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Ética , responsabilidade social

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ÉTICA, RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL
AULA 1 
Prof.a Olívia Resende 
CONVERSA INICIAL
Você já se perguntou como seria viver em uma sociedade na qual cada indivíduo faz o que bem entende, da maneira que pensa ser melhor para si próprio, ou faz apenas aquilo que lhe traz benefício sem pensar no outro ou nas consequências que suas atitudes trazem para a vida de outro indivíduo? Ou como seria uma sociedade em que as pessoas em suas atitudes e ações individuais pensem no coletivo, no outro, na comunidade, antes de fazer algo? Em uma sociedade com equidade e harmonia? 
Nesta aula, vamos discutir esses questionamentos na sociedade ao longo do tempo e o desenvolvimento de teorias que tentam contribuir para que a vida em comunidade seja boa para todos, com ética, moral e direitos de cada cidadão.
Vamos começar? Bons estudos!
CONTEXTUALIZANDO
Para o convívio em sociedade, a Ética é um assunto importante e cada dia mais difundido e necessário. São frequentes as queixas acerca da falta de ética na sociedade, na política, nas empresas e até mesmo nos meios culturais e religiosos. 
Segundo Alencastro (1997), na sociedade contemporânea valorizam-se comportamentos que praticamente excluem qualquer possibilidade de cultivo de relações éticas, como o consumo. Para o autor, é fácil verificar que o desejo obsessivo na obtenção, possessão e consumo da maior quantidade possível de bens materiais é o valor central na nova ordem estabelecida no mundo e que o prestígio social é concedido para quem consegue esses bens. Na contra mão de atitudes éticas que respeitem a individualidade, o companheirismo, entre outros, o sucesso material passou a ser sinonimo de sucesso social e o êxito pessoal devendo ser adquirido a qualquer custo.
 Prevalece o desprezo ao tradicional, o culto à massificação e mediocridade que não ameaçam e que permitem a manipulação fácil das pessoas.
 Por exemplo, em uma sociedade cada vez mais inserida em redes sociais através da internet, fica nítido o que o professor e autor Mário Alencastro afirmou em 1997, quando o acesso à internet estava começando no Brasil. Nessa sociedade hoje conectada, podemos perceber indivíduos alienados, agressivos, que prezam o ter e muito pouco o ser, ostentando nas redes sociais, viagens, festas, coisas, fruto da busca por “curtidas”.
Nesta aula, buscaremos refletir sobre a etimologia, o conceito e como se desenvolveram os estudos da ética ao longo dos tempos, apresentando os principais filósofos que se preocuparam com o assunto. Além disso, apresentaremos a sociedade contemporânea e suas transformações sob um olhar ético, analisando os atores sociais presentes, seus conflitos, interesses, valores e posicionamentos ideológicos e discutiremos os dilemas éticos. Para tanto, buscaremos responder as seguintes perguntas: 
Para responder a estas e outras perguntas, começaremos abordando a distinção entre ética e moral e alguns aspectos filosóficos e históricos sobre a ética.
TEMA 1: ETIMOLOGIA, HISTORICIDADE E O CONCEITO DE ÉTICA
A palavra ética pode ter duas origens distintas e são abordadas por diferentes autores. A primeira é a palavra grega “ethos”, com “e“ curto, que pode ser traduzida por “costume”. Em contrapartida, a segunda também se escreve “ethos”, porém, o “e” é longo e tem o significado de “propriedade de caráter”. As duas são importantes e contribuem para o que abordaremos nesta aula.
Na Roma antiga, o termo foi traduzido do grego “ethos” para o latim “mos” (ou no plural “mores”), que expressa costume, dando origem à palavra moral. A primeira que pode ser traduzida como costume, entende-se que serviu de base para a tradução latina de Moral. Já no que diz respeito à segunda, propriedade de caráter é o que de alguma forma orienta a utilização atual que tem a palavra Ética (MOORE,1975, p. 4).
Percebe-se, portanto, que tanto “ethos” (caráter) quanto “mos” (costume) referem-se ao comportamento propriamente humano. Destarte, ética e moral, segundo sua etimologia e historicidade, estão relacionadas a uma realidade essencialmente humana, construída de forma social nas relações entre os seres humanos, norteando toda a vida em sociedade, desde o nascimento até a morte. 
Podemos também expor a definição de Motta (1984) sobre a ética, que para o autor pode ser entendida como um bloco de valores que conduz o comportamento humano na sociedade, com fins de garantir o bem-estar geral.
Segundo Cortella (2007), ética é um conjunto de valores e princípios que as pessoas usam para decidir três grandes questões importantes, que são: quero, devo e posso. Ética é o conjunto de valores apropriados para cada indivíduo, a fim de definir essas questões e os princípios da sociedade, sendo esses valores religiosos ou não, por meio de padronizações.
Portanto, segundo a etimologia e historicidade das palavras ética e moral, ambas estão relacionadas a uma realidade essencialmente de percepção da conduta humana, suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal. Mas mesmo que haja uma relação entre ética e moral, essa relação não iguala as duas terminologias, sendo ética diferente de moral.
A moral que aqui abordamos tem sua base na obediência a normas, mandamentos, costumes e tabus, em uma dimensão um pouco mais religiosa. E a ética busca dar fundamento ao bom modo de viver, entre humanos em sociedade.
No estudo da filosofia clássica com relação à etimologia da palavra ética, vemos que essa terminologia não se resumia ao conceito de moral (entendida como "costume" ou "hábito", vindo do latim “mos”, ou do plural “mores”), pois investigava a fundamentação teórica para encontrar o melhor modo de viver e conviver em sociedade, ou seja, procurava um melhor estilo de vida dentro da sociedade, tanto na vida pessoal quanto na vida pública.
A filosofia moral ou a ética nasce quando, além das questões sobre os costumes, também se busca compreender o caráter de cada pessoa, isto é, o senso moral e a consciência moral individuais” (CHAUI, 2008, p.310).
Assim, o estudo da ética incluía diversas disciplinas que não eram contempladas no estudo da física, da retórica, da dialética nem da estética e da lógica. Portanto, a ética ganhava abrangência nos mais diversos campos filosóficos, os quais hoje conhecemos como: psicologia, pedagogia, antropologia, sociologia, entre outros. São áreas que estão direta ou indiretamente ligadas à nossa maneira de viver e ao nosso estilo de vida.
Devemos ter cuidado para não confundir ética com lei, mesmo que, geralmente, a lei encontre na ética suas bases e seus princípios.
Com a moral e a ética instaurou-se também o direito, que são as regras obrigatórias de determinada sociedade. Para entendermos melhor, vamos analisar as relações entre a Ética, a Moral e o Direito, determinando a ação do indivíduo.
Figura 1 – Relações entre a Ética, a Moral e o Direito
JUSTIFICATIVA
NORMA POR ADESÃO	REGRA OBRIGATÓRIAAÇÃO
Fonte: Adaptado do site da UFRGS. Disponível em
<http://www.ufrgs.br/bioetica/fundamen.htm> Acesso em 13/04/2016.
Pense por um momento no local onde você trabalha: alguém fundou essa empresa (e esse alguém pode ter sido você mesmo, caso seja autônomo ou empresário), que hoje atende uma série de clientes, lida com diversos fornecedores e consegue gerar receita. Essa receita paga salários que serão usados para comprar outras coisas e pagar por outras contas, gerando receita também para outras pessoas. Assim, no local em que você trabalha, existe a preocupação ética de todos os envolvidos no processo? Ou seja, o que justifica a ação? Ou apenas a preocupação moral, por adesão? Ou apenas se cumprem as leis do direito, as regras obrigatórias? Tanto a ética e a moral quanto o direito estão intimamente ligados à ação do indivíduo. Adiante, entenderemos um pouco mais das caraterísticas e focos da ação ética.
Leitura obrigatória
Para aprofundar seus estudos, faça a leitura indicada a seguir:
SILVA, R. N. da. Éticae paradigmas: desafios da psicologia social contemporânea. In: PLONER, KS. et al., org. Ética e paradigmas na psicologia social. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2008. pp. 39 a 45.
TEMA 2: ASPECTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS SOBRE A ÉTICA
Dentro dos aspectos filosóficos e históricos sobre a ética, podemos entender que surgem teorias éticas em diferentes sociedades como resposta aos dilemas das relações entre as pessoas. Segundo Mário Alencastro (2013), na condição de indivíduos, os humanos realizam sua existência na convivência com os outros, pois, já ao nascerem encontram-se sempre diante de uma comunidade já constituída, e para seu desenvolvimento não podem dispensar o apoio dessa comunidade (ALENCASTRO, 2013, p. 29). 
Assim, o estudo da ética não é novo, sua historicidade é marcada por fatores importantes, através dos quais se percebem diversas condições morais em inúmeros dados do passado, com forte apelo na contemporaneidade.
Alencastro (2013) afirma que, já na Grécia Clássica, Sócrates (470-399 a.C.) afirmava que a pergunta “como devemos viver nossas vidas?” era a principal questão a ser respondida pela filosofia. Assim, um dos pontos fundamentais da historicidade da ética está na Grécia Antiga, com as teorias dos séculos IV e V
a.C. Continue a leitura para saber mais sobre elas!
Pólis, cidade-estado
A pólis foi uma importante forma de organização, conhecida como cidade-estado, e que motivou entre os gregos a formação de experiências políticas e sociais das mais diversas. O surgimento da pólis marca um dos mais importantes aspectos do desenvolvimento da civilização grega.
Nas pólis, os cidadãos viviam e participavam de forma ativa na vida das pessoas, dando início a uma dimensão mais clara de sociedade, que seria a base da civilização ocidental, sendo um modelo das antigas cidades gregas.
Marcou o início da organização política, desde o período arcaico até o período clássico. O que significava naquela época, para o grego, viver em uma pólis?
