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1_Examinai as Escrituras - Gn a Js (J Sidlow-Baxter)

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J. S i d l o w B axter
examinai as escrituras
G ê n e s i s - J o s u é
examinai as 
escrituras
examinai as 
escrituras
J. S i d l ow Ba x t e r
Tradução de 
Neyd Siqueira
® J. Sidlow Baxter 
Título do original: Explore the Book
1? edição: 1992 
Reimpressão: 1997
Direitos reservados por 
Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 
Caixa Postal 21486, São Paulo-SP. 
04602-970
Proibida a reprodução por quaisquer 
meios (mecânicos, eletrônicos, xerográficos, 
fotográficos, gravação, estocagem em banco de 
dados, etc.), a não ser em citações breves, 
com indicação de fonte.
Printed in Brazil / Impresso no Brasil
Revisões • Lucy Yamakami e Valéria Fontana 
Coordenação de produção • ROBINSON MALKOMES
CONTEÚDO
D E D IC A T Ó R IA .................................................................................. 6
PREFÁCIO DO A U T O R .................................................................... 7
PREFÁCIO À EDIÇÃO EM PO R T U G U Ê S................................... 8
INTRODUÇÃO .................................................................................. 9
PRELIMINARES ............................................................................... 15
O LIVRO DE GÊNESIS .................................................................... 23
Lições 1, 2, 3 e 4
O LIVRO DE ÊXODO ....................................................................... 71
Lições 5, 6, 7 e 8
O LIVRO DE L E V ÍT IC O ......................................................................109
Lições 9,10, 11 e 12
O LIVRO DE NÚMEROS ...................................................................153
Lições 13,14, 15 e 16
O LIVRO DE DEUTERONÔMIO ....................................................207
Lições 17, 18 e 19
O LIVRO DE J O S U É ........................................................................... 235
Lições 20, 21, 22 e 23
DEDICATÓRIA
Estes estudos são dedicados com profunda gratidão e estima a meu caro, 
santo e agora idoso amigo,
JAMES ARTHUR YOXALL, 
de Ashton-under-Lyne 
e Stalybridge;
meu “pai” espiritual e talentoso mestre nas coisas preciosas de Cristo; 
inspirador de muitos anseios celestiais dentro em mim, o primeiro a 
plantar em meu jovem coração o interesse pelo estudo bíblico, que 
sempre foi, a meu ver, o cavalheiro cristão ideal, o mais excelente dos 
pregadores e, acima de tudo, um amigo bondoso e experiente, refletindo 
continuamente o amor de Jesus Cristo que a todos santifica.
PREFACIO
QUASE todas as seções compreendidas neste curso bíblico foram 
aprensentadas em minhas palestras bíblicas das noites de terça-feira na 
Capela Charlotte de Edimburgo, justificando assim sua forma em tom de 
conversa, em certas partes. Não são ensaios escritos, mas foram palestras 
preparadas para serem proferidas em público, e julguei mais acertado 
deixá-las em seu molde original, acreditando que há certas vantagens 
práticas nisso. Peço que sejam tolerantes neste aspecto, especialmente se 
os olhos exigentes de algum conhecedor ou diletante literário passarem 
por sobre as mesmas em sua forma impressa agora estabelecida. Além do 
mais, em vista de estes estudos terem sido preparados sem intenção de 
serem publicados mais tarde, tomei em várias partes a liberdade permitida 
a um pregador, mas não a um escritor, apropriando-me dos escritos de 
outros. Só espero que minha admiração não me tenha levado a 
aproximar-me demais da ameaçadora fronteira do plágio. Se isso 
aconteceu, sinto-me aliviado com a certeza de que só pode ter sido em 
relação a autores que não estão mais conosco. Minha gratidão jamais será 
excessiva para com o caro John Kitto, de tempos idos (e, para muitos, 
obsoleto), John Urquhart, A.T. Pierson, Sir Robert Anderson, G. 
Campbell Morgan e outros da mesma tradição evangélica. Todos eles 
foram mestres em seus dias e a seu próprio modo. A todos eles, e a essa 
incomparável obra composta, o Pulpit Commentary, (Comentário de 
Púlpito) reconheço minha dívida permanente e presto minha homenagem. 
Entretanto, no todo, este curso bíblico é basicamente resultado de meu 
estudo pessoal, e aceito de bom grado a responsabilidade pelo mesmo, 
crendo que dá verdadeira honra à Bíblia como a Palavra de Deus 
inspirada, em cada uma de suas seções. Que Deus possa empregá-lo 
graciosamente em um ministério útil para muitos que vivem e trabalham 
na seara de seu amado Filho, nosso Senhor e Salvador.
J. S. B.
7
PREFÁCIO À EDIÇÃO EM PORTUGUÊS
A obra aqui intitulada EXAMINAI AS ESCRITURAS é a primeira parte de 
uma coleção de seis volumes (dos quais já foram publicados os volumes 5 
e 6, relativos ao Novo Testamento). Esta coleção surgiu em decorrência 
do desejo do Pastor J. Sidlow Baxter de oferecer, com lições atraentes e 
práticas, um conhecimento bíblico básico aos membros da Capela 
Charlotte, em Edimburgo, na Escócia. O autor teve a feliz idéia de 
preparar seus estudos de um modo completo para os membros daquela 
igreja, começando com Gênesis e terminando em Apocalipse, sem 
escrever apenas mais um comentário.
O autor lança um alicerce agradável e seguro para aquele que deseja 
apresentar-se como obreiro (ou membro da igreja) “que não tem de que 
se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15).
Neste volume, o Pastor Baxter discorre sobre temas palpitantes contidos 
no Pentateuco e em Josué. Ele apresenta uma abordagem bastante 
prática, com várias aplicações espirituais dos eventos, lugares e pessoas 
que compõem a história narrada por estes livros. Destaque deve ser dado 
ao estudo dos tipos e antítipos que se encontra praticamente em todas as 
lições deste volume.
Em textos sempre práticos e bastante assimiláveis, Baxter oferece 
incontáveis informações muito iluminadoras àqueles que têm somente 
idéias acerca do Pentateuco e de Josué. Temos convicção de que a 
popularidade gozada por esta obra em inglês será a mesma que se 
verificará na sua edição em português. Dentro de pouco tempo, Edições 
Vida Nova estará colocando à disposição do público leitor os outros 
volumes desta série, que se relacionam com o Antigo Testamento.
Os Editores
8
INTRODUÇÃO
HOMEM ALGUM completa sua educação se não conhece a Bíblia. Não 
há ministro cristão realmente qualificado para o ministério da igreja cristã 
que não tenha feito um estudo em profundidade das Escrituras. O obreiro 
cristão não pode ser realmente eficaz sem um conhecimento anterior da 
Bíblia. Crente algum pode ter uma vida realmente cristã sem uma 
compreensão adequada desse livro santo.
Nosso propósito
Nosso objetivo neste estudo bíblico é fornecer um alicerce nas Escrituras. 
Sejamos sinceros e claros desde o início. Se realmente quisermos conhecer 
melhor a Palavra de Deus, este curso irá ajudar-nos. Nosso empenho foi 
manter o mesmo padrão de eficácia nele todo. Queremos enfatizar, 
porém, que não basta ler os estudos que se seguem em lugar da Bíblia, pois 
isso iria invalidar todo o propósito que temos em vista. O que desejamos 
é que a própria Bíblia seja lida, parte por parte, cada uma delas várias 
vezes, e o presente plano de estudos utilizado em conjunto. Mesmo que as 
próximas lições sejam lidas com todo cuidado, se isso for feito sem o estudo 
paralelo da Bíblia, o verdadeiro fascínio do estudo bíblico ficará perdido. 
Nossa esperança é de que alguns que não tenham ainda estudado a Bíblia 
inteira se decidam a dedicar determinadas horas de seu tempo disponível 
a cada semana para começar no livro de Gênesis e examinar gradualmente 
toda a Bíblia, livro por livro, conforme a orientação deste curso de estudo 
bíblico, utilizando a ajuda fornecida aqui em cada estágio.
Muitos cristãos de hoje tendem a ler a Bíblia somente para tomar 
conhecimento de alguns bons pontos ou sugestões para apresentá-los em 
reuniões ou preparar sermões, ou ainda para a prática da vida cristã. Isso 
é errado e resulta em fragmentação. Esse método produz superficialidade 
tanto mental como espiritual. A Palavra de Deus jamais teve como 
propósito essas consultas apressadas.Precisamos estudar e conhecer essa 
palavra como um todo, pois estudo e conhecimento aprofundam,
9
EXAMINAI AS ESCRITURAS
en riq u ecem e ap erfe iço am todo o nosso m in is té r io p ú b lico , 
fundamentando nossa experiência cristã no seu todo. Além disso, gostaria 
de lembrar os companheiros de pregação que os sermões mais excelentes 
geralmente surgem quando estudamos a Palavra de Deus em busca de sua 
verdade vital e não pela necessidade de encontrarmos um sermão.
Este curso de estudo bíblico não tem como finalidade apresentar 
sugestões para discursos e sermões — embora seja provável que 
repetidamente isso venha a acontecer, se estudado em conjunto com a 
Bíblia. Seu propósito é fornecer uma base prática para o conhecimento 
bíblico como um todo. E bom lembrar que os sermões ou livros que mais 
nos afetam no momento em que os lemos ou ouvimos em geral nos deixam 
pouco de valor permanente, enquanto, por outro lado, os que mais nos 
ensinam talvez não nos estimulem de imediato. À parte de qualquer 
interesse superficial do momento, tal como preparar mensagens ou buscar 
orientação em alguma crise, devemos nos determinar a obter uma boa 
compreensão do livro de Deus; pois conhecê-lo bem dá uma qualidade ao 
nosso serviço cristão que nenhuma outra coisa pode dar, e isso nos será 
proveitoso por toda a vida. Todo ministro e obreiro cristão deve ser um 
especialista na Bíblia.
Nosso método
Devemos introduzir aqui algumas palavras sobre o nosso método. A 
Bíblia é um livro sem fim, e são tantos os meios de estudá-la que, ao iniciar 
este curso, lembramo-nos do marinheiro que, quando lhe perguntaram 
para onde ia, respondeu: “Senhor, estou limitado ao oceano!” O 
esplêndido conteúdo da Bíblia está diante de nós como um imenso oceano, 
mas não queremos navegar sem direção, pois então não iremos a parte 
alguma! Precisamos do mapa e da bússola de um método definido, a fim 
de podermos navegar por esses gloriosos mares sem desvios inúteis para 
a direita ou para a esquerda.
