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0 UERGS – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE DO SUL UNIDADE UNIVERSITÁRIA EM MONTENEGRO CURSO DE GRADUAÇÃO EM MÚSICA: LICENCIATURA RODRIGO DA ROCHA LEITE A INFLUÊNCIA DA CULTURA ANIME NAS ESCOLHAS PARA A ESCUTA MUSICAL Montenegro - RS 1 RODRIGO DA ROCHA LEITE A INFLUÊNCIA DA CULTURA ANIME NAS ESCOLHAS PARA A ESCUTA MUSICAL Monografia apresentada como exigência para conclusão do curso de Graduação em Música: Licenciatura, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. Orientadora: Profª Drª CRISTINA ROLIM WOLFFENBÜTTEL Montenegro - RS 2015 2 Catalogação de publicação na fonte (CIP) Catalogação elaborada pelo Bibliotecário Uergs - Marcelo Bresolin CRB10/2136 L525i Leite, Rodrigo da Rocha Influência da cultura anime nas escolhas para a escuta musical, A / Rodrigo da Rocha Leite. – Montenegro, 2015. 82 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Curso de Licenciatura em Música, Unidade em Montenegro, 2015. Orientadora: Profª Drª Cristina Rolim Wolffenbüttel 1. Cultura Pop Japonesa. 2. Educação Musical. 3. Escuta Musical. 4. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). I. Wolffenbüttel, Cristina Rolim. II. Curso de Licenciatura em Música, Unidade em Montenegro, 2015. III. Título. 3 RODRIGO DA ROCHA LEITE A INFLUÊNCIA DA CULTURA ANIME NAS ESCOLHAS PARA A ESCUTA MUSICAL Monografia apresentada como exigência para conclusão do curso de Graduação em Música: Licenciatura, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. Orientadora: Profª Drª CRISTINA ROLIM WOLFFENBÜTTEL Aprovada em: 12/12/2015 4 Para meu pais, Benice e Helio que, quando eu disse que seguiria no caminho da música, me apoiaram de maneira presente e significativa. Para minha irmã, Rafaela, que sempre esteve ao meu lado, desde que iniciamos na trilha da música. 5 AGRADECIMENTOS A maioria das pessoas começa sempre agradecendo a Deus, e claro que não vou fazer diferente, mas não agradeço só por ter me dado uma oportunidade de aperfeiçoamento nessa área tão linda e singular, que é a Música. Sou grato, também, pela presença dos colegas de classe que Ele colocou ao meu lado, para podermos rir juntos, pensar juntos e decidir coisas importantes e não tão importantes, também juntos. Sou grato aos professores que Ele também fez com que cruzassem o meu caminho, que com muito profissionalismo e dedicação, colocaram mais conhecimento e ensinaram a ter mais amor por essa Arte linda e profunda. Aos meus amigos do grupo Tutti Flauta Dolce, Fernanda Anders, Newton Macedo e Sabrina Martins, que nas horas em que o cansaço vinha com mais força, tínhamos a Música para reanimar o Espírito e dar nova vontade a Alma. Ao Luiz Henrique Batista, por ter desprendido de tempo e por ter respondido com boa vontade à entrevista. Consegui umas referências nerds da hora contigo. A Verônica Torres Luize, que também respondeu com bom humor e de maneira engraçada e objetiva à entrevista, também consegui umas referências de deixar sem vida social por um tempo. Ao Gui, o Tuli, o Ramon e a Rafinha, pela participação do Grupo Focal. Apesar de aquela noite ter me custado uma calça manchada de molho shouyu e que depois de lavada desbotou, a participação de vocês foi awesome. Também consegui umas referências bem legais. A Profª Jacqueline Tassinari, por ter me ajudado com o abstract do trabalho. É bom saber que podemos contar com nossos mestres de antes para o agora. E por último, aquela cuja colaboração e dedicação foram fundamentais, a minha professora orientadora, Cristina Rolim Wolffenbüttel. Agradeço pelos valiosos conhecimentos que foram construídos nesses meses de orientação, café e risos. Descobri uma nerd por debaixo de todo o conhecimento de pesquisadora e isso, meu chapa, foi alguma coisa. 6 Os membros da Orquestra Vênus, de rosto vermelho e suado, deixaram o palco, cada um trazendo o seu instrumento. Com grande sucesso, haviam terminado de executar a Sexta Sinfonia. O Violoncelistas de Miyazawa Kenji 7 RESUMO Este trabalho constitui-se o Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Música: Licenciatura da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. Teve como objetivo geral investigar os fatores musicais e midiáticos – dentro da cultura pop japonesa – que contribuem para a escolha dessa escuta musical e como ela pode ser percebida pelos estudantes em sala de aula, bem como nas demais áreas do âmbito escolar, foi desenvolvido com dois jovens estudantes vinculados à rede de ensino pública de uma escola de São Sebastião do Caí, um estudante de curso Técnico da rede privada de São Leopoldo e três estudantes de ensino de nível superior. Esta pesquisa, através de metodologias qualitativas, procurou responder a inquietações que surgiram acerca das culturas juvenis inseridas em sala de aula – especificamente a cultura pop japonesa. Assim como qualquer outra cultura juvenil, a cultura pop japonesa está presente na escola e eu, como participador ativo nem sempre percebia a apropriação dos professores sobre esse viés cultural; a construção dessa pesquisa também tem como finalidade, trazer informações sobre a cultura pop japonesa para educadores e educadores musicais para que se integrem a ele. Essas considerações geraram dois grandes questionamentos, que são: Como os dispositivos musicais midiáticos contribuem para a escolha da escuta musical anime? E: Como os estudantes percebem a presença da cultura musical anime nos contextos escolares? E ao responder esses questionamentos ao fim deste trabalho, notou-se que, devido ao contato com esses tipos mídias – no caso, a audiovisual e a auditiva –, essa parcela de jovens sempre tem um grande contato com a música – devido a trilha sonora que compões esse tipo de mídia. Palavras-Chave: Educação Musical, Cultura pop japonesa, escuta musical, culturas juvenis. 8 ABSTRACT This work constitutes the conclusion of Music Graduation Course: Degree from the Univerty of the State of Rio Grande do Sul. Main objective was to investigate the musical and media factors - within Japanese pop culture – has been contribute to the choice of this listening to this kind of music and how it can be perceived by students in the classroom, as well as other areas of the school environment. It has been developed with two young students linked to the public school system of a school from São Sebastião do Caí, a student of Technical course of the private network from São Leopoldo and three students of higher learning. This research, through qualitative methodologies, tried to answer the concerns that arose about the youth culture inserted in the classroom - particularly Japanese pop culture. Like this any other youth culture, pop Japanese culture is present in the school, and I as an active participant not always realized the appropriation of teachers about this cultural bias; the construction of this research also it aims to bring information about Japanese pop culture and music educators for educators to integrate it. These considerations generated two big questions, they are: How the media musical devices contribute to the choice of music anime listening? And: How do students perceive the presence of music anime culture in the school context? And to answer these questions at the end of this work - it wasnoted that due to the contact with this kind of media - in this case, visual and hearing - that portion of young people always have a great contact with music - because the soundtrack composes this type of media. Keywords: Music education Japanese pop culture, music listening, youth cultures. 9 LISTA DE ABREVIAÇÕES C. E. – Caderno de Entrevistas C. F. – Caderno de Fotografias C. G. F. – Caderno do Grupo Focal C. O. – Caderno de Observação 10 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – PENDENTES DE ORIGAMI.................................................................. 49 FIGURA 2 – QUIMONO 1 ......................................................................................... 50 FIGURA 3 – QUIMONO 2 ......................................................................................... 50 FIGURA 4 – COSPLAY DE ASTRID – How to Train Your Dragon ........................... 55 FIGURA 5 – COSPLAY DE ERZA SCARLET – FairyTail ......................................... 56 FIGURA 6 – COSPLAY DE AHRI – League of Legends ........................................... 57 11 LISTA DE TABELAS TABELA 1 – SÍNTESE DAS ENTREVISTAS ............................................................ 35 TABELA 2 – SÍNTESE DOS CADERNOS ................................................................ 38 12 APÊNDICES APÊNDICE 1 – ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA E GRUPO FOCAL ...................................................................................................................... 72 APÊNDICE 2 – TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IDENTIDADE NOMINAL E DEPOIMENTOS ........................................................................................................ 73 13 ANEXOS ANEXO 1 – TERMO DE ARTHUR DA SILVEIRA PIRES ......................................... 75 ANEXO 2 – TERMO DE GUILHERME DA SILVA GOUVÊA .................................... 76 ANEXO 3 – TERMO DE LUIZ HENRIQUE BATISTA ............................................... 77 ANEXO 4 – TERMO DE RAFELA DA ROCHA LEITE .............................................. 78 ANEXO 5 – TERMO DE RAMON RAACH ................................................................ 79 ANEXO 6 – TERMO DE VERÔNICA TORRES LUIZE PESTANA ............................ 