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Psicologia Escolar Prof. Me. João Paulo Araújo Lessa Prof. Guilherme Bernardes Filho Diretor Presidente Prof. Aderbal Alfredo Calderari Bernardes Diretor Tesoureiro Prof. Frederico Ribeiro Simões Reitor UNISEPE – EaD Prof.ª M.ª Caroline das Neves Mendes Nunes Prof. Claudio Augusto Marques Prof. Me. Fernando Henrique Ignácio Dos Santos Prof. Me. Igor Gabriel Lima Prof. Dr. José Luís Izidoro Prof. Dr. Jozeildo Kleberson Barbosa Prof. Me. Leonardo José Tenório Mourão Torres Prof. Me. Ricardo Nakamura Material Didático – EaD Equipe editorial: Fernanda Pereira de Castro - CRB-8/10395 Isis Gabriel Alves Laura Lemmi Di Natale Pedro Ken-Iti Torres Omuro Prof. Dr. Renato de Araújo Cruz – Editor Responsável Apoio técnico: Alexandre Meanda Neves Anderson Francisco de Oliveira Gustavo Batista Bardusco Matheus Eduardo Souza Pedroso Vinícius Capela de Souza Revisão: Flávia Cristina Carrara Diagramação: Lianna Cavalcante Ribeiro Os ÍCONES são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual. SOBRE O AUTOR João Paulo Araújo Lessa. Psicólogo (2013). Mestre e doutorando do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco — Campinas, área de concentração em Avaliação Psicológica. Foi responsável técnico da Momento Ser Psicologia de 2013 a 2017 e psicólogo perito do Tribunal de Justiça de Alagoas entre 2015 e 2017. Atualmente é consultor acadêmico e pesquisador assistente do EduLab21 (Laboratório para Ciências da Educação do Século 21) do Instituto Ayrton Senna e professor do Centro Universitário Amparense. Professor convidado em pós-graduação em diferentes instituições no país. Tem participado de eventos científicos nacionais e internacionais, com apresentação de trabalhos e mesas redondas com ênfase em Psicometria, Psicologia aplicada à Gestão e Educação, Personalidade, Psicologia Positiva, Fundamentos e Medidas em Psicologia, Intervenções Psicológicas, Testes de Autorrelato e Métodos Projetivos. Publicações e objetos de estudos têm seguido essas mesmas áreas. Membro da Associação Brasileira de Psicologia Positiva (ABP+), do Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (IBAP) e da Comissão Internacional de Testagem e Avaliação Psicológica e Educacional (ITC). SOBRE A DISCIPLINA: A presente disciplina busca instigar os principais tópicos presentes na área da Psicologia Escolar, de forma a capacitar o aluno na compreensão do papel profissional que é esperado pelo profissional atuante da área. Certamente, a área educacional é uma das mais abrangentes da Psicologia e requer um trabalho em conjunto com diversos profissionais das mais diferentes áreas, no intuito de aprofundar o conhecimento e aprimorar o debate na educação. Assim, espera-se que ao final da disciplina seja possibilitado aos/às alunos(as) dialogar com as diversas práxis que norteiam a prática da Psicologia Escolar e Educacional. SUMÁRIO UNIDADE II......................................................................................................05 3º Sobre o fracasso escolar e a Psicologia Escolar: A crítica e a contribuição de Maria Helena Souza Patto...........................................05 4º O compromisso e a prática no contexto educacional......................14 5 UNIDADE II CAPÍTULO 3 - SOBRE O FRACASSO ESCOLAR E A PSICOLOGIA ESCOLAR: A CRÍTICA E A CONTRIBUIÇÃO DE MARIA HELENA SOUZA PATTO No término deste capítulo, você deverá saber: ✓ A condição histórica da Psicologia na educação e sua relação com o fracasso escolar; ✓ A crítica do modelo clínico da Psicologia na escola ✓ A contribuição da Profa. Dra. Maria Helena Souza Patto Introdução: A relação da Psicologia com a educação é tão antiga quanto a própria história. Filósofos da Antiguidade, como Platão e Aristóteles, para citar os mais famosos, são marcados por sua contribuição ao desenvolvimento de um pensamento que pudesse realizar uma educação mais crítica quanto à sociedade, ao mesmo tempo em que buscavam compreender como as diferenças individuais poderiam contemplar o processo de ensino e fazer com que as pessoas pudessem ter melhores condições de aprendizagem. Diferentemente da educação ou da Filosofia, contudo, a Psicologia é uma ciência relativamente nova, que apenas começou a ganhar forma no final do século XIX, com Wilhelm Wundt, em seu laboratório de Psicologia Experimental e Comparada, em Leipzig. Devido a isso, percebeu-se que muitas das práticas já existentes em diversas áreas, em especial na educação, estariam mais relacionadas ao campo da Psicologia, pois como uma ciência que surgia para explicar o comportamento humano, e as primeiras tentativas se davam no campo da preparação e seleção das pessoas mais bem desenvolvidas para ocupar certos lugares e atividades (seja numa perspectiva da Psicologia Industrial ou na seleção de pessoas para ocupar cargos no Exército para guerras e combates), a Psicologia poderia contribuir na educação ao conseguir selecionar os melhores alunos para ficarem juntos em uma mesma sala de aula, bem como buscar avaliar e tratar aqueles que não conseguiam se desenvolver plenamente — por esse desenvolvimento “pleno” entenda-se de acordo com o esperado para suprir as necessidades escolares impostas por uma determinada instituição. Assim, apenas no século XX uma leitura crítica acerca da prática da Psicologia possibilitou repensar todo esse fazer científico, social e político, em especial na Psicologia Escolar. 3.1 Fracasso escolar Lembre-se de que o ser humano está em um processo de contínuo desenvolvimento e aprendizado; independentemente dos aspectos relacionados à carreira, vida pessoal ou escolar, os erros devem ser considerados fenômenos naturais. No entanto, quem detém o poder dentro e fora do estabelecimento escolar, ou seja, da instituição escolar, detém também o poder de avaliação dos erros, principalmente os erros cometidos nos trabalhos escolares, que são publicamente expostos e 6 considerados como inaceitáveis. Pessoas que cometem erros são simbolicamente excluídas da escola e, muitas vezes, privadas do direito de usufruir de objetos culturais e materiais produzidos por humanos. Normalmente, esse erro está relacionado a alunos considerados de baixa participação, falta de concentração, abnegação e preguiça, sendo essas características gradativamente absorvidas por eles. Com isso, consolidamos a prática da correção autoritária, estimulando a rejeição, o fracasso e a insuficiente capacidade de aprendizagem, o que repercute na autoestima do aluno. Essa forma de incompreensão gerou sobremaneira a rejeição e o isolamento da escola, pois o aluno fugia das normas estabelecidas pela instituição (PINTO, 1999). Teixeira e Nunes (2008) apontam que os erros nem sempre indicam falta de conhecimento ou domínio de certas informações. Para o autor, o erro pode se configurar como um poderoso sinal para que