Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ ENSINO MÉDIO TRABALHO DA OBRA CASA DE PENSÃO DE ALUÍSIO AZEVEDO CURITIBA 2020 COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ ENSINO MÉDIO CASA DE PENSÃO Alunos: Ana Beatriz Silva de Souza (n°03); Felipe Dos Santos de Oliveira (n° 11); Luana Beatriz Graciano Braz (n° 23); Vitória Trucolo Ribeiro (n°32); Turma: 3° ano F. Prof°: Janeslei Aparecida Albuquerque. Disciplina: Português/Literatura CURITIBA 2020 1. FICHA TÉCNICA: Título: Casa de Pensão; Autor: Aluísio Azevedo; Ano em que foi escrito: 1884; Ano de publicação: 1890; Nacionalidade: Brasileiro; Número de Capítulos: 22; Narrativa: Impessoal, onisciente e onipresente (3° pessoa); Influência externa: Questão Capistrano, crime ocorrido em 1876/1877; Movimento literário: Naturalismo; Espaço: Rio de Janeiro; Tempo: Em nenhum momento a história nos relata um tempo preciso, até porque pressupõe que sendo uma história baseada em fatos reais, o caso Capistrano, deduz que se passe em 1876, data precisa do ocorrido que abalou a cidade do Rio de Janeiro. 2. INTRODUÇÃO Neste trabalho apresentamos uma visão ampla sobre a obra “casa de pensão” de Aluísio Azevedo, com o objetivo de mostrar nossa compreensão sobre o livro. Com todos requerimentos atendidos, pudemos desenvolver este trabalho de forma eficiente e direta, acompanhando a trajetória da personagem principal, o jovem Amâncio. A nossa metodologia utilizada foi a leitura e o entendimento da obra. Acompanhemos agora esta trajetória de Amâncio, jovem provinciano do Maranhão, que se muda para a cidade do Rio de Janeiro, onde poderia fazer um curso de medicina e, assim ganhar um título na sociedade. Os estudos afiguram-se maçantes para esse rapaz que anseia por aventuras amorosas na cidade carioca. A hospedagem na pensão de João Coqueiro e de Madame Brizard representa a independência sonhada e suas desventuras. Com base nas teorias deterministas, as páginas descrevem a rotina local, sublinhando com fina ironia a degradação e a imoralidade que caracterizam o pensionato. 3. CONHECENDO O AUTOR Aluísio Azevedo (Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo) nasceu em São Luís, Maranhão, no dia 14 de abril de 1857. Em 1871 matriculou-se no Liceu Maranhense e dedicou-se ao estudo da Pintura. Com 19 anos foi levado pelo irmão, o teatrólogo e jornalista Artur Azevedo, para o Rio de Janeiro. Começou a estudar na Academia Imperial de Belas-Artes, onde revelou seus dons para o desenho. Logo passou a colaborar, com caricaturas para os jornais "O Mequetrefe", "Fígaro" e "Zig-Zag". - Escola Literária Com a morte do pai, em 1879, Aluísio volta para São Luís e começa a carreira literária para ganhar a vida. Publica seu primeiro "Romance Romântico", Uma Lágrima de Mulher (1879), onde se mostra exageradamente sentimental para satisfazer um público ávido pelo romantismo. Em 1881, publica O Mulato, romance que iniciou o “Movimento Naturalista no Brasil”. A obra denunciava o preconceito racial existente na burguesia maranhense e provocou uma reação indignada da sociedade, que se viu retratada nos personagens, mas o livro foi um sucesso de vendas. Durante os intervalos da sua intensa produção literária, Aluísio Azevedo procurava escrever livros sérios e mais trabalhados. Surgem suas obras mais importantes, que pertencem à fase “Naturalista” do escritor, entre elas: O Homem, Livro de Uma Sogra, O Cortiço e Casa de Pensão. Carreira diplomática Em 1895, com quase quarenta anos, Aluísio vence um concurso para cônsul e ingressa na carreira diplomática, servindo na cidade de Vigo, na Espanha, no Japão, na Inglaterra, Itália, Uruguai, Paraguai e Argentina. Durante todo esse período não mais se dedicou a produção literária. Vivia com a argentina Pastora Luquez, junto com os dois filhos, Pastor e Zulema, por ele adotados. Aluísio Azevedo faleceu em Buenos Aires, Argentina, no dia 21 de Janeiro de 1913. Seis anos depois, no governo de Coelho Neto, a urna funerária de Aluísio Azevedo foi transferida para São Luís, sua terra natal. 4. RESUMO DA OBRA 4.1 Enredo inicial A história se inicia apresentando os personagens Luís Campos e Amâncio Vasconcelos. Há o convite de Campos para que Amâncio vá morar com ele e assim o garoto faz. Entre esse caminho, apresenta a história do protagonista, como e onde cresceu, aborda a relação com seu pai Vasconcelos, um português rígido e sua mãe Ângela, uma dócil mulher que dava de tudo pelo filho. Amâncio é de uma família rica do Maranhão. Mostra-nos a vida do garoto travesso em sua época de escola, onde ele apanhava de um professor mal-humorado aclamado pelos pais dos meninos, que diziam que apenas com severidade se poderia educar os garotos. Conta sobre os acontecidos e evidencia a aspereza do pai do protagonista e sobre como isso moldou a sua personalidade, já que ele queria tanto que Amâncio fosse um homem assim como ele, forte e que soubesse lidar com a vida da maneira correta. Ao chegar à vida adulta, após uma vida escolar conturbada e por ser um adolescente travesso, Amâncio decide que quer ganhar sua vida no Rio de Janeiro, para a tristeza de sua mãe que fica desesperada e doente com a sua partida e a aclamação de seu pai que diz que apenas assim ele se tornaria um “homem”. Amâncio parte para o Rio de Janeiro para cursar medicina, que não era de seu agrado, mas de acordo com ele era melhor do que cursar direito, que era o curso que queria, na província, onde ele não via futuro para si. Como o clássico jovem burguês vindo de outra cidade menor, buscava os luxos e prazeres da capital. Amâncio se hospeda na casa de negócios de Campos e sua família, que era formada por Hortênsia, sua esposa, e a irmã da mulher, a Carlota. Eles eram uma família respeitosa, rica e tradicional. Amâncio se sentia preso na casa de Luís tanto quanto se sentia em sua casa, graças a todas as regras impostas, por isso não se sentia confortável e queria se mudar de lá. Além disso ele havia começado a sentir desejos românticos por Hortênsia. 