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ESPORTES INDIVIDUAIS: ATLETISMO PROFESSORES Me. Élen Carla da Costa Baraldi Me. Humberto Garcia de Oliveira Quando identifi car o ícone QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Acesse o seu livro também disponível na versão digital. Google Play App Store 2 ESPORTES INDIVIDUAIS: ATLETISMO NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jd. Aclimação Cep 87050-900 - Maringá - Paraná - Brasil www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; BARALDI, Élen Carla da Costa; OLIVEIRA, Humberto Garcia de. Esportes Individuais: Atletismo. Élen Carla da Costa Baraldi; Humberto Garcia de Oliveira. Maringá - PR.:Unicesumar, 2019. Reimpressão 2020. 208 p. “Graduação em Educação Física - EaD”. 1. Educação Física. 2. Esportes individuais. 3. Atletismo. 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-1845-5 CDD - 22ª Ed. 796.4 Impresso por: CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha Catalográfica Elaborada pelo Bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Minco�, James Prestes, Tiago Stachon, Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho, Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey, Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas, Supervisão de Produção de Conteúdo Nádila Toledo. Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Victor Augusto Thomazini, Robson Yuiti Saito, Designer Educacional Kaio Vinicius Cardoso Gomes, Nayara Garcia Valenciano, Revisão Textual Ariane Andrade Fabreti, Ilustração Rodrigo Barbosa da Silva, Fotos Shutterstock. Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profi ssionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- nos em 4 pilares: intelectual, profi ssional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profi ssionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Wilson Matos da Silva Reitor da Unicesumar boas-vindas Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informação e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Willian V. K. de Matos Silva Pró-Reitor da Unicesumar EaD Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. boas-vindas Débora do Nascimento Leite Diretoria de Design Educacional Janes Fidélis Tomelin Pró-Reitor de Ensino de EAD Kátia Solange Coelho Diretoria de Graduação e Pós-graduação Leonardo Spaine Diretoria de Permanência autores Me. Élen Carla daCosta Baraldi Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá (2002) e mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná (2006). Atualmente, é professora da Rede Municipal de Educação do Município de Maringá-PR e docente, no Ensino Superior, 20hs, do curso de Educação Física EAD. Atuou como como professora temporária na Rede Esta- dual de Educação do Estado do Paraná, também como professora de Educação Infantil em Pré-escolas particulares (Arte Manha) e colégios de Educação Infantil, Fundamental e Médio (Colégio Platão e Colégio Objetivo). No ensino superior, ministrou disciplinas em cursos de Pedagogia, Artes Visuais e Educação Física nas seguintes instituições: Faculdade Alvorada de Maringá-PR, Faculdade do Noroeste Paranaense (FANP) em Nova Esperança-PR e no Centro Universitário de Maringá (Unicesumar) na modalidade presencial. Tem experiência na área de Educação Física Escolar Infantil e Fundamental, bem como na área de Educação Física-escola-educação. http://lattes.cnpq.br/1842537406095828 Me. Humberto Garcia de Oliveira Graduado em Educação Física pelas Faculdades Integradas de Guarulhos (1983), especia- lista em treinamento desportivo pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Maringá (2010). Treinador de Atle- tismo durante 30 anos, possui vários títulos, como treinador de equipes de renome e da seleção brasileira em campeonatos sul-americanos, jogos pan-americanos, campeonatos mundiais e outros eventos internacionais na modalidade. Atualmente, é coordenador do curso de Educação Física Licenciatura e Bacharelado do Centro Universitário de Maringá (Unicesumar). Tem experiência na área de Educação Física, com ênfase em Treinamento Desportivo, atuando, principalmente, nos seguintes temas: atletismo, treinamento des- portivo, tenistas e preparação física em geral. http://lattes.cnpq.br/9242781131748708 apresentação do material ESPORTES INDIVIDUAIS: ATLETISMO Élen Carla da Costa Baraldi e Humberto Garcia de Oliveira Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) à nossa disciplina de esportes individuais, atletismo! Este material foi produzido para você! O nosso objetivo, neste livro, é permitir que você, como futuro(a) profissional da Educação Física, ao final da nossa disciplina, sinta-se motivado(a) e capacitado(a) a trabalhar com esta área do conhecimento, atuando em diferentes realidades e disposto(a) a enfrentar os desafios que se colocarão em sua vida profissional. O atletismo, hoje, pode ser entendido como uma disciplina da Educação Física presente em muitos espaços por todo o mundo. O seu processo de populariza- ção tem se intensificado mais e mais por ambientes escolares e não escolares, permitindo que tenhamos, hoje, diferentes espaços profissionais para ocupar com uma formação profissional coesa, eficiente e, ao mesmo tempo, com toda a flexibilidade possível. O atletismo não depende de equipamentos caros ou de infraestrutura profissional, os treinamentos podem ser aplicados em contextos onde o(a) professor(a) se propõe, aos alunos/atletas, ensinar a experiência de praticar este esporte, vencendo os seus limites pessoais e também sociais. Assu- mindo, assim, uma postura de abertura a esse esporte milenar, os profissionais da área poderão alcançar espaços antes impossíveis. Sejamos empreendedores do conhecimento, levando sempre à frente aquilo que foi aprendido durante a formação, enriquecendo a sua preparação profis- sional. Assim, neste nosso material, você encontrará os conteúdos organizados em cinco unidades de estudo e da seguinte forma: A Unidade 1 fará a introdução aos estudos do atletismo, discutindo as origens do esporte e o conhecimento básico sobre o desenvolvimento motor, os aspectos didáticos do atletismo pertinentes ao movimento e os aspectos biomecânicos deste. A Unidade 2 trará o movimento do correr com os fundamentos das corri- das, as corridas de resistência, de velocidade e saída de bloco, a corrida sobre barreiras e as de revezamento. A Unidade 3 estudará o movimento do salto, os fundamentos dos saltos, o salto em distância, o triplo, em altura e com vara. A Unidade 4 fará o movimento de lançar, começando pela diferenciação entre lançamento e arremesso, o arremeso do peso, lançamento do disco, do dardo e do martelo. A Unidade 5 encerrará com a prática pedagógica do atletismo, a sua pre- sença no campo da licenciatura e do bacharel, além de temas transversais no atletismo: doping, tecnologia e esporte paralímpico. sumário UNIDADE I INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS DO ATLETISMO 14 Origens do Atletismo 21 Conhecimento Básico sobre o Desenvolvimento Motor 25 Aspectos Didáticos do Atletismo Pertinentes ao Movimento 28 Aspectos Biomecânicos do Movimento 44 Referências 46 Gabarito UNIDADE II CORRIDAS 52 Fundamentos das Corridas 54 Corridas de Resistência 59 Corridas de Velocidade e Saída de Blocos 65 Corrida sobre Barreiras 71 Corridas de Revezamentos 89 Referências 90 Gabarito UNIDADE III SALTAR 96 Fundamentos dos Saltos 99 Salto em Distância 104 Salto Triplo 111 Salto em Altura 117 Salto com Vara 131 Referências 132 Gabarito UNIDADE IV LANÇAR/ARREMESSAR 138 Lançamentos e Arremessos 143 Arremeso de Peso 151 Lançamento do Disco 157 Lançamento do Dardo 166 Lançamento do Martelo 181 Referências 182 Gabarito UNIDADE V A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO ATLETISMO 188 Desafi os do Ensino do Atletismo 190 O Atletismo no Campo da Licenciatura e do Bacharelado 194 Temas Transversais no Atletismo: Residenciais e suas Defi nições 205 Referências 206 Gabarito 207 CONCLUSÃO GERAL Professora Me. Élen Carla da Costa Baraldi Professor Me. Humberto Garcia de Oliveira Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Origens do atletismo • Conhecimento básico sobre o desenvolvimento motor • Aspectos didáticos do atletismo pertinentes ao movimento • Aspectos biomecânicos do movimento Objetivos de Aprendizagem • Compreender a história, as transformações e os aspectos infl uenciadores das atividades atléticas do ser humano que deram origem ao atletismo como modalidade esportiva na atualidade. • Compreender a prática do movimento humano como uma sucessão de aquisições motoras resultantes de aspectos interiores e exteriores ao indivíduo. • Entender a prática do atletismo como uma modalidade de manifestação do movimento humano que é possível e necessária na escola, nos centros esportivos, na academia, nos clubes etc. • Aprender o movimento humano sob o ponto de vista dos conceitos básicos da mecânica. INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS DO ATLETISMO unidade I INTRODUÇÃO C aro(a) aluno(a), nesta unidade, você terá a oportunidade de se aproximar de uma das áreas de conhecimento da Educação Física que nos dão a pos- sibilidade de exercer esta profissão nos mais diversos