o aluno rastreie sua trajetória na tentativa de sanar suas dúvidas e avançar no aprendizado e no desenvolvimento. Nas palavras das autoras, o erro seria um sinalizador da aprendizagem e do movimento vivenciado pelos alunos durante esse processo, podendo, daí, iniciar as aprendizagens já realizadas, os saberes consolidados e, também, construir novos saberes, tendo o espaço da sala de aula como lócus privilegiado para intervenções e mediações pedagógicas. (TEIXEIRA; NUNES, 2008, p. 78) Dessa forma, os erros podem revelar aspectos relevantes do ensino. É necessário, no entanto, reexaminar as obras dos alunos para compreendê-los, não apenas para julgar sua incompetência. Perrenoud (2010) apontou quenão há necessidade de lidar com os erros, mas uma vez compreendidos os erros passíveis de superação, eles devem ser apontados novamente. Mas não era assim que se entendiam os erros e o processo de ensino–aprendizagem até meados de 1980 no Brasil. Inicialmente, a Psicologia ajuda a construir uma lógica que entende as dificuldades dos alunos como coisas biológicas ou que podem ser explicadas como pobreza, desnutrição e “desestruturação familiar”, dentre outros motivos. De modo geral, os professores têm pouco ou nenhum entendimento da relação entre ensino e aprendizagem, deixam de avaliar seus próprios resultados práticos e acusam alunos, famílias ou qualquer coisa fora de seu ambiente escolar ou próprio (PATTO, 1997). Por volta da década de 1930, o início da prática da psicologia relacionava-se à psicologia clínica e, por se originar do cuidado a crianças com problemas de aprendizagem, é propícia para o enraizamento da Psicologia na realidade da educação (PROENÇA, 2000). A característica da Psicologia na educação, até então, era da “psicologia” dos problemas educacionais, permitindo a prática individualizada com o objetivo de “ajustamento”. O objetivo era enfatizar os conceitos da biomedicina e da biologia no processo de ensino e propor soluções puramente medicamentosas para resolver os problemas. As crianças tinham dificuldade em ir à escola. No entanto, principalmente a partir da década de 1980, muitas críticas foram feitas ao trabalho clínico dos psicólogos nas escolas (GOULART, 1997; PATTO, 1997). 3.2 Contribuições da Profa. Dra. Maria Helena Souza Patto a partir da sua crítica Patto (1997) estudou as raízes históricas do fracasso escolar e apontou como a explicação do fracasso escolar está diretamente relacionada à compreensão capitalista da realidade e como esse discurso retém o domínio das famílias mais pobres. Lança luz sobre as questões políticas envolvidas na resolução de problemas escolares, nas quais o interesse e a manipulação da classe dominante 7 são evidentes. Nos primórdios do ensino público, a relação entre as altas taxas de reprovação e as taxas de evasão levou Maria Helena Souza Patto a avaliar a produção profissional desde o início do século 18 até a publicação de seu livro. O objetivo desse resgate é estabelecer um quadro de referência (histórico e social) para refletir a natureza das noções prevalecentes sobre o fracasso acadêmico social de classe naquela época. Esse caminho possibilita compreender a sociedade industrial capitalista, o advento do sistema nacional de ensino e as ciências humanas, com ênfase na Psicologia. Essa trajetória nos permite expor a hegemonia do liberalismo e a ascensão da burguesia, pois existem discursos de crenças sobre a possibilidade de uma sociedade igualitária e democrática. As escolas são consideradas ferramentas de promoção e prestígio social. Nessas circunstâncias, o uso de métodos de produção capitalistas para explicar a desigualdade social tornou-se o foco da Sociologia e da Psicologia. Nas palavras de Patto (1997), os novos alunos de pedagogia e psicologia científica vêm com espírito de liberalismo, em que, desde o início, eles se propuseram a identificar e promover os mais talentosos, independentemente de sua raça e sociedade. Isso é muito difícil, porque a escola mantém a seletividade social. É preciso, no entanto, destacar que, embora esses ideais sejam deliberadamente subvertidos, esse tipo de ciência está repleto das mesmas ideologias que fortalecem os ideais franceses. Ao investigar as dificuldades de aprendizagem na escola, a psicologia é fortemente influenciada pelo conceito de organicismo da competência humana (cheio de elitismo e suposições racistas) e pelo conceito de considerar as influências ambientais. Desse modo, expõe os motivos do fracasso escolar carregados de ambiguidades, sendo esse discurso a base da teoria da falta de cultura e do fracasso escolar nos países capitalistas ao longo do século XX (PATTO, 1997). Ao analisar ideologicamente essa teoria, o autora elencou três motivos para as dificuldades de aprendizagem das crianças de classe baixa, a saber: as condições de vida das crianças, a falta de capacidade para trabalhar com esses alunos na escola pública e a estatura do professor, que evidenciam a falta de sensibilidade e conhecimento da realidade devido ao distanciamento cultural entre os alunos. Infelizmente, a escola adotou essas teorias e pregou o discurso da educação igual. A responsabilidade pelo fracasso escolar, no entanto, passa a ser atribuída aos alunos ou às suas próprias deficiências no sistema ou a fatores externos (PATTO, 1997). Patto (1997) apontou que é necessário questionar o fato de o fracasso ser culpa dos alunos ou de suas famílias e despertar nossa atenção: na ocorrência do fracasso escolar, a proporção dos determinantes institucionais e sociais é maior do que a da emoção, da organização e da sociedade. Maior. Portanto, devido aos pontos de vista neurológicos, falta de cultura e dificuldades de aprendizagem, o sistema nervoso é destruído. Lahire (1997) opôs-se a fazer um discurso sobre os motivos que podem levar ao fracasso escolar e realizou um estudo que analisou diferentes estruturas familiares e fatores que podem estar diretamente relacionados ao problema. A autora relata casos de sucesso, a saber, crianças que vivem em um ambiente com habilidades intelectuais insuficientes devido à pobreza e insucessos de crianças que vivem em um ambiente considerado favorável ao seu desenvolvimento e aprendizagem. Com base nos resultados inusitados encontrados em sua pesquisa, o autor apresenta um argumento contrário à única causa do fracasso escolar: De certo modo, essas diferentes hipóteses procuram centrar a interpretação das situações improváveis de “êxito” sobre um fator explicativo dominante, sobre um primum móbile, enquanto as configurações familiares efetivas deixam claras combinações sempre específicas de certos traços pertinentes. (…) Esses diferentes 8 modelos implícitos ou explícitos de “sucesso” (que cada pesquisador, segundo sua própria trajetória social, tem tendência a universalizar) tendem a fazer esquecer que as