M uito depende de nosso m étodo de estudo. Segundo a nossa 
preferência, podemos estudar os livros da Bíblia de modo espiritual, 
histórico, tipológico, tópico, profético, dispensacional, analítico, 
biográfico, crítico, devocional ou outros. O método que adotamos na
10
INTRODUÇÃO
presente série é aquele que chamaremos de interpretativo. Então, vamos 
estudar de m aneira in terp re ta tiva os livros da Bíblia; ou seja, 
procuraremos captar o pensamento predominante, o significado e a 
mensagem de destaque em cada livro, vendo-o a seguir em relação aos 
outros livros da Escritura. A importância deste tipo de estudo se 
manifestará imediatamente, pois, a não ser que compreendamos a 
relevância do que está escrito, perderemos de vista o objetivo principal. 
Além disso, este estudo progressivo, interpretativo das Escrituras, é, na 
verdade, uma base necessária e preliminar para todos os outros tipos de 
análise que mencionamos.
Seguindo este método e com vistas a determinar a mensagem essencial 
de cada livro, ao examinarmos cada um deles, iremos estabelecer a sua 
ESTRUTURA por meio de uma análise, seus principais movimentos na 
forma de uma SINOPSE e seus aspectos especiais através da SUGESTÃO 
para novos estudos. Vamos permitir que cada livro nos conte o seu segredo 
e abra para nós o seu coração. Vamos resolutamente guardar-nos de 
forçar qualquer esboço artificial nos livros bíblicos. Sacrificar a exatidão 
para obter uma aliteração elegante é uma impertinência quando se trata 
de escritos divinamente inspirados. Existem professores bíblicos que se 
distinguem pelas suas “estruturas” engenhosas. Mas uma análise errônea, 
mesmo que habilmente traçada, obscurece a mensagem verdadeira e vital 
de um livro. Ao prosseguirmos com nossos estudos, descobriremos 
quantas vezes um livro ou passagem se ilumina com nova força ou beleza 
quando submetido a uma análise bem feita.
A princípio, pode parecer estranho que tenhamos dado um tratamento 
mais completo e analisado mais detalhadamente alguns livros do que 
outros. Gostaríamos de salientar, portanto, que esta variação se conforma 
ao nosso propósito. A importância relativa das coisas não deve ser medida 
simplesmente pelo número de páginas que ocupam. Da mesma forma que 
o pequeno diamante vale mais que uma grande placa de vidro e o evento 
memorável de um determinado dia pode superar os feitos rotineiros de 
décadas, assim também nas Escrituras, embora cada coisa tenha seu 
devido lugar, existem algumas que se destacam, como Saul entre os filhos 
de Israel, com a cabeça e os ombros acima dos demais. Cada parte tem 
sua importância, mas algumas excedem.
Nosso objetivo, portanto, é tratar de cada livro ou parte, de modo a 
expor seu significado especial e contribuir assim para uma compreensão
ll
EXAMINAI AS ESCRITURAS
mais prática da mensagem bíblica em seu todo. Por esta razão, demos um 
tratamento mais completo aos cinco livros de Moisés, que são a base de 
todos os outros. Também por isso nos demoramos mais num livro como 
Levítico, cujas palavras, símbolos, tipos e idéias se entrelaçam com tudo o 
que segue, até o final de Apocalipse, enquanto damos um tratamento 
comparativamente breve a 1 e 2 Crônicas, cujo conteúdo, por ser histórico, 
exige agrupamento em lugar de exposição minuciosa. Nosso propósito não 
é o de um comentário, em que livros, capítulos, parágrafos e versículos são 
sucessivamente explicados. Não vamos nos esquecer em tempo algum de 
que procuramos os significados principais e especiais, com vistas a obter 
o escopo amplo e a mensagem abrangente do todo.
Nossa abordagem
Uma abordagem correta da Bíblia é da maior importância. Existe hoje 
uma tendência à popularização da Bíblia, considerando-a simples 
literatura. Depois de um estudo cuidadoso, acreditamos que esse 
movimento é mais prejudicial do que benéfico. Em meio à esplêndida 
diversidade das Escrituras existe uma unidade ainda mais maravilhosa. Os 
seus 66 livros não são apenas uma coleção de escritos; eles constituem um 
único livro — um só no progresso da revelação que apresentam 
coletivamente, um só na harmonia da estrutura por eles constituída em 
conjunto, um só na unidade espiritual da mensagem que declaram como 
um grupo. A Bíblia como um todo afirma ser a Palavra de Deus e sua 
reivindicação é confirmada tanto pela natureza de seu conteúdo como 
pela história de sua influência. Se este livro é, então, a Palavra de DEUS, 
ele não pode ser lido como simples literatura! De modo algum, pois isso 
forçaria a mente a uma atitude artificial, evasiva ou desonesta que se 
mostraria prejudicial. Nos estudos que aqui começamos, abordamos a 
Bíblia como sendo a Palavra de Deus em sua totalidade. Portanto, ao 
estudá-la, estaremos buscando aprender, iluminados pelo Espírito Santo, 
a mente, a verdade e a vontade de Deus.
Em nosso estudo da Bíblia, devemos guardar-nos sempre do perigo de 
envolver-nos de tal forma na fascinação do assunto que percamos de vista 
o objeto do mesmo. Como já foi dito, queremos nos apossar dos
12
INTRODUÇÃO
significados importantes e amplos contidos no velho Livro; mas a não ser 
que os significados nos dominem, teremos falhado no objetivo principal. 
O próprio Senhor Jesus nos ensinou que ELE é o tema central de toda a 
Escritura; e queremos então enxergar além da palavra escrita, vendo 
Aquele que é a Palavra viva. Nosso propósito é contemplá-lo de modo a, 
cada vez mais, amá-lo e confiar nEle. O Dr. Jowett conta a história de um 
turista que viajava por uma das regiões mais belas da Escócia, mas tão 
absorvido pelo guia turístico que não conseguiu perceber as belezas que 
o rodeavam. É possível estudar a Bíblia dessa maneira. Nosso grande 
objetivo é conhecer o Deus verdadeiro, tornar-nos mais parecidos com 
Cristo e deixar-nos possuir mais amplamente pelo Espírito Santo. O 
verdadeiro estudo bíblico irá atingir essa finalidade, pois as páginas 
inspiradas das Sagradas Escrituras vibram, estremecem e brilham com a 
presença de Deus!
Acheguemo-nos,pois, reverentemente às Escrituras, compreendendo 
que foram inspiradas pelo Espírito Santo e que Ele, “o Espírito de sabe­
doria e de revelação” no pleno conhecimento de Deus (Ef 1.17), deve ser 
o nosso Professor. Que a nossa oração seja: “Desvenda os meus olhos, 
para que eu contemple as maravilhas da tua lei” (SI 119.18). E que o 
motivo predominante de todo o nosso estudo da Palavra de Deus seja, nas 
palavras de Colossenses 1.10: “A fim de viverdes de modo digno do Senhor, 
para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra, e crescendo no 
pleno conhecimento de Deus”.
13
PRELIMINARES
A Bíblia como um todo
A FIM DE examinar este magnífico Livro dos livros até o ponto em que 
os limites auto-impostos de nosso esquema de estudo nos permitem, 
abrimos agora a Bíblia, tendo bem definidos em nossa mente o sistema e 
o motivo acima expostos. Antes de efetivamente começarmos com 
Gênesis, porém, ser-nos-á útil fazer um estudo preliminar da Bíblia como 
um todo.
Nossa Bíblia consiste de 66 partes. Estas são divididas em duas coleções 
principais distintas, as escrituras da Velha Aliança e as da Nova Aliança 
ou, como geralmente as chamamos, o Antigo e o Novo Testamentos. Cada 
um desses Testamentos, porém, um consistindo de 39 livros, o outro de 
27, foi organizado em uma ordem de grupos claramente homogêneos. 
Neste sentido, uma cuidadosa investigação revela a presença de um 
propósito maravilhoso que se desenvolve através do todo.
O ANTIGO TESTAMENTO 
Os Primeiros Dezessete
Examinemos primeiro o Antigo Testamento. Comecemos em Gênesis, 
Êxodo, Levítico , N úm eros e D eu teronôm io . E les constituem 
e v id en tem en te um a un idade de cinco p a rte s que os destaca 
imediatamente como um grupo separado. Todos saíram de uma só pena, 
a de Moisés. Todos são históricos. Sempre foram conhecidos como os 
cinco livros de Moisés ou o Pentateuco. Note, então, o seu número e seu 
caráter. Quanto ao número, são cinco. Quanto ao caráter, são históricos.
A seguir vêm Josué, Juízes, Rute, 1 Samuel, 2 Samuel, 1 Reis, 2 Reis, 1 
Crônicas, 2 Crônicas, Esdras, Neemias, Ester. Paramos instintivamente 
em Ester, sem continuar até o livro de Jó, por sabermos que vamos 
encontrar nele outro tipo de literatura. Os livros que vão de Josué a Ester 
são os doze que compõem o segundo grande grupo do Antigo Testamento.
15
EXAMINAI AS ESCRITURAS
Note o número e o caráter novamente. Quanto ao número, são doze. 
Quanto ao caráter, são também históricos.
A primeira parte do nosso Antigo Testamento consiste de dezessete 
livros históricos, subdivididos naturalmente em cinco e doze. Existe uma 
nova subdivisão nos doze; os primeiros nove (Josué a 2 Crônicas) são 
registros da ocupação de Canaã por Israel, enquanto os últimos três 
(Esdras, Neemias, Ester) referem-se ao período depois da expulsão da 
terra e à repatriação do “remanescente”. Os dezessete livros históricos são 
assim subdivididos em cinco (pré-Canaã), nove (em Canaã) e três 
(pós-exílicos).
Os Cinco Centrais
A seguir encontramos Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de 
Salomão. Não é preciso que nos digam que façamos outra pausa no final 
de Cantares de Salomão, pois a ele se segue imediatamente o livro do 
profeta Isaías, que obviamente introduz outro conjunto de escritos bem 
diverso, ou seja, o dos profetas. Não há dúvida — Jó, Salmos, Provérbios, 
Eclesiastes e Cantares de Salomão devem ficar reunidos e formam o 
terceiro grupo distinto do Antigo Testamento. Os dezessete livros 
precedentes, como notamos, são históricos, mas estes cinco mencionados 
agora não são históricos, mas pessoais e empíricos. Os dezessete livros 
históricos acima são nacionais, mas não estes cinco, que são pessoais e 
tratam em especial dos problemas do coração humano individual. Além 
disso, os dezessete precedentes foram escritos em prosa, enquanto os 
cinco não são prosa, mas poesia. Anote então o seu número e a sua 
natureza. Quanto ao número, são cinco. Quanto à natureza, dizem 
respeito à experiência.
Os Últimos Dezessete
Chegamos finalmente a outro grupo de dezessete. Trata-se desta vez 
dos livros proféticos: Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel, 
Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, 
Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. E evidente que, como os dezessete
16
PRELIMINARES
livros históricos, estes também devem ficar juntos. Da mesma forma como 
os livros históricos se subdividem em cinco (Moisés) e doze (Josué a Ester), 
assim acontece com os dezessete livros proféticos. Os primeiros cinco são 
justam ente cham ados de “Profetas Maiores”, en q u an to os doze 
remanescentes, que sempre foram classificados em conjunto como um só 
livro no cânon judaico do Antigo Testam ento (veja At 7.42), são 
conhecidos como “Profetas Menores".
