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Caderno de Resumos - Constitucional 1988-2018

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1988-2018:
o que constituímos?
HOMENAGEM A MENELICK DE CARVALHO NETTO 
NOS 30 ANOS DA CONSTITUIÇÃO DE 1988
CADERNO DE RESUMOS
Belo Horizonte
2018
Marcelo A. Cattoni de Oliveira,
David F. L. Gomes & Deivide Júlio Ribeiro
ORGANIZAÇÃO
1988-2018:
o que constituímos?
HOMENAGEM A MENELICK DE CARVALHO NETTO 
NOS 30 ANOS DA CONSTITUIÇÃO DE 1988
Copyright © desta edição [2018] Initia Via Editora Ltda.
Rua dos Timbiras, nº 2250 – sl. 103-104, Lourdes
Belo Horizonte, MG - CEP 30140-061
www.initiavia.com
Editora-Chefe: Isolda Lins Ribeiro.
Revisão: autores.
Diagramação e Capa: Kívia Bueno.
Imagens da Capa: Congresso Nacional por Rodolfo Stuckert; Fachada do Palácio do Planalto por Beto Bara-
ta; Fachada do STF por Nelson Jr; Protesto no Congresso Nacional do Brasil por Agencia Brasil.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial deste livro ou de quaisquer 
umas de suas partes, por qualquer meio ou processo, sem a prévia autorização do Editor. A violação dos 
direitos autorais é punível como crime e passível de indenizações diversas.
Congresso de Direito Constitucional - 1988-2018: O que constituímos? 
(2. : 2018: Belo Horizonte, MG)
1988-2018: O que constituímos? Homenagem a Menelick de Carvalho Netto nos 30 
anos da Constituição de 1988 / organizadores: Marcelo A. Cattoni de Oliveira, David F. L. 
Gomes, Deivide Júlio Ribeiro - Belo Horizonte : Initia Via, 2018.
127 p. – Caderno de Resumos 
ISBN 978-85-9547-035-4
1. Direito constitucional - Congressos . 2. Filosofia do direito – Congressos.
I. Oliveira, Marcelo A. Cattoni de. II. Gomes, David F. L. III. Ribeiro, Deivide Júlio
CDU: 34(061.3)
Marcelo A. Cattoni de Oliveira,
David F. L. Gomes & Deivide Júlio Ribeiro
ORGANIZAÇÃO DO LIVRO
1988-2018:
o que constituímos?
HOMENAGEM A MENELICK DE CARVALHO NETTO 
NOS 30 ANOS DA CONSTITUIÇÃO DE 1988
Marcelo A. Cattoni de Oliveira,
David F. L. Gomes
Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira
Bernardo Gonçalves Alfredo Fernandes
David F. L. Gomes
Emílio Peluso Neder Meyer
Maria Fernanda Salcedo Repolês
Thomas da Rosa de Bustamante
Amós Silvestre dos Reis
Almir Megali Neto
Deivide Júlio Ribeiro
Felipe Capareli
Giulia Maria Giusti Athayde Pinto
Henrique Pereira de Queiroz
João Pedro Lopes Fernandes
Jéssica Holl
Mariana Rezende de Oliveira
Marina Leite
Raquel Possolo
Rayann K. Massahud de Carvalho
COORDENAÇÃO GERAL:
CONSELHO CIENTÍFICO:
COMISSÃO ORGANIZADORA:
CADERNO DE RESUMOS 5
apresentação
No momento em que celebra seus 30 anos, a Constituição de 1988 vê-se sob um 
ataque advindo de múltiplos lados. Se esse ataque possui, certamente, uma força e uma ar-
ticulação inéditas, não é a primeira vez que isso ocorre: desde antes mesmo de sua promul-
gação em 5 de outubro, o tom emancipatório que nela se manifesta já levantava resistências 
variadas, sendo o célebre discurso do então presidente José Sarney uma espécie de metoní-
mia de um processo de crítica destrutiva que acompanharia a Constituição ao longo de sua 
vigência. Por outro lado, a réplica presente no discurso de Ulysses Guimarães também pode 
ser lida como uma metonímia, uma metonímia da continuada luta em sua defesa que acom-
panharia igualmente a vida dessa Constituição.
Se a Constituição de 1988 é luta, luta contínua em sua defesa, nada mais adequado 
do que homenagear, em um evento que se apresenta como uma etapa a mais nessa luta, um 
intelectual que sempre sustentou exatamente isto: Constituição é luta, luta constante por 
sua defesa, início de um projeto que se efetiva no tempo apenas se nos engajamos como ci-
dadãs e cidadãos ativas e ativos nessa luta.
É com esse sentido que foi realizado o congresso: “1988-2018: O QUE CONS-
TITUÍMOS? Homenagem a Menelick de Carvalho Netto nos 30 anos da Constituição de 
1988”. Entre as homenagens, estão aqui os trabalhos apresentados no evento, em forma de 
Caderno de Resumos.
1988-2018: O QUE CONSTITUÍMOS?6
CONTRIBUIÇÕES DE UMA TEORIA CRÍTICA DA CONSTITUIÇÃO PARA A COMPREENSÃO 9 
DO CONTROLE JURISDICIONAL DO PROCESSO DE IMPEACHMENT
ALMIR MEGALI NETO
PRECARIADO E CIDADANIA: 15
APONTAMENTOS SOBRE A CONSTITUIÇÃO DE DIREITOS SOCIAIS
ÂNgElA VITóRIA ANDRADE gONçAlVES DA SIlVA & OTáVIO lOPES DE SOuzA
PERSPECTIVAS E DESAFIOS NA IMPLEMENTAÇÃO DO ARTIGO 68 DO ADCT: 21
O PROCESSO DE RECONHECIMENTO E TITulAçAO DAS COMuNIDADES QuIlOMBOlAS
áuREA BEzERRA DE MEDEIROS & MENElICk DE CARVAlHO NETTO
AUSTERIDADE FISCAL E A DESNATURAÇÃO CONSTITUCIONAL: 28
A POLÍTICA ECONÔMICA BRASILEIRA DOS ANOS 2008-2016
BRuNO RODRIguES VIEIRA & MARIA ClARA FERNANDES FERREIRA
TENTRE NARRATIVAS DE RESSENTIMENTO E URGêNCIA: 33
RISCOS PARA A CONSTITUIÇÃO DE 1988
ERNANE SAllES DA COSTA JuNIOR
A CONSTITUIÇÃO DE 1988 VIVA E VIVIDA: 38
CONTRIBuIçÕES DA ESCOlA MINEIRA DE DIREITO CONSTITuCIONAl
FELIPE V. CAPARELI & RAyANN K. MASSAHUD DE CARVALHO
MULHERES, POVO E PODER: 44
O QuE NÃO CONSTITuÍMOS?
FERNANDA ARAUJO PEREIRA
OCUPAÇÃO DANDARA: 51
lITIgÂNCIA ESTRATégICA E A ARTICulAçÃO JuRÍDICA-POlÍTICA NAS luTAS DA ClASSE TRABAlHADORA PRECARIzADA
FERNANDA VIEIRA OLIVEIRA & ISABELA DE ANDRADE PENA MIRANDA CORBy
REPRESENTATIVIDADE DAS MULHERES NA CâMARA DOS DEPUTADOS: 58
O QuE CONSTITuÍMOS DESDE 1988?
JESSICA HOll
ENTIDADE DE CLASSE E PLURALISMO: 64
A CAPACIDADE DE ADAPTAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DE 1988 E AS MUDANÇAS SOCIAIS SOB UM CONTEXTO DE SUBCIDADANIA
JOÃO luCAS RIBEIRO MOREIRA &TIAgO SOARES SIQuEIRA
sumário
CADERNO DE RESUMOS 7
ENTRE A REALIDADE DO CÁRCERE E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS: 69
SOBRE O PAPEL DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA NA POLÍTICA DE ENCARCERAMENTO EM MASSA BRASILEIRA
lEO MACIEl JuNQuEIRA RIBEIRO
O PRINCÍPIO DA IGUALDADE NA PRÁTICA CONSTITUCIONAL CONTEMPORâNEA BRASILEIRA, 75 
E SUA TENSÃO E CONTRADIÇÕES NO TRATAMENTO DE MINORIAS ÉTNICAS
lEONARDO FAuSTINO PEREIRA & SARA zICA RIBEIRO
A PROIBIÇÃO DA CONDUÇÃO COERCITIVA PARA INTERROGATÓRIO E O APRIMORAMENTO DA 79 
APLICAÇÃO DO DIREITO AO SILêNCIO:
uM PEQuENO AVANçO EM MEIO AO RETROCESSO 79
luDMIlA CORRêA DuTRA & CAROlINE MESQuITA ANTuNES
FAZER JUSTIÇA A RONALD DWORKIN: 85
A INTEGRIDADE DO DIREITO E A COMUNIDADE DE PRINCÍPIOS INSTITUÍDA PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988 
À luz DE MENElICk DE CARVAlHO NETTO
MARCuS VINÍCIuS FERNANDES BASTOS & MATEuS ROCHA TOMAz
O DIREITO FUNDAMENTAL À EDUCAÇÃO A PARTIR DA CONSTITUINTE DE 1988: 94
uMA BREVE ANálISE DA EVOluçÃO DESTE DIREITO NOS 30 ANOS DA CONSTITuIçÃO CIDADÃ
MICAELA AFONSO LAMOUNIER
O DIREITO À EDUCAÇÃO INCLUSIVA DAS PESSOAS COM DEFICIêNCIA E A CONSTITUIÇÃO DE 1988: 99
PROgRESSOS E DESAFIOS
TATIANA RIBEIRO PROVETTI
JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO EM 30 ANOS: 106
A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E CONSTITUCIONALISMO TRANSICIONAL COMO PROJETO PERMANENTE
TAyARA TALITA LEMOS
QUE CIDADANIA CONSTITUÍMOS?: 112
uMA ANálISE DA EMENDA CONSTITuCIONAl 95/2016 SOB A PERSPECTIVA DOS DIREITOS HuMANOS
THIAgO álVARES FEITAl
OS AMICI CURIAE NA EXPERIêNCIA CONSTITUCIONAL BRASILEIRA: 117
DA PLURALIDADE À PARTICIPAÇÃO SOCIAL
WAGNER VINICIUS DE OLIVEIRA
CADERNO DE RESUMOS 9
Almir
CONTRIBUIÇÕES DE UMA TEORIA CRÍTICA DA 
CONSTITUIÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO CONTROLE 
JURISDICIONAL DO PROCESSO DE IMPEACHMENT
ALMIR MEGALI NETO1
Desde a abertura do processo de impeachment em face da ex-Presidente da Repú-
blica Dilma Rousseff, “formou-se no Brasil um campo propício para a teoria constitucional 
rever aquele instituto” (BACHA E SILVA; BAHIA; CATTONI DE OLIVEIRA, 2017, p. 
