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Fundamentos de Filosofia e Educação I-II

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Prévia do material em texto

Autor: Prof. Vladimir Fernandes 
Colaboradores: Profa. Silmara Maria Machado
Prof. Nonato Assis de Miranda
Profa. Renata Thomé
Fundamentos de 
Filosofia e Educação
Professor conteudista: Dr. Vladimir Fernandes
Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo, Mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de 
São Paulo, Especialista em Sociologia e História do Trabalho pela Fundação Santo André e graduado em Filosofia pelo 
Centro Universitário Claretiano de Batatais.
Atua como professor titular na Universidade Paulista e é líder das seguintes disciplinas do curso de Pedagogia: 
Fundamentos de Filosofia e Educação, Filosofia, e Comunicação e Ética.
Possui experiência na área de Sociologia e de Filosofia, com ênfase em Epistemologia, Ética e Educação. É Integrante 
do grupo de pesquisa “Políticas Públicas e Gestão de Práticas Educativas”, da Universidade Paulista.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
F363f Fernandes, Vladimir 
Fundamentos de filosofia e educação / Vladimir Fernandes. – 
São Paulo: Editora Sol, 2012.
 72 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2-065/12, ISSN 1517-9230.
1. Filosofia - fundamentos. 2. Educação - fundamentos 3. 
Sociedade e cultura. I. Título.
CDU 37 : 1
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice‑Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice‑Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice‑Reitor de Pós‑Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice‑Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Profa. Melissa Larrabure
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dr. Cid Santos Gesteira (UFBA)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Cristina Zordan Fraracio
 Luanne Aline Batista da Silva
Sumário
Fundamentos de Filosofia e Educação
APRESENTAçãO ......................................................................................................................................................7
INTRODUçãO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 FILOSOFIA E EDUCAçãO ..................................................................................................................................9
1.1 Filosofia: considerações gerais ...........................................................................................................9
1.2 O ato de educar ......................................................................................................................................11
1.3 Filosofia da educação ......................................................................................................................... 13
2 TRABALHO, IDEOLOGIA E EDUCAçãO ..................................................................................................... 15
2.1 O trabalho como mediação entre o homem e a natureza .................................................. 15
2.2 Alienação e ideologia .......................................................................................................................... 16
2.3 Ideologia e educação .......................................................................................................................... 17
3 POLÍTICA, PODER E DEMOCRACIA ............................................................................................................ 19
3.1 Política e democracia .......................................................................................................................... 19
3.2 A política segundo Maquiavel......................................................................................................... 21
3.2.1 Virtude e fortuna .................................................................................................................................... 22
3.2.2 Ser amado ou ser temido .................................................................................................................... 23
3.2.3 Relação meios e fins .............................................................................................................................. 23
4 VIOLÊNCIA E POLÍTICA ................................................................................................................................... 24
4.1 Diversos tipos de violência ............................................................................................................... 24
4.1.1 Violência estrutural ................................................................................................................................ 25
4.1.2 Violência passiva ..................................................................................................................................... 25
4.1.3 Violência simbólica ................................................................................................................................. 25
4.2 Estado e violência ................................................................................................................................ 26
4.3 As origens do totalitarismo, segundo Arendt ........................................................................... 27
4.3.1 Homens-massa ........................................................................................................................................ 27
4.3.2 Ilusões democráticas ............................................................................................................................. 28
4.3.3 Isolamento e solidão ............................................................................................................................. 28
4.4 O nazismo como mito político, segundo Cassirer ................................................................... 30
4.4.1 Contexto ..................................................................................................................................................... 30
4.4.2 Mito político versus mito primitivo ................................................................................................. 31
4.4.3 Papel da Filosofia .................................................................................................................................... 33
Unidade II
5 EDUCAçãO E SOCIEDADE ............................................................................................................................ 40
5.1 As teorias não críticas da educação ou tendência redentora ............................................ 40
5.2 As teorias crítico-reprodutivistas da educação ou a tendência reprodutivista .......... 40
5.3 A Teoria Crítica ou a tendência transformadora ..................................................................... 41
6 OS PRESSUPOSTOS EPISTEMOLÓGICOS DA EDUCAçãO ................................................................. 42
6.1 Empirismo e a pedagogia diretiva ................................................................................................. 42
6.2 Apriorismo e a pedagogia não diretiva ....................................................................................... 43
6.3 Construtivismo e a pedagogia relacional ...................................................................................44
7 CULTURA E EDUCAçãO................................................................................................................................. 44
7.1 Diversos tipos de cultura ................................................................................................................... 46
7.2 Pluralidade cultural e educação ..................................................................................................... 48
8 KANT, HANNAH ARENDT E A EDUCAçãO .............................................................................................. 50
8.1 Kant – educação para autonomia: a saída da menoridade ................................................ 50
8.2 Hannah Arendt: crise na educação ............................................................................................... 51
8.2.1 Hannah Arendt: autoridade e educação ....................................................................................... 55
7
APrEsEntAção
A disciplina Fundamentos de Filosofia e Educação tem como um dos seus objetivos estudar as 
relações entre a filosofia e a educação. Parte do pressuposto que o ser humano é o único ser que precisa 
ser educado; dessa forma, o “humanizar-se” está intrinsecamente ligado ao “educar-se”. A educação, 
como atividade intencional, deve refletir sobre os fins que pretende atingir, e, desse modo, a reflexão 
filosófica pode contribuir para que o educador tenha ideias mais claras sobre as finalidades pretendidas 
com a educação.
Considerando que a educação está inserida em um contexto social, também se irá analisar como os 
seres humanos estabelecem relações entre si e com a natureza ao construírem suas existências. Essas 
relações são permeadas pelos diferentes interesses que marcam a vida em sociedade, daí a necessidade 
de investigar conceitos como alienação, ideologia e política.
Outra questão do âmbito desta disciplina, relacionado ao anterior, é analisar como a teoria 
pedagógica busca responder sobre questões tais como: qual o objetivo da educação em relação 
à sociedade? A educação deve salvar a sociedade de suas mazelas ou conservar a sociedade tal 
qual esta se encontra? Ou ainda, deve transformar a sociedade e suas estruturas? Também se deve 
considerar que toda teoria pedagógica pressupõe uma teoria epistemológica, da qual o professor 
faz uso, mesmo que não tenha consciência plena dela. Assim, serão analisados os pressupostos 
filosófico-epistemológicos da educação.
Considerando que o ser humano se encontra em permanente autoconstrução, espera-se que, pela 
educação, cada um possa atingir sua autonomia e ser capaz de pensar por conta própria. Para refletir 
sobre questões atinentes a esse referido processo, recorreremos ao diálogo com dois pensadores: Kant 
e suas concepções sobre o processo de esclarecimento humano e Arendt e suas considerações sobre 
o papel do educador como representante do mundo e responsável pelo preparo das novas gerações. 
Esperamos que os conteúdos abordados possam contribuir para que cada um (re)elabore suas ideias 
sobre tais temas de modo mais claro e profundo.
Palavras-chave: Filosofia, Educação, Política, Epistemologia.
IntroDução
Muitos de vocês já devem ter-se perguntado: qual a relação que existe entre a Filosofia e a Educação? 
Afinal, a Filosofia é necessária para a Educação? Por que o educador deve filosofar?
Caro aluno, acrescento ainda outras relevantes interrogações: É importante refletir sobre qual ser 
humano quer-se formar? É importante refletir para quê educar? É importante analisar os pressupostos 
que orientam a prática educativa? Se você respondeu sim a essas interrogações é porque a reflexão 
filosófica não pode ser negligenciada pelo educador, ou seja, é necessário que o educador filosofe sobre 
sua prática.
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Convido você a percorrer as páginas deste livro-texto em busca de elucidar algumas interrogações, 
levantar outras e, dessa forma, estabelecer um rico diálogo com alguns pensadores que se dedicaram ao 
exercício filosófico de questões pertinentes à educação.
Seja bem-vindo e boa jornada!
[...] o mais importante e bonito do mundo, é isto: que as pessoas não estão 
sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre 
mudando.
Guimarães Rosa
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Fundamentos de FilosoFia e educação
Unidade I
1 FILosoFIA E EDuCAção
1.1 Filosofia: considerações gerais
Figura 1 – Jardim de Academus, Grécia. 
Local em que se praticava a filosofia.
A Filosofia surgiu no final do século VII e início do VI a.C. na Grécia antiga. Resultou de um processo 
lento e gradativo, para o qual contribuíram vários fatores, como as viagens marítimas, a invenção da 
escrita, a invenção da moeda, o nascimento da polis (cidade-estado). A Filosofia surge em um mundo 
povoado por concepções míticas e em oposição à elas. O mito é a forma mais primária de compreensão 
da realidade. Trata-se de um tipo de saber que é afetivo, coletivo e dogmático. Os mitos são mantidos 
vivos pela tradição e cumprem uma função importante de atribuir sentido ao mundo, de explicar a 
realidade, de ordenar o caos. Os primeiros filósofos tinham uma preocupação cosmológica e foram 
posteriormente denominados de pré-socráticos. Esses pensadores desconfiavam das explicações míticas 
passando a buscar uma explicação racional para o existente. Dessa forma, a Filosofia surge opondo-se 
à visão mítica predominante na época e irá configurar-se como uma reflexão racional para explicação 
do existente.
