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AASS PPRROOFFEECCIIAASS DDOO TTEEMMPPOO DDOO FFIIMM Hans K. LaRondelle Hans K. LaRondelle Dr. em Teologia Professor emérito de Teologia As Profecias do Tempo do Fim 2 O SERMÃO PROFÉTICO DE JESUS: MATEUS 24 A PROFECIA DE PAULO: 2 TESSALONICENSES 2 O APOCALIPSE DE JOÃO Título do original em inglês (5ª edição inglesa, 1997) How to Understand The End-Time Prophecies of the Bible FIRST IMPRESSIONS Miami Beach, Florida, E.U.A., 1997 Tradução: Carlos Biagini "O Dr. LaRondelle fez uma contribuição extremamente importante para nossa compreensão da profecia bíblica". Dr. George R. Knight, professor de História Eclesiástica no Seminário Teológico de Universidade Andrews. "Este livro faz uma contribuição fundamental a uma necessidade absolutamente crucial em todas as igrejas cristãs: A necessidade de não só interpretar a Bíblia, mas também a de entender corretamente sua mensagem apocalíptica e escatológica. Este é um livro bem a tempo". Wilmore D. Eva, diretor da revista Ministry. "LaRondelle tira o apocalíptico do reino da fantasia e especulação que caracteriza as apresentações de tantos que nos deslumbram mas que não nos alimentam. O enfoque do LaRondelle leva a uma fé mais amadurecida em Cristo. Isto é erudição cristã, responsável e equilibrada da melhor classe". Charles E. Bradford, presidente aposentado da Divisão Norte-americana da igreja adventista. Hans K. LaRondelle é professor emérito de Teologia no Seminário Teológico da Universidade Andrews, em Berrien Springs, Michigan, Estados Unidos. Serve nos Países Baixos como pastor evangelista e professor durante 14 anos, e na Universidade Andrews como professor de teologia durante 25 anos. Recebeu seu título doutoral em Teologia Sistemática e Ética do distinto teólogo holandês G. C. Berkouer na Reformed Free University [Universidade Livre Reformada], em Amsterdã, em 1971. É o autor dos livros Perfection and Perfectionism [Perfeição e Perfeccionismo], Christ Our Salvation [Cristo nossa salvação], Deliverance in the Psalms [Libertação nos Salmos], Chariots of Salvation [Carruagens de Salvação], The Israel of God in Prophecy [O Israel de Deus na profecia] e The Good News About Armageddon [Boas Novas Sobre o Armagedom]. Também é co-autor nos livros A Symposium on Biblical Hermeneutics [Um Simpósio Sobre Hermenêutica Bíblica] (editado pelo G. M. Hyde), Symposium on Revelation, Book II [Simpósio Sobre o Apocalipse, Livro II] (editado por F. B. Holbrook) e The Sabbath in Scripture and History [O Sábado na Escritura e na História] (editado por K. A. Strand). As Profecias do Tempo do Fim 3 CONTEÚDO Prólogo . ...........................................................................................7 Introdução geral.................................................................................9 Chave de abreviaturas ....................................................................11 Agradecimentos..............................................................................14 PRIMEIRA PARTE: A PROFECIA BÍBLICA 1. A esperança apocalíptica dos judeus do século I.........................15 2. A distinção entre profecia clássica e profecia apocalíptica….....21 Profecia clássica .....................................................................21 Profecia apocalíptica ..............................................................25 Resumo ...................................................................................28 3. A aplicação que Cristo fez da Bíblia Hebraica............................30 Jesus e a Palavra de Deus .......................................................30 A nova revelação de Jesus o Messias......................................33 Cristo, o representante do novo Israel.....................................34 4. Como Cristo empregou os símbolos apocalípticos ....................38 5. A interpretação que os apóstolos fizeram do cumprimento da profecia..................................................45 A unidade orgânica dos cumprimentos cristológicos e eclesiológicos ................................................................47 O princípio de universalização das promessas territoriais feitas a Israel....................................................49 O inadequado da hermenêutica do literalismo........................51 SEGUNDA PARTE: MATEUS E TESSALONICENSES 6. A compreensão de Cristo das profecias do Daniel......................54 A estrutura cronológica do discurso profético de Jesus em Marcos 13....................................................................59 A aplicação que Cristo fez da tipologia .................................61 Cristo, a chave para entender a profecia ................................63 O anticristo abominável..........................................................65 O anticristo pós-apostólico .....................................................69 O estilo apocalíptico de Mateus 24 ........................................70 A ênfase de Lucas sobre o curso da história...........................71 As Profecias do Tempo do Fim 4 A teologia de Cristo sobre os sinais cósmicos........................74 A universalização que Cristo fez das profecias do tempo do fim ...............................................................78 Resumo ...................................................................................79 FONTES BIBLIOGRÁFICAS DO CAPÍTULO 6.......................82 7. A compreensão de Paulo das profecias de Daniel.......................85 O enfoque contínuo-histórico em Daniel ...............................86 Paralelos entre os esboços apocalípticos de Jesus e Paulo............88 A ênfase de Paulo sobre a apostasia religiosa.........................90 Como Paulo emprega a frase "o templo de Deus"..................92 Como Paulo emprega os tipos de adoração falsa no Antigo Testamento.......................................................94 A aplicação que Paulo faz do antimessias predito por Daniel....96 O momento histórico exato do anticristo segundo Paulo........98 O anticristo de Paulo como uma paródia de Cristo...............100 O mistério da iniqüidade.......................................................102 O ato que coroará o drama do engano...................................104 Resumo..................................................................................105 FONTES BIBLIOGRÁFICAS DO CAPÍTULO 7.....................107 TERCEIRA PARTE: O APOCALIPSE 8. Introdução ao Apocalipse..........................................................109 9. O propósito do Apocalipse........................................................114 10. Chaves interpretativas dentro do Apocalipse............................120 11. A composição literária do Apocalipse.......................................129 FONTES BIBLIOGRÁFICAS DO CAPÍTULO 11................................140 12. A visão do trono do Criador: Apoc. 4.......................................141 13. A entronização do Cordeiro de Deus: Apoc. 5..........................147 FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 4 E 5......................153 14. Compreendendo os sete selos: Apoc. 6.....................................153 FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 6..........................182 15. Segurança de libertação no tempo do fim: Apoc. 7..................184 FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 7..........................202 16. Compreendendo as trombetas em seus contextos: Apoc. 8 e 9................................................................................204 17. Uma aplicação histórica das trombetas.....................................225 FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA ENTENDER AS TROMBETAS EM SEUS CONTEXTOS............................................245 18. O refletor profético sobre opovo de Deus do tempo do fim: Apoc. 10............................................................247 FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 10........................264 As Profecias do Tempo do Fim 5 19. A missão profética das testemunhas de Deus: Apoc. 11....................................................................................266 FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 11…......................296 20. Compreendendo os "1.260 dias" em Apocalipse 11-13 ...........299 FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA ENTENDER OS "1.260 DIAS"......326 21. A mensagem do tempo do fim na perspectiva histórica: Apoc. 12-14...............................................................................331 22. O conflito final de lealdade do tempo do fim: Apoc. 13...........366 23. Identificando o anticristo...........................................................393 24. Os últimos companheiros do Cordeiro: Apoc. 14:1-5...............403 25. A mensagem do primeiro anjo: Apoc. 14:6, 7..........................412 26. A mensagem do segundo anjo: Apoc. 14:8...............................429 27. A mensagem do terceiro anjo: Apoc. 14:9-12...........................437 28. A dupla ceifa da terra: Apoc. 14:14-20.....................................450 FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 12-14....................458 29. O significado das sete últimas pragas: Apoc. 15 e 16...............467 FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 15 E 16.................489 30. A sétima praga: A retribuição de Babilônia: Apoc. 17.............492 31. O significado do veredicto de Deus sobre Babilônia: Apoc. 18 ...................................................................................520 FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 17 E 18.................540 32. Compreendendo o milênio: Apoc. 19 e 20................................544 FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA ENTENDER O MILÊNIO.............576 33. O significado da Nova Jerusalém: Apoc. 21 e 22 ....................581 FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 21 E 22.................603 Epílogo…………………………………………….