Segundo Moraes (2012), significava poder conviver com os outros da maneira mais livre possível. O cidadão grego que vivia na pólis não deveria se ocupar com a sua sobrevivência. Por outro lado, viver em uma pólis significava, positivamente, viver entre iguais. Isso indica que ninguém estava obrigado a prestar reverência a ninguém, que ninguém necessita colocar-se a serviço de ninguém, a não ser em época de guerra. Isso fazia com que todos os assuntos fossem tratados por meio do diálogo e da persuasão. Essas duas condições são até hoje dificílimas de serem satisfeitas em qualquer época histórica.
Os sofistas
Foram os sofistas que quebraram com a tradição pré-socrática dos filósofos da natureza e iniciam ataques e críticas aos costumes e tradições até então praticados na sociedade ateniense. Para eles, o ser humano não deve se moldar a padrões externos de beleza, de comportamento, de crenças. O homem só deve se moldar a sua própria personalidade, ou seja, a sua liberdade. Para os sofistas, a moral e a lei somente serviam para bloquear o livre desenvolvimento do homem.
Os sofistas foram os primeiros a defender a filosofia do relativismo, negando a existência da verdade absoluta. Além disso, também criticavam tudo aquilo que não era natural ao ser humano. Para eles, a existência das leis e do Estado eram algo completamente antinatural ao homem e, portanto, deveria ser destruído. Para os sofistas, o que existe são opiniões boas e más, melhores e piores, mas jamais falsas e verdadeiras. Assim, a ética também não é absoluta e, sim, relativa, segundo a qual, o valor mais elevado para qualquer cidadão era atingir o prazer supremo. Os sofistas consideravam que a ética não passava de mera convenção social.
Sócrates
Sócrates é considerado o “pai da ética”, pois revelou uma necessidade de se refletir, de forma sistemática, sobre conceitos que antes eram dados de forma automática, como o bem, a virtude a justiça.
Para Sócrates, a identidade entre os interesses individuais e os comunitários era o caminho para a felicidade. Defendia a moderação dos apetites, a busca pelo conhecimento e a bondade como um dom que merecia ser valorizado.
Sócrates trouxe à tona os ideais de uma cidade que fosse moralmente perfeita. Isso incluía harmonia entre os diversos interesses, tanto individuais quanto coletivos. Assim, entendia que os princípios éticos que deveriam reger as instituições eram aqueles que continham elevados valores de cidadania.
Os sofistas defendiam o relativismo, Sócrates, ao contrário, defendia a ideia de valores eternos. Suas pesquisas iniciais giraram em torno do núcleo da alma humana. Para ele, todas as pessoas tinham a obrigação de procurar o conhecimento, pois dotadas de conhecimento acerca do bem e do mal, buscam fazer o bem, sendo justas umas com as outras e vivendo em sociedades regidas pelos valores éticos.
Platão
Platão foi adepto de Sócrates e mestre de Aristóteles, sendo um dos principais filósofos gregos da Antiguidade. Defendia o bem como valor supremo e afirmava que as pessoas deveriam ir em busca da razão, desprezando seus instintos e paixões.
Em uma época de mudanças, entre os valores antigos e um novo mundo que emergia, Platão conseguiu absorver e gerar uma riqueza de ideias sem igual. Abordava os mais diversos temas, com a força da paixão e da criatividade artística sem levar muito em conta a lucidez da razão.
Para o filósofo, a sociedade então vigente deveria ser reorganizada e o poder confiado aos sábios, evitando, portanto, que a ignorância prevalecesse e corrompesse as almas, sendo assim dominadas pelos instintos e paixões.
Aristóteles
Na medida em que seu mestre Platão trabalhava com construções sociais imaginárias, utópicas, por projeções sobre qual o melhor futuro para a humanidade, Aristóteles tratou das coisas reais, dos sistemas políticos existentes na sua época. Assim, os revolucionários e doutrinários da sociedade perfeita foram inspirados por Platão, já os grandes juristas e pensadores políticos, mais inclinados à ciência e ao realismo, foram influenciados por Aristóteles. Como Platão, Aristóteles apresentou a necessidade de “reorganizar a sociedade”. Deste modo, a ética e a política caminhariam sempre juntas.
Para Aristóteles, o homem tem por finalidade a busca pela felicidade e apresentou a questão do valor supremo da felicidade. Para tal, o indivíduo deveria seguir sua própria natureza, evitando os exageros, caminhando pela justa medida, uma vez que nenhuma pessoa consegue ser feliz sozinha.
Leitura obrigatória
Continue ampliando seus conhecimentos com a leitura do capítulo 1 – Ética, do livro indicado a seguir. Esse capítulo também servirá de base para os estudos dos outros temas desta aula.
TEMA 3: ÉTICA E MORAL SOCIAL, ÉTICA E VALORES HUMANOS
Iniciaremos este tema expondo a anedota que a professora Andréa Vieira Zanella escreveu em seu artigo intitulado Reflexões sobre a pesquisa em psicologia, método(s) e “alguma” ética.
A professora expõe a seguinte pergunta: “por que o frango cruzou a estrada?” e nos apresenta respostas, advindas de interlocutores variados espacialmente e temporalmente.
Para Zanella (2008), assim respondem:
· Professora primária: “Porque queria chegar do outro lado da estrada”.
· Poliana: “Porque estava feliz”.
· Platão: "Porque buscava alcançar o bem”.
· Aristóteles: “É da natureza dos frangos cruzar a estrada”.
· Nelson Rodrigues: “Porque viu sua cunhada, uma galinha sedutora, do outro lado”.
· Marx: “O atual estágio das forças produtivas exigia uma nova classe de frangos, capazes de cruzarem a estrada”.
· Moisés: “Uma voz vinda do céu bradou ao frango: “Cruza a estrada!” E o frango cruzou a estrada e todos se regozijaram”.
· Maquiavel: “O frango cruzou a estrada. A quem importa o porquê? Estabelecido o fim de cruzar a estrada, é irrelevante discutir os meios que usou para isso”.
· Darwin: “Ao longo de grandes períodos de tempo, os frangos têm sido selecionados naturalmente, de modo que, agora, têm uma predisposição genética a cruzarem estradas”.
· Einstein: “Se o frango cruzoua estrada ou a estrada se moveu sob o frango, depende do ponto de vista. Tudo é relativo”.
· Kant: “O frango seguiu apenas o imperativo categórico próprio dos frangos. É uma questão de razão prática”.
· ACM: “Estava tentando fugir, mas já tenho um dossiê pronto, comprovando que aquele frango pertence a Jorge Amado. Quem o pegar vai ter que se ver comigo!”.
· Sócrates: “Tudo o que sei é que nada sei”.
· Dorival Caymmi: “Eu acho (pausa)... — Amália, vai lá ver pra onde vai esse frango pra mim, minha filha, que o moço aqui tá querendo saber”.
Nesta anedota que a Professora Andréa escreveu, fica claro que diante de uma ação, pessoas em diferentes lugares e tempos, pensam diferente.
Assim como vimos, questões éticas são discutidas a séculos e hoje a discussão ainda é forte. Com acesso à internet e mídias sociais, os indivíduos julgam as situações conforme o que acreditam, dentro do que lhes é colocado em distintas situações. Cabem aqui algumas perguntas:
Pode-se entender a ética como uma reflexão sobre o agir humano e abarca a moral, pois lhe é mais ampla. A ética existe como referência para os indivíduos que vivem em uma determinada sociedade, possibilitando que a sociedade possa se tornar cada vez mais humana. Assim, o indivíduo deve possuir um senso ético, pois como humanos, vivemos em comunidade e somos continuamente avaliados e julgados por nós mesmos e pelos outros, a fim de identificar em nossas ações atitudes boas ou más, certas ou erradas, justas ou injustas.
A moral é a regulação dos valores e comportamentos considerados legítimos por uma determinada sociedade, um povo, uma religião, tradição cultural etc. Estabelece os valores efetivos a serem seguidos por determinada sociedade. É, portanto, provisória, muda com o passar do tempo, pois os costumes e hábitos de um povo mudam também (SIMON, 2009).
As relações dos indivíduos na sociedade, são reguladas por um conjunto de normas, leis, costumes e hábitos. Mas o que é esse conjunto de normas, leis, costumes e hábitos? Podemos afirmar que esse conjunto de regras é a moral.
As sociedades mudam constantemente e, historicamente, podemos observar que uma sociedade sucede a outra. Da mesma maneira, as morais concretas de uma sociedade, se sucedem umas às outras. Por exemplo, na sociedade feudal, que tinha como perspectiva de horizonte ético a salvação da alma e a preparação para a vida eterna e cujas explicações baseavam-se na religião e na fé, cede lugar à sociedade moderno-burguesa, cujos valores fundamentais são ligados a questões materiais e cujas explicações têm como fundamento o próprio homem, concebido como ser dotado de racionalidade, e capaz de auto determinar-se sem interferência externa.
A moral pode variar em determinado tempo e lugar. As regras morais são determinadas pelas formas como as pessoas organizam sua convivência e conforme estabelecem as condições de sobrevivência e trabalho.
As normas morais podem estar estabelecidas de forma escrita, ou podem aparecer como costumes arraigados na cultura, por exemplo, as decisões de um indivíduo baseando-se única e exclusivamente em normas preestabelecidas, tais como não ultrapassar o sinal vermelho, não se atrasar em seus compromissos, não furar fila, não estacionar na vaga preferencial. São tidas como uma decisão ou ato moral, que geralmente são os deveres que o sujeito deve cumprir em seu dia a dia.
De acordo com Vasquez (2000): “A função social da moral é a de regular as ações dos indivíduos nas suas relações mútuas, ou as do indivíduo com a comunidade, visando a preservar a sociedade no seu conjunto ou, no seio dela, a integridade de um grupo social”.
Cada indivíduo, comportando-se moralmente, se sujeita a determinados princípios, valores ou normas morais, sendo que o indivíduo não pode inventar os princípios ou normas nem modificá-los por exigência pessoal. O normativo é algo estabelecido e aceito por determinado meio social. Na sujeição do indivíduo a normas estabelecidas pela comunidade se manifesta claramente o caráter social da moral (VASQUEZ, 2000).