campos de atuação. Esse conhecimento lhe proporcionará a aquisição de um novo olhar sobre a manifestação esportiva chamada atletismo, compreendendo-a como uma construção coletiva, histórica e social do ser humano. Com este olhar, as origens do atletismo trarão outros significados para os movi- mentos que, historicamente, foram construídos e que formaram o conjunto de práticas esportivas hoje chamadas de atletismo. O ser humano, ao longo dos séculos, construiu histórica e socialmente a sua existência de forma que ele se relacionasse com o meio e com os outros indivíduos e também agisse sobre eles. O movimento humano compreendido também precisa ser visto do ponto de vista do ensino-aprendizagem, pois trabalhamos na construção de futuros profissionais que, em diferentes espaços, usarão esse processo de ensino-aprendizagem para intervir no movimento de crianças, jovens, adultos e idosos. A contribuição dos conhecimentos básicos sobre o Desenvolvimento Motor nos ajudará demasiadamente nesse proces- so de entendimento dos movimentos e das necessidades/intenções/interesses em cada fase da vida humana. Esse movimentohumano também acontece num tempo e num espaço físico e, assim, precisa ser estudado sob tal ótica, entendendo as forças internas e externas que agem/interferem no momento de execução de uma passagem de barreira, por exemplo. Cabe a nós, que trabalhamos com o movimento, o estudo das ciências que o explicam. O ensino-aprendizagem do atletismo exige o conhecimento de aspectos didáticos da sua prática, pertinentes ao movimento humano. Faz-se necessário, também, que, por meio dos estudos, conheçamos os referenciais teóricos pertinentes a este esporte para entender como se dá a produção de conhecimento nele e nas áreas com os quais ele se articula. Desejo a você uma boa viagem no tempo (cronológico e físico) do atletismo e que faça uso dos conhecimentos aqui apresentados não só durante a nossa disciplina, mas também em sua atuação profissional, dando sentido e prática a cada movimento ensinado. 14 ESPORTES INDIVIDUAIS: ATLETISMO Origens do Atletismo EDUCAÇÃO FÍSICA 15 O atletismo não deve ser entendido de forma limita- da, como um esporte base para os demais. Apesar de ser praticado há tantas centenas de séculos, cada uma das modalidades, hoje, praticadas possui um conjunto de movimentos que podemos chamar, aqui, de gestos técnicos, cada um com as suas especificidades, com um sentido e um significado próprios da área. Para além deste entendimento, a construção de movimen- tos e manifestações corporais pelo ser humano, tais como correr, andar, saltar, arremessar e lançar estão presentes em inúmeras atividades: jogo, brincadeira, esporte, ginástica etc., porém, com sentidos e signifi- cados diferentes. Cabe a nós, profissionais da área de Educação Física e Esportes, conhecer e entender tal processo constitutivo que, aqui, é o nosso objeto de estudo. O atletismo, tal como o conhecemos hoje, é o re- sultado de um processo de construção social e histó- rica do indivíduo por meio da construção de sua exis- tência, fazendo-se humano, relacionando-se com ele mesmo, com os outros sujeitos e com o meio. Quan- do afirmamos que o ser humano se constrói, entende- mos que as manifestações corporais produzidas por esse mesmo indivíduo também se transformam, pois elas são processo e, ao mesmo tempo, produto desta transformação. O movimento do correr, por exemplo, para o sujeito pré-histórico, tinha um sentido e um objetivo diversos do correr para o sujeito moderno. Por isto, podemos dizer que esse mesmo movimento, praticado pelo recordista Usain Bolt (jamaicano velo- cista), é diferente do correr pré-histórico, pois ambos possuem objetivos diferentes. Este olhar sobre o atletismo, compreendido como uma das manifestações da cultura corporal do movi- mento, traz consigo a infinidade de possibilidades de práticas para esse esporte, as quais podem ser realiza- das em diversos espaços e tempos por pessoas de qual- quer idade, tamanho ou biotipo físico. Qualquer que seja o movimento (correr, saltar, lançar, arremessar) realizado pelo indivíduo, na atualidade, com o objetivo de praticar um esporte/uma atividade para cuidar da saúde física, competir, ou simplesmente brincar, é per- cebido, socialmente, por nós, como uma ação intencio- nal, cujo intuito é atender ao objetivo proposto. Os objetivos e significados dos movimentos pro- duzidos pelo ser humano, portanto, também são considerados nesta interpretação da realidade, fa- zendo-se humano e produzindo a sua existência, compreendidos aqui numa visão histórico-social dos movimentos. Podemos, então, afirmar que existe uma diferença gigantesca entre os movimentos que fazem parte do conjunto de atividades atléticas conhecidas por nós, hoje, e aqueles que julgamos ser, em sua gê- nese histórico-social, de forma bem elementar. A origem do Atletismo retrocede até a origem do gênero humano, quando os primeiros habitantes tinham que se alimentar por meio da caça e, por isto, necessitavam lançar objetos, correr ora atrás, ora à frente dos animais, saltar obstáculos e riachos a fim de proteger a si e aos outros. O atletismo enquan- to competição, que os ingleses chamam de athletics sports, e os americanos, de track and field contests, vem de uma época mais próxima, embora possamos encontrar vestígios de competição há 40 séculos, em vários povos da Ásia e da África (OLIVEIRA, 2013). A diferença entre o correr do indivíduo pré- -histórico e o correr do indivíduo moderno está no objetivo-finalidade do ato em si. São pessoas em tempos distintos e com modos de vida distintos, cujo mesmo movimento adquire significado diferente. REFLITA 16 ESPORTES INDIVIDUAIS: ATLETISMO Neste enorme espaço de tempo entre o indivíduo primitivo e o moderno, encontramos registros his- tóricos de diversos períodos quando os movimentos atléticos foram reconhecidos na história num tempo e lugar, porém, aqui, faremos menção aos registros onde foi observada a presença do Atletismo em forma de competição. Duas raças europeias no extremo do continente foram as primeiras a praticar regularmente o atletis- mo de competição na mesma época, aproximadamen- te 2 mil anos antes da nossa era, na Idade do Bronze. Estes povos foram os irlandeses do período pré-céltico e os gregos de Acádia, assim como os seus vizinhos, os cretenses da época minoica (1750-1400 a. C.). É muito provável que esses povos se ignorassem quanto à cul- tura uns dos outros. Um poema histórico de Aristeo, “Crônica da ilha de Mármara”, menciona um atletismo praticado pelos “escritas hiperbóreos” (povos celtas místicos): a lenda se confunde com a realidade, as fa- çanhas são fabulosas e os vencedores aparecem como semideuses, as proezas descritas são sobre-humanas. Do período pré-helênico – período clássico da história grega (séculos IV-VI a. C.) – temos, como tes- temunho, alguns poucos documentos descobertos em Knossos sobre um tipo de atletismo acrobático pra- ticado por jovens de ambos os sexos, os quais saltam touros, apoiando-se em varas (CABRAL, 2004). Devemos a Homero (lendário poeta épico da Grécia Antiga) os primeiros relatos, sobretudo na Ilíada (con- tos épicos gregos do século XXIII a. C.) e na Odisseia (um dos principais poemas épicos da Grécia Antiga, canto VII), escrito no século VII a. C. (CABRAL, 2004). Existe em Dublin, na Irlanda, um manuscrito conservado no Trinity College, intitulado Livro de Leins (1160). Nele são descritos jogos de Tailti, al- deia do condado de Meath, organizados a partir do século XIX a. C., que continuaram a ser realizados durante 25 séculos. Há referências sobre lançamen- tos e saltos (OLIVEIRA, 2013). Evidentemente, misturam-se a Pré-história, a mi- tologia e a lenda. Todas as reuniões atléticas da Grécia Antiga, como também as da Irlanda, estão ligadas às cerimônias religiosas e aos funerais, como as de Patro- clo (um dos heróis gregos da mitologia), evocados por Homero. Este mesmo modelo se encontra em outras organizações oficiais de jogos gregos, especialmente, os olímpicos (CABRAL, 2004). Esses jogos foram os mais importantes da Grécia Antiga, mas não eram os únicos. A partir de 527 a. C., próximo a Delfos (região grega que hoje possui um im- portante sítio arqueológico), na cidade de Pítia, celebra- vam-se os Jogos Píticos dedicados a Apolo (deus grego da beleza e juventude), primeiramente, a cada oito anos e, depois, no ano seguinte, a cada Olimpíada. Próximo a Corinto, em Istmia, celebravam-se, a cada dois anos, os Jogos Istmícos e, posteriormente, também em Ar- gos (a cada dois anos), os Jogos Nemeos celebravam a vitória de Héracles (filho de Zeus na mitologia grega) sobre Nemeia (monstro mitológico), vencido naquele mesmo local. Esses jogos olímpicos são os mais anti- gos e o seu início remonta ao ano de 884 a. C., mas, na história oficial, é datado de 776 a. C. (CABRAL, 2004). Figura 1 – Artesanato grego representa um saltador com halteres Fonte: Wikimedia ([2019], on-line)1. rober Realce EDUCAÇÃO FÍSICA 17 Figura 2 - Afresco de Knossos representa oatletismo acrobático com touros Fonte: Wikimedia ([2019], on-line)2. Figura 3 - Atletismo 18 ESPORTES INDIVIDUAIS: ATLETISMO O símbolo da Educação Física, aprovado pelo