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Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos Módulo 2 – Diagnóstico, tratamento e controle dos helmintos Marcelo Beltrão Molento Médico Veterinário, PhD em Parasitologia Laboratório de Doenças Parasitárias, DMV Universidade Federal do Paraná, UFPR Introdução Animais saudáveis têm menor carga parasitária, com conseqüente redução na contaminação das pastagens e re-infecção. Neste caso, a relação parasita-hospedeiro fica prejudicada depois que um animal recebe tratamento, porque a decisão de eliminar a população de parasitas é uma forma de desequilibrar esta relação. A erradicação dos parasitas não é viável no campo devido às condições tropicais do Brasil e a gama de hospedeiros. O objetivo então é proporcionar um sistema para produção de alimentos, que mantenha os animais sadios, suas características zootécnicas, aliado a novos conhecimentos. Hoje, esta necessidade é imperativa devido ao fenômeno de resistência dos parasitas e da maior percepção sobre o bem-estar dos animais. Diagnóstico É imprescindível que todos os profissionais envolvidos com a produção de alimentos saibam dos benefícios de um diagnóstico parasitológico preciso. Mesmo que estes testes representem em gasto econômico, toda a informação advinda destes procedimentos se torna viável frente aos benefícios que podem ser alcançados. Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos Dentre as técnicas disponíveis, a necropsia (exame do animal morto) é a mais confiável e precisa. Existem várias técnicas laboratoriais disponíveis para diagnosticar a taxa de infecção dos animais: exame coproparasitológicos (fezes), ELISA (reação específica para anticorpos), PCR (testes com DNA ou RNA), coprocultura (determinação dos gêneros dos parasitas) e a contagem de larvas na pastagem, entre outros. Os exames coproparasitológicos mais utilizados para diagnóstico de ovos de helmintos são: Gordon & Whitlock modificado (OPG) e o Willis-Mollay (flutuação). Ambas as fases de preparação do material e identificação dos ovos de helmintos deve ser feita por pessoal treinado. Os estrongilídeos apresentam grande semelhança em suas estruturas e são os mais comumente encontrados. Exceto os testes de ELISA e PCR que são onerosos e ainda em fase de testes, as outras técnicas apresentam alta variabilidade, devido ao grande número de fatores envolvidos (época do ano, raça, sexo, idade, estado nutricional do hospedeiro) no momento da interpretação. Nestes casos, deve-se sempre que possível aliar os dados laboratoriais com os achados clínicos e de necropsia. Os sinais clínicos mais comuns de uma infecção parasitária são: apatia - letargia, emagrecimento, fezes amolecidas a líquidas (diarréia), presença de sangue nas fezes, anemia, edema submandibular (papeira), queda na lã e produção de leite e aumento da freqüência respiratória. É muito comum que os produtores tenham casos de morte na propriedade devido a infecções super agudas. Estas mortes acontecem em tempo curto devido a grande taxa de translação e o início da fase adulta do parasita, iniciando a fase hematófaga (alimenta-se de sangue). Infelizmente e devido a uma série de fatores, estes casos são aceitos como acontecimentos de rotina nas propriedades. A distribuição da infecção dos parasitas nos animais ocorre de forma agregada, isto é: muitos parasitas estarão em poucos animais. Então, na necropsia, o técnico de campo observará os parasitas adultos que infectam um animal muito parasitado e poderá melhor interpretar o estado sanitário do rebanho. No caso da contagem de Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos Haemonchus contortus no abomaso de ovinos e caprinos é considerado uma infecção leve quando são encontrados menos do que 500 parasitas adultos. Tratamento A forma mais comum de controle destes perigosos inimigos tem sido através do uso intensivo de compostos antiparasitários, negligenciando quase que completamente o conhecimento da biologia e a epidemiologia destes organismos. A sua utilização aconteçe sem cautela, empregando-os ora para aproveitar a lida com os animais na mangueira ou o baixo preço, ora para obedecer a um programa sanitário com intervalos fixos. O mais comum é que o produtor e mesmo o técnico de campo utilizem esta opção de forma isolada, com poucas razões técnicas. Então, o produtor fica mais e mais dependente do uso de drogas antiparasitárias, na expectativa de solucionar seu problema. Muito embora se saiba que o controle