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P á g i n a | 1 Disciplina: DIREITO PENAL II - Casos Concretos do Livro Didático Capítulo 1 - Concurso de Pessoas 1. Desejando a morte do amante João, Maria inventa um estupro e convence seu filho Pedro a se vingar do suposto estuprador. Pedro, então, manda uma mensagem a João, pedindo que este vá até sua casa. Enquanto aguarda a chegada da almejada vítima, Pedro recebe a visita de Antônio, seu amigo, que lá passara para uma conversa informal, ocasião em que Pedro revela ao amigo o que pretende fazer. Logo depois João chega ao mesmo local. Pedro pede a João que se sente, ao passo em que Antônio, mesmo sem combinar previamente qualquer conduta com Pedro, vai até a porta e a tranca, objetivando impedir eventual fuga de João. Em seguida, Pedro, que sequer percebera a atividade de Antônio, se aproxima da vítima pelas costas e desfere uma machadada em sua cabeça. Com a morte da vítima, Pedro e Antônio carregam João para o quintal e, revezando-se, escavam uma cova, na qual depositam o cadáver, com a intenção de ocultá-lo. Refletindo sobre o caso concreto e sobre a participação de cada uma das pessoas nele citadas, como deve se dar a responsabilização penal dos envolvidos? Quais são autores e quais são partícipes dos crimes praticados? R.: A resposta, primeiramente, passa por identificar quais foram os crimes praticados por Pedro. Este, ao desferir uma machadada na cabeça da vítima pelas costas, cometeu homicídio qualificado pelo recurso que impossibilita a defesa da vítima. Contudo, como pensava eliminar o estuprador da própria mãe, incide sobre o caso uma causa de diminuição da pena, a saber, o relevante valor moral (art. 121, § 1º e § 2º, IV, CP). Além disso, Pedro cometeu ocultação de cadáver, crime previsto no artigo 211 do CP. Agora, analisemos a conduta de Maria: ao convencer Pedro sobre o estupro fictício, ou seja, ao enganá-lo, a mulher o induziu à prática homicida. Deve ela responder igualmente pelo homicídio? Sim. Há concurso de pessoas no caso concreto. Mas seria ela autora, coautora ou partícipe do delito? Depende da teoria adotada. Em uma perspectiva unificadora, como não há diferenciação entre autores e partícipes, é óbvio que Maria e Pedro seriam coautores. Vejamos, então, as concepções diferenciadoras: (a) teoria subjetiva – Maria desejava o crime para si (animus auctori), então seria ela autora do delito; (b) teoria objetivo-formal – como não executou o homicídio, Maria é partícipe do crime; (c) teoria do domínio do fato – Maria não executou diretamente o crime (não é autora imediata); não usou Pedro (que não é inimputável ou não agia em erro determinado por terceiro, senão quanto a existência do estupro) como instrumento de sua conduta, sequer existindo o domínio de um aparato organizado de poder (não há autoria mediata); e não exerceu conduta importante na fase executória do delito (não é autora funcional), de modo que Maria aparece como partícipe do homicídio. Um outro ponto deve ser verificado aqui: a causa de diminuição da pena concernente P á g i n a | 2 ao relevante valor moral e a qualificadora referente ao recurso que impossibilitou a defesa da vítima devem ser aplicados a Maria? Resposta: não e sim. Em ambos os casos temos circunstâncias (não elementares), sendo que, na primeira hipótese, são pessoais (motivação) e, na segunda, impessoais (modo do crime). Apenas as impessoais se comunicarão. E quanto à ocultação de cadáver? Dela Maria nem mesmo tomou ciência, não podendo ser responsabilizada. Passemos à conduta de Antônio: sabendo que Pedro iria matar a vítima e buscando ajudá-lo, Antônio aderiu subjetivamente à conduta do amigo. Contudo, sua conduta não teve qualquer relevância causal, de modo que ele não responde pelo homicídio. E no tocante à ocultação do cadáver? Pelas teorias objetivo- formal (praticou atos de execução) e do domínio do fato (houve divisão de tarefas relevantes, com imputação recíproca), atuou em coautoria com Pedro (para a teoria do domínio do fato, é autor funcional). Pela teoria subjetiva, quis apenas ajudar o amigo, ou seja, agiu com animus socii, sendo apenas partícipe. Resumo - Capítulo 1 • O concurso de pessoas consiste na prática de um mesmo delito por uma pluralidade de pessoas, subjetivamente vinculadas. • Podem participar de um crime duas categorias distintas de intervenientes: os autores e os partícipes. Essa distinção não influencia necessariamente na pena a ser imposta, pois, em determinadas circunstâncias, podem os partícipes suportar punições mais