Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 13 ARTIGO ________________________________________________________________________________ Evolução do esporte, treinamento e performance: um universo em ciências do esporte Alessandro Custódio Marques P1,3P, Joel Moreira Prates P1,3P, Fernando Ruiz Fermino P1,3P, Daniela Dias Mota MobiolliP2 P, Maria Fernanda Lattes P3P, Fabrício Cavalcante de Andrade P3P, Marcelo Belém Silveira Lopes TP4PT, Orival Andries JúniorTP4PT 1. Mestrando em Ciências do Desporto 2. Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas 3. Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas 4. Docente da Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas. Resumo Diferentes pesquisadores, em suas respectivas linhas teóricas e práticas de pesquisa têm observado em seus experimentos, a investigação e explicação dos processos de desenvolvimento do sujeito a médio e longo prazo relacionando, sendo estes, relacionados diretamente com a preparação física e o rendimento desportivo e, levando em consideração que muitas dessas práticas se processavam de forma inconsciente em séculos passados onde um dos principais aspectos da sistematização deste treinamento era a preparação para o período das guerras, especificamente nas regiões européias, onde surgiram os primeiros métodos de treinamento até a utilização do treinamento desportivo com um determinado senso e buscando além da estética corpórea, mas também, a preparação para a performance final e o espetáculo nas mais diversas competições desportivas como os Jogos Olímpicos e Campeonatos Mundiais. Sendo o treinamento mais complexo e com uma série de fatores que podem ser intervenientes deste processo, o presente estudo tem como objetivo a investigação da literatura com relação aos aspectos responsáveis pela evolução do esporte até a performance, que visa o esporte como espetáculo. Palavras Chave: Treinamento desportivo, aspectos multifatoriais, evolução Abstract Different researchers in their respective lines of theoretical and practical research have observed in their experiments, research and explanation of the development processes of the subject in the medium and long term listing, which are, directly related to the physical preparation and performance and sporty, taking into account that many of these practices were made in order unconscious in centuries past where one of the main aspects of systematization of this training was to prepare for the period of war, particularly in European regions where there were the first methods of training to use the sports training with a certain sense and looking beyond the aesthetic body, but also in preparation for the final performance and spectacle in several sports competitions like the Olympics and World Championships. As the training more complex and with a number of factors that may be involved Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 14 in this process, this study has the objective of the research literature with regard to aspects responsible for the development of the sport before the performance, which aims to show how the sport. Palavras Chave: Sports training, multifactorial aspects, evolution Introdução Desde décadas anteriores, diferentes pesquisadores têm buscado em seus experimentos, investigar e explicar os processos de desenvolvimento do sujeito a médio e longo prazo relacionando estes com a preparação e rendimento desportivo. Podendo se considerar que muitas dessas práticas se processavam de forma inconsciente, posteriormente, com a evolução dos métodos de treinamento desportivo, estas práticas apesar de diferirem das linhas gerais seguidas no treinamento desportivo no período das guerras, especificamente nas regiões européias, passaram a obedecer a um senso lógico, buscando além da estética corpórea, assim como, a preparação para a performance final e o espetáculo nas mais diversas competições desportivas como os Jogos Olímpicos (ALMEIDA; ALMEIDA; GOMES, 2000a). Constatando-se, no entanto, que a sistematização do treinamento desportivo mesmo quando analisada dentro de um contexto multifatorial, ou seja, considerando existência de uma série de variáveis intrínsecas e extrínsecas interferindo direta