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UNIVERSIDADE FUMEC FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA - FEA Bruno Martins Machado Lucas Adriano Tresoldi Marco Aurélio Silva Brito A VIABILIDADE OPERACIONAL DA PRODUÇÃO DE PEÇAS AERONÁUTICAS POR MEIO DA IMPRESSORA 3D Orientadora: Profa. Dra. Cláudia Silveira da Cunha Belo Horizonte 2019 Bruno Martins Machado Lucas Adriano Tresoldi Marco Aurélio Silva Brito A VIABILIDADE OPERACIONAL DA PRODUÇÃO DE PEÇAS AERONÁUTICAS POR MEIO DA IMPRESSORA 3D Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade FUMEC, como requisito parcial para a conclusão do curso de Ciências Aeronáuticas. Orientadora: Profa. Dra. Cláudia Silveira Cunha Belo Horizonte 2019 _____________________________________________________________ Bruno Martins Machado _____________________________________________________________ Lucas Adriano Tresoldi _____________________________________________________________ Marco Aurélio Silva Brito A VIABILIDADE OPERACIONAL DA PRODUÇÃO DE PEÇAS AERONÁUTICAS POR MEIO DA IMPRESSORA 3D Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade FUMEC, como requisito parcial para a conclusão do curso de Ciências Aeronáuticas _______________________________________________________ Profa. Sônia de Oliveira Barbosa - Fumec _______________________________________________________ Orientadora: Profa. Dra. Cláudia Silveira Cunha _______________________________________________________ Coordenador: Prof. Dr. Aloísio André dos Santos Belo Horizonte Novembro/2019 3 RESUMO O século XXI é um período marcado por tecnologias altamente inovadoras que alteram a dinâmica global e a percepção de distância entre os países, muito em função do advento da internet. O trabalho realizado aponta dados científicos sobre as inovações tecnológicas presentes nos dias atuais e, em destaque, a impressão 3D, que está sendo inserida nas principais indústrias, sendo elas automobilística, aeroespacial, eletrônica, médica e principalmente a indústria aeronáutica. A pesquisa aborda métodos de natureza básica, de maneira qualitativa, com relação aos objetivos, o caráter é exploratório e quanto aos procedimentos, bibliográfica e documental. Inicialmente foram apresentadas as inovações tecnológicas inseridas nas indústrias no geral até a possível Quarta Revolução Industrial. Após a abordagem evolutiva dos processos tecnológicos, foram apontadas as evoluções na indústria aeronáutica, desde as produções de aeronaves de maneira artesanal, até nas indústrias atuais, destacando os principais métodos tradicionais de produção de componentes aeronáuticos, que são sofisticados e contém tecnologias avançadas de produção, e as necessidades mercadológicas presentes na evolução do mercado mundial. Posteriormente foi destacada e detalhada a tecnologia de impressão 3D, um novo método que pode ser inserido na indústria de aeronaves, visando uma diminuição do custo como objetivo principal de fabricantes no setor aeronáutico. Foram citados os vários tipos de produção, e os diversos tipos de materiais utilizados para a produção, e assim aplicando o estudo voltado à produção de peças e componentes para a indústria aeronáutica. Ao final, conclui-se os benefícios, quando comparada aos métodos tradicionais de manufatura aeronáutica, apontando as grandes vantagens operacionais diretas, e indiretas, ou seja, a reflexão do impacto positivo da impressão 3D nas maiores fabricantes mundiais de aeronaves ao se implantar a impressão 3D como técnica avançada de produção de peças. Palavras-chave: Inovações tecnológicas. Impressão 3D. Indústria Aeronáutica 4 ABSTRACT The 21st century is a period marked by highly innovative technologies that alter global dynamics and the perception of distance between countries, largely due to the advent of the Internet. The work shows scientific data on the technological innovations present today and, in particular, 3D printing, which is being inserted in the main industries, such as automotive, aerospace, electronics, health and especially the aeronautics industry. The research addresses methods of a basic nature, in a qualitative way, in relation to the objectives, the character is exploratory and as to the procedures, bibliographic and documentary. Initially the technological innovations inserted in the industries in general until the Fourth Industrial Revolution were presented. Following the evolutionary approach to technological processes, developments in the aeronautics industry were pointed out, from handcrafted production of aircraft to today's industries, highlighting the main traditional methods of producing aeronautical components, which are sophisticated and contain advanced production technologies, and also the market needs present in the evolution of the world market. Subsequently, the 3D printing technology was highlighted and detailed, a new method that can be inserted in the aircraft industry, aiming at cost reduction as the main objective of manufacturers in the aeronautics sector. The various types of production, and the various types of materials used for production, were cited, thus applying the study aimed at the production of parts and components for the aeronautical industry. In the end, it concludes the benefits, when compared to the traditional methods of aeronautical manufacturing, pointing out the great direct and indirect operational advantages, that is, the reflection of the positive impact of 3D printing in the world's largest aircraft manufacturers when deploying 3D printing as an advanced part production technique. Key words: Technological innovations. 3D Printing. Aeronautic Industry 5 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Inovações Tecnológicas ........................................................................................... 15 Figura 2 - Crescimento Digital Anual ......................................................................................... 17 Figura 3 - Fábricas Inteligentes ................................................................................................. 18 Figura 4 - Evolução das Revoluções Industriais........................................................................ 19 Figura 5 - Novo cargueiro da Embraer KC-390 ......................................................................... 21 Figura 6 - Representação dos componentes internos utilizados para a construção de uma aeronave na Primeira Guerra mundial ...................................................................................... 26 Figura 7 - Primeira aeronave da Boeing B&W........................................................................... 27 Figura 8 - Evolução na Aviação ................................................................................................ 29 Figura 9 - Etapas básicas para a produção de uma peça fundida que se aplica à maioria dos processos de fundição .............................................................................................................. 31 Figura 10 - Processos de conformação de volumes: ................................................................ 33 Figura 11 - Processos típicos de usinagem .............................................................................. 34 Figura 12- Etapas de produção de peças pelo processo da metalurgia do pó .......................... 36 Figura 13 - A demonstração de um material composto ............................................................. 38 Figura 14 - Fuselagem do A350 XWB, construída em materiais compósitos ............................ 39 Figura 15 - Impressora SLA-250 ...............................................................................................41 Figura 16 - Cronograma evolutivo da tecnologia de impressão 3D ........................................... 42 Figura 17 - Atuação Impressão 3D ........................................................................................... 42 Figura 18 - Modelo de um rim impresso em 3D ........................................................................ 43 Figura 19 - Máquina capaz de produzir suco de laranja e utiliza a impressão 3D para a fabricação de copos biodegradáveis ......................................................................................... 45 Figura 20 - Escultura de chocolate impressa por meio de impressão tridimensional. ........ 49 Figura 21 - Ilustração do processo SLA .................................................................................... 50 Figura 22 - Ilustração do processo FDM ................................................................................... 51 Figura 23 - Ilustração do processo SLS .................................................................................... 52 Figura 24 - Esquema do processo de impressão SLM .............................................................. 53 Figura 25 - 3D Sense, scanner de peças para a modelagem tridimensional ............................. 54 Figura 26 - Sistema modular de impressoras 3D ...................................................................... 55 Figura 27 - Aeronave THOR produzida por impressão 3D ........................................................ 58 Figura 28 - Softwares Impressão 3D ......................................................................................... 59 Figura 29 - Produto de Impressão 4D ....................................................................................... 60 Figura 30 - Gráfico do efeito da impressão 3D no comércio mundial ........................................ 