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7 FASES DO PROCESSO DE TORNAR-SE PESSOA CARL ROGER

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7 FASES DO PROCESSO DE TORNAR-SE PESSOA – CARL ROGER 
 
1 
 
 
 
Também eu me interessei, desde há muito tempo, 
pelas constantes que intervêm na modficação da 
personalidade. 
 A personalidade e o comportamento se modificam? 
 Que existe de comum nessas alterações? 
 Quais são os pontos comuns entre as condições que 
precedem a modificação? 
Mas, e é o que, sobretudo importa: 
 Qual é o processo pelo qual essas modificações ocorrem? 
Foi a partir daqui que se formaram as idéias mais 
teóricas que gostaria agora de apresentar. 
UMA CONDIÇÃO BÁSICA 
Se estudássemos o mecanismo do crescimento das 
plantas, teríamos de aceitar algumas condições 
constantes de temperatura, de umidade e de 
iluminação, ao elaborar a nossa teoria sobre o 
processo a que assistimos. Do mesmo modo, ao 
teorizar sobre o processo da modificação da 
personalidade em psicoterapia, tenho de aceitar um 
conjunto ótimo de condições constantes que facilitem 
essa modificação. 
Para o nosso objetivo de momento, creio poder 
resumir essas condições numa palavra. Ao longo de 
toda a exposição que se segue, parto do princípio de 
que o cliente se sente plenamente aceito. 
Com isso pretendo significar que, sejam quais forem os 
seus sentimentos — temor, desespero, insegurança, 
angústia —, seja qual for o seu modo de expressão — 
silêncio, gestos, lágrimas ou palavras —, seja qual for a 
impressão sobre a sua situação nesse momento, ele 
sente que está sendo psicologicamente aceito tal qual 
é, pelo terapeuta. Isto implica, portanto, o conceito de 
uma compreensão por empatia e o conceito de 
aceitação. 
Convém igualmente sublinhar que é a vivência que o 
cliente tem dessa condição que a otimiza e não apenas 
o fato de tal condição existir no terapeuta. 
Logo, em tudo o que vou dizer sobre o processo de 
modificação da personalidade, admitirei como uma 
constante uma condição ótima e máxima de ser aceito. 
O CONTÍNUO EMERGENTE 
Ao procurar captar e conceituar o processo de 
mudança, comecei por buscar os elementos suscetíveis 
de caracterizarem a própria mudança. Pensava na 
mudança como uma entidade e procurava seus 
atributos específicos. 
Pouco a pouco, fui compreendendo, à medida que me 
expunha à matéria bruta da mudança, que se tratava 
de um “contínuo” de uma espécie diferente daquele 
que eu antes imaginara. 
Comecei a entender que os indivíduos não se movem a 
partir de um ponto fixo ou uma homeotase para um 
novo ponto fixo, embora um processo desse gênero 
seja possível. Mas o contínuo mais significativo é o 
que vai da fixidez para a mobilidade, da estrutura 
rígida para o fluxo, da estase para o processo. 
Emiti a hipótese provisória de que talvez as qualidades 
da expressão do cliente pudessem, em qualquer 
momento, indicar a sua posição nesse contínuo, indicar 
onde se encontra no processo de mudança. 
Desenvolvi progressivamente esse conceito de 
processo, distinguindo nele sete fases, mas insisto em 
que se trata de um contínuo e que todos os pontos 
intermediários persistem, quer se distingam três ou 
cinqüenta fases. 
Acabei por descobrir que determinado cliente, tomado 
como um todo revela habitualmente comportamentos 
que se aglomeram em torno de uma seção 
relativamente curta do contínuo. 
Ou seja, é pouco provável que numa esfera da sua 
existência o cliente manifeste uma fixidez total e numa 
outra esfera uma mobilidade absoluta. Ele tenderia, 
globalmente, a situar-se nessa ou naquela etapa do 
processo. Contudo, o processo que pretendo descrever 
relaciona-se mais propriamente com determinados 
domínios das significações pessoais — onde levanto a 
hipótese de que o cliente se acha neste domínio num 
estágio completamente definido e não apresenta 
nenhuma característica dos outros estágios. 
7 FASES DO PROCESSO DE TORNAR-SE PESSOA – CARL ROGER 
 
2 
 
OS SETE ESTÁGIOS DO PROCESSO 
Vou tentar delinear a forma como vejo os estágios 
sucessivos do processo através do qual o indivíduo 
muda da fixidez para a fluidez, de um ponto situado 
perto do pólo estático do contínuo para um ponto 
situado perto do seu pólo “em movimento”. 
Se a minha observação é correta, é possível que, 
examinando e delimitando as qualidades da 
experiência e da expressão num indivíduo 
determinado, num clima que ele próprio sente de 
completa aceitação, sejamos capazes de determinar o 
ponto em que ele se encontra nesse contínuo da 
mudança da personalidade. 
PRIMEIRO ESTÁGIO 
O indivíduo que se encontra neste estágio de fixidez e 
de distanciamento da sua experiência não virá 
seguramente de boa vontade à terapia. No entanto, 
posso ilustrar, em certa medida, as características 
desse estágio. 
 Recusa de comunicação pessoal. 
 Comunicação apenas sobre assuntos exteriores. 
Exemplo: 
⁻ “PO I S BE M , D I R - L H E -E I Q U E S E M P RE M E P A RE C E U U M 
P O U C O I D I O T A F A L A R D E S I M E S M O , A N Ã O S E R E M 
C A S O D E E X T RE M A N E C E S S I D A D E .” 
 Os sentimentos e os signficados pessoais não são 
apreendidos nem reconhecidos como tais. 
 Os construtos pessoais são extremamente rígidos. 
 As relações íntimas e comunicativas são encaradas como 
perigosas. 
 Nesse estágio, nenhum problema pessoal é reconhecido 
ou cap tado. 
 Não existe desejo de mudança. 
Exemplo: 
⁻ “AC H O Q U E E S T O U P E RF E I T A M E N T E BE M .” 
 Existem muitos bloqueios na comunicação interna. 
Talvez essas frases e exemplos possam ilustrar em 
parte a rigidez psicológica inerente a essa extremidade 
do contínuo. 
 O indivíduo tem pouco ou mesmo nenhum 
reconhecimento do fluxo e do refluxo da sua vida afetiva. 
 Os caminhos que segue para construir a sua experiência 
foram determinados pelo seu passado e não são, de 
maneira rígida, afetados pelo presente. 
 No seu modo de vivenciar, eLe está determinado pelas 
estruturas da sua forma de experienciar, ou seja, reage 
“à situação presente assimilando-a a uma experiência 
passada e reage depois a esse passado, sentindo-o” 
 A diferenciação das significações pessoais da experiência 
é sumária ou global, sendo esta vista em termos de 
preto-e-branco. 
 O indivíduo não se comunica e não comunica senão 
aspectos exteriores. 
 Ele tende a se ver como não tendo problemas, ou os 
problemas que reconhece são apreendidos como 
completamente exteriores a si mesmo. 
 A comunicação interna entre o eu e a experiência 
imediata está seriamente bloqueada. O indivíduo, nesse 
estágio, está representado por termos como estase, 
fixidez, em oposição a fluxo ou mudança. 
SEGUNDO ESTÁGIO DO PROCESSO 
Quando a pessoa no primeiro estágio pode vivenciar a 
si mesma como é totalmente aceita, segue-se então o 
segundo estágio. 
Parecemos saber muito pouco sobre como 
proporcionar a experiência de ser aceito para a pessoa 
no primeiro estágio, mas por vezes isso se consegue 
pela terapia lúdica ou em grupo. 
Nessas circunstâncias, a pessoa se beneficia de um 
clima de aceitação, sem ser obrigada a tomar qualquer 
iniciativa pessoal, durante um tempo suficientemente 
longo para se sentir aceito. 
Em cada situação em que vivencia isso, nota-se que a 
expressão simbólica se torna um pouco mais maleável 
e fluida, o que se caracteriza por: 
 A expressão em relação aos tópicos referentes ao não-eu 
começa a ser mais fluente. 
Exemplo: 
⁻ “S U S P E I T O Q U E M E U P A I S E M P RE T E N H A S E S E N T I D O 
P O U C O S E G U RO N A S S U A S RE L A Ç Õ E S D E N E G Ó C I O S . ” 
 Os problemas são captados como exteriores ao eu. 
Exemplo: 
⁻ “A D E S O RG A N I ZA Ç Ã O C O N T I N U A A A P A RE C E R 
I N E S P E RA D A M E N T E N A M I N H A V I D A .” 
 Não existe o sentimento de responsabilidade pessoal em 
relação aos problemas. 
Exemplo: Isto é ilustrado pela citação precedente. 
 Os sentimentos são descritos como não próprios ou, ás 
vezes, como objetos passados. 
Exemplos: 
O terapeuta: 
⁻ “S E Q U IS E R M E D I ZE R O Q U E A T RA Z A Q U I . . .” 
A cliente: 
⁻ “O S I N T O M A E RA . . . E RA . . . E S T A R M U I T O D E P R I M I D A .” 
Aqui está um exemplo excelente da maneira como os 
problemas interiores podem ser apreendidos e 
comunicados como se fossem completamente 
exteriores. 
A cliente não diz: 
⁻ “E U E S T O U D E P RI M I D A ”, N E M M E S M O : “E U E S T A V A 
D E P RI M I D A ”. 
7 FASES DO PROCESSO DE TORNAR-SE PESSOA – CARL ROGER 
 
