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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AMBIENTAL ESTUDO DE EROSÃO HÍDRICA BRUNO NESPOLI RODRIGUES Campo Grande – MS 2009 ESTUDO DE EROSÃO HÍDRICA BRUNO NESPOLI RODRIGUES Trabalho de Conclusão de Curso submetido ao Curso de Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Engenheiro Ambiental Orientador: Prof°. Me. Mauro Polizer Campo Grande – MS 2009 I DEDICATÓRIA À minha mãe Nilva, pelo apoio incondicional. II AGRADECIMENTOS A Deus, que me deu força nos momentos de maior necessidade; Aos meus pais, José e Nilva, e minhas tias, Neuza e Nilza, pelo incentivo e apoio incondicional durante toda minha vida; Ao meu filho, Mateus, que é a razão de tudo; À minha esposa, Taynara, pelo carinho e compreensão dos momentos de ausência para a realização deste trabalho; Ao Professor Me. Mauro Polizer, pela orientação e paciência dedicada durante a realização deste trabalho; A todos os professores com quem tive o privilégio de ter tido aula; Aos formandos de Engenharia Ambiental, turmas de 2008 e 2009, pela amizade e companheirismo; Ao meu amigo, Romeu, pelo companheirismo e irritante organização, que me ajudou substancialmente para o término do curso. Enfim, a todos que, de forma direta ou indireta, contribuíram para a realização deste trabalho. III SUMÁRIO DEDICATÓRIA ............................................................................................................ I AGRADECIMENTOS ................................................................................................. II SUMÁRIO.................................................................................................................. III LISTA DE FIGURAS ................................................................................................. VI LISTA DE TABELAS ............................................................................................... VII RESUMO ................................................................................................................ VIII OBJETIVO DO ESTUDO .......................................................................................... IX 1. MATERIAIS E MÉTODOS ...................................................................................... 1 2. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 2 3. RESULTADOS ........................................................................................................ 4 3.1 EROSÃO DO SOLO E SUA RELEVÂNCIA ...................................................... 4 3.2 PROCESSO EROSIVO ....................................................................................... 6 3.3 FATORES CONDICIONANTES ........................................................................ 7 3.3.1 Declividade do Terreno e Comprimento de Rampa ........................................ 7 3.3.2 Clima ............................................................................................................ 8 3.3.3 Chuva............................................................................................................ 8 3.3.4 Solo............................................................................................................... 9 3.3.5 Cobertura Vegetal ......................................................................................... 9 3.3.6 Interferência Humana .................................................................................. 10 3.4 AGENTES EROSIVOS ..................................................................................... 10 3.5 TIPOS DE EROSÃO HÍDRICA ........................................................................ 11 3.5.1 Erosão por Embate ...................................................................................... 11 3.5.2 Erosão Laminar ........................................................................................... 11 3.5.3 Erosão Linear .............................................................................................. 11 3.5.4 Erosão Subterrânea ou Piping ...................................................................... 11 3.6 MECANISMOS DO PROCESSO EROSIVO .................................................... 12 3.6.1 Splash ......................................................................................................... 12 3.6.1.1 Energia Cinética da Chuva .................................................................... 12 3.6.1.2 Ruptura dos Agregados ......................................................................... 13 IV 3.6.1.3 Formação de Crostas e Selagem dos Solos ............................................ 13 3.6.2 Infiltração e Formação de Poças na Superfície do Solo ................................ 14 3.6.3 Início do Escoamento Superficial ................................................................ 15 3.6.3.1 Escoamento em Lençol (Sheetflow) ...................................................... 15 3.6.3.2 Desenvolvimento de Fluxo Linear (Flowline) ....................................... 16 3.6.3.3 Desenvolvimento de Microrravinas (Micro-Rills) ................................. 16 3.6.3.4 Formação de Microrravinas com Cabeceiras (Headcuats)...................... 17 3.6.3.5 Desenvolvimento de Bifurcações, Através dos Pontos de Ruptura (Knickpoints) ................................................................................................... 17 3.6.3.6 Voçorocas ............................................................................................. 18 3.7 PREVISÃO DE PERDAS DE SOLO POR EROSÃO........................................ 19 3.7.1 Equação Universal de Perda de Solo (EUPS) ............................................... 19 3.7.2 Equação Universal de Perdas de Solo Modificada (MUSLE) ....................... 20 3.7.3 Equação Universal de Perda de Solo Revisada (RUSLE) ............................. 20 3.7.4 Water Erosion Prediction Project (WEPP) ................................................... 20 3.7.5 Kineros ....................................................................................................... 21 3.8 PREVENÇÃO DE PROCESSOS EROSIVOS................................................... 21 3.8.1 Erosão em Áreas Urbana e Rural ................................................................. 21 3.8.1.1 Prevenção em Área Urbana ................................................................... 22 3.8.1.1.1 Planejamento Urbano ..................................................................... 25 3.8.1.1.2 Microdrenagem .............................................................................. 26 3.8.1.1.3 Macrodrenagem .............................................................................. 26 3.8.1.2 Prevenção em Área Rural...................................................................... 27 3.8.1.2.1 Capacidade de Uso e Planejamento Conservacionista ..................... 28 3.9 CONSERVAÇÃO DO SOLO ............................................................................ 29 3.10 PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS ............................................................ 31 3.10.1 Práticas de Caráter Vegetativo ................................................................... 31 3.10.1.1 Plantas de Cobertura ........................................................................... 31 3.10.1.2 Culturas em Faixas.............................................................................. 31 3.10.1.3 Cordões de Vegetação Permanente......................................................31 3.10.1.4 Alternância de Capinas ....................................................................... 32 3.10.1.5 Quebra-ventos ..................................................................................... 32 3.10.2 Práticas de Caráter Edáfico ........................................................................ 32 V 3.10.2.1 Controle do Fogo ................................................................................ 32 3.10.2.2 Adubação Verde e Plantio Direto ........................................................ 33 3.10.2.3 Adubação Química ............................................................................. 33 3.10.2.4 Adubação Orgânica ............................................................................. 33 3.10.2.5 Rotação de Cultura.............................................................................. 33 3.10.2.6 Calagem.............................................................................................. 34 3.10.3 Práticas de Caráter Mecânico .................................................................... 34 3.10.3.1 Plantio em Contorno (em nível) .......................................................... 34 3.10.3.2 Terraceamento .................................................................................... 34 3.10.3.3 Canais Escoadouros ............................................................................ 37 3.11 CONTENÇÃO AO AVANÇO DE VOÇOROCAS .......................................... 37 3.11.1 Dissipadores de Energia ............................................................................ 40 3.11.2 Barragens em Terra com Vertedores Tipo Cachimbo ................................. 41 3.11.3 Barragens em terra com vertedor em superfície livre ................................. 42 3.11.4 Barragens em Gabiões ............................................................................... 43 3.12 RECUPERAÇÃO DE VOÇOROCAS ............................................................. 44 4. CONCLUSÕES ...................................................................................................... 