62 Figura 31 - Gráfico de comparação de custo ............................................................................ 63 Figura 32 - Processo de impressão do 3Dirigo ......................................................................... 65 Figura 33 - Avião THOR ........................................................................................................... 66 Figura 34 - Pilone impresso por impressora 3D ........................................................................ 67 Figura 35 - Aeronave A350 XWB .............................................................................................. 68 Figura 36 - Peça do painel e farol customizadas....................................................................... 70 Figura 37 - Impressora 3D portátil da BMW Motorrad ............................................................... 70 Figura 38 - Gráfico Comparativo Preço Unitário x Volume de Unidades ................................... 71 Figura 39 - Comparativo entre impressão 3D e usinagem CNC ................................................ 72 6 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 - Aplicações atuais e potenciais da Impressão 3D .................................... 46 7 LISTA DE SIGLAS ABS - Acrilonitrila Butadieno Estireno ANAC - Agência Nacional da Aviação Civil CNC - Controle Numérico Computadorizado CRM - Crew Resource Management DMLM - Direct Metal Laser Melting DMLS - Direct Metal Laser Sintering EASA - European Union Aviation Safety Agency FAA - Federal Association Administration FDM - Fused Deposition Modeling GE - General Eletrics GPS - Global Position System IOT - Internet of Things JIT - Just In Time KG - Quilograma KW - Quilowatt PETG - Polietileno Tereftalato PLA - Poliácido Láctico POV - Peso Operacional Vazio SLA - Stereolithography SLS - Selective Laser Sintering THOR - Testing High-Tech Objectives In Reality TI - Tecnologia da Informação UFES - Universidade Federal do Espírito Santo 8 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 9 2. INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E O SURGIMENTO DA PROTOTIPAGEM 3D ..... 13 2.1 Contexto Histórico ................................................................................................... 14 2.2 Indústria 4.0 ............................................................................................................. 18 3. A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA INDÚSTRIA AERONÁUTICA ................................ 23 3.1 Métodos de produção de peças aeronáuticas ......................................................... 26 4. A TECNOLOGIA DE IMPRESSÃO 3D ..................................................................... 40 4.1 Materiais para a execução e impressão 3D ............................................................. 47 4.2 Técnicas de prototipagem tridimensional ................................................................ 49 4.3 A prototipagem 3D na indústria aeronáutica ............................................................ 56 5. VIABILIDADE OPERACIONAL DA IMPRESSÃO 3D NA AVIAÇÃO....................... 61 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 73 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 76 9 1 INTRODUÇÃO No decorrer dos anos, a tecnologia no mundo tem influenciado cada vez mais as possibilidades de criação e concretização de projetos nas áreas das engenharias, arquitetura, saúde, aviação entre outras, trazendo assim, benefícios e liberdade de produção dos mesmos. É assim desde a Primeira Revolução Industrial (1760 - 1840) na Inglaterra, onde ocorreu uma substituição gradual dos métodos artesanais e tradicionais, por máquinas e ferramentas inovadoras que aceleraram os meios de produção e reduziram os custos de manufatura do produto final. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), países se empenharam para desenvolver novas tecnologias que iriam proporcionar uma rápida produção de artigos utilizados na guerra, dentre eles as aeronaves. Com a Terceira Revolução Industrial, período marcado como nascimento de tecnologias que modernizaram os equipamentos e a sua produção, possibilitou que as aeronaves pudessem ser fabricadas em menos tempo e maior quantidade e como o próprio nome diz, ocorreu uma revolução na indústria mundial. As indústrias que tiveram foco em desenvolvimento tecnológico como a robótica, genética, informática, eletrônica se sobressaíram; pois os estudos desenvolvidos nas áreas destes setores tecnológicos acabaram modificando todo o sistema produtivo e conquistando os objetivos de produzir cada vez mais em menos tempo, em relação às indústrias que mantiveram seus processos aprendidos nas fases anteriores da revolução industrial como por exemplo, a metalurgia e siderurgia. Ainda, além da alta tecnologia, mão-de-obra especializada e de novos métodos de produção, houve também aprimoramentos na indústria que deixaram os maquinários mais eficientes, e permitiu a inserção da robótica nos métodos de produção em série, resultando em aumento do lucro final, diminuindo os gastos com mão-de-obra e principalmente reduzindo o tempo de produção do mesmo produto quando comparado ao método de fabricação manual. Posteriormente aos avanços industriais citados, surge a discussão sobre Quarta Revolução Industrial (2011), dando origem ao que se conhece como Indústria 4.0. De acordo com Coelho (2016), ela é constituída por alguns pilares que são melhorias constantes em segurança, eficiência e produtividade de operação e, ainda conclui que o principal foco, o retorno do investimento realizado na implementação da tecnologia. Alguns dos principais aspectos observados por Coelho (2016) são: logística de produção; comercialização de produtos e estrutura básica de marketing que, são técnicas adotadas10 por organizações para facilitar processos de planejamento de uma linha de produção, consequentemente aumentando seu rendimento. Assim, percebe-se que o avanço de tecnologias nas linhas de produção tem papel fundamental na indústria mundial já que o foco das empresas fabricantes de aeronaves é aumentar a produtividade acompanhando o mercado global de transporte de passageiros. Com a globalização e as tecnologias disponíveis ao redor do mundo, as peças para a construção de uma aeronave são desenvolvidas em diferentes países, e são produzidas por meio de diferentes métodos de fabricação, como a fabricação de nervuras e longarinas que são feitas a partir da usinagem de blocos de alumínio aeronáutico. Empresas na área da indústria aeronáutica têm se empenhado para administrar ou adotar processos de produção que utilizam novas tecnologias para melhorar desempenho e produtividade. A impressão 3D, que foi criado por Charles Hull no ano de 1983, é um exemplo destes métodos, pois Charles teve uma ideia de utilizar a luz ultravioleta para endurecer os níveis finos de uma resina de forma sucessiva, camada por camada. Hull chamou este processo de estereolitografia e após 30 anos ainda é um método de impressão 3D comumente utilizado. Segundo Martins (2017), com a evolução tecnológica nos meios de produção, a impressão tridimensional tem ganhado destaque em diversos setores como na saúde (próteses), arquitetura (maquetes), produção de modelos didáticos (protótipos de peças em tamanho reduzido) e em meios de transporte. Com a utilização dessa tecnologia, percebe-se que os produtos apresentam maior facilidade no método de produção e flexibilidade de tipos de materiais utilizados, aumentando a sustentabilidade comparado aos métodos tradicionais de fabricação. Para Campbell et al. (2012), inovações tecnológicas tem revolucionado o mercado mundial, tal como a técnica de prototipagem rápida que visa maior velocidade de produção sob demanda diminuindo o estoque de produtos fabricados e arquivando apenas projetos dos mesmos em dispositivos de armazenamentos para depois serem processados por softwares, corte de custos e desperdícios de materiais aumentando assim a produtividade e o desempenho de fabricação de determinadas peças, tornando- se uma alternativa viável para a indústria aeronáutica. Nesse contexto, a presente pesquisa tem como objetivo geral analisar a viabilidade operacional da produção de peças aeronáuticas por meio da impressora 3D, apresentando os aspectos positivos e negativos quanto a implementação dessa tecnologia em empresas voltadas à fabricação de aeronaves e componentes. 