O comportamento moral é tanto comportamento de indivíduos quanto de grupos sociais humanos. Mesmo quando se trata da conduta de um indivíduo, a conduta tem consequências de uma ou outra maneira para os demais, sendo objeto de sua aprovação ou reprovação. Mas, os atos individuais que não têm consequência alguma para os demais indivíduos não podem ser objeto de uma qualificação moral.
O campo da ética é um pouco mais amplo do que isso. A ética procura estabelecer uma reflexão sobre o agir humano que ultrapassa o simples cumprimento do que está escrito.
TEMA 4: ÉTICA, MORAL, DIREITO E SEUS DILEMAS
Atuamos em sociedade conduzidos por uma reflexão sobre o que é certo ou errado, ou sob algo que nos obriga constantemente a agir corretamente e que nos pune em caso de deslizes? Em outras palavras, é a ética ou a lei que orientam as nossas ações corretas? (ALENCASTRO, 2013, p.45)
Antes de respondermos a estes questionamentos, precisamos entender alguns conceitos.
São nas relações sociais que ideias e normas se desenvolvem em sintonia com uma necessidade social. Para Vasques, a função social da moral consiste na regulação das relações entre os homens visando manter e garantir uma determinada ordem social, ou seja, regular as ações dos indivíduos nas suas ações mútuas ou as do indivíduo com a comunidade, visando preservar a sociedade no seu conjunto e a integridade de um grupo social.
Segundo Oliveira e Azevedo, os valores morais são aqueles ligados à natureza do comportamento moral dos homens. Um comportamento moralmente aceitável é definido por um código de conduta de grupo. Esse código muitas vezes está implicitamente gravado na memória coletiva em função da cultura, do meio e da história de um povo. Outras vezes, esse código de comportamento está também estabelecido nas leis de uma nação. Kohlberg (1969) acredita que o desenvolvimento moral é baseado primariamente num raciocínio moral e segue uma série de estágios.
Já o direito garante o cumprimento do estatuto social em vigor através da aceitação voluntária ou involuntária da ordem social juridicamente formulada, ou seja, o direito garante a aceitação externa da ordem social. A moral tende a fazer com que os indivíduos harmonizem voluntariamente, de maneira consciente e livre, seus interesses pessoais com os interesses coletivos (VÁSQUEZ, p.69, 2000).
No que se refere à ética, esta tem um caráter mais generalizado do que a moral e o direito, sendo empregada para justificar e legitimar as normas morais e jurídicas, bem como criticá-las em caso de não estarem adequadas às reais necessidades da sociedade. Sendo assim, ela sempre indaga sobre o que é o certo, o bom e o obrigatório, preocupando-se em desenvolver e fundamentar tais conceitos, tomando-os como princípio geral, retirando ao assim proceder os juízos normativos.
Figura 2– Nível do plano normativo
Podemos entender de maneira mais simples, fazendo uma analogia com círculos concêntricos, conforme mostra o professor Mário Alencastro. Por exemplo, a discussão sobre a idade penal e a corrupção que são assuntos de natureza ética mais abrangente, mas que têm implicações no campo da moral e do direito.
O que podemos perceber é que com o avanço da liberdade individual e das conquistas do homem, há, hoje, uma geração muito preocupada com os seus direitos em detrimento dos seus deveres.
Os valores individuais são importantes para que o indivíduo adote uma postura, e entende-se que valores são um conjunto de procedimentos, atitudes, e até mesmo visão de mundo (influenciados ou não pela cultura, herança familiar e meio) que faz o indivíduo agir e interagir com o mundo em que vive.
Araújo (2002) define valores como sendo as qualidades presentes nas coisas e que pode ser essencial para a existência dessas coisas. Podem ser acidentais, secundárias e muitas vezes as próprias coisas em si. São valores, uma vez que são essenciais para a existência, não só do homem, mas para a existência do universo.
Assim, os valores éticos são determinantes para as atitudeshumanas, cabendo ao direito a ação sobre atitudes que não condizem com o que a sociedade necessita.
TEMA 5: A VERDADE, A RESPONSABILIDADE, A LIBERDADE E OS VALORES ÉTICOS
O filósofo contemporâneo espanhol Fernando Savater expõe em seu livro intitulado Ética para meu filho, a seguinte questão: o que é ética? Aqui, vamos trabalhar sobre a verdade, a responsabilidade, a liberdade e os valores éticos de uma forma gostosa na leitura de um breve trecho da resposta do autor para seu filho adolescente.
“Há ciências que estudamos por simples interesse de saber coisas novas; outras, para adquirir uma habilidade que nos permita fazer ou utilizar alguma coisa; a maioria, para conseguir um trabalho e ganhar a vida com ele. Se não sentirmos curiosidade nem necessidade de realizar esses estudos, poderemos prescindir deles tranquilamente. Há uma infinidade de conhecimentos muito interessantes, mas sem os quais podemos nos arranjar muito bem para viver. Eu, por exemplo, lamento muito não ter nem ideia de astrofísica ou de marcenaria, que dão tanta satisfação a outras pessoas, embora essa ignorância nunca me tenha impedido de ir sobrevivendo até hoje. E você, se não me engano, conhece as regras do futebol, mas é bem fraco em beisebol. Não tem maior importância, você desfruta os campeonatos mundiais, dispensa olimpicamente a liga americana e todo o mundo sai satisfeito.
O que eu quero dizer é que certas coisas, podem ser apreendidas ou não, conforme a vontade da pessoa. Como ninguém é capaz de saber tudo, o remédio é escolher e aceitar com humildade o muito que ignoramos. É possível viver sem saber astrofísica, marcenaria, futebol e até mesmo sem saber ler e escrever: vive-se pior, decerto, mas vive-se. No entanto, há outras coisas que é preciso saber porque, por assim dizer, são fundamentais para nossa vida. É preciso saber, por exemplo, que saltar de uma varanda do sexto andar não é bom para a saúde; ou que uma dieta de pregos (perdoem-me os faquires!) e ácido prússico não nos permitirá chegar à velhice. Também não é aconselhável ignorar que, se dermos um safanão no vizinho cada vez que cruzarmos com ele, mais cedo ou mais tarde haverá consequências muito desagradáveis.
Pequenezas desse tipo são importantes. Podemos viver de muitos modos, mas há modos que não nos deixam viver.
Em resumo, entre todos os saberes possíveis existe pelo menos um imprescindível: o de que certas coisas nos convêm e outras não. Certos alimentos não nos convêm, assim como certos comportamentos e certas atitudes. Quero dizer, é claro, que não nos convêm se desejamos continuar vivendo. Se alguém quiser arrebentar-se o quanto antes, beber lixívia poderá ser muito adequado, ou também cercar-se do maior número possível de inimigos. Mas, de momento, vamos supor que preferimos viver, deixando de lado, por enquanto, os respeitáveis gostos do suicida. Assim, há coisas que nos convêm, e o que nos convém costumamos dizer que é “bom”, pois nos cai bem; outras, em compensação, não nos convêm, caem-nos muito mal, e o que não nos convém dizemos que é “mau”. Saber o que nos convém, ou seja, distinguir entre o bom e o mau, é um conhecimento que todos nós tentamos adquirir – todos, sem exceção – pela compensação que nos traz. 
Como afirmei antes, há coisas boas e más para a saúde: é necessário saber o que devemos comer, ou que o fogo às vezes aquece e outras vezes queima, ou ainda que a água pode matar a sede e também nos afogar. No entanto, às vezes as coisas não são tão simples: certas drogas, por exemplo, aumentam nossa energia ou produzem sensações agradáveis, mas seu abuso contínuo pode ser nocivo. Em alguns aspectos são boas, mas em outros são más: elas nos convêm e ao mesmo tempo não nos convêm. No terreno das relações humanas, essas ambiguidades ocorrem com maior frequência ainda. A mentira é, em geral, algo mau, porque destrói a confiança na palavra – e todos nós precisamos falar para viver em sociedade – e provoca inimizade entre as pessoas; mas às vezes pode parecer útil ou benéfico mentir para obter alguma vantagem, ou até para fazer um favor a alguém. Por exemplo, é melhor dizer ao doente de câncer incurável a verdade sobre seu estado, ou deve-se enganá-lo para que ele viva suas últimas horas sem angústia? A mentira não nos convém, é má, mas às vezes parece acabar sendo boa. Procurar briga com os outros, como já dissemos, em geral é inconveniente, mas devemos consentir que violentem uma garota diante de nós sem interferir, sob pretexto de não nos metermos em confusão? Por outro lado, quem sempre diz a verdade – doa a quem doer – costuma colher a antipatia de todo o mundo; e quem interfere ao estilo Indiana Jones para salvar a garota agredida tem maior probabilidade de arrebentar a cabeça do que quem segue para casa assobiando. O que é mau às vezes parece ser mais ou menos bom e o que é bom tem, em certas ocasiões, aparência de mau. Haja confusão! [...]
Resumindo: ao contrário de outros seres, animados ou inanimados, nós homens podemos inventar e escolher, em parte, nossa forma de vida.
Podemos optar pelo que nos parece bom, ou seja, conveniente para nós, em oposição ao que nos parece mau e inconveniente. Como podemos inventar e escolher, podemos nos enganar, o que não acontece com os castores, as abelhas e as formigas. De modo que parece prudente atentarmos bem para o que fazemos, procurando adquirir um certo saber-viver que nos permita acertar. Esse saber-viver, ou arte de viver, se você preferir, é o que se chama de ética.”
Assim, podemos perceber que quando se fala em comportamento humano, no que diz respeito às escolhas a serem feitas entre o bem e o mal, o certo e o errado, o permitido e o proibido, há o envolvimento de questões éticas, morais e de direitos que devemos nos atentar, fazendo com que a verdade, a responsabilidade a liberdade e os valores, sejam cerceados pelos três conceitos.