4.2 Desenvolvimento Um dia o protagonista encontrou seu amigo da província, Paiva Rocha, e este lhe apresentou outros amigos, que consistiam em João Coqueiro que tinha uma Casa de Pensão, a qual convidou Amâncio para conhecer, garantindo que ele iria gostar do local. Amâncio promete visitar e assim o faz, dando assim o início do desenvolvimento da história. Neste ponto, fomos introduzidos ao personagem João Coqueiro, que era nascido no Rio de Janeiro e, assim como Amâncio, tinha um pai carrasco e uma mãe dócil. O pai queria que o garoto, que era muito inocente e chorão, virasse “macho” e para isso fazia o garoto beber bebidas alcoólicas que o faziam mal e uma vez lhe deu um revólver, dizendo que ele iria aprender no mínimo a atirar, coisa que não foi possível. João tinha uma irmã mais nova chamada Amélia. Eles eram uma família rica, porém o dinheiro foi ficando escasso e com a morte do pai, quem passou a sustentar a casa era apenas a mãe de João. Ela conseguiu bancar os filhos abrindo uma casa de Pensão. Esta foi de muito sucesso e aclamada pelos hóspedes, com isso Coqueiro conseguia bancar seus estudos iniciais e Amélia ajudava na casa. Toda a alegria e paz foram embora quando a senhora Coqueiro pegou uma pneumonia e acabou morrendo, os negócios foram à falência e João teve que abandonar os estudos para cuidar dos negócios e de sua irmã. Ele arranjou um trabalho, mas teve que vender a pensão e estava muito triste por todos os acontecidos. A forma de reconstruir sua vida e de sua irmã foi casar-se com uma mulher mais velha por conveniência, umaviúva, com três filhos providos de seu segundo casamento. Desses filhos, uma era casada com um sujeito político e tinha boa vida, outra havia perdido o marido e ficou “louca” e o último era um garoto novo, ainda criança. Esta era Mme. Brizard, a qual agora vinha a se tornar esposa de João Coqueiro e cunhada de Amélia. Assim, João voltou para os estudos, e juntamente com Mme. Brizard, abriu uma Casa de Pensão, fizeram-na virar um lugar convidativo para se morar na famosa cidade turística. Voltando ao ponto onde a história havia parado, após convidar Amâncio, Vasconcelos vai visitar a casa de pensão. Coqueiro e sua esposa tinham o plano de fazer o protagonista se casar com Amélia, já que ele era rico e isso a daria um bom futuro. Amélia prontamente aceita a ideia de tentar o seduzir. Amâncio, ao chegar na residência dos Coqueiros, foi muito bem recebido, tratado como um membro família. Foi apresentado a Mme. Brizard, Amélia e todos os outros hospedes da casa, os quais o chamou atenção Lúcia, casada com Pereira. João leva Amâncio até onde seria seu quarto e o provinciano gosta do lugar, aceitando morar lá, no outro dia se despede da família de Campos, onde o garoto tem certeza de que se tivesse ficado mais tempo por lá mais tempo teria feito a Hortênsia cair em seus encantos, já que em sua visão não faltava muito para isso acontecer. Na casa de Pensão todos viam Amâncio com olhares de interesse, afinal ele era um jovem rico. Amâncio começa a receber cartas, estas sendo enviadas por Lúcia que jurava estar apaixonada por ele, mas na verdade via Amâncio como uma fuga para seu próprio casamento que nem ao menos estava escrito no papel. Ela o queria por ser um rapaz com dinheiro, todavia, nisso também entrava Amelinha, sendo sempre incentivada pela família a seduzir Amâncio, e assim ela fazia, mas de forma falha, já que agora Amâncio estava caído de encantos por Lúcia. Após uma briga na casa de Pensão, Amâncio vê a oportunidade de trocar de quarto e ir para o segundo andar, assim iria ficar mais próximo do quarto de Lúcia, mas isto não passa despercebido e não agrada nada os Coqueiros. Amâncio acaba por ficar doente, todos o mimam muito e cuidam dele. Campos, seu fiel amigo, providencia médicos e cuidados do melhor para ele, enquanto os donos da residência se dedicavam a cuidar do provinciano a todo momento, colocando Amélia como sua enfermeira no intuito de fazer o garoto se apaixonar. Enquanto não tinha ninguém no quarto, Lúcia entrava e ela e Amâncio ficavam juntos, mas nada que saísse de provocações vindas de Lúcia, pois ela dizia que não podia se entregar totalmente a Vasconcelos, já era casada, o jovem deveria a tirar do marido e fugir com ela, algo que o rapaz diz que faria quando estivesse saudável. Estas visitas feitas ao quarto de Amâncio não agradavam em nada o João e sua esposa, que sabiam as intenções de Lúcia. Então, os dois decidiram a despejar, aproveitando a desculpa de que ela e seu marido deviam os alugueis. Lúcia conta isso para Amâncio e também revela sobre o plano para que ele se case com Amélia. Como o provinciano não queria deixar sua amada ir embora, decide pagar seus aluguéis. Entretanto, mesmo com o aluguel pago, Lúcia e seu marido foram despejados e ela foi morar em outra pensão onde mandou carta dizendo o endereço para Amâncio, para ele ir a encontrar quando ficasse melhor. A saúde de Amâncio acaba por ir piorando, porque após se recuperar da varíola ele acaba tendo problemas com reumatismo também. Assim, ele precisa se mudar para outro local, mas os Coqueiros se recusavam a deixá-lo sozinho. Desta forma, todos se mudaram com ele, abandonando aquela pensão e indo para outro local onde o médico recomendou ao provinciano, tudo isso pensando que valeria a pena quando ele se casasse com Amélia. Graças a mudança de ares, Amâncio fica saudável e assim consegue sair de casa a primeira coisa que faz é ir até Lúcia, a qual ele tentar beijar e ir mais fundo em sua relação, mas a