…………..….606 APÊNDICES A. Relação do dom de profecia do tempo do fim com a Bíblia......................................................................609 B. Alguns textos problemáticos com respeito à Nova Terra........................................................................618 As Profecias do Tempo do Fim 6 PRÓLOGO O propósito deste estudo da profecia bíblica é singelo: É meu testemunho como professor de Teologia, alguém que ensinou Escatologia Bíblica e Interpretação Apocalíptica por mais de 25 anos no Seminário Teológico da Universidade Andrews (em Berrien Springs, Michigan, Estados Unidos) e em seminários de extensão ao redor do mundo. Este livro é o resultado de meus contínuos esforços por aprender com o passar do tempo. O presente estudo não é um tratamento exaustivo de cada profecia de longo alcance da Sagrada Escritura. Os capítulos problemáticos do Daniel 8-12 constituem uma estudo à parte, e estão além do alcance deste livro. Os eruditos bíblicos adventistas estudaram recentemente estes capítulos apocalípticos no livro do Daniel. Os resultados de seus estudos podem encontrar-se nos livros The Sanctuary and the Atonement, Biblical Historical, and Theological Studies [O Santuário e a Expiação: Estudos Bíblicos, Teológicos e Históricos] (A. V. Wallenkampf e W. R. Lesher, eds., Biblical Research Committee [Comissão de Investigação Bíblica]; Washington DC: Review and Herald, 1981), Symposium on Daniel [Simpósio Sobre Daniel] (Frank B. Holbrook, ed., Biblical Research Institute [Instituto de Investigação Bíblica]; Hagerstown, Maryland: Review and Herald, 1986), e no número de "Daniel" da Journal of the Adventist Theological Society [Revista da Sociedade Teológica Adventista] (T. 7, N.° 1, 1996). O tema central da presente obra é o discurso profético de Jesus em Mateus 24 (e seus capítulos paralelos no Marcos e Lucas), o esboço apocalíptico de Paulo em 2 Tessalonicenses 2, e Apocalipse de João. Estou convencido de que a interpretação contínuo-histórica das grandes séries apocalípticas proporciona o método mais adequado para a desafiante tarefa de compreender a perspectiva bíblica do tempo do fim. Isto requer uma comprovação cuidadosa das tradicionais aplicações historicistas à história da igreja, de modo que possamos aprender dos enganos do passado. Nosso enfoque é primariamente a exegese contextual-bíblica de cada passagem apocalíptica antes que se possa extrair qualquer aplicação histórica. Por um lado, a redação deste livro reflete o estilo de minhas classes com os estudantes de Teologia, como também com o dos encontros com pastores e leigos nos seminários bíblicos. E, por outro lado, tem a intenção de beneficiar a todos os estudantes sinceros da Bíblia que desejam investigar esta parte importante e desafiante das Escrituras, As Profecias do Tempo do Fim 7 INTRODUÇÃO GERAL O propósito deste livro é ajudar ao leitor a compreender melhor o plano de Deus para a redenção do planeta Terra. A Sagrada Escritura dá a conhecer o significado do plano de Deus até que alcance sua revelação total e completa no último livro da Bíblia, o Apocalipse, que é "a revelação do Jesus Cristo" (Apoc. 1:1). O Apocalipse é reconhecido como o mais destacado e um resumo de todas as profecias anteriores; isto sugere sua profunda unidade espiritual com os outros livros da Bíblia. Portanto, requer-se um conhecimento básico de toda a Escritura antes de poder obter uma revelação mais profunda do Apocalipse. O Apocalipse adota seus símbolos, imagens e termos principalmente do Antigo Testamento, por isso estes não podem ser compreendidos se forem isolados de suas raízes hebraicas. Posto assim, para ler o Apocalipse dentro de seu amplo contexto bíblico se requer que nos familiarizemos com as Escrituras Hebraicas, com sua forma de falar e com sua linguagem profética. Além disso, também é de proveito a interpretação que fazem da profecia os rabinos do judaísmo posterior. Este antecedente revela a surpreendente novidade da mensagem evangélica, tal como a apresentaram Jesus e os escritores do Novo Testamento. Nosso exemplo autoritativo para a aplicação cristã das profecias do tempo do fim será a maneira como Cristo e o apóstolo Paulo usaram os símbolos apocalípticos do livro do Daniel. O sermão profético do Jesus em Mateus 24 (e paralelos) e o esboço profético de Paulo em 2 Tessalonicenses 2 constituem os dois elos indispensáveis entre os livros do Daniel e Apocalipse. Tanto Jesus como Paulo aplicam as profecias do Daniel 7-12 do ponto de vista de sua própria época. Assim sendo, como crentes cristãos devemos derivar nossos princípios de interpretação profética de suas aplicações históricas de Daniel. Estes princípios hermenêuticos, ou de interpretação, são de uma importância decisiva para nossa compreensão das profecias bíblicas do tempo do fim. A primeira parte de nossa investigação se concentra em Mateus 24 e em 2 Tessalonicenses 2. Em Apocalipse, o enfoque estará sobre a da prova final de fé no grande conflito dos séculos. A profecia bíblica nunca foi dada para satisfazer nossa curiosidade sobre o futuro. Mais bem, sua finalidade divina é animar o povo de Deus para que persevere na sagrada fé e revitalize sua bem-aventurada esperança na breve volta de Cristo como o Rei-Salvador. Quando o Apocalipse, a revelação de Jesus Cristo, fizer pleno impacto em nossas mentes e corações, experimentaremos suas descrições poéticas e dramáticas como a mensagem mais sublime da misericórdia e justiça divinas para a humanidade. A culminação da profecia é a segurança celestial de que o Criador se importa conosco e com nosso mundo, e de que Sua justiça prevalecerá durante toda a eternidade sobre a terra assim como prevalece no céu. No final da maioria dos capítulos se sugere material bibliográfico como uma guia paraum estudo exaustivo. A menos que se indique outra coisa, usa-se a versão Almeida Atualizada, revisão de 1997 (toda ênfase na transcrição do texto dos versículos, em negrito ou em itálico, é do autor). As Profecias do Tempo do Fim 8 CHAVE DE ABREVIATURAS Bíblias (versões) BC Bover-Cantera BJ Bíblia de Jerusalém CI Cantera-Iglesias BLH Bíblia na Linguagem de Hoje JS Juan Straubinger LXX Septuaginta, ou Versão dos Setenta NASB New American Standard Bible NBE Nova Bíblia espanhola NC Nácar-Colunga NEB New English Bible [Nova Bíblia inglesa] NVI Nova Versão Internacional NKJV New King James Version RA Revista e Atualizada TA Torres-Amat Espírito de Profecia AA Atos dos apóstolos CE Colportor evangelista, O DTN Desejado de Todas as Nações, O Ed Educação Ev Evangelismo FE Fundamentos da Educação Cristã GC Grande Conflito, O MS Mensagens Escolhidas PE Primeiros Escritos PP Patriarcas e Profetas PR Profetas e Reis TS Testemunhos Seletos, vol. 1, 2, 3 Revistas teológicas AUSS Andrews University Seminary Studies [Estudos do Seminário da Universidade Andrews] CBQ Catholic Biblical Quarterly [Revista Trimestral Bíblica Católica] JATS Journal of the Adventist Theological Society [Revista da Sociedade Teológica Adventista] JBL Journal of Biblical Literature [Revista de Literatura Bíblica] JETS Journal of the Evangelical Theological Society [Revista da Sociedade Teológica Evangélica] As Profecias do Tempo do Fim 9 JSNT Journal for the Study of The New Testament [Revista para o estudo do Novo Testamento] NTS New Testament Studies [Estudos do Novo Testamento] SBTh Studia Bíblica et Theologica [Estudos Bíblicos e Teológicos] SJT Scottish Journal of Theology [Revista Escocesa de Teologia] Miscelânea a.C. antes de Cristo ANF The Ante-Nicene Fathers [Os Pais antenicenos] cap. Capítulo caps. Capítulos CBA Comentário bíblico adventista (espanhol) cf. Compare-se com d.C. depois de Cristo ed. Editor / editado por / edição de eds. Editores gr. grego lit. Literalmente p. Página pp. Páginas p.ex. Por exemplo QM Regra de guerra (Qumrán) trad. Tradutor/ Traduzido por vol. Volume v. Versículo vs. Versículos As Profecias do Tempo do Fim 10 AGRADECIMENTOS O material bibliográfico que se encontra no final da maioria dos capítulos mostra a enorme dívida que tenho com os eruditos bíblicos que procuraram descobrir o significado do Apocalipse, a revelação de Jesus Cristo. Estou agradecido especialmente a meus colegas no campo da teologia, e aos estudantes, que leram o manuscrito e estimularam a um estudo renovado de certas passagens das Escrituras. De maneira especial desejo mencionar ao Dr. Peter M. van Bemmelen, professor de Teologia Sistemática no Seminário Teológico da Universidade Andrews, Berrien Springs, Michigan, Estados Unidos; ao Dr. Ángel M. Rodríguez, do Instituto de Investigação Bíblica da Associação Geral da Igreja Adventista, Silver Spring, Maryland; ao Dr. Norman R. Gulley, professor de Teologia Sistemática no Southern College, Collegedale, Tennessee; ao Dr. Roy C. Nadem, professor aposentado de Educação Religiosa na Universidade Andrews; ao Dr. George R. Knight, professor de História da Igreja no Seminário Teológico da Universidade Andrews; ao Pr. Graeme S. Bradford, secretário ministerial da União Trans-Tasmânia, Austrália; ao Pr. Jac Colombo, secretário de campo da Associação de Washington, Bothell, Washington; a todos eles por seu interesse especial no livro, por suas conversações estimulantes, e por suas úteis sugestões para esclarecê-lo e melhorá-lo. Estou agradecido à minha esposa Bárbara pela correção final das provas, quem também me indicou a necessidade de simplificar porções complicadas. A todos meus colegas, professores e estudantes da profecia bíblica lhes expresso minha profunda gratidão. É