16). A despeito de se tratar de um instituto cuja ativação causa grandes repercussões para as 
instituições democráticas e que sempre esteve presente nas constituições2 republicanas bra-
sileiras, poucos são os trabalhos que têm em mira a compreensão deste fenômeno constitu-
cional a partir do papel político-institucional do Judiciário, principalmente no que se refere 
a uma possível capacidade de mediação entre os demais poderes.3
As seguidas contestações judiciais decorrentes da abertura do processode impe-
achment em face da ex-Presidente Dilma Rousseff trouxeram para o centro dos debates 
teórico-políticos o tema do impeachment, sobretudo no que diz respeito à possibilidade de 
intervenção da jurisdição constitucional. Dessa maneira, pode-se dizer que o tema passou a 
ser objeto de discussões, divergências e enfrentamentos, conformando uma agenda de pes-
quisa a ser explorada.
Muito se discutiu se o Supremo Tribunal Federal (STF) teria competência para 
apreciar as questões que foram levadas à sua jurisdição no curso do processo de impeach-
1 Mestrando em Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da UFMG. Linha de Pesquisa: História, 
Poder e Liberdade. E-mail: almir_megali@hotmail.com. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação 
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
2 Um esclarecimento quanto à utilização do termo constituição se faz necessário. Quando o termo for empre-
gado de modo genérico, sem particularizar de qual constituição se está a falar, utilizar-se-á o termo com a letra “c” 
minúscula. Quando se fizer referência a uma constituição específica o termo será escrito com a letra “c” maiúscula. 
3 Para fins deste trabalho, propõe-se a adoção da definição de Salcedo Repolês da expressão, sintetizada na se-
guinte passagem: “Outro sentido para o qualificativo ‘político’ usado para a Corte é o que chamaremos aqui de políti-
co-institucional, que ajuda a afirmá-la como um terceiro poder capaz de equilibrar os poderes legislativo e executivo. 
Esse sentido que retira aquela semântica negativa do partidarismo, solidifica o Supremo Tribunal Federal como órgão 
de consolidação da República e da democracia” (SALCEDO REPOLÊS, 2010, p. 68).
1988-2018: O QUE CONSTITUÍMOS?10
ment da ex-Presidente Dilma Rousseff. As alegações eram no sentido de que as matérias 
relativas ao processo de impeachment consistiram questões políticas e que, em virtude disso, 
não deveriam ser apreciadas pelo Tribunal. Para os defensores desta linha de raciocínio, a 
questão representaria uma verdadeira judicialização da política, no sentido da instauração de 
um governo de juízes.
A questão teria ficado clara quando do julgamento do mandado de segurança n. 
34.441, no qual a ex-Presidente intentava a anulação da decisão proferida pelo Senado Fe-
deral, ao fundamento da ausência de justa causa para abertura do processo de impeachment 
bem como da inobservância do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa 
no trâmite do feito. Alegou-se que o papel do Tribunal se limitaria à definição do rito do 
processo, sendo-lhe vedado apreciar quaisquer questões que envolvessem direta ou indireta-
mente o mérito da acusação em desfavor da ex-Presidente. 
Sendo assim, é preciso questionar se há espaço para apreciação jurisdicional de 
questões afetas ao processo de impeachment, ou, se pelo contrário, tais questões se inseri-
riam naquilo que se costuma denominar questões políticas. Aqui, sustenta-se que há um 
legítimo espaço de atuação para o Poder Judiciário no curso do processo de impeachment. 
Isso porque, com Bacha e Silva, Bahia e Cattoni de Oliveira (2017, p. 95-104), acredita-se 
que o impeachment está diretamente relacionado ao estudo do princípio da separação dos 
poderes, do sistema presidencialista de governo e, em última instância, da soberania popu-
lar, com o mote do constitucionalismo e suas relações com a democracia, razão pela qual o 
alcance do instituto não deve ficar à disposição de maiorias parlamentares eventuais.
A apreciação jurisdicional da matéria aqui defendida não implica em uma revisão 
do mérito da decisão proferida pelo Senado Federal, como se passa em algumas experiências 
constitucionais compradas, principalmente naquelas que possuem Legislativo unicameral, 
nas quais a Corte Constitucional possui a palavra final sobre a condenação ou não do pre-
sidente da república (SAN JUAN; TIOJANCO, 2016).4 Pelo contrário, o propósito deste 
trabalho é evidenciar que o STF tem um importante papel a desempenhar no curso do 
processo de impeachment do presidente da república, de modo a evitar que o instituto seja 
manejado inadequadamente pelo Congresso Nacional. Defende-se, portanto, que o STF 
deve atuar no sentido da garantia da justa causa para deflagrar o processo, dos direitos do 
acusado à ampla defesa, ao contraditório e ao devido processo legal em todas as suas etapas. 
Aqui, pretende-se questionar se o mero seguimento das etapas do procedimento previstas 
na Constituição, na Lei n. 1.079/50 e nos Regimentos Internos das Casas legislativas seria 
capaz de legitimar o processo. Em outras palavras, é preciso questionar se a deflagração das 
etapas do procedimento prescindiria da observância de requisitos materiais mínimos.
Não custa lembrar que em um curto período de tempo, a história constitucional 
brasileira vivenciou 02 (dois) afastamentos de presidentes da república após a deflagração de 
4 Exemplares neste sentido são as Constituições da Albânia, da Coreia do Sul, da Hungria e da República Tche-
ca. Para maiores detalhes, cf. SAN JUAN; TIOJANCO, 2016.
CADERNO DE RESUMOS 11
processos de impeachment. Isso em um país cuja história é marcada por instabilidades polí-
tico-institucionais e em um contexto no qual o impeachment surgiu como um novo padrão 
de instabilidade político-institucional.5
A razão para tanto, deve-se ao fato das elites locais terem percebido que a nova con-
juntura política dos fins dos anos 1980 e início dos anos 1990 não seria mais conivente com 
a forma tradicional de tomada do poder na região (PÉREZ-LÍÑAN, 2007). Sendo assim, 
ao invés de golpes militares; de tanques nas ruas; da tomada do poder pela via da força; a 
nova tendência latino-americana seria a tomada do poder através do manejo de institutos 
previstos pelas próprias ordens constitucionais, como o impeachment. Agora, a tomada do 
poder se daria sem a quebra do regime democrático. Manter-se-iam as instituições em fun-
cionamento e tudo se daria dentro dos limites previstos pelas próprias constituições. Como 
é de se imaginar, essa nova tendência, criou um alto grau de insegurança para os políticos da 
região, convertendo-se o impeachment em “uma arma institucional usada contra os presi-
dentes que enfrentam uma legislatura beligerante” (PÉREZ-LÍÑAN, 2007, p. 09).
Aponta Pérez-Líñan que, em condições ideais, o impeachment somente poderia ser 
ativado se houvesse provas suficientes da prática de algum high crime cometido pelo pre-
sidente e não com base em acusações pouco fundamentadas ou politicamente motivadas. 
Referida exigência seria produto da recepção do impeachment pela incipiente república 
presidencialista norte-americana da experiência monárquica britânica e que se difundiu pela 
América Latina. Diferentemente dos britânicos, os fundadores procuraram restringir o al-
cance das ofensas bem como as pessoas que estariam sujeitas a impeachment. 
Na tradição norte-americana, a atuação do Judiciário em relação ao processo de im-
peachment deveria ser limitada (HAMILTON; MADSON; JAY, 2003, p. 394-398). Para 
Black Jr. (1974, p. 63), por exemplo, “os tribunais não têm nenhum papel a desempenhar” nos 
processos de impeachment deflagrados em face do presidente da república. No entanto, é pre-
ciso salientar que “a ausência de ‘Judicial Review’ sobre a matéria não significa, contudo, uma 
licença para o Congresso ignorar os limites e obrigações impostas pelas normas constitucionais 
do Impeachment” (BACHA E SILVA; BAHIA e CATTONI DE OLIVEIRA, 2017, p. 21).6 
Nos 30 anos da Constituição de 1988, haveria um sentimento de frustração por 
parte de parcela da sociedade brasileira em relação às promessas não cumpridas da Constitui-
ção. Isso porque a denominada falta de efetividade das normas constitucionais teria criado 
uma realidade social distinta daquela prevista pela Constituição. Esta seria, portanto, a razão 
5 De acordo com Pérez-Líñan (2007), a conjugação de quatro elementos teria sido decisivapara o desencade-
amento de processos de impeachment na América Latina durante o período compreendido entre os anos de 1992 e 
2004, pouco importando o fundamento jurídico utilizado, quais sejam: (i) crise econômica; (ii) escândalo de corrpu-
ção; (iii) manifestações populares; e (iv) falta de apoio do Executivo no Legislativo. Os casos analisados foram: Fernan-
do Collor de Mello (Brasil, 1992), Carlos Andrés Pérez (Venezuela, 1993), Ernesto Samper (Colômbia, 1996), Abdalá 
Bucaram (Equador, 1997), Raúl Cubas Grau (Paraguai, 1999) e Luis González Macchi (Paraguai, 2002).
