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CADERNO PROCESSO PENAL I - PROF. NESTOR TÁVORA

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Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
PROCESSO PENAL I – NESTOR TÁVORA 
INTRODUÇÃO DO CPP 
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
1.2. Enquadramento 
O direito processual penal regula a persecução penal. Esta, em apertada 
síntese, consiste na perseguição do crime, que é composta pelas seguintes etapas: 
Inquérito; 
Processo. 
1.3. Sistemas processuais 
Temos três sistemas processuais no mundo. Há o inquisitivo, o acusatório 
e o misto. O Brasil adota o sistema acusatório, pois Fux suspendeu a 
aplicabilidade do artigo 3º-A do CPP. 
Na Santa Inquisição havia o sistema inquisitivo, em que uma só 
autoridade exercia todas as funções do processo, onde normalmente a sentença 
era a queima da fogueira. Ou seja, a própria autoridade acusava, defendia e 
julgava, dotando-se de plena verdade. 
Nós no Brasil adotamos o sistema inquisitivo em vários momentos. O CPP 
entrou em vigor em 1942, com a CF/37. Adotamos um código de inspiração 
fascista (Mussolini). 
Em 1988 convencionamos que o MP passou a ser o órgão de acusação 
oficial, com o intuito de retirar o juiz e o delegado da função de acusar. Então 
houve a separação de função. O Poder Judiciário, então, como um órgão supra 
partes, imparcial. 
Trouxe-se, então, a figura dos juízes das garantias. Ele vai atuar na fase do 
inquérito, despachando com a autoridade. Esse juiz estará impedido de atuar na 
fase do processo, pois ele tem a ruptura da sua imparcialidade. Há um juiz 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
atuando na fase preliminar. Assim, ele está impedido de atuar em outra fase do 
processo. O que fizeram? Suspenderam isso (Fux). 
Teria uma fase preliminar investigativa presidida por um juiz, e depois 
uma fase processual presidida por outro juiz e com a essência do contraditório e 
ampla defesa. Esse juiz preliminar é o juiz que investiga, não é o juiz das 
garantias. 
1.3.1. Sistema inquisitivo 
É caracterizado pela concentração de poder em uma só autoridade, 
usualmente se antipatizando com o contraditório, ampla defesa, com a 
imparcialidade e com a paridade de armas. Ou seja, funções de acusar, defender 
e julgar em uma figura única (juiz). 
Aqui o que se vê é a mitigação dos direitos e garantias individuais, em 
favor de um pretenso interesse coletivo de ver o acusado punido. O discurso de 
fundo é a efetividade da prestação jurisdicional, a celeridade e a necessidade de 
segurança, razão pela qual o réu, mero figurante, submete0se ao processo numa 
condição de absoluta sujeição, sendo em verdade mais um objeto da persecução 
do que sujeito de direitos. Isto é, neste sistema, os interesses de um indivíduo não 
podem se sobrepor ao interesse maior, o coletivo. 
O Código de Processo Penal de 1941 seguiu essa linha de raciocínio, 
inspirado que foi pelo Código Rocco, da Itália, de inspiração fascista. 
O Brasil tem resquícios do sistema inquisitivo, como, por exemplo, no que 
se refere á gestão probatória, eis que o art. 156, inciso I, CPP, confere ao 
magistrado, notadamente, a possibilidade de ordenar, de ofício, mesmo antes de 
iniciada a ação penal, a produção de provas consideradas urgentes e relevantes, 
observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida. Este 
dispositivo é de duvidosa constitucionalidade no âmbito doutrinário. 
1.3.2. Sistema acusatório 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
Com origem que remonta ao Direito grego, o sistema acusatório é o 
adotado no Brasil, de acordo com o modelo plasmado na CF/88. 
Ele revela a separação das funções de acusar, defender e julgar. Exigimos 
um juiz imparcial (não é neutro) que respeite a paridade de armas, o 
contraditório e a ampla defesa. Isto é, a CF/88 estabeleceu o MP com a função 
privativa de promover a ação penal, deixando nítida a preferência por esse 
modelo, que tem como características fundamentais a separação entre as funções 
de acusar, defender e julgar, conferidas a personagens distintos. Aqui, os 
princípios do contraditório, da ampla defesa e da publicidade regem todo o 
processo. O órgão julgador é dotado de imparcialidade e o sistema de apreciação 
das provas é o do livre convencimento motivado. 
OBS: O que diferencia o sistema acusatório do inquisitório, efetivamente, 
é a posição dos sujeitos processuais e a gestão de prova, não sendo mais o juiz, 
por excelência, o seu gestor. 
OBS: Não adotamos um sistema acusatório puro, mas sim um não 
ortodoxo, pois o magistrado não é um espectador estático na persecução, tendo, 
ainda que excepcionalmente, iniciativa probatória, e podendo, de outra banda, 
conceder habeas corpus de ofício. Extrai-se o sistema acusatório não ortodoxo do 
artigo 129, inciso I, da Constituição Federal, e do artigo 3º-A, do CPP, suspenso 
por medida liminar do Ministro Luiz Fux. 
OBS: O sistema é não ortodoxo em razão do permissivo legal da atuação 
de ofício na fase processual (já que o pacote anticrime retirou essa atuação na fase 
do inquérito). 
Destaca-se que a existência do inquérito policial não descaracteriza o 
sistema acusatório, pois se trata de uma fase pré-processual, que visa dar 
embasamento à formação da opinião delitiva pelo titular da ação penal, onde não 
há partes, contraditório ou ampla defesa. 
Por fim, em que pese o CPP seja inspirado preponderantemente em 
princípios inquisitivos, a sua leitura deve ser feita à luz da Constituição, pelo que 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
seu modelo de processo deve se adequar ao constitucional acusatório, corrigindo 
os excessos inquisitivos. 
1.3.3. Sistema misto 
Tem suas raízes na Revolução Francesa. Caracteriza-se por uma instrução 
preliminar, secreta e escrita, a cargo do juiz, com poderes inquisitivos, no intuito 
da colheita de provas, e por uma fase contraditória (judicial) em que se dá o 
julgamento, admitindo-se o exercício da ampla defesa e de todos os direitos dela 
decorrentes. A persecução penal se divide em: 
1. Investigação preliminar, a cargo da polícia judiciária; 
2. Instrução preparatória, patrocinada pelo juiz instrutor; 
3. Julgamento: só este último, contudo, sob o crivo do contraditório e 
da ampla defesa; 
4. Recurso: normalmente há o “recurso de cassação”, no qual se 
impugnam apenas as questões de direito, mas também é possível o 
“recurso de apelação”, no qual são impugnadas as questões de fato 
e de direito. 
Assim, teremos uma fase preliminar inquisitiva presidida pelo magistrado 
e outra processual respeitando o contraditório e a ampla defesa. 
1.4. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO 
A lei processual penal pátria é informada pelo princípio da 
territorialidade absoluta. Logo, tem aplicação a todos os processos em trâmite 
no território nacional (locus regit actum). Todavia, excepcionalmente, a lei autoriza 
a incidência de outros diplomas normativos: “Art. 1º. O processo penal reger-se-á 
em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados: I – os tratados, as convenções 
e as regras de direito internacional.” 
É o caso, por exemplo, de agentes diplomáticos aqui acreditados, como 
embaixadores, secretários de embaixada, bem como seus familiares, além dos 
funcionários de organizações internacionais, tal qual a ONU, terão a aplicação da 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
lei material do seu respectivo país, e por via de consequência, o processo lá 
tramitará. 
O exercício do processo penal é caracterização clássica de soberania. Por 
exemplo, se os EUA emitirem Carta Rogatória por crime de brasileiro lá, a citação 
será de acordo com a norma processual brasileira. 
Uma coisa é afirmar que se aplica a lei processual brasileira no nosso 
território, outra coisa é afirmar que toda legislação processual está aglutinada no 
CPP. Não há no Brasil codificação única. Além do CPP, há outro Código de 
Processo Penal, que é o Militar. Ou seja, há inúmeras leis especiais que trazemo 
“submundo” verdadeiro do crime. O CPP é a base. Há, pelo menos, trinta leis 
especiais importantes. 
Seguimos o princípio da territorialidade absoluta, já que a legislação 
processual pátria é aplicada em nosso território, aglutinando o CPP e os outros 
diplomas normativos (art. 1º, do CPP). 
OBS: Em razão do princípio adotado, a lei processual brasileira não tem, 
ao contrário do que ocorre com a lei penal, extraterritorialidade (art. 7º, CP). 
Contudo, a doutrina aponta exceções a esta possibilidade. 
1.5. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL 
Ao contrário do direito penal, o processo penal vai tolerar interpretação 
extensiva e analogia. Nós não indagamos se essa interpretação é a favor ou contra 
o réu, ou seja, interpretação extensiva amplamente difundida. Exemplo: se o 
promotor oferece denúncia, se o juiz rejeitar a denúncia, cabe recurso de sentido 
estrito. Se durante o processo o promotor aditar a petição inicial para incluir 
outro réu, e o juiz não deferir, a lei não diz que cabe recurso. Mas se pode o mais, 
pode o menos, até porque o aditamento é uma micro petição inicial. 
Em outras palavras, admitimos amplamente interpretação extensiva, 
analogia e aplicação dos princípios gerais do direito (artigo 3º, CPP). Isto é, trata-
se de uma interpretação sistemática, em que as normas fazem parte de uma 
comunidade, inter-relacionando-se. Assim, a interpretação sistemática leva em 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
conta a norma colocada num todo, é dizer, como integrante de um ordenamento 
jurídico. 
1.6. LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO 
A argumentação de retroagir apenas para beneficiar o réu, diferentemente 
do Direito Penal, não cabe aqui, pois no processo penal é um direito de 
emergência. Então a nova lei processual penal tem uma aplicação imediata, 
emergencial, pouco importando se vai beneficiar ou não o réu. Aplica-se o 
isolamento dos atos processuais, ou seja, os atos anteriores são válidos, mas os 
posteriores serão regidos pela lei processual nova (tempus regit actum). 
A nova lei processual tem aplicação imediata, pouco importa se benéfica 
ou maléfica (art. 2º, CPP). 