ou indiretamente no rendimento esportivo, não prevê que a probabilidade de obtenção da forma desportiva pode ser determinada não somente pelo controle destes multi-fatores, mas também pela forma com que os mesmos são interrelacionados e organizados em função do sujeito, durante todo o período de treinamento (ALMEIDA; ALMEIDA; GOMES, 2000b). Segundo de LA ROSA (2006) a planificação do treinamento desportivo é um mecanismo de controle dos multi-fatores responsáveis pelo controle da sessão de treino, assim como, o resultado do pensamento do treinador, este pensamento deve estar o mais distanciado possível de toda improvisação, integrar os conhecimentos em um sistema estrutural e organizado e mais perto da ciência e tecnologia compreendendo seus fatores. O mesmo autor também considera que a planificação do treinamento desportivo é a organização de tudo o que acontece nas etapas de preparação do atleta, sendo então o sistema que interrelaciona os momentos de preparação e competição. Deixando nesta definição o caminho aberto para o problema atual da planificação para o rendimento competitivo. Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 15 Nos dias atuais, treinadores que trabalham na área de rendimento esportivo ainda aplicam seus conhecimentos de forma fundamentalmente artesanal e individual (TUBINO, 1985), cabendo a todo treinador, colocar em prática seus conhecimentos de forma acertada com a finalidade de programar o treinamento dos atletas, recolherem o máximo de informações possíveis alem do processo de treinamento e integrar todo estes conceitos ele para tirar conclusões que permitam melhorar o rendimento de seus atletas. Sendo o principal objetivo do treinamento, que é fazer com que o atleta atinja um alto nível de desempenho em dada circunstância, especialmente durante a principal competição do ano com uma boa forma atlética (BOMPA, 2001). Com isso o objetivo do presente estudo é investigar na literatura a relação dos aspectos responsáveis pela evolução do esporte até a performance durante os tempos. Aspectos do esporte O esporte sistematizado, da forma como é conhecido hoje, teve sua origem entre os séculos XVIII e XIX na Europa, advindo das grandes transformações produzidas pela revolução industrial. Nessa época, devido aos incentivos gerados pela ideologia capitalista, os jogos passaram de simples momentos de lazer para jogos que visavam os resultados, com suas estruturas definidas. Assim também, foi legitimada a prática esportiva que passou dos simples campeonatos para as confederações esportivas (BETTI, 1997). A partir do século XX com a expansão do capitalismo e sua imposição aos países economicamente dependentes, cria-se um processo de supremacia cultural e o que era antes restrito ao mundo europeu, ganha espaço em outros continentes. Assim, o esporte moderno tomou o lugar dos jogos populares de diversas culturas, o que resultou em grandes transformações das práticas e dos consumos esportivos, se tornando um fenômeno de expansão cultural (GEBARA, 2002). Atualmente, o esporte pode ser considerado como uma das manifestações culturais que mais tem apresentado transformações, tanto de ordem técnica quanto referentes à forma de exposição e absorção pela sociedade. Então, a partir destas considerações, subtende-se que o esporte é um fenômeno social em constituição, cujas práticas esportivas refletem continuidades e rupturas que caracterizama expansão de suas fronteiras e o afirmam como objeto passível de interpretações à luz de diferentes teorias e propostas metodológicas (MARCHI Jr, 2002). Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 16 O termo esporte em seu significado primitivo, utilizado no século XIII na França como “desport” e na Itália como “disporto” e, posteriormente na Inglaterra sob a denominação de “Sport” era empregado para atividades que tinham como característica um sentido de entretenimento, prazer e divertimento (Bernett, 1965). Segundo Pilatti (2002), na tentativa de analisar o esporte, principalmente o moderno, o autor Allen Guttmann, criou uma tabela na qual estabelece sete características que se inter-relacionam. Tabela 1. Evolução dos aspectos relacionados ao esporte ao longo da história chegando ao esporte