mesma fala sobre seu casamento. Vasconcelos e ela acabam se desentendendo, fazendo assim com que Amâncio a mandasse “ao inferno” e desistindo da relação. Naquela noite, ao entrar na casa de Pensão, foi até a Amélia, dando pela primeira vez atenção a garota. Os dois se beijam e prometem se encontrar no quarto quando todos da casa estivessem recolhidos, assim fazem continuamente, até Amâncio tirar a pureza da, não mais virgem, Amelinha. A relação de Amélia e Amâncio começa a ir muito bem, ele começa a fazer todos os gostos dela e ela vivia por ele, assim fazendo com que a família Coqueiro estivesse feliz e achando que seu plano estava indo para o caminho certo. Aproximando-se do período de provas de Amâncio, ele recebeu a notícia de que seu pai havia falecido. Assim, ele recebeu a herança de seu pai, mas também estava muito preocupado com sua mãe, queria ir visitá-la, porém os outros o convenceram a focar primeiramente nas provas e depois ele iria para o Maranhão encontrar D. Ângela. Fica muito nervoso e com medo de não conseguir passar na prova, mas acontece o contrário e ele se sai muito bem, tanto que Campos oferece sua casa para eles fazerem um jantar, não uma festa, considerando que Amâncio continuava em luto pela morte do pai. Neste jantar, Amâncio é tratado com muito respeito e o jantar começa a se tornar uma festa, onde muitos começam a dançar e beber. Aproveitando que estava na casa de Campos, ele sobe para o terraço onde estava Hortênsia e tenta abusar dela, a beijar e tocar, ela não aceita e fica muito irritada com a falta de respeito, faz ele prometer nunca fazer isso novamente. Amâncio fica confuso sobre Hortênsia, pois não sabia se ela queria ele ou não e ao descobrir fofocas de que ela era apaixonada por outro faz com que ele fique inconformado e comece a frequentar a casa de Campos mais vezes. Mesmo assim nunca entende se a mulher tinha reações positivas ou negativas sobre suas ações. Isto acontece enquanto ele já estava em uma relação estável com Amélia, que não lhe agradava mais, pois havia se tornado monótona. Amâncio decide escrever uma carta para Hortênsia declarando todo seu amor e perguntando em respostas exatas se ela o queria ou não. Amélia acha esta carta sem Amâncio saber e a esconde, o convencendo de que ele havia perdido e que ela nem a tinha visto, muito menos sabia do que se tratava. A menina leva a carta até o irmão que diz que era para ela continuar a agir normalmente, pois ele saberia usar essa carta no futuro. O provinciano, por sua vez, decide finalmente que deveria ir ver sua mãe no Maranhão e iria passar dois ou três meses por lá, mas Amélia é totalmente contra isso, dizendo para ele que só o deixaria ir se ele fosse casado com ela, uma vez que estando lá ele iria a esquecer, ele nega e se justifica várias vezes. Até que, sendo aconselhado por Paiva, ele decide que não deveria explicações sobre seus atos para a família de Coqueiro, considerando que não era casado com Amélia e que não os devia nada, decide assim então ir para o Maranhão visitar sua mãe sem comunicar nada aos companheiros de moradia para evitar mais discussões sobre o assunto. Contudo, a família não acreditou na mudança de planos de Amâncio e João Coqueiro descobriu tudo sobre a viagem secreta que estava planejando. 4.3 Desfecho João, revoltado pelo que Amâncio estava fazendo e sem crer que deixaria sua irmã, que agora já não era mais pura graças a ele, decide ir até um advogado, o Sr.Tavares, um homem velho, mas muito bom no ramo. Conta a sua história esperando que ele pegasse o caso. João Coqueiro conta para Sr. Tavares, com “testemunhas”, que Amâncio tinha tirado a pureza de Amélia sem seu consentimento, havia a abusado. Outras pessoas que entraram junto nessa mentira de Coqueiro contaram que ouviram ela pedindo por ajuda no quarto enquanto Amâncioabusava dela. Sr. Tavares aceita o caso e antes que Amâncio pudesse ir para o Maranhão ele é chamado para o tribunal, onde estava sendo acusado por aquele crime, que não havia cometido, e sendo muito julgado por todos. Campos, fiel amigo da família Vasconcelos e de Amâncio, é quem acha para ele um bom advogado e confia em sua palavra, correndo para ajudar o rapaz como se fosse salvar o próprio filho da prisão. No dia em que Campos iria pagar para fazerem manchetes sobre a inocência de Amâncio, ele recebe uma carta de João e, junto das palavras de Coqueiro vinha a carta que Amâncio havia escrito para Hortênsia se declarando. Isso faz Campos amaldiçoar Amâncio, um amigo por quem ele fazia tanto, mas que o traiu desta maneira. A partir disso, ele ficou do lado de Coqueiro e abandonou Amâncio, mandando para ele uma carta onde dizia sobre sua traição, está carta chega para Amâncio na prisão junto com uma carta de Hortênsia pedindo o pedindo desculpas, dizendo que parte daquilo era culpa dela e também o pedindo para encontrá-la quando saísse. Isso o deixa irritado com a mulher, por ela realmente ser a culpada de tudo, em sua visão, e também o deixa preocupado por ter perdido as ajudas de seu amigo mais influente. Graças a má fama da família Coqueiro e a boa lábia de Amâncio, muitas pessoas ficam do lado do jovem e defendem sua inocência. Após três meses, ele é liberado e dado como absolvido, fazendo com que todos seus colegas da Academia onde estudava ficassem felizes e fizessem festa, junto com muitas outras pessoas que torciam pela liberdade do provinciano. Todavia, a alegria de todos não era a alegria da família de Coqueiro, que agora choravam e não tinham dinheiro para nada, já que haviam sacrificado muito pelo casamento que não deu certo e eram extremamente mal vistos pelo feito com Amâncio. Mme. Brizard xinga o marido e coloca nele a culpa de tudo nisso. Amélia só conseguia chorar por agora ser uma prostituída