
oportunidade para que os participantes 
discorressem com maior liberdade sobre 
temas abordados pela pesquisa, de modo que 
pudessem expressar o que pensavam e 
sentiam a respeito. O objetivo da entrevista 
foi esclarecido aos participantes, assegurando-
lhes que a entrevista seria tratada de forma 
sigilosa, evitando qualquer forma de 
identificação do sujeito entrevistado. 
 
Análise das entrevistas 
 
CAMINHOS METODOLÓGICOS NA PESQUISA EM PSICOLOGIA: PESQUISANDO A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO 
ESCOLAR 
 
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Todas as entrevistas foram gravadas e 
transcritas; no entanto, duas entrevistas foram 
descartadas: uma devido à má qualidade do 
áudio e outra porque, embora apresentasse 
indícios de criticidade no questionário, a 
entrevista indicou uma atuação com tendência 
predominantemente tradicional. Dessa forma, 
restaram nove municípios paulistas 
participantes da etapa das entrevistas, cada 
qual com número variado de psicólogos. 
As entrevistas foram analisadas utilizando 
procedimentos de análise de conteúdo, tal 
como é definida por Bardin (2000): 
Um conjunto de técnicas de análise das 
comunicaçõesvisando obter, por 
procedimentos, sistemáticos e objetivos 
de descrição do conteúdo das 
mensagens, indicadores (quantitativos 
ou não) que permitam a inferência de 
conhecimentos relativos às condições 
de produção/recepção (variáveis 
inferidas) destas mensagens. (p.42) 
A compreensão das entrevistas visou à 
exploração do material obtido de modo a 
organizá-lo, possibilitando que fossem feitas 
interpretações e inferências (Bardin, 2000). O 
processo de interpretação consistiu na 
compreensão do significado das ações e 
daquilo que foi dito, conforme aponta 
Rockwell (1987). Esta autora ressalta também 
que 
interpretar requer compartilhar, dentro 
do possível, ‘o conhecimento local’; 
compreender o que é dito como o fazem 
os outros sujeitos da localidade 
implicaria, dentre outras coisas, 
compartilhar toda a sua experiência 
comum, o que é impossível (p. 27). 
Ainda que seja impossível compartilhar 
completamente os significados, cabe ao 
pesquisador buscar essa aproximação. O 
conhecimento progressivo da situação 
estudada, bem como das pessoas que dela 
participam, e a comparação de respostas 
dadas pelos diversos informantes foram 
importantes recursos (Rockwell, 1987). 
Porém, além dessa aproximação com as 
categorias ‘locais’, com o modo como os 
indivíduos viviam a situação estudada, foi 
necessário construir categorias analíticas que 
permitissem estabelecer relações e 
conceitualizações que escapavam àqueles que 
estavam imersos numa determinada realidade. 
Para isso, os pesquisadores se debruçaram 
sobre as entrevistas em busca de 
regularidades e padrões, a fim de realizar uma 
codificação e categorização que possibilitasse 
a articulação entre os avanços teóricos na 
Psicologia Escolar e Educacional e as práticas 
adotadas na rede pública de atendimento à 
Educação. 
Com este intuito, após a leitura de 
algumas entrevistas para entrar em contato 
com o material obtido, foi organizado um 
roteiro inicial de análise das entrevistas, 
baseado no roteiro para a realização das 
entrevistas e nos objetivos da pesquisa. Tal 
roteiro foi dividido em 3 eixos: serviço, 
atuação e concepção teórica. 
Com o roteiro em mãos, toda a equipe leu 
uma mesma entrevista, visando apropriar-se 
dele e verificar se ele estava adequado aos 
objetivos desta etapa da pesquisa. O roteiro 
foi então reformulado a partir das questões 
suscitadas pela leitura da entrevista e 
informações nela contidas que ele não 
contemplava. Assim, o roteiro de análise foi 
ampliado com subitens, com vistas a detalhar 
a descrição das informações contidas nas 
entrevistas. 
Cada entrevista foi analisada por duas 
pessoas, com o objetivo de ampliar as 
impressões sobre a mesma. A partir do roteiro 
de análise, foi construído um texto síntese 
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para cada entrevista, contendo também 
citações de trechos relevantes. 
Dessa forma, a análise das entrevistas foi 
realizada em um processo dinâmico, 
constituído por distintos momentos: primeiro, 
aproximação junto aos dados obtidos em 
campo; segundo, construção do instrumento 
de análise a partir de tais dados e dos 
objetivos pretendidos pela pesquisa; terceiro, 
verificação da adequação do instrumento ao 
objeto; quarto, ajuste do instrumento; e 
quinto, momento de análise dos dados a partir 
do instrumento reformulado. Isto tornou 
possível adequar o instrumento a realidades 
regionais e particularidades trazidas pelos 
conteúdos das entrevistas, tornando a análise 
mais fidedigna da realidade que se buscava 
apreender por meio da entrevista. 
Após a análise de cada entrevista 
separadamente, todas foram analisadas no 
conjunto, em cada um dos eixos: serviço, 
atuação e fundamentação teórica. Foi 
realizada a leitura horizontal, isto é, foram 
lidas as respostas para o mesmo item do 
roteiro de análise em todas as entrevistas para 
observar as semelhanças e particularidades 
daquele tópico. Por fim, foi organizado um 
texto para cada eixo descrevendo o que fora 
encontrado no conjunto de todas as 
entrevistas. 
 
