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Ana Paula Morales Delavigne Bueno Rafaeli Emili Mazzarolo Psicologia FAC/FAPAR - 1°Período - manhã Apontamentos sobre “O Mal Estar na Civilização”, de Sigmund Freud Freud inicia sua obra mencionando Romain Rolland (um dito amigo) e suas discordâncias teóricas sobre o conceito de “religiosidade”. Explica o que tal conceito significa para Rolland e, de sua parte, justifica suas dificuldades em tratar deste e de outros assuntos da ordem dos sentimentos de maneira científica. Para Freud, é necessário partir de um ponto de vista psicanalítico, o que para ele implica uma visão genética - segundo o autor, nossa percepção de que tudo se origina no Eu é enganosa, e apresenta o Id como sendo o prolongamento interno desse Eu. A fronteira entre Eu e Id ainda se mostra tênue e de difícil delimitação, mas a do Eu com o externo costuma ser bastante clara, exceto em casos precisos como o de enamoração, onde o Eu se aproximaria do objeto de enamoramento e a fronteira entre ambos tenderia a desaparecer, tornando Eu e Tu um só (na visão do enamorado). Além desse exemplo ou de algumas patologias, o que é relevante mencionar é que Freud afirma que “[...] o sentimento do Eu está sujeito a transtornos, e as fronteiras do Eu não são permanentes.” E a partir de então, podemos dizer que Freud passa a explicar o conceito de subjetividade (em sua perspectiva, chamando de princípio da realidade) e o processo através do qual ele se constrói no ser humano (exemplo do bebê lactente): a separação do que é interior daquilo que é exterior, que, para Freud, se dá através da percepção e distinção de estímulos prazerosos e desprazerosos. Nessa construção do sujeito, Freud parte de uma perspectiva evolucionista, afirmando que os traços do primitivo (que chama de passado psíquico) se fariam presentes na realidade psíquica do indivíduo, coexistindo simultaneamente com todas as construções posteriores a esse primitivo, tentando exemplificar com mudanças arquitetônicas ocorridas em Roma desde sua fundação, como se nenhuma edificação tivesse sido demolida, ocupando o mesmo lugar que suas predecessoras, tendo por objetivo explicar que no caso da psiquê todas as fases de desenvolvimento são conservadas. O restante dos apontamentos se dará em forma de comentários às páginas que seguem. Página 15 ● Necessidades religiosas: derivadas do desamparo infantil e da nostalgia do pai; ● Ilusões face à realidade -> “A vida tal como nos coube, é muito difícil para nós, traz demasiadas dores, decepções, tarefas insolúveis. Para suportá-la, não podemos dispensar paliativos.” Ele diz que são 03 paliativos: ciência (distrações/diversões), arte (gratificações substitutivas) e drogas (substâncias inebriantes). ● Finalidade da vida: existe em função de um sistema religioso Página 21 ● isolamento x “com o auxílio da técnica oriunda da ciência, proceder ao ataque à natureza, submetendo-a à vontade humana” (sobre felicidade) ● Primeira solução contra o sofrimento: a intoxicação Página 24 ● aversão humana ao trabalho (nota n°8) Páginas 26 e 27 ● Religiao: delirio de massa ● Amor romântico e amor sexual ● Fruição do belo: ferramenta compensatória que também está ligada à energia sexual Página 29 ● Religião se mostra um obstáculo para a escolha e a adaptação, pois ela impõe os SEUS caminhos Página 30 - III ● “Temos outra atitude para com a terceira fonte de sofrimento, a social. Esta não queremos admitir, não podendo compreender por que as instituições por nós mesmos criadas não trariam bem-estar e proteção para todos nós.” Página 31 ● “[...] boa parte da culpa por nossa miséria vem do que é chamado de nossa civilização.” -> a criação da civilização é também a criação de seu próprio mal: os avanços científicos e tecnológicos deveriam trazer alento ao sofrimento, mas são por sua vez fonte desse próprio sofrimento (p. 33) ● Levanta questões de anacronismo e de subjetivação para refletirmos o conceito (subjetivo ao extremo) da felicidade em tempos passados ou diferentes culturas Página 34 e seguintes ● temos um problema de tradução: no original Freud fala O TEMPO TODO do conceito de CULTURA, mas na tradução temos a recorrente oscilação entre CULTURA e CIVILIZAÇÃO! ● De uma