destas infecções possa ser feito através do bom uso de produtos antiparasitários, existem alguns parâmetros para sua correta escolha. Embora a lista de antiparasitários pareça extensa, hoje no mercado existem somente três classes de drogas de largo espectro de ação, que são os benzimidazóis, as lactonas macrocíclicas e os imidazóis (Tabela 1). As demais são descritas como de curto espectro de ação: pirimidinas, salicilanilidas, organofosforados e substitutos fenólicos. Cada grupo apresenta o seu mecanismo de ação e sua forma de eliminação parasitária independente. E neste aspecto é necessário saber que, quando se está utilizando um produto de um grupo químico é incorreto alternar para outro que possua o mesmo mecanismo de ação. Pois desta forma se estará aumentando as chances de seleção de parasitas resistentes para aquele grupo. No caso específico de ovinos e caprinos, a estratégia de tratamento em intervalos regulares (30, 45 ou 60 dias) tem o objetivo de interromper o ciclo de vida dos parasitas, eliminando parasitas adultos, assim diminuindo a infestação das pastagens. Entretanto, as famílias das drogas apresentam períodos diferentes de permanência no Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos sangue do animal. Isto significa que os regimes fixos de intervalo entre aplicação podem ser prejudicados e/ou invalidados caso esta característica não seja observada. Tabela 1. Compostos anti-helmínticos utilizados no tratamento de ruminantes. Classes de produtos Princípio ativo Mecanismo de ação Mecanismo de eliminação do parasita Espectro de ação Imidazotiazóis Levamisol Tetramisol Agonista colinérgico Paralisia espástica Nematodas gastrintestinais Pirimidinas Pamoato de pirantel Inibição da Acetil Cholinesterase Paralisia espástica Nematodas e cestodas gastrintestinais Salicilanilidas Closantel Niclosamida Interfere nas reações mitocondriais Não esclarecido Nematodas (clo) cestodas (nic) Organofosforados Triclorfon Inibição da Acetil Cholinesterase Paralisia espástica Nematodas gastrintestinais Benzimidazóis Albendazol Mebendazol Tiabendazol Fenbendazol Inibição da formação dos microtúbulos Morte de todas as fases do parasita Nematodas gastrintestinais e pulmonares, cestodas e trematodas Pró-benzimidazóis Netobimina Inibição da formação dos microtúbulos Morte de todas as fases do parasita Nematodas gastrintestinais e pulmonares, cestodas e trematodas Lactonas macrocíclicas Ivermectina Moxidectina Doramectina Abamectina Eprinomectina Abertura dos canais de cloro potencializados pelo glutamato Paralisia flácida Nematodas gastrintestinais e pulmonares Substitutos fenólicos Disofenol Nitroxinil Interfere nas reações mitocondriais Não esclarecido Nematodas gastrintestinais e Fasciola hepatica Reprodução parcial ou total apenas sob autorizaçãoda AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos O técnico, e mesmo o produtor, deve buscar um produto que atenda às seguintes características: alta toxicidade para o parasita a ser combatido; ampla margem de segurança para os animais; fácil aplicação (pour-on, oral, sub-cutâneo, intramuscular); rápido metabolismo e ampla absorção, como também apresentar boa relação custo-benefício. Deve-se respeitar todas as informações contidas na bula dos medicamentos (algumas bem incompletas), e utilizar material apropriado para aplicação como: seringas, agulhas e pistolas limpas, além de procurar manter os animais em um ambiente calmo, sem estresse. Desta forma se reduzirão os riscos de perda da eficácia do produto e que poderá ser confundida com resistência. Vale a pena fortalecer a mensagem de que pouca eficácia devido a falhas no uso destes produtos é diferente de resistência dos parasitas. O comércio de produtos Veterinários no mundo movimenta aproximadamente US$15 bilhões anuais, sendo 27% representados pelo comércio de parasiticidas. No Brasil este percentual alcança mais de 42%, motivado pela facilidade de acesso do produtor aos produtos, da ativa ocorrência dos parasitas, de orientações incorretas por parte de técnicos, da mídia e da própria cultura do pecuarista. Sabe-se que as práticas recomendadas no Brasil como o tratamento de todo o rebanho e em períodos curtos, uso de drogas com maior concentração e mesmo o tratamento com produtos misturados estimula o uso e difunde a cultura do uso irrestrito dos produtos antiparasitários. Como as opções entre bases químicas são limitadas, deve-se optar pelas de curto-espectro para depois sim utilizar medicamentos mais