 Lembrete
Filosofia: do gr. philosophía,as ‘amor da ciência, do saber, do 
conhecimento’ – de phílos ‘amigo, amante’ e sophía ‘conhecimento, saber’ 
(HOUAISS, 2009).
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 observação
Cosmológica: do gr. kosmología – kósmos ‘lei, ordem, mundo, universo’ 
+ rad. gr. -logía ‘tratado, ciência, discurso’. (HOUAISS, 2009)
Alguém poderia perguntar: mas qual é, afinal, o objeto da Filosofia? As ciências particulares 
possuem objetos definidos, mas e a Filosofia, de qual objeto especificamente ela se ocupa? Os 
pré-socráticos, por exemplo, tinham uma preocupação cosmológica, enquanto Sócrates passa a 
preocupar-se mais com a questão antropológica e ética. Aristóteles investigou sobre lógica, política, 
biologia entre outros temas. Outros filósofos se ocuparam com a teoria do conhecimento, com a 
estética etc. Cabe lembrar que as ciências particulares, tal como concebemos atualmente, irão 
configurar-se a partir do século XVII, com Galileu, antes disso, encontravam-se no bojo da Filosofia. 
A questão fundamental é que a Filosofia não se define pelo objeto, como as ciências particulares, 
mas pela forma de abordagem do objeto. E qual é essa forma? Segundo o filosofo e educador 
brasileiro, Dermeval Saviani (2000), essa forma é radical, rigorosa e de conjunto. Radical, porque a 
reflexão filosófica precisa ir até a raiz do problema, investigar seus fundamentos; rigorosa, porque 
ela implica em sistematização apoiada no rigor de um método próprio e de conjunto, porque, 
ao mesmo tempo em que o problema é visto em profundidade, deve ser também visto em uma 
perspectiva mais ampla, de conjunto, em relação a outros elementos do contexto. Para Saviani, é 
nessa característica
[...] que a filosofia se distingue da ciência de modo mais marcante. 
Com efeito, ao contrário da ciência, a filosofia não tem objeto 
determinado; ela se dirige a qualquer aspecto da realidade, desde que 
seja problemático; seu campo de ação é o problema, esteja onde estiver 
(2000, p. 17).
Dessa forma, a Filosofia pode ocupar-se de problemas da esfera política, ambiental, científica, social, 
educacional, entre outros. Segundo Terezinha Azerêdo Rios, a filosofia é sempre “filosofia de” alguma 
coisa. Ela explica que:
A philo-sofia caracteriza-se então como uma reflexão que busca 
compreender o sentido da realidade, do homem em sua relação com 
a natureza e com os outros,do trabalho do homem e seus produtos: 
a cultura e a história. É enquanto re-flexão que descobrimos a 
filosofia sempre como filosofia de. Às vezes tenta-se menosprezar 
o conhecimento filosófico por não ter objeto próprio, na medida 
em que qualquer objeto pode ser objeto do filosofar. Deve-se então 
retomar a afirmação de que não é pelo objeto que a filosofia se 
define. Ela tem sempre como objeto os problemas que a realidade 
apresenta, sejam quais forem esses problemas e o lugar em que se 
situam. (RIOS, 2001, p.18)
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Fundamentos de FilosoFia e educação
 Lembrete
Pré-socráticos: relativo aos primeiros pensadores do mundo ocidental e 
às suas doutrinas, anteriores à etapa subsequente inaugurada por Sócrates 
na filosofia grega (HOUAISS, 2009).
1.2 o ato de educar1
Figura 2 – Immanuel Kant
Kant (2004) inicia seu texto Sobre a pedagogia, enfatizando que o ser humano é o único ser 
que precisa ser educado. Com isso, o filósofo de Königsberg chama a atenção para o fato de que o 
ser humano não nasce pronto e que para se desenvolver e não perecer necessita de educação. E a 
educação, por sua vez, acontece de várias formas e em variados lugares e tempos. Vejamos quais 
são seus propósitos gerais.
Segundo Abbagnano e Visalberghi, em História da Pedagogia (1999) o mito de Prometeu, exposto 
por Platão no diálogo Protágoras, é a melhor e mais fácil forma para se compreender a natureza e as 
tarefas da educação.
1 O texto desse item foi extraído de: Fernandes, 2006.
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Figura 3 – Platão
O mito conta que, quando os deuses criaram os animais encarregaram Prometeu e Epimeteu 
de distribuírem as qualidades necessárias à sobrevivência de cada grupo. Epimeteu começou a 
distribuição sem Prometeu. A alguns concedeu velocidade, mas não força, dessa forma, poderiam 
fugir daqueles que dotou com força, mas não com velocidade; alguns revestiu com peles grossas; 
outros dotou com garras; alguns outros receberam asas etc. Enfim, procurou estabelecer um certo 
equilíbrio de modo que todas as raças pudessem sobreviver e nenhuma pudesse desaparecer. No 
entanto Epimeteu, que não era muito inteligente, havia gastado quase todas as faculdades com 
os animais e se esquecido do gênero humano. Foi quando chegou Prometeu e constatou que 
realmente havia certo equilíbrio entre os animais, mas que o homem se encontrava nu e indefeso 
e dessa forma poderia facilmente perecer diante das ameaças do meio. Foi então que Prometeu 
resolveu roubar o fogo de Hefesto e a habilidade mecânica (técnica) de Atena e conceder aos 
homens. Com esses dois atributos, os homens ficaram providos para se defender e sobreviver. Com 
a habilidade mecânica, o homem pôde criar moradias, vestimentas, armas, utensílios etc. Foram 
dotados também da arte de emitir sons e palavras. Contudo, mesmo assim, ainda não tinham sua 
vida assegurada, porque viviam separados e não uniam forças para lutar contra as feras. Quando 
tentaram se unir e criar cidades não foi possível conviverem, pois não possuíam a arte política. 
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Foi quando Zeus interveio e dotou todos com a arte política, ou seja, com a capacidade de agir 
com respeito recíproco e justiça. Aqueles que se recusassem a agir assim deveriam ser expulsos da 
comunidade ou condenados à morte. Dessa forma, segundo Abbagnano e Visalberghi (1999, p.9), 
podem-se extrair algumas verdades importantes do mito de Prometeu:
Primeira, que o gênero humano não pode viver sem a arte mecânica e 
sem a arte da convivência. Segunda, que estas artes, justamente por 
serem tais (é dizer, artes e não instintos ou impulsos naturais) devem ser 
aprendidas.
 observação
Epimeteu, do grego epimetheús: aquele que pensa depois.
Prometeu, do grego prometheús: aquele que pensa antes.
Para o ser humano, o período de “infância”, é mais longo e penoso, quando comparado ao 
correspondente aos animais; serve para que aprenda a utilizar os órgãos com os quais foi dotado 
pela natureza. O filósofo da educação Olivier Reboul2 chama a atenção para o fato de o ser humano 
nascer inacabado, como se nascesse prematuramente, antes de estar totalmente pronto. Segundo 
ele, esse “inacabamento”, embora aparente um limite, revela, na verdade, a grandeza da espécie 
humana.
Enquanto os animais nascem praticamente prontos, já que rapidamente se apropriam das 
capacidades que foram distribuídas por Epimeteu, o ser humano, ao maturar-se lentamente, vai 
muito mais longe, uma vez que aos poucos vai revelando todas suas potencialidades latentes. 
Nos animais, suas possibilidades já estão inscritas na sua estrutura orgânica e não necessitam de 
aprendizagem, no sentido humano. No ser humano, apenas o uso de seus órgãos não é garantia de 
vida, já que necessita utilizar os dons concedidos por Prometeu – o uso das técnicas mecânicas - e 
por Zeus – a arte moral. É por isso que se faz necessária uma aprendizagem mais longa e penosa. O 
pressuposto para a aquisição de tais técnicas é a linguagem, sem a qual não haveria comunicação 
entre os homens e também não haveria aprendizagem, nem desenvolvimento, assim como a 
possibilidade de fazer abstrações e generalizações necessárias para a formação e desenvolvimento 
das técnicas.
1.3 Filosofia da educação
Que relação podemos estabelecer entre a Filosofia e a Educação? Foi mencionado que a Filosofia não 
tem um objeto de estudos específico, mas que se preocupa com diferentes problemas, colocando-se de 
forma crítica e reflexiva diante deles. Assim, um dos problemas de que se ocupou e se ocupa a Filosofia 
é a Educação. Daí a afirmação de Saviani (2000, p. 23):
2 REBOUL, O. A filosofia da educação. Lisboa, Portugal: Edições 70.
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Acreditamos, porém, que a filosofia da educação só será mesmo indispensável 
à formação do educador, se ela for encarada, tal como estamos propondo, 
como uma reflexão (radical, rigorosa e de conjunto) sobre os problemas que 
a realidade educacional apresenta.
Configura-se, dessa forma, a importância da reflexão para a educação. A palavra reflexão 
“[...] vem do verbo latino reflectere, que significa voltar atrás. É, pois, um repensar, ou seja, um 
pensamento em segundo grau” (SAVIANI, 2000, p.16). A reflexão é uma análise consciente daquilo 
que se apresenta como problema. Assim, se pensar é uma atividade que se coloca em prática 
espontaneamente, o mesmo não se pode dizer do refletir, porque “[...] se toda reflexão é pensamento, 
nem todo pensamento é reflexão” (SAVIANI, 2000, p.16). A reflexão implica uma atitude consciente 
de examinar detidamente as questões vitais da existência humana. Dessa forma, se se defende a 
reflexão como um valor fundamental para a educação, é necessário que essa reflexão possa ser 
também adjetivada de filosófica.