TROCANDO IDEIAS
Muito bem! Chegou o momento de trocar ideias com seus colegas de turma no fórum desta disciplina. Para a discussão de hoje, acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem e responda as seguintes questões, retiradas do livro de Alencastro:
1. Os grupamentos humanos têm mesmo a necessidade de adotarem regras de conduta para poderem sobreviver?
2. Há mesmo lugar para a ética nas atividades práticas cotidianas? Há espaço para a ética, por exemplo, no mundo dos negócios? 
SÍNTESE
Estudamos neste material didático alguns aspectos da ética, da moral e do direito. Entende-se que a convivência em sociedade deve ocorrer em ordem. Para tanto, devem existir regras, leis e normas que regulem o relacionamento humano e sirva de orientação quanto ao que é certo ou errado, justo ou injusto, lícito ou ilícito, permitido ou proibido. Vários filósofos se preocuparam com a Ética, tendo sido Sócrates o que deu início a uma reflexão sistemática da virtude e da justiça. Fechamos com o filósofo contemporâneo Fernando Savater, que aborda a verdade, a liberdade e os valores éticos com uma resposta para seu filho adolescente.
AULA 2
CONVERSA INICIAL
Para darmos continuidade à disciplina, vamos refletir sobre algumas teorias éticas, seus conceitos, e acompanhar numa dimensão histórica o caminho percorrido pela humanidade em busca de uma sociedade mais justa.
Uma sociedade mais justa se faz com cidadãos mais justos. Mas o que é um cidadão justo? Vamos fazer você pensar um pouco na complexidade desse assunto e por que gera tanta discussão entre filósofos e teóricos há tanto tempo.
Você já pensou se é justo, ético ou anti ético furtar um remédio, cujo valor você não pode pagar, para salvar a vida de alguém por quem você tem muito apreço? Ou ainda, se é ético ou anti ético ficar com uma carteira que alguém esqueceu no parque, num dia de domingo? E caso o valor encontrado na carteira esquecida no banco do parque seja o valor exato para comprar o remédio que aquela pessoa que você ama precisa para sobreviver? Podemos perguntar também sob um outro viés: o indivíduo deve privilegiar o valor da vida (salvar alguém da morte) ou o valor da propriedade privada (não roubar nemse apoderar do que não é seu)?
Nesta aula, vamos tentar esclarecer essas e outras perguntas sobre questões éticas e como o homem vem desenvolvendo seus pensamentos sobre o assunto.
CONTEXTUALIZANDO
O convívio em sociedade é sempre um assunto intrigante, pois deve-se levar em consideração questões antropológicas, culturais, éticas, morais e legais daquela sociedade em questão, não há como generalizar. Quando analisarmos uma determinada atitude, devemos nos ater ao nosso mundo, ao mundo do outro e respeitar essa relação também, porque o que é certo para mim, pode não ser certo para o outro.
Ao longo dos tempos, desde que o homem se reconheceu como um ser racional, deparamo-nos com diversas teorias éticas que surgiram nas diferentes sociedades, sempre tentando responder aos dilemas das relações de convivência entre os indivíduos. Pegaremos como base a descrição colocada por Alencastro (2013) em seu livro Ética empresarial na prática, no qual o autor divide a ética de forma didática e em função de suas motivações básicas, como: Ética das Virtudes, Ética Religiosa, Ética do Dever, Finalismo e Utilitarismo. Analisaremos e refletiremos sobre cada uma dessas funções da ética.
Podemos colocar a dificuldade dessa relação exemplificando com a questão do aborto. Conforme podemos analisar no mapa, regiões em verde são países em que o aborto é livre e, em contrapartida, nas regiões em vermelho o aborto é condenado e há leis restritivas. Quais são os fatores que proporcionam essa liberdade e ou restrição? Aqui, podemos tentar estabelecer um elo entre questões culturais, educacionais, econômicas, éticas, dentre outras, e as leis que deixam livre e as que restringem. Podemos perceber que, mesmo em países em que as leis são mais “duras”, existem aqueles indivíduos que defendem e os que condenam o ato, como é o caso do Brasil. Aqui temos pessoas que defendem o direito de decisão da mulher e pessoas que defendem o direito do feto de viver. Essa é uma questão delicada e que envolve ética e justiça.
Figura 1 – O aborto no mundo: liberdade e leis restritivas
Fonte: Elástica. Disponível em: <http://elastica.abril.com.br/o-aborto-deve-acontecer- em-um-unico-caso-quando-a-mulher-quiser> Acesso em 19/04/2016.
Podemos perceber que o convívio em sociedade não é uma questão simples, mas envolve ética, moral e direito e foi tratada de diversas maneiras no decorrer da existência das relações humanas.
Dito isso, nesta aula, buscaremos refletir sobre as teorias éticas apresentando a ética das virtudes, ética religiosa, ética do dever, finalismo e utilitarismo. Trabalharemos alguns dos vários significados e interpretações, que tratam do assunto, inserindo questões contemporâneas para contextualizarmos os aspectos éticos.
Para tanto buscaremos responder as seguintes perguntas:
Para responder a esta e outras perguntas, começaremos abordando questões históricas e contemporâneas da ética, buscando inseri-las em suas motivações mais básicas.
TEMA 1: O QUE É ÉTICA?
O conceito de ética admite vários significados e interpretações, sendo ela normalmente definida como “ciência da conduta humana”.
Falar sobre ética não é algo novo, pois o estudo da ética é bastante antigo. Sócrates (470-399 a.C.), “pai da ética”, desenvolvia o senso filosófico nas pessoas por meio de uma pergunta: como devemos viver nossa vida?
Desde então, estamos há mais de 25 séculos tentando responder a mesma pergunta: como viver?
O ser humano, desde sua origem e ser social que é, aderiu à convivência em comunidade para preservar sua vida e minimizar as dificuldades com a manutenção de sua sobrevivência. Ao aderir à vida em comunidade para ter maiores chances de sobrevivência, trouxe consequências, como a aquisição e construção de valores acerca do bem e do mal, do justo e do injusto, do certo, do incerto e do errado que, por força da habitualidade, tornam-se costumes, regras aceitas, obedecidas por toda a comunidade e transmitidas sucessivamente de geração para geração, que constituem o domínio da ética e da moral. 
A palavra ética, no entanto, teve seu uso indiscriminado ao longo dos anos, e nos dias atuais ainda persiste, como ressalta Nalini (1997):
A ética permeia todos os discursos. A propósito das condutas humanas ainda capazes de chocar uma sociedade já acostumada a todos os desatinos, levantam-se as vozes dos moralistas a invocar a necessidade de um repensar comportamental. Ética, infelizmente, é moeda em curso até para os que não costumam se portar eticamente. Não é raro que as proclamações morais de maior ênfase provenham de pessoas que nunca poderiam ser rotuladas éticas.
Compreensível, por isso, que para servir a objetivos os mais diversos, nem todos eles compatíveis com o núcleo conceitual que a palavra pretende transmitir. Além disso, a utilização excessiva de certas expressões compromete o seu sentido, como se o emprego frequente implicasse em debilidade semântica. Ética, no Brasil, sofre de anemia. Já se disse que ela é anoréxica!
Para Silva (2013), partindo do pressuposto de que tudo gira em torno do homem e de sua posição de destaque no mundo, conceito que vem permeando toda a história moderna do mundo ocidental e, ao mesmo tempo, menosprezando a todos os outros seres imputados como irracionais e, dessa forma, não capazes de mudar o ambiente em que estão inseridos, o que mais se busca é entender que temos um homem, diagnosticado como racional, fazedor de cultura e que, de certa forma, é considerado um ser social.
Materializa-se como ético, na medida em que se busca, na ética, a justiça social.
O que Silva (2013) tenta expor é que a ética é uma construção humana e, dessa forma, considerada como um instrumento capaz de realçar as relações sociais, bem como criar todos os meios para garantir a justiça social. Ser ético, portanto, é voltar-se para o outro, e para o éthos, que pressupõe voltar-se para o conjunto de costumes e hábitos fundamentais, no âmbito do comportamento e da cultura, característicos de uma determinada comunidade, época ou região. Nesse sentido, podemos considerar que a justiça é a luta não violenta pelos excluídos.
Assim, entende que o homem se constitui como ser ético na medida em que vai construindo a sua socialização e, ao mesmo tempo, passa a desempenhar alguns papéis para a dinâmica do grupo no qual está inserido. (SILVA, 2013). 
O conteúdo dos papéis, em cada sociedade, tem sido caracterizado de maneiras distintas, tornando difícil tratar ou descrever esses papéis de maneira única, pois eles são relativos. Em cada sociedade e/ou comunidade, em função da organização específica em torno da vida dos indivíduos que estão inseridos, do trabalho, da produção da vida material, organiza-se também o tipo de comportamento “desejável” para cada pessoa.
A resposta à pergunta de Sócrates (470-399 a.C.), “pai da ética”, sobre como devemos viver nossa vida vai depender em parte do contexto em que o indivíduo está inserido.
Na contemporaneidade, essa pergunta ultrapassa os limites da filosofia e esbarra em outras fontes de conhecimento, como as da psicologia, da sociologia, da medicina, da biologia e de outras ciências. Entretanto, todas elas ainda remetem ao campo da ética, e é uma questão que essa disciplina procura responder até os dias de hoje. Sendo assim, podemos afirmar que a ética e suas questões estão presentes em todos os setores − em tudo aquilo que nos rodeia.
Segundo Silva (2013), a ética é uma das áreas que maior interesse desperta atualmente em toda e qualquer área, particularmente no campo da filosofia e da política, sobretudo porque diz respeito à nossa experiência cotidiana, ainda mais quando sentimos que cada vez mais vivemos numa crise ética.
Desde a Grécia Antiga até a atualidade, muitas teorias foram construídas para explicar o comportamento ético das pessoas no convívio em sociedade. Conforme mencionado anteriormente, pode-se dividir a ética de forma didática em função das motivações básicas da seguinte forma: Ética da Virtude; Ética Religiosa; Ética do Dever; Finalismo; Utilitarismo.