combinações entre as dimensões moral, econômica, política e religiosa podem ser múltiplas e que os graus de “êxito” comparáveis sob o ângulo dos desempenhos e dos resultados podem esconder, às vezes, estilos de sucesso diferentes (LAHIRE, 1997). Posto isso, Patto disse que para não fugir aos equívocos relacionados com o conceito de fracasso escolar, especialmente os relacionados com a pobreza, é necessário reconsiderar a problemática desse método, pois a produção científica na área apresenta dificuldades e impasses metodológicos. O referencial teórico metodológico utilizado baseia-se nas ideias da pensadora marxista húngara Agnes Heller, que em sua reflexão enfatizou questões pessoais e discutiu suas atividades de sobrevivência. O indivíduo e seu cotidiano são o ponto de partida para analisar sua interação, perceber sua alienação e superar essa situação. A pesquisa de Maria Helena Souza Patto sobre o fracasso escolar, sua impressão do local de estudo, o impacto teórico desse fenômeno, distorções na literatura, condições históricas e desenvolvimento estão registrados sob uma perspectiva do impacto na educação ao longo dos anos. A autora promove um avanço na análise de causa histórica em como a escola falhou. Enraizado nisso, apresenta vários fatores ocultos na teoria há muitos anos e considera o fracasso da escola um produto histórico e social (PATTO, 1997). Percebe-se que o conhecimento construído para a prática do psicólogo educacional está alicerçado nas relações sociais fora e dentro da escola, o que possibilita a inserção dos indivíduos nessa situação, não só os alunos, mas também outros educadores, tais como pais/responsáveis legais, administradores escolares e outros cidadãos,como pessoas ativas. Isso faz com que o papel do psicólogo busque compreender a raiz da problematização em relação à defasagem do processo ensino–aprendizagem, construindo pontes com outros saberes da Psicologia, assim como de distintas áreas, como a Pedagogia, Filosofia, Sociologia, dentre outras. É papel fundamental do psicólogo educacional buscar prover o debate, numa perspectiva crítica, dentre todos os envolvidos nesse processo (MEIRA, 2003; PATTO, 1997). O pensamento proposto constitui um esboço de alguns desdobramentos possíveis nas pesquisas sobre o tema, constituindo-se em apontamentos históricos e sociais reproduzidos no ambiente escolar há décadas. Uma delas está mais especificamente relacionada à explicação do fracasso escolar, que está relacionada às condições sociais e culturais da disciplina em desenvolvimento; e a outra está relacionada a erros no cotidiano da escola e geralmente é entendida apenas como aluno com sinais de fracasso. Questões relacionadas ao desafio de compreender o fracasso escolar precisam ser discutidas coletivamente nas instituições de ensino e órgãos governamentais sobre o tema para aprofundar ainda mais a discussão, apontar a possibilidade de superação e organização das ações, de forma que seja possível representar e estabelecer o sucesso no campo da educação. Nessa análise, o fracasso escolar é entendido como um fenômeno que expressa a complexidade da sociedade atual e é causado por múltiplas decisões. Esses apontamentos são alguns de muitos que permeiam o processo educacional e nos fazem, enquanto pesquisadores, repensar tais concepções de maneira crítica com vistas a contribuir para a construção de um novo conhecimento acerca do que já está posto. Nesse sentido, é possível pensar na escola enquanto espaço de reflexão acerca dos problemas educacionais almejando, então, o rompimento de práticas cristalizadoras que rotulam e estigmatizam as crianças pobres. Posto isso, 9 devemos caminhar no sentido de superar as concepções que culpabilizam e/ou patologizam os alunos isoladamente pelo seu fracasso sem considerar o contexto social, político e econômico no qual estão inseridos, passando a olhar com mais atenção para seu cotidiano e as interações que esses sujeitos estabelecem com seus pares (JESUS, 2015, p. 24–25). Refletir sobre os erros da escola na sociedade contemporânea é repensar os rumos das pessoas no mundo, reconfigurar o tempo e o espaço de aprender e ensinar e remodelar a cultura pessoal e profissional. Tendo em vista esses objetivos, aumentar a resiliência no ambiente escolar é essencial para superar as adversidades que os alunos cometem aos erros escolares, construindo atitudes sociais positivas e vínculos comportamentais, reafirmando valores e os evitando, ou seja, o isolamento social acarreta outros problemas graves. Problemas como violência e discriminação. Se os professores compreenderem a importância de se desenvolver estratégias e mecanismos que aumentem a capacidade dos alunos de lidar com as dificuldades, o ambiente escolar pode ser flexível. Considerações finais Maria Helena Souza Patto discutiu como reproduzir teorias e/ou ideias europeias ao descrever as características do assunto, ganhando espaço entre os escritores brasileiros, mais para naturalizar a desigualdade social do que para esclarecer o fracasso das escolas. A teoria da raça é uma das ideologias compatível com o ambiente de conhecimento do país. É a teoria da raça em que a desigualdade social se justifica com base nas condições raciais. Durante décadas, sem uma consciência pública real, os objetivos sociais e econômicos dessa escola brasileira foram claros: como um mecanismo seletivo inicial pode tornar a ideologia do elitismo individual legal na sociedade. A experiência escolar, portanto, confere aos poucos que obtiveram essa oportunidade uma honra social, e essa honra geralmente se transforma em privilégio econômico. À medida que o escopo de seus serviços se expandia para quase toda a população, sua capacidade de diferenciar os serviços e seu "significado" (na verdade, "fim", porque as pessoas o viam mais como um "meio" para atingir um fim) desapareceram. A democratização de seus direitos de acesso pode significar a ampliação da experiência simbólica potencialmente rica, levando à manutenção de um "meio" para o qual já não existe um "propósito" claro. Se não entendermos mais o "propósito" da aprendizagem escolar, não seremos capazes de dar "sentido" à experiência escolar. Vislumbre um tipo de política, cultura e significado formativo. É essa escola que rompeu com seu papel político, com seus costumes culturais e os pais e alunos que mais precisam dela, desta dignidade, não conseguem obtê-la, como encontramos nas páginas da obra da Profa. Dra. Maria Helena de Souza Patto. No entanto, ao mesmo tempo, descobrimos que todos os esforços dos alunos em um ambiente que realmente não se preocupa com eles não são engolidos pela popularização, pela regulamentação dos procedimentos disciplinares e restringidos pela máquina estatal que nada tem a ver com compromissos públicos para que se provem as suas existências. 