primeira análise, podemos dizer que, para Freud, a CULTURA significa toda ação humana que modifica a natureza, tanto sua quanto à externa ao homem. Página 36 ● Primeiro o homem cria os deuses para depositar todos os seus ideais de desejos inatingíveis e, com o passar do tempo, começa a ocupar o lugar desses deuses. E o homem atual não é feliz/satisfeito com essa sua semelhança a Deus. Páginas 37 e 38 ● Cultura/Civilização (p. 37) = exploração da Terra e proteção do homem contra as forças da natureza. Aspecto inútil da civilização (p. 38) = apreciação da beleza, da limpeza (antinatural) e da ordem (natural) Página 39 ● julgamento de valor Página 40 ● regulamentação das relações sociais como marca de CULTURAL (Direito) - substituição poder do indivíduo (força) pelo da comunidade Página 41 ● liberdade individual não é um bem cultural, e quando existia com mais predominância não tinha valor pois não tinha nada para garanti-la. Página 42 ● sublimação do instinto como traço civilizatório Páginas 48-49 ● exercício de misoginia contra o crescente movimento feminista da época - alguns psicanalistas tentam defender Freud da acusação de misoginia com o argumento de que tal reflexão seria anacrônica, talvez fosse recomendado a esses mesmos psicanalistas uma simples pesquisa no campo dos Estudos Feministas para mostrar que a primeira onda do movimento feminista já estava quase acabando quanda da publicação de “O mal estar na civilização” (1930), dado histórico que abre precedentes para afirmamos a prática misógina do psicanalista austríaco. ● Discute questões de sexualidade e tabu sexual Página 55 e seguintes ● fica cada vez mais claro, na nossa singela opinião, que todas as investidas do Freud em forma de crítica são na verdade a mera manifestação da insegurança dele enquanto homem do século XIX-XX, frente às máximas como de “amor ao próximo” ou novo papel da mulher na sociedade. Segundo ele mesmo isso seria um típico caso de sujeito neurótico e narcisístico que nega o “outro” em razão de suas inúmeras experiências de frustração (sempre sexual, na visão do Sigmundinho) e dificuldade de sublimação em razão de baixa capacidade intelectual, uma vez que nessa repulsa ao outro, ao diferente de seu “eu”, deixa tomar conta de si seus instintos mais primitivos de sobrevivência, negando toda intelectualidade do homem “civilizado”. ● Freud concorda com Hobbes (inclusive cita-o) - o homem é mau e a sociedade tenta a todo custo modificar a natureza do homem para possibilitar a vida comunitária Página 58 ● comunistas seriam o novo Rousseau, e, para eles, quem corrompe os homens não é a sociedade, mas o capital - e justifica as injustiças sociais nas desigualdades naturais dos homens Página 60 ● contradição religiosa do cristianismo - pregar o amor universal mas ser completamente intolerantea tudo que estiver fora do cristianismo Página 61 ● início das desigualdades dentro da estrutura das famílias romanas Página 62 ● crítica à massificação; América como exemplo desse fenômeno Página 68 ● instinto de morte como obstáculo à civilização; evolução cultural é a luta vital da espécie humana ● Conflitos entre o Eu e o Super-eu - sentimento de culpa, causado pelo medo (da autoridade e do Super-eu) - tendo como fonte o complexo de édipo, do momento do assassínio do pai e tomada de seu lugar Página 81 ● “ [...] o preço do progresso cultural é a perda da felicidade, pelo acréscimo do sentimento de culpa” Página 89 ● compara o processo cultural ao desenvolvimento humano, onde o papel do Super-eu seria o de coerção do Eu, no caso instituições como a religiosa mandariam nos indivíduos e, o papel das práticas terapêuticas seria o de acalmar esse Super-eu -> humanidade neurótica Considerações Finais ● Nas últimas duas páginas Freud aponta seu argumento que refuta TUDO que foi falado anteriormente: “os juízos de valor dos homens são inevitavelmente governados por seus desejos de felicidade, e que, portanto, são uma tentativa de escorar suas ilusões com argumentos” ● O que de fato nos interessa nessa obra, é a conclusão dela, o último parágrafo, que nos garante que o homem é seu único e mais forte oponente e que será o culpado pela sua própria ruína.
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