6 Cf. BERGER, 1973, p. 86-93; GERHARDT, 2000, p. 103-11; SUNSTEIN, 2017, p. 154-155; TRIBE, 
2000, p. 152-153. 
1988-2018: O QUE CONSTITUÍMOS?12
para o fracasso institucional brasileiro. Em tal perspectiva, os temas de Direito Constitucio-
nal deveriam ser apreendidos de maneira a promover tanto quanto possível a aproximação 
entre o dever-ser normativo e o ser da realidade social.
Diante deste cenário, Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira sustenta, em sua Tese 
de Titularidade em Direito Constitucional (2017, p. 01), a necessidade de superação dessa 
“metodologia dualista, entre um enfoque jurídico-normativo (dever-ser) e/ou um enfoque 
sociopolítico (ser), de abordagem do Direito e do Estado”, ainda presente na teoria tradi-
cional da constituição, de modo que efetividade e legitimidade constitucionais sejam ade-
quadamente compreendidas. Nesse sentido é que Cattoni de Oliveira (2017, p. 01) afirma 
que as “Contribuições para uma Teoria Crítica da Constituição [expostas em sua Tese de Ti-
tularidade em Direito Constitucional] visam à superação desse impasse entre normativismo 
universalista e realismo particularista, ainda presente na teoria tradicional da constituição”.
Cattoni de Oliveira (2017, p. 102) sustenta a necessidade de superação do trata-
mento conferido pela teoria tradicional da constituição às questões normativas compreendi-
das como um “contraste ou hiatos entre um Direito Constitucional que se pretende legítimo 
e realidades político-sociais e econômicas recalcitrantes”. Sua proposta é no sentido de que 
as questões relativas à legitimidade e efetividade constitucionais no Estado Democrático de 
Direito devam ser reconhecidas não apenas como conflitos concretos ou tensões constitutivas 
do direito positivo, mas também, como conflitos inscritos na própria legalidade constitucio-
nal. Nessa perspectiva, os conceitos de legalidade, legitimidade e de efetividade estariam di-
retamente relacionados ao conceito de constitucionalidade. Dessa forma, romper-se-ia com 
a teoria tradicional da constituição para a qual a efetividade de uma determinada ordem 
constitucional estaria diretamente relacionada à correspondência ou à observância de suas 
prescrições normativas com os processos políticos e sociais observados no seio de uma dada 
sociedade. Legitimidade e efetividade constitucional não dependeriam da correspondência 
do conteúdo dos enunciados normativos abstratamente contidos no texto constitucional aos 
processos político-sociais observados na realidade, mas sim, da disputa interpretativa sobre 
o sentido de e da constituição. 
Considerando que “uma constituição não deve ser tratada como uma mera questão 
de especialistas, pois ela não é monopólio de ninguém, nem mesmo de uma corte consti-
tucional ou de um tribunal supremo; o sentido de e da constituição é uma questão que diz 
respeito à cidadania em geral” (CATTONI DE OLIVEIRA, 2017, p. 111) (destaques do 
original). Pois bem, dessa maneira, é preciso ter em vista que a disputa interpretativa em 
torno do sentido de e da constituição, para dizer com Cattoni de Oliveira, envolve, por um 
lado, o reforço da centralidade que a constituição adquiriu ao longo de sua vigência e, por 
outro, a possibilidade de rupturas institucionais a partir da tentativa de lançar uma consti-
tuição contra ela mesma, que representaria uma hipótese de fraude à constituição. 
Assim, espera-se que a compreensão do procedimento não apenas reduzido “à sua 
significação ‘funcional’ (uma espécie de ‘legitimação pelo procedimento’)” possa contribuir 
para o estudo das teses jurídicas levantadas nos autos do MS n. 34.441, pressupondo, “num 
CADERNO DE RESUMOS 13
nível institucional, a garantia do ‘contraditório’ – enquanto coparticipação, em ‘simétri-
ca paridade’, dos destinatários das decisões nos procedimentos que as prepara; da ‘ampla 
defesa’ – como liberdade de argumentação e de negociação sob condições equânimes; da 
‘fundamentação racional’– enquanto exigência de justificação ‘interna’ e ‘externa’ das deci-
sões; e, enfim, do devido processo legal (e legislativo) – enquanto modelo constitucional de 
processo” (CATTONI DE OLIVEIRA, 2017, p. 115-116). Atuação jurisdicional esta que 
(i) não deve substituir o processo democrático (CATTONI DE OLIVEIRA, 2016, p. 121), 
mas sim, retroalimentar a disputa interpretativa do sentido de e da Constituição a partir da 
garantia dos direitos fundamentais como constitutivos da democracia e do reconhecimento 
de novos sujeitos e novos direitos; e (ii) não se equivale a ouvir o clamor das ruas e manter 
uma suposta correspondência do sentido normativo do Direito às demandas de determina-
dos setores da sociedade. 
REFERêNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BACHA E SILVA, Diogo; BAHIA, Alexandre Melo Franco e CATTONI DE OLIVEIRA, 
Marcelo Andrade. O impeachment e o Supremo Tribunal Federal: história e teoria cons-
titucional brasileira. 2. ed. Florianópolis: Empório do Direito, 2017.
BERGER, Raoul. Impeachment: the constitutional problems. Cambridge: Harvard Uni-
versity, 1973. 
BLACK JR, Charles L. Impeachment a handbook. Yale University Press, 1974. 
CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Contribuições para uma Teoria Crítica 
da Constituição. Belo Horizonte: Arraes Editores, 2017.
CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Devido processo legislativo: uma justi-
ficação democrática do controle jurisdicional de constitucionalidade das leis e do processo 
legislativo. 3. ed. rev. ampl. e atual. Belo Horizonte: Fórum, 2016.
CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Processo constitucional. 3. ed. Belo Ho-
rizonte: Fórum, 2016b.
GERHARDT, Michael. Federal impeachment process: a constitutional and historical 
analysis. 2. ed. Chicago: Chicago University Press, 2000.
HAMILTON, Alexander; MADSON, James; JAY, John. O federalista. Belo Horizonte: 
Líder, 2003.
PÉREZ-LIÑAN, Aníbal. Presidential impeachment and new political instability in La-
tin America. Cambridge: Cambridge University Press, 2007.
SALCEDO REPOLÊS, Maria Fernanda. Identidade do sujeito constitucional e controle 
1988-2018: O QUE CONSTITUÍMOS?14
de constitucionalidade: raízes históricas da atuação do Supremo Tribunal Federal. Rio de 
Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa, 2010.
SAN JUAN, Ronald Ray K.; TIOJANCO, Bryan Dennis G. Impeachment. Oxford Ency-
clopedia of Comparative Constitutional Law, 2016. Disponível em: <http://oxcon.ouplaw.
com/view/10.1093/law-mpeccol/law-mpeccol-e311>. Acesso em: 10 mar. 2017. 
SUNSTEIN, Cass R. Impeachment: a citizens guide. Harvard University Press, 2017.
TRIBE, Laurence. American constitutional Law. 3ª ed. New York: New York Foundation 
Press. 2010. 
CADERNO DE RESUMOS 15
ângela e otávio
PRECARIADO E CIDADANIA:
APONTAMENTOS SOBRE A CONSTITUIÇÃO DE DIREITOS SOCIAIS
ÂNgElA VITóRIA ANDRADE gONçAlVES DA SIlVA1
OTáVIO lOPES DE SOuzA2
INTRODUÇÃO
A mediação normativa, que havia sido constituída desde o período varguista – tan-
to a justiça do trabalho, quanto os modelos legislados de regulação social – que parecia ser 
a regulação mais permanente e consistente entre Estado e classes e classes entre si, ao ser 
colocada em xeque por meio das reformas trabalhistas de 2017, traz à tona a tensão entre 
direitos sociais e uma nova classe em formação, o precariado. Além disso, a flexibilização 
desses direitos torna evidente as fissuras presentes no interior dessa classe, mas também faz 
questionar a própria força normativa3 dos direitos sociais como garantiasda classe traba-
lhadora, para muito além de sua positivação. Por mais que haja um salto temporal entre o 
momento de criação da mediação normativa – a invenção do trabalhismo4 (GOMES, 2005) 
– e o surgimento do precariado enquanto fenômeno (BRAGA, 2012a, 2012b; STANDING, 
2014), é possível vislumbrar a correlação entre o trabalhismo, os dilemas da precarização do 
trabalho como fenômeno e eventos mais contemporâneos. 
1 Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora – Campus Governador Valadares. Monitora 
de Direito Constitucional. Pesquisadora VIC/UFJF. E-mail: angelavitoriaandrade@hotmail.com.
2 Graduando em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora – Campus Governador Valadares. Membro 
do Centro de Estudos do Pensamento Político (CEPP/UFJF-GV). Pesquisador BIC/UFJF. 
E-mail: lopesdesouzaotavio@gmail.com.