10 Desde os tempos antigos, os conceitos psicológicos tornaram-se preocupações humanas. A Filosofia é a primeira forma de pensamento racional, ou seja, quando uma pessoa tem uma atitude filosófica de se perguntar, ela pergunta o que pensa e pergunta como o conhecimento é dado. Portanto, naquela época, nasceu o que chamamos de pensamento psicológico. Antes, na chamada sociedade primitiva, o que existia era a forma de pensamento mitológico, que se estabelecia por meio de crenças, portanto a origem do homem e do mundo era compreendida por meio de forças sobrenaturais e amparada pela revelação não racional. Não podemos, contudo, ignorar os seguintes fatos: a Psicologia é uma ciência e profissão, portanto a Psicologia Escolar e Educacional como campo de investigação/conhecimento e atuação psicológica nasceu e se desenvolveu num determinado momento histórico e social: a criação e consolidação do capitalismo. Ainda, de acordo com Patto (2015), a Psicologia é uma ciência que atende à burguesia. Para Patto (2015), a Psicologia da segunda metade do século XIX, quando surgiu a indústria, garantiu o seu estatuto de ciência europeia, tendo-se constituído a partir do enfrentamento das necessidades de “selecionar, orientar, adaptar e racionalizar, visando, em última instância, a um aumento da produtividade” (p. 87). Isso acontece principalmente na Psicologia do Trabalho e na Psicologia Escolar, esta última relacionada à origem da Psicologia Científica. Em outras palavras, a Psicologia Escolar passou a adotar a mesma lógica, visando a aumentar a produtividade do trabalhador na produção industrial em contexto educacional. Da mesma forma, visa a aumentar a eficiência e aumentar o rendimento escolar. Desse modo, "a Psicologia traz a marca das necessidades: a Psicologia que fornece conceitos ‘científicos’ e instrumentos de mensuração que garantem que os indivíduos se adaptem à nova ordem social” (Patto, 2015, p.96). Dessa forma, a lição maior que a Profa. Maria Helena de Souza Patto deixa é que a Psicologia Escolar assume um compromisso crítico com a sociedade, em que seu principal objetivo não é apenas o indivíduo ou o processo educacional, mas sim realizar, por meio de todas as possibilidades possíveis e existentes, um encontro entre o sujeito humano, ator de sua historicidade e obra, com a educação, que deve ser libertadora e crítica. As necessidades de gerar alunos que reproduzam o discurso capitalista levou a um sistema educacional que prioriza o conteúdo lógico, reducionista, àquele que leva a geração de um sujeito livre, crítico e ator de sua própria história. Pensar o insucesso escolar como produzido unicamente pelo sujeito ou como sendo consequência do contexto sociocultural em que ele seinsere, atribuindo-lhe, acriticamente, a responsabilidade em relação a um fenômeno psicossocial de natureza complexa (fracasso escolar), significa subverter a ordem das coisas, recorrendo a subterfúgios ideológicos e reducionistas para legitimar as desigualdades no âmbito social. 11 Desde 1980, repensar a Psicologia Escolar tem sido um desafio para a Psicologia, seja na produção científica, seja na atuação profissional e até mesmo na busca de inserção desse campo na Educação. De que maneira o fracasso escolar é encarado por educadores, familiares e alunos? Este artigo retrata um pouco sobre a vida e obra na Psicologia da Professora Maria Helena de Souza Patto. https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/mnemosine/article/download/41570/pdf_251 Com relação às atividades da Psicologia, no início do século XX, o que marcava sua atuação na área escolar? a) Utilizavam-se de vasto conhecimento técnico para permitir que alunos, pais e educadores fossem integrados nos processos educacionais. b) Tinham uma função clínica, para identificar alunos com dificuldades de aprendizagem. c) Buscavam potencializar o rendimento dos alunos sem esquecer sua história de vida d) Relacionavam-se com estudos da área de Filosofia, Sociologia, Antropologia e demais áreas correlatas para compreender o processo ensino–aprendizagem. e) Buscavam selecionar apenas os alunos ruins para retirá-los da escola. Resposta correta: B 12 De que maneira a crítica da Profa. Maria Helena Souza Patto contribuiu para a Psicologia Escolar? De que forma os estudos nas áreas de Sociologia, Filosofia, Pedagogia e áreas correlatas contribuíram para o desenvolvimento da Psicologia Educacional? a) Não contribuíram, pois o foco da Psicologia Educacional continua sendo diagnosticar alunos com dificuldades de aprendizagem. b) Tiveram pouca contribuição, pois os objetos de estudo são distintos. c) Mesmo com objetos e foco de estudos distintos, a Psicologia Educacional buscou integrar esses conhecimentos, mas isso tem sido motivo de muito debate e controvérsias pela condição epistemológica dessas ciências. d) Essas áreas contribuíram para o desenvolvimento atual da perspectiva na Psicologia Educacional, pois ajudam a compreender o aluno em todo seu processo interativo e relacional. e) Desenvolveram métodos de pesquisas distintos que, posteriormente, foram justapostos na Psicologia. O livro A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia, escrito pela psicóloga e doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (USP), Maria Helena Souza Patto, reeditado (4ª edição revista e ampliada) pela Editora Intermeios, foi lançado pela primeira vez em 1990. A obra produziu grande impacto nas discussões sobre o tema, suscitando interesse e servindo de referência para pesquisadores em educação, psicólogos escolares, professores e diretores, dentre outros. Na presente obra, Patto desenvolve reflexões conceituais importantes que nos ajudam a compreender o fracasso escolar sob outra perspectiva. (disponível em http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rnufen/v11n1/a16.pdf). As pesquisas e publicações da autora referem-se ao chamado “fracasso escolar” das crianças pertencentes aos segmentos mais explorados das classes populares brasileiras e a situação atual do sistema escolar fundamental e médio brasileiro. Essa linha de investigação gerou a necessidade de incursão em áreas do conhecimento, como a Filosofia, a História do Ocidente e a História da Educação na modernidade e na contemporaneidade, em geral, e no Brasil, em particular. A epistemologia das Ciências Humanas e a história 13 social das ideias sobre o povo e sobre as diferenças sociais nas sociedades em que predomina o modo capitalista de produção; a história da Psicologia, em geral, e das explicações oficiais para os altos índices de reprovação e evasão escolar presentes entre essas crianças, em particular, reflexão que converge para a investigação mais aprofundada de duas questões fundamentais ao entendimento dessa questão: o preconceito racial e social e seu papel econômico, social e político; a relação entre Ciência e Ideologia. (disponível em: http://www.ip.usp.br/site/maria-helena-de-souza-patto/). Jesus, T. D. S. (2015). A produção do fracasso escolar: Apontamentos acerca do erro e resiliência no contexto educacional. Anais da Semana de Educação da Universidade Estadual de Londrina. Disponível em http://www.uel.br/eventos/semanadaeducacao/pages/anais/2015.php Meira, M. E. M. (2003). Construindo uma concepção crítica de Psicologia Escolar: Contribuições da Pedagogia Histórico-Crítica e da Psicologia Sócio-Histórica. In: Meira, M.; Antunes, M. A. M. (Orgs.) Psicologia escolar: teorias críticas. São Paulo: Casa do Psicólogo Patto, M. H. S. (1997). Introdução à psicologia escolar (3a ed.). São Paulo: Casa do Psicólogo Patto, M. H. S. (2015). A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia (4ª ed.). São Paulo: Casa do Psicólogo. 