46 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 48 VI LISTA DE FIGURAS Figura 01 - Voçoroca em ambiente urbano na cidade de Campo Grande, MS ............... 25 Figura 02 - Desenho esquemático de um terraço .............................................................. 35 Figura 03 - Esboço hipotético de uma voçoroca mostrando algumas medidas de estabilização ......................................................................................................................... 38 Figura 04 - Bacia de dissipação tipo mergulho ................................................................. 40 Figura 05 - Barragem em terra com vertedor tipo cachimbo ........................................... 41 Figura 06 - Barragem em terra com vertedor de superfície livre ..................................... 42 Figura 07 - Barragem em gabião ........................................................................................ 43 VII LISTA DE TABELAS Tabela 01 - Perdas de terra e água em diferentes tipos de cobertura do solo .................... 9 Tabela 02 - Identificação do grau de capacidade de uso .................................................. 29 VIII RESUMO Os danos e prejuízos resultantes dos processos erosivos são de conhecimento de todos, portanto, é de fundamental importância estudar esse tipo de degradação. Logo, este trabalho visou apresentar uma revisão bibliográfica envolvendo as principais práticas de prevenção, contenção e recuperação dos processos erosivos de causa hídrica. O homem, ao realizar suas atividades de moradia, transporte e produção de alimentos, acelera o processo de erosão natural. A retirada da cobertura vegetal, que é o principal fator passivo no processo erosivo, é algo quase que inevitável na realização dessas atividades. Associada a outros fatores, tais como, declividade do terreno, comprimento de rampa, erodibilidade do solo, erosividade da chuva e manejo inadequado do solo, pode desencadear o processo erosivo. A erosão se caracteriza pela desagregação e transporte das partículas do solo, podendo também fazer parte desse processo, o deposito do material transportado. As intervenções antrópicas nos processos erosivos podem ocorrer na forma de prevenção, de controle ao avanço e de recuperação da área. A prevenção, além de preservar o meio ambiente e evitar riscos e transtornos à população, também é o modo de intervenção menos oneroso. Vale ressaltar também que o sucesso das medidas de combate a erosão depende das condições locais, ou seja, devem estar adaptadas ao clima, proporcionar a melhoria ou proteção do solo e objetivarem o disciplinamento das águas da chuva. Palavras chaves: Degradação do solo, Conservação do solo e água, Prevenção, Controle, Recuperação IX OBJETIVO DO ESTUDO Objetivo Geral Realizar estudo de revisão bibliográfica dos processos de erosão hídrica. Objetivos Específicos 1) Apresentar a dinâmica de desenvolvimento da erosão hídrica. 2) Apresentar práticas de prevenção, contenção e recuperação de erosão hídrica. 1 1. MATERIAIS E MÉTODOS Para a realização deste trabalho foi utilizado uma parcela da vasta bibliografia existente sobre o assunto. A bibliografia empregada está na forma de livros, artigos, dissertações de mestrado, dissertações de doutorado e materiais de sala de aula. Na revisão bibliográfica foram apresentados os conceitos de maior relevância no que diz respeito ao tema. Também foi relatada a influência que os processos erosivos exercem nas diferentes áreas de atuação (área urbana ou rural), no que diz respeito ao meio ambiente e aos aspectos sociais e econômicos. Devido à grande quantidade de material bibliográfico existente sobre o tema e as diferentes abordagens dadas pelos autores, foram reunidos (“garimpados”) elementos que permitam o conhecimento do processo de desenvolvimento da erosão. Também foram apresentados os vários tipos de ocorrência dos processos, bem como, os fatores intervenientes, além das principais práticas de prevenção, contenção e recuperação. 2 2. INTRODUÇÃO O solo representa um dos principais suportes da vida, onde acontece e encontra- se a alimentação de todos os seres vivos do planeta. A intensa atividade humana no solo utilizada de forma incorreta, sempre deixa marcas negativas, ocasionando o seu desequilíbrio (MAURO, 2001). Entre as degradações causadas pela ocupação inadequada do solo, está a erosão que, em alguns casos, chega a comprometer completamente residências e obras de infra- estrutura, impedindo o uso normal da área atingida e criando inúmeros problemas para a população (PLANURB, 1997). No que diz respeito à ocupação inadequada do solo, a retirada da cobertura vegetal pela ação antrópica é um dos primeiros fatores que contribuem para o desenvolvimento de processos erosivos. De acordo com DAEE/IPT (1990), o solo desprotegido recebe o impacto direto de cada gota de chuva, desagregando-o e liberando partículas menores. Esta primeira ação é completada pelo escoamento superficial, que é muito mais intenso em áreas sem cobertura vegetal. Outro grande fator fundamental para o desenvolvimento de processos erosivos é a acentuada declividade do solo, que pode resultar da ação humana ou de processos naturais ocorridos no local. A declividade acentuada somada ao comprimento da encosta propicia o aumento da velocidade de escoamento, a redução da capacidade de infiltração e o conseqüente aumento do volume escoado, resultandono processo de desagregação, transporte e sedimentação das partículas do solo. Esse processo é chamado de erosão. Os sedimentos produzidos pelas erosões provocam o assoreamento dos reservatórios e cursos d’água, com conseqüente perda da capacidade de armazenamento e causando inundações nos períodos de chuvas intensas (KERTZMAN et. al., 1995). O regime de chuva tem grande influência na ocorrência de erosões. Em Campo Grande, cerca de 75% das chuvas ocorrem entre os meses de outubro e abril e os meses de menores precipitações são junho, julho e agosto (PLANURB, 1998). A má 3 distribuição das precipitações da referida cidade colabora para o aumento dos processos erosivos no local. O mesmo ocorre em grande parte do território Brasileiro. As intervenções antrópicas no combate à erosão podem ocorrer na forma de prevenção, controle ao avanço e recuperação da área. Dentre elas, a prevenção é a forma que requer menos gastos, além de preservar o meio ambiente e evitar riscos e transtornos à população. As medidas de prevenção, segundo SILVA et al (1995) citado por CARVALHO (1995), devem estar adaptadas ao clima (fator ativo), envolverem melhoria das características do solo (fator passivo) ou sua proteção e objetivarem o disciplinamento das águas pluviais (agente); estarem sistematicamente integradas a medidas voltadas para a solução de problemas urbanos correlatos; terem caráter estrutural, de efeito difuso; quando tópicas, serem baseadas no conhecimento do terreno e das condições de circulação subterrânea. De acordo com a EMBRAPA (2005), o controle ao avanço da erosão consiste em realizar a sua estabilização ou evitar que cresça, tanto em largura como em profundidade. A etapa de recuperação não consiste em restaurar a área da erosão nas condições anteriores ao processo, mas sim em dar outro destino a ela. Segundo a EMBRAPA (2006), a recuperação de voçorocas não é uma tarefa fácil e barata, principalmente se for pensar em correção de taludes com máquinas pesadas onde o custo da hora trabalhada é elevado. Entretanto, é possível estancar a evolução de voçorocas, reduzir a perda de solo e melhorar a paisagem, de forma eficiente e a custos relativamente baixos, fazendo uso somente de mão-de-obra familiar e materiais alternativos, com poucos insumos externos à propriedade rural. Deste modo, objetivou-se realizar um estudo de revisão bibliográfica envolvendo as principais práticas de prevenção, contenção e recuperação dos processos de erosão hídrica. 4 3. RESULTADOS 3.1 EROSÃO DO SOLO E SUA RELEVÂNCIA Com a diminuição do ritmo de expansão da fronteira agrícola provocada pela conscientização ambiental, tornou-se de vital importância a adequação dos sistemas produtivos às condições ecológicas disponíveis, fundamental para a manutenção da produtividade da terra a longo prazo (KOFFLER, et. al., 1995). A conseqüência mais evidente do mau uso do solo é a erosão. A erosão é um processo natural de desagregação, decomposição, transporte e deposição de materiais de rochas e solos que vem agindo sobre a superfície terrestre desde os seus princípios (LARIOS, 2000). No Brasil, a erosão hídrica (ou causada pelas águas) é a mais importante (LEPSCH, 2002). A erosão hídrica consiste basicamente numa série de transferências de energia e matéria geradas por um desequilíbrio do sistema água/solo/cobertura vegetal, as quais resultam numa perda progressiva do solo (GUERRA, 2005). A sedimentação, que se dá ao longo do tempo e é responsável pela formação de novos materiais, é contrabalançada pelo processo de erosão, que remove seus constituintes, sobretudo pela ação da água de chuvas, caracterizando um quadro extremamente dinâmico, no qual diversos processos atuam de forma contrária, formando e erodindo os materiais da superfície terrestre. Este é um quadro que reflete equilíbrio na natureza e, neste quadro, a erosão é considerada como erosão normal (MAURO, 2001). Contudo, a ação humana sobre o meio ambiente contribui exageradamente para a aceleração do processo. A erosão acelerada é o incremento da perda de solo em relação ao processo geológico natural, decorrente de intervenções feitas pelo homem que levam á ruptura da condição natural de equilíbrio (POLIZER, 2004), trazendo como conseqüências, a perda de solos férteis, a poluição da água, o assoreamento dos cursos d’água e reservatórios e a degradação e redução da produtividade global dos ecossistemas terrestres e aquáticos (LARIOS, 2000). 