obvio, sou o único responsável pelas deficiências e enganos que possam encontrar-se. O livro tão-só reflete minha percepção presente como teólogo experiente na profética Palavra de Deus, mas em caminho para uma compreensão mais completa da mensagem divina. A ESPERANÇA APOCALÍPTICA DOS JUDEUS DO SÉCULO I O Apocalipse de João está em marcado contraste com os vários escritos apocalípticos judeus que estiveram em atualidade no primeiro século de nossa era. Desde que o general romano Pompeu invadiu a Palestina em 63 a.C. e sujeitou à nação judia ao governo romano, intensificou-se a esperança judia em um Messias prometido. A maioria dos judeus esperava a vinda de um Rei-Messias poderoso, da casa de Davi, quem mataria ao dragão romano com seu poder militar ajudado pelo poder divino. Então o Messias restauraria a nação do Israel à suprema grandeza política como o reino messiânico sobre a terra. Esta esperança apocalíptica era vibrante entre os fariseus. Pode demonstrar-se pelos denominados Salmos de Salomão, um documento farisaico escrito pouco depois da morte do general Pompeu no 48 a.C. "Olha-o Senhor, e lhes suscite um rei As Profecias do Tempo do Fim 11 o filho de Davi, no momento que tu escolhas, oh Deus, para que reine em Israel teu servo. Rodeia-o de força para quebrantar aos príncipes injustos, para purificar a Jerusalém dos gentios que a pisoteiam destruindo-a; expulsa em sabedoria e justiça aos pecadores da herança; para despedaçar a arrogância dos pecadores semelhante a um cântaro de oleiro; para quebrantar toda sua solidez com uma vara de ferro; para destruir as nações ilícitas com a palavra de tua boca; a sua advertência as nações fugirão de sua presença; e condenará aos pecadores pelos pensamentos de seus corações".1 O Testamento do Moisés, um hino escrito pelos essênios ou pelos fariseus antes da queda de Jerusalém no 70 D.C., também expressava o desejo premente do pronto advento do reino de Deus: "Pois o Altíssimo Deus eterno se elevará sozinho, aparecerá para tomar vingança das nações e destruirá todos os seus ídolos. Então, tu, Israel, serás feliz. Montarás sobre pescoço e asas de águia. Sim, todas as coisas se cumprirão".2 No Quarto livro do Esdras, conhecido também como o Apocalipse de Esdras, um documento escrito depois da queda de Jerusalém no 70 D.C., lemos que o Messias viria para liberar à remanescente do Israel da tirania de Roma e para estabelecer o reino messiânico por 400 anos (cap. 12).3 A esperança dominante no Israel era a da libertação política, similar à forma como Deus os tinha libertado do Egito. Só que esta vez a expectativa era por uma redenção permanente dos males da história. A partida dos zelotes [fanáticos] tinha uma febre apocalíptica tal, que apoiou uma guerra de guerrilhas contra Roma na segurança de que Deus destruiria os opressores do Israel e criaria um mundo no qual Satanás e a dor não existiriam mais. Josefo, o historiador judeu do primeiro século, ordem que um certo Judas, galileo, originou um levantamento a princípios do século I. Sua filosofia era que o povo de Deus devia reconhecer só a Deus como seu soberano e Senhor, e recusar-se a pagar impostos a um amo pagão.4 O Novo Testamento registra que essa rebelião chegou a um fim desventurado (At. 5:37). Entre os rolos do Mar Morto, descobertos nas cavernas de Qumran, encontrou-se um denominado Regra de guerra (QM), escrito a começos da era cristã. Descreve um plano de batalha para que os pactuantes de Qumran travem a última guerra santa contra Roma (Quitim) e Belial. A esperança era de novo que Deus interviria com seu santos anjos e daria ao fiel remanescente de Israel uma vitória eterna por meio de um desdobramento do poder do Miguel como o guerreirodivino.5 As Profecias do Tempo do Fim 12 Esta esperança política de um futuro mais brilhante alcançou um tom tão febril no século I, que conduziu ao levantamento judeu contra Roma nos anos 66-72 e no 132. Em ambas as ocasiões os judeus começaram uma guerra militar contra o Império Romano confiando em que Deus os vindicaria com uma vitória sobrenatural. Salomão Schechter resume com quatro características os elementos essenciais da esperança apocalíptica no primeiro século: (1) o Messias, da casa de Davi, restaurará o reino do Israel e estenderá seu governo sobre toda a terra; (2) os inimigos de Deus lançarão um ataque maciço contra Israel, no qual o Messias destruirá a todos seus oponentes pagãos; (3) todas as nações sobreviventes aceitarão o Deus de Israel, reconhecerão seu reino e procurarão a instrução de seu Torah (lei); e (4) a era do reinado messiânico será uma era de prosperidade material e sorte espiritual; até a morte seria abolida por meio da ressurreição dos justos mortos. Este reino do Messias era, de acordo com algumas fontes, uma preparação para o tempo quando Deus mesmo reinaria.6 Infelizmente, os judeus estavam tão dominados por seu ódio para Roma que enfatizaram unilateralmente a missão da vinda do Messias como o libertador do jugo romano e o restaurador do reino nacional a Israel. Por esta razão, os rabinos estudaram as profecias messiânicas das Escrituras Hebraicas com uma mente preconcebidas que lhes impediu de ver a revelação da plenitude da missão do Messias para salvar do pecado a todos os homens. Esperando um Messias político só para sua própria nação, passaram por cima das profecias e dos tipos que prediziam a morte expiatória do Messias em sua primeira vinda. Interpretando a profecia para encontrar evidências com o fim de sustentar sua ambição nacional, os judeus se prepararam para rechaçar o Salvador do mundo. Quando Cristo veio em uma maneira contrária a suas expectativas, ficaram completamente desapontados e não o receberam. Cristo tratou de lhes mostrar que tinham interpretado mal a promessa de Deus de conceder favor eterno a Israel. Tinham chegado a considerar sua descendência natural de Abraão como uma pretensão para essa promessa (João 8:33-40). Na verdade, em seu orgulho racial, os dirigentes judeus passaram por cima das condições prévias que Deus tinha especificado. O favor de Deus estava assegurado só a um Israel espiritual e em cujos corações ele tinha escrito sua lei: "Darei minha lei em sua mente, e a escreverei em seu coração; e eu serei a eles por Deus, e eles me serão por povo... Porque todos me conhecerão, do mais pequeno deles até o maior, diz o Senhor" (Jer. 31:31-34). As promessas divinas de salvação e bênção para o mundo estavam asseguradas a um Israel regenerado como o verdadeiro povo do pacto. O povo espiritual de Deus são constituídos pelos que estão "circuncidados" em seus corações (ver Deut. 10:16; 30:6; Jer. 4:4). Um povo assim não reclamará as promessas de Deus e renderá um serviço exterior a Deus meramente pelo puro prazer de alcançar grandeza nacional. O essencial da Bíblia Hebraica não é o Israel, e sim o Messias de Israel! As profecias messiânicas constituem o coração tanto da Escritura como dos sagrados serviços do santuário no Israel. Muitos rabinos e fariseus chegaram a acreditar que por meio de um conhecimento da Escritura e uma conformidade exterior a ela, possuíam vida eterna. A As Profecias do Tempo do Fim 13 Mishná ensina: "Grande é a lei, porque lhe dá vida aos que a praticam tanto neste mundo como no vindouro".7 Mas Jesus assinalou uma falta fundamental de visão: "Vós perscrutais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; ora, são elas que dão testemunho de mim; vós, porém, não quereis vir a mim para terdes a vida" (João 5:39, 40, BJ). A vida está centrada no Messias, o Filho de Deus, e não na Escritura. Jesus afirmou: "As palavras que eu lhes falei são espírito e são vida" (João 6:63). Ao perder de vista a Cristo como o coração vivente das Escrituras, os judeus já não entenderam mais o significado espiritual do serviço ritual em seu templo. Começaram a confiar nos mesmos sacrifícios e cerimônias em vez de contemplá-lo a ele, a quem assinalavam os sacrifícios. De modo que perderam o significado espiritual de sua adoração no templo. Aferrando-se a fórmulas mortas, esses rituais chegaram a ser um mistério inexplicável. Até as restrições rabínicas quanto à observância do sábado revelam que os judeus já não percebiam que no sábado havia uma promessa divina do descanso messiânico. Os dirigentes judeus interpretaram mal o ato do Jesus ao curar milagrosamente a um paralítico no sábado como a evidência de uma atitude contra na sábado (João 5:16-18). Entretanto, o oposto era verdade. Jesus ensinou que as obras de misericórdia não só estavam permitidas, mas também eram obrigatórias no sábado para que as fizesse o Messias, e em perfeita harmonia com a vontade do Pai celestial. "Meu Pai, até o presente, continua trabalhando e eu também trabalho" (João 5:17, NBE). O erudito evangélico Leão Morris o explica desta maneira: "Ele [Jesus] não estava dizendo que não devia guardar-se o sábado... Estava dizendo que seus críticos não entendiam o que significava na sábado e por que tinha sido instituído".8 Não surpreende que Jesus censurasse os judeus por sua falta de percepção espiritual, por não discernir quem era ele, o Enviado ao Israel pelo Pai. E desafiou-os perguntando: "Não vos deu Moisés a lei? Contudo, ninguém dentre vós a observa. Por que procurais matar-me?... Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça" (João 7:19, 24). Enquanto desejavam a vinda do Messias, os judeus já não tinham o verdadeiro conceito de sua missão divina como Redentor do pecado e de Satanás. Cristo lhes disse: "Todo o que comete pecado é escravo do pecado... Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres" (João 8:34, 36), mas eles afirmaram que eram livres porque, disseram, "jamais fomos escravos de ninguém" (v. 33). Não compreenderam o significado espiritual do pecado ou o significado da natureza da dignidade real de Cristo. O Messias devia vir como o verdadeiro intérprete dos profetas de Israel. Devia definir os princípios do reino e o plano de redenção. Isso foi o que fez Cristo, e seus ensinos estão registrados nos Evangelhos, os quais formam a chave essencial para entender corretamente o Antigo Testamento. Também formam a ponte teológica entre as profecias do Antigo Testamento e o livro do Apocalipse. Portanto, antes de podermos entender corretamente o último livro da Bíblia, é indispensável descobrir primeiro como Jesus interpretou a perspectiva profética dos profetas clássicos e o livro do Daniel. As Profecias do Tempo do Fim 14 Referências 1. "Salmos de Salomão", 17:21-25, citado em J. H. Charlesworth, The Old Testament Pseudepigrapha, T. 2, p. 667. 2. "Testamento de Moisés", 10:7, 8, chamado em G. Aranda Pérez, F. García Martínez e M. Pérez Fernández, Literatura judía intertestamentaria (Estella, Navarra: Verbo Divino, 1996), p. 301. 3. "O Messias que o Altíssimo reservou para o final dos tempos: Ele surgirá da estirpe de Davi " (Ibid., p. 329). 4. Flavio Josefo, Obras completas de Flavio Josefo: Antigüedades judías (Buenos Aires: Acervo Cultural, 1961), XVIII, 1, 1-6 (t. 3, pp. 225-228); La guerra de los judíos, 11, 8 (t. 4, pp. 136-142). 5. 1 QM 6; 12-14. 6. Schechter, Salomão, Aspects of Rabbinic Theology (Nova York: Schocken Books, 1961), p. 102. 7. Abot [Pais] 6: 7. 8 Leão Morris, Reflections on the Gospel of John (Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1987), T. 2, pp. 265, 266. As Profecias do Tempo do Fim 15 A DISTINÇÃO ENTRE PROFECIA CLÁSSICA E PROFECIA APOCALÍPTICA Os profetas do Antigo Testamento tais como Amós, Isaías, Sofonías, Ezequiel e Jeremias são chamados profetas clássicos. Suas mensagens foram em primeirolugar pronunciados em voz alta, seja ao reino rebelde do Israel no norte (as 10 tribos) ou à apóstata Jerusalém e Judá (as 2 tribos). Com freqüência suas mensagens foram um clamor em favor da justiça social, econômica e política para as classes oprimidas. Os profetas convocaram Israel e Judá para que voltassem para a torah ou lei do pacto do Moisés, e para que servissem a Deus com arrependimento verdadeiro. Se os líderes políticos e religiosos do povo eleito originavam justiça social e uma renovação da adoração, o reino de Deus viria sobre a terra em sua história futura. Em realidade, o "dia do Senhor", ou o "dia do Jeová", não viria como Israel o tinha antecipado popularmente. Profecia Clássica Amós: Este profeta, como porta-voz de Deus, pronunciou em forma fulminante estas horríveis palavras às 10 tribos: "Ai de vós que desejais o Dia do Senhor! Para que desejais vós o Dia do Senhor? É dia de trevas e não de luz ...Não será, pois, o Dia do Senhor trevas e não luz? Não será completa escuridão, sem nenhuma claridade? "Por isso, vos desterrarei para além de Damasco, diz o Senhor, cujo nome é Deus dos Exércitos" (Amós 5:18, 20, 27). Amós deu a conhecer dois castigos sobre Israel: Em primeiro lugar, a nação infiel seria levada cativa ao exílio em Assíria ("além de Damasco") como resultado da maldição do pacto do Deus do Israel, em harmonia com suas ameaças do pacto pronunciadas mediante Moisés (Deut. 28; Lev. 26). Esta sentença teve lugar no ano 722 a.C., e se conhece como o desterro assírio das dez tribos. Em segundo lugar, o significado pleno deste juízo nacional chega a compreender-se só quando se vê este acontecimento como um tipo ou prefiguração do juízo cósmico de Deus ao fim da história sobre todas as nações que se rebelem contra Deus. Amós apontou ao juízo final de Deus quando se referiu aos sinais cósmicos: "Farei que fique o sol ao meio dia, e cobrirei de trevas a terra no dia claro" (Amós 8:9), e: "Não se estremecerá por isso a terra, e fará luto tudo o que nela habita? (v. 8, BJ). Escuridão repentina ao meio-dia ou um terremoto catastrófico podem ser mais que um desastre natural. O fogo apocalíptico consumirá a terra e o mar (7:4) e levará a seu fim a história de Israel! Na escatologia (a ordem dos acontecimentos finais) que apresenta Amós, o dia do Senhor seria um juízo iminente sobre Israel a mãos de seu inimigo nacional: Assíria (no 722 a.C.). Mas Amós anunciou uma catástrofe ulterior, na qual Deus julgará a uma sociedade mundial apóstata e libertará a seus fiéis em todas as nações. A esta relação do juízo local iminente e do juízo mundial do tempo do fim chamamos "conexão As Profecias do Tempo do Fim 16 tipológica". Ambos os juízos procedem do mesmo Deus, mas o juízo sobre a nação é um tipo ou modelo profético que garante que Deus julgará finalmente a todo mundo pelos mesmos princípios morais. Só mediante sua retribuição final se cumprirá completamente o propósito redentor de Deus para esta terra. O tipo histórico pode ser local e incompleto, mas o antitipo escatológico será universal e completo em seus resultados. Sofonías: O duplo foco do juízo de Deus em Amós também o descrevem graficamente os outros profetas. Em geral se considera que Sofonías é o profeta mais grandioso que fala do juízo de Deus. Inclusive começa seu pequeno livro com uma admoestação da destruição universal vindoura: "De fato, consumirei todas as coisas sobre a face da terra, diz o Senhor. Consumirei os homens e os animais, consumirei as aves do céu, e os peixes do mar, e as ofensas com os perversos; e exterminarei os homens de sobre a face da terra, diz o Senhor" (Sof. 1:2, 3). Assim como Amós, Sofonías contempla o futuro histórico imediato contra o fundo do juízo final, porque é o mesmo Deus o que visita Israel e o mundo para juízo e salvação. A mensagem principal é que Deus atua, não a duração do período de tempo entre os juízos. Joel: O profeta Joel estruturou sua perspectiva profética de forma tal que uma praga histórica de lagostas (1:4-12) serve como um tipo profético do juízo escatológico de todo o mundo, que é seu antitipo (2:10, 11; 3:11-15). A história local e a escatologia do tempo do fim estão tão mescladas entre si que não podem ser completamente separadas na descrição profética. O presente corresponde ao futuro porque é o mesmo Deus quem vem agora e no futuro. Este é a mensagem principal do Antigo Testamento. O propósito moral de cada anúncio de um juízo de Deus é levar a seu povo a caminhar em harmonia com sua vontade redentora no presente. O objetivo final da profecia não é a catástrofe e a destruição, a não ser uma nova criação e a restauração do paraíso perdido na terra. Isaías: Um exemplo de como o juízo de Deus sobre um arquiinimigo histórico do Israel e seu juízo final do mundo estão intimamente misturas, como se ambos fossem um só dia do Senhor, encontra-se no Isaías 13. Isaías anuncia a iminente queda do Império Neobabilônico às mãos dos medos: " Uivai, pois está perto o Dia do SENHOR; vem do Todo-Poderoso... Eis que eu despertarei contra eles os medos" (Isa. 13:6, 17). Neste oráculo profético de guerra, Deus atuará logo como o guerreiro divino para liberar a seu povo oprimido: "O Senhor dos exércitos revista seu exército para o combate" (v. 4, NBE). O resultado será a destruição: "Babilônia, a jóia dos reinos, glória e orgulho dos caldeus, será como Sodoma e Gomorra, quando Deus as transtornou. Nunca jamais será habitada, ninguém morará nela de geração em geração" (vs. 19, 20). As Profecias do Tempo do Fim 17 Depois, o profeta acrescenta a dimensão cósmica do dia apocalíptico do Senhor: "As estrelas dos céus e seus luzeiros não darão sua luz; e o sol se obscurecerá ao nascer, e a lua não dará seu resplendor" (V. 10). Deus castigará "ao mundo por sua maldade, e aos ímpios por sua iniqüidade" (V. 11). Deus fará "estremecer os céus, e a terra se moverá de seu lugar... no dia do ardor de sua ira" (V. 13). Esta é uma descrição de um juízo universal. Por isso, a profecia de Isaías de condenação sobre Babilônia contém a estrutura de uma perspectiva tipológica. É claro que o dia apocalíptico do Senhor, com seus sinais cósmicos e seu terremoto universal, não ocorreu durante a queda histórica de Babilônia ante os medo-persas no 539 a.C. Aquele juízo sobre Babilônia serve só como um tipo ou símbolo do juízo final da humanidade; por esta razão se descrevem os dois juízos como se fossem um só dia de retribuição divina. A natureza tipológica da queda de Babilônia da antiguidade não requer que cada rasgo da profecia se cumpra no tipo. Antes, o cumprimento parcial das antigas profecias de condenação e liberação indicam que ainda precisam encontrar sua consumação definitiva. O livro do Apocalipse nos assegura que todas as profecias antigas de condenação e liberação ocorrerão em escala mundial por ocasião da segunda vinda de Cristo. Por definição, o antitipo sempre é maior que o tipo. Por isso encontramos que a característica da profecia clássica é seu duplo foco, sobre o próximo e o longínquo, sem nenhuma diferenciação de tempo. Ensina-nos que o Deus do Israel é o Deus da história. É o rei que vem na história e ao fim da história da humanidade. Sua vinda traz o fim desta era maligna, para restaurar o reino de Deus sobre nosso planeta por meio do Jesus Cristo. Outra característica vital da profecia clássica são suas preocupações éticas, seu chamado ao arrependimento e a uma vida santificada. Os profetas de Israel não fizeram predições incondicionais mas sim desafiaram tanto ao Israel como aos gentios com a vontade imediata de Deus. De fato, as predições divinas satisfazem o propósito mais elevado de chamar o povo ao arrependimento e a obedecer a vontade de Deus e dessa forma, evitar o juízo vindouro. O resultado significativo desta preocupação ética dos profetas do Israel é a segurança de que só um remanescente do Israel, fiel e purificado, entrará no reino escatológicode Deus. Os profetas anunciaram que só um fragmento ou remanescente da nação como um tudo seria