Revisão de literatura: contribuições 
teóricas sobre a atuação do psicólogo na 
educação 
 
Para compreender em que medida as 
práticas desenvolvidas pelos psicólogos que 
atuam nas Secretarias de Educação 
correspondem aos avanços teóricos na área de 
Psicologia Escolar, foi elaborado um 
levantamento da produção bibliográfica sobre 
a atuação do psicólogo na educação, de 
maneira a tornar possível a análise das 
práticas investigadas tomando como base a 
literatura recente. Consideramos que as 
publicações da área revelam, de maneira 
geral, as concepções e fundamentações 
teórico-práticas a serem implementadas no 
campo da atuação do psicólogo na educação. 
Tendo em vista a quantidade de produções 
encontradas e a sua importância, considerou-
se necessário realizar uma análise 
aprofundada e detalhada das publicações. A 
análise da produção bibliográfica foi 
constituída por meio de resenhas, elaboradas 
pela equipe da pesquisa a partir da leitura 
integral dos textos. 
A trajetória metodológica desta etapa da 
pesquisa organizou-se em três momentos, 
apresentados a seguir: a) critérios de escolha 
das produções; b) produção de resenhas das 
publicações; c) análise de conteúdo das 
resenhas. 
 
Primeiro momento: critérios de escolha das 
produções 
 
A pesquisa iniciou-se em 2006, 
realizando-se levantamento de títulos de 
livros e coletâneas
4
 relacionados à Psicologia 
Escolar e Educacional, segundo quatro 
critérios: a) recorte editorial: foram 
selecionadas editoras que usualmente 
publicam o tema de investigação; b) recorte 
temporal: foram escolhidos trabalhos 
publicados entre os anos de 2000 a 2007, 
incluindo reedições de publicações, por 
entendermos que a partir dos anos 2000 
houve um incremento do número de 
produções de Psicologia Escolar e 
Educacional; c) recorte por área de 
conhecimento: buscou-se priorizar trabalhos 
que tratam especificamente de temáticas de 
Psicologia Escolar e Educacional. excluindo 
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outras, tais como: Psicopedagogia, 
Psicomotricidade, Psicolinguística etc; d) 
recorte temático: foram contemplados 
trabalhos que se referem direta ou 
indiretamente à prática do psicólogo escolar. 
 
Segundo momento: produção de resenhas das 
publicações 
 
No segundo momento, realizamos a 
leitura e produção de resenhas
5
 das 
publicações selecionadas. Para elaboração das 
resenhas, foram utilizados três eixos 
norteadores: 1) trajetória do autor: caminho 
percorrido pelo autor na construção de seu 
texto e finalidades do trabalho apresentado; 2) 
concepções teóricas que embasam a atuação 
profissional: explicitação das concepções que 
respaldam as práticas psicológicas descritas 
no texto; 3) proposta de contribuição do autor 
para atuação do psicólogo escolar e 
educacional: caracterização das modalidades 
de atuação profissional e descrição da prática 
proposta pelo autor. Consideramos, ainda, a 
existência de um eixo transversal definido 
como “perspectivas emancipatórias em 
Psicologia e Educação”, compreendendo 
textos que revelam compromisso do 
psicólogo e do conhecimento psicológico com 
abordagens que consideram o fenômeno 
educativo enquanto constituído socialmente, 
nas relações produzidas no cotidiano da 
escola, determinadas sócio-histórico-
culturalmente. Os textos foram lidos na 
íntegra e resenhados
6
 com base nos eixos 
acima.Terceiro momento: análise de conteúdo das 
produções 
 