11 Com a finalidade de alcançar o objetivo descrito, foram traçados os seguintes objetivos específicos: apreender sobre as inovações tecnológicas na produção de componentes; pesquisar a tecnologia de manufatura aditiva, matérias-primas utilizáveis, técnicas e tipos de impressão, e por fim, analisar a viabilidade operacional da produção de peças aeronáuticas utilizando a impressão 3D. Com a intenção de encontrar a resposta para o problema, foram utilizados métodos de pesquisa de natureza básica ou pura, uma vez que, de acordo com Gil (2008, p.26), “a pesquisa pura busca o progresso da ciência, procura desenvolver os conhecimentos científicos sem a preocupação direta com suas aplicações e consequências práticas”. Nesse contexto, conforme destaca Oliveira e Paulino (2009), o setor aeronáutico é considerado estratégico do ponto de vista do desenvolvimento tecnológico e da geração de empregos qualificados e figura como prioritário nas políticas públicas direcionadas ao desenvolvimento industrial e à inovação tecnológica. Do ponto de vista dos objetivos, a pesquisa é exploratória, pois objetiva proporcionar maior familiaridade com o problema, envolvendo um levantamento bibliográfico que contempla temas como o livro Métodos de Produção de Peças Metálicas, de Kaminami et al. (2013), e o artigo referente a inserção de novas tecnologias na indústria aeronáutica: Inovações Tecnológicas na Indústria Aeronáutica de Ferreira Filho (2014). Do ponto de vista dos procedimentos técnicos adotados, a presente pesquisa é bibliográfica e documental. “A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos” (GIL, 2008, p.50). Este material analisado para desenvolvimento da pesquisa pode ser encontrado em publicações por meios escritos e eletrônicos de autores renomados da área, tais como livros, artigos científicos e periódicos on-line. Quanto às referências documentais, foram consultados artigos de empresas da indústria aeronáutica (Boeing, Airbus, Embraer) e empresas relacionadas a tecnologia de prototipagem 3D (3D systems, Stratasys). Para um melhor entendimento da pesquisa, apresenta-se a seguinte estrutura: 1 - Introdução - expõe o objetivo geral, os objetivos específicos, a motivação, justificativa e os métodos que foram utilizados na pesquisa; 2 - Inovações tecnológicas e o surgimento da prototipagem 3D - aborda os fatores contribuintes para o progresso da tecnologia durante as revoluções industriais e o surgimento da prototipagem rápida - impressão 3D; 3 - Evolução histórica de métodos de produção de peças na indústria aeronáutica - discorre sobre os fatores históricos que influenciaram na evolução dos métodos de produtos aeronáuticos para fabricação das aeronaves; 4 - A tecnologia de 12 impressão 3D - contempla a tecnologia de prototipagem rápida, técnicas e materiais utilizados; 5 - Viabilidade operacional da impressão 3d na aviação - analisa e aponta as características que viabilizam, ou não, esse processo de produção na atualidade; e por fim, as considerações finais - traz uma conclusão dos objetivos apresentados e o fechamento da discussão da viabilidade operacional da produção 3D; 6 - Referências - apresenta as fontes utilizadas para a confecção do presente trabalho, sendo elas bibliográficas e documentais. 13 2. INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E O SURGIMENTO DA PROTOTIPAGEM 3D Em todos os meios da sociedade é possível identificar ideias que revolucionaram o ambiente tecnológico presente na sociedade, inovando e facilitando a vida de todos, desde a produção de algum produto até a aplicação deste produto na sociedade. De acordo com Lemos (2000), as inovações podem ser de radicais ou incrementais. Uma inovação radical pode ser entendida com o desenvolvimento e introdução de um novo processo, produto ou forma de organização da produção inteiramente nova. Este tipo de inovação pode originar novas indústrias, setores e mercados representando assim em uma ruptura estrutural com o padrão tecnológico anteriormente vivido. A inovação de caráter incremental emprega qualquer tipo de melhoria em um produto, processos ou organizações de uma empresa, sem alterar na estrutura industrial. Um exemplo de inovação incremental é a aplicação do Crew Resource Management (CRM) na aviação, que tem como definição doutrinas aperfeiçoadas em relações interpessoais inseridas em um ambiente de trabalho através de ferramentas de comunicação e gerenciamento de risco no trabalho em equipe. Assim o CRM é um pilar de grande importância para segurança de voo e mudou a cultura aeronáutica na questão dos relacionamentos interpessoais em uma cabine de um avião. Porém, essas inovações passam a não serem percebidas pelo consumidor final do produto, pois a simples mudança na maneira de produzir algum produto gera um crescimento da eficiência técnica, aumento da produtividade e redução de custos de um mesmo produto. Sendo assim, a otimização de processos de produção é considerada uma inovação incremental. Nesse contexto, é possível observar inovações no período da era digital, em que quase todos os dispositivos são eletrônicos e possuem tecnologia avançadapara realizar atividades de lazer, atividades domésticas e atividades relacionadas a trabalho, de forma conectada. Para Christensen (2013), às tecnologias disruptivas ou The innovator's solution são inovações que trazem uma revolução total no método de realizar uma função com menor custo para os consumidores, mais simplicidade, menor tamanho do produto e maior conveniência, como exemplo tem-se um aparelho leitor de fitas cassetes para reprodução de filmes, até a plataforma de filmes e séries chamada Netflix, que nada mais é que uma plataforma de entretenimento podendo ser acessada por um smartphone, smart tv e computadores. 14 2.1 Contexto Histórico O processo evolutivo das tecnologias mundiais, se dá por importantes inovações disruptivas. Na figura 1, estão descritos algumas das mais importantes inovações disruptivas, iniciando pelas inovações na área da comunicação, como a grande evolução a partir de um aparelho que foi criado para transmitir uma telemensagem, para um smartphone, que inova a maneira de se comunicar através de ligações e mensagens de lugares remotos e, ainda sim, facilita os deveres e lazer do homem, como enviar e-mails, consultar conta bancária, realizar relatórios, acessar aplicativos de entretenimento e permite substituição de equipamentos como câmeras fotográficas, filmadoras e computadores. 15 Figura 1 - Inovações Tecnológicas Fonte: Elaborado pelos autores, 2019. 16 No ano de 1923, de acordo com Dearborn (2018), relacionado ao setor automobilístico, o primeiro carro produzido em série foi o Ford T, um veículo que contemplava quase nenhuma tecnologia aparente, como indicador de velocidade, aparelho de som, nem retrovisores. Após décadas, em 2019, foi lançado um veículo denominado Tesla Model 3, um carro inteiramente tecnológico e o mais interessante é que a sua fonte de energia mecânica é alimentada por baterias e não mais por um motor a combustão, o que revoluciona o mercado automobilístico mundial. Além disso, o veículo é equipado com diversos sensores e câmeras que estão conectadas a uma central de dados, que permite o veículo conduzir autonomamente sem a interferência do motorista, podendo realizar uma viagem tranquila e segura. Sem contar as vantagens que a central multimídia embarcada traz para o motorista e passageiro, como a opção avançada de navegação por sistemas de posicionamento, Global Position System (GPS), filmes, televisão, músicas e jogos. Já no campo da inovação tecnológica de periféricos computacionais, foi criada no ano de 1938 a primeira impressora capaz de reproduzir imagens e textos através de máquinas fotocopiadoras. Para época era um grande avanço tecnológico, mesmo demorando horas para o processo de impressão e apresentando baixa qualidade e um resultado final de péssima resolução comparada a impressão de uma simples impressora tradicional dos dias de hoje. Com o passar dos anos foi possível observar os avanços no mundo das impressoras, chegando até em impressoras portáteis. Outro avanço tecnológico que vem revolucionando o mercado mundial de impressão, são as impressoras com tecnologia tridimensional, comumente conhecidas como impressoras 3D. No século passado houve o surgimento de diversas tecnologias, como a Internet, mas que não tinha o mesmo uso do qual é feito hoje em dia. No ano de 1969, quando ela foi inventada seu uso era interligar laboratórios de pesquisa nos Estados Unidos, e posteriormente, no âmbito militar, era exclusivo pelo governo americano, isso se manteve durante um grande período, pois só nos anos 90 ela foi liberada para o mundo, onde foram surgindo empresas provedoras de internet, quando seu uso começou ser expandido. A internet passou a ser um grande meio de comunicação, sendo usada não só para a conexão entre pessoas, mas também de equipamentos domésticos, como pode-se observar as casas inteligentes que é possível ser controlada remotamente desde de câmeras de segurança, fechaduras e até a iluminação. 17 Durante e após a transição do século 20 para o século 21, houveram inúmeras tecnologias desenvolvidas, que revolucionaram a vivência do homem no mundo. Dentre elas, está inserida a Internet, que de modo geral, nada mais é que um meio de comunicação entre equipamentos e pessoas, como afirma Marcondes e Gomes (1997), que em termos de sistema de informação, proporciona acesso imediato com um grande número de informações para o usuário. A figura 2 representa graficamente o relatório Digital Global 2019, da consultoria global de redes sociais We Are Social, revelando que atualmente, existem no mundo todo 7,6 bilhões de pessoas, sendo que 5,11 bilhões de usuários estão conectados em dispositivos móveis, quando comparado ao ano de 2018, teve um aumento de 100 milhões de pessoas. Destaca também, 4,3 bilhões de usuários conectados a internet, 366 milhões a mais que o ano anterior, e que possui em torno de 3,4 bilhões de usuários conectados em redes sociais e, por fim, 3,2 bilhões de pessoas utilizando redes sociais em seus dispositivos móveis, significando um aumento de mais de 10% em relação ao ano passado. (KEMP, 2019) Fonte: KEMP, 2019. Recentemente a Internet das Coisas, derivada do termo Internet of Things (IoT), é uma das principais causas de todos os dados revelados anteriormente, pois a internet está inserida em quase todos os lugares e equipamentos, tornando-os conectados com o homem em todo o momento. Em uma população mundial, mais de 50% das pessoas estão conectadas a internet, seja através de dispositivos móveis ou em qualquer outro equipamento eletrônico. Figura 2 - Crescimento Digital Anual 18 A IoT é definida como uma infraestrutura de rede global, que interconecta fisicamente e virtualmente objetos, com o objetivo de explorar dados capturados e suas capacidades de comunicação. Essa infraestrutura inclui e envolve a Internet e as redes de comunicação, ela necessita de identificação única de objetos, sensores e capacidade de conexão, como base para o desenvolvimento independente de serviços e aplicações (SOUZA, 2015, p. 25). Dessa forma, é possível identificar a internet como destaque de uma das principais inovações provenientes das revoluções industrias, que foram de grande importância para a evolução humana e industrial principalmente, contando com o surgimento da Quarta Revolução Industrial. 