e por Amâncio não estar mais preso. Todas as alegrias e felicitações entregues a Amâncio por sua liberdade voltavam para João ao contrário, sendo alvo xingamentos diretos. Isto o faz cogitar se matar com o revólver que havia recebido do pai quando mais novo para aprender a atirar, mas ele não tem coragem para tirar sua própria vida. No dia seguinte vai até onde Amâncio estava hospedado e atira nele, o matando. A última coisa que Amâncio fez foi chamar por sua mãe, antes de morrer segundos após o tiro. João Coqueiro corre do quarto, mas mesmo assim acaba preso pelo acontecido. Mesmo com aquilo, houve pessoas que defendiam sua causa, dizendo que se tivesse sido com suas irmãs, eles teriam feito o mesmo. Campos promete que iria cuidar de Mme. Brizard e de Amélia e nada faltaria a elas, em gratidão a vingança que João havia feito pelos dois. O livro finaliza com a dona Ângela, mãe de Amâncio, indo para o Rio de Janeiro para tirar o filho da prisão, pois não sabia ainda sobre o fato dele ter sido assassinado. Descobre quando, ao passar pela rua e encontrar o nome e a foto de Amâncio Vasconcelos, assim ela vê o filho no necrotério e desaba em lágrimas. ”Amâncio de Vasconcelos, assassinado por João Coqueiro no Hotel Paris, em tantos de tal.” 5. ANÁLISE DA OBRA 5.1. Linguagem Uma técnica comum ao escritor desta obra é o abuso dos pormenores descritivo-narrativos de tal modo que a estória caminha devagar, lerda e até monótona. É a necessidade de ir juntando detalhes e situações para dar ao leitor uma impressão segura de que tudo é pura realidade. Essas minúcias se estendem a episódios, a personagens e a ambientes. Há detalhes de tempo, local e personagens. Não se pode dizer que a linguagem do romance é regionalista, na verdade o padrão da língua usada é geral e o torneio frasal, a estrutura morfossintática é completamente fiel aos padrões da antiga gramática portuguesa. Como Machado de Assis, Aluísio Azevedo também usa alguns recursos desconhecidos da língua portuguesa do Brasil, principalmente na língua oral. Assim, por exemplo, o caso da apossínclise (é uma posição especial do pronome oblíquo que não escutamos no Brasil, mas é comum até na língua popular de Portugal). São exemplos de apossínclise: "Há anos que me não encontro com o amigo." (Há anos que não me...). 5.2. Naturalismo e a relação com o autor O autor de Casa de Pensão, Aluísio Azevedo, é considerado um dos maiores escritores representantes do naturalismo. Uma característica marcante sobre ele é que escrevia de acordo com o gosto do público leitor da época. Ao contrário de outros escritores que apresentavam fases, Aluísio Azevedo produzia em seus trabalhos traços do naturalismo e do romantismo, simultaneamente. Para o público escrevia romances românticos, chamados por ele de “comerciais” e também escrevia os romances naturalistas, chamados de “artísticos”. Aluísio Azevedo foi um grande caricaturista e conta a história que ele possuía um método bem original de escrita. Primeiro ele desenhava as personagens, depois começava a escrever as cenas. A sua obra “Casa de Pensão”, de forma concisa, nos demonstra no decorrer de suas páginas, a presença do Naturalismo, que é a essência e o molde tomado como base para o decorrer da história presente em tal livro. O autor estuda as influências da sociedade sobre o indivíduo sem qualquer idealização romântica, retratando rigorosamente a realidade social trazendo para a literatura um Brasil até então ignorado. Encontramos na obra esse grande vínculo com a realidade, que tenta fortemente existir para que se suceda da forma mais natural. Pode-se pontuar também que o autor possui uma espécie de narrativa intermediária entre o romance de personagem e o romance de espaço, que respectivamente se apresentam de forma separada em outras duas obras de sua autoria, “O Mulato” (1881) e ”O Cortiço” (1990). Em O Mulato, todas as ações estão vinculadas à trajetória do herói. Mas, em O Cortiço, a conquista e manutenção de um espaço é que impulsiona a ação. E na obra Casa de Pensão, ambos os movimentos são perceptíveis e por isso é considerado intermediário. Ainda em relação a ligação da obra ao naturalismo, podemos também pontuar algumas características como a criação a partir de fatos reais, a demonstração do determinismo, assim como a sua influência no indivíduo e qual era o foco abordado por ele neste livro, que eram problemas como preconceitos de classe, de raças, a miséria e as injustiças sociais. Ele descreve a vida nas pensões chamadas familiares, onde se hospedavam jovens que vinham do interior para estudar na capital. Diferente do Romantismo em que também estava habituado a trabalhar, o Naturalismo enfatiza o lado patológico do ser humano, as perversões dos desejos e o comportamento das pessoas influenciado pelo meio em que vivem, e isso é fortemente marcado ao conhecer os personagens e suas particularidades, sendo até mesmo difícil para alguns leitores criar um carinho por eles, uma vez que nenhum se mostra 100% bonzinho ou vilão, mas apresentam ambições ou mentalidades que refletem como a sociedade realmente é, uma vez que sabemos que não há perfeição no mundo real, sendo assim, em uma obra naturalista, isto não seria retratado. 