A atividade de análise das resenhas 
produzidas retomou os eixos gerais de forma 
horizontal, ou seja, buscando identificar cada 
um deles no conjunto das resenhas. Para 
tanto, foram produzidas perguntas que 
visavam detalhar cada um dos eixos. Por 
exemplo, no eixo 1, relativo à “trajetória do 
autor e finalidades do trabalho”, foram 
geradas as seguintes questões: a) autor parte 
de dados educacionais, de sua própria 
trajetória profissional ou de conjunto de 
trabalhos anteriores?; b) quais questões, 
inquietações geraram interesse do autor pelo 
tema?; c) Qual o objetivo do autor?; d) Quais 
instituições relacionadas à área são citadas? 
Após a elaboração dessas questões e 
retorno às resenhas, observamos que várias 
delas referiam-se a temáticas semelhantes. 
Consideramos então que seria interessante, do 
ponto de vista comparativo, reunir o conjunto 
das resenhas, tomando por base determinados 
temas, a saber: a) intervenção do psicólogo na 
educação; b) Psicologia e Educação: 
perspectiva crítica; c) formação do psicólogo; 
d) temas clássicos e revisitados; e) dimensões 
teórico-metodológicas da atuação do 
psicólogo na educação; f) políticas públicas 
em educação; g) formação docente; h) 
educação inclusiva; i) Psicologia Escolar no 
Brasil e em outros países; j) avaliação 
psicológica. 
Buscou-se relacionar as informações 
obtidas nas análises das resenhas e nas 
entrevistas. Para isto, foram articulados os 
elementos indicativos de concepções e 
práticas críticas que compareceram tanto na 
literatura da área, como nos discursos dos 
profissionais participantes da pesquisa. 
 
Resultados e Discussão 
 
Consideramos que os recursos teórico-
metodológicos adotados permitiram um 
levantamento importante sobre a atuação do 
MARILENE PROENÇA REBELLO DE SOUZA, ANABELA ALMEIDA COSTA E SANTOS PERETTA, JULIANA 
SANO DE ALMEIDA LARA, ROSELI FERNANDES LINS CALDAS 
 
 
 
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psicólogo no estado de São Paulo. Foram 
pesquisados 133 municípios do Estado de São 
Paulo, sendo que em 61 deles atuam 
psicólogos, participando da pesquisa 108 
profissionais. Do conjunto dos participantes, 
96,4% são mulheres, na faixa etária de 40 
anos, com a média de 8,7 anos no cargo. 
Encontramos uma variedade de formas de 
contratação: psicólogo, psicólogo escolar, 
professor, coordenador, supervisor, dentre 
outros. Com relação à formação, 78,7% dos 
participantes são provenientes de 
universidades privadas e 93% mantém uma 
formação continuada, nas modalidades: 
especialização, cursos de atualização e 
supervisões. 
Os Serviços de Psicologia são bastante 
diversos quanto à composição: alguns se 
organizam em equipes multiprofissionais, 
equipes por nível de ensino ou psicólogos que 
individualmente atendem à demanda da 
Secretaria de Educação e demais solicitações 
no âmbito do Município e, em alguns casos, 
do estado. Grande parte deles foi instituída a 
partir dos anos 2000, por iniciativa pessoal do 
gestor ou por reivindicação do conjunto de 
profissionais que se encontravam inseridos na 
rede, ou ainda para adaptar-se à política de 
educação inclusiva. Com relação à inserção 
do psicólogo nestes Serviços há uma grande 
diversidade no que tange a vários aspectos: 
cargo, função, carga horária, plano de 
carreira, remuneração e formas de contratação 
e organização do trabalho. Notou-se que um 
dos desafios apontados pelos participantes do 
estudo é a realização do trabalho diante das 
mudanças constantes de gestão do município 
que podem interferir nas formas de atuação. 
Com relação à atuação, a pesquisa 
analisou os seguintes aspetos: público-alvo, 
níveis de Ensino, Modalidades de Atuação e 
Projetos desenvolvidos ao longo da trajetória 
profissional. Na Secretaria de Educação dos 
Municípios, esses profissionais centram seu 
trabalho em todas as modalidades de Ensino, 
predominando a atuação nos níveis de 
Educação Infantil e Ensino Fundamental 
(34%). No que tange à educação inclusiva, 
esta atuação encontra-se em torno de 28%. 
Nesses níveis, as ações centram-se no 
trabalho com professores (89%) e com alunos 
(83%). O trabalho realizado revelou três 
modalidades de atuação: Clínica (15%), 
Institucional (30%) e Clínica e Institucional 
(55%). Os psicólogos trabalham com 
diferentes projetos envolvendo estudantes, 
famílias e instâncias municipais de caráter 
intersetorial (Assistência Social, Saúde 
Mental e, Comunitária). O acompanhamento 
das queixas escolares se dá, principalmente no 
interior das escolas, problematizando os 
encaminhamentos e realizando ações nos 
espaços pedagógicos instituídos, buscando 
abarcar familiares, professores e estudantes, 
optando por modelos institucionais de 
intervenção. 
Do ponto de vista das concepções teórico-
metodológicas, observamos a presença de 
pelo menos três tendências: a) Clínica, ao 
incluir respostas que apontam na direção de 
uma atuação profissional individualizada, 
baseada em diagnóstico e tratamento dos 
problemas de aprendizagem. b) Institucional, 
ao reunir respostas referentes a uma atuação 
que contempla formas de intervenção em que 
participam diversos atores do contexto 
escolar; c) Clínico e Institucional, ao abarcar 
respostas em que comparecem características 
de ambas tendências. De maneira geral, o 
maior número de psicólogos apresentou 
concepções de caráter Clínico e Institucional. 
Do conjunto de psicólogos que 
participaram da pesquisa, pudemos identificar 
aqueles que atuam em nove municípios e que 
CAMINHOS METODOLÓGICOS NA PESQUISA EM PSICOLOGIA: PESQUISANDO A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO 
ESCOLAR 
 