Um momento de reflexão mostrará que esta distinção não é artificial. 
Em Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel encontramos os aspectos éticos 
básicos da profecia do Antigo Testamento e o esquema abrangente da 
previsão messiânica. O Messias que está para vir é considerado em Isaías 
tanto o Salvador sofredor como o Soberano vitorioso que reina no império 
mundial. Em Jeremias, onde lemos sobre a condenação de Israel por parte 
de Jeová, Ele é o “Renovo” de Davi e o Restaurador final do povo 
condenado e disperso . Em Ezequiel, o lhando além dos juízos 
intermediários, nós o vemos como Pastor e Rei perfeito, em cujo reinado 
glorioso o templo ideal do futuro é edificado. Em Daniel, que nos oferece 
a seqüência mais específica das épocas e eventos em sua ordem sucessiva, 
vemos o Messias “cortado”, sem trono ou reino, todavia levantando-se no 
final como Imperador universal sobre as ruínas do sistema mundial pagão 
destruído.
Os doze profetas “menores”, embora ampliem vários aspectos, não 
determinam a forma principal da profecia messiânica; eles se amoldam à 
estrutura geral já apresentada a nós em Isaías, Jeremias, Ezequiel e 
Daniel.
Não devemos também pensar que a elegia poética, “Lamentações”, é 
simplesmente um acréscimo a Jeremias. Ela não apenas tem os sinais de 
independência e separação, como também um significado posicionai que 
é preciso notar, pois constitui o ponto central dos profetas “maiores”; isto 
é, divide Isaías e Jeremias de um lado, deixando Ezequiel e Daniel do 
outro. Ele faz uma interseção entre os dois maiores profetas pré-exílicos 
e os dois maiores pós-exílicos. O livro está realmente no lugar adequado, 
pois, além de dividir posicionalmente, ele divide historicamente', celebra 
aquele evento destacado e tragicamente significativo que separa os 
profetas pré e pós-exílicos, a saber, a destruição de Jerusalém, a 
interrupção da dinastia davídica e a dispersão do povo da aliança pelo 
mundo. Ainda hoje, após 2.500 anos, eles não conseguiram voltar a se
17
EXAMINAI AS ESCRITURAS
reunir, embora tenham sido providencialmente preservados como um 
povo distinto.
Além disso, assim como doze dos dezessete livros históricos se 
subdividem ainda em nove e três, sendo os primeiros nove pré-exílicos e 
os três restantes (Esdras, Neemias e Ester) pós-exílicos, assim também 
ocorre com os doze profetas “menores”, i. e., os nove primeiros são todos 
pré-exílicos, enquanto os três restantes (Ageu, Zacarias e Malaquias) são 
pós-exílicos; e esses dois últimos trios, os três livros históricos e proféticos 
finais, possuem correspondência recíproca.
Assim sendo, os trinta e nove livros de nosso Antigo Testamento 
organizam-se neste agrupam ento ordenado de dezessete volumes 
históricos, cinco experienciais e dezessete proféticos, sendo ambos os 
grupos de dezessete subdivididos em cinco, nove e três, e os cinco livros 
que tratam do coração humano individual colocados exatamente entre os 
dois de dezessete, bem no centro do Antigo Testamento.
Isto foi acidental ou deliberado? Pense bem: mais de trinta escritores 
contribuíram para o Antigo Testamento, num intervalo de mais de mil e 
duzentos anos, escrevendo em diferentes lugares a diferentes pessoascom 
diferentes propósitos, sem sequer imaginar que seus escritos, além de 
serem preservados através das gerações, poderiam ser finalmente 
compilados nessa pluralidade sistemática da unidade que agora 
encontramos no Antigo Testamento. Ao refletirmos sobre isso, não nos 
podem certamente chamar de imaginosos quando pensamos que, por trás 
dos escritores humanos, deve ter havido um desígnio divino controlador.
O NOVO TESTAMENTO
Os Evangelhos eAtos
Observamos agora o Novo Testamento e encontramos nele igual 
ordem, com um desígnio também evidente. A princípio temos Mateus, 
Marcos, Lucas, João e Atos. Estes são os únicos livros históricos do Novo 
Testamento, sendo a base de tudo o que se segue, mantendo-se, portanto, 
agrupados. Quanto ao número são cinco. Quanto ao caráter, são históricos.
18
PRELIMINARES
Epístolas à Igreja Cristã
A seguir vem um grupo que pertence claram ente a um todo 
complementar. É o grupo de epístolas dirigidas às igrejas cristãs: Romanos, 
1 Coríntios, 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 
Tessalonicenses. Note o seu número e caráter. O número delas é nove. 
Quanto ao caráter, são doutrinárias.
Epístolas Pastorais
Temos depois quatro epístolas, formando outro pequeno grupo, a saber, 
1 Timóteo, 2 Timóteo, Tito e Filemon. Estas quatro não foram escritas às 
igrejas cristãs, sendo pastorais e pessoais.
Epístolas aos Cristãos Hebreus
Temos afinal outro grupo de nove, isto é, Hebreus, Tiago, 1 Pedro, 2 
Pedro, 1, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse (na verdade, uma epístola do 
próprio Senhor: veja o primeiro versículo). Estas nove não foram 
endereçadas às igrejas cristãs como as outras nove; também não contêm 
nada sobre a igreja mística. A primeira delas (Hebreus) é evidentemente 
dirigida à nação hebraica como tal. Tiago, do mesmo modo, é dirigida “às 
doze tribos que se encontram na Dispersão”. Pedro escreve para os 
“forasteiros da Dispersão” (ou seja, os judeus da Dispersão). Não há 
necessidade de entrar em detalhes para mostrar que essas nove epístolas, 
de Hebreus a Apocalipse, são distintamente hebraicas em seu ponto de 
vista e ambiente, sendo chamadas com exatidão de “Epístolas aos Cristãos 
Hebreus”.
Um Arco Esplêndido
O nosso Novo Testamento consiste, então, de cinco livros históricos, 
formando um alicerce sólido de cinco camadas de fatos básicos sob os 
nossos pés. Elevando-se de cada lado, como duas colunas belamente 
trabalhadas, encontramos as nove Epístolas às Igrejas Cristãs e as nove
19
EXAMINAI AS ESCRITURAS
Epístolas aos Cristãos Hebreus. Essas duas magníficas colunas estão 
ligadas em arco pelas quatro Epístolas Pastorais, formando uma 
esplêndida arcada de verdade para a Igreja de Cristo e o Reino de Deus, 
alcançando seu vértice máximo naquela síntese transcendente da verdade 
cristã: “Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi 
manifestado na carne, foi justificado em espírito, contemplado por anjos, 
pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória” (1 Tm 3.16). 
O Novo Testamento, pela sua estrutura literária, é realmente uma 
lindíssima arcada que leva à verdade salvadora e à bênção eterna.
Os paralelos comparativos e contrastantes entre os dois grupos de nove 
epístolas são um estudo isolado. Ambos os grupos começam com um 
grande tratado doutrinário, Romanos e Hebreus respectivamente. Ambos 
os g rupos term inam com um a reve lação esca to lóg ica , 1 e 2 
Tessalonicenses num caso e o livro de Apocalipse no outro. Romanos, no 
início do primeiro grupo, mostra-nos que a salvação em Cristo é o único 
caminho. Hebreus, no começo do segundo grupo, salienta que a salvação 
por meio de Cristo é o melhor caminho. Em Tessalonicenses, no final do 
primeiro grupo, vemos a segunda vinda de Cristo em relação especial com 
a Igreja. No livro de Apocalipse, no fim do segundo grupo, observamos a 
volta de Cristo especialmente em relação a Israel e às nações. E assim por 
diante, pois podemos desenvolver bem mais este assunto.
A presença de um plano e desígnio não pertence apenas à Bíblia neste 
sentido geral; ela se manifesta em todos os diferentes grupos de livros 
considerados separadamente. Quanto mais nos demoramos nos detalhes, 
tanto mais interessante se torna esse aspecto, até que toda possibilidade 
de se tratar de simples coincidência é eliminada pelo surpreendente 
volume de confirmação de que, de fato, esta é a Palavra do Deus vivo.
20
PRELIMINARES
NOVO TESTAMENTO
EXPERIÊNCIA: DOUTRINA
9 4 9
Epístolas Pastorais Epístolas
à e aos Cristãos
Igreja Cristã Pessoais Hebreus
HISTÓRIA DO NOVO TESTAMENTO
5
_______ Bases Históricas___________
Mateus ] Marcos | Lucas | João | Atos
ANTIGO TESTAMENTO
HISTÓRIA (17) EXPERIÊNCIA PROFECIA (17)
Lei Registros Pós- Vida Profecia Profetas Pós-
Básica Pré-exílio exílio Interior Básica Pré-exílio exílio
5 9 3 5 5 9 3
MOISÉS ANAIS DE CAN AÃ CORAÇÃO MAIORES E DOZE MENORES
21
O LIVRO DE GÊNESIS (1)
Lição Ns 1
NOTA: Para este primeiro estudo leia o Livro de Gênesis inteiro, uma 
ou duas vezes.
A AUTORIA DO PENTATEUCO
Iremos considerar repetidamente nestes estudos, com rapidez mas com 
cuidado, a questão da autoria relativa às diferentes partes das Escrituras. Na 
prolongada batalha entre o “modernismo” teológico e o tradicionalismo 
evangélico, a maior (e a primeira) das controvérsias sobre a autoria bíblica estava 
ligada à do Pentateuco. Ela é mosaica ou um mosaico?
Tentar aqui uma revisão extensiva foge de nosso objetivo. Isso talvez seja, 
todavia, também desnecessário, pois foi alcançado historicamente um ponto de 
onde a controvérsia pode ser vista num perfil abrangente e os resultados decididos 
com segurança. Acreditamos ser justo afirmar que os principais argumentos em 
favor da autoria mosaica permanecem firmes; os que defendem a idéia de vários 
autores ou a de autoria posterior já foram praticamente refutados. Isto fica 
perfeitamente nítido na seguinte citação de Sir Charles Marston:
“É bem possível que partes de alguns livros do Antigo Testamento tenham sido 
extraídas de documentos anteriores. Mas supor que seria possível encontrar um 
método já pronto para isolá-los, o qual, todavia, mostrar-se-ia completamente 
inútil para nossa literatura contemporânea, impôs um considerável 
constrangimento à credulidade de qualquer um. Isso fez surgir indagações sobre 
como e quando os livros originais do Antigo Testamento foram escritos; e, acima 
de tudo, levantou questões sobre os recursos literários possuídos pelos israelitas 
a partir da época de Moisés. Os métodos críticos satisfizeram essas perguntas, 
presumindo que os hebreus fossem praticamente iletrados. A suposição foi posta 
por terra. Com base na evidência arqueológica, pode ser deduzido... que os 
israelitas, depois de Moisés, tinham pelo menos três escritas alfabéticas. A 
primeira, conhecida como hebraico sinaítico; a segunda, como hebraico fenício e, 
por último, após o cativeiro na Babilônia, a que é conhecida como hebraico assírio. 