moderno. Esportes Primitivos Esportes Gregos Esportes Romanos Esportes Medievais Esportes Modernos Secularidade Sim e Não Sim e Não Sim e Não Sim e Não Sim Igualdade Não Sim e Não Sim e Não Não Sim Especialização Não Sim Sim Não Sim Racionalização Não Sim Sim Não Sim Burocracia Não Sim e Não Sim Não Sim Quantificação Não Não Sim e Não Não Sim Recordes Não Não Não Não Sim GUTTMANN (apud PILATTI, 2002) Esse modelo de análise do esporte em diferentes épocas, é amplamente aceito nos grandes centros acadêmicos nacionais e internacionais, porém ele apresenta algumas limitações como: inadequação ao esporte espetáculo, inadequação as diferentes manifestações do esporte, inadequação aos esportes praticados atualmente em escolas, universidades, clubes, inadequação proporcionada pelo modelo de caráter dual. No entanto, essa abordagem de Guttmann tem sido considerada como uma das mais importantes interpretações do esporte moderno (PILATTI, 2002). Tubino (2001) define as dimensões sociais do esporte na atualidade em três segmentos: esporte-participação, esporte-performance e esporte-educação. O esporte-participação objetiva a integração de povos, a inclusão de diversos grupos na prática esportiva visando a interação e o lúdico, já o esporte-performance, busca-se resultados, passando a ser seletivo, selecionando apenas os mais aptos, este esporte tem como principal característica o rendimento e as conquistas de competições. O esporte educacional é aquele que deve ser praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemáticas de educação, evitando a seletividade e hipercompetividade. De acordo com Paes (2006) o esporte enquanto fenômeno social, tem grande abrangência e profundidade e por isso poder ter um tratamento pedagógico direcionado aos aspectos educacionais. Com o objetivo de possibitar vivências Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 17 esportivas educacionais através do esporte, é necessário uma maior compreensão deste fenômeno. Gáspari e Schwartz (2001) destacam que o esporte pode vir a ser um coadjuvante importante no processo de formação de atitudes, tanto positivas quanto negativas, conforme valores e simbologias empregnados em sua prática. Estes destacam a importância do estímulo das atividades esportivas que enfocam a cooperação, pois a mesma gera possibilidades de formação de seres íntegros, equilibrados, alegres, solidários, criativos, críticos cientes de suas qualidades e dificuldades, respeitadores dos menos habilidosos, sensíveis ao coletivo. Entretanto, muito se fala em esporte, sobre suas práticas, tendências, mas, pouco se fala sobre o que realmente é o esporte. Para Betti (1997) esporte é uma ação social institucionalizada, convencionalmente regrada, que se desenvolve, com base lúdica, em forma de competição entre duas ou mais partes oponentes ou contra a natureza. Seu objetivo é, por uma comparação de desempenhos, designar o vencedor ou registrar o recorde, sendo seu resultado determinado pela habilidade e pela estratégia do participante, e é para este gratificante tanto intrínseca como extrinsecamente. Segundo Wagner (1975) considera o esporte como uma disputa, sob o emprego de forças até o extremo, mesmo com risco da vida e da saúde (alpinismo e boxe). Diem (1965) define o esporte como um jogo de tipo especial: livremente escolhido, valorizado tomado a sério precisamente regulamentado e antes de tudo visando à performance. De acordo com Molina Neto (1996), o esporte compreende um amplo universo, que envolve: o espetáculo, a profissão, a ciência, a arte, a política, o lazer, a prática, a técnica, a educação e a investigação, o que o torna ainda mais fascinante. Dessa forma, esse universo tem despertado interesses em professores, pesquisadores, de diversas áreas, a estudarem e questionarem, também, a real relação existente entre o esporte moderno e as suas manifestações em diferentes áreas da sociedade, como, por exemplo, na saúde, na escola e na mídia (BARRETO, 2003; BETTI, 1997; BRACH, 1992; GEBARA, 2002). E isso, é bastante compreensível, afinal, no Brasil há uma carência de obras científicas sobre as relações existentes entre esporte, história e sociedade, pois a maioria dos estudos enfoca a história do esporte