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apresentam um conjunto de práticas 
profissionais que coadunam com as 
tendências de atuação institucional ─ 
atualmente consideradas como as que melhor 
respondem às demandas educacionais em 
uma perspectiva de educação de qualidade 
social para todos e todas. Essa atuação centra-
se em aspectos tais como: a) trabalho em 
equipe multiprofissional ou intersetorial; b) 
atuação em redes sociais; c) compreensão das 
dificuldades escolares a partir do cotidiano 
escolar e da constituição histórico-cultural do 
processo de escolarização; d) crítica aos 
diagnósticos e encaminhamentos das 
dificuldades de aprendizagem e ao fracasso 
escolar; e) atuação na formação de 
professores; f) atuação envolvendo os vários 
atores escolares; g) ações junto à política de 
inclusão escolar; h) participação na 
perspectiva do projeto político pedagógico 
das unidades escolares. 
Os psicólogos entrevistados ressaltaram 
que as dificuldades enfrentadas no âmbito da 
Educação centram-se nos seguintes aspectos: 
a) modalidades de contratação que não 
definem claramente a função do psicólogo na 
educação; b) níveis salariais baixos; c) 
mudanças constantes de gestão; d) carga 
horária não condizente com a demanda da 
educação; e) representação clínica da 
profissão pelos educadores e profissionais da 
saúde; f) questionamentos à política de 
educação inclusiva pelos educadores e pais. 
É importante ressaltar que os profissionais 
destacaram que a Educação pode contribuir 
para o desenvolvimento e a melhoria da 
situação do país e de que esse seria o foco 
central de seu trabalho. 
 
Considerações finais 
 
Diante de um objeto de pesquisa, a 
escolha das estratégias metodológicas a adotar 
é uma das mais importantes decisões que os 
pesquisadores precisam tomar. Sobretudo 
quando fenômenos complexos e pouco 
conhecidos são eleitos como interesse de 
estudo, faz-se necessária a criação de recursos 
que possibilitem a melhor aproximação do 
que se pretende conhecer.Identifica-se, 
porém, que a prática de publicação científica 
destinada à discussão metodológica não tem 
sido muito adotada nos meios acadêmicos. 
Daí a relevância do presente artigo que 
apresentou o percurso metodológico utilizado 
para que fosse possível conhecer a atuação do 
psicólogo da rede pública de ensino do estado 
de São Paulo frente à demanda escolar. O 
estudo, vinculado a uma pesquisa de âmbito 
nacional, buscou compreender quais eram as 
concepções, práticas e inovações presentes na 
condução do trabalho da Psicologia junto à 
educação pública. Foram apresentados neste 
artigo instrumentos e estratégias que 
possibilitaram o acesso a preciosas 
informações quantitativas e qualitativas a 
respeito do que vem sendo publicado na área 
de Psicologia Escolar e de como os 
psicólogos vêm incorporando as contribuições 
das recentes produções acadêmicas recentes 
no seu trabalho. 
A dimensão da pesquisa proposta fez com 
que fosse necessário contar com uma 
numerosa equipe, que envolveu cerca de 50 
pessoas divididas nos sete estados 
participantes, a fim de que fosse possível 
desenvolver a diversidade e a quantidade de 
ações previstas. A equipe do estado de São 
Paulo, proponente do estudo, teve como 
desafio criar a sistematização das estratégias 
que seriam utilizadas. Além disso, foi 
importante que o trabalho fosse conduzido de 
modo muito afinado, no que se refere à 
MARILENE PROENÇA REBELLO DE SOUZA, ANABELA ALMEIDA COSTA E SANTOS PERETTA, JULIANA 
SANO DE ALMEIDA LARA, ROSELI FERNANDES LINS CALDAS 
 
 
 
