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Os CONDENADOS da PANDEMIA - Michele Sato

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Prévia do material em texto

Giselly Rodrigues N. S. Gomes
Irineu Tamaio 
Jessica P. Trujillo Souza
Kathy de Freitas M. dos Reis
Marilena Loureiro da Silva
Priscilla Mona de Amorim
Raquel Batista Ramos
Regina Aparecida Silva 
Roberta Moraes Simione 
Romário Custódio Jales 
Ronaldo E. Feitoza Senra
Tatiani do Carmo Nardi 
Thiago Cury Luiz
Vitor Maciel Mello 
Michèle Sato 
Aleth da Graça Amorim
Aluízio de Azevedo Silva Jr
Barbara Yadira Mellado-Perez
Carlos Roberto Ferreira
Cássia F. dos Santos Souza
Celso Sánchez
Cristiane C. de Almeida Soares
Débora Erileia Pedrotti
Déborah L. Moreira S. Santos
Denize A. Rodrigues Amorim
Elni Elisa Willms
Eronaldo Assunção Valles
Flavia Lopes Bertier
Giseli Dalla-Nora 
OS CONDENADOS DA PANDEMIA
Michèle Sato 
(Coord.)
CNPq-FAPEMAT
Banksy
Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte – GPEA
Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT
Rede Internacional de Educação Ambiental e Justiça Climática - REAJA
CNPq- Fapemat
Editora Sustentável
Os condenados da pandemia (livro eletrônico) / 
Michèle Sato (Coord.) e vários autores
Cuiabá, MT: GPEA-UFMT | PDF, 157 p. il.
Vários autores.
ISBN 978-65-00-03844-6
1.Coronavírus (COVID-19) – Epidemiologia 2. Desigualdade social 3. Grupos sociais. 4. Meio 
ambiente – aspectos sociais 5. Periferia – Brasil – Condições sociais I. Sato, Michèle
20-37282
CDD-305.5
Michèle Sato 
Aleth da Graça Amorim
Aluízio de Azevedo Silva Jr
Barbara Yadira Mellado-Perez
Carlos Roberto Ferreira
Cássia F. dos Santos Souza
Celso Sánchez
Cristiane C. de Almeida Soares
Débora Erileia Pedrotti
Déborah L. Moreira S. Santos
Denize A. Rodrigues Amorim
Elni Elisa Willms
Eronaldo Assunção Valles
Flavia Lopes Bertier
Giseli Dalla-Nora 
Giselly Rodrigues N. S. Gomes
Irineu Tamaio 
Jessica P. Trujillo Souza
Kathy de Freitas M. dos Reis
Marilena Loureiro da Silva
Priscilla Mona de Amorim
Raquel Batista Ramos
Regina Aparecida Silva 
Roberta Moraes Simione 
Romário Custódio Jales 
Ronaldo E. Feitoza Senra
Tatiani do Carmo Nardi 
Thiago Cury Luiz
Vitor Maciel Mello 
COMITÊ DE LEITURA (Observare)
Angélica Cosenza, UFJF
Fátima Marcomin, UNISUL
Marco Barzano, UEFS
Mauro Guimarães, UFRRJ
Philippe Layargues, UnB
Figueiredo
Cuiabá: 2020
GPEA-UFMT & Ed. Sustentável
OS CONDENADOS DA PANDEMIA
Capa e colaboradoras de imagens: 
Cristiane Almeida Soares e Roberta Simione
Arte gráfica: Michèle Sato
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Índices para catálogo sistemático:
1. Coronavírus: COVID-19 : Grupos sociais : Desigualdade social : Sociologia 305.5
Cibele Maria Dias – Bibliotecária – CRB-8/9427
RESUMO
Buscamos oferecer um breve panorama de 22 grupos sociais em 
situação de vulnerabilidade, denunciando que há um falso discurso 
sobre a “democracia” do coronavírus, na afirmação de que é um 
vírus que atinge todos, sem distinção de classes. É um erro porque 
se o contágio for universal, as mortes são localizadas. Na 
cartografia das desigualdades, a Covid-19 mata principalmente os 
que habitam a geografia da fome.
Palavras-chave: Pandemia. Grupos expostos. Emergência climática. Educação 
ambiental.
Tudo
será difícil de dizer:
a palavra real
nunca é suave.
Não há piedade nos signos
e nem o amor: o ser
é excessivamente lúcido
e a palavra é densa e nos fere.
~ Orides Fontela
Toda palavra é crueldade
Transpiração, 1969
ABSTRACT
We aim to give a brief overview of 22 social groups in situations of 
vulnerability, denouncing that there is a false discourse about the 
“democracy” of the coronavirus, in the affirmation that it is a 
virus that affects everyone, regardless of class. It is a mistake, 
because if the contagion is universal, the deaths are localized. In 
mapping inequalities, Covid-19 mainly kills the inhabitants of 
geography of hunger.
Keywords: Pandemic. Exposed groups. Climate emergency. Environmental 
education.
(4) 
Ciganos 
andarilhos: 
tolhidos para 
confinamento
(3) 
Ser idoso em tempos 
de pandemia do 
coronavirus
(2) 
Crueldades duplas: 
Covid-19 e a violência 
contra as mulheres e 
meninas
30 38 46
54 60 70 76 82 88 94 98 102
108 112 116 120 124 128 132 136
8
Cthulhuceno: esperanças 
nas ruínas do capitalismo 
(1) 
Crianças em risco 
na pandemia 
Covid – 19
(5) 
Como ficam os 
indígenas em 
meio aos sóis 
da Amaral?
(7)
“Você ainda está 
em análise”: a 
população negra 
e o coronavírus!
(8)
Florestas: 
povos, grupos, 
comunidades e 
trabalhadores 
de esperanças
(9) 
Quando as 
cores se 
tingem de 
sangue 
(10)
Covid 19: um 
triste olhar 
sobre os 
migrantes 
climáticos
(11) 
Os condenados 
da cidade: 
população em 
situação de rua
(12) 
Covid-19 e o 
vírus que avança 
pela periferia 
urbana
(13)
Pessoas com 
deficiência (PcD) e 
a ausência de 
orientações 
adequadas
(14) 
Precarização 
do trabalho, 
da saúde e da 
vida digna 
(20) 
Em tempos de 
Covid, de onde 
vem nosso 
alimento?
(16)
Trabalhadores dos 
supermercados na 
garantia do 
alimento de todos
(18) 
Catadores de 
esperanças: 
reciclando 
possibilidades
(19) 
No bem-estar das 
nossas casas, 
trabalhadores 
que não podem 
“ficar em casa”
(21) 
Transportes e 
riscos coletivos 
e individuais
(22) 
Janelas 
balaustradas 
de farrapos 
humanos
(15) 
Valores 
imateriais das 
profissionais 
da saúde
140(17) 
Entregadores 
de sonhos: 
recebedores de 
solidão
GRUPOS FAMILIARES
GRUPOS IDENTITÁRIOS
GRUPOS TRABALHADORES
66(6) 
Quilombolas e as 
precárias 
condições de 
saúde no 
enfrentamento à 
Covid-19.
Autoras
& Autores
144
CTHULHUCENO: 
esperanças nas ruínas 
do capitalismo 
Michèle Sato
11
Condenamos, com o coração aflito, esses 
irmãos que são jogados à ação com a 
brutalidade quase psicológica que faz 
nascer e manter uma opressão secular 
(Frantz Fanon).
Abrimos a apresentação deste 
Caderno de Balbúrdia – “Os 
condenados da Pandemia”, 
reconhecendo intensamente viva a 
obra de Frantz Fanon (2004-original 
de 1961), “Os condenados da 
Terra”, que buscou compreender a 
condição pós-colonial sob a 
reinvenção de um pensamento entre 
centro e periferias, numa cartografia 
que rompesse com as visões 
binárias entre metrópoles e colônias. 
O título se refere à parte inicial do 
hino francês “A Internacional”, e 
Fanon ajuíza sobre a divisão de 
raças e as violências geradas entre o 
colonizador e o colonizado. 
As autoras e os autores deste Caderno de 
Balbúrdia acreditam que o período de 
pandemia explicita claramente o abismo 
socioeconômico entre os habitantes deste 
planeta. São centros e periferias que se 
chocam injustamente em atendimento 
médico, disposição de leitos, acesso dos 
remédios e ausência da formação 
educativa que consiga demonstrar o 
perigo da pandemia. 
10 11
Somos do Grupo Pesquisador em 
Educação Ambiental, Comunicação e 
Arte (GPEA) da Universidade Federal de 
Mato Grosso (UFMT), em parceria com 
5 países e 17 entidades governamentais 
e não governamentais, sendo que as 
universidades representam a maioria 
do Brasil, México, Cuba, Portugal e 
Espanha. Juntos, compomos a Rede 
Internacional de Pesquisa em Justiça 
Climática e Educação Ambiental 
(REAJA), com financiamento do 
Conselho Nacional de Desenvolvimento 
Científico e Tecnológico (CNPq - 2014-
16) e da Fundação de Amparo à 
Pesquisa do Estado de Mato Grosso 
(Fapemat - 2016-20).
Temos ciência de que a Covid-19 
(COronaVIrus Disease) é 
consequência das ações capitalistas, 
que destruíram a natureza e 
libertaram vírus que viviam em seus 
hospedeiros. Não é o coronavírus, 
nem o morcego ferradura e nem o 
pangolim que são os vilões desta 
pandemia, mas a interferência 
humana na natureza, destruindo 
ambientes, comercializando animais 
de forma cruel e libertando os vírus 
para além de seus hospedeiros diretos 
ou intermediários.
Igualmente, recusamos a acreditar que 
seja um coronavírus “socialista ou 
democrata” por contaminar todos sem 
distinção de classe, raça ou credo. Sua 
forma de contágio pode ter uma 
cartografia universal,contudo, o índice 
de mortes é violentamente maior nas 
periferias, e expressa, novamente, a 
geografia da fome. Democracia só 
existe quando as condições de acesso 
médico forem iguais, quando os 
trabalhadores conseguirem comprar 
seus remédios, ou quando as máscaras 
forem de preços acessíveis a toda 
população. 
Frantz Fanon em Accra (Gana), em 1958 
(Foto: African American Intellectual
History Society).
12 13
Essencialmente, os governantes carecem de valorizar a manutenção do Sistema 
Único de Saúde (SUS), na advocacia da saúde pública de excelência para todos 
os cidadãos. É preciso criar um tempo e espaço diferente de brasilidade. É preciso 
criar uma era de soberania popular para garantir a JUSTIÇA PANDÊMICA, 
climática ou socioambiental. A Covid-19 é uma força que enfraquece a Terra, 
mas o pior talvez esteja ainda por vir, nos desastres avassaladores da crise 
climática.
Primeiro 
round Patrick Chappatte
Climate Home News
Paul Crutzen (2002) intitulou o atual período geológico de “Antropoceno (Era do 
Humano)”, demarcado pelo crescimento acelerado das indústrias nas cidades, e 
pela pesada mecanização da agricultura no campo, com altíssimo consumo de 
energia e consequente liberação dos Gases de Efeito Estufa (GEE) – que NÃO se 
resumem somente em dióxido de carbono (CO2). Estas atividades geraram a crise 
climática e alguns autores alegam que a interferência humana no ambiente 
varia de humano para humano, conforme a atividade mercadológica 
empreendida pelo capital (MOORE, 2016).