80 14 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 15 1. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................ 22 1.1 CULTURAS JUVENIS E A CENA COSPLAY NO BRASIL .............................. 22 1.2 O ACESSO ÀS MÍDIAS E A PARTICIPAÇÃO DE JOVENS COMO MANIPULADORES DOS MATERIAIS QUE CONSOMEM.................................... 25 1.3 JOVENS, TECNOLOGIAS E O PROCESSO DA ESCUTA ............................. 27 2. METODOLOGIA ................................................................................................... 30 2.1 ABORDAGEM ................................................................................................. 30 2.2 MÉTODO ......................................................................................................... 32 2.3 TÉCNICA PARA A COLETA DOS DADOS ..................................................... 33 2.4 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................... 38 3. REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 40 3.1 O CONTEXTO DA MÚSICA, SUA ESCUTA E A SUA IMPORTÂNCIA ........... 40 3.2 OS JOVENS ENQUANTO ATORES SOCIAIS EM SEUS CONTEXTOS ........ 44 4. RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS ........................................................... 47 4.1 MANIFESTAÇÕES, MÍDIA E MÚSICA ............................................................ 47 4.2 ONGAKU O KIKIMASU. TATAKAI SOSHITE SETTEI .................................... 53 4.3 GAKKŌ NO BAICHI ......................................................................................... 60 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 64 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 68 APÊNDICES ............................................................................................................. 71 ANEXOS ................................................................................................................... 74 15 INTRODUÇÃO Uma grande parcela de jovens brasileiros, no tempo chamado atualidade, é grande consumidora da cultura shounen1, que basicamente envolve o consumo das mídias de proveniência nipônica. Essa massa informativa de demanda cultural é principalmente abrangida e acessada pelos seguintes métodos: auditivos (músicas), visual (mangás2) e audiovisual (animes3 e doramas4). Essa grande população – chamada de Otakus5 – que se encontra nas entrelinhas das demais culturas que estão em voga tem, como todos os grupos sociais, as suas peculiaridades, tornando o grupo único como célula comunitária. Meu contato com essa mídia se deu desde cedo, ainda na infância, através dos veículos de comunicação de massa televisiva, permitindo ter acesso a esse material audiovisual por intermédio da transmissão das emissoras de rede aberta. Por fins de 1999, alguns dos primeiros animes que assisti, foram veiculados pelas emissoras do grupo Roberto Marinho, do Rio de Janeiro e o Sistema Brasileiro de Televisão, de São Paulo, que na época exibiram as temporadas completas de Digimon6 Adventure, Digimon Adventure Two, Digimon Tamers, Digimon Frontier e Digimon Savers, esses pela primeira e CardCaptor Sakura, Naruto, BayBlade e Megaman, pela segunda. Outras emissoras que contribuíram para a continuidade do acesso a essas mídias, ainda na rede de TV aberta, foram as do Grupo Bandeirantes, que exibiu, de maneira incompleta, algumas das temporadas de Pokémon7 e Saint Seiya8, assim como a TV Asunción, da rede de televisionamento do Paraguai, que exibiu as três primeiras temporadas completas de Bishoujo Senshi Sailor Moon9. Não só esses animes do estilo luta, magia e mitologia, mas também alguns animes de cunho mais infantil estão presentes na lista, como Hamtaro – que contava a história de um hamster que levava uma vida escondida de sua dona – e Super Pig – uma heroína que podia se transformar em um super suíno com superpoderes. 1 Palavra japonesa equivalente a JOVEM no português. 2 Quadrinhos tradicionais japoneses, publicados com periodicidade semanal ou mensal. 3 Adaptações animadas de mangás, produzidas e distribuídas com periodicidade semanal ou mensal. 4 Séries em live-action – com atores ao invés de animações - de adaptações de mangás. 5 Um dos termos utilizados para definir os participantes da cultura jovem nerd no Brasil. 6 Termo resultante do jogo entre as palavras Digital e Monsters (Monstros Digitais). 7 Termo resultante do jogo entre as palavras Pocket e Monsters (Monstros de Bolso). 8 Traduzido para o português como Cavaleiros do Zodíaco. 9 Em tradução livre: A Graciosa Guerreira Sailor Moon. 16 Alguns deles com um cunho mais mitológico, trazendo muito da cultura folclórica japonesa, e nesse trago novamente Naruto – com o modo de vida ninja, ideias de como eram as aldeias antigas e os espíritos do folclore. Também vale citar Inu-Yasha, que trazia a história e os poderes relacionados aos youkai10. Assim como alguns animes que traziam assuntos mais relacionados às altas tecnologias, como Angelic Layer – no qual as pessoas podiam comprar e portarpequenas bonecas capazes de lutar – e Medabots – no qual, robôs são parceiros comuns de jovens e também lutam entre si. Shurato – exibido no Brasil sob título original – que contava a história de uma deusa indiana que corria perigo e, então, enviou um pedido de socorro para humanos na Terra, reunindo-os como guerreiros protetores. É claro que também contava com animes que retratavam assuntos mais comuns do cotidiano, como Captain Tsubasa11, que girava em torno de um campeonato de futebol. Grande parte do encanto que eu tinha e ainda tenho por esses animes deu-se, principalmente, pelas músicas presentes na sua composição. Geralmente estão associadas a uma luta ou a um momento de reflexão de alguma personagem. Até mesmo os momentos de tristeza e solidão de uma personagem estavam acompanhados de uma música, assim como os momentos de bravura, evolução e amadurecimento. Esse primeiro contato possibilitou, então, a inserção no solo das mídias alternativas de proveniência nipônica, não só no quesito audiovisual, mas também nos despertar de um amplo interesse pelos produtos sonoros (músicas) e os visuais (mangás), que se perpetua até o presente momento, refletindo-se nas minhas influências para as escolhas das escutas musicais. Já na adolescência, grande parte do material que consumi dessa cultura se deu na base da troca de informações digitais – liberando de maneira espontânea os materiais que eu já tinha em minha midiateca de animes, trocando-os com demais apreciadores e consumidores da mídia japonesa – ampliando, então, as minhas perspectivas de escuta e apreciação musical. Nesse período, ainda na juventude, deu-se início a minha carreira como musicista. Procurava, então, associar a minha prática como musicista junto à prática 10 Demônio, espírito ou monstro. É uma classe de criaturas sobrenaturais do folclore japonês, que inclui figuras como os oni (lit. “ogro”), a kitsune (lit. “raposa”) e a yuki-onna (lit. “mulher da neve”). 11 Exibido no Brasil sob o título Super Campeões. 17 de assistir animes, pesquisando por partituras disponibilizadas na rede virtual, muitas vezes por fãs da cultura. E, já na graduação, tive a oportunidade de implementar e executar esse repertório em conjunto, trazendo para o contexto acadêmico não só a teoria sobre essa cultura, mas também um novo patamar de experimentação dela. Agora, depois de vivenciar e ainda vivenciando a experiência da troca de mídias, foram adicionadas à minha lista de animes, obras de maior duração, contando com um maior número de episódios e com uma vasta trilha sonora, como Katekyo Hitman Reborn12, FairyTail13, Mahou Kishi Rayearth14 e os tokusatsus15 da franquia Super Sentai Shirizu16 – esse último sendo o antecessor e também a base para a franquia norte-americana, intitulada Power Rangers. Dos tokusatsus, posso destacar alguns títulos que foram importantes para que essa escuta fosse ampliada. Muitos dos títulos abaixo citados são anteriores à minha época de contato com essa mídia, mas tive acesso a eles pelo sistema de trocas com alguns de meus amigos e colegas, no decorrer da minha vida acadêmica. Deles, destacam-se os nomes dentro da franquia Kyodai17 Hero: um dos mais famosos é Kyojou Tokusou Jaspion – contando a história de um herói espacial e dois companheiros. Também entra o título Ultraman – narrando a história de um grupo de alienígenas que veio para a Terra em busca de hospedeiros para combater forças inimigas. Dentro da mesma franquia, houve os guerreiros chamados Riders, que foram divididos em três temporadas, sendo elas: Kamen Rider, Kamen Rider Super-1 e Kamen Rider ZX, contando a história de jovens que foram “remodelados” para se tornarem super-heróis, e os Riders secundários: Black, Black RX, Shin, ZO e J, onde os jovens heróis eram mutantes. Houve, também, o tokusatsu sob o título Giant Robo18, narrando a história de um menino que podia controlar um robô com feições de esfinge através de um relógio de pulso. Dos títulos contemporâneos, ainda nos tokushu, posso destacar alguns dos Super Sentai que ficaram conhecidos indiretamente pelos seus duplos da franquia 12 Em tradução livre: Tutor Assassino Profissional Reborn. 13 Sem tradução oficial para o português. 14 Exibido em português sob o título “As Três Guerreiras Mágicas de Rayearth”. 15 Contração da expressão japonesa "tokushu satsuei" (特殊撮影), traduzida como "filme de efeitos especiais" ou somente como “efeitos especiais”. 16 Traduzido com Série dos Super Esquadrões. 