3 
 
 Ela trata o seu sentimento como um objeto remoto, que 
não possui, que lhe é inteiramente exterior. 
 Os sentimentos podem ser exteriorizados, mas não são 
reconhecidos como tais, nem pertencen tes ao próprio 
indivíduo. 
 A experiência está determinada pela estrutura do 
passado. 
Exemplo: 
⁻ “S U P O N H O Q U E A C O MP E N S A Ç Ã O Q U E S E M P RE 
P RO C U RE I F O I , M A I S D O Q U E T E N T A R M E C O M U N I C A R 
C O M A S P E S S O A S O U T E R B O A S RE L A Ç Õ E S C O M E L A S , 
C O M P E N S A R , BE M , C O M O D I R E I , F I C A R N U M N Í V E L 
I N T E L E C T U A L ”. 
Aqui a cliente começa a reconhecer a maneira como a 
sua experiência presente está determinada pelo 
passado. Suas afirmações ilustram igualmente o 
distanciamento da vivência a este nível. É como se ela 
mantivesse sua experiência à distância. 
 As construções pessoais são rígidas, não reconhecidas 
como construções, mas concebidos como fatos. 
Exemplo: 
⁻ “NU N C A P O S S O F A ZE R N A D A D I RE I T O . . . N Ã O P O S S O 
A C A BA R N A D A . ” 
 A diferenciação das signficações pessoais e dos 
sentimentos é muito limitada e global. 
Exemplo: A citação precedente é uma boa ilustração - 
“Nunca posso” - é um aspecto de diferenciação em 
branco-e- preto, como o é igualmente o emprego de 
“direito” num sentido tão absoluto. 
 As contradições podem ser expressas, mas com um 
pequeno reconhecimento delas enquanto contradições. 
Exemplo: 
⁻ “E U Q U E RO A P RE N D E R , M A S F I C O O L H A N D O P A R A A 
M E S M A P Á G I N A D U RA N T E U M A H O RA . ” 
Como comentário a esse segundo estágio do processo 
pode-se dizer que um determinado número de clientes 
que vêm voluntariamente à terapia estão nessa fase, 
mas nós (os terapeutas em geral) conseguimos obter 
um grau muito modesto de resultados favoráveis ao 
trabalhar com eles. 
Sabemos muito pouco sobre a forma como uma 
pessoa nesse estágio acaba por experimentar-se a si 
mesma como “aceita”. 
TERCEIRO ESTÁGIO 
Se a leve maleabilidade e o início do fluxo no segundo 
estágio não forem bloqueados e o cliente se sentir sob 
esses aspectos totalmente aceito tal qual é, dá-se uma 
maior maleabilidade e fluência da expressão simbólica. 
Eis algumas das características que parecem 
acompanhar aproximadamente esse ponto do 
contínuo: 
 Há um fluir mais livre da expressão do eu como um objeto. 
Exemplo: 
⁻ “E S F O RÇ O -M E M U I T O P A RA S E R P E RF E I T O C O M E L A — 
E N T U S I A S T A , A M I G Á V E L , I N T E L I G E N T E , F A L A D O R — 
P O RQ U E Q U E RO Q U E E L A G O S T E D E M I M” . 
 Há também uma expressão das experiências pessoais como se 
tratassem de objetos. 
Exemplo: 
⁻ “E D E P O I S , A I N D A T E M E S S E N E G Ó C I O D E S A BE R O 
Q U A N T O V O C Ê S E S E N T E P RE P A RA D A P A RA O 
C A S A M E N T O , E S E A S U A V O C A Ç Ã O P RO F I S S I O N A L É 
I M P O RT A N T E , E I S S O É O Q U E V O C Ê RE A L M E N T E É 
N E S S E P O N T O , I S S O L I M I T A O S C O N T A T O S Q U E P O S S A 
T E R”. 
Nesse caso, o eu da cliente é um objeto tão longínquo 
que essa reação devia antes situar-se entre o segundo 
e o terceiro estágio. 
 Há igualmente expressão sobre o eu como um objeto 
refletido, que existe primariamente nos outros. 
Exemplo: 
⁻ “S O U C A P A Z D E M E S E N T I R S O RRI N D O C O M S U A V I D A D E 
C O M O A M I N H A M Ã E O U S E N D O T E I M O S O E S E G U RO D E 
M I M C O M O M E U P A I À S V E ZE S É — D E S L I ZO P A RA A 
P E RS O N A L I D A D E S E JA D E Q U E M F O R , M A S Q U E N Ã O É A 
M I N H A .” 
O cliente exprime e descreve sentimentos e signficados 
pessoais que não estão presentes. 
 Habitualmente, como se evidencia, são comunicações 
sobre sentimentos passados. 
Exemplo: 
⁻ “HA V I A T A N T A S C O I S A S Q U E E U N Ã O P O D I A D I ZE R À S 
P E S S O A S , T A N T A S C O I S A S M Á S Q U E E U F I Z . S E N T I A -M E 
T Ã O V I L E T Ã O M A U !” 
Outro exemplo: 
⁻ “E O Q U E A G O RA S I N T O É P RE C I S A M E N T E O Q U E M E 
L E M B RO D E T E R S E N T I D O Q U A N D O E RA C R I A N Ç A ”. 
 Há uma aceitação muito reduzida dos sentimentos. A 
maior parte dos sentimentos é revelada como algo 
vergonhoso, mau, anormal, ou inaceitável de outras 
maneiras. 
 Manifestam-se sentimentos e, nesse caso, algumas vezes 
são reconhecidos como tais. 
 A experiência é descrita como passada, ou como algo 
afastado do eu. 
Os exemplos precedentes ilustrão estas asserções. 
 As construções pessoais são rígidas, mas podem ser 
reconhecidas como construtos e não como fatos 
exteriores. 
Exemplo: 
⁻ “S E N T I A -M E D E T A L M A N E I RA C U L P A D O D U RA N T E A 
M I N H A JU V E N T U D E Q U E JU L G A V A M E RE C E R S E R 
S E M P RE C A S T I G A D O F O S S E P E L O Q U E F O S S E . S E 
7 FASES DO PROCESSO DE TORNAR-SE PESSOA – CARL ROGER 
 
4 
 
JU L G A V A Q U E N Ã O M E RE C I A S E R C A S T I G A D O P O R U M A 
C O I S A , S E N T I A Q U E O M E RE C I A P O R O U T RA ”. 
Obviamente, o cliente vê a situação como o modo 
como construiu a experiência, e não como um fato 
estabelecido. 
Outro exemplo: 
⁻ “S E M P RE S I N T O M E D O Q U A N D O H Á A F E T O E N V O L V I D O 
P O RQ U E I S S O I M P L I C A S U B M I S S Ã O . DE T E S T O I S S O , M A S 
A C H O Q U E I D E N T I F I C O A S D U A S C O I S A S E Q U E S E 
A L G U É M M A N I F E S T A A F E I Ç Ã O P O R M I M I S S O S I G N I F I C A 
Q U E D E V O A C E D E R A T U D O O Q U E E S S A P E S S O A 
Q U I S E R .” 
 A diferenciação dos sentimentos e dos signicados é um 
pouco mais nítida, menos global do que nas fases 
precedentes. 
Exemplo: 
⁻ “JÁ O D I S S E V Á RI A S V E Z E S , M A S A G O RA RE A L M E N T E 
S I N T O I S S O . S E RÁ D E A D M I RA R O F A T O D E T E R M E 
S E N T I D O T Ã O I N F E L I Z N E S S A S C O N D I Ç Õ E S , V I S T A S A S 
S U JE I RA S Q U E M E F I ZE RA M? 
⁻ E, P O R O U T RO L A D O , T A M BÉ M N Ã O F U I U M A N J O , BE M 
S E I .” 
 Há um reconhecimento das contradições da experiência. 
Exemplo: O cliente explica que, por um lado, espera 
fazer alguma coisa de grande e, por outro, sente que 
pode facilmente fracassar. 
 As opções pessoais são muitas vezes vistas como 
ineficazes. 
 O cliente “decide” fazer uma coisa, mas descobre que o 
seu comportamento não está de acordo com essa 
decisão. 
Julgo evidente que muitas das pessoas que vêm à 
procura de ajuda psicológica se situam 
aproximadamente nesse terceiro estágio. Podem 
permanecer aí durante muito tempo, descrevendo 
sentimentos que não sentem no momento e 
explorando seu eu como um objeto, antes de estarem 
preparadas para passar à próxima fase. 
QUARTO ESTÁGIO 
Quando o cliente se sente compreendido, bem-vindo, 
aceito tal como é - nos vários aspectos da sua 
experiência, no nível do terceiro estágio, dá-se então 
uma maleabilidade gradual de seus construtos e uma 
fluência mais livre dos sentimentos, características de 
movimento no contínuo. 
Podemos tentar captar algumas características dessadescontração e designá-las como o quarto estágio do 
processo. 
 O cliente descreve sentimentos mais intensos do tipo 
“não-presentes-agora 
Exemplo: 
⁻ “PO I S BE M , E U E RA RE A L M E N T E — T O C O U -M E P RO F U N 
D A M E N T E .” 
 Os sentimentos são descritos como objetos no presente. 
Exemplo: 
⁻ “F I C O D E S A N I M A D O P O R M E S E N T I R D E P E N D E N T E , 
P O RQ U E I S S O Q U E R D I Z E R Q U E N Ã O A C RE D I T O E M 
M I M .” 
OS S E N T I M E N T O S S Ã O P O R V E ZE S E X P RE S S O S N O 
P RE S E N T E , O U T RA S V E ZE S S U RG E M C O M O Q U E C O N T RA 
O S D E S E JO S D O C L I E N T E . 
Exemplo: Um cliente, depois de relatar um sonho onde 
aparecia um espectador perigoso, porque observava os 
seus “crimes”, diz ao terapeuta: 
⁻ “BE M , N Ã O T E N H O C O N F I A N Ç A E M V O C Ê ”. 
 Há uma tendência para experimentar sentimentos no 
presente imediato, mas que é acompanhada de 
desconfiança e de medo perante essa possibilidade. 
Exemplo: 
⁻ “S I N T O - M E P RE S O P O R A L G U M A C O I S A . DE V O S E R E U ! 
NÃ O E N C O N T RO O U T RA E X P L I C A Ç Ã O . 
⁻ NÃ O P O S S O A T RI BU I R I S S O A N I N G U É M . 
⁻ HÁ E S T E N Ó . . . E M A L G U M A P A RT E , D E N T RO D E M I M . . . 
IS S O M E D Á V O N T A D E D E F I C A L O U C O — E G RI T A R — E 
F U G I R” . 
Há pouca aceitação dos sentimentos, embora já se 
manifeste alguma aceitação. 
Os dois exemplos precedentes indicam que o cliente 
manifesta uma suficiente aceitação da sua experiência 
para enfrentar sentimentos que lhe metem medo. 
 A sua aceitação, porém, é pouco consciente. 
 A experiência está menos determinada pela estrutura do 
passado, é menos longínqua e surge mesmo, por vezes, 
com um ligeiro atraso. 
 Os mesmos dois exemplos anteriores ilustram muito bem 
esta maneira menos rigidamente determinada de 
enfrentar a experiência. 
Surge uma maleabilidade na forma como a experiência é 
construída. 
 Ocorrem algumas descobertas de construtos pessoais; 
dá-se um reconhecimento definitivo do seu caráter de 
construções; começa a pôr-se em questão a sua validade. 
Exemplo: 
⁻ “IS S O É E N G RA Ç A D O . PO R Q U E ”? 
⁻ OR A , P O RQ U E É U M P O U C O E S T Ú P I D O D A M I N H A 
P A RT E . . . S I N T O - M E U M P O U C O I N Q U I E T O , U M P O U C O 
E M BA RA Ç A D O C O M I S S O . . . E U M P O U C O I M P O T E N T E (A 
S U A V O Z A D O Ç A - S E E E L E F I C A T R I S T E ) . 
⁻ O H U M O R F O I M I N H A D E F E S A T O D A A V I D A ; T A L V E Z 
N Ã O S E JA M U I T O A P RO P RI A D O P A RA RE A L M E N T E V E R A 
M I M M E S M O . UM A C O RT I N A Q U E S E C O R RE . . . 
⁻ S I N T O -M E U M P O U C O P E RD I D O A G O RA . 
⁻ ON D E É Q U E E U E S T A V A ? 
⁻ O Q U E E S T A V A D I ZE N D O ? 
⁻ PE RD I O D O M Í N I O S O B RE A L G U M A C O I S A Q U E S E R V I A 
P A RA M E A G A RRA R . 
7 FASES DO PROCESSO DE TORNAR-SE PESSOA – CARL ROGER 
 