E o que propicia que o educador filosofe? Segundo Saviani (2000, p. 23):
O que leva o educador a filosofar são os problemas (entendido esse termo 
com o significado que lhe foi consignado) que ele encontra ao realizar 
a tarefa educativa. E como a educação visa o homem, é conveniente 
começar por uma reflexão sobre a realidade humana, procurando 
descobrir quais os aspectos que ele comporta, quais as suas exigências 
referindo-as sempre à situação existencial concreta do homem brasileiro, 
pois é aí (ou pelo menos a partir daí) que se desenvolverá o nosso 
trabalho.
Assim o exercício filosófico possibilita que as pessoas, diante dos problemas, respondam com reflexão, 
e não com ideias prontas. E diante dos problemas que a realidade educacional apresenta ao educador, 
este não deve abrir mão da reflexão filosófica. Dessa forma, a Filosofia deve possibilitar a reflexão crítica 
dos conhecimentos e valorestransmitidos, tanto pela educação formal quanto pela educação informal. 
Ela deve ainda refletir sobre: a) Quem é o aluno que se quer formar; b) Qual formação se quer atingir 
e para qual sociedade; c) Como deve ser realizada essa formação, ou seja, quais são os procedimentos 
metodológicos adequados para tais fins.
Enfim, não há como realizar uma reflexão pedagógica sem uma reflexão filosófica. Se essa 
reflexão sobre a educação não for realizada de forma consciente, por intermédio da filosofia, ela 
será realizada sob a forma do senso comum. Dessa forma, ela será superficial, acrítica, fragmentada 
etc, ou seja, será uma mera reprodutora dos conceitos e valores existentes na sociedade. Isso é 
justamente o que não deve ocorrer. A educação deve estar consciente dos fins a serem alcançados 
e dos meios a serem utilizados. É justamente aí que entra o papel fundamental da Filosofia para 
educação.
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2 trABALHo, IDEoLoGIA E EDuCAção
2.1 o trabalho como mediação entre o homem e a natureza
O ser humano depende da natureza para sobreviver? Ao construir a sua existência estabelece 
relações com a natureza e com outros seres humanos; ele transforma seu meio. O ser humano é 
parte integrante da natureza e sua sobrevivência está condicionada ao intercâmbio que realiza com 
ela para satisfazer suas necessidades. Para isso realiza trabalho. Veja o que pensam Marx e Engels 
sobre isso:
Podem-se distinguir os homens dos animais pela consciência, pela 
religião ou por tudo que se queira. Mas eles próprios começam a se 
diferenciar dos animais tão logo começam a produzir seus meios de vida, 
passo este que é condicionado por sua organização corporal. Produzindo 
seus meios de vida, os homens produzem, indiretamente, sua própria 
vida material.
O modo pelo qual os homens produzem seus meios de vida depende, antes 
de tudo, da natureza dos meios de vida já encontrados e que tem de produzir 
(MARX e ENGELS, 1987, p. 27).
Figura 4 – Karl Marx
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 Lembrete
Karl Marx (1818-1883): filósofo alemão idealizador e divulgador do 
comunismo. Estudioso e critico do sistema capitalista. Escreveu A guerra 
civil na França, O capital, entre outras obras.
Friedrich Engels (1820-1903): pensador alemão e grande 
divulgador dos ideais comunistas. Escreveu Do Socialismo utópico ao 
científico e, em parceria com Marx: O manifesto do partido Comunista 
e A ideologia alemã.
Para Marx e Engels o grande diferencial do ser humano em relação aos outros seres 
vivos é a sua capacidade de produzir, ou seja, de realizar trabalho. Por meio do trabalho, o 
ser humano produz os meios necessários para manter-se vivo, ou seja, ele retira coisas da 
natureza, interfere nela, ele fabrica coisas a partir dela. Quando falamos em trabalho, não nos 
referimos apenas a aquele realizado na fábrica, por exemplo, mas a toda ação transformadora 
consciente de seu fim. Nesse sentido, mesmo quando os animais modificam a natureza, por 
exemplo o joão-de-barro quando faz sua moradia, ou um castor faz uma pequena represa, 
não estão realizando trabalho. É ilustrativa a comparação de Marx do mestre de obras com 
a abelha: “Mas há algo em que o pior mestre de obras é superior à melhor abelha, e é o fato 
de que, antes de executar a construção, ele a projeta em seu cérebro” (MARX apud ARANHA e 
MARTINS, 2003).
Apenas o ser humano realiza trabalho, pois apenas ele projeta sua ação antes de executá-la, e esta 
implica práxis. E o que vem a ser isso? Práxis é a união interdependente e recíproca entre a teoria e a 
prática. Dito de outro modo:
[...] práxis [...] significa a união indissolúvel da teoria e da prática, 
porque não existe anterioridade nem superioridade entre uma e outra, 
mas sim reciprocidade. Ou seja, como práxis, qualquer ação humana 
é sempre carregada de teoria (explicações, justificativas, intenções, 
previsões etc.). Também toda teoria, como expressão intelectual de 
ações humanas já realizadas ou por realizar, é fecundada pela prática 
(ARANHA, 2006, p. 76).
2.2 Alienação e ideologia
Será que o trabalho é condição de humanização quando, por exemplo, o ser humano é escravizado ou 
trabalha em condições degradantes? Ou quando é explorado? Ou quando executa mecanicamente sua 
função? Ou ainda quando realiza um trabalho alienado? Podemos afirmar que nesses casos o trabalho 
não contribui para a humanização.
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E o que vem a ser a alienação? “O verbo alienar vem do latim alienare, ‘afastar, distanciar, 
separar’. Alienus significa que pertence a outro, alheio, estranho. Alienar, portanto, é 
tornar alheio, é transferir para outrem o que é seu” (ARANHA, 2006, p. 76). Isso significa 
que o trabalhador que trabalha e produz não fica com o fruto do seu trabalho. Os operários 
produzem, mas o fruto do trabalho não lhes pertence, porque, em troca, eles recebem um 
valor determinado, recebem um salário. Essa alienação do produto leva à alienação do próprio 
trabalhador que produz, porque com a “perda da posse do produto, o próprio indivíduo não 
mais se pertence: não escolhe o horário, o ritmo de trabalho, nem decide sobre o valor do 
salário; não projeta o que será feito, comandado de fora por forças estranhas a ele” (ARANHA, 
2006, p. 76). Dessa forma, o trabalhador alienado não se reconhece no mundo que ele mesmo 
ajudou a construir.
E o que vem a ser ideologia? Se você olhar no dicionário irá verificar que o verbete ideologia possui 
muitos significados, por exemplo estes: conjunto articulado de ideias, valores, opiniões, crenças etc.; 
sistema de ideias dogmaticamente organizado como um instrumento de luta política; conjunto de 
ideias próprias de um grupo etc. Um sentido que se tornou clássico, e que será utilizado aqui, é aquele 
utilizado por Marx. Nessa perspectiva:
A ideologia “é uma representação ilusória da realidade, porque o 
conjunto de ideias e normas de conduta veiculado leva os indivíduos 
a pensarem, sentirem e agirem de acordo com os interesses da classe 
que detém o poder. Desse modo, a ideologia camufla o conflito 
existente dentro da sociedade dividida, apresentando-a como una 
e harmônica, como se todos partilhassem dos mesmos interesses e 
ideais” (ARANHA, 2006, p. 80).
Dessa forma, segundo a concepção marxista, a classe que detém o poder faz uso da ideologia para 
fazer valer os seus interesses e, por outro lado, a trabalhadora nem sempre tem a clareza e a organização 
necessária para fazer valer seus interesses. Assim, há uma tendência de continuidade da dominação, 
uma vez que a função da ideologia é justamente essa:
[...] ocultar as diferenças de classe, facilitar a continuidade da 
dominação de uma classe sobre a outra, assegurar a coesão entre os 
indivíduos e a aceitação sem críticas das tarefas mais penosas e poucos 
recompensadoras, simplesmente como decorrentes da “ordem natural 
das coisas” (ARANHA, 2006, p. 81).
2.3 Ideologia e educação
Será que a educação é neutra? Podemos afirmar que a educação não é neutra, ou seja, ela sempre 
se encontra influenciada pelos interesses econômicos, políticos e sociais de uma dada sociedade. De um 
modo geral, onde há classes sociais com interesses divergentes, os grupos mais poderosos procuram 
fazer valer seus interesses também na educação. Segundo Brandão:
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Quando o fruto do trabalho acumula os bens que dividem o trabalho, a 
sociedade inventa a posse e o poder que separa os homens entre categorias 
de sujeitos socialmente desiguais. A posse e o poder dividem também o 
saber entre os que sabem e os que não sabem (1994, p. 102).
Grupos desiguais não só participam desigualmente da educação – dos 
nobres,dos funcionários, dos artesãos – como são também por ela 
destinados desigualmente ao trabalho: para dirigir, para executar, para 
produzir (1994, p. 103).