apenas de modo linear. No entanto, o mais correto seria problematizar as explicações que são oferecidas para a espantosa transformação do mundo esportivo no século XIX e no século XX. Dessa forma, se torna de fundamental importância direcionar o ensino sobre o esporte além da memorização de datas e nomes, estimulando a reflexão em torno das questões atuais, colocadas pela conexão entre o Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 18 passado e o presente, desse universo tão rico e, ainda, tão pouco compreendido (PRONI e LUCENA, 2002). Aspectos do Treinamento Desportivo Na literatura especializada a evolução do treinamento desportivo está relacionada aos Jogos Olímpicos, pois é onde o sucesso e fracasso dos métodos de treinamento são expostos. No entanto antes da instituição dos Jogos Olímpicos, já havia práticas empíricas principalmente na Grécia e Roma antiga buscando o rendimento físico, que posteriormente com a evolução humana passaram a obedecer um senso lógico buscando a beleza, preparação para guerra e outras competições de menor expressão (ALMEIDA; ALMEIDA; GOMES, 2000 ) Graças aos esforços realizados por muitos especialistas, a teoria e prática desportiva estão avançando pelo caminho do conhecimento aprofundado e pelo uso apropriado das regras, com base nas quais se assegura o progresso desportivo. Porém ainda não são conhecidas com plenitude e a exatidão necessária. Devemos concentrar a atenção as principais regras de preparação do desportista, as quais representam, unem e condicionam, mutuamente, os fatores da preparação que exercem sua influência no organismo do atleta, em razão do resultado do treinamento e do grau de preparação. No complexo geral das regras de preparação desportiva, as do treinamento desportivo são as mais estudadas (GOMES, 2002). O treinamento desportivo constitui o elemento essencial por meio do qual se pode interpretar e entender parte do avanço e desenvolvimento do desporto. No entanto, convém diferenciar dois âmbitos importantes que embora próximos, constituem magnitudes diferentes de um mesmo problema: preparação desportiva e treinamento desportivo propriamente dito. A preparação desportiva caracteriza-se por um processo multifacetado de utilização racional de todos os fatores que permitam influir de maneira dirigida o crescimento desportivo e assegurar o grau necessário de sua disposição para alcançar elevadas marcas competitivas. Por outro lado, o treinamento desportivo tem em sua forma fundamental aplicação de exercícios sistemáticos, representando um processo didaticamenteorganizado que tem sua base constituída por um sistema metodológico para aplicação para aplicação destes, com o objetivo de atingir o maior efeito possível de desenvolvimento desportivo (GRANELL e CERVERA, 2003). O meio mais importante que para melhorar o desenvolvimento desportivo são os exercícios físicos, os quais têm a particularidade de serem o principal meio, e Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 19 simultaneamente um elemento da estrutura do treinamento. Este caráter universal se deve ao fato de que, salvo algumas exceções, um sistema de treinamento desportivo só é possível com a utilização de exercícios físicos, que se diferenciam pela estrutura, pelo esforço e por sua função, impondo ao desportista diversas demandas e influenciando consequentemente em diversos graus no desenvolvimento desportivo (BERGER e HAEPTMAN, 1987). Segundo os mesmos autores, considerando-se a variedade de exercícios e os limites de tempo existente no treinamento desportivo, convêm selecionar e programar os exercícios físicos mais eficazes para o desenvolvimento imediato do rendimento. Pois sendo considerados como elementos da estrutura do treinamento desportivo, devem constituir uma estrutura bem definida, tendo a função de formar o rendimento previsto. Portanto a classificação dos exercícios, ou seja, sua divisão em grupos segundo alguns critérios, representa uma premissa fundamental. Exercício preparatório geral – servem para o desenvolvimento funcional do organismo do desportista, podendo ou não corresponder às particularidades de uma modalidade desportiva. Tendo importância na preparação de muitos anos, cria a base funcional