OBS: Para Antônio Vieira e Paulo Queiroz, em posição minoritária, se a 
nova lei processual é maléfica deveremos aplicá-la tão somente aos casos futuros. 
OBS: Seguimos o princípio do tempus regit actum, ou seja, o ato processual 
é regido pela lei em vigor no momento da sua implementação. 
OBS: A lei nova que apresenta caráter híbrido, isto é, traz, a um só 
tempo, conteúdo de matéria penal e processual penal, deverá prevalecer o 
aspecto penal, já que não pode haver cisão. Assim, se for benéfico, a lei 
retroagirá. No tocante ao aspecto processual, terá aplicação imediata, 
preservando-se os atos praticados quando da vigência da norma anterior. 
Se a parte penal for maléfica, anova norma não terá nenhuma incidência 
aos crimes ocorridos antes de sua vigência e o processo iniciado, todo ele, será 
regido pelos preceitos processuais previstos na lei antiga. 
OBS: O recurso é regido pela lei processual vigente no nascimento da 
pretensão recursal, que ocorre quando a decisão é publicada. A decisão é 
publicada em mãos do escrivão, no momento em que o juiz a entrega com o 
correspondente protocolo. 
 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
INQUÉRITO POLICIAL E SISTEMAS PRELIMINARES DA 
INVESTIGAÇÃO 
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
1.2. PAPEL DA POLÍCIA 
Ela ganhou enfoque do artigo 144 da Constituição Federal e também é 
tratada na Lei 12.830/2013. 
A matéria foi bifurcada. Dois braços da polícia: administrativa/ostensiva, 
aquela que atua próximo à sociedade; anda fardada; com a sua presença física 
almeja inibir a prática de um delito. Em suma, o papel da polícia administrativa, 
tem tipicamente a atuação de prevenção. A principal referência é a Polícia Militar, 
mas não só. Há a Polícia Rodoviária, Ferroviária e Marítima. 
Dessa forma, subdivide-se o papel da polícia em preventivo e repressivo. 
Então falar de polícia, primeiro destaca-se: 
Polícia Administrativa/ostensiva: ela tem um típico papel de prevenção, 
materializado pela atuação da Polícia Militar, Polícia Rodoviária, Polícia 
Ferroviária e Polícia Marítima. Visa impedir a ocorrência de infrações. 
Por mais eficiente que seja, fatalmente as infrações penais irão acontecer. 
Brasil é o país com maior prática de infração penal no mundo. Daí vem o segundo 
braço da polícia: 
Polícia Judiciária/Civil (estadual ou federal): de atuação repressiva, que 
age, em regra, após a ocorrência de infrações, visando angariar elementos para 
apuração da autoria e constatação da materialidade delitiva. 
Hoje, ela é estruturada por delegados de carreira. Isto é, concursados, 
bacharéis em direito e com tratamento protocolar similar ao das demais 
autoridades (art. 3º, Lei 12.830/12), que foi conferido pela aludida lei, que foi 
gerida do berço da polícia federal. Então, em tese, o que se quis foi prestigiar a 
polícia e isso foi feito. 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
OBS: A função da Polícia Civil aglutina duas: (a) auxiliar o Poder 
Judiciário, isto é, vai realizar diligências, cumprir mandados etc.; e (b) é a Polícia 
Civil que vai elaborar o inquérito policial. A única autoridade responsável pelo 
inquérito policial é o delegado de polícia. 
Então, em suma, cabe à Polícia Civil auxiliar o Poder Judiciário e elaborar 
o inquérito policial. 
2. CONCEITO E FINALIDADE DO INQUÉRITO (AURY LOPES 
JUNIOR) 
Segundo Nestor Távora, o inquérito policial é um procedimento de caráter 
instrumental, cujo fito é o de esclarecer previamente os fatos tidos por delituosos 
antes de ser ajuizada a ação penal. Sua importância verifica-se pelo fato de ser 
cediço que o processo penal fere o status dignitatis do acusado. Daí que de sua 
instrumentalidade decorrem duas funções: 
Preservadora: embora o inquérito não seja obrigatório, sua instauração é 
apta à precaução contra ações penais temerárias, sem justa causa ou infundadas, 
com vantagens à economia processual; 
Preparatória: colige elementos de informação, protegendo a prova contra 
a ação do tempo e conferindo robustez à justa causa para a ação penal. 
OBS: O inquérito policial visa carrear elementos de informação, que são 
diferentes de elementos de prova. A prova é constituída formalmente quando 
sua formação perpassa por todas as suas etapas, especialmente pelo crivo do 
contraditório perante o juízo competente. Assim, como as “provas” colhidas no 
inquérito policial são produzidas pela autoridade policial, não havendo, em 
regra, contraditório, tecnicamente são chamadas de elementos de informação. 
Para AURY LOPES JR.: 
a) Inquérito é um procedimento administrativo preliminar. 
OBS: As regras do procedimento administrativo lato sensu são usualmente 
aplicáveis ao inquérito. 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
OBS: O inquérito antecede o processo, mas é um procedimento 
dispensável, ou seja, é possível que haja processo sem um processo preliminar. 
b) Presidido pela autoridade policial, isto é, o delegado de polícia. 
Exceção: quando magistrado comete crime, quem preside o inquérito é 
outro membro da magistratura. 
OBS: Cabe ao delegado a presidência do inquérito policial (art. 2º, 
parágrafo primeiro, da Lei 12.830/13), sem prejuízo da existência de outros tipos 
de inquérito, presididos por autoridades distintas. 
c) Tendo por objetivo apurar a autoria, a materialidade delitiva e as 
circunstâncias da infração. 
Então apurar quem é o criminoso, se o crime aconteceu e as circunstâncias 
dessa conduta. Assim, materialidade é sinônimo de existência, revelada pelos 
vestígios, realizada pelo exame de corpo de delito. Corpo de delito não é 
necessariamente um cadáver, é qualquer vestígio deixado pelo crime, ainda que 
não seja em um corpo efetivamente (exemplo: porta quebrada é corpo dedelito). 
OBS: A materialidade significa a existência da infração. Os vestígios 
deixados pelo crime são chamados de corpo de delito e a perícia realizada é 
rotulada de exame de corpo de delito (art. 158, CPP). 
OBS: O crime que deixa vestígio é chamado de não transeunte ou 
intranseunte. 
d) Com prazo 
e) Tendo por finalidade contribuir na formação da opinião delitiva do 
titular da ação. 
Opinião delitiva nada mais é do que convencimento; senso crítico jurídico. 
O titular da ação (MP), analisando o inquérito, vai construir a opinião delitiva, 
formular o senso crítico, quanto a deflagrar ou não deflagrar um processo 
criminal. Então um inquérito é uma peneira, um filtro, contribui para aqueles que 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
concorreram para um crime sejam processados, mas também evita que pessoas 
inocentes sejam injustamente alocadas no polo passivo de uma ação penal. 
OBS: Hoje está em vigor o acordo de não persecução penal, que significa 
que em crimes com pena mínima menor do que quatro anos, o promotor está 
autorizado a oferecer o suposto autor do crime, uma medida alternativa, uma 
prestação pecuniária, que vai de 1 a 360 salários mínimos. 
OBS: Percebe-se que o inquérito servirá para convencer o titular da ação 
quanto ao início (ou não) do processo. Além disso, o inquérito é uma rica fonte 
para celebração do acordo de não persecução penal (dispositivo vigente desde 
janeiro de 2020, art. 28-A, do CPP). 
OBS: Para adotar qualquer medida cautelar, necessária a justa causa (lastro 
probatório dando sustentabilidade à uma medida cautelar), ou seja, indícios de 
autoria e materialidade para decretar prisão preventiva, busca e apreensão, 
sequestro de bens etc. E normalmente consegue-se esse lastro no inquérito 
policial. Então este serve de base, usualmente, para que sejam adotadas medidas 
cautelares durante a persecução penal. Se as cautelares forem adotadas na fase 
investigativa, será adotado pelos juízes das garantias. 
Assim, o inquérito serve, ainda, ao fornecimento de justa causa (lastro 
probatório mínimo) para a adoção de medidas cautelares durante a persecução 
penal. 
2.1. NATUREZA JURÍDICA DO INQUÉRITO 
A persecução penal é composta pelo processo e pela investigação 
preliminar. Então a natureza jurídica do inquérito é saber onde enquadrá-lo que, 
no caso, é na investigação preliminar. 
Então o inquérito é enquadrado como um procedimento administrativo 
preliminar de caráter informativo. Em suma, nas palavras de Nestor, “o inquérito 
é um procedimento de índole eminentemente administrativa, de caráter 
informativo, preparatório da ação penal. Rege-se pelas regras do ato 
administrativo em geral”. 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
2.2. DESTINATÁRIOS DO INQUÉRITO POLICIAL 
Os elementos de informação servem à formação da opinio delicti. Os 
destinatários imediatos ou diretos do inquérito são o Ministério Público ou o 
ofendido (e, eventualmente, os sucessores processuais deste). Por outra via, o juiz 
será, restritamente, destinatário mediato ou indireto. 
Com o advento do juiz das garantias, como será ele que vai deliberar 
sobrea a admissibilidade da inicial acusatória, despachar com a autoridade 
investigante, Ministério Público e defesa, resolvendo sobre toda e qualquer 
medida da fase investigativa, Nestor admite ser ele o destinatário indireto ou 
mediato da investigação. 
OBS: Com relação ao Tribunal do Júri, Nestor entende que os jurados não 
são destinatários, sequer indiretos, dos elementos de informação do inquérito, a 
não ser de forma limitada às provas periciais irrepetíveis. Isso porque a decisão 
dos jurados não pode ser influenciada pelo inquérito policial. 
3. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO 
Elas vão evidenciar a sua natureza jurídica. Permitirão diferenciá-lo na 
essência da fase processual. 
3.1. Procedimento inquisitivo. 
Se ele é inquisitivo, o principal vetor do inquérito é que usualmente ele 
não comporta nem contraditório, nem ampla defesa. Isso porque no inquérito 
policial não há partes, não há relação processual ou demanda; há uma autoridade 
investigando e um suposto autor dos fatos, que é um sujeito de direito e não um 
objeto. 