17 Poder ser traduzido como grande, gigante. 18 Exibido no Brasil, sob tradução literal, como Robô Gigante. 18 norte-americana (The Power Ranges), que foram exibidos em sua totalidade no Brasil sob os títulos das adaptações da franquia, sendo os mais famosos – por serem exibidos na rede de TV aberta – alguns dos seguintes títulos: Mighty Morphin Power Rangers19, Power Rangers: Turbo20, Power Rangers no Espaço21, Power Rangers na Galáxia Perdida22, Power Rangers: O Resgate23, Power Rangers: Força do Tempo24, Power Rangers: Força Animal25, Power Rangers: Tempestade Ninja26, Power Rangers: S.P.D.27 e Power Rangers: Força Mística28. Os títulos citados acima são de conhecimento geral daqueles que tinham entre cinco e oito anos no final de 1998 e início dos anos 2005, veiculados também pelo grupo Roberto Marinho, tendo direto a exibições repetidas conforme a popularidade de cada série. Outros títulos também exibidos no Brasil – esses, pela já extinta TV Manchete, aos quais também tive acesso posteriormente – incluíram a dublagem e transmissão de alguns dos Super Sentai originais, como Flashman, Bioman, Changeman, Jetman, Maskman e SunVulcan. Contudo, para as crianças das gerações posteriores – mais precisamente por volta dos anos 2007 e 2008 – ficaram restritos os títulos exibidos sob a jurisdição de canais de televisionamento fechado. Alguns dos títulos famosos, desde então, foram: Power Rangers: Operação Ultra Veloz29, Power Rangers: Fúria da Selva30, Power Rangers: RPM31, Power Rangers: Super Samurai32, Power Rangers: Megaforce33 e Power Rangers: Super Megaforce34, sendo todas essas exibidas por emissoras do sistema pago, ou por meios alternativos de acesso. 19 Que foi uma mescla do Kyoryu Sentai Zyuranger (Esquadrão Dinossauro Zyuranger) com o Gosei Sentai Dairanger (algo como Esquadrão dos Cinco Dairanger) 20 Gekisou Sentai Carranger (sem tradução oficial). 21 Denji Sentai Megaranger (Esquadrão Eletromagnético Megaranger). 22 Seijuu Sentai Gingaman (algo como Esquadrão das Feras Sagradas Gingaman). 23 Kyoukyou Sentai GoGoV (Esquadrão de Emergência GoGoV). 24 Mirai Sentai Timeranger (Esquadrão do Futuro Timeranger). 25 Hyakujuo Sentai Gaoranger (Esquadrão das Bestas Gaoranger). 26 Ninpuu Sentai Hurricanger (Esquadrão Shinobi Hurricanger). 27 Tokusou Sentai Dekaranger (Esquadrão de Investigação Especial Dekaranger). 28 Mahou Sentai Magiranger (Esquadrão Mágico Magiranger). 29 GoGo Sentai Boukenger (algo como Esquadrão Retumbante Boukenger). 30 Juuken Sentai Gekiranger (algo como Esquadrão Baioneta Gekiranger). 31 Engine Sentai Go-Onger (Esquadrão de Atuação Go-Onger). 32 Samurai Sentai Shinkenger (Esquadrão Samurai Shinkenger). 33 Tensou Sentai Goseiger (Esquadrão de Transferência Goseiger). 34 Kaizoku Sentai Gokaiger (Esquadrão Pirata Gokaiger), esta, uma edição especial em comemoração aos 35 anos da franquia Super Sentai Shirizu. 19 Pelo fato de grande parte desses animes, tokusatsus e afins estarem em exibição junto a canais do sistema pago, o acesso a essas mídias mudou, sendo acessado principalmente em vias on-line através de downloads – em sites formados por fãs dessa cultura, disponibilizando o acesso de maneira gratuita – ou com exibiçãona rede, associado ao sistema de trocas. Atualmente, a prática das trocas democratizou o acesso aos animes e doramas. Com o advento da digitalização de materiais outrora impressos, como os mangás – e o consequente acesso dos mesmos via Internet – aumentou o número de sites que disponibilizam o material de leitura traduzido, sendo livre o acesso por parte dos apreciadores da cultura anime. Dentre os títulos de mangás digitalizados, posso citar Tsubasa Reservoir Chronicle35, Tsubasa World Chronicle36, Kobato, FairyTail, RaveMaster e One Piece37. Geralmente, sites organizados e administrados por fãs da cultura anime traduzem, digitalizam e disponibilizam de maneira gratuita esse mangás, o que faz com que essa troca seja menos frequente como a dos animes. Fundamentado nessa informação, a ideia inicializada para essa pesquisa originou-se de questionamentos durante as muitas conversas, em classe e extraclasse, sobre os temas que nos interessariam para o nosso futuro Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Como citado anteriormente, já estou inserido nesse grupo; então, optei por escolher para a investigação, um dos aspectos desta cultura que mais me interessam: a sua música. Participar dessa manifestação cultural possibilitou-me não somente o contato direto com os veios que fazem com que essas mídias e músicas sejam acessadas, mas também lançar um olhar como educador musical; observando não só o consumo desses produtos, mas também o poder de interagir com os participantes, realizando partilhas de conteúdos e ideias sobre esses temas, abrindo ainda mais o leque de possibilidades para essa pesquisa. Como educador musical e, também, participante ativo da cultura alternativa nipônica, conscientizei-me de que nem todos os professores com que convivi no decorrer de minha formação acadêmica, fossem eles das artes ou não, eram 35 Em tradução livre, algo como Crônicas do Reservatório de Penas/Asas. 36 Em tradução livre, algo como Crônicas do Mundo das Penas/Asas. 37 Kobato, FairyTail, RaveMaster e One Piece funcionam como nomes próprio. 20 conhecedores dessa cultura tornando, assim, meu contato como o jovem estudante, ainda em sala de aula, em quase toda a sua ocorrência, um ato dificultoso. Essa inquietação gerou dois grandes questionamentos, que serviram-me como norteadores para a pesquisa, quais sejam: Como os dispositivos musicais midiáticos contribuem para a escolha da escuta musical anime? Como os estudantes percebem a presença da cultura musical anime nos contextos escolares? Esses questionamentos geraram o objetivo geral da pesquisa, que foi investigar os fatores musicais e midiáticos que contribuem para a escolha dessa escuta musical e como ela pode ser percebida pelos estudantes em sala de aula, bem como nas demais áreas do âmbito escolar. Tendo como linha inicial essa perspectiva de pensamento, notei de maneira implícita que, devido ao acesso das mídias – no caso, a audiovisual e a auditiva – essa parcela de jovens sempre tem um grande contato com a música – devido à trilha sonora que compõe esse tipo de mídia. Tais colocações, amparadas pelos meus questionamentos de pesquisa e objetivo geral, levara-me a inferir que alguns educadores não estão familiarizados com a cultura pop japonesa, o que, talvez, leve-os a considerar essa cultura como não válida e, assim, desconsiderando-se no trabalho pedagógico. Talvez seja por isso que, muitas vezes, a cultura alternativa nipônica se encontre inserida apenas dentre o grupo apreciador, não se expandindo para a apreciação de outras pessoas e, consequentemente, não sendo estudada e incorporada ao fazer pedagógico escolar. Quando o tema da escuta musical é tratado nas pesquisas em educação musical, o mesmo é fartamente discutindo considerando-se a importância da diversidade das escutas. E, essas diversidades, cada vez mais, estão presente nas ações de sala de aula, o que vem a ampliar o repertório de estudantes. A inserção da cultura anime poderia, assim, adentrar os espaços escolares. Não muito distante dessa realidade, muitos jovens e adolescentes – inseridos na escola ou não – ainda mantêm contato com essa cultura e com suas vertentes. Dentro das salas de aula, muitas e muitas vezes nos valemos da carga cultural que nossos estudantes têm em si, suas vivências e predileções como amparo para conteúdo. O jovem nerd38 nem sempre tem o seu estilo atendido. 38 Um dos termos utilizados para definir os indivíduos que fazem parte desse grupo social. 21 Considerando-se o que foi dito anteriormente, esta pesquisa investigou a cultura pop japonesa e as culturas juvenis, principalmente as práticas de escuta musical, procurando a compreensão desta manifestação cultural e, assim, a possibilidade de agregá-la nas práticas pedagógico-musicais. A partir do exposto, apresento a estruturação deste trabalho de conclusão de curso, que conta com quatro capítulos. O primeiro capítulo, a Revisão de Literatura, traz pesquisas que tratam da cultura pop japonesa e culturas juvenis, bem como as suas manifestações enquanto grupo social, dentro de seus contextos com olhares de seus participantes. O segundo capítulo apresenta a metodologia utilizada para realizar esta pesquisa, buscando os meios de aproximação com o objeto de pesquisa que fossem mais adequados, para que houvesse uma melhor apreensão de suas peculiaridades e das informações coletadas referentes a ele, o foco do estudo. O terceiro capítulo apresenta o Referencial Teórico escolhido para a análise dos dados coletados para esta investigação. No quarto e último capítulo são apresentadas as análises dos dados com uma avaliação e apresentação das manifestações das culturas juvenis e as percepções pelos seus atores sociais dentro dos contextos que eles vivem, suas predileções e escolhas para composição de repertório para escuta e como eles percebem essas manifestações dentro das salas de aulas e nas propostas trabalhadas nela. Por fim, nas Considerações Finais, apresento minhas conclusões, e faço considerações quanto aos questionamentos que deram origem a este trabalho de conclusão de curso. 