salva, assim como o "tronco" que fica de uma árvore (Amós 3:12; 5:14, 15; Ouse. 5:15; 6:1-3; Isa. 4:2-4; 6:13; Jer. 23:3-6). A razão é que só o remanescente restaurado se voltará para Senhor com arrependimento verdadeiro (Isa. 10:20-23; Zac. 12:10-13); só um Israel espiritual dentro do Israel nacional receberá um coração "circuncidado" (Deut. 10:15, 16; 30:6; Jer. 4:4). A distinção no Antigo Testamento entre um verdadeiro o Israel de Deus dentro da nação do Israel não se apóia na relação de raça ou de sangre com Abraão, e sim na fé e na obediência a Deus. O fator decisivo é possuir a relação espiritual de pacto com Deus. De acordo com esta teologia do remanescente do Antigo Testamento, o apóstolo Paulo chegou a esta conclusão: "Porque nem todos os que descendem de Israel são israelitas" (Rom. 9:6). Seu ensino apostólico enfatizou que só quando israelitas reconheçam que Jesus é o Messias da profecia, são os portadores de luz das promessas do novo pacto de Deus. E enquanto As Profecias do Tempo do Fim 18 que os gentios são chamados para serem os herdeiros das mesmas promessas, Paulo insistiu: "Só o remanescente será salvo" (v. 27). Profecia Apocalíptica O livro do Daniel forma uma classe de profecia por si mesmo dentro do Antigo Testamento. Aqui nos encontramos com um fenômeno: Não se prediz um só evento ou juízo, e sim uma seqüência total de acontecimentos que começam nos próprios dias do Daniel e se estendem adiante sem interrupção até o estabelecimento do reino de glória de Deus. Um contínuo histórico ininterrupto em profecia, como apresenta Daniel, não tem precedentes na profecia clássica. Alguns profetas, como Joel e Ezequiel, revelaram o princípio de uma sucessão de dois períodos em seus esboços proféticos (Joel 2:28; Ezeq. 36-39), mas nenhum havia predito uma história contínua religiosa e política do povo do pacto de Deus terminando com o juízo final do dia do Senhor. Um panorama tão amplo da história da salvação adiantado é a característica específica da profecia apocalíptica. Este contínuo apocalíptico na história está em um marcado contraste com a profecia clássica, com seu dobro foco e sua perspectiva tipológica futura. O segundo aspecto único no livro apocalíptico do Daniel é que contém uma quantidade de esboços históricos e cada um culmina no juízo universal do Deus de Israel. Podem distinguir-se 4 séries proféticas principais (Dan. 2; 7; 8; 11). Cada uma reitera a mesma ordem básica de acontecimentos, mas todas acrescentam detalhes com respeito ao conflito do povo do pacto de Deus com as forças que se opõem a Deus. Estas visões paralelas mostram um interesse crescente em enfocar a era do Messias e seu conflito com o antimessias ou o anticristo (especialmente em Dan. 8 e 9). A idéia chave de cada série profética é o triunfo do governo de Deus sobre o mal. Portanto, precisamos compreender que a meta da apocalíptica bíblica não é predizer acontecimentos específicos da história secular do mundo em si. A apocalíptica bíblica não é um exibicionismo da presciência de Deus. Antes, o seu interesse é inspirar esperança entre o oprimido povo de Deus. Anima-os a perseverar até o fim, porque o Deus fiel do pacto estabeleceu ao anticristo limite de tempo e poder. Deus vindicará a seus fiéis na luta entre o bem e o mal. O foco definitivo da apocalíptica bíblica não é o primeiro advento do Messias e sua morte violenta (Dan. 9:26, 27), e sim seu segundo advento quando voltar como o vitorioso Miguel para resgatar o remanescente fiel (Dan. 12:1, 2). O que forma a culminação de toda a profecia apocalíptica do Antigo Testamento é este evento final da história da humanidade. É este "fim" o que está em vista na singular frase do Daniel: "o tempo do fim" (5 vezes em Dan. 8-12). Este foco notável do tempo do fim também é a razão de por que a profecia apocalíptica enfatiza mais o aspecto incondicional do plano determinado de Deus para a redenção da humanidade. Mas este aspecto distintivo de determinismo não deve ver-se como um contraste fundamental com as profecias clássicas do Israel com seu chamado ao arrependimento. As Profecias do Tempo do Fim 19 As profecias apocalípticas de Daniel se centram ao redor da libertação final do fiel remanescente do Israel, o povo espiritual do pacto de Deus, em quem se realizarão finalmente as preocupações éticas de todos os profetas (Dan. 11:32-35; 12:3; Ezeq. 11:17-20; 18:23, 30-32; 33:11; Isa. 26:2, 3). Em Daniel, a preocupação fundamental, tanto dos capítulos históricos (caps. 1-6) como dos proféticos (caps. 7-12), parece ser a vindicação que Deus faz de seu santos acusados falsamente. Esta soberania de Deus como Rei e Juiz está expressa pelo foco centralizado no Messias que se apresenta em muitos capítulos (Dan. 2; 7; 8; 9; 10-12), e em suas divisões predeterminadas de tempo da história da redenção (Dan. 7:25 [3 ½ tempos]; 8:14, 17 [2.300 dias]; 9:24-27 [70 semanas de anos]; 12:4, 7, 11, 12 ["o tempo do fim", 1.290 e 1.335 dias]). Em todos os tempos, Deus proporciona um povo remanescente fiel, coloca os limites sobre a história pecaminosa deste mundo, permite tempos especificamente atribuídos para a apostasia e a perseguição, determina "o tempo do fim", ordena o mundo para a hora de seu juízo final e levará a cabo a libertação dos santos na segunda vinda. Estes característicos únicos pertencem à soberania de Deus e constituem a pedra angular da profecia do Daniel. Pode fazer-se uma observação adicional a respeito da parte histórica do livro de Daniel. Nos capítulos 3 (a liberação do forno de fogo) e 6 (a liberação do fosso dos leões), os relatos da intervenção divina e o resgate sobrenatural têm a finalidade de ser mais que simplesmente um pouco de interesse histórico. O autor do livro chama a atenção a sua inerente perspectiva tipológica, em vista da libertação futura do povo remanescente de Deus ao fim da história da redenção. Isto chega a ser evidente a partir da repetição enfática do verbo chave "libertar" ou "resgatar" que se encontra no Daniel 3:15 e 17 (e 5 vezes no capítulo 6), e que volta a aplicar-se na seção apocalíptica do Daniel 12:1, quando Miguel "libertará" o verdadeiro o Israel de Deus por meio de sua intervenção pessoal. Além desta conexão literária entre a seção histórica e a apocalíptica de Daniel, também existe uma correspondência temática fundamental entre as duas seções do livro. As narrações que Daniel faz da lealdade religiosa à sagrada lei de Deus por uns poucos fiéis, proporciona os tipos ou as prefigurações essenciais da natureza da crise final para o povo de Deus no tempo do fim. Estes acontecimentos históricos no livro de Daniel servem como o pano de fundo para a crise vindoura do tempo do fim e seu resultado providencial, tal como se descreve no livro de Apocalipse (caps. 13 e 14). Resumo O livro apocalíptico de Daniel revela ao menos quatro características únicas: (1) Uma repetição dos esboços apocalípticos que mostram um contínuo da história da redenção. Cada esboço culmina no estabelecimento do reino de glória (Dan. 2:44, 45; 7:27; 8:25; 12:1, 2); (2) O foco centrado no Messias de todos seus esboços (Dan. 2:44; 7:13, 14; 8:11, 25; 9:25-27; 10:5, 6; 12:1); As Profecias do Tempo do Fim 20 (3) As divisões predeterminadas de tempo, que servem como o calendário sagrado da história progressiva da redenção de Deus (Dan. 7-12). Estas profecias de tempo únicas determinam o começo do famoso "tempo do fim", particularmente a terminação do período de tempo profético dos 2.300 "dias" na visão selada de Daniel 8 (vs. 14, 17, 19); (4) O aspecto incondicional da história da redenção, o qual recalca uma sessão predeterminada de juízo no céu e a vindicação dos santos fiéis por um Filho do Homem. Isto também está expresso pela imagem de um guerra santa final e o triunfo do Miguel como o guerreiro divino, e a ressurreiçãode todos os mortos para receber sua recompensa (Dan. 2:7-12). Em resumo, o livro apocalíptico de Daniel contém o fundamental da profecia clássica (o duplo foco de uma perspectiva tipológica na seção histórica do livro) e o esboço profético de um contínuo histórico em sua seção apocalíptica. A unidade orgânica da profecia clássica e da apocalíptica pode observar-se na harmoniosa combinação de sua perspectiva do tempo do fim: O juízo universal com a libertação cósmica de um povo remanescente fiel na última guerra entre o bem e o mal, e a restauração do reino de Deus em paz e justiça eternas. As Profecias do Tempo do Fim 21 A APLICAÇÃO QUE CRISTO FEZ DA BÍBLIA HEBRAICA O propósito deste livro é triplo: (1) Descobrir como entendeu Cristo os livros de Moisés, os Profetas e os Salmos; (2) formular os princípios hermenêuticos de Cristo para interpretar as profecias da Bíblia; (3) aplicar esses princípios às profecias não cumpridas, especialmente às do Apocalipse. Como cristãos que acreditam na verdade do evangelho, que Jesus é o Messias prometido, precisamos saber como entendeu Cristo os livros de Moisés, os Profetas e os Salmos. Jesus é o verdadeiro intérprete das Santas Escrituras. Sua mensagem é nossa chave para descobrir o significado correto do Antigo Testamento. Se queremos compreender o Antigo Testamento, devemos compreendê-lo do ponto de vista de Deus. Portanto, nosso ponto de partida é a forma como Jesus explica o Antigo Testamento. A aplicação que Cristo fez das Escrituras de Israel é nosso modelo de interpretação bíblica. Nosso princípio guiador está apoiado sobre a convicção de que a atividade redentora de Deus na história do Israel alcançou seu cumprimento em Cristo. Portanto, trataremos de interpretar o Antigo Testamento à luz da vida e mensagem de Cristo como a Palavra encarnada de Deus, pois só dele se escreveu o seguinte: "No princípio era o Verbo, e o Verbo era com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus... E o Verbo