Esses fatos modificam inteiramente todo o problema literário. A transmissão oral 
se torna inadmissível. E a teoria da instituição e adoção do ritual mosaico muitos 
séculos após a época de Moisés torna-se grotesca e absurda, de acordo com o que 
sabemos agora sobre esse período.
“Assim sendo, J., E. e P., os supostos autores do Pentateuco, estão se tornando 
simples escritores fantasmas e invenções da mente. Eles fizeram com que o estudo 
do Antigo Testamento perdesse sua atração, gastaram nosso tempo e deturparam 
e confundiram nossos conceitos sobre a evidência externa. Supunha-se que 
possuíssem algum tipo de direito prescrito e autoridade superior ao texto sagrado. 
Com os esclarecimentos que a ciência está fornecendo, essas sombras que 
obscureceram nossos dias de estudo e devoção se afastam silenciosamente.”
O LIVRO DE GÊNESIS (1)
A BÍBLIA, na força de sua revelação, leva nossos pensamentos de volta 
no tempo até as eras patriarcal, primitiva e até mesmo pré-adâmica da 
terra; no entanto, a Bíblia propriamentedita não começou a ser escrita 
antes dos dias de Moisés. Como revelação histórica, seu início coincide 
com o terceiro capítulo de Êxodo, que registra a comunicação de Deus 
por meio da sarça ardente em Horebe e sincroniza com os oitenta anos de 
Moisés. Tudo o que precede este capítulo já havia passado quando a Bíblia 
começou a ser escrita; e tudo o que se acha registrado nos capítulos 
anteriores tem como propósito levar-nos até o grande novo movimento 
na história humana e o desenrolar magnificente da revelação divina que 
se inicia aqui.
Gênesis e a Bíblia inteira
A Bíblia não foi a primeira revelação de Deus. As suas próprias páginas 
deixam transparecer claramente que o primeiro casal humano, os 
antediluvianos e os patriarcas pós-diluvianos receberam revelações 
divinas; não é também improvável que elas tenham sido, até certo ponto, 
colocadas em forma escrita. Temos em Gênesis uma sinopse de toda a 
revelação anterior, suficiente para constituir uma introdução básica às 
comunicações posteriores feitas por Deus na Bíblia.
Além de ser introdutório, o livro de Gênesis é explicativo. Os outros 
registros bíblicos estão ligados inseparavelmente a este, uma vez que ele 
contém a origem e explicação inicial de tudo o que se segue. Os temas 
principais das Escrituras podem ser comparados a grandes rios, sempre 
se aprofundando e ampliando, à medida que correm, e podemos dizer 
sinceramente que todos esses rios nascem na linha divisória de Gênesis, 
ou, para usar uma figura igualmente apropriada, assim como o tronco 
maciço e os ramos frondosos do carvalho nascem do seu fruto, o mesmo 
acontece, por implicação e antecipação, com toda a Escritura que se acha 
em Gênesis. Temos aqui em forma de germe tudo o que se desenvolve 
mais tarde. Foi dito com razão que “as raízes de toda a revelação
25
EXAMINAI AS ESCRITURAS
subseqüente acham-se aprofundadas em Gênesis, e quem quiser 
com preender verdadeiramente essa revelação deve começar desse 
ponto”.
Gênesis e o Pentateuco
A Bíblia se abre com o Pentateuco ou os cinco livros de Moisés. O nome 
“Pentateuco” (em grego — pente, cinco; e teuchos, livro) foi tirado da 
Septuaginta (tradução do Antigo Testamento para o grego, dita como 
tendo sido feita por setenta judeus alexandrinos, por volta do século III 
a.C., recebendo o nome de Septuaginta por causa do termo latino 
septuaginta, que significa setenta). Há, porém, uma boa razão para crer 
que antes de a Septuaginta ter sido feita, os escritos de Moisés foram 
reconhecidos como sendo em número de cinco. Os judeus os chamavam 
de “a Lei” ou “os cinco quintos da Lei” ou simplesmente “os cinco”. É 
provável que, na forma original, o todo fosse um só, dividido em cinco 
seções, cada uma tendo como título a primeira palavra ou palavras.
Existe uma perfeição espiritual no Pentateuco. Suas cinco partes não só 
nos dão uma história seqüencial, abrangendo os primeiros 2.500 anos da 
crônica humana, mas constituem uma unidade espiritual progressiva, 
estabelecendo, em seus aspectos principais, o que foi descrito como “a 
ordem da experiência do povo de Deus em todas as épocas”.
Observamos em Gênesis a ruína através do pecado do homem. Em 
Êxodo temos a redenção mediante o sangue do Cordeiro e o Espírito de 
poder. Em Levítico temos comunhão baseada na expiação. Em Números 
encontramos orientação durante a peregrinação, por parte da vontade 
dominante de Deus. Em Deuteronômio aprendemos a respeito da dupla 
verdade da instrução renovada e completada, e o povo errante levado ao 
seu destino predeterminado. Não é isto realmente “a ordem da experiência 
do povo de Deus em todas as épocas”?
Todavia, estes cinco primeiros livros nos dão, além disso, uma revelação 
indiscutivelm ente progressiva, em cinco estágios, re fe ren te ao 
relacionamento de Deus com o Seu povo. Vemos em Gênesis a soberania 
de Deus na criação e na eleição (na escolha de Abraão, Isaque, Jacó e seus 
descendentes e na promessa solene de lhes entregar a terra de Canaã 
como herança predestinada). Em Êxodo vemos o poder remidor de Deus 
ao libertar Israel do Egito, “com mão poderosa e com braço estendido”.
26
O LIVRO DE GÊNESIS (1)
O livro de Levítico mostra-nos a santidade de Deus em sua insistência na 
separação e santificação do povo remido. Números destaca a “bondade e 
severidade” de Deus — severidade para com a geração incrédula que 
deixou o Egito, mas não pôde entrar na herança prometida, e bondade 
para com os filhos desses israelitas, sustentando, protegendo e 
preservando, até que Canaã fosse ocupada. Deuteronômio revela a 
fidelidade de Deus — fiel ao Seu propósito, Sua promessa, Seu povo, e em 
levar os remidos até a terra que lhes prometera.
Assim sendo:
O LADO HUMANO
Gênesis.
Êxodo.
Levítico.
Números.
Deuteronômio.
Ruína — através do pecado do homem. 
Redenção — pelo “sangue” e “poder”. 
Comunhão — com base na expiação. 
Orientação — direção pela vontade de Deus. 
Destino — mediante a fidelidade de Deus.
O LADO DIVINO
Gênesis.
Êxodo.
Levítico.
Números.
Deuteronômio.
Soberania divina — na criação e eleição.
Poder divino — na redenção e emancipação. 
Santidade divina — na separação e santificação. 
Bondade e severidade divinas — julgando, cuidando. 
Fidelidade divina — na disciplina e no destino.
Vemos assim que essas cinco partes do Pentateuco estão repletas de 
propósito e progresso. Elas são uma miniatura da Bíblia.
Gênesis e Apocalipse
É importante reconhecer a relação entre Gênesis e o último livro da 
Bíblia. Existe uma correspondência entre eles, que sugere ser ao mesmo 
tempo uma prova e um produto do fato de que a Bíblia é uma revelação 
completada. Não é possível entender adequadamente um sem o outro; 
quando reunidos, porém, eles se completam. Não é possível retroceder 
além de um deles, nem avançar para além do outro. Não há também
27
EXAMINAI AS ESCRITURAS
necessidade disso em qualquer caso. Em termos gerais e linguagem 
majestosa, Gênesis responde à pergunta: “Como tudo começou?” Em 
termos gerais e linguagem majestosa, Apocalipse responde à pergunta: 
“Como tudo terminará?” Tudo o que fica entre eles é o desenrolar dos 
acontecimentos de um até o outro.
Note as semelhanças entre Gênesis e Apocalipse. Temos em ambos um 
novo começo e uma nova ordem. Observamos em ambos a árvore da vida, 
o rio, a noiva, a caminhada de Deus com o homem; em ambos os paraísos 
vemos os mesmos ideais nos campos moral e espiritual. Deus jamais 
abandonou o ideal do Éden para o homem; embora no final o jardim tenha 
dado lugar à cidade, o ideal de santidade do Éden finalmente triunfa.
Marque os contrastes entre um livro e outro. Em Gênesis vemos o 
primeiro paraíso fechado (3.23); em Apocalipse vemos o novo paraíso 
aberto (21.25). Em Gênesis o pecado humano resulta em expulsão (3.24); 
em Apocalipse a graça divina produz reintegração (21.24). Em Gênesis 
lemos sobre a “maldição” imposta (3.17); em Apocalipse ela é removida 
(22.3). Em Gênesis, o acesso à árvore da vida é vetado em Adão (3.24); 
em Apocalipse vemos o acesso à árvore da vida recuperado, em Cristo 
(22.14). Em Gênesis vemos o começo do sofrimento e da morte (3.16-19); 
em Apocalipse lemos que “a morte já não existirá, já não haverá luto, nem 
pranto, nem dor” (21.4). Em Gênesis nos é mostrado um jardim em que 
entrou a corrupção (3.6-7); em Apocalipse nos é mostrada uma cidade, 
sobre a qual é escrito: “Nela nunca jamais penetrará coisa alguma 
contaminada” (21.27). O homem perde o domínio em Genêsis, por causa 
da queda do primeiro homem, Adão (3.19); vemos esse domínio 
restaurado em Apocalipse, sob o reino do Novo Homem, Cristo (22.5). 
Em Gênesis vemos triunfar a maldade da serpente (3.13); em Apocalipse 
contemplamos o triunfo final do Cordeiro (20.10; 22.3). A caminhada de 
Deus com o homem é interrompida em Gênesis (3.8-10); em Apocalipse 
Deus volta a andar com ele, e uma grande voz proclama dos céus: “Eis o 
tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles...” (21.3).
Veja como um livro se completa no outro. O jardim, emGênesis, dá 
lugar à cidade, em Apocalipse; e o homem que estava sozinho se 
transforma numa raça. Vemos em Gênesis o pecado humano em seu 
começo; no livro de Apocalipse observamos seu desenvolvimento pleno e 
final, na Meretriz, no Falso Profeta, na Besta e no Dragão. Em Gênesis 
vemos o pecado provocando a morte física na terra. Em Apocalipse vemos
28
O LIVRO DE GÊNESIS (1)
o pecado nas trevas terríveis da “segunda morte”, no além. Lemos em 
Gênesis sobre a sentença pronunciada contra Satanás; no Apocalipse a 
sentença é executada. A primeira promessa de um Salvador e da salvação 
futura é dada em Gênesis; em Apocalipse vemos essa promessa em seu 
cumprimento final e glorioso. Gênesis provoca expectativa; Apocalipse 
produz a realização. Gênesis é a pedra fundamental da Bíblia; Apocalipse 
é a sua cimalha.