5 
 
Este exemplo ilustra o choque e a alteração que 
resultam de pôr em questão um construto básico, 
nesse caso, o humor empregado como defesa. 
Há uma maior diferenciação dos sentimentos, dos 
construtos, das signficações pessoais, com certa 
tendência para procurar uma simbolização exata. 
Exemplo: Esta característica está adequadamente 
ilustrada em cada um dos exemplos dessa fase. 
Dá-se uma preocupação diante das contradições e 
incongruências entre a experiência e o eu. 
Exemplo: 
⁻ “E U N Ã O E S T O U V I V E N D O D E A C O RD O C O M O Q U E S O U . 
⁻ PO D E RI A RE A L M E N T E F A Z E R M A I S D O Q U E F A Ç O . 
⁻ QU A N T A S H O RA S N Ã O G A S T E I N O BA N H E I RO N E S S A 
P O S I Ç Ã O , E N Q U A N T O A M I N H A M Ã E M E D I Z I A : 
⁻ ‘NÃ O S A I A D A Í E N Q U A N T O N Ã O T I V E R F E I T O A L G U M A 
C O I S A ’ . 
⁻ PRO D U ZI R! . . . 
⁻ IS S O A C O N T E C E U C O M U M M O N T E D E C O I S A S .” 
Este exemplo ilustra ao mesmo tempo a preocupação 
perante as contradições e o questionamento da forma 
como a experiência foi construída. 
 O indivíduo toma consciência da sua responsabilidade 
perante os seus problemas pessoais, mas com alguma 
hesitação. 
 Embora uma relação estreita ainda lhe pareça perigosa, 
o cliente aceita o risco até um certo grau de afetividade. 
Alguns dos exemplos precedentes ilustram este 
aspecto, principalmente aquele onde o paciente diz: 
⁻ “BE M , N Ã O T E N H O C O N F I A N Ç A E M V O C Ê .” 
Não há dúvida de que essa fase, bem como a seguinte, 
constitui a maior parte da psicoterapia, tal como a 
conhecemos. Esses comportamentos são muito 
comuns em qualquer forma de terapia. 
 Seria bom recordar outra vez que uma pessoa nunca 
está exclusivamente nesse ou naquele estágio do 
processo. 
Ouvindo as entrevistas e examinando as transcrições 
datilografadas, sou levado a crer que as expressões de 
um cliente numa dada entrevista podem incluir frases 
e comportamentos que são, sobretudo característicos 
da terceira fase, com momentos freqüentes de rigidez 
da segunda fase ou com maior maleabilidade da quarta 
fase. 
Não me parece, porém, provável que se encontrem 
exemplos do sexto estágio numa tal entrevista. 
O que foi dito refere-se à variabilidade no estágio geral 
do processo em que o cliente se encontra. 
Se limitarmos nossa investigação a unica área 
determinada dos significados pessoais expressos pelo 
cliente, proporei a hipótese de uma regularidade muito 
maior: o terceiro estágio encontrar-se-á raramente 
antes do segundo, o quarto estágio seguir-se-á 
raramente ao segundo sem que o terceiro se 
interponha. 
É esse o gênero de hipóteses provisórias que podem 
ser estudadas de um modo experimental. 
O QUINTO ESTÁGIO 
À medida que avançamos no contínuo, podemos 
tentar fixar novo ponto, a que chamaremos quinto 
estágio. 
Se o cliente se sente aceito nas suas expressões, 
comportamentos e experiências no quarto estágio, isso 
irá favorecer uma maleabilidade ainda maior e uma 
renovada liberdade no fluxo organísmico. 
Creio que podemos novamente delinear 
aproximadamente as características desse estágio do 
processo. 
 Os sentimentos são expressos livremente como se 
fossem experimentados no presente. 
Exemplo: 
⁻ E U E S P E RA V A S E R RE JE I T A D O . . . E S T O U S E M P RE À 
E S P E RA D I S S O . . . T E N H O A T É A I M P RE S S Ã O D E S E N T I R A 
M E S M A C O I S A C O M V O C Ê . . . 
⁻ CU S T A -M E F A L A R D I S S O , P O RQ U E Q U E RI A S E R O 
M E L H O R Q U E P O S S O C O M V O C Ê . 
Aqui, os sentimentos em relação ao terapeuta e ao 
cliente na sua relação com ele, emoções 
freqüentemente muito dificeis de manifestar, são 
abertamente expressos. 
 Os sentimentos estão prestes a ser plenamente 
experimentados. 
 Começam a “vir à tona“, “brotar“, apesar do receio e da 
desconfiança que o cliente experimenta em vivê-los de 
um modo pleno e imediato. 
Exemplo: 
⁻ “IS T O A P A RE C E U A S S I M E N Ã O S O U C A P A Z D E 
C O M P RE E N D E R C O M O . (LO N G A P A U S A . ) E S T O U 
P RO C U RA N D O C O M P RE E N D E R Q U E T E RRO R É E S T E .” 
Exemplo: 
 A cliente está falando sobre um acontecimento exterior. 
Subitamente, tem um olhar angustiado, aterrorizado. 
O terapeuta: 
⁻ “O Q U E É . . . Q U E É Q U E S E P A S S A ?” 
A cliente: 
⁻ “NÃ O S E I ( C H O RA ) . . . DE V O T E R M E A P RO X I M A D O D E 
A L G U M A C O I S A D E Q U E N Ã O Q U E RI A F A L A R . . . “ 
Aqui, a cliente tomou consciência de um sentimento 
quase involuntariamente. 
Exemplo: 
⁻ “S I N T O - M E D E T I D O P REC I S A M E N T E N E S T E M O M E N T O . 
PO R Q U E É Q U E A M I N H A M E N T E F I C O U V A Z I A ? TE N H O 
A I M P RE S S Ã O D E M E A G A R RA R A Q U A L Q U E R C O I S A , 
7 FASES DO PROCESSO DE TORNAR-SE PESSOA – CARL ROGER 
 
6 
 
M A S L A RG U E I O U T RA S E A L G O E M M I M E S T Á D I Z E N D O : 
A Q U E M A I S S E RÁ P RE C I S O A I N D A RE N U N C I A R ?” 
Principia a despontar uma tendência para perceber 
que vivenciar um sentimento envolve uma referência 
direta. 
Os três exemplos acima citados ilustram justamente 
este aspecto. Em cada um dos casos, o cliente sabe que 
sentiu alguma coisa, mas percebe que não pode 
exprimir claramente aquilo que sentiu. 
Mas começa igualmente a esboçar-se a compreensão 
de que o objeto desses conhecimentos vagos reside 
nele, num acontecimento organísmico em relação ao 
qual pode verificar a exatidão das suas simbolizações e 
das suas formulações cognitivas. Isso é muitas vezes 
revelado por expressões o caráter próximo ou 
longínquo que ele sente em relação a esse ponto de 
referência. 
Exemplo: 
⁻ “RE A L M E N T E N Ã O A P RO F U N D E I M U I T O , L I M I T E I -M E A 
D E S C RE V E R”. 
 Há surpresa e receio, raramente prazer quando os 
sentimentos “vêm à tona . 
Exemplo: O cliente, falando sobre suas antigas relações 
familiares: 
⁻ IS S O JÁ N Ã O T E M Q U A L Q U E R I M P O RT Â N C I A . 
⁻ R I . (P A U S A ) . 
⁻ E R A , N O E N T A N T O M U I T O I M P O RT A N T E , M A S N Ã O 
F A Ç O A M E N O R I D É I A P O R Q U E RA ZÃ O . . . S I M , É I S S O ! 
⁻ PO S S O E S Q U E C E R -M E D I S S O A G O RA . . . I S S O N Ã O T E M 
I M P O RT Â N C I A . A I , Q U E M I S É RI A E Q U E E S T U P I D E Z !” . 
Exemplo: O cliente acabara de exprimir o seu 
desespero: 
⁻ “A I N D A M E S I N T O E S P A N T A D O C O M A F O RÇ A D I S T O . 
PA RE C E -M E S E R I S S O E X A T A M E N T E Q U E E U S I N T O .” 
Há cada vez mais uma chamada a si dos próprios 
sentimentos e o desejo de vivê-los, de ser o 
“verdadeiro eu”. 
Exemplo: 
⁻ A V E R D A D E É Q U E E U N Ã O S O U O I N D I V Í D U O 
A G RA D Á V E L E T O L E RA N T E Q U E P RO C U RO M O S T RA R Q U E 
S O U . 
⁻ HÁ C O I S A S Q U E M E I R R I T A M . S I N T O -M E R Í S P I D O C O M 
A S P E S S O A S E S I N T O -M E P O R V E ZE S E G O Í S T A ; E N Ã O S E I 
P O R Q U E É Q U E H A V I A D E F I N G I R Q Ú E N Ã O S O U A S S I M . 
 Isso mostra com toda clareza o maior grau de aceitação 
de todos os sentimentos. 
 A vivência é descontraída, já não distante e ocorre 
freqüentemente com um ligeiro atraso. 
 Há um pequeno intervalo entre o acontecimento 
organísmico e a sua plena vivência subjetiva. 
 É isso que um cliente nos descreve com uma admirável 
precisão. 
Exemplo: 
⁻ S I N T O A I N D A A L G U M A D I F I C U L D A D E A O T E N T A R 
E X P RI M I R O Q U E S I G N I F I C A E S S A T R I S T E ZA E A S C R I S E S 
D E L Á G RI M A S . 
⁻ AP E N A S S E I Q U E S I N T O I S S O Q U A N D O C H E G O A U M 
D E T E RM I N A D O S E N T I M E N T O E . . . H A BI T U A L M E N T E , 
Q U A N D O C H O RO M U I T O , I S S O M E A J U D A A F RA N Q U E A R 
U M A BA R RE I RA Q U E L E V A N T E I P O R C A U S A D E C E RT A S 
C O I S A S Q U E A C O N T E C E R A M . 
⁻ S I N T O -M E F E RI D O P O R Q U A L Q U E R C O I S A E E N T Ã O , 
A U T O M A T I C A M E N T E , É C O M O S E E S S E E S C U D O 
E S C O N D E S S E O Q U E S E P A S S A E F I C O C O M A I M P RE S S Ã O 
D E N Ã O P O D E R E N T RA R E M C O N T A T O S E JA C O M O Q U E 
F O R , D E N Ã O P O D E R S E N T I R N A D A . . . 
⁻ S E F O S S E C A P A Z D E S E N T I R O U P U D E S S E A C E I T A R 
I M E D I A T A M E N T E Q U E E S T O U F E RI D O , P O D E RI A 
C O M E Ç A R I M E D I A T A M E N T E A C H O RA R , M A S N Ã O S O U 
C A P A Z .” 
 Vemo-lo aqui considerando seu sentimento como a única 
referência interna para a qual pode se voltar a fim de ver 
mais claro. 
 No momento em que está prestes a chorar, dá-se conta 
de que isso representa o sentimento parcial e retardado 
de ter sido ferido. 
 Reconhece então que suas defesas são tais que não é 
capaz, nessa fase, de vivenciar realmente o 
acontecimento que o fere no momento em que este 
ocorre. 
 Os modos segundo os quais se constrói a experiência são 
muito mais maleáveis. 
 Há muitas descobertas novas dos construto spessoais 
como construtos e uma análise e discussão crítica destes. 
Exemplo: Um homem declara: 
⁻ E S S A I D É I A D A N E C E S S I D A D E D E A G RA D A R — D E T E R D E 
F A ZE R I S S O — É RE A L M E N T E U M A E S P É C I E D E 
A S S E RÇ Ã O F U N D A M E N T A L D A M I N H A V I D A (C H O RA 
C A L M A M E N T E ) . 
⁻ S A BE , É U M A E S P É C I E D E A X I O M A I N D I S C U T Í V E L I S S O 
D E Q U E E U T E N H O D E A G RA D A R . 
⁻ NÃ O T E N H O O U T RA S A Í D A . E U S I M P L E S M E N T E T E N H O 
D E F A ZE R I S S O . 
Aqui fica claro para ele que essa asserção foi 
construída e é evidente que o seu estatuto de 
indiscutível está prestes a terminar. 
Há uma tendência forte e evidente para a exatidão na 
dfereneiação dos sentimentos e das significa ções. 
Exemplo: 
⁻ . . . U M A T E N S Ã O Q U E C RE S C E E M M I M , U M A E S P É C I E D E 
D E S E S P E RO , C O M O Q U E U M A I N C O M P L E T U D E — E A 
M I N H A V I D A A T U A L E S T Á RE A L M E N T E M U I T O V A Z I A . . . 
⁻ NÃ O S E I . PA RE C E - M E Q U E O Q U E M A I S S E A P RO X I M A É 
O S E N T I M E N T O D O D E S E S P E R O ”. 
Obviamente, o indivíduo tenta captar o termo exato 
que simboliza para ele sua experiência. 
 O indivíduo aceita cada vez mais enfrentar suas próprias 
contradições e incongruências na experiência. 
Exemplo: 
7 FASES DO PROCESSO DE TORNAR-SE PESSOA – CARL ROGER 
 