3 Para Hesse (2009), a Constituição expressa mais um dever ser, na realidade social, impresso pela sua pretensão 
de eficácia e conformação. Dessa forma, quando se analisa a constitucionalização dos direitos sociais, tem-se que o 
texto constitucional age de maneira determinante em relação a essa realidade, sendo também definido por ela, em uma 
relação mútua, onde surgem essas tensões e questionamentos.
4 O grande marco do fenômeno do trabalhismo no Brasil é o trabalho A Invenção do Trabalhismo, de Ângela 
Maria de Castro Gomes. Em síntese, trata-se de uma defesa quanto ao fato de os direitos sociais também terem sido 
conquistados pela classe trabalhadora, em detrimento do entendimento de que foram simplesmente doados por parte 
do Estado. 
1988-2018: O QUE CONSTITUÍMOS?16
Diante do tema, um problema se apresenta: em que medida essas reformas de 2017 
representam ainda mais um alijamento desse segmento e o seu assolamento à margem da so-
ciedade e do seu status “cidadão”? Como seu surgimento, expansão e inquietação interferem 
na própria noção de cidadania pós-88?
METODOLOGIA E ARGUMENTOS
Antes de tecer mais considerações sobre a temática, é necessário realizar, para me-
lhor compreensão do tema e do objetivo da pesquisa, esclarecimentos conceituais acerca das 
noções de precariado. Para Standing (2014, p. 23), tal fenômeno pode ser entendido como 
uma íntima relação entre o substantivo de “proletariado” e o adjetivo de “precário”. Sendo 
uma classe-em-formação, ele também é constituído por pessoas desprovidas de uma série de 
garantias relacionadas à segurança no emprego, segurança do trabalho e segurança de renda. 
Tais déficits em relação aos demais agrupamentos sociais influenciariam diretamente nas ca-
racterísticas do grupo e no seu reconhecimento entre si.
Para além das incertezas empregatícias, a precariedade é marcada pela falta de uma 
identidade, pautada no reconhecimento e baseada no trabalho, o que, em um primeiro mo-
mento, obstacularizou a formação de uma consciência de classe por parte desse grupo social. 
Ademais, sua dispersão espacial e as condições de trabalho individualizadas tornariam difícil 
a formação de uma solidariedade de classe e formas de organização de ações coletivas.
Desde a década de 1930, há um aumento significativo da chamada classe precaria-
da, marcada pela presença de jovens, principalmente, sem qualificação específica para deter-
minadas funções no trabalho. No entanto, não se limita a este perfil de pessoas. Para Alba 
Maria Pinto (2014, p. 230), essa nova classe, caracterizada por ser uma “multidão global em 
expansão”, constitui-se de
(...) milhões de trabalhadores jovens-adultos com alta escolaridade, de-
sempregados ou inseridos em contratos de trabalho precários que tran-
sitam de uma ocupação para outra, quase sempre com baixos salários, 
sem projetos de vida e perspectiva de futuro. É uma multidão de jo-
vens proletários assalariados, vinculados a camadas médias, com níveis 
elevados de qualificação profissional, entrando e saindo de empregos 
precários, a viver em situação de insegurança econômica e social, sem 
identidade ocupacional, sem garantia de direitos e tomados pelo senti-
mento de ansiedade perante o futuro (PINTO, 2014, p. 230).
Diferentemente da ideia de passividade relacionada a essa classe social, os precaria-
dos demonstraram inquietação social ao longo de sua história. Todavia, por estarem aquém 
da reconhecida cidadania regulada5 (SANTOS, 1979, p. 75) ligada à noção de populismo, 
5 Nas palavras de Wanderley Guilherme dos Santos (1979, p. 75): “Por cidadania regulada entendo o conceito 
de cidadania cujas raízes encontram-se, não em um código de valores políticos, mas em um sistema de estratificação 
CADERNO DE RESUMOS 17
os direitos dessa nova classe social, como os previdenciários e trabalhistas, encontram-se 
constantemente submetidos à espoliação. Além do mais, essa concepção hermética de cida-
dania fortaleceria a blindagem política construída no país ao longo dos anos, limitando ou 
mesmo afastando essas minorias de debates políticos.
O simplismo das massas populares como parceiro-fantasma entre os anos de 1930 
até 1964 implica compreender que elas “foram a grande força que nunca chegou a participar 
diretamente dos grandes embates, sempre resolvidos entre os quadros políticos dos grupos 
dominantes, alguns dos quais reivindicando para si a interpretação legítima dos interes-
ses populares” (WEFFORT, 2003, p. 13), tendo apenas possibilidade de participação, que 
sempre foi blefada pelos parceiros reais. Todavia, a história cultural contribui para a ruptura 
dessa história oficial, levando-se em consideração que permite que seu resgate seja feito sem 
ser pelo seu viés de pensamento dominante, mas sim por meio das ideias, valores, crenças 
e comportamentos dos próprios trabalhadores brasileiros, inclusive no que se vinculam às 
políticas desse período. Por conseguinte, tem-se a desconstrução do viés obrigatório de que a 
legislação trabalhista se deu tão somente como uma “outorga” do Estado, sobretudo no caso 
de Vargas, em que a sua clarividência de se antecipar, voluntariamente, às demandas sociais e 
“outorgar” a legislação social significava, no mais das vezes, que ele estava apenas cumprindo 
um dever do Estado (GOMES, 2005, p. 227). 
Ressalta-se, ainda, que essa participação já acontecia mesmo antes de 1930 e, nor-
malmente, com muita luta e manifestação da classe operária e de seus líderes. Nas palavras 
de Evaristo de Moraes Filho (1978, p. 196): 
Por este rapidíssimo escorço histórico dos nossos movimentos sociais 
proletários de antes da Primeira Grande Guerra e das leis trabalhistas 
que foram então promulgadas, já se pode ver que constitui exagero e 
grave ofensa aos trabalhadores brasileiros a constante afirmativa de que 
nada existiu antes de 1930, que toda a legislação a favor dos operários 
lhe fora graciosamente outorgada, sem nenhuma luta nem manifesta-
ção expressa dos mesmos de que a desejavam (destaque nosso). 
Nesse sentido, compreender o processo de luta pelos direitos sociais como fruto de 
uma luta dos próprios trabalhadores – e não meramente como uma dádiva – auxilia na com-
preensão do processo de constitucionalização dos direitos sociais no período varguista, com 
ocupacional, e que, ademais, tal sistema de estratificação ocupacional é definido por norma legal. Em outras palavras, 
são cidadãos todos aqueles membros da comunidade que se encontram localizados em qualquer uma das ocupações 
reconhecidas e definidas em lei. A extensão da cidadania se faz, pois, via regulamentação de novas profissões e/ou ocu-
pações, em primeiro lugar, e mediante ampliação do escopo dos direitos associados a estas profissões, antes que por 
expansão dos valores inerentes ao conceito de membro da comunidade. A cidadania está embutida na profissão e os 
direitos do cidadão restringem-se aos direitos do lugar que ocupa no processo produtivo, tal como reconhecido por 
lei. Tornam-se pré-cidadãos, assim, todos aqueles cuja ocupação a lei desconhece. A implicação imediata deste ponto 
é clara: seriam pré-cidadãos todos os trabalhadores da área rural, que fazem parteativa do processo produtivo e, não 
obstante, desempenham ocupações difusas, para efeito legal; assim como seriam pré-cidadãos os trabalhadores urbanos 
em igual condição, isto é, cujas ocupações não tenham sido reguladas por lei”.
1988-2018: O QUE CONSTITUÍMOS?18
reflexos nos dias atuais, como resultado de inúmeras influências, dentre as quais as memórias 
coletivas dos próprios trabalhadores, como dito, as raízes positivistas, tenentistas, socialistas, 
anarquistas e populistas, que não costumam ser esquecidas pela história oficial. Assim, é possí-
vel entender o processo de constitucionalização como aprendizagem social sujeito a continui-
dades, irrupções e tropeços, mas em constante devir (CATTONI DE OLIVEIRA, 2017).
É factível perceber que, com as recentes modificações na legislação trabalhista, 
acompanhadas da terceirização e da subcontratação, a aceleração na precarização do traba-
lho dá sinais de que o fenômeno do precariado não se delineou por completo no período de 
surgimento do trabalhismo, mas que segue se compondo ainda nesse cenário de crise estru-
tural do capital e de contradições da ordem burguesa hipertardia6, ora aprofundando essas 
contradições, ora expondo a necessidade de se resgatar uma narrativa capaz de compreender 
e elaborar os mecanismos da ação proletária. Os trabalhos já realizados sobre as etnografias 
operárias e as revisitas arqueológicas ao fenômeno do proletariado interferem na compreensão 
de uma memória coletiva, que contribui para explicar o novo precariado que se forma, ora 
como continuidade da classe trabalhadora da década de 1930, ora como uma nova classe 
que se acomoda ao neodesenvolvimentismo.