22 1. REVISÃO DE LITERATURA Antes de nos aprofundarmos em teóricos e dados acerca de culturas juvenis, cyber cultura e cultura pop japonesa faremos uma pequena convenção: a pronúncia que será usada por mim, durante o decorrer do presente trabalho, da palavra Anime. Procurei na rede de informações digitais, artigos e/ou ensaios na área de linguística que me favorecessem acerca desta dúvida e nada de concreto encontrei. Parti, então, para buscas diretas, apontando para sites que traduzem e disponibilizam os materiais da cultura pop japonesa para jovens brasileiros. O resultado que mais trouxe informações acerca dessa dúvida pode ser acessado pelo leitor no site AnimatiX: Animes e Mangás – animatix.com.br -. No site, há um tópico intitulado ‘Aníme ou Animê?’, onde a equipe de tradução traz informações para sanar esse impasse, já que as duas palavras são usadas com frequência no dia-a-dia dos jovens nerds. No post, a equipe de tradução explica que a palavra deve ser lida como uma oxítona – animÊ – pois, crê-se que essa palavra é o resultado de uma transliteração por apócope39 da palavra inglesa animation. Há, também, nesse mesmo post, uma referência à teoria que aponta para uma adaptação da palavra animé, da linguagem francesa, mas que geralmente é deixada de lado. A partir deste ponto e até o fim do presente trabalho, farei uso da pronúncia aqui explicada; portanto, toda e qualquer vez em que o termo anime for mencionado nesse trabalho e também pelo seu autor, será lido ou pronunciado como animÊ. Partimos, então, para a explanação da revisão literária. 1.1 CULTURAS JUVENISE A CENA COSPLAY NO BRASIL Os novos adventos da chamada cultura juvenil vêm sendo estudados, pesquisados e analisados por diversos teóricos, já que esses novos grupos ganham força e visibilidade de uma maneira constante, e o desenvolvimento de análises que permeiam esse novo tema se sustenta na exposição de fundamentos que relacionam o jovem e a cultura, considerando que ambos os focos centrais são suscetíveis de discussões diferenciadas e historicamente construídas (GUSHIKEN; HIRATA, 2014). 39 Apócope: quando a última parte da palavra é eliminada, gerando uma nova grafia e pronunciação. 23 Podemos conceber que essa prática cultural é significativa. Muitos jovens têm suas maneiras de pensar, agir e até mesmo falar, influenciadas pela socialização em seus grupos, dentro de atividades que contemplam suas participações, tornando-os figuras importantes de um desenvolvimento, seja ele solo ou coletivo (GUSHIKEN; HIRATA, 2014). O espaço dos jovens nerds pode ser tomado como um lugar que é circunscrito dentro do grande espectro que é a sociedade, onde esse sujeito constituir-se-á a partir de suas socializações e interações. Amaral (2011), em sua dissertação, intitulada Culturas Juvenis e Experiência Social – Modos de ser jovem na periferia, nos permite refletir sobre culturas juvenis de uma forma abrangente, possibilitando entendimentos iniciais acerca do assunto. Ele diz que, para que se possa entender os temas e as falas que correspondem às culturas juvenis, precisamos compreendê-las para além do sentido lato, ou seja, não apenas como um sistema de valores e significados que são atribuídos à juventude e que expressam tanto os processos de internalização de normas como os processos de socialização. A vivência da condição juvenil nos diferentes meios sociais revela que os jovens, ao construírem uma sociabilidade própria, relacionada com a sociedade na qual estão inseridos, produzem expressões de culturas juvenis que são muito singulares. (AMARAL, 2011, p. 74). O grupo da cultura anime está inserido não só nos contextos sociais escolares. Tampouco, está restrito e enclausurado na prática de eventos – que serão descritos a seguir – mas, também estão nas ruas como sujeitos ocupadores de uma pertença, vestindo suas camisetas pretas e ouvindo as suas músicas em linguagem oriental. Este grupo está inserido no meio artístico, econômico e político. É composto por professores, estudantes, arquitetos, engenheiros, designers de moda, que estão ligados por esse sentimento e a prática de uma participação comum: a cultura nerd. Nos parágrafos que se seguem são apresentados fatores, não só relacionados ao ato de ouvir músicas, mas também aos aspectos sociais que geraram e desenvolveram a escuta musical. O conceito de ser jovem vem sendo ressignificado no decorrer dos anos, adaptando-se aos novos grupos e subgrupos dentro da juventude. Não se pode mais comparar o ser jovem hoje com um jovem das décadas de 60 e 70. Contextos 24 históricos e sociais diversificados geram uma população diversificada, afetando todas as idades, gêneros, classes sociais e etnias. O jovem da atualidade tem acesso rápido à informação e diversos conteúdos. Esse jovem pensante e atuante também faz parte das manifestações culturais variadas que estão presentes no cenário atual. E, através desse acesso imediato associado à partilha de informações, o jovem brasileiro, também se inseriu nas culturas exteriores, incorporando-as a suas práticas e vivências. Não somente esses fatores geram correntes e entrelaçamentos entre os indivíduos participantes de uma cultura; aqui entram, também, as relações interpessoais que são derivadas e/ou geradas dentro dessa cultura, fazendo com que tais ligações interfiram na escolha para os materiais que foram, são ou virão a ser consumidos por esses jovens, se diversifiquem e tornem-se ainda mais rico. Para que possamos entender o advento da música, apresentaremos sobre algumas das manifestações que são, em sua forma, muito influenciadoras dentro da cultura anime (NUNES, 2014). As novas massas culturais jovens têm sido um tema fortemente estudado por pesquisadores das áreas da Sociologia e da Psicologia, principalmente dentro dos eventos de cultura pop japonesa, por ser uma grande fonte de relacionamentos interpessoais e socioculturais. Os eventos são, em uma contextualização mais geral, um local em que há o consumo de produtos físicos (comida oriental, roupas, acessórios, brinquedos colecionáveis e livros/mangás) e não-físicos (a música) (NUNES, 2014). Junior e Gonçalves (2011, p.585), explicam que “os eventos servem para a realização dos encontros entre os fãs dos animes, mangás, games e outros produtos da cultura popular japonesa, aos quais se convencionou chamar de Otakus”. O curioso sobre esse termo – Otaku – é que ele utilizado de maneira ambivalente. Para os ocidentais, equivale como descrição para um jovem interessado em troca de conhecimentos e cultura. Para os orientais, o termo é utilizado para categorizar uma parcela de jovens desinteressados e sem nenhuma perspectiva de socialização para além daquela cultura. Entende-se que, dessa maneira, pode-se dizer que a identidade social para ser formada individual ou coletivamente necessita da categorização social, para que possa distinguir entre os diversos objetos, aqueles grupos que podem servir para as 25 pessoas participantes dessa cultura. Agregada a esse conceito, também podemos destacar a inserção do jovem nesse contexto utilizando-se de métodos e vieses mais práticos (NUNES, 2014). Uma das práticas que mais se sobressai dentro das vertentes da cultura pop japonesa é a pratica dos cosplayers – contração de costume player – com os jovens travestindo-se de personagens de animes, jogos e filmes, com o intuito de diversão e socialização dentro de eventos de cultura pop japonesa que ocorrem em território nacional. Os cosplays – costume play – são executados, em sua maioria, por jovens curtidores da cultura anime, podendo ser individual ou em grupos. Os eventos não somente integram os jovens dentro de um grupo social e cultural que têm as mesmas demandas atendidas, mas também é um território em que essas trocas que são essenciais para o condicionamento da formação de indivíduos “solo” bem como indivíduo coletivo, do estar junto a outros que lhe são tidos como semelhantes e aceitadores (NUNES, 2014). Para os participantes dessa cultura, o primeiro sinal de identificação é o estético, como as camisetas pretas, os acessórios metalizados, os mesmos tipos de leituras, mangás e animes, convencionando de maneira automática e natural, um ponto de consenso que os interliga nas práticas dessa cultura. Outro ponto de ligação é a identificação com as práticas e escutas musicais dentro dessa cultura. 1.2 O ACESSO ÀS MÍDIAS E A PARTICIPAÇÃO DE JOVENS COMO MANIPULADORES DOS MATERIAIS QUE CONSOMEM A manipulação desses materiais de mídias se dá em diversos âmbitos e ocorre por diversos grupos que se encaixam em diferentes atividades dentro dessa cultura. Uma dessas atividades é a prática dos fansubs40. Hatcher (2005) explica que a qualquer pessoa é possibilitada a oportunidade de acompanhar qualquer produto midiático oriental. De acordo o autor: Trekkies ou fãs de Star Wars fazem as mesmas atividades que os Otakus, mas uma prática diferencia os fãs de anime dos outros ávidos fãs: fansubs. Grupos de otaku conhecidos como fansubbers são responsáveis por traduzir, legendar, e copiar os programas de 40 Fansub é uma palavra de origem inglesa, formada da contração de fan (fã) com subtitled (legendado), ou seja, legendado por fãs. Indica um grupo de fãs que colocam legendas em filmes ou série de TV de outra língua, sem autorizações doscriadores das obras, por conseguinte podendo ser de maneira ilegal. 