2.2 Indústria 4.0 Hermann (2015) define a Indústria 4.0 como a conectividade de sistemas físicos e digitais, permitindo a criação de uma fábrica inteligente, como o esquema ilustrado na figura 3. Dessa maneira, pode-se observar a criação e o desenvolvimento das fabricas presentes no mundo todo, fazendo com que elas possam ser interligadas entre si, facilitando a comunicação e a produção, e permitindo o uso de estoque eletrônico por meio de nuvens. Figura 3 - Fábricas Inteligentes Fonte: BORLIDO, 2017. Com as tecnologias inventadas, os processos se tornaram mais eficientes, o que possibilitou em diversas maneiras de produção, inovando sempre em redução de custo e rapidez do processo. Esses avanços, caminharam por muito tempo, como pode-se 19 observar em cada revolução industrial ocorridas durante a história da humanidade (figura 4). Desde do século 18, em meados de 1784, surgiam as primeiras máquinas a vapor, após esse período no século 19 por volta de 1970 ocorreu a segunda grande revolução, em que foi introduzida no modo de produção a energia elétrica e a produção em massa, ou seja, em grande escala. Já no século 20 durante a década de 70, o uso da eletrônica na produção entrou em evidência, juntamente com a tecnologia da informação (TI) e a automação dos processos produtivos. A revolução que se hospeda no século 21, é a composta por sistemas ciber-físico,como o uso de softwares na produção e a robotização da mão-de-obra, tornando cada vez mais eficiente e inserida na era digital. Figura 4 - Evolução das Revoluções Industriais Fonte: Elaborado pelos autores, 2019. Na atualidade, as empresas mundiais, segundo Borlido (2017), buscam em grandes avanços da produção objetivando a eliminação de desperdícios e buscando sempre melhorias em relação ao tempo de entrega ao cliente, qualidade do produto final e menor custo para a indústria. Para isso foi criada e implementada diversas tecnologias que pudessem agregar pontos positivos para a indústria, dentre elas a IoT, juntamente com a filosofia Just In Time (JIT), que mudará a forma de produzir em escala industrial, pois segundo Hermann et al. (2015), o novo modelo de indústria é composto por uma fábrica inteligente (smart factory), podendo ser definida como local onde o sistema ciber- físico se comunica com a IoT para a execução de suas tarefas. 20 A Filosofia Just In Time como cita Borlido (2017), aborda sobre objetivo de eliminar o desperdício encontrados nas linhas de produção, incluindo a quantidade exata e necessária de material para a confecção de um produto, já que é um sistema que tem como principal objetivo produzir a demanda com alta qualidade de forma rápida. Assim, quando utilizada de forma conjunta com a IoT, se torna uma ferramenta altamente importante para a Indústria 4.0, já que os arquivos e softwares a serem utilizados por uma fabricante possam ser armazenados em nuvens contidas na internet, o que facilitaria a fabricação do projeto e do produto final e uma melhora na gestão de estoque, podendo ser até substituído pelo estoque digital, que com o auxílio da filosofia JIT, pode tornar a produção do componente e o prazo de entrega ao cliente mais rápida. Segundo Bernardes e Pinho (2003), a indústria aeronáutica segue uma estratégia que visa a competitividade, impulsionando a inovação na área, ou seja, novas ideias que darão para seus clientes produtos que suprem a necessidade tanto do mercado de aviação executiva, quanto do mercado de empresas de transporte de passageiros, sendo elas regulares ou não. Tudo isso quando unificado, retorna em grandes variáveis importantes para a organização que opera as aeronaves e para a indústria que produz os equipamentos, que são as reduções de custos gerados em âmbito operacional, produções personalizadas no interior das aeronaves, criação de um produto com maior maleabilidade e uma rapidez na produção das peças, aumentando consequentemente a velocidade de manutenção das aeronaves, o que acarreta em uma diminuição de peças em estoque e redução do tempo da aeronave em solo. Ainda assim, sempre buscando melhores métodos e estudos aprofundados, para que possa ser implementado materiais e peças que diminuem o Peso Operacional Vazio (POV) da aeronave, já que é um ponto crucial a ser abordado quando o assunto é economia na operação de aviões e helicópteros. Como afirma Lee et al. (2001), uma previsão de redução de 10% a 30% no peso das aeronaves até 2025, por meio do uso de materiais mais leves como os compósitos, o que é muito interessante para as empresas aéreas, visando assim uma diminuição de peso estrutural e consequentemente uma redução no consumo de combustível. Ferreira Filho (2014) confirma que com base nessas inovações, são desenvolvidas pelos fornecedores, meios diferentes de suprir a demanda dos novos requisitos do mercado, e assim, a indústria aeronáutica ganha destaque em desenvolvimentos de novas tecnologias que se aplica tanto aos processos produtivos, quanto ao produto. 21 No ano de 2019 a Embraer entregou o primeiro KC-390, conforme ilustrado na figura 5, para a Força Aérea Brasileira, um avião cargueiro militar que desafiou os engenheiros da empresa em um novo projeto de trem de pouso para suportar as 84 toneladas desta nova aeronave, segundo a Tenente Peccini (2016) a empresa responsável pelo projeto dos trens de pouso, Eleb sediada na cidade de São José dos Campos, interior de São Paulo, trabalharam durante cinco anos para conceber, projetar, desenvolver, testar e produzir o conjunto de trens de pouso (trens principais e auxiliares - esse mais conhecido como trem nariz) que suportariam as 84 toneladas do KC-390. Essa inovação para a Embraer foi crucial para a conclusão de outros novos projetos como a nova geração de jatos comerciais da empresa, o E-Jets E2, que utilizaram os mesmos métodos de produção para a criação dos trens de pouso desta geração, segundo o presidente da Embraer Luiz Marinho (2016), “O cargueiro trouxe um aprendizado fundamental para estarmos onde estamos hoje". E ainda completa que, sem o projeto, talvez a empresa levasse décadas para atingir o mesmo nível de desenvolvimento tecnológico e qualidade a partir de projetos em parceria com universidades e institutos. Figura 5 - Novo cargueiro da Embraer KC-390 Fonte: HORA DO POVO, 2019. 22 Segundo a Tenente Peccini (2016), os desafios para o desenvolvimento desta inovação tecnológica estavam principalmente na usinagem dos grandes blocos de titânio e aço, que são as duas principais matérias-primas com alta densidade e resistência usadas para a manufatura de cerca de 80% das novas peças e que ainda possuem dimensões bem maiores que os modelos utilizados nos projetos passados. A empresa investiu um montante de US$ 10 milhões para aquisição, capacitação e desenvolvimento de novas tecnologias. E graças ao desenvolvimento desta tecnologia a Embraer não teve dificuldades para a criação dos jatos E2 como confirma o presidente Luiz Marinho (2016) "Se tivéssemos que fazer o trem de pouso do E2-190 sem a experiência do KC-390, estaríamos em uma situação bem complicada”. 23 3. A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA INDÚSTRIA AERONÁUTICA A história do homem não seria a mesma se não fosse pelas conquistas nas habilidades de concretizar sonhos que eram impossíveis para alguns, mas que para outros poderiam se tornar realidade e mudar o destino da humanidade. Como um exemplo dessa conquista, pode-se destacar Alberto Santos Dumont, responsável por produzir um dos equipamentos capazes de transportar o homem pelos ares, ato que levou ao prêmio Deutsch em 1901, ao contornar a Torre Eiffel e retornar em 30 minutos. Para criação e realização de projetos das aeronaves, pesquisas e testes foram realizados. Como pode-se observar nos registros de Santos Dumont e a Conquista do ar (1957, p.25) “[...] à espera de melhores oportunidades, eu me exercitava construindo aeronaves de bambu, cujos propulsores eram acionados por tiras de borracha enroladas, ou fazendo efêmeros balões de papel de seda”, os materiais e métodos que foram usados para a criação de modo artesanal dos primeiros protótipos de aeronaves e o quanto a indústria aeronáutica evoluiu nos métodos de produção. O início das produções em grande escala dos aviões foi marcado na primeira guerra mundial (1900-1914), devido a corrida tecnológica para dominação do espaço aéreo durante a guerra. Segundo Lopes (2014), houve uma rápida evolução nos meios de produção e nas pesquisas para o desenvolvimento de uma aeronave que pudesse ser construída rapidamente e no menor custo possível. Durante os processos de desenvolvimentos dos primeiros aviões, verifica-se que era uma época em que as matérias-primas para a construção das aeronaves não eram de fácil manuseio, eram pesadas para o meio aeronáutico e a pouca experiência de voo causaram várias falhas nas conclusões dos primeiros projetos. Foi então assim que os engenheiros da época após várias tentativas e erros perceberam que a madeira era o melhor material disponível no momento para as construções dos