Sendo assim, compreender as narrativas de resistência, as memórias enquadradas7 
e subterrâneas é o mesmo que tentar compreender o modo através do qual o precariado se 
forma e se projeta na economia e nas relações sociais atuais, tendo os direitos sociais como 
mediação. Ao se desvelar tais memórias, torna-se claro que o desmonte dos direitos traba-
lhistas por meio das reformas trabalhistas de 2017 implicam, em larga medida, na descon-
sideração das lutas históricas dos trabalhadores na conquista dos direitos garantidos pela 
Consolidação das Leis Trabalhistas de 1943, a qual já projetava direitos sociais devidamente 
positivados tão somente após o período de redemocratização, isto é, com a promulgação da 
Constituição Federal de 1988. É justamente por isso que Ruy Braga (2012a), ao comentar 
sobre esses retrocessos, entende que estes implicam na perda da chamada cidadania salarial, 
sobre a qual se estabelecem os conjuntos de proteção dos trabalhadores frente aos abusos 
de seus empregadores. À frente da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho 
Escravo do Ministério Público do Trabalho (Conaete), Maurício Ferreira Brito alerta para o 
fato de que, “a depender do que se negocie, você pode legislar práticas de trabalho escravo” 
(MAGALHÃES, 2017). O problema é ainda maior quando estas são declaradas constitu-
cionais. É o que aconteceu com o Supremo Tribunal Federal no julgamento da Arguição 
6 Giovanni Alves tem trabalhado atualmente os conceitos de precariado e proletaróides para caracterizar camadas 
sociais da classe do proletariado próprias de um neodesenvolvimentismo que expõe as contradições da ordem burguesa 
hipertardia. Desse modo, o autor aponta as manifestações de junho de 2013 e o fenômeno do “rolezinho” como pró-
prios dessas camadas sociais 
7 Para Pollack (1989), a memória se expressaria a partir do processo coletivo de acontecimentos e das interpre-
tações do passado que se desejaria resguardar. Assim, o enquadramento das memórias se expressaria a partir de “um 
denominador comum de todas essas memórias, mas também uma tensão entre elas, intervêm na definição de um 
consenso social e nos conflitos em um determinado momento conjuntural.” (POLLAK, 1989, p. 9-10). Assim, tra-
tar das memórias subterrâneas é impulsionar essas interpretações do passado para além do “não-dito”, passando a ser 
identificada como uma contestação, ou mesmo reinvindicação. 
CADERNO DE RESUMOS 19
de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 324 e do Recurso Extraordinário 
(RE) 958252, com repercussão geral reconhecida, em que 7 dos 11 ministros julgaram ser 
constitucional a terceirização da atividade-fim8, ainda que experiências como as de Brito 
apontem para o fato de que o “combate ao trabalho escravo mostra que todos os resgatados 
são contratados por intermediários que já são autônomos ou terceirizados, e quem contrata 
busca se esquivar da responsabilidade” (MAGALHÃES, 2017). 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, é plausível afirmar que o significado dessas reformas trabalhistas 
equivale a retrocessos no status cidadão, assim como na forma com que elas irão fomentar 
o crescimento do precariado, cujo segmento social é marcado por relações de insegurança e 
precarização no trabalho. Inseridas em uma lógica de mercadorização (STANDING, 2014, 
p. 50) das relações políticas e trabalhistas, essas transformações também foram orientadas 
por uma lógica mercantil características do atual governo golpista. Revestidos de um véu de 
legitimidade e legalidade, aquém de objetivar a concretização de direitos fundamentais e, 
consequentemente, concretizar as conquistas de uma democracia relativamente nova, essas 
reformas buscaram consolidar os interesses do patronato, tratando-se de um fato caracte-
rístico de um golpe parlamentar, que pode ser entendido como um fenômeno típico das 
democracias representativas (SANTOS, 2017, p 13). Traçando um paralelo com a metáfora 
que Guy Standing (2014) utilizou para analisar o status cidadão desse segmento margina-
lizado da sociedade enquanto habitantes, e não como cidadãos, esse grupo, em constante 
crescimento, há de ficar ainda mais à margem da sociedade.
A despeito dos retrocessos empreendidos neste tempo de crise política, analisar o 
precariado como um segmento apartado da noção de cidadania é uma afronta ao texto cons-
titucional. Isso porque, ao avaliar o processo de constitucionalização brasileiro do ano de 
1988, que completa agora 30 anos, diferente da lógica de cidadania regulada empreendida 
anteriormente, tem-se uma noção ampliativa de cidadania, onde todas as pessoas humanas 
são partes dela, e não apenas aquelas que gozam da regulação do trabalho. A noção tradi-
cional deixa de ser suficiente para analisar uma realidade pós-88, uma vez que o sentido da 
constitucionalização se relaciona diretamente com o exercício de disputa interpretativa por 
diversos grupos, a qual é aberta a lutas políticas diversas e plurais que, até mesmo por isso, 
englobam o precariado. Dessa forma, em um contexto democrático, de uma democracia 
sem espera (CATTONI DE OLIVEIRA, 2017, p. 111), abrem-se possibilidades ao futuro 
nos mais diversos moldes, permitindo que seja afirmada a condição cidadã dessa classe em 
formação e expansão.
8 Registra-se que a terceirização da atividade-fim é só um dos exemplos dentre outros que podem ser considerados 
(in)constitucionais, tais como o aumento das formas de contratação de profissionais autônomos e possibilidade de 
aumento de negociação da jornada de trabalho até 12h diárias.
1988-2018: O QUE CONSTITUÍMOS?20
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ed.; 1. reimp,. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014.
WEFFORT, F. C. O populismo na política brasileira. 5. ed ed. Rio de Janeiro, RJ: Editora 
Paz e Terra, 2003.
CADERNO DE RESUMOS 21
áurea e menelick
PERSPECTIVAS E DESAFIOS NA 
IMPLEMENTAÇÃO DO ARTIGO 68 DO ADCT:
O PROCESSO DE RECONHECIMENTO E TITulAçAO DAS COMuNIDADES QuIlOMBOlAS
áuREA BEzERRA DE MEDEIROS1
MENELICK DE CARVALHO NETTO2
A proposta de trabalho ora apresentada visa a demonstrar a importância da luta 
pelo reconhecimento dos territórios quilombolas na Constituinte de 1988, como resultado 
da atuação do Movimento Unificado Negro que alcançou incluir o seguinte comando no 
artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias “Aos remanescentes das co-
munidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade 
definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos”.
No entanto, trinta anos se passaram da promulgação da Constituição e a luta pela 
efetividade desse direito assegurado às comunidades quilombolas ainda não se tornou uma 
realidade para a maioria dessas comunidades. Com o objetivo de efetivar o referido artigo 
foi publicado o Decreto 3912/2001, que dava poderes à Fundação Cultural Palmares para 
certificar e conceder o título definitivo das referidas terras às Comunidades Quilombolas. 
No obstante, este decreto foi revogado pelo Decreto 4887/2003 que passou a com-
petência para reconhecimento e titulação dos Remanescentes de Territórios Quilombolas ao 
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agraria INCRA, este decreto foi questiona-
do por meio da Ação Direta de Inconstitucionalidade 3239, julgada no Supremo Tribunal 
Federal em 6 fevereiro de 2018, sendo então, considerado constitucional. O tema está in-
trinsicamente ligado à proposta do congresso a ser realizado cujo tema é 1988-2018 O que 
Constituímos? Homenagem a Menelick de Carvalho Netto nos 30 anos da Constituição. 
A pesquisa realizada, está baseada na análise dos Anais da Constituinte de 1988, do 
Decreto 3.912/2001, do Decreto 4.887/2003 e dos dados estatísticos da Fundação Cultural 
Palmares e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agraria INCRA.
1 Mestranda em Direitos Humanos do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Cida-
dania (PPGDH) da Universidade de Brasília, Professora do Instituto Ensino Superior de Brasília (IESB). 
aureabm0104@gmail.com. 
2 Doutor em Direito, Professor da Universidade de Brasília na Faculdade de Direito, e do Programa de Pós Gra-
duação em Direitos Humanos e Cidadania – PPGDH.
1988-2018: O QUE CONSTITUÍMOS?22
Assembleia Nacional Constituinte, instaurada em 1986 teve uma grande participa-
ção ativa dos movimentos sociais que contribuíram com propostas visando alcançar direi-
tos, com o intuito de que as mesmas fossem acolhidas pelos Constituintes. Os movimentos 
sociais, segundo (Souza Junior, 2008) instauram um novo espaço público onde a sociedade 
passa a tematizar as suas mensagens e a traduzir as reivindicações em exigências de tomada 
de decisão política, passando a assim afirmar a autonomia conquistada no processo de luta, 
e a desse modo marcar decisivamente o próprio processo constituinte.
Nos dizeres de (Rocha,2013), a Assembleia Nacional Constituinte baseada em seu 
regimento interno vivia de início, a fase da “Constituinte popular”, resultante de um arca-
bouço de funcionamento altamente descentralizado, ensejando e trazendo para o interior 
do Congresso a participação de vasto rol de atores extraparlamentares principalmente os 
movimentos sociais mais diversos.
Neste diapasão desponta o Movimento Unificado Negro3 que convocou a “Con-
venção Nacional do Negro pela Constituinte”, encontro este que foi realizado em Brasília, 
nos dias 26 e 27 de Agosto de 1986, um ano antes do início do processo constituinte, no 
qual foi debatido uma pauta de reinvindicações dentre essas o questionamento das come-
morações do dia 13 de maio, que para o movimento estava fundamentada em uma visão 
histórica comprometida com a branquitude, pois como demonstra (Rios,2012) com essa 
investida agressiva contra o 13 de Maio, o movimento não sepultava apenas uma data come-
morativa alusiva à liberdade dos negros: introduzia-se na cena histórica um novo marco rei-
vindicatório, que tinha em seu horizonte o igualitarismo. É nesse sentido que o movimento 
negro ergue a figura de Zumbi como símbolo da resistência negra. Não se trata apenas da 
troca simbólica de uma princesa branca por um guerreiro palmarino.
Houve, em verdade, a assunção do tema da igualdade como bandeira política. A 
mudança das comemorações do 13 de maio para o 20 de novembro segundo (Gomes,2011) 
também tinha por objetivo personificar o momento histórico da luta de Zumbi dos Palma-
res, em uma releitura da história da resistência negra, e de toda a escravidão vivida pelo negro 
a época, como também o de compreender o lugar da história e de sua verdadeira narrativa, 
nesse sentido (Guimarães,2007), diz que uma historização da memória, das formas como 
as sociedades se lembram, é parte de um exercício para compreender o lugar da história e 
da historicidade em determinada sociedade, essa é a mudança que o Movimento Unificado 
Negro pleiteava com o intuito de delimitar um novo marco na história da escravidão. 