26 televisão e filmes originalmente transmitidos ou lançados no Japão (em japonês) para que outros fãs possam assistir. (HATCHER, 2005, p. 517). Essas equipes de fansubs41 têm uma formação orgânica básica para o seu funcionamento, contando com a colaboração de Administradores – ou "donos" do fansubber – Raw-hunters e ISO-hunters – as pessoas que procuram os animes sem legenda, para todos do fansubber utilizarem. Tradutores – responsáveis pelas traduções do anime, desde as falas às músicas. Timer – a pessoa que temporiza as falas da legenda, sincronizando as palavras escritas com o diálogo em forma de áudio. Stylers - quem escolhe as fontes, estilos e cores das legendas. Typesetters – edita trechos do anime para português (faixas, portas, placas, cartazes), cria logotipos, etc. Karaokemakers – fazem o karaokê da abertura, encerramento e músicas-tema do anime. Editores – analisam criticamente todas as falas do script traduzido e temporizado. Revisores – leem o script palavra por palavra, corrigindo possíveis erros de digitação, gramática, acentuação, pontuação, regência e concordância. Encoders – codificam a raw com os scripts. Quality checkers – assiste ao anime pronto, atentando para erros e incoerências. Webmasters – cuidam do site, servidores, fórum e tracker. Distribuidores – baixam os episódios já lançados no tracker da equipe e envia o máximo possível para as outras pessoas. Tudo isso veiculado através de sites específicos e redes sociais. Dentro das redes sociais – Facebook e/ou YouTube, principalmente – também os fãs da cultura anime vêm desenvolvendo uma atividade que chama a atenção dos participantes desse movimento cultural: o AMV (Anime Music Video). A prática de construção de manipulação do Anime Music Video, por essas culturas, vem sendo estudada e abarcada por alguns teóricos ao redor do globo. Bellan (2012), em seus estudos, torna visível e compreensível a prática desses Otakus, no qual há a ressignificação da imagem em função não só da trilha sonora, mas também com as próprias concepções. O autor reforça essa ideia dizendo que como em toda obra, há uma relação íntima do autor com sua produção. Esses vídeos exploram sua visão sobre a narrativa original, sobre os personagens ou sobre a música. Sem qualquer vínculo com formato ou direitos autorais, os produtores têm plena liberdade criativa para misturar diversos animes completamente diferentes em função 41 As informações aqui trazidas podem ser acessadas no site Wikipédia, em um fórum criado pelos próprios manipuladores dessas mídias. 27 de determinada linha conceitual. Alguns deles ressaltam a personalidade do personagem do filme original a partir da visão do autor do AMV, sincronizando a edição com uma música para gerar um novo produto. (BELLAN, 2012, p. 59). Nos parágrafos que se seguem na teoria de Bellan (2012), o autor afirma que essa manifestação não é somente uma maneira de se expressar enquanto integrante participante dessa cultura, mas que essa prática também favorece no estabelecimento de ralações interpessoais, através de competições em que esse material é criteriosamente avaliado para fins de premiação. 1.3 JOVENS, TECNOLOGIAS E O PROCESSO DA ESCUTA Também, para que se entenda melhor do que trata o processo de escuta musical na atualidade, trago aqui dois vieses que considero importantes e que corroboram a ratificação da minha intenção de pesquisa. Um deles é abordado de maneira pontual por Souza e Torres (2009). Em seu artigo, as pesquisadoras tratam das diversas maneira de como e onde as músicas e mídias são acessadas, no caso aqui, através de computadores com acesso à internet. A este respeito, as autoras explicam que “as novas tecnologias [...] são componentes incontestáveis do cotidiano musical dos jovens”, e ainda complementam dizendo que, “a música é um tema importante na internet, tanto como oferta comercial como em múltiplas maneiras não comerciais” (SOUZA; TORRES, 2009, p. 49-50). A pesquisa de Ramos (2012), que investigou as playlists de jovens, auxilia no entendimento. De acordo com a autora, as playlists desses jovens jamais foram vistas como coleções de músicas, que, aparentemente, foram jogadas para dentro dos mp3. Em alguns casos, as músicas são escutadas pelo prazer de escutar o que as pessoas estão escutando, sem que tenham uma função técnica. [...] a diversidade de repertório armazenado no mp3 dos jovens pode proporcionar outras vivências musicais, como as que apontam para a compreensão de que cada gênero musical é capaz de trabalhar com determinado conteúdo. (RAMOS, 2012, p. 127). Em seu trabalho, Ramos trata dos diversificados aspectos em que essa escuta se estrutura. Ramos (2012) e Souza e Torres (2009) mostram-nos a necessidade de 28 apurar ainda mais os conhecimentos com relação à escuta musical, bem como os meios e dispositivos em que ela está sendo acessada, para que possa, então, ser utilizada de maneira mais consistente, não só no trabalho pedagógico-musical que o educador musical propõe em sala de aula, mas a consideração da perspectiva cultural do estudante. Essas afirmações, associadas a uma linha de pensamento que considere a cultura e as concepções de estudantes, com relação às leituras de mundo e sociedade contemporânea, nos remete ao mundo tecnológico que por eles é vivido. O mundo eletrônico possibilitou a transmutação de conteúdos e seus usos, deslocando-os de seus contextos anteriormente estabelecidos e dando aos mesmos, uma ressignificação valorosa e ampla. Com base na proposição de Ramos (2012), considerando-se as playlists e as múltiplas conectividades e acessos, mencionados por Souza e Torres (2009), torna- se possível a nós, educadores musicais, ter acesso de maneira livre e contínua, aos mesmos materiais que nossos estudantes acessaram, estão acessando e poderão vir a acessar, abrindo portas para conteúdos e informações diversas e múltiplas. Essa rede de magnitude imensurável faz parte do cotidiano e das vivências desses jovens estudantes, fora das salas e escolas; eles transitam por elas como sendo uma via infinita para conteúdos visuais, audiovisuais e auditivos, permitindo a eles ampliar o contato com as mídias nipônicas. Tosta (2014) apresenta esse cenário contemporâneo abordando-o com visibilidade de uso, transgredindo o campo de um fazer não específico. A autora explica que, neste contexto, ao falar de Educação, escola e todos os seus sujeitos não se pode desconsiderar esta paisagem onde estamos imersos, por ela mobilizados e ativos, em maior ou menor grau! Fato é que os modos de vida na contemporaneidade são involucrados por esta realidade midiática na qual, os recursos tecnológicos de hoje, retiraram, em definitivo, o telespectador da TV ou o ouvinte do rádio, ou o leitor do jornal ou o aluno da escola, por exemplo, de um lugar fixo e sem voz, para um não lugar de múltiplas vozes, ao dispor de um sem número de recursos dialógicos e interativos. (TOSTA, 2014, p. 149). No processo de conversas e partilhas de ideias, com colegas e a professora orientadora, se tornou possível o ato de gerar questionamentos mais focados e refinados acerca dos nossos assuntos de interesse de pesquisa. No meu caso não 29 poderia ter sido diferente. Quando aqui abordamos os aspectos de escuta musical que Ramos (2012) e Souza e Torres (2009) junto à visibilidade sobre a rede digital trazida por Tosta (2014), me senti incitado a investigar o modo como essa cultura pode ser inserida no contexto sala de aula, possibilitando assim abranger as diversas realidades presentes no contexto escolar. 30 2. METODOLOGIA Estapesquisa, que investigou a influência da cultura anime nas escolhas para a escuta musical, foi realizada a partir da estruturação de uma metodologia baseada na abordagem qualitativa, no método estudo com entrevistas, na realização de entrevistas semiestruturadas, grupo focal, observação e fotografia como técnicas para a coleta dos dados, e na utilização da análise de conteúdo como técnica para a análise dos dados. O lócus desta pesquisa foi o cenário que é oriundo das vivências de estudantes da rede pública de ensino, inseridos no nível médio, e não estudantes, que também estão inseridos dentro do contexto pop juvenil, focando não só as preferências desses jovens e jovens adultos dentro dessas práticas de maneira que privilegie a satisfação própria, mas também buscando entender as características presentes nesse contexto. 2.1 ABORDAGEM QUALITATIVA A abordagem qualitativa foi selecionada para esta pesquisa, pois o intuito desta foi investigar a cultura pop japonesa e as culturas juvenis, principalmente as práticas de escuta musical, procurando a compreensão desta manifestação cultural e, assim, a possibilidade de agregá-la nas práticas pedagógico-musicais. Deste modo, procurou-se descrever e compreender o fenômeno de escolha do repertório para a escuta musical sem, no entanto, quantificá-lo. Partiu-se do princípio de que a pesquisa qualitativa não se preocupa com a representatividade numérica, mas com o aprofundamento da compreensão de um grupo social ou de uma organização, no caso desta pesquisa, com a escolha de repertório para a escuta musical por parte dos participantes da cultura pop japonesa. De acordo com Godoy (1995), a pesquisa qualitativa é representada por um conjunto de características essenciais, dentre as quais pode ser destacado o fato de possuir o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental, sua natureza descritiva, possuir como preocupação essencial o significado que as pessoas dão às coisas e à vida, e o uso do enfoque indutivo na análise dos dados. 