TEMA 2: ÉTICA DA VIRTUDE
Etimologicamente,a palavra virtude deriva do latim virtus (“força ou qualidade, essência”), que indica uma qualidade positiva e própria do ser humano de fazer o bem (para si e para os outros), ou ainda, no contexto da moral, a qualidade ou ação que dignifica o homem. A origem dessa terminologia deu-se pelos filósofos gregos. E qual é essa qualidade ou ação que dignifica o homem?
Podemos perceber diversas interpretações sobre este tema, mas basicamente, é a prática constante do bem com liberdade e responsabilidade moral. Portanto, são consideradas virtudes a polidez, a prudência, dentre outros.
Assim, podemos perceber que a virtude corresponde ao uso da liberdade com responsabilidade em busca do bem comum. Já o oposto da virtude é o vício, que se fundamenta no hábito da prática do mal, correspondendo ao uso da liberdade sem responsabilidade.
A ética da virtude tem seu foco no caráter mais que na ação do indivíduo, e está interessada na questão de saber quais as ações que estão certas ou erradas e as várias maneiras de tratar a questão.
Figura 2 – Ações certas e erradas
Segundo Bettencourt (2014), a ética da virtude pensa assim sobre o gênero de pessoa que deveremos ser, que ações deveremos tomar, quais as qualidades que tornam a vida boa e quais os vícios e qualidades negativas que devemos evitar. O núcleo desse gênero de ética é o Eudaimonia, que se poderá traduzir como “Felicidade”.
Historicamente, a ética da virtude teve suas raízes na Grécia antiga, e sua origem está nos filósofos gregos. 
Sócrates (469-399 a.C.) defendia a ideia de que as causas éticas pessoais só poderiam ser definidas com o conhecimento de si mesmo. O filósofo tinha como seu lema: “conhece-te a ti mesmo”. Desta forma, uma vez alcançado tal objetivo (conhecer-se), o homem teria uma percepção de suas virtudes, agindo, então, de forma correta.
Já Platão (429-347 a.C.) aperfeiçoou a visão de Sócrates apresentando uma divisão geral das virtudes em quatro princípios: a prudência, a fortaleza, a temperança e a justiça. Santo Ambrósio fez uso desses fundamentos de Platão, chamando-os mais tarde de virtudes cardeais:
· Prudência: também chamada de sabedoria, é a virtude racional e é peculiar da classe dirigente ou dominante; característica peculiar a indivíduos que se comportam evitando perigos e problemas; precaução.
· Fortaleza: chamada de valentia, é a virtude do entusiasmo, dos impulsos volitivos e afetos, regrando o coração e é peculiar da classe militante ou guerreira; força; vigor; robustez. 
· Temperança: chamada de autodomínio, é a virtude da vida impulsiva, instintiva e é peculiar da classe trabalhadora; característica do indivíduo que equilibra suas próprias vontades.
· Justiça: resulta da colaboração igualitária de todas as virtudes, garantindo a harmonia entre elas; particularidade daquilo que se encontra em correspondência (de acordo) com o que é justo; modo de entender e/ou de julgar aquilo que é correto.
Segundo Alencastro (2013), a coragem, a justiça, a prudência e a temperança são exemplos das virtudes aristotélicas. Deriva-se daí a importância da promoção de hábitos sociais através dos quais se desenvolva nas pessoas um modo de ser maduro e que se convertam na fonte principal de seu agir moral. Uma vez apropriados de forma pessoal, dão lugar a um modo de ser que expressa uma conformidade aos costumes, a marca de um indivíduo de caráter, aquele capaz de agir de forma livre e responsável. 
Aristóteles (384-322 a.C.), em seu livro Ética a Nicômaco, questiona: “Em que consiste o bem para o homem?” Ao que se responde: “Uma atividade da alma em conformidade com a virtude”.
O filósofo compreendia que existem duas espécies de virtude, a intelectual e a moral, e que o bem próprio da pessoa é a inteligência e que o homem devia viver de acordo com a razão. E, ainda, que somente pela razão se pode chegar às virtudes. Para Aristóteles, ser feliz é usar a razão com propriedade e o fazer de tal modo que isso se torne uma virtude.
Aristóteles apresentou a virtude como um traço de caráter exposto na ação do homem. Para ele, a virtude seria uma propriedade do caráter humano apresentada de diversas maneiras, como: paciência, benevolência, justiça, compaixão, coragem, tolerância, afabilidade, generosidade, honestidade, sensatez, lealdade, equidade etc.
As virtudes eram tidas como fundamentais para o filósofo, pois o homem virtuoso, aquele que tem a capacidade de refletir sobre suas escolhas e escolhe o que é mais apropriado para si e para as pessoas que convivem com ele em sociedade viveria bem, tendo uma vida melhor.
TEMA 3: ÉTICA RELIGIOSA
A ética religiosa é regida por princípios e regras estabelecidos pelas distintas religiões. A ética cristã é um bom exemplo do que seria uma ética religiosa, visto que apregoa a obediência aos deveres religiosos. Sendo assim, é delimitada por parâmetros (princípios e regras) religiosos: os mandamentos de Deus têm o caráter de imperativos supremos. Na concepção cristã, o ato de matar ou de roubar, por exemplo, não se justificariam, pois seriam contrários aos mandamentos bíblicos universais (“não matarás”, “não roubarás”), que devem ser obedecidos.
Assim, a ética religiosa tem características como os mandamentos – conjunto de leis ditadas por Deus e que devem ser seguidas. São elas:
· Dogmas: crenças e doutrinas estabelecidas que não admitem contestação, ou seja, uma verdade absoluta, definitiva, imutável, infalível, inquestionável e segura, nas quais não pairam dúvidas; 
· Normas: regras que regem o comportamento dos indivíduos, sempre com caráter de ordem suprema, englobando nelas diversas religiões, seitas, confissões de fé, entre outros.
Podemos começar a perceber que na maioria das vezes os indivíduos pensam em ética religiosa enquanto delimitação de normas e comportamentos religiosos. Logo, pensam em Deus (entendido como ser absoluto e transcendente) e remetem a Ele uma dupla função: a de legislar e a de sancionar tudo o que se refere ao que é bem ou mal, bom ou ruim. Esse Deus, como juiz, julga quem escolhe o mal e premia quem escolhe o bem.
O “olho de Deus” que tudo vê é um símbolo utilizado pelo cristianismo. E significa o olho que está em nós mesmos nos impedindo de cometer atos antiéticos e não o olhar de Deus que está no céu vigiando tudo e todos.
Figura 3 – O “olho de Deus”, símbolo cristão
Fonte: Spreadshirt. Disponível em: <http://pt.depositphotos.com/21339873/stock-photo- all-seeing-eye-of-god.html> Acesso em 20/04/2016
Questões religiosas são responsáveis, historicamente, por grandes conflitos mundiais que ocorreram ao longo dos séculos, e que persistem nos dias de hoje. É bom ressaltar que existem fatores de caráter político, econômico, territorial, geopolítico, histórico, entre outros, que também desencadeiam os conflitos, mas as questões religiosas e o radicalismo sempre são motivos elencados como um dos principais.
Atualmente existem inúmeras religiões sendo praticadas no mundo, as principais são: 
· Cristianismo: historicamente é a religião com maior número de seguidores, sendo que atualmente conta com mais de 2,2 bilhões de adeptos no mundo. Os cristãos, como são chamados, creem que Jesus Cristo é filho de Deus e veio ao mundo como mortal para trazer salvação, foi morto e ressuscitou. Religião monoteísta (adoração a apenas um deus) e tem a bíblia como o livro sagrado.
· Islamismo: trata-se de uma religião monoteísta que surgiu no século VII, criada por Maomé, seu líder supremo. O Corão é o livro sagrado. Atualmente existem cerca de 1,6 bilhão de adeptos no mundo e é a que mais cresce. Está difundido especialmente na Ásia e África, mas existem diversos seguidores em países como a Inglaterra e a Espanha.
· Budismo: trata-se de uma religião criada por um príncipe indiano chamado Sidarta Gautama, conhecido como Buda. Surgiu na Índia, no século VI a.C. No budismo não há hierarquia, existe a figura de um líder espiritual, que é o Buda e não há um deus. Atualmente existem aproximadamente 376 milhões de adeptos. O principal livro sagrado budista consiste no Tripitaka, livro compartimentadoem três conjuntos de textos que compreendem os ensinamentos originais de Buda, além do conjunto de regras para a vida monástica e ensinamentos de filosofia.
· Judaísmo: considerada a primeira religião monoteísta, tendo como crença a existência de apenas um deus, o criador de tudo. Para os judeus, Deus fez um acordo com os hebreus, fazendo com que eles se tornassem o povo escolhido e prometendo-lhes a terra prometida. Seu patriarca é Abraão. Conta atualmente com aproximadamente 15 milhões de adeptos e tem a bíblia como o livro sagrado. 
 A maioria das religiões pregam o amor, o respeito e a dignidade, porém, entre seus adeptos, as diferenças de crença acabam sendo as responsáveis pelos grandes conflitos mundiais.
Podemos ressaltar que os primeiros filósofos cristãos buscavam conciliar fé e razão como instrumento de análise e reflexão. Segundo Valls (1994), a filosofia insurge no campo da ética cristã, na tentativa de justificar seus princípios e normas de comportamento, se submetendo à lei divina revelada pelos livros sagrados, mediante uma disciplina específica: a teologia dogmática.
Ao falarmos em ética na dimensão religiosa, fechamos o discurso, uma vez que nos atemos para uma proposta de livre escolha e decisão, pois tudo já vem subjugado por algo maior e determinante.
Com o avanço das ideias do Iluminismo, a humanidade deixou de lado o Teocentrismo (Deus como centro de todas as decisões) e colocou o próprio homem no lugar Dele, fazendo nascer o Antropocentrismo (o homem como centro de tudo).
No período iluminista − conhecido como a “Era da Luz” − o homem passou a representar o ser absoluto dele próprio, deixando de lado as afirmações categóricas, dogmáticas, autoritárias e suas distorções da vontade criadas pela concepção de pecado.