5.3. Análise dos personagens Como citado anteriormente, as personagens, portando nomes fictícios, escondem pessoas reais e vão ser analisados de uma maneira mais aprofundada. Personagens principais, que o leitor conhece mais intimamente: - Amâncio da Silva Bastos e Vasconcelos (João Capistrano da Silva) “Era de vinte anos, tipo do Norte, franzino, amornado, pescoço estreito, cabelos crespos e olhos vivos e penetrantes, se bem que alterados por um leve estrabismo. Vestia casimira clara, tinha um alfinete de esmeralda na camisa, um brilhante na mão esquerda e uma grossa cadeia de ourosobre o ventre. Ao pés, coagidos em apertados sapatinhos de verniz, desapareciam-lhe casquilhamente nas amplas bainhas da calça.” Este é o protagonista, um jovem do interior rico e disperso. Um estudante de 20 anos, vindo do Maranhão até o Rio de Janeiro para tornar-se médico na Corte. Encanta-se com os luxos da capital e só quer viver de farras e bebedeiras. Era um jovem que apresenta até mesmo ser ingênuo em relação as pessoas e suas verdadeiras intenções e carrega consigo diversos problemas e memórias devido a sua infância, o que faz com que o leitor compreenda o caráter e algumas atitudes que ele tem ao longo da história. Seu pai o repreendia demais, não demostrava carinho o suficiente e era muito rígido com a criança. Assim como o Professor Pires, uma figura que lhe assombrava a mente mesmo após chegar na idade adulta. Em contrapartida, sua mãe o mimava muito e, pode-se dizer que até certo ponto, este é um dos motivos dele ter se tornado um garoto tão medroso e covarde, o que é mostrado em alguns momentos da trama, apesar dele se mostrar sempre muito bem resolvido em outros pontos. Ele é um romântico mulherengo, de certa forma, e isto tem influência das obras que lia em seus tempos de adolescência e pela maneira que ele via as mulheres desde essa época, não desejando casar antes de concluir seus outros planos de vida. Interessa-se por D. Hortênsia, esposa do homem que lhe deu abrigo e sempre o ajudava, mas nem isso fez com que o encanto pela mulher acabasse. Ele foi enganado por várias pessoas apenas por ser rico. Tinha vários amigos ao seu redor e mulheres aparentemente atraídas por si, quando na verdade desejavam seu dinheiro. Apresenta umas atitudes problemáticas quando é rejeitado, agindo como uma criança mimada, como no caso que aconteceu com Lúcia, onde ela mais uma vez negou avançar a relação e ele a tratou agressivamente e terminou o caso que tinham, ou o que ocorreu ao Hortênsia negar-lhe um beijo, o que o tirou de controle e o fez apertá-la bruscamente, só se dando conta do que fazia ao escutar as reclamações da esposa de Campos. É possível concluir que a educação severa do pai e do mestre-escola, a superproteção da mãe e a doença contraída da ama-de-leite são as geratrizes de uma personalidade reprimida e hipócrita. - João Coqueiro - Janjão - (Antônio Alexandre Pereira, irmão da moça Júlia Pereira e assassino de João Capistrano. Foi também absolvido pelo crime que cometeu) “seus olhos, pequenos e de cor duvidosa, conservavam a mesma penetração e a mesma fixidez incisiva de ave de rapina; sua boca estreita, bem guarnecida e quase sem lábios, tinha o mesmo riso arqueado, mal seguro e frio, de quem escuta e observa. Era de altura regular, compleição ética, rosto comprido, de um moreno embaciado, pouca barba, pescoço magro, nariz agudo, mãos pálidas e secas, voz doce e cabelo muito crespo, de colorido incerto, entre castanho e fulvo. Tinha vinte e sete anos, mas aparentava, quando muito, vinte e dois” Pág. 46 ... “O Coqueiro, com a sua figurinha de tísico, o seu rosto chupado e quase verde, os seus olhos pequenos e penetrantes, de uma mobilidade de olho de pássaro, com a sua boca fria, o seu nariz agudo, o seu todo seco egoísta, desenganado da vida, não era das coisa que, mais o atraíssem.” Este personagem, com seus 27 anos, mostra-se extremamente ambicioso e com um duplo caráter, sendo objetivo em relação a seus desejos. Casou-se com Mme. Brizard, tendo pouco mais de 20 anos, principalmente por negócios e desde que conheceu Amâncio e soube de sua fortuna, quis tornar-se seu amigo e lhe oferece um quarto na pensão dele e de sua esposa. Entretanto, junto de sua irmã, Amélia, traçou planos para extorquir o dinheiro de Amâncio, fazendo com que ela, já com seus 23 anos, tentasse casar com o rapaz. Sua infância também foi difícil, com pais extremamente rigorosos e que morrem cedo, fazendo com que ele se torne a figura paterna para Amelinha. Desta forma, é possível para o leitor compreender o porquê dele se mostrar tão objetivo em relação a mudar de vida e não apresentar um caráter muito bom, pois não teve bons exemplos ao longo da vida. - Amélia - (Júlia Pereira) a moça seduzida, pivô da tragédia. “O cabelo, denso e castanho, prendia-se-lhe no toutiço por um laço de seda azul, formando um grande molho flutuante, que lhe caía elegantemente sobre as costas O vestido curto, muito cosido ao corpo, enluvava-lhe as formas, dando-lhe um ar esperto de menina que volta do colégio a passar férias com a família. Era muito bem feita de quadris e de ombros. Espartilhada, como estava naquele momento, a voltas enérgica da cintura e a suave protuberância dos seios produziam nos sentidos de quem a contemplava de perto uma deliciosa impressão artística. Sentia-se-lhe dentro das mangas do vestido a trêmula carnadura dos braços; e os pulsos apareciam nus muito brancos, chamalotados de veiazinhas sutis, que se prolongavam serpeando. Tinha as mãos finas e bem tratadas, os dedos longos e roliços, a palma cor- de – rosa e as unhas curvas como um bico de papagaio. Sem ser verdadeiramente bonita de rosto, era muito simpática e graciosa. Tez macia de uma palidez fresca de camélia; olhos escuros, um pouco preguiçosos, bem guarnecidos e penetrantes; nariz curto, um nadinha arrebitado, beiços polpudos e viçosos, à maneira de uma fruta que provoca o apetite e dá vontade de morder. Usava o cabelo cofiado em franjas sobre a testa, e, quando queria ver ao longe, tinha de costume apertar as pálpebras e abrir ligeiramente a boca.” Amélia, com seus 23 anos, já estava acostumada a lidar com pessoas, pois era experiente no seu trabalho na Casa de Pensão de Mme. Brizard. Ela é uma jovem astuta e virgem, que tem noção que está na idade para casar, de