14 UNIDADE II CAPÍTULO 4 – O COMPROMISSO E A PRÁTICA NO CONTEXTO EDUCACIONAL No término deste capítulo, você deverá saber: ✓ A concepção de como a prática em Psicologia Escolar é concebida pelas entidades profissionais e científicas; ✓ A relação teórica e crítica do compromisso da Psicologia com a sociedade, em especial no contexto educacional e escolar; ✓ A práxis psicológica em ambiente escolar. Introdução Os capítulos anteriores trataram sobre alguns pontos cruciais para o fazer psicológico em contexto escolar. Inicialmente, versou-se sobre o que caracteriza a Psicologia Escolar e seus aspectos históricos e metodológicos, perpassando sobre as diferenciações desta área da Psicologia em detrimento das outras especialidades. Ainda, mesmo que de maneira breve, as atribuições da psicóloga escolar foram apresentadas no primeiro capítulo – atribuições que foram construídas ao longo dos últimos anos. A partir do Capítulo 2, nomes de interesse e contribuição para a educação, bem como para a Psicologia, foram trazidos e apresentados no material, como o patrono da educação brasileira Paulo Freire e o psicólogo Dante Moreira Leite, na sua análise da literatura infantil para compreender como discursos de hegemonia da elite, perpassando situações de racismo e manutenção do status quo, influenciam na percepção do papel social na educação. Em seguida, no capítulo 3, as contribuições da crítica em Psicologia Escolar de Maria Helena Souza Patto nortearam a discussão sobre qual papel a Psicologia desenvolvia na educação e no contexto educacional no Brasil, a partir de modelos importados da Europa, e como era necessário repensar a produção intelectual e a prática profissional no contexto brasileiro. Desta forma, o presente capítulo buscará fazer a releitura dos pontos trabalhados no Capítulo 1, detalhando como a contribuição destes nomes enfatizaram a concepção da Psicologia Escolar que temos hoje – em seus fundamentos epistemológicos, embasamento teórico e direcionamentos para uma práxis compromissada com a realidade nacional. 4.1 Do século XIX aos questionamentos atuais: Qual o compromisso da Psicologia Escolar? É um verdadeiro desafio analisar as várias possibilidades que uma determinada associação científica ou profissional pode expressar o seu compromisso com a realidade social. Ao se ter como exemplo a Psicologia Escolar e os psicólogos que atuam em ambientes educacionais, o compromisso deles com a educação brasileira pode ser visto de diferentes maneiras, ainda que seu direcionamento seja com o compromisso do psicólogo com a melhoria da qualidade da educação no país, com a 15 transformação do processo educacional e a implementação das mudanças necessárias. Mas por que falarem “compromisso”? Analise a entrada da Psicologia no contexto educacional, inicialmente. No início do século XX, com o rápido desenvolvimento da psicologia, as pesquisas de Freud em psicanálise mudaram a visão sobre a origem das diferenças interpessoais. No processo de elaboração desta teoria , considera-se a relação entre o indivíduo e o grupo familiar como determinantes da personalidade, relação esta que se forma durante todo o processo de desenvolvimento e, a seguir, explora como a pessoa se posiciona no mundo, dando forças para uma concepção inatista das capacidades do aluno e que, para o seu desenvolvimento, esta compreensão seria necessária para saber o que esperar dele e de que maneira projetos pedagógicos poderiam ser construídos (LIMA, 2005). É importante salientar que, no Brasil, mesmo com a adoção da teoria psicanalítica como base teórica para explicação dos problemas de aprendizagem, muitos foram os estudos que continuaram utilizando os parâmetros de normalidade para classificar as crianças. O que temos de novo é que as crianças anteriormente classificadas como anormais são, a partir de agora, denominadas crianças problema (...) o neurologista americano Strauss, em 1918, “lança a hipótese de que os distúrbios de comportamento (...) e os de aprendizagem poderiam ser consequentes de uma lesão cerebral mínima”. Teoria que só se legitimou efetivamente a partir da década de 60 do séc. XX e que, até hoje, além de influenciar as práticas psicológicas e educacionais que pretendem classificar crianças como normais e anormais, continua dando margens a pesquisas. (LIMA, 2005, p. 20). Desta forma, as primeiras atuações no campo da educação para profissionais da Psicologia estavam voltadas para uma mera reprodução de colocação de alunos com e sem capacidades em grupos e/ou turmas que poderiam ir mais adiante ou ficar em um platô. Como visto nos capítulos 2 e 3, isto alimentava os interesses da hegemonia elitista que buscava uma mão de obra não qualificada e, para isto, era necessário deixar que alunos mais desfavorecidos não avançassem em sua educação (PATTO, 1997). São as argumentações de Paulo Freire sobre o fazer pedagógico da liberdade, do opressor, contra uma educação bancária, que começam a trazer uma reflexão sobre a necessidade de se repensar os currículos pedagógicos, e o papel dos educadores – de forma que os psicólogos não pudessem ser marginalizados desta discussão, ainda que o imaginário social sobre esta atuação estivesse repleta de uma condição medicalizante e de “ajustar os desajustados”. Com isso, os estudos de Dante Moreira Leite e Maria Helena Souza Patto trazem a crítica para uma questão que ainda perdura: qual o compromisso da Psicologia? E por que o compromisso é social, e não com a própria Psicologia (MARTINEZ, 2009)? (...) o compromisso dos psicólogos com as necessárias transformações da educação passa necessariamente pela reflexão aprofundada sobre a própria prática científico- profissional e pela contínua transformação desta visando sua atualização e adequação às demandas que a concretização de processos educativos mais sólidos e efetivos lhe impõem. No país se apreciam mudanças graduais na atuação dos psicólogos vinculados ao sistema educativo as que têm sido influídas pelo debate crítico iniciado na década de oitenta em relação às formas de atuação orientadas por um modelo clinico – terapêutico que não corresponde às demandas que a realidade social coloca à Psicologia, assim como pela crescente sensibilização dos psicólogos com as transformações sociais que o país demanda. (MARTINEZ, 2009) 16 Em suma, as discussões acerca do compromisso da Psicologia não se enquadram em um aspecto meramente prático-científico, mas no campo ideológico-político, para que as transformações necessárias ocorram com os agentes, educadores, alunos em detrimento a uma sociedade que necessita avançar – e para isto, precisa conhecer suas fraquezas, sua história e sua formação social e cultural. 