A inquisitoriedade permite agilidade nas investigações, otimizando a 
atuação da autoridade policial. Contudo, como não houve participação do 
indiciado ou suspeito no decorrer do procedimento, não poderá o magistrado, na 
fase processual, se valer apenas do inquérito para proferir sentença condenatória, 
pois incorreria em violação ao texto constitucional. 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
Então a lógica da inquisitoriedade convive com o sistema acusatório, que 
é para o procedimento processual. 
Em outras palavras, o inquérito contempla concentração de poder em 
autoridade única, usualmente afastando o contraditório e a ampla defesa, já que 
não temos partes ou relação processual. 
OBS: Processualização dos procedimentos investigativos. Nós temos uma 
corrente acadêmica na Bahia, defendida por Didier e por Miguel Calmon, que 
defendem a aplicação do princípio do devido processo legal a todo e qualquer 
processo investigativo. Quando se faz isso, traz-se a carga axiológica do devido 
processo legal e, com isso, no procedimento investigativa, terá contraditório e 
exercício da defesa na dosagem adequada para preservar os direitos 
fundamentais. 
A inquisitoriedade do inquérito não é absoluta, na medida em que há o 
exercício da defesa técnica como prerrogativa do advogado (Estatuto da OAB). 
Ou seja, o defensor está autorizado a acompanhar o seu cliente perante qualquer 
autoridade, podendo interferir em qualquer oitiva. Mas a presença do advogado 
não é imprescindível na oitiva do inquérito, sendo obrigatória apenas no 
interrogatório perante o juiz. 
Assim, segundo Didier e Miguel Calmon, devemos aplicar o princípio do 
devido processo legal e sua carga axiológica aos procedimentos investigativos. 
Com isso, teremos contraditório e exercício da defesa (e não ampla defesa) na 
dosagem adequada para preservar os direitos e garantias fundamentais. 
OBS: O artigo 7º, inciso XXI, da Lei 8.906/94 (Estatuto da OAB), confere ao 
advogado o direito de acompanhar o suspeito perante qualquer autoridade 
investigante (não apenas o delegado). 
• Primeira conclusão: o advogado pode formular razões e apresentar 
quesitos durante a oitiva, sob pena de nulidade do ato; 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
• Segunda conclusão: se o delegado ou a autoridade investigante 
impedir o acesso do advogado, haverá nulidade do ato e dos 
demais que dele decorrem (princípio da consequencialidade). 
• Terceira conclusão: se o suspeito comparecer sozinho será ouvido 
normalmente. Situação distinta ocorre no processo, onde a 
presença do advogado no interrogatório é imprescindível (art. 185, 
CPP). 
OBS: De acordo com o artigo 14-A, do CPP (Pacote Anticrime), os 
servidores vinculados às instituições dispostas do artigo 144 da Constituição 
Federal (forças policiais e bombeiros militares), quando empregarem força letal 
no exercício funcional, devem ser “citados”(intimados, pois citação é para 
defender processo) para constituir advogado em até 48 horas. Se não o fizerem, 
a instituição a qual estavam vinculados, à época do fato, deve ser intimada, 
constituindo advogado para assisti-los em até 48 horas da intimação. 
ADVERTÊNCIA: Este mesmo procedimento deve ser aplicado aos 
membros das Forças Armadas (art. 142, CF/88), quando investigados por fatos 
decorrentes de missões para a Garantia da Lei e da Ordem (missões GLO). 
 Segundo Távora, essa configura a maior mitigação da característica 
inquisitorial do inquérito, na medida em que a constituição de advogado em tais 
investigações passa a ser obrigatória, sob pena de nulidade absoluta, por 
ausência de defesa técnica, aplicando-se o enunciadon.º 523, do STF. Entretanto, 
não se exige que o advogado constituído seja intimado a participar de todos os 
termos da investigação, nem a sua presença na oitiva do suspeito foi dada como 
imprescindível. De todo modo, a previsão é de duvidosa constitucionalidade, 
pois restrita a certa qualidade de investigados (funcionário vinculado à 
segurança pública). 
OBS: Existem inquéritos extrapoliciais onde o contraditório e ampla defesa 
são impostos por lei. É o que ocorre no inquérito para expulsão do estrangeiro, 
regulado pela Lei de Imigração. 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
3.2. Procedimento discricionário 
O delegado conduz o inquérito com margem de conveniência e 
oportunidade, adaptando a investigação às necessidades do fato apurado. 
OBS: Delegado pode, por exemplo, negar a oitiva de testemunhas de 
defesa, justamente porque o procedimento do inquérito é discricionário. Então os 
requerimentos apresentados pela vítima ou pelo suspeito podem ser indeferidos 
(art. 14, CPP), salvo o exame de corpo de delito quando a infração deixar 
vestígios (art. 184, CPP). Ou seja, infere-se que a discricionariedade do inquérito 
não é absoluta. 
OBS: As requisições emanadas do juiz das garantias e do Ministério 
Público devem ser cumpridas por imposição normativa, mesmo inexistindo 
vínculo hierárquico (art. 13, inciso II, CPP). 
OBS: “O inquérito policial não possui rito”. Essa assertiva é verdadeira, na 
medida em que quem define o rito é o delegado. 
3.3. Procedimento sigiloso 
Inquérito é um procedimento sigiloso. A ideia de sigilo é a antítese da 
publicidade, mas o sigilo existe concatenado com a pretensão de eficiência. 
3.3.1. Conceito 
O inquérito nasce sigiloso com nítida pretensão de eficiência da 
investigação, cabendo ao delegado velar pelo sigilo (art. 20, caput, CPP). 
3.3.2. Princípio da presunção de inocência 
Informações do inquérito não serão apontadas na certidão de antecedentes 
criminais. 
3.3.3. Classificação do sigilo 
Bifurca-se essa classificação com a seguinte abordagem: 
Sigilo externo: é aquele aplicável aos desinteressados na investigação. 
Dentro destes, a figura mais exponencial é a imprensa. Nós nos habituamos a 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
consumir informação ruim. Quanto mais se sangra no Jornal Nacional, por 
exemplo, mais se chama atenção. A exposição midiática traz um julgamento 
antecipado da causa, que é o julgamento social, extremamente preconceituoso. 
Então, em suma, o sigilo externo é o aplicado aos terceiros desinteressados, 
notadamente a imprensa. 
Sigilo interno: é o aplicado aos atores da persecução penal. Mas esse sigilo 
interno é frágil, pois, por exemplo, o delegado não vai opor sigilo ao Promotor. 
Da mesma maneira, o delegado não pode opor sigilo aos juízes das garantias e os 
advogados têm o direito de acesso aos autos da investigação. O advogado tem 
acesso sem precisar apresentar procuração, teoricamente, mas na prática não é 
assim que ocorre. E se a autoridade investigante, de maneira irresponsável, nega 
o acesso? Se isso ocorrer, há múltiplas ferramentas para conseguir acessar: (a) 
apresentar reclamação constitucional ao STF, pois esse direito é verbalizado em 
Súmula Vinculante; (b) impetrar Habeas Corpus, pois a liberdade do investigado, 
mesmo que indiretamente, está em risco; (c) impetrar Mandado de Segurança; 
(d) e, por fim, o Estatuto da OAB permite que peticione ao juiz, por petição 
simples, para que os juízes das garantias conceda o acesso. 
De todo modo, a prerrogativa não deve ser invocada por advogado que 
não esteja atuando no interesse de suspeito, investigado ou indiciado. Para 
prevenir abusos, deve a autoridade policial ou encarregado registrar os acessos 
aos autos da investigação preliminar pelos advogados, viabilizando controle do 
sigilo em favor dos direitos do imputado, evitando-se a exposição de sua imagem 
ou intimidade. 
Assim, se o sigilo quanto aos atores é fraco, necessárias as seguintes 
observações: 
OBS: O delegado não pode opor o sigilo ao membro do MP ou aos juízes 
das garantias. 
OBS: O advogado tem direito de acessar os autos do inquérito, tendo 
contato com o que já foi produzido e está documentado (art. 7º, inciso XIV, da 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
Lei 8.906/94 – Estatuto da OAB e Súmula Vinculante nº 14). Diante disso, O 
ACESSO INDEPENDE DE PROCURAÇÃO. TODAVIA, SE FOR 
DECRETADO SEGREDO DE JUSTIÇA (SIGILO JUDICIAL), O ACESSO DO 
ADVOGADO CONTINUA PERMITIDO, MAS A PROCURAÇÃO PASSA A 
SER NECESSÁRIA. 
O advogado, ao acessar os autos, pode tomar apontamentos e copiar os 
autos. Nesse sentido, a cópia pode ser física (o que é bastante difícil, pois a 
autoridade não vai deixar fazer carga do inquérito) ou digital, que é o mais 
comum. 
E se tiver boicote ao acesso? É, usualmente, o que tem de mais frequente. 
Esse boicote caracteriza abuso de autoridade. Há tipificação disso na nova Lei de 
Abuso de Autoridade. 
Por fim, o advogado, diante da negativa, poderá impetrar Mandado de 
Segurança, Habeas Corpus (profilático), manejar Reclamação Constitucional ou 
apresentar uma petição simples ao juiz (das garantias), para que conceda o 
acesso. 
Por outro lado, olhando-se pela perspectiva da vítima, a sua exposição 
pode violar a intimidade, vida privada e família. Assim, pensando na tutela da 
vítima, o juiz poderá decretar o segredo de justiça para proteger a vítima, para 
que ninguém compartilhe informações com a imprensa, nem mesmo os 
advogados, preservando a intimidade, a vida privada e a família (art. 201, CPP), 
blindando-a, portanto, de mazelas sociais. 
3.4. Inquérito como procedimento escrito 
O CPP entrou em vigor em 1º de janeiro de 1942 e, naquela época, toda 
forma de documentar era em papel. Ainda hoje, os atos produzidos oralmente 
devem ser reduzidos à termo; o delegado deve subscrever todas as laudas do 
inquérito, conferindo autenticidade ao inquérito. 
Nesta senda, no inquérito prepondera a forma documental (art. 9º, CPP). 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
OBS: Os atos produzidos oralmente devem ser reduzidos à termo. 
OBS: O delegado deve subscrever todas as laudas, conferindo-lhe 
autenticidade. 