A ESTRUTURA DE GÊNESIS
Como já dissemos, tudo o que se passa antes do terceiro capítulo de 
Êxodo já havia acontecido quando a Bíblia começou a ser escrita. Vamos 
fazer então uma pausa nesse terceiro capítulo de Êxodo e observar o que 
se acha registrado em Gênesis, a fim de colocar em perspectiva os pontos 
principais. Não é difícil perceber que em Gênesis encontramos duas 
importantes divisões. Todos os estudiosos da Bíblia concordam em que o 
chamado e a resposta de Abrão constituem um desvio na narrativa e 
marcam as duas partes principais do livro — a primeira cobrindo os 
capítulos um a onze e a segunda, os capítulos doze a cinqüenta.
Desse modo, vemos como cada parte é organizada conforme um plano 
significativo em quatro partes. Na primeira parte temos quatro eventos em 
destaque — a Criação, a Queda, o Dilúvio e a crise de Babel. Na segunda, 
temos quatro pessoas em destaque — Abraão, Isaque, Jacó e José. Todo 
o conteúdo de Gênesis foi organizado ao redor, em relação a esses quatro 
eventos centrais de um lado e às quatro pessoas centrais do outro.
Ao observar os eventos e personagens básicos de Gênesis assim 
ressaltados, percebemos também rapidamente a idéia unificadora que se 
estende através do registro, e isto nos fornece o significado principal do 
livro como um todo. Pelo fato de ter sido colocado logo no início dos 66 
livros, Gênesis nos faz dobrar os joelhos em obediência reverente diante 
de Deus, por exibir perante os nossos olhos, e trovejar em nossos ouvidos, 
aquela verdade que deve ser aprendida antes de todas as outras em nosso 
trato com Deus, em nossa interpretação da história e em nosso estudo da 
revelação divina, a saber — A SOBERANIA DIVINA.
Ao fazer um retrospecto dos quatro grandes eventos da parte um e dos 
quatro grande personagens da parte dois, concluímos que eles constituem 
uma demonstração impressionante da soberania divina. No primeiro dos 
quatro eventos, temos a soberania divina na criação física. No segundo, ela
29
EXAMINAI AS ESCRITURAS
se manifesta na tabulação humana. No terceiro, o ponto é a retribuição 
histórica. No quarto, a soberania divina se evidencia na distribuição racial. 
Nestes quatro acontecimentos importantes, contemplamos o domínio do 
Criador em Sua prioridade eterna, Sua autoridade moral, Sua severidade 
judicial e Sua supremacia governamental.
Ao voltarmos para a segunda parte de Gênesis, surge a soberania de 
Deus na regeneração. O processo de regeneração esboçado aqui contrasta 
por completo com o de degeneração na primeira parte do livro. Desde 
Adão até Abraão vemos o curso da degeneração: primeiro, no indivíduo 
— Adão; a seguir, na família — Caim e seus descendentes; depois, nas 
nações — a civilização antediluviana; e então, persistindo através da raça, 
como tal, em Babel. Acontece a essa altura um novo desvio. Vemos o 
processo de regeneração operando: primeiro, no indivíduo — Abraão, 
Isaque, Jacó; a seguir, na família — os filhos de Jacó; depois, na nação — 
Israel; tudo com vistas à regeneração final da raça. Em Abraão, Isaque e 
Jacó vemos a soberania divina na eleição. Abraão, apesar de ser o filho 
mais moço, é escolhido em lugar de seus dois irmãos mais velhos. Isaque 
é escolhido em lugar de Ismael, o filho mais velho de Abraão. Jacó, embora 
tivesse nascido depois de Esaú, é preferido a seu irmão. Através de tudo 
isso, percebemos o princípio da eleição divina. Deus escolhe a quem quer, 
em sua graça soberana. Mais tarde, na belíssima biografia de José, 
apreciamos a soberania de Deus na direção — no controle dominante e 
infalível de todos os acontecimentos até o fim predeterminado, por mais 
contrários que parecessem.
No caso de Abraão vemos esta eleição soberana expressa mediante um 
chamado sobrenatural, pois fica claro que Deus interviera diretamente 
(veja Gn 12.1-3).
No que se refere a Isaque, nós a vemos expressa por um nascimento 
sobrenatural. Abraão dissera: “Oxalá viva Ismael diante de ti” (17.18). 
Mas, não! Quando Abraão já tem cem anos e Sara noventa, Isaque, o filho 
do milagre, lhes é concedido.
Na história de Jacó, a eleição se evidencia no cuidado sobrenatural. 
Deus o salva primeiro da faca de Esaú; depois o encontra em Betei; faz 
com que prospere, apesar da astúcia de Labão; salva-o da ira vingadora 
do irmão que vai ao seu encontro com um grupo de 400 homens; e assim 
por diante, até quando Jacó, agonizante, abençoa os jovens Manassés e 
Efraim, dizendo: “o Anjo que me tem livrado de todo mal, abençoe estes
30
O LIVRO DE GÊNESIS (1)
rapazes” (Gn 48.16).
Em José, por último, vemos a soberania divina na orientação, manifesta 
no controle sobrenatural, fazendo com que todos os acontecimentos 
contribuam para o fim predestinado.
Assim, nestes quatro homens observamos então um desenvolvimento 
em quatro planos — (1) chamado sobrenatural, (2) nascim ento 
sobrenatural, (3) cuidado sobrenatural, (4) controle sobrenatural.
Neste prim eiro livro da Escritura descobrimos, então, que, ao 
concentrar-nos nos eventos e personagens básicos, passam os a 
compreender a relevância do tema como um todo e podemos organizar 
os fatos como segue.
31
EXAMINAI AS ESCRITURAS
O LIVRO DE GÊNESIS
A SOBERANIA DIVINA NA CRIAÇÃO, 
HISTÓRIA E REDENÇÃO
I. HISTÓRIA PRIMITIVA (1-111
Quatro Eventos de Destaque
A CRIAÇÃO — A soberania divina na criação física.
A prioridade eterna de Deus.
A QUEDA — A soberania divina na tribulação humana.
A autoridade moral de Deus.
O DILÚVIO — A soberania divina na retribuição histórica.
A severidade judicial de Deus.
A CRISE DE BABEL — A soberania divina na distribuição racial. 
A supremacia governamental de Deus.
II. HISTÓRIA PATRIARCAL (12-50)
Quatro Pessoas de Destaque
ABRAÃO — Soberania divina na eleição.
Chamado sobrenatural.
ISAOUE — Soberania divina na eleição.
Nascimento sobrenatural.
JACÓ — Soberania divina na eleição.
Cuidado sobrenatural.
JOSÉ — Soberania divina na direção.
Controle sobrenatural.
32
O LIVRO DE GÊNESIS (2)
Lição Ns 2
NOTA: Para este segundo estudo leia de novo com cuidado (tomando 
nota dos pontos importantes) Gênesis, capítulos 1 a 11.
Em antecipação aos nossos comentários sobre a extensão geográfica do 
Dilúvio, queremos dar um conselho. Ao estudarmos a Bíblia, devemos 
sempre lembrar que estamos usando uma tradução em vez do original. A 
compreensão correta da palavra usada no original pode afetar de maneira 
significativa nossa interpretação em muitos casos. Isto não deve desanimar 
os que não conhecem hebraico nem grego, pois em nossos dias os recursos 
à nossa disposição são muitos. Um deles é, sem dúvida, a Exhaustive 
Concordance de Strong, que, mediante um sistema de fácil referência, 
fornece não só todas as ocorrências do termo em inglês, mas também a 
palavra hebraica ou grega assim traduzida e a pronúncia em inglês, assim 
como qualquer outra palavra inglesa que traduz o vocábulo hebraico ou 
grego na Bíblia — isso sem mencionar outros excelentes aspectos. Trata-se 
de um instrumento inestimável para o estudioso da Bíblia. O seu valor 
nunca poderá ser subestimado. O conhecimento e uso das palavras 
empregadas no original são esclarecedores e fascinantes.
J. S. B.
O LIVRO DE GÊNESIS (2)EM NOSSO PRIMEIRO estudo, vimos que a idéia predominante no Livro 
de Gênesis é a soberania de Deus. Notamos também que o livro se divide 
em duas partes principais. Na primeira (1-11), temos quatro eventos em 
destaque — a Criação, a Queda, o Dilúvio e a dispersão de Babel. Na 
segunda (12-50), destacam-se quatro pessoas — Abraão, Isaque, Jacó e 
José. Vamos agora recapitular brevemente os quatro super-eventos da 
primeira parte.
A criação
Em primeiro lugar faremos uma revisão dos capítulos 1 e 2, que tratam 
daquele transcendente acontecimento inicial, a Criação. No primeiro 
versículo do livro lemos: “No princípio criou Deus os céus e a terra”. Isto 
não é teoria humana, mas um “testemunho” divino. Lemos no Salmo 93.5: 
“Fidelíssimos são os teus testem unhos...” A palavra de Deus dá 
testemunho de verdades superiores à inteligência humana comum, que 
estão além do alcance da investigação humana. Gênesis 1.1 é o primeiro 
desses “testemunhos”. Existe uma diferença radical entre uma teoria e um 
“testemunho” ou “depoimento”. A teoria trata da interpretação dos fatos, 
enquanto o testemunho trata dos fatos em si. É essencial compreender que 
este versículo de abertura da Bíblia não é simplesmente o primeiro 
postulado de uma filosofia humana, mas o primeiro testemunho de uma 
revelação divina. E a primeira grande verdade que Deus quer tornar 
conhecida ao homem; e este não a poderia conhecer se não fosse pelo 
testemunho divino. Nós a aceitamos como tal, acreditando com o salmista 
que “o testemunho do Senhor é fiel, e dá sabedoria aos símplices” (SI 19.7).
Este depoimento inicial de nosso fiel Criador permanece sublime em 
sua simplicidade. Não há definição de Deus, nenhuma descrição da 
criação e nenhuma declaração de data. Positivo e completo em si mesmo, 
ele deixa, entretanto, espaço para todo o desenrolar subseqüente das 
Escrituras e todas as descobertas da ciência. Ele é axiomático. Da mesma 
forma que a geometria é construída sobre certas verdades axiomáticas, o
35
EXAMINAI AS ESCRITURAS
axioma fundamental da Bíblia é estabelecido em sua primeira sentença. 