5 As águas de chuva, quando se precipitam sobre o solo e não conseguem se infiltrar, correm, e quando correm, levam tudo para baixo; solo, sementes, adubo, plantas, cercas, casas, animais; vão deixando atrás de si solos empobrecidos, rasos e esburacados, benfeitorias estragadas (estradas, cercas, casas), lavouras falhadas, raízes descobertas, plantas tombadas, arrastadas e enroscadas. Descem a grandes velocidades e em grandes volumes, jogando-se nas represas, nos lagos, nos rios, entupindo-os, assoreando-os, provocando as inundações, a invasão de vilas e cidades, desabrigando populações inteiras, semeando o desassossego, o medo, a fome, a doença e a morte (GALETI, 1973). A degradação dos solos afeta tanto terras agrícolas como as áreas com vegetação natural e pode ser considerada, dessa forma, um dos mais importantes problemas ambientais dos nossos dias. Cerca de 15% das terras são atingidas pela degradação. Atualmente a erosão acelerada dos solos, tanto pelas águas como pelo vento, é responsável por 56% e 28%, respectivamente, da degradação dos solos no mundo. O Brasil não está imune a esses problemas, e grandes áreas do seu território tem sido identificadas como solos bastante degradados (GUERRA, 2005). Os solos brasileiros são predominantemente favoráveis à ocorrência da erosão. Além das suas características, o solo sofre sob o implacável fator climático de elevadas temperaturas e regime de intensas chuvas (POLIZER, 2004). Em relação à prevenção e combate à erosão, infelizmente o Brasil figura ainda como um país subdesenvolvido, quer seja pela cultura de seu povo em relação ao problema ou pelo pouco caso com que historicamente as autoridades tratam o tema. Associado a isso temos o baixo custo das terras, onde ainda é mais barato comprar uma nova área do que realizar a manutenção preventiva contra a erosão das terras que se ocupa atualmente (MACHADO, 1995). No Estado de Mato Grosso do Sul, mais especificamente em sua capital Campo Grande, a situação não é diferente, sendo muito comum à ocorrência de processos erosivos, pois desde a década de 1970, o rápido e elevado crescimento populacional tem provocado ocupações sem implantação de uma infra-estrutura urbana adequada (MAURO, 2001). 6 3.2 PROCESSO EROSIVO De acordo com GALETI (1973), qualquer que seja o agente, a erosão se processa em três fases, nem sempre muito distintas uma das outras porque podem realizar-se concomitantemente. I – Desagregação Ocorre no momento em que as gotas da chuva se chocam com a superfície do solo. Com o impacto, estas gotas se fragmentam e respingam alguns centímetros à frente (podendo passar de 1 metro), já com partículas de solo soltas. A amplitude da desagregação depende do tipo de solo, da cobertura vegetal e da erosividade da chuva. II – Transporte As partículas de solo soltas são transportadas pelo agente erosivo. No transporte pelas águas, observa-se que as partículas menores são levadas em solução; as médias são transportadas em suspensão (não se dissolvem na água); as partículas mais grossas são empurradas ou roladas. Há, neste tipo de transporte pela água seleção de material; o material mais grosso, ao ser movimentado ao nível do terreno, provoca a desagregação de outros materiais. A distância percorrida por essas partículas depende da força do agente, do tamanho das partículas, da topografiado terreno e a presença ou não de obstáculos que interrompa o transporte. III – Deposição Quando o transporte é cessado, ocorre o que chamamos de deposição ou sedimentação. Nesta etapa as partículas arrastadas pelo agente erosivo se depositam na superfície da terra. A presteza com que a deposição ocorre depende do tamanho das partículas em arraste, da declividade do terreno, velocidade do agente erosivo e da existência ou não de obstáculos. 7 3.3 FATORES CONDICIONANTES A erosão tem sua origem no rompimento do equilíbrio natural no solo, em decorrência da ação de forças advindas de fatores climáticos como a chuva e o vento. Associadas a outros fatores relativos à área sobre a qual a chuva incide, essas forças determinam a intensidade do processo erosivo. Dentre esses fatores destacam-se a declividade do terreno, a capacidade de infiltração da água no solo e a sua resistência à ação erosiva da água, a distância percorrida pelo escoamento superficial, a rugosidade superficial do terreno e o volume de cobertura do solo quando da ocorrência da chuva (PRUSKI, 2006). É comum entre os autores apontar a ação humana como um dos fatores intervenientes no processo erosivo. Os fatores naturais (clima, solos, relevo e cobertura vegetal) determinam taxas naturais de erosão que podem ser modificadas pela ação humana, intensificando-se ou não (MAURO, 2001). 3.3.1 Declividade do Terreno e Comprimento de Rampa A declividade, ou grau de inclinação do terreno, muito influencia na concentração, dispersão e velocidade da enxurrada e, em conseqüência, no maior ou menor arrastamento superficial das partículas de solo. Nos terrenos planos, ou apenas levemente inclinados, a água escoa com pequena velocidade e, além de possuir menos energia, tem mais tempo para infiltrar-se, ao passo que, nos terrenos muito inclinados, a resistência ao escoamento das águas é menor e, por isso, elas atingem maiores velocidades. As regiões montanhosas são, portanto, as mais suscetíveis à erosão hídrica (LEPSCH, 2002). Em experimentos relativos à declividade do terreno como fator interveniente no processo erosivo GALETI (1973) chegou as seguintes conclusões: Quando o declive é quatro vezes maior (passa de 2% para 8%, por exemplo), a velocidade da enxurrada duplica; Quando a enxurrada dobra de velocidade, a sua capacidade de erodir (causar erosão) fica multiplicada por quatro; Quando a velocidade da enxurrada dobra, ela é capaz de desagregar e arrastar 32 vezes mais partículas (maior quantidade); 8 Quando a velocidade da enxurrada dobra, ela é capaz de desagregar e arrastar partículas 64 vezes maiores. Outro fator importante no declive é o comprimento de rampa, pois a velocidade e o volume da enxurrada aumentam à medida que aumenta o lançante. GALETI (1973) também cita experimentos realizados pela Seção de Conservação do Solo do Instituto Agronômico de Campinas pelos Eng.°s Agr.°s José Quintiliano de Avelar Marques, José Bertoni e Geraldo Barreto, com respeito a comprimento do lançante chegando a conclusão de que à medida que dobra o comprimento do lançante, também dobram as perdas de solo (praticamente dobram). 3.3.2 Clima As regiões de climas úmido, tropical quente e, temperado, com inverno seco e verão chuvoso, são, respectivamente, as mais atingidas pela erosão (POLIZER, 2004). 3.3.3 Chuva Segundo PRUSKI (2006), a chuva constitui o agente responsável pela energia necessária para a ocorrência da erosão hídrica, tanto pelo impacto direto das gotas sobre a superfície do solo quanto pela sua capacidade de produzir o escoamento superficial. A capacidade da água da chuva em provocar erosão de solos é denominada de erosividade. A erosividade associada a outros fatores como erodibilidade, declividade do terreno, manejo e ocupação do solo, pode constituir-se em um dos fatores mais influentes no processo erosivo. A freqüência das chuvas é um fator que também influi nas perdas. Se os intervalos entre as chuvas são curtos, o teor de umidade de solo é alto, e assim as enxurradas são mais volumosas mesmo com chuvas de menor intensidade. Quando os intervalos são maiores o solo estará seco e não deverá haver enxurrada em chuvas de baixa intensidade; porém, em alguns casos de longa estiagem a vegetação pode sofrer por falta de umidade e reduzir, assim, a proteção natural do terreno (LOMBARDI NETO, 1995). 9 3.3.4 Solo O comportamento do solo diante do processo erosivo é comumente referido na literatura como erodibilidade do solo, que expressa, portanto, a sua susceptibilidade à erosão, constituindo uma propriedade intrínseca que depende da capacidade de infiltração e de armazenamento da água e das forças de resistência do solo à ação da chuva e do escoamento superficial (PRUSKI, 2006). De acordo com POLIZER (2004), os solos mais propícios à formação de voçorocas são os do tipo arenoso e ácidos, predominando as cores claras nos horizontes mais superficiais. 3.3.5 Cobertura Vegetal Segundo BASTOS (2004), a vegetação (cobertura vegetal) tem efeitos na interceptação da chuva e no decréscimo da velocidade do escoamento superficial. Mudanças no regime de escoamento superficial e subterrâneo são observadas como conseqüência do desmatamento e alteração nas formas de uso do solo. Por outro lado, as raízes afetam propriedades do solo relacionadas à erodibilidade. De acordo com LOMBARDI NETO (1995), quando uma gota de chuva cai em um terreno coberto com densa vegetação ela se divide em inúmeras gotículas, perdendo também a sua força de impacto. Quando o terreno é descoberto a gota de chuva faz desprender e salpicar as partículas de solo, que são facilmente transportadas pela água. Esse efeito pode ser observado com os dados obtidos, nas estações experimentais do Instituto Agronômico, nos quatro principais tipos de uso do solo que são apresentados no quadro seguinte (LOMBARDI NETO, 1995). Tabela 01: Perdas de terra e água em diferentes tipos de cobertura do solo Perdas de terra e água em diferentes tipos de cobertura do solo MÉDIAS ANUAIS DE PERDAS DE Vegetação Terra Água t/ha % sobre a chuva Mata 0,004 0,7 Pasto 0,4 0,7 Café 0,9 1,1 Algodão 26,6 7,2 Fonte: Lombardi Neto (1995). 