Fazendo uma análise entre ética frente a ética religiosa, entendemos que na primeira o indivíduo tem a livre escolha de seus atos, enquanto a ética religiosa está atrelada à fé. Ir de encontro com a ética religiosa é afirmar que a moral está na conformidade com a vontade de Deus e que o mal é ir contra essa vontade absoluta.
TEMA 4: ÉTICA DO DEVER
Para entendermos a ética do dever, devemos inicialmente entender alguns conceitos estudados por grandes filósofos ao longo do tempo. Segundo artigo produzido pela PUC/Rio, o homem é concebido como um indivíduo, como um ser que, por essência, não precisa pertencer a uma comunidade. É verdade que, de fato, os homens vivem e precisam mesmo viver, por questões de proteção, com outros homens, mas esse conviver não faria parte do que é o homem.
Ainda, acresce-se à noção de indivíduo uma outra característica: a de igualdade. Se pesquisarmos no dicionário e em alguns livros, a igualdade é a falta de diferenças entre duas coisas, que possuem o mesmo valor ou são interpretadas a partir do mesmo ponto de vista, em comparação a outra coisa ou pessoa. A palavra igualdade tem relação com o conceito de uniformidade, de continuidade, ou seja, quando há um padrão entre todos os sujeitos ou objetos envolvidos. Ainda segundo o artigo da PUC/Rio, por princípio os homens são todos iguais. Isso significa que não mais se assume que o ser humano possua um papel na cadeia de seres, na estrutura da natureza, nem que se possa, no interior do grupo humano, falar de diferentes funções de homens, como afirmava Platão na Politeía.
Por fim, um terceiro ponto característico do homem moderno, segundo o artigo da PUC/Rio, consiste no fato de ele ser concebido como livre. Ele é, também por princípio, tanto livre de restrições impostas a ele por instâncias externas, quanto livre para seguir o curso de vida que melhor lhe aprouver. A esse aspecto da liberdade, associa-se a autonomia e a capacidade do homem de atribuir-se, ele próprio a si próprio, as regras pelas quais pautará sua vida e suas ações.
Percebe-se que diante de tal visão do homem, cada indivíduo determina para si mesmo o curso de vida que quer seguir. As ideias de bem, de boa vida, ficam deixadas à deliberação de cada um. Fica a pergunta: Como conviver entre humanos de modo a evitar conflitos?
Essa pergunta nos remete à ética do dever que tem início com o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), que afirmou que “a moral propriamente dita, não é doutrina que nos ensina como sermos felizes, mas como devemos tornar-nos dignos da felicidade”. Segundo Kant, a ética do dever centrou-se na razão humana, deixando de lado muitos dos conceitos e formulações da ética religiosa, colaborando para que a pessoa fosse autônoma e, consequentemente, livre.
Uma vez que o homem pensa, abre-se perante ele a possibilidade de seguir por sua própria razão, sem se deixar enganar pelas crenças, tradições e opiniões alheias. O indivíduo é um ser sensível por natureza, uma vez que é condicionado por suas disposições naturais. Porém, por outro lado, é um ser racional, alguém capaz de se regular por leis que impõe a si mesmo. A essa imposição chamamos de dever: não é uma obrigação externa, e sim a expressão da lei moral em nós, ou seja, o senso moral inato ao ser humano e não derivado da experiência sensorial ou religiosa (SANTOS e MORUJÃO, 2001).
Figura 3 – Immanuel Kant
Fonte: A Filosofia. Disponível em: <http://www.afilosofia.com.br/post/immanuel- kant/436> Acesso em 20/04/2016.
Para Kant, o indivíduo deve agir o mais perfeitamente que puder, eis o fundamento primário de toda obrigação de agir. Assim, a ética do dever vem do reconhecimento do que a própria pessoa faz de si mesma e que, pela razão, chega à necessidade obrigatória de obedecer a certas regras: os imperativos categóricos.
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) expôs essa ideia de que todos os seres humanos têm a capacidade de distinguir o bem do mal e que, pela razão, todas as pessoas são chamadas a cumprir o seu dever, como base de toda a ética do dever de Kant, o qual também sofreu grande influência do Iluminismo.
Para Kant, a razão deve ser submetida a uma análise sobre as diversas possibilidades de ação, ou seja, é pela razão que o ser humano se distingue do animal, conferindo-lhe a qualidade de pensar por si próprio. É por ela que a pessoa se torna autônoma e livre.
A seguir, alguns exemplos dos chamados imperativos categóricos de Kant: 
Princípio da autonomia de Kant
"Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, por tua vontade, lei universal da natureza."
Imperativo Universal de Kant
"A máxima do meu agir deve ser por mim entendida como uma lei universal, para que todos a sigam."
Imperativo Prático de Kant
"Age de tal modo que possas usar a humanidade, tanto em tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre como um fim ao mesmo tempo e nunca apenas como um meio." 
TEMA 5: FINALISMO E UTILITARISMO
Finalismo
Ao se tratar do tema finalismo, é primordial se ater ao uso da terminologia em si, pois esta aceita diversos sentidos, oferecendo algumas possibilidades de equívocos devido às palavras fim e finalidade. Porém, para evitar enganos, aqui trataremos especificamente da dimensão ética como o princípio que admite uma finalidade.
Para Japiassú e Marcondes (2008), o finalismo é doutrina que transpõe o princípio de finalidade para a ordem da metafísica, com o objetivo de explicar os fenômenos do mundo material ou moral, tanto pela intervenção de um espírito criador e providencial quanto em função de um futuro "apocalipse" que virá justificar tudo o que se passou anteriormente.
Segundo Alencastro (2013), os finalistas não partem de regras, mas de objetivos, e avaliam as suas ações à medida que favorecem esses objetivos. Assim, para se definir o rumo certo de uma ação, inicialmente deve-se escolher um fim acertado e depois decidir sobre o meio para alcançá-lo.
Dentre os teóricos que trataram da ética, Aristóteles tem como especificidade ser finalista, ou seja, entende que o homem, em todas as suas ações, tem por finalidade alcançar algo (um bem final). Esse bem final, que em uma escala hierárquica é o maior de todos os outros, é a felicidade. 
Para os finalistas, a felicidade se focaliza no bem, no efeito da ação, sempre como um fim a serobtido pelo indivíduo e não por meio da observância de determinações ou mandamentos.
Assim, podemos nos remeter ao pensamento elaborado por Nicolau Maquiavel no século XV em seu livro O príncipe, expondo um modelo de governo norteado por um princípio segundo o qual, na política, “os fins justificam os meios”.
Portanto, para Aristóteles, “a natureza de uma coisa é o seu estágio final, porquanto, o que cada coisa é quando seu crescimento se completa, nós chamamos de natureza de cada coisa, quer falemos de um homem, de um cavalo, de uma família, ou até mesmo da política. Mais ainda: o objetivo para o qual cada coisa foi criada – sua finalidade – é o que há de melhor para ela, e a autossuficiência é uma finalidade e o que há de melhor” (ARISTÓTELES, Política, I, 1253b, 15)
Para todos os filósofos finalistas os objetivos são as finalidades e não partem de regras. Para eles, deve-se primeiramente escolher um objetivo − um fim apropriado – e, depois, decidir sobre a maneira como alcançá-lo.
Utilitarismo
Para Japiassú e Marcondes (2008), o utilitarismo é a doutrina ética defendida sobretudo por J. Bentham e J. S. Mill. Na definição de Mill, "as ações são boas quando tendem a promover a felicidade, más quando tendem a promover o oposto da felicidade". As ações, boas ou más, são consideradas assim do ponto de vista de suas consequências, sendo o objetivo de uma boa ação, de acordo com os princípios do utilitarismo, promover em maior grau o bem geral. As críticas ao utilitarismo geralmente apontam para a dificuldade de se estabelecer um critério de bem geral, e para o fato de que, em nome deste bem geral, essa doutrina aceita o sacrifício de uma minoria, sem considerar as intenções e motivos nos quais a ação se baseia, levando em conta apenas os seus efeitos e consequências (JAPIASSÚ e MARCONDES, 2008).
O utilitarismo surgiu em meados do século XVIII, na Inglaterra, tendo sua gênese nos filósofos Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806- 1873), situando a prática das ações de acordo com sua utilidade, ou seja, relacionaram o útil ao bom, baseando-se para tal em preceitos éticos. Bentham e Stuart Mill entendem então, que uma ação é eticamente correta se ela tiver por objetivo alcançar a felicidade, não no sentido meramente individual, mas no aspecto coletivo, de forma não egoísta, a fim de evitar atitudes humanamente impulsivas. Desse modo, a ética utilitarista rejeita o egoísmo.
Assim, conforme Mário Alencastro (2013), o utilitarismo vê o bom como aquilo que é útil para a maioria, tornando-se assim uma espécie de altruísmo ético, sempre admitindo a possibilidade do sacrifício individual a favor da coletividade.
Portanto, uma atitude só deve ser concretizada se for para o bem de um grande número de pessoas. Assim, antes da efetivação de uma ação, ela deve ser avaliada sob o ponto de vista dos seus resultados práticos.
O princípio básico da teoria ética do utilitarismo é: “se é útil, é porque é bom”. 
O utilitarismo se diferencia de outros princípios éticos de caráter bom ou mal, pois, de acordo com o utilitarismo, é possível que uma ação boa seja resultado de uma motivação ruim, ou seja, a ação não depende da motivação de quem a pratica, afinal, uma intenção negativa pode gerar consequências úteis e benéficas a um coletivo maior.
De acordo com John Stuart Mill: “O credo que aceita a Utilidade ou Princípio da Maior Felicidade como fundamento da moral, sustenta que as ações são boas na proporção com que tendem a produzir a felicidade; e más, na medida em que tendem a produzir o contrário da felicidade. Entende-se por felicidade o prazer e a ausência de dor; por infelicidade, a dor e a ausência de prazer” (MILL, 1962).