7 
 
⁻ M I N H A C O N S C I Ê N C I A M E D I Z Q U E S O U BO A P E S S O A . 
⁻ MA S , E M Q U A L Q U E R P A RT E , D E N T RO D E M I M , N Ã O 
A C RE D I T O N I S S O . 
⁻ PE N S O Q U E S O U U M C O V A RD E , U M I N Ú T I L . 
⁻ NÃ O T E N H O C O N F I A N Ç A N A M I N H A C A P A C I D A D E P A RA 
F A ZE R S E JA O Q U E F O R . 
 O indivíduo aceita cada vez com maior facilidade a sua 
própria responsabilidade perante os problemas que tem 
de enfrentar e preocupa-se mais em determinar como 
contribui para eles. 
 O diálogo interior torna-se mais livre, melhora a 
comunica çào interna e reduz-se o seu bloqueio. 
 Às vezes esses diálogos são verbalizados. 
Exemplo: 
⁻ AL G U M A C O I S A E M M I M M E D I Z : ‘A Q U E M A I S T E RE I 
E U A I N D A D E RE N U N C I A R ? 
⁻ VO C Ê JÁ L E V O U T A N T A C O I S A D E M I M ’ . 
⁻ IS T O S O U E U A F A L A R C O M I G O — O E U I N T E RI O R Q U E 
F A L A A O E U Q U E D I R I G E O E S P E T Á C U L O . 
⁻ AG O RA E S T Á S E L A M E N T A N D O D I ZE N D O : ‘VO C Ê E S T Á S E 
A P RO X I M A N D O D E M A I S . VÁ E M BO RA ’ ! 
Freqüentemente esses diálogos assumem a forma de 
se ouvir a si mesmo, para verificar as formulações 
cognitivas segundo uma referência direta à 
experiência. 
Exemplo: Assim, um cliente diz: 
⁻ NÃ O É E N G RA Ç A D O ? NU N C A P E N S E I N I S S O D E S S A 
F O RM A . S Ó E S T O U T E N T A N T O V E R S E É I S S O . 
⁻ S E M P RE M E P A RE C E U Q U E A T E N S Ã O E RA D E V I D A A 
U M A M E D I D A M U I T O M A I O R , A C A U S A S E X T E R N A S .. . 
⁻ Q U E N Ã O E RA S I M P L E S M E N T E A L G O Q U E E U U T I L I ZA V A 
D E S S A F O RM A . 
⁻ MA S I S T O É V E RD A D E , É RE A L M E N T E V E RD A D E . 
Espero que os exemplos dados deste quinto estágio do 
processo possam esclarecer alguns pontos. Em 
primeiro lugar, essa fase está, psicologicamente, a 
muitos quilômetros do primeiro estágio descrito. 
Nesse ponto, muitos aspectos da personalidade do 
cliente tomaram-se móveis, ao contrário da rigidez do 
primeiro estágio. 
 Ele está muito mais próximo do seu ser orgânico, que 
está sempre em movimento. 
 Abandona-se muito mais facilmente à corrente dos seus 
sentimentos. 
 Suas construções da experiência são decididamente 
maleáveis e constantemente postas à prova pelo 
confronto com pontos de referência e com evidências 
tanto externas como internas. 
 A experiência é muito mais diferenciada e, portanto, a 
comunicação interior, já fluente, pode ser muito mais 
exata. 
EXEMPLOS DE PROCESSOS EM 
DETERMINADA ÁREA: 
Uma vez que me inclinei a falar do cliente como um 
todo que se situasse num estágio ou em outro, é 
novamente necessário insistir, antes de passar à 
descrição do estágio seguinte, que, em determinadas 
áreas da significação pessoal, o processo pode descer 
abaixo do nível geral do cliente devido a experiências 
que estão em profundo desacordo com o conceito de 
eu. 
Talvez possa exemplificar referindo-me a uma 
determinada área da esfera afetiva de um cliente, algo 
sobre o modo como o processo que estou descrevendo 
opera num segmento estreito da experiência. 
Num caso relatado minuciosamente por Shlien, a 
qualidade da expressão do eu nas entrevistas se 
situava aproximadamente nos estágios três e quatro 
do processo contínuo que consideramos. Depois, 
quando a cliente aborda os problemas sexuais, o 
processo desce a um nível mais baixo no contínuo. 
No decurso da sexta entrevista, ela sente que há coisas 
impossíveis de dizer ao terapeuta e então “depois de 
uma longa pausa, menciona, de forma quase inaudível, 
uma sensação de comichão na zona do reto, para a 
qual o médico não encontrava explicação”. 
Nesse caso, um problema é encarado como 
completamente exterior ao eu, e a qualidade da 
vivência é muito remota. Isto poderia ser característico 
do segundo estágio do processo tal como aqui o 
descrevemos. 
Na décima entrevista, o comichão tinha passado para 
os dedos. Foi então que, com grande embaraço, 
descreveu brincadeiras da sua infância em que se 
despia, e outras atividades sexuais. Temos aqui 
igualmente o aspecto característico da descrição de 
atividades estranhas ao eu, sendo os sentimentos 
considerados como objetos do passado. Estamos, no 
entanto, num estágio mais adiantado do processo Ela 
conclui: 
⁻ “É S I M P L E S M E N T E P O RQ U E E U S O U M Á , S U JA ”. 
Aqui está um juízo sobre o eu e um construto pessoal, 
rígido e não diferenciado. Tudo isto é característico do 
terceiro estágio do processo, como também o é a 
seguinte declaração sobre si mesma, mostrando uma 
maior diferenciação nas significações pessoais: 
⁻ “AC H O Q U E P O R D E N T RO S O U H I P E RS E X U A D A , M A S 
P O R F O RA N Ã O S O U S U F I C I E N T E M E N T E S E X Y P A RA 
A T RA I R A RE S P O S T A Q U E Q UE RO . . . G O S T A RI A D E S E R A 
M E S M A P O R D E N T RO E P O R F O RA ”. 
Esta última frase liga-se ao quarto estágio pela tênue 
discussão de uma construção pessoal. Durante a 
décima segunda entrevista, ela vai mais longe nessa 
7 FASES DO PROCESSO DE TORNAR-SE PESSOA – CARL ROGER 
 
8 
 
discussão, declarando que não tinha nascido para a 
promiscuidade. Essa afirmação se reveste claramente 
do aspecto característico do quarto estágio, recusando 
de forma definitiva uma maneira profulamente 
arraigada de construir a experiência pessoal. Durante a 
mesma entrevista, ela ganha coragem para dizer ao 
terapeuta: 
⁻ “VO C Ê É U M H O M E M , U M BE L O H O M E M , E T O D O O 
M E U P RO BL E M A S E RE F E RE A H O M E N S C O M O V O C Ê . 
S E RI A M A I S F Á C I L S E V O C Ê F O S S E U M P O U C O M A I S 
V E L H O , M A S N Ã O S E R I A M E L H O R A L O N G O P RA ZO ” . 
Ela fica perturbada e embaraçada por ter dito isto e 
sente que “é como estar nua, nada lhe podendo 
esconder”. 
Vemos exprimir-se aqui um sentimento imediato, com 
relutância e com receio, sem dúvida, mas expresso, 
não descrito. 
A vivência é muito menos remota e determinada, e 
ocorre pouco distanciada no tempo, mas recusa-se 
ainda a aceitá-la. 
A diferenciação mais nítida das significações está 
claramente patente na frase “seria mais fácil, mas não 
melhor”. Tudo isso é plenamente característico do 
quarto estágio do processo. 
Na décima quinta entrevista, a cliente descreve muitas 
experiências e emoções passadas em relação a sexo, 
num estilo característico do terceiro e quarto estágios 
tal como os descrevemos. Num determinado momento 
diz: 
⁻ “E U D E S E JA V A F E R I R - M E , P O R I S S O C O M E C E I A S A I R 
C O M H O M E N S Q U E M E P U D E S S E M F E R I R . . . C O M O S E U 
P Ê N I S . GO ZA V A C O M I S S O E S O F RI A , E T I N H A A S S I M A 
S A T I S F A Ç Ã O D E S E R C A S T I G A D A P E L O M E U P RA ZE R N O 
M E S M O M O M E N T O ” . 
Aqui está uma forma de construir a experiência, forma 
que é apreendida como tal e não como um fato 
exterior. Também é evidente que ela a coloca em 
questão, embora de uma maneira implícita. 
Há um reconhecimento e uma certa inquietação 
perante os elementos contraditórios do prazer 
experimentado, embora pensando que devia ser 
castigada. 
Esses aspectos são absolutamente característicos do 
quarto estágio, ou mesmo um pouco anteriores. 
Alguns instantes depois, ela descreve os sentimentos 
intensos de vergonha que experimentou no prazer 
sexual. 
Suas duas irmãs, “elegantes e respeitáveis”, não eram 
capazes de chegar ao orgasmo “e assim eu era 
novamente a que era má”. 
Até aqui estas palavras ilustram o quarto estágio. 
Então, subitamente, ela pergunta: 
⁻ “OU S E RÁ Q U E S O U F E L I Z ?”. 
Nesta expressão no presente de um sentimento de 
perplexidade, na qualidade de “irrupção”, na vivência 
imediata desse espanto, na franca e decisiva discussão 
de seu construto pessoal anterior, encontramos os 
aspectos característicos do quinto estágio que 
acabamos de descrever. 
Ela avançou muito no processo, num clima de 
aceitação, situando-se a uma distância considerável do 
segundo estágio. 
Espero que esse exemplo tenha indicado a forma como 
um indivíduo, numa determinada área das 
significações pessoais, se torna cada vez mais 
maleável, mais fluente, num processo mais 
movimentado, na medida em que se sente aceito. 
Talvez o exemplo ilustre igualmente o que acredito, ou 
seja, que esse processo de uma maior mobilidade não 
é algo que possa acontecer em minutos ou horas, mas 
em semanas e meses. 
E um processo de avanço irregular, por vezes de recuo, 
por vezes parecendo estático quando abrange uma 
área maior, mas acaban por retomar sempre o seu 
curso. 
O SEXTO ESTÁGIO 
Se consegui dar uma idéia da extensão e da natureza 
da maleabilidade crescente dos sentimentos, das 
vivências e das construções em cada estágio, podemos 
então passar ao estágio seguinte, que surge, a quem o 
observa, como crucial. 
Vou tentar explicar o que me parecem ser suas 
qualidades características. 
Supondo que o cliente continua a ser plenamente 
aceito na relação terapêutica, os aspectos 
característicos do quinto estágio tendem a ser seguidos 
por um estágio muito distinto e freqüentemente 
dramático. 
Caracteriza-se do seguinte modo: 
 Um sentimento que antes estava “bloqueado“, inibido na 
sua evolução, é experimentado agora de um modo 
imediato. 
 Um sentimento flui para o seu fim pleno. 
 Um sentimento presente é diretamente experimentadocom toda a sua riqueza num plano imediato da 
experiência e o sentimento com toda a sua riqueza num 
plano imediato. 
 Esse caráter imediato da experiência e o sentimento que 
constitui seu conteúdo, são aceitos. 
 Isto é algo real e não uma coisa para ser negada, temida 
ou combatida. 
7 FASES DO PROCESSO DE TORNAR-SE PESSOA – CARL ROGER 
 