foi feito carne, e habitou entre nós" (João 1:1, 2, 14). Jesus e a Palavra de Deus Deus enviou ao Jesus para revelar plenamente ao Deus do Israel em sua vida e ensino. Cristo afirmou que foi enviado com uma mensagem de Deus e que suas palavras procediam de Deus mesmo: "Porque eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que anunciar. E sei que o seu mandamento é a vida eterna. As coisas, pois, que eu falo, como o Pai mo tem dito, assim falo" (João 12:49, 50). "Nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou (João 8:28). Só Cristo pode revelar o significado e o sentido algumas vezes oculto da Escritura e da história do Israel. Tanto os judeus como os samaritanos esperavam que viesse o Messias, pois ele "nos explicará isso tudo" (João 4:25, NBE). Sem vacilação, Jesus declarou: "Eu sou, o que fala contigo" (v. 26). "Jesus lhes disse: De certo de certo lhes digo: Antes que Abraão existisse, eu sou" (8:58). O testemunho da autoridade de Jesus como o Messias se repete várias vezes no Novo Testamento (ver João 1; Col. 1 e 2; Heb. 1), e é de crucial importância para compreender as visões simbólicas do Apocalipse de João. No último livro da Bíblia, as imagens e os símbolos hebreus se aplicam consistentemente a Cristo e a sua nova comunidade do pacto como o novo Israel. É evidente a necessidade que existe de ter um enfoque correto do Apocalipse. Primeiro devemos conhecer a verdade do evangelho de Cristo como foi ensinada por Jesus antes que possamos compreender o Apocalipse. Em interpretação profética, As Profecias do Tempo do Fim 22 freqüentemente se descuidou o método adequado. É indispensável reconhecer a natureza progressiva e desdobrada da revelação divina dentro da Bíblia. Deve permitir-se que os livros do Antigo Testamento nos contem sua própria mensagem, mas não como se fossem a última palavra de Deus. As Escrituras Hebraicas não são um cânon fechado da Escritura. Formam um registro incompleto da totalidade da revelação divina. Em sua major parte apresentam as promessas de Deus de um Messias vindouro como o maior dos profetas, o Rei supremo e o único Supremo Sacerdote. O Antigo Testamento termina com a promessa do Elias vindouro antes do dia de Jeová (Mal. 4:5, 6). Por outro lado, os escritos inspirados do Novo Testamento registram o começo dos cumprimentos das promessas messiânicas na vinda de Cristo (o Messias) Jesus, e em sua criação de uma nova comunidade messiânica: os cristãos (um nome que significa "povo do Messias"). O Apocalipse de João se concentra especialmente na gloriosa consumação de todas as realizações. Para receber uma compreensão mais profunda de Moisés, os Profetas e os Salmos, devemos aceitar o ensino de Cristo e seus apóstolos como a verdadeira interpretação das profecias e dos tipos hebraicos. O Novo Testamento funciona como a revelação final da verdade de Deus tal como se ensina nestas palavras apostólicas: "Deus, tendo falado muitas vezes e de muitas maneiras em outro tempo aos pais pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, e por quem deste modo fez o universo" (Heb. 1:1, 2). Assim como o Filho de Deus é imensamente maior que qualquer profeta de Israel, assim a palavra de Cristo é a norma para interpretar os escritos do Antigo Testamento. Jesus ensinou que as Escrituras Hebraicas estavam centradas na promessa messiânica. Sua especial preocupação foi ensinar aos judeus que a Escritura não é um fim em si mesma, que memorizar as palavras da Sagrada Escritura não produz méritos. O propósito da Escritura é levar a Cristo! "Vós perscrutais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; ora, são elas que dão testemunho de mim; vós, porém, não quereis vir a mim para terdes a vida" (João 5:39, 40, BJ). Segundo Jesus, a Bíblia Hebraica está centrada em Cristo. Portanto, é essencial para um cristão descobrir o novo método com o qual Cristo explicou o Antigo Testamento. Dois dos discípulos de Jesus foram privilegiados para ouvir o Cristo ressuscitado explicar-lhes todas as Escrituras que se referiam a ele (Luc. 24:25-27). Como resultado, seus corações começaram a arder com um novo entusiasmo. Cristo "abriu-lhes o entendimento para que compreendessem as Escrituras". Mostrou-lhes como "era necessário que se cumprisse tudo o que está escrito de mim, na lei de Moisés, nos profetas e nos salmos" (Luc. 24:44, 45). A pergunta provocadora para nós é: Podemos chegar a saber como interpretou Jesus o Antigo Testamento numa forma centrada em Cristo? Podemos descobrir a hermenêutica de seu enfoque cristocêntrico? Se podemos estabelecer os princípios hermenêuticos de Jesus para a profecia cumprida, saberemos como entender a profecia não cumprida, especificamente as profecias apocalípticas de Daniel e Apocalipse. As Profecias do Tempo do Fim 23 A Nova Revelação de Jesus o Messias Para Jesus, as profecias messiânicas não eram predições isoladas, senão uma parte do extenso plano de Deus para a redenção do homem. Inclusive viu a história de Israel como uma série de eventos redentores que prefiguravam a grande salvação operada pelo Messias. Portanto, Cristo reconheceu que as promessas de Deus lhe foram dadas em dois níveis a Israel: tanto mediante predições verbais como mediante tipos históricos de libertação e juízo. Na Bíblia, um "tipo" é um acontecimento histórico, ou uma pessoa ou uma instituição, ordenado por Deus para prefigurar uma verdade redentora de Cristo. Jesus aplicou publicamente à sua pessoa a missão de Isaías de pregar as boas novas de Deus, de sarar as feridas de Israel e de pôr em liberdade aos oprimidos (Luc. 4:17-21 e Isa. 61:1, 2). Entretanto, o que pôde ter deixado ainda mais pasmados os judeus foi a surpreendente declaração de Jesus de que ele era o Antítipo prometido ou a consumação de todos os profetas, dos reise da mediação sacerdotal de Israel: "E eis aqui está quem é maior do que Jonas" (Mat. 12:41). "E eis aqui está quem é maior do que Salomão" (Mat. 12:42). "Aqui está quem é maior que o templo" (Mat. 12:6). Jesus incluso declarou que sua morte abnegada proveria o "sangue do novo pacto, que por muitos é derramado" (Mar. 14:24). Por todas estas afirmações, Jesus introduziu no judaísmo a assombrosa idéia de que tinha chegado o tempo dos antítipos. Apresentou-se a si mesmo como a realidade à qual apontavam todos os símbolos das instituições redentoras do Israel. Por conseguinte, anunciou solenemente na sinagoga que nele tinha começado a idade messiânica ou o ano do jubileu (libertação). Tendo citado a promessa messiânica do Isaías 61:1, disse: "Hoje se cumpriu esta Escritura diante de vós" (Luc. 4:21). Apontou seu triunfo sobre os demônios como uma prova de que o governo de Deus agora estava presente em Israel: "Mas se eu pelo Espírito de Deus expulso os demônios, certamente chegou o reino de Deus" (Mat. 12:28). Onde se rechaça a Satanás, o reino de Deus se faz manifesto. Com Jesus entrou em operação o princípio salvífico soberano de Deus. Em outras palavras, com a primeira vinda de Cristo se inaugurou o tempo escatológico. "O tempo está cumprido", disse Jesus, "e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho" (Mar. 1:15). Tinha terminado o tempo de espera para o reino de Deus, e tinha começado o tempo do reinado de Deus no ministério de Cristo. Jesus é o iniciador do reino da graça de Deus. Como o Rei-Messias, representa o reino de Deus; como o doador da misericórdia divina, é o Mediador sacerdotal do reino de Deus. Em qualquer lugar que Cristo está presente, o reino de Deus irradia seu poder. Jesus assegurou: "Eis que o reino de Deus está entre vós" (Luc. 17:21). A graça de Deus está dentro do alcance do homem onde quer que Jesus é proclamado como o Messias. Esta é a essência do evangelho. A verdade de que o Cristo ressuscitado é Senhor e está sentado à mão direita do trono de Deus, foi respaldado no dia de Pentecostes pelo derramamento do Espírito. O apóstolo Pedro anunciou então que os As Profecias do Tempo do Fim 24 "últimos dias" tinham chegado, que tinham começado os dias do reinado espiritual de Cristo (At. 2:17; cf. Heb. 1:2). Cristo, o Representante do Novo Israel Que Jesus afirmasse ser o Messias da profecia não deve obscurecer o fato de que o Messias também foi designado para ser o perfeito representante de Israel. O pacto de Deus com Israel tem que realizar-se em obediência perfeita ao Messias. Como a personificação de Israel, o profeta descreve a Cristo como "o servo do Senhor" assim como Israel tinha sido designado o servo do Senhor (Isa. 42-53). Assim como Israel, Cristo também foi chamado "Filho" de Deus (Êxo. 4:22; Isa. 42:1; Mat. 3:17). Jesus foi enviado para suportar a mesma enxurrada de provas que teve Israel, para vencer onde Israel tinha fracassado. Depois de seu batismo, esteve durante 40 dias no deserto para ser tentado pelo diabo e assim igualar simbolicamente os 40 anos que Deus provou os israelitas no deserto (Deut. 8:2; Mat. 4:1). A maioria dos eruditos do Novo Testamento reconhecem que Jesus se viu a si mesmo, em um sentido tipológico, como o novo Israel. Este tinha falhado, mas Jesus cumpriu o pacto de Deus em favor de Israel e da humanidade. Desta forma, a história de Israel alcança um cumprimento feliz em Cristo. Portanto, de decisiva importância para o correto entendimento da profecia de Israel e do livro do Apocalipse é a verdade do Novo Testamento de que Jesus Cristo incorpora Israel e dessa maneira leva a missão de Israel a um fim em sua própria vida. O rechaço pela nação judaica dos sofrimentos, morte e ressurreição de Cristo não foram tragédias inesperadas que frustrassem o plano de salvação de Deus para a humanidade. Deus não depende dos judeus para o cumprimento de suas promessas. Depende do Messias. O profeta tinha assegurado: "A vontade do Senhor será em sua mão prosperada" (Isa. 53:10). Pedro