31 Outro viés que corroborou a escolha da abordagem qualitativa foi a perspectiva apresenta por Denzin e Lincoln (2006). Para os pesquisadores, a abordagem qualitativa pode se apresentar de maneiras diferenciadas e com múltiplas significações, gerando complexidades com o campo histórico existente, conversando com as diversidades de determinados contextos. Para Denzin e Lincoln (2006), a pesquisa qualitativa é uma atividade situada que localiza o observador no mundo. Consiste em um conjunto de práticas materiais e interpretativas que dão visibilidade ao mundo. Essas práticas transformam o mundo em uma série de representações, incluindo as notas de campo, as entrevistas, as conversas, as fotografias, as gravações e os lembretes. (DENZIN; LINCOLN, 2006, p. 17). Para Denzin e Lincoln (2006), a pesquisa qualitativa se destaca por trazer uma leitura e uma abordagem mais natural e com interpretações mais intrincadas com mundo que é pesquisado. O uso de investigações com esse viés metodológico possibilita o melhor estudo do objeto de pesquisa em conjunto com o cenário em que ele ocorre. Os autores ressaltam que esse tipo de estudo se origina da coleta de dados empíricos permeados por experiências de cunho pessoal e introspectivo, carregando assim, fios que ligam histórias de vida e signos pontuais para as mesmas, fazendo com que os resultados obtidos ao fim de um processo, estejam ligados ao pesquisador e aos indivíduos da pesquisa. E, para que esses amálgamas possam ser concretizados, os pesquisadores fazem uso de práticas interpretativas com interligações, buscando sempre a melhor compressão dos assuntos que estão ao alcance de suas mãos (DENZIN; LINCOLN, 2006). A abordagem qualitativa também possibilita o uso de meios mais abrangentes de aproximação com o objeto de estudo e ao mesmo tempo pontuais para a obtenção de informações que podem ser resultantes das investigações, sendo esses resultados alcançados na forma de entrevistas, anotações, recursos audiovisuais, documentais e ainda registros com caráter oficial (BOGDAN; BIKLEN, 1994). Assim, este tipo de abordagem, de acordo com os autores, torna o processo de pesquisa flexível, permitindo com que o item de pesquisa seja valorizado no processo de sua execução em detrimento do seu produto final. O fato de permitir o 32 estabelecimento de relações de indução à futura análise dos dados durante a coleta dos dados é outro fator importante neste tipo de abordagem, o que permite a montagem de uma paisagem que se constrói de maneira gradativa, no decorrer do recolhimento de dados e a análise dos mesmos (BOGDAN; BIKLEN, 1994). No caso deste trabalho de conclusão de curso, a abordagem qualitativa foi escolhida, pois possibilitou o tratamento dos dados de modo adequado, utilizando-os como fonte direta de contato com os dados, os quais foram de fundamental importância. Outro fator fundamental para a escolha da abordagem qualitativa foi o fato de ela possibilitar ao pesquisador a adaptação ao seu contexto de pesquisa, tomando o molde que o pesquisador venha classificar como necessário para a realização dela. 2.2 MÉTODO: ESTUDO COM ENTREVISTAS (QUALITATIVE INTERVIEW STUDIES) O estudo com entrevistas se caracteriza por ser uma metodologia qualitativa que busca a participação e interação constante do pesquisador com os seus entrevistados, gerando um relacionamento com os mesmos, levando os estudos a uma profundidade de discussões acerca do fenômeno que compõe o objeto pesquisado. O método escolhido para a realização desta investigação foi Estudo com Entrevistas (DEMARRAIS, 2004). Esta escolha deu-se pelo fato de o objetivo estar centrado em investigar os fatores musicais e midiáticos que contribuem para a escolha dessa escuta musical e como ela pode ser percebida pelos estudantes em sala de aula, bem como nas demais áreas do âmbito escolar, considerando o fato de cada indivíduo ser único, ainda que participante de uma manifestação cultural de caráter coletivo, que é cultura pop japonesa. A singularidade de cada indivíduo dentro desse contexto coletivo tornou possível a manipulação dos questionamentos para a obtenção de resposta para as questões de pesquisa, fazendo com que cada entrevista ocorresse de maneira singular, já que adaptações foram necessárias a cada contexto trazido pelos entrevistados. 33 DeMarrais (2004) afirma que os estudos com entrevista qualitativa são conhecidos por uma variedade de marcadores. Na literatura metodológica sobre entrevistas, os seguintes marcadores descrevem as que se enquadram na categoria geral de entrevistas qualitativas: entrevista intensiva, entrevista aberta, entrevista não estruturada, de conversação, clínica, entrevista longa, não direcionada, entrevista focada, grupo de aprofundamento e entrevista de grupo focal42. (DEMARRAIS, 2004, p.53). DeMarrais (2004) explica que podemos nos embasar nas entrevistas qualitativas como sendo um grande guarda-chuva que abrange as várias categorias de pesquisa e suas finalidades, nos permitindo a melhor adaptação para com o método, levando em consideração a necessidade do objeto pesquisado, bem como a relação que os entrevistados tem com o campo alvo da pesquisa (DEMARRAIS, 2004). A utilização de perguntas como dispositivo de monitoramento no estudo com o uso de entrevistas nos permite construir com mais consistência e de maneira mais ampla, um mapa com informações, experiências e perspectivas que são geradas pelo próprio participante, permitindo que a ele sejam delegadas as funções de fornecedor de informações mais próximas do objeto de pesquisa e com um cunho opinativo próprio dos mesmos, trazendo uma maior chance de aprofundamento no estudo, gerando ligações com as suas experiências e com o fenômenoque gera o lócus da pesquisa (DEMARRAIS, 2004). 2.3 TÉCNICAS PARA A COLETA DOS DADOS: ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA, GRUPO FOCAL, OBSERVAÇÃO E FOTOGRAFIA Como técnica para a coleta dos dados utilizei a entrevista semiestruturada (LÜDKE; ANDRÉ, 1986; BRESLER, 2000), o grupo focal (RESSEL; BECK; GUALDA; HOFFMANN; SILVA; SEHNEM, 2008; BACKES; COLOMÉ; ERDMANN; LUNARDI, 2011), a observação (PERETZ, 2000) e a fotografia (VELLOSO; GUIMARÃES, 2013), 42 Tradução do autor. (Qualitative interview studies are known by a variety of labels. In the methodological literature about interviews, the following labels describe interviews that fall into the general category of qualitative interviews: intensive interview, indepth interview, open-ended interview, nstructured interview, conversational interview, clinical interview, long interview, ondirective interview, focused interview (Merton & Kendall, 1946), the group depth interview and focus group interviews). 34 pois se caracterizam como técnicas que possibilitam o contato direto do pesquisador com o objeto de pesquisa, propiciando assim a melhor apropriação para com o tema que a perspectiva do estudo apontou. A entrevista se caracteriza por ser um questionamento imediato, face a face, com o objetivo de captar as múltiplas realidades ou percepções de uma determinada situação a partir do discurso dos atores sociais. A entrevista tem vários usos e aplicações dentro das propostas metodológicas qualitativas, envolvendo o uso de tratamento amigável do entrevistador para com o seu(s) entrevistado(s) (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). Esse tratamento possibilita um aprofundamento, como citado anteriormente, dentro do campo de imersão da pesquisa, mostrando a possibilidade de captação imediata das informações que se desejam obter com os questionamentos que são trazidos para o ato de responder as dúvidas geradas nos processos inicias da pesquisa. A escolha da entrevista semiestruturada para a realização da pesquisa deu-se pelo fato da sua conveniência enquanto técnica de coleta de dados. Ela permitiu a realização da atividade com base em um roteiro que pode ser previamente estabelecido com características básicas e com um atributo de flexibilidade que pode ser adaptado para o bom andamento da entrevista, permitindo ao entrevistado ter liberdade de expressão e livre trânsito pelas ideias e resposta que virá a dar para o entrevistador. Ao todo foram realizadas duas entrevistas, uma com a fotógrafa Verônica Torres Luize Pestana e outra com o jovem escritor e jornalista, Luiz Henrique Batista. As entrevistas foram realizadas em dois dias. Estas entrevistas foram gravadas e, posteriormente transcritas. No dia 21 de setembro, Luiz foi entrevistado, tendo uma duração de 49 minutos e 07 segundos. No dia 22 de setembro de 2015 Verônica foi entrevistada, tendo uma duração de 49 minutos e 12 segundos. Após a transcrição de maneira integral das entrevistas, textualização, revisão e aprovação pelos entrevistados, esse material gerou um documento intitulado Caderno de Entrevistas (C. E., 2015) que, em sua finalização, totalizou 16 folhas. A Tabela 1, a seguir, apresenta uma síntese das entrevistas: 35 Tabela 1: SÍNTESE DAS ENTREVISTAS Data Entrevistados Duração 21/09/2015 Luiz Henrique Batista (C. E., 2015, p.3-10). 49min07seg 22/09/2015 Verônica Torres Luize Pestana (C. E., 2015, p.11-16). 