9 
 
Todas as asserções precedentes procuram descrever as 
diferentes facetas de um fenômeno que, quando 
ocorre, é claro e bem definido. 
Seria necessário recorrer a exemplos gravados para 
comunicar plenamente essa qualidade, mas tentarei 
dar um exemplo sem recorrer às grawições. 
Um extrato bastante longo tirado da octogésima 
entrevista com um rapaz talvez nos possa dar uma 
idéia da forma como um cliente chega ao sexto 
estágio. 
Exemplo: 
⁻ PO D I A M E S M O A C O N T E C E R Q U E E U T I V E S S E U M A 
E S P É C I E D E T E RN U RA E M RE L A Ç Ã O A M I M P RÓ P R I O . . . 
⁻ NO E N T A N T O , C O M O S E RI A E U C A P A Z D E S E R T E R N O , 
D E M E P RE O C U P A R C O M I G O M E S M O , P O I S S O M O S U M A 
M E S M A E Ú N I C A C O I S A ? 
⁻ CO N T U D O , S I N T O I S S O C L A R A M E N T E . . . S A BE , É C O M O 
Q U E M C U I D A D E U M A C R I A N Ç A . VO C Ê Q U E R L H E D A R 
I S S O E A Q U I L O . . . PO S S O C O M P RE E N D E R I S S O Q U A N D O 
S E T RA T A D E O U T RA P E S S O A . . . M A S N U N C A O P O D E RI A 
V E R P A RA . . . M I M P RÓ P RI O , Q U E E U P U D E S S E A G I R 
A S S I M P A RA C O M I G O . S E RÁ P O S S Í V E L Q U E E U Q U E I RA 
A G O RA T O M A R RE A L M E N T E C O N T A D E M I M E Q U E I S S O 
S E JA O P R I N C I P A L O BJ E T I V O D A M I N H A V I D A ? 
⁻ IS T O Q U E R D I ZE R Q U E E U T E RI A D E A BO RD A R O M U N D O 
C O M O S E E U F O S S E O G U A RD I Ã O D O BE M M A I S 
P RE C I O S O E M A I S A M BI C I O N A D O , Q U E E S T E E U E S T A RI A 
E N T RE E S S E E U P RE C I O S O D E Q U E E U Q U E RO C U I D A R E 
O M U N D O T O D O . . . 
⁻ É Q U A S E C O M O S E E U M E A M A S S E A M I M M E S M O — 
E N T E N D E ? — I S S O É E S T RA N H O . . . M A S É V E R D A D E . 
O terapeuta: 
⁻ “IS S O P A RE C E S E R U M C O N C E I T O E S T RA N H O E D I F I C I L 
D E C O M P RE E N D E R . PO D E RI A S I G N I F I C A R : E U 
E N F RE N T A RI A O M U N D O C O M O S E U RN A P A RT E 
E S S E N C I A L D A M I N H A R E S P O N S A B I L I D A D E F O S S E 
C U I D A R D E S S E I N D I V Í D U O P RE C I O S O Q U E E U S O U . . . 
Q U E E U A M O ”. 
O cliente: 
⁻ “CO M Q U E M E U M E P RE O C U P O . . . D E Q U E M E U M E 
S I N T O T Ã O P RÓ X I M O . O R A , A Q U I E S T Á M A I S U M A 
C O I S A E S T RA N H A .” 
O terapeuta: 
⁻ “IS S O S Ó P A RE C E E S Q U I S I T O . ” 
O cliente: 
⁻ “S I M! E V A I M E S M O M A I S L O N G E . A I D É I A D E M E 
A M A R A M I M P RÓ P RI O E D E M E P RE O C U P A R (O S S E U S 
O L H O S U M E D E C E M -S E ) . S E RI A U M A C O I S A M U I T O 
BO N I T A . . . M U I T O BO N I T A .” 
A gravação ajudaria a ver que se trata de um 
sentimento que ele nunca tinha sido capaz de deixar 
correr nele e que era sentido nesse momento de forma 
imediata. 
 É um sentimento que evolui para o seu fim pleno, sem 
inibições. 
 É experimentando com aceitação, sem qualquer 
tentativa para desviá-lo ou para negá-lo. 
 A experiência é vivida subjetivamente e não como objeto 
de um sentimento. 
 O cliente, nas suas palavras, pode se afastar o suficiente 
da sensação a ponto de sentir sobre ela, como no 
exemplo anterior. 
No entanto, a gravação mostra bem o caráter 
periférico dessas palavras em relação à experiência 
que está fazendo consigo e na qual está vivendo. A 
melhor expressão desse fato em suas palavras é: 
⁻ “O R A , A Q U I E S T Á M A I S U M A C O I S A E S T RA N H A .” 
⁻ O E U C O M O O B JE T O T E N D E A D E S A P A RE C E R 
 O eu, nesse momento, é esse sentimento. 
 Ele existe no momento, com uma consciência de si 
reduzida, mas principalmente com uma consciência 
reflexiva, como Sartre a designa. 
 O eu é, subjetivamente, no momento existencial. Não é 
alguma coisa que se percebe. 
A vivência, nesse estágio assume a qualidade de um 
processo real. 
Exemplo: Um cliente, um homem que se aproxima 
desse estágio, diz que se sente receoso a propósito da 
fonte de um grande número de pensamentos secretos. 
E prossegue: 
⁻ OS P E N S A M E N T O S M A I S P RÓ X I M O S D A S U P E RF I C I E S Ã O 
BO R BO L E T A S . PO R BA I X O H Á U M A C O R R E N T E M A I S 
P RO F U N D A . S I N T O -M E M U I T O A F A S T A D O D E L A . 
⁻ A C O R RE N T E M A I S P RO F U N D A É C O M O U M G RA N D E 
C A RD U M E Q U E S E D E S L O C A D E BA I X O D ’Á G U A . E U V E JO 
O S P E I X E S Q U E S U RG E M N A S U P E RF I C I E E E S T O U 
S E N T A D O C O M A M I N H A L I N H A D E P E S C A N U M A M Ã O , 
C O M U M A N ZO L N A P O N T A — T E N T A N D O E N C O N T RA R 
A L G O M E L H O R D O Q U E E S S E A N ZO L O U , M E L H O R 
A I N D A , U M A F O R M A D E M E R G U L H A R N E S S A C O RRE N T E . 
⁻ É U M A C O I S A Q U E M E M E T E M E D O . VE M - M E À C A BE Ç A 
A I D É I A D E Q U E Q U E RO S E R E U P RÓ P RI O U M P E I X E . 
O terapeuta: 
⁻ “QU E R M E R G U L H A R N A C O R RE N T E E D E I X A R -S E 
L E V A R .” 
Embora o cliente não esteja vivenciando ainda 
plenamente a evolução no interior de um processo e, 
portanto, não possa servir completamente de 
ilustração’ desse sexto estágio do contínuo, ele o prevê 
de uma maneira tão clara que sua descrição revela o 
sentido profundo desse estágio. 
Uma outra característica desse estágio do processo é a 
maleabilidadefisiológica que o acompanha. 
 Os olhos úmidos, as lágrimas, os suspiros, o relaxamento 
muscular são freqüentemente evidentes. 
 Há muitas vezes outros sintomas fisiológicos 
concomitantes. 
Proporei de bom grado a hipótese de que nessas 
ocasiões, tendo meios para o observar, descobriríamos 
7 FASES DO PROCESSO DE TORNAR-SE PESSOA – CARL ROGER 
 