acordo com a época, e assim, está disposta a seduzir Amâncio. Quando ela alcança esse objetivo, revela uma outra face de si, chantageando Amâncio para conseguir o que deseja, sendo possesiva e ciumenta, além de materialista. Tenta abordar o tema “casamento” várias vezes nas discussões com o amante, mas ele sempre recusava a ideia, fazendo-a ficar irritada, uma vez que já havia deflorado a mulher e isso era a obrigação de Amâncio a partir daquele momento. Essa foi a principal razão que levou ao trágico acontecimento final do livro. - Mme. Brizard - (D. Júlia Clara Pereira, esposa do assassino) É uma viúva, dona da casa de pensão. Com seus cinquenta anos, era viúva de um afamado hoteleiro que lhe deixara muitas saudades e dúzia e meia de apólices da dívida pública. Nascida em Marselha, a francesa se casou aos quinze anos com um diplomata russo que morrera e não deixara filhos, estava viúva aos vinte. Depois apareceu Mr. Brizard, a subida de Luís Felipe ao trono o fez vir ao Brasil e se tornar hoteleiro, amava o Brasil. Após casar com João Coqueiro passa a ser a principal cúmplice nas tramoias para ludibriar o jovem Amâncio. Era mãe três filhos, sendo abordados nessa história o pequeno César e Nini, uma moça que perdeu seu filho e a partir disso, desenvolveu problemas mentais, como histeria. A senhora se mostrava uma ótima anfitriã e encarregada dos negócios. Assim como o marido, revelava seu lado bondoso quando tinha interesse em recompensas, e era isso que constantemente fazia com Amâncio. - Manoel Pedro Vasconcelos Pai de Amâncio, homem muito rude e severo com filho. Um momento marcante da sua participação na história foi quando enviou uma carta ao filho, onde, pela primeira vez, haviam palavras de carinho. O seu tratamento rigoroso dirigido a Amâncio era devido ao fato de que ele, como um pai, pensava que deveria impor respeito e criar um homem forte. Porém, como o próprio Amâncio conclui após ler a carta do pai “o amor de pai é bem contrário ao amor de filho; não se lembrava de que aquele nasce e subsistepor si e que este precisa ser criado; que aquele é um princípio e que este é uma consequência; que um vem de dentro para fora e que o outro vem de fora para dentro. Não se lembrava, o infeliz, de que o primeiro existirá fatalmente, por uma lei indefectível da natureza; ao passo que o segundo só aparecerá se lhe derem elementos da vida. Foi desses elementos que Amâncio nunca dispôs para poder amar o pai”. Assim, é perceptível que o pai amava sim o garoto, e ao não demostrar isso desde cedo, acabou, sem querer, não conquistando algo como o amor de seu filho, mas sim o medo, que ele julgava ser fruto do respeito que ele tinha por ele. - D. Ângela É a mãe de Amâncio, que o ama perdidamente e sofre muito pela saída do filho de sua casa para viver no Rio de Janeiro. Era ela quem o protegia e quem o socorria em momentos de medo e tristeza, sendo extremamente importante na vida de Amâncio e quem dirigia suas cartas após se mudar. - Pires Professor de Amâncio dos 7 aos 12 anos, um homem carrasco e que batia nos alunos, era um ditador em sala. Devido aos maus tratos, o protagonista carrega um trauma muito grande. - Luís Campos Este é o homem que comanda uma casa de negócios e hospeda inicialmente o jovem universitário. Sempre demostra ser extremamente correto e ético, além de possuir um respeito muito grande pela família Vasconcelos e, por isso abriga alegremente o jovem provinciano. Considera-se um amigo de Amâncio e está lá para ele em todos os momentos, até mesmo o defende quando é preso. Quando acontece a revelação dos sentimentos do amigo por sua esposa, ele torna-se indiferente em relação a Amâncio e não carrega nenhum carinho por nada relacionado a ele. - D. Hortênsia Esposa de Luís Campos que é assediada por Amâncio, resiste e, assim que sabe da prisão do rapaz, arrepende-se perdidamente. É considerada uma esposa perfeita para aquela época, mostrando-se servente e companheira, apesar de viver infeliz com o marido, pois viviam uma relação monótona de casados. Por isso a ideia de aceitar os flertes de Amâncio, de certa forma não a desagradava, era uma novidade em sua vida, mas como era uma esposa fiel, nunca traiu o marido. - Paiva Rocha É um conterrâneo de Amâncio, que lhe apresenta a vida boêmia, a companhia de João Coqueiro e de Simões. Os Hóspedes: o autor apresenta a singularidade de cada um dos moradores daquela pensão, como pessoas do cotidiano, o que demonstra esse traço condizente com a realidade. Nº 01: Dr. Tavares – Advogado, que gostava de fazer discursos inflamados e fantasiosos. Nº 02: Fontes – Era um homem que havia ficado rico, mas perdera todo seu dinheiro, agora tentava se reerguer vendendo “muamba” pela cidade. Nº 03 Piloto – Repórter do jornal Gazeta que não era muito presente nas confraternizações da pensão. Nº 04 Campelo – Misterioso, pouco se sabia sobre ele. Nº 05 Paula Mendes e Catarina – O marido era rabequista e ela pianista, tinham um relacionamento muito difícil e foram protagonistas de algumas brigas que agitavam a casa de pensão. Devido a situação financeira deles, são obrigados a vender o piano para quitar dívidas. Nº 06 O guarda-livros – Homem que paga sempre em dia e troca com Amâncio pelo gabinete no meio do livro, sendo assim, um hóspede valioso para os donos. Nº 07 Homem doente – Definha dia após dia e morre nas mãos de Amâncio. Um fato interessante sobre ele que deve ser analisado é como ele é ignorado com sua doença, era tísico (tinha tuberculose), mas quando Amâncio fica doente a situação é completamente contrária, mostrando como a diferença social e financeira dos dois corresponde a tratamentos diferenciados vindo das mesmas pessoas que estavam ao redor de ambos. Nº 08 Lúcia e Pereira – Lúcia era uma senhora