Outrossim, conforme consta das discussões provenientes da Convenção Nacional 
do Negro pela Constituinte, também foi ponto de defesa a titulação das terras ocupadas por 
negros remanescentes de quilombos fossem essas rurais ou urbanas, o que foi publicado no 
Diário da Assembleia Legislativa Nacional Constituinte de 9 de maio de 1987 na página 
3 O Movimento Negro Unificado (MNU) é uma organização pioneira na luta do Povo Negro no Brasil. Funda-
da no dia 18 de junho de 1978, e lançada publicamente no dia 7 de julho, deste mesmo ano, em evento nas escadarias 
do Teatro Municipal de São Paulo em pleno regime militar. O ato representou um marco referencial histórico na luta 
contra a discriminação racial no país. http://mnu.org.br/ Acesso em 19 de julho de 2018.
CADERNO DE RESUMOS 23
531, no título IX Sobre a Questão da Terra: “Será garantido o título de propriedade da terra 
às comunidades negras remanescentes de quilombos, quer no meio urbano ou rural. 
Sendo assim, alguns Constituintes abraçaram as reinvindicações do Movimento Uni-
ficado Negro, como a constituinte Benedita da Silva4, que apresentou a proposta defenden-
do o direito à terra para as Comunidades Quilombolas registrada no Diário da Assembleia 
Constituinte de 29 de maio de 1987, vejamos: “Sabemos que existem, espalhadas pelo nosso 
território, comunidades negras isoladas, ameaçadas de expulsão de suas terras, apesar de ocu-
pá-las, em muitos casos, desde o século passado. Também está comprovado que a maioria da 
população destituída de terras e que se concentra nas regiões mais pobres do meio rural é afro
-brasileira” (Diário da Assembleia Nacional Constituinte, 29.05.1987, p. 25).
No Brasil será a primeira vez que a condição de ex-escravos gera direitos à proprie-
dade de suas terras de uma forma comunitária, como irá prevê a ConstituiçãoFederal de 
1988, no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias no artigo 68, que aos remanes-
centes das comunidades quilombolas que estejam ocupando suas terras seja reconhecida a 
propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos, pois após a Abo-
lição da Escravatura de 1888 não foram definidos preceitos legais que assegurassem o acesso 
à terra aos escravos libertos.
No trabalho da Constituinte de 1988, as Comunidades Quilombolas tiveram os 
seus direitos defendidos e o artigo 68 da ADCT ficou definitivamente na Constituição Fe-
deral, o constituinte originário a época teve o papel primordial de acolher os reclamos das 
Comunidades Quilombolas. Para Rosenfeld (2003), os revolucionários vitoriosos que assu-
mem o papel de constituintes devem reforçar sua pretensão de ocupar o lugar do legítimo 
sujeito constitucional ao renunciarem a um significativo montante de poder, se submetendo 
às prescrições do Direito e ao se limitarem em face dos interesses fundamentais de outros.
O Constituinte de 1988 respeitou os interesses fundamentais das Comunidades 
Quilombolas, o seu direito próprio e específico à Terra, o que ficou consubstanciado no 
artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, que ao trazer proteção aos 
remanescentes das Comunidades Quilombolas visou preservar a identidade cultural e cole-
tiva intrínseca dessas comunidades vinculada a um passado de resistência e que se não fosse 
resguardado pela Constituição de 1988 tenderia a desaparecer. Importante salientar que, 
no que se refere ao reconhecimento e à titulação das terras das comunidades quilombolas 
constitucionalmente assegurados, José Afonso da silva defendeu o entendimento de que o 
referido artigo não exigiria nenhuma lei ulterior para a sua efetividade, ou seja, aos rema-
nescentes dessas comunidades seria garantido de imediato a proteção de sua forma de vida 
diferenciada mediante a propriedade das terras por elas ocupadas, e vem para preservar essas 
formas de vida e dar dignidade àqueles até então ficaram à margem da história oficial.
4 A constituinte Benedita da Silva (PT/RJ), no dia 29.05.1987. Em uma das sugestões apresentadas à ANC, a 
parlamentar afirmou: “sabemos que existem, espalhadas pelo nosso território, comunidades negras isoladas, ameaça-
das de expulsão de suas terras, apesar de ocupá-las, em muitos casos, desde o século passado” (Diário da Assembleia 
Nacional Constituinte, 29.05.1987, p. 25.Acesso em 19 de julho de 2018.
1988-2018: O QUE CONSTITUÍMOS?24
A Constituição de 1988, ao reconhecer o direito à titulação definitiva das terras efe-
tivamente ocupadas pelas Comunidades Quilombolas aportou um novo desafio para essas 
comunidades, pois é possível constatar nos dados da Fundação Cultural Palmares5, que em 
publicação recente divulgou haver hoje no Brasil um quantitativo de 3.051 comunidades já 
certificadas como remanescentes de Quilombos. E dessas, nos trinta anos de vigência da Cons-
tituição, no entanto, apenas 133 obtiveram a titulação definitiva das terras por elas ocupadas.
Esses dados revelam tanto a magnitude do patrimônio cultural constitucionalmen-
te protegido quanto o grau da dificuldade encontrada no próprio processo de implemen-
tação do direito assegurado a essas comunidades em prejuízo da preservação da diversidade 
e riqueza de nosso patrimônio cultural. As titulações de terras quilombolas teve seu marco 
inicial com o Decreto 3912/2001, e à Fundação Cultural Palmares6, tinha a competência 
para iniciar, dar seguimento e concluir o processo administrativo de identificação dos re-
manescentes das comunidades dos quilombos, bem como de reconhecimento, delimitação, 
demarcação, titulação e registro imobiliário das terras por eles ocupadas, e assim o fez no 
período compreendido entre o ano de 2001 a 2003, concedendo o título definitivo a 17 
Comunidades Quilombolas.
No entanto, o referido Decreto foi revogado pelo Decreto 4.887/20037 que retirou 
da Fundação Cultural Palmares a competência de reconhecer e titular as Comunidades Qui-
lombolas e repassa para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, por meio do Instituto 
Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, que agora tem a competência para 
identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas pe-
los remanescentes das comunidades dos quilombos.
O retrocesso vai ser significativo, pois buscando base nos próprios dados do IN-
CRA do período de 2003 a 2017 foram titulados apenas 116 Comunidades Quilombolas, 
sendo possível afirmar com base nesses dados, que a cada ano apenas sete comunidades re-
5 A Fundação Palmares em seu site .http://www.palmares.gov.br/comunidades-remanescentes-de-quilombos-
crqs, especifica as comunidades que estão certificadas por Estados e Regiões e a data de sua certificação, é possível 
acompanhar também neste mesmo portal dados estatísticos de comunidades que estão aguardando a certificação e 
que já foram certificadas e tituladas pela própria Fundação Palmares. Até o ano de 2003, a competência para titulação 
territorial (identificação e delimitação dos territórios), na esfera federal, era da Fundação Cultural Palmares. Por força 
do Decreto 4.887 de 2003, essa competência passou a ser do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária 
(INCRA).
6 Decreto 3.912 de 10 de setembro de 2001, Regulamenta as disposições relativas ao processo administrativo 
para identificação dos remanescentes das comunidades dos quilombos e para o reconhecimento, a delimitação, a de-
marcação, a titulação e o registro imobiliário das terras por eles ocupadas. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Decreto/2001/D3912.htm. Acesso em: 08 de agosto de 2018.
7 ______________. Decreto 4.887 de 20 de novembro de 2003, Regulamenta o procedimento para identifica-
ção, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades 
dos quilombos de que trata o art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Diário Oficial da União, 21 
nov. 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2003/d4887.htm. Acesso em: 08 de agosto 
de 2018.
CADERNO DE RESUMOS 25
ceberam o título definitivo de suas terras. Trazendo para um quadro comparativo, teríamos 
hoje, segundo dados da Fundação Cultural Palmares, 3051 comunidades certificadas como 
remanescentes de quilombos, neste ritmo em que o Incra está concedendo o título definitivo 
de terras, irá levar mais de 500 anos para a titulação apenas das Comunidades Quilombolas 
já certificadas.
Este argumento encontra parâmetro quando buscamos o exemplo do Estado do 
Rio Grande do Norte que tem 22 Comunidades certificadas, e dessas apenas uma, a Co-
munidade Quilombola de Jatobá8, teve o título concedido em 2017. Outrossim, iremos 
encontrar um quadro emblemático no Rio Grande do Norte na Comunidade Quilombola 
Macambira que teve seu reconhecimento como comunidade no ano de 2005, certificado 
este concedido pela Fundação Cultural Palmares e o processo de reconhecimento e titulação 
no INCRA foi aberto em 2006. 
No entanto, neste período de 2006 a 2018, a Comunidade sofreu ação de rein-
tegração de posse, as suas terras foram ocupadas por uma empresa de energia eólica que 
implantou no local 283 torres de capitação de energia, tirando da comunidade uma parte 
significativa de suas terras, e apenas em 2016 foi publicado o decreto de desapropriação, e o 
processo ainda vai enfrentar novas fases, ou seja, conforme estabelecido em instruções nor-
mativas do Incra seria o processo administrativo corresponde à regularização fundiária, com 
a desintrusão de ocupantes não quilombolas mediante desapropriação e/ou pagamento de 
indenização e demarcação do território. 