10 
 
uma melhoria da circulação e da condutividade dos 
impulsos nervosos. 
Pode indicar-se um exemplo da natureza “primitiva” de 
algumas dessas sensações através do Exemplo: 
O cliente, um rapaz, exprimira o desejo de que seus 
pais morressem ou desaparecessem: 
⁻ É U M P O U C O C O M O S E E U Q U I S E S S E V Ê -L O S 
D E S A P A RE C E R , C O M O S E D E S E JA S S E Q U E E L E S N U N C A 
T I V E S S E M E X I S T I D O . . . 
⁻ E T E N H O D E T A L M A N E I RA V E RG O N H A D E M I M P RÓ P RI O 
Q U E Q U A N D O E L E S M E C H A M A M E U V O U L O G O ! 
⁻ A S U A P RE S E N Ç A É A I N D A M U I T O F O RT E . 
⁻ NÃ O S E I . É Q U A L Q U E R C O I S A D E V I S C E RA L Q U A S E Q U E 
P O S S O S E N T I R I S S O D E N T R O D E M I M (E C O M E Ç A A 
G E S T I C U L A R P U X A N D O O U M BI G O , C O M O S E Q U I S E S S E 
S E A R RA N C A R ) . 
O terapeuta: 
⁻ E L E S RE A L M E N T E P R E N D E M - N O P E L O C O R D Ã O 
U M BI L I C A L 
O cliente: 
⁻ É E N G RA Ç A D O C O M O É RE A L O Q U E S I N T O . . . É C O M O 
U M A S E N S A Ç Ã O D E Q U E I M A D U RA , M A I S O U M E F L O S , E 
Q U A N D O E L E S D I ZE M A L G U M A C O I S A Q U E M E D E I X A 
A N S I O S O , S I N T O I S S O E X A T A M E N T E A Q U I 
(A P O N T A N D O ) . NU N C A P E N S E I N I S S O A S S I M. 
O terapeuta: 
⁻ TU D O S E P A S S A C O M O S E , Q U A N D O H Á U M A 
P E RT U RBA Ç Ã O N A S RE L A Ç Õ E S E N T RE V O C Ê S , T I V E S S E 
P RE C I S A M E N T E A I M P RE S S Ã O D E U M A T E N S Ã O N O 
U M BI G O . 
O cliente: 
⁻ S I M , É C O M O S E F O S S E A Q U I . E É T Ã O D I F I C I L D E F I N I R 
O Q U E S I N T O A Q U I . 
 Nesse caso, o indivíduo está vivendo subjetivamente no 
sentimento da dependência em relação aos seus pais. 
 Todavia, seria bastante inexato afirmar que ele se 
apercebe desse sentimento. 
 Está nele, experimentando-o como uma tensão no seu 
cordão umbilical. 
 Nessa fase, a comunicação interior é livre e 
relativamente pouco bloqueada. 
Creio que isto é perfeitamente ilustrado com os 
exemplos citados. De fato, como cada um desses 
exemplos mostra, o momento crucial é um momento 
dc integração, no qual a comunicação entre os 
diferentes focos internos já não é necessária porque se 
tornou una. 
A incongruência entre a experiência e a consciência é 
vivamente experimentada no momento mesmo em 
que desaparece no interior da congruência. Ver a 
seguinte passagem 
O construto pessoal correspondente dissolve-se no 
momento dessa experiência e o cliente sente-se 
separado do seu quadro de referência anterior estável. 
Julgo que essas duas características se tomarão claras 
por meio do exemplo seguinte. 
Determinado rapaz tinha sentido dificuldade em 
precisar um certo sentimento desconhecido: 
⁻ “AQ U I L O Q U E E U S I N T O É Q U A S E E X A T A M E N T E . . . A 
M I N H A V I D A T A L C O M O E U A V I V I A , T A L C O M O E U A 
V I A D O M I N A D A P E L O T E RRO R D E Q U A L Q U E R C O I S A .” 
Conta como suas atividades profissionais lhe deram 
uma certa segurança e 
⁻ . . .U M P E Q U E N O M U N D O E M Q U E E U E S T A RI A S E G U R O 
E N T E N D E ? 
⁻ E P E L A M E S M A RA ZÃ O (P A U S A ) . 
⁻ É C O M O S E E U O D E I X A S S E IN F I L T RA R - S E , M A S L I G O -O 
T A M BÉ M A V O C Ê E À S M I N H A S RE L A Ç Õ E S C O N S I G O E O 
Q U E E U S I N T O É O M E D O D E D E I X Á -L O E S C A P A R . (O 
T O M M U D A C O M O Q U E P A RA RE P RE S E N T A R M A I S 
P RE C I S A M E N T E O S E U S E N T I M E N T O . ) 
⁻ PE RM I T A -M E Q U E O C O N S E RV E . TE N H O U M A 
V E RD A D E I RA N E C E S S I D A D E D I S S O . E U F I C O T Ã O , T Ã O 
A T E M O RI ZA D O S E M I S S O . 
O terapeuta: 
⁻ “HU M , H U M . DE I X E Q U E M E A G A RRE A I S S O P O RQ U E 
S E N Ã O F I C A RI A C O M U M M E D O T E RRÍ V E L ! . . , É U M A 
E S P É C I E D E S Ú P L I C A , N Ã O É ?” 
O cliente: 
⁻ “S I M , É I S S O : N Ã O Q U E R F A ZE R I S S O P O R M I M ?, M A I S 
O U M E N O S . OH , I S S O É T E RRÍ V E L ! Q U E M ? E U ? 
IM P L O RA R ?. . . 
⁻ É U M A E M O Ç Ã O Q U E E U N U N C A S E N T I C O M G RA N D E 
C L A RE ZA — A L G U M A C O I S A Q U E N U N C A F O I . . . 
(P A U S A ) . . . S I N T O - M E T Ã O C O N F U S O . 
⁻ PRI M E I RO , É U M A C O I S A T Ã O E X T R A O RD I N Á R I A T E R 
E S T A S C O I S A S N O V A S S U RG I N D O D I A N T E D E M I M! 
⁻ IS S O M E E S P A N T A S E M P R E , E H Á E S S E M E S M O 
S E N T I M E N T O D E RE C E I O P E R A N T E T U D O O Q U E S E 
E N C O N T RA E M M I M (C H O RA ) . . . 
⁻ E U N Ã O M E C O N H E Ç O . AQ U I E S T Á U M A C O I S A Q U E 
N U N C A P E RC E BE RA , D E Q U E N Ã O T I N H A A M E N O R 
S U S P E I T A — H A V E R U M A C O I S A Q U E E U Q U E RI A O U 
U M A M A N E I RA D E S E R Q U E E U D E S E JA V A .” 
Temos aqui uma tomada de consciência completa da 
sua súplica e um reconhecimento claro da discrepância 
entre a sua experiência e o conceito que fazia de si 
mesmo. 
Contudo, essa vivência da discrepância existe no 
próprio momento em que desaparece. 
Daqui em diante ele é uma pessoa que tem o 
sentimento de suplicar, como tem muitos outros. 
 Nesse momento, essa descoberta dissolve os seus 
construtos pessoais e anteriores e ele sente-se liberto do 
mundo onde até então vivera — uma sensação ao 
mesmo tempo maravilhosa e temível. 
7 FASES DO PROCESSO DE TORNAR-SE PESSOA – CARL ROGER 
 
11 
 
 O momento da vivência integral torna-se uma referência 
clara e definida. 
Os exemplos dados parecem indicar que o cliente não 
tem uma consciência muito nítida do que lhe 
aconteceu durante esses momentos. 
Contudo, isso não parece ser demasiado importante 
porque esse acontecimento é uma entidade, uma 
referência, a que se pode voltar sempre, se necessário, 
para explorá-lo mais profundamente. 
Não se pode provar que os sentimentos de suplicar, ou 
de “me amar a mim mesmo”, que figuram nesses 
exemplos, sejam exatamente como descritos. 
São, no entanto, sólidos pontos de referência a que o 
cliente pode voltar até ter adquirido um conhecimento 
satisfatório da sua própria natureza. 
Talvez eles constituam um acontecimento fisiológico 
bem definido, um substrato da vida consciente a que o 
cliente pode regressar para novas investigações. 
Gendlin chamou-me a atenção para a qualidade 
significativa da vivência como ponto de referência. Ele 
está tentando construir uma extensão da sua teoria 
psicológica a partir desta base 
A diferenciação da vivência é clara e fundamen tal. 
Como cada um desses momentos é um ponto de 
referência, uma entidade específica, não se pode 
confundir com qualquer outro. 
O processo de diferenciação nítida constrói-se sobre 
ele e em referência a ele. Nessa fase, já não há 
“problemas“, exteriores ou interiores. 
O cliente está vivendo subjetivamente uma fase do seu 
problema. 
Este não é um objeto. 
Parece-me evidente que em todos os exemplos dados 
seria grosseiramente inexato dizer que o cliente se 
apercebe do seu problema como interior ou que o está 
discutindo como um problema interior. 
Carecemos de uma forma de indicar que ele 
ultrapassou essa fase e que está, como é evidente, 
muito longe de perceber seu problema como exterior. 
A melhor descrição parece ser afirmar que ele não 
percebe o seu problema nem o põe em discussão. 
Vive simplesmente uma parcela do problema, 
conhecendo-o e aceitando-o. 
 Demorei-me longamente na definição do sexto estágio 
do processo contínuo porque o julgo particularmente 
importante. 
Observei que esses momentos da vivência imediata, 
integral, assumida, são de alguma maneira 
irreversíveis. 
Para retomar o conteúdo dos meus exemplos, o que 
observei e o que ponho como hipótese é que, com 
estes clientes, todas as vezes que ocorrer uma nova 
experiência desse gênero, ela será conscientemente 
reconhecida por aquilo que é: conforme os casos, uma 
tema solicitude para consigo mesmo, um cordão 
umbilical que faz dele uma parte dos seus pais, ou a 
dependência de um rapazinho que implora. 
Pode-se notar de passagem que, uma vez que a 
experiência se tornou plenamente consciente e aceita, 
ela pode ser enfrentada com eficácia, como qualquer 
outra situação real. 
O SÉTIMO ESTÁGIO 
Nas áreas em que se atingiu o sexto estágio, já não é 
tão necessário que o cliente se sinta plenamente aceito 
pelo terapeuta, embora isso ainda pareça ser de 
grande ajuda. 
 No entanto, devido à tendência do sexto estágio para ser 
irreversível, o cliente parece alcançar muitas vezes o 
sétimo e último estágio sem ter uma grande necessidade 
da ajuda do terapeuta. 
 Esse estágio ocorre tanto fora da relação terapêutica 
como dentro dela, e é muitas vezes relatada mais do que 
vivenciada no decurso da sessão terapêutica. 
Vou procurar descrever algumas das suas 
características como as julgo ter observado. 
 São experimentados novos sentimentos de modo 
imediato e comuma riqueza de detalhes, tanto na 
relação terapêutica como fora a ela. A experiência de tais 
sentimentos é utilizada como um claro ponto de 
referência. 
 O cliente procura com absoluta consciência utilizar esses 
pontos de referência para saber de uma forma mais clara 
e mais diferenciada quem é, o que deseja e quais são as 
suas atitudes. Isto é verdade mesmo que os seus 
sentimentos sejam desagradáveis ou provoquem temor. 
 Há um sentido crescente e continuado de aceitação 
pessoal desses sentimentos em mudança e uma 
confiança sólida na sua própria evolução. 
 Essa confiança não assenta primariamente nos processos 
conscientes que ocorrem, mas antes na totalidade do 
processo organísmico. 
Um cliente descreve a forma que para ele reveste a 
experiência característica de sexto estágio, utilizando 
termos característicos do sétimo: 
⁻ “E M T E RA P I A , A Q U I , O Q U E C O N T A V A E RA S E N T A R - M E 
E D I ZE R : ‘É E S T E O M E U P ROBL E M A ’ E A N D A R À V O L T A 
D I S S O D U RA N T E U M T E M P O A T É Q U E Q U A L Q U E R C O I S A 
V E N H A À S U P E RF I C I E A T R A V É S D E U M C RE S C E N D O 
E M O C I O N A L , E A C O I S A E S T Á RE S O L V I D A P A RE C E 
D I F E RE N T E . 
⁻ ME S M O N E S S A A L T U RA N Ã O S O U C A P A Z D E D I ZE R 
P RE C I S A M E N T E O Q U E S E P A S S O U . 
⁻ E U E X P U N H A Q U A L Q U E R C O I S A , A G I T A V A -A , D A V A 
V O L T A S : D E P O I S , T U D O I A M E L H O R . 
7 FASES DO PROCESSO DE TORNAR-SE PESSOA – CARL ROGER 
 