Conselho Federal de Educação Física (Confef) na Resolução n. 49/2002, é o “Discóbolo de Mirón” (lançador de discos), uma estátua do escultor grego Mirón produzida em 455 a. C., que representa um atleta no momento preparatório do lançamento de disco. Este tipo de arremesso é considerado uma das mais antigas provas de arremesso do atletismo. O atletismo moderno originou-se, segundo re- latos, em 1886, com a criação do Amatheur Athletic Club, fundado com o propósito de organizar campeo- natos nacionais na Inglaterra (ocorridos naquele ano). As primeiras descrições dos Jogos Londrinos são da- tadas do século XII. O rei Henrique II os patrocinava. Eram, oficialmente, competições de lançamentos de martelo de ferro com cabo de madeira, de pedra, com barra e sem cabo. O rei Henrique V era um admira- dor de corridas, e Henrique VII, um especialista em lançamento de martelo (OLIVEIRA, 2013). Alguns registros ao longo do tempo marcam o atletismo: no século XVI, as numerosas citações acerca de corridas a pé; no século XVII, os primeiros ensaios sobre cronometragem, as marcas e as com- petições, incluindo apostas; durante o século XIX, o atletismo desperta lentamente por meio de corridas a pé. O livro Tom Brown, de Thomas Hughes (1857), descreve detalhadamente uma competição entre jo- vens, a mais antiga da história moderna de atletismo. Em 1857, a Universidade de Cambridge organiza campeonatos da modalidade. Em 1860 e em 1864, em Oxford, uma competição entre as duas universi- dades marca o início de confrontos entre entidades (MATTHIESEN; RANGEL; DARIDO, 2014). Os primeiros Jogos Olímpicos, em 1896, foram realizados com provas de 100, 400, 800 e 150 m; fora da pista, a maratona com 40 km. Os saltos foram: em distância, triplo, em altura e com vara. Os ar- remessos contemplaram disco e peso. O atletismo para mulheres estreou nos Jogos Olímpicos somente em Amsterdã, em 1928. Enfim, esse esporte sempre esteve ligado aos Jogos Olímpicos, ele é considerado, por muitos profissionais da área, o primeiro dos es- portes (OLIVEIRA, 2013).Figura 4 - Discóbolo de Mirón rober Realce rober Realce rober Realce rober Realce EDUCAÇÃO FÍSICA 19 Figura 5 - Pôster dos Jogos Olímpicos de Amsterdã, em 1928 Fonte: Wikipédia ([2019], on-line)3. Com o passar do tempo, os espaços para a prática do atletismo foram construídos exclusivamente para isto, observando-se as regras de cada modalidade e pensando na possibilidade de acontecerem várias provas ao mesmo tempo, em um único lugar. Com o objetivo de conhecer a estrutura de uma pista ofi - cial de atletismo, a Figura 6 apresenta o esquema dos locais de prática. Uma pista de atletismo é formada por competições em pista e campo, contudo, as cor- ridas de velocidade em qualquer uma das distâncias são realizadas na pista. Figura 6 - Esquema que representa a pista de atletismo Fonte: adaptada de Müller e Ritzdorf (2000). rober Realce 20 ESPORTES INDIVIDUAIS: ATLETISMO Os períodos mais recentes que envolvem o atletismo regulamentado e, oficialmente, tratado como uma mo- dalidade esportiva e olímpica passam pelas datas a seguir: Realização dos primeiros Jogos Olímpicos (como as provas, anteriormente, descritas). Primeiras competições de atletismo no Brasil. Criação do órgão o�cial mundial responsável pela administração do atletismo International Amateur Athletic Federation – IAAF (Federação Internacional de Atletismo Amador). O atletismo brasileiro por meio da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) �lia-se à IAAF. Primeira participação do Brasil em Jogos Olímpicos (Paris, 1924). Primeira participação das mulheres em Jogos Olímpicos (Amsterdã, 1928). Primeira competição o�cial de atletismo no Brasil – Campeonato Brasileiro entre Estados. Realização da primeira edição do Troféu Brasil de Atletismo – principal competição o�cial do atletismo brasileiro. Criação da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), órgão responsável pela administração do atletismo nacional até os dias de hoje. A IAAF altera sua denominação para International Association of Athletics Federation (Associação Internacional das Federações de Atletismo). 1896 1912 1924 1929 1977 1910 1914 1928 1945 2001 Figura 7 - Atletismo regulamentado por datas Fonte: os autores. EDUCAÇÃO FÍSICA 21 O ser humano, desde o nascimento até a velhice, passa por diversos processos de crescimento, desenvolvimento e ama- durecimento. Por isto, a prática de ati- vidades físicas ou de esportes, independentemente da idade do grupo atendido, não deve acontecer sem considerar esses processos, pois ela é, ao mes- mo tempo, dependente e determinante deles. Cada movimento a ser realizado pelo grupo com o qual você trabalha terá que ser pensado e analisado antes quanto à faixa etária (idade), às condições motoras dos indivíduos integrantes desse grupo (estágios do desenvolvimento motor) e, ainda, como esses sujei- tos relacionam-se com o ambiente onde vivem (res- posta do sujeito aos estímulos do ambiente). Sobre este conhecimento, temos muito a discutir e a co- nhecer, afinal, em toda ação pedagógica aplicada por profissional/professor(a) da Educação Física, faz-se necessário o conhecimento acerca do ser humano como um ser em constante transformação. Conhecimento Básico sobre o Desenvolvimento Motor 22 ESPORTES INDIVIDUAIS: ATLETISMO Segundo David Gallahue e John C. Ozmuz (2005), o ser humano, durante a sua vida, apresenta algumas fases de desenvolvimento e, em relação ao movimento, ele passa por estágios, ambos sendo in- fluenciados por aspectos bio-psico-sociais, ou seja, o desenvolvimento de habilidades motoras depende e é também determinado pelo ambiente externo (ofere- cendo estímulos e oportunidades para a prática, in- centivando, assim, a permanência) e interno (existem influências herdadas geneticamente nos indivíduos). Dentro desta concepção de construção do mo- vimento humano, fica evidente que a intervenção de um profissional capacitado para atuar com diferen- tes idades torna-se imprescindível para que aconteça a transição progressiva de uma fase para a outra. Uma progressão bem-sucedida por meio de tran- sição, aplicação e estágio de aplicação ao longo da vida em uma tarefa de movimento particular depen- de de níveis maduros de realização na fase de movi- mento fundamental. Um indivíduo raramente obterá sucesso em softball caso as suas habilidades de bater, de arremessar e apanhar ou de correr não atingirem níveis maduros. Há a suposição de uma barreira de proficiência entre a fase de movimento fundamental e a fase de movimento especializado do desenvolvi- mento. A transição de uma fase a outra depende da aplicação de padrões maduros de movimento a uma grande variedade de habilidades ligadas a este. Caso os padrões não sejam maduros, a habilidade será prejudicada (GALLAHUE; OZMUZ, 2005) Figura 8 - Ampulheta eurística das fases do movimento humano Fonte: Gallahue e Ozmuz (2005). EDUCAÇÃO FÍSICA 23 É evidente, portanto, que existe um conjunto de fa- tores que interferem para que o indivíduo passe ou permaneça em um estágio neste ou naquele movi- mento, e a nossa intervenção, como propositores de movimentos dos mais diversos tipos, fará a diferen- ça no desenvolvimento desse indivíduo tanto quan- to ele permitir-se praticar. A seguir, apresentamos a ampulheta heurística desenvolvida por Gallahue e Ozmuz (2005), repre- sentando o aspecto descritivo do desenvolvimento motor ao longo da vida do indivíduo em desenvolvi- mento típico. A seguir, a ampulheta representa uma visão descritiva do desenvolvimento, e o triângulo representa uma visão explanatória. Ambos são úteis para compreender o desenvolvimento motor. Figura 9 - Ampulheta do desenvolvimento motor Fonte: Gallahue e Ozmuz (2005).24 ESPORTES INDIVIDUAIS: ATLETISMO Como mostra a ampulheta, os quatro tipos de movimentos que Gallahue e Ozmuz (2005) apre- sentam devem ser percebidos e reconhecidos por nós, profi ssionais da área da Educação, em qual- quer atividade aplicada em nossa prática, para que possamos intervir de forma efi ciente, produtiva e positiva no movimento e na vida do indivíduo que estamos atendendo. Porém, para isto, é necessário que também conheçamos as fases do desenvolvi- mento motor com as suas particularidades (infân- cia, adolescência, jovem adulto e idoso), manten- do-nos atentos a como o ser humano se comporta em cada uma delas para, assim, sabermos como agir nesta relação interpessoal professor(a)/alu- no(a), treinador(a)/atleta. Reconhecer as condições que podem limi- tar ou aprimorar o desenvolvimento constitui a chave para o ensino bem-sucedido na fase de ha- bilidade de movimento especializado. Uma vez identifi cadas tais condições para cada indivíduo, o ensino torna-se mais uma questão de reduzir o constrangimento (condições limitantes) e maxi- mizar as a� ordances (condições aprimoradas) ao invés de simplesmente enfatizar mecanicamente a execução “correta” da habilidade (GALLAHUE; OZMUZ, 2005). Um indivíduo não chegará espontaneamen- te a um determinado estágio de movimento quando atingir a idade esperada para aquele movimento. O alcance de um estágio é de- pendente do desenvolvimento biológico, do ambiente e da tarefa sugerida (exercício). Fonte: os autores. SAIBA