para posterior preparação especializada, portanto é importante levar isto em consideração principalmente nas idades iniciantes do treinamento, pois a especialização desportiva bem sucedida, é condicionada em grande medida, pelo desenvolvimento físico multilateral. (GOMES, 2002; PLATONOV e BULATOVA 2003). Exercícios preparatório especial – ocupam um lugar primordial no sistema de preparação física de atletas de alto nível, abrangendo um conjunto de meios que inclui elementos da atividade competitiva, com ações muito similares a esta atividade, seja em sua forma, estrutura, caráter das qualidades intervenientes e/ou das atividades dos sistemas funcionais do organismo (PLATONOV e BULATOVA, 2003). Segundo Matveev (apud GOMES, 2002) a especialização um princípio importante para o aperfeiçoamento em qualquer tipo de atuação, portanto os exercícios de preparação especial representam o principal meio que condiciona as melhoras dos resultados desportivos. Vale destacar que estes exercícios não são idênticos ao competitivo, no entanto, são utilizados para assegurar a influência seletiva e mais considerável correspondente aos parâmetros determinados pelo exercício competitivo integral. Exercícios de competição – pressupõem a execução de um conjunto de ações motoras que constituam o objetivo da especialização desportiva, sempre seguindo as regras existentes na competição e garantindo as características cinemáticas e dinâmicas do gesto desportivo (PLATONOV e BULATOVA, 2003; ZAKHAROV, 2003) Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 20 Para Gomes (2002) apesar da utilização do exercício competitivo coincidente com as principais características cinemáticas e dinâmicas do movimento desportivo, este é dirigido para a solução das tarefas do treino. Sendo importante distinguir os exercícios propriamente competitivos realizados em condições reais, envolvendo todos os aspectos de uma competição. A base metodológica da preparação desportiva é constituída por exercícios físicos, que integrado ao processo de preparação pode ser definido como “a ação motora inclusa no sistema geral das possíveis influências pedagógicas e orientadas para a solução de tarefas da preparação do atleta”, que na linguagem desportiva também conhecido por meio de treinamento. (ZAKHAROV, 2003) A seleção dos meios de treinamento baseados nos elementos biomotores específicos é relatada por (VERKHOSHANSKY, 2000) como uma das tarefas mais importantes na preparação desportiva, pois está evidenciado na ciência a progressão do treinamento com o estabelecimento de um programa de preparação física especial. Uma das condições determinantes do rendimento desportivo no processo de preparação é a elevação constante e gradual das influências do treino, onde se deve prever a elevação contínua dos níveis de treinamento. O sistema de preparação desportiva deve exercer influencias morfofuncionais positivas aos desportistas levando em consideração as características de formação da modalidade referida por Gomes (2002). Para Verkhoshansky (2001) as investigações relacionadas às tentativas de intensificação do processo de treinamento desportivo têm sugerido que nas condições de treinamento a atividade competitiva deva ser reproduzida, indicando a utilização dos meios de preparação física especial, os quais exercem estímulos semelhantes aos competitivos contribuindo paralelamente com as tarefas ligadas aos aspectos técnicos, táticos, físicos e psicológicos. Aspectos relacionados a performance no esporte Performance e ou desempenho é a execução ótima de uma tarefa de movimento, sendo um componente integral do esporte, em todos os seus níveis, ou seja, desde de atletas de alto rendimento até esportistas portadores de necessidades especiais, sendo esses componentes estudados de acordo com uma visão sistêmica de processo e de produto em diferentes grupos etários (KISS, 2003). O processo do desempenho é analisado em relação as condições pessoais e as limitantes, sendo as condições pessoais pressupostos individuais do desempenho Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 21 esportivo, expressas através da condição e aptidão e influencias do meio ambiente. As condições pessoais diretamente observáveis são