49min12seg Outra técnica escolhida para a elaboração dessa pesquisa foi o grupo focal (RESSEL; BECK; GUALDA; HOFFMANN; SILVA; SEHNEM, 2008; BACKES; COLOMÉ; ERDMANN; LUNARDI, 2011). O grupo focal é um grupo de discussão informal e de tamanho reduzido, com o propósito de obter informações de caráter qualitativo e em profundidade. É uma técnica rápida e de baixo custo para avaliação e obtenção de dados e informações qualitativas. A escolha da técnica baseada no grupo focal para esta pesquisa se apoiou na necessidade da obtenção da perspectiva de conjunto que é vivenciada dentro da cultura pop japonesa. Assim, a entrevista teve a função de captar nuances de cunho pessoal e individual de cada um dos entrevistados enquanto participantes do grupo jovem-nerd. O grupo focal foi usado como uma ferramenta de unificação de ideias comuns, permitindo ao grupo ter uma visão mais ampla e clara acerca da própria vivência, relacionando-a com as atividades de cunho individual, mas que ao mesmo tempo foram geradas pela peculiaridade coletiva de atividades em grupos sociais de um mesmo contexto (BACKES; COLOMÉ; ERDMANN; LUNARDI, 2011). O uso do grupo focal na pesquisa qualitativa gerou um nicho de interação onde são engendradas trocas e discussões referentes à experiências relacionadas a um assunto chave, permitindo a problematização do objeto de pesquisa de uma maneira mais aprofundada do que em uma situação individual de entrevista (RESSEL; BECK; GUALDA; HOFFMANN; SILVA; SEHNEM, 2008). Essa técnica vem sendo utilizado para explorar as concepções e experiências dos participantes, podendo ser usada para examinar não somente o que as pessoas pensam, mas como elas pensam e por que pensam assim. (BACKES; COLOMÉ; ERDMANN; LUNARDI, 2011, p. 439). Foi realizado um encontro com caráter de grupo focal, contando com a participação de Arthur S. Pires e Ramon Raach, ambos estudantes da rede de ensino 36 pública estadual de São Sebastião do Caí. Participaram também Guilherme S. Gouvêa, estudante do curso para formação em Técnicas em Informática, e a jovem Rafaela R. Leite, estudante do Curso de Graduação em Música: Licenciatura, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. O encontro foi realizado em 6 de outubro de 2015 e teve a duração de 44 minutos e 27 segundos. Após a transcrição de maneira integral dos dados obtidos no grupo com o auxílio da ferramenta de inserção de texto através da voz disponível online do site Google Tradutor, textualização, revisão e aprovação pelos entrevistados, esse material gerou um documento intitulado Caderno do Grupo Focal (C. G. F., 2015) que em sua finalização totalizou 26 folhas. Para a realização das coletas de depoimentos dos entrevistados individuais e do grupo focal foi utilizado um Roteiro da entrevista semiestruturada e grupo focal (Apêndice 1). E para a utilização desses depoimentos bem como os nomes dos entrevistados aqui citados, cada participante assinou um Termo de autorização de uso de identidade nominal e depoimentos (Apêndice 2), outorgando ao pesquisador o uso de suas falas bem como seus nomes verdadeiros para a construção da presente pesquisa. A terceira técnica para a realização da coleta de dados para a colaboração com essa pesquisa foi a observação, embasada segundo as teorias de Peretz (2000). Para a utilização dessa técnica optou-se pela observação do 8º Evento Anime Buzz, organizado pela Ninja Produções, evento este, que ocorreu nesse ano (2015) em parceria com a festividade do 4º Nihon Matsuri43, que tiveram suas atividades sediadas na cidade de Porto Alegre (RS), na Academia de Policia Militar. Peretz (2000) usa o termo observação para qualificar outro método que difere dos métodos mais usuais que são encontrados em pesquisas de cunho qualitativo, divergindo dos habituais diálogos e questionamentos, e que vai para além do apenas catalogar informações tendo como base um roteiro ou tabelas de questionários. O autor explica que a observação é um método de todo distinto e o seu emprego em atividades que envolvem a prática de pesquisas qualitativas que nem sempre é claro. Peretz (2000) trata a observação como sendo uma técnica que permite a aproximação ainda mais ativa do pesquisador com o seu objeto de pesquisa, que “significa um 43 Literalmente: Festival do Japão. 37 método de análise da época contemporânea,com a captação de todas as classes de dados estatísticos” (PERETZ, 2000, p. 7). O autor afirma que a observação, como técnica de coleta de dados, deve ser executada pelo investigador sem que ele tenha intenções de desviar a ação que está em desenvolvimento de seu rumo e fluxo natural, e que também não deve levar o participante a praticar ações que estejam ligadas as suas intenções alheias (PERETZ, 2000). Essa observação, apartada de significâncias indutivas e com importância de recolher dados sem a interferência do pesquisador, possibilitou agregar uma significância sociológica aos dados recolhidos, classificando-os e medindo os seus graus de generalidades (PERETZ, 2000). Ao final da observação do evento, foi elaborado um relato escrito, de teor crítico-avaliativo, contendo dados referentes às impressões e captações obtidas com a observação desses dois eventos que, depois de revisado e devidamente textualizado, gerou um documento intitulado Caderno de Observação (C. O., 2015) que, em sua finalização, totalizou 3 folhas. Como quarta e última técnica para a realização da pesquisa foi utilizada a fotografia (VELLOSO; GUIMARÃES, 2013). O uso do recolhimento das falas em pesquisas qualitativas ocupa um lugar de cunho metodológico comum, mas o uso conjunto da imagem fotográfica como meio de coleta de dados pode ser uma ferramenta fundamental para a leitura de acontecimentos sociais (VELLOS; GUIMARÃES, 2013). As imagens em suas próprias essências são carregadas de significados e acumulam informações que complementam o discurso abordado na pesquisa. As informações que elas carregam podem ser lidas de maneiras diferentes, tanto pelo seu captor, o fotografado e o pesquisador, já que atuam como uma narrativa que está para além de ser uma cópia da realidade, mas que geram afirmações e interpretações sobre o real, tornando-as quase ou tão mais capazes de transmitir informações que um texto escrito (VELLOSO; GUIMARÃES, 2013). A coleta de imagens para esta pesquisa ocorreu de maneira digital, coletando- as das fanpages da rede social Facebook, sendo essas páginas: Ninja Produções – Anime Buzz, organizadora do Evento Anime Buzz e da página Veh Luize Produções, participante freelance do evento. Esse tipo de coleta foi escolhida, pois as imagens já estão publicadas em caráter de domínio público, tornando-se um material que é 38 manipulado por qualquer usuário da rede social Facebook, não comprometendo a integridade moral dos fotografados. Ao final da coleta e, após a organização e identificação dos devidos direitos de concessão e atribuição de créditos aos devidos fotógrafos, esse material gerou um documento intitulado Caderno de Fotografias (C. F., 2015) que, em sua finalização, totalizou 46 folhas. 2.4 ANÁLISE DOS DADOS: ANÁLISE DE CONTEÚDO A análise dos dados consiste em realizar um exame sobre as informações coletadas, organizando as mesmas em categorias e realizando testes com os dados coletados, gerando um estado de recombinação das informações coletadas, tratando- as como os resultados dos objetivos da pesquisa (YIN, 2005). Bogdan e Biklen (1994) explicam que a análise dos dados constitui-se um processo de organização dos dados coletados, dividindo-os em unidades que possam ser manipuladas, sintetizadas e padronizadas para que haja a melhor compreensão desses materiais e para que aspectos interpretativos possam ser apreendidos, possibilitando a apresentação das considerações acerca do que foi encontrado (BOGDAN; BIKLEN, 1994). Os materiais obtidos durante a coleta dos dados desta pesquisa – as entrevistas, grupo focal, observação e as fotografias – foram organizados em cadernos para que melhor pudessem ser analisados, lidos e interpretados, permitindo, assim, gerar uma categorização prévia para futuras considerações sobre o objeto de pesquisa. A Tabela 2, abaixo, simplifica essa organização: Tabela 2 – SÍNTESE DOS CADERNOS. ABREVIAÇÃO CADERNO FOLHAS C. E. Caderno de Entrevistas 16 C. G. F. Caderno do Grupo Focal 26 C. O. Caderno de Observação 3 C. F. Caderno de Fotografias 46 39 A análise de conteúdo, técnica de análise dos dados selecionada para esta investigação, se caracteriza como uma metodologia qualiquantitativa usada para descrever e interpretar todas as classes de conteúdos coletados, levando-os a classificações sistematizadas e reinterpretações das mensagens nesses dados, propondo uma nova e refinada interpretação de leitura que vai para além de apenas uma leitura comum (MORAES, 1999). Tal análise possibilita ler e fazer novas assimilações de dados de todas as classes de conteúdo, nos abrindo portas de conhecimento sobre aspectos e fenômenos de vidas sociais que de outra maneira não seriam vistos. Em sua vertente qualitativa, a análise de conteúdo parte de pressuposições que através de exames de textos, nos dão suporte para o reconhecimento de sentidos simbólicos por eles carregados (MORAES, 1999). Um fator que determinou a escolha da análise de conteúdo como técnica para a análise dos dados foi sua característica de possibilitar a síntese das mensagens que são coletadas, tanto na sua integralidade como informação textual e também nas suas significâncias de conteúdo, possibilitando colocar em evidência indicadores de uma realidade que antes não era percebida (OLIVEIRA, 2008). Além disso, outro fator que corroborou a escolha da análise de conteúdo foi o fato de este tipo de análise constituir-se um conjunto de fatores que podem ser manipulados pelo pesquisador levando em consideração os objetivos por ele traçados para a pesquisa, submetendo as percepções apreendidas durante as leitura a uma análise cientifica e não intuitiva, dando aos resultados alcançados valor também cientifico (OLIVEIRA, 2008). Ao final da análise dos dados, constituída pela manipulação, leitura e codificação dos dados, os materiais coletados foram organizados e sistematizados em um Caderno de Categorizações (12 folhas), construído a partir das entrevistas individuais, falas do grupo focal, registro de observação e catalogação de fotografias coletadas da internet. Estes dados, organizados e tratados, formaram o corpo do Capítulo 4, no qual são apresentados os dados e devidamente analisados, a partir do referencial teórico escolhido. 