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AULA 01 - EVOLUÇÃO HISTORICA DO DIREITO PENAL

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CURSO DE NIVELAMENTO DE DIREITO PENAL I 
UNICENTRO TURMA 2020.1 
PROFª JÉSSICA ALMEIDA 
 
 
 
AULA 01 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL 
 
Nesta aula iremos percorrer cada fase da evolução punitiva, cujo capítulo inicial trata do 
Direito Penal desde seus primórdios até a chegada do Período Humanitário, quando as ideias 
iluministas ganham forças e começam a interferir e influenciar o Direito Penal daquele momento. 
 Na sequência, será feita uma abordagem histórica do Direito Penal no Brasil, começando 
com a chegada dos portugueses e suas Ordenações no Período Colonial, as contribuições do 
Código Criminal do Império, bem como as do Código Penal de 1890 com a chegada da República 
Federativa do Brasil. 
 
1. Tempos Primitivos 
 
A história do Direito Penal confunde-se com a história do próprio homem, pois qualquer que 
tenha sido sua origem na Terra, seja sob a visão religiosa, seja pela visão das teorias científicas, 
o Direito Penal tem-lhe acompanhado desde então. 
Porém, nos tempos primitivos, não havia uma noção de Direito Penal revestido das 
características de justiça, reabilitação ou reeducação do indivíduo como temos hoje, afinal o 
objetivo da punição naquela época era tão somente a vingança. 
Ainda assim, já havia regras de convívio social naquele período, e consequentemente, 
Direito Penal, daí por se dizer ser o Direito Penal o ramo mais antigo do Direito, ou seja, quando 
o corpo social ainda era bastante primitivo já se podia observar a reação do homem a qualquer 
forma de agressão sofrida, como pode ser observada nos clãs e nas tribos primitivas. 
A esse propósito diz o doutrinador: 
A história do Direito Penal se perde nas brumas do tempo. Como 
preleciona E. Magalhães Noronha, ‘a história do Direito Penal é a história 
da humanidade’. Eis a razão para dizermos que o Direito Penal é o ramo 
mais antigo do Direito, pois desde o alvorecer da humanidade o homem 
vem reagindo contra qualquer forma de agressão. A reação penal já era 
encontrada nos clãs e nas tribos primitivas, pois o homem sempre 
possuiu um forte espírito de justiça. (SILVA, 1996, p. 35) 
Nos grupos sociais daquela época havia um ambiente envolto em magia e religiosidade 
que acabavam por tornar as punições, de cunho religioso e muitas vezes de caráter divino, 
severas e desproporcionais ao delito cometido. 
Os fenômenos naturais como a peste, a seca e todos os outros que traziam prejuízos 
eram tidos como castigos divinos em decorrência dos fatos impuros praticados pelo homem e 
que, por isso, deveriam ser reparados. 
Segundo Mirabete (2008) foi desta forma que surgiram as proibições (religiosas, sociais 
e políticas), conhecidas por “tabu” que não obedecidas geravam castigos e se utilizava para 
aplacar a ira dos deuses. Tal desobediência tabu, ou como também é chamada, infração totêmica 
levou ao surgimento do que chamamos hoje de crimes e penas. 
O castigo para os desobedientes era corporal ou de cunho material e eram oferecidos 
aos deuses, conforme se pode inferir de MIRABETE (2008, p. 16) “O castigo infligido era o 
sacrifício da própria vida do transgressor ou a oferenda por estes de objetos valiosos (animais, 
peles e frutas) à divindade, no altar montado em sua honra”. 
 
1.2 Fases da Vingança Penal 
 
Dentro deste contexto místico, várias foram as fases de evolução da vingança penal e, 
apesar de não se apresentarem de forma sistematizada, vez que essas etapas sofreram 
influências diversas, normalmente de cunho religioso, didaticamente se aceita a divisão destas 
fases em: fase da vingança privada, fase da vingança divina e fase da vingança pública. 
 