as condições físicas, técnica e tática do atleta, as condições pessoais indiretamente observáveis são os sistemas corporais e as condições psicológicas e as condições não-pessoais são subdivididas em condições sociais, como família, escola e condições materiais como local da pratica e instalações. Quanto as condições limitantes essa mesma autora relata as condições limitantes pessoais, nas quais são escola, estudo, profissão, amigo, lazer, e família, já as condições limitante sociais são as atitudes da sociedade para o desempenho, o valor da modalidade na atualidade, meios financeiros disponíveis, treinador disponível, sistemas de formação do treinador e nível de conhecimento na Ciência do Esporte. Segundo Kiss e Bohme (1999) o desempenho é discutido através de três tópicos sendo a caracterização, perspectivas e atuação. Com relação a caracterização o conceito de desempenho é bem próximo ao relatado por Kiss (2003) onde a autora relaciona as condições pessoais internas e externas e também as condições pessoais limitantes, ou seja, isso reforça a tese de que o desempenho não depende somente do treino e competição, existem outros fatores que determinam a qualidade do desempenho. Já para o tópico perspectiva as autoras fazem uma análise, primeiro uma análise micro do produto, muitas são as questões que se colocam: desde a adequação de instrumentos para estudos em campo (quadra, pista), bem como a determinação de erros de várias metodologias morfológicas e funcionais em laboratório. Questões importantes encontram-se relacionadas a sobrecargas anaeróbias, analisadas mediante estímulos únicos ou repetidos, caracterização de testes intermitentes com cargas cuja intensidade seja supra segundo limiar de lactato e supra consumo máximo de oxigênio; nestas últimas, o componenteaeróbio tem sido pouco estudado. Houve renovado interesse no estudo de variáveis que pudessem diagnosticar fadiga crônica subclínica (evidenciando aumento de atividade simpática), tais como tempo de reação e comportamento de variabilidade de freqüência cardíaca. Também tem sido dada grande importância ao aspecto da quantificação objetiva das sobrecargas de treinamento, imprescindível para análise do processo, relacionadas a componentes aeróbios e anaeróbios. Estão sendo revistas tanto as metodologias para estudos morfológicos e de composição corporal, quanto as análises segmentares e de proporções. As medidas antropométricas, de densimetria, pletismografia corporal e de rádio-diagnóstico estão sendo confrontadas para o estabelecimento de um novo “padrão ouro”. Para uma análise macroscópica, Kiss e Bohme (1999) relatam a interrelação de fatores bio-psico-sócio-culturais por meio de análises multivariadas utilizadas em Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 22 trabalhos interdisciplinares. As “pesquisas temáticas” em modalidades específicas tornam-se importantes em que se analisam desde aspectos morfológicos e funcionais até psicológicos (incluindo controle motor) e sociais, relacionando-os ao desempenho. Outros aspectos importantes são estudados no treinamento a longo prazo, inclui-se nesse tópico o estudo dos valores prognósticos considerando-se a estabilidade (“tracking”) de diferentes variáveis, em função de crescimento, desenvolvimento e treinamento. Existe vários conceitos relacionados a performance esportiva, Friedrichi et all (1988) defende a definição com processo e resultado, já para Martin et all (1991) refere-se ao desempenho somente o resultado final da ação esportiva, seja qual o conceito adotado a performance pode ser avaliada laboratorialmente como teste de VO2máx, limiar de lactato, teste resistência muscular, potência e força muscular máxima ou testes mais subjetivos como de campo dentro da especificidade de cada esporte. Outra possibilidade é através da evolução competitiva e posicionamento no ranking. O fator cultural tem influencias significativa sobre a performance esportiva, pois além de determinarem o valor de cada modalidade, descarrega uma certa expectativa sobre o atleta moldando assim o comportamento perante os valores de seus resultados através de uma auto crítica nem sempre verdadeira (SAMULSKI 2002). Outro aspecto que de vê se levar em