MAIS Assim, as habilidades de movimento especializado são movimentos maduros fundamentais adaptados para as exigências específi cas de uma atividade espor- tiva, recreativa ou do dia a dia. O ponto até onde tais habilidades são desenvolvidas depende da combina- ção de condições específi cas das exigências da tarefa, da biologia do indivíduo e das condições do meio de aprendizagem (GALLAHUE; OZMUZ, 2005). Quanto à especialização do movimento, Gallahue e Ozmuz (2005) se referem à prática de treinamento de uma dada modalidade esportiva, período em que serão automatizados aqueles movimentos que chega- ram ao estágio maduro. Mas, em nossa prática, po- demos nos deparar com alunos/atletas nos diferentes estágios de desenvolvimento do movimento e, por isto, a nossa intervenção é pertinente e necessária. EDUCAÇÃO FÍSICA 25 Figura 10 - movimento técnico x movimento construído Aspectos Didáticos do Atletismo Pertinentes ao Movimento 26 ESPORTES INDIVIDUAIS: ATLETISMO Esses movimentos descritos por Gallahue e Ozmuz (2005) não devem ser compreendidos de forma es- tanque, como um lugar a alcançar em que só existe um único caminho de acesso. Muitas são as teorias na atualidade que estudam e descrevem de forma detalhada para nós, profissionais da área da Edu- cação Física, a forma como o movimento humano é entendido no processo de ensino-aprendizagem. Uma dessas teorias está na obra sobre o trabalho educativo na Educação Física, do professor Reiner Hildebrandt-Stramann (2017). O autor aborda o movimento como um proces- so construído, não como um modelo a ser alcan- çado. Quem sabe essa teoria seja a resposta para tantos talentos esportivos que se apresentam hoje, os quais fogem dos padrões de movimento antes estudados e traçados como ideais para um resulta- do eficaz na competição. Aquilo que chamamos de “estilo” não seria um caminho diferente e, talvez, mais eficaz para chegar a um objetivo? Como não havia conhecimento sobre aquele “atalho”, deu-se o nome de estilo. O movimento precisa ser entendido sob o pon- to de vista da construção, interagindo o tempo todo com o biológico, o psicológico, o social e a tarefa motora no processo de aquisição das habi- lidades físicas. Somente assim o(a) professor(a)/ treinador(a) terá resultado positivo em seu traba- lho de intervenção na aprendizagem de determi- nado movimento/modalidade. Nesse processo de construção, existe uma relação aberta de intera- ção entre professor(a)/treinador(a) e aluno/atleta, proporcionando e experimentando em cada ação e em cada exercício proposto, o movimento que será construído na aula/treino, mas modificado e ques- tionado por ambos. O desenvolvimento humano é caracterizado pela aquisição de capacidades cognitivas, emocionais, sociais e de movimento. O desenvolvimento deste nas crianças e nos jovens pode ser promovido nas seguintes funções: [...] a função instrumental contém a capacidade de se movimentar de maneira econô- mica, hábil, jeitosa e acomodável ao meio ambiente. A função social contém a capacidade de contatar ou- tras pessoas por intermédio do movimento. A fun- ção simbólica contém a capacidade de expressar algo mediante o movimento, e a função sensível contém a capacidade de explorar materiais ou a si mesmo, ou de construir, com materiais, situações de movimento (HILDEBRANDT-STRAMANN, 2017). Como profissionais da área da Educação Física, precisamos entender que o conhecimento da téc- nica não impede que o processo de construção do movimento aconteça em conjunto, principalmen- te quando estamos trabalhando com grupos de crianças que precisam, antes de aprender a técni- ca, desenvolver as habilidades motoras, pois essas crianças ainda não têm a percepção de suas com- petências. Sem falar também dos inúmeros adultos que chegam aos nossos cuidados com percepção zero daquilo que eles podem e do que são capazes de realizar. Por estes motivos, a construção dessa percepção de competência está diretamente ligada à nossa profissão, em qualquer ambiente, seja den- tro ou fora da escola, seja no clube ou no treino. rober Realce rober Realce rober Realce EDUCAÇÃO FÍSICA 27 O movimentar-se proporciona experiências em, no mínimo, três áreas (HILDEBRANDT-STRA- MANN, 2017): 1 2 3 Mediante as funções instrumental e sensitiva, é possível adquirir experiên- cias com o material por meio do mo- vimento. Por intermédio da função social, é pos- sível fazer experiências sociais por meio do contato com outras pessoas. Por meio da função simbólica, é pos- sível fazer experiências corporais me- diante um confronto direto com o seu próprio corpo pelo movimento. Intervalos de movimento No ensino das disciplinas No ensino interdisciplinar No ensino com projetos Mobiliários móveis Trabalho num plano de semana, trabalho livre, aprendizagem em estações Aprender com movimento Aprender por meio de movimento Movimento acompanha o processo de aprendizagem Movimento como um meio para adquirir conhecimentos/experiências sobre o assunto ou tema tratado Figura 11 - Teoria da aprendizagem móvel Fonte: Hildebrandt-Stramann (2017). Compreendendo o movimento desta forma, Hilde- brandt-Stramann (2017) propõe aos profi ssionais o seu ensino por meio da teoria de aprendizagem mó- vel, ou seja, a aprendizagem por meio do movimen- to para ganhar conhecimentos e experiências sobre o que é ensinado, pensando sobre, fazendo relações com outros temas e movimentos. Este método traz importante contribuições à medida que alarga a va- riedade de movimentos a serem proporcionados e, ao mesmo tempo, traz profundidade ao que é en- sinado, saindo da mera experimentação, da prática pela prática, pois tal método objetiva a consciência da mente sobre o corpo durante todo o processo, colocando-se como um desafi o para a nossa área de atuação, a qual busca a repetição de um movimento pela busca da técnica perfeita e efi caz. 28 ESPORTES INDIVIDUAIS: ATLETISMO Aspectos Biomecânicos do Movimento N este tópico, você terá uma aproxi- mação com os conteúdos da Física e as suas relações com o movimen- to. Esta ciência, tão necessária para a Educação Física, e que tem sido tão negli- genciada em nossa prática, mantendo-se guar- dada somente para o esporte de rendimento, ajudará na sua compreensão do conteúdo sob o ponto de vista da aprendizagem, colaboran- do para que você, futuro profi ssional, passe do papel de executor dos movimentos para a fun- ção de intermediadordeles. EDUCAÇÃO FÍSICA 29 Os aspectos fundamentais da biomecânica hu- mana devem nos levar a pensar sobre o movimento em si, como ele acontece no tempo e no espaço. Por isto, faz-se necessário que tenhamos conhecimento das definições básicas da biomecânica, bem como do que produz os movimentos, uma vez que o atle- tismo tem, como premissa básica, desenvolver os movimentos, principalmente, aqueles básicos do ser humano. A biomecânica (bio = seres vivos; mecânica = movimento) pode ser compreendida como mo- vimento humano, presente em todo ser vivo que se movimenta, desde o ato de engatinhar, andar e correr ou qualquer gesto que envolva até os mais complexos movimentos, como os gestos esportivos de competição. Qualquer movimento pode ser analisado a par- tir do estudo funcional ou cinesiológico. Para que isto ocorra, podemos utilizar um dos recursos para entender a biomecânica: por meio da caracterização dos movimentos (também denominada “mecânica”) ou via a compreensão das causas do movimento (de- nominada “cinética”). O(a) professor(a)/treinador(a) de Educação Fí- sica poderá, a partir dos conhecimentos em biome- cânica, promover uma prática que poderá contri- buir para a efetivação de processos educativos com o objetivo de alterar o comportamento corporal consciente no dia a dia e, também, a sua relação com as práticas corporais, fazendo-o pensar no que está executando, quais as qualidades físicas utilizadas no movimento e em que plano este acontece, ou seja, estudar sobre o movimento, como ele é construído no tempo e no espaço ocupados por nós. Pensar o movimento antes, durante e após a sua execução colabora para o seu aprimora- mento. O(a) professor(a) deve proporcionar laboratórios de ideias/práticas do movimento para que, no processo de construção deste, aconteça o enriquecimento de possibilidades de execução, originando, assim, movimentos conscientes, maduros e individualizados. Fonte: os autores. SAIBA MAIS O profissional de Educação Física, na condição ocu- pacional de professor(a), tem como responsabilida- de não somente os aspectos técnico-pedagógicos ou esportivos, mas também a função de contribuir para a melhoria da qualidade na saúde das crianças e dos jovens, com ênfase nas informações que foram de- senvolvidas por meio de estudos científicos, como sentar em uma cadeira na posição ergonomicamente correta; transportar uma mochila; ou receber outras orientações que possam contribuir para a melhoria da saúde. Assim, essa profissão objetiva ir além do que se ensina nas quadras, nos campos ou na aula. CONCEITO O conceito de biomecânica para o movimento hu- mano, tratando-se de aprendizagem, deve ir além do entendimento em relação à palavra. Portanto, a biomecânica pode ser definida como: a ciência que estuda os movimentos dos seres vivos, considerando