1.2.1 Fase da Vingança Privada 
 
Nesta fase, o homem agredido reagia contra a atitude de seu agressor. Para Silva (1996) 
quando uma pessoa sofria uma agressão, ela própria exercia o direito de vingança, que também 
poderia partir de seus parentes e até mesmo do grupo social (tribo) da qual faziam parte. 
Deste modo, sempre ou quase sempre a vingança despendida era desproporcional e 
injusta, pois muitas vezes ultrapassava a pessoa do agressor, atingindo seus familiares ou, como 
resposta a uma agressão leve o agredido tirava a vida de seu agressor. 
Com o passar dos tempos e com a evolução social, surge a primeira conquista em relação 
às repressões penais, é o momento do Talião. “Termo derivado do latim ‘talius’ significa desforra 
igual à ofensa”. (SILVA, 1996, p. 36). 
E continua: 
Nem sempre a vingança retribuía à agressão sofrida; na maior parte das 
vezes, senão em sua totalidade, ocorria uma desproporção entre a 
conduta criminosa e a resposta do agredido. Como resposta a um tapa, 
às vezes o agredido tirava a vida de seu agressor. Temos aí uma 
flagrante desproporção entre a agressão e a retorsão. O revide à 
agressão sofrida deveria ser fatal, não havendo qualquer preocupação 
com a proporcionalidade, nem mesmo com a verdadeira justiça. A 
primeira conquista no terreno repressivo, com relação à pena, foi o talião. 
(SILVA, 1996, p. 36) 
Se ainda parece severo demais (olho por olho, dente por dente), pelo menos já havia uma 
preocupação com a proporcionalidade, devendo-se, portanto, entender esse período como de 
grande avanço para aquela época. Sendo, também, adotado pelo Código de Hamurabi, século 
XXIII a. C., na Babilônia, Código de Manu, na Índia, Lei das Doze Tábuas, em Roma, dentre 
outros de igual aplicação. 
Logo depois, surge a primeira manifestação de humanização do Direito Penal com a 
chamada composição, cujo sistema era a substituição da pena aflitiva e física por uma 
indenização ou mesmo por uma prestação de serviço ao ofendido ou a sua família. 
Neste sentido, dispõe MIRABETE (2008, p. 17): “Posteriormente, surge a composição, 
sistema pelo qual o ofensor se livrava do castigo com a compra de sua liberdade (pagamento 
em moeda, gado, armas etc.)”. 
Ainda sobre este assunto temos: 
Agora, a humanização do Direito Penal começou com a composição, 
quando ocorreu a substituição da pena aflitiva e física, por uma 
indenização, ou pena pecuniária (patrimonial), ou mesmo por uma 
prestação de serviço do criminoso ao ofendido, ou sua família. A 
composição, [...] é a substituição de uma pena corporal aflitiva, por uma 
pena pecuniária ou patrimonial. Hodiernamente, como ocorre no sistema 
penal brasileiro, temos como exemplo, a prestação de serviços à 
comunidade, ou as penas restritivas de direitos, onde o agente deixa de 
cumprir a pena de enclausuramento para ter uma restrição de direitos, 
compondo assim, com o Estado-Juiz, de forma retributiva e preventiva, a 
satisfação pelo dano causado ao ente social. (SILVA, 1996, p. 40) 
 
1.2.2 Fase da Vingança Divina 
 
Nesta época, o delito era visto como um atentado a ordem religiosa. É a fase teocrática do 
Direito Penal, que também pode ser chamado de sacerdotal ou religioso, pois o crime é 
confundido com o pecado, e a punição, por consequência, deveria ser rigorosa, pois forma de 
desagravo do deus ofendido. 
Sendo assim, conforme Mirabete (2008), a interpretação das leis e o castigo cabiam aos 
sacerdotes, que eram os representantes de Deus na Terra. Sendo tal procedimento, adotado por 
vários países, dentre eles: Judéia, China, Pérsia e Babilônia. 
Sobre esse contexto vejamos o que diz a doutrina: 
A fase da vingança divina deve-se a influência decisiva da religião na vida 
dos povos antigos. O Direito Penal impregnou-se de sentido místico 
desde seus primórdios, já que se devia reprimir o crime como satisfação 
aos deuses pela ofensa praticada no grupo social. O castigo, ou oferenda, 
por delegação divina era aplicado pelos sacerdotes que infligiam penas 
severas, cruéis e desumanas, visando especialmente à intimidação. 
(MIRABETE, 2008, p. 17) 
Deste modo, percebe-se que as grandes religiões do Oriente foram decisivas para a 
história do Direito Penal, deixando, com isso, muitas de suas características impregnadas na 
LegislaçãoPenal ao longo dos tempos. 
 