OBS: As novas ferramentas tecnológicas podem ser empregadas, como, 
por exemplo, captação de som e imagem ou a estenotipia. Esta é uma técnica de 
redução de palavras por símbolos. 
3.5. Inquérito como procedimento indisponível 
Se o delegado de polícia instaurou inquérito policial, existe algum 
fundamento que o autorize a arquivá-lo no departamento de polícia? Por 
exemplo, descobriu que o fato não aconteceu ou que o crime prescreveu. 
DELEGADO NUNCA PODE ARQUIVAR INQUÉRITO (SEM EXCEÇÕES). O 
recado dado pela lei é que toda investigação iniciada tem que ter concluída e 
encaminhada para a autoridade competente. O art. 17, do CPP, o proíbe 
expressamente. Então, respondendo à pergunta, tem-se que concluir a 
investigação imediatamente e encaminhar para a autoridade competente, que é 
o juiz das garantias. Ou seja, pode terminar de maneira prematura, 
imediatamente, mas jamais arquivá-lo. 
Em outras palavras, o delegado nunca poderá arquivar o inquérito no 
departamento de polícia (art. 17, CPP). Assim, toda investigação iniciada deve 
ser concluída e encaminhada à autoridade competente. 
3.6. Inquérito como procedimento dispensável 
Para que um processo criminal comece, precisa da prévia elaboração de 
inquérito policial? NÃO. Um membro do MP precisa de indícios de autoria, 
materialidade e circunstâncias da infração, que ele pode obter do inquérito 
policial ou de qualquer fonte de informação idônea. Ou seja, o inquérito é apenas 
mais uma fonte idônea. O Promotor não tem olhos apenas ao inquérito. 
Assim, a deflagração do processo independe da prévia elaboração de 
inquérito policial. 
Leonardo David – Processo Penal I –Nestor Távora – T8A 
O delegado de polícia é a autoridade que vai presidir o inquérito policial. 
Mas no Brasil existem outros tipos de inquérito ou só o delegado pode investigar? 
Existem outros tipos, como, por exemplo, a CPI. Esta elabora o que se chama de 
Inquérito Parlamentar. Assim, diante desse inquérito parlamentar, o Promotor 
convencido, poderá ajuizar a ação penal sem o inquérito policial. 
Inquéritos não policiais: são aqueles presididos por autoridades distintas 
da polícia judiciária. 
Principais hipóteses: 
(a) inquérito parlamentar, que é aquele elaborado pela CPI; 
(b) inquérito militar. Os militares vivem em um ambiente hermeticamente 
fechado, onde as infrações militares serão apuradas em inquérito militar. E o MP, 
em um futuro próximo, poderá utilizar esse inquérito para ajuizar a ação. Quem 
preside este inquérito é um membro da própria instituição militar; 
(c) os membros do MP não serão investigados e indiciados por delegado, 
de forma que serão investigados ou indiciados pelo Procurador Geral ou por sua 
assessoria direta; 
(d) juízes também não são investigados ou indiciados por delegados de 
polícia. Assim, compete ao tribunal respectivo a investigação ou o indiciamento 
dos magistrados; 
(e) PIC (Procedimento Investigativo Criminal), em que Nestor Távora 
apelida de “Inquérito Ministerial”. Se afirmar que o membro do MP preside 
inquérito policial está totalmente equivocado. Mas o MP pode presidir o PIC. O 
Pleno do Supremo teve que avaliar essa situação, pois quando Nelson Jobim era 
Ministro do Supremo, foram impetrados dois HC’s, em que Jobim decidiu 
afirmando que MP não pode presidir investigação criminal no Brasil, sob o 
fundamento de que o inquérito policial é presidido pelo delegado. 
Algum tempo depois, a ex-Ministra Ellen Gracie, seguida por Marco 
Aurélio, se insurgiu e disse que o MP pode investigar, afirmando que o órgão 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
ministerial conduzirá investigação que sobreviverá harmonicamente com o 
inquérito policial, em que o promotor poderá se valer de qualquer dos inquéritos, 
dos dois, ou de nenhum deles para instaurar a Ação Penal. O Supremo embasou 
esse fundamento na teoria dos poderes implícitos, isto é, se a CF/88 conferiu o 
poder de processar explicitamente, implicitamente conferiu todos os demais 
poderes nesse sentido, englobando, assim, a investigação. 
O grande problema é que não tem Lei Federal regulamentando a 
investigação criminal do MP, apenas uma Resolução. 
OBS: De acordo com o Pleno do STF, o Ministério Público poderá presidir 
investigação criminal, que conviverá harmonicamente com o inquérito policial. 
OBS: O STF INVOCOU A TEORIA DOS PODERES IMPLÍCITOS, 
AFINAL, COMO A CONSTITUIÇÃO CONFERE EXPRESSAMENTE O 
PODER DE PROCESSAR (ART. 129, INCISO I, CF/88), É SINAL QUE, 
IMPLICITAMENTE, ENTREGOU AO MP TODAS AS FERRAMENTAS 
PARA QUE CUMPRA O SEU PAPEL. 
OBS: De acordo com a Súmula 234 do STJ, o promotor que investiga não é 
suspeito ou impedido de atuar na fase processual. 
OBS: Segundo Luiz Flávio Borges D’urso, as críticas à investigação 
ministerial repousam nos seguintes argumentos: (a) não há lei federal regulando 
a matéria, subsistindo a Resolução nº 13, do CNMP; (b) aglutinar funções revela 
um sério problema para manutenção do equilíbrio da autoridade. 
4. VALOR PROBATÓRIO 
Quanto ao valor probatório, inquérito policial, a rigor, não produz prova. 
Assim, ele tem valor probatório relativo, pois carece de confirmação por outros 
elementos colhidos durante a instrução processual. Prova é aquilo que é 
produzido na relação processual, perante o juiz, com a presença do contraditório, 
ampla defesa e paridade de armas, já que o inquérito é inquisitivo. No inquérito 
se produz elementos indiciários, que servem para o ajuizamento da ação e para 
que o juiz adote medidas cautelares, mas não provas. 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
4.1. Conceito 
O inquérito, historicamente, tinha valor probatório relativo, servindo de 
base para a adoção de medidas cautelares e para o ajuizamento da ação, mas não 
se prestando, sozinho, a sustentar condenação, em razão da inquisitoriedade (art. 
155, CPP). 
4.2. Elementos de investigação x elementos de prova 
Segundo Fauzi Hassan e Luigi Ferrajoli, os elementos de investigação são 
colhidos de maneira inquisitiva, sendo típicos do inquérito, servindo para o 
ajuizamento da ação e para a adoção de medidas cautelares. 
Por outro lado, os elementos de prova são produzidos perante o juiz 
competente, respeitando-se o contraditório, a ampla defesa e a paridade de 
armas. Podem alicerçar, inclusive, condenação. 
Os elementos indiciários podem justificar absolvição? Sim. 
4.3. Elementos de migração 
Os elementos migratórios são aqueles que se pode extrair do inquérito, 
transpor ao processo e podem alicerçar, inclusive, condenação por autorização 
legal. Mas isso é exceção. 
Então, eventualmente, elementos do inquérito podem ser transportados 
ao processo e justificar eventual condenação, vejamos: 
(a) Provas irrepetíveis. São aquelas de fácil perecimento e que dificilmente 
podem ser reproduzidas no processo. Ou seja, os vestígios tendem a 
desaparecer, e por isso a impossibilidade do seu refazimento. Exemplo: 
bafômetro; 
(b) Provas cautelares: São aquelas justificadas pelo binômio “necessidade 
e urgência”, para que os elementos não venham a se esvair. Exemplo: 
interceptação telefônica, captação ambiental (pacote anticrime) ou 
busca e apreensão; 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
OBS: Na fase processual, as provas cautelares e as irrepetíveis serão 
submetidas ao contraditório e à ampla defesa (diferido ou postergado). 
(c) Incidente de produção antecipada de prova: Mesmo durante o 
inquérito, ele é instaurado perante o juiz, com a intervenção das futuras 
partes do processo, assim como com o contraditório e a ampla defesa. 
4.4. Pacote anticrime 
De acordo com o parágrafo terceiro do art. 3º-C, do CPP, ainda suspenso, 
o que se quer é a extração física do inquérito dos autos do processo. Entretanto, 
parte da doutrina entende que a interpretação é restrita aos elementos de 
investigação que passam pela deliberação do juiz das garantias, ressalvadas as 
provas irrepetíveis, cautelares e as produzidas em incidente de produção 
antecipada. 
5. VÍCIOS OU IRREGULARIDADES DO INQUÉRITO 
5.1. Conceito 
Os vícios são os defeitos existentes no inquérito, pelo descumprimento da 
lei ou dos princípios constitucionais. Os vícios ocorridos no inquérito policial não 
atingem a ação penal, na medida em que o inquérito é um procedimento 
dispensável. 
Este é o entendimento dos tribunais superiores, que tem se manifestado 
endossando a tese de que eventuais vícios no inquérito policial não contaminam, 
necessariamente, o processo penal (STF – Primeira Turma – Inq 3621 ED-
segundos – Rel. Min. Rosa Weber – publicado em 22 out.2019 e STJ – Sexta Turma 
– AgRg no HC 495.749/RJ – Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro – Dje 23 
out.2019). 
Em que pese entendimento majoritário, AURY LOPES JR., em posição 
minoritária, reconhece a possibilidade de contaminação do processo pelos vícios 
ocorridos no inquérito policial, principalmente pelo mau vezo de alguns 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
magistrados em valorar os elementos colhidos no inquérito como prova em suas 
sentenças, advertindo que 
“o rançoso discurso de que as irregularidades do inquérito não 
contaminam o processo não é uma verdade absoluta e tampouco deve 
ser considerada uma regra geral. Todo o contrário, exige-se do juiz uma 
diligência tal na condução do processo que o leve a verificar se, no curso 
do IP, não foi cometida alguma nulidade absoluta ou relativa (quando 
alegada). Verificada, o ato deverá ser repetido e excluída a respectiva 
peça que o materializa, sob pena de contaminaçãodos atos que dele 
derivem. Caso o ato não seja repetido, ainda que por impossibilidade, a 
sua valoração na sentença ensejará a nulidade do processo”. 