aviões, pois seu custo era menor, era fácil de ser encontrada, leve, de simples manuseio e ainda ofereciagrande resistência estrutural para as aeronaves. O processo de construção das aeronaves no início da primeira guerra mundial era de modo artesanal, ou seja, cada trabalhador efetuava suas funções de modo manual com pouco auxílio de máquinas. Seguindo uma extensa linha de produção, o projeto era dividido por setores: elaboração de nervuras e longarinas para as asas; execução de cavernas e vigas para a fuselagem; realização do revestimento; instalações mecânicas 24 e hidráulicas e por fim, acabamentos. Nesses setores, trabalhavam homens carpinteiros com vasta experiência e conhecimento em operações com madeiras e assim, tinham a responsabilidade de realizar escolha do material, tratamento, modelagem e cortes. Também trabalhavam mulheres que tinham mais facilidade na área de montagem e costura, sendo encarregadas de fazer todo o trabalho de montagem de peças e costuras de tecidos que eram utilizados como revestimento de algumas partes dos aviões. É possível visualizar todo este processo de manufatura de aeronaves no arquivo audiovisual histórico do ano de 1916 de uma fábrica alemã que estaria produzindo caças biplano D.III fighters, utilizado na Primeira Guerra Mundial. A linha de produção era composta: ● pela escolha do tipo da madeira-os operários eram responsáveis por escolherem uma madeira que pudesse oferecer alta resistência estrutural para suportar as forças aerodinâmicas nos voos, sem muito peso (alta leveza). As principais madeiras utilizadas na fabricação eram bétula, balsa, abeto; ● pelo corte e preparação - através de moldes, as marcações eram feitas com o objetivo de padronizar a produção das peças como: nervuras, longarinas, cavernas e montantes. Peças essas, que deveriam respeitar as mesmas medidas para que as estruturas da aeronave fossem regulares e para que todas as aeronaves tivessem o mesmo aspecto aerodinâmico; ● pelo acabamento da peça - após o corte das peças como: cavernas e longarinas da fuselagem; longarinas e nervuras da asa; e outras peças o acabamento das mesmas eram feitas também de modo manual, peça por peça, efetuando um lixamento e aperfeiçoamento para que não houvesse complicações na montagem final; ● pela montagem das asas - após o corte e acabamento das longarinas e nervuras da asa, cada peça era posta em um gabarito de forma enfileirada, após, amarradas, coladas e pregadas uma a uma; ● pela entelagem das asas - com a estrutura da asa montada utilizava-se tecidos como, algodão e linho para cobrir toda a superfície, empregavam uso de grampos e uma mistura de cola com verniz para fixar e dar resistência ao tecido; ● pela montagem e acabamento da fuselagem - da mesma forma que inicia- se a montagem da asa, cada caverna e longarina é posta no gabarito de 25 forma enfileirada formando assim a estrutura da fuselagem, a madeira bétula era utilizada para cobrir e dar a forma da fuselagem, o acabamento era feito por meio de lixas e aplicação de uma solução preparatória que visava a cura da madeira; ● pelo departamento de montagem - as divisões da aeronave eram transferidas para esse setor onde era feita a instalação do motor na fuselagem, as asas e suas fixações, rodas e as superfícies de comando, para enfim compor o avião. Nesse processo, era possível observar a utilização de algumas tecnologias como a soldagem para a fixação do motor e de algumas hastes de metal que eram utilizadas para reforçar a estrutura que sofreria um alto esforço em um voo de combate; ● pelos testes de componentes - Depois de toda a linha de montagem, as aeronaves eram guiadas pelos operários para o lado externo da fábrica, para que fossem feitos testes mecânicos das superfícies de comando e o funcionamento do motor. Dessa maneira, a aeronave que não apresentasse problemas, seguia para o seu primeiro voo, momento em que era realizado testes de limitações de motor e de estrutura. Na figura 6 é possível visualizar que grande parte das peças eram feitas de madeira (representada pela cor marrom) e nas partes em cinza eram aplicadas o metal galvanizado. Vale ressaltar que se utilizava o mínimo possível de partes de metal, pois os motores da época não tinham força suficiente para conseguir impulsionar um avião com peso elevado. 26 Figura 6 - Representação dos componentes internos utilizados para a construção de uma aeronave na Primeira Guerra mundial Fonte: THELEN, 1916. Para isso, foi necessária uma adaptação para o problema do peso das estruturas das aeronaves utilizando motores mais tecnológicos e materiais metálicos que obtiveram uma leveza maior que a da madeira. Adaptação essa, que foi o grande marco para a evolução do processo de fabricação de peças e aeronaves, substituindo a madeira por metal. 3.1 Métodos de produção de peças aeronáuticas No contexto da evolução dos métodos de produção de aeronaves e a utilização de novos materiais para manufatura da mesma, é possível perceber progressos na história desde os primórdios da indústria aeronáutica com o surgimento de várias empresas dentre elas a Boeing que teve início em suas operações em 1916, com o fundador William Edward Boeing, construindo hidro aviões perto de Seattle, sendo o primeiro avião da história da empresa o B&W (figura 7) que era produzido inteiramente de madeira, com amarrações em arame e com a cobertura das asas feita em linho. Com este primeiro hidroavião, que era semelhante a um modelo da empresa Glenn L. Martin, cuja a propriedade fora adquirida futuramente pela Boeing, a empresa conseguiu ser inovadora pois entregou para o mercado uma aeronave com flutuadores melhores e um motor superior ao dos aviões existentes na época. 27 Figura 7 - Primeira aeronave da Boeing B&W Fonte: SIMANAITIS, 2017. A jornada da Boeing pode ser acompanhada pela figura 8, onde por sua vez contém alguns de seus principais modelos durante sua jornada e de seus principais concorrentes durante este período. Apresentando a evolução e conquistas da história da aviação por meio de inovações, no ano de 1922 a Boeing se destaca de seus concorrentes ao apresentar o seu caça Model 15, responsável pela liderança do segmento durante os anos 20. Essa evolução do mercado para suprir as demandas também era observada no segmento da aviação civil, onde no ano de 1929 a Boeing apresentou o seu modelo 247, este por sua vez era referência no segmento de transporte de passageiros e cargas, mas que logo em seguida este posto foi tomado pela empresa Douglas Aircraft Company, que estava a frente, com o seu modelo DC-1, por ser uma aeronave mais rápida e com maior espaço interno. Após 1920, a Boeing mais uma vez se destacou no mercado, lançando o seu primeiro modelo de aeronave pressurizado, o Model 307, que veio para suprir uma demanda de mercado, podendo alcançar maiores altitudes para voo, sem deixar o conforto e a segurança de lado. Novamente a Boeing foi surpreendida pela sua concorrente Douglas, que posteriormente apresentou os seus modelos DC-2 e DC-3, que foram os principais modelos utilizados no período para transporte doméstico nos Estados Unidos, com 83% dos voos. Outro grande salto para a aviação foi a conquista das aeronaves com motores a jato, em 1949 era lançado o primeiro avião a jato comercial com o intuito de transporte de passageiros e cargas, o modelo Comet DH 106 da empresa inglesa de Havilland. A Boeing respondeu com sua primeira aeronave de motores a jato para longo alcance, com 28 destaque para transporte de passageiros, para suprir a demanda de viagem mais longas. Apresentando no ano de 1954, o jato Boeing 367-80, que posteriormente daria origem a icônica linha da empresa, o Boeing 707. Com o decorrer dos anos, a Boeing resolveu lançar o seu modelo 707 no ano de 1967, que foi responsável pelos aprimoramentosde projetos com outros modelos como o B-737, que vem sendo atualizado e utilizados até nos dias atuais. Esses próximos modelos foram surgindo logo após, no ano de 1969 era lançado o icônico Boeing 747, para oferecer uma maior performance, capacidade de passageiros, longas distâncias e também capacidade de transporte de cargas, onde este modelo tem grande destaque. Ao longo do tempo novas tecnologias foram surgindo, deixando o mercado da indústria aeronáutica mais tecnológico e com mais recursos. Isso foi visível no mercado com o surgimento do Boeing 777 no ano de 1994, a primeira aeronave da empresa 100% projetada digitalmente utilizando tecnologia de computação gráfica tridimensional, onde diversos testes puderam ser executados por meios digitais. 29 Figura 8 - Evolução na Aviação Fonte: Elaborado pelos autores, 2019. 