severas do que as reservadas aos autores. • A definição do conceito de autor passa por perspectivas unificadoras e diferenciadoras. As diferenciadoras são explicadas por diversas teorias, sendo que as mais difundidas são a teoria subjetiva, a objetivo-formal e a do domínio do fato. • A participação em sentido estrito é uma conduta acessória, consistente em induzimento, instigação ou auxílio (cumplicidade) ao autor, cuja punibilidade depende do início dos atos executórios. Também se baseia na teoria da acessoriedade limitada, exigindo-se apenas que a conduta do autor seja típica e antijurídica para que o partícipe seja punido. Dispensa-se a culpabilidade do autor. • Em regra, nosso ordenamento jurídico adota a teoria monista. Isso significa que todos aqueles que participam de um evento criminoso respondem pelo mesmo crime. Há exceções, contudo, como na cooperação dolosamente distinta (art. 29, § 2º, CP), onde o participante só responderá por aquilo que ele quis fazer. • No concurso de pessoas, deve ser averiguada a comunicabilidade das circunstâncias do crime aos intervenientes. Aquelas que sejam de caráter pessoal não se comunicarão, ao contrário das circunstâncias de caráter impessoal. As elementares sempre se comunicam. P á g i n a | 3 Capítulo 2 - Concurso de Crimes 2. Sobre concurso de crimes, caracterize o CONCURSO MATERIAL. R.: → 2 ou mais condutas; → 2 ou mais crimes; → Mesmo cotexto fático; → Sistema do cúmulo material. 3. Sobre concurso de crimes, caracterize o CONCURSO FORMAL. R.: → 1 conduta; → 2 ou mais crimes; → Desígnio único (perfeito) ou desígnios autônomos (imperfeito); → Sistema da exasperação (perfeito: 1/6 a 1/2) ou do cúmulo material (imperfeito). 4. Sobre concurso de crimes, caracterize o CONCURSO CONTINUADO. R.: → 2 ou mais condutas; → 2 ou mais crimes da mesma espécie; → Circunstâncias semelhantes de tempo, lugar, modo de execução e outras; → Específico: dolo + violência ou grave ameaça + vítimas diferentes → Sistema da exasperação (1/6 a 2/3 ou até 3X) 5. Dirigindo embriagado, João, em virtude da alteração de sua capacidade psicomotora, perde o controle do veículo e, sem querer, atropela três pessoas que se encontram em um ponto de ônibus, ferindo-as. Identifique, no caso concreto, as hipóteses de concurso de crimes e os sistemas de aplicação da pena. R.: A conduta do autor se subsome aos tipos penais de embriaguez ao volante (art. 306 da Lei n. 9.503/97) e lesão corporal culposa na direção de veículo automotor majorada (três delitos, todos previstos no art. 303, parágrafo único, da mesma lei). As lesões se encontram em concurso formal de infrações, pois, com um único comportamento (a violação de um dever de cuidado), o sujeito ativo lesionou três bens jurídicos. Como as lesões são culposas, esse concurso formal é reconhecido como perfeito, impondo a aplicação da pena pelo sistema da exasperação. Assim, em sendo todos os delitos de igual gravidade, será escolhida a pena de um deles, aumentada em 1/5 (em razão de existirem dois delitos sobressalentes). E quanto à embriaguez? Há duas formas de se avaliar a questão: pode-se imaginar que, em sendo um crime de perigo, a embriaguez restaria absorvidapelas lesões, pois representa um P á g i n a | 4 estágio anterior de proteção aos mesmos bens jurídicos. No caso, teríamos a aplicação do princípio da subsidiariedade, evitando o bis in idem. Ou seja, concurso aparente de normas, não concurso de crimes. Por outro lado, pode-se argumentar que o crime de embriaguez ao volante é classificado como de perigo comum, expondo a coletividade a um risco de lesão, ao passo em que as lesões são individualizadas. Ademais, o art. 306 da Lei n. 9.503/97 tem a pena mais alta. Assim, ele poderia figurar em concurso de crimes com as lesões, sem que isso implique bis in idem. Partindo desse raciocínio, a embriaguez estaria em concurso material com as lesões, impondo-se o sistema do cúmulo material entre ele e o conjunto das lesões. Resumo - Capítulo 2 • O concurso de crimes é marcado pela existência de duas ou mais infrações penais em um mesmo contexto jurídico, sem que haja concurso aparente de normas, o que interfere no sistema de aplicação das penas. • Há dois sistemas de aplicação das penas em nosso ordenamento jurídico: cúmulo material e exasperação. No cúmulo material, há a soma das penas; na exasperação, sistema benéfico ao condenado, a aplicação de patamares de majoração sobre a pena de um dos crimes praticados. Quando o sistema da exasperação, na prática, se torna prejudicial ao condenado, ele é