avançados. No caso de ocorrer a incidência de uma infecção por endoparasitas (parasitas internos) e ectoparasitas (parasitas externos) ao mesmo momento, aí sim o produtor deve considerar a utilização de endectocidas, que agem sobre ambos. Se a opção recair sobre um medicamento de largo-espectro em função dos helmintos encontrados, deve-se levar em consideração a epidemiologia destes Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos parasitas (ciclo de vida e melhores épocas do ano), a categoria animal a ser atendida (maior ou menor freqüência de uso), a forma de aplicação e o preço do produto. Devido a esta complexa relação, o pecuarista muitas vezes se restringe a pergunta: Qual o melhor remédio? Infelizmente, muitas vezes esta pergunta é feita ao balconista da loja e não ao técnico. Como se observa a eficácia dos produtos Existem poucas maneiras de se observar se um produto é eficaz ou não, sem cometer graves erros de interpretação. É imprescindível que exista alguma forma de monitoramento da eficácia dos medicamentos, pois somente desta forma se poderá observar o início da redução da perda de eficácia dos produtos. A forma mais comum de observar se um composto apresenta boa eficácia é através da observação empírica de melhoria dos animais. Este fato pode parecer simples, porém traz informações importantes para a Assessoria Veterinária. Caso haja falhas visíveis, deve-se então iniciar o acompanhamento através de exames de fezes com duas amostragens, uma no dia do tratamento e outra entre 7 a 12 dias após. O exame de rotina é o Gordon & Withlock (McMaster – OPG) acompanhado do exame de coprocultura. Este tipo de exame pode esclarecer de maneira quantitativa e qualitativa o gênero dos parasitas presentes e o percentual de eficácia do composto testado. É aconselhável que seja testado mais de um grupo químico antes da troca de medicamentos. Categorias de Tratamentos com Anti-helmínticos a) Tratamento preventivo: O princípio ativo é fornecido durante períodos mais ou menos longos e contínuos. Existe as aplicações de produtos de atuação prolongada ou a implantação de bolus que liberam as drogas lentamente. A finalidade destes produtos é evitar a necessidade de reunir os animais diversas vezes ao ano. No entanto, o princípio Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos ativo não elimina 100% das formas infectantes, selecionando cepas resistentes. Existe também a presença de resíduos nos tecidos do hospedeiro. Outra forma de controle preventivo é o tratamento de animais 30-15 dias antes do parto e/ou no desmame, com o objetivo de prevenir os momentos de estresse do animal. b) Tratamento estratégico: É um conceito estatístico baseado na probabilidade da ocorrência de certos eventos epidemiológicos em certas épocas do ano. Este programa pode falhar, devido às variações climáticas locais e a falta de conciliação com o manejo da propriedade. O programa estratégico é mais eficaz e econômico do que tratamentos curativos em áreas endêmicas (Fig 1). O “programa estratégico flexível” contorna a possibilidade de falhas locais, incluindo um ou mais tratamentos táticos adicionais quando este se fizer necessário. c) Tratamento tático: Implica no conhecimento dos ciclos dos parasitas e dos fatores responsáveis pelo processo de translação; precisa-se de conhecimento epidemiológico das infecções. Deve-se aplicar o tratamento tático para evitar a alta contaminação do ambiente, após modificações no manejo ou clima (chuvas pesadas com temperaturas elevadas numa época normalmente seca, introdução de animais de outra área ou em pastagens recém formadas, queima de pastagens). d) Tratamento curativo (de emergência, de salvamento). Incluem-se os tratamentos em animais clinicamente doentes. Este é o esquema mais “desfavorável” economicamente na relação custo-benefício, entre as opções descritas, especialmente quando aplicado nos animais “mais doentes”. Isto porque o tratamento em animal muito debilitado pode agravar ainda mais o estado clínico, aumentando o grau de anemia, causando inclusive a morte do animal. e) Tratamento Estratégico Flexível (estratégico + tático). É o sistema que utiliza tratamentos além dos previstos com base nas observações epidemiológicas. Estas observações estão ligadas a modificações climáticas que podem influenciar a taxa de translação. Em algumas propriedades adaptou-se a Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos técnica de monitoramento de rebanho mediante a técnica da OPG (nível de infecção) para