30 De acordo com Costa (2013), o novo material utilizado para a produção de aviões permitiu que as fabricantes pudessem apresentar projetos inovadores, pois proporcionou para o avião, manuseio de cargas maiores por conta do aumento de tamanho da fuselagem, maior velocidade por conta de seu melhor design aerodinâmico e dos motores avançados com alta eficiência e uma melhora na manobrabilidade da aeronave. Além disso, os metais inseridos na manufatura de aviões simplificaram as técnicas de fabricação, principalmente quando os mesmos eram produzidos em uma grande escala seguindo uma linha de produção. A descoberta do uso de novos materiais na produção de aeronaves, proporcionou uma flexibilidade nos métodos de desenvolvimento de peças utilizando técnicas, ferramentas e maquinários criados durante a Segunda Revolução Industrial (1850-1950), que permitiram diferentes métodos de produção de componentes através de fundição, usinagem, conformação plástica e metalurgia do pó. De acordo com Kiminami et al. (2013), há diversas maneiras para a fabricação de produtos metálicos, para isso, são utilizados processos que visam dar forma (geometria, dimensões, acabamento superficial) ao metal puro ou liga metálica. Processos esses, que são: Fundição, Conformação plástica, Usinagem, Soldagem, Metalurgia do pó. ● Fundição - é um processo de manufatura de produtos metálicos, no qual utiliza o metal fundido, ou seja, no seu estado líquido para correr por gravidade dentro de um molde onde se solidifica tornando a forma deste que pode obter a forma total ou parcial do produto. Kiminami et.al (2013) descreve que a fundição pode ser utilizada tanto para a produção de grandes dimensões (mais do que 100 toneladas), como peças de pequenas dimensões (poucos gramas). Para a utilização deste modelo de produção é necessário empregar técnicas sofisticadas para elaboração do projeto de fundição que definirá todas as etapas para a produção das peças em condições de uso final, que está representada no fluxograma da figura 9: 31 Figura 9 - Etapas básicas para a produção de uma peça fundida que se aplica à maioria dos processos de fundição . Fonte: KIMINAMI et al., 2013. Um exemplo de produto aeronáutico produzido pelo processo de fundição é um bloco de motor a pistão, que inicia com a produção do molde da componente: a parte interior (oca) do motor onde irão os demais elementos como pistão, biela e virabrequim, é preenchida com peças denominadas machos (peças de areia prensada) fabricadas na etapa da macharia que serviram como um molde negativo para que a liga metálica aplicada no estado líquido não ocupe espaços que não deveriam ocupar. Após o preenchimento do molde e a solidificação do metal, é feito o corte dos 32 canais e massalotes por onde havia passado a liga metálica em estado líquido, e por fim o produto semiacabado vai para o processo de acabamento final onde é feita a remoção de excesso de material e pintura, chegando assim no bloco do motor pronto para linha de montagem. ● Conformação plástica - processo em que se utiliza a técnica de deformação plástica do metal, quando possui boas características metálicas, sendo elas baixa tensão de escoamento (tensão máxima que o material suporta sem que ocorra uma deformação permanente) e uma taxa alta de ductilidade (grau em que o material suporta até o momento de sua ruptura). Dessa maneira, o material apresenta uma boa maleabilidade para sofrer deformações plásticas. O processo de conformação plástica é realizado na maioria das vezes com o material aquecido, diminuindo assim sua heterogeneidade, facilitando a sua deformação em métodos laminação, forjamento, trefilação, corte, extrusão, entre outros, conforme apresentado na figura 10, de acordo com o produto final que será fabricado. Inserido no método de conformação plástica, existe uma técnica denominada processo Manesmann, que consiste na passagem de uma barra redonda maciça entre dois rolos de dupla conicidade, fazendo com que o material ganhe forma de um tubo do tamanho em que o fabricante deseja. 33 Figura 10 - Processos de conformação de volumes: Fonte: KIMINAMI et al., 2013. ● Usinagem - é o processo de produção de uma peça com o uso de ferramentas de corte para a obtenção da mesma, a usinagem é feita de forma a remover o excesso de material de um sólido, de modo que a peça tome sua forma de projeto. Dentre as formas de usinagem a deformação por meio de cisalhamento do metal se destaca, conforme o material é removido a peça vai sendo formada no material sólido. O método de usinagem é complexo, pois é obtido em diferentes processos, que são divididos em: processos de corte que, por grande parte envolve ferramentas de corte mono e multicortantes; processos abrasivos e processos avançados de usinagem, onde são usadas técnicas que usam fontes de energia elétrica, química, entre outras. Na figura 11 é possível visualizar esquematicamente alguns dos processos mais utilizados na usinagem: torneamento, furação, fresamento e aplainamento. 34 Figura 11 - Processos típicos de usinagem Fonte: KIMINAMI et al., 2013. A usinagem é um dos métodos mais importantes nos processos de produção de peças metálicas, pois pode ser aplicada em grande variedade de materiais e formas, produzindo qualquer geometria em superfícies planas, orifícios redondos e até cilindros. Como a usinagem é complexa e detalhada, é constantemente utilizada como um processo adicional, ou de acabamento, quando a peça é produzida por outros métodos como: fundição, conformação plástica ou até mesmo metalurgia em pó. 35 ● Soldagem - a soldagem é um método de produção de grande importância pela sua grande gama de atuação. É composta por um conjunto de processos de produção, no qual duas partes metálicas são unidas de forma permanente pela fusão do material, tendo duas interfaces de contato para que seja feita a união, que pode ser dada por combinação de temperatura, pressão ou condições metálicas. Soldagem é apenas um dos três processos de união metálica utilizados, além do mesmo existem outros dois processos: união por adesivos, que por sua vez não são de composição metálica, como resinas termoplásticas e termorrígidas, elastômeros artificiais etc.; união mecânica, onde a junção é feita com o uso de rebites, parafusos, porcas etc. Kiminami et al. (2013) afirma que os métodos podem ser classificados em quatro classes de soldagem: por fusão, na qual é utilizado a fusão parcial dos materiais dos componentes envolvidos na soldagem; no estado sólido: é o processo no qual não ocorre fusão dos materiais envolvidos; brasagem, processo no qual ocorre a fusão somente nos materiais adicionados e não nas peças a serem unidas, neste caso, a temperatura de fusão está acima de 450°C; solda branda, mesmo método eprincípio da brasagem, mas, nesse caso, a temperatura de fusão dos materiais de adição vai está abaixo de 450°C. ● Metalurgia do pó - o processo de metalurgia em pó como o próprio nome sugere, é a utilização do pó metálico para a produção de um produto. Este processo inicia- se aplicando uma mistura de pós metálicos em uma forma onde será compactada e o pó assumirá o formato do molde, passando a se chamar de “peças verdes”. Essas peças ainda “cruas” passam por um processo de sinterização, em que são aquecidas para que as partículas dos pós metálicos se tornem um corpo denso, adquirindo a forma e as características desejadas. Neste processo, em que podem ser utilizadas operações secundárias que visam uma qualidade melhor para o produto final, é possível visualizar de forma simples e sucinta o processo da metalurgia em pó na figura 12. 36 Figura 12 - Etapas de produção de peças pelo processo da metalurgia do pó Fonte: KIMINAMI et al., 2013. O processo de fabricação de peças é essencial para que os principais componentes das aeronaves ganhem forma. Após o processo primário de construção de peças descrito anteriormente, como a fabricação de chapas metálicas, peças usinadas e blocos de metal, a linha de produção segue para outros passos, para assim os materiais preparados e as peças fabricadas, sejam entregues para que a fabricante possa iniciar a montagem dos equipamentos, componentes e algumas estruturas das aeronaves, como as asas (longarinas, nervuras e revestimento) e fuselagem (treliças, cavernas e revestimentos), realizando o processo de soldagem entre os componentes de sua estrutura; a fixação de placas de alumínio para revestimento utilizando rebites, 37 parafusos e soldas; a seção de motor (berço estrutural, engrenagens, molas e parafusos) e a fixação de trem de pouso, sendo ele retrátil ou fixo e entre outros componentes. O estudo para a busca de aumento de performance na aviação segue em crescimento a cada dia que passa, podendo assim encontrar novas formas de adaptar as aeronaves para que tenham um melhor desempenho em seus voos, chegando em soluções estratégicas que sejam mais econômicas e eficientes tanto nas operações quanto em sua produção, conforme aponta Martins Neto (2016, p.22): “redução na economia e custos com ótimo aproveitamento, funcionalidade e potencialidade de suas propriedades, com a obtenção de novos compósitos, tornando-os mais competitivo”. Para isso, é importante ressaltar o material que foi responsável pela criação de uma nova era, a era dos materiais compostos. De acordo com Leite (2014, p.17), “a média de vida de um atual avião comercial é voar mais de 60.000 horas com mais de 20.000 voos em torno de 30 anos”, e para chegar nesta média e também continuar aumentando-a, a busca por materiais mais leves e mais fortes, é constante, para isso os engenheiros e a indústria estão investindo cada vez mais nas pesquisas para que as novas gerações de aviões tenham um material de construção com uma menor densidade, ou seja, menor peso e como resultado, uma melhor performance da aeronave e economia de combustível. Para a construção de uma aeronave é necessário colocar a segurança de voo em primeiro plano, isto é, os materiais utilizados devem ser seguros e confiáveis. Vale destacar que não deixa de ser diferente com os materiais compostos, conforme destaca Leite (2014), o material composto é produzido quando dois ou mais materiais são unidos, uma fibra e uma matriz e dão origem a um novo material com características diferentes aos materiais primários, como demonstrado na figura 13, assim se sobressaindo em relação a sua capacidade estrutural, pois eles devem passar pelos mesmos processos de testes e aprovações que qualquer outro tipo de peça no meio aeronáutico. 