consideração são os meios financeiros disponíveis para prática ideal da modalidade em questão. Por essa razão é importante que o atleta tenha sua base psicológica sólida, com alto nível de motivação, controle emocional, concepções e visões reais de sua performance e uma postura mais positiva e confiante possível, que se não forem natas do atleta podem ser adquiridas com auxilio de psicólogos, ou através de técnicas de concentração, visualização, verbalização e relaxamento. Para Weineck (2003), o físico é um grande determinante da performance, incluindo desde características hereditária coma altura, biotipo, tipagem de fibra muscular, flexibilidade, tipo de coordenação motora que podem ser ideais para a pratica de determinada modalidade, até características adquiridas com o treinamento como condições cardiorespiratórias e musculares. O atleta mesmo beneficiado com as características propicia para seu esporte praticado necessita do desenvolvimento melhor possível de todo o sistema de obtenção e economia de energia que incluem desde uma dieta balanceada até uma boa técnica e tática esportiva. Uma alimentação adequada é aquela que supre o balaço calórico, de minerais, hídrico e vitamínico para não só manter a fonte de Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 23 energia como possibilitar a reparação tecidual o sistema antioxidante e a respostas imunológicas (WEINECK 2003). A técnica é entendida como aquele movimento que tem grande eficiência com menor gasto energético possível obtido com biomecânica adequada onde os movimentos devem ser realizados nos melhores ângulos articulares possíveis dentro de determinado gesto esportivo (HALL 2003). A tática escolhida pelo atleta pode ser decisiva para uma ótima performance principalmente num momento competitivo, onde treinamento bem planejado, um auto conhecimento, uma avaliação de entrada (identificar e avaliar projetos de processos alternativos) e sua capacidade de resolver problemas serão necessários. O atleta também pode ter seu rendimento alterado pelos fatores ambientais que incluem tipo de solo, presença de barulho, condições climáticas extremas e diferenças de altitudes, às vezes é necessário uma aclimatização a esse novo cenário (McARDLE et. al. 2000) Se todos esses aspectos citados a cima, que estão intimamente relacionados forem bem estudados de forma que possibilite o desenvolver da melhor maneira possível todo esse complexo atleta/esporte o resultado será uma ótima performance que o objetivo de todos os envolvidos no meio esportivo. Considerações Finais As transformações do esporte durante milhares de anos e ultimas décadas estão cada vez mais especializadas procurando sempre visar a questão do esporte- espetaculo não somente no âmbito competitivo, mas também, sendo fator interveniente também nos esportes educacionais devido a grande divulgação nos veículos de comunicação. Por esse motivo, a evolução sempre será constante e passará sempre por transformações. Agradecimentos Este projeto é apoiado e financiado pelo CNPq sob o processo nº 13047/ 2008- 2. Os autores também agradecem ao CNPq pelo apoio financeiro e bolsas outorgadas. Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 24 Referências ALMEIDA, H.F.R.;ALMEIDA, D.C.M.; GOMES, A.C. Uma ótica evolutiva do treinamento desportivo através da história. Revista treinamento desportivo. 5(1): 41-52, 2000(a). ALMEIDA, H.F.R.;ALMEIDA, D.C.M.; GOMES, A.C. Aspectos multidimensionais da forma desportiva: Uma ótica comtemporânea. Revista treinamento desportivo. 5(2): 44-56, 2000(b). BARRETO, S.M.G. Esporte e saúde. 2003. Disponível em: HTUhttp://fisica.cdcc.sc.usp.br/olimpiadas/03/palestras/EsporteeSaude.pdfUTH . Acesso em: 19 Setembro 2008. BERGER, J.; HAEPTMAN, M. La classificación de los ejercicios físicos. Stadium, 124: 22 - 30, 1987. BERNETT, H. Grundformen der Leibeserziehung. Schorndorf, Karl Hofmann, 1965. 220p. BETTI, M. Violência em campo: dinheiro, mídia e transgressão às regras no futebol espetáculo. Ijuí, Editora UNIJUÍ, 1997. 151p. BOMPA, T.O. A Periodização no Treinamento Esportivo. São Paulo, Editora Manole, 2001. 257p. BRACHT, V. Educação Física e Aprendizagem Social. 2ª ed. Porto Alegre: Magister, 1997. 