decidir quando o tratamento tático deverá ser utilizado. f) Tratamento Seletivo O tratamento seletivo é utilizado após a avaliação individual da clínica, por nível de produção ou através do resultado de exames laboratoriais. A escolha deste tipo de tratamento requer o conhecimento dos fatores envolvidos para cada característica descrita acima. Por exemplo: No caso de rebanhos leiteiros, pode-se tratar as fêmeas de alta produção e as primíparas (de primeira cria), deixando as outras categorias sem receber tratamento. Custo-Benefício dos esquemas estratégicos As análises de custo-benefício normalmente são baseadas somente em termos de ganho de peso adicional resultante da utilização de tratamentos com anti- helmínticos. Deve-se ressaltar que este não é o único aspecto importante. Com melhor ganho de peso, o animal poderá chegar mais cedo ao abate/reprodução e com peso desejável. Isto implica em um período de manutenção menor. Animais tratados com o esquema estratégico perdem menos peso no período seco e ganham mais durante a fase de ganho compensatório, do que os animais não tratados, ou tratados somente duas vezes por ano. Limitações na Metodologia Alguns fatores ambientais podem interferir na execuçãoe na interpretação do esquema de tratamento estratégico, afetando a taxa de translação. Manejo e tratamento: combinação perfeita 1. Cuidar com a administração de medicação oral: Deve-se tomar muito cuidado para que ocorra uma perfeita administração do medicamento. Existe a suspeita de que em certos casos ocorra o fechamento da goteira esofágica (rúmen by Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos pass) ao utilizar a medicação oral em ruminantes. Foi determinado que o oxfendazole pode ter sua passagem acelerada, diminuindo significativamente sua eficácia. A goteira esofágica é ativada quando a cabeça do animal fica estendida acima da linha horizontal do dorso do animal. 2. Restringir o alimento antes do tratamento. Os produtos antiparasitários de administração oral trazem em sua formulação um veículo oleoso que se adere ao alimento. A redução da quantidade de alimento promove uma redução da motilidade do trato digestório permitindo uma melhor absorção e maior permanência do medicamento no organismo animal. Deve-se então manter os animais em jejum de 10 a 12h (até 24h) antes do tratamento, mantendo os animais somente com água por outras seis horas após tratamento. O período de restrição aumenta a eficácia de drogas como o albendazole ou oxfendazole em até 50% com 12h de jejum e de até 120% com 24h de jejum. Deve-se evitar tratar fêmeas próximas do parto, animais fracos ou febris e animais em condições de estresse com esta forma de manejo. 3. Fazer a rotação lenta das famílias de vermífugos. Foi comprovado que a rotação rápida de bases químicas acelera o processo da resistência. Pior do que isto, causa à resistência anti-helmíntica múltipla (RAM). Estipulou-se que o período mínimo para a rotação de drogas seja de um ano no caso de ovinos e caprinos e após 8 a 12 tratamentos para bovinos. O critério para esta recomendação é que, dentro de várias gerações a seleção parasitária será inevitável, então ao trocar de bases, ocorrerá uma alternância estratégica da seleção química, com conseqüente redução da presença de genes resistentes. Preconiza-se também o uso contínuo (indefinidamente) de determinada droga, com constante monitoramento por OPG, para somente depois de determinada redução da eficácia proceder com a mudança da base química. Desta forma a droga seria utilizada até sua exaustão. Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos 4. Combinar as bases químicas: Em sua maioria, o produtor brasileiro trata seu rebanho de maneira preventiva (68%) e não de maneira curativa (32%). Para isto utiliza, em média, 6 (entre 4 a 12) tratamentos ao ano, fazendo a rotação de todas as bases disponíveis, escolhidas ora pelo preço, ora pela disponibilidade das casas agropecuárias, ora por alguma sugestão. As avermectinas são as mais utilizadas, seguidos pelos imidazóis e os benzimidazóis. Uma ingrata surpresa é que a combinação destas drogas é rotina para 55% dos produtores, em geral realizada sem critério. A utilização de drogas de diferentes princípios ativos em um mesmo momento, não misturadas ou quando já disponíveis em solução comercial, tem demonstrado grande eficácia. Entretanto, é fundamental que se tenha o conhecimento prévio de que ambos os compostos tenham significativo efeito tóxico para os helmintos