38 Figura 13 - A demonstração de um material composto Fonte: CAIRNS, 2009. Adaptado e traduzido pelo autor, 2019. Um exemplo de compósitos é o alumínio, separado de outros materiais na indústria é conhecido pela sua baixa resistência, também por apresentar grande flexibilidade, o que não é interessante para indústria aeronáutica, principalmente na produção de estruturas. Porém, quando são adicionados outros metais, essa característica se torna diferente, se tornando interessante para a área. Leite (2014) cita um belo exemplo: as ligas de alumínio utilizadas na indústria aeronáutica para confecção de motores, por possuir uma excelente resistência a altas temperaturas, sua composição é dada por cobre, magnésio, manganês, silício, níquel e ferro nas seguinte porcentagens: 4% de cobre; 1-2% de níquel; 0,5% de magnésio; 0,5% de manganês; 0,3% de silício e 0,2% de ferro, sendo o restante da sua composição alumínio. A aeronave Diamant HBV foi a primeira aeronave produzida inteiramente em fibra de vidro a receber certificação de aeronave de categoria normal pela Federal Aviation Administration (FAA) em 1965, sendo uma aeronave leve e de pequeno porte. A partir de 2005, de acordo com a FAA, houve um aumento significativo do número de aeronaves fabricadas utilizando materiais compostos em suas estruturas, ultrapassando os 35%. É possível observar que o novo material tomou lugar de muitos outros até em aeronaves de grande porte, como Airbus A350XWB representado na figura 14, composto por 53% de material compósito e o Boeing 787 Dreamliner que segundo Leite (2014), fez seu primeiro voo utilizando 100% de materiais compósitos nas suas superfícies aerodinâmicas. 39 Figura 14 - Fuselagem do A350 XWB, construída em materiais compósitos Fonte: MARSH, 2010. No âmbito dos métodos de produção de aeronaves e a utilização de novos materiais para manufatura percebe-se que desde a primeira revolução industrial, inserida no contexto aeronáutico, grande parte da produção de aviões foi diretamente afetada, uma vez que todo o processo de transformação e adaptação das fabricantes durante a guerra ocorreu conforme a necessidade de suprir as demandas de baixo custo e rapidez de produção. Com essas demandas, a criação de novos materiais e a busca de novos métodos de produção, continua em crescimento de forma em que possa ser observado a abertura de possibilidade de métodos de conclusão de projetos e a gradativa substituição do homem pelas máquinas no meio de produção visando redução no custo de mão-de-obra, que está inserido na indústria 4.0. 40 4. A TECNOLOGIA DE IMPRESSÃO 3D O surgimento da tecnologia de impressão 3D teve início no Japão durante a década de 80, em que foi publicado o relato da primeira impressão de um modelo sólido por Hideo Kodama. Segundo Santos (2016), o Hideo Kodama não chegou a conclusão do processo de patenteamento iniciado em maio de 1980, expirando o mesmo um ano após a sua aplicação, alegando falta de fundos. Anos se passaram e no ano de 1983, Charles Chuck Hull criou um equipamento que realizava um processo de estereolitografia, método em que o material é depositado camada por camada, criando assim dimensões na impressão. Como destacado por Reveilleau (2018), Chuck era um norte americano que trabalhava desenvolvendo lâmpadas para a consolidação de resinas com a utilização de luz ultravioleta para adicionar camadas plásticas. Esse processo demorava bastante tempo para ser realizado, o que fez com que Chuck desenvolvesse algo que pudesse acelerar esse processo, estudando a possibilidade de obter objetos tridimensionais utilizando essa técnica de depósito de material em camadas e depois passar por um processo de cura com incidência de luz. Após diversos testes, Chuck confeccionou uma máquina em que era constituída por principalmente uma bandeja com um produto fotopolímero, que é um líquido que se solidifica quando há incidência de luz ultravioleta sobre ele. Então quando a luz é incidida, o materialse solidifica sobre uma plataforma móvel, que se movimenta milímetros para baixo, produzindo uma camada sólida, e de camada em camada, o produto final é consolidado, e então a plataforma se eleva para que todo o líquido se escorra, separando assim o líquido da peça fabricada. Aproximadamente dois anos depois da criação da impressora, Hull fundou sua própria empresa chamada 3D Systems, em busca de novos consumidores que pudessem adotar a impressora 3D em diversos setores. Em 1987, a 3D systems desenvolve a primeira impressora 3D para fins comerciais, sob o nome de SLA-1 e em 1988 a empresa disponibiliza para o mercado a impressora SLA-250, conforme ilustrada na figura 15. 41 Figura 15 - Impressora SLA-250 Fonte: SOUZA, 2014. Como apontado por Lou e Grosvenor (2012), em 1986 Carl Deckard investigador da universidade do Texas, nos Estados Unidos da América, iniciaram o processo de patenteamento da tecnologia de impressão criada por ele chamada Selective Laser Sintering (SLS) que utilizada por exemplo na área da fabricação de calçados. Outra data importante para o desenvolvimento da tecnologia de impressão tridimensional foi o ano de 1989, onde que nos Estados Unidos da América, o cofundador da empresa Stratasys, Scott Crump, iniciou o processo de patenteamento de um novo processo de impressão 3D, denominado de Fused Deposition Modeling (FDM), abordado no subcapítulo 4.2. No ano de 1989, o processo de impressão denominado Direct Metal Laser Sintering (DMLS) foi desenvolvido pelo fundador da empresa Electro Optical Systems na Alemanha, por Hans Langer, processo que possibilita a impressão 3D utilizar diversas matéria-primas com diferentes tipos de metais e ligas metálicas. Após este cenário de adaptações da impressão 3D, em 2005 a empresa RepRap iniciou os desenvolvimentos com o objetivo de desenvolver a primeira impressora 3D capaz de replicar e que após esse feito, a empresa disponibilizou o código fonte gratuitamente para que esta tecnologia chegasse em qualquer lugar do mundo. É 42 possível observar todos estes pontos citados acima de forma sucinta no cronograma evolutivo da tecnologia 3D na figura 16. Figura 16 - Cronograma evolutivo da tecnologia de impressão 3D Fonte: SANTOS, 2016. Com o passar do tempo, a tecnologia de prototipagem se expandiu juntamente com as inovações tecnológicas, de forma a atingir diversos setores, sendo os principais, na indústria automobilística, médica e aeronáutica, como destacados na figura 17. Figura 17 - Atuação Impressão 3D Fonte: Elaborado pelos autores, 2019. 43 As empresas General Motors e Mercedes Benz, como cita Reveilleau (2018), implementaram a tecnologia e mostraram a sua grande eficiência na produção. Dessa forma, outro setor que utiliza a tecnologia é a indústria de equipamentos ligados a área da saúde, permitindo que possa ser produzidas ferramentas utilizadas em ambiente cirúrgico, equipamentos de primeiros-socorros e o mais surpreendente, órgãos em escalas menores de tamanho e de diferentes representações, para que seja possível a visualização do órgão estudado em três dimensões, em cursos e ensaios cirúrgicos com a produção de maquetes para simulação da operação que será realizada, representadas na figura 18. Figura 18 - Modelo de um rim impresso em 3D Legenda: Rim impresso em 3D com tumor em azul e vasos sanguíneos em rosa e roxo. Tais modelos estão sendo usados por cirurgiões para ensaiar seu plano cirúrgico. Fonte: 3D TIME, 2019. Ainda na indústria médica, a impressão 3D tem sido utilizada também no meio odontológico, capaz de produzir de forma rápida e personalizada próteses dentárias e aparelhos para tratamentos e correções da arcada dentária, o qual pode variar de pessoa para pessoa, permitindo apenas um escaneamento facial, e detalhamento tridimensional para depois ser produzido o molde para impressão. 44 Posteriormente, foram realizados estudos em que a impressão 3D pudesse ser inserida em equipamentos para pessoas portadoras de deficiência física, podendo assim ser construídas próteses de alta resistência estrutural e com um peso menor em relação próteses feitas por outros métodos, assim pessoas que não possuem membros inferiores por exemplo, podem utilizar próteses de alto conforto por serem constituídas por materiais leves, e que podem oferecer resistência ao impacto causado por exemplo em um exercício realizado em uma pista de maratona. Um setor que impressão 3D tem ganhado espaço de maneira rápida é a indústria alimentícia, a tecnologia de estereolitografia é utilizada para a composição de pratos complexos de chefes com formatos especiais, que somente a impressão 3D pode proporcionar, como a confecção massas com formatos complicados de serem feitas manualmente, de acordo com Santos (2016, p.22) “Num cenário futuro poderemos vir a assistir à elaboração de receitas mais complexas com os mais diversos ingredientes nas cozinhas de qualquer pessoa”. Essa tecnologia na culinária está trazendo sustentabilidade para a área, com o desperdícios de alimentos sendo reduzido cada vez mais, um exemplo de sustentabilidade é nova forma de fazer suco de laranja, uma máquina dividida em dois módulos, um responsável por fazer o suco e o outro é responsável por criar copos orgânicos através de uma impressora 3D que utiliza como matéria-prima o que seria descartado (casca da laranja e o bagaço), esta máquina ilustrada na figura 19, foi criada pelo inventor italiano Carlo Ratti e apresentada em 2019 em Milão. De acordo com a reportagem da Época Negócios (2019) “A ideia é reunir o conceito de economia circular com sustentabilidade”. 