Figura 5 – Crianças em sala de aula
Segundo Aranha (2006), a forma em que a escola está organizada “pode exercer um papel ideológico 
na medida em que a rígida hierarquia exige o exercício do autoritarismo e da disciplina estéril, que 
educam para a passividade e a obediência” (2006, p. 84). Além disso, é necessário analisar se o próprio 
material didático não contém conteúdos ideológicos que mostram a seus leitores uma realidade 
distorcida. Para Aranha, o discurso ideológico deve ser contraposto pelo discurso não ideológico, ou 
uma contraideologia, isto é, por “uma crítica que revele, denuncie a contradição interna, que se acha 
oculta” (2006, p. 85) no discurso ideológico.
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3 PoLÍtICA, PoDEr E DEMoCrACIA
3.1 Política e democracia3
Figura 6 – Acrópole
Os gregos inventaram a política, inventaram a democracia. Qual o significado desses termos? 
Na Grécia antiga, os políticos, do grego politikós, eram aqueles que cuidavam das coisas da polis, 
ou seja, das coisas da cidade, do bem comum. Segundo Jean Pierre Vernant, em As origens do 
pensamento grego, após a queda do poder micênico pela invasão das tribos dóricas, irá estruturar-se 
paulatinamente, na Grécia antiga, um novo tipo de organização social e política. A cidade deixa de 
ser organizada em torno de um palácio real e se volta para Ágora, o espaço público onde se debatem 
problemas de interesses comuns. “Esse quadro urbano define efetivamente um espaço mental; 
descobre um novo horizonte espiritual. Desde que se centraliza na praça pública, a cidade já é, no 
sentido pleno do termo, uma polis” (VERNANT, 1998, p. 40). Políticos eram os que cuidavam da polis, 
eram, portanto os cidadãos. E o que significa ser cidadão? Os cidadãos possuíam isonomia, ou seja, 
igualdade para participar do poder de decisão, embora apenas uma minoria fosse considerada como 
tal. Eram considerados cidadãos os nascidos em Atenas, do sexo masculino e que tivessem cumprido 
o serviço militar, ou seja, cerca de 10% da população, aproximadamente 50 mil homens. Aqueles 
3 O texto desse item foi extraído e adaptado de: Fernandes, 2006.
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que não eram cidadãos, portanto, não tinham que se preocupar com o bem comum, eram os idiotes, 
conforme esclarece Machado:
Na Grécia quem não era político, era chamado de idiotes, de onde se 
originam palavras como idiotas, idiotismo ou idiossincrasia. Aos idiotas 
cabia apenas preocupar-se consigo mesmo, com a manutenção de sua vida; 
somente muito tardiamente a palavra passou a designar alguém desligado 
da realidade, ou mesmo uma patologia. O futuro da polis era assunto para 
os políticos (2000, p.19).
 observação
Cidadão ateniense: de uma população de cerca de meio milhão de 
habitantes, excluía-se: 50% de escravos, 25% de estrangeiros, 15% de 
mulheres e crianças, restando 10% de cidadãos atenienses, aproximadamente 
50 mil homens.
E qual o significado de democracia? A palavra democracia vem do grego démokratía e é 
formada pela junção de duas palavras dêmos: povo, e kratía: poder (cf. Houaiss), portanto 
significa poder do povo. Significa que o povo, na democracia grega tinha poder de decidir, 
poder de definir o destino da polis, da cidade, do bem comum. E quem era o povo na Grécia 
antiga? Conforme foi exposto anteriormente o povo era os considerados cidadãos. Portanto, na 
democracia grega, os cidadãos tomavam as decisões sobre os interesses coletivos. A democracia 
grega era uma democracia direta, e não representativa como a nossa. O que isso significa? 
Significa que os cidadãos participavam diretamente das decisões, discutindo e votando sobre as 
mesmas. Já na democracia representativa, elegemos representantes como vereadores, prefeitos, 
deputados, para representar os nossos interesses.
Atualmente, nas democracias modernas, pelo menos em tese, todos os seus membros são considerados 
cidadãos. Embora elas não sejam mais diretas, mas representativas, os cidadãos são aqueles dotados de 
direitos e deveres, que devem cuidar do bem público. Pelo menos em tese, a cidadania não se encontra 
restrita a uma classe social com direitos e privilégios que outras classes não possuem. Não há base 
legal para isso, uma vez que as constituições dos diversos países incorporaram os direitos básicos do 
ser humano. Ainda que diferentes como pessoas, todos valem a mesma coisa pelo simples fato de 
pertencerem à espécie humana, são iguais como cidadãos, uma vez que são dotados de direitos e 
deveres. Aqui se encontra o plano simétrico da igualdade: no valor como pessoa e como cidadãos, 
uma vez que não é necessária nenhuma formação técnica especial para ser cidadão, ou para ter os 
direitos humanos. Para sê-lo, é necessário apenas pertencer juridicamente ao país, por nascimento ou 
naturalização4.
4 Há também uma diferença entre a cidadania ativa, ou seja, aquele que exerce seus direitos políticos, e a cidadania 
simples, daqueles que ainda não estão habilitados legalmente para exercer esses direitos, como no caso das crianças. Assim, 
de um modo geral todos são cidadãos. 
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3.2 A política segundo Maquiavel
Figura 7 – Nicolau Maquiavel (1469-1527)
Nicolau Maquiavel é considerado o fundador da política moderna. É um pensador que parte da 
experiência política do seu tempo. Atuando em cerca de vinte missões diplomáticas no período de 
1498 a 1512, Maquiavel se revelou um grande observador das relações de poder e destacou-se pelo 
discernimento político que revelava nos relatórios das missões. O que lhe possibilitou, quando viveu no 
ostracismo, refletir sobre sua atuação na chancelaria, dedicar-se ao estudo dos clássicos e compor O 
Príncipe. No entanto Maquiavel recebeu de muitos apenas incompreensão, e vários o tomaram como o 
próprio satã.
O autor de O Príncipe rompe com a política clássica, separando o entrelaçamento entre ética e 
política. Faz da política uma esfera autônoma. Observa a realidade como de fato é, e não como deveria 
ser. Por isso, faz uma clara advertência no capítulo XV de O Príncipe: 
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[...] como é meu intento escrever coisa útil para os que se interessarem, 
pareceu-me mais conveniente procurar a verdade pelo efeito das coisas, do 
que pelo que delas se possa imaginar. E muita gente imaginou repúblicas 
e principados que nunca se viram nem jamais foram reconhecidos como 
verdadeiros (MAQUIAVEL, 1979, p. 63).
 observação
Ostracismo: do gr. ostrakismós: afastamento (imposto ou 
voluntário) das funções políticas (cf. Dicionário eletrônico Aurélio da 
língua portuguesa).
Maquiavel não está preocupado com utopias. Observa a realidade “nua e crua” e explicita tudo aquilo 
que os homens fazem e não costumam dizer. Se todos os homens fossem bons, isso seria diferente, mas 
como a grande maioria é má e desonesta e deve o príncipe agir tendo em mente esse fato. Para garantir a 
eficácia da ação política, um príncipe deve considerar a lógica real do poder, deve considerar “como se vive” 
e não “como se deveria viver”, caso contrário, encontrará apenas ruína, segundo Maquiavel. Para Chauí 
(1997, p. 397),
Maquiavel inaugura a ideia de valores políticos medidos pela eficácia prática 
e pela utilidade social, afastados dos padrões que regulam a moralidade 
privada dos indivíduos. O ethos político e o ethos moral são diferentes e não 
há fraqueza política maior do que o moralismo que mascara a lógica real 
do poder.
3.2.1 Virtude e fortuna
No seu livro O príncipe, Maquiavel recorre a vários exemploshistóricos e justifica tal procedimento 
afirmando que é prudente “escolher os caminhos já percorridos pelos grandes homens e imitá-los” 
(1979, p. 23). E mesmo que não seja inteiramente possível imitar os passos dos grandes homens sempre 
será muito produtivo tentar fazê-lo, uma vez que se tem um referencial real para tal intento. Contudo 
para que alguém se eleve à condição de governante, segundo Maquiavel, irá depender de ter valor ou 
de ter boa sorte.
A deusa Fortuna é símbolo do acaso, da sorte, da ocasião. Representa aquilo que foge ao nosso 
controle e não depende das nossas ações. Maquiavel entende que muitas pessoas pensam que tudo 
depende apenas da sorte (Fortuna), mas ele considera que a Fortuna governa cerca de metade das nossas 
obras, já a outra metade depende de nossas ações, de nosso livre-arbítrio. Dessa forma, é importante 
que um governante tenha virtude, mas aquela de que fala Maquiavel tem o sentido concebido pelos 
gregos, de excelência, força, virilidade, como possuía o bom guerreiro. Se o governante tiver virtude 
saberá aproveitar a ocasião (Fortuna), mas se não tiver poderá desperdiçar uma ocasião favorável para 
agir, ou seja:
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Para agir bem, o príncipe não deve deixar escapar a fortuna, isto é, a ocasião 
oportuna. De nada adiantaria o príncipe ser virtuoso, se não soubesse ser 
precavido ou ousado e aguardar a ocasião propícia, aproveitando o acaso 
ou a sorte das circunstâncias, como observador atento ao curso da história 
(ARANHA e MARTINS, 2003, p. 235).