12 
 
⁻ É U M P O U C O F RU S T RA N T E P O RQ U E G O S T A R I A D E S A BE R 
E X A T A M E N T E O Q U E E S T Á S E P A S S A N D O . . . 
⁻ É E N G RA Ç A D O , P O RQ U E S I N T O Q U E , N O F U N D O , N Ã O 
F I Z G RA N D E C O I S A P A R A I S S O . 
⁻ A Ú N I C A P A RT E A T I V A Q U E T O M E I C O N S I S T I U E M E S T A R 
A L E RT A E E M A G A RRA R U M A I D É I A Q U A N D O E L A 
P A S S A V A . . . 
⁻ É U M A E S P É C I E D E S E N T I M E N T O C O M O . . . ‘ BE M , O Q U E 
É Q U E E U V O U F A ZE R A G O R A , U M A V E Z Q U E JÁ V I O 
Q U E A C O N T E C E ?. . . ’ 
⁻ NÃ O S E T E M M Ã O N I S S O , P O D E -S E F A L A R E D E I X A R 
C O RRE R . E, A P A RE N T E M E N T E , É T U D O . NO E N T A N T O , 
I S S O M E D E I X A C O M U M A S E N S A Ç Ã O D E I N S A T I S F A Ç Ã O , 
C O M A S E N S A Ç Ã O D E N Ã O TE R F E I T O N A D A . IS S O F E Z -
S E S E M O M E U C O N H E C I M E N T O E S E M O M E U 
A C O RD O . . . 
⁻ O F A T O É Q U E N Ã O E S T O U SE G U RO D A Q U A L I D A D E D O 
RE A JU S T A M E N T O P O RQ U E N Ã O C O N S E G U I V Ê -L O O U 
V E RI F I C Á -L O . . . 
⁻ TU D O O Q U E P O S S O F A ZE R É O B S E R V A R O S F A T O S 
V E RI F I C A R Q U E O L H O P A RA A S C O I S A S D E U M M O D O 
D I F E RE N T E , Q U E S I N T O M E N O S A N S I E D A D E , Q U E E S T O U 
M U I T O M A I S A T I V O . 
⁻ E M G E RA L T U D O V A I M E L H O R . S I N T O -M E M U I T O F E L I Z 
C O M O C A M I N H O Q U E A S C O I S A S T O M A RA M . MA S 
T E N H O A I M P RE S S Ã O D E S E R U M E S P E C T A D O R .” 
Um pouco mais tarde, continuando a aceitar, embora 
contrariado, o processo que nele se opera, acrescenta: 
⁻ “PA RE C E -M E Q U E T RA BA L H O M E L H O R Q U A N D O 
C O N S C I E N T E M E N T E T E N H O A P E N A S F A T O S À M I N H A 
F RE N T E E D E I X O A S U A A N Á L I S E P RO S S E G U I R P O R S I , 
S E M L H E P RE S T A R Q U A L Q U E R A T E N Ç Ã O .” 
 A vivência imediata perdeu quase completamente os 
seus aspectos determinados e torna-se a vivência de um 
processo, ou seja, a situação é vivenciada e interpretada 
na sua novidade e não como passado. 
O exemplo dado no sexto estágio sugere a qualidade 
que tento descrever. 
Um outro exemplo, tomado numa área bem 
determinada, nos é dado por outro cliente, no decurso 
de uma entrevista de acompanhamento em que ele 
descreve as diferentes qualidades que em seu trabalho 
criativo adotou. 
Habitualmente tentava ser ordenado: 
⁻ “CO M E Ç A - S E P E L O P R I N C Í P I O E A V A N Ç A -S E C O M 
RE G U L A RI D A D E A T É O F I M .” 
Agora tem consciência de que o seu processo interior é 
diferente: 
⁻ QU A N D O T RA BA L H O U M A I D É I A , E S T A S E RE V E L A 
T O T A L M E N T E , T A L C O M O A I M A G E M L A T E N T E Q U E 
A P A RE C E Q U A N D O S E RE V E L A U M A F O T O G RA F I A . 
⁻ NÃ O H Á U M P O N T O D E P A RT I D A P A RA C H E G A R A U M 
O U T RO P O N T O , M A S E S P A L H A -S E P O R T O D A A 
S U P E RF I C I E . 
⁻ DE I N Í C I O , T U D O O Q U E S E V Ê É U M V A G O C O N T O RN O E 
P E RG U N T A -S E O Q U E S E R Á Q U E V A I A P A RE C E R ; E 
E N T Ã O , G RA D U A L M E N T E , U M A C O I S A S E E N C A I X A A Q U I , 
O U T RA A L I E , D E RE P E N T E , T U D O S E T O RN A C L A RO . 
É óbvio que ele não passou simplesmente a acreditar 
no processo, mas que o experimenta como ele é e não 
em termos de coisa passada. 
 O eu torna-se cada vez mais simplesmente a consciência 
subjetiva e reflexiva da experiência. 
 O eu surge cada vez menos freqüentemente como um 
objeto percebido e muito mais freqüentemente como 
alguma coisa sentida em processo e na qual se confia. 
Vou buscar um exemplo na entrevista mencionada 
anteriormente. Nesta entrevista, o cliente, porque está 
relatando a sua experiência depois do tratamento, 
toma novamente consciência de si como objeto, mas é 
evidente que isso não representa a qualidade da sua 
experiência do dia-a-dia. Após ter relatado um grande 
número de transformações, diz: 
⁻ RE A L M E N T E , N Ã O T I N H A RE L A C I O N A D O E S S A S C O I S A S 
C O M O T RA T A M E N T O A T É H O JE À T A RD E . . . 
(S O RRI N D O ) . 
⁻ PU X A ! TA L V E Z A L G O T E N H A A C O N T E C I D O . PO RQ U E A 
P A RT I R D E E N T Ã O M I N H A V I D A T E M S I D O D I F E RE N T E . 
⁻ ME U RE N D I M E N T O C RE S C E U . M I N H A C O N F I A N Ç A 
A U M E N T O U . V I - M E M E T I D O E M S I T U A Ç Õ E S Q U E A N T E S 
T E R I A E V I T A D O E , P O R O U T R O L A D O , T O M E I - M E M E N O S 
A U D A C I O S O E M S I T U A Ç Õ E S O N D E A N T E S M E M O S T RA V A 
A T RE V I D O . 
Fica bem claro que só posteriormente ele se deu conta 
do que fora o seu eu. 
 Os construtos pessoais são provisoriamente 
reformulados, a fim de serem revalidados pela 
experiência em curso, mas, mesmo então, se mantêm 
maleáveis. 
Um cliente descreve o modo como um construto se 
modificou no intervalo entre entrevistas, perto do fim 
da terapia. 
⁻ NÃ O S E I O Q U E É Q U E (S E M O D I F I C O U ) , M A S S I N T O -M E 
A BS O L U T A M E N T E D I F E RE N T E N O Q U E D I Z RE S P E I T O À S 
M I N H A S RE C O RD A Ç Õ E S D A I N I F I N C I A , E U M A P A RT E D A 
H O S T I L I D A D E P A RA C O M M I N H A M Ã E E P A RA C O M M E U 
P A I S E E V A P O RO U . 
⁻ S U BS T I T U Í O RE S S E N T I M E N T O Q U E S E N T I A E M R E L A Ç Ã O 
A E L E S P E L A A C E I T A Ç Ã O D O F A T O D E Q U E H O U V E U M 
G RA N D E N Ú M E RO D E C O I S A S I N C O N V E N I E N T E S Q U E M E 
F I ZE RA M . 
⁻ MA S , S O B RE T U D O , D E S C O BR I C O M I N T E N S A A L E G RI A A 
I D É I A — A G O RA Q U E M E A P E RC E B I D O Q U E N Ã O E S T Á 
C E RT O — D E Q U E E U P O S S O F A ZE R A L G O A RE S P E I TO , 
C O RRI G I N D O O S E R RO S D E L E S . 
Nesse caso, a maneira como o indivíduo constrói sua 
experiência com os pais foi profundamente alterada. 
Citarei um outro exemplo, extraído de uma entrevista 
com um cliente que sempre sentiu que devia agradar 
às pessoas: 
7 FASES DO PROCESSO DE TORNAR-SE PESSOA – CARL ROGER 
 