as forças internas e externas que atuam sobre eles (MÜLLER; RITZDORF, 2000). rober Realce 30 ESPORTES INDIVIDUAIS: ATLETISMO FORÇA As forças produzem o movimento: ela puxa ou em- purra um corpo ou um objeto em dado espaço, por exemplo. A força não é visível, mas sabe-se que ela existe pelos resultados que produz. Por exemplo, um aluno, quando corre, aplica, no solo, uma força no apoio dos pés. Ela pode ser exposta de duas formas: as forças internas, que são resultados das contrações musculares voluntárias que tracionam os ossos; e as externas, aquelas que se encontram no ambiente e fora do nosso corpo, como a gravidade e o atrito (HALL; TARANTO, 2000). VELOCIDADE A velocidade é a rapidez com a qual um objeto se move a uma determinada direção. Esse objeto pode ser o cor- po humano ou um implemento lançado. Um corredor de 100 m que corre esta distância em 10 s, correu 100 m com uma velocidade de 10 m/s. A velocidade hori- zontal é determinada, dividindo a distância percorrida pelo tempo gasto nela (HALL; TARANTO, 2000). ACELERAÇÃO Pode ser compreendida como a capacidade de atin- gir a maior velocidade possível no menor espaço de tempo. Qualquer objeto ou corpo que parte de uma posição estática necessita desse tempo para atingir a velocidade máxima. Por exemplo, o velocista quan- do parte para a corrida após o tiro de partida, ou um objeto quando é lançado. A Figura 12 ilustra a velocidade e a aceleração velocidade-tempo para um corredor de 100 m (HALL; TARANTO, 2000), em que o eixo X se refere ao tempo nos 100 m em se- gundos; e o eixo Y é a velocidade em m/s. Figura 12 - Velocidade e tempo para um velocista (aceleração) Fonte: Thompson (1991). Em estudo realizado com jovens velocistas chilenos de 13 anos, verificou-se que eles alcançaram a velo- cidade máxima (7,04 m/s) aos 30 m em uma prova de 60 m rasos realizada à máxima velocidade, sendo que esta tendeu a manter-se estável até os 45 m (DÍAZ, 1990). Tais resultados assemelharam-se aos en- contrados no presente estudo, indicando assim uma tendência de jovens desta idade não conseguirem acelerar além destas distâncias. A capacidade de aceleração de jovens velocistas parece ser inferior à de adultos, na qual tem-se observado que a máxima velocidade de atletas adultos, na condição de treina- dos, pode ser alcançado dos 50 aos 70m. Em análise realizada com os ex-recordistas mundiais dos 100m rasos Carl Lewis e Ben Johnson, verificou-se que os mesmos conseguiam acelerar até os 60m da prova e sustentar tal velocidade até os 70m (DICK, 1989), demonstrando assim grande capacidade de aceleração. Fonte: Dal Pupo e Rocha Júnior (2008). SAIBA MAIS EDUCAÇÃO FÍSICA 31 MOVIMENTO LINEAR E ROTACIONAL O movimento linear acontece em linha reta, e o movimento rotacional (ou de translação) ocorre sobre um eixo de rotação. No atletismo, os movimentos são, regularmente, a combinação de ambos e ela é conhecida como movimento geral. Na corrida, por exemplo, o corpo se movimenta de forma linear e as pernas realizam um movimento rotacional. MOMENTUM Momentum quer dizer a quantidade de movimentos que um corpo possui e realiza, é também o produto do peso pela velocidade. No corpo humano, pode haver a transferência de momentum de uma parte do corpo para outra. Por exemplo, no salto em distância, quando a perna contrária à da impulsão é bloqueada ao chegar na posição horizontal, ela transfere o momentum como força adicional para a perna de impulsão. Figura 13 - Ilustração de exemplos de exercícios com movimentos lineares Fonte: adaptada de Th ompson (2016). 32 ESPORTES INDIVIDUAIS: ATLETISMO O momentum angular é a quantidade de movimento angular ou rotacional do corpo, é o momento de inércia angular com a velocidade rotacional. Quando o corpo gira sobre o seu próprio eixo, o momento da inércia é proporcional ao seu comprimento. Também pode haver transferência de momento angular de uma parte para outra, isto ocorre quando um lado do corpo é bloqueado nos lançamentos. Figura 14 - Salto triplo Fonte: IAAF (2009). AS LEIS DO MOVIMENTO Devemos a compreensão da relação entre força e movimento principalmente ao inglês Isaac Newton (1642-1727). Ele é conhecido por enunciar as três leis do movimento, em 1687, com a sua obra Philosophiae Naturalis Principia Mathematica. A PRIMEIRA LEI DO MOVIMENTO A primeira lei do movimento ou inércia de Newton alega que “todo corpo continua em seu estado de re- pouso ou de movimento uniforme em uma linha reta, a menos que seja forçado a mudar aquele estado por forças aplicadas sobre ele” (UNESCO, 2013, p.17). EDUCAÇÃO FÍSICA 33 O mais importante é saber como aplicar essa lei na prática. Um corredor, por exemplo, não sairá do lugar no bloco de partida se não aplicar uma força sobre ele. O saltador ou o barreirista não conseguirá saltar ou ultrapassar as barreiras se não aplicar uma força que mude a direção da corrida. A SEGUNDA LEI DO MOVIMENTO A segunda lei do movimento ou aceleração ex- põe que “a aceleração de um corpo é proporcional à força que a produz e ocorre na direção em que a força atua” (UNESCO, 2013, p. 18). Isto é,quanto maior a força, maior a aceleração. Esta depende da quantidade de força aplicada sobre um corpo. Nos lançamentos, quanto maior a força exercida sobre o objeto lançado, maior será a aceleração. Uma vez lançado esse objeto, não haverá nenhuma força que possa ser exercida sobre ele para acelerar. O mesmo se aplica aos saltos, quanto maior for a força aplicada no momento da impulsão, mais aceleração, altura ou distância poderá ser obtida. A TERCEIRA LEI DO MOVIMENTO A terceira lei do movimento ou lei da reação diz que “para cada ação existe uma reação igual e no sentido oposto” (UNESCO, 2013, p. 19). Figura 15 – Pêndulo de Newton Por exemplo, um corredor exerce uma força con- tra o solo no momento em que impulsiona o corpo para frente, isto cria uma reação igual e oposta que provoca o deslocamento do corpo no sentido da cor- rida. A lei da reação também se aplica aos movimen- tos que ocorrem em suspensão. Nestas situações, a reação igual e oposta ocorre nos movimentos de ou- tras partes do corpo. Por exemplo, um saltador pro- jetará o tronco, as pernas e os braços à frente no mo- mento da queda, a reação igual e oposta do tronco em relação às pernas auxiliará na perfeita queda na areia. Figura 16 - Figura representativa da ação e reação Fonte: adaptado de IAAF (2009). O CENTRO DE GRAVIDADE (C.G.) A gravidade é uma força que nos puxa para o cen- tro da Terra e está permanentemente presente. Essa força é exercida em cada objeto e em cada corpo no planeta, sendo que cada objeto ou corpo possui um ponto imaginário onde essa força atua. O corpo hu- mano é uma forma complexa que se modifi ca cons- tantemente em relação aos movimentos. O centro de gravidade desloca-se de acordo com os movimentos do corpo, como mostra a Figura 17. 34 ESPORTES INDIVIDUAIS: ATLETISMO Quando uma pessoa salta ou lança um implemento (disco, dardo, peso etc.), a gravidade atua como uma força que puxa a pessoa ou o implemento em dire- ção ao solo. O desenho da trajetória pelo C.G. de um corpo em suspensão é uma curva denominada pa- rábola ou movimento parabólico. A trajetória deste depende de três fatores: • Velocidade de lançamento. • Ângulo de impulsão ou lançamento. • Altura do C.G. do saltador no momento da impulsão ou do C.G. do implemento no mo- mento do lançamento. Figura 17 - Representação do ponto do Centro de Gravidade (C.G.) no corpo em várias posições Fonte: Gallahue e Ozmuz (2005). As aulas que envolvem o movimento hu- mano devem proporcionar um espaço de laboratório corporal para os que a fazem, permitindo que a vivência motora enriqueça o conhecimento de diversos elementos ne- cessários para que a prática de movimentos seja na fase de aquisição ou de especializa- ção destes. Fonte: os autores. REFLITA 35 considerações finais C aro(a) aluno(a), a Unidade 1 teve por objetivo conhecer a história, as trans- formações e os aspectos influenciadores das atividades atléticas do ser humano que deram origem ao atletismo como modalidade esportiva na atualidade para que você, desta forma, passe a compreender o atletismo como uma construção social e histórica humanas. Esta visão será importante na sua formação em outras disciplinas também. Buscamos também compreender a prática do movimento humano como uma sucessão de aquisições motoras resultantes de aspectos interiores e exteriores ao in- divíduo e que pode ser determinada ou influenciada pela prática consciente de um profissional conhecedor do movimento, que sabe não só o que, mas também como fazer, pois ele entende a prática do atletismo como uma modalidade de manifestação do movimento humano possível e necessária, independentemente do lugar onde o indivíduo esteja na vida: escola, centros esportivos, academia, clubes etc. Para isto, aprender sobre o movimento sob o ponto de vista dos conceitos básicos da mecânica torna-se imprescindível, pois ele acontece num tempo e num espaço, e o conheci- mento destes aspectos permite uma prática consciente. No curso de Educação Física, você estudará diversos conteúdos, em cada mó- dulo se aproximará de vocabulários diversos pertinentes ao mundo do movimento e que, ao final, se entrelaçam numa rede de conhecimentos que possibilitará você a exercer de forma competente a sua profissão. Para entender uma técnica e analisá-la são necessários conhecimentos em várias ciências, isto fará a diferença entre o leigo e o profissional. Faça uma reflexão a respeito: as ações básicas do atletismo: correr, saltar e lançar. Tome como exemplo um salto. Para que ele possa ocorrer, você deverá estender todas as articulações da perna, gerando uma impulsão, a qual empurra o seu corpo contra a gravidade. Isto deverá ocorrer com a marcha, a corrida e todos os outros movimentos – inclusive no ato de lançar um objeto. 