Portanto, a efetividade do direito a titularidade definitiva das terras das Comuni-
dades Quilombolas, tem sido comprometida com o uso de subterfúgios para inviabilizar e 
comprometer a aplicabilidade do Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Tran-sitórias, com uma infinidade de ações que tramitam na justiça seja na esfera Federal ou 
Estadual, com o intuito de protelar e evitar a titularidade das terras das Comunidades Qui-
lombolas, como também prazos infinitos nos órgãos responsáveis pela concessão dos títulos, 
neste caso especifico o INCRA.
Outrossim, se não bastasse a base legal expressa no artigo 68 dos Atos das Dispo-
sições Constitucionais Transitórias, o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais 
e Culturais, que integra a legislação brasileira desde 192, determina que os Estados signatá-
rios, entre os quais o Brasil, adotem todas as providências necessárias para a eficácia daqueles 
direitos. Soma-se a isso a adesão do Brasil à Convenção 169 da Organização Internacional 
do Trabalho, que também integra a ordem jurídica positiva brasileira e determina que sejam 
garantidos os direitos dos povos “cujas condições sociais, culturais e econômicas os distin-
gam de outros setores da coletividade nacional”, como é o caso dos quilombos9.
8 http://http://www.incra.gov.br/noticias/rio-grande-do-norte-tera-primeira-comunidade-quilombola-titulada
-ainda-este-ano. Acesso em 20 de julho de 2018.
9 http://terradedireitos.org.br/2009/03/23/direitos-constitucionais-dos-quilombos/(Dalmo de Abreu Dallari 
– Jurista e professor emérito da Faculdade de Direito da USP) (Artigo publicado em 23/03/09, na Gazeta Mer-
1988-2018: O QUE CONSTITUÍMOS?26
Portanto, para que seja efetivado o direito das Comunidades Quilombolas é ne-
cessário rever as competências concedidas ao Incra no que tange ao reconhecimento e à 
titulação das terras ocupadas por essas Comunidades, com vistas à efetivação dos direitos 
garantidos no artigo 68 da ADCT. 
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cantil/Caderno A – Pág. 10)
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1988-2018: O QUE CONSTITUÍMOS?28
Bruno e Maria
AUSTERIDADE FISCAL E A 
DESNATURAÇÃO CONSTITUCIONAL:
A POLÍTICA ECONÔMICA BRASILEIRA DOS ANOS 2008-2016
BRuNO RODRIguES VIEIRA1
MARIA ClARA FERNANDES FERREIRA2
O contexto brasileiro atual, é reflexo de uma mudança gradual no setor econômico 
e também da adoção de medidas por parte dos governos ao longo dos anos. A sociedade, foi 
impactada diretamente conforme tais mudanças aconteceram. Isto posto, o presente texto 
possui o objetivo de analisar como a evolução da economia do país ao longo dos anos, assim 
como as alterações no modelo normativo do país. No presente momento, com a celebração 
dos 30 anos da Constituição Federal, faz-se mister examinar se as intenções constitucionais 
têm sido mantidas.
Em 2008, o cenário mundial era de crise: significativa parte dos países desenvolvi-
dos eram afetados pela falência do banco estadunidense Lehman Brothers. No Brasil, entre-
tanto, os efeitos ocasionados pela crise foram agudos e rápidos, pois uma série de medidas 
foram adotadas pelo Governo, como a linha temporária de crédito para exportações; inter-
venções do Banco Central do Brasil no mercado cambial; estímulo à expansão do crédito 
por parte dos bancos públicos; aumento do período de concessão do seguro-desemprego e 
outras várias. Através da adoção dessas condutas, o governo brasileiro “conseguiu evitar uma 
deterioração mais drástica das expectativas, logrando êxito na recuperação econômica a par-
tir de meados de 2009” (PAULA; PIRES, 2017, p. 127). 
Já em 2010, é possível observar o crescimento da taxa de investimento no país, que 
alcançou patamar próximo aos 20% do valor do PIB (IPEA, 2016). Essa ascensão repre-
senta a intenção governamental da época de incentivo ao crescimento do país, que buscou 
ser realizado de forma distinta às reformas liberalizantes da década de 90, visto que as ações 
da época geraram resultados desiguais, uma vez que a expansão dos investimentos privados 
ficou restrita aos setores mais atraentes (ORAIR, 2016, p.17). Isto posto, foi constatado que 
1 Discente do sétimo semestre da graduação em Direito na Universidade de Brasília (UnB). 
rivieirabruno@gmail.com
2 Discente do quinto semestre da graduação em Direito na Universidade de Brasília (UnB). 
mclaraffinfo@gmail.com
CADERNO DE RESUMOS 29
a taxa de investimentos públicos, naquele momento, respondeu de forma favorável ao repo-
sicionamento do governo e à flexibilização da política fiscal atraentes (ORAIR, 2016, p.17). 
O crescimento do PIB, naquele momento, chegou a 7,5%.
A fase seguinte, se inicia em um cenário de abundante liquidez no mercado finan-
ceiro internacional, em decorrência das políticas monetárias expansionistas adotadas pelos 
países mais desenvolvidos e à alta na taxa de juros doméstica. O receio de nova crise devido 
ao rápido aumento na oferta de crédito, levou o governo da época a adotar medidas ma-
croprudenciais: o aumento da taxa de juros e redefinição de metas fiscais. A partir de 2011, 
houve decrescimento do desempenho econômico, principalmente como resultado do mau 
desempenho na formação de capital bruto. O produto industrial do Brasil já estava se ate-
nuando e o coeficiente de importações ainda aumentava, enquanto a economia doméstica 
mantinha-se estagnada (PAULA; PIRES, 2017, p. 129-131).
A desaceleração econômica era o panorama principal dos anos 2013 e 2014, que 
pode ser atribuída a múltiplas causas, assim como falha na condução da política econômica; 
fatores políticos, como as manifestações de 2013; internacionais, uma vez que houve rápida 
queda nos preços das commodities e fatores institucionais e jurídicos, resultado da operação 
Lava Jato, que trouxe consequências a setores como petróleo e gás (ROSSI; MELLO, 2017, 
p.2). Ainda, a forte presença de investimentos do governo em projetos como o Minha Casa 
Minha Vida e subsídiosaos empréstimos do BNDES, impactaram diretamente na receita 
do país e o setor privado de investimentos não respondeu em conjunto. Destarte, houve 
diminuição na arrecadação e os investimentos sociais mantiveram suas taxas de crescimen-
to. O baixo crescimento e a baixa arrecadação em conjunto com a permanência de gastos 
crescentes, trouxeram o Brasil a um cenário desfavorável, levando à tomada de decisões 
significativas que se mostraram ineficazes, como a adoção de uma nova política fiscal de 
reclassificação dos investimentos em setores prioritários como saúde, educação e segurança 
(ORAIR, 2016, p.25-28).
O contexto do Brasil em 2015-2016, foi resultado do conglomerado de vários fato-
res, como o aumento da taxa de juros Selic, crise hídrica, desvalorização da moeda em con-
junto com aumento do desemprego, queda da renda, concentração do mercado de crédito. 
O investimento econômico público, que em 2014 era cerca de 7%, em 2015 chegou a um 
valor negativo superior a 30%. O PIB nesse período se manteve na casa dos -3,5% ao ano 
(IPEA, 2016).
Em 2016, o novo governo que assumia trouxe uma nova estratégica econômica, que 
“passa a privilegiar as reformas estruturais em detrimento do ajuste de curto prazo, seguindo 
a mesma lógica da austeridade; de desregulamentação econômica, liberalização financeira, 
redução do gasto público e do tamanho do estado” (ROSSI; MELLO, 2017, p.5). Entretan-
to, as tentativas não se mostraram tão bem-sucedidas quanto esperado, como se mostra no 
PIB de 2017, que não ultrapassou 1%.
1988-2018: O QUE CONSTITUÍMOS?30
Recentemente tem se vivido no Brasil momentos onde a auto regulação do setor 
financeiro e a ainda, a mitigação da intervenção estatal e a decorrente redução de investi-
mentos públicos fossem valores fundamentais da política econômica nacional, que além de 
ocasionar um mau desempenho econômico corroboraram com a perpetuação das desigual-
dades socioeconômicas presentes no país.
Como mencionado, nos últimos anos sobretudo a partir de 2016, houve a inten-
sificação da discussão normativa tendente a reduzir prestações estatais positivas e modificar 
as garantias consolidadas dos trabalhadores sob o pretexto de promover a recuperação da 
economia nacional.
Em relação a redução da atividade financeira estatal, destaca-se a aprovação da 
emenda constitucional 95/2016 que estabeleceu o novo regime fiscal, atualmente em vigor. 
A partir dessa medida sedimenta-se a política de austeridade que prevalece no Brasil desde 
2016, com vigência de 20 anos.
Tal política, apresentada como única alternativa ao déficit das despesas públicas 
presentes no país à época (PERES; SANTOS, 2016) acarreta no desaquecimento da econo-
mia, que pode ser compreendido através de uma explicação simplificada: se os gastos gover-
namentais representam renda para o setor privado fica clara a relação de proporcionalidade 
entre os dois, assim, uma diminuição do primeiro implica na redução do segundo, que con-
fiaria seu desempenho na sua pretensa capacidade de auto regulação.
No âmbito social os impactos do atual regime fiscal são também alarmantes, pois 
fomentam a perpetuação da desigualdade que historicamente caracteriza a sociedade brasi-
leira. A perpetuação justifica-se, pois, a partir da sua instauração do novo regime fiscal houve 
a redução de despesas com educação e saúde públicas3, que tem como principal usuário a 
população mais pobre do país onerada também com a redução da possibilidade de aumento 
de sua renda, através da nova metodologia de reajuste do salário-mínimo (ALESSI, 2016).