5.2. Consequências 
a) O delegado chefe poderá, de forma motivada, avocar o inquérito e 
distribuí-lo a uma outra autoridade (art. 2º, da Lei 12.830/13); 
b) De acordo com o art. 12 do CPP, quando o MP oferece a denúncia 
com base no inquérito, os autos acompanham a petição inicial. 
Parte da doutrina interpreta o parágrafo terceiro do artigo 3º-C do CPP de 
forma radical, entendendo que o artigo 12 do CPP está tacitamente revogado, 
extraindo-se integralmente o inquérito dos autos. 
De acordo com Rogério Sanches, a interpretação é restrita, ficando 
limitada à matéria de competência do juiz das garantias. 
Segundo o Supremo, os vícios do inquérito não contaminam o processo, 
afinal, o inquérito é meramente dispensável. 
6. PRAZO 
DELEGADO ESTADUAL SUSPEITO PRESO: 10 DIAS, COM 
PRORROGAÇÃO POR + 15 DIAS 
SUSPEITO SOLTO: 30 DIAS 
(PRORROGÁVEIS PELO TEMPO E 
QUANTIDADES NECESSÁRIAS) 
DELEGADO FEDERAL SUSPEITO PRESO: 15 DIAS, 
PRORROGÁVEIS UMA VEZ POR 
ATÉ MAIS 15 DIAS. 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
SUSPEITO SOLTO: 30 DIAS 
(PRORROGÁVEIS PELO TEMPO E 
QUANTIDADES NECESSÁRIAS) 
TRÁFICO DE DROGAS SUSPEITO PRESO: 30 DIAS, 
PRORROGÁVEIS UMA VEZ POR + 
30 DIAS. 
SUSPEITO SOLTO: 90 DIAS, 
PRORROGÁVEIS UMA VEZ POR + 
90 DIAS. 
INQUÉRITOS MILITARES SUSPEITO PRESO: 20 DIAS. 
SUSPEITO SOLTO: 40 DIAS 
PRORROGÁVEIS POR + 20. 
 
OBS: A deliberação quanto à prorrogação do prazo ficou na competência 
do juiz das garantias. Para que ele delibere, ele vai ouvir o MP. Mas quem 
provoca o juiz das garantias é o delegado de polícia, ou seja, é o delegado que 
mensura se deve haver ou não prorrogação. Então cabe ao juiz das garantias 
deliberar quanto à prorrogação, diante da provocação do delegado, ouvindo o 
MP. 
OBS: Segundo a doutrina, quando o sujeito está preso, o prazo é contado 
de acordo com o art. 10 do Código Penal. Estando solto, o prazo é processual, 
sendo inspirado pelo art. 798 do CPP. 
6.1. Contagem do prazo 
Távora entende que se o indiciado estiver preso, o prazo do inquérito deve 
ser contado na forma do art. 10, do Código Penal, ou seja, incluindo-se o dia do 
começo e excluindo-se do vencimento. Em estando solto, o prazo deve ser 
contado de acordo com o art. 798, do Código de Processo Penal, isto é, excluindo-
se o dia do começo e incluindo-se o último dia. 
OBS: A jurisprudência pátria tem admitido um sistema de compensação 
caso ocorra excesso prazal na conclusão do inquérito, levando em conta o prazo 
de que dispõe o MP para ofertar denúncia. Assim, caso o delegado, estando o 
indiciado preso, conclua o inquérito em doze dias, mas o promotor oferte a 
denúncia em dois dias – apesar de dispor de 5 dias – não há que se falar em 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
constrangimento ilegal a viabilizar o relaxamento da prisão, concluindo que o 
Estado-investigação e o Estado-acusação dispõem, juntos, de 15 dias para manter 
o suposto autor do fato preso (dez dias para conclusão do inquérito e 5 dias par 
aa oferta da denúncia). 
7. INDICIAMENTO 
7.1. Conceito 
Revela a convergência da investigação em face de determinada pessoa, 
saindo de um juízo de possibilidade e ingressando em um mais robusto de 
probabilidade. Assim, o indiciado é visto como o principal suspeito. 
7.2. Legitimidade 
Cabe ao delegado, privativamente, no âmbito do inquérito policial, 
realizar o indiciamento, por despacho motivado, em análise técnico-jurídica, 
apontando os indícios de autoria, da materialidade e das circunstâncias da 
infração. 
7.3. Classificação 
(a) Indiciamento direto: é aquele feito ao suspeito presente; 
(b) Indiciamento indireto: ocorre sem a presença do suspeito. 
7.4. “Menor” 
O CPP considerava como menores as pessoas entre 18 e 21 anos 
incompletos, exigindo a nomeação de curador pela pouca idade. Com o advento 
do artigo 5º do Código Civil, considerando os maiores de 18 como absolutamente 
capazes, resta concluir que o artigo 15 do CPP está tacitamente revogado. 
OBS: Vale lembrar que o curador subsiste para os inimputáveis por doença 
mental. 
7.5. Desindiciamento 
7.5.1. Conceito: É a reversão do indiciamento, que pode ocorrer por 
inciativa do delegado ou pelo êxito de um Habeas Corpus 
impetrado para trancar o inquérito. 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
OBS: O desindiciamento não significa que o delegado está arquivando 
a investigação. 
OBS: Cabe ao juiz das garantias julgar o Habeas Corpus (ação 
constitucional) impetrado para trancar o inquérito, indicando se o delegado 
como autoridade coatora (art. 3º-B, inciso XII, CPP). 
8. ATRIBUIÇÃO 
8.1. Conceito: Significa o poder/dever conferido por lei a uma 
determinada autoridade, definindo a sua margem de atuação. 
8.2. Critérios definidores 
I. Critério territorial: delegado com atribuição é aquele que atua na 
circunscrição da consumação da infração. 
OBS: Circunscrição é a delimitação territorial da atuação do delegado. 
OBS: Se na mesma Comarca existe mais de uma circunscrição, estão 
dispensadas as precatórias entre delegados. 
II. Critério pessoal: a atribuição é definida em razão da figura da 
vítima. Exemplo: delegacia da mulher. 
III. Critério material: teremos delegacias especializadas na apuração de 
um determinado tipo de infração. Exemplo: delegacia de furtos e 
roubos. 
9. PROCEDIMENTO 
9.1. Primeira etapa: Início 
Diante da constatação que o inquérito é um procedimento escrito, qual é a 
peça que demarca o início do inquérito? Por meio de uma Portaria. 
I – Conceito 
Assim, uma portaria é a peça escrita que demarca o início da investigação 
policial. 
II – Conteúdo 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
No aspecto, a portaria é constituída pelo (a) fato a ser investigado; (b) os 
sujeitos envolvidos; (c) as diligências que serão imediatamente realizadas. Na 
portaria o delegado solta os agentes para agir, já apontando as diligências a serem 
imediatamente realizadas; e (d) desfecho, que é a determinação da instauração 
do processo. 
III – Substituição 
No sentido prático, não há a substituição. É algo que na prática fica 
esvaziada. Algumas peças podem funcionar como se fossem a própria portaria, 
dispensando o delegado de baixar uma nova peça. Por exemplo: o auto de 
flagrante pode ser utilizado como portaria. Na prática, o delegado sempre baixa 
nova portaria, mas ela poderá ser dispensada com o lavramento do auto de 
flagrante. 
IV – Notícia crime 
É o conhecimento pela autoridade, espontâneo ou provocado, de um fato 
aparentemente criminoso. Normalmente é endereça à autoridade policial, ao 
membro do MP ou ao magistrado. 
Para que o delegado baixe a portaria, é extremamente usual que ele tenha 
conhecimento do delito. Esse conhecimento normalmente acontece quando 
alguém vai ao departamento de delícia, prestando uma notícia crime (jamais se 
presta “queixa” em uma delegacia, em que pese sair da delegacia com um 
“Termo de Queixa”) 
a) Conceito: assim, notícia crime é a comunicação da ocorrência de uma 
infração à autoridade, com atribuição para apurar; 
b) Legitimidade: ela será bifurcada para a notícia crime. Primeiro se quer 
encontrar quem são os destinatários. Afinal, se quer noticiar o crime, 
se bate na porta de quem? Os destinatários primários de uma notícia 
crime são (a) os delegados, (b) o Ministério Público e (c) os juízes. 
OBS: Diante da notícia crime, o membro do MP terá as seguintes 
alternativas: 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
• Requisitar a instauração do inquérito; 
• Instaurar PIC; 
• Ordenar o arquivamento da notícia; 
• Oferecer denúncia no prazo de 15 dias, desde que a notícia já 
apresente lastro indiciário; 
• Propor acordo de não persecução penal.OBS: Diante da notícia, o juiz poderá adotar as seguintes medidas: 
• Requisitar ao delegado a instauração do inquérito (mas diante do 
sistema acusatório, Nestor fala que é a pior situação, vez que o certo 
seria remeter ao Ministério Público); 
• Diante do sistema acusatório, é mais adequado que o juiz abra 
vistas ao Ministério Público, para que ele resolva a questão. 
b.2) Legitimidade ativa: noticiantes (classificação) 
b.2.1) Notícia crime direta (notícia crime de cognição imediata) 
É aquela atribuída à atuação das forças policiais ou da imprensa. Ou seja, 
se a imprensa, por exemplo, noticia um fato criminoso desconhecido, o delegado 
será obrigado a baixar portaria e instaurar o inquérito. Imprensa tem um papel 
democrático e, assim, pode e deve noticiar um fato criminoso. 
OBS: Notícia apócrifa/inqualificada (insere-se como subespécie de 
notícia-crime de cognição imediata): é uma notícia não assinada, isto é, anônima. 
Mas a Constituição veda o anonimato. O delegado, nesse caso, deve fazer 
verificação de existência prévia (VEP), ou seja, realizar diligências, colher 
elementos de verossimilhança e, se for o caso, baixar portaria. Então delegado 
não poderá instaurar inquérito imediatamente após notícia anônima, sob pena 
de abuso de autoridade. 