1.2.3 Fase da Vingança Pública 
 
Pode-se dizer que neste período o Direito Penal já havia alcançado um estágio avançado 
em relação às punições, pois apesar de ainda ser uma vingança imposta ao malfeitor e com 
penas ainda cruéis e desumanas, pelo menos passou a ser exercida pelo soberano, 
demonstrando, com isso, maior organização social. 
Para Mirabete (2008), essa era uma forma de proteção ao príncipe ou soberano, dando maior 
estabilidade ao Estado. Porém, ainda bastante ligado ao sentido religioso, onde o rei respondia 
em nome de Deus, sendo seu intérprete e mandatário. 
Por este motivo, ao rei era dado muito poder, suas palavras tinham força de Lei e sua 
vontade se impunha acima de tudo e de todos, cometendo inúmeros erros e injustiças. 
Neste sentido, assevera SILVA (1996, p.43): “Na Grécia, o direito e o poder emanavam 
de Júpiter, o criador e protetor do universo. Dele provinha o poder dos reis, e em seu nome se 
procedia ao julgamento do litígio e a imposição do castigo.” 
 
2. IDADE ANTIGA 
2.1 Direito Penal Romano 
 
Indubitavelmente, o Direito Penal Romano deixou um grande legado de contribuições para o 
Direito Penal que temos hoje, pois bem cedo, com a implantação da República em 509 a.C., 
ocorreu a dissociação entre o religioso e o laico. 
Além disso, muitos outros institutos nos foram legados pelo Direito Penal Romano, dentre 
eles podemos destacar a tentativa e a distinção entre dolo e culpa. 
Aqui houve a separação entre a religião e o Estado, possibilitando, mais tarde, a afirmação do 
caráter público da pena, apesar de, o Direito Penal Público Romano, só ter surgido por volta de 
500 a. C., com a Lex Valéria. 
No que diz respeito à função da pena, apesar da grande variedade disponível, ainda 
prevalecem as de caráter retributivo e intimidativo. Senão vejamos: 
 
É corrente a afirmação de que o Direito Penal Público romano inicia-se 
com a Lex Valéria (509 a.C.), que submeteu ao requisito da confirmação 
popular (indicium populi) as sentenças condenatórias à pena capital 
prolatada por magistrados contra cidadãos romanos que recorressem à 
provocatio ad populum. (PRADO, 2007, p. 68) 
Apesar de os romanos não terem sistematizado os institutos penais, não estabelecendo 
funções às penas, que são de variadas espécies, puderam reconhecer o nexo de causalidade, o 
dolo, a culpa, o caso fortuito, a imputabilidade na menoridade e insanidade mental, legítima 
defesa, crime tentado, co-autoria e participação. 
Não davam conceitos nem definições e não enquadravam os crimes em categorias. 
Porém, não se pode negar que o Direito Penal Romano é um verdadeiro exemplo de progresso 
e evolução para aquela época. 
 