A moda, hoje, é professar descrença em milagres. Se aceitarmos a 
primeira sentença da Escritura, não haverá dificuldade para aceitar todos 
os milagres que se seguem; pois os menores estão incluídos no maior. Note 
também que este primeiro pronunciamento básico da Bíblia nega todas 
as principais filosofias falsas propostas pelo homem.
“No princípio... Deus” — nega o ateísmo com sua doutrina da 
não-existência de Deus.
“No princípio... Deus” — nega o politeísmo com sua doutrina de 
muitos deuses.
“No princípio criou Deus” — nega o fatalismo com sua doutrina do 
acaso.
“No princípio criou Deus” — nega a evolução com sua doutrina de 
transformação infinita.
“... criou Deus os céus e a terra” — nega o panteísmo que identifica 
Deus com o universo.
“... criou Deus os céus e a terra” — nega o materialismo que proclama 
a eternidade da matéria.
Assim sendo, este primeiro “testemunho” do Senhor não é só uma 
declaração da verdade divina, mas também o repúdio ao erro humano.
Mas, o que dizer do versículo 2: “A terra, porém, era sem forma e vazia; 
havia trevas sobre a face do abismo”? Isto descreve a primeira condição 
da terra depois da sua criação? E os seis “dias” que se seguem neste 
primeiro capítulo? Eles descrevem o processo da criação original? E 
necessário pensar e falar com muito cuidado aqui, pois os mal-entendidos 
são muitos neste aspecto. Se a Bíblia é a palavra inspirada de Deus, nada 
pode ser mais importante do que compreender corretamente os seus 
ensinos quanto à origem das coisas. Todavia, o fato é que nenhum capítulo 
da Bíblia foi tão mal compreendido e mal interpretado quanto esses dois 
primeiros de Gênesis. E certo afirmar que nestes dois capítulos temos um 
registro da “criação” (pois eles contêm a criação original do universo no 
capítulo 1.1 e a subseqüente criação da ordem animal presente no 
versículo 21, assim como a criação do homem no versículo 27); a 
declaração necessita, entretanto, de restrição e explicação.
Deve ser feita uma diferença (a Bíblia com certeza a faz) entre a criação
36
original da terra e sua reconstrução subseqüente, com o objetivo de 
torná-la habitável para o homem . Não é demais enfatizar que os seis 
“dias” neste primeiro capítulo de Gênesis não descrevem a criação original 
da terra. Os que defendem ou afirmam isto são obrigados a tratar os seis 
“dias” como vastos períodos de tempo, a fim de enquadrar Gênesis com 
o que a ciência moderna nos ensinou sobre a enorme antigüidade da terra. 
Todavia, eles falham assim em conciliar Gênesis e a geologia e, pior ainda, 
envolvem as Escrituras em contradições insolúveis.
Esse segundo versículo, que diz: “a terra era sem forma e vazia”, não 
descreve a primeira condição da terra após sua criação, como muitos 
pensam. Ele alude a um cataclisma que devastou mais tarde a terra. Os 
versículo 1 e 2 não têm uma ligação lógica. Existe uma lacuna entre ambos, 
cuja duração não sabemos. O versículo 2 deveria sem dúvida ser: “E a terra 
tomou-se (não apenas “era”) sem forma e vazia...” O mesmo termo 
hebraico usado aqui é interpretado desse modo em 2.7: “O homem passou 
a ser alma vivente” (sem mencionar outros exemplos, em alguns dos quais 
a interpretação é “veio a ser”). A geologia moderna fornece dados 
provando a antigüidade de nosso globo. Gênesis não entra em conflito com 
a geologia nesse terreno. Entre os dois primeiros versículos de Gênesis há 
amplo espaço para todas as eras geológicas. Ninguém pode afirmar qual 
o lapso de eras que existe entre eles.
O primeiro versículo de Gênesis declara, então, simplesmente o fato da 
criação original, e o deixa ali, no passado sem data. O versículo 2, a seguir, 
trata de um caos que veio mais tarde à terra. Então, os seis “dias” 
subseqüentes descrevem a nova formação da terra com a finalidade de 
tomá-la habitável para o homem. Não sabemos com certeza o que 
ocasionou o cataclisma que tornou a terra “sem forma e vazia”. A 
Escritura parece fornecer algumas indicações veladas de que isso estava 
associado a uma rebelião pré-adâmica e ao juízo de Lúcifer e outros seres 
angelicais associados (veja Is 14.9-17; Jr 4.23-27; Ez 28.12-18, onde a 
linguagem transcende qualquer limite simplesmente local ou temporal).
O LIVRO DE GÊNESIS (2)
1. Nota dos editores: Uma vez que se trata de uma opinião particular de Baxter, 
recomendamos aos leitores interessados em outras opiniões que consultem obras como a 
de D. Kidner, Gênesis, Introdução e Comentário (Edições Vida Nova e Editora Mundo 
Cristão, 1979).
37
EXAMINAI AS ESCRITURAS
Nãò faz parte de nosso plano entrar nesse assunto aqui. O que desejamos 
enfatizar de novo é que esses seis “dias” do primeiro capítulo de Gênesis 
não descrevem a criação original. Em ponto algum da Bíblia é dito que se 
trata de um registro da criação original. Durante os quatro primeiros dias 
não é documentado qualquer ato criador. Só quando chegamos aos 
animais e ao homem é usada a palavra hebraica equivalente a “criar” (w. 
21, 27). Em síntese, esses seis dias relatam um novo começo; mas não são 
o primeiro começo. Uma vez claramente apreciado este aspecto, o suposto 
conflito entre Gênesis e a geologia desaparece.
Nossos comentários finais sobre esses seis “dias” devem ser no sentido 
de apontar o processo, o progresso e o propósito deles. Desde o início, a 
terra estava envolvida pelo “Espírito de Deus” (1.2); e em cada estágio da 
reconstrução lemos que “disse Deus”. Temos assim a vontade de Deus, 
expressa pela palavra de Deus e executada pelo Espírito de Deus. Este é 
o processo exposto aqui e ele se manifesta num progresso em seis partes 
ordenadas, culminando no homem. Vemos no homem a coroação do 
propósito total.
O Homem, a Coroa
No capítulo 2, são descritas a criação e a primeira condição de Adão. São 
quatro movimentos — produção, provisão, prova e progressão. O ato de 
produção é narrado no versículo 7. O homem é formado do “pó da terra”,sendo porém soprado nele o “fôlego de vida”. Veja sua insignificância e 
superioridade! — sua condição terrena e celestial! A seguir, nos versículos 
8-14, vemos a provisão divina para o homem. Tratava-se de provisão 
perfeita e profusa. A seguir, em 15-17, vemos o homem sendo colocado à 
prova. A liberdade do homem ficaria condicionada à lealdade. Entre as 
muitas provisões existia uma única proibição. Esta constituía o ponto de 
prova. Note, por último, a progressão segundo demonstrada nos versículos 
18-25.0 movimento é gradual, mas avança sempre. Isto é visto na relação 
entre o homem e os animais; no dom potencial da fala; e, especialmente, 
na provisão de Eva para satisfazer a necessidade mais profunda de Adão 
e na perfeita felicidade daquele primeiro casamento no Éden. Existe, pois, 
produção à semelhança de Deus; provisão para o corpo, prova para a 
mente e progressão até o ponto de satisfazer o coração. Nesses quatro 
movimentos vemos o HOMEM, o SERVO, o REI, o MARIDO.
38
A queda
Fica perfeitamente claro para qualquer um que o pecado, com todos 
seus conseqüentes sofrimentos, existe no mundo inteiro. Como ele 
entrou? A explicação bíblica é dada em Gênesis 3. Não é nosso propósito 
defender essa explanação contra as opiniões humanas contrárias. Nós a 
apresentamos de maneira expositiva e não controversa. Aceitamos a 
explicação das Escrituras, e três coisas fazem parte do relato: (1) a 
tentação, (2) a aceitação e (3) os resultados.
Quanto à tentação (w. 1-6), notamos primeiro que ela foi permitida. 
Não é fácil ver como poderia ter sido de outro modo na educação de um 
ser provido de razão e de vontade própria como o homem. A tragédia real 
está em ter havido um tentador. O fato de o ser humano estar sendo 
simplesmente provado, conforme lemos no capítulo 2.17, tornou-O sujeito 
à tentação. Mas, lembre-se, o tentador podia somente tentar, não era 
necessário haver pecado. E não havia razão para ceder. Notamos também 
que a tentação foi dirigida a Eva isoladamente. Este é o método comum 
de Satanás. Ela foi igualmente ligada à beleza: seu verdadeiro caráter 
estava oculto. Houve da mesma forma um aumento gradual na força da 
tentação. A princípio, a palavra de Deus é apenas posta em dúvida (v. 1). 
A seguir é diretamente contestada (v. 4). Depois, como a pessoa tentada 
continua tolamente a dar ouvidos, o próprio motivo em que se baseia a 
palavra de Deus é pervertido (v. 5).
Quanto à aceitação (v. 6), vemos que Satanás primeiro cativou o ouvido, 
depois os olhos, a seguir o desejo interior e finalmente a vontade. Eva deu 
ouvidos ao tentador, permitindo depois que seus olhos contemplassem o 
objeto da tentação. Seu desejo então superou a vontade. Compare o 
versículo 6 com 1 João 2.16. “Vendo a mulher que a árvore era boa para 
se comer” — a concupiscência da carne. “Agradável aos olhos” — a 
concupiscência dos olhos. “E árvore desejável para dar entendimento” — 
a soberba da vida. A primeira tentação no Éden, assim como milhares de 
tentações que levaram homens e mulheres a pecar desde então, são 
fundamentalmente idênticas. O principal objetivo do tentador é sempre 
separar cada vez mais a vontade do homem da de Deus. É importante ver 
que Deus havia facilitado ao máximo resistir a essa tentação. Adão e Eva 
haviam sido avisados do ato que Satanás queria que cometessem. Veja os
O LIVRO DE GÊNESIS (2)
39
EXAMINAI AS ESCRITURAS
textos de 2.17 e 3.3. A ordem não podia ser mais explícita. O aviso foi 
enfático. Não havia dificuldade em obedecer, pois Deus os cercara de 
inúmeras satisfações e lhes dera o lugar mais elevado na criação. Por 
último, vale a pena comparar o registro de Gênesis sobre a aceitação com 
1 Timóteo 2.14. Eva foi “enganada”, mas não Adão. A escolha dele foi 
deliberada, ao que parece, ao ficar ao lado de Eva na sua queda.