interesseira que tentou seduzir Amâncio, e chegou até a delatar o plano dos donos da casa de pensão, mas João Coqueiro e Mme. Brizard mandaram-na embora. Pereira é um lento que só dorme e indigna Lúcia com isso. A casa de pensão do Coqueiro já era a sexta por onde percorriam com o seu suposto marido e assim eles viviam a vida, de pensão em pensão por não pagarem suas dívidas. Uma característica de Lúcia que intrigava Amâncio era a forma que ela o deixava esperando, e assim, ele se interessava cada dia mais por ela. Nº 09 Melinho – Funcionário da Caixa. Nº 10 Lambertosa – o Gentleman, homem metido a intelectual. Nº 11 Dr. Correia – Médico, alugava o quarto supostamente só para estudar 5.4. Análise aprofundada e intertextualidade Em relação a busca de deixar a história o mais real possível, podemos lembrar que para isso houve como base o uso de um fato real, o crime que sensibilizou e se sucedeu em 1876/77 no Rio de Janeiro, a “Questão Capistrano”, que envolvia dois estudantes, em situação muito próxima à da narração de Aluísio Azevedo. Já em relação a crítica à sociedade da época podemos ver ela presente em todo o livro, abrangendo temas como a aplicação da disciplina a partir da brutalidade, a presença do patriarcalismo na sociedade, as classes sociais, a desigualdade social, o uso de influência para manipular informações, dentre vários outros que podem ser encontrados nessa obra que nos exprime tão detalhadamente a sociedade da época. Pensando de uma forma mais voltada ao que está presente na obra, acabamos por perceber a influência do ambiente em que o indivíduo está contextualizado, por exemplo o fato de que Amâncio se tornou o que é na história devido a socialização que obteve desde sua infância, o mesmo ocorre para o Coqueiro e para a Lúcia, porém o fato de estarem em classes sociais distintas, faz com que o protagonista revele uma formação de um indivíduo totalmente diferente, com seus próprios ideais e sua própria forma de sobreviver no mundo. Pode-se complementar que essa divisão na sociedade causa uma desigualdade social bem evidente e podemos perceber isso no livro, por exemplo se estabelecermos novamente uma relação entre o hóspede tuberculoso e quando o Amâncio esteve doente, onde podemos perceber como os dois indivíduos foram tratados de forma diferente mesmo estando na mesma situação. Contudo, uma coisa é certa, todos irão em algum momento morrer não importando em que classe social esteja e para deixar mais claro podemos pensar no ditado popular “Todos os caminhos levam a Roma”, ou seja, há coisas que não temos como fugir e uma delas é a morte. A saída de Amâncio da sua casa no Maranhão representa uma saída tardia de um jovem que vai em busca dos seus desejos e suas convicções, essa saída das “asas dos pais” representa a mesma vontade que é apresentado por Cartola na música “Preciso Me Encontrar”, onde é expressada a vontade de explorar o mundo e conhecer tudo o que ele tem a dispor, ou seja, uma viagem pela busca da liberdade. A ideia de ir ao Rio de Janeiro, é camuflada pela desculpa de ir lá estudar medicina, contudo sua real motivação decorre da sua concepção ingênua sobre como viver uma vida. Entretanto, o distanciamento da família e essa busca do “seu viver” leva ele a sua ruína, de forma que podemos relacionar isso ao ditado popular “Uma andorinha sozinha não faz verão”, pois nada caminha a seu favor. Tudo que se sucede em sua vida o deixa cada vez mais longe da liberdade que este procurava, o deixando cada vez mais engaiolado como um pássaro, onde não há como fugir/mudar a situação. A frase “O homem é o lobo do homem” de Thomas Hobbes representa muito bem o fato de que o homem leva a si e aos outro ao seu fim, tanto que podemos relacionar isso ao que se sucedeu com a família do Coqueiro, que cobiçou a fortuna de Amância e almejou um casamento, a ponto de esquecer de pensar sobre suas ações, que acabaram por resultar em sua destruição, o que podemos relacionar aos ditados populares “Mais vale um pássaro na mão do que dois voando” e“Para baixo todo santo ajuda”, pois eles explicam muito bem o resultado da ação destes indivíduos. Em outras palavras, podemos relacionar o que foi abordado na frase inicial ao lado patológico do ser humano, as perversões dos desejos e o comportamento das pessoas influenciadas pelo meio em que vivem, isso acabaria por explicar o porquê das ações dos personagens acontecerem, por exemplo, podemos pensar nas ações machistas de Amâncio, onde este usa da força física para saciar suas paixões efêmeras. Portanto, podemos pensar que essas ações autodestrutivas e erradas são consequências do uso de um ponto de vista individualista, onde o que importa é o indivíduo conseguir sempre mais, não importando o que ele precise fazer para obter seu objeto de desejo. As relações de poder se desenvolvem em todos os âmbitos, como por exemplo, o ideológico, o econômico e o político. No ideológico podemos pensar na ação do patriarcalismo, de forma que podemos ver ele na obra, como nas ações da família Coqueiro que eram resultados do que o João pensava ser melhor, tanto que esse ideal de que as ações estão nas mãos do homem da casa foi um dos fortalecedores da ideia de matar Amâncio e este levou sua família a ruína, podemos também pensar sobre o patriarcalismo expresso na imagem idealizada em que é posta D. Hortênsia, que remete ela a “mulher perfeita”, aquela que serve como exemplo para as demais mulheres. Pode-se relacionar essas relações a série “Coisa Mais Linda”, onde podemos observar o patriarcado dentro da sociedade e como ele atua de forma tão imponente no modo como os indivíduos vivem e como as relações de gênero são apresentam com uma valorização do homem e a desvalorização da mulher. No econômico podemos pensar na família