10 3.3.6 Interferência Humana A ação do homem sobre o meio ambiente também pode ser considerado como um dos mais significantes fatores intervenientes no processo erosivo. O homem, para realizar suas necessidades de moradia, produção e transporte, acaba por acelerar o processo de erosão. Segundo POLIZER (2004), dentre as atividades do homem que estão relacionadas com a questão da produção de erosão podemos citar, retirada da cobertura vegetal; agricultura com manuseio impróprio; manejo inadequado de pastagens (ex. manejo extensivo); modificação da superfície do terreno de forma inadequada (ex. valetas); abertura de estradas sem os devidos cuidados quanto à erosão; parcelamento do terreno, desprovido de práticas abrangentes na bacia. 3.4 AGENTES EROSIVOS É um consenso de toda comunidade científica que um processo erosivo ocorre por 3 (três) diferentes agentes que, podem agir separadamente ou simultaneamente. Estes agentes erosivos são: Água Vento Geleira Portanto, é comum entre os autores, classificar a erosão segundo o seu agente erosivo. Erosão Hídrica (quando o agente erosivo é a água); Erosão Eólica (quando o agente erosivo é o vento); Erosão Glacial (quando o agente erosivo é a geleira) Como já foi dito, o agente mais significativo para erosão de solos no Brasil é a água, portanto, este trabalho dará ênfase à erosão hídrica. 11 3.5 TIPOS DE EROSÃO HÍDRICA As erosões se dividem em erosões superficiais e erosões subterrâneas ou piping. Dentre os tipos de erosão superficial têm-se as erosões laminar e linear (MAURO, 2001). Alguns autores consideram a erosão porembate uma outra forma de erosão superficial. 3.5.1 Erosão por Embate A erosão por embate é devida ao impacto das gotas de chuva sobre o terreno desnudo. As partículas do solo são desprendidas e arremessadas para o alto, ao mesmo tempo em que o solo é compactado (splash). Em terrenos mais inclinados o deslocamento das partículas para a jusante é maior. Soltas no terreno, elas adquirem condições favoráveis ao arraste pelo escoamento superficial, que é a fase seguinte do processo denominado de erosão laminar (POLIZER, 2004). 3.5.2 Erosão Laminar Erosão laminar, em lençol ou superficial, quando se verifica na superfície; a desagregação e deslocamento do material se processam superficialmente, sem se formar sulcos. O agente desgasta por igual; retira uma lâmina na superfície (GALETI, 1973). 3.5.3 Erosão Linear Segundo MORTARI (1994) citado por MAURO (2001), a erosão linear ocorre quando os filetes de água se concentram até formar enxurradas e concentram-se em locais formando sulcos, ravinas e canais mais profundos, constituindo as voçorocas. 3.5.4 Erosão Subterrânea ou Piping O fenômeno de piping é um processo de erosão subterrânea que provoca o arraste das partículas formando canais em forma de tubos a partir das paredes e dos fundos das erosões (MAURO, 2001). Segundo LIMA (1999), tal fenômeno está normalmente associado à presença do lençol freático ou ao acúmulo de águas em bacias de dissipação que ao estabelecerem, mesmo que intermitentemente, um regime de fluxo, pode desencadear o processo de erosão interna. 12 3.6 MECANISMOS DO PROCESSO EROSIVO Segundo GUERRA (2005), para evitar a erosão é preciso que se conheça a dinâmica erosiva, desde os seus primórdios, ou seja, a partir do momento em que as gotas de chuva começam a bater nos solos. O processo inicia-se com o impacto das gotas da chuva sobre o solo, provocando a ruptura dos agregados do solo. Neste momento começa a erosão por salpicamento, seguido pela formação de crostas e selagem do solo. A selagem do solo interfere na infiltração, contribuindo para a formação de poças. O escoamento superficial ocorre com o transbordamento da água das poças, inicialmente em lençol e, depois, em fluxos lineares que evoluem para um crescente sistema de microrravinas e, destas, para voçorocas (POLIZER, 2004). Para um melhor entendimento do processo será enfatizado a seguir cada uma das etapas do processo erosivo. 3.6.1 Splash O splash, também conhecido por erosão por salpicamento, é a primeira etapa da erosão hídrica. Nesta etapa, as partículas do solo são rearranjadas de tal forma que as mesmas possam ser carreadas pelo escoamento superficial. Segundo GUERRA (2005), essa preparação se dá tanto pela ruptura dos agregados, quebrando-os em tamanhos menores, como pela própria ação transportadora que o salpicamento provoca nas partículas dos solos. Além disso, os agregados vão preenchendo os poros da superfície do solo, provocando a selagem e a conseqüente diminuição da porosidade, o que aumenta o escoamento das águas. A ação do splash depende tanto da resistência do solo ao impacto das gotas da chuva, quanto da energia cinética que as gotas chegam à superfície do terreno. A quantidade energia cinética do impacto das gotas no solo é que vai determinar a facilidade da ruptura dos agregados e a formação de crostas provocando a selagem do terreno. 3.6.1.1 Energia Cinética da Chuva A energia cinética com que a gota de água da chuva atinge o solo é o que designa a erosividade da precipitação. De acordo com WISCHMEIER & SMITH 13 (1978), citado por COLODRO (2002), a erosividade da chuva (fator R da Equação Universal de Perda de Solos - EUPS) determina a sua capacidade em provocar erosão cujo valor é obtido pelo produto entre a energia cinética total da chuva (E) e a sua intensidade máxima em 30 min (I30). A determinação da erosividade da chuva envolve um trabalho exaustivo de seleção e leitura de uma série de registros de chuvas. Esses dados são escassos e muitas vezes de difícil acesso. A fim de minimizar estes problemas, diversos autores correlacionaram o índice EI30 com o coeficiente de chuva (Rc), conhecido como índice de Fournier (RENARD & FREIMUND, 1994, citado em MELLO et al., 2007) 3.6.1.2 Ruptura dos Agregados A ruptura dos agregados está diretamente ligada a erodibilidade do solo impactado pela gota de água da chuva. De acordo com BASTOS (1999), erodibilidade é um dos principais fatores condicionantes da erosão dos solos. Pode ser definida como a propriedade do solo que retrata a maior ou menor facilidade com que suas partículas são destacadas e transportadas pela ação de um agente erosivo. Constitui umas das propriedades de comportamento dos solos de maior complexidade em função do grande número de fatores físicos, químicos, biológicos e mecânicos intervenientes. A importância da matéria orgânica na estabilidade dos agregados do solo é reconhecida por vários autores. O teor de matéria orgânica, associado com outras propriedades dos solos, como textura, a densidade aparente, a porosidade, e estrutura, ainda, as características das encostas, a cobertura vegetal, a erosividade da chuva e o uso e manejo do solo, afetam diretamente a ruptura dos agregados (POLIZER, 2004). A estabilidade dos agregados reduz diretamente a erodibilidade dos solos, na medida em que a presença de poros entre os agregados aumenta as taxas de infiltração diminuindo o escoamento superficial. Os agregados estáveis maiores também resistem ao impacto das gotas de chuva, diminuindo a erosão por salpicamento (GUERRA, 1990). 3.6.1.3 Formação de Crostas e Selagem dos Solos Com o rompimento dos agregados do solo, causado pelo impacto das gotas de água da chuva, começam a surgir a formação de crostas e a conseqüente selagem dos solos. O efeito da selagem é a redução das taxas de infiltração, ocasionando um 14 aumento nas taxas de escoamento superficial, e possivelmente, um acréscimo da perda de solo. EPSTEIN E GRANT (1967), citado por GUERRA (2005), observaram a formação de crostas, em um experimento sob chuva simulada, apenas seis minutos após o inicio dos ensaios, em um solo franco-siltoso. Os mesmos autores observaram, nesse experimento, que a densidade aparente aumentou de 1,1g/cm3 para 1,54g/cm3, depois que as crostas se formaram. Esse aumento significativo da densidade aparente é responsável pelo início do processo erosivo, pois diminui a porosidade, dificultando a infiltração de água no solo, formando as poças, que se interligam e começam o processo de escoamento. 3.6.2 Infiltração e Formação de Poças na Superfície do Solo Nem toda água da chuva escorre sobre a superfície do solo. Uma parcela é interceptada pela cobertura vegetal, podendo voltar à atmosfera pela evapotranspiração; e outra parcela se infiltra através dos espaços que encontra no solo e nas rochas. Designa-se infiltração ao processo pelo qual a água atravessa a superfície do solo, sendo o mais influente na produção de escoamento superficial (PRUSK, 2006). Durante uma precipitação, a água que atinge o solo primeiramente causa o splash, e logo em seguida se infiltra causando um acréscimo no teor de umidade, chegando até a saturar o solo. Com o solo saturado, o processo de infiltração é interrompido, dando origem à formação de poças nas irregularidades do terreno. Com a extrapolação dessas irregularidades inicia-se o escoamento superficial. GUERRA (2005) alertou para a importância do bom uso e manejo do solo ao relatar que Reed (1979), estudou alguns solos argilosos no sul da Inglaterra e demonstrou que a capacidade de armazenamento na microtopografia da superfície do terreno diminui de 5 a 7 mm, antes do cultivo, para 3 mm, depois das operações com as maquinas agrícolas, após o cultivo. Duley (1939), estudando o selamento superficial de um solo submetido à precipitação, cobriu-ocom resíduo vegetal para protegê-lo do impacto das gotas de água. Após cinco horas de irrigação, a capacidade de infiltração da água no solo tornou- se praticamente constante e igual a 31 mm/h. Trinta minutos depois da remoção do 15 resíduo vegetal, a capacidade de infiltração foi reduzida para 6 mm/h (DULEY, 1939, citado por PRUSK, 2006). 