3.2.2 Ser amado ou ser temido
Outra questão abordada por Maquiavel, em O príncipe, é: para um governante é melhor ser amado 
ou ser temido? Segundo o autor, o ideal seria ter ambas as coisas, ou seja, ser simultaneamente amado e 
temido. No entanto, é muito difícil conseguir as duas coisas ao mesmo tempo e, tendo que optar entre 
uma e outra, é melhor ser temido do que amado. Qual a justificativa de Maquiavel ao tomar posição 
nessa questão em favor do temor ao invés do amor?
Para responder a essa questão, é necessário responder a outra interrogação: o que 
é o ser humano para Maquiavel? Ou seja, como ele vê os homens? Segundo suas próprias 
palavras: “os homens geralmente são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ambiciosos 
de dinheiro[...]” (MAQUIAVEL, 1979, p. 70). Pode-se dizer que Maquiavel não tem uma visão 
otimista em relação ao ser humano, uma vez que entende, com base nas suas observações da 
vida social, que os homens geralmente agem fazendo o mal ao invés do bem. Mesmo que os 
seres humanos não atuem dessa forma o tempo todo, Maquiavel julga que eles são capazes 
de fazê-lo e geralmente o fazem. Desse modo, para o governante, “é muito mais seguro ser 
temido do que amado, quando se tenha que falhar numa das duas” (1979, p. 70), pois os 
homens magoam mais facilmente a quem amam do que àqueles a quem temem, uma vez que 
temor vem acompanhado do medo do castigo. Dessa forma, segundo o autor de O príncipe, o 
governante não podendo ser amado e temido ao mesmo tempo, se tiver de optar, é melhor ser 
apenas temido. No entanto, ele adverte que é importante que o governante, que não puder ser 
amado evite ser odiado, condição que conseguirá facilmente, desde que não se apodere dos 
bens e das mulheres dos seus súditos e cidadãos.
3.2.3 Relação meios e fins
Costuma-se reduzir o pensamento de Maquiavel à sua máxima de que “os fins justificam os 
meios”, mas concepção esta que não deve ser vista de forma simplista e mecânica. Maquiavel 
defende uma nova moral fundada no julgamento do que é útil à comunidade, considerando 
que muitas vezes, para realizar o que é útil à sociedade, faz-se necessário o uso da força e da 
violência. Maquiavel faz uma distinção entre o bom e o mau governante. O primeiro, isto é, o 
bom, só recorre à violência quando é forçado pela necessidade, tendo como objetivo o bem 
coletivo. Já o segundo, isto é, o mau governante, pratica a violência gratuitamente, visando a 
seus próprios interesses. No capitulo VIII de seu livro, diz que existem crueldades “mal e bem 
praticadas”, ou seja:
Bem usadas se pode chamar aquelas (se é que se pode dizer bem do 
mal) que são feitas, de uma só vez, pela necessidade de prover alguém 
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à própria segurança, e depois são postas à margem, transformando-se o 
mais possível em vantagem para os súditos. Mal usadas são as que, ainda 
que a princípio sejam poucas, em vez de extinguirem-se, crescem com o 
tempo (1979, p. 38).
Mais à frente Maquiavel explica que enquanto as injúrias devem ser praticadas todas de uma só vez, 
a fim de ofender o menos possível, os benefícios “devem ser realizados pouco a pouco, para que sejam 
mais bem saboreados” (1979, p. 38).
Desse modo, para Maquiavel “é necessário a um príncipe, para se manter, que aprenda a poder 
ser mal e que se valha ou deixe de valer-se disso segundo a necessidade” (1979, p. 63), para o bom 
governante, significa o bem da comunidade.
4 VIoLÊnCIA E PoLÍtICA
4.1 Diversos tipos de violência
No nosso dia a dia é comum ouvirmos comentários e reclamações sobre a violência. Os noticiários 
diariamente retratam, no Brasil e no mundo, casos de assassinatos, assaltos, agressões, sequestros 
etc. Contudo o que é violência? Como podemos defini-la? No dicionário, encontramos o significado: 
“constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém, para obrigá-lo a submeter-se à vontade 
de outrem; coação” (HOUAISS, 2009). Dessa forma, será que é possível falarmos em vento violento, 
quando o mesmo derruba árvores? Podemos qualificar a chuva de violenta, quando a mesma 
inunda bairros ou destrói plantações? Na verdade, se a violência pressupõe um constrangimento 
exercido por alguém sobre outro alguém, então se trata de uma ação humana deliberada. Assim, 
não podemos qualificar como violentos os fenômenos da natureza, como chuvas e ventos, ou 
mesmo a ação instintiva animal. Segundo Aranha e Martins (2005, p. 282), não é tarefa simples 
definir violência:
Para definir violência, comecemos pelo caráter de disputa, de luta, de 
conflito, que envolve pessoas ou grupos com interesses divergentes 
e em que a solução apresentada é o recurso abusivo da força. Nesse 
processo, há que se destacar, de um lado, a intencionalidade de um 
autor e, de outro, uma vítima. A violência é movida, portanto, por um 
desejo de destruição do outro, que se configura a partir de diversos 
tipos de intenção: ferir, matar, prender, ameaçar, impedir de agir, 
humilhar, roubar ou destruir os bens. Essas agressões tiram a vida, 
atingem a integridade do corpo, a liberdade, o direito a propriedade 
ou ainda perturbam o espírito e a dignidade das pessoas. (ARANHA e 
MARTINS, 2005)
Com essa definição, as autoras destacam um tipo de violência que se configura por um conflito 
entre pessoas ou grupos com interesses divergentes de um lado temos o autor ou autores da violência 
e de outro lado, a vitima ou vítimas que a sofrem. As autoras também explicam que nem sempre essa 
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relação se mostra de modo claro e distinto, pois, em alguns casos, a violência se encontra camuflada e, 
portanto, necessita ser desvelada e denunciada. Vamos conhecer um pouco sobre a violência estrutural, 
a violência passiva e a violência simbólica.
4.1.1 Violência estrutural
A violência estrutural, também chamada violência branca, “não salta aos 
olhos”. Nela, o agressor não é identificado imediatamente e, às vezes, a 
própria vítima não percebe a violência a que está submetida. Essa violência 
passa despercebida como se apenas resultasse da “ordem natural das 
coisas”, e não da ação humana. Mas, à medida que descobrimos as relações 
de exploração de um sistema injusto, precisamos agir para modificaressa 
situação (ARANHA e MARTINS, 2005, p. 283).
Temos como exemplo desse tipo de violência a fome, a pobreza, o trabalho infantil, a ausência de 
escolas etc.
4.1.2 Violência passiva
A violência passiva ou violência por omissão ocorre toda vez que deixamos 
de agir para evitar sofrimentos ou salvar vidas. Por exemplo, se o motorista 
que provoca um acidente de transito alega não ter causado danos 
voluntariamente, mesmo assim convém saber se não houve descuido ou 
imprudência da parte dele (ARANHA e MARTINS, 2005, p. 283).
Também podemos citar como exemplo uma empresa que não cumpre com as normas de 
segurança e tal procedimento desencadeia vários acidentes de trabalho, assim como aquela que 
não executa um controle para evitar a poluição atmosférica ou dos rios e com isso compromete o 
bem-estar das pessoas.
4.1.3 Violência simbólica
A violência simbólica resulta da força de natureza psicológica que atua 
sobre a consciência, exigindo adesão irrefletida, só aparentemente 
voluntária. Ou seja: não existe violência simbólica quando tentamos 
persuadir alguém, estando, nós próprios, também dispostos a mudar 
de ideia pelo convencimento do outro. Esse comportamento significa 
abertura para o diálogo e aceitação do pensamento divergente (ARANHA 
e MARTINS, 2005, p. 284).
A violência simbólica existe quando, mesmo sem recorrer à força física, consegue-se manipular as 
pessoas para que tenham o comportamento desejado por meio da imposição de valores e exigência da 
aceitação cega e irrefletida.
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4.2 Estado e violência
O Estado no exercício da sua administração recorre à chamada violência legítima, uma vez que, em 
nome da manutenção da ordem e do cumprimento das leis, utiliza mecanismos repressivos. Segundo 
Althusser (1985), o Estado utiliza vários aparelhos repressivos: o governo, a administração, o exército, 
a polícia, os tribunais, as prisões etc. O caráter repressivo significa que o aparelho do Estado, no seu 
funcionamento, recorre à violência. Nas suas palavras:
O que distingue os AIE [Aparelhos Ideológicos do Estado] do Aparelho 
(repressivo) do Estado é a seguinte diferença fundamental: o Aparelho 
repressivo do Estado “funciona através da violência” ao passo que os 
Aparelhos Ideológicos do Estado “funcionam através da ideologia” 
(ALTHUSSER, 1985, p. 70).
Mais adiante, em seu texto, Althusser precisa um pouco mais sua definição esclarecendo que tanto o 
Aparelho do Estado quanto os Aparelhos Ideológicos se utilizam de violência e ideologia, mas a diferença 
encontra-se no predomínio dessas formas em cada um desses aparelhos.
Figura 8 – Guardas marchando
O aparelho (repressivo) do Estado funciona predominantemente através da 
repressão (inclusive a física) e secundariamente através da ideologia. (Não 
existe aparelho unicamente repressivo). Exemplos: o exército e a polícia 
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funcionam também através de ideologia, tanto para garantir sua própria 
coesão e reprodução, como para divulgar os “valores” por eles próprios 
propostos.