De acordo com os tribunais superiores e com o magistério de Antônio 
Scarance Fernandes, a notícia anônima não autoriza a imediata instauração de 
inquérito. Inicialmente o delegado deve aferir a verossimilhança e a 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
plausibilidade da notícia, promovendo verificações prévias (VEP’s), para 
deliberar se baixa ou não a portaria. 
b.2.2.) Notícia crime indireta/cognição mediata 
É o conhecimento da infração pela autoridade mediante provocação de 
terceiros. É aquela atribuída à pessoa estranha à polícia, mas devidamente 
identificada. 
Hipóteses: 
(a) a vítima/representante legal noticia um crime por meio de um 
requerimento. Deve conter a narrativa dos fatos e suas circunstâncias; a 
individualização do suposto autor da infração, ou seus sinais característicos e 
razões de convicção de ser o mesmo o sujeito ativo do delito; a nomeação de 
testemunhas, com indicação da profissão e das respectivas residências. 
Se o delegado se negar a instaurar inquérito, o código diz que o delegado 
se sujeita a um recurso administrativo interno, endereçado ao superior do 
delegado, para que ele delibere se instaura ou não. Mas na prática ninguém 
interpõe esse recurso. O mais eficiente é comunicar ao Ministério Público, que 
então requisitará a instauração. 
OBS: Diante da negativa do delegado, caberá recurso administrativo 
endereçado ao chefe de polícia (art. 5º, § 2º, CPP). Na prática, o mais adequado 
é provocar diretamente o Ministério Público. 
OBS: Nos crimes de ação privada e de ação pública condicionada, a 
instauração do inquérito depende da prévia manifestação de vontade do legítimo 
interessado (art. 5º, §§ 4º e 5º, CPP). Exemplo: estelionato, que, com o pacote 
anticrime, passou a ser delito de ação pública condicionada. 
(b) Membro do MP ou juiz. Eles noticiam o fato por meio de requisição, 
cabendo ao delegado instaurar o inquérito (art. 5º, inciso II, CPP). Távora entende 
que não há mais cabimento de notícia crime por requisição do juiz, apesar de 
previsão legal do CPP. Adverte que não mais subsiste essa possibilidade, seja 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
pelo sistema acusatório sufragado na Constituição, seja por ter sido essa estrutura 
acusatória expressamente consagrada no art. 3º-A, do CPP, pela Lei Anticrime. 
(c) Qualquer pessoa do povo. A notícia é formulada por meio de uma 
delação. Ela é cabível somente nos crimes de ação pública incondicionada, pois 
o delegado já deveria instaurar o inquérito de ofício (art. 5º, inciso I c/c § 3º, CPP). 
OBS: “Delatio criminis” com força coercitiva. É a notícia extraída da prisão 
em flagrante, podendo ser direta ou indireta, a depender de quem promova a 
captura (polícia ou pessoa do povo) (art. 301, CPP). 
OBS: “Delatio criminis” postulatória. Ela retrata o instituto da 
representação, típico da ação pública condicionada. É a representação da vítima. 
OBS: Notícia crime por requisição do Ministro da Justiça: em alguns 
crimes, a persecução penal está a depender de autorização do Ministro da Justiça, 
também chama de requisição. Todavia, essa requisição apresentada pelo 
Ministro da Justiça, ao contrário da requisição emanada dos juízes e promotores, 
não é sinônimo de ordem, e sim uma mera autorização ao início da persecução 
penal em algumas infrações que a exigem. 
9.2. Segunda etapa: evolução. 
O inquérito vai evoluir por meio do cumprimento de diligências, 
realizadas de forma discricionária. 
OBS: Os artigos 6º e 7º do CPP apresentam, de forma não exaustiva, 
inúmeras diligências que podem ou devem ser cumpridas pelo delegado, para 
melhor aparelhar o inquérito. Tais diligências podem ser enriquecidas pela 
previsão do § 2º do artigo 2º, da Lei 12.830/13. 
Algumas das diligências são: 
(a) dirigir-se ao local dos fatos, isolando a área para atuação dos peritos 
(OBRIGATÓRIA); 
(b) apreender objetos que, segundo STJ, pode ser feito mesmo antes da 
instauração do respectivo inquérito; 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
(c) colher todas as provas; 
(d) ouvir o ofendido, que não será compromissado a dizer a verdade, pois 
não é testemunha. Todavia, se der causa à instauração de investigação ou do 
processo, imputando infração a alguém sabidamente inocente, incorrerá no crime 
de denunciação caluniosa. Se o ofendido, devidamente notificado, 
injustificadamente não comparecer para ser ouvido, poderá ser conduzido 
coercitivamente à presença da autoridade; 
(e) ouvir o indiciado. Aqui assegura-se o direito ao silêncio. Presença do 
advogado é facultativa, mas se este se fizer presente, não está impedido de 
participar, sob pena de nulidade do ato e dos demais que dele decorrem. Destaca-
se que não haverá condução coercitiva do indiciado, haja vista que esta medida 
teve reconhecida sua inconstitucionalidade pelo STF. Não há sentido conduzir 
coercitivamente aquele que deseja ficar calado (direito ao silêncio); 
(f) realização do exame de corpo de delito e outras perícias. A ausência de 
perícia não pode ser suprida, nem mesmo, pela confissão do suspeito. 
Eventualmente frustrado o exame, a materialidade será demonstrada pela prova 
testemunhal, mas nunca pela confissão. 
OBS: Os artigos 13-A e 13-B do CPP apontam diversas diligências na 
apuração dos crimes envolvendo tráfico de pessoas. 
OBS: Reconstituição simulada do crime. É a reconstituição do crime. Ela 
revela a reprodução simulada do fato, indicando as circunstâncias de sua prática. 
É pacífico o entendimento de que o investigado não está obrigado a participar, 
como decorrência do direito ao silêncio positivado na Constituição e do direito à 
não autoincriminação previsto no Pacto de São José da Costa Rica (CADH). 
Távora entende que o suspeito não está obrigado a comparecer, já que a 
ausência representa o exercício da autodefesa. Todavia, prevalece o 
entendimento de que o comparecimento é obrigatório, sob pena de condução 
coercitiva. 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
Não teremos reconstituição que ofenda a moralidade ou a ordem pública, 
a exemplo da reconstituição de crime sexual. 
Identificação criminal (Lei 12.057/09). 
I – Conceito 
Revela a colheita de elementos de traço biológico que individualiza a 
pessoa, a diferenciando das demais, a exemplo da fotografia, impressão digital, 
mapeamento da íris e colheita de material biológico para realização de DNA. 
A determinação para a identificação criminal normalmente é originada da 
autoridade policial, aferida a real necessidade. Já o juiz, na fase processual ou 
sendo essencial para a investigação preliminar,e por decisão motivada (e não 
despacho, como sugere a lei), poderá autorizar a medida de ofício ou por 
provocação do MP, da defesa ou da autoridade policial. A determinação da 
identificação criminal sem amparo legal caracteriza abuso de autoridade. 
OBS: A identificação criminal não se confunde com a qualificação, que 
envolve informações que moldam o perfil social de alguém, como nome, filiação, 
nacionalidade, naturalidade, profissão, estado civil, RG, CPF e endereço. 
II – Enquadramento normativo 
De acordo com o art. 5º, inciso LVIII, CF, aquele que está identificado 
civilmente (art. 2º, da Lei 12.037/09), não será identificado criminalmente. Caso 
o indiciado ou o capturado em flagrante não esteja com o documento de 
identificação civil em mãos, deve a autoridade conceder prazo razoável para que 
o apresente, ou para que pessoa de sua confiança o traga, já que a imediata 
identificação criminal seria precipitada. 
OBS: Eventualmente, aqueles que estão identificados civilmente, serão 
identificados criminalmente, nas hipóteses conjugadas no art. 3º da Lei 
12.037/09. 
III – Mapeamento genético 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
O inciso IV do art. 3º, da Lei 12.037/09, autoriza, sendo imprescindível 
para a investigação, que o juiz determine a colheita de material biológico como 
integrante da identificação criminal. 
Na doutrina, prevalece o entendimento de que a colheita compulsória 
viola o princípio da não autoincriminação. Portanto, é viável a realização por 
elementos de descarte ou por meio da busca e apreensão. 
Se considerarmos que a identificação criminal não é um meio de prova, o 
princípio da não autoincriminação fica esvaziado, aceitando-se a 
compulsoriedade da colheita. 
De acordo com o artigo 9º-A da Lei 7.210/84 (LEP), os condenados por 
crime doloso com violência de natureza grave contra pessoa, assim como os 
condenados por crime hediondo, serão obrigatoriamente identificados por perfil 
genético, mediante extração de DNA. Almeja-se viabilizar a confrontação para 
eventuais futuros delitos praticados por esses sujeitos. 
OBS: Como é presumivelmente inocente, a identificação criminal não 
constará de certidões ou atestado de antecedentes, enquanto não transitar em 
julgado a sentença condenatória, ressalvadas as requisições emanadas das 
autoridades que integram a persecução penal, como membros do MP, juízes e 
delegados. Assim, sobrevindo absolvição, arquivamento do IP ou rejeição da 
petição inicial, uma vez preclusa a decisão nesse sentido, o indiciado (ou réu) 
poderá requerer a retirada da identificação fotográfica dos autos da persecução, 
como forma de preservação da imagem, desde que apresente a competente 
identificação civil. Havendo denegação, poderá ingressar com mandado de 
segurança. 
INDICIAMENTO 
É a informação ao suposto autor a respeito do fato objeto das 
investigações. Ou seja, é a cientificação ao suspeito de que ele passa a ser o 
principal foco do inquérito. Passa do juízo de possibilidade para o de 
probabilidade e as investigações são centradas em pessoa determinada. Se feito 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
sem lastro probatório mínimo configura-se ilegal, dando ensejo à impetração de 
HC para ilidi-lo ou até mesmo para trancar o inquérito policial iniciado. 
O indiciamento é ato privativo do delegado de polícia, de modo que a 
requisição judiciária de indiciamento é postura incompatível com o sistema 
acusatório. 
O indiciamento produz efeitos de natureza extraprocessual e 
endoprocessual. Extraprocessual, pois aponta à sociedade o provável sujeito 
ativo do crime. Endoprocessual, pois é antecedente lógico que o suposto autor do 
delito figure no polo passivo da denúncia ou da queixa-crime, como 
denunciado/acusado ou querelado. 