36 atividades de estudo 1. Vimos, nesta unidade, que o movimento do correr do indivíduo pré-histórico tem sentido/significado diferente daquele atribuído ao indivíduo moderno. Explique por que podemos ter este entendimento diferente sobre o mesmo movimento. 2. A biomecânica (bio = seres vivos; mecânica = movimento) pode ser compreen- dida como movimento humano, presente em todo ser vivo que se movimenta, desde o ato de engatinhar, andar e correr ou qualquer gesto que envolva desde o movimento mais simples até os mais complexos, como os gestos esportivos de competição. Explique como e por que o conhecimento desta ciência deve ser estudado pelos profissionais da Educação física. 3. O movimento precisa ser entendido sob o ponto de vista da construção, intera- gindo o biológico, o psicológico, o social e a tarefa motora, o tempo todo, no pro- cesso de aquisição das habilidades físicas. Neste contexto, podemos afirmar que: a) Somente assim o(a) professor(a)/treinador(a) terá um resultado positivo no seu trabalho de intervenção na aprendizagem de determinado movimento/ modalidade. b) Existe uma relação semiaberta de aprendizagem, porém o profissional deve colocar limites para não perder o controle sobre o processo. c) A construção do movimento não pode interferir na aprendizagem da técnica. d) O movimento será aprendido quando chegar à fase certa de aquisição de habilidades naturalmente. e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta. 37 atividades de estudo 4. O ser humano, desde o nascer até a velhice, passa por diversos processos de crescimento, desenvolvimento e amadurecimento. A aprendizagem de movimen- tos motores está diretamente ligada a estas fases e da forma como o movimento é desenvolvido em cada uma delas. Usando a ampulheta de Gallahue e Ozmuz (2005), cite os fatores que interferem na aquisição destes padrões de movimento. 5. Pensar sobre o movimento, antes, durante e após a sua execução, colabora no seu aprimoramento. O(a) professor(a) deve proporcionar laboratórios de ideias/ práticas do movimento para que, no processo de construção deste, aconteça o enriquecimento de possibilidades de execução, originando, assim, movimentos conscientes, maduros e individualizados. Sobre a proposição de atividades práti- cas por profissionais de Educação Física, assinale a alternativa correta: a) Propor atividades que façam refletir sobre a posição do corpo na posição dei- tada ajuda a entender a corrida. b) Discutir aspectos do correr que ajudem a entender o movimento de braços colabora na diminuição do tempo de deslocamento horizontal. c) Conhecer a posição corporal do indivíduo primitivo na corrida em nada in- terfere naquilo que será aprendido pelo indivíduo moderno em relação ao correr. d) O conhecimento da posição do corpo e dos movimentos necessários para a corrida não dispensam o uso de aparelhos que ajudam a potencializá-la, prin- cipalmente em relação às crianças, como um bom tênis com amortecedor. 38 LEITURA COMPLEMENTAR Conceitos para maximizar o desenvolvimento da habilidade de movimento especializado As habilidades de movimento especializado constituem exercícios maduros de movimento fundamental refinados e associados para formar habilidades esportivas e de movimento complexo e específi co. As habilidades de movimento especializado são tarefas específi cas, ao contrário dos movimentos fundamentais. As habilidades de movimento fundamental de um indivíduo sofrem pouca alteração após atingir um estágio maduro, e as capacidades físicas infl uenciam apenas até o ponto no qual essas habilidades de movimento especia- lizado são realizadas em esportes, situações recreativas e do cotidiano. As habilidades de movimento especializado são movimentos maduros fundamentais adaptados para as exi- gências específi cas de uma atividade esportiva, recreativa ou do dia-a-dia. A maioria das crianças tem o potencial de desenvolvimento por volta dos 6 anos de idade para atuar em um estágio de maturidade da maioria das habilidades de movimento funda- mental e iniciar a transição para a fase de movimento especializado. As características fi sio- lógicas e anatômicas e a construção neurológica, assim como as habilidades de percepção visual, estão sufi cientemente desenvolvidas no sentido de funcionar em um estágio madu- ro nas habilidades de movimento mais fundamentais. Há, evidentemente, exceções a essa generalização, como, por exemplo, atingir um objeto em movimento como em batedura e voleio, devido às sofi sticadas exigências motor-visuais nessas tarefas. Contudo, diversos adolescentes retardam sua capacidade de movimento devido às limitadas oportunidades 39 LEITURA COMPLEMENTAR para a prática regular, à instrução precária ou inexistente e ao pouco ou nenhum incentivo. Crianças mais velhas, adolescentes e adultos deveriam ser capazes de realizar movimentos fundamentais no estágio maduro. Uma progressão bem-sucedida por meio de transição, aplicação e estágio de aplicação ao longo da vida em uma tarefa de movimento particular depende de níveis maduros de realização na fase de movimento fundamental. Um indi- víduo raramente obterá sucesso em softball caso suas habilidades de bater, arremessar e apanhar ou de correr não atingirem níveis maduros. Há a suposição de uma barreira de profi ciência entre a fase de movimento fundamental e a fase de movimento especia- lizado do desenvolvimento. A transição de uma fase para outra depende da aplicação de padrões maduros de movimento a uma grande variedade de habilidades de movimento. Dois pontos merecem atenção. O primeiro é que, embora um indivíduo possa estar cogni- tiva e afetivamente pronto para passar para essa fase, a progressão depende de completar com sucesso os aspectos específi cos da fase anterior; o segundo, que o progresso de uma fase para outra não é uma proposta de tudo ou nada. Não se exige que a pessoa esteja em estágio maduro em todos os movimentos fundamentais para avançar para estágios subseqüentes. Embora um indivíduo de 14 anos que seja especializado cedo em ginástica possa atuar em níveis altamente sofi sticados em diversas habilidades locomotoras e de es- tabilidade, ele pode não ser capaz de atirar, agarrar ou chutar uma bola com a profi ciência esperada para sua idade e nível de desenvolvimento. 40 LEITURA COMPLEMENTAR Após a criança ter atingido um estágio maduro em um determinado padrão de movimento fundamental, pouca mudança ocorre na “forma” daquela tarefa de movimento durante a fase de movimento especializado. O aprimoramento do padrão e as variações de estilo na forma ocorre à medida que maior habilidade (precisão, acurácia, coordenação e per- formance de jogos, atividades preparatórias e controle motor) é alcançada, mas o padrão básico permanece inalterado. Contudo, melhoras esporte. O objetivo-chave desse estágio é pegar signifi cativas na performance, baseadas na ideia de como treinar e realizar a habi- lidade do maior competência física, podem ser observadas esporte. Embora a habilidade e a profi ciência de um ano para o outro. À medida que o sejam limitadas, a importância crítica de adolescente aprimora a força muscular, a esforços sustentados começa a fazer sentido resistência, o tempo de reação, a velocidade de para jovens aspirantes a atletas. Na fase especializada, há três estágios, que, de transição que esse processo inicia com frequência se sobrepõem. O acesso aos estágios durante essa fase do desenvolvimento depende de fatores afetivos, cognitivos e neuromusculares no indivíduo. Fatores específi - cos no movimento e na biologia do indivíduo, assim como as condições do meio ambiente, estimulam o movimento de um estágio para outro. Reconhecer as condições que podem limitar ou aprimorar o desenvolvimento constitui a chave para o ensino bem-sucedido na fase de habilidade de movimento especializado. Uma vez identifi cadas tais condições para cada indivíduo, o ensino torna-se mais uma questão de reduzir o constrangimento (condi- ções limitantes) e maximizar as aff ordances (condições aprimoradas) do que simplesmente enfatizar mecanicamente a execução “correta” da habilidade. Os três estágios na fase de movimento especializado são descritos a seguir. 