3.6.3 Início do Escoamento Superficial Depois que uma precipitação começa, após um intervalo de tempo, o solo começa a ficar saturado, fazendo com que ocorra a formação de poças nas irregularidades do terreno. Quando as poças se enchem e extravasam, dá-se início ao escoamento superficial. Segundo HORTON (1945), citado por GUERRA (2005), o conceito de evolução de ravinas baseia-se no fato de que, quando a precipitação excede a capacidade de infiltração do solo, inicia-se o escoamento superficial. A água que excede as poças começa a descer a encosta, inicialmente com fluxo laminar, podendo evoluir para uma ravina. Nessa etapa, o fluxo passa a ser linear, até evoluir para microrravinas e depois para microrravinas com cabeceiras. De acordo com GUERRA (2005), ao mesmo tempo que essa evolução vai se estabelecendo na superfície do terreno, pode ocorrer também o desenvolvimento de bifurcações, através dos pontos de ruptura (knickpoints) das ravinas. 3.6.3.1 Escoamento em Lençol (Sheetflow) O escoamento em lençol ou escoamento de fluxo laminar inicia-se com a extrapolação das poças. Nessa etapa o fluxo é difuso, ou seja, o fluxo ocorre espalhado sobre a superfície do terreno. De acordo com HORTON (1945) citado por GUERRA (2005), a força de cisalhamento imposta por esse fluxo ainda não é suficiente para transportar partículas, mas, à medida que esse fluxo de água aumenta e acelera, encosta abaixo, ocorre o cisalhamento das partículas do solo e, finalmente, a erosão começa a ocorrer a partir de uma pequena distância crítica do topo da encosta. Esta distância crítica que vai do topo da encosta até o local onde a força de cisalhamento é capaz de remover as partículas do solo, é o que Horton chama de área sem erosão (belt of no erosion). Segundo POLIZER (2004), pode-se afirmar que na maioria dos eventos chuvosos o escoamento superficial se dá em parte na forma laminar, ou seja, em lençol, e parte concentrado. Este último é o responsável pela erosão por sulcos. 16 3.6.3.2 Desenvolvimento de Fluxo Linear (Flowline) Após o escoamento em lençol inicia-se uma concentração do fluxo de água, encosta a baixo, dando início ao escoamento de fluxo linear. Segundo GUERRA (2005), à medida que o fluxo se torna concentrado em canais bem pequenos, em pontos aleatórios da encosta, a profundidade do fluxo aumenta e a velocidade diminui, devido ao aumento da rugosidade, e há uma queda simultânea da energia do fluxo, causada pelo movimento de partículas que são transportadas por esses pequenos canais que estão se formando e que são os embriões das futuras ravinas. Nesse estágio de evolução do escoamento superficial, a concentração de sedimentos no interior do fluxo linear faz com que haja um forte atrito entre essas partículas e o fundo dos pequenos canais, causando mais erosão nos canais que estão começando a se formar. Além disso, uma outra característica desse estágio de evolução das ravinas é que começam a se formar dentro desses pequenos canais uma série de marcas devidas ao depósito de sedimentos, que se dá com a diminuição de energia do fluxo linear, quer seja ao final da chuva, ou pela diminuição de gradiente da própria encosta, ao longo do percurso desse fluxo (GUERRA, 2005). O escoamento linear tem a tendência de aumentar a sua vazão na medida que dirige-se para as partes mais baixas da encosta. Com o aumento do volume de escoamento, o fluxo também aumenta a sua capacidade de erodir e de transportar sedimentos. A velocidade e a turbulência do escoamento são as responsáveis pela erosão em linha, dando origem a pequenos sulcos e à formação de ravinas (POLIZER, 2004). 3.6.3.3 Desenvolvimento de Microrravinas (Micro-Rills) A próxima etapa do processo de formação de ravinas é o desenvolvimento de microrravinas (micro-rills). Segundo GUERRA (2005), nesse caso, a maior parte da água que escoa em superfície está concentrada em canais bem definidos, embora ainda sejam bem pequenos. A turbulência do fluxo aumenta bastante nesse estágio, que já encontra o fundo das ravinas que estão se formando (daí o nome microrravina), com algumas ondulações, rugosidades, advindas do estágio anterior – fluxo linear. Com o desenvolvimento desse processo ocorre um acréscimo da erosão, podendo eclodir algumas pequenas cabeceiras nas ravinas que estão sendo formadas na 17 encosta. Também começam a surgir algumas pequenas poças na jusante das cabeceiras. Quando isso acontece, significa que o processo erosivo está atingindo o próximo estágio – microrravinas com cabeceiras. 3.6.3.4 Formação de Microrravinas com Cabeceiras (Headcuats) As cabeceiras tendem a coincidir com um segundo pico na produção de sedimentos, resultantes da erosão ocorrida dentro das ravinas. Isso demonstra que, nesse estágio de evolução das ravinas, o processo está alcançando um nível de equilíbrio dinâmico, ou seja, nesse estágio ocorre uma zona de deposição de sedimentos, abaixo das cabeceiras, indicando que a taxa de produção de sedimentos, a partir do recuo das cabeceiras, excede a capacidade de transporte do fluxo de água (GUERRA, 2005). Segundo GUERRA (2005), à medida que as cabeceiras recuam em direção às partes mais elevadas das encostas, o canal se torna mais largo e mais profundo, tendo, dessa forma, condições de transportar os sedimentos que chegam a esses canais e, à medida que se desenvolvem a partir de outras cabeceiras, tornam-se pequenas ravinas. É comum o terreno apresentar não apenas uma ravina, mas sim um sistema de ravinas. Este sistema é formado a partir de pontos de bifurcação (POLIZER, 2004). 3.6.3.5 Desenvolvimento de Bifurcações, Através dos Pontos de Ruptura (Knickpoints) Uma vez estabelecidas em uma encosta, as ravinas tendem a evoluir através de bifurcações em knickpoints (pontos de ruptura) (GUERRA, 2005). Através de experimentos conduzidos em laboratório, BRYAN (1990) citado por GUERRA (2005), observou que, em superfícies mais irregulares, o transporte inicial de sedimentos, pelas ravinas, após o estabelecimento das cabeceiras, pode fazer reduzir a rugosidade dentro das ravinas e, conseqüentemente, levar a um alargamento e menor profundidade dos microcanais que estão se formando, o que, segundo o referido autor, é a condição ideal para a formação dos knickpoints. Uma vez formados, eles seguem uma evolução variada e complexa, que inclui seu recuo rápido e bifurcação, que estão relacionados à deposição localizada de sedimentos dentro dos canais que estão se formando. 18 Apesar das observações feitas por Bryan serem decorrentes de estudos de laboratório, de acordo com POLIZER (2004), é necessário registrar que observações de campo nos mostram que após a formação da cabeceira, ou seja, degraus – desnível entre a superfície do terreno e o fundo da ravina – em determinados pontos do terreno, a ravina passa a receber contribuições laterais em sua cabeceira. Tais escoamentos encontram uma condição propícia à bifurcação, pois ali encontram um desnível que propicia o aumento da velocidade do escoamento e, assim, a sua capacidade de desprender as partículas do solo e arrastá-las, formando novas ravinas. O que representa a evolução em consonância ao desenvolvimento de sulcos, que ocorre, predominantemente, de forma regressiva. Ainda segundo POLIZER (2004), a ravina é um estágio intermediário entre os pequenos sulcos e a voçoroca. Assim, o sistema de ravina continua a concentrar o escoamento em uma determinada ravina, que possuindo as condições favoráveis ao seu desenvolvimento, cresce a capacidadede desprender e transportar os sedimentos, podendo evoluir ao estágio de voçoroca. 3.6.3.6 Voçorocas Com o aprofundamento das ravinas o processo erosivo pode atingir a seu estágio mais espetacular, a formação de voçorocas (ou boçorocas). Boçoroca, do tupi “mboso’roka”, gerúndio de “mboso’roz ((romper ou rasgar) rasgada), pode ser definida como uma ravina de grandes dimensões originada pela grande concentração do fluxo superficial, na grande maioria das vezes provocada pela ação antrópica, combinada com a ação do fluxo subsuperficial e subterrâneo. A boçoroca é palco de diversos fenômenos: erosão superficial, erosão interna, solapamentos, desabamentos e escorregamentos, que se conjugam e conferem a esse tipo de erosão rápida evolução e elevado poder destrutivo (BASTOS, 2004). Alguns autores consideram que uma erosão chega ao estágio de voçoroca quando os seus sulcos atingem o lençol freático, porém, há controvérsias. De acordo com POLIZER (2004), as voçorocas são valos mais profundos e largos que as ravinas, com sulcos superiores a 0,5m de largura e profundidade, e são assim conceituadas pela maioria dos autores, tendo atingido o lençol freático ou não. 19 3.7 PREVISÃO DE PERDAS DE SOLO POR EROSÃO Quando ocorre uma erosão nota-se uma perda de solo no local. Este solo é transportado e posteriormente depositado nas partes mais baixas do terreno ou nos cursos d’água. É de fundamental importância a previsão da quantidade de solo perdido durante o processo, e para tanto, são utilizados modelos matemáticos. Existem vários modelos de predição da erosão hídrica do solo. Para aplicar um modelo deve-se validá-lo em nível local. A pesquisa necessita determinar o valor de seus parâmetros, para as condições edafo-climáticas locais. Entre os vários modelos de predição de erosão existentes, um dos mais conhecidos e estudados no Brasil é o modelo USLE (Universal Soil Loss Equation), com base estatística probabilística, e suas derivações, MUSLE (Modified Universal Soil Loss Equation) e RUSLE (Revised Universal Soil Loss Equation). Mais recentemente estão sendo conduzidas pesquisas no Brasil para viabilizar a utilização do modelo WEPP (Water Erosion Predicition Project), que é um modelo mais fisicamente baseado (CASSOL & REICHERT, s/d). 