Após o Antropoceno, diversos 
artigos científicos desfilam com 
diferentes propostas e contextos, 
como Capitaloceno, Plantioceno, 
Naftaloceno, Ginoceno, 
Cosmoceno, Ecoceno ou Necroceno, 
entre outras denominações. São 
tantas designações, que Clark 
(2019) resolveu inventar o 
“Idiotaceno”, uma era de eleições de 
pessoas incompetentes e ecocidas. 
A publicação no site do Instituto 
Interdisciplinar de Pesquisa no 
Antropoceno traz a fotografia do 
Donald Trump como ilustração 
deste período geológico.
Entretanto, interessa-nos bastante os 
discursos de Donna Haraway (2015; 
2016), que abrange o debate 
feminista questionando o termo 
masculino “Homem – Antropo”. Por 
meio do Cthulhuceno, ela também 
combate o capitalismo, o racismo, o 
colonialismo e promove a união da 
natureza e cultura, no convite ético de 
considerar a vida selvagem próxima 
às vidas humanas, como preconiza 
Gudynas (2019), em suas 
proposições biocêntricas e de direitos 
éticos da natureza.
Cthulhu and Lovecraft
By Michael Wolf
Crise climática
14 15
Haraway (2016) associa uma aranha de 8 patas (Pimoa cthulhu) com a 
criatura dos abissais, Cthulhu, criado em 1934 por Harold Lovecraft (2017): 
um ser cósmico, gigante e mortalmente poderoso que dorme nas profundezas 
do Pacífico, sendo metade polvo (8 tentáculos), e metade dragão (muito 
presente nos jogos atuais e com enorme presença nos filmes de terror). 
Não se trata de adicionar uma personagem apocalíptica nas equações dos 
desastres, mas de valorizar os invertebrados (97% da biodiversidade), nos 
diálogos com outros saberes literários ou mitológicos. Haraway (2015), 
clama para construir uma nova era geológica intitulada Cthulhuceno, como 
proposta para se viver nas ruínas do capitalismo, com mais cuidado com os 
animais, menos episódios racistas, finalização dos ideários colonizadores e 
mais dignidade nas relações de gênero. Em palavras abreviadas, o 
essencial da era Cthulhuceno é tornar visíveis as inúmeras 
existências invisibilizadas. 
É este também nosso objetivo, já que o contágio da Covid-19 pode ser 
universalizado, contudo, os índices de mortes são muito maiores nos 
subúrbios. Boaventura Santos (2020) lembrou de 8 grupos mais atingidos 
pela pandemia: 1) Mulheres; 2) Trabalhadores precários (ou desempregados); 
3) Trabalhadores de rua; 4) Populações de rua; 5) Moradores da periferia; 6) 
Refugiados e deslocados; 7) Deficientes e 8) Idosos.
A) GRUPOS FAMILIARES: crianças (1), mulheres 
(2) e idosos (3).
B) GRUPOS IDENTITÁRIOS: ciganos (4), 
indígenas (5), quilombolas (6), negras e 
negros (7), povos da floresta (8), Lésbicas, 
Gays, Bissexuais, Travestis e demais (LGBT+) 
(9), migrantes (10), pessoas em situação de 
rua (11), moradores da periferia e favelas (12); 
além das Pessoas com Deficiência (PcD) (13).
C) GRUPOS TRABALHADORES: desempregados 
(14), trabalhadores da saúde (15), de 
supermercados (16), entregadores (17), gari e 
catadores (18), trabalhadores dos 
condomínios (19), trabalhadores do campo 
(20), motoristas e passageiros (21), além dos 
agentes de segurança e presidiários (22). 
Nesta obra, tratamos de 22 grupos sociais em situações de riscos, e estamos 
cientes de que podemos estender esta lista, incluindo grupos como os 
frentistas de postos, empregadas domésticas ou bombeiros, entre outros. 
No limite de nossa contribuição, e para efeito didático, dividimos os 22 
coletivos em 3 grandes seções: 
16 17
Não foi nossa intenção registrar números de contágios, mortes ou quadros 
que rapidamente oscilam num momento de pandemia. Nossa meta foi 
evidenciar os grupos de maneira breve, mas incisiva em teimar pelas suas 
existências, suas dores e ser uma espécie de lanterna no túnel escuro, 
mostrando os contornos de corpos que estão invisibilizadas pelo sistema 
excludente.
Algumas vezes são grupos que não 
conseguem se defender das 
violências verbais, físicas ou 
sexuais, sofrendo diversos tipos de 
agressões e abusos. Outras vezes 
são grupos étnicos, cujas dimensões 
culturais se chocam violentamente 
contra as orientações oficiais 
brancas, hegemônicas e 
capitalistas. Na maioria das vezes, 
são pessoas economicamente 
desfavorecidas, em situação de 
vulnerabilidade, que não possuem o 
direito de “Ficar em Casa”, não têm 
facilidade para acessar água limpa 
e sabão, e muito menos comprar 
uma máscara para minimizar o 
contágio. Vivem ainda em colônias 
escravocratas, muitas vezes sob o 
chicote do patrão, ou exercem 
aquilo que chamamos de “serviços 
essenciais”. 
A capa desta obra foi 
desenhada pela Cristiane C. 
Almeida Soares e Roberta 
Simione, retratando uma 
situação real de uma política 
fascista contaminada pelo 
coronavírus, com um 
bozoniano de verde amarelo 
usando seu tempo de 
isolamento social no fitness, na 
direção oposta ao entregador 
negro, que tem a sua bike 
lotada de caixas e produtos 
para entrega. O muro branco 
lembra o disco do Pink Floyd 
(The Wall), e a música “Hey 
you”, parece ressoar neste 
parágrafo, cujo trecho merece 
ser destacado:
“Hey you, 
do not help them
to bury the light! 
Do not give in without a fight!” 
(Ei você, 
não os ajude 
a enterrar a luz! 
Não desista sem lutar!).
Pink 
Floyd
The
WALL
Michelle Blues
18 19
Toda situação é observada pelo Cthulhu, e 
de tempos em tempos, ele surgirá nas 
páginas da obra, no convite reflexivo de 
construir uma nova era, pois o que estava 
antes não pode ser considerado “normal”, 
já que foi o período que mais promoveu 
as desigualdades e os preconceitos, além 
da destruição de animais silvestres, 
florestas, matas, rios, oceanos e ares, 
gerando uma crise sem precedentes. 
O cenário político é um verdadeiro 
coquetel de desigualdades explosivas 
(LATOUR, 2018), com 
desregulamentação da governança e a 
conversão do sonho da globalização em 
pesadelo. A única maneira de 
sobrevivência, para a minoria dos ricos, 
é não compartilhar o futuro com a 
maioria pobre. Disso decorre o maciço 
investimento ao negacionismo da crise 
climática e o absurdo da Terra plana. 
Insatisfeitos com os ideários da 
Modernidade, aumentam a proteção das 
bordas de países com preconceitos 
étnicos ou dos fluxos migratórios, 
crescendo a xenofobia de maneira 
neonazista.
Estamos vivendo uma guerra e as pessoas 
nem sequer sabem! Estamos diante do 
colapso planetário que demarca o caos 
civilizatório! No panorama das disputas 
de podres poderes, Andrew Korybko
(2018) denuncia que a Guerra Híbrida é a 
combinação entre as revoluções coloridas 
e as guerrasnão convencionais. 
O termo “colorido” está relacionado com 
diversos movimentos do início da década 
dos anos 2000, que tiveram origem na 
Rússia e China. São revoluções não-
violentas de “pretensa” resistência, como 
greve, protestos ou manifestações de 
pressão. Tais movimentos adotaram cores 
ou símbolos que se evidenciaram como a 
revolução rósea da Georgia (2003), a 
revolução laranja da Ucrânia (2004), ou a 
revolução azul do Kuwait (2005), entre 
outros exemplos.Observatório da evangelização
https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/
20 21
A guerra híbrida é uma estratégia de 
guerra que mescla vários meios –
artilharias conhecidas e também as 
irregulares e não consagrados, como 
protestos, redes sociais ou hackers. 
Há um estudo intenso sobre 
psicologia e semiótica nas redes 
sociais, visando criar mecanismos 
para desestabilizar alguma política 
com fakenews, provocando 
insegurança nas informações, 
escandalizando a imagem, semeando 
as mentiras, fomentando as 
agressões das palavras, provocando 
contradições ou frases abstratas para 
confundir, chocar ou incendiar uma 
situação de conflito. Uma outra fase 
mais agressiva tem uso das armas 
convencionais, e se caracteriza como 
um “golpe rígido” (Ibidem, p. 10), 
usando forças insurgentes como as 
guerrilhas, as milícias, a diplomacia, 
o cyberwar, golpes ou terrorismos 
bastante presentes no Brasil atual, 
como o assassinato da Marielle!
Se estamos aprendendo a realizar 
diversos tipos de guerras, é bom 
deixar eloquente de que a crise 
climática e a pandemia do 
coronavírus não são fenômenos 
naturais, mas são antropogênicos, 
com fortes intervenções humanas no 
planeta. Por isso, o negacionismo e a 
Terra plana são estratégias da guerra 
híbrida para confundir e gerar 
incertezas sobre a emergência 
climática. No Brasil, a reunião 
pública do governo federal (maio 
2020), com seus ministros, revelou 
uma mórbida necropolítica da 
natureza e do genocídio Covid-19, 
que Ritchie e outros (2020) projetam 
estudos de previsão de mortes com 
números assustadores no Brasil.
Anônimo – analfabeto político
https://www.facebook.com/pg/analfapolitico/about/?ref=page_internal
22 23
O Observatório do Clima (2020) alerta 
que houve redução da emissão dos 
gases estufa na ordem de 6% em todo o 
mundo. Fruto da baixa poluição e 
isolamento social, diversos vídeos são 
compartilhados nas redes sociais, com 
os animais invadindo as cidades. 
Contudo, na contramão do processo, o 
Sistema de Estimativas de Emissões de 
Gases de Efeito Estufa acusa que as 
taxas do Brasil aumentaram entre 10% 
e 20% em razão do desmatamento na 
Amazônia, o que desvia e fere 
brutalmente a Política Nacional de 
Mudança do Clima.
Os filmes e as animações de distopia 
sobre o futuro abordam o ser humano 
vivendo de maneira primitiva. Para 
Watson (2019), é imprescindível 
vivermos de maneira simples, e ela 
oferece outras propostas de se viver 
com baixa tecnologia e muito 
indigenismo. Publicações de como 
fazer pontes, casas, hortas e pequeno 
manual de sobrevivência começam a 
surgir nas ofertas das livrarias.
Marques (2020) apresenta bons 
argumentos na hipótese de que a 
próxima pandemia poderá ser 
originada por alguma zoonose da 
Amazônia. É provável que as 
máscaras sejam um novo perfil social 
que integrará a cultura da 
humanidade. Alguns realistas demais 
(talvez pessimistas) já condenaram a 
Terra, buscando alternativas que 
possam conduzir o humano a 
continuar sua jornada em outro 
planeta. 