disse que o que aconteceu com Jesus na cruz e em sua ressurreição, ocorreu "por conselho e antecipado conhecimento de Deus" (At. 2:23). Dois exemplos do livro de Salmos ilustram como Jesus soube o que tinha que esperar na providência de Deus. Cristo percebeu nas experiências do rei Davi uma prefiguração de suas próprias provas e rechaço por parte de Israel. Jesus recorreu especificamente a Salmos 41:9 para revelar sua intuição de que a traição de Davi por seu amigo em quem confiava era um tipo dos sofrimentos do Messias, que era maior que Davi (ver João 13:18-27). No momento de sua agonia mais profunda na cruz, Cristo clamou a grande voz: "Meu Deus, Meu deus, por que me desamparaste?" (Mat. 27:46; Mar. 15:34). Estava citando Salmos 22:1, que Davi tinha clamado em seu próprio desespero enquanto estava rodeado por seus inimigos sedentos de sangue. Como o salmo é uma unidade que consiste de uma lamentação prolongada sobre o sofrimento intenso (vs. 1-21), Cristo viu na experiência do Davi um tipo de sua própria agonia. Muitos comentadores não consideram a lamentação histórica de Davi no Salmo 22 como uma profecia diretamente messiânica, não obstante, Cristo e os escritores do Novo Testamento aplicam muitos aspectos do Salmo 22 à cruz e à glória que seguiu. As Profecias do Tempo do Fim 25 Este modelo surpreendente de tipologia no livro de Salmos, que foi trazido à luz por Jesus Cristo, justifica que salmos como este se classifiquem como profecias messiânicas. O propósito de tais entrevistas do Novo Testamento não é simplesmente para mostrar de que maneira se cumpriram com toda exatidão na vida de Jesus as predições messiânicas ocultas, mas sim para proclamar a Jesus como a meta da história de Israel e como a realização do pacto que Deus tinha feito com eles. Os escritores dos Evangelhos declaram com freqüência que os eventos do passado de Israel se "cumpriram" na vida de Cristo. Mateus cita o profeta Oséias, "do Egito chamei a meu filho" (Ouse. 11:1), o que recordava a Israel seu êxodo histórico do Egito. Mateus aplica estas palavras à fuga do José e Maria para o Egito até a morte de Herodes: "Para que se cumprisse o que disse o Senhor por meio do profeta, quando disse: Do Egito chamei o meu Filho" (Mat. 2:15). O aspecto da entrevista de Mateus é que a Escritura de Oséias se "cumpriu" no menino Jesus. Entretanto, as palavras de Oséias não foram uma profecia, a não ser um recordativo significativo da experiência histórica de Israel como "filho" de Deus (cf. Êxo. 4:22). Então, como pôde declarar Mateus que Oséias 11:1 se "cumpriu" em Jesus? Pela mesma razão fundamental com que justificou a interpretação messiânica das experiências do Davi (ver Sal. 41:9 e 22:1). Como o Filho de Deus, Cristo não só representa o Israel ante Deus, mas também representa o destino de Israel em sua própria vida. Mateus ensina que o significado da história de Israel se revela completamente na vida de Jesus Cristo. Desta maneira, o Novo Testamento insinua com força que os acontecimentos na vida de Jesus – como seu nascimento em Belém, sua morte humilhante, sua ressurreição e exaltação à direita de Deus – não foram eventos imprevistos ou acidentais. Todos formaram parte do determinado conselho de Deus (ver At. 2:23; 4:28). As Profecias do Tempo do Fim 26 COMO CRISTO EMPREGOU OS SÍMBOLOS APOCALÍPTICOS Como observamos no primeiro capítulo, Jesus viveu em um tempo quando a esperança judia de uma pronta vinda de um Messias político se intensificou grandemente. Uma quantidade de escritos apocalípticos, sob nomes falsos ou pseudônimos, circulavam com grande profusão, e mantinham a esperança messiânica candente aplicando a mensagem do juízo de Daniel e de outras passagens proféticas a seu próprio tempo e situação. Os títulos de algumas destas obras pseudoepigráficas são: 4 Esdras, 1 Enoc, Apocalipse de Baruque,Livro dos Jubileus. Os termos "apocalíptico" e "apocalipticismo" foram usados mais tarde pelos eruditos para indicar as escatologias especulativas e contraditórias contidas nesses escritos do judaísmo tardio. As três características dominantes desse apocalipticismo judeu foram as seguintes: (1) O juízo cósmico-universal em torno do Israel nacional ou a um fiel remanescente judeu; (2) a substituição súbita da presente era pecaminosa pela criação de um mundo sem pecado e um novo cosmos; e (3) o fim predeterminado deste mundo pecaminoso e a vinda iminente do Messias. Esta urgência freqüentemente estava apoiada por cálculos contraditórios de períodos de tempo na história mundial. A maioria dos escritores apocalípticos acreditavam que o fim desta era pecaminosa estava perto, e que ocorreria em sua geração. Também acreditavam que eles eram os verdadeiros intérpretes dos profetas canônicos de Israel com respeito à sua própria crise. Um exemplo notável foi a comunidade de Qumran, cujo fundador e professor ensinou que a predição de Habacuque de um remanescente do povo de Deus que sobreviveria (Hab. 2:4) estava cumprindo-se em sua própria e única seita nas cavernas do Mar Morto. Contra o fundo desta esperança iminente comum do judaísmo do século I de nossa era, o emprego que Jesus fez de alguns símbolos apocalípticos bem conhecidos chega a ser mais significativo. Mostra o enfoque inovador da mensagem do evangelho que proclamou Jesus. Cristo deu novo significado a termos apocalípticos tão populares como: "Filho do Homem", "juízo", "vida eterna e ressurreição", "reino de Deus", "esta era e a era por vir". Todas estas expressões eram mais ou menos termos técnicos nos esquemas apocalípticos do judaísmo tardio. A mensagem de Jesus surpreendeu os judeus de seu tempo porque deu a cada símbolo apocalíptico um novo significado messiânico ou cristocêntrico que despedaçou seus sistemas escatológicos. Os odres velhos não podiam conter o espumoso vinho novo de sua mensagem de um cumprimento presente em si mesmo (ver Luc. 5:37, 38). A conexão mais dramática do Jesus com o livro do Daniel e os escritos judeus tardios foi sua autodesignação explícita como "o Filho do Homem" (65 vezes nos As Profecias do Tempo do Fim 27 Evangelhos sinóticos e 12 vezes no quarto Evangelho). Ele se aplicou este titulo em forma consistente. Era a forma própria como Jesus se referia a si mesmo. O emprego extraordinário que Jesus fez deste símbolo convenceu em forma geral à erudição bíblica de nosso tempo de que Cristo adotou o termo apocalíptico "um como o filho de homem", da visão do Daniel 7:13 e 14, e o elevou a um título messiânico. As similitudes do livro 1 Enoc 37-71 e a sexta visão em 4 Esdras 13 (ambos os documentos pós-cristãos) refletem como alguns círculos apocalípticos judeus interpretavam o personagem daniélico "filho de homem": um Messias preexistente e celestial que viria à terra como o Juiz de toda a humanidade e governaria sobre um novo reino terrestre. A questão é: Como empregou Jesus o título e o que contido colocou nesta expressão apocalíptica, o "Filho do Homem"? Jesus explicou que seus milagres de cura ele os fez com um propósito mais elevado: "Para que saibam que o Filho do Homem tem potestade na terra para perdoar pecados" (Mar. 2:10). Mas, como pôde ser Jesus ao mesmo tempo o humilde Filho do Homem e o glorioso ser preexistente da visão de Daniel? O mistério se intensificou quando Jesus começou a dizer que o Filho do Homem celestial "devia" sofrer e ser morto, e que ressuscitaria depois de três dias (Mar. 8:31; 9:31; 10:33, 34). Entretanto, sua declaração mais profunda foi: "Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate por muitos" (Mar. 10:45). Aqui Jesus se identificou com o servo sofredor de Isaías 53, que morreria para o benefício de todos. Ao fazê-lo, Jesus fundiu o servo sofredor da profecia de Isaías com o Filho do Homem da visão do Daniel. Por assim dizê-lo, esvaziou o conteúdo do servo sofredor no personagem apocalíptico do Filho do Homem. Tal combinação de dois personagens messiânicos em profecia era desconhecido. Aos judeus parecia algo completamente paradoxal. Foi a idéia criadora de Jesus introduzir esta reinterpretação radical do Filho do Homem daniélico. Cristo viu sua missão como Messias em forma completamente diferente a todas as expectativas messiânicas no judaísmo. Colocou sua missão de um Messias sofredor e moribundo dentro da estrutura apocalíptica de Daniel. Entretanto, a maior surpresa dos judeus foi o escutar que este humilde filho de um carpinteiro afirmava ser o apocalíptico Filho do Homem, não só em seus dias, mas também no juízo final. Considere estas afirmações de Jesus (as ênfases são minhas): "Porque o que se envergonhar de mim e de minhas palavras nesta geração adúltera e pecadora, o Filho do Homem se envergonhará também dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos" (Mar. 8:38). "Então verão o Filho do Homem, vindo sobre as nuvens com grande poder e glória" (13:26). "Tornou a interrogá-lo o sumo sacerdote e lhe disse: És tu o Cristo, o Filho do Deus Bendito? Jesus respondeu: Eu sou, e vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do céu" (14:61, 62). Nestas declarações dramáticas, Jesus afirmou que a profecia do Daniel 7 até esperava seu cumprimento futuro e apocalíptico quando Deus julgue a todos os homens, mas que o Filho do Homem daniélico já tinha aparecido com outro propósito: As Profecias do Tempo do Fim 28 trazer salvação da escravidão do pecado. Cristo declarou claramente que ele, como o Filho do Homem, tinha descido "do céu" (João 3:13), e que "os anjos de Deus... sobem e descem sobre o Filho do Homem" (1:51). Dessa maneira Cristo ensinou que tinha estabelecido em Israel uma nova comunicação entre o céu e a terra por sua autoridade divina (3:31; 6:62). Isto também envolve sua missão para julgar ao Israel em nome de Deus: "E [Deus] também lhe deu autoridade de fazer juízo, porquanto