3. IDADE MÉDIA 
3.1 Direito Penal Germânico 
 
Segundo Mirabete (2008), o Direito Penal Germânico, assim como o Direito Penal 
Romano, também não possuía Código penal, ou seja, não era composto de leis escritas, afinal 
era um direito consuetudinário, sendo constituído apenas pelo costume. 
Tendo sofrido a influência dos povos bárbaros, os germânicos não possuíam os princípios 
do cristianismo, que havia se alastrado por todos os povos ocidentais. Sendo, portanto, um direito 
caracterizado pela vingança privada. 
Desprezavam o caráter subjetivo da conduta e não puniam a tentativa, tendo como 
principal característica o objetivismo. O que importa é o elemento objetivo, isto é, o resultado 
causado com aquela ação. 
Ou seja, para os germânicos não havia diferença em matar por legítima defesa ou de forma 
culposa, era o mesmo que matar dolosamente, pois entendiam que o dano era igual em ambos 
os casos. 
Somente, em etapas mais avançadas, com o processo de conversão dos germanos ao 
cristianismo e com o fortalecimento do poder estatal, o caráter vingativo das punições foi sendo 
substituído, de forma gradativa, pela composição. No princípio, uma composição voluntária e, 
mais tarde, tornando-se obrigatória. 
Não se pode deixar de falar, ainda, em relação ao processo criminal que vigorava no Direito 
Germânico, qual seja as Ordálias que significam, literalmente, “Juízos de Deus”. 
Sua aplicação se dava através do sacerdote que representava a divindade ofendida. 
Tendo como consequência as provas impostas que caracterizavam a inocência, caso fosse 
favorável, ou a culpa, se do contrário fosse desfavorável ao sentenciado. 
Tais provas podem ser exemplificadas como no caso da ordália do veneno, onde o 
acusado era obrigado a ingerir veneno e por três dias ficar em observação para que se 
averiguasse o seu estado. 
Se permanecesse em estado normal, sem qualquer alteração, deveria ser considerado 
inocente. Do contrário, o veneno seria a própria sentença e punição. 
Muitos outros exemplos desta natureza vigoraram no Direito Penal Germânico. Além disso, havia 
os duelos judiciários, que era uma forma de decidirem os litígios, em embates pessoais ou por 
lutadores profissionais. 
Neste sentido, preleciona MIRABETE (2008, p. 18): 
O Direito Penal germânico primitivo não era composto de leis escritas, mas 
constituído apenas pelo costume. Ditado por características acentuadamente 
de vingança privada, estava ele sujeito à reação indiscriminada e à 
composição. Só muito mais tarde foi aplicado o talião por influência do Direito 
Romano e do cristianismo. Outra característica do direito bárbaro foi a ausência 
de distinção entre dolo, culpa e caso fortuito, determinando-se a punição do 
autor do fato sempre em relação ao dano por ele causado e não de acordo com 
o aspecto subjetivo de seu ato. No processo, vigoravam as ‘ordálias’ ou ‘juízos 
de Deus’ (prova de água fervente, de ferro em brasa etc.) e os duelos 
judiciários, com os quais se decidiam os litígios, ‘pessoalmente ou através de 
lutadores profissionais’. 
 
4. IDADE MODERNA 
4.1 Período Humanitário 
 
Tendo como concepção filosófica a ampliação do domínio da razão para todas as áreas do 
conhecimento humano, o Iluminismo se traduz por uma corrente de ideias e atitudes que 
objetivam difundir o uso desta razão em detrimento do até então vigente domínio religioso nas 
ações do Estado. 
O século das luzes (século XVIII), como é chamado, surgiu de forma humanitária com o intuito 
de reformar as condições de vida da sociedade que sofria com o domínio da religião e do 
absolutismo do poder público, cujos interesses entre ambos se confundiam, gerando um Direito 
causador de desigualdades, excessivamente rigoroso, arbitrário e cruel. 
Senão, vejamos: 
Na filosofia penal iluminista, o problema punitivo estava completamente 
desvinculado das preocupações éticas e religiosas; o delito encontrava 
sua razão de ser no contrato social violado e a pena era concebida 
somente como medida preventiva. (PRADO, 2007, p. 78) 
Neste período, marcado pelas ideias de mudanças e reformas do Iluminismo surge o 
Período Humanitário do Direito Penal, o qual tem na figura de Cesare Bonessana, Marquês de 
Beccaria, em sua obra Dos Delitos e das Penas o marco inicial na arte de combater os excessos 
da opressão e barbárie gerados pela prática da torturas decorrentes das punições aplicadas aos 
condenados daquela época. 
Não sendo totalmente original, pois inspirado nas concepções de Montesquieu, 
Rousseau, Locke dentre outros, Cesare Beccaria, ainda assim teve o mérito de iniciar uma 
ferrenha campanha contra as arbitrariedades de seu tempo, sendo, pois, o pioneiro nesta luta 
em prol dos direitos humanos, tendo, até mesmo, ideias suas traduzidas e adotadas na 
Declaração dos Direitos do Homem, da Revolução Francesa, conforme se infere da afirmação: 
...coube a Beccaria a honra inexcedível de haver sido o primeiro que se 
empenhara em uma luta ingente e famosa, que iniciara uma campanha 
inteligente e sistemática contra a maneira iníqua e desumana por que, 
naqueles tempos de opressão e barbária, se tratavam os acusados, 
muitas vezes inocentes e vítimas sempre da ignorância eperversidade 
dos seus julgadores. Ao seu espírito, altamente humanitário, repugnavam 
os crudelíssimos suplícios que se inventavam como meios de punição ou 
de mera investigação da verdade, em que, não raro, supostos criminosos 
passavam por todos os transes amargurados de um sofrimento atroz e 
horrorizante, em uma longa agonia, sem tréguas e lentamente assassina. 
Ele, nobre e marquês, ao invés de escutar as conveniências do egoísmo, 
de sufocar a consciência nos gozos tranquilos de uma existência fidalga, 
[...] ergueu a sua voz, fortalecida por um grande espírito saturado de 
ideias generosas, em defesa dos mais legítimos direitos dos cidadãos [...] 
(ARAGÃO, 1955, p. 35) apud (GRECO, 2006, p. 522) 
 