41 LEITURA COMPLEMENTAR Estágio de transição (estágio de aprender a treinar) é caracterizado pelas primeiras tentati- vas do indivíduo de refi nar e associar habilidades de movimento maduro. Nesse estágio de transição ou de aprender a treinar, futuros atletas aprendem como treinar para obter melhor habilidade e performance. Para a maioria das crianças de 8 a 12 anos, este é um período crítico, durante o qual as habilidades de movimento fundamental maduro são refi nadas e aplicadas aos esportes e jogos da cultura. Nesse estágio são atraídas a diversos tipos diferen- tes de esporte e não se sentem limitadas por fatores fi siológicos, anatômicos ou ambientais. Estágio de aplicação (estágio de treinar a treinar) jovens atletas do ensino fundamental em diante que passaram com sucesso o estágio anterior de desenvolvimento da habilidade motora estão agora no estágio de aplicação ou de treinar a treinar. Durante o estágio de aplicação, o indivíduo torna-se mais consciente de seus dotes e limitações físicas pessoais e, assim, dirige seu foco para determinados tipos de esportes, tanto em ambientes compe- titivos quanto recreacionais. No estágio de aplicação ao longo da vida – treinar para competir/participar - os indivíduos geralmente reduzem o alcance de suas buscas atléticas pela escolha de algumas atividades para se engajar regularmente em situações competitivas, recreativas ou do dia-a-dia. Maior especialização e refi namento de habilidades ocorrem nesse estágio de treinar para compe- tir e de treinar para participar. Maximizar a performance é o objetivo-chave desse estágio. Fonte: Gallahue (2005). 42 material complementar Os Senhores dos Anéis: Poder, Dinheiro e Drogas nas Olimpíadas Modernas Vyv Simson e Andrew Jennings Editora: Best Seller Sinopse: os jornalistas Andrew Jennings e Vyv Simon, em seu livro Os Senhores dos Anéis: Poder, Dinheiro e Drogas nas Olimpíadas Modernas relatam uma situação inusitada. Depois de se infi ltrarem na alta cúpula do COI (Comitê Olímpico Inter- nacional), participam de uma reunião entre uma empresa de material esportivo, os dirigentes do COI, e uma importante atleta olímpica da Alemanha Oriental. Após algum tempo, eles estranharam o não comparecimento da atleta alemã. Foi, então, que notaram que ela estava presente sim, mas eles a confundiram com um homem, pois estava barbada! As altas doses de hormônio ingeridas pela atleta fi zeram com que nascessem pelos em seu rosto. Indicação para Ler Compreendendo o Desenvolvimento Motor David L. Gallahue, Jackie D. Goodway e John C. Ozmuz Editora: ArtMed Sinopse: Compreendendo o Desenvolvimento Motor, obra mundialmente reconheci- da, apresenta um texto acessível com base descritiva e explicativa para os proces- sos e produtos dinâmicos do desenvolvimento motor. Abrangendo todas as fases da vida a partir de uma perspectiva das restrições, o livro enfoca as fases dessedesenvolvimento, proporcionando sólida introdução aos aspectos biológicos, afe- tivos, cognitivos e comportamentais de cada fase. Os autores trazem o que há de mais atual em termos de teoria e pesquisa, utilizando o Modelo de Ampulheta Triangulada como estrutura conceitual que auxilia o leitor no entendimento do desenvolvimento motor do bebê, da criança, do adolescente e do adulto. Indicação para Ler 43 material complementar Carruagens de Fogo Ano: 1981 Sinopse: as Olimpíadas de 1924, a serem realizadas em Paris, se aproximam. Eric Liddell (Ian Charleson) e Harold Abrahams (Ben Cross) pretendem disputá-la, mas seguem caminhos bem diferentes. Liddell é um missionário escocês que corre em devoção a Deus. Já Abrahams é fi lho de um judeu que enriqueceu recentemente e deseja provar a sua capacidade para a sociedade de Cambridge. Liddell corre, usando o seu talento natural, enquanto que Abrahams resolve contratar um trei- nado r pessoal. Ambos seguem as eliminatórias sem problemas, até que uma das classifi catórias de Liddell é marcada para domingo. Ele se recusa a competir por ser este um dia santo. Indicação para Assistir 44 referências CABRAL, L. A. M. Os Jogos Olímpicos na Grécia Antiga: Olímpia Antiga e os Jogos Olímpicos. São Paulo: Odysseus, 2004. CONFEF. Resolução n. 49, de 10 de dezembro de 2002. Dispõe sobre o símbolo, a cor e o anel de grau da Profissão de Educação Física. Disponível em: http://www. confef.org.br/confef/resolucoes/res-pdf/87.pdf. Acesso em: 5 abr. 2019. DAL PUPO, J.; ROCHA JÚNIOR, I. C. da. Capacidade de aceleração e resistência de velocidade de corredores mirins em uma prova de 100 metros rasos. EFDeportes, Buenos Aires, a. 12, n. 118, mar. 2008. Disponível em: http://www.efdeportes.com/ efd118/capacidade-de-aceleracao-e-resistencia-de-velocidade-de-corredores.htm. Acesso em: 5 abr. 2019. GALLAHUE, D. L. Conceitos para maximizar o desenvolvimento da habilidade de movimento especializado. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 16, n. 2, p. 197-202, 2. sem. 2005. Disponível em: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/ RevEducFis/article/view/3394/2418. Acesso em: 5 abr. 2019. GALLAHUE, D. L.; OZMUZ, J. C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: be- bês, crianças e adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2005. HALL, S. J.; TARANTO, G. Biomecânica básica. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. HILDEBRANDT-STRAMANN, R. Formação de Professores e Trabalho Educativo na Educação Física. In: ______. HILDEBRANDT-STRAMANN, R.; TAFFAREL, C. Z. (orgs.). Ijuí: Unijuí, 2017. (Coleção Educação Física e Ensino). IAAF. Material didático apresentado e disponibilizado no curso de formação de treinadores nível 1. Bragança Paulista: International Association of Athletics Fede- rations, 2009. referências 45 referências MATTHIESEN, S. Q.; RANGEL, I. C. A.; DARIDO, S. C. Atletismo: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. MÜLLER, H.; RITZDORF, W. Correr! Saltar! Lanzar! - Guía IAAF para la enseñan- za del atletismo. Santa Fé: Federación Internacional de Atletismo Amateur, 2000. OLIVEIRA, H. G. de. O Atletismo no Ensino Superior. In: MARTINS JÚNIOR, J.; PEREIRA, J. da S. N. (orgs.). Curso de Educação Física do Cesumar: 10 anos de História. Maringá: Unicesumar, 2013. p. 85-95. THOMPSON, P. Introdução à Teoria do Treino. [S. I.]: International Association of Athletics Federations, 1991. UNESCO. Biomecânica do movimento humano. Brasília: Fundação Vale; Unesco, 2013. (Cadernos de Referência de Esporte). Volume 9. REFERÊNCIAS ON-LINE 1Em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:AGMA_Sauteur.jpg?uselang=pt-br. Acesso em: 5 abr. 2019. 2Em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Knossos_frise_taureau-edit.png. Aces- so em: 5 abr. 2019. 3Em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jogos_Ol%C3%ADmpicos_de_Ver%C3%A3o_ de_1928#/media/File:1928-amsterdam.jpg. Acesso em: 5 abr. 2019. 46 gabarito 1. O indivíduo pré-histórico tinha a vida, os costumes e a forma de sobrevivência diferentes daquelas do indivíduo moderno, por isto, não podemos compreender os movimentos com o mesmo signifi cado para ambos. A forma de fazer/construir a sua existência determina também o sentido/signifi cado daquilo que fazemos. 2. Deve ser estudada dando a devida importância, compreendendo que o movimento acontece num tempo e num espaço, sofrendo interferência destes o tempo todo. Este conhecimento é de grande importância para quem ensinará “o” movimento e “sobre” ele, entendendo as relações do movimento com as forças da natureza. 3. A. 4. Os fatores que interferem na aquisição de habilidades motoras são o ambiente, a tarefa e o biológico. 5. B. UNIDADEUNIDADEUNIDADE II Professora Me. Élen Carla da Costa Baraldi Professor Me. Humberto Garcia de Oliveira Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Fundamentos das corridas • Corridas de resistência • Corridas de velocidade e saída de bloco • Corrida sobre barreiras • Corridas de revezamento Objetivos de Aprendizagem • Conhecer o movimento do básico do correr como gesto motor atlético. • Compreender as necessidades básicas de movimento das corridas de resistência. • Compreender as especifi cidades características de cada tipo de corrida. • Compreender as fases de execução das corridas sobre barreiras. • Compreender as técnicas das corridas e passagens do bastão. CORRIDAS unidade II INTRODUÇÃO N esta unidade, você terá a oportunidade de estudar os funda- mentos das corridas por meio do movimento básico do correr como gesto motor atlético, entendido, assim, que é um “gesto” de um movimento determinado, construído, analisado, estu- dado, pesquisado e ensinado por profissionais que se apropriam do con- hecimento científico como saber. O movimento do correr como gesto técnico do atletismo tomou, hoje, inúmeras formas, cada uma com suas especificidades, regras e for- mas, mas que, no conjunto, são as provas de corrida. Todas elas foram construídas ao longo do tempo, sendo modificadas em muitos momentos até chegarem ao que conhecemos, em sua diversidade atual que nos foi possível construir. Buscaremos compreender as necessidades básicas, as especificidades, as fases de execução e a técnica de cada uma delas, ana- lisando o movimento por meio do método analítico, partindo das partes para o todo com o objetivo de oferecer melhor compreensão. A primeira delas, a corrida de resistência, onde buscamos compre- ender as necessidades básicas de movimento dessa corrida. Em segundo lugar, temos as corridas de velocidade e, com elas, a saída de bloco, com o seu jeito e as suas características próprios de iniciar uma prova. A terceira prova é a corrida sobre