3.7.1 Equação Universal de Perda de Solo (EUPS) Para modelagem de quantificação de perda de solo, muitas equações têm sido empregadas, dentre elas a EUPS (Equação Universal de Perda de Solo), a qual permite uma análise da perda de solo levando em conta a intensidade da chuva na região, a erodibilidade dos solos, o comprimento da encosta, o declive e as medidas de uso e conservação do solo (RIBEIRO, 2007). A Equação Universal de Perda de Solo pode ser expressa por: A = RKLSCP Onde: A = índice que representa a perda de solo por unidade de área; R = índice de erosividade; K = índice de erodibilidade; L = índice relativo ao comprimento da encosta; S = índice relativo à declividade da encosta; C = índice relativo ao fator uso e manejo do solo; P = índice relativo à prática conservacionista adotada. 20 A determinação dos valores de perda de solo provocados pela erosão laminar, representados em t/há, é realizada a partir do cálculo dos índices de cada componente da equação (GUERRA, 2005). 3.7.2 Equação Universal de Perdas de Solo Modificada (MUSLE) A MUSLE é uma modificação da EUPS, em que o fator energia cinética da chuva (R) é trocado por um fator de escoamento gerado com base no volume escoado e na vazão de pico. A MUSLE apresenta um grande potencial de aplicação no Brasil em virtude da simplicidade de sua estrutura, ao número relativamente baixo de parâmetros empregados e à facilidade de calibração e aplicação (AVANZI et al, 2008). 3.7.3 Equação Universal de Perda de Solo Revisada (RUSLE) A versão revisada da USLE ou RUSLE foi desenvolvida pelo Departamento Norte Americano de Agricultura que usa o RUSLE como base na medição da perda anual de solo através erosão das encostas e vales. Sua larga utilização é reflexo da pequena quantidade de dados demandada na análise, aliado a sua precisão em estimar a média ao longo prazo da erosão em campos relativamente homogêneos. Em várias partes do mundo o advento de DEM (modelo digital de elevação) generalizados, melhorados e mais baratos, executado através de softwares que processam técnicas fotogramétricas e sinais de radar SAR, juntamente com cobertura precisa dos terrenos mapeados usando o sensoreamento remoto, oferece grande melhorias na definição exata da erosão. Nos locais onde existem dados confiáveis para as variáveis RUSLE, o módulo permite grande precisão e consistência nas imagens geradas em relação aos outro métodos. 3.7.4 Water Erosion Prediction Project (WEPP) De acordo com SILVA & CRESTANA (2003) um dos modelos físicos que tem substituído os de natureza empírica (em especial a Equação Universal de Perda de Solo e suas variações) de modo a tornar as aplicações mais gerais, é o WEPP (Water Erosion Prediction Project). Este modelo simula os processos que ocorrem em uma determinada área em função do estado atual do solo, cobertura vegetal, resíduos culturais e umidade, tratando-se de um modelo contínuo. 21 3.7.5 Kineros Outro modelo para estimativa da produção de sedimentos é o modelo hidrossedimentológico conhecido como Kineros. Segundo SILVA et al (2006), esse modelo é do tipo chuva-vazão-erosão, distribuído e de base física, que usa uma rede de planos e canais para representar a bacia, e utiliza equações diferenciais para descrever o escoamento, o transporte de sedimentos e a erosão. 3.8 PREVENÇÃO DE PROCESSOS EROSIVOS O homem vem atuando no combate à erosão através da implantação de medidas corretivas. Entretanto, o processo acelerado de erosão e desenvolvimento de voçorocas exige ações preventivas para impedir que os problemas erosivos se multipliquem atingindo dimensões incontroláveis. Segundo o DAEE/IPT (1990), para se estabelecer adequadamente tais ações preventivas é necessário determinar as bases técnicas, ou seja, os conhecimentos básicos que permitam prever a ocorrência e a intensificação das erosões. Para tanto, o conhecimento dos principais fatores intervenientes dos processos erosivos, como a declividade, o comprimento de rampa, a freqüência e intensidade das chuvas, o tipo de uso e ocupação e a erodibilidade do solo, é de grande importância. Lembrando que esses fatores se manifestam de diferentes formas e intensidades, dependendo do local/região da propriedade. Portanto, cada caso deve ser estudado de acordo com os fatores locais e, só assim, escolher a prática, ou as práticas, de prevenção que melhores se adaptam. A prevenção além de evitar, ou pelo menos reduzir, os transtornos sociais, ambientais e econômicos causados pelos processos erosivos, também é a prática menos onerosa em relação à recuperação. 3.8.1 Erosão em Áreas Urbana e Rural A erosão e transporte de sedimentos superficiais de uma bacia urbana, difere significativamente dos processos que ocorrem em bacias rurais. Nas áreas urbanas, embora possam ocorrer modalidades de erosão semelhantes às áreas rurais, predominam aquelas decorrentes da concentração de fluxo, decorrentes principalmente de deficiências do sistema de drenagem. Uma outra característica típica das áreas de 22 ocupação urbano-industrial, é a intensa movimentação de terra nas áreas ocupadas que vai desde o nível dos assentamentos de lotes residenciais até a implantação de grandes obras públicas ou privadas, como conjuntos habitacionais, loteamentos industriais, entre outras tantas que poderiam ser citadas (LLORET RAMOS, 1995). Segundo POLIZER (2004), no espaço urbano geralmente a voçoroca provoca danos aos sistemas de transporte, abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem pluvial, energia elétrica, telefônico e, a destruiçãode moradias, a depreciação imobiliária, e desconforto. Enquanto que, no meio rural, a voçoroca representa a perda da área para a atividade agropecuária, o assoreamento de mananciais, o impedimento da passagem pela área da voçoroca, a diminuição da profundidade e a conseqüente desvalorização da propriedade. 3.8.1.1 Prevenção em Área Urbana A erosão urbana no Brasil se distingue das formas de erosões naturais e suas derivadas rurais por seus novos condicionantes, seus mecanismos exclusivos, pelos grandes volumes de materiais envolvidos e pelo papel representado pelo assoreamento (PRANDINI & NAKAZAWA, 1995). Ainda segundo PRANDINI & NAKAZAWA (1995), o estudo de rios da RMSP demonstra que o assoreamento resulta quase que somente da erosão urbana, ainda que metade da área da bacia seja de uso rural. Na fase da implantação urbana, quase todo solo erodido é retido nos terrenos baixos ainda não ocupados, não atingindo, assim, canais e outras obras de drenagem. A futura ocupação das várzeas e a retificação/canalização de córregos “aproximam” as áreas-fonte das calhas principais, a serem então assoreadas. De acordo com CARVALHO (1995), as seguintes realidades podem ser observadas nos meios urbanos: a) o homem urbano preza espaços arborizados ou gramados em terreno público, mas procura esgotar as possibilidades que a Lei lhe oferece para substituir os seus por construções; b) o homem urbano perdeu a noção de que as águas pluviais constituem recurso natural diretamente aproveitável e foi reduzido à passividade absoluta quanto ao 23 abastecimento de água, não lhe importando de onde ela vem e a que custo, desde que jorre abundante e potável da torneira; c) a urbanização afeta o regime hidrológico (concentração de drenagem, eliminação de rugosidades, redução de percursos, inibição da infiltração e da evapotranspiração, aumentando caudais de cheias, reduzindo tempos de concentração), sem contrapartida natural. Estando extremamente associada, em causa e efeito, aos problemas de drenagem urbana, a erosão urbana deve ser considerada como uma variável de projeto de particular importância, merecendo cuidados de tratamento não só nas fontes principais de produção de sedimentos, como também ao longo de todos os percursos do sistema de drenagem, para evitar acidentes que produzam erosões localizadas de grande envergadura (LLORET RAMOS, 1995). De acordo com ALMEIDA FILHO et al (2001), um plano de prevenção da erosão urbana consiste basicamente no ordenamento do assentamento urbano, estabelecendo normas básicas para evitar problemas futuros e evitar situações que favoreçam o desencadeamento do processo erosivo; no caso de espaços já ocupados, reduzir ou eliminar os possíveis efeitos negativos dessa ocupação. Ainda segundo ALMEIDA FILHO et al (2001), para a garantia do sucesso da implantação de um plano de prevenção, devem ser definidas diretrizes legais, compreendendo uma legislação relativa a perímetro urbano, zoneamento urbano, arruamento e loteamentos. Para que se possa prevenir, ou seja, evitar a erosão nessas áreas, deve-se planejar e programar as expansões urbanas respeitando-se as técnicas de controle, de modo a evitar que uma simples expansão de área traga de volta problemas já solucionados. Segundo SILVA et al (1995) citado por CARVALHO (1995), as medidas de prevenção da erosão urbana devem atender aos requisitos: estarem adaptadas ao clima (fator ativo), envolverem melhoria das características do solo (fator passivo) ou sua proteção e objetivarem o disciplinamento das águas pluviais (agente); estarem sistematicamente integradas a medidas voltadas para a solução de problemas urbanos correlatos; terem caráter estrutural, de efeito difuso; quando tópicas, serem baseadas no 24 conhecimento do terreno e das condições de circulação subterrânea. Seguindo esta filosofia, as medidas propostas são: Planejar o suprimento de água por via matricial, envolvendo, com papel complementar, a água subterrânea e a pluvial, de modo a proporcionar atendimento segundo a demanda, em termos de quantidade e qualidade; Implantado o sistema, estimular o esgotamento dos aqüíferos, para entrarem sedentos na estação chuvosa; Planejar a disposição de efluentes inertes de modo que contribuam para a recarga estimulada dos aqüíferos; Promover coleta, uso e armazenamento de águas pluviais aproveitando coletores prontos (telhados, pátios e avenidas); Promover recarga dos aqüíferos rasos em poços escavados e dos profundos em poços tubulares, durante as chuvas fortes; Estabelecer em lei que nenhuma construção resulte no incremento do coeficiente de deflúvio local, conceituado como impacto ambiental intolerável (perdas nas taxas de infiltração e evapotranspiração devidas à construção serão compensadas por coleta dos telhados ou pátios cimentados); Em áreas montanhosas, sistematizar o aproveitamento de vales encaixados para contenção de caudal sólido e disposição de efluentes inertes contidos por diques retentores; Estabelecer em lei prazos para o cumprimento de metas tecnológicas mínimas quanto à eficiência de sistemas de fluxo controlado, como válvulas sanitárias, aspersores e outros; Estimular pesquisas para inclusão, nos projetos, de sistemas coletores e de usos sucessivos em instalações complexas; Reduzir ao essencial o uso do concreto projetado na estabilização de taludes em áreas urbanas, eliminando o seu abuso. 