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clareza de objetivos e de referenciais teórico-
metodológicos. Para isto, foram realizados 
frequentes encontros, nos quais tais aspectos 
foram exaustivamente discutidos. 
Esta criteriosa sistematização foi 
necessária para que houvesse uma unidade 
nos procedimentos e na compreensão do 
fenômeno na pesquisa em âmbito nacional. 
No entanto, não bastou o investimento na 
unidade metodológica. A vasta amplitude do 
estudo trouxe a necessidade da flexibilização 
frente às especificidades e aos obstáculos 
regionais. Assim, conservando-se a estrutura 
metodológica, foi necessário fazer a 
adaptação de procedimentos. Algo que foi, 
em muitos momentos, fundamental para que 
se pudesse ter acesso às informações 
respeitando as características e os contextos 
dos diferentes municípios. 
O método aqui exposto não se põe como 
referencial hegemônico. Apresenta um 
percurso desenvolvido coletivamente, fruto de 
muitas discussões e reflexões do grupo que 
conduziu esta pesquisa. Algo que se 
configurou numa proposta viável e frutífera 
de enfrentamento dos desafios e impasses que 
um trabalho científico de tal monta pode 
apresentar. 
Avaliamos que trabalho foi um trabalho 
bastante importante, pois denotou um 
movimento de avanço em direção à 
construção de práticas profissionais no campo 
da educação que anunciam uma apropriação, 
por parte dos psicólogos que estão na 
Educação Pública, dos conhecimentos que 
vem sendo produzidos pela academia no que 
se refere a uma atuação que denominamos 
crítica em Psicologia Escolar e Educacional. 
Tais indícios de mudança nessa direção, 
identificados em vários momentos deste 
estudo, possibilitam vislumbrar um caminho 
possível, e promissor, para a Psicologia no 
Estado de São Paulo, no campo da Educação 
de qualidade para todos e todas. 
 
Notas de Rodapé 
 
1
 O Estado de São Paulo conta com mais de 
74 mil psicólogos inscritos em seu Conselho 
Regional de Psicologia (CRPSP), segundo 
informação disponível em: 
<http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao
/jornal_crp/169/frames/fr_dia_do_psicologo.a
spx>. No Brasil há aproximadamente 230 mil 
profissionais, segundo informação do 
Conselho Federal de Psicologia (CFP), de 
acordo com informação disponível em 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_a
rttext&pid=S1414-
98932010000500001&lng=pt&nrm=iso> 
 
2
 Os primeiros contatos com os participantes 
da pesquisa e as entrevistas inspiraram-se no 
modelo etnográfico de pesquisa proposto por 
Rockwell, 2009. 
3
 Para mais informação ver: OLIVEIRA, F. E. 
M. (2008). SPSS Básico para Análise de 
Dados. Rio de Janeiro: Ciência Moderna. 
 
4
 Por coletânea entende-se: “conjunto de 
trechos seletos de diferentes obras, ou coleção 
de várias obras ou coisas” (Dicionário 
Eletrônico Houaiss da língua portuguesa. 
(2001) versão 1.0 para Windows [CD-ROM]. 
Rio de Janeiro: Objetiva). 
 
5
 Por resenhas compreendemos uma síntese 
ou análise bibliográfica como descrito por 
Severino (2000). 
 
6
 O processo de produção das resenhas durou 
aproximadamente dois anos e participaram 
desta etapa 32 membros da equipe de 
pesquisa: 
RO - Iracema Tada, Maria Freire; 
BA - Edlamar de Jesus França, Gabriele 
Rocha Hayne, Juliana Oliveira, José Junio 
Almeida 
http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao/jornal_crp/169/frames/fr_dia_do_psicologo.aspx
http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao/jornal_crp/169/frames/fr_dia_do_psicologo.aspx
http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao/jornal_crp/169/frames/fr_dia_do_psicologo.aspx
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932010000500001&lng=pt&nrm=iso
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932010000500001&lng=pt&nrm=iso
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932010000500001&lng=pt&nrm=iso
CAMINHOS METODOLÓGICOS NA PESQUISA EM PSICOLOGIA: PESQUISANDO A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO 
ESCOLAR 
 
RReevviissttaa PPeerrssppeeccttiivvaass eemm PPssiiccoollooggiiaa,, VV.. 1155 nn..11.. JJaann // JJuunn 22001111 21 
Queiroz, Marcus de Souza Oliveira, Thais 
Araújo; MG - Silvia Maria Cintra da Silva, 
Paula Cristina Medeiros Rezende, Cárita 
Portilho de Lima, Viviane Silva Barreto, 
Cláudia Silva de Souza, Denise Silva Rocha, 
Maria José Ribeiro, Ana Cecília Oliveira 
Silva, Rafael Santos 
Carrijo; 
 SP - Aline de Araújo Leite Santos, Aline 
Morais Mizutani, Anabela de Almeida Costa 
Santos, Ana Karina Amorim Checchia, Artur 
Rafael Agostinho Theodoro, Camila Oliveira, 
Deborah Rosária Barbosa, Jane Cotrin, 
Juliana Sano de Almeida Lara, Kátia 
Yamamoto, Marcelo Domingues Roman, 
Roseli Lins Caldas, Vânia Calado; 
PR - Marilda Facci, Zaira Leal e Valéria 
Garcia Silva. 
As referências dos textosresenhados estão 
disponíveis no site da Associação Brasileira 
de 
Psicologia Escolar e Educacional: 
http://www.abrapee.psc.br/livros.htm 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARILENE PROENÇA REBELLO DE SOUZA, ANABELA ALMEIDA COSTA E SANTOS PERETTA, JULIANA 
SANO DE ALMEIDA LARA, ROSELI FERNANDES LINS CALDAS 
 
 
 
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Tanamachi, E. R. (1997). Visão crítica de Educação e de Psicologia: elementos para a 
construção de uma visão crítica de Psicologia Escolar. Tese de Doutorado, Universidade 
Estadual Paulista, Marília, São Paulo. 
 