Seu pequeno-grande livro, como foi chamado, com ideias que se pautavam nos 
postulados fundamentais do Direito Penal moderno, período que marca seu surgimento, formava 
um verdadeiro breviário de política criminal que observava a legalidade penal, estrita 
necessidade das incriminações e uma aplicação da pena utilitária. 
Beccaria pregava que a pena não devia ser uma violência de um ou de muitos contra 
outro cidadão, devendo ser essencialmente pública, eficaz, necessária, aplicada com presteza, 
a mínima das possíveis, proporcional aos crimes e ditadas por uma lei necessariamente clara. 
Devendo ser, ainda, abolidas a tortura e a pena de morte. 
Com isso, seus postulados serviram de inspiração para o desenvolvimento de uma ampla 
mudança legislativa e importantes construções científicas que prenunciavam uma orientação 
penal denominada clássica. 
 
 
5. O DIREITO PENAL NO BRASIL 
5.1 Código Criminal do Império 
 
Primeiro código autônomo da América Latina entrou em vigor no dia 16 de 
dezembro de 1830 quando foi sancionado pelo imperador D. Pedro I. Recebeu o nome 
de Código Criminal do Império do Brasil e trouxe grandes inovações, como por exemplo, 
o esboço do sistema de dias-multa para a sanção pecuniária, pela primeira vez. 
Seu texto fundava-se nas ideias de grandes pensadores como Bentham, 
Beccaria e Mello Freire, bem como nos já existentes códigos da França, Baviera, 
Napolitano e de Louisiana, porém não se filiava a nenhum deles e se mostrou original 
em vários pontos, pois tentou melhorar e amenizar os erros dos ordenamentos 
antecedentes. 
Nosso primeiro Código Penal exerceu influência além de nossas fronteiras, pois 
foi estudado por vários juristas de Nações vizinhas, provocando inspiração para a 
elaboração de vários Códigos. 
Sobre esta passagem temos: 
O nosso primeiro Código Penal exerceu particular 
influência no Código espanhol de 1848 e no Código Português de 
1852, sendo que, através do primeiro, sobre a legislação penal 
latino-americana. A seu respeito afirmou-se: ‘Este Código brasileiro 
(...). Para a sua época continha grandes progressos...’. (PRADO, 
2007, p. 119). 
Em relação às penas, em seu artigo 33 fixava a regra geral de aplicação: 
“nenhum crime será punido com penas que não estejam estabelecidas nas Leis, nem 
com mais ou menos daquelas que estiverem decretadas para punir o crime no gráo 
máximo, médio ou mínimo, salvo ao caso em que aos Juízes se permitir arbítrio”. 
Todavia, apesar dos avanços ainda continha enormes deficiências, haja vista 
ainda existirem penas cruéis e possuir vários vícios e erros. Sendo que não reconhecia 
a modalidade culposa para os delitos e fazia discriminações na aplicação das punições, 
em que temos, por exemplo, a pena de açoite que era aplicada somente aos escravos. 
Infere-se este entendimento da afirmação: 
Mas, como toda legislação, esse Código possuía vícios e 
erros, como o não reconhecimento da modalidade culposa para os 
crimes; havia uma discriminação entre os criminosos, quando se 
tratava de um escravo ou de um senhor, aplicava penas de açoites, 
galés e morte, com uma diferenciação, o açoite somente se 
aplicava aos escravos. (SILVA, 1996, p. 62). 
E ainda: 
No que tange à pena [...] cominando, entre outras, as 
seguintes: pena de morte (art. 38); galés (art. 45); banimento (art. 
50); degredo (art. 51); desterro (art. 52); multa (art. 55); suspensão 
de emprego (art. 58); perda de emprego (art. 59); açoites (art. 60). 
Dispunha, também, sobre a imprescritibilidade das penas (art. 65); 
o perdão, concedido pelo imperador (art. 66); e o perdão do 
ofendido (art. 67). (PRADO, 2007, p. 118). 
Somente no ano de 1871 foi promulgada a Lei dos delitos culposos e, já se 
avizinhando um novo período da história seus dias estavam contados, pois muito em 
breve viria a tão sonhada Proclamação da República Federativa do Brasil. 
 