Os utilitaristas entendem que o objetivo da ética é proporcionar o máximo de felicidade para o maior número de pessoas. Segundo Alencastro (2013), esse seria o princípio da “maior felicidade” ou “maior utilidade”. Neste sentido, a felicidade estaria na procura do máximo prazer e no mínimo de dor, o bem está na maior felicidade ao maior número de indivíduos, e as ações positivas são aquelas que a produzem.
Para Mill (1962), “A felicidade é o único fim da ação humana e sua consecução, o critério para julgar toda conduta”. 
NA PRÁTICA
Leia o trecho a seguir, para aprofundar seus conhecimentos sobre o Islã, sua origem (a civilização que se ergueu sobre a base da fé islâmica), crenças e principais tradições. Uma parte fala sobre como esses indivíduos lidam com a influência ocidental sobre suas vidas.
“[...] McDonalds no Líbano – Os extremistas, que enxergam o mundo pela oposição entre Jesus e Maomé, se ressentem da avassaladora influência ocidental sobre o planeta – nos costumes, nos hábitos de consumo, no modo de vida. Tanto que, em países dominados por radicais islâmicos, especialmente os talibãs do Afeganistão, tudo o que lembra a cultura ocidental é proibido e severamente punido. Mas, de novo, isso não é uma regra. No Irã, há grandes anúncios de produtos ocidentais pelas ruas de Teerã, existem mulheres procurando cirurgiões plásticos, num sinal de vaidade antes inadmissível, e é muito expressivo o contingente feminino que frequenta a universidade – uma raridade em algumas nações islâmicas que confinam a mulher aos limites do lar. "Há aspectos do capitalismo ocidental que são plenamente aceitos pelas populações muçulmanas", diz um diplomata brasileiro que serviu por oito anos no Líbano. "As cadeias de fast food, como o McDonald's, fazem sucesso do Marrocos ao Líbano," diz ele. [...]”
“[Os extremistas] são mulçumanos que integram algumas ramificações da religião, como os do Sunitas do Afeganistão e os xiitas do Líbano, porém a maioria dos mulçumanos repudia suas ações, por exemplo, os ataques suicidas. O primeiro equívoco comum entre ocidentais e cristãos é considerar todo islâmico um extremista suicida e, por extensão, um terrorista em potencial", adverte a historiadora Maria Aparecida de Aquino, da Universidade de São Paulo. [...]”
Fonte: Veja on-line.
Como a maioria condena algumas ações dos extremistas, aderir a uma cultura diferente pode ser menos complicado. Levando em consideração o que estudamos, os extremistas são éticos em suas ações?
SÍNTESE
Nesta aula, trabalhamos questões que dizem respeito as mudanças e evolução das teorias sobre a ética empresarial, pois é de fundamental importância conhecer e analisar algumas das diversas teorias que vêm norteando a ética no decorrer da história, com suas mudanças e evoluções conceituais. Assim, percorremos um caminho histórico e conceitual de algumas das teorias éticas mais importantes no curso da história da filosofia, assim vistas: Ética das virtudes (a.C. − Sócrates, Platão, Aristóteles etc.); Ética religiosa (Era Cristã); Ética do dever (Kant 1724-1804); Finalismo (século XV) e Utilitarismo (Bentham e Stuart Mill).
Pudemos perceber que as teorias são concebidas e se desenvolvem nos mais diversos tipos de sociedade, sempre respondendo aos conflitos e aos problemas de cada época nas relações entre as pessoas em convivência dentro dela.
AULA 3
CONVERSA INICIAL
Você já parou para refletir o que seria viver em uma sociedade em que as empresas agissem única e exclusivamente em busca de benefício dos acionistas, ou seja, em benefício próprio, agindo de tal forma que seu processo produtivo beneficiasse apenas a produtividade, deixando de lado, a comunidade, o meio ambiente, dentre outros? Ou numa sociedade em que todas as empresas sem exceção levassem em consideração em suas decisões os stakeholders (partes interessadas pelas práticas de determinada empresa), o meio ambiente, antes de realizar algo?
Nesta aula, abordaremos a ética nos negócios e analisaremos a corrida pelo lucro e sua grande influência no mundo empresarial. Refletiremos sobre o conceito de ética empresarial, bem como suas etapas de formação e seus dilemas.
CONTEXTUALIZANDO
Já vimos que para o convívio em sociedade, a ética é um assunto importante e cada dia mais difundido e necessário. Nas práticas empresariais isso não é diferente, uma vez que toda empresa é parte vivade uma determinada comunidade.
Nos dias atuais, em pleno século XXI, fala-se muito em ética empresarial e isso vem se difundindo de maneira mais veemente nos últimos anos. Assim, o tema é relativamente recente.
O autor Mario Alencastro (2013) afirma que a ética empresarial começou a ser debatida com mais intensidade no final dos anos 1960, depois de uma série de escândalos acontecidos no mundo empresarial norte-americano. Na década de 1980, ocorreu uma série de seminários sobre ética nos negócios, sempre com cursos dirigidos a executivos, com o intuito de conscientizá-los sobre a importância desse tema. Mais tarde, o mesmo aconteceu na Bélgica, Itália, Espanha, França e Inglaterra.
No Brasil, o movimento de valorização da responsabilidade social empresarial ganhou forte impulso na década de 90, através da ação de entidades não governamentais, institutos de pesquisa e empresas sensibilizadas para a questão, tais como o trabalho do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) na promoção do Balanço Social, baseado em princípios éticos elevados (ETHOS, 2008).
Nesta aula, buscaremos refletir sobre o conceito e como se desenvolveram os estudos da ética empresarial. Além disso, apresentaremos as etapas da formação ética de uma empresa e os dilemas que envolvem o tema. Para tanto buscaremos responder as seguintes perguntas:
· O que é ética empresarial?
· A ética empresarial pode fazer diferença na sociedade?
Para responder a estas e outras perguntas, começaremos abordando a ética nos negócios e alguns aspectos históricos sobre a ética empresarial.
TEMA 1: A ÉTICA NOS NEGÓCIOS
Há uma grande diferença entre grandes empresários e homens de negócios. Segundo Arruda e Vasconcellos (1989), quando se estuda a vida de grandes empresários, com frequência se observa que essas pessoas são dotadas de uma natureza profundamente espiritual. Em contrapartida, os homens de negócios que não primam pela honestidade e moralidade em sua atuação, cedo se tornam conhecidos por suas deficiências, e seu prestígio pode ser mais drasticamente abalado do que aconteceria em outras profissões.
Nos dias atuais, fala-se muito em ética nos negócios, responsabilidade social empresarial e sustentabilidade, porém, concretiza-se pouco em relação ao respeito aos valores humanos e da comunidade. Empresários buscam a primazia dos processos atuando de maneira ética, porém, ainda se tem muito o que fazer para que seja efetivo o atendimento aos direitos humanos.
Mas o que é ética nos negócios ou ética empresarial?
Para Moreira (1999), a ética nos negócios, ou ética empresarial, é “comportamento da empresa entendida como lucrativa quando age de conformidade com os princípios morais e as regras do bem proceder aceitas pela coletividade (regras éticas)”. Em diversos países o tema ética nos negócios evoluiu, e têm se tornado primordial para a garantia do sucesso das empresas, uma vez que, cada vez mais, os consumidores estão empoderados de sua condição de agente de mudança e cobrando atitudes proativas por parte das empresas no que diz respeito à consciência dos direitos sociais. Segundo Alencastro (2013), a pressão exercida pelos consumidores, por exemplo, tem feito com que as empresas ultrapassem o campo das obrigações legais – o que é determinado pela justiça – e passem também a ter preocupações éticas.
Como já abordamos, a ética nos negócios ou ética empresarial foi inicialmente inserida nos debates nos Estados Unidos e posteriormente na Europa, ganhando impulso no Brasil na década de 90.
Segundo Arruda e Vasconcellos (1989), na década de 60, o Prof. Baumhart, um dos pioneiros da Ética Aplicada aos Negócios, realizou nos Estados Unidos uma pesquisa junto a 2000 empresários de várias filiações religiosas e ideológicas. Concluiu que existia uma necessidade imperiosa de humanização da tecnocracia dominante.
Na Europa, havia uma visão humanista do homem e a preocupação social tanto de estudantes quanto de empresários. Para Arruda e Vasconcellos (1989), o europeu normalmente se mostra muito aberto para discutir problemas de ordem ética, tem uma formação filosófica básica que o habilita para isso, tem ideias claras sobre os temas em questão e chega intelectualmente a soluções profundas. Custa-lhe apenas a decisão de mudar sua forma de ser quando necessário.
Hoje na Europa, com a globalização e internacionalização dos negócios cada vez mais forte, a concorrência e o rápido desenvolvimento da inovação tecnológica e o persistente nível de desemprego, a ética empresarial tornou-se um dos temas mais debatidos. Porém, essa temática não é simples, pois envolve vários olhares e maneiras de ver o mundo, torna-se evidente a complexidade e reúne empresários e acadêmicos para discussões que visam a unir as responsabilidades éticas e a eficácia empresarial.
Pode-se perceber casos reais de empresas públicas e privadas em várias nações, por constituírem testemunhos positivos de que a ética e o sucesso são compatíveis, atribuindo peso ao estudo da ética nos negócios na Europa, pois empresários de renome não hesitam em expor, com clareza e profissionalismo, a trajetória percorrida e o êxito final.
O Brasil (considerado em 2015 um dos países mais corruptos do mundo, segundo o site do Estadão, na classificação que abarca 175 países) subiu três posições desde 2014, passando da 72ª posição para a 69ª sem corresponder a mudanças reais. Essa problemática não parece de pouca monta. Já havia problemas apontados pelos autores Arruda e Vasconcellos em fins da década de 80 e início de 90, antes mesmo da atual crise política e econômica que atravessa nosso país. Segundo esses autores, a falta de credibilidade em relação a inúmeras ocupações, posições e profissões cresce com rapidez e o mundo empresarial não se exclui dessa questão. Numa tentativa de reforçar padrões morais de comportamento, latentes em grande número de jovens brasileiros, faz-se necessário e urgente aprofundar-se nos sistemas éticos de análise dos negócios.