A depressão vai vagando nos labirintos 
existenciais, mas a esperança ainda busca 
energia para não sucumbir entre uma 
pandemia que mata rápido, e um 
fascismo que vai matando aos poucos por 
meio de torturas da atual política federal. 
Entretanto, não estamos cristalizados, e 
cada qual faz o melhor de si. Uns 
realizam pesquisas científicas, outros 
escrevem poesia. Uns escrevem livros, 
outros pintam cenários. Uma mão borda, 
a outra segura um doente no hospital. 
Uma lágrima escorre e, por vezes, o 
desespero chega doloroso. 
Tarsila do Amaral
antropofagia
24 25
Sempre será um desafio, e sempre será uma oportunidade para 
lembrar da travessia entre os moinhos de vento para que Quixote não 
abandone seus sonhos. Da teimosia de Luther King por exigir seus 
sonhos, HOJE! Do afinco do empate de Chico Mendes para combater a 
noção de propriedade da natureza. Da libertação contra o opressor nas 
aprendizagens mãos dadas com Paulo Freire. E no anoitecer da luta, 
depois de engolir a seco as violências de um dia, será preciso dominar 
a dor para alvorecer e tentar de novo. E se não der certo, tentar outro 
meio. E de novo. E sempre!
A arte de esculpir uma nova humanidade talvez esteja longe de ser 
concretizada, mas várias lições podem ser aprendidas quando a morte 
se avizinha tão rapidamente. Quando o Estado se ausenta, as favelas 
se organizam, pois os coletivos unem forças para que nunca percamos 
a marca essencial da existência humana: a esperança. 
Banksy
26 27
REFERÊNCIAS
CLARK, John. Welcome to the Idiocene. Institute for Interdisciplinary Research into the 
Anthropocene, 10/07/2019. Retrieved on 20/05/2020 
<https://iiraorg.com/2019/07/10/welcome-to-the-idiocene/>
CRUTZEN, Paul. Geology of mankind. Nature, v. 415, p. 23, january, 2002.
FANON, Frantz. The wretched of the Earth. New York: Grove Press, 2004 [first published on 
1963].
GUDYNAS, Eduardo. Direitos da Natureza - ética biocêntrica e políticas ambientais. Trad. 
Igor Ojedas. São Paulo: Elefante, 2019.
HARAWAY, Donna. Anthropocene, Capitalocene, Plantionocene, Cthulhucene: making kin. 
Environmental humanities, v. 6, p.159-165, 2015. Retrieved on 17/07/2017 
[https://environmentalhumanities.org/arch/vol6/6.7.pdf].
HARAWAY, Donna. Staying with the trouble - making kin in our Cthulhucene. London & 
Durham: Duke University Press, 2016.
KORYBKO, Andrew. Guerras híbridas - das revoluções coloridas aos golpes. Trad. de Thyago
Antunes. São Paulo: Expressão Popular, 2018. 
LATOUR, Bruno. Down to Earth - Politics in the new climate regime. Cambridge: Polity Press, 
2018.
LOVECRAFT, Harold. Medo clássico v. 1. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2017.
MARQUES, Luiz, Serão as pandemias gestadas na Amazônia? Instituto Humanitas
Unisinos, em 15/05/20 – Acesso in 22/05/20 [http://www.ihu.unisinos.br/598974-serao-
as-proximas-pandemias-gestadas-na-amazonia-analise-de-luiz-marques]
MOORE, Jason (Ed.). Anthropocene or Capitalocene? Oakland: PM Press, 2016.
OBSERVATÓRIO do Clima. Brasil contraria tendência global e pode ter alta em emissões 
na pandemia 21/05/2020. Acesso em 21/05/2020 
[http://www.observatoriodoclima.eco.br/brasil-contraria-tendencia-global-e-pode-ter-alta-
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RITCHIE, Hanna et al. Coronavirus pandemic (Covid-19) in Brazil. Our World in Data, May 
23th, 2020. Retrieved on May 23th, 2020 [https://ourworldindata.org/coronavirus-
brazil?country=BRA].
SANTOS, Boaventura S. A Cruel Pedagogia do Vírus. Coimbra: Almedina, 2020.
WATSON, Julia. Lo-Tek design by radical indigenism. Cologne: Taschen, 2019.
GRUPOS
FAMILIARES
Modigliani
30 31
No atual cenário pandêmico, as crianças merecem 
nossa total atenção, pois como anuncia Guimarães 
Rosa (2010) na epígrafe, elas quase nunca sabem 
das ameaças e por isso ficam mais expostas, tanto 
pela Covid-19, como pelas agressões dos adultos:
...Miguilim não sabia, 
Miguilim quase nunca sabia 
as coisas das pessoas grandes. 
~ Guimarães Rosa [Campo Geral] 
(1) https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/criancas-na-pandemia-pais-
devem-explicar-a-doenca-e-ficar-atentos-aos-pequenos-em-casa/ Acesso em 
09/05/2020
O boletim mais recente [maio] da Secretaria 
Estadual de Saúde do Rio de Janeiro já 
contabiliza 23 crianças de 0 a 10 anos 
contaminadas pelo novo coronavírus, no 
entanto, segundo os especialistas, essa faixa 
etária sofre menos com os sintomas da 
doença (1).
Damaris Martins
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A presidente do Departamento 
Científico de Adolescência da SBP, Dra. 
Alda ElizabethAzevedo esclarece que:
Devemos sempre dizer 
abertamente ao paciente 
infantil que ele é dono do seu 
corpo e explicar que ninguém 
pode tocá-lo sem autorização. 
Além disso, esclarecer quais 
são os limites do carinho e 
ajuda, até mesmo com os 
cuidados de limpeza e saúde. 
(AZEVEDO, 2018).
A promoção dessa autonomia no 
indivíduo desde pequeno é fundamental, 
pois na maior parte dos casos, as 
violações de direitos acontecem no âmbito 
familiar, por aqueles que deveriam zelar e 
garantir a segurança das crianças e 
adolescentes. Infelizmente, o agressor 
próximo dificulta a detecção e a 
visibilidade do abuso.
Mais uma razão por que precisam ser 
protegidas como garante o Art. 227 
da Constituição Federal de 1988 
(BRASIL, 1988), e assegurado no Art. 
4º do Estatuto da Criança e do 
Adolescente que aponta:
É dever da família, da sociedade e 
do Estado assegurar à criança, ao 
adolescente e ao jovem, com 
absoluta prioridade, o direito à 
vida, à saúde, à alimentação, à 
educação, ao lazer, à 
profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade 
e à convivência familiar e 
comunitária, além de colocá-los a 
salvo de toda forma de 
negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e 
opressão(BRASIL, 1990).
Pediatras e professores ocupam uma 
posição privilegiada para perceber, 
reconhecer e denunciar ameaças usadas 
contra as crianças. 
Devemos estar atentos para evitar 
violências que podem provocar danos 
com repercussões negativas para a 
vida e saúde física e emocional dos 
pequenos.
Se suspeitarmos de negligência, 
violência ou exploração é nosso dever 
entrar em contato com o Disque 100. 
É gratuito e não precisa identificar-se. 
Segundo a Sociedade Brasileira de 
Pediatria (SBP) ao percebermos os 
sinais a seguir devemos estar 
atentos: lesões ou comportamentos 
atípicos; medo por pessoa, mudança 
brusca de comportamento, atitudes 
violentas, fugas repentinas sem 
motivo aparente. Saber reconhecer 
esses indicadores é parte 
fundamental da assistência que um 
adulto pode oferecer a uma criança 
que sofre algum tipo de violência.
Embora todos os dias sejam importantes 
para proteger uma criança, o dia 18 de 
maio é considerado o Dia Nacional de 
Combate ao Abuso e Exploração Sexual 
Contra Crianças e Adolescentes.
34 35
Listamos alguns materiais produzidos recentemente com orientações para 
cuidar e proteger as crianças:
Cartilha com orientações da FIOCRUZ para dar subsídios aos adultos que 
cuidam e educam crianças (1).
Como falar sobre o Coronavírus com as crianças? Livro Pequenos cientistas: 
mundo invisível (2).
Coronavírus: vamos nos proteger. Material acessível às crianças, produzido 
pela secretaria de saúde do governo federal (3).
As colunas diárias do psicólogo e educador português Eduardo Sá trazem 
importantes contribuições para adultos e educadores. Conferir alguns dos 
textos nesse Blog do autor https://www.eduardosa.com/blog/a-escola-
toda/as-crian%C3%A7as-com-m%C3%A1scara-ser%C3%A3o-as-mesmas-de-
todos-os-dias/
“El estado emocional de las/os niñas/os y adolescentes a más de 
unmesdelaislamiento social, preventivo y obligatorio”. Material produzido na 
Argentina pode ajudar adultos e educadores a bem guiar as crianças neste 
tempo de pandemia (4).. 
(1). https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/wp-content/uploads/2020/05/crianc%cc%a7as_pandemia.pdf
Acesso em 08/05/2020
(2).http://www.ensp.fiocruz.br/portalensp/informe/site/arquivos/anexos/3215a7cc0290409c2e269c019856
66f97fa3f3fb.PDF Acesso em 09/05/2020
(3). https://www.saude.gov.br/images/pdf/2020/April/06/Cartilha--Crian--as-Coronavirus.pdf Acesso em 
09/05/2020
(4). https://www.sap.org.ar/uploads/archivos/general/files_estado-emocional-cuarentena-present-04-
20_1588036236.pdf
Candido Portinari
Meninos brincando
36 37
PARA SABER MAIS
FIOCRUZ - Crianças na pandemia Covid – 19. Disponível 
em<https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/wp-
content/uploads/2020/05/crianc%cc%a7as_pandemia.pdf> Acesso em 08 maio 2020.
Sociedade Brasileira de Pediatria - Crianças na pandemia. Pais devem explicar a doença e 
ficar atentos aos pequenos. Disponível 
em:<https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/criancas-na-pandemia-pais-devem-
explicar-a-doenca-e-ficar-atentos-aos-pequenos-em-casa/> Acesso em 09 maio2020.
UNICEF - Nota técnica: Proteção da Criança durante a Pandemia do Coronavírus. Disponível 
em: <https://www.unicef.org/brazil/media/7561/file> Acesso em 06 maio 2020.
UNICEF - Dicas para proteger crianças e adolescentes da violência em tempos de 
Coronavírus. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/unicef-da-dicas-para-proteger-
criancas-e-adolescentes-da-violencia-em-tempos-de-coronavirus/> Acesso em 06 maio 
2020.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Alda Elizabeth.Pelo enfrentamento ao abuso e à exploração sexual, SBP 
divulga orientações aos pediatras. Sociedade Brasileira de Pediatria. 8/05/2018. 
Disponível em https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/pelo-enfrentamento-
ao-abuso-e-a-exploracao-sexual-sbp-divulga-orientacoes-aos-pediatras/Acesso em 
09/05/2020
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, 
promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> Acesso em 06 
maio 2020.
BRASIL. Lei Federal n. 8.609, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do 
adolescente. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm> 
Acesso em 06 maio2020.
ROSA, João Guimarães. Corpo de baile. Volume I. 3.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 
2010. 