As autoras: 
 
Marilene Proença Rebello de Souza é Graduada em Psicologia pela Universidade de São Paulo (1978). Mestre, Doutora e 
Livre-Docência em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (1991, 1996 e 
http://www.abepsi.org.br/web/cursodegraduacao.aspx
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232000000100016&lng=en&nrm=iso
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232000000100016&lng=en&nrm=iso
CAMINHOS METODOLÓGICOS NA PESQUISA EM PSICOLOGIA: PESQUISANDO A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO 
ESCOLAR 
 
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2010, respectivamente). Professora Doutora da Universidade de São Paulo. Realizou estágio Pós-Doutoral na York 
University, Canadá (2001-2002). 
Anabela Almeida Costa e Santos Peretta é graduada em Psicologia pela Universidade de São Paulo (1997), 
aperfeiçoamento em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1999), mestre e doutora em 
Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (2002 e 2008, respectivamente). 
Atualmente é Professora Adjunto 1 da Universidade Federal de Uberlândia 
Juliana Sano de Almeida Lara é p sicóloga e Bacharel em Psicologia pela Universidade de São Paulo (2010). Atualmente 
é mestranda em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano e cursa Licenciatura em Psicologia no Instituto de 
Psicologia da Universidade de São Paulo 
Roseli Fernandes Lins Caldas é graduada em Psicologia pelo Instituto Unificado Paulista em 1979, especialista em 
Psicologia Escolar, Mestre em Educação, Arte e História da Cultura, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2000) 
e Doutora em Psicologia Escolar pelo Departamento de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano da 
Universidade de São Paulo (2010). É coordenadora da Representação Paulista da Associação Brasileira de Psicologia 
Escolar e Educacional - ABRAPEE 
 
Endereço para contato: 
Av. Pará, 1720, Bairro Umuarama, CEP 38405-320 – Uberlândia – MG. E. mail: anabelaacs@gmail.com 
REVISTA PERSPECTIVAS EM PSICOLOGIA 
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PARA UMA CRÍTICA AO TEMA BULLYING E 
“VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS” 
 
Ana Paula de Ávila Gomide 
(UFU – Uberlândia - MG) 
 
Resumo 
A partir do referencial da teoria critica da sociedade, o presente trabalho propõe uma 
problematização do tema do bullying, atualmente, explorado pela mass media, tendo em vista dois 
aspectos a serem considerados: pensar se nos aspectos evidenciados nos estudos atuais voltados ao 
tema, não presenciamos certo recrudescimento de discursos tradicionais sobre as “características 
patológicas de alunos-problemas” que responsabilizam o indivíduo, de forma isolada e a-crítica, 
pelas demais violências acometidas e ocorridas dentro das escolas; e, lançar luz aos fatores objetivos 
envolvidos no assunto, assim evidenciando as tendências sociais imperantes que medeiam a 
formação dos sujeitos e que contribuem para o estabelecimento de relações adoecidas no interior do 
ambiente escolar. 
Palavras-chave: teoria crítica; educação; violência 
 
Abstract 
A critique of the term bullying and "school violence" 
From the view of the critical theory of society, this paper proposes to discuss the issue of bullying, 
currently exploited by the media. This is done in order to consider two aspects: on the highlighted in 
the current studies focused to the theme, based on traditional discourses on the “pathological features 
or the problems of students” which blame individual in isolation and uncritically by other affected 
and disregarding violence occurring within schools; and on objective factors involved in the matter, 
thus showing the prevailing social trends that mediate the formation of the subject which contribute 
to the establishment of relations diseased within the school environment. 
Keywords: critical theory; education; violence. 
 