Porém, toda empresa visa o lucro, até mesmo para sua sobrevivência, e aliar os interesses dos acionistas e da comunidade nem sempre são temas fáceis de serem resolvidos. Para Lipovetsky (2005), o universo da empresa se deixará sempre guiar pelos cálculos da eficácia e da rentabilidade. Agora, porém, sai ao encalço da alma, da “business ethics” (ética nos negócios), a última moda nos meios empresariais.
Então, como compreender a ética empresarial num contexto marcado pela corrida em busca do lucro?
Na contemporaneidade, para que as empresas se mantenham competitivas, não basta apenas oferecer produtos com qualidade, garantia, baixo custo e boa logística; é necessário apresentar outras qualidades, afinal, o cliente está cada vez mais exigente.
Assim, pode-se perceber um diferencial nos negócios: a aplicação de uma conduta ética nas empresas que possa ser capaz de contribuir com melhores resultados em todos os campos: desde a relação individual com os colaboradores até a dimensão financeira. 
TEMA 2: CONCEITUANDO A ÉTICA EMPRESARIAL
· O que é um negócio?
· O que constitui uma empresa?
· O que torna uma pessoa empresária ou empreendedora?
A palavra negócio pode ser compreendida através de sua etimologia, tendo origem do latim “negotium”, que significava trabalho, ocupação, labuta − da conexão entre o advérbio “nec” (não) com o substantivo “otium”, otium é ócio, descanso, lazer, e a partícula nec é um advérbio de negação. Praticar o não-ócio é negociar.
Assim, negócio pode ser entendido como uma atividade humana, realizada por indivíduos que se unem em prol de um objetivo e não se trata única e exclusivamente de uma relação financeira.
Na Economia, um negócio trata-se de uma relação comercial e ou financeira, que é administrada por indivíduos com fins de captação de recursos para gerar bens e serviços, gerando capital de giro entre os diversos setores. Resumidamente, podemos afirmar que entende-se por negócio toda e qualquer atividade econômica com o objetivo de gerar lucro.
Existe possibilidade de ser ético buscando o lucro?
A etimologiada palavra empresa vem do Italiano “impresa” (atividade a que uma pessoa se dedica ou, ainda, a ação de imprimir algo), e do latim “emprehendere”, formado por “em” + “prehendere” (pegar, capturar, levar diante de si, segurar), referindo-se àquele que se apodera. Outros derivados são “empreendedor” e “empreendedorismo”. Hoje, podemos entender uma empresa como a célula-base da economia moderna, caracterizada pela formação de pessoas jurídicas, de caráter legal e constitutivo, tendo como objetivo a prática de uma atividade pública e econômica capaz de gerar lucro.
Na Economia, temos dois tipos de lucro: o contábil e o econômico. O lucro contábil é basicamente o confronto entre receita realizada e custo consumido, é respaldado pelo conservadorismo, convenção da objetividade e Princípios Contábeis Geralmente Aceitos. Já o lucro econômico, que é o incremento do valor presente do patrimônio líquido, envolve aspectos subjetivos, mas é superior ao lucro contábil (FUGI, 2004).
Na sociedade capitalista, caracterizada pela propriedade privada, o lucro é a remuneração pelos fatores de produção, terra, capital e trabalho. O lucro, portanto, é a recompensa e a motivação para a instalação e continuidade de um empreendimento.
J. R. Hicks, na obra Value and Capital (1946), definiu lucro como "a quantia que uma pessoa pode consumir durante um período de tempo, estando essa pessoa tão bem no final do período como estava no início". Portanto para o autor, o lucro está relacionado com a manutenção da riqueza ou do capital do indivíduo.
Portanto, podemos perceber que para um negócio, o lucro é o fator mais relevante. Assim, vamos procurar compreender um pouco mais a historicidade do lucro através da leitura de um trecho do livro de Octávio Gouveia de Bulhões, Dois conceitos de lucro.
Durante a Idade Média, a ética religiosa foi um poderoso impedimento a práticas gananciosas e especulativas nas relações econômicas ocidentais. Com o crescimento do comércio e o advento do Mercantilismo, essa ética foi deixada de lado, mas ainda não se apercebia do lucro a ser causado pela expansão econômica e aumento da capacidade produtiva. O empenho existente era pelo monopólio imposto pelos comerciantes marítimos e pelas proibições de exportação de matérias-primas e importação de produtos manufaturados pelos industriais. Somente com a influência de Adam Smith, que se posicionaria contra essas práticas defendendo a liberdade de comerciar e consumir, com o bem- estar de todos garantido pela expansão do processo produtivo, é que o quadro antigo começaria a se alterar. Otávio Gouveia de Bulhões afirma que no Mercantilismo "o lucro está subordinado à valorização ou desvalorização do produto". O autor assinala também que, durante a Revolução Industrial, Karl Marx defendeu que o lucro seria a parcela não paga ao assalariado, enquanto a "Escola Austríaca", através de Böhm-Bawerk, teorizou que o produto acabado tem maior valor do que o alcançado pelos fatores de produção, pois acreditavam na ideia de que os produtos do presente possuem mais valor do que os produtos futuros. Bulhões chama o primeiro de "lucro-confisco (advindo da transferência de renda)" e o segundo de "deságio". Conclui que o "lucro de investimento, como soma adicional de renda" somente seria compreendido no século XX. Segundo Bulhões, foi Knut Wicksell que, a partir de 1934, "deu ênfase à mudança de escala de produção como característica do investimento e assinalou o acréscimo de produtividade como fonte de lucro (BULHÕES, 1969).
O lucro, porém, causa uma disparidade entre o salário pago ao trabalhador e o valor do trabalho produzido por ele, chamado de “mais valia”. A mais valia definida por Karl Marx (1818 – 1883) é a diferença entre o valor do objeto produzido e a soma do valor dos meios de produção e do valor do trabalho (valor da mercadoria + valor dos meios de produção + valor do trabalho) como base do lucro no sistema capitalista.
Nesse contexto, as perguntas feitas anteriormente precisam ser elucidadas. Lucro x ética.
É no contexto dessa reflexão que a ética empresarial está envolvida: em um jogo com regras nem sempre claras e objetivas e uma competição em que os interesses pessoais muitas vezes se sobrepõem aos interesses comuns.
Leitura obrigatória
Para mais informações, leia os capítulos 2 do livro: ALENCASTRO, M. 
Ética Empresarial na prática: liderança, gestão e responsabilidade corporativa.
TEMA 3: ETAPAS DA FORMAÇÃO ÉTICA DE UMA EMPRESA
Para compreender a ética nos negócios, precisamos entender as etapas da formação de uma empresa em busca de sua autonomia. Assim, é necessário antes compreender o processo da formação pessoal de cada um de nós em busca de amadurecimento, ou seja, autonomia.
Nascemos éticos ou antiéticos? De que maneira se dá a formação da nossa consciência ética e moral? Como acontece o processo de amadurecimento do ser humano? O que nos torna pessoas maduras?
Antes de iniciarmos esse estudo, é imprescindível compreender a etimologia da palavra autonomia, que significa o poder de dar a si a própria lei, autós (por si mesmo) e nomos (lei). Não se entende esse poder como algo absoluto e ilimitado, também não se entende como sinônimo de autossuficiência. Indica uma esfera particular, cuja existência é garantida dentro dos próprios limites que a distinguem do poder dos outros e do poder em geral, mas apesar de ser distinta, não é incompatível com as outras leis.
Para Kant (1724 – 1804), a autonomia “designa a independência da vontade em relação a qualquer desejo ou objeto de desejo e sua capacidade de determinar-se em conformidade com uma lei própria, que é a da razão” (ABBAGNANO, 2000).
Há várias formas de entender a palavra autonomia ao longo do tempo. Porém, tanto pela etimologia quanto pelo pensamento kantiano, a palavra autonomia significa autogoverno, governar a si próprio. Assim, um indivíduo autônomo é aquele que governa a si próprio, tomando a vida nas próprias mãos.
O que hoje entra no debate é o processo dialógico contido na filosofia grega, que prioriza a capacidade de o indivíduo buscar respostas para as próprias perguntas, exercitando, portanto, sua formação autônoma.
Segundo o psicólogo e filósofo Jean Piaget (1896-1980), existem algumas etapas de formação da nossa consciência ética e moral em busca de autonomia. Araújo (1996), com base nos estudos de Piaget sobre o juízo moral, apresentou as seguintes definições: anomia e heteronomia em direção à autonomia. Podemos perceber que entre as três terminologias citadas anteriormente, o sufixo grego “nomia” (regras) é comum: anomia – “a” (negação) + “nomia” − refere-se a um estado de ausência de regras ou à pessoa que age de acordo com o que considera certo pelos seus interesses pessoais; heteronomia – “hetero” (vários) + “nomia” − refere-se a perceber a existência de muitas regras que são impostas por outros que exercem autoridade; por fim, a autonomia – “auto” (si mesmo, próprio) + “nomia” − refere-se à capacidade de discernir e fazer escolhas por si mesmo, governar a própria vida.
A autonomia de um indivíduo não é construída de um dia para o outro; ela passa por um processo que tem diferentes etapas de desenvolvimento, começa desde muito cedo e continua se desenvolvendo no decorrer da existência do ser humano, nas diferentes decisões que tomamos, como um sistema de evolução e tomada de consciência.
Na empresa, que é levada a efeito por uma ou mais pessoas, não é diferente: podemos tentar entender o processo de formação autônomo, ético e moral de uma empresa se compreendemos que a ética empresarial também é uma evolução que passa por diversas etapas, as quais vão sendo construídas aos poucos.
Analisar o desenvolvimento empresarial, levando em consideração a aproximação e a analogia entre o desenvolvimento humano, foi exposto pela autora norte-americana Linda Starke em 1999, que especificou cinco etapas para a evolução moral de uma empresa:
· Corporação amoral: nesse estágio, a empresa busca o sucesso a qualquer custo e é capaz de violar normas e valores sociais sem qualquer consideração

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