Quando aos resultados (w. 7-24), note os seguintes pontos. Satanás 
dissera que os olhos deles se abririam e que conheceriam o bem e o mal 
(v. 5). O cumprimento foi um tanto quanto sarcástico. Os olhos deles foram 
“abertos”! — e eles “conheceram”! — mas que descoberta e que 
conhecimento! — “Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo 
que estavam nus...” A inocência desapareceu. Esse foi o primeiro 
resultado. Percebemos agora o surgimento da vergonha — “coseram 
folhas de figueira, e fizeram cintas para si”. Devemos agradecer a Deus o 
sentimento de vergonha que colocou na natureza humana! Ele salvou a 
humanidade de muitos males. Sentimento de vergonha — este foi o 
segundo resultado. Veja porém que houve evidentemente uma mudança 
no corpo humano. Em Romanos 8.3 lemos que Cristo veio “em 
semelhança de carne pecaminosa”. Isso não pode significar que a natureza 
humana do Senhor tivesse sido de qualquer forma contagiada pelo 
pecado. Como tinha então semelhança de carne pecaminosa? A resposta 
está em que, embora nosso Senhor fosse absolutamente irrepreensível, 
Ele não tinha em seu corpo a glória primitiva, a glória original do homem 
no Éden antes da queda. A conclusão é que antes da queda havia uma 
glória radiante ao redor dos corpos de Adão e Eva, que era em si mesma 
uma cobertura resplendente. É-nos dito que a própria pele do rosto de 
Moisés brilhava, depois de seus quarenta dias de comunhão com Deus no 
Sinai. Como deve ter sido então a radiante beleza daquele casal no 
esplendoroso Éden, enquanto ainda não tinham pecado? Banhados na luz 
gloriosa de sua pura comunhão com Deus, seus corpos devem ter brilhado 
inteiramente. Mas, logo após a queda, essa glória desapareceu, e 
“perceberam que estavam nus”. Este foi o terceiro resultado.
Isso não foi tudo, porém. Houve uma mudança trágica interior. Veio 
repentinamente à tona uma estranha guerra onde antes só havia amor, 
alegria e paz. Veio o terror de uma faculdade recém-desperta — a da 
consciência. Assim, com o primeiro pecado surgiu o primeiro medo: Adão
40
O LIVRO DE GÊNESIS (2)
e a mulher fugiram de Deus e tentaram ocultar-se dEle! Este foi o quarto 
resultado — e note que não parece ter havido qualquer contrição humilde, 
mesmo quando o pecado foi exposto diante de Deus. Um afastamento 
espiritual se produzira entre o homem e Deus. O reino da morte espiritual 
fora estabelecido. Além de tudo, o homem acaba sendo expulso do jardim 
onde se encontra a árvore da vida; a terra é amaldiçoada; a serpente é 
maldiçoada; o homem recebe domínio sobre a mulher; e Deus providencia 
vestimentas para Adão e Eva. Todavia, em meio ao julgamento, Deus se 
lembra da misericórdia, e a primeira grande promessa sobre a vinda de 
um Salvador é dada no versículo 15. A melodia inteira será desenvolvida 
no correr do tempo e conforme a revelação da Escritura se desenrola; mas 
aqui em Gênesis 3.15 as primeiras notas se fazem ouvir, na promessa de 
que o “descendente” da mulher feriria a cabeça da serpente.
O dilúvio
Se há um período da história sobre o qual gostaríamos de mais 
informações é o período antediluviano, entre a queda e o dilúvio. A 
narrativa de Gênesis mostra-se muito reticente, por uma razão muito 
simples. Mil e seiscentos anos1 são concentrados em duas páginas, de 
modo que não podemos ignorar a ligação significativa entre a queda e o 
dilúvio, quer vejamos ou não qualquer outro elemento. O escritor 
inspirado omite tudo que não é vital ao seu propósito. A narrativa bíblica 
jamais se preocupa com o simples lapso de tempo, e sim com a importância 
moral do eventos. Entre a queda e o dilúvio, o desenvolvimento dos fatos 
é quase dramático. Vamos observá-los com cuidado. No capítulo 3 vemos 
a queda. No capítulo 4, temos Caim e sua linhagem — “os filhos dos 
homens”. No capítulo 5 aprendemos sobre Sete e sua linhagem — “os 
filhos de Deus”. No capítulo 6 as duas linhas se cruzam, com resultados 
morais trágicos. No capítulo 7 o juízo é executado — o dilúvio. Esta
1. Nota dos editores: Uma vez que se trata de uma opinião particular de Baxter, 
recomendamos aos leitores interessados em outras opiniões que consultem obras como a 
de D. Kidner, Gênesis, Introduçãoe Comentário (Edições Vida Nova e Editora Mundo 
Cristão, 1979).
41
EXAMINAI AS ESCRITURAS
seqüência dramática, uma vez observada, não pode mais ser esquecida. A 
separação entre as duas linhagens era vital; sua mistura, fatídica. A 
condição moral resultante foi espantosa; a corrupção, extrema. Tornou-se 
inevitável a intervenção divina, assim como o castigo. O dilúvio foi enviado 
como um ato de juízo e também como uma medida de salvação moral. 
Esta é a primeira grande lição bíblica de que são indispensáveis a 
separação e a intransigência. A insistência divina em todo o tempo é para 
que a descendência espiritual “saia e se separe”.
Alguns afirmaram que os “filhos de Deus” mencionados no capítulo 7 
são anjos decaídos, isto é, anjos “que não guardaram o seu estado original, 
mas abandonaram o seu próprio domicílio”, referidos em Judas 6. O 
falecido Dr. E. W. Bullinger, exegeta capaz, mas frequentem ente 
fantasioso e falho, defende esta idéia. Um pouco de reflexão mostrará 
como ela é absurda. Os anjos são seres espirituais, assexuados, e, portanto, 
incapazes de experiências sensuais ou processos sexuais; também não 
podem reproduzir-se. A sugestão de esses anjos perversos de alguma 
forma terem tomado a forma humana e se tornado capazes de uma 
atividade sexual não passa de um disparate, como qualquer um pode 
verificar. A idéia é inconcebível tanto no terreno psicológico como no 
fisiológico. Todos sabemos como é peculiarmente delicada, sensível e 
intrincada a inter-reação que existe entre o corpo humano e a mente ou a 
alma humana. Isto se deve ao fato de a alma e o corpo terem nascido juntos 
e estarem misteriosamente unidos em uma personalidade humana. É 
assim que as sensações do corpo se tornam experiências da mente. Se os 
anjos simplesmente tomassem corpos e habitassem neles, isso não os 
capacitaria de modo algum a experimentar as sensações desses corpos, 
pois os anjos e os corpos não estariam unidos em uma personalidade, como 
no caso da mente e corpo humanos. Na verdade, os corpos não poderiam 
ser de carne e osso, pois, não habitando neles o espírito humano, o corpo 
humano de carne e osso morre. Quando o Senhor Jesus veio a este mundo 
para tornar-se nosso Salvador, Ele não tomou para si apenas um corpo 
humano e habitou nele. Tal coisa não o tornaria humano, não seria uma 
encarnação real. O Filho de Deus não tomou somente um corpo humano, 
Ele tomou para si a nossa natureza humana; e para isto teve de nascer. Se 
esses “filhos de Deus” em Gênesis eram anjos decaídos, a única maneira 
de se tornarem humanos e se casarem e terem filhos (6.1, 4) seria
42
O LIVRO DE GÊNESIS (2)
submetendo-se a um nascimento humano real — isto é, sendo encarnados 
e nascidos de mães humanas, mas sem pais humanos! Pensar que isto 
aconteceu é absurdo. Bullinger afirma que “filhos de Deus” é uma 
descrição aplicada apenas às criações diretas de Deus — isto é, os anjos, o 
primeiro homem, Adão (Lc 3.38) e aqueles na presente dispensação que 
constituem uma “nova criação” em Cristo (2 Co 5.17; Rm 8.14 etc.); mas 
ele certamente se esquece de versículos como Isaías 43.6 e 45.11, onde a 
expressão “meus filhos” é equivalente a “filhos de Deus”. Ignoremos 
completamente, então, a estranha idéia de que esses “filhos de Deus” em 
Gênesis eram os anjos decaídos, que “não guardaram o seu estado 
original” a fim de coabitar com as mulheres da terra. Além das objeções 
que já levantamos, a impressão que a Escritura nos transmite é de que a 
queda desses anjos — como a de Satanás — ocorreu muito antes de o 
homem ser criado na terra.
O dilúvio nos dias de Noé foi universal? Quanto ao fato do dilúvio, o 
testemunho da tradição universal e da arqueologia do século XX tiraram 
qualquer dúvida a esse respeito; mas, repetimos, o dilúvio foi universal? 
Discutir adequadamente esta questão exigiria um espaço que iria exceder 
em muito os limites de nosso presente objetivo. Existem, porém, dois ou 
três fatos basicamente importantes que não podem deixar de ser 
mencionados. Primeiro, entendamos claramente que não é fundamental 
para a inspiração das Escrituras afirmar que o dilúvio de Noé foi universal. 
A expressão “a terra”, que aparece tantas vezes no registro bíblico, não 
nos obriga a isso, pois o termo hebraico (eretz), traduzido como “terra”, 
freqüentemente indica apenas um país ou localidade. Por exemplo, no 
chamado divino a Abraão, “sai da tua terra”, a palavra é eretz, e em muitos 
outros pontos eretz corresponde a “região”. Do mesmo modo, o termo 
hebraico (har) traduzido como “monte” (7.20) tem várias conotações. 
Pode significar pouco mais que outeiros ou planaltos, ou ainda montanhas 
propriamente ditas. E a palavra repetidamente empregada no título 
“Monte Sião”. Não se exige de modo algum que pensemos em Nóe e a 
arca elevados acima dos Alpes e das montanhas do Himalaia, onde, por 
seu próprio peso, as águas se tornariam parte da neve e gelo eternos, lugar 
em que, de fato, a arca ficaria enterrada sob milhares de metros de gelo, 
e onde, mesmo que tal sepultamento na neve fosse de alguma forma 
superado, a vida na arca teria sido impossível se não houvesse algum
43
EXAMINAI AS ESCRITURAS
sistema milagroso de “aquecimento central”! Existe um uso legítimo e 
idiomático da hipérbole na língua hebraica do Antigo Testamento, assim 
como acontece hoje. Quando o espectador de um jogo de críquete nos 
conta que a bola foi lançada a “quilômetros de distância”, compreendemos 
imediatamente o que ele quer dizer. Do mesmo modo, quando Moisés fala 
de “cidades grandes e amuralhadas até aos céus” (Dt 9.1), reconhecemos 
uma hipérbole legítima; e, assim também, quando ele fala que as águas do 
dilúvio cobriram todos os montes que “havia debaixo do céu” (Gn 7.19), 
percebemos o mesmo uso hiperbólico de Deuteronômio 2.25, onde essa 
mesma expressão, “debaixo de todo o céu”, ocorre numa conotação 
evidentemente limitada. A profundidade das águas é de fato dada em 
Gênesis 7.20, e os hiperbolismos devem ser sempre lidos de acordo com 
as declarações e números literais. (Veja nossa nota referente à Exhaustive 
Concordance de Strong, que precede este estudo.) Muito mais poderia ser 
dito, mas mencionamos o suficiente para mostrar que a inspiração da 
Escritura não depende de provarmos que o dilúvio foi universal.