barreiras, com as fases de execução bem compre- endidas para um bom desempenho. Por último e quarto lugar, mas não menos importante, a corrida de revezamento. Com ela, buscaremos com- preender as técnicas da corrida, a divisão do percurso em grupo, a área e a técnica de passagem do bastão. Tenha uma boa leitura e aproveite o espaço de conhecimento gerado, neste livro, e nesta disciplina para você, proporcionando o seu crescimen- to profissional e a sua capacitação em diversas áreas de conhecimento. Você já pensou em ser árbitro de atletismo? Existem cursos de formação em arbitragem para a atuação em competições de origem diversas em todo o Brasil. Fica a dica! 52 Fundamentos das Corridas EDUCAÇÃO FÍSICA 53 O movimento da corrida, como já falamos anteriormente, na Unidade 1, foi cons- truído histórica e socialmente pelo ser humano ao longo dos tempos até chegarmos ao entendimento do correr como um movimento complexo, com regras, técnicas e posição corporal específica de tronco e membros. Correr é considerada uma atividade natural e, se comparada a outras atividades, a princípio, parece fácil. Contudo não há nada de simples em correr quando estamos nos referindo a este gesto como prova de corrida do atletismo e, na prática, se analisar- mos osaspectos mecânicos envolvidos no exercício, comprovamos que isto é verdade. As corridas são consideradas atividades cinéticas cíclicas (movimentos repetidos sistematicamente). Entretanto, deixam de serem cíclicas e simples quando associa- mos as corridas às barreiras, aos obstáculos, às passagens de bastão nos revezamen- tos e, ainda, precedidas por saídas de blocos na partida (nas corridas de velocidade). A mecânica de corrida é uma soma total da constituição corporal do indivíduo: força, potência, mobilidade articular, coordenação e até mesmo a capacidade de relaxamento muscular. Pode-se dizer que esta modalidade reflete a personalidade do indivíduo: cada um tem o seu estilo, como se fosse uma impressão digital. Isto se torna próprio à medida que a mecânica da corrida modifica-se, cada estilo se caracteriza e cria forma. O objetivo principal em todas as disciplinas de corrida é maximizar a velocidade média ao longo do percurso. Nas corridas de velocidade (100 m, 200 m e 400 m), o objetivo é alcançar e manter a velocidade máxima durante o percurso. Nas corridas que possuem as barreiras (100 m feminino, 110 m masculino e 400 m em ambos os gêneros), a concentração deve ser a mesma, porém, deve-se adicionar as passagens sobre as barreiras. Em distâncias mais longas (800 m, 1.500 m, 5.000 m, 10.000 m e maratona, com percurso de 42.195 m), o corredor deverá otimizar a distribuição do esforço ao longo da distância a percorrer. 54 Corridas de Resistência EDUCAÇÃO FÍSICA 55 A corrida de resistência tem este nome porque exige do atleta, corporalmente, uma resposta ao longo tempo, dependendo do percurso da prova, seja de pistas ou de rua, e com a capacidade aeróbica desse atleta aumentada em virtude dos treinos realizados, anteriormente, em preparação para o evento. Cada um tem o seu objetivo, acelerar mais no início, no meio ou no fim de uma prova depende da meta traçada pelo atleta, juntamente com o seu técnico e, para isto, temos muitos caminhos. [...] precisamos conhecer quais as principais estratégias observadas durante corridas de média e longa distância. Durante esses eventos, as estratégias de corrida utilizadas podem ser classificadas em quatro diferentes tipos, conforme a distribuição da velo- cidade ao longo da prova: a) estratégia constante - o atleta mantém (ou altera pouco) a velocidade ao longo da prova; b) estratégia negativa ou decrescente - o atleta inicia a prova em alta velocidade e diminui ao longo da prova; c) estratégia positiva ou crescente - o atleta inicia a prova em velocidades baixa e aumenta gradualmente até o final; e d) estratégias variáveis - a distribuição da velocidade não segue um padrão bem definido e é alterada ao longo da prova. Dentre as estratégias variáveis, podemos observar os padrões em U, em J e em J-invertido (CARMO et al., 2012, p. 2). Há poucos anos, acreditava-se que a prática de corridas era destinada somente a atletas profissionais, que seriam os únicos capazes de percorrer longas distâncias. Este conceito, porém, tem se modificado pela popularização das corridas de rua e pela criação de grupos de corrida. A prática de esportes que não utilizam materiais específicos para a sua execu- ção tem sido cada vez mais notória em todo o Brasil. Os praticantes chegam cada um com o seu objetivo individual, que pode ser modificado ao longo do percurso. Assim, temos visto os grupos de corrida em diferentes regiões do país, de forma autônoma, atendidos por personal trainer ou por academias, praticando em luga- res abertos, públicos ou não. Pessoas com objetivos diferentes unindo-se para uma mesma prática e, em geral acabam formando laços de proximidade, estreitando re- lacionamentos, incentivando-se mutuamente em suas limitações físicas e pessoais. Como exemplo, podemos citar aqueles que iniciam a prática da corrida por indicação médica, visando a promoção de sua saúde e acabam tendo melhoras não só neste aspecto, mas também no seu desempenho físico, e assim permanecem no esporte com o intuito de buscar melhor rendimento (GONÇALVES, 2011). 56 Uma dos aspectos mais importantes das corridas de longa distância é o controle do ritmo, de modo que os alunos consigam executar a atividade durante um tempo maior, mantendo uma intensidade baixa. Fonte: adaptado de Matthiesen e Quenzer (2014). SAIBA MAIS As corridas são formadas por duas fases: apoio e suspensão, conforme exposto na Figura 1. Figura 1 – Corridas de Velocidade Fonte: adaptado de Müller e Ritzdorf (2000). As corridas de meia e longa distância também contam com as duas fases mencio- nadas. Na fase de apoio, à frente, há a desaceleração do movimento contínuo do corpo, que deve ser minimizado por um apoio rápido e ativo do terço anterior do pé, no solo. Durante essa fase do passo, a energia é poupada nos músculos enquan- to a perna se fl exiona para absorver o impacto. Este processo é conhecido como amortização. A fase de impulsão tem a função de acelerar o corpo. O objetivo desta fase é exercer a maior força possível contra o solo num menor espaço de tempo possível: a força é produzida pela contração muscular e pela liberação de energia acumulada no momento da extensão de todas as articulações do tornozelo, joelho e quadril – em combinação com uma ação de balanço ativo da perna contrária e uma ação dinâmica e coordenada dos braços. EDUCAÇÃO FÍSICA 57 O ensino da técnica de corrida é introduzido a partir de habilidades que estão relacio- nadas com os exercícios de coordenação de corrida de velocidade. Como não há uma forma pedagógica de treinar todos os movimentos ao mesmo tempo, são utilizados exercícios com foco nos aspectos específicos. Os objetivos desses exercícios são: • Melhorar a velocidade de reação. • Aumentar a frequência da passada. • Aumentar a amplitude da passada. Estas características podem ser melhoradas por meio de exercícios condicionantes, cujos objetivos são: • Melhorar a ação do pé de apoio, que deve ser rápido. • Executar a extensão total das articulações do tornozelo, do joelho e do quadril. • Realizar a ação dinâmica e descontraída dos braços. • Manter a posição do tronco proporcional à velocidade da corrida. Os exercícios condicionantes devem fazer parte de quase todas as práticas das cor- ridas. Eles são denominados de exercícios básicos de coordenação. 58 Figura 2 – Exercícios técnicos condicionantes das corridas de velocidade: (a) calcanhar atrás; (b) elevação baixa do joelho. Fonte: adaptado de Müller e Ritzdorf (2000). Figura 3 – Exercícios técnicos condicionantes das corridas de velocidade: (a) Elevação alta do joelho; (b) elevação do joelho com chute. Fonte: adaptado de Müller e Ritzdorf (2000). Figura 4 – Exercícios técnicos condicionantes das corridas de velocidade: elevação do joelho com extensão da perna oposta (chute). Fonte: adaptado de Müller e Ritzdorf (2000). Observação importante: todos os exercícios devem ser feitos de forma dinâmica e com deslocamento linear. Carga: três repetições 20-30 min. com intervalo de 45 s. EDUCAÇÃO FÍSICA 59 Nas corridas de velocidade de 100 m até as provas de 400 m, incluindo as provas de corridas sobre barreiras (100 m feminino, 110 m masculino e 400 m para ambos) é regulamentado que todos devem realizar a saída dos blocos de partida. A seguir, você conhecerá esta técnica. A técnica de partida nos blocos é formada por fases que estão conectadas à voz de comando dada pelo árbitro de partida, como mostra a Figura 5. AOS SEUS LUGARES - PRONTOS - PARTIDA E ACELERAÇÃO Figura 5 – Sequência completa da saída baixa (dos blocos de partida) Fonte: adaptado de Müller e Ritzdorf (2000). A partida de blocos, exposta na Figura 5, divide-se em quatro fases: (1) posição “aos seus lugares”; (2) posição “prontos”; (3) partida e (4) aceleração. Corridas de Velocidade e Saída de Blocos 60 Na posição “aos seus lugares”, o aluno tem de se colocar nos blocos de partida e defi nir a posição inicial. Na posição
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