afastado, em prol do cúmulo material, ora denominado concurso material benéfico. • As espécies de concurso de crimes são o concurso material, caracterizado pela prática de duas ou mais condutas em um mesmo contexto, que configuram dois ou mais crimes; concurso formal, onde uma conduta dá ensejo a dois ou mais crimes; e o crime continuado, parecido com o concurso material, mas onde, por ficção jurídica determinada por circunstâncias especiais, trata- se a hipótese como crime único. • O concurso material e o concurso formal imperfeito, em que há desígnios autônomos, exigem o sistema do cúmulo material; o concurso formal perfeito (desígnio único) e o crime continuado são regidos pela exasperação. • O crime continuado impõe que os delitos em continuidade sejam da mesma espécie, além de praticados em circunstâncias semelhantes de tempo, lugar, maneira de execução e outras, havendo dúvida sobre a exigência de um requisito subjetivo. • Se o crime continuado for praticado mediante violência ou grave ameaça contra vítimas diferentes, temos o crime continuado específico, previsto no parágrafo único do art. 71. • O crime continuado não se confunde com os delitos de natureza permanente e com os habituais, em que, de fato, há crime único. P á g i n a | 5 Capítulo 3 - A Pena 6. Eduardo, possuidor de um revólver devidamente registrado em seu nome, cansado, após limpar a arma, deixa-a sobre a mesa e dorme, esquecendo-se de guardar o objeto. Percebendo o descuido, seu filho Felipe, de 16 anos de idade, se apodera do revólver e usa-o para matar um colega de escola, que contra ele fizera bullying. Pergunta-se: O pai pode ser punido pela morte da vítima? Como os princípios constitucionais-penais se compatibilizam com a teoria agnóstica da pena? R.: Em virtude do princípio da personalidade, o pai não poderá ser responsabilizado pela conduta de seu filho, embora possa o ser pelo crime previsto no art. 13 da Lei n. 10.826, de 2003. A personalidade, assim como outros princípios, serve à limitação do poder estatal, o que se coaduna com a teoria agnóstica, que vê na pena a expressão de um ato político. Resumo - Capítulo 3 • A pena, consequência jurídica primária da infração penal, é um instrumento sancionatório-aflitivo cuja finalidade depende da teoria legitimadora adotada: simples castigo ao criminoso (teoria retributiva); instrumento de coação psicológica sobre a sociedade (teoria preventiva geral negativa); forma de ressocialização ou inocuização (teoria preventiva especial); ou instrumento de coação coletiva, para reforçar a confiança geral na eficácia do ordenamento jurídico (teoria preventiva geral positiva). Para alguns doutrinadores, essas teorias podem ser mescladas em uma ideologia mais eclética. Há, ainda, quem defenda a regulamentação da pena seja uma forma de contenção do poder político (teoria agnóstica). • Como ocorre em outros momentos do direito penal, a pena é regida por princípios, entre os quais estão a legalidade, a personalidade, a humanidade, a proporcionalidade (de onde extraímos a individualização das penas) e a inderrogabilidade. • Assim como é espécie do gênero sanção penal, as penas também são divididas em subespécies, a saber: as penas privativas de liberdade, que correspondem à prisão do condenado; as restritivas de direitos, que em regra substituem a pena de prisão, impondo limitações menos intensas; e a pena de multa, que se cuida do pagamento de um valor fixado em dias-multa ao Fundo Penitenciário Nacional. Capítulo 4 - Aplicação da Pena 7. Paulo, primário, após cometer um crime de roubo com emprego de arma fogo, é condenado a uma pena de seis anos de reclusão. Na sentença, o magistrado fixa como fechado o regime inicial de cumprimento da pena. Para tanto, justifica sua opção dizendo que o roubo é um crime grave e que P á g i n a | 6 a população não tolera mais a atividade de tais tipos de criminosos. Pergunta-se: (a) Em que fase do sistema trifásico será valorado o emprego de arma? (b) Procede a argumentação do magistrado para fixar um regime inicial mais severo do que aquele que seria cabível pelo disposto no art. 33, § 2º, do CP? R.: (a) O emprego de arma, no roubo (art. 157, § 2º, I, CP) é causa de aumento da pena, sendo valorada na fase da pena definitiva (terceira fase). (b) Para que seja imposto um regime mais gravoso, o magistrado deve se valer do disposto no § 3º, mas, para tanto, deve esposar uma fundamentação baseada no caso concreto. Argumentações vagas, principalmente as baseadas na gravidade em abstrato do crime, não são válidas. Capítulo 