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A violência contra mulheres e meninas aumentou 
consideravelmente devido ao isolamento social, medida 
preventiva adotada na maioria dos países para conter o avanço 
do contágio da Covid- 19 (NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL, 2020a). 
A violência contra pessoas do sexo feminino não é um fenômeno 
social extraordinário, pelo contrário, é tão corriqueiro, 
permanente e danoso à sociedade que também é considerada 
pela Organização das Nações Unidas como uma pandemia 
(NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL, 2014). 
Em tempos de angústia causada pela possibilidade da morte e de 
ansiedade provocada pela insegurança financeira, os alvos da 
violência doméstica continuam sendo mulheres e meninas isoladas 
em casa com seus parceiros e parentes, como sempre têm sido na 
sociedade brasileira (VIEIRA e GARCIA, 202O; MATOS e PARADIS, 
2014). Elas têm a vida duplamente ameaçada: uma pela Covid-19; 
e a outra, social quase patologicamente existente ao lume de 
todos, com penalidades ainda nas sombras. 
Sweta Prasad
Seleção de algumas manchetes sobre a violência contra as mulheres (por Denize Amorim, 2020)
40 41
42 43
Assim a crueldade contra as mulheres 
nestes tempos de Covid 19 é 
denominada de “pandemia das 
sombras” (NAÇÕES UNIDAS DO 
BRASIL, 2020b). Uma causada pelo 
vírus invisível e a outra invisibilizada 
pelo patriarcado. Nas últimas décadas 
destacam-se duas ações jurídicas e de 
segurança para conter tal violência:
a) A Lei N°11.340/2006, conhecida 
como “Lei Maria da Penha”, que 
recrudesceu a violência às mulheres 
brancas, mas aumentou a das 
mulheres negras (CERQUEIRA et al, 
2014) - isso se deve a fatores 
interseccionados, destacando o 
patriarcado reinante e a desigualdade 
de renda das mulheres deste grupo em 
relação aos dos demais grupos, 
causada também pelo racismo 
estrutural e sexismo (RIBEIRO, 2016); 
b) A Lei N°13.104/2015, inovação 
jurídica notável, tipifica o crime de 
feminicídio, mas ainda não é 
possível visualizar a diminuição dos 
atos criminosos. Por causa dessa 
dupla ameaça à vida, protocolos 
internacionais estão sendo 
recomendados aos países, mas 
apesar do sofrimento pelo qual 
passa parcela significativa da sua 
população, o governo brasileiro 
mantém-se praticamente inerte 
(ONU BRASIL MULHERES, 2020; 
TOKARSKI e ALVES, 2020). Em Mato 
Grosso, o feminicídio aumentou em 
400% em março, comparado ao 
mesmo mês do ano passado 
(BUENO et ali, 2020). O amplo 
debate e divulgação de casos enúmeros dos dois temas é 
importante para que a sociedade se 
sensibilize e promova, urgentemente, 
ações públicas e cooperadas às 
mulheres e meninas nessa situação 
(BBC News, 2019; CORTEZ, 
MOREIRA e GODOY, 2020). 
A Educação Ambiental compreende que as questões 
socioambientais que tratam das violências e conflitos 
necessitam rapidamente de uma nova postura de aprendizagem 
para esses novos tempos (SATO, 2020). 
Lisa Vollrath
44 45
NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL. Chefe da ONU alerta para aumento da violência doméstica 
durante a pandemia do corona vírus. Nações Unidas Brasil, 2020a. Disponível em: 
https://nacoesunidas.org/chefe-da-onu-alerta-para-aumento-da-violencia-domestica-em-meio-
a-pandemia-do-coronavirus/. Acesso em: 10 maio 2020.
NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL. Artigo: Violência contra mulheres e meninas é pandemia das 
sombras. Nações Unidas do Brasil, 2020b. Disponível em: https://nacoesunidas.org/artigo-
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ONU MULHERES BRASIL. ONU Mulheres faz lista de checagem de ações governamentais para 
inclusão da perspectiva de gênero na resposta aa Covid-19. ONU Mulheres Brasil, 2020. 
Disponível em: www.onumulheres.org.br/noticias/onu-mulheres-faz-lista-de-checagem-de-
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em: 11 maio 2020.
RIBEIRO, Djamila. Feminismo Negro para um Novo Marco Civilizatório. SUR 24, v. 13, n. 24, p. 
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por-djamila-ribeiro.pdf. Acesso em: 11 maio 2020.
SATO, Michèle. O mundo será igual se o ser humano não aprender, alerta pesquisadora para o 
pós-pandemia. Entrevista concedida [telefone] para PNBonline, 10/05/2020. Acesso em 
10/05/2020 <https://www.pnbonline.com.br/geral/mundo-sera-igual-se-o-ser-humano-na-o-
aprender-alerta-pesquisadora-para-o-pa-s-pandemia/65948>
TOKARSKI, Carolina Pereira; ALVES, Iara. Covid-19 e Violência Doméstica: pandemia dupla para 
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11 maio 2020.
VIEIRA, Pâmela Rocha; GARCIA, Leila Posenato; MACIEL, Ethel Leonor Noia. Isolamento social e o 
aumento da violência doméstica: o que isso nos revela? Rev. bras. de Epidemiologia, v. 23, abr. 
2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1980-549720200033. Acesso em: 11 maio 2020.
REFERÊNCIAS CITADAS E CONSULTADAS
BBC News. O estupro não é um ato sexual, é de poder, de dominação', diz Rita Segato, a feminista 
que inspirou 'O estuprador é você'. G1 Notícias, 2019. Disponível em: 
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/12/21/o-estupro-nao-e-um-ato-sexual-e-de-poder-
de-dominacao-diz-rita-segato-a-feminista-que-inspirou-o-estuprador-e-voce.ghtml. Acesso em: 11 
maio 2020.
BUENO, Samira; LIMA, Renato Sérgio de; SOBRAL, Isabela; PIMENTEL, Amanda; FRANCO, Beatriz; 
MARQUES, David; MARTINS, Juliana; NASCIMENTO, Talita (Redação). Violência doméstica 
durante a pandemia de Covid-19. Nota Técnica. Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2020. 
17p. Disponível em: http://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/05/violencia-
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CERQUEIRA, Daniel et al. (ORG). Atlas da Violência no Brasil. Brasília; Rio de Janeiro; São Paulo: 
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2019. Disponível 
em: www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/19/atlas-da-violencia-2019. Acesso em: 11 maio 
2020.
CORTEZ, Rayssa Saidel; MOREIRA, Marina Rago; GODOY, Veridiana Emília. Covid-19, era de crises 
e a luta das mulheres pela vida. Caderno Diálogos Socioambientais na Macrometrópole, Dossiê 
Covid-19, São Paulo, v. esp.; n. 5, p. 50-51, 2020. Disponível em: 
http://pesquisa.ufabc.edu.br/macroamb/wp-content/uploads/2020/05/Di%C3%A1logos-
Socioambientais_Covid-19-5.pdf. Acesso em: 11 maio 2020. 
MATOS, Marlise; PARADIS, Clarisse Goulart. Desafios à despatriarcalização do Estado brasileiro. 
Dossiê: O Gênero da Política: Feminismos, Estado e Eleições. Cadernos pagu, n. 43, p. 57-118, 
jul./dez. 2014. Disponível em: www.scielo.br/pdf/cpa/n43/0104-8333-cpa-43-0057.pdf. Acesso 
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NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL. A violência contra mulheres e meninas se transformou em uma 
pandemia global que deve ser combatida, diz ONU. Nações Unidas, 2014. Disponível em: 
https://nacoesunidas.org/a-violencia-contra-mulheres-e-meninas-se-tranformou-em-uma-
pandemia-global-que-deve-ser-combatida-diz-onu/ Acesso em: 10 maio 2020.
46 47
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A situação da população idosa no Brasil 
é profundamente atravessada pelos 
estereótipos e estigmas que preenchem o 
imaginário social com a ideia de 
decrepitude, da incapacidade e do 
estorvo para as famílias, o que, é muito 
próprio da compreensão ocidental de 
velhice, como o tempo da inutilidade, na 
perspectiva do pensamento utilitário 
próprio da sociedade encapsulada nas 
amarras do capitalismo. 
A convivência com os problemas e as 
desigualdades sociais no Brasil impõe 
aos idosos um conjunto de desafios, que 
vão desde a mera sobrevivência, até a 
busca de respeito a sua condição, e 
escape da lógica da “velhofobia”, 
caracterizada pela imagem do idoso 
como sujeito invisibilizado, algemado a 
sua inutilidade, incapaz de ser percebido 
como portador de diretos e de um lugar 
de fala muito privilegiado pelo acúmulo 
de vivências e de trajetórias de vida. 
Em tempos de Pandemia, como a 
que estamos vivendo neste 2020, a 
condição de maior vulnerabilidade 
os fragiliza ainda mais frente aos 
riscos de contaminação. Até o ano 
de 2018 eram 28 milhões de pessoas 
com mais de 60 anos no Brasil, o 
que equivale a 13% da população do 
país. (PERISSÉ & MARLI, 2019).Salvador Dalípadre
48 49
O envelhecimento natural do organismo,
chamado de imunosenescência, pode
deixar o idoso mais propenso a contrair
doenças e infecções. Dos 70 aos 79 anos,
o risco de a doença evoluir para a morte
é de 8% e, entre as pessoas de 80 a 89
anos, essa proporção chega a 14,8%.
Esclarece Sonia Raboni, médica
infectologista chefe do serviço de
Infectologia do Hospital das Clínicas da
Universidade Federal do Paraná -UFPR.
(MILLÉO & JUSTINO, 2019).
Em entrevista com a senhora Maria
Loureiro, de 81 anos de idade, em
isolamento social na cidade de Belém, no
Pará, observou-se, no entanto, um
contradito à imagem autorizada da
velhice:
“...agora, ainda mais com essa
doença, é como se o idoso fosse um
inválido, alguém que não tem mais
valor pra nada, mas todos estão
enganados, porque tem valor sim!
Um idoso pode fazer muitas coisas,
e coisas que um novo não faz! Eu
não me sinto assim velha não, de
ficar encolhida, sem andar, eu sou
velha na idade, mas na disposição
eu não me sinto velha, nem um
pouquinho. E a gente vai ter que
aguentar esse tempo ruim dessa
doença, com fé e paciência, que
isso vai passar e vai melhorar. Eu
não tenho medo dessa doença!”
Percebemos, pela narrativa promissora desta senhora moradora de
Belém, um vislumbrar de esperança e amorosidade pela vida e pela afirmação
da condição de ser idoso, e ser dono de fala própria e autônoma, dono de
direitos, um apelo à vitalidade e a riqueza desse momento da vida, o que em
tudo contradiz a perspectiva linear e produtivista da sociedade capitalista,
excludente e segregacionista.
Foto: Kalyne Cruz
50 51
REFERÊNCIAS
PERISSÉ, Camille; MARLI, Mônica. Idosos indicam caminhos para uma melhor idade. 
Revista Retratos, Ag. de Notícias IBGE, 19/03/2019. Disponível em:
<https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-
noticias/noticias/24036-idosos-indicam-caminhos-para-uma-melhor-idade
> Acesso em 26/05/2020.