5.2 Período Republicano 
 
No dia 15 de novembro de 1889 foi proclamada a República no Brasil e, junto 
com ela nasceu mais uma legislação penal que já nascia defeituosa, pois aos 11 dias do 
mês de outubro de 1890 passa a vigorar no Brasil o Código Penal da República, 
elaborado de forma apressada e antes da Constituição Federal de 1891. 
Como não poderia deixar de ser, foi alvo de severas críticas, pois apresentava 
graves defeitos técnicos e não apresentava os avanços doutrinários decorrentes do 
Positivismo, tornando-se atrasado para a época. 
Ainda assim, trouxe alguns grandes avanços nas punições, pois aboliu a pena 
de morte e de açoites, bem como se preocupou com a humanização das penas. Mas 
não foi suficiente para se manter, pois possuía uma enorme impropriedade gramatical, 
era prolixo, arcaico e gerava interpretação dúbia. 
Por esses motivos vários dispositivos sofreram alterações no sentido de se 
consertar as falhas de impropriedade textual, ficando completamente modificado por 
diversas Leis extravagantes no intuito de tentar adequá-lo às necessidades existentes. 
Foi então que surgiu em 1932 a Consolidação das Leis Penais organizadas por Vicente 
Piragibe numa tentativa de reorganizar o Código. 
Com este entendimento corrobora a doutrina: 
Com a proclamação da República, foi editado em 11-10-
1890 o novo estatuto básico, agora com a denominação de Código 
Penal. Logo, foi ele alvo de duras críticas pelas falhas que 
apresentava e que decorriam, evidentemente, da pressa com que 
fora elaborado. Aboliu-se a pena de morte e instalou-se o regime 
penitenciário de caráter correcional, o que constituía um avanço na 
legislação penal. Entretanto, o Código era mal sistematizado e, por 
isso, foi modificado por inúmeras leis até que, dada a confusão 
estabelecida pelos novos diplomas legais, foram todas reunidas na 
Consolidação das leis Penais, pelo Decreto nº 22.213, de 14-12-
1932. (MIRABETE, 2008, p. 25) 
Neste contexto histórico, vários projetos de Código Penal foram apresentados 
por diversos juristas sem lograr êxito, tendo sido aprovado, somente mais tarde, o projeto 
de autoria de Alcântara Machado que se tornou o Decreto-lei nº 2.848, de 07-12-1940, 
cuja aplicação se encontra vigente, com algumas alterações, em especial a reforma da 
parte geral, até os dias atuais. 
O sucesso de sua duração se deve ao fato de ser uma legislação eclética, que 
soube aproveitar os postulados das escolas Clássica e Positiva no que havia de melhor 
em cada uma delas, bem como se orientou pelas legislações modernas de orientação 
liberal contidas nos códigos italiano e suíço. 
Em 1969 tentou-se substituir o Código Penal por um de autoria de Nelson 
Hungria, porém, não chegou a entrar em vigor, pois foi bastante criticado pelos critérios 
de inspiração rigorista que predominavam em toda a obra. 
O autor propunha uma lei mais severa, como no caso do tempo máximo da pena 
de reclusão em que era elevada para 40 anos; limitava o poder discricionário do juiz na 
aplicação das agravantes e atenuantes e elevava as penas cominadas a diversos crimes 
na Parte Especial. 
Por tal motivo foi modificado substancialmente pela Lei nº 6.016, de 31-12-1973. 
Ainda assim, sofreu a maior vacatio legis que se tem notícia, e após vários adiamentos 
da data em que passaria a viger foi revogado em1978, nove anos depois, pelo então 
Presidente da República, General Ernesto Geisel. 
 