45 Figura 19 - Máquina capaz de produzir suco de laranja e utiliza a impressão 3D para a fabricação de copos biodegradáveis Fonte: ÉPOCA, 2019. A impressão 3D ajudando também nas reduções de custo e na economia de tempo de produção de moldes para fundição de peças de acordo com Stratasys (2015) a utilização da impressora 3D reduziu o tempo de prototipagem em até 69% em relação aos métodos tradicionais, como a usinagem CNC explicada no capítulo 3.1. No setor automobilístico a impressão 3D é utilizada para a produção de peças, reduzindo os custos de produção dos produtos e conseguindo entregar projetos com detalhes estéticos que os modos tradicionais não seriam capazes. Provavelmente, não há indústria no planeta que gaste mais tempo e dinheiro desenvolvendo protótipos repetidamente até que tudo esteja certo do que a indústria automotiva. Portanto, não deveria surpreender que eles cobiçam tecnologia que torna a prototipagem mais rápida e barata. (GRUNEWALD, 2015). Vale destacar também, que assim como o setor automobilístico é necessário uma série de testes em protótipos, no setor aeronáutico é necessário testes avançados como a utilização de túneis de vento para o estudo da aerodinâmica de peças e componentes. Dessa forma a impressão 3D permite a fabricação desses protótipos em um tempo reduzido com a utilização de materiais de menor preço, o que torna a fase de testes mais barata. No quadro 1 encontra-se de acordo com Santos (2016) as aplicações atuais e as prováveis aplicações da impressão 3D em cada área da indústria. 46 Quadro 1 - Aplicações atuais e potenciais da Impressão 3D Indústria Aplicações Atuais Aplicações Futuras Saúde Aparelhos Auditivos. Impressão de próteses. Instrumentos médicos. Próteses dentárias. Prototipagem. Impressão de maquetes para ensaios cirúrgicos. Produção de tecidos e órgãos funcionais para transplante. Alimentar Impressão de comidas de design complexo para produção manual. Preparo completo da receita sem necessidade dos chefs. Moldes Moldes para protótipos. Moldes para pequenoslotes de peças. Eletrônica de Consumo Prototipagem. Produção de partes funcionais. Produção de objetos com circuitos eletrônicos embebidos. Automóvel Prototipagem rápida. Desenvolvimento de ferramentas personalizadas. Produção de partes funcionais. Impressão de peças automóveis sobresselentes. Aeroespacial Prototipagem. Produção de partes funcionais em baixo volume. Produção de asas, motores e veículos aéreos não tripulados. Fonte: SANTOS, 2016. Adaptado de Santos, 2019. 47 4.1 Materiais para a execução e impressão 3D Para impressão tridimensional existem vários tipos de materiais, esses por sua vez, podem variar de acordo com o método de impressão utilizado para a produção de um componente. Dentre estes modos de impressão podem ser usadas matérias-primas de diferentes origens. Existe matéria-prima no estado sólido, que apresentam características diferentes e em formato de pó este que tem vasta utilização combinado com impressoras SLS, onde o pó é fundido por um laser. Ainda no estado sólido é possível encontrar materiais no formato de um filamento, este por sua vez tem diversos matérias que utilizam esse modo, desde filamentos plásticos, compostos por resinas plásticas, até materiais que são alimentos como o chocolate, utilizando para impressão diferentes técnicas, como o FDM, em que o filamento vai sendo depositado camada por camada, assim formando o produto. No mundo da prototipagem tridimensional, também é possível encontrar matérias- primas no estado líquido. Um tipo de impressão que utiliza esta matéria-prima, são as impressoras SLA, onde um laser é responsável por realizar a fusão do material solidificando a peça que está sendo produzida. Podem ser encontrados diversos materiais líquidos para impressão, um exemplo são resinas plásticas. A tecnologia de impressão tridimensional permite trabalhar com diversos materiais e métodos, para melhor suprir a necessidade de seu uso. Diante de uma vasta possibilidade de escolha de material para impressão 3D, estes materiais são comumente conhecidos como filamentos no universo da prototipagem rápida tridimensional, e podem ser divididos em categorias, materiais metálicos, plásticos e fundição metálica. Para atender a cada projeto específico um material é escolhido, para cada uso do produto final o material é selecionado para seu projeto. Dentre os materiais utilizados na impressão 3D o plástico é um material de grande importância pela grande variedade de opções e gama de utilização, dentre estes materiais podem ser destacados o Acrilonitrila Butadieno Estireno (ABS), Poliácido Láctico (PLA) e PETG. O ABS, se destaca por ser derivado do petróleo e apresenta boa resistência mecânica e térmica, ele é muito utilizados para a produção de protótipos industriais podendo suportar temperaturas de até 85ºC sem sofrer alterações em suas características, outro benefício do ABS é sua facilidade de acabamento, ele é indicado para produções que não requerem grandes níveis de detalhes. Seu uso não é indicado para contato intenso com a pele, pois por ser derivado do petróleo pode causar irritação. 48 Outro material que tem grande destaque é o PLA, por ser um filamento com características biodegradáveis e pela sua origem vegetal, suas principais fontes vegetais são derivadas do amido de batata e milho, da cana-de-açúcar e raízes de tapioca. Por se tratar de fontes vegetais, durante seu processo de prototipagem não são emitidos gases tóxicos. Um dos aspectos negativos do PLA é que ele não suportar grandes variações de temperaturas, principalmente as altas, pois ele sofrer deformações acima de 60ºC e não é aconselhado seu uso exposto ao sol pois longas exposições também causam deformações permanentes. O PETG é o Polietileno Tereftalato (PET) modificado acrescentando glicol na sua formulação, por esse motivo ele é considerado um material nobre na prototipagem, tendo características importante como alta resistência mecânica, química e à altas temperaturas. Devido a suas propriedades ele não apresenta restrições de temperatura no momento da impressão e após também, assim aumentando a sua possibilidade de uso. Outro material que tem grande destaque na impressão tridimensional são os metais, por apresentarem características estruturais que só são possíveis com ele, como resistência estrutural e aceitar grandes variações de temperatura. Eles trazem muitas semelhanças entre eles. Dentre todos os metais, três deles se destacam, o aço inoxidável, alumínio, ligas de cobalto e o titânio. O aço inoxidável foi um dos primeiros a ser introduzido no processo de impressão tridimensional, por ter propriedades mecânicas que garantem grande resistência à corrosão, está inserido em várias áreas de prototipagem, mas tem um vasto uso na indústria aeroespacial por sua confiabilidade. O alumínio possui grande variedade de composições, há diversas ligas dele que são usadas na impressão tridimensional, uma liga que merece destaque é a AlSi10Mg está sendo usada para a produção de objetos geometricamente complexos, com o uso de linhas fina por exemplo. Outra grande de atuação deste metal é produção de peças que necessitam de baixo peso e tem propriedades térmicas que devem ser adequadas ao seu uso não suportando grandes variações. Ele lida bem com objetos que vão ser sujeitos a pressões elevadas. Ligas de cobalto-cromo são de grande importância sendo amplamente utilizadas na indústria médica, para diferentes tarefas, como na criação de próteses e coroas odontológicas. Por serem capazes de suportar desgaste, resistência ao calor e serem biocompatíveis. O cobalto-cromo também tem importância na fabricação de turbinas, por manter suas propriedades em altas temperaturas. 49 Titânio é outro material que une diferentes característica, por possuir tantas é utilizado em diversas áreas, ele está presente no campo do automobilismo, da indústria aeroespacial, da medicina e química. Algumas das características que ele possui é ter grande resistência, ser leve e ser resistente à corrosão. Por essas particularidades ele empenha diversos papéis em diferentes áreas, como no campo da medicina onde é utilizado na produção de implantes médicos por possui uma alta biocompatibilidade com o corpo humana e níveis baixíssimos de impurezas. Outro setor que a impressora tridimensional se destaca é na indústria alimentícia, utilizando se das impressoras para confecção de pratos com grande riqueza de detalhes, complexos de serem produzidos pelas mãos humanas, como esculturas a chocolate ilustrada na figura 20, ou doces açucarados com formatos variados. Figura 20 - Escultura de chocolate impressa por meio de impressão tridimensional. Fonte: OPENELECTRONICSORG, 2014. 4.2 Técnicas de prototipagem tridimensional Existem diversos processos de impressão 3D, cada um deles específicos para cada área e material que será utilizado, processo esses que são: Stereolithography, Fused Deposition Modeling, Selective Laser Sintering, Selective Laser Melting. 50 ● Stereolithography (SLA) Este foi o primeiro processo de prototipagem rápida, introduzido no ano de 1988 por Charles Hull. Este processo consiste na aplicação de um laser sobre uma resina líquida que fica presente em um reservatório, de forma que a resina passe do estado líquido para o estado sólido após ser exposta pelo raio ultravioleta, emitido pelo laser. A plataforma que se encontra dentro do reservatório onde está sendo feita a impressão baixa o suficiente, de forma que permita a construção camada por camada. Na Figura 21 pode-se observar de forma ilustrativa o processo SLA. Figura 21 - Ilustração do processo SLA Fonte: PRINTSPACE 3D, 2019. 51 ● Fused Deposition Modeling (FDM) O processo de modelagem de deposição fundida
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