O indiciamento pode ser direto (quando o agente está presente) ou 
indireto (quando o agente está ausente, a exemplo da situação de foragido ou em 
lugar incerto). 
9.3. Terceira etapa: encerramento 
O inquérito é um procedimento escrito. Se tem um procedimento escrito, 
é necessária uma peça escrita que caracteriza a finalização do inquérito. Esta peça 
é o relatório. 
I – Conceito: É a peça eminentemente descritiva, que aponta as diligências 
realizadas e, eventualmente, justifica as que não foram feitas por algum motivo 
relevante (art. 10, CPP). O relatório não é uma peça opinativa, isto é, ele não diz 
se o suspeito é culpável ou inocente ou se o inquérito deve ser arquivado, em que 
pese na prática o delegado sugere o arquivamento do inquérito. O titular da 
opinião delitiva é o Ministério Público que, inclusive, não está vinculado ao 
inquérito policial. 
OBS: Na Lei de Drogas, temos uma acentuada mitigação da 
descritividade, pois o delegado deve indicar as razões do enquadramento no 
tráfico e não no porte para uso. Tráfico de drogas é crime equiparado ao 
hediondo. Porte é crime de menor potencial ofensivo. Então é o relatório com 
maior teor opinativo de todo o ordenamento jurídico. 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
Jamais pode-se dizer que o relatório é uma peça neutra, pois neutralidade 
não existe. 
OBS: PRIMEIRO ATO É LER A PORTARIA, O SEGUNDO ATO É LER O 
RELATÓRIO (ADVOCACIA) 
9.4. Desdobramento do procedimento (MUITO IMPORTANTE) 
a) Tem-se, até agora, os autos do inquérito com o relatório. O que 
acontece na sequência? O delegado, concluindo o inquérito e relatando 
o procedimento, irá remeter os autos ao central de inquérito (isso na 
prática, pois não é o que está previsto no CPP). Mas com o advento do 
juiz das garantias, isso tem que acabar. Em outras palavras, os autos 
do inquérito, integrados com o relatório, serão remetidos ao Judiciário 
(art. 10, § 1º, CPP), para que sejam acessados pelo titular da ação penal. 
Todavia, em alguns Estados, como a Bahia, os autos são remetidos às 
centrais de inquérito, vinculadas ao MP, para que a distribuição seja 
realizada diretamente ao promotor com atribuição para atuar no caso. 
Temos hoje no CPP a referência do art. 23: concluindo o inquérito, remete 
ao juiz, para depois ele remeter ao MP. 
b) Remessa ao juiz (das garantias): em alguns estados da federação, 
estabelecemos as centrais de inquérito, como órgãos do MP, 
responsáveis pelo recebimento e distribuição do inquérito entre os 
membros. 
OBS: O STF entende que a lei estadual não pode regular a tramitação 
direta do inquérito entre delegacia e o MP, pois a matéria deve ser objeto de lei 
federal. Já o STJ, em precedente de duvidosa constitucionalidade, admite a 
aplicação da Resolução nº 63/CJF (Conselho da Justiça Federal), regulando a 
tramitação direta. 
OBS: O delegado deverá oficiar ao Instituto de Identificação e Estatística, 
ou órgão congênere, mencionando o juízo par ao qual os autos foram remetidos, 
para que se promova o acompanhamento dos índices de criminalidade, assim 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
como para elaboração do Boletim Individual, como dossiê que registra o 
histórico de passagens policiais do agente, mas não será apontado na Certidão de 
Antecedentes. Ou seja, é um controle interno do seu histórico de passagens pela 
polícia, numa visão bem pragmática, trivial. 
c) Cabe ao juiz abrir vistas ao Ministério Público: 
d) Diante do inquérito, o MP possui as seguintes alternativas: 
PRIMEIRA ALTERNATIVA: Diante da presença do lastro indiciário 
idôneo, cabe ao MP a oferta da denúncia (petição inicial), na esperança de que 
seja deflagrado o processo (art. 24, CPP); 
OBS: Nos crimes com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, preenchidos 
os requisitos do art. 28-A, CPP, caberá a oferta do acordo de não persecução 
penal. Para tanto, o sujeito confessa o crime assistido por advogado, submetendo-
se a inúmeras obrigações. 
OBS: Cabe o acordo para prisões em flagrante, pois a confissão não precisa 
ser voluntária, apenas espontânea.No caso, o flagrante serve como a confissão. 
Conclusões: 
• De acordo com a Resolução nº 181/CNMP, o sujeito terá a confissão 
devidamente gravada. 
• Cabe ao juiz das garantias homologar o acordo de não persecução 
penal. 
• Se o magistrado denegar a homologação, caberá Recurso em 
Sentido Estrito (Art. 581, inciso XXV, CPP). 
• Se os termos do acordo forem integralmente cumpridos, declara-se 
a extinção da punibilidade. Diante do descumprimento, caberá a 
oferta da denúncia e a confissão valerá como prova. 
OBS: A confissão pode ser retratada. 
SEGUNDA ALTERNATIVA: O Ministério Público pode entender que 
inexiste lastro indiciário suficiente. Todavia, havendo esperança de que tais 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
indícios sejam rapidamente colhidos, caberá a requisição de novas diligências, 
imprescindíveis ao início do processo (art. 16, CPP). 
OBS: A requisição passa pelo juiz das garantias, sendo remetida ao 
delegado para cumprimento, com definição de prazo. Quem define o prazo é o 
juiz. Realizadas as diligências, retornam ao magistrado, que deverá abrir vistas 
ao promotor. Satisfeito com o material angariado, cabe ao MP a oferta da 
denúncia. Caso contrário, em não sendo o material complementar elucidador, 
restaria a promoção do arquivamento. 
OBS: Não cabe ao juiz indeferir a remessa. Se o fizer, estará tumultuando 
o procedimento e o ato desafia correição parcial, como medida administrativa 
que será julgada pelo Tribunal de Justiça, estando regulada no Regimento Interno 
do Tribunal. 
Destaca-se que as diligências complementares só poderão ser 
requisitadas se o suspeito estiver solto. Caso esteja preso, a sua colocação em 
liberdade é de rigor, afinal, se ainda não existem elementos para a propositura 
da denúncia, com muita razão não há lastro para a manutenção da prisão. 
TERCEIRA ALTERNATIVA (MAIS IMPORTANTE): Se o promotor 
entender que não há viabilidade para o início do processo, é sinal de que o 
inquérito deve ser arquivado. 
Realidade antes do Pacote Anticrime: cabe ao MP requerer o 
arquivamento ao juiz, que terá as seguintes hipóteses para cumprir: 
I. Se o juiz concordar, deve homologar o requerimento. Diante disso, 
percebe-se que o arquivamento é feito pelo juiz, pressupondo 
requerimento do MP. 
II. Se o juiz discordar do requerimento de arquivamento, deve remeter 
os autos ao Procurador Geral do MP. 
OBS: Diante dos autos, o Procurador Geral pode adotar as seguintes 
medidas: (a) oferecer a denúncia; (b) designar outro promotor para denunciar. A 
designação de outro membro ocorre pelo respeito à independência funcional do 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
membro originário. Todavia, para a doutrina majoritária, o membro designado 
tem que denunciar (dever, não faculdade), pois atua por delegação (longa 
manus) do Procurador Geral. Em posição minoritária, Rômulo Moreira entende 
que o membro designado poderá se recusar, prestigiando a sua independência 
funcional; (c) insistir no arquivamento, restando ao juiz homologar. 
OBS: Arquivamento no âmbito do STF. O arquivamento do inquérito 
policial, formulado pelo Procurador-Geral da República, não se submete ao 
controle do Poder Judiciário. De tal modo, promovido o arquivamento do 
Inquérito Policial pelo Chefe do Ministério Público da União, sem que se 
fundamento seja capaz de constituir coisa julgada material, não cabe ao STF 
manifestar discordância, mas tão somente homologar o arquivamento nos termos 
da promoção do PGR, nos termos de sua atribuição natural prevista na Lei 
Complementar nº 75/1993, por decisão de natureza administrativa. 
Realidade após o Pacote Anticrime: Com a nova redação do caput do art. 
28 do CPP, que está suspenso por deliberação do Ministro Luiz Fux, o 
arquivamento será ordenado pelo próprio promotor, que submeterá o ato à 
revisão da superior instância ministerial, para homologação. 
Conclusões: 
• Segundo a doutrina, a superior instância ministerial, que ainda será 
definida por lei estadual, provavelmente será o Procurador Geral 
ou o Colégio de Procuradores; 
• O promotor deve intimar o delegado, a vítima e o investigado da 
promoção do arquivamento; 
• A vítima terá o prazo de 30 (trinta) dias, contados da intimação, 
para recorrer administrativamente à superior instância, 
questionando o arquivamento; 
• A superior instância, em que pese a omissão da lei, poderá 
designar outro membro do MP para denunciar ou insistir no 
arquivamento. Se a superior instância for o próprio Procurador 
Geral, ele também poderá oferecer a denúncia. 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
10. QUESTÕES COMPLEMENTARES 
10.1. Consequência do arquivamento. 
 O arquivamento do inquérito, como regra, não é apto à imutabilidade 
pela coisa julgada. Logo, surgindo novas provas antes da extinção da 
punibilidade pela prescrição ou por qualquer outra causa, caberá a oferta da 
denúncia. 
No aspecto, o CPP autoriza, após o arquivamento, e sem a necessidade de 
instaurar um outro inquérito, que a autoridade policial continue realizando 
diligências, objetivando a captação de eventual prova nova. Se assim o fizer, 
remeterá aquilo que colheu a juízo, para que o MP, tendo acesso ao material 
conseguido, possa oferecer denúncia (art. 18, CPP). 
Conclusões: 
• O arquivamento faz apenas coisa julgada formal; 
• O arquivamento segue a cláusula “rebus sic stantibus” (como as 
coisas estão). 
10.2. Definitividade do arquivamento 
De maneira excepcional, o arquivamento faz coisa julgada material 
quando amparado na certeza da atipicidade (formal ou material), assim como 
na certeza da extinção da punibilidade. Neste raciocínio, não seria admissível 
denúncia nem mesmo se surgissem novas provas, por ofensa à coisa julgada 
material. 