MILLÉO, Amanda; JUSTINO, Adriano. Idosos estão em maior risco para o novo 
coronavírus - Doenças associadas, como diabetes e hipertensão, colaboram para 
colocar os idosos entre o grupo de maior risco para a Covid-19. Gazeta do Povo,Caderno Saúde, 26/05/2019. Disponível em: 
<https://www.semprefamilia.com.br/saude/idosos-vulneraveis-estao-em-maior-
risco-para-coronavirus/>, acesso em 26/05/2020.
Harisson
GRUPOS 
IDENTITÁRIOS
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As crises instauradas pela pandemia impactaram os povos 
ciganos no mundo, no Brasil e em Mato Grosso, principalmente 
as comunidades itinerantes. Muitos acampamentos não 
possuem infraestrutura básica como água, luz, esgoto ou recolha 
de lixo; o que inviabiliza a segurança e as ações de higienização 
recomendadas pelos órgãos e profissionais de saúde.
A pandemia aflorou o racismo histórico já existente contra essas 
populações, que pertencem a três troncos étnicos, os Kalon, os 
Rom e os Sinti. No final de março, autoridades das cidades de 
Cachoeira do Sul (RS), Imbituva (PR) e Dois Vizinhos (PR) 
expulsaram famílias nômades Kalon, sob alegação de que 
seriam vetores do coronavírus; violando direitos humanos e o 
acesso à saúde para todos os povos, garantidos pela Constituição 
Federal de 1988 (AEEC-MT, 2020).
Além disso, as famílias ciganas itinerantes e as que fixaram 
residência – que representam em torno de 80% do total vivendo 
hoje no Brasil – tiveram suas rendas bastante impactadas e 
estão encontrando dificuldades para compra de produtos 
alimentares e de higiene. 
Rodrigo Ribeiro dos Santos Zaiden
Acampamento Nova Canaã – Brasília (DF), 2017
56 57
A maioria dos romani trabalha com o 
comércio informal, como a venda de 
roupas, enxovais, artesanatos, etc.; a 
troca de produtos de segunda mão 
(gambira); a leitura de mãos e de tarot; 
e os trabalhos em circos e parques de 
diversões; atividades suspensas pelas 
medidas de isolamento. Desta forma, 
não possuem acesso à previdência social 
e existe uma parte que sequer tem 
registro de nascimento, o que dificulta o 
acesso a programas como o bolsa 
família ou o auxílio emergencial. 
Por outro lado, as comunidades 
ciganas estão adaptando práticas 
importantes de suas culturas, como as 
festas de casamento e o velório/luto, 
para efetivar a prevenção aa Covid 19. 
Porém, até o momento, os governos 
federal, estaduais e municipais não 
elaboraram políticas específicas para 
assistir as populações ciganas. 
Também não emitiram orientações de 
como acessarão as políticas sociais 
elaboradas para mitigar as crises 
pandêmicas. 
O IBGE não faz a contagem da 
população cigana no censo. O 
governo federal estima que são 500 
mil pessoas (SILVA JÚNIOR, 2018). 
Segundo a Pesquisa de Informações 
Básicas Municipais” (Munic) do 
IBGE, dos 5.570 municípios 
brasileiros, 337 em 22 Estados têm 
acampamento cigano. Destes, 73 
dispõe de área para receber famílias 
nômades. Em MT, a pesquisa 
registrou 15 acampamentos em 
nove municípios. Outras 300 
pessoas ciganas vivem em 
residências, concentrando se nas 
cidades de Cuiabá, Rondonópolis e 
Tangará da Serra (CAVALCANTE; 
COSTA; CUNHA, 2017).
Karen Ferreira
Ciganos Kalon de Tangará da Serra – MT. 2017
58 59
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO ESTADUAL DAS ETNIAS CIGANAS DE MATO GROSSO –
AEEC/MT. Nota Pública: Pesquisadores e Ativistas alertam para racismo 
contra grupos cigano durante a pandemia e cobram plano emergencial.
08 Abril 2020. Disponível em: <https://aeecmt.blogspot.com/2020/04/nota-
publica-pesquisadores-e-ativistas.html>. Acesso em 15 Maio 2020. 
CAVALCANTE, L.; COSTA, E.; CUNHA, J. Acampamentos “ciganos” 2017: os 
desafios da implementação de direitos. REIA – Revista de Estudos e 
Investigações Antropológicas. Recife, ano 4, Vol. Esp. II, 2017, pp. 231-65. 
Disponível em: < 
https://periodicos.ufpe.br/revistas/reia/article/view/236305/29111>. 
Acesso em 28 Março 2018.
SILVA JÚNIOR, A. A. A produção social dos sentidos nos processos 
interculturais de comunicação e saúde: a apropriação das políticas 
públicas de saúde para ciganos no Brasil e em Portugal. Tese (Doutorado) 
- Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, 
Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2018, 622p. Disponível em: 
<https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/33131>. Acesso em 20 Jan. 2020.
Candido Portinari
Mulheres e meninas
60 61
ID
EN
TI
TÁ
RI
OS
Apesar dos 520 nos de 
violência e genocídio, muitos 
povos indígenas ainda 
resistem às investidas ao 
criarem táticas que os 
tornariam protagonistas de 
suas histórias, cultura e 
território, via um movimento 
político de reivindicação do seu 
próprio sol em meio aos vários 
“sóis de Tarsila do Amaral”, 
uma das fortes influências do 
movimento antropofágico, 
que em 1922 já questionava 
sobre as várias “educações”: 
“quem come quem?”. 
Atualmente outro dilema vem 
à tona, como resistir ao 
aumento de contaminação 
pelo vírus Covid-19 em meio a 
cegueira e ignorância alheia? 
Quem vive e quem morre? 
Os povos indígenas de hoje 
vivem em enorme 
vulnerabilidade. A apatia de 
parcela da sociedade e os 
sucessivos ataques vem se 
intensificando 
inacreditavelmente nestes 
dias de pandemia, invasões 
de terras indígenas, 
desmatamento e falta de 
políticas específicas no 
atendimento a saúde 
indígena, expõe que a visão 
que muitos ainda tem desses 
povos, pouco difere da de 
séculos anteriores no cuidado 
e proteção aos indígenas.
62 63
Ao acompanharmos a dinâmica da 
pandemia no Brasil, percebe-se que a 
Covid-19 tem se alastrou rapidamente 
em vários estados e a dinâmica de 
contaminação não poderia deixar de 
expor a riscos letais também 
indígenas. 
Embora na pandemia os números 
oscilem rapidamente, o informativo 
publicado no dia 15 de maio de 2020, 
pela (Coordenação das Organizações 
Indígenas da Amazônia Brasileira, 
2020), mostra que 288 indígenas 
testaram positivo para Covid-19 e, 80 
pessoas já faleceram. Na plataforma 
de monitoramento da doença pelo 
(Instituto Socioambiental, 2020), há 
301 casos confirmados e 19 mortes. 
De acordo com o Instituto 
Socioambiental (ISA) atualmente 896,9 
mil pessoas se declararam indígenas no 
Brasil, conforme dados coletados no 
Censo de 2012 do Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística (IBGE) (Instituto 
Socioambiental, 2020), com uma 
estimativa de pessoas localizadas em 
7.103 localidades indígenas (Agência 
IBGE notícias, 2020).
Diante deste quadro percebermos que 
o genocídio continua, exclusão, 
subnotificação e desassistência de 
saúde aos indígenas, difícil é não se 
incomodar com o neofascismo 
presente na atual Fundação Nacional 
do Índio (Fundação Nacional do 
Índio, 2020). Sob título “Os fatos”, a 
instituição ataca os organismos não-
governamentais e religiosos não 
evangélicos, na contra-mão da 
história, desqualifica os trabalhos 
desenvolvidos em favor da proteção 
das populações indígenas no Brasil.
O que observa nesta alegoria neofascista, dada a inexistência e/ou ineficiência de 
atendimento de saúde às comunidades indígenas (Coordenação das 
Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, 2020), é um projeto de eugenia 
do atual governo em razão de não apresentar políticas efetivas para conter e 
amenizar a pandemia da Covid-19 e mascarar e invisibilizar seus efeitos 
destrutivos junto aos povos indígenas, fato que só tem agravado a 
vulnerabilidade destes grupos. 
Tarsila do Amaral
Neste mote, vale-nos pensar em que sóis e solos haverá os indígenas de prover 
sustento, permanecer no território e manter suas práticas culturais e 
ancestrais? Sendo grandes os desafios (Instituto Socioambiental, 2020), o que 
fica é o esperançar e resistir em prol destas comunidades em conformidade 
como o movimento da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), cuja 
tática de resistência articulou a criação de um comitê - Comitê Nacional pela 
Vida e Memória Indígena, afim promover ações de combate aa Covid-19 
(Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, 2020). 
REFERÊNCIAS
AGENCIA IBGE NOTÍCIAS. Contra Covid-19, IBGE antecipa dados sobre indígenas e 
quilombolas. 24/04/2020. Acesso em: 09/05/2020 
[https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-
noticias/noticias/27487-contra-Covid-19-ibge-antecipa-dados-sobre-indigenas-e-quilombolas]
APIB. Apib organiza comitê para registrar avanço da Covid-19 sobre povos indígenas. 
13/05/2020. Acesso em: 15/05/2020 [http://apib.info/2020/05/13/apib-organiza-
comite-para-registrar-avanco-da-Covid-19-sobre-povos-indigenas/] 
COIAB. Covid-19 e Povos Indígenas na Amazônia Brasileira. Informativo Coaib. 15-05-
2020. Acesso em: 15/05/2020. 
[https://coiab.org.br/conteudo/1589575942855x644577865264529400]
FUNAI. Os fatos. 04/05/2020 Acesso em: 15/05/2020 
[http://funai.gov.br/index.php/comunicacao/noticias/6079-osfatos]
ISA. Covid-19 e os Povos Indígenas. Plataforma de monitoramento da situação indígena na 
pandemia do novo coronavírus (Covid-19) no Brasil. Acesso em: 15/05/2020 
[https://Covid19.socioambiental.org]
ISA. IBGE detalha dados sobre povos indígenas. 14/08/2012. Acesso em: 11/05/2020 
[https://www.socioambiental.org/pt-br/blog/blog-do-monitoramento/ibge-detalha-
dados-sobre-povos-indigenas] 
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Contempla-nos com suas 
composições, Seo Jorge, Ulisses 
Capelleti e Marcelo Fontes (2002) 
(1). A arte musical nos revelando 
as desigualdades raciais nas 
condições de saúde de populações 
negras, onde a saúde pública no 
Brasil tem expressão de agressões 
biológicas, disparidades sociais e 
discriminação étnica.
“A carne mais barata do mercado
é a carne negra. 
Ta ligado que não é fácil, 
né, mano? 
Se liga aí!” 
(1). https://www.youtube.com/watch?v=yktrUMoc1Xw. Acessado: 18 maio 2020.Carlos Roberto Ferreira
Mata Cavalo
A população dos quilombos há 
muito vive em situação de 
vulnerabilidade diante ao 
enfrentamento a todos os tipos de 
saúde. Entre essa população, as 
mulheres são as mais vulneráveis. 