que se deseja combater quando utilizados isoladamente. No caso do aparecimento de cepas muito resistentes, foi demonstrado que a utilização de compostos associados pode não demonstrar redução significativa da infecção. Existem outros fatores importantes com relação ao uso da combinação de drogas que precisam ser considerados como: as vias de aplicação devem ser as mesmas, as dosagens iniciais precisam ser estudadas e o próprio custo elevado da combinação. Existe no mercado, um número cada vez maior de produtos antiparasitários genéricos. Vários já foram testados com resultados variados, alertando para um possível problema na fabricação ou aquisição de matéria prima. Neste caso, deve-se evitar a compra de medicamentos sem teste prévio e comprovação do fabricante, atestada pelo Ministério da Agricultura. Um ponto importante do tratamento é a escolha da dose, mudando o conceito de tratar os animais pelo lote mais pesado. Eles devem ser divididos em três categorias: leves, medianos e pesados e tratados com concentrações apropriadas para cada categoria. Isto evita a superdosagem, que é um dos Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos fatores responsáveis pela resistência, além de reduzir custos. 5. Dosificar duas vezes. É mais eficaz tratar os animais duas vezes com intervalo de 12 h. do que dobrar a dose do medicamento, em uma só vez. Desta forma a concentração da droga será mantida alta por mais tempo, saturando os parasitas mais resistentes. O tratamento em dose dobrada aumenta a pressão de seleção e acelera o processo de resistência. Efeitos no meio ambiente Respeitadas a forma de uso e carências, os riscos de contaminação humana por endoparasiticidas são muito pequenos e a chance de ocorrerem abortos ou malformações em seres humanos expostos a altas doses de ivermectina e albendazole são mínimas ou mesmo nulas. Em relação ao impacto ambiental, estão a ele relacionados aspectos como: a atividade direta ou indireta contra organismos não parasitas do ambiente; quantidade e tempo de eliminação do agente ativo; estabilidade e manutenção da atividade do resíduo excretado e a sua lenta degradação pela luz solar, chuva e temperatura. No Brasil, o grupo das lactonas macrocíclicas representa mais de 60% dos compostos utilizados, que permanecem por longos períodos sendo eliminados lentamente do animal, afetando tanto as larvas de parasitas ingeridas diariamente, como insetos presentes na pastagem e que se alimentam do material fecal. Mas elas exibem uma toxidez seletiva o que coloca este grupo como o agente ideal, por apresentar atividade contra os parasitas sem perigo para o hospedeiro. A ivermectina, desta mesma classe, se liga fortemente ao solo e é estável por até 250 dias no meio ambiente, porém não apresenta efeito tóxico contra a minhoca (Lumbriculus terrestris), assim como o thiabendazole e o trichorfon, que são pouco tóxicos para este organismo. A ivermectina também é inofensiva para animais aquáticos próximos, como a criação de peixes. Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos Os organismos do solo que melhor servem como medidores ambientais são os besouros (coleópteros), pois são os primeiros colonizadores do esterco fresco. Estes fazem um trabalho importante na recuperação da fertilidade das pastagens e sua ação auxilia na redução de moscas e helmintos, possibilitando um menor uso de defensivos. O besouro mais conhecido é o Onthophagus gazella, chamado popularmente de rola-bosta. A ivermectina, doramectina, abamectina, milbemicina e eprinomectina mantêm um grau de eliminação das larvas de besouros por tempo variável, dependendo da formulação. A abamectina e a eprinomectina tem efeito negativo na fecundidade das fêmeas e também causam a morte de besouros adultos. A ivermectina não prejudica a fertilidade e também não causa a mortalidade de adultos. Porém a utilização desta droga na forma de bolus de liberação lenta prejudica por até 135 dias as larvas, afetando a viabilidade dos adultos e a fecundidade das fêmeas. A moxidectina é o único composto que não apresenta ação letal contra larvas,besouros adultos e não altera a fecundidade das fêmeas. A estratégia de tratar os animais durante os períodos de seca, muito utilizada no Centro-Oeste do Brasil, prejudica enormemente a importante e frágil diversidade da fauna que habita o bolo fecal. Por exemplo, no período, os besouros já estão em menor número e tem uma baixa atividade reprodutiva. Para se ter uma noção do impacto ambiental, um animal de 400 kg necessita de 8 ml de ivermectina 1%. Se utilizado quatro vezes ao ano, isto representa 0,32g IVM/ano/animal. Sabendo que existem aproximadamente 70 milhões de animais que usam este princípio ativo, se terá um consumo aproximado de 22.400 kg/IVM/ano no Brasil. Como 65% deste composto é eliminado de forma inalterada nas fezes, chega-se ao total de 15 toneladas do composto ativo no meio ambiente/ano. Os dados relativos a esta alta eliminação são desconhecidos e podem gerar graves conseqüências para todo o ecossistema. Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos Técnicas de controle químicas e não-químicas: outra s opções � Novas fórmulas de produtos antiparasitários: Utilização de antiparasitários em forma de bolus é uma alternativa que não teve grande êxito no Brasil por se tratar de uma tecnologia cara para as nossas condições de campo. Os produtores teriam que utilizar vários Bolus durante a vida produtiva do animal o que encareceria muito o produto final. � Controle biológico com fungos ou bactérias nematófagas: O controle biológico de pragas vem ganhando muito destaque, utilizando agentes como fungos, bactérias e insetos, para combater os mais variados organismos. Embora em fase de teste por grupos do mundo inteiro, já se podem encontrar alternativas viáveis para o controle parasitário. � Vacinas: Nada poderia ser mais bem recebido do que uma vacina eficaz para o amplo controle de helmintos. Porém a eficácia das vacinas testadas desagrada à opinião científica. A única vacina que foi desenvolvida com algum sucesso contra helmintos em Medicina Veterinária foi obtida através de larvas irradiadas contra Dictyocaulus viviparus, ao D. filaria e ao Ancylostomum caninum. � Seleção genética do hospedeiro: A seleção de hospedeiros geneticamente resistentes aos parasitas tem grande potencial para ser outra valiosa alternativa. A resistência do hospedeiro provavelmente opera de dois modos: (1) através de reações imunológicas ou (2) através da obtenção de indivíduos resilientes a infecção, que significa que estes animais devem possuir aptidão em compensar os danos causados pela ação parasitária. O maior fator limitante neste caso é determinar um método de seleção de animais resistentes que não os exponha a doses de infecção parasitária letais. Mesmo após 20 anos de pesquisas nesta área, não se dispõe de material suficiente para difusão desta tecnologia. Isto é decorrente da grande variabilidade em termos da transmissão desta característica genética para os descendentes. O problema encontrado pelos Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos pesquisadores é a baixa associação das características de ganho de peso ou produção de leite com a resistência contra o ataque de parasitas. � Manejo de pastagens: Deve-se evitar a superpopulação nos piquetes, pois quando isto ocorre os animais irão pastar até as partes mais baixas do capim, aumentando a taxa de contaminação, devido a maior presença das larvas. � Controle com homeopatia: Embora os resultados ainda sejam inconsistentes, o uso de medicação homeopática tem atraído pesquisadores e produtores no Brasil e no mundo. � Controle com fitoterápicos: A fitoterapia apresenta um ramo promissor para as pesquisas e tem potencial para participar ativamente em programas de controle parasitário. A utilização da fitoterapia deve ser aceita de forma gradual, sem eufemismos ou falsas expectativas. Conclusão: revendo conceitos para a preservação da refugia Como foi detalhado neste módulo o produtor deve dar preferência ao tratamento seletivo dos animais observando os sinais clínicos ou queda na produtividade. O técnico deve observar o escore corporal, manifestações clínicas (diarréia, anemia) e os índices produtivos. Para isto foram desenvolvidas técnicas que darão suporte as novas propostas de manejo. Outra forma de manter a população com carácter susceptível é a manutenção dos animais em pastagens contaminadas. Pode-se então manter os animais nas pastagens de origem ou então tratar os animais somente após a transferência para novas áreas. O técnico deve adotar a premissa de que a erradicação dos parasitas é inviável, devido ao efeito da resistência e a adaptabilidade nas nossas reigões. Para isto, deve- se adotar outras formas de controle parasitário, aliado a diminuição do uso de produtos químicos, visando a sustentabilidade dos programas sanitários, mantendo os índices zootécnicos na produção animal.
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