é o Filho do Homem" (5:27), embora o propósito da primeira vinda do Jesus foi explicitamente salvação e não juízo no sentido de condenação (3:17; 12:47). Não obstante, João pôde também informar que Jesus veio ao mundo para um juízo presente: "Para juízo vim eu a este mundo; para que os que não vêem, vejam, e os que vêem, sejam cegados" (João 9:39). Esta classe de juízo ou processo de sacudidura era inerente ao oferecimento da salvação de Cristo, oferecimento que implica necessariamente juízo. Os que rechaçam o dom de Deus de Jesus o Messias, pronunciaram indevidamente seu próprio juízo. Escolheram ser condenados. O evangelho de Cristo separa aos que aceitam o oferecimento da graça daqueles que o rechaçam (ver João 3:18-21; 5:24). A presença de Cristo produz um tempo escatológico de decisão, e esse tempo é agora. Cada pessoa está compelida a rechaçá- lo ou a reconhecê-lo, e assim determina de antemão o veredicto do juízo final sobre si mesmo. Cristo considera como de importância decisiva o que o confessemos como o Filho do Homem. Por isso, ao cego a quem tinha sarado perguntou: "Crês tu no Filho do Homem?" (João 9:35). Desse modo Jesus deu a tal pessoa uma revelação mais elevada de si mesmo. Jesus revelou que era o Messias celestial de que se falava no livro de Daniel, que viria nas nuvens do céu ao "Ancião de dias" para receber a glória e o domínio e o reino sobre todos os povos (Dan. 7:14). Este conhecimento conduz a uma fé mais amadurecida em Jesus. O ponto importante nos quatro Evangelhos é a mensagem em que Cristo se referiu à missão do Filho do Homem em uma forma dupla: com respeito a um cumprimento presente e terreno, e também a uma consumação cósmica futura. Em outras palavras, Cristo explicou que o apocalíptico Filho do Homem de Daniel teve um cumprimento histórico em salvação e juízo desde seu humilde primeiro advento, enquanto que também olhou para o futuro, à consumaçãoem salvação e juízo em seu segundo advento. Em resumo, o juízo de Deus, a vida eterna e a ressurreição por meio do Filho do Homem são tanto presente como futuras. Esta dupla aplicação está expressa no Evangelho de João por meio desta frase peculiar: "Vem a hora, e agora é, quando os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão. Porque como o Pai tem vida em si mesmo, assim também deu ao Filho o ter vida em si mesmo" (João 5:25, 26; ver também 4:23 e 16:32). Quão surpreendente é que Jesus ensinasse que não é suficiente crer que haverá uma ressurreição no último dia, como se promete em Daniel 12:2. Sua nova mensagem foi: "Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo o que vive e crê em mim, não morrerá eternamente" (João 11:25, 26). Em outras palavras, a vida futura no glorioso reino de Deus está à nossa disposição pela fé em Cristo agora como uma qualidade espiritual de vida. As Profecias do Tempo do Fim 29 Um emprego duplo similar da terminologia apocalíptica pode ver-se na forma em que Jesus aplica os conceitos do reino de Deus e sua "era" (aion) correspondente. Ambas idéias estão combinadas na proclamação de Jesus: "O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho" (Mar. 1:15; cf. Mat. 3:2; 4:17; 5:17). O chamado de Cristo parece estar motivado por uma urgência apocalíptica da vinda do reino de Deus, e muito bem pode estar inspirado na profecia de tempo messiânico das 70 semanas do Daniel 9. (Particularmente Daniel 2 e 7 prometem a vinda do reino de Deus; Dan. 2:44, 45; 7:27.) O conceito de Jesus do reino universal de Deus também era parte das Escrituras. Estas ensinavam que Jeová, o Deus de Israel, é agora Rei e chegará a ser Rei no futuro "sobre toda a terra" (Núm. 23:21; Deut. 33:5; Sal. 103:19; Isa. 6:5; Dan. 2:44; 4:3; Isa. 24:23; Zac. 14:9). Além disso, os profetas haviam predito que um filho de Davi chegaria a ser o Rei de Israel e que, como o Messias do mundo, representaria o governo régio de Jeová para sempre (2 Sam. 7:12-16; Sal. 2:7-9; 132:11-18; Isa. 9:7; 11 :1-5; Miq. 5:2; Dan. 7:14, 27). Como já indicamos no capítulo I, o judaísmo farisaico tinha desenvolvido a esperança de que nos últimos dias o Messias viria no tempo indicado por Deus, subiria ao trono de Israel e por seu poder quebrantaria aos príncipes injustos, purificaria a Jerusalém de gentios, quebrantaria toda sua solidez com vara de ferro e, por último, submeteria todas as nações da terra a seu governo. Na pregação de Cristo, o reino de Deus foi o conceito principal. Seu ensino do reino de Deus, sua proximidade, tal como está representada por sua própria vida, seu ministério de cura e seu domínio sobre os demônios, revolucionaram o apocalipticismo judeu que tinha perdido toda esperança de que Deus reinasse no presente histórico. O primeiro advento de Cristo não foi o fim do tempo a não ser o poder régio de Deus que pôde "atar" a Satanás e liberar os homens do poder do mal (ver Mat. 12:29). Jesus insistiu em afirmar que nele o reino dos céus se aproximou como uma soberania espiritual de Deus que agora estava ativa em seu oferecimento messiânico de graça e seu domínio sobre os demônios; uma realidade totalmente diferente do que esperavam os rabinos judeus e os escritores apocalípticos, pois seu reino não era deste mundo (João 18:36). Em resumo, a mensagem de Jesus é que em sua própria pessoa Deus invadiu a história humana e triunfou sobre o mal. Ao mesmo tempo, Cristo ensinou que a liberação final viria no fim do tempo, em sua segunda vinda (Mat. 6:10; 13:41-43; 16:27; 19:28; 25:31). A nova idéia que Jesus apresentou foi que tanto no presente como no futuro reino de Deus ele intervém como Filho do Homem, e em conexão com isto aplicou a terminologia apocalíptica de "as duas eras" à sua nova estrutura escatológica. Enquanto que os apocalipticistas conceberam um dualismo claro de duas eras ou períodos nos quais a futura era isenta de pecado substituiria por completo a esta era pecaminosa, Cristo ensinou que com seu ministério tinha começado a era messiânica e As Profecias do Tempo do Fim 30 a salvação. Ao mesmo tempo reconheceu que "a era vindoura" começaria só com a ressurreição dos mortos (Luc. 20:34-36). A identificação por parte do Jesus da era messiânica com "esta era" (Mar. 10:29, 30) destruiu a idéia básica da doutrina das duas eras dos apocalipticistas. A ênfase de Cristo em sua mensagem foi chamar o arrependimento (metanoia) e aceitá-lo como Senhor e Messias (Mat. 4:17; 19:21), condição básica para entrar no reino de Deus no momento presente. Desta forma, a paz e o gozo messiânicos serão experimentados já agora na alma (João 15:11; 16:33). Esta tensão entre a escatologia inaugurada e a escatologia apocalíptica, entre o reino da graça e o reino da glória, entre o "já" e o "ainda não", é característica da mensagem do evangelho do Novo Testamento em sua totalidade. O evangelho não é simplesmente as boas novas a respeito da obra de Cristo no passado ou no futuro. Os poderes da era vindoura já invadiram esta era em forma dramática desde o Pentecostes, e agora os verdadeiros crentes "provam" dos poderes do século vindouro mediante Cristo (Heb. 6:5). Esta verdade do evangelho dissipa o desespero do apocalipticismo judeu. Os apóstolos afirmaram que a história da salvação entrou agora na era messiânica, ou os "últimos dias", no qual o poder libertador do Espírito de Deus está totalmente à disposição de todos os que se encontram em Cristo Jesus (Heb. 1:1, 2; At. 2:17-39). A INTERPRETAÇÃO QUE OS APÓSTOLOS FIZERAM DO CUMPRIMENTO DA PROFECIA A aplicação que faz Pedro da profecia do Joel é altamente instrutiva. O apóstolo aplica a promessa do Espírito de Deus profetizada pelo Joel ao derramamento pentecostal do Espírito Santo sobre os judeus cristãos reunidos em Jerusalém. Pedro cita a predição do Joel de um futuro derramamento do Espírito (Joel 2:28) e ato seguido assinala a experiência presente como o cumprimento "nos últimos dias", declarando: "Isto é o dito pelo profeta Joel" (At. 2:16). Um olhar mais detalhado aos assuntos mencionados no esboço profético do Joel expõe o problema seguinte: por que anunciou Pedro o cumprimento histórico dos "últimos dias" no dia de Pentecostes? Pedro citou Joel 2:28-32 embora algumas dos sinais preditos ainda não se cumpriam visivelmente, incluindo as seguintes: (1) "Toda carne" incluso no tinha recebido o derramamento milagroso do Espírito, porque só 12 apóstolos, ou no máximo 120 crentes, tinham-no recebido (At. 1:15); (2) os sinais milagrosos de "sangre, fogo e colunas de fumaça" parecem incluir mais que as "línguas de fogo" assentadas sobre cada um dos discípulos, sacudidos por um vento robusto; e (3) os sinais cósmicos do As Profecias do Tempo do Fim 31 sol e da lua, no melhor dos casos só se cumpriram parcialmente, até se se aceita o obscurecimento do sol por três horas durante a crucificação como um dos sinais (Mat. 27:45). Isto nos leva a um princípio básico de interpretação apocalíptica na mensagem apostólica: O cumprimento em Pentecostes constitui só uma escatologia parcialmente realizada. Do ponto de vista apostólico, o cumprimento dos "últimos dias" não requer um cumprimento imediato de cada detalhe. O cumprimento se enfoca na realização messiânica da promessa de Deus na história da salvação. O derramamento do Espírito demonstrou ser a indicação nesta terra da coroação do Jesus ressuscitado como o Rei- Sacerdote no céu (At. 2:33, 36). Em outras palavras, o cumprimento não requer a verificação de cada detalhe da profecia na história presente. O cumprimento está determinado pelo progresso da história da salvação no ministério de Cristo e seus apóstolos. Agora se tinha aberto um novo caminho de salvação para todo aquele que invocar o nome do Senhor Jesus (At. 2:21; ver também Rom. 10:9-13; 1 Cor. 1:2). Era-a escatológica do Joel
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