Estão diretamente ligadas às 
tarefas domésticas: lavar, 
cozinhar, realizar a higiene da 
casa, cuidar dos filhos, 
administrarem a manutenção da 
água na residência, que na sua 
maioria, tem serviço de 
saneamento precário.
É justamente essa precariedade na saúde dos 
quilombos que já somam estatística negativa 
no Brasil. “Nos últimos 20 dias, foram 
registradas 17 mortes pela Covid-19 e 63 casos 
confirmados de contágio entre quilombolas”, 
como nos informa a CONAQ – Coordenação 
Nacional de Articulação das Comunidades 
Negras Rurais Quilombolas (2020).
A Covid-19 veio acentuar a situação de 
vulnerabilidade que já existia nos 
quilombos, agregando percentual soberano 
sobre a ausência de uma política que 
atenda a população negra para além do 
SUS – Sistema Único de Saúde, que sempre 
se distanciou dos territórios quilombolas. 
De acordo com a Sociedade Brasileira de 
Medicina de Família e Comunidade, 67% 
dos brasileiros que dependem 
exclusivamente do SUS, são negros, e estes, 
também são maioria dos pacientes 
com diabetes, tuberculose, hipertensão e 
doenças renais crônicas no país - todos 
considerados agravantes para o 
desenvolvimento de quadros mais gravosos 
da Covid-19.
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Michèle Sato
Dança do Congo em Mata Cavalo
De forma sistemática e instituída, os 
quilombos sofrem exclusão, 
morosidade na solução de 
problemas legais, preconceitos não 
apenas étnicos, mas também 
socioeconômicos. No período de 
pandemia, estes problemas se 
intensificam e os quilombolas ficam 
mais expostos, sendo facilmente 
contaminado pelo coronavírus. 
Além disso, muitos não conseguem 
ficar em isolamento social, pois a 
precária condição exige que o 
trabalho seja realizado. 
Os quilombos precisam da garantia 
de solidez em suas estruturas 
domésticas, de saúde, de trabalho, 
de educação para combater a 
qualquer inimigo, sobretudo uma 
pandemia como esta, se houvesse o 
acesso a política púbica. 
REFERÊNCIAS
FREITAS, Daniel Antunes; CABALLERO, 
Antonio Diaz, et al. Saúde e Comunidades 
Quilombolas: uma revisão da literatura. 
Rev. CEFAC; Set-Out; 13(5):937-943, 2011.
Fundação Cultural Palmares. Covid-19 se 
alastra pelos quilombos: 17 mortos e 63 
casos confirmados. CUT. Redação RBA, 
2020. Disponível em: 
https://www.cut.org.br/noticias/Covid-
19-se-alastra-pelos-quilombos-17-
mortos-e-63-casos-confirmados-6ead. 
Acessado em: 18 maio 2020.
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O Brasil é palco de intensas alterações demográficas, sociais, 
econômicas e políticas, refletindo amplamente na realidade social, 
em especial na condição de vida da população negra. Compondo a 
maior parte da população brasileira, os negros têm avançado na 
conquista de seus direitos, mas ainda são muitos os indicadores 
sociais que revelam uma intensa desigualdade racial. 
O título deste texto faz menção à resposta 
recebida por muitos trabalhadores 
informais, autônomos e desempregados 
ao solicitarem o Auxílio Emergencial, 
benefício financeiro cujo objetivo é fornecer 
proteção emergencial no período de 
enfrentamento à crise causada pela 
pandemia do Coronavírus – a síndrome 
respiratória da Covid 19. 
Associamos esta condição de “ainda estar 
em análise” à situação que vive a população 
negra no Brasil, que, excluída, muitas vezes, 
sofre preconceitos e injustiças sociais como 
consequência de uma abolição tardia e 
ineficaz nos aspectos sociais.
Na base da pirâmide social é, em sua 
maioria, a população negra que segue 
garantindo que a vida não pare, fruto de 
um passado colonial que persiste ainda 
hoje. Em seu horizonte, uma sociedade 
sem iniquidades, discriminação, sem 
violência, feminicídios, sem as 
desigualdades de classe social, de 
orientação sexual, de geração ou de 
condição física e mental. Ainda assim, 
continuam em análise.
Ainda que violentamente 
invisibilizada – pois é sufocada 
em um contexto de racismo, a 
população negra coloca à 
disposição da sociedade 
séculos de lutas, de 
pensamento a serviço da ação 
transformadora. 
Face à pandemia da Covid-19 (infecção 
causada pelo novo coronavírus), propomos 
um olhar para mais um destes indicadores 
sociais: pretos e pardos compõem a maioria 
das pessoas mortas por Covid-19 no Brasil, 
segundo os boletins epidemiológicos do 
Ministério da Saúde.
Zumbi
72 73
Devido à desigualdade social que a 
pandemia agora escancara, vemos 
as condições socioeconômicas 
gerarem maior vulnerabilidade em 
saúde, boa parte dessas 
comorbidades é ligada a questões 
sociais, como a falta de 
saneamento básico e agravada 
pelas desigualdades raciais, 
como condições precárias de 
moradia, ou alimentação 
inadequada. Realidade já conhecida 
pelos estudiosos da área, uma vez 
que pretos e pardos, em maioria, 
pertencem às classes econômicas 
mais baixas e com menos assistência 
médica. 
Assim, é possível afirmar que as 
condições econômicas piores 
significam assistência médica pior, 
o que resulta em condições piores 
de atendimento. E o tempo de 
contágio desta doença não permite 
que se intensifiquem ações 
pedagógicas sobre uma Política 
Nacional de Saúde Integral da 
População Negra.
Apresentamos nossa solidariedade a 
todas as vítimas, aproveitamos para 
defender o Sistema Único de Saúde 
(SUS) e reivindicamos medidas de 
apoio à população negra, porque não 
estamos no mesmo barco e, muito 
menos, se pode afirmar que o vírus 
não escolhe raça ou classe social. As 
notícias, narrativas, vivências e 
informações oficiais dão mostras mais 
do que suficientes do racismo 
instituído na sociedade, que se agrava 
absurdamente nos tempos de 
pandemia, abrindo mais o fosso das 
desigualdades e das violações de 
direitos humanos. 
“O futuro só será diferente 
se pensado a partir das filas 
para pegar o benefício da Caixa” 
(Você ainda está em análise)
BRITO, 2020
Junião
https://ponte.org/por-que-o-coronavirus-prejudica-mais-a-populacao-negra/
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REFERÊNCIAS 
BRITO, Gisele. Só o seu mundo parou. Uol Canal Ecoa, 20/05/2020. Coluna 
Opinião. Disponível em: 
https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/opiniao/2020/05/20/so-o-seu-mundo-
parou.htm?cmpid=copiaecola. Acesso em 20/05/2020.
PARA SABER MAIS...
- Por que o coronavírus prejudica mais a população negra. 
https://ponte.org/por-que-o-coronavirus-prejudica-mais-a-populacao-negra/
- Política Nacional de Saúde Integral da População Negra:https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_saude_integral_po
pulacao.pdf
- População negra e Covid-19: desigualdades sociais e raciais ainda mais 
expostas: 
https://www.abrasco.org.br/site/noticias/sistemas-de-saude/populacao-negra-e-
Covid-19-desigualdades-sociais-e-raciais-ainda-mais-expostas/46338/
Tarsila do Amaral
A negra
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Regina Silva
Seringueiro de Guariba, MT
Entre os trabalhadores do 
campo no Brasil 
podemos considerar as 
diversas atividades do 
campesinato, como 
os(as) agricultores(as) 
camponeses(as), 
acampados(as), 
assentados(as) da 
reforma agrária, entre 
outros. Entre os povos da 
floresta podemos incluir 
os povos que dependem 
diretamente da floresta 
para manutenção de 
suas vidas, com uma 
identidade, uma história 
e uma memória 
partilhada, algumas 
vezes vivendo em um 
território comum, como 
os(as) seringueiros(as), 
os(as) ribeirinhos(as), os 
povos extrativistas e os 
povos indígenas.
Podemos evidenciar que os trabalhadores do 
campo e os povos da floresta tem em comum o 
distanciamento que vivem das grandes cidades 
brasileiras, o que poderia ser um grande 
benefício em tempos de pandemia, mas ao 
considerarmos suas péssimas condições de vida 
e vulnerabilidade econômica e a distância que 
estão do atendimento médico hospitalar, por 
certo, poderemos incluí-los como povos mais 
expostos a contrair a Covid-19.
Esses povos sofrem, mesmo antes da pandemia, 
com uma nefasta atuação política do atual 
governo federal brasileiro, uma necropolítica que 
os retiram direitos fundamentais e desmontam as 
políticas ambientais, destruindo os sistemas e os 
órgãos de fiscalização que buscam barrar o 
avanço do desmatamento no Brasil. 
Infelizmente, essas injustiças se agravam durante 
a pandemia, recentemente, o Instituto do Homem 
e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) divulgou 
que o desmatamento da Amazônia em abril deste 
ano teve um aumento de 171% comparado ao 
mesmo mês em 2019, perdemos 529 quilômetros 
quadrados de floresta, a maior taxa de 
desmatamento dos últimos dez anos (1). 
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Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho, em 
entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos, 
ressalta que “a principal preocupação e ameaças 
[...] é que garimpeiros, grileiros, madeireiros e 
invasores em geral, não fazem a quarentena. Ao 
contrário, aproveitam a falta de fiscalização e de 
gestão política e administrativa no país para 
continuar com as ações ilícitas” (2). Aproveitando 
essa situação pandêmica e incentivados pelo 
discurso desenvolvimentista do Governo do Brasil, 
os desmatadores avançam sobre a floresta, 
espalhando a morte, destruindo a biodiversidade e 
levando o coronavírus aos povos que lá vivem.
O descaso político com os povos e profissionais da 
floresta são graves, e se acentuam mais nos 
momentos de pandemia. O coronavírus pode 
afetar todos, mas a morte é mais certa às 
populações economicamente desfavorecidas. O 
tipo de modelo desenvolvimentista que nós 
adotamos, herança da grande aceleração e 
revolução industrial, privilegiou o capital como 
prioridade da felicidade. O coronavírus se libertou 
exatamente porque o capital destruiu as florestas, 
aproximou-se de animais silvestres e espalhou a 
pandemia. 
Regina Silva
A pandemia mostrou o quanto a 
solidariedade é eficaz à construção 
das políticas públicas, permitindo o 
esperançar por uma sociedade que 
não perca jamais a beleza de ser 
Humanidade, com suas teias 
conectadas com os ecossistemas.
Não se trata, assim, de retomar à 
“normalidade” prévia, já que este 
modelo não mais responde à 
sustentabilidade planetária. Será 
preciso reinventar um novo jeito de 
cuidar da natureza e cuidar de nós 
mesmos. Sem altos consumos ou 
emissão de gases do efeito estufa –
será urgente recuperar as florestas e 
construir políticas fortalecidas aos 
seus povos. 
REFERÊNCIAS
1 – IMAZON. Instituto do Homem e 
Meio Ambiente da Amazônia. Boletim 
do Sistema de Alerta de Desmatamento. 
Abril de 2020. Disponível em: 
https://k6f2r3a6.stackpathcdn.com/wp-
content/uploads/2020/05/Boletim-SAD-abril-2020.pdf. 