Da mesma forma, mas inversamente, devemos dizer que os Aparelhos 
Ideológicos do Estado funcionam principalmente através da ideologia, 
e secundariamente através da repressão seja ela bastante atenuada, 
dissimulada ou mesmo simbólica (ALTHUSSER, 2007, p. 70).
E quando o poder político se corrompe, torna-se totalitário? Vamos abordar no próximo 
item, como exemplo de regime totalitário, o totalitarismo nazista a partir da perspectiva de 
Hannah Arendt.
4.3 As origens do totalitarismo, segundo Arendt5
 observação
Hannah Arendt: pensadora alemã que emigrou para os Estados Unidos 
em 1940, devido ao nazismo, e naturalizou-se norte-americana em 1951. 
Autora de A condição humana e As origens do totalitarismo, entre outras 
obras.
Hannah Arendt, no seu livro Origens do totalitarismo, busca, como o próprio título sugere, 
compreender as origens e o funcionamento dos regimes totalitários. Sua análise tem como base 
central o totalitarismo nazista da Alemanha e o stalinista da União Soviética. Embora ambos os 
regimes possuam elementos comuns em relação ao seu caráter totalitário, será privilegiado aqui o 
enfoque do totalitarismo nazista.
 observação
Totalitário: diz-se do governo, país ou regime em que um grupo 
centraliza todos os poderes políticos e administrativos, não permitindo a 
existência de outros grupos ou partidos políticos (cf. dicionário eletrônico 
Aurélio da língua portuguesa).
4.3.1 Homens-massa
Segundo Arendt, o que dá sustentação aos regimes totalitários, assim como aos seus líderes, 
são as massas, que são o elemento necessário para apoio e também sustentação dos regimes 
totalitários, pois sem uma grande massa não é possível sustentar a máquina de morte do poder, cujo 
5 O texto desse item foi extraído e adaptado de: Fernandes, 2000.
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risco é despovoar o próprio país. Dessa forma, os movimentos totalitários são possíveis onde quer 
que existam massas, em qualquer quantidade, e estas, segundo Arendt, existem potencialmente 
em qualquer país “e constituem a maioria das pessoas neutras e politicamente indiferentes, que 
nunca se filiam a um partido e raramente exercem o poder de voto” (1997, p. 361). E é justamente 
dessa massa que os líderes dos movimentos totalitários recrutaram seus membros, ou seja, pessoas 
indiferentes e despolitizadas que, por isso mesmo, são mais moldáveis ao sistema e impermeáveis 
à argumentação de grupos de oposição. Essa massa será a base de sustentação para ascensão e 
manutenção dos movimentos totalitários, que se caracterizam, segundo Arendt, como
[...] organizações maciças de indivíduos atomizados e isolados. Distinguem-se 
dos outros partidos e movimentos pela exigência de lealdade total, irrestrita, 
incondicional e inalterável de cada membro individual. [...] Não se pode 
esperar essa lealdade a não ser de seres humanos completamente isolados, 
que, desprovidos de outros laços sociais – de família, amizade, camaradagem 
– só adquirem o sentido de terem lugar nesse mundo quando participam de 
um movimento, pertencem ao partido (1997, p. 373).
4.3.2 Ilusões democráticas
Para Arendt, a ascensão dos movimentos totalitários destruiu duas ilusões das nações 
democráticas, em especial nos países europeus. A primeira ilusão era de que as democracias se 
sustentavam num povo participativo e engajado politicamente, mas constatou-se que a grande 
maioria era apenas indiferente e neutra, o que justamente possibilitava que a democracia funcionasse 
com as regras que eram de fato aceitas apenas por uma pequena parcela da população. A segunda 
ilusão era acreditar que essa neutralidade incomodava as massas, quando estas se mantinham 
silenciosamente acomodadas nessa condição e, dessa forma, serviam apenas de fachada para o 
funcionamento da democracia política. Assim, os governos democráticos não sustentavam seu 
poder na soberania da maioria, mas sim na participação de uma minoria e na apatia da maioria.
A ideologia é o elemento que possibilita a preparação para que cada um se ajuste adequadamente 
ao seu papel, é a justificação lógica de um postulado que dirige a ação. Assim, por exemplo, a 
ideologia do racismo revela que existe um movimento ascendente nas raças e que, portanto, 
as superiores devem dominar as inferiores. Ao se submeter à lógica da ideologia renuncia-se à 
liberdade de pensar, ou seja, à possibilidade de quebra do processo, de questioná-lo e começar 
uma nova perspectiva. Por isso, o governo totalitário age de forma tal a impedir a liberdade.
4.3.3 Isolamento e solidão
Quais são as condições para que o governo totalitário, cuja essência é o terror, possa desenvolver-se? 
O isolamento entre os homens é a condição pré-totalitária, pois torna os homensimpotentes para a 
ação. “O isolamento e a impotência, isto é, a incapacidade básica de agir, sempre foram típicos das 
tiranias” (Arendt, 1997, p. 526), muito embora no governo tirânico ainda reste a esfera da vida privada, 
em que se é possível pensar e sentir de forma autônoma, o que já não ocorre no governo totalitário, 
em que o indivíduo é cooptado integralmente e sua capacidade de sentir e pensar é destruída. Se num 
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regime tirânico a vida pública com sua esfera política é destruída permanecendo certa autonomia na 
vida privada, no totalitarismo isso já não ocorre. Ele estende seus tentáculos em todas as direções, 
destrói não só a vida política mas também a vida privada. Esse movimento fundamenta-se, assim, 
no isolamento e na solidão das pessoas: quando toda esfera de ação política do homem se encontra 
destruída; no entanto, a esfera produtiva, o mundo do trabalho permanece. Entretanto, a esfera do 
trabalho também se transforma cada vez com mais ênfase a partir da Revolução Industrial. O trabalho, 
como atividade criativa essencialmente humana de se acrescentar algo ao existente, transforma-se 
em trabalho alienado, em que os homens já não se reconhecem como produtores. O trabalho, quando 
se transforma em mero esforço para manter-se vivo, faz o isolamento transformar-se sozinho, não 
no sentido de estar só, pois se pode estar só, mas não em solidão, já que, mesmo só, se está consigo 
mesmo, e estar consigo significa ter os outros representados em si mesmo, pelo ato de pensar. Enfim, 
na solidão, se está realmente só, impermeável aos outros seres humanos.
Em outras palavras, quando estou só, estou “comigo mesmo”, em 
companhia do meu próprio eu, e sou, portanto, dois em um; enquanto, 
na solidão sou realmente apenas um, abandonado por todos os outros. 
A rigor, todo ato de pensar é feito quando se está a sós, e constitui 
um diálogo entre eu e eu mesmo; mas esse diálogo dos dois-em-um 
não perde o contato com o mundo dos meus semelhantes, pois que 
eles são representados no meu eu, com o qual estabeleço o diálogo do 
pensamento (ARENDT, 1997, p. 529).
Na solidão perde-se o próprio eu, a capacidade e confiança em dialogar consigo mesmo e com o 
mundo. A única capacidade que ainda resta é a do raciocínio lógico sustentado numa premissa. É se 
apegar a uma premissa e às suas consequências lógicas, mesmo que falsas. Com o desenvolvimento da 
sociedade moderna, a solidão torna-se uma experiência cotidiana na vida das pessoas, e as propostas 
totalitárias surgem como uma salvação desse mal-estar.
O que prepara os homens para o domínio totalitário no mundo 
não totalitário é o fato de que a solidão, que já foi uma experiência 
fronteiriça, sofrida geralmente em certas condições sociais marginais 
como a velhice, passou a ser, em nosso século, a experiência diária de 
massas cada vez maiores. O impiedoso processo no qual o totalitarismo 
engolfa e organiza as massas parece uma fuga suicida dessa realidade 
(ARENDT, 1997, p. 530).
O nazismo e o stalinismo atestam a crise do nosso tempo; mesmo sem eles, o risco de governos 
totalitários permanece; por outro lado, pelo fato de cada nascimento ser um novo recomeço, a 
manifestação da liberdade é, portanto, também a perspectiva de mudança de condições da realidade.
[...] a crise do nosso tempo e a sua principal experiência deram origem a uma 
forma inteiramente nova de governo, que, como potencialidade e como risco 
sempre presente, tende infelizmente a ficar conosco de agora em diante [...]
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Mas permanece também a verdade de que todo fim na história 
constitui necessariamente um novo começo; esse começo é a 
promessa, a única “mensagem” que o fim pode produzir. O começo, 
antes de tornar-se evento histórico, é a suprema capacidade do 
homem; politicamente, equivale à liberdade do homem. [...] “o 
homem foi criado para que houvesse um começo”, disse Agostinho. 
Cada novo nascimento garante esse começo; ele é, na verdade, cada 
um de nós (ARENDT,1951, p. 531).
Com a sociedade moderna, a experiência de solidão passa a ser cotidiana e a atingir um número 
cada vez maior de pessoas. Tal fato predispõe as pessoas à adesão a movimentos totalitários, pois 
não conseguem estabelecer o diálogo do pensamento consigo mesmas e, assim sendo, tornam-se 
mais vulneráveis às ideologias totalitárias. Por outro lado, Arendt aponta também, dialeticamente, a 
capacidade do ser humano de superação desse estado de coisas, mesmo que os riscos do totalitarismo 
sempre permaneçam latentes. O ser humano possui a possibilidade e a capacidade do recomeço, de agir 
com liberdade e transformar a si mesmo, assim como a sua relação com o mundo e, dessa forma, não 
dar sustentação aos regimes totalitários.