25 Figura 01: Voçoroca em ambiente urbano na cidade de Campo Grande, MS. Fonte: Wordpress, 2009. 3.8.1.1.1 Planejamento Urbano Um dos elementos chaves na ocorrência de erosão em áreas urbanas é a falta de planejamento urbano. Segundo FENDRICH, et al (1997), o problema da erosão está estreitamente ligado ao rápido crescimento da população e urbanização espontânea e, portanto, seu controle e prevenção em grande parte dependem do adequado planejamento de desenvolvimento urbano. Para o planejamento do uso racional da terra, além da capacidade de uso, devem ser levados em conta as características econômicas, sociais e aspectos relacionados à legislação ambiental (LEPSCH, 2002). Outra ferramenta muito útil é a carta de risco de erosão. Segundo TUCCI et al (1995), o tipo de solo, a cobertura vegetal, o uso do solo, o perfil geotécnico e a declividade indicam a suscetibilidade do solo ao processo erosivo. A carta de risco ou a carta de suscetibilidade visa dotar a administração municipal de bases técnicas que orientem ações preventivas e corretivas de combate à erosão, particularmente ravinas e boçorocas. Seu principal objetivo é subsidiar o 26 planejamento urbano, em respeito às características do meio físico e à tipologia e tendência de evolução dos processos erosivos. Além disso, fornece elementos para o controle de erosões existentes nas áreas de urbanização consolidada (RIDENTE JR. et al, 1995). 3.8.1.1.2 Microdrenagem De acordo com FUNASA (2004), a microdrenagem urbana é definida pelo sistema de condutos pluviais a nível de loteamento ou de rede primária urbana, que propicia a ocupação do espaço urbano ou periurbano por uma forma artificial de assentamento, adaptando-se ao sistema de circulação viária. A microdrenagem é formada por bocas de lobo, sarjetas, poços de visita, tubos de ligações e condutos. 3.8.1.1.3 Macrodrenagem Macrodrenagem é o conjunto de obras que visam melhorar as condições de escoamento de forma a atenuar os problemas de erosões, assoreamento e inundações ao longo dos principais talvegues (fundo de vale). Ela é responsável pelo escoamento final das águas, a qual pode ser formada por canais naturais ou artificiais, galerias de grandes dimensões e estruturas auxiliares (FUNASA, 2004). Segundo GALERANI (1995), as obras de macrodrenagem são constituídas de emissários e dissipadores de energia, são utilizadas para a condução daságuas pluviais captadas até locais estabilizados. De acordo com FENDRICH et al (1997), a previsão de um canal estável freqüentemente envolve a redução da declividade do canal para manter velocidades baixas que não causem erosão. Estruturas de controle cumprem esta função. A maior parte das quedas num canal são elevadas por meio de estruturas que são projetadas para dissiparem energia da água corrente. A declividade do canal entre duas estruturas é projetada de maneira que mantenha velocidades que não causem sedimentação nem solapamentos. É comum entre os autores classificar as estruturas de controle em temporárias e permanentes. 27 De acordo com POLIZER (2004), as estruturas temporárias possuem a finalidade de atender a curto prazo, em geral de caráter emergencial, ao avanço da erosão. São soluções que utilizam materiais locais e de baixo custo, disponíveis para uso imediato. Ainda segundo POLIZER (2004), as estruturas permanentes são construídas com materiais de longa duração e com a finalidade de manter a sua função permanentemente. Entre os autores, as estruturas permanentes são as mais recomendadas. SMITH (1952) citado por FENDRICH (1997) relata que em experiências realizadas com estruturas temporárias na fazenda experimental do Soil Conservation Service, apenas 5% obtiveram um desenvolvimento satisfatório. Os dispositivos de controle são as barragens de fundo, os degraus de alteração de perfil de fundo, as telas de arame para estabilização da vegetação e revestimento de proteção das paredes laterais, dentre outros (POLIZER, 2004). FENDRICH (1997) também afirma que a falta de adequada observação e conservação das obras para controle da erosão tem sido responsável por muitos dos insucessos ocorridos. 3.8.1.2 Prevenção em Área Rural A mecanização agrícola através de tecnologias inadequadas constituiu, sem dúvida, um dos principais agentes promotores da erosão e limitantes da produtividade do solo (CASTRO FILHO & MUZILLI, 1999). Com a retirada da cobertura vegetal do solo, ocorre uma perda de consistência do mesmo. O solo passa a ser erodido pelo salpicamento e também observa-se um aumento da capacidade de arraste de suas partículas, podendo assim, dar origem a voçorocas. O controle da erosão em terras rurais é muito complexo, por envolver questões tanto de ordem técnica como sócio-econômica, que devem ser conjuntamente avaliadas, visando à adoção de uma política agrícola que contemple a manutenção ou aumento do potencial produtivo das terras. No que se refere às questões técnicas, destacam-se, como fundamentais, a utilização adequada de práticas agrícolas de conservação do solo, a adoção de medidas preventivas contra a erosão associada a estradas e o fornecimento de 28 subsídios visando ao planejamento da ocupação agrícola (capacidade de uso das terras) (GUERRA, 2005). Quando o processo de erosão é provocado pelas estradas rurais, o volume de solo carregado aos mananciais é muito grande, necessitando um trabalho muito bem planejado, com adoção de algumas técnicas primordiais para o controle da erosão, pois as estradas rurais são as responsáveis pela maioria das erosões existentes no Estado de São Paulo (ZOCCAL, 2007). De acordo com GUERRA (2005), o controle preventivo da erosão relacionado à estrada realiza-se por meio da proteção vegetal dos cortes, aterros e terrenos adjacentes e da implantação de um eficiente sistema de drenagem, concebido a partir do conhecimento da suscetibilidade à erosão dos terrenos e da caracterização/quantificação hidráulica, tendo em vista a captação, condução e dissipação das águas. 3.8.1.2.1 Capacidade de Uso e Planejamento Conservacionista Toda gleba de terra apresenta uma potencialidade de uso, variável em função dos seus atributos edafoclimáticos, exigindo maiores ou menores cuidados na sua utilização. Quando essa potencialidade é superada, tanto pelo tipo de exploração quanto pela forma de manejo – isto é, uma utilização mais intensiva que as possibilidades da gleba – o ambiente passa a apresentar sinais característicos de degradação, como deficiências nutricionais das culturas, maiores riscos de perdas por eventos climáticos, erosão acelerada do solo, com conseqüente comprometimento da qualidade da água dos mananciais superficiais, redução da produtividade agrícola (CASTRO FILHO & MUZILLI, 1999). A identificação do grau de capacidade de uso irá indicar qual a intensidade máxima de cultivo que pode ser aplicada a determinado solo, sem que este se degrade, ou sofra diminuição permanente da sua produtividade, por efeito da erosão. Um sistema de classificação técnica, baseado nas classes de capacidade de uso das terras, pode ser muito útil para decisões a respeito do planejamento de uso do solo (LEPSCH, 2002). Neste método de conservação do solo são executados, para cada propriedade, mapas das características do terreno (topografia, uso atual, erosões existentes, tipo de solo, etc.). A interpretação destes mapas temáticos é o que distinguirá as diferentes classes de capacidade de uso, úteis para a decisão das atividades futuras do terreno. 29 LEPSCH (2002) agrupou oito classes de capacidade de uso, para melhor interpretação, dando origem a seguinte tabela: Tabela 02: Identificação do grau de capacidade de uso. Fonte: Lepsch (2002). 3.9 CONSERVAÇÃO DO SOLO Já são de grande conhecimento os danos sociais, ambientais e econômicos causados pela erosão. No entanto, esses efeitos podem ser amenizados ou até mesmo liquidados, caso o terreno seja utilizado de forma adequada. Essa adequação das atividades com o tipo de solo do terreno ocupado é denominada conservação do solo. Conservação do solo é evitar o desprendimento de partículas do solo e seu arrastamento (ZOCCAL, 1995). Segundo GALETI (1973), conservação do solo é o uso inteligente do solo; é o uso racional do solo, objetivando alcançar o máximo rendimento de maneira permanente. Para tanto, é comum a execução de práticas conservacionistas. Ainda segundo GALETI (1973), práticas conservacionistas são procedimentos ou trabalhos realizados com o objetivo de manter o solo produtivo, ou de dar a ele, condições para que se torne produtivo. Segundo LEPSCH (2002), essas práticas fazem parte da tecnologia moderna e permitem controlar a erosão, ainda que não a anulem completamente, mas reduzindo-a a proporções insignificantes. 