Acesso em 15 mar 2020.
2 - Garimpeiros, grileiros e madeireiros 
não fazem quarentena e avançam sobre 
a floresta e povos indígenas. Entrevista 
especial com Dom Roque Paloschi
http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/598636-
garimpeiros-grileiros-e-madeireiros-nao-fazem-quarentena-e-
avancam-sobre-a-floresta-e-povos-indigenas-entrevista-
especial-com-dom-roque-paloschi Regina Silva
Guariba-MT
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Antes de trazer os motivos que incluem a população LGBT+ 
(lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros e 
outras pessoas com orientações sexuais e identidades de gênero) 
como grupo vulnerável a pandemia do coronavírus, é preciso 
contextualizar que, para algumas autoridades, sobretudo líderes 
religiosos, esse grupo não está sendo associado como vítimas, 
mas como culpado pelo momento que estamos vivendo.
O cardeal estadunidense Raymond Burke, que mora em Roma, 
afirmou que os perigos que rondam o mundo se devem aos 
esforços para promover igualdade de sexo e gênero (BURKE, 
2020). Ralph Drollinger, pastor do gabinete de Donald Trump, e 
Muqtada al-Sadr, influente clérigo xiita do Iraque, também 
associaram a pandemia como resposta divina aos avanços dos 
direitos LGBT+ no mundo (FANG, 2020; BBC, 2020). Tais 
posicionamentos não são novidade para quem se lembra de que 
os homossexuais já haviam servido de bode expiatório durante a 
pandemia da peste negra que assolou a Europa e Ásia no século 
XIV (TESTONI, 2020).
Há, contudo, uma outra verdade: mesmo com as últimas 
conquistas em relação aos direitos LGBT+ essa população ainda 
está em situação de vulnerabilidade social, a qual se intensifica 
nesse período de distanciamento social. Marvel: Wiccan and Hulkling
84 85
Grande parte das pessoas LGBT+, 
infelizmente, não possuem vínculos 
afetivos com suas famílias, ora por 
terem sido expulsas de casa por sua 
identidade, ora por terem cedo 
buscado sua independência e 
privacidade para viver. Proibidos 
agora de se encontrar com os 
amigos que acabam se tornando sua 
nova família, essa população vê 
afetada sua saúde mental, já tão 
exposta pelos obstáculos de um 
mundo sem pandemia, e agora 
intensificados por ela.
Num recorte especial a população de 
travestis e transexuais, cuja atividade 
econômica de cerca de 90% é a 
prostituição, o distanciamento social 
representa queda drástica no número 
de clientes e uma maior exposição ao 
vírus àquelas que precisam se expor 
para conseguir sobreviver 
(FERNANDES, 2020). Ao recorrerem 
ao sistema de saúde, enfrentam 
muitas vezes discriminação e 
preconceito, já parte cotidiana da 
vida dessas pessoas (FERREIRA, 
2017).
Ironicamente o governo federal 
brasileiro lançou uma cartilha de 
orientação à comunidade LGBT+ sobre 
o coronavírus (BRASIL, 2020). Um 
material que reforça estereótipos, 
preconceitos e visivelmente feita por 
quem pouco conhece as características e 
necessidades dessa comunidade.
Por outro lado, a pandemia traz luz 
a uma luta que se arrasta há anos: o 
direito de gays doarem sangue 
(D'AGOSTINO; RODRIGUES, 2020). 
A situação dos bancos de sangue 
brasileiro fez com que uma votação 
iniciada em 2017 seja retomada e se 
encerre esse erro discriminatório, o 
que representa uma vitória para a 
comunidade que agora pode 
contribuir para salvar vidas com seu 
próprio sangue, literalmente. 
Latuff
Bancada evangélica e a “cura gay”
86 87
REFERÊNCIAS CITADAS E CONSULTADAS
BBC News. 'Gripezinha ou resfriadinho' e outras 7 frases controversas de líderes mundiais 
sobre o coronavírus. BBC News Mundo. BBC News Mundo. 07/04/2020. Disponível em
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-52205918. Acesso em 20 mai. 2020.
BRASIL. Governo Federal. Já sabe o que fazer para se proteger do novo coronavírus? 
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Disponível em 
https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2020-2/abril/Corona_banner_LGBT.pdf.Acesso em 21 mai. 2020.
BURKE, Raymond Leo Cardinal. Mensagem do Cardeal Burke sobre o combate ao 
coronavírus. ABIM, 21/03/2020. Disponível em http://www.abim.inf.br/mensagem-do-cardeal-burke-sobre-
o-combate-ao-coronavirus/. Acesso em 21 mai. 2020.
D'AGOSTINO, Rosanne; RODRIGUES, Mateus. Supremo Tribunal Federal derruba restrições 
à doação de sangue por homens gays. G1, 09/05/2020. Disponível em 
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/05/09/supremo-tribunal-federal-derruba-restricoes-a-doacao-de-sangue-por-homens-
gays.ghtml. Acesso em 28 mai. 2020.
FANG, Lee. Coronavírus: pastor do gabinete de Trump diz que pandemia é ira de deus – e 
culpa a china, homossexuais e ambientalistas. The Intercept, 26/03/2020. Disponível 
em http://www.theintercept.com/2020/03/26/coronavirus-pastor-trump-ira-de-deus/ . Acesso em 22 mai. 2020.
FERNANDES, Yuri. Prostituição e pandemia: ‘Terei que aceitar 20 ou 30 reais, preciso 
comer’. Projeto Colabora, 27/03/2020. Disponível em 
https://projetocolabora.com.br/ods8/prostituicao-e-pandemia-terei-que-aceitar-20-ou-30-reais-preciso-comer/. Acesso em 
21 mai. 2020.
FERREIRA, Breno de Oliveira et al. Vivências de travestis no acesso ao SUS. Physis: 
Revista de Saúde Coletiva, v. 27, p. 1023-1038, 2017.
TESTONI, Marcelo. Como na Peste Negra, Covid-19 põe em risco homossexual, 
prostituta e gato. Universa UOL, 03/05/2020. Disponível em 
https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2020/05/03/como-na-peste-negra-Covid-19-poe-em-risco-homossexuais-
prostitutas-e-gato.htm?aff_source=56d95533a8284936a374e3a6da3d7996. Acesso em 21 mai. 2020.
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OS A crise do novo Coronavírus prevalece no rosto de mulheres, indígenas, na 
população afrodescendente, além de 
trabalhadores informais e migrantes, 
ressaltada pela desigualdade no 
acesso à água, saneamento, saúde e 
moradia para esses grupos, 
potencializando uma maior taxa de 
infecção e morte (AGÊNCIA DO RÁDIO 
MAIS, 2020).
Atualmente, há cerca de 763 milhões de 
migrantes internos em todo o mundo e 
272 milhões de migrantes 
internacionais. Mais de 1 bilhão de 
pessoas estão em movimento, e quase 
71 milhões são forçadas a deixar suas 
casas devido a conflitos armados, 
violência generalizada e desastres. 
Destes, quase 26 milhões são refugiados, 
41,3 milhões são deslocados internos e 
3,5 milhões são requerentes de asilo 
(Instituto Humanitas Unissinos, 2020). 
A população migrante, por todo o 
mundo tem enfrentado um 
processo excludente, considerando 
que uma parcela considerável dos 
que vivem no Brasil encontram se 
em situação de vulnerabilidade 
social (FIOCRUZ, 2020). Nas 
políticas públicas, são ausentes as 
legislações que possam atender às 
suas particularidades, para o 
reconhecimento dos direitos e as 
devidas condições de 
regulamentação e permanência 
digna (PISTÓRIO; VITALIANO, 
2019). 
Os fluxos migratórios estão cada vez 
maiores, pelo colapso climático 
causador de desequilíbrios, extinção de 
ecossistemas, eventos climáticos e uma 
pandemia que se alastrou, causando 
mortes em uma velocidade 
avassaladora (SATO et al, 2020).
90 91
Os que precisam trabalhar em 
tempos de pandemia, acabam se 
expondo prolongadamente, para 
garantir seu sustento e de suas 
famílias (MIGRAMUNDO, 2020). No 
Brasil, ainda enfrentam a 
morosidade em conseguir 
documentação local, sendo 
impedidos de receber o auxílio 
emergencial do governo, e em muitos 
casos, sequer conseguem receber o 
benefício (BRASIL DE FATO, 2020).
A realidade dos migrantes 
descreve histórias de pessoas 
vítimas de preconceito e 
xenofobia, muitas vezes sem 
lar, vivendo em campos de 
refugiados, retratando solidão e 
isolamento, sem redes de apoio 
pelas limitações de língua, 
conhecimento e cultura. São um 
grande conjunto que superam 
as estatísticas e esforços 
assistencialistas, em uma triste 
perspectiva, cada vez mais 
crescente, para este grupo 
social.
Por conta do isolamento social 
como medida preventiva de 
transmissão da Covid 19, 
aumentaram ainda mais as 
restrições para a mobilidade dos 
migrantes, que se encontram 
impedidos de retornar ao convívio 
de seus familiares, em seus locais 
de origem. A vida dessas pessoas 
tem se tornado ainda mais difícil, 
pois muitos deles, não possuem 
reservas para se manterem durante 
a quarentena. 
Banksy
Criança migrante – Veneza, IT
92 93
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA DO RÁDIO MAIS. Relatório da ONU mostra que mulheres, indígenas e migrantes 
são os mais afetados pela crise da Covid 19. Agência do Rádio Mais, 2020. Disponível em: 
https://www.agenciadoradio.com.br/noticias/relatorio da onu mostra que mulheres 
indigenas e migrantes sao os mais afetados pela crise da Covid 19 pran208774 Acesso em: 14 
maio 2020.
BRASIL DE FATO. Sem recursos, migrantes enfrentam barreiras para acessar auxílio 
emergencial. Direitos Humanos, 2020. Disponível em: 
https://www.brasildefato.com.br/2020/04/14/sem recursos migrantes enfrentam barreiras 
para acessar auxilio emergencial Acesso em: 16 maio 2020.
FIOCRUZ. Saúde mental e atenção psicossocial na Pandemia Covid 19: Pessoas migrantes, 
refugiadas, solicitantes de refúgio e apátridas. FIOCRUZ, 2020. Disponível em: 
https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/wp 
content/uploads/2020/04/cartilhamigranterefugiados3004.pdf Acesso em: 15 maio 2020.
INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS. Migrações e refugiados na era da Covid 19. Instituto 
Humanitas Unissinos, 2020. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/78 noticias/597414 
migracoes e refugiados na era da Covid 19 Acesso em: 15 maio 2020.
MIGRAMUNDO. Como a Covid 19 afeta imigrantes e refugiados no Brasil. Refugiados, 2020. 
Disponível em: https://www.migramundo.com/como a Covid 19 afeta imigrantes e 
refugiados no brasil/ Acesso em: 10 maio 2020.