5 - Outras Regras Referentes à Pena 8. Adriano, condenado por estelionato, tem sua pena fixada em 1 ano e meio de reclusão, em regime inicial aberto. Na sentença, o magistrado suspende a pena, aplicando sursis simples. Questiona-se: (a) Está correta a decisão? (b) Qual é a principal diferença entre o sursis e o livramento condicional? R.: (a) A decisão está incorreta. Isso porque, na hipótese, seria cabível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. O sursis só tem vez quando inaplicáveis as penas restritivas. (b) Enquanto o sursis suspende a pena, antes mesmo do início de sua execução, o livramento condicional pressupõe o cumprimento de parcela da sanção penal. Capítulo 6 - Ação Penal 9. Em uma festa, Carlos, ao ver Natália completamente bêbada e inconsciente, a leva para o carro, local em que mantém com a vítima conjunção carnal. Pratica, assim, o crime do art. 217-A, do Código Penal (estupro de vulnerável). No dia seguinte, Natália, já recuperada, procura uma delegacia de polícia, narrando o ocorrido e pedindo providências. O inquérito policial consegue arrecadar provas da materialidade e indícios de autoria contra Carlos. Nessa hipótese, qual será a natureza da ação penal? O que deve acontecer para que Natália ofereça ação privada subsidiária? Uma vez oferecida a ação privada subsidiária, Natália poderá dela desistir, extinguindo a ação penal? R.: Como a vulnerabilidade é transitória, a ação penal se mantém pública condicionada à representação do ofendido, não havendo se falar em ação incondicionada. P á g i n a | 7 A vítima poderá oferecer ação privada subsidiária desde que o Ministério Público se mantenha inerte, deixando transcorrer o prazo para denúncia. Depois de oferecida a ação privada, Natáliapoderá dela desistir, mas a ação não será extinta. Ao contrário, o MP nela prosseguirá. Isso porque a ação continua substancialmente pública, aplicando-se a ela o princípio da indisponibilidade. Capítulo 7 - Extinção da Punibilidade 10. Rafael, nascido em 02/05/1990, ao dirigir imprudentemente, atropelou e feriu Marcos, cometendo, assim, o crime do art. 303 da Lei 9.503/97 (pena de 6 meses a dois anos de detenção). O fato se deu no dia 15/01/2011, sendo certo que a vítima compareceu à Delegacia de Polícia para representar contra o autor do fato em 09/04/2011. Encerrada a investigação, os autos foram remetidos ao Ministério Público, que, após ver frustradas as tentativas de composição civil ou transação penal, denunciou o autor do fato em 10/01/2013, dando-se a decisão de recebimento em 12/01/2013. Enfrentada a instrução processual, em 20/04/2014 o réu foi condenado a uma pena de oito meses de detenção, substituída por prestação de serviços à comunidade, decisão esta publicada no mesmo dia. Não houve recurso da acusação. Pergunta-se: Ocorreu a extinção da punibilidade do réu? R.: Não. Inicialmente, temos que observar se ocorreu a decadência do direito de representação, pois o crime em tela é de ação pública condicionada. Como esse foi exercitado em menos de seis meses, a contar da ciência da autoria pela vítima, o direito não decaiu. Deve-se, então, passar à análise da prescrição da pretensão punitiva pela pena em abstrato. Como o crime tem pena máxima de 2 anos, o prazo, pelo art. 109 do CP, é de 4 anos. Todavia, à época do crime, o réu tinha menos de 21 anos. Portanto, o prazo é reduzido para 2 anos. Da data de consumação do crime até o recebimento da denúncia, não houve o decurso de tal prazo. Igualmente, entre o recebimento da denúncia e a publicação da sentença condenatória, não restou expirado o prazo prescricional. Com a sentença condenatória e o trânsito em julgado para a acusação, passa a valer, para cálculo do prazo prescricional, a pena fixada na sentença (pena em concreto). E esta foi fixada em 8 meses, o que, consoante o art. 109, determina um prazo prescricional de 3 anos. Como o réu era menor de 21 anos quando do fato, 1 ano e 6 meses. Ainda que a pena privativa de liberdade tenha sido substituída por uma restritiva de direitos, esta prescreve no mesmo prazo. Então, há se fazer o cálculo da prescrição retroativa. Entre a publicação da sentença condenatória e o recebimento da denúncia, o tempo decorrido foi inferior a 1 ano e 6 meses. Esse tempo, todavia, foi superado entre o recebimento da denúncia e a data da consumação do fato. Contudo, tal período P á g i n a | 8 não pode ser utilizado para fins de prescrição retroativa. Por conseguinte, não ocorreu a extinção da punibilidade.
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