13 
 
⁻ E U V E JO A G O RA . . . C O M O S E RI A — Q U E N Ã O T E M 
I M P O RT Â N C I A N E N H U M A O F A T O D E N Ã O L H E 
A G RA D A R . 
⁻ QU E R L H E A G RA D E Q U E R N Ã O , A C O I S A N Ã O T E M P A RA 
M I M Q U A L Q U E R I M P O RT Â N C I A . 
⁻ S E E U P U D E S S E D I ZE R E S S A S C O I S A S À S P E S S O A S — 
E N T E N D E ?. . . A I D É I A D E D I ZE R Q U A L Q U E R C O I S A 
E S P O N T A N E A M E N T E . . . S E M S E P RE O C U P A R S E I S S O 
A G RA D A O U N Ã O . — OH , M E U DE U S! , D I ZE R 
P RA T I C A M E N T E T U D O : M A S I S S O É V E R D A D E , P E R C E BE ? 
E um pouco mais tarde interroga-se a si mesmo com 
incredulidade: 
⁻ QU E R D I ZE R Q U E , S E E U P U D E S S E S E R RE A L M E N T E 
A Q U I L O Q U E T E N H O V O N T AD E D E S E R , T U D O E S T A RI A 
C E RT O? 
Ele está lutando para reconstruir alguns dos aspectos 
fundamentais da sua experiência. 
 A comunicação interior é clara, com sentimentos e 
símbolos bem combinados e com termos novos para 
sentimentos novos. 
 Há a experiência de uma efetiva escolha de novas 
maneiras de ser 
 Uma vez que todos os elementos da experiência estão 
disponíveis para a consciência, a escolha toma-se real e 
efetiva. 
Vejamos o caso de um cliente que acaba de se dar 
conta disso: 
⁻ E S T O U T E N T A N D O E N C O N T RA R U M A M A N E I RA D E 
F A L A R Q U E S E JA U M A F O R M A D E E S C A P A R A O M E U 
T E RRO R D E T O M A R A P A L A V R A . 
⁻ PE N S A R E M V O Z A L T A T A L V E Z S E JA A M A N E I RA D E 
C O N S E G U I - L O . 
⁻ MA S E U T E N H O T A N T O S P E N S A M E N T P S Q U E A P E N A S 
P O D E RI A F A ZE R I S S O A T É U M C E RT O P O N T O . 
⁻ MA S T A L V E Z P U D E S S E D E I X A R Q U E A S M I N H A S 
P A L A V RA S F O S S E M U M A E X P RE S S Ã O D O S M E U S 
P E N S A M E N T O S RE A I S , E M V E Z D E T E N T A R A P L I C A R 
F R A S E S JÁ F E I T A S A C A D A S I T U A Ç Ã O . 
Aqui, o indivíduo começa a sentir a possibilidade de 
uma escolha efetiva. 
Um outro cliente começa a contar uma discussão que 
tivera com a mulher: 
⁻ E U N Ã O E S T A V A À S S I M T Ã O ZA N G A D O C O M I G O . NÃ O 
M E I R R I T E I M U I T O C O M I G O . 
⁻ CO M P RE E N D I Q U E E S T A V A RE A G I N D O C O M O U M A 
C RI A N Ç A E , D E A L G U M A M A N E I RA , F O I E X A T A M E N T E 
I S S O Q U E D E C I D I F A ZE R . 
Não é fácil encontrar exemplos que ilustrem esse 
sétimo estágio, porque é relativamente pequeno o 
número de clientes que atinge plenamente esse ponto. 
Vou tentar resumir de uma maneira breve as 
qualidades desse ponto final do contínuo. 
 Quando o indivíduo atingiu, no seu processo de 
transformação, o sétimo estágio, encontramo-nos a nós 
mesmos englobados numa nova dimensão. 
 O cliente integrou nesse momento a noção de 
movimento, de fluxo, de mudança, em todos os aspectos 
da sua vida psicológica, e isso torna-se a sua principal 
característica. 
 Ele vive no interior dos seus sentimentos, conhecendo-o 
com uma confiança fundamental neles e aceitandoos. 
 Os modos como constrói a sua experiência estão em 
permanente alteração e seus construtos pessoais 
modificam-se devido a cada novo acontecimento vivido. 
 A natureza da sua experiência é a de um processo, 
sentindo a novidade de cada situação e interpretando-a 
de uma maneira nova, recorrendo aos termos do 
passado apenas na medida em que o novo é idêntico ao 
passado. 
 Vive a experiência de um modo imediato, sabendo ao 
mesmo tempo em que a está vivenciando. 
 Ele aprecia a exatidão na diferenciação dos sentimentos 
e das significações pessoais da sua experiência. 
 A comunicação interior dos diferentes aspectos de si 
mesmo é livre e sem bloqueios. 
 Comunica-se livremente nas relações com os outros, e 
estas relações não são estereotipadas, mas de pessoa a 
pessoa. 
 Tem consciência de si mesmo, mas não como de um 
objeto. 
 É antes uma consciência reflexiva, uma vida subjetiva da 
sua pessoa em movimento. 
 Percebe-se responsável pelos seus problemas. 
 Sente-se, além disso, plenamente responsável em 
relação à sua vida em todos os seus aspectos em 
movimento. 
 Vive plenamente em si mesmo como um processo em 
permanente mudança. 
PROBLEMAS COM O PROCESSO CONTÍNUO 
Tentemos antecipar alguns problemas que se 
poderiam levantar a propósito do processo que 
procurei descrever. 
 Será este o único processo através do qual a 
personalidade se modifica, ou será apenas uma entre 
várias modalidades de mudanças? 
 Ignoro-o. 
Talvez existam diferentes tipos de processos de 
modificação da personalidade. Apenas quis especificar 
que me parece ser este o processo que se desencadeia 
quando o indivíduo faz a experiência de ser 
plenamente aceito. 
 Aplicar-se-á isso a todas as psicoterapias, ou esse 
processo apenas se verifica numa determinada 
orientação psicoterapêutica? 
Não podemos responder a essa questão enquanto não 
tivermos mais gravações de terapias segundo outras 
orientações. 
7 FASES DO PROCESSO DE TORNAR-SE PESSOA – CARL ROGER 
 
14 
 
No entanto, a minha opinião é a de que talvez as 
abordagens terapêuticas que acentuam bastante os 
aspectos cognitivos e menos os aspectos emocionais 
da experiência possam provocar um processo de 
mudança completamente diferente. 
 Concordarão todos que se trata de um processo de 
mudança desejável, orientado para direções válidas? 
Não creio. Julgo que certas pessoas não dão valor à 
fluidez. 
Este é um dos juízos de valor social que os indivíduos e 
as culturas terão de fazer. 
O processo de mudança pode ser facilmente evitado 
pela redução ou pela eliminação das relações em que 
o indivíduo seja plenamente aceito como é. 
 Será rápida a mudança nesse contínuo? 
Minha observação leva-me a afirmar exatamente o 
contrário. Minha interpretação do estudo de Kirtner, 
que pode ser um tanto diferente da sua, é que um 
cliente pode iniciar um tratamento próximo do 
segundo estágio e terminá-lo por volta do quarto, 
ficando tanto o cliente como o terapeuta 
absolutamente satisfeitos com os progressos substaiicií 
que foram atingidos. 
Ocorre muito raramente, se é que ocorre alguma vez, 
que um cliente característico do primeiro estágio 
chegue a um ponto em que apresente as 
características do sétimo estágio. 
Se isso acontecer, serão necessários alguns anos. 
 Estarão os aspectos descritos agrupados adequadamente 
em cada estágio? 
Tenho certeza de ter cometido muitos erros na 
maneira como agrupei minhas observações. Também 
me pergunto quais os elementos importantes que 
foram omitidos. 
 Não se poderiam descrever os diversos elementos desse 
contínuo de uma forma mais sucinta? 
A todas essas questões, no entanto, poderá ser dada 
uma resposta empírica, se a hipótese que proponho 
tiver algum mérito aos olhos de um certo número de 
pes quisadores. 
RESUMO 
Tentei esboçar em traços largos, e de uma maneira 
provisória, o desenrolar de um processo de 
modificação da personalidade que ocorre quando um 
cliente sente que é aceito, bem- vindo e compreendido 
tal qual é. 
 Esse processo engloba várias linhas de força, a princípio 
separadas, mas que se tomam cada vez mais uma 
unidade à medida que o processo se desenrola. 
 Esse processo implica uma maleabilidade crescente de 
sentimentos. 
 No extremo inferior do contínuo eles são descritos como 
longínquos,impessoais e não-presentes. 
 Posteriormente são descritos como objetos presentes e 
em certa medida reivindicados pelo indivíduo. 
 A seguir são expressos como sentimentos pessoais em 
termos mais próximos da sua experiência imediata. 
 Num grau ainda mais elevado da escala são 
experimentados e expressos como imediatamente 
presentes, com um receio decrescente desse processo. 
 Nesse ponto, mesmo os sentimentos que foram 
anteriormente rejeitados da consciência começam a 
surgir, são experimentados e cada vez mais reconhecidos 
pelo indivíduo como seus. 
 No ponto superior do contínuo, no interior do processo 
da experiência, um incessante fluxo de sentimentos 
caracteriza daí cm diante o indivíduo. 
 O processo implica uma transformação das formas de 
vivenciar. 
 O contínuo começa com uma fixidez na qual o indivíduo 
está muito afastado da sua vivência e é incapaz de extrair 
ou de simbolizar a sua significação implícita. 
 A vivência é relegada para o passado, antes dc poder ser 
compreendida, e o presente é interpretado em termos 
das significações passadas. 
 O indivíduo passa desse afastamento em relação à sua 
vivência para o reconhecimento desta mesma vivência 
como de um processo perturbador que se desenrola 
dentro dele. 
 A experiência toma-se gradualmente um ponto de 
referência interior mais aceito, ao qual se pode voltar 
para obter significações cada vez mais adequadas. 
 Por último, o indivíduo torna-se capaz de viver 
livremente e de se aceitar num processo fluido de 
experiências, utilizando-as com segurança como a 
principal referência para o seu comportamento. 
 O processo implica a passagem da incongruência 
à congruência. 
 O contínuo desenrola-se a partir de um máximo de 
incongruência que é absolutamente desconhecido para o 
indivíduo, passa através de diferentes fases onde se dá 
um crescente reconhecimento das contradições e das 
discrepâncias que existem nele, para terminar numa 
experiência da incongruência imediatamente presente. 
de tal maneira que a dissolve. 
 No extremo superior do contínuo nunca se verifica mais 
do que uma incongruência temporária entre a vivência e 
a consciência, pois o indivíduo já não tem necessidade de 
se defender contra os aspectos ameaçadores da sua 
própria experiência. 
 O processo implica uma alteração na maneira como o 
indivíduo é capaz e como deseja comunicar-se num clima 
receptivo, implicando também uma extensão dessas 
capacidades. 
 O contínuo vai de uma repugnância rica e mutável da 
experiência interior que se comunica facilmente quando 
o indivíduo deseja. 
7 FASES DO PROCESSO DE TORNAR-SE PESSOA – CARL ROGER 
 
15 
 
 O processo implica uma maleabilidade crescente dos 
mapas cognitivos da experiência, 
 O cliente passa de uma experiência construída em feridas 
rígidas, percebidas como fatos externos, para um 
desenvolvimento elaborado a partir de significações mais 
fluidas da experiência, recorrendo a construções que se 
modificam a cada nova experiência. 
 Há uma alteração no relacionamento do indivíduo com 
seus problemas. 
 Numa extremidade do contínuo, os problemas não são 
reconhecidos e não há desejo de mudança. 
 Vai-se depois reconhecendo gradualmente que existem 
problemas. 
 Num estágio mais adiantado, há o reconhecimento de 
que o indivíduo contribuiu para esses problemas, que 
eles não derivam apenas de fontes exteriores. 
 Há um sentido crescente de auto-responsabilidade pelos 
problemas. 
 Em seguida, há uma vivência de alguns aspectos dos 
problemas. 
 A pessoa vive seus problemas subjetivamente, sentindo-
se responsável pela contribuição que deu no 
desenvolvimento deles. 
 Dá-se uma mudança na maneira de estabelecer relações. 
 No início do contínuo evita as relações íntimas que lhe 
parecem ameaçadoras. 
 Na outra ponta do contínuo, ele vive aberta e livremente 
na relação com o terapeuta e com os outros, orientan do 
seu comportamento na relação a partir da sua 
experiência imediata. 
 De um modo geral, o processo parte de um ponto de 
fixidez onde todos os elementos e linhas de força acima 
descritos são facilmente discerníveis e compreensíveis 
isoladamente, até o ponto culminante da terapia em 
que todas essas linhas de força convergem de modo a 
formar um todo homogêneo. 
 Nas novas vivências imediatas que ocorrem nesses 
momentos, os sentimentos e os conhecimentos 
interpenetram-se, o eu está subjetivamente presente na 
experiência, a vontade é simplesmente a seqüência de 
um equilíbrio harmonioso na direção organísmica. 
 Assim, à medida que o processo se aproxima desse 
ponto, a pessoa toma-se uma unidade em movimento, 
 O indivíduo modificou-se, mas o que parece ser mais 
significativo é o fato de ele ter se tomado um processo 
integrado de transformação. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
Vide o livro do Carl Roger – Tornar-se Pessoa.

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