4.2 A homogeneidade da educação apesar da sua característica plural Na década de 1990, com as profundas mudanças nos campos econômico, social, cultural e do sistema político e a natureza das relações entre esses diferentes campos, a América Latina deu início às reformas educacionais. Não visavam apenas expandir o escopo do ensino, mas também objetivavam adaptarem-se à educação pública. Em quase todos os países, essas reformas são, em grande parte, o resultado de um processo de incentivo externo, consistente com as políticas das instituições internacionais de crédito na região. A necessidade de reforma se justifica com a publicação de estudo que destaca os sucessos e deficiências do sistema educacional, pois no âmbito da nova ordem, a reorganização do setor produtivo e do sistema que muda a estrutura do Estado e das relações sociais transformaram o mundo. O diagnóstico e as mudanças propostas para a educação na América Latina no período foram elaborados a partir das necessidades de reformulação do caráter regulador do Estado e da forte crítica às funções dos Estados nacionais de modelo keynesiano, no marco de um novo estágio do capitalismo. Passados dez anos da implementação da reforma, as pesquisas efetuadas pelos especialistas nos diferentes países mostram o fracasso das promessas que seus ideólogos fizeram à sociedade. Também fica claro, nesses estudos, que a uniformidade das políticas de educação, em escala global, está vinculada ao crescente peso das agências internacionais e da liderança do Banco Mundial no desenho e na execução da reforma educacional nos países em desenvolvimento (LIMA, 2005, p. 20). A implementação das reformas educacionais na América Latina permitiu o desenvolvimento de conhecimentos relevantes e importantes, que são utilizados especificamente para entender a situação atual da educação na região. Essas análises mostram que na década de 1990, por meio da política de descentralização, a relação entre o Estado e a sociedade substituiu seu papel de provedor direto de bens e serviços e o controle centralizado de uma série de atividades sociais, por função. Coordenação e leis e regulamentos, dos quais a educação é relevante. Com o estabelecimento de uma nova hegemonia, os países configuraram de forma específica o processo de reformas induzidas externamente, iniciado no início dos anos 1990, de acordo com os conflitos políticos nacionais, o que se refletiu nas novas normas da política educacional nos dez anos seguintes. Esses conflitos revelaram expectativas e interesses diversos no cenário nacional de mobilização da sociedade até o início dos anos 1990, quando, sob o domínio de algumas secretarias, constatou-se que a educação política decidiu centralizar-se no âmbito governamental, limitando sua negociação a certos setores nacionais e internacionais. Portanto, a multiescola é um projeto aberto, e a sua aposta moral será vivenciar a dinâmica da composição material das instituições ordinárias. O sistema pretende usar a democracia, a autonomia e apostar no valor da diferença como princípios materiais, nos quais será ministrada a formação. Quem souber utilizar o conhecimento adquirido passa a “ler” o mundo, a aceitar ativamente 17 as diferenças e a tratar com respeito diante da diversidade. Desenvolverá autonomia de pesquisa, se interessará pelos problemas que afligem nossa sociedade e seguirá se desenvolvendo cliente potencial. Saber desenvolver seus próprios projetos (empreendedores e cidadãos democráticos) é um desafio para a educação. 4.3 Psicologia Escolar: campo do saber, estudos acadêmicos e os atendimentos A partir da década de 1980, foi realizada uma campanha de análise crítica da atuação do psicólogo escolar para que se pudesse considerar o processo de desenvolvimento das instituições escolares. O “problema de aprendizagem” é considerado um fenômeno complexo e constituído pela sociedade,e sua análise deve abranger aspectos históricos, econômicos, políticos e sociais. Nessa perspectiva, o ser humano é considerado uma espécie de existência, baseada no suporte biológico que o constitui, e com o passar do tempo, as relações sociais humanas participam da possibilidade de construção junto com outras pessoas. Assim, fora possível estabelecer um método para atender as necessidades deste sujeito, os alunos, em uma relação dialética (KRAWCZYK; VIEIRA, 2006). A educação, mais especificamente, a educação escolar é entendida como instância básica no processo de socialização dos saberes produzidos pelo ser humano. Portanto, a relação entre escola e sociedade deve ser um “pensamento contraditório”, ou seja, se o fato da educação é um comportamento político e social, então toda situação política e social determina que a educação seja realmente um fato. Segundo Ragonesi (1997), quebrar o padrão de comportamento clínico significa quebrar a separação entre as atividades de ensino, esta é a separação entre a responsabilidade do professor e o comportamento do aluno, e o comportamento do aluno é psicológico. Desta forma, poderá situar de forma mais completa o processo psicológico no processo de ensino, e a partir da reflexão da posição da psicologia na educação, para garantir a particularidade da nossa atuação, sem nos reduzirmos. O que se deve fazer agora é criar um espaço de reflexão para todos os grupos da escola, famílias e alunos, professores, educadores, funcionários e comunidade, considerando a realidade da escola como um todo, pesquisando temas relacionados aos participantes, estabelecendo parcerias com outros profissionais que tenha foco na educação. Sabe-se que não existe um manual para a psicologia crítica; Souza (2000) destacou que o momento de discussão é, e sempre será, o agora. A construção-desconstrução da teoria e da prática da Psicologia Escolar será contínua e dialética (KRAWCZYK; VIEIRA, 2006). Segundo Patto (1997), o papel do psicólogo escolar ainda é indefinido, e discussões aprofundadas levam a discussões sobre sua própria formação. Meira (2000) alertou que na formação do psicólogo escolar deve ser sempre questionada: Qual deve ser o compromisso político-moral dos psicólogos que se busca formar? Quanto aos lugares ocupados pelos psicólogos