122p. GRANELL, J.C.; CERVERA, V.R. Treinamento Desportivo. Porto Alegre: Artmed, 2003. 130p. DIEM, C. Weltgeschichte des Sports. Stuttgart, Cotta Ed. 1967. de LA ROSA, A.F. 2ª ed. Treinamento desportivo: Carga, estrutura e planejamento. São Paulo, Editora Phorte, 2006. 140p. FRIDEDRICH, E.; GROSSER, M.; PRESING, R. Einfunhbrung in die Ausbidung von Trainernan der Traineirakademie. Schorndorf, Karl Hofmann. 1988 GÁSPARI, J.C.; SCHWARTZ, G.M. Adolescência, Esporte e Qualidade de Vida. Revista Motriz, 7:107-113, 2001. GEBARA, A. História do Esporte: novas abordagens. In: PRONI, M.W.; LUCENA, R.F. (Orgs.). Esporte: história e sociedade. Campinas, SP: Autores Associados, 2002. 250p. GOMES, A.C. Treinamento Desportivo – Estruturação e Periodização. Porto Alegre, Artmed Editora, 2002. 210p. GUTTMANN, A. From ritual to record: the name of modern esports. In: PRONI, M. W.; LUCENA, R. F. (Orgs.). Esporte: história e sociedade. Campinas, SP: Autores Associados, 2002. 250p. Movimento &Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 25 HALL, S. 4ª ed. Biomecânica Básica. Rio de Janeiro, Editora Guanabara Koogan. 2003. 528p. JEUKENDRUP, E.A. High-performance Cycling. Canadá, Human Kinetics. 2002. 320p. PAES, R.R. Pedagogia do Esporte: contextos, evolução e perspectivas. In: Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, 20 (5): 171, 2006. PILATTI, L.A. Guttmann e o tipo ideal do esporte moderno. In: PRONI, M.W.; LUCENA, R.F. (Orgs.). Esporte: história e sociedade. Campinas, SP: Autores Associados, 2002. 250p. PLATONOV, V.N. e BULATOVA M.M. A preparação Física. Rio de Janeiro, Sprint Editora, 2003. 338p. PRONI, M.W.; LUCENA, R.F. (Orgs.). Esporte: história e sociedade. Campinas, SP: Autores Associados, 2002. 250p. MARCHI JR., W. Bourdieu e a teoria do campo esportivo. In: PRONI, M.W.; LUCENA, R.F. (Orgs.). Esporte: história e sociedade. Campinas, SP: Autores Associados, 2002. 250p. MARTIN, D.; KLAUS, C.; LEHNERTZ, K. Handbuch Traininglsehre. Schorndorf, Karl Hofmann, 1991. McARDLE, W.; KATCH, F.; KATCH, V. 5ª Ed. Fisiologia do Exercício. Energia, Nutrição e Desempenho Humano. Rio de janeiro, Editora Guanabara Koogan, 2000. 1172p. NETO, M.N.M. 2ª ed. A prática de esportes das escolas de 1º e 2º graus. Porto Alegre Editora da Universidade Federal do rio Grande do Sul (UFRGS), 1996. MATVEEV, L.P. Teoria e metodologia da cultura física: manual para os institutos da cultura física. In: GOMES. Treinamento Desportivo. Porto Alegre: Artmed, 2002. 210p. KISS, M.A.P.D. 1ª ed. Esporte e Exercício: Avaliação e Prescrição. São Paulo, Editora Roca. 2003. 424p. KISS, M.A.P.D.; BOHME, M.T.S., Laboratório de Desempenho Esportivo LADESP. Revista Paulista de Educação Física, (13): 62 - 68, 1999. SAMULSKI, DIETMAR. 1ª ed. Psicologia do Esporte. São Paulo, Editora Manole. 2002. 402p. SILVA, A.S.R.; PAULI, J.R.; GOBATTO, C.A. . Fisiologia Aplicada ao Rendimento Esportivo: bases científicas do treinamento de alta performance. Buenos Aires, Lecturas Educación Física y Deportes, 11 (95): 1, 2006. TUBINO, M.J.G. 8ª ed. Metodologia científica do treinamento desportivo. São Paulo: Ibrasa, 1984. 436p. Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 26 TUBINO, M.J.G. 2ª ed. Dimensões Sociais do Esporte. São Paulo, Editora Cortez, 2001. VERKHOSHASKY, Y.V. Treinamento Desportivo. Porto Alegre, Artmed Editora, 2001. 220p. VERKHOSHANSY, Y.V. e SIFF, M.C. 2ª ed. Super entrenamiento. Barcelona: Paidotribo, 2000. WAGNER, H. Zur Etymologie und Begriffbestimmung “Sport”. Die Leibeserziehung. Schorndorf, (4): 73-79, 1975. WEINECK, JURGEN. 9ª ed. Treinamento Ideal. São Paulo, Editora Manole, 2003. 740p. ZAKHAROV, A.A. 2ª ed. Ciência do Treinamento Desportivo. Rio de Janeiro: Grupo Palestra Sport, 2003. Endereço Prof. Msdo. Alessandro Custódio Marques Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Educação Física Avenida Professor Érico Veríssimo nº 701, Campinas - São Paulo, CEP 13083-851 edfisicaalessandro@yahoo.com.br Data de recebimento: 11 /1/09 Data de aceite: 27/02/09 Esta obra está licenciada sob uma HTULicença Creative CommonsUTH. You are free: to copy, distribute and transmit the work; to adapt the work. You must attribute the work in the manner specified by the author or licensor
Compartilhar