4.4 o nazismo como mito político, segundo Cassirer6
 observação
Ernst Cassirer: pensador alemão, que foi obrigado a fugir da Alemanha, 
em razão do antissemitismo nazista. Emigrou para os Estados Unidos em 
1941, onde escreveu seu Ensaio sobre o Homem e O Mito do Estado.
4.4.1 Contexto
No período entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha atravessa uma grave 
crise econômica e política, decorrentes da sua destruição, das perdas de territórios e das dívidas. 
Tal situação agrava-se com a quebra da bolsa de valores de Nova York em 1929, que provoca 
uma crise no capitalismo mundial. A Alemanha debilitada fica ainda mais afetada, pois já não 
poderia mais contar com empréstimos norte-americanos, que vinham sendo realizados desde 
1924, para amortizar suas dívidas e reconstruir seu país. Tais fatos, somados ao “fantasma” 
do socialismo que rondava a Europa, foram o fermento que necessitava o partido de Hitler 
para que conquistasse o apoio financeiro da burguesia e projetasse sua ascensão como os 
salvadores da pátria.
Segundo Cassirer (1976, p. 296), esse quadro de crise econômica e social da Alemanha foi o campo 
fértil para o desenvolvimento dos mitos políticos.
6 O texto desse item foi extraído de: Fernandes, 2000.
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Nos tempos de inflação e desemprego todo o sistema social e 
econômico da Alemanha viu-se ameaçado de um colapso completo. 
Os recursos normais pareciam exaustos. Era esse o solo natural para 
o desenvolvimento dos mitos políticos e onde podiam encontrar 
alimento abundante.
Contudo, Cassirer, ao afirmar que a situação da Alemanha era o “solo natural” em que os mitos 
políticos poderiam desenvolver-se e alimentar-se, não está dizendo que esta era a sua consequência 
necessária, ou seja, essa situação de crise, principalmente econômica, da Alemanha, não tem como 
consequência necessária o nazismo. Para Cassirer, a crise econômica não é a responsável exclusiva 
pela barbárie, assim como uma situação econômica favorável não garante uma civilização ética. O 
triunfo do nazismo, para ele, tem como elemento fundamental a invenção e o uso de uma nova técnica 
desenvolvida pelos seus líderes: a do mito político.
4.4.2 Mito político versus mito primitivo
O mito político se diferencia do mito primitivo por ser algo fabricado intencionalmente. Enquanto 
os mitos primitivos são manifestações espontâneas, em que os sujeitos não têm consciência da sua 
produção, os mitos políticos são fabricados de forma consciente visando atender finalidades previamente 
definidas. Essa “fabricação” dos mitos políticos foi possível graças a uma racionalidade técnica que 
elaborou, adaptou e comandou os conteúdos míticos nos interesses da doutrina nazista. Com esse 
objetivo se utilizou de todos os meios técnicos disponíveis – jornal, rádio, televisão, cinema etc. – para 
execução e propagação do seu propósito.
A técnica do mito se compõe de quatro partes, embora todas tenham a mesma finalidade: “aproibição 
do pensamento independente e a discussão crítica” (KROIS, 1987, p. 192). São elas:
(1) a manipulação da linguagem para prevenir ou limitar a 
comunicação, (2) a ritualização da ação para eliminar a diferença 
entre esfera pública e privada, (3) a eliminação de todos os valores 
ideais e a substituição deles por imagens concretas de bem e mal 
para prejudicar todas as decisões, e (4) a reinterpretação de tempo e 
história como “destino”, que provê a última justificação de submissão 
pessoal. As primeiras duas técnicas limitam a espontaneidade do 
pensamento e ação; os dois posteriores proveem um substituto para 
eles. (KROIS, 1987, p.193)
O primeiro passo que Cassirer assinala para a preparação dos mitos políticos foi uma 
alteração na função da linguagem. A palavra sempre preencheu duas funções diferentes no 
desenvolvimento da fala humana: a função mágica e a função semântica. Nas sociedades 
primitivas, existe a função semântica da palavra, mas a função mágica é a que predomina. O 
feiticeiro, e só ele, por meio de uma elaborada arte mágica, busca alterar o curso natural das 
coisas. Nas sociedades modernas o uso semântico da palavra predomina, serve para descrever as 
coisas, significar, estabelecer relações.
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Segundo Cassirer, nos mitos políticos modernos, ocorre, além da alteração dos valores éticos, uma 
predominância do uso mágico da palavra. Cassirer exemplifica que na Alemanha nazista foram criadas 
novas palavras, e mesmo outras mudaram de significado, passaram do semântico para o mágico7. De 
acordo com Cassirer, com essas palavras elaboradas, os artesãos da propaganda política visavam a 
despertar fortes emoções e conquistar as pessoas para alcançar seus objetivos. A técnica do mito troca 
a ênfase da função semântica pela ênfase da função mágica. O objetivo é despertar fortes emoções e 
prejudicar qualquer discussão crítica, já que para isso se faz necessário justamente separar os elementos 
emotivos das palavras e ater-se aos elementos semânticos.
O segundo passo, segundo Cassirer, é apoiar o uso da palavra mágica em novos ritos: regulares, 
imprescindíveis, abrangem todas as pessoas e não podem ser negligenciados por nenhum membro. Aqui, 
o autor estabelece um novo paralelo com os rituais das sociedades primitivas. Cada grupo, trabalhadores, 
estudantes, mães etc., passam a ter seus ritos característicos. Ninguém pode renunciar a eles sem que 
seja condenado por isso. O objetivo é regular todas as atividades e impedir o pensamento crítico, além 
de eliminar a separação da esfera pública e privada. O comprometimento é total, já que não existe a 
liberdade da esfera privada.
São tão regulares, rigorosos e inexoráveis como aqueles rituais que encontramos 
nas sociedades primitivas. Toda classe, todo sexo, toda idade, tem seu próprio 
rito. Ninguém pode passear pelas ruas nem saudar o vizinho ou o amigo sem 
realizar um ritual político. E, tal como nas sociedades primitivas, negligenciar 
um dos rituais prescritos significa miséria e morte (CASSIRER, 1976, p. 302).
Os principais efeitos produzidos por esses novos ritos são dois. O primeiro é que eles são capazes 
de “[...] adormecer todas nossas forças ativas, o nosso poder de juízo e discernimento crítico [...]”, e o 
segundo é que els podem “[...] nos retirar o sentimento de personalidade e responsabilidade individual [...]” 
(1976, p. 303). Tais efeitos se devem à repetição constante e uniforme desses ritos, ou seja, a execução 
repetitiva dos ritos produz uma letargia nas atividades racionais de juízo e discernimento, também 
substitui a responsabilidade individual pela coletiva, tal como acontece nas sociedades primitivas, em 
que toda a tribo é responsável pelas ações individuais. No entanto, poder-se-ia questionar: como esses 
ritos produzem tais efeitos com tamanha eficiência? Segundo Cassirer, o homem moderno renunciou à 
liberdade de pensar e refletir, abriu mão desse privilégio e, assim sendo, nesse ponto não ultrapassou o 
homem selvagem. Submete-se passivamente à força do mito.
Aprendemos que o homem moderno, a despeito de sua instabilidade, e 
talvez precisamente por causa dela, não conseguiu realmente ultrapassar a 
condição de vida do selvagem. Quando exposto às mesmas forças pode ser 
facilmente reduzido a um estado de aquiescência. Perde a curiosidade; aceita 
as coisas como se lhe apresentam. [...] Realizando os mesmos ritos, começam 
[os homens modernos] a sentir, a pensar, e a falar da mesma forma. Os seus 
gestos são vivos e violentos; contudo, isso não passa de uma vida artificial. 
7 Um registro das novas palavras elaboradas pelo regime nazista foi publicado no livro: PÄCHTER, H. Nazi-Deutsch: 
a glossary of contemporary German usage. New York: Ungar, 1944.
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De fato, são movidos por uma força exterior. Atuam como fantoches num 
teatro de bonecos – e nem mesmo sabem que as cordas que os movem e que 
movem toda a vida social e individual dos homens são manobradas pelos 
chefes políticos (CASSIRER, 1976, p. 304).
Contudo, o que explica a passividade, a não reação, a falta de crítica diante dos mitos políticos? 
Segundo Cassirer, dois aspectos são importantes para a compreensão do problema. Primeiro, que 
os mitos políticos configuram-se de maneira diferente das antigas formas de opressão. Não é uma 
simples imposição de leis e comportamentos pela força. Visam inicialmente à mudança interior dos 
homens para depois poderem controlá-los melhor. Segundo, que a atuação dos mitos políticos se deu 
após haver destruído as ideias opostas. Dessa forma, temos o terceiro passo da construção dos mitos 
políticos, que foi possível, segundo Cassirer, graças ao “mito da raça” de Gobineau, que significou a 
destruição dos valores opostos e a união de toda a sociedade em torno deste novo valor supremo: a 
raça branca superior, que passa a ser concebida como nobre e superior, identificada com o “bem”, que 
deveria combater e vencer o “mal”, identificado com os judeus e com as outras raças consideradas 
inferiores.