Artigo Recebido em 23/09/2011 e Aprovado em 10/04/2012 
 
 
Introdução 
 
Das relações históricas da educação com 
a psicologia é preciso destacar que a 
educação, desde o século XIX, tem buscado 
respaldo na ciência psicológica para 
fundamentar e resolver, cientificamente, os 
“problemas” ditos educacionais, em grande 
parte estabelecendo uma relação de 
subordinação da educação ao tema do 
“individuo”, em termos de sua configuração 
psíquica. Temas como os aspectos 
universais do desenvolvimento humano, as 
condições de ensino e aprendizagem, os 
chamados “problemas de aprendizagem e 
fracasso escolar”, a compreensão das 
características psicológicas dos alunos, 
entre outros -, e mais as preocupações sobre 
como “aperfeiçoar” o ensino -, foram 
elementos necessários para que os 
educadores e pesquisadores da área se 
voltassem para a psicologia, a fim de 
buscarem soluções pragmáticas a tais 
problemas. Em decorrência desses aspectos 
ANA PAULA DE ÁVILA GOMIDE 
 
RReevviissttaa PPeerrssppeeccttiivvaass eemm PPssiiccoollooggiiaa,, VV.. 1155 nn..11.. JJaann // JJuunn 22001111 25 
aqui mencionados, a psicologia enquanto 
ciência auxiliar aos processos educacionais, 
muitas vezes tem desempenhando um papel 
hegemônico nas tentativas de explicação e 
de orientação das práticas educativas, 
legitimando as intervenções e diagnósticos 
de psicólogos escolares dirigidas aos demais 
desafios encontrados no cotidiano da escola. 
Os temas sobre o bullying e “violência na 
escola” têm sido, na atualidade, os 
privilegiados nos estudos de especialistas, 
inclusive, ocupando papéis de destaque no 
mass media e, (não podemos deixar de 
mencionar) na imprensa sensacionalista. 
Tendo em vista a expressividade desses 
temas nas pesquisas acadêmicas e nas 
demais abordagens de especialistas que se 
voltam ao assunto, bem como a exploração 
do fenômeno do bullying escolar veiculado 
pelos demais meios de comunicação de 
massa, trataremos aqui de problematizar o 
assunto em dois aspectos a serem 
considerados:1) de um lado, pensar se, nos 
aspectos evidenciados nos estudos voltados 
aos temas, não presenciamos certo 
recrudescimento de discursos tradicionais 
sobre as “características patológicas de 
alunos-problemas” - encontradas tanto nas 
tentativas de descrições de características de 
alunos que cometem o bullying, quanto na 
descrição dos tipos de sujeitos mais 
vulneráveis a sofrerem violência (as 
chamadas “vitimas do bullying”) - que 
responsabilizam o indivíduo, de forma 
isolada e a-crítica, pelas demais violências 
acometidas e ocorridas dentro das escolas; 
2) e, de outro, dando relevo à dimensão do 
problema - e concordando que o mesmo 
merece a devida atenção por parte de 
intelectuais-, pensar o que se evidencia por 
trás da temática “violência na escola”, em 
termos de apontar as tendências sociais 
imperantes que, por sua vez, medeiam a 
formação dos sujeitos, assim configurando 
as suas relações adoecidas no interior das 
escolas (entre alunos e professores, entre 
alunos e alunos, etc). 
É preciso destacar que não se intenciona 
aqui desvalorizar as pesquisas psicológicas 
no que tange aos recortes estabelecidos para 
seus objetos de estudo, nem tampouco seus 
instrumentos de análise, principalmente 
porque a psicologia ilumina sobre os “tipos 
sociais” mais afeitos à violência e aqueles 
pelos quais o sistema social – a 
irracionalidade objetiva - subsiste. De fato, 
há uma tradição de pesquisas empíricas 
dentro da psicologia social voltadas aos 
estudos sobre violência, preconceito e 
antissemitismo, desde a década de 50, nos 
países europeus e nos EUA que deixaram de 
herança dados e análises profícuas para a 
elucidação de problemas dessa natureza, 
sobretudo, aquelas pesquisas de campo da 
psicologia profunda, nas interfaces da 
psicanálise com a teoria social, dentro do 
campo da psicologia social analiticamente 
orientada (Adorno, Frenkel-Brunswik, 
Levinson e Sanford, 1950). Os aspectos 
subjetivos da violência devem ser 
considerados e tratados com a devida 
seriedade, entretanto, pela perspectiva aqui 
adotada, não devem ter primazia sobre os 
fatores objetivos, posto a pesquisa 
psicológica poder correr o risco de se tornar 
em um “tipo de imagem encobridora 
ideológica” (Adorno, 1995) de questões 
cruciais geradas pelas tendências sociais e 
históricas contemporâneas, de cunho 
regressivo, que fomentam e instilam nas 
pessoas seus comportamentos irracionais. 
O uso do termo técnico “bullying”, 
equivocadamente tratado pelo mass media 
como uma “epidemia social”, às vezes até 
PARA UMA CRÍTICA AO TEMA BULLYING E “VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS” 
 
 
 
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26 
mesmo visto como um fenômeno extrínseco 
à nossa sociedade que visa descrever formas 
e códigos de condutas de crianças e 
adolescentes – esses, por sua vez, apontados 
como indisciplinados e “sem limites” pelas 
leituras técnico-psicologizantes -, acaba por 
ocultar as condições objetivas favoráveis à 
violência e a um tipo de educação que se 
volta para a “eliminação” de singularidades, 
quando essa privilegia a produção de 
identidades conformadas à lógica produtiva 
da racionalidade instrumental. Nesse 
sentido, entendemos ser o termo mais um 
"produto cultural" a ser consumido pelos 
agentes educacionais que acaba impedindo 
a conscientização e a reflexão mais crítica 
por parte dos mesmos sobre o legado de 
representações e práticas violentas que a 
escola carrega consigo, tendo em vista a 
nossa cultura prenhe de manifestações 
bárbaras. 
A partir do referencial da teoria critica 
da sociedade, especificamente, os escritos 
de Adorno sobre a temática educacional e 
formativa, mais elementos teóricos para a 
discussão do tema serão apontados. 
 