e nos status sociais em que o indivíduo se apresenta, por exemplo a família Vasconcelos que possui dinheiro e influência e dá a Amâncio uma chance de iniciar sua vida de uma forma muito melhor do que a obtida por Coqueiro, sendo essa a melhor expressão do principal influente na colocação social do indivíduo, pois o status social pode ser obtido com mais facilidade se o indivíduo possuir dinheiro e prestígio relacionado a ele ou a sua família. A educação e o criação de fortuna são as únicas formas de escalar essa cadeia social, pois respectivamente uma leva ao prestígio e a outra a influência, que pode ser comprada ou ganha com o tempo. Contudo, quando a criação da fortuna ou a educação é impossibilitada, o indivíduo que está em uma classe social baixa continuará nela, pois não há a possibilidade de haver uma ascensão do mesmo, podemos até pensar na frase de Paulo Freire “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”, pois é isso que acontece e podemos ver isso no personagem Coqueiro que não consegue sua ascensão na sociedade por conta dele e faz parte da população oprimida, não conseguindo a mobilidade social, entretanto, almeja estar no topo, ser um opressor, de forma que podemos ver isso quando o Coqueiro se agarra a Amâncio, pois nele ele acaba por encontrar a oportunidade de subir na vida. A prisão de Amâncio nos proporciona criar uma relação com o uso da manipulação de informações no âmbito político, um problema que persiste na atualidade. A figura de Amâncio representa como um simples indivíduo pode se tornar uma grande figura, a partir do momento em que usam da sua história e a tornam maior ou mais significativa do que seria se não houvesse a proporção e o fato da mídia a propagar e tornar ele um símbolo popular, que podemos relacionar ao filme “Coringa” lançado em 2019, que representa bem como é possível usar de um “simples indivíduo” para representar a população e a injustiça falha, de forma que este indivíduo ganhe lugar no “coração popular”. 6. OPINIÃO Casa de pensão é um clássico da literatura brasileira que possui uma trama simples, mas muito bem amarrada e desenvolvida. Apesar de extremamente detalhista, o que em alguns momentos torna-se maçante – como quando, por exemplo, o autor narra a vida inteira de um personagem secundário - a escrita de Aluísio Azevedo não é complicada como a de outros escritores da época, fazendo com que a leitura não se torne complexa. Os personagens de Casa de Pensão são todos bem construídos, com personalidade e história própria, além de papel na trama. São condizentes com a realidade, todos passíveis de corrupção e muito influenciados pelo meio. A malandragem, malícia e esperteza de todos eles os tornam representações perfeitas do conhecido “jeitinho brasileiro”. É impossível gostar ou odiar completamente os personagens, como por exemplo o Amâncio, sendo em certos momentos alguém digno de repúdio e em outros, alguém com que o leitor possa sentir simpatia, por se demostrar inocente em relação a verdadeira intenção das pessoas ao seu redor. É até mesmo possível se identificar com os personagens em determinados momentos. É um livro que nos proporciona entender mais o Brasil do Século XIX, com uma crítica ao modo de vida da época, o que não deixa de tornar a obra bem atual. Com personagens de ações e índoles questionáveis vivendo em uma sociedade de aparências e de interesses, o autor obriga o leitor a encarar certas verdades sobre o caráter humano, ou a falta dele. Aluísio nos faz refletir o quanto somos influenciados pelo meio em que vivemos e como o desejo por algo pode nos levar a finais trágicos. 7. CONCLUSÃO No decorrer do trabalho, mostramos nossa compreensão e opinião a respeito da obra de Aluísio Azevedo. Vale ressaltar que, mesmo sendo uma história contextualizada em uma época distante, ainda pode ser considerada reflexo dos problemas atuais enfrentados pela sociedade brasileira, onde a diferença entre as classes sociais faz com que sejam reveladas características dos seres humanos, como a ambição. Também as relações interpessoais que ocorrem ao longo da vida moldam o caráter e personalidade do indivíduo. Esses pontos foram apresentados com clareza pelo autor da obra e por isso, foram abordados de forma concisa no decorrer do trabalho. 8. REFERÊNCIA AZEVEDO, Aluísio. Casa de Pensão. Edição 5. São Paulo: Ática, 1989. BIOGRAFIA DE ALUÍSIO AZEVEDO (Fonte: https://www.ebiografia.com/aluisio_azevedo/); https://pt.wikipedia.org/wiki/Casa_de_Pens%C3%A3o; https://beduka.com/blog/materias/literatura/resumo-de-casa-de- pensao/#:~:text=Principais%20personagens&text=Am%C3%A9lia%20% E2%80%93%20Ela%20%C3%A9%20uma%20jovem,se%20interessand o%20pelo%20jovem%20Am%C3%A2ncio.; https://www.passeiweb.com/estudos/livros/casa_de_pensao/ https://www.ebiografia.com/aluisio_azevedo/ https://pt.wikipedia.org/wiki/Casa_de_Pens%C3%A3o https://beduka.com/blog/materias/literatura/resumo-de-casa-de-pensao/#:~:text=Principais%20personagens&text=Am%C3%A9lia%20%E2%80%93%20Ela%20%C3%A9%20uma%20jovem,se%20interessando%20pelo%20jovem%20Am%C3%A2ncio. https://beduka.com/blog/materias/literatura/resumo-de-casa-de-pensao/#:~:text=Principais%20personagens&text=Am%C3%A9lia%20%E2%80%93%20Ela%20%C3%A9%20uma%20jovem,se%20interessando%20pelo%20jovem%20Am%C3%A2ncio. https://beduka.com/blog/materias/literatura/resumo-de-casa-de-pensao/#:~:text=Principais%20personagens&text=Am%C3%A9lia%20%E2%80%93%20Ela%20%C3%A9%20uma%20jovem,se%20interessando%20pelo%20jovem%20Am%C3%A2ncio. https://beduka.com/blog/materias/literatura/resumo-de-casa-de-pensao/#:~:text=Principais%20personagens&text=Am%C3%A9lia%20%E2%80%93%20Ela%20%C3%A9%20uma%20jovem,se%20interessando%20pelo%20jovem%20Am%C3%A2ncio. https://www.passeiweb.com/estudos/livros/casa_de_pensao/
Compartilhar