OBS: Para os Tribunais Superiores, arquivamento por excludente de 
ilicitude ou de culpabilidade não é apto à coisa julgada material (STF – Pleno – 
HC 87395 – Rel. Min. Ricardo Lewandowski – publicado em 13 mar.2018). 
Recurso e ação privada subsidiária da pública 
A decisão homologatória do pedido de arquivamento é irrecorrível, não 
havendo contemplação legal de recurso para combatê-la. Todavia, o indiciado 
deve ser intimado, não só para ter ciência do ato, mas também para opor-se a 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
eventual denúncia oferecida em momento posterior, uma vez destituída de prova 
nova. 
OBS: Não há que se falar em ação privada subsidiária da pública se houve 
a manifestação pelo arquivamento, afinal, ela só tem cabimento nas hipóteses de 
inércia do MP, e se o promotor requereu o arquivamento, certamente não está 
sendo desidioso. 
10.3. Termo Circunstanciado de Ocorrência 
A pretensão da lei dos juizados especiais é de simplificação procedimental. 
Diante disso, o TCO é a investigação para apurar infrações de baixa 
complexidade, vale dizer, crimes com pena máxima de até 2 anos e as 
contravenções. Ao invés de instaurarmos o inquérito, extremamente custoso e 
mais robusto, a lei dos juizados criou uma investigação extremamente 
simplificada, em que o inquérito policial é substituído pelo TCO, que é uma peça 
despida de rigor formal, contendo breve e sucinta narrativa que descreve 
sumamente os fatos e indica os envolvidos e eventuais testemunhas, sendo 
encaminhado imediatamente ao juizado especial. 
OBS: De maneira excepcional, é possível que o delegado instaure um 
inquérito policial para apurar uma infração de menor potencial ofensivo? Sim. 
Exemplo: inquérito instaurado perante o STF, de acordo com o seu regimento 
interno, para apurar as fakenews. Aí a Globo News diz que fakenews é crime. Os 
crimes eventualmente existentes são os crimes contra a honra. Mas contar 
mentira não é crime. Os crimes contra a honra normalmente são infrações de 
menor potencial ofensivo. Não seriam suscetíveis a inquérito policial. Mas porque tem inquérito? Porque tem uma situação em que, sequer, o autor do delito é 
conhecido. Então instaura-se inquérito diante da complexidade do 
procedimento. Nestor diz que viola o sistema acusatório. 
OBS: É mera irregularidade a realização de inquérito policial ao invés do 
TCO, com exceção apenas ao descrito acima. 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
Então, de acordo com o art. 69 da Lei n. 9.099/95 (Lei dos Juizados), o TCO 
é a investigação simplificada para apurar as infrações de menor potencial 
ofensivo. 
ADVERTÊNCIA: Eventualmente, vamos instaurar inquérito policial para 
apurar infrações de menor potencial ofensivo, a exemplo do que ocorre quando 
a autoria do crime é desconhecida. 
SEGUNDA UNIDADE 
Não vai ter aula dia 23/05. 
1. AÇÃO PENAL 
Tecnicamente a ação penal deve ser vista dentro de uma palavra: direito. 
É o direito de exigir do Estado-juiz a aplicação do direito penal objetivo ao caso 
concreto e resolva a demanda/crise penal. Quando esse direito é exercido, a 
ferramenta para que ele se implemente é deflagrada, vale dizer, o processo. 
Dessa forma, a ação é o direito público e subjetivo positivado na 
Constituição Federal, de exigir do Estado-juiz a aplicação da lei ao caso concreto, 
para a solução da demanda penal. 
OBS 1: Já o processo é a ferramenta que viabiliza a implementação da ação. 
Nessa crise que está ocorrendo nos EUA, o principal vetor de revolta é que 
o pacto social foi rompido, pois quando o Estado mata, a sociedade perde a 
crença da organização. E esse pacto social está intimamente ligado ao respeito da 
Constituição Federal. Então, paralelamente, a ação penal vem de um pacto 
constitucional. Todavia, parte da doutrina entende que a ação não é direito. Para 
essa doutrina, o que a CF nos deu foi o direito à justa e adequada prestação 
jurisdicional dentro de um prazo razoável. Então temos um direito a uma 
prestação jurisdicional justa, adequada, por um juiz imparcial e dentro de um 
prazo razoável. A ação é, portanto, o que eu faço para obter esse direito. Ação-
exercida; ação significa quebrar a inércia, exigindo ao Estado que ele entregue o 
direito que a Constituição assegura. Então a maioria diz hoje que ação é direito, 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
mas tem doutrina que diz que o direito que a CF deu é o direito à justa e adequada 
prestação jurisdicional num prazo adequado e a ação é o seu agir no intuito de 
obter esse direito. É separar o joio do trigo. 
OBS 2: Dito isto, para Fredie Didier Jr., o direito positivado na Constituição 
é o da justa e adequada prestação jurisdicional dentro de um prazo razoável. Já 
a ação, é aquilo que fazemos (ação-exercida), com o objetivo de obter tal direito. 
2. MODALIDADES DE AÇÃO PENAL 
O único parâmetro importante para classificar a ação penal é a titularidade 
ou a iniciativa para o exercício da ação. Então o que interessa para classificar a 
ação penal é quem irá exercê-la e, por isso, bifurca-se: ação penal de iniciativa 
pública e ação penal de iniciativa privada. 
Destarte, na classificação, levamos em consideração a iniciativa para 
propositura da demanda, de forma que a ação penal está assim organizada: (a) 
ação penal de iniciativa pública; (b) ação penal de iniciativa privada. 
ADVERTÊNCIA: Segundo Hélio Bastos Tornaghi, toda ação penal é 
pública em razão da qualidade dos interesses versados em juízo. O que pode 
oscilar é a iniciativa para propor a demanda. Logo, no rigor da técnica, temos a 
seguinte terminologia: (a) ação pública de iniciativa pública, quando o Ministério 
Público é legitimado à propositura; (b) ação pública de iniciativa privada, quando 
a vítima é legitimada para a propositura. Ontologicamente toda ação é pública. 
3. AÇÃO PENAL PÚBLICA DE INICIATIVA PÚBLICA 
3.1. Conceito 
É aquela titularizada privativamente pelo Ministério Público, por força do 
artigo 1291, inciso I, da Constituição Federal (pilar do sistema acusatório), e do 
artigo 2572, inciso I, do CPP. 
 
1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 
I – promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; 
2 Art. 257. Ao Ministério Público cabe: 
I – promover, privativamente, a ação penal pública, na forma estabelecida neste Código; e 
II – fiscalizar a execução da lei. 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
OBS: Processo judicialiforme. Era a possibilidade de juízes e delegados 
exercerem ação penal, sem a provocação do MP, revelando um sistema 
inquisitivo. Era, portanto, a tradução da inquisitoriedade do Brasil. Ou seja, o 
ordenamento, por meio dos artigos 26 e 531 do CPP, prevê a possibilidade de, em 
algumas infrações, o início da ação ocorrer através do auto de prisão em flagrante 
ou por portaria emanada da autoridade policial ou judiciária. Todavia, segundo 
TÁVORA, estes dispositivos encontram-se revogados pelo inciso I, do art.129, da 
CF, afinal, a titularidade da ação penal pública foi conferida ao MP pela Carta de 
1988, sendo impensável o exercício da ação por iniciativa do delegado ou do 
magistrado. O art.531 foi revogado pela Lei nº 11.719/2008, mas o art.263 
continua em vigor, tacitamente revogado. 
CONCLUSÃO: Atualmente, o artigo 26 do CPP é letra morta, pois não foi 
recepcionado pelo artigo 129, inciso I, da Constituição. 
3.2. Princípios especializantes 
 São os princípios que dão vida à ação penal de iniciativa pública. Quando 
o delegado termina o inquérito, envia-o ao juiz das garantias. Havendo as 
condições, o oferecimento da denúncia é uma mera faculdade ou um dever 
inerente à funcionalidade do MP? Claro que o exercício de uma ação penal 
pública materializa a proteção da sociedade, por isso o primeiro princípio de 
regência é o princípio da obrigatoriedade. 
a) Princípio da obrigatoriedade 
Conceito: o exercício da ação penal de iniciativa pública é um dever 
funcional inerente à atuação do MP. Então não é uma faculdade, é um dever 
funcional: estando presentes os requisitos legais, o MP está obrigado a patrocinar 
a persecução criminal, ofertando denúncia para que o processo seja iniciado. Não 
cabe ao MP juízo de conveniência ou oportunidade. 
 
3 Art. 26. A ação penal, nas contravenções, será iniciada com o auto de prisão em flagrante ou por 
meio de portaria expedida pela autoridade judiciária ou policial. 
Leonardo David – Processo Penal I – Nestor Távora – T8A 
E esse princípio ele é absoluto? Não. Nós temos algumas mitigações desse 
princípio: princípio da obrigatoriedade mitigada. 
a.2) Princípio da obrigatoriedade mitigada/da discricionariedade regrada 
Na década de 1990, nós instituímos no Brasil a justiça penal do consenso. 
O brasileiro se cansou do conflito da beligerância extrema, instaurando o 
consenso penal. A própria CF/88 idealizou o juizado especial, que tem um 
instituto de consenso que é a transação penal. Ao invés de oferecer a denúncia, 
nas infrações de menor potencial, o promotor pode oferecer ao suposto autor do 
crime uma medida alternativa. Normalmente, prestação de serviços à 
comunidade ou pagamento de multa. Se isso acontecer e o suposto autor do 
crime aceitar a medida alternativa, por consequência esse acordo será 
homologado pelo juiz e se ele for integralmente adimplido, ocorrerá a extinção 
da punibilidade, ou seja, não haverá a deflagração do processo regular para as 
infrações de menor potencial ofensivo. Então nasceu ali uma justiça penal do 
consenso, ainda muito tímida porque aplicada às infrações de menor potencial 
ofensivo. 
Agora com o pacote anticrime temos o maior exemplo da justiça penal do 
consenso no Brasil: o acordo de não persecução penal (art. 28-A, CPP). Isso 
significa que para crimes com pena mínima menor do que quatro anos e 
praticados sem violência ou grave ameaça, quando o promotor recebe o 
inquérito, ele está autorizado a oferecer ao suposto autor do crime

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