40 3. REFERENCIAL TEÓRICO Parte do que foi exposto, tanto na introdução do trabalho e também na revisão de literatura do mesmo, trouxe falas acerca dos vários dispositivos – sociais e de cunho midiático-tecnológico – que vêm contribuindo para a formação de um repertório de escuta musical, como as contribuição advindas dos meios de comunicação de massa. Tais atitudes comportamentais – características de grupos sociais, sejam eles dentro da cultura anime, rock, pop e até mesmo funk – influenciam os jovens em decisões dentro do grupo da cultura pop japonesa, decisões estas que constroem a sua identidade quanto indivíduos dentro de atividades coletivas e também como atores isolados desses contextos sociais. Passo aqui, a explicar os referenciais teóricos escolhidos para a análise dos dados coletados para a pesquisa. 3.1 O CONTEXTO DA MÚSICA, SUA ESCUTA E A SUA IMPORTÂNCIA Como citado anteriormente, a prática da manipulação somente se dá, pois há música dentro desse contexto, as cultura pop japonesa. Dentro não só dos AMV’s, mas também nos animes e doramas, a música se faz presente, agregando uma afirmação no significado que é passado pelo gráfico e influenciando uma opinião acerca dessas músicas, já que é um território que gera possibilidade e situações onde os participantes podem trocar opiniões entre si, sobre essas mídias, pois é uma atividade cotidiana. A música é parte da vida de crianças, jovens e adolescentes, sejam eles de contexto formais ou não; o ouvir música é uma atividade regular desses indivíduos,cantando em grupo, bandas ou fazendo aulas de música. Esses atuantes criam as suas próprias listas e maneiras de ouvir essa música, refletindo os seus cantores preferidos ou discutindo músicas com seus amigos (PALHEIROS, 2014). Estudos apontam a importância da escuta musical, por parte dos jovens, já que essa escuta é fundamental para eles, pois revelam fatores de importância, como a satisfação relacionada ao emocional ou as atividades de vida social, passatempo, alivio de tensões, relaxamento, lidar com situações e divertir-se (PALHEIROS, 2014). 41 A autora ressalta que a importância da música na vida desse atores sociais vem crescendo e que esse fato contrasta com a falta do impacto que as aulas de música têm na vida deles. E ainda complementa, dizendo que parte dessa situação de atrito dá-se por causa dos repertórios que são apresentados em sala de aula pelos professores de música, que não vão ao encontro das suas vivências fora da classe, contrastando com as aulas de música (PALHEIROS, 2014). Ouvir música é uma atividade cotidiana em que os jovens estão inseridos, passando por diversas situações e com funções que também são diferenciadas, tanto em grau, quanto em objetivo. Esses jovens escutam música em diversos lugares, quer seja nas escolas ou fora delas, em ambientes que lhes proporcionam interação social com seus pares. Também ouvem nas escolas, com as aulas e demais atividades curriculares. A música ocupa e desempenha diferentes funções na vida dessas pessoas. Como a maneira de ouvir e usar essas músicas, contando com variante que dependem das características individuais de cada uma delas, as situações em que elas se encontram, bem como os seus contextos sociais e a essas escutas não são atribuídos juízos de valores pelos jovens, sobre seriedade ou como sendo uma escuta boa ou má. Também não é tratada como ocupando um lugar prioritário ou secundário, é uma escuta musical e faz parte das atividades relacionadas a escuta (PALHEIROS, 2014). A escuta musical se forma nas vivências socioculturais que esse jovem permeia, sendo conduzida pelas tradições musicais desses nichos culturais e também pelo sistema educacional do qual faz parte. Todavia, essa formação musical – enquanto ouvintes passivos – ocorre fora dos contextos escolares dos jovens, sendo moldada pelo convívio com os amigos e com as atividades musicais de seus contextos de atividades sociais e geralmente, os professores não estão familiarizados com essas manifestações (PALHEIROS, 2014). A autora traz essa não familiarização com a cultura dos jovens estudantes, como sendo uma atitude negativa, gerando uma baixa motivação no estudante, com referência à aula de música na escola e complementa dizendo que essa baixa popularização das músicas escutadas em contexto que não são a sala de aula ocorre, pois existe uma dissonância cultural em relação às práticas pessoais com relação às práticas em sala de aula (PALHEIROS, 2014). 42 Refletir sobre as percepções de significâncias, sentidos e conhecimentos que vêm junto com esse estudante que posteriormente é inserido numa classe – que muitas das vezes tem um número de indivíduos que é superior ao flexível – pode ser mais dificultoso. Trabalhar dentro de um lugar com uma perspectiva de massificação de pessoas, às vezes leva o educador a tomar um posicionamento que o faz trabalhar dentro de um lugar cultural e social em que haja uma contemplação de assuntos que são de conhecimentos tomados como gerais. Saber das manifestações culturais existentes um país, estado ou cidade – até mesmo nas comunidades locais desse sujeito – é tomado com um ponto de partida no trabalho pedagógico-musicais nas escolas. Mas, além disso, abrimos um guarda- chuva que abrange um certo número de possibilidades, tendo em vista que até mesmo as manifestações socioculturais locais – como os bairros e/ou comunidades em que esse ator social se encontra – contam com polos diferenciados de agregações de interação (KRAEMER, 2000). Essas ações comportamentais devem ser observadas, pois são pontuais nas influências sociais, instituição de grupos, debates que circundam as preferências pessoais e coletivas, organização de tempo para lazer, produção cultural e organização de vida cotidiana. Também, deve-se levar em consideração as relações que estão associadas à música; como os seus meios de manuseio (KRAEMER, 2000). Podemos nos ocupar e nos apropriar dessa música observando, também, os seus tipos e as suas variações de vertentes, formas de manifestações e analisar as condições em que essa música e suas manifestações apresentam, como suas difusões nesse grupo e também as suas compreensões por ele (KRAEMER, 2000). Organizar uma apropriação dessas manifestações e suas vertentes artísticas – no caso, as musicais – não se trata somente de um conglomerado de informações que contém títulos e/ou nomes, mas também de uma tomada de sentidos para uma formação trabalhada em música de maneira a abordar um olhar mais pedagógico acerca do tema. Tomar os elementos com efeitos educacionais que podem ser ativados com essas músicas, desenvolvimento de personalidades permeadas por relações que são geradas com elas. Gerar uma experiência de participação e experimentação sensível a essa manifestação, já que o indivíduo inserido nesse contexto está ligado a essa música, pois ela funciona como uma base unificadora (KRAEMER, 2000). 43 Essa prática, em conjunto com essa música, permite aos jovens atores sociais definirem-se em relações com os outros, seus amigos, colegas, redes sociais e para a cultura em que vivem. O ensino da música aprofunda e compreende experiências cotidianas, proporcionando novas oportunidades de criar laços importantes entre a casa, a escola e o mundo exterior (NORTH; HARGREAVES; O'NEILL, 2000). A experimentação desse lugar de culturas diversas fornece algumas evidências, sustentando que a música é um dos sujeitos que acaba por tornar-se menos popular na escola de nível médio. Estes argumentos também são refletidos na análise das diferenças entre as abordagens do ensino de música em uma escola primária e uma escola secundária (NORTH; HARGREAVES; O'NEILL, 2000). Parece muito mais viável gerar uma solução para estes problemas mais significativos, a considerar a função da música da escola em que esses adolescentes vivem como um todo, do que parar para analisar peculiaridades individuais. Não pode haver dúvida de que a música fora da escola é uma parte extremamente importante da vida da maioria dos jovens e adolescentes e que talvez, devêssemos focar uma disjunção entre a música na escola e música em casa, que parece alargar rapidamente o trabalho com as músicas escutadas por esses jovens (NORTH; HARGREAVES; O'NEILL, 2000). A maioria das pesquisas sobre por que os adolescentes se envolverem em atividades especificamente musicais tem sido levada a cabo no contexto que se tornou conhecido como os usos e gratificações dessas e com essas músicas. Adolescentes relatam ouvir, a fim de aliviar a tensão, distrair-se de preocupações, ajudar a passar o tempo, e aliviar o tédio. O tempo que passa é a principal razão para ouvir música, relatado por eles (NORTH; HARGREAVES; O'NEILL, 2000). Esta utilização de gratificação com a música resulta da atividade em que o jovem emprega essa música como um ponto de apoio que guia a construção da suas identidades, implicando e explicitando em suas preferências para um estilo particular, que podem levar uma mensagem implícita para outros adolescentes a respeito de uma gama de atitudes e valores (NORTH; HARGREAVES; O'NEILL, 2000). Como mencionado acima, investigação sobre a participação em atividades não- musicais – no caso, não práticas, não envolvendo o tocar ou cantar – indicam que este pode trazer melhorias no relacionamento com os colegas. Tendo em vista essas subculturas
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