O quarto passo que irá configurar os mitos modernos é a arte profética dos líderes políticos. Nas 
sociedades primitivas, o homo magus, além de ser o feiticeiro mágico, é da mesma forma homo divinans; 
tem também o poder da profecia: pelas mensagens dos deuses é capaz de prever o futuro. Já o chefe 
político moderno não profetiza usando os mesmos métodos primitivos, mas, sim, desenvolve um método 
mais elaborado e refinado. Ele sabe que o emocional é a alavanca que move mais facilmente as massas 
do que a força bruta, por isso usa a profecia como forma de incendiar a imaginação e a emoção.
Os nossos políticos modernos sabem muito bem que as grandes massas se 
movem mais facilmente pela força da imaginação do que pela força física. 
E fizeram amplo uso desse conhecimento. O político tornou-se uma espécie 
de adivinho. A profecia é um elemento essencial na nova técnica de domínio. 
Fazem-se as promessas mais improváveis e até as que são impossíveis; o 
milênio é prenunciado vezes e mais vezes (CASSIRER, 1976, p. 307).
4.4.3 Papel da Filosofia
Para Cassirer, os avanços da cultura humana nas mais diversas áreas, como poesia, arte, religião etc., 
não estão tão solidamente estabelecidos como se pensava. Todas essas produções são o extrato superior 
de outro mais antigo e profundo: o mito. Enquanto as forças da cultura estão ativas, em pleno vigor, o 
mito permanece subjugado, mas quando essas forças se debilitam ele retorna com todo seu poder.
O mundo da cultura humana pode ser descrito pelas palavras dessa lenda 
babilônica. Não podia surgir enquanto a escuridão mítica não era combatida 
e vencida. Mas os monstros míticos não foram inteiramente destruídos. 
Foram utilizados para a criação de um novo universo e ainda vivem neste 
universo. Os poderes do mito foramdesafiados e vencidos por forças 
superiores. Enquanto essas forças, intelectuais, éticas e artísticas estão em 
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pleno vigor, o mito está dominado e subjugado. Mas apenas elas afrouxaram, 
o caos volta outra vez. O pensamento mítico ergue-se de novo e infeta toda 
a vida cultural e social do homem (CASSIRER, 1976, p. 316).
Cassirer não diz como as forças da alta cultura recuperam sua posição ocupada pelo pensamento 
mítico. Ele comentou pouco sobre isso. Entretanto, embora o autor não tenha uma resposta completa 
para essa questão, ele alerta que a Filosofia deve assumir esse compromisso, ou seja, não deve ser apenas 
uma disciplina técnica e acadêmica, mas, sim, refletir os problemas que afetam a vida social de todos.
É justamente nesse sentido que Cassirer se questiona em O Mito do Estado o que a Filosofia pode 
fazer diante dos mitos políticos. Para ele, os filósofos modernos parecem não depositar esperança alguma 
em alterar o rumo da história política e social8. Cassirer também se coloca contrário à posição de que 
“a coruja de Minerva só voa quando caem as sombras da noite”,9 ou seja, de que a Filosofia seja sempre 
pós-fato, não podendo transcender a sua época, mas apenas refletir sobre o já acontecido. Para Cassirer, 
isso é condenar a Filosofia a um papel passivo e limitado diante da situação histórica de cada época. Ele 
argumenta que grandes pensadores, entre eles Platão, não ficaram apenas presos ao seu próprio tempo, 
mas sim refletiram para além de sua época.
Os grandes pensadores do passado não eram apenas “o seu próprio tempo 
traduzido em pensamentos”. Muitas vezes tiveram de pensar contra e para 
além dos seus tempos. Sem essa coragem moral e intelectual, a Filosofia 
não poderia preencher a sua finalidade na vida cultural e social do homem 
(CASSIRER, 1976, p. 314).
Ou seja, a Filosofia deve ter coragem moral para pensar e refletir de forma crítica não apenas o seu 
próprio tempo, mas, com base no passado e no presente, lançar-se a questões ainda em germe, que 
tendem a desenvolver-se de forma mais explícita nos tempos futuros.
Cassirer alerta-nos de que a Filosofia não tem o poder de destruir os mitos políticos, pois eles não 
são permeáveis ao pensamento racional, mas, por outro lado, a ela pode nos ajudar a compreendê-los. 
Entender como funcionam, quais são seus mecanismos de atuação é o primeiro passo de uma estratégia 
que visa a descobrir como podem ser subjugados.
Está para além do poder da Filosofia destruir os mitos políticos. [...] Pode 
fazer-nos compreender o adversário. É esse um dos primeiros princípios 
da boa estratégia. Conhecê-lo não é apenas conhecer os seus efeitos 
e fraquezas; é também conhecer a sua força. [...] Devemos estudar 
cuidadosamente a origem, a estrutura, os métodos e a técnica dos mitos 
políticos. Devemos olhar o adversário bem de frente a fim de saber como 
derrotá-lo (CASSIRER, 1976, p. 314).
8 Nesse aspecto, refere-se a Spengler e Heiddeger.
9 Refere-se a Hegel.
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Exemplo de aplicação
Reflita: 
O educador é um intelectual e como tal corre o risco de empregar uma prática educativa ideológica?
 __________________________________________________________________________
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 saiba mais
Os filmes indicados em seguida podem propiciar uma inter-relação com 
os conteúdos da unidade:
Adeus, Lênin! Direção: Wolfgang Becker. Alemanha, 2002. 1 DVD. 
(121 minutos).
Diários de motocicleta. Direção: Walter Salles. Brasil, 2004. 1 DVD. 
(126 minutos).
Tempos modernos. Direção: Charles Chaplin. EUA, 1936. 1 DVD. 
(87 minutos).
Vermelho como o céu. Direção: Cristiano Bortone. Itália, 2006. 1 DVD. 
(96 minutos).
 saiba mais
Sugestões de leituras:
BRANDãO, C. R. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 2007.
DALLARI, D. A. O que é participação política. São Paulo: Brasiliense, 2004.
MANZINI-COVRE, M. de L. O que é cidadania. São Paulo: Brasiliense, 2006.
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 resumo
Nesta unidade, vimos que a Filosofia surgiu no final do século VII 
e início do VI a.C. na Grécia antiga e resultou de um processo lento e 
gradativo, para o qual contribuíram vários fatores, como as viagens 
marítimas, a invenção da escrita, da moeda e o nascimento da polis 
(cidade-estado). A Filosofia surge opondo-se à visão mítica predominante 
na época e configura-se como uma reflexão racional para explicação do 
existente.
A Filosofia não possui um único e exclusivo objeto de investigação, uma 
vez que pode refletir sobre diferentes questões como o mito, a ciência, a 
educação. O educador também deve fazer uso da Filosofia. É importante 
que ele filosofe sobre os problemas educacionais, buscando ter ideias mais 
claras sobre eles, para uma melhor atuação profissional. Deve realizar 
uma reflexão filosófica radical, rigorosa e de conjunto sobre os quastões 
educacionais que a realidade lhe apresenta.
Também discutimos sobre o fato de que os seres humanos constroem 
a sua existência e, nesse processo, estabelecem relações com a natureza 
e com outros seres humanos, transformando o seu meio. Estudamos 
que é por meio do trabalho que o homem produz os meios necessários 
para manter-se vivo, e essa ação implica em práxis, ou seja, uma união 
interdependente e recíproca entre a teoria e a prática. Quando o produto 
do trabalho não pertence a quem o produziu, temos o trabalho alienado. 
Essa alienação leva à alienação o próprio trabalhador, que não se reconhece 
nas coisas que ajudou a produzir.
Sobre as relações sociais, pudemos identificar a presença da ideologia, 
que, na perspectiva marxista, usa de um conjunto de ideias que levam os 
indivíduos a pensarem, sentirem e agirem de acordo com os interesses da 
classe detentora do poder. E como vimos, a educação não é neutra, ou seja, 
ela também sofre influência da ideologia dominante.
Na abordagem que fizemos sobre a política, concluímos que sua 
função é cuidar do bem comum. Aprendemos que foram os gregos que a 
inventaram, uma vez que os políticos eram os que cuidavam da polis, da 
cidade, ou seja, dos interesses comuns. Inventaram também a democracia, 
que pode ser entendida como poder do povo. Chegamos, então, a Nicolau 
Maquiavel, autor de O Príncipe e considerado o fundador da política 
moderna. Ele rompe com a política clássica, separando o entrelaçamento 
entre ética e política, fazendo da política uma esfera autônoma.
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Quanto às relações humanas, compreendemos que dentro delas, muitas 
vezes, ocorrem atos de violência e desrespeito. A violência pressupõe um 
constrangimento exercido por alguém sobre outro alguém e, dessa forma, 
pressupõe uma ação humana deliberada, intencional. No entanto, nem 
sempre ela se mostra de modo claro e distinto, pois em alguns casos a se 
encontra camuflada. Vimos que o Estado, no exercício da sua administração, 
recorre à chamada violência legal, que nem sempre é necessariamente 
legítima.
E a partir do tema Violência passamos aos Regimes totalitários, 
onde todo o poder está concentrado em único partido político (no caso 
do nazismo, o partido nazista) e não se tolera a existência de outras 
organizações e formas de pensar contrárias à ideologia do poder. A massa 
é a base de sustentação para ascensão e manutenção dos movimentos 
totalitários.
Finalizamos com a reflexão sobre papel da Filosofia em relação às 
problematizações

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