escolares, Ragonesi (1997) diz que “para os psicólogos, os melhores lugares são os lugares possíveis, seja dentro ou fora da instituição”. Mais importante ainda, ele necessita assumir que tem um compromisso teórico e prático com as questões escolares, então seu foco deve ser a educação. Na construção da psicologia que elege a educação como objeto de reflexão e ação, importantes subsídios teórico- 18 práticos são necessários para possibilitar a consolidação de um sistema de conhecimento mais sólido, promovendo, assim, a compreensão do conhecimento no campo da psicologia. O processo de construção social pessoal permite que a educação estabeleça novas práticas de ensino (MEIRA, 2003; PATTO, 1997; RAGONESI, 1997). Em relação à realidade do sistema educacional brasileiro, percebe-se que ainda há muito progresso para o profissional da psicologia incrementar na escola pública, e quase todas as crianças do país estão aprendendo. Devido à falta de políticas públicas para o ingresso do psicólogo na rede pública de ensino, observou-se um preparo insuficiente nos cursos de capacitação. O resultado dessas lacunas transforma as dificuldades em realidade, de forma que a psicologia escolar pode ser utilizada como uma ferramenta para promover o desenvolvimento de crianças e adolescentes (PENTEADO; GUZZO, 2010). Igualmente importante, destacou-se que a resposta neoliberal na educação, além de exacerbar a lacuna entre a educação pública e a privada, difunde a noção de que a igualdade de oportunidades e o esforço pessoal são adequados, algo que está longe da realidade brasileira. Essa ideologia pode promover uma competição muito acirrada entre os alunos, nos locais de atendimento e prática do psicólogo escolar, o que pode gerar posturas agressivas ou exageradas entre os alunos que precisam de atenção naquele contexto. É preciso chegar a um consenso de que o século XXI está ansioso para adotar intervenções. Essas intervenções não só auxiliam no uso do saber erudito, mas também o processo de ensino e aprendizagem está além do âmbito da racionalidade, podendo atingir o nível de educação emancipatória preconizado por Freire (1999). Nesse sentido, a experiência tecida e compartilhada constitui uma nova perspectiva de ação. Considerações finais Percebe-se que a trajetória da psicologia escolar está principalmente relacionada ao conceito reminiscente de classificação desde o início, que viveu uma crise de atuação e buscou uma representação da identidade do psicólogo escolar por meio das demandas sociais, o que se expressa um diagrama de metodologia teórica caracterizado pelas características culturais, econômicas e políticas específicas de cada época. Esse fato mostra que é necessário redefinir histórica e periodicamente as ações defendidas e as ações tomadas. O ambiente atual se configura como um novo momento na psicologia escolar. Após a fase mais grave da crise, novas opções de ação começaram a surgir, e o papel dos psicólogos escolares e clínicos foi compreendido de forma totalmente independente, ou seja, identidades específicas começaram a se consolidar. Buscando redefinir os conceitos e práticas de intervenção do psicólogo escolar, no sentido de prestar um serviço que não se dedique mais a compensar as dificuldades de aprendizagem, mas sim à reflexão, contribuindo para a transformação do espaço escolar em espaço educativo, em que valorizar as pessoas e responder perguntas podem amenizar o desconforto causados pelo estranhamento existente nas necessidades destes alunos. Entretanto, abre espaço a novos desafios e propõe a continuação da tessitura da história da psicologia escolar. A expansão do sistema de ensino na década de 1970 levou à expansão da escolaridade obrigatória e do ensino gratuito, o que causou grandes mudanças no ambiente escolar. O aumento 19 do número de alunos das mais diversas realidades sociais e culturais tem dificultado a adaptação do sistema às novas realidades, tanto em termos de infraestruturas escolares como de conceitos e métodos de aprendizagem que se adaptem à nova situação educacional. Portanto, a quantidade de alunos com dificuldades de aprendizagem tem aumentado para além da compreensão e intervenção pedagógica de professores que se adaptaram ao antigo ambiente. Diante dessa situação, as pessoas recorrem à psicologia e seu quadro clínico para auxiliar o sistema de ensino na compreensão das queixas escolares. Em virtude de uma dita neutralidade necessária da atuação profissional, os critérios de quantificação e classificação destas dificuldades estavam em linha com as recomendações dos positivistas amplamente utilizadas na época, de forma que estas atividades direcionadas aos psicólogos receberam respaldo científico. As discussões que cerceiam o compromisso da Psicologia não se enquadram em um aspecto meramente prático, científico, ainda que estes locais sejam de extrema importância e relevância para o desenvolvimento profissional emancipado. Neste sentido, atenta-se que as discussões sobre o fazer profissional estão também ligadas a outros campos, a saber, o campo ideológico e político. Isto acontece, pois são nesses locais em que existe possibilidades de ações para que as transformações necessárias ocorram com os agentes públicos/gestores, educadores, alunos, bem como a família, em detrimento a uma sociedade que necessita avançar – e para isto, precisa conhecer suas fraquezas, sua história e sua formação social e cultural. Esta situação gerou uma heterogeneidade nos sistemas educacionais, isto pôde ser observado, especialmente,na América Latina por volta dos anos 80, com ações acontecendo a partir dos anos 90, com reformulação dos currículos e diversificação dos cuidados acerca dos níveis educacionais. Esta transição foi caracterizada com muitas críticas, o que pode ser considerado normal, já que as práticas educacionais também estavam sendo criticadas como um todo – e, neste sentido, não fugiu à psicologia Escolar esta crítica ao repensar sobre seu fazer tanto prático quanto científico. A relação entre educação e psicologia é marcada por muitas trajetórias históricas polêmicas e sua base é muito diferente. Considerando que a psicologia nasceu e se desenvolveu em uma sociedade capitalista, por meio do conflito ideológico de paradigmas inconciliáveis, é importante buscar uma compreensão crítica de como essa relação afeta o cotidiano nos diferentes espaços. Portanto, ao longo da história, é necessário avaliar sua contribuição ou papel na interpretação de propostas e planos de intervenção em diferentes espaços sociais. Como resultado, a psicologia nasceu para atender às necessidades da sociedade em que nasceu, e para propor formas de escolher, adaptar, controlar e prever comportamentos que afetam a produtividade. Com esse conteúdo, a psicologia entrou na escola. Embora tenha havido algumas mudanças na relação entre