Outro ponto a ser acrescentado é que o dilúvio de Noé não deve ser 
confundido com o dilúvio pré-histórico de que falam os geólogos.1 Por toda 
a terra, existem marcas de um enorme dilúvio; mas elas não poderiam ter 
sido deixadas por uma inundação tão curta como a dos dias de Noé, mesmo 
que tivesse sido universal. O dilúvio de que a geologia dá testemunho é o 
de Gênesis 1.2, ao qual 2 Pedro 3.5 também se refere.
Notamos, finalmente, que após a destruição de toda a raça adâmica, 
restou um homem que, com sua família, “achou graça diante de Deus”. 
“Noé era homem justo e íntegro entre os seus contemporâneos; Noé 
andava com Deus.” Este homem e sua família foram poupados: e ele era 
o homem vital, notemos isso. Ele era o décimo homem na linhagem 
messiânica, a partir de Adão, da qual viria o Salvador na “plenitude do 
tempo”. Satanás pode fazer o que seja pior, o homem pode afundar ao 
máximo e o juízo pode ser executado até o extremo, mas o propósito final 
do Senhor jamais deixará de ser alcançado. Ele segue adiante e triunfará
1. Nota dos editores: Uma vez que se trata de uma opinião particular de Baxter, 
recomendamos aos leitores interessados em outras opiniões que consultem obras como a 
de D. Kidner, Gênesis, Introdução e Comentário (Edições Vida Nova e Editora Mundo 
Cristão, 1979).
44
um dia em “novos céus e nova terra”, onde haverá justiça e glória 
incomparáveis.
O LIVRO DE GÊNESIS (2)
A dispersão em Babel
Não devemos pensar na era pré-diluviana como sendo de dureza 
primitiva. Tudo indica tratar-se da civilização mais notável que nossa raça 
jamais conheceu. A longevidade humana nessa época, a uniformidade da 
linguagem, a proximidade da revelação divina e a maior liberdadede 
comunicação entre Deus e os homens — pense no que isso deve ter 
significado. Vemos claros indícios das artes e engenhos desse período em 
Gênesis 4.20-24. Mas essa primeira civilização, com seu acúmulo de 
conhecimento e experiência, seus tesouros de arte e literatura, sua 
agricultura e habilidades, desapareceu completamente, e a raça adâmica 
tem um novo começo em Noé e seus três filhos com suas famílias.
Restrições marcantes são agora impostas. A vida humana é bastante 
encurtada. O período de cada geração é bem menor. O solo exige mais 
trabalho e produz menos retorno; a “carne” é, portanto, incluída na dieta 
humana. Uma barreira de “medo” em relação ao homem tem de ser 
também imposta aos animais. A pena de morte é estabelecida para quem 
matar um semelhante (cuja “violência” se tornara comum nos dias 
antediluvianos: 6.11,13). Em meio a tantas limitações, a fidelidade de Deus 
se destaca no sinal do arco-íris. A promessa divina era necessária. Ela 
assegurou ao homem uma esperança para o futuro.
Havia ainda uma outra limitação a ser imposta, a saber, a confusão de 
línguas (11.1-9). O fato essencial a ser compreendido é que a pluralização 
da linguagem humana foi uma medida restritiva culminante, sendo 
precipitada por um acordo humano no sentido de estabelecer um grande 
centro racial, com uma elevada torre astral. Não devemos atribuir a esses 
construtores da antigüidade a estupidez de imaginar que pudessem 
edificar uma torre que chegasse aos céus. O texto, na verdade, não se 
refere à altura da torre, mas diz, “e seu topo com os céus”, ou seja, com um 
planisfério astronômico, figuras do zodíaco e desenhos das constelações 
— como encontramos nos templos antigos de Esneh e Denderah no Egito. 
Talvez devêssemos dar a confirmação do falecido Tenente-General 
Chesney. Depois de descrever outras descobertas entre as ruínas da
45
EXAMINAI AS ESCRITURAS
Babilônia, ele declara: “Cerca de cinco milhas a sudoeste de Hillah, a mais 
notável de todas as ruínas, a Birs Nimroud dos árabes, levanta-se a uma 
altura de 46 metros acima da planície sobre uma base quadrada de 121 
metros de lado. Ela foi construída de tijolos secos no forno, em sete 
estágios, a fim de corresponder aos planetas a que foram dedicados: a 
inferior preta, a cor de Saturno; a seguinte laranja, para Júpiter; a terceira 
vermelha, para Marte; e assim por diante. Esses estágios eram encimados 
por uma elevada torre, no cume da qual, segundo nos foi dito, 
encontravam-se os signos do zodíaco e outras figuras astronômicas; tendo 
portanto (como deveria ter sido traduzido) uma representação dos céus, 
em lugar de um ‘topo que chegue até aos céus’ ”. Não podemos afirmar 
que esses sejam os remanescentes da torre original, mas sem dúvida 
ilustram sua natureza e dimensões.
A crise de Babel provavelmente ocorreu cerca de trezentos anos após 
o dilúvio. Em 10.25 ficamos sabendo que nos dias de Pelegue “se repartiu 
a terra” (como aconteceu na confusão de línguas; 11.9). Pelegue morreu 
340 anos depois do dilúvio, como pode ser facilmente calculado em 
11.10-19. A torre de Babel tinha como finalidade conservar e transmitir as 
tradições antediluvianas. Seu erro estava no fato de os construtores 
desafiarem o mandamento divino de se dispersarem e encherem a terra. 
“Tornemos célebre o nosso nome”, exclamaram os construtores, “para 
que não sejamos espalhados por toda a terra!” O Dr. Alfred Edersheim 
comenta: “Tais palavras compartilham do espírito da ‘Babilônia’ em todas 
as eras. Seu significado é certamente ‘vamos rebelar-nos!’ — pois não só 
o desígnio divino de povoar a terra seria assim frustrado, mas um império 
mundial desse tipo iria constituir um desafio a Deus e ao seu reino, desde 
que o seu motivo era orgulho e ambição”.
Não podemos deter-nos aqui para discutir a grandeza de Babel, a capital 
do reino de Ninrode; mas, a partir deste ponto, Babel, ou Babilônia, 
torna-se a cidade-símbolo do “mundo perverso atual”, energizado, como 
o é, pelo arqui-rebelde Satanás. A completa destruição da Babilônia 
histórica, que ocorreu devidamente em cumprimento a profecias como a 
de Isaías 13.19-22, é uma das maravilhas da profecia bíblica. Mas a 
Babilônia continua vivendo em forma de “mistério”, como lemos no livro 
de Apocalipse; e a destruição da Babilônia histórica tipifica a futura ruína 
da Babilônia “misteriosa” e do presente sistema mundial.
46
NOTA: Ocorre-nos mencionar que os interessados num estudo mais 
detalhado desses “filhos de Deus”, em Gênesis 6, encontrarão um 
tratamento mais minucioso do assunto no último capítulo do livro do 
autor, Studies in Problem Texts (“Estudos em Textos Problemáticos”).
O LIVRO DE GÊNESIS (2)
47
O LIVRO DE GÊNESIS (3)
Lição NQ 3
NOTA: Para este estudo leia novamente Gênesis 6-9 e 37-50.
“Para que uma coisa possa ser considerada o tipo de outra, é necessária 
mais do que simples semelhança. A primeira não deve apenas parecer-se 
com a segunda, mas deve ter sido destinada a isso. É preciso que tenha 
sido destinada a isso desde a sua instituição original, como um preparativo 
para a segunda. Tipo e antítipo devem ter sido pré-ordenados, e isso como 
partes constituintes do mesmo esquema geral da divina providência. Este 
desígnio prévio e esta ligação pré-ordenada (juntamente, é claro, com a 
semelhança) constituem a relação do tipo com o antítipo.”
BISPO MARSH, Lectures
O LIVRO DE GÊNESIS (3)
O ENSINO DOS TIPOS EM GÊNESIS
(a) O Antigo Testamento — tipos em geral
As Escrituras do Antigo Testamento contêm, de fato, inúmeros 
significados tipológicos latentes. Exemplos de seu conteúdo tipológico são 
repetidamente citados no Novo Testamento; eis alguns deles:
Pessoas
Objetos
{“Adão... era a figura (typos = tipo) daquele que havia de vir” — Rm 5.14 (BLH).“Melquisedeque... feito semelhante (aphomoiaõ = à 
semelhança de) ao Filho de Deus” — Hb 7.3.
{“E a pedra (da qual os israelitas beberam: veja Êxodo 17) era Cristo” — 1 Co 10.4.
“O primeiro tabernáculo... é uma parábola (parabolz = 
figura ou comparação)” — Hb 9.8-9.Eventos
“Noé... salvo através da água, a qual, figurando (antitypos 
= antitipo) o batismo, agora também vos salva” (1 Pe 
3.21).
“Abraão... figuradamente (parabote = símile) o (Isaque) 
recobrou (dentre os mortos)” — Hb 11.19.
Mas além desses e outros exemplos similares, em que pessoas, objetos 
e eventos específicos são tidos como tipos ou figuras, existem passagens 
no Novo Testamento que confirmam claramente a presença geral de tipos 
e símbolos no Antigo Testamento. Note as seguintes:
“Ora, estas cousas (veja o contexto) se tornaram exemplos para nós (lit.: 
— tipos para nós)” — 1 Co 10.6.
51
“Estas cousas lhes sobrevieram como exemplos (typoi = tipos)” — 1 Co
10. 11.
“a lei tem sombra (contorno escuro ou silhueta) dos bens vindouros” — 
Hb 10.1.
Existem outros capítulos, passagens e versículos no Novo Testamento 
que, embora não confirmem propriamente o fato da tipologia do Antigo 
Testamento, indiscutivelmente a sugerem. Pensamos, por exemplo, no 
grande discurso do Senhor sobre o maná, em João 6; a comparação por 
contraste feita por Paulo sobre os dois ministérios — o da “letra” contra 
o do “Espírito”, em 2 Coríntios 3-4; o argumento baseado em Ismael e 
Isaque, em Gálatas 4; as passagens sobre Melquisedeque e Arão na 
Epístola aos Hebreus; as palavras do Senhor sobre a serpente abrasadora; 
sua referência aos três dias de Jonas dentro do grande peixe; e as várias 
referências do Novo Testamento sobre Cristo como Páscoa, Primícias, 
Trono de Misericórdia (propiciatório) e Cordeiro. Quem pode ler tantas 
passagens como essas, sem ver nelas a implicação da tipologia do Antigo 
Testamento?
De fato, mesmo à parte destas provas indiscutíveis do Novo Testamento 
para crermos na tipologia do Antigo, os dados circunstanciais em alguns 
casos são tão claros que não poderíamos deixar de perceber a presença 
de significados tipológicos, uma vez que as sem elhanças são 
excessivam ente nítidas e num erosas para considerá-las simples 
coincidências.

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