5.2.1 A nova Parte Geral do Código Penal e a reforma do sistema prisional (Lei nº 
7.209 de 1984) 
 
Em 1980 decidiu-se, mais uma vez, após o insucesso das tentativas anteriores, 
reformular a Parte Geral do Código Penal, buscando viabilizar a imediata remodelação 
do sistema prisional brasileiro. Assim, apesar de ter adotado o mesmo sistema houve 
inúmeras alterações, principalmente na parte relativa às penas. 
Tal reforma baseou-se em princípios liberais e humanistas e buscou assegurar 
a dignidade do delinquente enquanto ser humano que é, procurando dar mais 
importância aos crimes mais graves, criando medidas penais alternativas para os crimes 
de pequena relevância. Tudo isso com a finalidade de evitar o encarceramento de seus 
agentes por um curto período de tempo. 
Com o objetivo de reformulação do elenco tradicional das penas e apoiados no 
princípio de nullum crimen sine culpa (não há crime sem culpa) a comissão instituída 
para elaboração do anteprojeto de lei de reforma da Parte Geral do Código Penal de 
1940 teve como membros Francisco Serrano Neves, Miguel Reale Junior, Renê Ariel 
Dotti, Ricardo Antunes Andreucci, Rogério Lauria Tucci e Hélio Fonseca, capitaneada 
por Francisco de Assis Toledo. 
Em relação às penas, a Lei 7.209 de 1984 (Lei alteradora da Parte Geral do 
Código Penal) fez introduzir grandes modificações. Como por exemplo, propôs que no 
sistema repressivo passasse a constituir as seguintes espécies de pena: privativas de 
liberdade, restritivas de direitos e patrimoniais. 
Para as penas privativas de liberdade instituiu a forma progressiva, cujo 
cumprimento deve iniciar no regime fechado quando a pena for superior a oito anos ou 
se tratar de apenado reincidente. 
Quando, do contrário, o apenado não for reincidente e a pena for superior a 
quatro anos deverá ser cumprido em regime inicial semi-aberto e, abaixo de quatro anos 
poderá iniciar em regime aberto. 
Sendo, ainda, considerado direito subjetivo do preso que deve ser observado 
pelo magistrado na aplicação da pena, quando o juiz é obrigado a determinar o regime 
inicial de cumprimento, observados os requisitos legais. 
Em relação às penas restritivas de direito, estas são aplicadas para o réu cuja 
pena máxima privativa de liberdade, cominada para o crime cometido seja inferior a um 
ano ou se o crime for culposo. 
Exige, ainda, que o réu não seja reincidente e que a culpabilidade, os 
antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como, os motivos 
e as circunstâncias do crime indicarem que esta substituição seja suficiente. 
Por fim, nas penas patrimoniais criou-se o instituto da multa, que consiste em 
pagamento ao fundo penitenciário de quantia fixada na sentença e calculada em dias-
multa, não podendo incidir sobre os recursos indispensáveis ao sustento do condenado 
e de sua família. Tal pena pode ser aplicada isolada ou cumulativamente com outra 
privativa de liberdade.

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