psicologia e educação ao longo da história, a expectativa da escola em relação aos profissionais da psicologia é que eles resolvam os problemas das crianças que não estão aprendendo, motivadas e indisciplinadas. Assim, por não haver psicólogo na escola, as crianças com problemas são encaminhadas para a rede de saúde, que é baseada em profissionais que atuam na rede pública de saúde. “Hoje os psicólogos escolares e educacionais trabalham em múltiplos espaços educativos, nos quais realizam diversas e importantes tarefas: casas, abrigos, programas de educação comunitária, penitenciárias, meios de difusão massiva, 20 universidades, coorporativas, entre outros. No entanto, sua contribuição às mudanças requeridas na educação brasileira, se dá essencialmente, no seu trabalho compromissado no sistema educativo, o qual constitui o eixo central da estruturação da educação como prática social no país e um dos principais lócus onde os sérios problemas da educação brasileira são gerados.” (Martinez, 2009) A Psicologia Escolar é um campo de atuação em que o profissional necessita se utilizar de um conhecimento produzido no campo epistemológico/científico para embasar suas práticas. Já a Psicologia Educacional é o campo em que as discussões teóricas acontecem e tomam forma. Desta maneira, não se deve falar em Psicologia Escolar e Educacional como especialidades distintas, mas complementares. A compreensão entre a prática do profissional da Psicologia Escolar e a realidade da educação, bem como de todo o sistema educacional do país, faz com que se torne cada vez mais necessário a implementação de uma rede de profissionais, de diversas áreas do conhecimento, em um trabalho interdisciplinar. Como a prática da Psicologia Escolar pode ser compreendida em relação ao compromisso com o desenvolvimento da sociedade? Que tipo de desenvolvimento é este? Neste link você encontrará a resenha do livro “A Psicologia Escolar Crítica e seu compromisso social”. [http://www.uel.br/revistas//uel/index.php/eip/article/viewFile/32041/26651]. Por Compromisso social, deve-se entender que: 21 A) é a realização de um acordo entre a Psicologia, em especial a atuação do psicólogo escolar, para firmar as ideologias que devem ser debatidas ou não em sala de aula, junto com a formação docente e discente. B) é uma mera formalidade, não impactando a prática do profissional. C) não possui bases científicas ou teóricas para sair do campo das ideias. D) é uma atitude que pauta não somente a prática, mas também a construção de um campo do saber da Psicologia, em especial à Psicologia Escolar, para que haja a transformação da sociedade – foco do trabalho do psicólogo. E) é apenas uma forma de se realizar um discurso. Resposta correta: D Descreva o que você entende por ‘compromisso social da Psicologia’. Sugestão de Resposta: O compromisso dos psicólogos com as mudanças que a educação brasileira demanda como sendo seu compromisso essencial é sua participação consciente, ativa e compromissada na promoção e efetivação de transformações nos lugares onde exerce sua ação científico-profissional. Isto leva o seu trabalho a promover uma significativa melhoria concreta da qualidade do trabalho docente e educativo em uma escola, constituindo expressões do compromisso com as mudanças almejadas. Assinale a alternativa que é incorreta em relação à atuação do psicólogo escolar. A) O trabalho do psicólogo escolar pode promover a ampliação do diálogo entre escola e comunidade. B) Psicólogos escolares podem desenvolver planos de intervenção para trazer informações para a comunidade. C) Invariavelmente, a comunidade é resistente às ações interventivas do psicólogo escolar, mesmo esse trabalho ocorrendo de forma interdisciplinar. D) A atuação do psicólogo escolar com a comunidade permite a compreensão da inter-relação pais/escola/aluno/meio. E) A comunidade pode ser parceira da escola, e o psicólogo escolar pode ser o promotor dessa parceria. Resposta correta: D O livro “Psicologia e psicologia escolar no Brasil: formação acadêmica, práxis e compromisso com as demandas sociais”, de Vivina do C. Rios Balbino discute a formação acadêmica e profissional do psicólogo escolar, reafirmando seu papel de agente de transformação social. A autora fala, ainda, da importância de difundir a psicologia para a maioria da população, disseminando conhecimentos que possam contribuir com a cidadania. O livro está dividido em quatro partes. A primeira faz reflexões sobre a formação do psicólogo 22 escolar, apontando problemas e soluções. A segunda, por sua vez, mostra como a "letargia" acadêmica pode ser suplantada com trabalho árduo e persistência. Na terceira parte, Vivina explica como a psicologia pode ir ao encontro das demandas sociais brasileiras, especialmente no que se refere à valorização dos direitos humanos. E, na quarta parte, a autora busca popularizar conhecimentos da psicologia, discutindo numa linguagem clara e direta diversos problemas que afligem a sociedade, como a violência, a delinquência juvenil e o uso de drogas. A Escola Plural tem sido tema de debate e busca criar formas de trazer a pluralidade do país para dentro das salas de aula. Nesta resenha, é possível perceber as justificativas e os esforços existentes para que este projeto chegue ao sistema educacional. Veja em: [https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/educacao/proposta-para-uma-escola-plural.htm]. FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999. KRAWCZYK, N. R, & VIEIRA, V. L. Homogeneidade e heterogeneidade nos sistemas educacionais: Argentina, Brasil, Chile e México. Cadernos de Pesquisa, 36(129), 673-704, 2006. Disponível em: [ https://doi.org/10.1590/S0100-15742006000300009]. MARTINEZ, Albertina Mitjáns. Psicologia Escolar e Educacional: compromissos com a educação brasileira. Psicologia Escolar e Educacional, 13(1), 169-177, 2009. Disponível em: [http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572009000100020&lng=pt&tlng=pt´]. MEIRA, M. E. M. Construindo uma concepção crítica de Psicologia Escolar: Contribuições da Pedagogia Histórico-Crítica e da Psicologia Sócio-Histórica. In: MEIRA, M.; ANTUNES, M. A. M. (Orgs.) Psicologia escolar: teorias críticas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. PATTO, M. H. S. Introdução à psicologia escolar (3a ed.). São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997. PENTEADO, T. C. Z, & GUZZO, R. S. L. Educação e psicologia: a construção de um projeto político- pedagógico emancipador.Psicologia & Sociedade, 22(3), 569-577, 2010. Disponível em: [https://dx.doi.org/10.1590/S0102-71822010000300017]. RAGONESI, M. E. M. M. Psicologia Escolar: Pensamento crítico e práticas profissionais. Tese de Doutorado Não Publicada. Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997.
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