Dessa forma, questiona-se mais uma vez a adoção da Emenda Constitucional 
95/2016: como se pôde esperar levando em considerando as projeções feitas (ROSSI; DWE-
CK, 2016) e ainda a experiência comparada (STIGLITZ, 2017) que uma política de di-
minuição dos gastos públicos poderia ocasionar uma melhoria do cenário econômico? e 
ainda assim, mesmo que vislumbrada à possibilidade de acerto de tal política como se pode 
considerar quaisquer efeitos benéficos de adoção de medidas, que na prática, acarretam na 
3 No Brasil, o mínimo para os gastos públicos com educação, estabelecido pelo Artigo 212 da Constituição 
Federal, é de 18% da Receita Líquida de Impostos (RLI). Já o mínimo para a saúde foi modificado recentemente por 
meio da Emenda Constitucional 86, que estabelece um percentual da Recente Corrente Líquida (RCL) de forma es-
calonada, 13,2% da RCL em 2016, 13,7% em 2017, 14,2% em 2018, 14,7% em 2019 e 15% a partir de 2020. Já a 
PEC 55 prevê que em 2017 o gasto com educação será 18% da RLI, o gasto com saúde será 15% da RCL e, a partir 
de então, ambos terão como piso o gasto em 2017 reajustado pela inflação. Ou seja, o gasto federal real mínimo com 
saúde e educação será congelado no patamar de 2017. Comparando as regras atuais com o mínimo estipulado pela 
PEC, percebe-se que o piso previsto por ela é, na verdade, um piso deslizante. Isto é, ao longo do tempo o valor míni-
mo destinado à educação e saúde cai em proporção das receitas e do PIB. (ROSSI, DWECK, 2016).
CADERNO DE RESUMOS 31
redução da possibilidade do exercício de direitos sociais consagrados no ordenamento jurí-
dico brasileiro, em detrimento de medidas alternativas existentes com efetivo potencial de 
resolução do cenário de crise? (PERES; SANTOS, 2016)
A perversão dessa medida é ainda agravada considerando a estrutura tributária no-
tadamente regressiva do Brasil (GASSEN; D’ARAÚJO; PAULINO, 2013). Assim além de 
ser atingida diretamente pelas últimas decisões de política econômica adotada a população 
pobre ainda contribuem mais que proporcionalmente para manutenção da estrutura estatal, 
que mantém os privilégios da população rica, que contribui menos que proporcionalmente 
através da tributação e alheia aos impactos negativos da política econômica neoliberal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho buscou explicitar a desnaturação constitucional vivida nos últi-
mos anos no Brasil sob o pretexto de melhoria do cenário econômico. Nesse processo perde-
se cada vez mais a possibilidade de materialização de garantias fundamentais individuais em 
prol da pretensa busca do bem-estar coletivo que efetivamente favorece as elites, que graças ao 
apontado, gozam da manutenção do status quo. A Constituição Federal, traz como pilar, a in-
tenção de consolidar na sociedade brasileira a concretização de garantias fundamentais, como 
a dignidade da pessoa humana, a igualdade e a solidariedade. O contexto de liberalização da 
economia nacional e as mudanças analisadas, entretanto, não se mostram como formas de as-
segurar tal alicerce. Dessa forma, a reflexão central ora feita, é quanto ao rumo que está sendo 
traçado, dando indícios de desvio do objetivo constitucional de garantir o equilíbrio social 
através do cumprimento das previsões positivadas no ordenamento jurídico brasileiro.
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CADERNO DE RESUMOS 33
Ernane
TENTRE NARRATIVAS DE RESSENTIMENTO E URGêNCIA:
RISCOS PARA A CONSTITUIÇÃO DE 1988
ERNANE SAllES DA COSTA JuNIOR1
INTRODUÇÃO
A palavra crise, pelo menos no Brasil, é uma daquelas utilizadas de forma corren-
te por figuras públicas e pela impressa para traduzir, por vezes, um estado de turbulências 
e de desconforto com o cenário vigente. Concebido dessa forma, o termo faz referência, 
muitas vezes, aos problemas e contratempos no interior de uma ordem política e, portanto, 
a tensões e desafios a serem enfrentados na própria lógica interna das democracias contem-
porâneas. É nesse sentido que a sua apropriação rotineira implica, por um lado, a própria 
banalização da ideia de crise e, em outro, o esvaziamento do seu sentido. Considerando seu 
significado mais preciso, aquele proveniente dos dicionários de língua portuguesa2, tem-se 
que crise indica “mudança súbita ou agravamento que sobrevém no curso de uma doença 
aguda” ou “conjuntura ou momento perigoso” ou mesmo “desacordo que obrigado institui-
ção ou organismo a recompor-se ou a demitir-se”. Remete, portanto, a uma anormalidade 
que conduz à ideia de um momento de transição ou ruptura. 
Partindo dessa noção tecnicamente mais afinada do termo, há razões para enxergar, 
mesmo sob uma aparente normalidade institucional, traços de uma verdadeira “crise consti-
tucional” na conjuntura político-jurídica brasileira pelo menos desde o “impeachment” da ex 
presidente Dilma, sem correr o risco de uma banalização ou instrumentalização ideológica 
do termo. Trata-se de uma “crise”, primeiramente, porque coloca em evidência a excepcio-
nalidade e o rompimento como chave de resolução dos problemas. Ela é “constitucional”, 
porque é a Constituição de 1988 que está colocada à prova, sua função está em risco e “os 
procedimentos ordinariamente disponíveis para o enfrentamento de impasses e discordân-
1 Pós-doutorando em Direito Constitucional pela UFMG, doutor em Direito pela mesma instituição e mestre 
em Teoria do Direito pela PUC-MG com a distinção magna cum laude. Realizou estágio doutoral com bolsa san-
duíche da CAPES no instituto Fonds Ricoeur, vinculado a École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS). 
Professor de Filosofia do Direito e Direito Constitucional, profernanesalles@gmail.com
2 Disponível em: https://dicionariodoaurelio.com/crise Acesso em 15/05/2018
1988-2018: O QUE CONSTITUÍMOS?34
cias não são suficientes para resolver o impasse político” (PAIXAO, 2018). Pelo menos desde 
2016, um plano de reformas do governo Temer, especialmente a Emenda n.95 que impõe 
o congelamento dos gastos públicos, inclusive em áreas sociais prioritárias como saúde e 
educação, nos próximos vinte anos, implicou o recuo das políticas públicas e, portanto, mi-
tigação dos direitos sociais da Constituição, que compreende seu núcleo fundamental. 
Tendo em vista, portanto, que a expressão “crise constitucional” é adequada para 
traçar o diagnóstico desse atual quadro político-jurídico brasileiro, a pesquisa em questão 
visa, primeiramente, demonstrar que, embora se expresse em 2016 com o “impeachment”, 
essa crise não se instaurou ali, havendo desde já um pano de fundo intersubjetivamente 
compartilhado, legado das jornadas de junho de 2013, e que pode ser percebido numa 
potencialização da narrativa do atraso nacional, isto é, numa crescente adesão ao discurso 
desqualificador da política, do Estado e, obliquamente, da Constituição. Seguindo esse ar-
gumento, a proposta será ainda de ratificar a tese segundo a qual tal crise se expressa numa 
nova consciência histórica que se firmou ali e que se configura, por sua vez, numa nova rela-
ção entre tempo e Constituição cujo traço mais marcante é o da aceleração, entendido como 
um surto de impaciência e urgência contra o projeto constitucional que abre caminho para 
sua desfiguração e retrocessos sociais.
METODOLOGIA
A presente investigação é fruto do projeto de pesquisa na residência pós-doutoral, 
em realização no Programa de Pós-Graduação em Direito da UFMG, sob a supervisão do 
professor titular de Direito Constitucional, Marcelo Cattoni. Trata-se de pesquisa biblio-
gráfica, interdisciplinar (dialogando, em particular, com categorias da teoria da história, 
da sociologia e da teoria Constitucional) e se desenvolve na vertente metodológica jurídi-
co-sociológica, pois se propõe a compreender um fenômeno jurídico específico – no caso 
um estudo em particular da Emenda Constitucional n.95 do teto dos gastos públicos –, no 
ambiente social mais amplo, especialmente em relação à noção de consciência histórica pós-
junho de 2013.
Tal noção é interpretada à luz de autores como Koselleck (2006) e Ricoeur (1994; 
1997; 2007). Entende-se por consciência histórica o modo como uma sociedade se situa no 
tempo que se articula num jogo de tensões que só se realiza no presente entre duas catego-
rias – meta-históricas – que são o “espaço de experiência”, entendido como um conjunto 
de heranças e o modo como percebemos, consciente ou inconscientemente, as vivências e 
como organizamos, narrativamente, as visões do passado, e o “horizonte de expectativa”, 
aquele sobre o qual se projetam as previsões, as antecipações, os temores e a esperança, até 
mesmo as utopias que dão o conteúdo ao futuro histórico. Especificamente para a pesquisa 
em questão, identifico a crise constitucional como expressão de uma crise dessa consciência 
histórica – especialmente delineada nas jornadas de junho de 2013 –, na medida em que 
está atrelada, de um lado, ao encurtamento da experiência político-constitucional brasileira 
e, de outro, à hipertrofia do horizonte de expectativa. Em outros termos, a narrativa res-
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sentida da corrupção do Estado e da inefetividade e ingovernabilidade da Constituição de 
1988 como única forma de leitura da tradição política nacional, que se fortaleceu desde as 
manifestações

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