PARA SABER MAIS
Estadão – as desigualdades sociais e a assistência social, SP
https://politica.estadao.com.br/blogs/gestao-politica-e-sociedade/o-Covid-19-as-desigualdades-brasileiras-e-a-assistencia-social/
Justificando – políticas migratórias no Brasil, SP
https://www.justificando.com/2020/04/14/Covid-19-e-as-politicas-migratorias-no-brasil/
UNISSINOS – a Covid-19 em populações que vivem em situações precárias, RS
http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/597542-como-se-dara-a-evolucao-de-Covid-19-na-populacao-que-vive-em-
condicoes-precarias-entrevista-especial-com-guilherme-werneck-2
PISTÓRIO, Bianca Vasques; VITALIANO, Eliana Aparecida. O Centro de Pastoral para 
migrantes em Mato Grosso e seus desafios no atendimento integral ao migrante. In: 
WERNER, Inácio; SATO, Michèle; SANTOS, Déborah (Orgs). Relatório Estadual n.5 – 2019 
Fórum de Direitos Humanos e da Terra. 5.ed. Cuiabá: Associação Antônio Vieira, 2019. p. 
54 59.
SATO, Michèle; et al. Vírus: Simulacro da Vida? Rio de Janeiro: GEA SUR, UNIRIO, 2020; 
Cuiabá: GPEA, UFMT, 2020. 20 p. il. Disponível em: 
https://gpeaufmt.blogspot.com/p/materiais e apoio pedagogico.html Acesso em: 10 
maio 2020.
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“Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura...
se é verdade.
Tanto horror perante os céus?!”
(Castro Alves).
População de rua de Salvador, BA
Rafael Martins - Agência a Tarde
A pandemia causada pelo 
Coronavírus traz reflexões 
sobre as consequências da 
degradação e às injustiças 
ambientais, expondo a 
incompetência, o preconceito 
e, a truculência de agentes 
públicos brasileiros, com a 
população em situação de 
rua. 
Embora instituída em 2009, 
pelo governo do Partido dos 
Trabalhadores (PT), a Política 
Nacional para a População 
em Situação de Rua, que 
busca garantir os direitos 
básicos às pessoas que vivem 
em extrema pobreza, pouco 
avançou nos últimos anos, 
pois, não foi implementada. 
A população continua 
invisibilizada nas ações 
governamentais, e agora, a 
pandemia escancara o descaso, e o 
despreparo dos gestores públicos 
para lidar com esse profundo 
abismo das injustiças sociais.
Em meados de maio, o Brasil é o 
sexto país em número de mortes por 
Covid-19, e o mais ineficiente da 
AméricaLatina na implementação de 
ações que garantam o direito à saúde 
às populações em situação de 
vulnerabilidade.
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Diante da gravidade, as ações dos 
governantes são brutais e a crueldade é de 
baixa eficiência. Em São Paulo, a população 
de rua tem sido expulsa do centro da cidade 
com uso da violência. No Rio de Janeiro, o 
prefeito aglomerou no sambódromo todos 
juntos: idosos, grávidas, e mulheres com 
crianças. Em Salvador, o Centro de 
Referência Especializado para Pessoas em 
Situação de Rua (Centro POP) gera 
aglomerações ao distribuir máscaras, 
materiais de higiene pessoal e alimentos. 
REFERÊNCIAS
SATO, Michèle. "Mundo será igual se o 
ser humano não aprender", alerta 
pesquisadora para o pós-pandemia. 
PNB Online. 2020.
[https://www.pnbonline.com.br/geral/mundo-sera-
igual-se-o-ser-humano-na-o-aprender-alerta-
pesquisadora-para-o-pa-s-pandemia/65948]
Conheça mais:
Documentário Situações de Rua (10 
minutos). 
https://www.youtube.com/watch?v=JgbhJAwYlz8
Politica Nacional para a População em 
Situação de Rua 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2009/Decreto/D7053.htm
Skid Robot - Los Angeles – EUA
Faz desenhos aos moradores de rua
Neste caos, as pessoas em situação de 
rua sofrem duplamente, primeiro pelo 
preconceito da sociedade e pelo próprio 
poder público, como expresso pela 
ministra de Direitos Humanos: “ninguém 
pega na mão deles”, demonstrando o 
descaso com este grupo, além do desejo 
de mantê-los invisibilizados. Em segundo 
lugar, pela maior exposição de riscos. 
Quais são as possibilidades de uma 
pessoa pobre ter os meios necessários 
para seguir a orientação de 
confinamento social, o uso de máscaras, 
lavagem e assepsia das mãos, roupas ou 
calçados? 
Até quando às populações vulneráveis 
sofrerão às maiores cargas e 
consequências do desenvolvimento 
insustentável? Quando a justiça 
socioambiental reinará no planeta 
que vive plenamente sua era de 
Capitaloceno? Quais humanos 
conseguirão aprender com a Covid-
19? (Sato, 2020).
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Morador usa máscara próximo à comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro 
Foto: Fábio Motta / Agência O Globo
A chegada do coronavírus no Brasil afetou inicialmente os 
grupos sociais mais favorecidos economicamente. No entanto, a 
doença agora se espalha de forma avassaladora junto à 
população desassistida e em situação de vulnerabilidade da 
região periférica urbana. Numa sociedade marcada pela trágica 
e vergonhosa desigualdade social, doenças infecciosas 
encontram campo fértil para a sua propagação e extermínio. 
A pobreza extrema, a falta de saneamento básico, a falta de comunicação 
sobre a prevenção e a precariedade das moradias, são os desafios de 
contenção da Covid-19 (Lima, 2020). O impacto da desigualdade social é 
refletido nos dados de óbitos da cidade de São Paulo no mês de abril, o 
bairro rico do Morumbi tinha 297 casos confirmados e sete mortes, já o 
bairro pobre da Brasilândia, situado na periferia, tinha 89 casos 
confirmados e 54 mortes (Rodrigues, Borges e Figueiredo, 2020). 
Em uma situação de crise como essa, as regiões periféricas urbanas 
revelam a tragédia da concentração de renda fruto de um modelo 
econômico excludente e predatório, onde o lucro, e não a vida, é a única 
finalidade: como diz Santos (2020, p.18) “habitam na cidade sem direito 
à cidade, já que, vivendo em espaços desurbanizados, não têm acesso às 
condições urbanas pressupostas pelo direito à cidade”. 
O aumento do desemprego, a elevação da taxa de informalidade no 
trabalho e a falta de investimentos em programas sociais, são fatores 
que também dificultam a contenção do vírus nas comunidades. Para o 
sociólogo Tiarajú D’andrea, “a Covid-19 aprofunda e apresenta as 
gritantes desigualdades do país e a situação de miséria das periferias 
brasileiras” (Fachin, 2020).
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REFERÊNCIAS
FACHIN, Patrícia. A pandemia de Covid-19 aprofunda e apresenta as 
gritantes desigualdades sociais do Brasil. Ihu Unisinos. 2020. 
Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/159-
noticias/entrevistas/597914-a-pandemia-de-Covid-19-apresenta-as-
gritantes-desigualdades-sociais-do-brasil-entrevista-especial-com-
tiaraju-pablo-d-andrea> Acesso em: 9 de maio de 2020.
LIMA, Juliana Domingos de. Por que as periferias são mais vulneráveis 
ao coronavírus. Nexo Jornal. 2020. Disponível em: 
<https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/03/18/Por-que-as-
periferias-s%C3%A3o-mais-vulner%C3%A1veis-ao-coronav%C3%ADrus>
Acesso em: 9 de maio de 2020.
RODRIGUES, Rodrigo, BORGES, Beatriz, FIGUEIREDO, Patrícia. Morumbi 
tem mais casos de coronavírus e Brasilândia mais mortes; óbitos 
crescem 60% em uma semana em São Paulo. G1 SP. 2020. Disponível 
em: <https://g1.globo.com/sp/sao-
paulo/noticia/2020/04/18/morumbi-tem-mais-casos-de-coronavirus-
e-brasilandia-mais-mortes-obitos-crescem-60percent-em-uma-semana-
em-sp.ghtml> Acesso em: 9 de maio de 2020.
SANTOS, Boaventura de Sousa. A cruel pedagogia do vírus. 
Coimbra/Portugal: Edições ALMEDINA, 2020.
Candido Portinari
Morro da Favela
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Ricardo Ferraz
Em meio ao caos provocado por uma doença severamente 
letal à espécie humana, a pandemia da Covid-19 está 
causando mudanças profundas não apenas em nossa 
rotina, mas, fundamentalmente, em nossas relações. 
Buscando romper com a tentação 
do individualismo, propomos 
uma reflexão sobre os desafios 
das pessoas com deficiência, cujas 
desigualdades sociais têm sido 
intensificadas pela Covid-19, 
podendo produzir novas ameaças 
às suas vidas (1).
Historicamente essas pessoas 
vivenciam o isolamento e exclusão 
social diante das muitas barreiras que 
as impedem de ter acesso aos serviços 
de forma igualitária, além do 
impedimento à participação social (2). 
A exemplo das pessoas cegas e com 
baixa visão, a implementação de 
medidas básicas de higiene torna-se 
ainda mais complexa diante da 
condição de dependência do tato com 
superfícies, o que aumenta as chances 
de se contaminarem.
Na luta contra a contaminação pelo 
Sars-Cov-2 (do inglês, coronavírus 2 
da síndrome respiratória aguda 
grave), as Pessoas com Deficiência 
(PcD) relatam as limitações para 
cumprir com as recomendações da 
Organização Mundial da Saúde 
(OMS), e reivindicam serem incluídas 
no grupo de risco. 
(1) NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL. ONUBR. Resposta à Covid-19 deve incluir pessoas com deficiência, diz 
relatório da ONU, 06 mai. 2020. Disponível em: https://nacoesunidas.org/acao/pessoas-com-deficiencia/ Acesso em: 
10 mai. 2020.
(2). ² WORLD HEALTH ORGANIZATION/THE WORLD BANK. World Report on Disability, 13 dez. 2011. 
Disponível em: https://www.who.int/publications-detail/world-report-on-disability Acesso em: 10 mai. 2020.
Em outras condições de deficiência, quanto maior o grau de limitações de 
mobilidade ou de comunicação, a dependência de cuidados específicos, seja 
por meio do auxílio cotidiano de cuidadoras(es), home care, equipe 
terapêutica, faz com que o distanciamento social seja algo impraticável (3).
(3). MODELLI, Laís. 4 pessoas com deficiência relatam a rotina nos tempos de Covid-19: “Preciso tocar nas 
coisas e nas pessoas para me situar”, 04 mai. 2020. Disponível 
em: https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/05/04/4-pessoas-com-deficiencia-relatam-a-rotina-nos-tempos-de-Covid-19-
preciso-tocar-nas-coisas-e-nas-pessoas-para-me-situar.ghtml Acesso em: 13 mai. 2020.
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O cenário de crise 
ambiental global, evidencia 
que nos próximos poucos 
anos novos surtos virais 
[mais letais] podem 
ocorrer(4), o que 
representa uma ameaça à
vida humana, 
especialmente para as 
pessoas com deficiência, 
que representam mais de 1 
bilhão da população 
mundial (5). 
Como forma de irmanar-se a elas, 
respeitando seus direitos, a Organização 
das Nações Unidas (ONU), pede que a 
resposta à crise da Covid-19 seja 
inclusiva, destacando ações e 
recomendações abrangentes à todas as 
PcD, tais como, garantia da acessibilidade 
das informações, que sejam pertinentes 
às PcD, com

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