Educar contra a barbárie 
 
Em boa parte da literatura voltada ao 
tema do bullying e\ou violência na escola 
(Fante, 2005; Oliveira & Antônio, 2006), 
evidenciamos o tratamento do assunto sob o 
âmbito da psicologia de quem comete as 
“atrocidades” para com os mais frágeis - as 
possíveis vitimas -, tendo em vista 
apresentar os efeitos deletérios das 
humilhações sobre quem as recebe. As 
pesquisas têm como intuito apontar as 
características dos agressores e as 
peculiaridades de sujeitos que os colocam 
na posição de vítimas (por exemplo, a 
timidez excessiva, “traços que destoam das 
características culturais de seu grupo etário” 
ou “dificuldades emocionais e físicas” para 
reagirem às humilhações (Campos & Jorge, 
2010), para se pensar em medidas 
preventivas nas escolas (Fante, 2005). Em 
que pese a objetividade dessas pesquisas e a 
denúncia que subjaz às mesmas sobre as 
situações desumanas encontradas no 
ambiente escolar, a questão é a de que os 
aspectos psicológicos envolvidos na 
violência não são suficientes para tratar do 
problema quando não sustentados por uma 
crítica social. A pesquisa psicológica para o 
tema da violência entre jovens, e que se 
volta exclusivamente para as características 
psíquicas dos sujeitos, deve, 
necessariamente, em se tratando de escola e 
de educação, se perguntar pelas condições 
de existência de seu objeto, assim 
evidenciando as marcas sociais nos sujeitos 
a serem estudados. Podemos afirmar que há 
uma tendência em se enfatizar os traços de 
caráter dos envolvidos de forma isolada e 
“estereotipada” – no caso, a ênfase sobre as 
“famílias desestruturadas” dos jovens 
agressores e suas necessidades de auto-
afirmação, baixa auto-estima, etc (Campos 
& Jorge, 2010)-, em detrimento de uma 
análise que possa trazer em seu bojo o 
confronto dos fenômenos apontados com as 
condições sociais objetivas, de uma época 
histórica na qual as crianças e jovens são 
(pseudo) formados sob a influência de 
imagens televisivas, criadoras de 
estereótipos sociais, e de jogos eletrônicos 
extremamente violentos (Zuin, 2010). 
Em uma época na qual os mandamentos 
tradicionais patriarcais e religiosos têm sido 
enfraquecidos pelas transformações 
estruturais das sociedades tecnológicas 
(que, por sua vez, forneciam a experiência 
ANA PAULA DE ÁVILA GOMIDE 
 
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de conteúdos formativos tradicionais pelos 
quais o indivíduo poderia se salvaguardar 
dos embates da “socialização” do mundo do 
trabalho), bem como o empobrecimento de 
bens espirituais, as pesquisas psicológicas e 
educacionais deveriam se atentar para essas 
tendências: a de que crianças e adolescentes 
encontram-se educados mais diretamente 
pela sociedade de massa. Os 
comportamentos economicamente 
necessários – aqueles necessários à 
adaptação do sujeito à sociedade – são 
apreendidos e interiorizados pelos sujeitos 
por meio de outras instâncias sociais de 
controle em virtude das transformações 
ocorridas na família privada, atualmente, 
cada vez mais empobrecida e invadida por 
tais instâncias. A televisão, por exemplo, 
tem sido um dos principais fatores de 
identificação aos sujeitos, pois, como afirma 
Marcuse (1998) no texto A obsolescência da 
psicanálise, a criança acaba por aprender 
que são seus companheiros de brincadeiras, 
os vizinhos, o esporte e o cinema – e todo 
um aparato de estímulos audiovisuais – que 
“são autoridades no que se refere ao 
comportamento intelectual e corporal 
adequado” (Marcuse, 1998, p.100), e não 
mais o modelo oferecido pela autoridade 
paterna, também enfraquecida pelas 
modificações estruturais econômicas das 
sociedades pós-industriais. Nesse sentido, a 
respeito da constituição psicológica 
individual nas sociedades administradas, 
Marcuse apresenta a formação de “egos 
frágeis” que resultam em indivíduos poucos 
resistentes às pressões sociais e mais 
inclinados a se identificarem aos modelos

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