30 Os solos brasileiros são, em sua maioria, pobres química e mineralogicamente, razão por que, necessitam de sistemas de manejo que apliquem, harmonicamente, os elementos que compõem o manejo do solo, ou seja, a correção da acidez superficial e subsuperficial, a adubação corretiva e de manutenção, a dinâmica de sistemas de preparo, culminando com o plantio direto, e a rotação de culturas, incluindo-se as práticas culturais, a pastagem e a floresta. Os elementos do manejo, harmonicamente aplicados ao solo, são os pilares que sustentam a agricultura produtiva e estável. (RESCK, s/d). É fundamental o seu controle por meio de técnicas e práticas conservacionistas adequadas às especificidades de cada gleba (SOUZA & DOMINGUES, 2006). As práticas conservacionistas evitam, entre outras vantagens, o impacto da chuva e/ou o escoamento das enxurradas. Evitando as enxurradas, a água das chuvas mais fortes infiltra-se no solo, enriquecendo os mananciais subterrâneos e, não havendo o escoamento súbito, os rios não são perigosamente sobrecarregados, evitando inundações dos campos de cultivo e de cidades (LEPSCH, 2002). As práticas conservacionistas envolvem todas as técnicas utilizadas para aumentar a resistência do solo ou diminuir as forças dos processos erosivos, dividindo- se em vegetativas, edáficas e mecânicas (BERTONI & LOMBARDI NETO, 1999). Entre elas destacam-se a rotação de culturas, o plantio em contorno, o plantio direto, as faixas vegetativas de retenção,as bacias de captação de enxurradas, a locação adequada de estradas internas e o terraceamento. Tais práticas devem ser utilizadas de forma integrada para se alcançarem maior sinergia e melhores resultados (SOUZA & DOMINGUES, 2006). As intervenções antrópicas com a finalidade de conservar o solo podem se processar de três formas: prevenção, controle ao avanço e recuperação da área. Vale ressaltar que a prevenção é a forma menos onerosa, além de evitar os principais efeitos maléficos da erosão, tanto em áreas rurais quanto urbanas. 31 3.10 PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS Como já foi dito, existem três formas de práticas conservacionistas: vegetativas, edáficas e mecânicas. Segundo GUERRA (2005), as técnicas de caráter vegetativo e edáfico são de mais fácil aplicação, menos dispendiosas e mantêm os terrenos cultivados em condições próximas ao seu estado natural, devendo, portanto, ser privilegiadas. Recomenda-se a adoção das técnicas mecânicas em terrenos muito suscetíveis à erosão, em complementação às técnicas vegetativas e edáficas. 3.10.1 Práticas de Caráter Vegetativo São práticas que se utilizam da cobertura vegetal na contenção da erosão. Dentre as principais práticas de caráter vegetativo destacam-se: 3.10.1.1 Plantas de Cobertura Em espaços do terreno, entre as culturas, mantêm o solo coberto durante o período chuvoso. Tem sido normalmente utilizadas em culturas permanentes, tais como plantio de café, laranja e fruticultura em geral, cobrindo os claros deixados no terreno por suas copas (GUERRA, 2005). 3.10.1.2 Culturas em Faixas Plantio em faixas de exploração contínua ou em rotação, intercalado em geral com culturas anuais ou semiperenes (cana-de-açúcar, mandioca e sisal), tendo por principal objetivo interceptar a velocidade das enxurradas e dos ventos, facilitar a infiltração das águas e permitir a contenção do solo parcialmente erodido (GUERRA, 2005). Pode-se considerá-la como uma prática complexa, pois combina o plantio em contorno, a rotação de culturas, as plantas de cobertura e em muitos casos, os terraços (FONTES, 1995). AMARAL (1984) relata que essa prática controla relativamente bem a erosão na faixa de declividade entre 3 a 6%. Deve-se planejar muito bem a rotação a ser empregada, para que se obtenha um bom resultado. 3.10.1.3 Cordões de Vegetação Permanente Fileiras de plantas perenes ou semiperenes e de crescimento denso (cana-de- açúcar, por exemplo), dispostas com determinado espaçamento e sempre em contorno. 32 Apresentam comportamento de controle da erosão semelhante a culturas em faixa (GUERRA, 2005). Quebrando a velocidade de escorrimento da enxurrada, o cordão de vegetação permanente provocará a deposição de sedimentos transportados e facilitará a infiltração da água que escorre no terreno, concorrendo, pois, para diminuir a erosão do solo (FONTES, 1995). 3.10.1.4 Alternância de Capinas Intercalação das capinas de maneira a manter parcelas da área em cultivo, com mato, imediatamente abaixo de outra recém-capinada. Seu efeito no controle da erosão é semelhante ao observado na cultura em faixas e cordões de vegetação permanente (GUERRA, 2005). De acordo com FONTES (1995), é a maneira praticamente sem despesa, de reduzir as perdas de solo por erosão tanto em culturas anuais como perenes. A terra perdida pelas ruas limpas de mato será retida pelas ruas com mato que ficam imediatamente abaixo. 3.10.1.5 Quebra-ventos Barreira densa de árvores visando interceptar a ação dos ventos, controlando a erosão eólica (GUERRA, 2005). 3.10.2 Práticas de Caráter Edáfico São práticas que procuram manter e melhorar a fertilidade do solo, principalmente no diz respeito à adequada disponibilidade de nutrientes para as plantas. Essas práticas baseiam-se na eliminação ou controle das queimadas, adubações (incluindo calagem) e rotação de culturas. Entre as práticas de caráter edáfico destacam- se: 3.10.2.1 Controle do Fogo De acordo com GUERRA (2005), o fogo, prática muito comum na agricultura brasileira, é muito prejudicial ao solo, pela destruição da matéria orgânica e do nitrogênio, destruição da estrutura ou organização das partículas constituintes do solo, condicionando a diminuição da capacidade de absorção e retenção de umidade. Portanto, esta prática diminui a resistência do solo à erosão. 33 3.10.2.2 Adubação Verde e Plantio Direto Incorporação de nitrogênio e matéria orgânica no solo, enterrando-se restos vegetais ainda verdes. O húmus produzido melhora as condições físicas do solo pela estruturação e aumento de porosidade. A porosidade do solo é bastante aumentada pela ação dos organismos vivos do solo (plantas e animais) (GUERRA, 2005). Segundo FONTES (1995) a adubação verde constitui umas das formas mais baratas e acessíveis de incorporar ao solo a matéria orgânica, sendo notórios seus efeitos na estabilização e mesmo no aumento das produções. Ainda segundo FONTES (1995), o plantio direto é a solução mais barata e econômica para uma agricultura que se deseja produtiva e não destruidora dos recursos naturais, especialmente o solo. 3.10.2.3 Adubação Química Manutenção e restauração da fertilidade do solo, proporcionando aumento de produtividade e melhor cobertura vegetal, protegendo, desta forma, o solo (GUERRA, 2005); 3.10.2.4 Adubação Orgânica De acordo com FONTES (1995), a adubação orgânica com esterco de curral ou com um composto exerce importante papel de melhoramento das condições para o desenvolvimento das culturas, e, sem dúvida, dos mais destacados, é a influência na redução das perdas de solo e água por erosão. FONTES (1995) também afirma que na organização de uma propriedade agrícola, o aproveitamento do esterco produzido pelos animais e dos demais resíduos orgânicos, na forma de composto, é um programa fundamental para a manutenção e melhoramento da produtividade do solo; 3.10.2.5 Rotação de Cultura É o plantio de diferentes tipos de lavouras (plantas que esgotam, recuperam ou conservam os solos), numa mesma gleba, visando o controle de doenças e pragas e melhoria das características físicas do solo (GUERRA, 2005). É fundamentada no fato de uma cultura extrair do solo para seu desenvolvimento, maiores quantidades de determinados elementos minerais do que outra e também, por possuírem diferentes 34 sistemas radiculares, exploram profundidades variáveis do solo, contribuindo, desta forma, para a manutenção de sua fertilidade natural (FONTES, 1995). 3.10.2.6 Calagem Correção da acidez do solo pela aplicação de cálcio. Solos ácidos dificultam o aproveitamento do fósforo pelas plantas e o desenvolvimento de microorganismos fixadores do nitrogênio atmosférico. Portanto, a calagem proporciona melhor cobertura vegetal do solo, protegendo-o contra a erosão (GUERRA, 2005). 3.10.3 Práticas de Caráter Mecânico São práticas em que se recorre a estruturas artificiais mediante a disposição adequada de porções de terra com a finalidade de quebrar a velocidade de escoamento e facilitar a sua infiltração no solo (ZOCCAL, 1995). Segundo AMARAL (1984), os métodos mecânicos de combate à erosão são importantíssimos e exigem grande perícia para os que executam estes trabalhos. 3.10.3.1 Plantio em Contorno (em nível) Marcação no terreno de curvas de nível e execução em espaços estabelecidos de sulcos e camalhões de terra. As fileiras de cultura e os sulcos e camalhões, acompanhando as curvas de nível, constituem um obstáculo que se opõe ao percurso livre das enxurradas, controlando a erosão (GUERRA, 2005). 3.10.3.2 Terraceamento Dentro das práticas de controle de erosão – o terraceamento é o mais utilizado e conhecido pelos agricultores (ZOCCAL, 1995). O terraceamento consiste na construção de um conjunto de terraços projetados, segundo as condições locais para controlar a erosão de determinada área (EMBRAPA, 2003). Sua função
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